Provisão de água e saneamento às cidadespequenas.
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Provisão de água e saneamento às cidadespequenas.
Relatório Provisão de água e saneamento às cidades pequenas Uma visão mais generalizada “Somente ligar… “Deixar de viver em fragmentos.” E M Forster, Howard’s End Um relatório da WaterAid Dezembro de 2010 Elaborado por: Ken Caplan e Erik Harvey Imagem da capa: WaterAid www.small-towns.org Relatório Agradecimentos Este relatório resume a análise inicial de factores que influenciam os serviços de provisão de água e de saneamento nas cidades pequenas. Financiado no âmbito de um subsídio de planeamento da Fundação Bill e Melinda Gates e coordenado por Rachel Cardone, a equipa de investigação agradece em particular à Rachel e à Fundação pela oportunidade de explorar a questão da provisão de serviços nas cidades pequenas através de uma perspectiva mais ampla. Ken Caplan da BPD e Erik Harvey da WaterAid estão extremamente gratos às diversas pessoas que contribuíram com tempo, esforço e ideias para que este trabalho fosse estimulante, desafiador e, espera-se, inovador. Agradecemos especialmente aos funcionários dos programas nacionais da WaterAid no Bangladesh, Madagáscar, Nepal, Nigéria, Tanzânia e Uganda pelas contribuições para o conteúdo deste relatório, assim como pela contribuição e orientação durante o processo de consulta aos intervenientes nos países; todos os entrevistados a nível nacional e internacional; David Schaub-Jones da BPD pela sua liderança durante as visitas a Madagáscar e à Tanzânia e participação e contribuições durante todo o processo; Alex Nash pelo apoio com a análise na Nigéria; a Dra. Maimura Nalubega pelo apoio com a análise no Uganda; Karina de Souza e Rebecca Welling pela investigação e preparação da revisão inicial da literatura; e Sarah Dobsevage e Rebekah Gee da WaterAid pelo apoio de gestão do projecto durante todo o processo. Um reconhecimento especial vai para os membros do Painel Consultor de Peritos – Adriana Allen, Maggie Bangser, Prof. Roy Carr-Hill, Nishant Lalwani, James Manor, Meera Mehta, Prof. Njuguna Ng’ethe e Gaye Thompson – que nos proporcionaram feedback e ideias incansáveis e perspicazes que foram inestimáveis para nos ajudar a desenvolver o nosso modo de pensar sobre o trabalho. Para além do mais, os nossos agradecimentos a Jeremy Ockelford pela orientação proporcionada sobre o conteúdo, abordagem e informadores principais; a Josses Mugabi pelo apoio inicial para dar forma às discussões, particularmente sobre a literatura; e a Mukami Kariuki pelo seu envolvimento e contribuições. Os nossos agradecimentos a Mark Bushnell pelo seu profissionalismo e diligência na recolha, edição e produção dos vídeos que acompanham e ilustram este relatório e a John Spence Arnold por capturar as sequências na Nigéria e na Tanzânia. Finalmente, a todos os que participaram, estamos gratos pelo espírito com que se envolveram neste exercício connosco, reconhecendo que a meta final nem sempre era óbvia e o processo foi tão iterativo quão possível. Por favor note que se houver erros factuais, são erros dos autores. Este artigo deve ser citado como WaterAid/BPD (2010) Provisão de água e de saneamento nas cidades pequenas. Uma visão mais generalizada. 1 Relatório Conteúdo Agradecimentos ..................................................................................................1 Resumo executivo ................................................................................................4 1 Introdução ......................................................................................................7 2 Qual é a questão das cidades pequenas? ......................................................8 2.1 A dificuldade em definir cidades pequenas no mundo em desenvolvimento ..............8 2.2 Compreender a necessidade urgente de soluções de água e de saneamento nas cidades pequenas ............................................................11 2.3 O enigma das cidades pequenas......................................................................12 2.4 Quão diferentes são a água e o saneamento nas cidades pequenas? ......................12 2.5 Declarar o óbvio – linhas de investigação independentemente da dimensão das povoações ..........................................................................13 3 Introdução da estrutura emergente ..............................................................15 3.1 Interesses dos diferentes grupos de intervenientes ............................................16 3.2 A dinâmica imprevisível – compreender as influências internas e externas sobre as cidades pequenas ..............................................................17 3.2.1 Análise das conexões externas de uma cidade pequena ..............................19 3.2.2 Análise das ligações no âmbito das cidades pequenas................................22 3.2.3 Análise de uma cidade pequena a nível de agregado familiar ......................25 4 Definição de sustentabilidade nas cidades pequenas e trabalhar à escala ..28 5 Aprender de outros sectores ........................................................................30 6 Fazer o trabalho progredir ............................................................................31 Bibliografia ........................................................................................................33 Anexo – A nossa abordagem para com a tarefa: uma oportunidade única ..........35 2 Relatório Tabelas Tabela 1: Classificação de cidades pequenas nos seis países em estudo..............................10 Tabela 2: Estrutura analítica representada como matriz ..................................................18 Tabela 3: Análise dos níveis externos – perguntas de orientação a nível externo ..................20 Tabela 4: Análise a nível de cidade – perguntas de orientação a nível de cidade....................24 Tabela 5: Análise a nível de agregado familiar – Tabela 5: perguntas de orientação a nível de agregado familiar ........................................27 Tabela 6: Temas iniciais da estrutura analítica ..............................................................37 Figuras Figura 1: Elementos de análise....................................................................................17 Figura 2: Três níveis de conexão..................................................................................17 WaterAid Figura 3: Estrutura analítica combinada........................................................................18 3 Relatório Resumo executivo As nossas cidades e cidades pequenas estão a expandir-se rapidamente. Em todo o mundo, mais de 50% da população vive agora em zonas urbanas. No mundo em desenvolvimento, esta alteração do rural para o urbano é ainda mais extrema. Agora, para cada grande cidade, calcula-se que existem dez cidades pequenas – e prevê-se que estas cidades irão duplicar tanto em número como em dimensão dentro de 15 anos, e depois, dentro de 30 anos, irão duplicar outra vez (Pilgrim, 2007). Apesar de reconhecermos uma cidade pequena quando a vemos, não é fácil defini-las e compreendê-las. Em alguns países, as cidades pequenas podem ser classificadas como as que têm uma população de entre 5.000 e 20.000 pessoas, noutros países os números chegam aos 80.000 ou mesmo 200.000. Esta diferença apresenta um desafio significativo quando se planeiam serviços de saneamento e água apropriados e sustentáveis uma vez que a solução para uma cidade de 20.000 pessoas vai ser muito diferente da solução para uma cidade de 200.000 pessoas. As cidades pequenas podem ter características tanto rurais como urbanas. As características rurais relacionam-se com as ligações económicas à agricultura. As características urbanas podem relacionar-se com a função da indústria ligeira na economia mas mais frequentemente estão ligadas às condições de vida em função da densidade, e dos sistemas sociais em alteração, reflectindo uma diversidade maior. Esta mistura de características urbanas e rurais pode minar as abordagens de resolução dos problemas. As abordagens tipicamente rurais, como por exemplo a participação e mobilização das comunidades tornam-se mais difíceis de gerir à medida que as comunidades aumentam e se diversificam, ou seja, quando as práticas tradicionais de tomada de decisões começam a desintegrar-se. Por outro lado, as cidades pequenas não têm os recursos das grandes cidades, fazendo com que seja mais difícil aplicar as abordagens urbanas, em que existem economias de escala ou subsídios transversais entre os utentes ou entre os serviços. A maioria das cidades pequenas tende a ser diversificada, dinâmica e em evolução constante. Em grande parte actuam como mercados agrícolas e centros de processamento de alimentos, e como centros de emprego em negócios não agrícolas de pequena e média dimensão. Geralmente atraem as pessoas das zonas rurais e esta expansão acelera-se frequentemente quando se proporcionam serviços tais como a água, as escolas e os centros de saúde. Geralmente caracterizadas por um crescimento rápido e sem planeamento levando a concentrações de populações de baixos rendimentos, as pessoas que vivem nas cidades pequenas são entre as que têm piores serviços básicos tais como acesso à água e ao saneamento e à promoção da higiene. Os investimentos nas cidades pequenas pura e simplesmente não acompanharam o aumento das necessidades de serviços. Segundo um estudo, são grandemente ignoradas pelos formuladores de políticas e pelos doadores que têm tido tendência para apoiar os programas rurais ou as infraestruturas nas grandes cidades. Apesar das estatísticas poderem ter mudado ligeiramente, um estudo de há alguns atrás estimava que 13% da assistência ao desenvolvimento tinha sido dirigido às cidades pequenas (Cardone e Fonseca, 2006). O crescimento previsto das cidades pequenas é um grande desafio ao desenvolvimento que ameaça desencaminhar os esforços para satisfazer os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) para a água e o saneamento. Dada a dificuldade de adaptar as abordagens aos contextos individuais, nos países em que as cidades 4 Relatório pequenas recebem assistência dos governos centrais e dos doadores, há tendência para pacotes de financiamento, tecnologia, gestão e melhoria de capacidades com “uma medida para todos”. Apesar das dificuldades em adaptar as abordagens aos requisitos de cada cidade pequena, há uma necessidade real de encaminhar bem as cidades pequenas antes que o crescimento sem regulamentos, a falta de capacidades e políticas inúteis levem a que estas cidades em expansão se transformem em zonas urbanas de crescimento descontrolado, sem serviços e impossíveis de gerir. Tendo isto em conta, a WaterAid, trabalhando com Building Partnerships for Development (BPD), com apoio financeiro através de um subsídio de planeamento da Fundação Bill e Melinda Gates, gastou um ano a tentar responder às duas perguntas principais: • O que há de diferente nos desafios e potenciais soluções para a provisão de serviços de água e saneamento nas cidades pequenas ao contrário dos grandes ambientes urbanos ou das zonas rurais? • Podemos aprender lições de outros sectores que produzem infra-estruturas, que possam proporcionar informação para o projecto de soluções para a água e o saneamento? A meta final era identificar abordagens prometedoras para a provisão de serviços e também criar uma ferramenta ou estrutura analítica que pudesse permitir a quem planeia serviços de água e de saneamento nas cidades pequenas, tomar decisões financeiras, tecnológicas e de gestão apropriadas. Reconhece-se que, no que diz respeito à segunda pergunta, a nossa investigação falhou. Vai ser necessário trabalho adicional e talvez tipos diferentes de conversas para se aprender dos outros sectores. No que diz respeito à primeira pergunta, a nossa investigação inicial tentou descobrir se há algo de inerentemente diferente nas cidades pequenas que influencie a procura ou a provisão de serviços. A prioridade era compreender como melhor mudar a ênfase das respostas reactivas para abordagens mais adaptáveis, criativas e reflectivas. Usando uma perspectiva mais ampla, a equipa concentrou-se nos modos mais eficazes de antecipar como as cidades pequenas podem desenvolver-se e evoluir. Uma das descobertas iniciais foi que muitos programas existentes de ajuda às cidades pequenas tendem a resultar em decisões financeiras e tecnológicas que depois ditam as principais decisões em termos de planeamento e projecto. A nossa abordagem emergente sugere que as decisões financeiras e tecnológicas devem responder mais cuidadosamente às circunstâncias no terreno. Estas circunstâncias parecem mais influenciadas por como a cidade está conectada e ligada demograficamente, economicamente e politicamente às áreas em redor, e como estes elementos evoluem no âmbito da própria cidade. Por essa razão, a demografia, economia e governação local parecem ter uma relevância clara tanto sobre a procura como a provisão de serviços de água e de saneamento. Têm portanto que ser tomados em conta mais coerentemente no plano e provisão de serviços. Apesar de estarem grandemente fora do controlo dos profissionais de água e de saneamento, não compreender estas influências poderia fazer descarrilar os esforços para planear melhor a provisão dos serviços. Analisando a ênfase dada à conexão, diversos colegas fizeram o paralelo entre a nossa análise das cidades pequenas com as áreas peri-urbanas ou cidades satélite. Apesar de que as questões de conexão se aplicam também sem dúvida às povoações peri-urbanas e às cidades satélite, estas áreas não podem ser tão facilmente separadas das áreas urbanas adjacentes. Estão intimamente e automaticamente ligadas à infra-estrutura, economia e oportunidades de emprego das cidades que rodeiam. Do mesmo modo, estão intimamente ligadas tanto à política como às ambições ou expectativas das populações que vivem nas cidades adjacentes. Os impactos destas ligações sobre as cidades pequenas são menos previsíveis. Por isso, apesar de suspeitarmos que muitas das questões que mencionámos vão ser relevantes e úteis para outros tipos de povoações, o aspecto da conectividade ou conexão parece ser o factor determinante essencial para o desenvolvimento das cidades pequenas. 