Exegese Ef3.9 pdf blog

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1. Introdução
Alguns têm considerado um grande desafio entender o que de fato os autores neotestamentários escreveram em seus livros, e o que entenderam seus primeiros leitores.
Ao ler as muitas traduções existentes em nosso vernáculo, percebemos que os
questionamentos são ainda maiores do que imaginamos.
Embora haja tentativas de se reconstruir o pensamento cristão primitivo sem dar atenção
devida ao estudo acurado da língua grega durante o primeiro século e também sem possuir
conhecimento do significado e uso dos termos gregos pelos cristãos primitivos, não foi possível
alcançar bom êxito. Pois, mesmo sendo possível se fazer uma exposição bíblica na língua
vernacular, é impossível uma interpretação segura em sua autenticidade sem pelo menos uma
noção básica da língua original. E essa interpretação sem os devidos cuidados lingüísticos tem
levado a muitas distorções do propósito e entendimento das escrituras.
O fato de não estarmos lendo o texto na língua original deixa-nos em desvantagem quanto
ao entendimento completo logo que abrimos o livro.
A primeira tarefa do intérprete chama-se exegese, que é o estudo cuidadoso e sistemático
da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é basicamente
uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem
tê-la ouvido; descobrir qual era a intencionalidade original das palavras do autor.
O objetivo proposto nessa exegese, na carta aos Efésios, capítulo três, versículo nove, é o
de definir o significado do mistério revelado a que o apóstolo Paulo se refere, e, sua função
ministerial em relação ao mesmo, tal como a extensão desta função ministerial relacionada à
igreja.
Nesta, analisaremos a dimensão do mistério revelado a Paulo e sua compreensão da
mesma. Seu cumprimento iniciado no próprio Paulo e o legado deixado aos primeiros cristãos e
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toda igreja cristã que surgiria posteriormente até aos dias atuais com a proclamação do Evangelho
e do sacrifício de Cristo.
O método que utilizaremos na reunião do material e composição da teologia bíblica é a
pesquisa bibliográfica. Faremos uso de diversas literaturas, a fim de termos elementos suficientes
para efetuarmos a nossa tarefa. A Bíblia Sagrada é a nossa principal fonte bibliográfica,
utilizaremos o texto majoritário como objeto da análise, por considerá-lo ser coerente com os
autógrafos, o que evidenciaremos no bojo do trabalho.
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2. Estudo Panorâmico do Livro
2.1 Autoria
Conforme as convenções daqueles dias, o autor começa declarando a sua identidade.
Identifica-se como sendo o apóstolo Paulo.
Até o início do séc. XIX, a autoria paulina de Efésios era universalmente aceita desde o
século I. A partir de 1820, estudiosos alemães, começaram a questionar a autenticidade da carta e
sua autoria paulina. Ceticismo este que permanece até os dias de hoje.
A maioria dos comentaristas, que nega a autoria paulina, chama atenção ao vocabulário e
estilo singulares da carta. Contam o número de palavras em Efésios que não ocorrem nas demais
cartas de Paulo, e o número das suas palavras prediletas que não se acham em Efésios.
Dois argumentos mais substanciais são propostos, no entanto, para lançar dúvidas sobre a
autenticidade da carta, sendo o primeiro histórico e o segundo teológico. O argumento histórico
diz respeito a uma discrepância entre o relato em Atos, do longo e íntimo conhecimento que
Paulo tinha da igreja de Éfeso, e o relacionamento inteiramente impessoal, em segunda mão, que
a carta expressa. Embora sua primeira visita tenha sido breve (At18.19-21), a sua segunda visita
durou três anos (At19.1 – 20.1, 31).
Esse caráter impessoal da carta, como não conter saudações pessoais, não fazer
comentário acerca deles, e outros, é certamente surpreendente. Mas não há necessidade de
deduzir daí que Paulo não seja o seu autor.
O segundo argumento que é levantado contra a autoria paulina de Efésios é teológico.
Quanto a isto, os comentaristas apontam uma grande variedade de aspectos diferentes. Enfatizase, por exemplo, que em Efésios, em contraste com as cartas de Paulo de autoria incontroversa, o
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papel de Cristo assume a dimensão cósmica; que a esfera de interesse está nos “lugares celestiais”
(uma expressão inédita que ocorre cinco vezes), em que operam as potestades e os poderes; que o
foco do interesse é a igreja; que a justificação não é mencionada; que a reconciliação fica mais
entre os judeus e os gentios do que entre o pecador e Deus; que a salvação é retratada não como
um morrer com Cristo, mas, sim, somente como um ressuscitar com ele; e que não há referência à
segunda vinda de nosso Senhor. No entanto, nenhum destes detalhes é mais do que uma pequena
mudança de ênfase.
Depois deste breve panorama sobre alguns pontos de vista modernos, podemos constatar a
autoria paulina voltando ao propósito texto: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de
Deus”. Paulo reivindica para si o mesmo título que Jesus dera aos doze; Efésios possui todas as
características das epístolas paulinas reconhecidas quase universalmente, como Romanos, I e II
Coríntios, Gálatas e Filipenses; ela assemelha-se a Colossenses de várias maneiras; o testemunho
da igreja primitiva está em consonância com a conclusão de que é difícil acreditar que existisse
em algum lugar da igreja primitiva um gênio falsificador que refundisse os escritos genuínos de
Paulo numa obra com um estilo tão excelente, tão lógico em seu desenvolvimento, e tão elevado
em seu conteúdo, que deve pelo menos ter estado a par da habilidade intelectual e discernimento
espiritual do apóstolo, e capaz, mesmo, de prover a igreja com pensamentos paulinos em
avançado desenvolvimento, e então não deixar para trás nenhum rastro de sua identidade.
Os próprios pais da igreja, como de Eusébio a Orígenes (em torno de 210 – 250), citam
várias passagens de Efésios designando-as a “o apóstolo” ou a “Paulo mesmo”, como por
exemplo, Orígenes em sua obra Dos Princípios. Por esse mesmo tempo Tertuliano (em torno de
193 – 216), em sua obra Contra Marcião, declara: “temos na verdadeira tradição da igreja que
esta epístola foi enviada aos Efésios, e não aos Laudicenses. Porém, que importância têm os
títulos, se ao escrever a certa igreja o apóstolo de fato escreveu a todas elas?”.
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Uns poucos anos antes, Irineu, que foi por muito tempo contemporâneo de Clemente de
Alexandria e de Tertuliano, afirma em sua obra Contra as Heresias: “Isto também declara Paulo
com estas palavras”
e então cita Ef5.13.
Portanto, tão logo a igreja começou a atribuir os escritos do Novo Testamento a autores
definidos, “em consonância” apontam Paulo como o autor de Efésios.
2.2 Pessoa do Autor
Duas fontes indispensáveis que nos trazem dados sobre o apóstolo Paulo são o livro de
Atos dos Apóstolos e as suas Epístolas. Há raras informações a respeito de Paulo do período que
abrange o seu nascimento até o aparecimento em Jerusalém como perseguidor dos cristãos.
Em Romanos1.1 Paulo se identifica como “servo de Jesus Cristo, chamado para ser
apóstolo, separado para o evangelho de Deus”.
Vemo-lo como um homem disposto e dedicado a anunciar o Evangelho de Jesus Cristo
(1.14-15; 15.19-20).
Observamos também que Paulo era alguém que sofria e sentia tristeza por causa da
incredulidade dos seus irmãos judeus (9.2); era um varão marcado pela virtude do amor para com
os seus compatriotas (9.3); e também um indivíduo que desejava a salvação dos israelitas e orava
para que isso ocorresse (10.1). Paulo é o apóstolo aos gentios (11.13) e “ministro de Cristo Jesus
entre os gentios”, cujo encargo é “anunciar o Evangelho” (15.16). Paulo também se apresenta
como uma pessoa que se alegra com a obediência da igreja ao Senhor (16.19).
Segundo Atos 21.39, o apóstolo Paulo nasceu em Tarso. A data do seu nascimento é uma
incógnita; porém, quando do apedrejamento de Estevão (que aconteceu aproximadamente em 32
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d.C.), o texto escriturístico refere-se a Saulo como um jovem. Por conseguinte, podemos dizer
supostamente que ele nasceu na primeira década do século I d.C.
Tarso era um centro cultural e a cidade mais importante da Cilícia, e, como que sua região
sintetizava o Oriente e o Ocidente, isto é, as culturas grega e oriental, incluindo, por igual modo,
por fim, a cultura romana que representava o verdadeiro helenismo.
Era centro da filosofia estóica da variedade romana, onde os filósofos pregavam as suas
doutrinas nos mercados e nas praças públicas. Naquela época Tarso foi incorporada à província
da Síria e tivera história importante durante um período de muitos séculos. Era o terceiro centro
universitário do mundo, sendo superado em importância, naquela época, apenas por Atenas a
Alexandria.
Paulo recebeu instrução segundo o judaísmo estrito (Fl3.5) e se orgulhava de sua
ascendência judaica (Rm9.3; 11.1). Ele declara ter vivido como fariseu em obediência estrita à lei
(Fl3.6; 2Co11.22), e que foi além de muitos de seus contemporâneos no zelo pelas tradições orais
dos círculos fariseus (Gl1.14).
Os pais de Paulo eram judeus extremamente religiosos, pertencentes à seita dos fariseus,
ou, no mínimo fortemente influenciados por esse grupo; e eram da tribo de Benjamim. Paulo
tinha uma irmã que vivia em Jerusalém (At23.16). Ele era fabricante de tendas (At18.3). Tendo
em vista que era algo usual entre os judeus ensinar aos seus filhos alguma profissão, isso pode ter
acontecido com Paulo.
Paulo, portanto, tinha uma herança judaica, grega e romana.
Sua conversão é narrada em três textos no livro de Atos (9.3-19; 22.6-21 e 26.12-18).
Esse acontecimento talvez tenha ocorrido por volta de 35 d.C. O apóstolo Paulo se tornou um
destacado pregador do Evangelho e missionário do Reino de Deus. Realizou três viagens
missionárias alcançando muitas localidades com a mensagem do Evangelho de Cristo; e foi um
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instrumento de Deus para a salvação e transformação de muitas vidas. E tudo isso depois de ter
sido um intenso perseguidor dos cristãos antes da sua experiência salvífica (At8.3), chegando a
consentir na morte de Estevão (At8.1). O seu alvo era destruir a igreja.
2.3 Data e local de Origem
O apóstolo aos gentios encontrava-se preso em Roma, mas estava livre para ensinar. E,
talvez mais importante ainda, podia meditar e colocar no papel suas meditações (At28.30-31).
Durante o período de dois anos de reclusão, o apóstolo escreveu as importantíssimas cartas aos
Colossenses, aos Efésios, a Filemom e, possivelmente, aos Filipenses.
A carta aos Efésios foi escrita provavelmente em 61 a.D., trinta anos, mais ou menos,
depois da sua conversão.
2.4 Destinatário
Defrontamo-nos com uma dificuldade real, porquanto Ef1.1, que na maioria das versões
menciona àqueles a quem a carta foi destinada, não tem este mesmo conteúdo em todos os
manuscritos gregos. As palavras iniciais: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus,
aos santos e crentes em Cristo Jesus que estão”, não constituem problema textual sério. A
dificuldade emana da frase adicional “em Éfeso” (evn VEfe,sw||). Esta frase não é encontrada nos
manuscritos mais antigos existentes: está ausente em p, que data do segundo século; no Sinaítico
não revisado e no Vaticano do quarto século (foi também deixado de lado pelo corretor de 424,
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cujas correções estavam baseadas em um manuscrito muito antigo, e por 1739). Segundo vê a
maioria dos eruditos, há um comentário de Orígenes (do início ao terceiro século) que dá a
entender que não estava no texto que ele usou. Uma observação de Basílio (cerca de 370 a.D.)
leva à mesma conclusão com respeito ao texto sobre o qual ele comentou.
Por outro lado, desde os meados do segundo século, com uma única exceção, o título que
encabeça a epístola tem sido sempre “Aos Efésios”. A única exceção foi a cópia de Marcião, na
qual o título exibido na epístola era “Aos Ladicenses”. Comumente se mantém, com boa razão,
que esta exceção à regra foi devido à má interpretação de Cl4.16. Também, de forma quase
unânime, os manuscritos subseqüentes incluem “em Éfeso” no texto de 1.1. As versões também,
de comum acordo, sustentam esta leitura.
