FAPAM- FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Alex
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FAPAM- FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Alex Sandro Alves da Silva ANÁLISE DAS GÍRIAS NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO Pará de Minas 2013 Alex Sandro Alves da Silva ANÁLISE DAS GÍRIAS NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO Monografia apresentada à Coordenação de Letras da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Letras. Orientadora: Vanessa Faria Viana Pará de Minas 2013 Alex Sandro Alves da Silva ANÁLISE DAS GÍRIAS NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO Monografia apresentada à Coordenação de Letras da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Letras. Orientadora: Vanessa Faria Viana Aprovado em: _____/_____/_____ _____________________________________ (título e nome do professor orientador) _____________________________________ (título e nome do professor examinador) _____________________________________ (título e nome do professor examinador) Dedico este trabalho a todos os meus familiares, aos meus amigos e aos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. A todos os autores de livros ou artigos que disponibilizaram tempo para estudarem esse importante modismo linguístico, que é a gíria. A minha orientadora pela ajuda, paciência e cooperação. Aos rappers brasileiros, por serem quem são. E por fim, a Deus pela vida e saúde. “Fazer o que se é assim vida loka O cheiro é de pólvora, e eu prefiro rosas”. Racionais Mc’s cabulosa RESUMO Este trabalho é uma análise das gírias presentes no rap brasileiro e sua importância não somente para o rap, como também, para a sociedade enquanto modismo linguístico utilizado pela maioria das pessoas e que representa mais de dez por cento do vocabulário brasileiro. Esta tem como objetivo geral analisar as gírias, sobretudo, as existentes nas músicas de rap, como também, sua importância para a Língua Portuguesa. E como objetivos específicos, caracterizar as gírias de uma forma geral, confrontar as gírias existentes no rap de cantores de diversas capitais brasileiras e mostrar a contribuição das gírias para a língua portuguesa, bem como, para a sociedade. De modo que diante da análise nas músicas de rap constatamos a importância da gíria como um elemento agregado ao rap e que exerce forte papel na produção de uma canção com uma boa sonoridade, com um bom ritmo e, sobretudo, com um cunho social e contestador. Palavras chave: análise discursiva; gíria; rap (rhythm and poetry). SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 1.2 Objetivo Geral .................................................................................................. 10 1.3 Objetivos Específicos ...................................................................................... 10 1.4 Estrutura do Trabalho ...................................................................................... 10 2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS ............................................................................... 12 2.1 A gíria............................................................................................................... 12 2.2 O rap ................................................................................................................ 17 3 ANÁLISES DE DADOS: A GÍRIA NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO .......... 21 4 METODOLOGIA .................................................................................................... 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 32 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 33 ANEXOS ................................................................................................................... 37 Anexo A: Soldado do Morro (MV Bill)..................................................................... 37 Anexo B: 12 de Outubro (Facção Central) ............................................................. 41 Anexo C: Super Billy (Conexão do Morro) ............................................................. 43 Anexo D: Eju Orendive (Brô Mc’s) ......................................................................... 