5 Relatório Grande parte da nossa análise sugere que a sustentabilidade dos programas nas cidades pequenas não tem sido ajudada pela “oportunidade de ouro”. Diversos formuladores de políticas e profissionais durante o processo sugeriram que há o perigo de oferecer (relativamente) grandes quantidades de dinheiro às cidades pequenas para resolverem a provisão de serviços de água e de saneamento, o que pode criar incentivos perversos em diversos lados para se instalar uma infraestrutura que pode não ser viável ou possível de gerir mesmo depois de alguns anos. A equipa foi testemunha directa deste tipo de situação em diversos sítios. Os consultores e as empresas de construção fazem mais dinheiro ao planear projectos maiores; os doadores conseguem mais dinheiro em subsídios, contratos ou empréstimos para satisfazer objectivos maiores; as populações conseguem soluções rápidas. Os principais resultados desta investigação inicial incluem: • Apesar de certos elementos genéricos se aplicarem a todas as cidades pequenas no mesmo país, tais como regras para eleições, regulamentos nacionais, critérios de financiamento, leis e descentralização, cada cidade pequena tem as suas próprias particularidades. Pode ser necessário um certo nível de adaptação a contextos específicos. • Esta adaptação das abordagens deve ter como base uma análise mais ampla que revê em maior detalhe a economia, demografia e política das cidades pequenas. De outro modo, o resultado tem tendido para projectos de construção com demasiado planeamento que fazem com que as cidades sofram financeiramente ou de outros modos quando as equipas e os consultores do projecto se vão embora. • As cidades pequenas estão inextricavelmente conectadas e são vulneráveis às influências externas, tanto das zonas rurais que as rodeiam como dos centros urbanos maiores vizinhos que têm impacto sobre a economia, a demografia e mesmo sobre as decisões. • As cidades pequenas ainda não gozam por completo das economias de escala que lhes permitem subsidiar transversalmente de grupo para grupo ou de serviço para serviço. • As cidades pequenas não têm a capacidade de lidar com choques tais como a imigração de massa ou outras mudanças súbitas. O trabalho de investigação importante para as acções a levar a cabo vai concentrar-se nestas perguntas de orientação: • Temos que pensar de modo diferente sobre como caracterizamos e agrupamos as cidades pequenas? As considerações principais podem não estar directamente relacionadas com os aspectos técnicos da provisão de serviços de água e de saneamento mas em vez disso, com a demografia, a economia e a política. • Há algum modo de prover serviços (talvez através do sector privado local) que permitam uma abordagem mais flexível, por fases ou gradual para com a construção e o financiamento, em vez do grande projecto único? • Que tipo de estruturas de apoio nacional seriam mais eficazes para dar apoio às cidades pequenas para elaborar modelos de provisão de serviços? É claro que a não ser que os responsáveis pelas decisões nas cidades pequenas prestem mais atenção às influências mais gerais sobre a provisão e a procura dos serviços de água e de saneamento das cidades pequenas, os sistemas resultantes não vão satisfazer de modo apropriado as necessidades de desenvolvimento destas cidades e vão ter como resultado serviços insustentáveis. Garantir que as cidades pequenas não passam despercebidas pode muito bem ser o elemento chave para concretizar os ODMs. 6 Relatório 1 Introdução Este documento apresenta os resultados emergentes de um estudo analítico preliminar que durou um ano, sobre a provisão de serviços de água e de saneamento nas cidades pequenas. A finalidade foi tentar resumir os conhecimentos existentes e identificar as abordagens prometedoras. Num mundo em urbanização rápida onde o crescimento das cidades pequenas, tanto em dimensão como em números, está rapidamente a ultrapassar o dos grandes centros urbanos, necessitamos urgentemente de encontrar novas abordagens para garantir a provisão destes serviços básicos. Os autores e as organizações dos mesmos têm vontade de testar algumas das muitas suposições que se vão encontrar por todo o documento. A oportunidade, proporcionada por um subsídio de planeamento da Fundação Bill e Melinda Gates, deu-nos a possibilidade de explorar muito para além das áreas mais tradicionais dos sectores de água e saneamento usando seis países (quatro africanos e dois asiáticos) como base para esta análise inicial. O desafio durante todo o estudo foi encontrar uma estrutura organizacional sobre a qual basear os diversos tipos de informação e perspectivas amplas que emergiram ao longo do ano. Os autores gostariam muito de compreender se a abordagem adoptada parece bem aos profissionais e formuladores de políticas. WaterAid Se desejar informação adicional sobre a metodologia e perguntas importantes sobre a investigação, por favor faça referência ao Anexo um – A nossa abordagem para com a tarefa: uma oportunidade única. 7 Relatório 2 Qual é a questão das cidades pequenas 2.1 A dificuldade em definir cidade pequena no mundo em desenvolvimento Sabemos que o mundo está a urbanizar-se. Entre 1990 e 2010, calcula-se que a população urbana a nível mundial aumentou em 1,2 mil milhões de pessoas1. Desde 2007 que mais de 50% da população mundial vive em zonas urbanas. Em muitos países de baixos e médios rendimentos, entre um quarto e metade da população total vive em povoações de entre 2.000 e 200.000 habitantes. Na realidade, calcula-se que para cada grande cidade no mundo em desenvolvimento (com uma população de 50.000 a 200.000) há cerca de dez cidades pequenas (com uma população de 2,000 a 50.000). Prevê-se que tanto a população, como o número destas cidades pequenas, irá duplicar dentro de 15 anos, e depois duplicar outra vez dentro de 30 anos (Pilgrim, 2007). WaterAid O nosso primeiro desafio ao tentar compreender a situação de provisão de água e de saneamento destas cidades foi definir o que se entende por cidades pequenas. Apesar de geralmente reconhecermos uma cidade pequena quando vemos uma, as definições geralmente aceites não se encontram facilmente disponíveis e geralmente referem-se àquilo que as cidades pequenas não são, em vez daquilo que são. Obviamente, as cidades pequenas encontram-se algures entre o rural e o urbano. Os critérios para definir o contínuo rural – cidade pequena – urbano variam significativamente de país para país, geralmente com base na dimensão da população da cidade ou cidades principais. Por isso, se houver uma categorização para além de rural e urbano, o limite da dimensão da população é a característica da definição usada geralmente para as cidades pequenas. Em algumas circunstâncias, as cidades pequenas são categorizadas como sendo as que têm uma população entre 5.000 e 50.000 pessoas e noutras classificações nacionais, as cidades pequenas 1 Divisão de População do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais do Secretariado das Nações Unidas, World Population Prospects: The 2009 Revision, http://esa.un.org/wup2009/unup. 8 Relatório são anotadas como sendo as que têm entre 5.000 e 200.000 pessoas. Esta diferença na classificação com base na população causa dificuldades para um estudo internacional. Quando começarmos a analisar os elementos específicos da provisão de serviços, saberemos intuitivamente que as soluções podem facilmente ser bastante diferentes para cidades de 200.000 pessoas no Bangladesh em comparação com as soluções para as cidades de 15.000 a 30.000 pessoas no Nepal ou no Uganda. Definir cidades pequenas puramente com base na dimensão da população não consegue capturar adequadamente o dinamismo e a diversidade das mesmas. A nível nacional, o perigo de não compreender esta diversidade poderia resultar em abordagens genéricas políticas, financeiras e tecnológicas que sobrecarregam as cidades pequenas de 20.000 pessoas com sistemas de provisão de serviços inapropriados ou insustentáveis que são mais apropriados para cidades de 200.000. Alguns países incluem outros elementos tais como a percentagem relativa da economia local que não tem como base a agricultura (por exemplo, o Nepal) ou a percentagem relativa de homens que não trabalham em empregos relacionados com a agricultura (por exemplo, no Bangladesh). No entanto, esses critérios podem ser suficientes apenas para distinguir o urbano do rural. A maior parte das cidades pequenas exibem características tanto rurais como urbanas. As características rurais estão relacionadas com o que dá impulso à economia através das ligações agrícolas. As características urbanas podem estar relacionadas com a função da indústria ligeira na economia mas estão mais frequentemente ligadas às condições de vida como função da densidade, e dos sistemas sociais em mudança como resultado de uma maior diversidade. Por isso, no que diz respeito a uma definição clara, a literatura só proporciona um conhecimento das cidades pequenas ao analisar algumas das características que têm em comum. Para os nossos fins, tentar identificar abordagens para a provisão de serviços de água e de saneamento, como declarado em Pilgrim (2007, p77), “as cidades pequenas abrangem espaços urbanos e rurais e têm características únicas que dificultam a aplicação de estratégias urbanas ou rurais”. A dimensão maior da comunidade (em comparação com as zonas rurais) é frequentemente identificada como um factor que limita a participação da comunidade e os processos de limitação; a abordagem de baixo para cima que funcionou para as aldeias rurais não funciona ou necessita de modificações importantes à medida que os sistemas se tornam maiores ou mais complexos (Doe, 2003). De um ponto de vista custobenefício, usando abordagens tradicionais urbanas, o problema da provisão de água de uma cidade pequena é a necessidade de uma grande capital em relação às economias de escala limitadas. (Fazer referência à Tabela 1 na página que se segue se desejar maiores detalhes sobre a classificação de cidades pequenas nos nossos seis países estudados). Tipicamente, as povoações das cidades pequenas nos países de baixos rendimentos que não são cidades satélite próximas de um centro urbano maior, caracterizam-se por um centro de negócios central e povoações relativamente espalhadas à volta de uma zona ou núcleo comercial densamente populado. As áreas marginais tendem a ser de natureza mais rural, com casas principalmente residenciais bastante espaçadas umas das outras em comparação com o núcleo. As principais fontes de rendimentos para as populações destas áreas são pequenos negócios seguidos de agricultura rústica e algumas indústrias, geralmente com base agrícola. As cidades pequenas atraem pessoas das zonas rurais e tendem a ser ambientes diversificados, dinâmicos e em evolução constante. A presença de escolas, centros de saúde e administrativos pode atrair imigração adicional para as mesmas (Mugabi, Dez 2006, p 188). Portanto, apesar da evidência empírica disponível variar bastante, descobriu-se que as cidades pequenas em muitos países em desenvolvimento actuam como centros de procura (mercados) para os produtos agrícolas das áreas rurais que as rodeiam, e como centros para a produção e distribuição de bens e serviços não agrícolas para as áreas rurais em redor através do desenvolvimento de pequenas e médias empresas (ibid). 9 Classificação existente de cidades pequenas Nível de populacão Gama de classificações diferentes – mais com base nas definições administrativas do que na população local ou outras características. 5.000 – 50.000 Critérios urbanos (em vez de especificamente de cidades pequenas): (i) A maioria da população trabalhadora do sexo masculino envolvida em ocupações não agrícolas (75%). (ii) Um local central identificável onde se proporcionam serviços, equipamentos e infra-estruturas. (iii) Densidade da população. Observam-se diferentes classificações. O Instituto Nacional de Estatística (INSTAT) considera um centro urbano como qualquer comunidade onde a população excede as 5.000 pessoas. A lei sobre a urbanização requer que todas as comunidades com uma população mínima de 10.000 desenvolvam um documento estratégico para gerir o distrito. Capitais de distrito e comunidades urbanas são as que têm entre 10.000 e 80.000 pessoas. Centros urbanos nacionais, regionais ou secundários são etiquetas atribuídas depois de se analisar a categoria sócio-administrativa de uma determinada cidade (função administrativa, dimensão da população, dimensão da área urbanizada, função económica, interdependência da cidade2, potencial para a cidade se desenvolver no futuro3). Classificação administrativa do governo4. 5.000 – 40.000 Densidade maior do que 10 pessoas por hectare; menos de 50% da população adulta envolvida na agricultura; ligada a redes de estradas estratégicas; infra-estrutura básica (ou seja, rede eléctrica e serviços de TI, escolas do ensino secundário e serviços de saúde). Nigéria Pode não estar definida numa política Geralmente definido como sendo de 5.000 a 20.000 (O Estado de Enugu define entre 8.000 e 20.000, uma vez que as povoações de menos de 8.000 pessoas ainda exibem características rurais). Uganda Tanzânia Relatório Definida pelo Decreto-Lei do Governo Local de 1982 com base na dimensão da população. 