Para o problema de como explicar a ausência da frase “em Éfeso” nos manuscritos mais
antigos existentes propõem-se algumas soluções como:
a. A carta não foi destinada a qualquer localidade específica, fosse grande ou pequena,
porém, antes, aos crentes de todos os lugares e de qualquer tempo.
De acordo com esse ponto de vista, o que fosse que o título pudesse dizer, jamais foi a
intenção de Paulo que as palavras “em Éfeso” fossem inseridas. Esta teoria tem duas formas
principais. A primeira é que Paulo dirige sua mensagem aos santos “que são”, ou seja, os únicos
que possuem verdadeira existência, já que Cristo, em quem eles vivem, é o único que
verdadeiramente É. A segunda, é que Paulo está simplesmente escrevendo “aos santos, que são
também fiéis em Cristo Jesus”.
b. A carta, ainda que enviada a crentes que viviam numa região definida e limitada, de
modo algum pretendia ser para Éfeso.
Segundo Abbott, Efésios foi escrita para os gentios convertidos de Laodicéia, Hierópolis,
Colossos, etc. Scott escreve: “... nada é definido, exceto que a carta não foi escrita aos Efésios”.
13
Motivos: “em Éfeso” está ausente nos melhores manuscritos; não há detalhes pessoais; a
implicação de 1.15; 3.2; 4.21,22 eliminam totalmente Éfeso.
c. A carta foi dirigida aos crentes que residiam na província da qual Éfeso era a principal
cidade. Era uma carta circular, destinada não só à igreja local, mas também às congregações da
Ásia Proconsular.
Das duas primeiras propostas diz-se respectivamente que: em todo lugar, nas epístolas de
Paulo, onde aparecem as palavras “que estão” ou (a igreja) “que está”, quando presentes no
original, são invariavelmente seguidas do nome de um lugar (Rm1.7; ICo1.2; IICo11; Fp1.1). Em
conseqüência, não há razão plausível para admitir-se que a ocorrência das palavras “que estão”,
em Efésios, é uma exceção à regra; e que é dificilmente concebível que Paulo, que gastara tanto
tempo e energia em Éfeso, tivesse escrito uma carta às igrejas da Ásia Proconsular, e excluísse a
própria Éfeso.
Quanto a terceira, é o ponto de vista amplamente aceito hoje. Concluindo-se que o destino
da carta foi Éfeso, no sentido que, “as igrejas de Éfeso e circunvizinhas”.
2.5 Propósito
Paulo escreveu esta carta com o fim de expressar aos destinatários sua íntima satisfação
pela fé deles, que estava centrada em Cristo, e por seu amor para com todos os santos (1.15).
Também para descrever a gloriosa graça redentiva de Deus para a igreja, derramada sobre ela a
fim de que pudesse ser uma bênção para o mundo, e pudesse permanecer unida contra todas as
forças do mal, e assim glorificar seu Redentor.
14
2.6 Tema Central da Epístola
O ponto central da carta é que Deus fez por meio da obra histórica de Jesus Cristo, e
continua fazendo através do seu Espírito hoje, a fim de edificar a sua nova sociedade no meio da
velha. Trata da unidade de todos os crentes, “A Igreja Gloriosa”.
2.7 Doutrinas principais da Epístola
a. A nova vida que Deus nos deu em Cristo (1.3 – 2.10);
b. A nova sociedade que Deus criou mediante Cristo (2.11 – 3.21);
c. Os novos padrões que Deus espera da nova sociedade, especialmente a união e a
pureza (4.1 – 5.21);
d. Os novos relacionamentos para os quais Deus nos trouxe: a harmonia no lar e a luta
contra o diabo (5.21 – 6.24).
2.8 Esboço do Livro
Capítulo 1: Eterno Fundamento “em Cristo”.
A – Saudação, 1-2;
B – Hino de louvor à providência de Deus, 3-14;
15
C – Ação de graças: nossa herança celeste em Cristo e na igreja, 15-23.
Capítulo 2: Universal Propósito (abrangendo tanto judeus como gentios).
A – A salvação pela graça de Cristo, 1-10;
B – Pagãos e judeus remidos pela cruz de Cristo, 11-22.
Capítulo 3: Luminosa Finalidade.
A – O mistério da salvação dos gentios, 1-13;
B – Súplica para compreender o amor de Jesus Cristo, 14-21.
Capítulo 4.1 – 6.1-9: Exortação e Gloriosa Renovação.
A – Unidade na Igreja, 4.1-6;
B – Diversidade de funções, 4.7-16;
C – O homem velho e o novo, 4.17-24;
D – Exercício das virtudes, 4.25-32;
E – Caridade. Fuga da impureza, 5.1-7;
F – Proceder dos filhos de Deus, 5.8-14;
G – Prudência e sobriedade, 5.15-20;
H – Deveres recíprocos dos esposos, 5.21-33;
I – Deveres dos filhos e dos pais, 6.1-4;
J – Deveres dos servos e dos patrões, 6.5-9.
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Capítulo 6.10-24: Eficaz Armadura e Conclusão.
A – Armadura do Cristão, 6.10-20;
B – Missão de Tíquico, 6.21-22;
C – Saudações, 6.23-24.
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3 Texto Grego e Texto Português
kai.
fwti,sai
pa,ntaj
ti,j h` oivkonomi,a tou/ musthri,ou tou/ avpokekrumme,nou
avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi dia. VIhsou/ Cristou/ \.(The Greek New
Testament According The Majority text, 1985).
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo. (Bíblia maná – versão Almeida
corrigida, fiel. São Paulo: Vida, 1985).
18
4 Análise Manuscritológica
4.1 Apresentação das leituras variantes
a. Majoritária
kai.
fwti,sai
pa,ntaj
ti,j h` oivkonomi,a tou/ musthri,ou tou/ avpokekrumme,nou
avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi dia. VIhsou/ Cristou/ \.
b. UBS3
kai.
fwti,sai
pa,ntaj
ti,j
h`
oivkonomi,a
tou/
musthri,ou
tou/
avpokekrumme,nou avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi
c. Nestle Aland
kai.
fwti,sai
pa,ntaj
ti,j
h`
oivkonomi,a
tou/
musthri,ou
tou/
avpokekrumme,nou avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi
4.2 Levantamento dos Problemas Textuais
Vários importantes testemunhos dizem apenas
Orígenes Ambrosiastro ½ Hilário Jerônimo al). É difícil decidir se
(* A 424 (c) 1739. 1881
foi omitida, ou por
19
acidente ou intencionalmente (como algo não congruente com
inserida porque o verbo
, vs. 8), ou se foi
parece requerer um acusativo expresso (o que é usual no resto
do NT). Porém, já que não há outras variantes (tal como
et sim.) como seria de esperar, se
não fosse a forma original, a maioria da comissão preferiu reter a palavra, com base na
autoridade de p46 c B C D G K P  33. 81. 614 By2 Lect it vg sir (p,h) cop (sa,bo) gót ara al, mas
deixá-la entre colchetes, indicando certa dúvida quanto a seu direito de permanecer no texto.
O Texto Receptus, seguindo meramente 31(mg) e alguns poucos outros manuscritos
minúsculos, substitui
pela glosa interpretativa
(daí a palavra “comunhão”,
na AV). A verdadeira forma é apoiada por P(46), por todos os manuscritos unciais conhecidos,
por quase todos os minúsculos, por todas as versões conhecidas e pelas citações patrísticas.
O Texto Receptus, seguindo D (c) K L P muitos minúsculos sir (h) com * al, adiciona
. Já que não há razão por que, se as palavras fossem originais, teriam sido
dia.
omitidas, a comissão preferiu apenas
, que é decisivamente apoiada por P(46)  A B C
D* F G P 33. 1319. 1611. 2127 maioria das versões e citações patrísticas antigas.
As palavras
ả
, referindo-se à criação divina, são uma variante que
aparece nos mss D(3) E K L, sendo seguidas pela tradução inglesa KJ (dentre as catorze
traduções, nove em inglês e cinco em português).
4.3 Argumento em Prol da Leitura Original
4.3.1 Evidências externas
20
Como é colocado por Russell Norman Champlin em seu O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo, alguns manuscritos dizem “e manifestar”, sem o objeto, “todos” (os
homens). Assim dizem os mss Aleph, A e 1739, além dos latinos posteriores e as versões siríacas,
além dos escritos de Máciom, pai da igreja, contém a adição “todos”. Isso serve de prova
suficiente em favor dessa inclusão, embora usualmente a forma mais abreviada seja a correta.
Todavia, “
” poderia ser uma glosa explicativa. Seja como for, a iluminação visa os
“homens”, sendo esse o objetivo do ministério de Paulo, “todos os homens”, conforme o
vocábulo grego “
” bem o indica. Assim, pois, com ou sem a adição dessa palavra, o
sentido da frase é o mesmo.
Ao invés da palavra “
”, alguns manuscritos, como 37 (mg) e alguns poucos
manuscritos minúsculos posteriores, dizem “
” . A tradução inglesa KJ segue essa
variante. Mas a grande massa de manuscritos gregos e de versões diz “
”, que é uma
variedade de traduções como “plano”, “arranjo”, “ordem”. Provavelmente essa variante surgiu
como explicação escribal, sabendo ele que uma “comunhão” determinada está envolvida na
concretização do mistério que consiste da unidade de todas as coisas em Cristo.
As palavras dia.
são omitidas pelos manuscritos verdadeiramente
antigos, como P(46), Aleph, A B C D (1) F G P e pelos escritos de Márcion, pai da igreja. Muitos
lugares confirmam que Cristo Jesus é o Criador, onde tal declaração é autêntica.
4.3.2 Evidências internas
O contexto no qual o versículo nove está incluído não favorece as opções pela omissão de
“
”, pela palavra “
adjetivo “
”, do adjetivo “
”, e a omissão de dia.
”, e das palavras
. Mas sim do uso do
ả
, visto que o
21
versículo em questão apresenta a razão para a argumentação desenvolvida desde o capítulo 1 da
carta, apesar de não se tratar, também, de um versículo conclusivo.
O apóstolo Paulo desde o início da epístola desenvolve um raciocínio que mostra
claramente que não há, da parte de Deus, nova revelação da verdade e nem novos pensamentos
em divergência do seu plano original, imposto por novos acontecimentos. Mas que simplesmente
esta verdade estava oculta em Deus, existindo, portanto, desde o princípio.
Paulo, calmamente, lembra a seus leitores gentios de que sua prisão, instigada por
inimigos judaicos, resultava de ter advogado plenos direitos de liberdade para os gentios na Igreja
Cristã. O mistério, que dizia ele estar oculto desde a eternidade e não inexistente, era justamente a
verdade de que os gentios não só podiam ter parte simplesmente na salvação comum, mas, mais
especificamente, que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo e co-participantes
da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. Os gentios não seriam salvos por uma
salvação própria a eles, com bênçãos inferiores, apropriadas ao seu estado de parias (casta), como
que excluídos dessa sociedade; ao contrário, eles participavam igualmente, da salvação que os
judeus gozavam. E que o instrumento especial para a instrução desses seres de natureza diferentes
é a igreja, aquela unidade dos crentes de todas as nações e de todas as eras da qual Cristo é o
Cabeça.
Por isso “todos” (
) estariam sendo iluminados acerca desta verdade, deste
mistério.
Pode-se sem problema algum admitir que a revelação deste mistério traria a comunhão
(
), no entanto, a ênfase não era para a conseqüência da revelação do mistério e sim para
o seu conteúdo. E este, era o plano de salvar também os gentios desde antes da fundação do
mundo (
). O trecho de Ef6.19 menciona o mistério do evangelho, isto é, o evangelho
conforme o mesmo é plenamente revelado, com tudo quanto está implícito nesse ensino,
22
relativamente à redenção humana, algo que foi totalmente oculto dos profetas antigos. O
evangelho, pois, revela certas verdades, que falam sobre uma redenção e uma glorificação
transcendentais para os crentes (judeus e gentios), como é afirmado também em Rm1.16b.