47 Anexo E: Só Monstro (Thiagão e os Kamikazes do Gueto) .................................. 49 Anexo F: Jão (DMN) .............................................................................................. 52 Anexo G: Miséria (Inquérito) .................................................................................. 55 Anexo H: Vida Loka Parte II (Racionais Mc’s)........................................................ 57 Anexo I: 3° Opção (Trilha Sonora do Gueto) ........................................................ 60 Anexo J: Vida Loka Parte I (Racionais Mc’s) ......................................................... 64 Anexo K: Minha Droga é Pesada (DJ Jamaika) ..................................................... 67 Anexo L: Ideia Criminal (Mano Tuthão) ................................................................. 70 8 INTRODUÇÃO Esta proposta de pesquisa surgiu a partir da paixão pelo rap, bem como, do envolvimento com as músicas do gênero. As músicas de rap visam entreter, como também denunciar a desigualdade social, a corrupção, a miséria, o preconceito, entre outros males que afligem nossa sociedade. Geralmente, essas músicas são de autoria de pessoas provenientes das classes suburbanas das grandes metrópoles, o que faz com que o discurso seja repleto de expressões típicas do local; caracterizadas, na maioria das vezes, como gírias. Esses espaços servem como fonte de inspiração para os cantores do gênero. O interesse sobre o tema se faz também devido ao desejo de mostrar a riqueza desse modismo linguístico, no caso, as gírias contidas nas músicas de rap e sua grande contribuição para a produção das letras do gênero. O rap, gênero musical originalmente da periferia, vem se propagando para outras classes sociais, sobretudo devido à globalização, colaborando para uma enorme expansão e enriquecimento de nossa língua, tanto no âmbito cultural como no musical. Há também, o interesse de evidenciar a relevância das gírias como um tipo de expressão distinta da norma padrão, mas que tem seu lugar de valor na língua portuguesa. A gíria se encaixa como o selo de uma comunidade favorecendo a difusão de sua linguagem. Tais gírias colaboram para que sejam produzidas letras de rap bem elaboradas, informativas, com boa sonoridade e com cunho militante, as quais contribuem na formação do senso-crítico de um indivíduo, como também na produção de um discurso bem fundamentado, contundente e firme de um cantor ou adepto do gênero. Tanto os cidadãos de comunidades pobres como também os moradores de classes sociais mais altas utilizam gírias corriqueiramente. As gírias, criadas pelos meios de comunicação em massa ou as gírias típicas de grupos futebolísticos, de artistas, de comunidades fechadas ou de cantores, são internalizadas, bem como, utilizadas pela sociedade em geral. 9 Com as gírias presentes no rap não é diferente, visto que há falantes de diversos lugares, como também de várias classes sociais e de comunidades distintas, todos em comum, utilizam as gírias existentes no rap em seu cotidiano. Cada vez mais as pessoas incorporam esses vocábulos gírios. Até mesmo falantes da alta sociedade acabaram se familiarizando com o rap e suas expressões. Com isso, podemos constatar que vários indivíduos pertencentes às classes sociais privilegiadas, os quais se identificaram com as batidas e letras do rap tornaram-se grandes ouvintes de rap ou até mesmo rappers, como é o caso do cantor carioca Gabriel, o Pensador. Há também as pessoas que não são adeptas desse gênero musical, mas que ao ouvirem e constatarem o fundamento e a riqueza da linguagem integrada nas letras de rap, consequentemente passaram a utilizá-las. Segundo Gurgel (2009), “É falsa a afirmação de que a gíria é linguagem de malandros, marginais, de pobres, de excluídos” (GURGEL, 2009). As gírias são utilizadas por todos os brasileiros, tanto pelos que não conhecem a norma padrão, como por aqueles que a conhecem. Logo, o uso em tais músicas de rap se justifica pelo fato de muitos rappers provenientes da periferia não terem conhecimento da linguagem padrão, bem como, buscarem se autoafirmar através da linguagem de sua própria comunidade. Assim, quem ouve uma música de rap, geralmente fica conhecendo o cotidiano do autor da