5.000 – 50.000 Com base na dimensão da população 5.000 – 50.000 Nepal Madagáscar Bangladesh Países estudados Outras considerações Os centros urbanos de entre 1.000 e 5.000 pessoas são definidos como centros rurais em crescimento. Tabela 1: Classificação de cidades pequenas nos seis países em estudo. 2 Nível das instalações, outros serviços urbanos e estrutura dos mesmos. 3 Disponibilidade de fontes de energia, contexto para a expansão futura incluindo disponibilidade de terra e espaço para urbanização. 4 Suspeitamos que a classificação de cidades pequenas pode só fazer parte do discurso no sector da água. 10 Relatório 2.2 Compreender a necessidade urgente de soluções de água e de saneamento nas cidades pequenas O último relatório do Programa de Monitorização conjunto da OMS/UNICEF (2010) indica que o número de pessoas com acesso a melhor água e saneamento nas zonas urbanas aumentou desde 1990. No entanto, esses aumentos, particularmente em relação ao saneamento, não estão a acompanhar o crescimento da população urbana. Se os esforços para proporcionar água e saneamento às pessoas das zonas urbanas sem serviços continuarem ao ritmo actual, até 2015 outros 2,7 mil milhões de pessoas ainda estarão a viver sem saneamento básico e 672 milhões sem melhores fontes de água potável. Dado o ritmo de crescimento notado acima, podemos supor que uma proporção significativa desta população sem serviços se irá encontrar nas cidades pequenas. As cidades pequenas apresentam portanto um grande desafio ao desenvolvimento e ameaçam fazer descarrilar os esforços para se satisfazerem os ODMs para a água e o saneamento que procuram diminuir para metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável à água potável segura e ao saneamento básico até 20155. Pura e simplesmente, os investimentos nas cidades pequenas não acompanharam a necessidade grande e cada vez maior de serviços. Os doadores do sector historicamente têm apoiado programas rurais provisão de água e de saneamento em 2003, ou, cada vez mais, infra-estruturas e gestão nas grandes cidades. Uma análise calcula que, “dos 3 mil milhões de dólares da Assistência Oficial ao Desenvolvimento (Official Development Assistance – ODA) que fluíram para a provisão de água e o saneamento em 2003, mais ou menos 360 milhões de dólares (ou 13%) [parecem ter sido] atribuídos às cidades pequenas ou actividades relacionadas” (Cardone, 2006). Não obstante as questões do financiamento, analisando apenas a política e outras áreas, as cidades pequenas "passam despercebidas" devido à divisão tradicional entre urbano/rural no discurso do desenvolvimento e da política. Desafiando tanto os formuladores de políticas, como os doadores e os profissionais, as cidades pequenas caracterizam-se geralmente por um crescimento rápido não planeado que inclui concentrações cada vez maiores de populações com baixos rendimentos e uma infra-estrutura degradada ou frequentemente não existente. Apesar de haver uma grande variação nas definições nacionais sobre o que constitui uma “cidade pequena” como notado acima, os dados disponíveis sugerem que as pessoas que vivem nestas povoações “intermediárias” se encontram entre as que têm piores serviços em termos de todos os serviços básicos, incluindo o acesso à água, ao saneamento e à promoção da higiene. Apesar das economias de escala no centro geográfico das cidades pequenas começarem a permitir (financeiramente e tecnologicamente) a existência de sistemas de provisão de água canalizada, geralmente torna-se insustentável haver subsídios cruzados para povoações não planeadas mais caras e de menor densidade nos subúrbios. No que diz respeito às águas residuais, volumes cada vez maiores de poluição industrial concentrada e de desperdícios humanos começam a apresentar ameaças graves tanto para a saúde pública como para a integridade ambiental (incluindo as fontes de água locais). Em alguns casos, as reformas políticas procuram apoiar a provisão local de serviços através da transferência de direitos de propriedade e gestão de serviços para actores que operam a nível local. No entanto, as autoridades locais ainda não têm a capacidade de prover ou assegurar a provisão de serviços adequados de água e saneamento às cidades pequenas. Os mecanismos de financiamento tendem a não se dirigir apropriadamente a uma abordagem planeada que satisfaça mais do que adequadamente tanto as necessidades de investimento com a capacidade das comunidades locais de pagar. As tecnologias tendem a ter origem nas abordagens rurais ou as dos centros urbanos maiores, fazendo com que tanto as economias de escala como a aplicabilidade tecnológica sejam 5 Meta 7c do ODM. 11 Relatório insuficientes para cada ponta do espectro. Abordagens como a agregação das cidades pequenas numa única área de serviço conjunta fazem sentido de um ponto de vista do planeamento mas exigem grandes negociações para fazer com que funcionem eficazmente. Apesar destes desafios, há uma enorme oportunidade para se conseguir que as cidades pequenas voltem a entrar no caminho certo antes que o crescimento descontrolado leve aos desafios muito mais difíceis e complexos enfrentados pelos grandes centros urbanos. 2.3 O enigma das cidades pequenas Como se notou, as pressões que melhor se compreendem nas grandes zonas urbanas, combinadas com o facto de nos concentrarmos nos problemas das pessoas pobres das zonas rurais, levaram a que se negligenciassem as cidades pequenas. Uma incerteza geral relacionada com que abordagens irão fazer uma grande diferença, fez com que se continuasse a não prestar atenção às cidades pequenas em toda a comunidade do desenvolvimento. Quando as cidades pequenas recebem a atenção da assistência proporcionada pelos governos centrais e dos doadores, tanto a falta de análise como a falta de capacidade, combinados com certas tendências para o rural ou o urbano, tendem a resultar em abordagens para com a provisão de abastecimento de água ou o saneamento que tratam as cidades pequenas do mesmo modo. Essas abordagens oferecem os mesmos pacotes de financiamento, as mesmas soluções tecnológicas e a mesma formação sobre capacidades de gestão a todas as cidades pequenas independentemente das circunstâncias específicas de cada uma. Há claramente uma lacuna analítica que requer uma análise mais detalhada. A parcialidade nem sempre é deliberada mas pode resultar numa falta de experiência prática clara quando se espera que as soluções rurais ou mais urbanizadas se traduzam directamente para o contexto das cidades pequenas. Por razões práticas óbvias, não é possível adaptar as soluções a cada pequena cidade. Mesmo a defesa de tratamentos mais individualizados, ou pelo menos que se desse mais atenção às classificações e tipologias das cidades pequenas, fez levantar o sobrolho por ser inútil ou demasiado difícil. No entanto, os nossos resultados até à data parecem sugerir que sem uma abordagem feita mais à medida, as cidades pequenas podem muito bem acabar com abordagens financeiras e tecnológicas que, depois de apenas alguns anos, se tornam pesadas e insustentáveis. Os esforços para descentralizar a responsabilidade reconhecem que têm que acontecer mais coisas a nível local. O mecanismo e o aspecto prático da descentralização requerem uma análise adicional. Uma recomendação clara é compreender que factores são genéricos às cidades pequenas num contexto nacional ou regional e que factores requerem soluções feitas à medida para satisfazer o contexto de uma determinada cidade pequena. 2.4 Quão diferentes são a água e o saneamento nas cidades pequenas Os negócios da provisão de serviços de água e de saneamento, apesar de estarem inextricavelmente ligados, são muito diferentes. O cliente final pode ser o mesmo (para os serviços domésticos) mas em comparação com os serviços de água, os serviços de saneamento são mais complexos, envolvendo frequentemente grupos múltiplos de intervenientes, um número consideravelmente maior de questões relacionadas com a gestão da utilização das terras, modelos de financiamento diferentes e mudanças de atitude. Devido à escala emergente da produção de desperdícios, os serviços de saneamento nas cidades pequenas começam a necessitar de intervenções diversificadas com o fim de lidar com os desperdícios fecais, águas residuais e esgotos. Notando isto, cada um destes negócios de saneamento pode ser dividido em sub-negócios, com o potencial de proporcionar oportunidades e âmbito para o sector privado local. Nas fases iniciais deste trabalho, houve uma certa preocupação sobre se o nosso estudo, como muitos no sector da água e do saneamento, poderia ser distorcido a favor das questões relacionadas 12 Relatório com a água. Apesar de na realidade isso ter acontecido, particularmente durante o processo de consulta aos intervenientes, a estrutura de análise contextual apresentado mais tarde neste documento parece poder aplicar-se à tomada de decisões sobre o modelo de serviços feitos à medida tanto para a água como para o saneamento. Com algumas modificações, estamos certos que as linhas de investigação iniciais vão ser as mesmas para ambos os serviços. Só se vai tornar claro se vai ser necessário fazer ligeiras adaptações para um ou o outro à medida que se experimenta e desenvolve esta estrutura numa fase futura do trabalho. 2.5 Declarar o óbvio – linhas de investigação independentemente da dimensão das povoações A nossa investigação foi planeada para avaliar se há ou não algo inerentemente diferente sobre as cidades pequenas que poderia influenciar a procura ou provisão dos serviços de água e de saneamento. A nossa abordagem desafiou-nos a procurar para além dos elementos que se encontram no âmbito de todos os planos dos projectos de água e de saneamento. Apesar de por vezes ser difícil sairmos da nossa zona de conforto, estamos convencidos de que, se não ampliássemos o nosso âmbito, perderíamos ligações causais importantes e questões contextuais relacionadas com o desenvolvimento das cidades pequenas. Por esta razão, este documento reflecte a nossa abordagem direccionada a não investigar em profundidade as questões que consideramos genéricas para o plano dos serviços de água e de saneamento independentemente de se se encontram em contextos rurais, urbanos, de pequenas cidades ou peri-urbanos. Estas questões genéricas são técnicas e procedimentais e incluem definir e compreender o seguinte: • A área de serviço e as projecções demográficas médias (geralmente com base nas médias estatísticas disponíveis) para compreender a procura pelos sistemas de água. • A geografia local, hidrologia de superfície e hidrogeologia para determinar fontes adequadas, requisitos de tratamento de água e requisitos do planeamento do sistema. • Natureza dos padrões dos povoamentos (por exemplo, agrupados/lineares) para determinar se centralizar os serviços ou os localizar mais. • Requisitos em termos de capacidade de armazenagem e especificações de dimensionamento técnico. • Disponibilidade de terrenos para infra-estruturas • Padrões, leis e direitos existentes (para os serviços municipais) que se apliquem ao contexto local; processos de planeamento legais. • Finanças disponíveis e mecanismos de financiamento, incluindo atitudes e práticas relacionadas com a vontade de pagar dos utentes. • Modelos padrão de práticas de gestão e expectativas relacionadas com a gestão e a propriedade dos bens. • Aspectos padrão relacionados com os procedimentos e os contratos. • Planeamento da provisão como um serviço em vez de uma (série) de projectos de construção; atitudes para com a provisão de serviços públicos (em relação à utilização dos princípios de negócios, subsídios transversais, limitações, planeamento de despesas, etc.) Uma vez mais, estes elementos reflectem os factores padrão de planeamento que seriam tomados em consideração seja ao planear um esquema rural, o sistema de uma cidade pequena ou um serviço urbano. Supõe-se que não iriam variar muito para as cidades pequenas. 