Que o mero homem pudesse estar para um alvo tão elevado e celestial era algo
desconhecido nos tempos do AT, mas que nos foi revelado em Cristo, através do apóstolo Paulo,
o agente dessa revelação.
Finalmente, em relação às palavras
ả
, pode-se afirmar que se
encontra em conformidade com o contexto de Ef1.10; 2.10, assim como com outros textos do NT
a exemplo de Jo1.3, 10 ou Hb1.2. Não sendo diferente com o próprio contexto do parágrafo no
qual o versículo nove está incluído.
Vê-se no primeiro capítulo da epístola aos Efésios que Cristo é o mais elevado poder
cosmológico, acima de ser angelical. Mas, os gnósticos, em contraste com isso, ensinavam que
apesar de Cristo ter sido uma exaltada figura, certamente mais do que humana, provavelmente da
ordem angelical, não pertencia, entretanto, à ordem mais elevada de todas, isto é, a ordem divina;
e que apesar dele ter sido o criador; não era o criador de “todos os mundos”, mas tão somente
deste mundo, o que fazia dEle “o deus deste mundo”.
A epístola aos Efésios contradiz essa tese gnóstica, mostrando que o Senhor Jesus é o
Cabeça de toda a criação. Nos versículos 10 e 11, a mesma idéia do versículo nove é passada, de
que a criação inteira, portanto, está relacionada a Cristo, e, de uma maneira ou de outra, encontra
nEle o seu alvo e o seu propósito de ser. Não sabemos como tudo isso se concretizará, mas o
segundo capítulo da epístola aos Filipenses dá-nos a entender a mesma verdade. E para mostrar a
superioridade de Cristo sobre ordem angelical, o apóstolo Paulo afirma que a igreja, portanto, não
existe para si mesma. Ela existe para Deus, e para sua glória. E que, quando os anjos nos céus
contemplam as obras e a sabedoria de Deus manifestadas na igreja, o seu conhecimento de Deus,
23
a quem adora, se amplia, então se regozijam e o glorificam. E tudo isso “através de Jesus Cristo”
( ả
), Ef1.22-23; 2.10a; 3.9-11. De onde se deriva a grande esperança dos
efeitos universais de Sua missão, a qual, apesar de não ser dito claramente esse tanto, dá-nos a
entender que Cristo estabeleceu uma diferença em toda a parte, para melhor, afetando não só a
igreja cristã, mas até os perdidos no estado eterno, embora isso não queira dizer, sob hipótese
alguma, que eles venham a receber a vida eterna dos eleitos.
Concluí-se esta análise manuscritológica afirmando que a melhor leitura de Efésios 3:9 é
com
,
, e
ả
, pois além de constarem nos melhores
manuscritos, definitivamente fecham melhor com o contexto da carta, incluindo o próprio
parágrafo, e harmoniza melhor a idéia e o propósito do autor.
24
5 Análise Literária
A carta aos Efésios é um resumo, muito bem elaborado, das boas novas do cristianismo e
de suas implicações. Nenhuma outra epístola de Paulo se tem mostrado dotada de maior
influência sobre a história subseqüente da igreja cristã do que esta epístola. Somente as epístolas
aos Romanos e aos Gálatas têm sido mais largamente usadas. E a projeção da epístola aos Efésios
é resultado natural das idéias elevadas e das expressões eloqüentes que nela existe.
A epístola aos Efésios, como sucede em Romanos e Colossenses, divide-se, de forma bem
delineada, entre Exposição e Exortação, entre verdade declarada e verdade aplicada. O estilo,
especialmente o da primeira divisão, e, não obstante, tão sublime que Adoração expressa o
conteúdo mais precisamente que Exposição. A alma do apóstolo transborda de humilde gratidão a
Deus, o Autor da Igreja Gloriosa. Para Paulo, doutrina significa doxologia.
Depois da saudação inicial de abertura (1.1-2), o corpo da carta começou, no original com
a palavra EULOGETOS (= bendito!). Como auxílio à memória, pode-se formar um acróstico das
primeiras seis letras desta palavra inicial, lidas verticalmente. Na verdade, acróstico é uma
composição poética em que as letras iniciais dos versos formam, lidas verticalmente, palavra (s)
ou frase.
Efésios é em primeiro lugar intercessão, em segundo lugar proclamação, e em terceiro
lugar evangelização.
Os estudiosos que negam a autoria paulina da carta, dentre as muitas alegações, se
encontra também o estilo literário, estrutura e alguns vocábulos como não sendo comuns a Paulo.
No entanto, as evidências internas por si mesma já descartam esse argumento.
25
6 Análise Morfológica
- Conjunção coordenada aditiva – “e”.
- Infinitivo, 1° aoristo ativo, de
(ilumino) – “iluminar”.
(cada) – “todos”.
- Adjetivo, masculino, 3ª declinação, acusativo, plural de
- Pronome interrogativo, nominativo, singular, feminino de
- “qual”.
ή - Artigo feminino, nominativo, 1ª declinação, singular de ή - “a”.
- Substantivo, feminino, singular, nominativo, 1ª declinação de
-
“dispensação”.
ū - Artigo, masculino, genitivo, 2ª declinação, singular de ‫ ۀ‬- “do”.
- Substantivo, neutro, genitivo, singular, 2ª declinação de
-
“mistério”.
ū - Artigo, masculino, genitivo, 2ª declinação, singular de ‫ ۀ‬- “do”.
- Perfeito, passivo do particípio, neutro, genitivo, singular de
ò
(escondo) – “tendo sido escondido”.
ả ò  - Preposição genitiva – “de”.
w/n - Artigo, masculino, plural, genitivo, 2ª declinação de ‫ ۀ‬- “os”.
w/n
tempos antigos”.
- Substantivo, masculino, genitivo, 2ª declinação, plural de
w/n
- “dos
26
evn - Preposição locativo – “em”.
w| - Artigo, singular, dativo locativo, 2ª declinação, masculino de ‫ ۀ‬- “no”.
w - Substantivo, masculino, singular, dativo locativo de
(Deus) – “no Deus”.
w - Artigo, singular, dativo locativo, 2ª declinação, masculino de ‫ ۀ‬- “no”
ả - Artigo, neutro, plural, acusativo, 2ª declinação de Ò - “os”.
- Adjetivo, neutro, plural, 3ª declinação, acusativo de
(cada) – “todas coisas”.
- Particípio do 1º aoristo, singular, dativo locativo, masculino, ativo de
(crio) – “criando”.
ả - Preposição genitiva – “através de”.
- Substantivo, masculino, genitivo, singular, 2ª declinação, de
(Jesus Cristo) – “de Jesus Cristo”.
6.1 Considerações Gramaticais do Texto
À medida que formos apresentando algumas considerações gramaticais importantes,
estaremos também expondo as implicações dessas considerações para a interpretação do texto.
O infinitivo
por meio da conjunção evn se liga ao infinitivo anterior
(vs. 8), e ambos estão como resultado do ter recebido a graça (
- vs. 8),
pois o infinitivo é um modificador de um verbo.
O particípio
concorda em gênero, número, e caso com o
sendo então seu modificador qualitativo (adjetival). Está acompanhado de artigo,
27
concordando com o substantivo articulado ( ū
) e, portanto, se encontra na posição
atributiva Sendo perfeito expressa uma ação completada no passado com efeitos permanente
(perma feita); sua voz passiva mostra que o seu modificado (
implicada no verbo (a ò
) está recebendo a ação
- escondo).
A preposição a ò segue-se após o verbo
indicando o ponto de partida temporal ( w/n
composto por a ò (a ò
, estando assim a modificá-lo,
w/n
) da ação verbal. O fato de o verbo ser
) dá a a ò igualmente uma função enfática, ou seja, uma ênfase
quanto a ponto de partida temporal (o mistério se encontrava escondido desde as épocas antigas).
A preposição evn está ligando o substantivo
ao substantivo
w|. Sendo ela
usada no caso dativo locativo, está respondendo a pergunta: Onde está, ou estava, oculto o
mistério? Em Deus (evn
w|
w). Esta é a função da preposição neste caso, expressar uma
relação entre um substantivo e um outro.
O particípio
concorda em gênero, número, e caso com
w, sendo então seu
modificador qualitativo. Está acompanhado de artigo em concordância com o substantivo
articulado ( w|
w) e, portanto, se encontra na posição atributiva (adjetival). Neste caso ele
especifica qual é o Deus em vista, ou seja, o mistério não estava escondido em um Deus
qualquer, mas no Deus criador de todas as coisas. Sendo aoristo expressa uma ação sem projeção
nem dimensão, visto como simples evento, mero ponto (pontilear); sua voz ativa mostra que o
seu modificador (
w) é o autor da ação implicada no verbo (
6.2 Comentário Conclusivo da Análise Morfológica
- crio).
28
A análise morfológica juntamente com as considerações gramaticais do texto de Efésios
3.9 revela-nos as seguintes verdades:
1)
O apóstolo Paulo havia recebido da parte de Deus a graça de pregar os gentios
(vs. 8), e agora ele define como resultado de ter recebido essa graça, a
iluminação de todos (judeus e gentios) acerca do mistério revelado a ele, que
antes estava oculto em Deus, através de sua própria vida.
2)
O apóstolo especifica que este Deus no qual o mistério estava oculto, não era
um deus qualquer, mas o único e verdadeiro Deus, criador de todas as coisas
através de seu filho Jesus Cristo.
29
7 Análise Sintática e suas Considerações
3:8
3:9
(Conjunção Coordenada Aditiva)

(Oração Principal)
(Objeto Direto)
(Adjunto Adnominal)
ή
(Infinitivo)
(Adjunto Adnominal)
ū
(Adjunto Adnominal)
ū
(Particípio Adjetival)
a ò
w/n
w|
w|
w/n
w
(Adjunto Adnominal)
Adjunto Adnominal)
(Adjunto Adnominal)
(Particípio Adjetival)
30
ả
evn
ả
(Adjunto Adnominal)
(Adjunto Adnominal)
(Adjunto Adnominal)
7.1 Traduções
- Literal
E iluminar todos qual a dispensação do mistério tendo sido escondido de os dos tempos
antigos em no Deus no os todas as coisas criando através de Jesus Cristo.
- Idiomático
E iluminar a todos qual a dispensação do mistério que esteve escondido em Deus desde os
tempos, tendo criado todas as coisas através de Jesus Cristo.
31
8 Traduções diversas (Versões)
B.L.H.
E também me deu o privilégio de fazer que todos vejam como funciona o plano secreto de
Deus. Porque ele, que criou tudo, guardou o seu segredo em todos os tempos.
Vulgata – Ed. Paulinas
E de manifestar a todos qual seja a comunicação do mistério escondido, desde o
princípio dos séculos em Deus, que tudo criou.
NT Vivo – Paráfrase
E para explicar a todos que Deus é o salvador dos gentios também, tal como aquele que
fez todas as coisas planejara secretamente desde o principio.
NT – Ortografia Simplificada
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
oculto em Deus, que tudo criou.
32
Nova e Rigorosa Revisão à Luz do Texto Grego
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério que desde os séculos esteve
oculto em Deus, que tudo criou.
Humberto Rohden
As inescrutáveis riquezas de Cristo e patentear como se realizou esse mistério oculto
desde a eternidade em Deus.
Revista e Atualizada
E manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que
criou todas as coisas.
Bíblia de Jerusalém
É de por em luz a dispensação do mistério oculto desde os séculos em Deus, criador de
todas as coisas.
Bíblia Viva
E para explicar a todos que Deus é o salvador dos gentios também, tal como Aquele que
fez todas as coisas planejara secretamente desde o princípio.
Edição Contemporânea
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
oculto em Deus, quando a tudo criou.
33
Texto por Alfalit do Brasil
E iluminar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os tempos esteve oculto
em Deus, que criou todas as coisas.
Bíblia Ave-Maria
E a todos manifestar o desígnio salvador de Deus, mistério oculto desde a
eternidade em Deus, que tudo criou.
9 Análise Lexicográfica
(phōs), “luz”, “fulgor”, “brilho”;
“trazer à luz”;
(phōtizō), “iluminar”, “lançar luz sobre”,
(phōtismos), “iluminação”, “esclarecimento”;
(phōteinos), “brilhante”, “fulgoroso”, “radiante”;
“brilho”;
-
(phōstēr), “iluminário”,
(phōsphoros), “trazendo luz”, “estrela da manhã”.