letra. Portanto, a gíria tende a contribuir na diversificação, valorização e enriquecimento da língua portuguesa. Como também, informa a realidade do cantor ou de determinado grupo social. Gurgel (2009) afirma “É falsa a afirmação de que rico, educado, bem nascido, não fala gíria. Também é falsa a afirmação de que a gíria empobrece a língua”. Também é intuito do projeto contribuir para que se acabe com o estigma de que as letras de rap, compostas maciçamente por gírias não contribuem para a formação de um grande indivíduo. Dessa maneira, esta análise visa mostrar o real valor das gírias nas letras de rap, não somente para a formação de identidades de muitos jovens carentes; mas também como componente importante do rap, o qual direciona o jovem a traçar caminhos de sucesso, fugir da criminalidade e ter perspectiva de futuro. Um gênero musical que promove a inclusão social. 10 1.2 OBJETIVO GERAL Analisar as gírias, sobretudo, as existentes nas músicas de rap e sua importância para a Língua Portuguesa. 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Caracterizar as gírias de uma forma geral. Confrontar as gírias existentes no rap de cantores de diversas capitais brasileiras. Mostrar a contribuição das gírias para a língua portuguesa e para a sociedade. 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está estruturado em cincos capítulos, nos quais são abordados elementos que estão totalmente voltados para a análise das gírias no rap brasileiro. O primeiro capítulo é divido em quatro seções, de modo que a primeira seção faz esclarecimentos sobre o motivo de abordar esse tema, bem como, descreve como será feita essa análise das gírias nas músicas de rap. Além disso, explica a importância do que está sendo analisado. A segunda e a terceira seção explanam qual é o objetivo geral e quais são os objetivos específicos da análise respectivamente. E a quarta seção apresenta de que forma o trabalho foi estruturado. O segundo capítulo é dividido em duas seções. Na primeira seção há algumas explicações, de forma sucinta, do que se tratam as gírias, quais as suas características e como se deu seu surgimento; esclarecimentos baseados em diversos autores como Dino Preti e J.B Serra e Gurgel. Na segunda faz-se um breve panorama da história do rap, o que inclui: seu surgimento nos EUA, sua chegada ao Brasil e seu desenvolvimento no país, abordando para isso os principais expoentes do rap brasileiro, sua situação atual e a responsabilidade desse gênero musical para com a sociedade. O terceiro capítulo traça uma análise sobre as gírias no rap brasileiro. Nela são mencionadas as expressões mais utilizadas, cujos significados são explicitados logo em seguida. Também expomos algumas situações que envolvem a questão da 11 variação linguística nas gírias. Além disso, evidenciamos o papel da gíria na formação do rap que contribui significativamente no âmbito social. No quarto capítulo, descrevem-se os tipos de métodos utilizados, quais foram os tipos de observações e de análises feitas, como também quais foram os procedimentos usados na realização desta pesquisa. E por fim, no quinto capítulo fazemos algumas considerações finais sobre o que foi constatado ao longo desta análise nas músicas de rap brasileiro. 12 2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS 2.1 A GÍRIA Considerado o componente mais importante do modismo linguístico, a gíria também é considerada um signo de grupo, a princípio secreto, que representa o maior número de palavras utilizadas na linguagem falada do cotidiano. Ela está intimamente ligada à questão da época e da moda, com isso, podemos constatar que de tempos em tempos surgem novas gírias que se tornam as mais usuais e outras, entretanto, passam a ser menos usadas ou caem em desuso. As gírias surgiram como uma forma de comunicação, diferenciação e denúncia, bem como, um mecanismo de autodefesa para grupos sociais e profissionais. A princípio apenas os membros de tais grupos a entendiam. Contudo, com a difusão dessa linguagem gíria para os meios de comunicação em massa, outros grupos passaram a conhecer e a entender seus significados. De acordo com PRETI (1984): Caracterizada como um vocabulário especial, a gíria surge como um signo de grupo, a princípio secreto, domínio