13 WaterAid Relatório 3 Introdução da estrutura emergente De certo modo este exercício tem sido como resolver um puzzle complicado sem usar a imagem na caixa. Depois de meses a pensar sobre as questões relacionadas com as cidades pequenas, é possível que tenhamos conseguido uma imagem. Fixámo-nos em alguns aspectos simples que nos ajudam a analisar as situações das cidades pequenas. No entanto, como se esperava, a abordagem ainda requer outras provas e as implicações para as opções de provisão de serviços de abastecimento de água e de saneamento requerem maior reflexão. A nossa meta inicial foi responder à pergunta aparentemente simples sobre o que há de diferente na provisão de serviços de água e de saneamento nas cidades pequenas em relação às zonas rurais ou aos contextos urbanos maiores. No entanto, à medida que o trabalho progredia, tornou-se claro que estávamos a criar um modo de analisar as cidades pequenas que se tinham afastado bastante do sector da água e do saneamento. Por outras palavras, em cada um dos seis países visitados, a maioria dos factores mais influentes no que diz respeito à provisão de serviços nas cidades pequenas parecia não estar directamente relacionado com a água e o saneamento. A nossa meta era não colocar estes factores sob o controlo dos profissionais de água e de saneamento, mas reconhecer que sem os compreender, os profissionais de água e de saneamento poderiam cometer erros. Na realidade, apesar de reconhecer a validez destas linhas de investigação e dos impactos facilitadores e incapacitantes das mesmas sobre a procura e a provisão, a equipa foi alvo de muitos olhares inquiridores quando, por exemplo, perguntou aos engenheiros qual o impacto do capital social ou aos especialistas financeiros sobre as decisões políticas. Apesar de alguns entrevistados terem sugerido claramente que a nossa abordagem os tinha levado para fora da sua zona de conforto, a maior parte viram isso como uma oportunidade bem recebida de analisar a provisão de serviços de água e saneamento às cidades pequenas num contexto muito mais amplo. Talvez óbvios em retrospectiva, surgiram alguns momentos surpreendentes durante o processo: • Reconhecemos rapidamente que alguns elementos genéricos se aplicariam a todas as cidades pequenas num determinado país dado o contexto macro. Estes elementos são definidos no âmbito de áreas tais como regras para eleições, regulamentos e padrões nacionais, critérios de financiamento, leis e procedimentos relacionados com a descentralização, mesmo até certo ponto a cultura nacional uma vez que dá forma às atitudes para com o risco, e a solidariedade e trabalho regional. • Os critérios definidos deveriam permitir-nos agrupar certos tipos de cidades pequenas, o que aliviaria as abordagens individualizadas para cada pequena cidade. No entanto, cada pequena cidade tem as suas próprias particularidades e por isso, apesar de poder ser difícil, alguns aspectos podem exigir soluções feitas à medida para cada contexto específico. • A necessidade de assegurar que os programas não são vistos pelas comunidades locais, e planeados pelos consultores, como uma “oportunidade de ouro”. Os projectos e os programas demasiado planeados deixam as cidades com dificuldades financeiras depois dos consultores se irem embora. Não se pode permitir que as finanças controlem o programa mas em vez disso é o programa de trabalho que deve ser planeado em redor da economia e deve fazer uma avaliação 15 Relatório realista das finanças futuras disponíveis para operações e manutenção, expansão e reabilitação. Do mesmo modo, muitos dos sistemas que vimos eram demasiado complexos para serem operados pelas comunidades mas demasiado pequenos para serem geridos por serviços de água urbanos convencionais que poderiam cobrir as despesas operacionais. • No que diz respeito à prestação de contas, por diversas razões, as cidades pequenas são em grande parte ignoradas ou encontram-se à mercê de uma grande gama de burocratas, tecnocratas e consultores. As estruturas de apoio devem ter uma estrutura de prestação de contas mais prolongada do que apenas até imediatamente depois de se completar a construção. Logo de início, a principal coisa que se aprendeu foi que a abordagem de padrão único (cookie cutter approach) levada a cabo em diversos países acaba por não satisfazer as necessidades actuais e em desenvolvimento das populações das cidades pequenas. 3.1 Interesses dos diferentes grupos de intervenientes Durante todo o processo tentámos compreender que grupos diferentes de intervenientes poderiam necessitar de uma estrutura analítica para a provisão de serviços nas cidades pequenas. Os pontos de entrada para o tópico são certamente diferentes, como se destaca brevemente em seguida para alguns grupos de intervenientes: A WaterAid, o nosso alvo inicial, pode usar a estrutura para criar novas parcerias e para experimentar abordagens em arenas que são diferentes das principais urbanas ou das rurais. A estrutura pode ajudar as ONGs internacionais a fazer a ligação entre as suas actividades e as mudanças mais amplas na economia política das cidades pequenas. Os doadores e as instituições financeiras internacionais estão bastante concentrados em satisfazer os ODMs. Dada a concentração sobre os objectivos e os beneficiários alcançados, tem que haver uma justificação dos custos para os investimentos. As despesas de transacção são demasiado elevadas para se trabalhar em soluções feitas à medida em cada cidade pequena. Tem que se dar ênfase a programas maiores que alcancem mais pessoas nas zonas urbanas ou que agrupem as cidades. Portanto, no caso das pequenas cidades, trabalhar em escala determina, por exemplo, o plano de um programa de empréstimo para dezenas de cidades. Reconhece-se que as conclusões a que chegámos até agora sobre a necessidade de adaptar soluções às cidades individuais ou tipologias das cidades podem parecer pesadas e difíceis para este grupo de intervenientes. É necessário encontrar um compromisso que apoie um menu de opções para os diferentes grupos de cidades. Como no caso dos intervenientes nacionais e locais, as funções dos governos nacionais são frequentemente variadas e dispersadas no que diz respeito às pequenas cidades. O interesse abrangente é ser-se capaz de organizar as prioridades sobre como se atribuem os recursos. A estrutura que se segue tenta destrinçar tanto as influências informais como as formais que dão forma à definição de regras e à atribuição de recursos6. Para os governos locais, analisar os seus prospectos, tendências e lacunas mais precisamente também pode ajudá-los nas negociações entre a comunidade de negócios, a administração local e os políticos locais ou mesmo nas negociações com o governo regional e nacional. 6 Um modo útil de pensar sobre estas relações informais e formais à medida que se relacionam com as questões de governação é o do Instituto para os Estudos de Desenvolvimento (IDS) – An upside down view of governance (IDS, 2010). O estudo do IDS indica que “ em vez de ver os planos informais como uma grande parte do problema de governação, também poderiam fazer parte da solução.” 16 Relatório 3.2 A dinâmica imprevisível – compreender as influências internas e externas sobre as cidades pequenas Algumas cidades pequenas parecem quase não mudar de um ano para outro. No entanto, a maior parte das que vimos estão a sofrer grandes mudanças – quer com um crescimento rápido da população mas também, em alguns casos, um declínio rápido. Um factor importante no nosso modo de pensar concentrou-se sobre a capacidade de uma cidade de gerir as circunstâncias em mudança e as exigências que estas circunstâncias fazem sobre a provisão de serviços. Em muitos locais, o crescimento e as mudanças são imprevisíveis. Por exemplo, na maior parte do Nepal, o movimento maoista levou a que as pessoas deixassem o campo pelas cidades pequenas a um ritmo alarmante. No sul do Bangladesh, os ciclones levaram as pessoas e a actividade económica para as pequenas cidades de Sundarbans. Algum deste movimento é uma transição natural para uma economia urbanizadora; no entanto, muito dele é menos previsível. Esses choques têm um impacto desproporcionado sobre as cidades pequenas, mais do que sobre os grandes centros urbanos. Em muitas cidades pequenas o desafio é compreender os impactos destas mudanças e encontrar a capacidade de lidar com as novas circunstâncias. A nossa suposição é que se tem que utilizar uma análise mais ampla relacionada com a natureza inconstante da procura e os factores que influenciam a provisão para restringir os modelos de provisão de serviços que vão depois limitar as tecnologias e as opções de financiamento. A ordem dos eventos e a análise geralmente parecem ser o contrário. Para compreender estas influências, a equipa de investigação desenredou os elementos de interligação da demografia, função da cidade, e autonomia e tomada de decisões (ver Figura 1). Depois de muito debate, o factor abrangente que pareceu definir o que diferenciava as cidades pequenas das aglomerações rurais ou urbanas resultou ser a noção dinâmica e frequentemente intangível do que são as ligações que uma cidade pequena tem com outras povoações rurais ou urbanas. Para os centros urbanos, estas “ligações” parecem ser menos um factor uma vez que são mais auto-suficientes com serviços, têm economias de escala que permitem subsídios transversais de serviço para serviço ou de utente para utente e têm uma capacidade de absorção muito mais significativa para lidar com choques físicos, imigração ou outros eventos ou tendências. Para as povoações rurais, essas ligações tratam em grande parte da ligação física (estradas para levar os produtos agrícolas para o mercado e os utentes aos serviços básicos tais como o ensino e a saúde) ou ligações através de envios e outras fidelidades da migração rural. Apesar desta conexão ser incrivelmente importante para os agregados familiares rurais, a nossa suposição é que estes factores não influenciam realmente a procura ou a provisão dos serviços de água e de saneamento. Figura 1: Elementos da análise Figure 2: Os três níveis de conexão 17 Relatório Diversos colegas fizeram também a comparação entre a nossa análise das cidades pequenas com as áreas peri-urbanas. Apesar das questões de conexão também se aplicarem às povoações periurbanas, estas áreas não podem ser tão facilmente separadas das áreas urbanas adjacentes, uma vez que estão ligadas intimamente e automaticamente à infra-estrutura, economia e oportunidades de emprego das cidades que rodeiam. Do mesmo modo, estão intimamente ligadas tanto às políticas como às ambições ou expectativas das populações que vivem nas cidades adjacentes. Excepto as cidades satélite que podem ser bastante parecidas com as povoações peri-urbanas, os impactos destas ligações sobre as cidades pequenas são menos previsíveis. Por isso, apesar de suspeitarmos que muitas das questões que mencionámos nas abordagens que se seguem poderem vir a ser relevantes e úteis para outros tipos de povoações, o aspecto da conectividade ou da conexão parece ser o factor determinante mais crítico para o desenvolvimento das cidades pequenas. Analisámos esta conectividade a três níveis – externo, de cidade, de agregado familiar (ver a Figura 2). Os três elementos vêem-se melhor, como mostra o gráfico, representados como círculos concêntricos que começam do círculo periférico que representa o nível externo, para a cidade e passa depois ao círculo interno dos agregados familiares. Através destes níveis colocamos três elementos de análise (Figura 1) que nos proporcionam a estrutura analítica geral como representada na Figura 3 que se segue. Figura 3: Estrutura analítica combinada Também se pode representar através da seguinte matriz de três por três: Demografia Impulsionadores económicos Externo Cidade Agregado Familiar Tabela 2: Estrutura analítica representada como uma matrix 18 Autonomia / decisões Relatório 3.2.1 Análise das conexões externas de uma cidade pequena A análise do modo como uma cidade pequena está conectada ao interior rural, a outras cidades pequenas, a centros urbanos maiores ou à capital é um modo de compreender a conexão, ou seja ligação ao mundo fora dos limites da cidade pequena. Sob este ponto de vista, as cidades pequenas servem como pontos de transferência e de transição, pontos de passagem e condutas para as pessoas, as mercadorias e os serviços. Literalmente com base em se os sistemas de transporte estão bem ligados, também podem servir como locais menos complicados para certos investimentos agrícolas ou industriais em que a terra e outros recursos (naturais e humanos) se encontram mais facilmente disponíveis. No entanto, a proximidade a outros centros urbanos ou à capital, pode não ter relação alguma com a conectividade da cidade. Não se estar conectado através de ligações económicas ou sociais, ou mesmo a um nível mais básico por boas ligações de transportes, pode ter como resultado, que, mesmo as cidades perto de centros urbanos, pareçam estar bastante isoladas. Seja perto ou longe de outros centros urbanos, este isolamento pode impedir a transferência e a aceitação de ideias, resultando em estagnação ou alternativamente, incentivando a resistência de uma cidade pequena, criando abordagens inovadoras, criadas localmente, para resolver os problemas. Um elemento que tem que ser compreendido é até que ponto o Estado se encontra presente. Qual é a função real (ao contrário da designada) dos responsáveis pelas decisões a nível nacional e regional no funcionamento da cidade? A arena política apoia realmente abordagens mais adaptadas a cada cidade? Começámos a ver evidência deste tipo no Nepal onde o discurso a nível nacional se concentrava bastante em reconhecer uma tipologia emergente das cidades e como se encaixavam no desenvolvimento regional. Como foi mencionado, uma cidade pode estar ligada através de processos políticos assim como de tendências políticas a favor de ou contra eles com base na composição demográfica, significado histórico ou cultural, ou liderança carismática. De grosso modo, as cidades pequenas podem ser vistas no psique nacional com um sentimento de desejo nostálgico (ou seja, “gostaria de poder regressar à cidade pequena em que cresci onde a vida era muito mais simples”) ou podem ser vistas como bastões de tradicionalismo que não acompanham os tempos. Algumas destas percepções podem ser função de a quem se faz a pergunta e quantas gerações da família viveram numa grade cidade. No entanto, as entrevistas sugeriram que as grandes cidades no mundo em desenvolvimento podem não ter a mesma atracção que no mundo desenvolvido. Apesar de poderem oferecer oportunidades económicas e educacionais, as grandes cidades podem não ser vistas como sendo locais desejáveis para se viver. Estes preconceitos poderiam ser relevantes, por exemplo, em termos de quem está a tomar decisões sobre como se atribui o financiamento nacional e se as cidades pequenas são vistas como capazes de actuar por si próprias ou se necessitam que lhes digam o que fazer e têm que ser acompanhadas durante todo o percurso. Outros aspectos destas ligações mais amplas relacionam-se com a reputação específica de uma cidade. Por outras palavras, será que as pessoas querem transferir-se para a cidade devido à percepção que têm das oportunidades económicas, de educação, ou sociais? Do mesmo modo, as pessoas com dinheiro querem investir? Estes aspectos dirigem-se não só à natureza da procura e à demografia a nível de agregado familiar, que vão ser mencionados outra vez mais abaixo, mas também a se a cidade pode atrair e conservar profissionais (incluindo profissionais da água e do saneamento necessários para dirigir sistemas mais complexos). A reputação de uma cidade depende também da visão declarada para o futuro da mesma, o que pode muito bem envolver o desenvolvimento das tecnologias de água e de saneamento de ponta com base nos tipos de pessoas e empresas que se prevê serão uma parte importante da composição da cidade no futuro. A chave vai ser se a população da cidade aceita esta visão e está portanto disposta a pagar antecipadamente para a obter ou se vai encontrar modos de a construir gradualmente através de diversas abordagens por etapas. 