CL
Em Homero, há uso freqüente do substantivo to phaos, mais tarde abreviado, e. g. pelos
escritores trágicos, à sua forma Ática, phōs. Seu significado básico de “luz”, “brilho”, também
abrange os seguintes matizes, entre outros: “luz solar”, “luz do dia”, “tocha”, “fogo”, “luz do
fogo”, “vista”. Figuradamente, phōs significa a “luz da vida”, isto é, a própria “vida”, que é
altamente estimada como coisa „brilhante”, e como coisa comparável com a salvação, a felicidade
34
ou o triunfo militar. Aquele que traz semelhante salvação também pode ser referido como sendo
phōs.
O verbo phōtizō (desde Aristóteles), formado da mesma raiz, é quase sempre transitivo,
com o significado de “iluminar”, “lançar luz sobre”, “trazer à luz”, “tornar visível”. Seu
substantivo correspondente, phōtismos denota “brilho”, “radiância”, ou “iluminação”,
“manifestação”, “revelação”. Há também o adjetivo phōteinos (desde Xenofontes), “brilhante”,
“fulgoroso”.
Outro derivado de phōs é phōstēr (desde Helidoro), “luzeiro” ou “brilho”, e, de Eurípedes
em diante, a “estrela da manhã” é chamada phōsphoros.
Relativamente cedo no uso grego, phōs (em contraste com skatos, “escuridão”, ou nyx
“noite”) veio a significar a esfera do “bem” ético, enquanto se diz que as más ações se praticam
na escuridão. Daí ser tarefa de, e.g. um juiz, “trazer à luz” as coisas ocultas.
-
LXX
Há no AT, referências freqüentes à luz e aos seus efeitos. Depois de citar B. Jacob e A.
Dillmann, que, respectivamente, descrevem luz como sendo “o elemento mais sublime”, e “o
mais excelente de todas as forças elementares”, G. Von Rad acrescenta seu próprio epíteto: “o
primogênito da criação” (Gênesis, 1963², 49; cf. Gn1.3 ss). Indica que esta luz primeva tem a
primazia sobre todas as demais luzes: até as estrelas “não são de modo algum criadoras de luz,
mas apenas portadoras intermediárias de uma luz que existia sem elas e antes delas”.
Há no AT, referências freqüentes à luz como tipo de atributo de Deus: a luz é seu manto
(Sl104.2). Sua proximidade e presença são indicadas pela luz (Êx13.21-22).
35
Para o homem a luz de Javé significa salvação, idéia que se expressa com clareza no
Sl 27.1.
Mesmo durante a sua vida terrestre, no entanto, o homem piedoso desfruta da luz dos
viventes (Sl112.4). É somente quando Deus ilumina o homem que a natureza da realidade se lhe
torna clara, e isto sem qualquer iluminação mística.
Uma antítese, achada mormente na Literatura Sapiencial do AT, da luz e das trevas como
respectivas esferas dos que temem a Deus e dos ímpios (e.g. Pv4.18-19), recebe tratamento
radical nos textos de Cunrã. Um dualismo da luz e das trevas. Conflito entre os filhos da luz (os
membros da comunidade de Cunrã) com os filhos das trevas.
Filo pregava phōs mormente com referência a questões de conhecimento. Logo, Sophia,
sabedoria, e epistēmē, “conhecimento”, são chamados de phōs dianaias, a “luz do conhecimento”.
Isto é, lançam verdadeira luz sobre a questão inteira da existência.
O logos é luz, assim como nous ou “entendimento” humano também é luz.
- NT
No NT, phōs ocorre 72 vezes, das quais 33 nos escritos de João, 14 nos Evangelhos
Sinóticos, 13 em Paulo e 10 em Atos. Phōtizō ocorre 11 vezes; phōtismos duas vezes (2Co4.4, 6);
phōteinos ocorre 4 vezes; phōstēr duas vezes (Fp2.15; Ap21.11); e phōsphoros uma só vez
(2Pe1.19).
O significado original e literal é visto com referência à luz do sol (Ap22.5), que está
ausente à noite (Jo11.10), à luz das lâmpadas (Lc8.16; 11.33; 15.8; At16.29; Ap18.23; 22.5) e ao
rubor caloroso de uma fogueira (Mc14.54; Lc22.56).
36
A nuvem brilhante que Deus empregou na transfiguração do Seu Filho (Mt17.5) aponta
além de si mesma para Deus, cuja manifestação vem inevitavelmente acompanhada pela
efulgência. O Filho, também é cercado por radiância: “o seu rosto resplandecia como o sol, e as
suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mt17.2). Aqui, a luz é uma manifestação da
presença de Deus; nalgumas outras passagens, indica a manifestação do Cristo exaltado (At9.3;
22.6, 9, 11; 26.13), e, noutras ainda, a vinda de anjos como mensageiros da parte do próprio Deus
(At12.7; cf. Mt28.2-3).
Os discípulos também recebem a discrição de “luz” ou luzeiros (Mt14, 16; Lc12.35; cf.
Ef5.8; Fp2.15), sendo que a tarefa deles é passar adiante a luz divina que receberam.
Paulo, embora empregue estas palavras menos freqüentemente do que João dá-lhes um
conteúdo teológico semelhante. A luz e as trevas são incompatíveis quanto à justiça e iniqüidade
(2Co6.14), idéias estas que possivelmente foram influenciadas por Cunrã.
Assim como o AT e o judaísmo posterior, o NT descreve o futuro dos ímpios em termos
de escuridão escatológica que simboliza a perdição.
2Pe1.19 contém admoestações. Não há base semântica para interpretar phōsphoros
(literalmente “trazedor da luz”) como sendo o sol. No termo era empregado no grego clássico
para a “estrela da alva”, o planeta Vênus que precede a aurora. Quanto às estrelas como símbolos
messiânicos, ver Nm24.17.
- Conclusão
37
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do verbo
, utilizado por Paulo em Efésios 3.9, é “esclarecimento”, tendo assim, pois, um
sentido explicativo.
Desejamos apresentar alguns argumentos que provam a veracidade dessa nossa
afirmativa.
A afirmação feita acima tem por base o significado do termo supracitado, no grego
clássico. Onde desde Aristóteles o verbo
com seu substantivo correspondente,
, davam a denotação de “iluminação”, “esclarecimento”, “explicação”, “lançar luz
sobre”, e “trazer à luz”.
No AT, o sentido pende para o próprio Deus (atributos, presença, salvação e outros) e
para o dualismo da luz e das trevas (Comunidade de Cunrã). Apenas em Filo é que vamos
encontrar o termo utilizado para “conhecimento” ou “entendimento”.
Em Paulo, encontramos o emprego deste termo (
) como “iluminação do
conhecimento” (2Co4.6) e trazer à luz aquilo que está oculto (1Co4.5; Tg1.7).
Portanto, com base no que já foi apresentado, reafirmamos que o significado do verbo
em Efésios 3.9 é “esclarecimento”.
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do verbo
, dentre estes podemos citar alguns 1Co4.5; Ef1.18; 2Tm1.10.
O verbo
ocorre no Novo Testamento 11 vezes, sendo que não possui sentido
igual ao de Efésios 3.9 em todos os textos.
Das 11 ocorrências apenas 8 têm o sentido de “esclarecimento”, em conformidade com o
texto de Efésios 3.9 como citado acima.
As 3 ocorrências restantes se dão com os seguintes significados: em Lc11.36 “... a
Candeia quando te ilumina em plena luz”, tem o significado de “espalhar luz”; em Ap21.23 “... a
38
glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a ...”, e Ap22.5 “... porque o Senhor Deus brilhará
sobre eles, e...”, têm o significado de “luz do sol”.
(oikonomia), “gerência”, “cargo”;
(oikonomos), “mordomo”;
(oikonomeō), “gerir”, “administrar”, “planejar”.
- CL
Oikonomia, atestada de Xen. e Platão em diante, significava primariamente a gerência de
um lar, mas logo se estendeu à administração de estado (o título de um dos livros de Xen.), e
finalmente se empregava para todo o tipo de atividade que resulta da detenção de um cargo.
Oikonomos (de Ésqui. em diante), se empregava de pessoas, e tem um significado mais
concreto. Denota o mordomo da casa, e, por extensão, gerentes de departamentos independentes
dentro do lar: e.g., o porteiro, o gerente das terras, o cozinheiro-mór, o contador, sendo todos
estes oficiais domésticos recrutados mormente dentre os escravos. De modo semelhante,
oikonomeō significa “gerir como mordomo do lar”, “ordenar”, “regular”.
- LXX
39
A ocorrência das palavras na LXX não oferece muita ajuda para a compreensão do
conceito do NT Oikonomia ocorre apenas em Is22.19, 21, e mesmo ali, no significado original de
“administração”, “cargo”. Oikonomos aparece um pouco mais freqüentemente, e também se
emprega no sentido técnico da palavra, para um “oficial palaciano”, mormente o governador do
palácio real.
- NT
No NT, este grupo de palavras não aparece com freqüência. oikonomia ocorre 9 vezes,
oikonomos 10 vezes, e oikomomeō uma vez (Lc16.2). Mesmo assim, foi estabelecido algum tipo
de uso especifico neotestamentário, tendo dois diferentes aspectos principais.
As palavras se empregam no seu sentido técnico para denotarem a ocupação de
administrador da casa e das propriedades, bem como suas tarefas (Lc12.42; 16.1ss). Gl4.2
também pertence a essa categoria. Aqui, oikonomos se emprega para descrever a minoridade do
homem antes do Criador ser enviado, mas também serve, dentro da metáfora, como designação
de uma ocupação, a fim de esclarecer um conceito jurídico: “Mas está sob tutores (epitropous) e
curadores (oikonomous) até ao tempo predeterminado pelo pai”. Em Lucas, o único Evangelho
no qual apareceu oikonomos e oikonomia, oikonomos se emprega alternadamente, com doulos,
“escravo” (Lc12.42ss).
A posição do restante do NT é semelhante. Em 1Co4.1, Paulo emprega oikonomos
metaforicamente para descrever a tarefa apostólica e, assim como nos evangelhos, lado a lado
com doulos.
Para entender os conceitos de oikonomia e de oikonomos, é necessário se referir às suas
raízes no conceito da casa, como acontece no NT (oikos). O povo de Deus, a comunidade de
40
Deus, é Sua casa, que Ele edifica mediante a obra daqueles que vocacionou à tarefa, aos quais
confia a administração da casa. Não devem considerar estas questões da casa como sendo
assuntos particulares deles; são meramente mordomos dos dons que eles foram confiados, e
devem prestar contas da sua mordomia (Lc16.2). Em 1Co4.1, Paulo se apresenta, juntamente com
seus cooperadores, como “ministros de Cristo, e despenseiros dos ministérios de Deus”. De
forma semelhante, Paulo chama a pregação do evangelho uma “responsabilidade de despenseiro”
(oikonomia) do qual não se pode retirar. Cl1.25 e Ef3.2 talvez pertençam a esta categoria,
também. Nestas passagens, o encargo divino entregue ao apóstolo está em discussão. Reconhecese que poderia haver alguma dúvida em ambos os casos se o significado aqui não é “plano de
salvação”.
O emprego da palavra oikonomia se movimenta numa segunda direção, no sentido de
“plano de salvação” da parte de Deus. Este significado, que se relaciona com a história da
salvação, talvez veio a existir na base da largura de sentido da palavra grega, que pode denotar os
planos e as disposições das autoridades, bem como as medidas mediante as quais se pode obter a
ajuda de poderes celestiais. Em Efésios, emprega-se para o plano divino da salvação, que foi
oculto em Deus desde a eternidade (Ef3.9), e agora, na plenitude do tempo, foi levado a efeito de
Cristo (Ef1.10).
Mesmo assim, o primeiro significado do termo e o segundo não são completamente
independentes entre si. Sendo que Deus permite que seu plano de salvação seja proclamado
através dos homens (1Co4.1), a obra do oikonomos se arraiga na oikonomia divina. Assim como
o tempo tem sua função no plano de Deus, um período de tempo determinado é concedido ao
mordomo, embora talvez nem ele saiba por quanto tempo há de durar sua mordomia (Lc12.46).