exclusivo de uma comunidade social restrita (seja a gíria dos marginais ou da polícia, dos estudantes, ou de outros grupos ou profissões). E quanto maior for o sentimento de união que liga os membros do pequeno grupo, tanto mais a linguagem gíria servirá como elemento identificador, diferenciando o falante na sociedade e servindo como meio ideal de comunicação, além de forma de autoafirmação. (PRETI,1984, p.3). A gíria é uma forma de expressão mais prática, dinâmica e que se enquadra melhor no perfil de nossas cidades atuais. Hoje as metrópoles convivem com essa explosão demográfica que faz com que o nosso cotidiano seja extremamente movimentado, induzindo as pessoas a optar por um discurso cada vez mais simplificado, objetivo e de fácil entendimento. Gurgel (1984) afirma: A gíria facilita o entendimento, a compreensão de signos e significados, de maneira linear e objetiva. Sem rodeios, mesmo quando as palavras se distanciam de sua etimologia e os metaplasmos adquirem aparentemente conotações estapafúrdias. (GURGEL,1984, p.15). 13 Seria extremamente errôneo considerarmos a gíria como uma expressão de grupos, facções, malandros, enfim, uma sublinguagem do português padrão. Fazer isso é simplesmente ignorar a linguagem que está predominantemente inserida em nosso dia a dia. É não enxergar a realidade que nos permeia. É obvio que tal linguagem tem suas imperfeições e seus defeitos. A gíria, a qual é considerada um modismo linguístico incorporou-se a outras classes sociais, expandindo-se além dos seus limites, ou seja, não se restringindo mais a seu local de origem. Além da disseminação da gíria para outros âmbitos, o fato de que qualquer pessoa pode criar uma gíria nova favorece a popularização de seu uso, em virtude do grande número de gírias existentes. Segundo o Jornalista J.B. Serra Gurgel (2007): Se a gíria não se propagasse, ela seria uma linguagem de grupos , facções, tribos. Essa mobilidade é que equilibra a sociedade brasileira, se não houvesse essa mobilidade certamente o brasileiro cordial teria virado obra de ficção. A gíria tem caráter democrático. Quando vira gíria comum, todos, até os mais arcaicos, aceitam e até usam-na, sem falar que a televisão, em novelas e publicidades, lança algumas expressões, como por exemplo, “né brinquedo não! Da personagem d. Jura da novela O Clone, da Rede Globo de televisão, em 2002 ou o “Fala sério! da adolescente Paty, vivida por Eloísa Perissê, no Programa Zorra Total, na Rede Globo de televisão, dentre outros que vão surgindo e acabam virando (jargão) ou gíria simplesmente”. ( GURGEL,2007,apud SILVA, 2008,p 8). Devido à globalização e aos avanços da tecnologia, as línguas utilizadas por determinados grupos se expandem vertiginosamente para outros locais, através do rádio, televisão, cinema e, especialmente, pela internet. Segundo PRETI (1984): Hoje, com a grande divulgação da informação, com a presença social atuante da mídia, a gíria se vulgariza muito rapidamente, assim como rapidamente se extingue e é substituída por novas formas. Essa efemeridade é uma das características mais presentes no vocabulário gírio e, de certa maneira, identifica-o com a grande mobilidade de costumes da época contemporânea. E, talvez por essa constante dinâmica é que a gíria tornou-se tão utilizada em nossos tempos”. (PRETI, 1984,Pág 2;3). Entretanto, os meios de comunicação não se limitam a apenas difundir as gírias. Eles também são responsáveis pela criação de uma infinidade de palavras que se encaixam no grupo das gírias. 14 Com essa propagação das gírias, sobretudo, devido aos grandes meios de comunicação, esse modismo linguístico não somente se espalha, mas também acaba sendo internalizado, reciclado, como também, modificado. Como afirma Fusaro (2001): Quando é espalhada, a gíria está sujeita a mudanças de percurso. A expressão passa de boca em boca, vai ganhando acentos e significados diferentes do original, como numa brincadeira de telefone sem fio. Os meios de comunicação, além de lançar novos termos, são fortes propagadores da gíria que já existe. (FUSARO, 2001,p.6). Assim, podemos inferir que a gíria não surge apenas em grupos fechados, mas também durante o seu processo de expansão. Logo, os meios de comunicação são grandes responsáveis por novas