19 Relatório Com base nestas e noutras questões relacionadas, começam a emergir uma série de questões como se segue: Impulsionadores económicos Autonomia e decisões • Quais são as fontes externas de financiamento para a cidade? A cidade pode conseguir rendimentos a nível local? Há algum investimento governamental e outras políticas económicas que influenciam as economias das cidades pequenas? • Até que ponto o Estado está presente? Quais são as funções reais dos responsáveis pelas decisões a nível nacional, regional e local? A arena política apoia abordagens mais adaptadas a cada cidade? Qual é a interface entre a política e a tecnocracia nacional? Há apoio técnico disponível? Demografia Externo • Que políticas nacionais existem relacionadas com o apoio (ou diminuição) ao crescimento das pequenas cidades’ • Quais são as atitudes em relação às cidades adjacentes? Encontram-se em competição pelos recursos ou perfil? Trabalham juntos noutros serviços ou projectos? Há economias de escala a conseguir ao agrupar cidades adjacentes? • As pessoas querem transferir-se para a cidade (devido à economia, educação, outras oportunidades ou ligações sociais)? As pessoas com dinheiro querem investir? Há algumas questões de ambição que influenciam os tipos de investimento ou escolha de tecnologia? • Há alguma probabilidade que a cidade seja engolida por outras cidades próximas? • Que aspectos da economia mais generalizada vão, actualmente ou provavelmente no futuro, influenciar a provisão – desflorestação ou o impacto do cultivo de camarões sobre a qualidade da água, por exemplo? Há um fluxo de mercadorias, pessoas, serviços da cidade para as zonas rurais ou outras zonas urbanas que têm impacto sobre a procura? Há envios ou outras fontes de receitas (sazonais) que possam afectar a procura? • A cidade tem acesso à informação e a ideias? Até que ponto a cidade se encontra isolada? • Que capacidade profissional tem a cidade – tanto no sector administrativo como noutros sectores? É capaz de atrair profissionais? • Há alguma visão do que a cidade gostaria de vir a ser dentro de 10 a 20 anos? Que influências (externas) afectam esta visão (exposição a outras cidades, por exemplo)? A cidade está isolada dos recursos devido às influências políticas e sociais do centro regional ou da capital? Tabela 3: Análise de níveis externos – perguntas de orientação a nível externo Aprender das visitas aos países A cidade de Paikgacha no Bangladesh mostra o isolamento que atrofia o governo local mas dá impulso ao empreendimento local através dos negócios locais. Essencialmente, talvez devido à distância, apesar de também poder ser importante analisar outros factores, o governo local parece estar bastante isolado das influências mais generalizadas do governo nacional. Não sugeriram que havia canais prósperos para as cidades pequenas partilharem informação, ideias e aprendizagem. No entanto, um negócio familiar estava claramente a aproveitar as 20 Relatório lacunas na provisão de água ao operar um furo e depois a vender a água a 800 clientes nos bairros perto da casa da família. No entanto, os incentivos para expandirem o negócio rentável que tinham para outras partes da cidade ou para cidades pequenas adjacentes não lhes eram claros, apesar de haver uma procura óbvia. Na Nigéria, à medida que as densidades populacionais aumentam, e com elas as pressões sobre a terra, resultando numa diminuição da produção agrícola urbana em muitas cidades pequenas, há um potencial óbvio para a reutilização das lamas residuais. Bandipur no Nepal, é um caso claro onde a reputação de uma comunidade pitoresca de montanha com potencial como destino turístico está a encorajar investimento. Há ligações fortes mantidas entre as pessoas da cidade e as que se mudaram para Kathmandu e mesmo mais longe. WaterAid Em Madagáscar, o financiamento da infra-estrutura pode ser uma barreira importante ao desenvolvimento dos serviços nas cidades pequenas. No entanto, um dinâmico Presidente da Câmara Municipal conseguiu circundar este desafio criando ligações com mais de 15 doadores diferentes, incluindo “organizar geminações” com outras cidades, grandes e pequenas, para conseguir projectos localizados neste sítio. 21 Relatório 3.2.2 Análise das ligações no âmbito das cidades pequenas A análise da demografia, impulsionadores económicos e autonomia e processos de tomada de decisões no âmbito de uma cidade pequena dá origem a algumas questões que poderiam normalmente ser ignoradas quando se planeiam projectos ou intervenções de água e de saneamento. Começando com os elementos que levam à migração interna, compreender estas dinâmicas a nível de cidade pode assegurar que o planeamento e o projecto de serviços de água e de saneamento satisfazem mais eficazmente as necessidades em evolução da cidade. Em todas as cidades visitadas e em todos os exemplos analisados durante este trabalho, não encontrámos grande evidência de que os responsáveis pelas decisões tivessem ido além das previsões dos números básicos de utentes. A imigração tem um impacto desproporcionado sobre as cidades pequenas em comparação com a capacidade de absorção das cidades maiores. Compreender estas dinâmicas poderia levar a discussões diferentes sobre as estratégias de investimento. Do mesmo modo, à medida que ocorrem outras mudanças na cidade, podem ter impactos adicionais. Por exemplo, serviços melhorados podem fazer com que os preços dos terrenos aumentem, encorajando as pessoas a vender a terra. O impacto sobre os agregados familiares pobres pode ser significativo. Por um lado, pode proporcionar injecções de dinheiro significativas para as pessoas pobres proprietárias de terras, permitindo-lhes dar início a um negócio. Por outro lado, faz com que as populações se transfiram, mudando-se das áreas com serviços para áreas sem serviços. A escala dos aumentos das avaliações de terrenos foi dramática para as cidades pequenas visitadas, particularmente no Sul da Ásia. Tanto no Bangladesh como no Nepal, o preço da terra em diversas cidades pequenas aumentou em 500% a 1000% somente em cinco anos. A nível de cidade, isso significa que os terrenos ficam potencialmente demasiado caros para investimentos na infraestrutura, e o planeamento urbano para infra-estruturas e outros serviços torna-se mais problemático. O processo de desalojamento interno que ocorre é semelhante ao que acontece nas zonas urbanas maiores, mas a capacidade das cidades pequenas de responder adequadamente a estas mudanças rápidas é muito mais limitado. Uma vez mais, os processos actuais de planeamento e design simplesmente não tomam este factor em conta. Para além do mais, é necessário compreender os impulsionadores económicos locais e os ciclos ou estações económicas para compreender o fluxo de dinheiro na cidade, que água é ou pode vir a ser necessária, que desperdícios se produzem e quando, se as necessidades vão mudar em alturas do ano diferentes ou outros factores. Os profissionais de água e de saneamento têm tendência para planear demasiado. Para fazer uma comparação com a iluminação solar, tendemos a projectar como se as pessoas precisassem imediatamente de três luzes em vez de compreender que precisam de luz (em alturas diferentes) em três divisões. Como se mencionou acima, podemos necessitar de compreender melhor as necessidades e requisitos reais. Compreender as actividades económicas da cidade também pode ajudar a identificar quem mais poderia ser capaz de investir nos serviços de água e de saneamento ou o potencial de usar as correntes de receitas de outras actividades económicas para subsidiar transversalmente o desenvolvimento de serviços básicos. Os efeitos a longo prazo de tal estratégia podem muito bem promover o aumento do desenvolvimento económico local em geral, o que por sua vez pode aumentar as receitas recebidas dos utentes para se poder pagar uma melhoria nos serviços. Finalmente, é necessário compreender em detalhe quais as decisões que as cidades pequenas estão autorizadas a tomar em relação a questões tais como utilização de terras, financiamento para prioridades de investimento e funcionários. Igualmente importante é compreender a interacção entre as funções dos ministérios e departamentos nacionais, os funcionários eleitos, funcionários públicos, elites locais (negócios, tradicionais, etc.), pessoas pobres e cidadãos em geral. Em todos os países visitados, ouvimos falar nas excepções de cidades ou projectos que tinham feito algo de diferente e conseguido fazê-lo bem. Em quase todos esses casos, a chave para o êxito parecia revolver à volta do facto de terem sido implementados numa altura quando os “regulamentos” ainda não existiam ou por um indivíduo ou organização ter liderado de modo criativo dentro dos regulamentos ou dando-lhes a volta. 22 Relatório O sector cita frequentemente a falta de governação e de capacidades locais adequadas como o obstáculo principal para o desenvolvimento a nível de cidade pequena. O trabalho do IDS (IDS, 2010) proporciona alguma informação sobre como os processos de governação mais informais (incluindo misturar o tradicional e as novas burocracias) podem permitir dar uma nova forma aos incentivos e influências na direcção de vantagens mais abrangentes do desenvolvimento, em vez das que têm tendência a favorecer mais as elites. Por outras palavras, compreender que agregados familiares ou indivíduos têm influência sobre as decisões locais e que incentivos podem ter ou não ter para tomar decisões que satisfazem as necessidades de toda a população da cidade, é tão importante como desenvolver os mecanismos para as pessoas pobres participarem nas decisões. Na maior parte dos locais que visitámos, o governo local ou as estruturas municipais eram em grande parte influenciados ou directamente geridos pela elite de negócios local. Os investimentos nos serviços de água e de saneamento através dos canais existentes pareciam tender ligeiramente para as necessidades deste grupo. Nos casos em que outros agentes externos, tais como as ONGs, estavam envolvidos, os esforços concentravam-se nas pessoas pobres como um meio de recuperar o equilíbrio. No entanto, esses esforços vão ter pouco efeito a não ser que incluam tentativas de trabalhar no âmbito dos processos de tomada de decisões, ou mesmo de os mudar. Compreender as culturas existentes de solidariedade ou coesão social pode ajudar a resolver as discussões com os responsáveis pelas decisões sobre as questões relacionadas com garantir uma provisão de serviços equitativa e inclusiva. As cidades pequenas ainda podem oferecer apoio e estruturas tradicionais e de solidariedade, apesar de um crescimento significativo poder minar estes aspectos. Apesar de limitada, encontrou-se alguma evidência de que os fundos comunais estavam a ser investidos nos serviços sociais. Alguns exemplos incluem as receitas florestais da comunidade a serem investidas em escolas e clínicas e num caso, subsídios de ligações à água para as famílias pobres. Há exemplos noutros países de esquemas de poupança comunais para melhorias nas casas ou mesmo assistência de caridade para despesas funerárias. Apesar destas práticas poderem muito bem mudar à medida que uma cidade cresce, este tipo de capital social poderia ter influência sobre, por exemplo, se a mão-de-obra da comunidade poderia trabalhar para construir serviços hídricos. No que diz respeito à imigração, em alguns lugares parecia haver uma atitude de boas vindas para com os imigrantes. Noutros locais, por diversas razões, seja étnicas ou religiosas, económicas ou políticas, os imigrantes não eram bem recebidos e os números cada vez maiores dos mesmos dão origem a medo que possam afectar o equilíbrio político de uma cidade. Os principais elementos aqui são se há uma cultura de subsídios transversais ou solidariedade interna e que limites os agregados familiares que já residem na cidade acham que são razoáveis, como o custo a aguentar por uma cidade em crescimento. Quando falámos com actores a nível nacional, com as organizações bilaterais e outras organizações internacionais, falou-se muito sobre a falta de capacidade a nível local para planear adequadamente. O que parece ser mais importante para o planeamento nas cidades pequenas é conseguir fazer uma análise geral correcta, estabelecer a visão do desenvolvimento e definir claramente os principais princípios de planeamento, prazos e mecanismos de monitorização e actualização. Tudo isto depende de compreender as interligações entre os processos demográfico, económico e político e os impactos que têm sobre a provisão de serviços. Como se mencionou na discussão anterior relacionada com os interesses dos intervenientes, os incentivos a todos os níveis encorajam grandes investimentos de uma só vez nas infraestruturas. Ou o sector tem que pensar melhor sobre como ultrapassar as dificuldades que esta abordagem pode causar às cidades pequenas, ou temos que pensar mais cuidadosamente sobre como os investimentos por fases podem satisfazer de modo mais sustentável as necessidades das cidades pequenas. 