No fim, do prazo, deve prestar contas. Assim, na base do plano de Deus para a salvação, o
41
próprio tempo é uma dádiva confiada aos homens, e deve ser bem empregada (Cl4.5; Ef5.15-16)
e manejado com responsabilidade.
-
Conclusão
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do substantivo
, utilizado no texto, por Paulo em Efésios 3.9, é “plano de salvação”, tendo assim,
pois, um sentido de dispensação.
Desejamos apresentar alguns argumentos que provam a veracidade dessa nossa
afirmativa.
Como foi dito acima o conceito do termo supracitado refere-se às suas raízes no conceito
da casa. Sendo o povo de Deus Sua casa, Ele os confia a administração da mesma. São
meramente mordomos dos dons que lhes foram confiados, dentre eles a responsabilidade da
pregação do Evangelho, como despenseiros. Daí a movimentar-se em direção do significado de
“plano de salvação” da parte de Deus.
Portanto, com base no que já foi apresentado reafirmamos que o significado do adjetivo
em Efésios 3.9 é “plano de salvação”.
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do adjetivo
, dentre estes podemos citar alguns, tais como: Ef3.2; 1.10; Cl1.25.
O adjetivo
ocorre no NT 9 vezes, sendo que apenas 4 vezes o termo tem o
mesmo significado encontrado em Efésios 3.9, “plano de salvação”.
As outras 5 vezes variam das seguintes formas: Lc16.2, 3, 4, o termo tem o significado de
“administração”, “cargo”; em 1Co9.17, o termo significa “mordomo”; em Ef1.10, o termo
significa “administração (execução)”; em 1Tm1.4, o termo significa “mordomia”.
42
-
1-
CL
Encontrados desde os tempos dos poetas Trágicos, deriva de μyō,”fechar”(na
boca), e significa aquilo que não deve e nem pode ser dito. O plural é quase exclusivamente um
termo técnico para festivais tais como aqueles que eram realizados em Elêusis desde o século
XVIII a C., e que eram generalizados durante o período helenista e especialmente nos tempos
cristão como os mistérios associados com Ísis, Átis, Mitras, etc. A celebração do mistério fazia
uma representação cerimonial e dramática da divindade que padecia a morte e a ela vencia, e os
iniciados atingiam a salvação (sōtēria; Redenção, art. sōzō) e a deificação mediante a participação
nos fortéinios da deidade por meio de atos sacramentais tais como o batismo, as festas rituais e
cerimoniais da morte e da ressurreição (Batismo, art. baptizō NT). Os atos e símbolos culturais
eram conservados rigorosamente secretos. 2- μyeō significava originalmente “iniciar” (nos
mistérios), e depois (como no gr. do NT) assumiu o significado de “instruir”, “ensinar”. 3- Já nos
tempos de Platão, idéias e termos dos cultos de mistério estavam sendo transferidos para a
filosofia: Platão descreve o caminho do conhecimento para a existência imutável como sendo o
caminho da verdadeira iniciação. Na filosofia mística posterior, especialmente no neoplatismo,
μυστήριο
é aquilo que pela sua própria natureza não pode ser reduzido a palavras. No
gnosticismo (conhecimento) os mystēria ficam sendo revelações secretas outorgadas somente aos
“perfeitos” (teleioi), tendo em vista a redenção das suas almas.
43
-
LXX
Mystērion ocorre somente nos escritos posteriores, isto é, aqueles que pertencem ao
período helenístico; a mesma coisa é verdade no caso de apokalypsis, “revelação”, no seu sentido
teológico da revelação de um mistério. O AT não estava disposto a abandonar a idéia de que as
palavras e atos de Deus na história são manifestos no sentido de serem realizados diante dos olhos
do mundo inteiro. Numerosas passagens demonstram este fato. Deus fala em segredo (Is45.19;
48.16). Am 3:7-8 chega ao ponto de contradizer o conceito posterior de “mistério” ou “segredo”
(Heb. sôd).
Quando ocorre mais tarde na LXX, a terminologia de mistério freqüentemente se refere
aos cultos pagãos. Mysterion sempre traduz o Heb. sôd, “fala confidencial”, “segredo”, a não ser
em Daniel, onde ocorre mais freqüentemente, e corresponde ao Aram. rāz. Daniel emprega a
palavra num sentido teológico muito definido, o do “segredo escatológico” a visão daquilo que
Deus decretou que acontecerá no futuro (Dn2.28). Desta maneira, Daniel serve como transição
para o uso do termo na apocalíptica judaica posterior, onde os mystérios são usados no sentido
único dos eventos escatológicos: o juízo e o castigo dos pecadores (Et38.3), o galardão dos justos
(Et83.7), e outros.
Na literatura rabínica, também há referências a “segredos” em conexão com a
interpretação da tradição escrita e oral. Os segredos da Torah procuram revelar a operação interna
da mente do Legislador, e, sendo que também é “o segredo da criação”, lançar luz sobre seus
propósitos para o mundo (Enoque Heb11.1).
Dentro da verdadeira tradição apocalíptica, os textos de Cunrã falam dos segredos que
Deus preparou para os homens (freqüentemente em associação estereotipada com pele,
44
“maravilha”, “milagre”, “maravilhoso”, “milagroso”), sendo que não é feita nenhuma distinção
quanto ao significado entre sôd e rāz. Os “segredos maravilhosos”são os decretos de Deus,
segundo os quais, de modo estritamente dualista e predestinário, separou seção da humanidade,
os filhos da justiça, para o caminho da luz (1Qs3.20), e a outra seção, os filhos do mal, para os
caminhos das trevas (1Qs3.21). Os segredos dão informações a cerca dos propósitos de Deus para
o mundo desde seu próprio início até seu fim.
- NT
Mystérion é comparativo raro, e ocorre apenas cerca de 27 vezes. É significativo ao fato
que é achado mais freqüentemente (20 vezes) em Paulo (5 vezes em 1Co; 6 vezes em Ef; 4 vezes
em Cl; 2 vezes em Rm e 1Tm, e uma vez em 2Ts), visto que é aqui que os cultos de mistério e o
gnosticismo são diretamente enfrentados. A palavra ocorre uma vez cada em Mt, Mc e Lc, e,
conforme seria de esperar é achada também no Ap. (4 vezes). Sua total ausência no Evangelho
segundo João é notável. Mc4.11 (par. Mt13.11; Lc8.10) com figura da ceifa, isto é, o
aparecimento do reino de Deus.
O mistério com que Paulo firmemente confronta seus oponentes em 1Co é o da Cruz de
Cristo, pois ela revela o decreto redentor de Deus para o mundo.
Praticamente onde quer que ocorra no NT Mystérion acha-se com verbos que denotam
revelação ou proclamação, isto é, mystérion é aquilo que é revelado. É um segredo da atualidade,
não algum fato isolado, vindo do passado, que meramente precisa ser notado, mas, sim, uma
coisa dinâmica e compulsória.
Esse fato se expressa vividamente em Colossenses. Mediante seu ofício, o apostolado
45
cumpre (Cl1.26) “o mistério de Cristo” (4.3), isto é, ao carregar no seu próprio corpo o que ainda
resta das aflições de Cristo (2.24), dá expressão prática ao “mistério” e o sendo Cristhos em
hymim, “Cristo em vós”, isto é, a igreja ao alcance mundial, tendo Cristo como Seu Cabeça,
tendo reconciliado o universo inteiro e a totalidade da humanidade através da sua morte
(1. 18,20). Este fato foi oculto das gerações anteriores (1.26), mas agora homens especialmente
consagrados têm confiado a eles a tarefa de proclamá-lo a todos (1.28), a fim de que, como
homens perfeitos (teleioi) todos possam participar do poder do primogênito dentre os mortos
(1.18) a ser incorporados no seu corpo ressurreto (1.28).
Em Efésios, também, o mistério de Cristo é essencialmente o fato de que, através de
Cristo, os gentios receberam acesso ao Pai de toda a criação (Ef3.15; 2.18). São membros da
igreja mundial de judeus e gentios, descrita figuradamente em Ef2.20-21 como edifício cuja
pedra-chave ou pedra angular é o fundamento de toda a criação (Rocha). Esta foi à vontade de
Deus antes de começar o tempo (3.9; 1.19) e tudo isto fazia parte do seu grande propósito (3.6).
Foi conservado oculto dos homens no passado, mas agora, já que o tempo se cumpriu (1.10),
Deus fez conhecida sua vontade a aqueles que proclamam o evangelho (3.8), a fim de que através
deles, seu propósito possa ser cumprido (1.9-10).
A única outra passagem cristológica é Tm3.9, 16, onde o mystérion tés pistéos (“mistério
da fé”) e o tés eusebias mystérion (“o mistério da [nossa] religião”) referem-se a confissão de
Cristo e da Sua obra redentora, isto é, mystérion aqui é uma paráfrase para confissão de fé
formulada (sobre este hino 3.16; Revelação, art. epiphaneia s (C)).
1Co15.51 diz respeito a parousia de Cristo. Paulo conta aos Coríntios o mistério
apocalíptico de que raiará o dia iminente da ressurreição, quando serão transformados todos
aqueles que ainda vivem.
46
Em Ef5.32 mystérion refere-se ao sentido alegórico de um versículo da Escritura, sendo
que Gn2.24 é interpretado como sendo uma referência ao relacionamento entre Cristo e Sua
Igreja. A frase do apóstolo egō de legō eis (“Entendo que significa”RSV) visa excluir qualquer
outra possível interpretação.
2Ts2.7 tem a marca apocalíptica; sendo que o contexto trata dos eventos que devem
preceder a parousia.
No Ap, os mistérios referem-se, semelhantemente, aos eventos apocalípticos que,
ocorrendo num período de tribulação, antecederão a volta do Senhor.
Quanto ao segredo messiânico, há grandes discurções a respeito do fato de Jesus ter
pedido sigilo por várias vezes, e após sua morte ordenado a proclamação. Alguns estudiosos
fazem distinção entre o Jesus histórico e o Jesus teológico, para justificarem este fato. Seria a
revelação do Messias de forma gradativa na história, culminando na revelação teológica para a
Igreja Primitiva.
-
Conclusão
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do substantivo
utilizado por Paulo em Efésios 3.3, é “o decreto redentor de Deus para o mundo”,
tendo assim, pois, um sentido predestinário.
O substantivo
ocorre 27 vezes no NT, sendo que em 13 dessas ocorrências
têm o mesmo significado encontrado em Efésios 3.9 “decreto redentor de Deus para o mundo”.
Nas outras 13 ocorrências encontramos os seguintes significados: em Mt13.11; Mc4.11;
Lc8.10 significa “decretos de Deus acerca de Cristo e sua igreja”; em 1Co13.12; Ap1.20 significa
47
“segredos”; em 1Co14.2 significa “dom espiritual”; em 1Co15.51; Ap10.7; 17.5, 7 significa
“eventos que antecedem a vinda de Cristo”; em Ef5.32 significa “relacionamento entre Cristo e
sua igreja”; em 2Ts2.7 significa “eventos que antecipam a vinda de Cristo”; em 1Tm3.9 significa
“algo de natureza que não pode ser reduzido à palavras”.
9.4
ò
(kryptō),
“esconder”,
“ocultar”;
(kryptos), “escondido”, “secreto”; a ò
a ò
(apokryptō), “esconder”;
(apokryphos), “escondido”;
(kryphios), “escondido”.
- CL
Kryptō, “esconder”, “ocultar”, figurativo “conservar secreto”, se atesta no Grego Clássico
a partir de Homero. Do aoristo hel. Ekryben (comum na LXX, e.g. Gn3.8) deriva-se o verbo
krybō, que tem o mesmo significado (acha-se no NT apenas na forma periekryben, “conservou-se
oculto” _ Lc1.24). O derivado apokryptō (Homero) tem o mesmo significado. O grupo também
inclui o advérbio kryphē, “secretamente”, (no NT, apenas em Ef5.12), e o adjetivo kryphaios,
“escondido”, que somente se acha no uso bíblico (Jr23.23; Lm3.10; no NT, somente em Mt6.18,
par, en tō kryptō, “secretamente”, vv. 4, 6). O substantivo kryptē, “casa mortuária”, “adega”,
“canto escondido” (atestado a partir do séc. III a.C.), se acha no NT somente em Lc11.33.