gírias. Tais expressões gírias são muito dinâmicas e mutáveis. Constantemente surgem novas gírias e as já existentes vão perdendo seu sentido original e adquirindo novos significados. A gíria é considerada a marca de um grupo social, na maioria das vezes ligada a centros urbanos, utilizada como um grande recurso de expressividade. No passado não teve a atenção merecida, visto que era considerada uma linguagem de malandros, arruaceiros e de prostitutas por estar diretamente relacionada com a fala desses grupos. Uma das características desse modismo linguístico é de que quando a linguagem gíria se restringe apenas a um grupo de pessoas, o falante logo a utiliza para ser entendido apenas por pessoas desse grupo. De modo que a gíria se encaixa como um selo dessa comunidade representando uma realização pessoal, como também, um símbolo de identificação, tornando assim um signo de grupo. PRETI (1984) afirma: A criação dessa linguagem especial pode não apenas atender ao desejo de originalidade mas também servir a finalidades diversas, como, por exemplo, ao desejo de se fazer entender apenas por indivíduos do grupo, sem ser entendido pelos demais da comunidade, de onde advém o seu caráter hermético. A partir do momento em que essa linguagem especial serve ao grupo como elemento de auto-afirmação, de verdadeira realização pessoal, de marca original, ela se transforma em signo de grupo. (PRETI,1984, p. 2,3). No entanto, ao se difundir a gíria deixa de pertencer apenas a grupos fechados e comunidades linguísticas pequenas, ganhando assim um caráter mais 15 universal. Ela passa a fazer parte da vida de todos os falantes no âmbito em que ela se propagou. Geralmente, o indivíduo com um baixo nível intelectual tende a deixar mais evidente os traços e peculiaridades da linguagem de sua comunidade durante a comunicação. Assim, fica evidente que a gíria está totalmente ligada à questão social. Quando a linguagem gíria se dissemina para as grandes comunidades linguísticas em geral, ela deixa de ser uma gíria especial, ou seja, um signo de grupo e torna-se uma gíria comum. Esse vocábulo passa a ser entendido, de uma maneira geral, não se restringindo apenas a um grupo fechado. A gíria não se atém a representar apenas grupos de comunidades carentes, marginais e prostitutas. Ela vai muito além, estendendo-se a diversos grupos linguísticos como estudantes universitários, esportistas, hippies, homossexuais entre outros. Contudo, todos esses grupos utilizam a gíria como uma maneira de expor ideais, colocar para fora sentimentos e emoções, bem como, questionar algo errado em nossa sociedade, entre outras utilidades. Segundo PRETI (1984): Essa gíria reflete bem certa feição catártica da linguagem das classes marginais, entendendo-se por estas não apenas os marginais do crime propriamente ditos (malandros, punguistas etc.), mas também grupos intelectuais, como os estudantes universitários, por exemplo, pequenas comunidades muito preocupadas em ditar hábitos lingüísticos originais ( e, por isso, sempre renovados). (PRETI,1984, p. 4). Muitos vocábulos gírios, independentemente do grupo do qual se originaram, possuem um tom de agressividade, embora algumas gírias tenham sido utilizadas com significados mais brandos durante alguns períodos. Como o vocábulo gírio “bicho”, cujo significado revela certa agressividade, na década de 70 passou a ser uma forma de chamamento entre amigos. A praticidade da gíria faz com que ela seja muito usada por conseguir absorver o que é mais típico da linguagem oral, ou seja, há agilidade para se comunicar e ser entendido. Apesar de estar altamente relacionada com a época e envolver diversos povos, todavia, não se tem uma precisão de quando surgiram as gírias. Sabe-se que é um vocábulo voltado para a linguagem falada e que há registros de linguagem 16 gíria em diversos países como na Itália e na França por volta do século XV e em Portugal no século XVI. De acordo com PRETI (2000): Apesar desse maior interesse recente, a gíria é um vocabulário de todas as épocas e de todos os povos, se lhe atribuirmos o sentido de linguagem de um grupo social determinado. Como manifestação tipicamente oral, porém, não deixa documentos suficientes para datar o seu exato aparecimento, embora sua existência