23 Relatório Impulsionadores económicos Autonomia e decisões • Há potencial para subsídios transversais no âmbito da cidade de um sector para outro (ou de uma estação para outra) para permitir que haja suficiente fluxo de dinheiro para o provedor? • Que decisões se tomam a nível local (sobre as finanças municipais, sobre prioridades de investimentos, sobre planeamento urbano e definição de zonas)? Como se faz a orçamentação? • Qual é a indústria dominante? • Quais são as interacções entre funcionários eleitos, funcionários públicos, elites (negócios, tradicionais, etc.) Demografia • Que impacto têm níveis mais elevados de provisão de serviços sobre a imigração? Cidade/Interno • Há uma cultura de subsídios transversais ou de solidariedade interna (Que impacto têm sobre os fluxos financeiros?) • O que influencia o capital social e a coesão social? A participação é consistente ou tem base nas questões? • As “comunidades” (espaciais ou por grupo) são capazes de responsabilizar os responsáveis pelas decisões e os provedores? Qual é a influência da demografia sobre as decisões? • Quem, para além do governo local, está a investir ou investiria na provisão de água ou no tratamento de águas residuais e porquê? • A migração interna ou o investimento económico estão a influenciar a disponibilidade das terras e o custo das mesmas? • Qual é a capacidade de gestão da cidade (incluindo empréstimos)? • Como é que a cidade regulamenta a provisão de serviços? • As actividades económicas são sazonais ou constantes? • Há possibilidade de reutilização? Tabela 4: Análise a nível de cidade – perguntas de orientação a nível de cidade Aprender das visitas aos países As cidades no Nepal estavam a tentar usar projecções de população para um período de 20 anos mas não necessariamente com nenhum tipo de análise sobre que populações se estavam a mudar para a cidade e quais eram as expectativas e exigências em termos de provisão de serviços. A cidade de Hai Bomang’ombe na Tanzânia registou um nível extremamente rápido de crescimento e imigração como resultado dos investimentos no abastecimento de água que fizeram com que houvesse água disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. Como se mencionou anteriormente, na cidade de Paikgacha no Bangladesh, um vendedor privado de água fornecia serviços aos bairros perto da sua casa. As autoridades não se importaram de o deixar proporcionar o serviço mas o provedor estava com uma certa relutância em expandir demasiado o negócio no caso das autoridades começarem a adoptar outra abordagem aos seus investimentos. 24 Relatório Como é comum em muitas cidades pequenas, a cidade de Kibibi no Uganda tem electricidade três dias por semana, o que parece o factor determinante para os serviços de água. Numa tentativa de ultrapassar os provedores de serviços formais e pouco fiáveis, os criadores de aves domésticas numa cidade pequena do Uganda estavam a investir na construção dos próprios poços. A suposição é que a enorme despesa envolvida seria mais do que recuperada pelo crescimento adicional possibilitado por uma fonte de água fiável e abundante. A cidade de Bandipur nas montanhas do Nepal deu nova vida a si própria como destino turístico, e subsequentemente tentando compreender como satisfazer as flutuações sazonais da procura da provisão de água. Na cidade de Mwapwa, na Tanzânia, a mão-de-obra eventual vive na cidade durante a estação seca, criando também grandes flutuações sazonais em termos de procura de água. Numa cidade da Nigéria, a actividade económica tem sido severamente prejudicada pela falta de água durante a estação seca. No entanto, a recolha de água pluvial durante a estação das chuvas dificultou os investimentos, o fluxo de dinheiro e o planeamento financeiro. 3.2.3 Análise de uma cidade pequena a nível de agregado familiar Grande parte da nossa tese sobre as conexões e interligações gerais ocorre nos dois níveis superiores – analisando as influências que afectam a cidade a partir dos limites e a nível da cidade. Muitos dos factores a nível de agregado familiar são semelhantes ao que se esperaria através de diferentes densidades de povoações, tais como rendimentos e preços, padrões de consumo, etc. No entanto, para as cidades pequenas, pode ser necessário fazer algumas perguntas específicas a nível de agregado familiar sobre a demografia de quem se está a mudar para a cidade, o que esperam que a cidade lhes proporcione, de onde vieram e quanto tempo tencionam ficar, ou que competências ou investimentos podem trazer consigo. Como noutros contextos, o estatuto de vida da maior parte das pessoas tem uma influência directa sobre se vão investir eles próprios na água ou no saneamento e o que esperam que o estado proporcione. Se os habitantes das residências se virem a si próprios como permanentes ou temporários e se têm propriedade da terra ou não são dois factores. Se estiverem a alugar, provavelmente a obrigação de investir cabe ao proprietário, que pode estar no local e partilhar as mesmas instalações ou pode gerir a propriedade à distância. Se assim for, os principais incentivos do proprietário estão relacionados com os rendimentos económicos, o que poderia sugerir que a disponibilidade de provisão local de água consegue uma renda maior mas as instalações sanitárias podem tirar espaço a outras divisões que podem ser alugadas. Outra consideração é se a provisão de níveis mais elevados de serviços vai ter um impacto negativo sobre as pessoas pobres ao provocar o aumento das rendas ou encorajando-as a vender a terra. Uma vez mais, estas questões, que são certamente relevantes aos contextos urbanos, peri-urbanos e das cidades pequenas, são talvez menos relevantes nos contextos rurais. Para as cidades pequenas, pode ter que se dar maior ênfase à questão da transitoriedade ou da permanência. Em muitos locais do Nepal por exemplo, entrevistas informais sugeriram que muitas famílias queriam voltar às zonas rurais de origem depois do conflito maoista ter abrandado. A suposição comum de que, tendo passado a fazer parte da paisagem urbana, as famílias vão querer continuar na cidade, pode não ser verdadeira. Mesmo se as famílias acabarem por ficar nas cidades pequenas ou em áreas urbanas, a sua própria percepção de que vão ficar aí por um período de tempo limitado vai influenciar as exigências que fazem aos provedores de serviços, os níveis de 25 Relatório investimento que estão dispostas a fazer mais directamente ou o nível de participação que podem procurar ter nos processos de desenvolvimento da cidade. Compreender os investimentos dos utentes noutras áreas (terra, materiais, ensino) deve ajudar a explicar as atitudes sobre se tencionam ficar ou não (ou se tencionam “regressar” a casa ou ir para um centro urbano maior). Compreender as dinâmicas subjacentes na demografia de uma cidade pequena (a nível de agregado familiar) vai proporcionar projecções mais exactas e decisões apropriadas para a provisão de serviços. De um ponto de vista da economia do agregado familiar, se as pessoas trabalham fora de casa ou em casa afecta a procura, como também o faz a questão de se estão a usar a água para fins diferentes dos de dentro de casa, tais como agricultura urbana ou pequenas indústrias artesanais. Compreender quanto da economia doméstica se baseia numa economia sem dinheiro é importante para avaliar que dinheiro se encontra disponível no sistema para pagar despesas de ligação ou tarifas mais em geral. Uma vez mais, tudo isto são generalidades que se aplicam a muitos tipos de povoações. Um problema agravante para as cidades pequenas é o facto de que, em muitos dos locais que visitámos, uma grande proporção dos agregados familiares pobres parecem ser predominantemente liderados por mulheres enquanto os homens estão fora a trabalhar noutros locais e a enviar dinheiro. Seria útil entender melhor estas dinâmicas de um ponto de vista económico. Os envios são sazonais? Nestas circunstâncias, como é que é provável que os fundos sejam distribuídos? Do mesmo modo, compreender a opinião política destes agregados familiares geralmente mais pobres e se podem exigir algo ao sistema nas cidades pequenas tem que ser justaposto às funções de tomada de decisões dos negócios e outras elites. As comunidades de pessoas (seja definidas espacialmente ou como um grupo de pessoas com interesses comuns) são capazes de responsabilizar os provedores e quem toma as decisões? Com o fim de responsabilizar os provedores e os responsáveis pelas decisões, os agregados familiares e as comunidades necessitam de informação sobre o que a cidade deveria prover, como as tarifas são definidas, mecanismos de compensação quando se prometem serviços e/ou são pagos mas não proporcionados, e outros aspectos. As cidades pequenas são o sítio onde as formas tradicionais de tomada de decisões começam a desaparecer ou criam lacunas de poder quando se chocam com o governo local e as regras e restrições administrativas e tecnocráticas. 26 Relatório Impulsionadores económicos Demografia Agregado familiar/Micro • Os agregados familiares consideram-se residentes permanentes ou temporários? (Alugam a casa/propriedade ou pertence-lhes?) Que impacto tem esse factor sobre os investimentos (pelo agregado familiar, proprietário, cidade, outros)? • Quais são as influências sobre a demografia dos agregados familiares? Como é que estas influências dão forma às expectativas e à procura em termos de provisão de serviços? • Há influências sazonais ou outras sobre a economia do agregado familiar que poderiam afectar a provisão de serviços? • Há pessoas que trabalham fora de casa ou trabalham a partir de casa? Que impacto têm os níveis de serviço mais elevados sobre as pessoas pobres (aumentam a renda, encorajam-nas a vender, etc.)? Autonomia e decisões • Quais são as expectativas dos que imigram para a cidade em termos de serviços? Como é que as preferências dos utentes que imigram para a cidade são incorporadas nas decisões? • Como é que se informam os utentes sobre as opções disponíveis? Como esperam ser envolvidos? • Quanta da economia do agregado familiar tem como base uma economia sem dinheiro? Tabela 5: Análise a nível de agregado familiar – perguntas de orientação a nível de agregado familiar Como foi mencionado neste documento, as ideias que levaram à estrutura ainda estão numa fase de gestação. Atendendo a que os modelos e as abordagens bem sucedidos para a provisão de água e de saneamento nas pequenas cidades não são necessariamente óbvios, os formuladores de políticas e os profissionais têm que compreender melhor as diversas dinâmicas que influenciam estas povoações. Uma vez mais, não sugerimos que as investigações tradicionais sejam postas de lado ou ignoradas mas em vez disso que as cidades pequenas têm que ser analisadas através de uma lente mais sistémica. Aprender das visitas aos países Numa cidade do Nepal, os imigrantes pobres não eram bem vistos uma vez que estavam a exercer pressão sobre os recursos da cidade. Foi necessário tomar decisões difíceis sobre se proporcionar a toda a gente o mesmo nível de serviços. Os investimentos iniciais e previsíveis concentraram-se primeiramente nas áreas centrais. Noutras cidades, os imigrantes eram vistos como estando a dar impulso ao potencial da cidade, trazendo novas competências, dinheiro e aumentando a população de tal modo que levou a cidade para uma categoria administrativa diferente, conseguindo mais fundos do governo central. Em alguns dos países que visitámos, a falta de água levou a que se estabelecessem regras relacionadas com a agricultura urbana. Em Hai Bomang’ombe, na Tanzânia, os agregados familiares dentro dos limites da cidade estão autorizados a usar as conexões às residências ou os pontos de água públicos para regar apenas pequenas hortas de subsistência a nível de agregado familiar. Água para fins agrícolas em grande escala tem que ser procurada noutro lado. Tanto no Bangladesh como no Nepal, enormes aumentos nos preços dos terrenos nas cidades pequenas marginalizaram as pessoas pobres e reduziram a quantidade de terra disponível para infra-estruturas. 