48
- LXX
Na LXX kryptō se acha no sentido literal de “esconder” (e.g. Gn3.8, 10) bem como no
sentido figurado de “conservar secreto” (e.g. Gn18.17; 1Sm3.17, 18). Representa várias raízes
hebraicas com o mesmo sentido básico, e.g. hābā‟, “esconder”, “ocultar” (Gn3.8, 10; 1Sm14.11),
khd (piel), “esconder”, usualmente tem o mesmo significado figurado (Is40.27; Sab6.22). O
adjetivo kryptos se emprega tanto no sentido literal quanto no figurativo (2Mac1.23 e Dn29.29).
Apokryphos, “escondido”, se emprega em Is45.3, 1 Mac1.23 e Dn11.43 de tesouros “secretos”. A
expressão em apokryphō, “em segredo”, também se acha (e.g. Dt27:15; Sl10.8).
A qualidade oculta e inabordável de Deus se retrata de modo impressionante no AT, na
história da vocação de Moisés. Este não tem licença de se aproximar do Deus que se revelou a
Ele na sarça ardente. Deus se oculta aos homens, mas os homens não podem se esconder de
Deus.
Assim, portanto, o AT dá expressão, em grande variedade de modos, à tensão entre a
natureza oculta de Deus e sua revelação. Deus também se revela nos seus julgamentos, como
justo Juiz que traz à luz aquilo que é oculto (Ec12.14; 2Mac12.41). Desta forma, revela a Abraão
o julgamento que está a vir sobre Sodoma. Aqui há uma indicação, sem declaração explícita, de
que Ele é o Deus gracioso cuja ira perdura para sempre (Gn18.23-33).
No judaísmo no período do NT, a literatura apocalíptica que continua a tradição do livro
de Daniel se ocupa em grande parte com as coisas ocultas, especialmente na medida em que
dizem respeito ao futuro. Mesmo no judaísmo rabínico, não desaparece totalmente a consciência
do fato de que Deus se oculta juntamente com seus mistérios, embora fique contrabalançada pela
convicção do judeu piedoso de que a revelação plena e válida de Deus já lhe foi dada na lei. O
49
judeu, conforme Paulo o caracteriza, possui na lei “a concretização do conhecimento e da
verdade” (Rm2.20), o que capacita o ser “guia dos cegos”, luz dos que se encontram em “trevas”
(Rm2.17-20).
- NT
No NT kryptō ocorre 19 vezes, e apokryptō 4 vezes.
As declarações que tratam da natureza oculta da revelação e da obra revelatória de Deus
são de significância teológica. A revelação que Deus dá as criancinhas mediante Jesus permanece
oculta aos sábios e prudentes (Mt11.25; Lc10.21). A natureza oculta da revelação corresponde à
natureza oculta do reino do céu. A declaração em Mt10.26 dá origem, no v. 27, à comissão aos
discípulos no sentido de espalharem a mensagem: é assim que aquilo que era oculto será tornado
conhecido. A mensagem não deve ser espalhada somente pela palavra, como também pelas obras
dos discípulos.
Paulo declara que a mensagem apostólica é a sabedoria oculta de Deus, que Deus ordenou
desde toda a eternidade para a nossa glória (1Co2.7, apokekrymmenem). Tem sua origem na
revelação divina (Rm16.25; 1Co2.10; Gl1.12). Seu conteúdo é Cristo, a quem Deus fez sabedoria
para nós (1Co1.30); a mensagem inspirada pelo Espírito nos traz conhecimento de Deus
(1Co2.10-11).
A Epístola aos Efésios e Colossenses levam esta idéia ainda mais longe. A mensagem é o
segredo, oculto desde o inicio do mundo às gerações anteriores, mas agora é revelada aos santos
(Cl1.25ss) e aos santos apóstolos e profetas (Ef3.5ss). Desta forma, a linguagem do NT a respeito
dos tesouros ocultos, se interpreta como sendo referência a Cristo (Cl2.3).
50
Ap2.17 fala do “maná escondido”, a dádiva do mundo celestial. O maná era o alimento
secreto que Deus providenciou, e que Israel recebeu do céu durante sua viagem pelo deserto
(Êx16.4). Na expectativa judaica seria dado de novo a Israel no fim das eras. Esta dádiva será
recebida pelo “que vence”, que mantém, em meio a todas as provações, sua lealdade a Deus. Em
última análise, esta dádiva é o próprio Cristo. Ele é o pão de Deus que desce do céu (Jo6.33ss).
Fica claro, com tudo isso, que a linguagem acerca do aspecto oculto de Deus e das coisas
divinas se vincula ao olhar no NT para o futuro. Deus é o juiz que trará ao julgamento os
segredos dos homens (Rm2.16), e trará a luz as coisas ocultas das trevas e revelará os propósitos
do coração (1Co4.5), assim como o Espírito de Deus já operante nos cristãos, revela os segredos
do coração (1Co14.25).
A palavra “apócrifo” entrou no uso comum por causa da literatura chamada apócrifa.
Consiste em escritos secretos e escondidos, que não se liam diante da igreja. O caminho foi
preparado para o aparecimento desta leitura pelo fato de que, no período do NT, a autoridade da
Escritura, ou das Escrituras, já tinha sido estabelecida, enquanto a questão quanto aos escritos que
pertenciam às Escrituras “canônicas” autoritativas ainda não fora completamente resolvida.
Além dos apócrifos do AT há um corpo apócrifo no NT, que consiste nos escritos que se
relacionam com o NT, ou por meio da forma literária ou pela data de origem.
- Conclusão
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do verbo
ò
, utilizado por Paulo em Efésios 3:9, é “conservar secreto”, tendo assim, pois,
um sentido de segredo.
51
Desejamos apresentar alguns argumentos que provam a veracidade dessa nossa
afirmativa.
Como foi dito acima, o próprio AT (LXX) ao utilizar o termo supracitado, o faz no
sentido de “conservar secreto”.
Como exemplo temos Gênesis 18.17 onde, “Disse o Senhor: ocultarei a Abraão o que
estou para fazer, visto que abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação...?” Não
haveria problema algum se fosse trocado o termo “ocultarei” por “conservarei em secreto”, visto
que se tratava de algo já declarado e resolvido da parte de Deus, e que relado ou não viria a
acontecer do mesmo jeito.
Também em 1Samuel 3.17, 18, onde Eli pede a Samuel que não conserve em secreto o
que Deus havia lhe dito.
Paulo declara que a mensagem apostólica é a sabedoria oculta de Deus, que Deus ordenou
desde toda a eternidade para nossa glória.
Nas Epistolas aos Efésios e aos Colossenses leva sua idéia ainda mais longe quando
afirma que a mensagem é o segredo, oculto desde o inicio do mundo às gerações anteriores, mas
agora é revelada aos santos.
Portanto, com base no que já foi apresentado reafirmamos que o significado do verbo
ò
em Efésios 3.9 é “conservar em secreto”.
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do verbo
ò
, dentre estes podemos citar alguns, tais como: 1Co2.7; Cl1.26.
O verbo
ò
ocorre no NT 4 vezes (Lc10.21; 1Co2.7; Ef3.9; Cl1.26), em todas
elas o termo têm o mesmo significado: “conservar em secreto”.
52
(ktizō), “criar”, “produzir”;
“coisa criada”, “criatura”;
(ktisis), “criação”, “criatura”;
(ktisma),
(ktistēs), “originador”, “criador”.
- CL
A raiz
(segundo Hofmann) já se acha no grego miceneano, e tem o significado de
edificar sobre”, “fundar”. O verbo
(Homero) originalmente tinha significado de raiz, e,
depois o significado transferido de “trazer à existência”, “colocar em operação”, “colonizar”.
(Daí o particípio substantival, hoi ktisantes, “os habitantes originais”). O substantivo derivado, hē
ktisis (híndaro) significa: “o ato da criação”; “a coisa criada”, o resultado deste ato; mais
raramente, o resultado do ato de uma autoridade, geralmente uma fundação. O significado “a
coisa criada” pode-se comparar com to ktisma (políbio). To ktisma não ocorre antes da LXX
neste sentido do resultado da criação.
- LXX
A LXX tem dois termos para “criar” dēmiourgein, “trabalhar com matéria; “manufaturar”;
e ktizcin que expressa o ato decisivo e básico que subjaz o trazer à existência, guardar ou instituir
alguma coisa. Destas palavras, a segunda é conscientemente preferida como descrição da
atividade criadora de Deus.
53
No hebraico bārā‟ (traduzida ktizō 16 vezes) é um termo teológico, cujo sujeito sempre é
Deus. É a palavra que se emprega para transmitir a fé explicita na criação, que se expressa nos
capítulos posteriores de Isaías e no desenvolvimento da teologia de Gn. 1 bārā‟ exprime a
atividade criadora incomparável de Deus, na qual a palavra e o ato são a mesma coisa. Refere-se
não somente à atividade de Deus em chamar à existência o mundo e as criaturas individuais como
também às suas ações na historia que subjazem a eleição, o destino temporal o comportamento
humano, e até a justificação.
As versões gregas posteriores do AT, Teodósio (séc. I d.C.), Áquila (séc. II d.C.) e Sínaco
(séc. III d.C.), consistentemente empregam ktizein ao invés das palavras mais gerais que a LXX
empregou para traduzir bārā‟ em passagens que consideram importantes em Gn, Dt., Is. e Jr.
Estas incluem Gn1.1, céus e terra; 1.27, o homem na imagem de Deus; Is4.26, as hostes
celestiais; 41.20, nova vida as plantas do deserto, com a figura do poder histórico de Javé para
salvar; 43.7, nações estrangeiras dos confins da terra; 65.17-18, os novos céus, a nova terra, a
nova Jerusalém, o novo povo; Jr31.22, uma coisa nova na terra.
Qānâh (traduzido 3 vezes por ktizō) significa “criar”, “produzir”. Gn14.19, 22 fala de
Deus Altíssimo, com bênção e oração respectivamente, como Aquele que fez o céu e a terra.
Yāsar (duas vezes traduzido por ktizō) significa “formar”, “plasmar” (como um oleiro),
ou “planejar”. Ás vezes se emprega a respeito da ação espontânea de Deus na historia. Ele dirige
os destinos (Is22.11). São simultâneos seu planejar e seu fazer (poieîn).
Kûn (duas vezes traduzido por ktizō) se emprega tanto da criação como da operação de
Deus na história.
Ktizō se emprega uma vez para yāsad (niph. “ser fundado”; emprega-se do Egito em
Êx9.18); uma vez para „ānad, literalmente “ficar em pé” mediante a palavra criadora de Deus
54
(Sl33 [32].9). Também se emprega uma vez para šākan, “ser situado”, “estabelecido” (part.), do
“tabernáculo”, a tenda da reunião (Lv16.16) edificada de acordo com o padrão revelado (Êx25.9).
Nas passagens sem equivalentes hebraicos, que pertencem mormente à literatura da
sapiência e a história legendária, dá-se expressão à prioridade contemporânea da doutrina da
criação sobre a doutrina da redenção. Especialmente neste último tipo de literatura, a confissão, o
louvor, e a oração ao Criador podem se transformar em base e conteúdo de fé (1Ed6.13;
Jud13.18; Bel5; 3Mac2.3, 9). Com exceção de Ag2.9 (um acréscimo da LXX ao TM), 1Ed5.53,
onde ktizen descreve atos humanos de fundação, o termo se reserva em todos os lugares para a
atividade divina.
O substantivo ktisis tem apenas 2 equivalentes hebraicos no TM, hôn e qinyān, sendo que
cada um destes ocorre duas vezes, com o significado de “posses”, “bens”, “riquezas”,
“pertences”. Em três passagens (Sl105 [104].21; Pv1.13; 10.15) devemos, portanto (e também
com fundamento na critica textual) ler, em preferência, ktēsis, “posses”. É somente no salmo da
criação, Sl 104, que qinyān tem o sentido de “criaturas” (Sl104 [103].24).
O substantivo mais recente, ktisma, ocorre apenas na passagem sem um equivalente
hebraico no sentido alistado em CL, supra (6 vezes, das quais 2 se acham em orações). Em Sab.