possa ser vislumbrada em muitos povos. Na França, por exemplo, os primeiros vocábulos gírios documentados remetem à linguagem marginal ou aos mascates, comerciantes ambulantes, na Idade Média; ou são surpreendidos nos versos de um poeta popular, François de Villon, nas suas baladas argóticas dos fins do século XV, obras que, ainda hoje, guardam, em parte, sua natureza criptológica. Também do século XV datam os primeiros documentos gírios italianos, ligados aos principais dialetos da Península (cf. Ferrero, 1972). Em Portugal, no século XVI, a obra de Gil Vicente testemunha a existência de muitos vocábulos populares, de natureza gíria, em geral ligados às profissões. ( PRETI, 2000, p.2). Dessa maneira, sabemos que a linguagem gíria existe e que está cada vez mais sendo utilizada pela sociedade em geral. E isso, não se deve apenas aos meios de comunicação, mas também à própria população que gradualmente vai deixando o preconceito linguístico de lado e assumindo uma postura mais permissiva e aberta quanto às questões de linguagens. Enfim, a gíria é um riquíssimo modismo linguístico, cujo uso e significado mudam constantemente, de forma que uma gíria especial, ou seja, um signo de grupo, se vulgariza tornando-se uma gíria comum que, com o tempo torna-se menos usada ganhando assim um aspecto de linguagem de um grupo fechado novamente. Segundo SILVA (2008): A gíria é uma transição da vida das palavras: sai do vocabulário comum, vai para a linguagem de grupo, depois se desgasta, volta para a linguagem comum ou desaparece. Esta também, é pouco resistente ao tempo, tem muito a ver com a contemporaneidade, já que, o universo se renova rapidamente, e a partir do momento em que fica muito conhecida, muda, ou seja, a aceitação em massa, provém do dinamismo da modernidade, da velocidade das mudanças. (SILVA, 2008, p.4). E todas essas mudanças constantes que ocorrem com as gírias são características normais e intrínsecas da língua. Sejam os vícios de linguagem, as 17 dialetologias ou os modismos linguísticos são extremamente dinâmicos e temporais. Enfim, toda e qualquer manifestação da linguagem está sujeita a mudanças. 2.2 O RAP O rap é um gênero musical pertencente ao movimento Hip Hop cujo surgimento se deu nos EUA no final da década de 1960 e início de 1970, o qual se espalhou pelo mundo. A sigla rap significa rhythm and poetry, ou seja, ritmo e poesia. No início o rap era chamado de “MCing’, nesse caso, uma referência aos Mestres de Cerimônias (MC’s). O movimento Hip Hop é composto por quatro elementos: o Disc Jockeys (DJ), o Breaking Boys (b-boy), o Grafite e o Mestre de Cerimônia (MC). Nesse contexto, o rap se encaixa como a música representativa do movimento, cantada pelo (MC), tocada pelo (DJ), dançada pelo (B-Boy) e expressada pelo grafiteiro. No rap houve três grandes pioneiros, os quais são Mestres de Cerimônia (MC’s) e Disc Jockeys (DJs): .Afrika Bambaataa; Grandrmaster Flash e Kool Herc. Eles são responsáveis por animar os bailes no Bronx, em Nova Iorque. Essas festas foram as primeiras com contornos do movimento Hip Hop. O termo Hip Hop foi criado por Bambaataa. Ele utilizava a expressão como uma forma de nomear os bailes no Bronx, onde se reuniam dançarinos, MC’s e DJs. Como afirma ROCHA (2001): O termo hip hop, que significa, numa tradução literal, movimentar os quadris (to hip, em inglês) e saltar (to hop), foi criado pelo DJ Afrika Bambaataa, em 1968, para nomear os encontros dos dançarinos de break, DJs (disc Jóqueis) e MC’s (mestres-de-cerimônias) nas festas de rua do bairro do Bronx, em Nova York. Bambaataa percebeu que a dança seria uma forma eficiente e pacífica de expressar os sentimentos de revolta e de exclusão, uma maneira de diminuir as brigas de gangue no gueto e,consequentemente, o clima de violência. (ROCHA, 2002, apud SOUZA, 2004,p.17). Desse modo, tornaram-se popular o rap e o Hip Hop, de uma maneira geral. E desde aquela época o rap possuía um caráter extremamente social. Os pioneiros do Hip Hop foram Influenciados pelos movimentos negros dos EUA na década de 60 e 70 como os “Panteras Negras”, partido negro revolucionário estadunidense e o “Black Power”, movimento a favor dos negros ao redor do mundo. 