Bullying e suas possíveis atuações

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Bullying e suas possíveis atuações
Bullying e suas possíveis atuações
Mayara Nunes
Embora o bullying seja um tema de destaque na mídia atualmente, ele é um
fenômeno tão antigo quanto a própria escola. Seu conceito baseia-se, de acordo
com Fante e Pedra (2008), em comportamentos agressivos, sejam eles verbais,
físicos ou psicológicos, entre pares que ocorrem com frequência causando dor e
sofrimento ao outro.
A evidência que este tema tem atingido nos últimos anos em nosso país deve ser
cuidadosamente avaliada. Por um lado, torna-se um assunto popularmente
conhecido e pode despertar interesse em pesquisas na área. Porém, por outro lado,
infelizmente nota-se a banalização de sua importância e da seriedade com que
deveria ser encarado.
Três são os envolvidos nesta dinâmica: o autor, aquele que pratica as agressões
e em sua grande maioria apresentam déficit de empatia; a vítima, que é
frequentemente ameaçado, intimidado, e não procura ajuda por sentir-se indefeso; e
a testemunha, que ao presenciar as agressões torna-se temerosa em intervir e ser o
próximo alvo.
Devido à falta de informação, muitos pais não estão atentos para a importância do
fenômeno bullying, o que pode afetar seu relacionamento familiar e gerar
dificuldades na questão do aprendizado. "A criança que não consegue fazer parte de
um grupo pode passar por sérios problemas emocionais", adverte Gauderer (apud
COLAVITTI, 2001).
Como consequência, o bullying pode deixar marcas dolorosas e por vezes
trágicas, como acredita Lopes Neto (2005), em que todos os envolvidos são
prejudicados. Entretanto, cada um reagirá de uma maneira, seja reproduzindo o ato
que sofreu, ou tornando-se submisso e passivo diante dos outros. As vítimas,
segundo Amorim, Nunes e Moser (2011), podem desenvolver alguns sentimentos e
comportamentos,
como
medo,
angústia,
pânico,
depressão,
distúrbios
psicossomáticos, autoflagelação. Já os autores podem adotar comportamentos de
risco, atitudes delinquentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos.
Pode-se afirmar que embora este fenômeno ocorra com mais frequência no
ambiente escolar, ele está presente também no contexto familiar, ambiente
acadêmico, profissional e social. Segundo Fante (2008), tanto no contexto
profissional quanto no familiar há uma estreita ligação de dependência – afetiva,
emocional ou financeira – entre os envolvidos, fazendo com que as vítimas se calem
e carreguem consigo uma série de prejuízos psíquicos.
Em geral, as vítimas dessas agressões apresentam alguns sinais indicativos
desta experiência, conforme aponta Beane (2010): têm dificuldade de concentração
na aula e se distraem com facilidade; têm queda repentina nas notas; apresentam
sinais de ansiedade (como sudorese, dores de barriga, dores de cabeça, etc.)
próximo do horário de ir pra escola; de repente preferem a companhia de adultos;
choram com facilidade ou de forma assídua, apresentam alterações de humor, entre
outros.
A intervenção do psicólogo no bullying, seja no ambiente escolar ou clínico,
ocorre por meio de uma avaliação cuidadosa sobre as contingências em que os
indivíduos estão inseridos, ou seja, este profissional deve estar atento aos fatores
ambientais que podem estar influenciando tais comportamentos. Middelton-Moz e
Zawadski (2007) afirmam que a maioria dos agressores vem de ambientesdisfuncionais, onde tiveram experiências de mágoa, rejeição e medo.
Dessa forma, torna-se necessário a implantação de trabalhos de prevenção e
extinção destes comportamentos no ambiente escolar, assim como orientações de
pais para que estes possam identificar e manejar situações em que seu filho esteja
envolvido.
Quanto à intervenção clínica com tais envolvidos, cabe ao psicólogo desenvolver
repertório na vítima/testemunha para que esta consequencie os comportamentos
recebidos ou presenciados, que aprenda a se defender (direta ou indiretamente),
expor seus sentimentos, assim como buscar ajuda de adultos. Já quanto aos
autores, o trabalho deve ser voltado na instalação de comportamentos adequados
de socialização e habilidades sociais.
A partir de então, é possível atuar de diversas maneiras, entre elas: desenvolver
repertórios de comportamentos socialmente adequados nos agressores; ensinar a
vítima a consequenciar o comportamento do outro que lhe incomoda, seja buscando
ajuda de um adulto, demonstrando seus sentimentos ou até mesmo repertório de
fuga/esquiva que evite o evento aversivo; e também com os agentes educativos
para que estes estejam preparados para identificar e consequenciar os
comportamentos de bullying.
REFERÊNCIAS
Amorim, Cloves; Nunes, Mayara; Moser, Ana. (2011) Bullying: relato de uma
experiência de intervenção em uma escola pública estadual. In: Gisi, Maria Lourdes;
Ens, Romilda Teodora (orgs). Bullying nas escolas: estratégias de intervenção e
formação de professores. Ijuí: Ed. Unijuí.
Beane, Allan.(2010) Proteja seu filho do bullying. Rio de Janeiro: Best Seller.
Colavitti,
Fernanda.
(2008)
Inferno
na
escola.
Disponível
<http://veja.abril.com.br/130601/p_142.html> Acesso em: 11 mar. 2008.
em:
Fante, Cléo. (2008) Fenômeno bullying: como prevenir a violência entre jovens. 2 ed.
Campinas:Ed. Verus.
Fante, Cléo; Pedra, José A. (2008) Bullying escolar: perguntas e respostas. Porto
Alegre: Artmed.
Lopes Neto, A. (2005) Bullying - comportamento agressivo entre estudantes. Jornal
de Pediatria. v.81, n.5(supl).
Middleton-Moz, Jane; Zawadski, Mary Lee. (2007) Bullying: Estratégias de
Sobrevivência para crianças e adultos. Porto Alegre: Artmed.

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