9.2, prefere-se uma oração em prol da sabedoria, e considera-se que a sabedoria é o instrumento
da criação, tendo algo a ver com o comissionamento do homem para ter domínio.
O substantivo ktistēs, “criador”, se acha apenas nos textos não-canônicos. 2Sm22.32
(onde o TM tem “rocha”, e somente a LXX traduz “criador”), e Is43.15 (onde Sínaco tem
“criador” para a forma participal “em que criei” (Ec12.1), enquanto a LXX tem “em que te
descobri”) não são exceções verdadeiras, portanto.
55
A seita de Cunrã trouxe à doutrina da criação um dualismo demonológico e
antropológico. Deus criou os espíritos da luz e das trevas, e baseou neles todas as suas obras (1
Qs3.25).
- NT
Ktizō “criar”, “produzir”, e seus derivados se acham 38 vezes no NT Destas, há 14
ocorrências do verbo e 19 do substantivo ktisis nos sentidos mencionados em CL, supra. O
sentido “a coisa criada” pode ser subdivido ainda mais em “criação total” e “criatura”. Ktisma, “a
coisa criada”, ocorre apenas 4 vezes; ktistēs, “criador”, uma só vez em 1Pe4.19. Este último
conceito, no entanto, se expressa 8 vezes por uma cláusula relativa ou um particípio, como na
construção verbal hebraica.
As ocorrências do grupo ktizō de palavras que se aplicam de modo exclusivo à atividade
divina se dividem da seguinte maneira entre os escritores do NT: Mt., uma vez; Mc., 4 vezes; as
Epístolas de Paulo, 22 vezes (Rm., 8 vezes; Ef. e Cl., 4 ou 5 vezes; 1 Tm., uma vez); Hb., 2
vezes; Tg., uma vez; 1 Pe., duas vezes; 2 Pe., uma vez; Ap., 5 vezes.
O NT pressupõe a doutrina judaica e veterotestamentária da criação. Até este ponto, a
igreja cristã segue as narrativas históricas antigas do AT Além disto, porém, o NT ganha um
novo impulso de poder histórico na sua fé no Deus da criação, mediante sua proclamação da
iminência do reino de Deus que tinha em Cristo a sua aurora.
Mediante a pregação e as ações do Jesus histórico, os homens são levados a uma posição
de confiança completa, ininterrupta e curadora no Criador. Jesus demonstra seu poder criador nos
milagres que são chamados “milagres da natureza”.
56
A conseqüência necessária da auto-revelação de Deus que se realizara através de Jesus de
Nazaré foi que a confissão de fé após a ressurreição incluísse a adoração do Ascendido, que agora
se assenta à destra de Deus, como mediador original da criação (1Co8.6; Cl1.16; Hb1.2, 10;
Jo1.1ss).
As referências à doutrina da criação nas Epístolas de Paulo podem ser agrupadas como
segue: aquelas que dizem respeito à natureza da primeira criação, e aquelas que têm como tema a
nova criação, kainē ktisis, que teve em Cristo o seu inicio. Estas últimas predominam, e há muitas
referências à relação entre os dois grupos (e.g. Rm8.19ss; 2Co5.17; Gl6.15).
A interpretação de ktisis em 1Pe2.13 é assunto de debate. Para evitar o ensino ofensivo de
que devamos nos submeter a “toda criatura humana” (que seria o equivalente de dar valor divino
a seres criados), tem sido sugerido que a tradução deva ser “toda instituição humana”, ou que, no
lugar de ktisei, “julgamento”. O conceito de subordinação, no entanto, se modifica pelo
ensinamento de que ela não é para a criatura, nem para nós, e, sim, por amor ao Senhor.
2Pe3.4 defende a esperança cristã da volta de Cristo contra aqueles que argumentam que
há uma continuidade perpétua “desde o inicio da criação”, e que lançam mão desta idéia para
justificar a sua confiança-própria.
A linguagem do Ap. retrata uma antecipação, recebida em visão, do mundo do porvir.
Aquele que se assenta sobre o trono é digno de receber glória, honra e poder, porque Ele criou
todas as coisas e elas devem à vontade dEle a sua própria existência (4.11). Esta adoração da
parte de toda criatura (ktisma) pertence (5.13) não somente a Ele, como também ao Cordeiro
(uma metáfora para o Crucificado e Exaltado).
- Conclusão
57
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do verbo
,
utilizado por Paulo em Efésios 3.9, é “através de sua palavra e dos seus atos, fez todas as coisas,
nos céus e na terra, as espirituais e as não espirituais”, tendo assim, pois, um sentido de atividade
criadora incomparável de Deus.
Desejamos apresentar alguns argumentos que provam a veracidade dessa nossa
afirmativa.
Como foi dito acima, o próprio AT (LXX) ao utilizar o termo supracitado, o faz no
sentido de “através de sua palavra e de seus atos, fez todas as coisas, nos céus e na terra, as
espirituais e as não espirituais”.
Como exemplo temos Gn 1 (bārā‟) que exprime atividade criadora incomparável de Deus,
no qual a palavra e o ato são a mesma coisa. Refere-se não somente à atividade de Deus em
chamar à existência o mundo e as criaturas individuais, como também às suas ações na história
que subjazem a eleição, o destino temporal, o comportamento humano, e até a justificação.
Com exceção de Ag2.9 e 1Ed5.53, todas as outras referências que empregam o termo se
relacionam à atividade divina.
O NT segue o mesmo significado, a mesma doutrina veterotestamentária da criação.
Em Paulo a doutrina da criação diz respeito à natureza da primeira criação, e as que têm
como tema a nova criação, que teve em Cristo seu inicio. Sendo que a segunda relaciona-se com
a criatura somente, ou seja, a nova criatura (2Co5.17; Gl6.15; Ef2.10).
Portanto, com base no que já foi apresentado reafirmamos que o significado do verbo
em Efésios 3.9 é “através de sua palavra e dos seus atos, fez todas as coisas, nos céus e
na terra, as espirituais e as não espirituais”.
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do verbo
, dentre estes podemos citar alguns, tais como: Cl1.16; 1Tm4.3.
58
O verbo
ocorre 15 vezes no NT, sendo que em 12 ocorrências se encontra em
conformidade com Efésios 3.9.
Nas 3 ocorrências restantes, que são 1Co11.9; Ef2.15; 4.24, o significado é “instituir”,
“chamar à existência”.
10 Paráfrase
E esclarecer a judeus e gentios, que no seu decreto redentor para o mundo, Deus é
salvador dos gentios também; tal como planejou e conservou em secreto desde o principio, o qual
fez todas as coisas, tanto as espirituais quanto as não-espirituais através de Jesus Cristo.
59
11 Comentário Teológico
O nosso comentário teológico está fundamentado no seguinte tema: A função ministerial
de Paulo em relação ao mistério revelado.
Para termos uma compreensão mais clara de um versículo bíblico, é importante
analisarmos primeiramente o contexto no qual o mesmo está inserido. No primeiro capítulo da
nossa exegese apresentamos dados informativos sobre diversos aspectos relacionados à Epístola
aos Efésios. Agora faremos uma breve exposição do contexto imediato no qual está incluído a
passagem base para o nosso trabalho, ou seja, Efésios 3.9.
Para se entender o presente parágrafo é preciso ter em mente que o apóstolo conhecia por
experiência pessoal quão difícil era unir judeus e gentios numa unidade orgânica, numa unidade
de perfeita igualdade. Os cristãos judeus amiúde mostravam-se relutantes em admitir gentios na
igreja, exceto via judaísmo.
60
Nos versículos 11 e 12 do capítulo 2, Paulo havia falado das evidências do estado
gentílico que os pagãos levavam na carne, pelo fato de não serem circundados. Qualificados
dessa forma por judeus não convertidos a Cristo, que se gabavam de sua circuncisão, sem se
darem conta de que possuíam apenas o sinal, não a realidade significada pelo sinal.
Paulo traçou um paralelo entre aquele tempo em que os gentios eram, e ainda agora
continuavam sendo, considerados em tão baixa estima, vivendo imensa miséria, visto que viviam
sem Cristo, sem cidadania, sem amigos, sem esperança e sem Deus, com o “porém agora” do
v.13.
Sem Cristo, porque antes de sua conversão esta aproximação “em Cristo” ainda não fora
experimentada por eles em sentido algum; sem cidadania, pois estavam excluídos das bênçãos
indizíveis inerentes à teocracia judaica; sem amigos, referente à experiência de “a amizade de
Jeová” (Sl25.14); sem esperança, porquanto a esperança cristã tem por base a promessa divina; e
sem Deus, não significando que viviam “completamente abandonados por Deus”, pois sabemos
que isto não é verdade, porquanto desde a eternidade já estavam incluídos nos decretos eletivos
de Deus. Mas, sem Deus no mundo pelo fato de seus deuses serem uma mera ilusão.
O “porém agora” estaria indicando um agudo contraste com “anteriormente” (v.11) e
“naquele tempo” (v.12). Anteriormente, “longe”, agora, “perto”. Estas expressões têm seu fundo
panorâmico no AT Na antiga dispensação, Jeová, em certo sentido, manteve sua morada no
templo. Aquele templo ficava em Jerusalém. Israel, portanto, estava “perto”. Em outras terras os
gentios estavam “longe”. Isso era verdadeiro não só de uma maneira literal, mas, sobretudo num
sentido espiritual: geralmente, eles careciam do verdadeiro conhecimento de Deus. Isaías escreve
umas palavras que lançam luzes aqui em Ef2.17: “como fruto dos seus lábios criei a paz, paz para
os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor, e eu os sararei” (Is57.19; // At2.39).
61
Desta forma Paulo dá continuidade mostrando que tanto as evidências gentílicas
(incircuncisão), como as evidências judaicas (circuncisão), tinham sido abolidas em Cristo.
Quando Jesus aboliu em sua carne a lei de mandamentos com suas exigências, a barreira entre
judeus e gentios deixou de existir. Agora já não mais importava o sinal externo ou a ausência do
mesmo, ambos seriam aproximados via Evangelho e via Cristo. Aproximados tanto de Deus,
como de si mesmos, entre si. No tocante a estes dois grupos, fez de ambos um, mesclando-os em
uma unidade orgânica, ou seja, a Igreja. Que a seqüência aqui é à reconciliação entre gentios e
judeus, é óbvio do fato de que estes são os dois grupos mencionados no contexto imediato (vs.11
e 12).
É a este mistério, resumido por Paulo anteriormente no capítulo 2.11ss, como ele próprio
afirma ter feito (3.3), que o apóstolo estará se referindo em todo capítulo 3. O próprio inicio do
presente capítulo, ou seja, as palavras “por esta razão”, indica por si mesmo sua íntima conexão
material com o capítulo precedente. Não obstante, existe progresso no que concerne ao
pensamento. O capítulo 2 mostrou o que Deus fez. O capítulo 3, portanto, indicará o que a igreja
mencionada com nitidez no v.10 deve fazer agora.
Depois de explicar o mistério, de forma breve e resumida, ao qual lhe foi revelado, Paulo
segue reivindicando para si a autoridade apostólica como veículo de revelação desse mistério
(vs.2, 3, 4). Paulo também esclarece que este mistério não havia sido ainda revelado como agora,
o que significa dizer que os profetas do AT tiveram uma revelação embrionária acerca do
mistério. Dessa forma, a missão da igreja encontra as suas raízes mais profundas na missão de
Israel; esta, por sua vez, as baseia intimamente no plano redentor de Deus para toda a
humanidade, como encontrado nos relatos da criação.
Um resumo pode ser visto a partir do fato de que, a humanidade não compreendeu sua
centralidade e responsabilidade como ápice da criação (Gn3) e, por conseqüência, se alienou
62
Deus. O resultado alcançou proporções catastróficas não apenas para a raça humana, como
também para toda a criação (Gn4-6). O julgamento inevitavelmente e necessário veio através do
dilúvio (Gn7-8); contudo, depois e através dele, Deus permaneceu fiel à sua criação e à
humanidade pelo fato de ter poupado alguns, simbolizando uma nova criação (Gn8-9). Apesar
disto, gerações posteriores novamente manifestaram a sua natureza caída no episódio da torre de
Babel. De novo, o julgamento de Deus se estendeu a toda a humanidade, mas essa vez não com
um dilúvio, e sim com a dispersão da humanidade sobre a terra em alienação mútua (Gn11).