27 Relatório 4 Definição de sustentabilidade nas cidades pequenas e trabalhar à escala “Pense simplesmente, como dizia o meu antigo mestre – “que queria dizer, reduza o total das partes aos termos “mais simples, voltando aos primeiros princípios.” Frank Lloyd Wright, Arquitecto Durante todo o processo de análise das cidades pequenas, a equipa tentou compreender os factores que influenciam não só o projecto da provisão de serviços mas também a sustentabilidade do mesmo. Voltar aos primeiros princípios sugere diversas coisas. Primeiro, a sustentabilidade do serviço provavelmente tem menos que ver com a tecnologia do que com as circunstâncias mais gerais na cidade. Segundo, não se podem tratar todas as cidades da mesma maneira. Apesar de haver questões genéricas sobre as regras e regulamentos nacionais (que podem de facto ser reavaliados e modificados), todas as cidades têm as suas circunstâncias particulares que podem influenciar o êxito ou falhanço de uma abordagem. Os impulsionadores das mudanças demográficas, a função da cidade e a economia resultante, e a natureza das relações entre quem influencia ou define as regras e os que recebem os serviços, são todos elementos importantes. Só pode haver sustentabilidade quando se compreendem e entrelaçam estes factores. Muita da nossa análise sugere que a sustentabilidade não tem sido ajudada pela “oportunidade de ouro”. Diversos formuladores de políticas e profissionais ao longo do caminho sugeriram que há o perigo de que oferecer (relativamente) grandes quantidades de dinheiro às cidades pequenas para que resolvam a provisão de serviços de água e de saneamento cria incentivos perversos sob todos os pontos de vista para se instalar uma infra-estrutura que não vai ser económica ou fácil de gerir, em muitos casos, depois de apenas alguns anos. A equipa viu isso acontecer em diversos locais. Os consultores e as empresas de construção fazem mais dinheiro com projectos maiores; os políticos criam uma reputação maior para si próprios ao produzir grandes projectos; e os doadores conseguem maiores quantidades de dinheiro em subsídios, contratos ou empréstimos para concretizar objectivos macro; as populações conseguem soluções rápidas. Diversos sítios transmitiram uma mensagem clara dizendo que era necessário que houvesse abordagens modularizadas ou por fases tanto para a tecnologia como para as finanças, o que permitiria o aumento e a expansão graduais de um sistema de provisão de serviços mais económico e mais adaptável. Um colega sugeriu que essas evoluções poderiam levar a que se comprassem terrenos e se investisse em infra-estruturas subterrâneas primárias mais cedo. A infra-estrutura na superfície poderia então ser gradualmente construída ao longo do tempo mas contando com a possibilidade de alterações nas circunstâncias e nos limites. Essa modularidade também pode permitir mais facilmente uma redução dos serviços no caso da cidade entrar em declínio. 28 Relatório Claramente, por diversas razões, as cidades pequenas exigem uma abordagem flexível para com o planeamento, implementação e operação. Os formuladores de políticas e os profissionais não devem depender de um modelo técnico ou de gestão único. Em vez disso, devem usar uma mistura dinâmica e flexível na qual se proporcionam diferentes opções de abastecimento para diferentes grupos de consumidores e fases de desenvolvimento da cidade (Mugabi, Dezembro de 2006). WaterAid Durante todo o processo de investigação, a equipa esforçou-se bastante com a necessidade de adaptar abordagens a cidades específicas em relação ao grande número de cidades que necessitam de apoio. Concordou-se durante todo o processo que trabalhar somente numa base de caso a caso é pouco prático. Trabalhar à escala passou portanto a significar assegurar que as políticas funcionavam a favor das pequenas cidades e que reconheciam e apoiavam diferentes tipos de cidades. Também significa que pode ser necessário adoptar diferentes políticas ou abordagens para cidades de 20.000 habitantes em comparação com cidades de 200.000 pessoas. O plano de programas das ONGs deve ter como base apoiar este desenvolvimento da política, descobrindo as diferenças entre pequenas cidades e identificando um menu de opções para responder aos resultados da análise mais ampla do contexto e dos intervenientes. Com tempo, este trabalho pode produzir uma metodologia de avaliação mais rápida que poderia permitir que se utilizassem alguns atalhos. 29 Relatório 5 Aprender de outros sectores Um componente chave deste subsídio de planeamento foi ver se os profissionais de água e de saneamento poderiam aprender de como outros sectores funcionam nas cidades pequenas, para duas finalidades: • Compreender se havia modos como a saúde, ensino, telecomunicações, energia ou outros sectores alcançam as pessoas pobres nas cidades pequenas que poderiam ser instrutivos para os sectores da água e do saneamento. • Determinar se havia características das abordagens dos outros sectores que poderiam ser usadas pelo sector da água e do saneamento – combinando forças para ter em conta economias de escala, maiores eficiências, inovações, etc. Em todos os países que visitámos tivemos conversas com os profissionais e os formuladores de políticas de outros sectores que tinham sido inicialmente identificados como sendo os mais relevantes para o nosso trabalho. Reconhece-se que havia pouco tempo, mas na maioria das vezes estas discussões não foram tão úteis como gostaríamos ou teríamos esperado. Começaram a aparecer algumas explicações importantes. Em muitos casos, parece que a classificação de cidades pequenas só existe no sector da água e do saneamento. As cidades emergentes, cidades de mercado e outras classificações parecem concentrar-se mais na função da cidade do que em satisfazer as necessidades que a cidade tem de serviços. É portanto importante voltar a pensar e a discutir o assunto, começando com a comunidade académica. Na realidade, mesmo a revisão da literatura no início do nosso processo não deu muito resultado sobre este lado da investigação. Uma explicação adicional pode dever-se à natureza dos sectores explorados. Por exemplo, o sector da energia tende a ser altamente concentrado, sendo as decisões tomadas muito longe da área de responsabilidade dos responsáveis locais. O sector da saúde proporciona serviços como os sectores da água e do saneamento mas de tal modo que o consumidor geralmente viaja para ir ao provedor em vez de uma abordagem mais localizada ou a nível do agregado familiar. O sector das telecomunicações também opera com base num sistema de “pagar à medida que se usa” mas sem as despesas de capital, frequentemente não recuperáveis, do sector da água. Apesar de não desistirmos dos aspectos da aprendizagem e de andar às cavalitas, talvez ao progredir a conversa pudesse começar por explorar como o que acontece noutros sectores influencia os sectores da água e do saneamento e vice-versa. A disponibilidade de energia ou de microcréditos, por exemplo, cria maior procura de água para as indústrias artesanais? A disponibilidade de água é um catalisador necessário para certos tipos de pequenas indústrias que aumentam a viabilidade de investimentos na provisão de energia? 30 Relatório 6 Fazer o trabalho progredir “O essencial é não planear tudo antecipadamente, mas “estabelecer um processo de aprendizagem estratégica “que permita correcções, alterações e mesmo grandes “mudanças nas abordagens.” Ben Ramalingam, Aid on the Edge, www.aidontheedge.info Em todo este documento mencionámos que o nosso trabalho tem sido muito exploratório com um âmbito necessariamente amplo e uma abordagem iterativa. Investigámos um grande número de questões, procurando respostas ou pelo menos pistas para responder às cinco perguntas que fizemos inicialmente (ver o Anexo um – A nossa abordagem para com a tarefa: uma oportunidade única). A tarefa foi particularmente difícil devido aos poucos dados que existem sobre o assunto. Também sabemos que nos encontrávamos em território relativamente desconhecido. A nossa investigação inicial identificou um modo um pouco mais contextualizado de analisar as cidades pequenas, sugerindo em maior detalhe como são diferentes dos contextos rurais ou urbanos de grande dimensão. Tencionamos testar a nossa abordagem com o fim de melhorar o modo como a WaterAid, como organização, e o sector de WASH em geral, se dirige às questões das pequenas cidades. Especificamente, depois de usar a demografia, os impulsionadores económicos e a autonomia e tomada de decisões como guia para definir a tipologia das cidades pequenas, procuramos identificar as implicações, particularmente para as opções da provisão de serviços de saneamento, em cada tipo. Reconhecemos que o tipo de análise defendido neste documento geralmente não se encontra nos Termos de Referência normais dos consultores e de outros profissionais do desenvolvimento quando planeiam um sistema de água ou de saneamento para uma cidade pequena, ou talvez em qualquer lado. Como se previa desde o início, as nossas perguntas exigem ajustes e provas adicionais para ver se as influências que estes factores exercem sobre a procura e a provisão de água e de saneamento são tão significativos como actualmente suspeitamos. Analisar a questão das cidades pequenas até chegar a estes níveis sugere que o trabalho também se poderia encaixar com, por exemplo, o trabalho da Associação Internacional da Água Sanitation 21: Simple Approaches to complex sanitation (IWA), 2009) que demonstra mais claramente as opções de investimento para o saneamento. Apesar de bastante da análise no documento se poder dirigir seja à água como ao saneamento, a WaterAid vê a complexidade inerente do sector de saneamento como um desafio único que requer uma concentração especial, por duas razões. Primeiro, devido à existência de provedores de serviços múltiplos, o planeamento é essencial e oferece uma oportunidade para se dividirem as 31 Relatório diversas correntes de serviços em componentes separados. Segundo suspeitamos que a fragmentação no sector do saneamento proporciona maiores probabilidades de inovação, particularmente se a nossa análise mais generalizada for feita devidamente. A nossa investigação e experiência têm demonstrado que os sistemas tendem a ser demasiado planeados desde o início e são portanto demasiado caros tanto em termos de capital como de despesas recorrentes para a cidade pequena os poder aguentar. Do mesmo modo, os sistemas que não fazem planos para serem ampliados têm a probabilidade de ser submergidos pela procura e tornam-se rapidamente ineficientes e ineficazes. As nossas principais perguntas são: como é que as cidades pequenas podem usar um processo de planeamento simplificado, em harmonia com as capacidades técnicas, preparando-se para o crescimento futuro dos serviços? Quais são os blocos de construção da provisão de serviços que podem ser implementados e geridos progressivamente pelas cidades pequenas? Tal como as soluções tecnológicas vão ter que ser calibradas para uma determinada demografia e taxa de crescimento, também será necessário descobrir planos de financiamento apropriados para o desenvolvimento interactivo. O financiamento tradicional de um pagamento único apresenta um desafio para uma provisão de serviços sustentada e gradual. Tanto a investigação de planeamento subsidiada pela WaterAid, como a experiência dos nossos programas nacionais sublinharam que os serviços demasiado centralizados são muitas vezes inapropriados no contexto de uma cidade pequena. Ao mesmo tempo, reconhecemos que é improvável que a administração seja capaz de proporcionar directamente um serviço abrangente que tomou em consideração todos os aspectos do planeamento, provisão e controlo. A provisão dos serviços, especialmente para as secções mais pobres da comunidade, envolve geralmente os provedores de pequena dimensão – frequentemente do sector privado ou da sociedade civil. Atendendo a esta realidade, é importante desenvolver modelos de negócios apropriados para serviços com tarifas separadas nas cidades pequenas. Em conclusão, a WaterAid e a BPD estão confiantes de que este trabalho nos fez progredir significativamente para compreendermos as abordagens necessárias para lidar com as questões dos serviços de água e de saneamento nas cidades pequenas. Este trabalho não está de modo algum completo, mas suspeitamos que temos agora a base para começar a explorar em maior profundidade algumas das questões sugeridas acima. Acreditamos que esta estrutura analítica emergente poderia ser usada para ter um efeito positivo na orientação dos processos de criação (em escala no âmbito de um contexto nacional ou estatal) de programas de apoio às cidades pequenas que incluam planeamento para toda a cidade, apoio para melhorar a governação local e provisão de menus de soluções técnicas adaptadas ao contexto específico. Uma das nossas tarefas foi definir o número de áreas para “investigação de acção” a ser levadas para a frente e testadas no âmbito do programa de trabalho da WaterAid a nível nacional. Outros leitores podem ser atraídos a diferentes elementos do documento. Podemos apenas esperar deste modo poder catalisar e influenciar ideias adicionais. Os autores e as organizações dos mesmos estão sem dúvida abertos a partilhar e a colaborar sobre estas questões e gostariam de receber feedback construtivo sobre a análise exposta neste documento. Em conjunto com esta publicação, lançámos um website que esperamos venha a ser um repositório de conhecimentos sobre o desenvolvimento e a provisão de serviços nas cidades pequenas. Encorajamos outros actores do desenvolvimento a usar este recurso como um meio de partilhar o seu próprio trabalho sobre as cidades pequenas. www.small-towns.org 32 Relatório Bibliografia Durante o decorrer deste trabalho, a BPD e a WaterAid leram e releram um conjunto de materiais extremamente vasto e abrangente que ajudou a influenciar o nosso modo de pensar e nos fez progredir. Muitos destes materiais estão numa lista no website. Para os fins da redacção deste documento em especial, as fontes que se seguem foram directamente citadas ou usadas. Cardone R A (2006) Experiences with innovative financing: small town water supply and sanitation service delivery (Meeting development goals in small urban centres: water and sanitation in the world’s cities). UN-Habitat. Doe S (2003) Sustainability of community management in small towns: case studies from Ghana. Loughborough, UK: Ph.D thesis, Loughborough University. IDS (2010) An upside view of governance. Brighton, UK: Institute of Development Studies. IIED (2003) Rural-urban transformations and the links between urban and rural development, Environment and Urbanisation Brief No 7. London, UK: International Institute for Environment and Development (IIED). IWA (2009) Sanitation 21: Simple approaches to complex sanitation – a draft framework for analysis. London, UK: International Water Association. Mugabi J A (December 2006) Managing water services in small towns: challenges and reform issues for low-income countries. Journal of Urban Planning and Development, pp 187-192. Pilgrim N R (2007) Water working notes: principles of town water supply and sanitation, Part 1: water supply.Water Supply and Sanitation Sector Board of the Infrastructure Network, World Bank Group. 