A esta altura, Deus se relacionava com todos os povos do mundo. Mas, no capítulo 12
encontramos uma focalização específica de Deus com a nação de Israel. O relacionamento de
Deus com o mundo das nações em Gn1-11 se torna o pano de fundo para a história de Israel, que
começa com os patriarcas e, particularmente, com o chamamento de Abraão. A partir do capítulo
12, lemos sobre a restauração da unidade e da comunhão anteriormente perdidas e quebradas
entre Deus e a humanidade. Neste sentido, Gn12.3 se torna fundamental para a história da
humanidade. “Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti
serão benditas todas as famílias da terra”. Assim, como a desobediência de um homem determina
o destino da humanidade no relato da criação, também a eleição e a obediência por parte de um
homem provocam um outro destino para a humanidade no inicio do relato da restauração.
Isaías expõe com mais clareza esta relação entre a criação e a redenção. É a convicção de
que Iahweh subjugou o caos na criação que gera a confiança de que ele socorrera redentivamente
Israel em períodos de dificuldade na sua história (Sl9-10). Isaias corretamente compreende a
criação não como uma obra separada por si mesma, adicional aos atos históricos de Iahweh, mas
como o primeiro dos milagrosos atos históricos de Iahweh tanto como criador do mundo como,
ao mesmo tempo, o criador de Israel (4.1, 7, 15; 44.2, 21). Ele é o criador no sentido duplo, pois
não somente causou a existência física do seu povo, mas mais especificamente, “escolheu” e
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“redimiu” Israel. Em Isaías 44.1ss, a criação de Israel é coordenada com a sua eleição. De fato,
nesta passagem, criar (bâra‟) e redimir (gâ‟al) podem ser usados sinônimamente (42.5; 43.1).
Os relatos da criação do Gênesis e Isaías não são os únicos que ligam intimamente a
criação e a redenção. Os salmos exibem a mesma característica.
Por exemplo, o propósito do Sl 89 é “celebrar as misericórdias ou atos da graça de Deus”
(hasdtêy Yhvâh) (v.1). Mesmo assim, uma porção considerável no meio do Salmo trata de vários
atos da criação, que devem ser considerados junto com outros atos salvíficos de Iahweh, aludidos
no Salmo.
O Sl 74 começa com um apelo a Iahweh, “que opera feitos salvadores” (pô‟êl yshû‟ôth) e
então, relata, as obras de Iahweh na criação (vs. 12-17). Outros salmos anunciam louvores à
soberania redentora de Deus sobre a criação (33; 104; 8; 24; 19 e 98).
Reconhecemos então, que a redenção já está pressuposta no ato de criação no AT
Certamente esta verdade estabelece a base no NT que vincula a obra redentora de Jesus a seu
papel como criador (Jo1.1-14; Hb1.1-3).
A criação serviu para Israel desafiar constantemente as nações a reconhecer e glorificar
Iahweh. “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.
Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu” (Sl24.1-2).
Assim, por todo AT, são encontradas profecias a respeito da inclusão dos povos
gentílicos, dentro do sistema divino. “... Pois toda a terra é minha” (Êx19.4-6); “Que todos os
povos da terra conheçam o seu nome...” (1Rs8.43); “Para que todos os povos da terra saibam que
o Senhor é Deus, e que não há outro” (1Rs8.60); e outros.
Ao que parece, a inclusão dos povos gentílicos dentro do sistema divino, não foi surpresa
para os israelitas, mas sim, que os gentios ficariam em pé de igualdade com eles. A igreja, como
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entidade distinta e muito mais elevada que a comunidade de Israel, não foi antecipada pelos
judeus.
Agora, através da graça que Paulo recebeu de pregar aos gentios (vs.7, 8), o apóstolo
defende até ao fim o principio da liberdade quanto à lei em seus aspectos salvíficos e cerimoniais,
o principio da salvação para “todos os homens sem qualquer distinção quanto à origem nacional e
racial e sem exigência para alguém fazer parte da igreja por meio de um desvio (1Tm2.3-7; 2
Tm4.1-8; Tt2.11).
No v.9, Paulo enfatiza sua função ministerial em relação ao mistério revelado, que é, não
apenas anunciá-lo (v.8), mas, esclarecê-lo, explicá-lo com clareza, o que antes estava oculto em
Deus, conservado em segredo dos homens desde a eternidade até a hora certa, a saber, que tanto
judeus como gentios são co-herdeiros e participantes da promessa de Cristo.
O verbo
(iluminar), que como visto na análise lexicográfica, tem o significado
de esclarecer e por se encontrar no 1º aoristo possui uma qualidade de ação punctiliar, marcando
o aoristo ingressivo que acentua o aspecto inicial, o principio ou começo da ação. Trazendo o
entendimento de que o mistério começou a ser esclarecido em Paulo, continuou a ser esclarecido
através da igreja formada por judeus e gentios (v.10), devendo até aos dias de hoje, continuar
sendo esclarecido, através do Evangelho e do sacrifício de Cristo, proclamado pela igreja.
A preposição evn que está ligando o substantivo
particípio
articulado ( w|
ao substantivo
w|, mais o
que está acompanhado de artigo em concordância com o substantivo
w| se encontrando na posição atributiva, especifica qual é o Deus em vista.
Ou seja, o Deus que conservara em secreto o seu decreto de redenção para o mundo, era o mesmo
Deus que criou todas as coisas. O Deus, que em virtude do fato de ter criado todas as coisas,
também demonstra ser ele aquele que dispõe soberanamente de seus destinos. Aquele que criou o
universo agora começou uma nova criação, e um dia a completará. Na verdade, o mistério inclui
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a grande promessa de que finalmente Deus unirá todas as coisas em Cristo e debaixo de Cristo.
Dessa forma, Paulo junta a criação e a redenção. O Deus que criou todas as coisas no principio,
criará todas as coisas de novo no fim.
E como desde o principio da carta, Deus ao edificar sua nova sociedade, demarca a esfera
não só das bênçãos outorgadas e recebidas, mas também o espaço onde os padrões desta nova
sociedade seriam vividos pelos seus cidadãos, ou seja, “em Cristo”. Paulo enfatiza que o Deus
que fez todas essas coisas “em Cristo”, também criou todas as coisas “através de Jesus Cristo”.
12 Comentário Homilético
Texto: Efésios 3.9
Introdução
É interessante observamos como ainda hoje muitos cristãos parecem não entender a
dimensão do plano de salvação de Deus, em relação ao mundo.
É comum, ainda, ouvirmos frases de cristãos que revelam um total complexo de
inferioridade acerca da obra de Cristo em suas vidas. Frases como: “o que teria sido nós se o
povo de Israel não tivesse rejeitado o seu messias?”.
Meu questionamento é: “será que realmente, nunca havia feito parte do plano de Deus,
salvar a nós além dos judeus?”.
66
Elucidação
A carta aos Efésios, escrita pelo apóstolo Paulo por volta de 61 a.D., trinta anos, mais ou
menos, depois da sua conversão, tem seu ponto central no que Deus fez por meio da obra
histórica de Jesus Cristo, e continua fazendo através do seu Espírito hoje, a fim de edificar a sua
nova sociedade no meio da velha. Trata-se da unidade de todos os crentes, “A Igreja Gloriosa”.
Mas que “todos os crentes” seriam estes?
O apóstolo Paulo desde o inicio da epístola desenvolve um raciocínio que mostra
claramente que não há, da parte de Deus, nova revelação da verdade e nem novos pensamentos
em divergência do seu plano original, imposto por novos acontecimentos. Mas que simplesmente
esta verdade, a qual Paulo chama de mistério, estava oculta em Deus, ou seja, conservada em
secreto desde o principio dos tempos.
Tema: O decreto redentor de Deus é imutável.
Proposição
Mas, o que este mistério tem haver com o plano de salvação de Deus?
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Sentenças
1. O significado do mistério revelado ao apóstolo Paulo.
O mistério significa o decreto redentor de Deus para o mundo, a saber, que os gentios são
co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio
do Evangelho, desde o inicio dos tempos.
2. O mistério apostólico deve fazer parte da mensagem cristã.
Paulo, calmamente, lembra a seus leitores gentios de que sua prisão, instigada por
inimigos judaicos, resultava de ter advogado plenos direitos de liberdade para os gentios na Igreja
Cristã.
Este mistério começou a ser esclarecido em Paulo, continuou a ser esclarecido através da
igreja formada por judeus e gentios (v.10), e deve até aos dias de hoje, continuar sendo
esclarecido através do Evangelho proclamado pela igreja.
Conclusão
Levando-se em consideração que nos tempos antigos, o mundo religioso era dividido em
dois povos, a saber, judeus e gentios. Ao qual o apóstolo Paulo se referia por “nós” e “vós”
respectivamente, concluímos que desde antes da fundação do mundo, já fazia parte do plano de
Deus a inclusão de povos não judeus nos decretos divinos. Não teríamos parte simplesmente na
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salvação comum, mas, mais especificamente, seríamos co-herdeiros e membros do mesmo corpo
e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. Não seríamos salvos por
uma salvação própria a nós, com bênçãos inferiores, como que excluídos da sociedade; ao
contrário, participamos igualmente, da salvação que os judeus gozam.
13 Conclusão
Neste trabalho, através do exame das Escrituras neotestamentárias na língua grega,
pudemos ver claramente a verdade bíblica a respeito da definição do mistério revelado a Paulo,
da sua função ministerial em relação ao mesmo, e da extensão desta função ministerial confiada à
igreja; ainda que, não de modo abrangente e erudito, mas, com ênfase em alguns aspectos que são
indispensáveis para uma abordagem sadia do assunto.
Acreditamos ser fundamental termos uma compreensão correta a respeito desse
importante tema eclesiológico. Se a igreja tiver um entendimento errôneo sobre o mistério de
Deus revelado aos homens, e de sua função ministerial em relação a esse ministério revelado, ela
estará em condições doutrinárias bastante difícieis, e poderá comprometer outras áreas da
eclesiologia cristã. Se, contudo, ela possuir uma interpretação que corresponda a verdade bíblica,
poderá desenvolve-se no estudo de outros elementos da teologia prática, já tendo uma base sólida
em que se apoiar, possuindo, assim alimentos norteadores, para que, com o auxilio do Espírito
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Santo, possa ter posicionamentos verdadeiros concernentes às doutrinas que estão situados no
vasto campo da teologia de missões.
Através da argumentação exposta neste trabalho, algumas verdades da palavra de Deus
ficaram bastante claras. E desejamos aproveitar essa oportunidade para apresentarmos em caráter
retrospectivo algumas realidades escriturísticas que foram por nós enforcadas no decorrer dessa
exegese, que se fundamentou na epístola de Paulo aos Efésios, capitulo três, versículo nove.
Vimos que o mistério significa o decreto redentor de Deus para o mundo, a saber, que os
gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo
Jesus por meio do evangelho, desde o inicio dos tempos.
Constatamos que esse mistério fora agora revelado a Paulo, a quem Deus constituíra
apóstolo aos gentios, e que descreve o mistério como aquilo “que pelas eras estivera oculto em
Deus”, ou seja, desde o princípio do tempo conservado em secreto.
Esse mistério ao ser revelado por Paulo a todos (judeus e gentios, igualmente) fecha o seu
conteúdo em verdade eterna, porém, inaugura o conteúdo a estar sendo revelado tanto pela
pregação mundial do evangelho, como pela cristalização de suas preciosas verdades na vida e na
conduta da igreja universal.
Paulo fecha seu raciocínio mostrando que, o mesmo Deus que cria todas as coisas,
também é aquele que dispõe soberanamente de seus destinos.
Por conseguinte, o principio da salvação para “todos os homens” baseado na lei em seus
aspectos salvíficos e cerimoniais é contraditório ao principio bíblico, que enfatiza a salvação
para “todos os homens” sem qualquer distinção
quanto à origem nacional e racial e sem
exigência para alguém fazer parte da igreja por meio de um desvio.
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Com a exposição deste trabalho pudemos concluir também, que este mistério revelado a
Paulo, teve em seu esclarecimento, apenas o início, visto que até aos dias de hoje é proclamado
através da igreja, esclarecido através do evangelho e do sacrifício de Cristo.
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