33 WaterAid Report Anexo – A nossa abordagem para com a tarefa: uma oportunidade única “Os sistemas... comportam-se de modo não linear “e imprevisível. Não se trata somente de puxar uma alavanca “e ignorar o barulho e as flutuações. Em vez disso, o importante “é aceitar a incerteza, a tensão, o barulho – trabalhar com estes “factores como um facto em vez de uma aberração.” Ben Ramalingam, Aid on the Edge, www.aidontheedge.info A nossa abordagem à tarefa: uma oportunidade única Reconhecendo a urgência de compreender como melhor satisfazer as necessidades de água e de saneamento das cidades pequenas em expansão, a WaterAid, em parceria com a BPD e apoiada por um subsídio de planeamento da Fundação Bill and Melinda Gates, propôs sintetizar os conhecimentos existentes e identificar abordagens prometedoras que poderiam apoiar o impacto sustentável nas pequenas cidades. Combinando os conhecimentos de um Painel de Consulta de Peritos (EAP) multi-disciplinares com as experiências das comunidades locais, dos governos e dos actores do desenvolvimento, o projecto procurou então definir iniciativas de investigação de acção que possam ser implementadas e documentadas numa fase futura em diversos programas nacionais da WaterAid. Mais especificamente, o subsídio de planeamento procurou dirigir-se às seguintes perguntas iniciais: • O que há de diferente nos desafios e potenciais soluções para a provisão de serviços de água e saneamento nas pequenas cidades ao contrário dos grandes ambientes urbanos ou contextos rurais? • Há algumas lições a aprender de outros sectores que proporcionam infra-estruturas ou serviços públicos de saúde nas cidades pequenas que poderiam proporcionar informação para planear modelos de “negócios” para a água e o saneamento? • No contexto das cidades pequenas, é melhor dirigirmo-nos aos serviços de água e de saneamento através de uma abordagem combinada ou é necessário usar abordagens diferentes para o saneamento? • Há oportunidades e pontos de entrada para criar impacto que são sustentáveis e que podem ser redimensionados nas cidades pequenas em toda a Ásia e a África? 35 Relatório • A partir dos pontos acima, há perguntas mais especificamente visadas que possam orientar a investigação de acção futura para testar / experimentar modelos de desenvolvimento, tecnologias, mecanismos de financiamento e/ ou outras adaptações prometedoras? Apesar deste relatório tentar proporcionar algumas respostas às perguntas acima, é importante notar que a intenção das mesmas era apenas servir de guia ao processo de investigação com o fim de expandir a investigação se necessário. Como ponto de partida e para servir de informação ao resto do projecto, a BPD levou a cabo uma revisão da literatura (ainda por publicar) para ajudar a equipa de investigação a definir claramente um quadro de investigação e um plano de consulta aos intervenientes. A primeira tarefa era portanto documentar o que já se sabe sobre a provisão de serviços de água e de saneamento nas pequenas cidades e resumir os resultados que se relacionam especificamente com a primeira e a segunda pergunta acima. A análise, principalmente, da primeira e da segunda pergunta (acima) procurou desenvencilhar as principais causas tanto do êxito como das dificuldades para a provisão de serviços nas pequenas cidades. Por exemplo, a distância de uma cidade pequena do principal centro urbano (ou centros urbanos) pode resultar em maior independência para a municipalidade, mas também apresenta dificuldades para atrair funcionários qualificados. Diversas questões, algumas no âmbito do controlo dos profissionais da água e do saneamento, mas muitas não, tornaram-se centrais à nossa análise, incluindo: • Considerações espaciais (como função da distância geográfica ou do terreno). • Relação (económica, política ou outra) com as grandes cidades. • Prioridades e abordagens da política pública e do investimento do governo. • Política e práticas de descentralização. • Tendências técnicas do centro. • Estruturas de governação e mecanismos de prestação de contas. • Questões de capital social nas cidades pequenas. Durante todo o trabalho a WaterAid e a BPD quiseram fazer e (mapear) as ligações entre estes aspectos diferentes, compreendendo mais claramente os impactos e implicações de certas características das cidades pequenas. A meta final do trabalho era comparar e contrastar contextos de diferentes cidades pequenas com o fim de chegar a uma ferramenta ou estrutura analítica que permita que se tomem decisões sobre abordagens e “investimentos” dum modo mais holístico. Os conhecimentos do EAP foram inestimáveis durante todo este processo dando conselhos contextuais. O EAP consistia em sete peritos reconhecidos internacionalmente que, apesar de estarem bastante familiarizados, com uma ou duas excepções, não se consideram a si próprios necessariamente conhecedores dos sectores da água e do saneamento. Trouxeram à discussão diversas disciplinas incluindo o planeamento urbano, a descentralização, tecnologias apropriadas, microfinanças, ensino e saúde, assim como experiência no desenvolvimento social. Os Termos de Referência do EAP foram apoiar a análise crítica através de uma revisão feita por colegas e com recomendações durante todas as fases do trabalho. Além do mais, chamaram-se três especialistas adicionais mais directamente familiarizados com o sector da água e do saneamento e alguma programação sólida e experiência de investigação na provisão de serviços nas pequenas cidades para participarem em todo o processo. Para consolidar a aprendizagem da revisão da literatura num quadro de investigação organizou-se um workshop de dois dias e meio com toda a equipa. Desafiados pelos profissionais de outros sectores diferentes da água e do saneamento, o plano diferente das discussões proporcionou uma 36 Relatório enorme quantidade de material para a equipa tomar em consideração antes de iniciar as visitas aos seis países, Bangladesh, Madagáscar, Nepal, Nigéria, Tanzânia e Uganda. Esboçaram-se as revisões da literatura a nível de país como material de base para estas visitas de nove a doze dias (levadas a cabo entre Setembro de 2009 e Janeiro de 2010). Equipas pequenas lideradas por um funcionário da BPD incluíam colegas da WaterAid no RU e nos programas nacionais. Um realizador de vídeos juntou-se à equipa em cada uma das visitas dos seis países para capturar a aprendizagem. A metodologia da investigação teve como base entrevistas a informadores importantes a nível nacional e em três ou quatro cidades pequenas em cada país. As estruturas iniciais criadas tiveram como base compreender as dificuldades da provisão de serviços nas cidades pequenas justapostas ao contexto mais amplo de uma cidade. O contexto mais amplo foi inicialmente dividido em perguntas à volta de quatro temas, como representado na tabela que se segue. Demografia Função Autonomia Conexão Analisar as mudanças demográficas para compreender a natureza actual / futura da procura de água e produção de águas residuais. Concordou-se que a função da cidade era importante uma vez que, por exemplo, as necessidades de uma cidade industrial seriam diferentes das de uma economia com base no turismo ou as de um centro administrativo Rever que liberdade ou poder uma cidade tem para definir as suas próprias soluções deveria orientar as intervenções externas. Analisar as influências exteriores que têm impacto sobre a procura e a provisão acaba por ligar os outros três elementos. Tabela 6: Temas iniciais da estrutura analítica O processo em cada cidade visitada foi entrevistar os principais intervenientes sobre o contexto de água e de saneamento nessa cidade e identificar as principais dificuldades que a cidade e os seus residentes enfrentam. As entrevistas tentaram conseguir que os entrevistados não só identificassem como essas dificuldades evoluíram durante os últimos cinco a 15 anos, mas também sugerir intervenções importantes que poderiam ter sido levadas a cabo com o fim de antecipar as dificuldades existentes. As entrevistas também foram planeadas para se concentrarem nos aspectos positivos, ou seja, o que se fez que provou ter benefícios duradouros. As discussões visaram não só as questões nos sectores da água e do saneamento mas também aprender lições de outros sectores (tal como o planeamento urbano, saúde, educação, energia e TI). A finalidade das visitas aos países não foi documentar todos os aspectos da água e do saneamento em pequenas cidades nos seis países. Em vez disso, o trabalho nos países visava criar um modo cumulativo e iterativo de compreender os factores diferentes que afectam o plano e provisão de serviços de água e de saneamento nas cidades pequenas. A fase final do subsídio de planeamento reuniu o EAP, o programa nacional da WaterAid e os funcionários internacionais, a BPD e a Fundação Gates num workshop para finalizar e confirmar a estrutura analítica emergente e diversas hipóteses de investigação de acções a serem experimentadas no trabalho de seguimento da WaterAid nas cidades pequenas. 37 Relatório Utilização de uma abordagem de sistemas “simplificados” Durante todo o processo, estivemos atentos para que uma abordagem de raciocínio sistémico pudesse proporcionar um bom modo para fazer com que os profissionais de água e saneamento pensem de modos alternativos. Ou, simplesmente, uma abordagem de raciocínio sistémico forçanos a revelar os nossos pensamentos causais, ou seja, aquilo que acreditamos que são as causas subjacentes e efeitos finais que influenciam uma questão. Sem compreender estas causas, as nossas soluções vão levar a problemas adicionais. A intenção de usar uma abordagem de raciocínio sistémico na análise das cidades pequenas foi definir uma vasta gama de variáveis e processos que influenciam o plano e a provisão de um serviço de água e/ou saneamento. A nossa meta tem sido mudar a ênfase das respostas reactivas para abordagens mais adaptáveis, criativas e reflectivas que antecipam mais claramente como as coisas poderiam evoluir. Para se poder compreender esta evolução, as abordagens de raciocínio sistémico tentam antecipar atrasos, desfasamentos (quando um efeito pode não ser visto até mais tarde) e feedback loops. A curto prazo, estes podem provavelmente ser ignorados. No entanto, a longo prazo, sem se compreenderem estes elementos, um serviço de água ou saneamento pode muito bem acabar por ser estruturado de modo inapropriado e insustentável. Também ajuda a ver ligações bidireccionais ou múltiplas, potencialmente sem fim, em vez de ligações puramente lineares. Como um simples exemplo tipo “galinha e ovo”, instalar um sistema de água pode encorajar maior imigração para uma cidade. O aumento da imigração para uma cidade pode encorajar a expansão de um sistema de água. Uma abordagem de raciocínio sistémico vai revelar muitos elementos (como mencionado nas discussões através deste documento) que estão certamente fora do controlo dos profissionais do sector de água e de saneamento. Os que usam uma abordagem de raciocínio sistémico não vão sempre chegar a acordo sobre as “respostas”, mas a abordagem é planeada para conseguir diferentes informações que possam ser discutidas. Uma vez mais, apesar de não termos aplicado sistematicamente uma abordagem de raciocínio sistémico ao nosso trabalho as ideias neste documento reflectem o espírito geral com o qual nos envolvemos neste exercício. 38 Relatório Notas 39 Relatório Notas 40 WaterAid A WaterAid permite que as pessoas mais pobres do mundo consigam acesso à água segura e ao saneamento. Juntamente com uma melhor higiene, estes direitos humanos básicos apoiam a saúde, o ensino e os meios de subsistência, formando o primeiro passo essencial para ultrapassar a pobreza. Trabalhamos com parceiros locais, que compreendem as questões locais, e proporcionamos-lhes as competências e apoio para ajudar as comunidades a estabelecer e gerir projectos práticos e sustentáveis que satisfazem as suas verdadeiras necessidades. Também trabalhamos a nível local e internacional para mudar a política e as práticas para assegurar que a função vital da água, da higiene e do saneamento na redução da pobreza é reconhecida. www.wateraid.org Contacto para este documento: [email protected] A finalidade da Building Partnerships for Development in Water and Sanitation – BPD (Criação de Parcerias para o Desenvolvimento na Água e no Saneamento) é reforçar as parcerias que apoiam os provedores de serviços de água e de saneamento nas comunidades pobres. Reconhecendo que as dificuldades relacionadas com a provisão de serviços de água e de saneamento nos países em desenvolvimento não se encontram principalmente enraizados nas lacunas tecnológicas ou financeiras, a BPD proporciona orientação e apoio que levam a parcerias de diversos intervenientes através dos sectores público, privado e da sociedade civil que trabalham de modo mais eficiente e eficaz. Activa desde 1998, a BPD é líder no sector para proporcionar uma plataforma não lucrativa, neutral e independente que desafia os formuladores de políticas e os profissionais no modo como trabalham em conjunto, através de investigação de acção, apoio às parcerias e actividades de aprendizagem partilhadas. www.bpdws.org WaterAid, 47-49 Durham Street, London SE11 5JD Telefone: 020 7793 4500 Fax: 020 7793 4545 Email: [email protected] www.wateraid.org Números de registo de obra de beneficência 288701 (Inglaterra e País de Gales) e SC039479 (Escócia)