18 Todas essas manifestações procuravam defender o orgulho negro e os direitos civis como a liberdade de expressão, o direito à educação, à moradia, a julgamento justo e ao voto. Além disso, lutavam pelo fim da corrupção, do preconceito e da desigualdade social. Como afirma ANDRADE (1999): A Organização Black Panthers exercia forte influência entre os jovens negros, indicando-lhes a necessidade da organização grupal, da dedicação aos estudos e do conhecimento das leis jurídicas. Boa parte destes valores foram resgatados pelos membros do Hip-Hop, principalmente no Brasil,para combater os abusos de poder exercido pela instituição policial contra os negros. (ANDRADE apud Pimentel, 1999, p.4) Ademais, alguns representantes da música negra norte-americana, como cantores de Soul, tinham o intuito de defender os direitos dos negros em suas músicas, sobretudo, Marvin Gay e James Brown, de modo que as canções desse gênero musical exerceram forte influência sobre o Hip Hop, principalmente, sobre o rap. Assim o rap norte-americano ganhava força, não somente através das letras, mas também em virtude dos movimentos negros nos EUA, os quais acabavam divulgando peculiaridades do movimento Hip Hop como expressões, vestimentas e ideologia. Nos EUA toda a cultura negra desembocou até o rap norte-americano. Logo, percebe-se a tamanha força desse gênero musical no país. Enquanto no Brasil os costumes passavam de pai para filho, sejam através da contação de histórias, da literatura de cordel, do samba ou até mesmo por meio dos repentistas, nos EUA as tradições também eram transmitidas de pai para filho, mas com uma ressalva, o que era ensinado aos filhos eram as batalhas de “MC’s” ou os freestyles que são disputas com versos improvisados. Na década de 1980, o rap chegou ao Brasil totalmente influenciado pelo Hip Hop estadunidense. Dessa maneira, muitas batidas utilizadas por rappers brasileiros eram provenientes de músicas de artistas norte-americanos como cantores de soul e até mesmo cantores de rap. Além disso, muitos rappers brasileiros utilizavam os nomes de artistas da América do Norte para formarem seus próprios pseudônimos artísticos, como o principal rapper do conhecido grupo paulista Racionais Mc’s que formou seu apelido utilizando o segundo nome do cantor estadunidense James Brown. 19 Assim, Pedro Paulo Soares Pereira passou a ser chamado nacionalmente de “Mano Brown”. Outro membro dos Racionais Mc’s, “Ice Blue” também adotou um apelido artístico se apropriando de nomes norte-americanos. O nome “Ice Blue” é formado a partir da música do cantor Jorge Ben Jor chamada “Negro Blue” que faz alusão ao Blue, gênero musical norte-americano. Como pioneiros do rap brasileiro podemos citar o rapper “Pepeu” e os “Black Juniors”, que cantavam um rap com teor mais romântico; a dupla “Taíde” e o “DJ Hum” que em 1988 foram os primeiros a abordarem temas políticos e sociais; e, como não poderia deixar de mencionar, o maior expoente do rap nacional; o grupo paulista Racionais Mc’s formado em 1988, composto por “Mano Brown”, “Ice Blue”, “Edi Rock” e “DJ kL Jay”. Com o passar dos anos foram surgindo outros grupos de rap que se tornaram fortes no cenário nacional como Ao Cubo, Cirurgia Moral, Consciência X Atual, Detentos do Rap, Expressão Ativa, Facção Central, Face da Morte, Gabriel O Pensador, GOG, MV Bill, Ndee Naldinho, Realidade Cruel, Rappin Hood, o extinto grupo 509-E , o falecido Sabotage, entre outros nomes. Apesar do preconceito do governo brasileiro e de parte da população contra o rap, ele foi se desenvolvendo ao longo dos anos. A cada ano, ele foi ganhando mais e mais adeptos até chegar ao patamar que se encontra atualmente. Hoje o rap tornou-se mais popular, embora, ainda seja visto por algumas pessoas como uma música para criminosos, cheia de palavrões e gírias, e que faz apologia ao crime. Entretanto, o rap é um gênero musical que visa denunciar os problemas sociais muitas vezes maquiados em nossa sociedade como a corrupção, a miséria, a desigualdade social, a violência policial e o preconceito, sobretudo, o racial. Além disso, o rap transforma vidas, visto que ele é proveniente da periferia, transformou-se em um meio de escape das drogas e da criminalidade para muitos jovens das favelas brasileiras. Em virtude da falta de oportunidades para pessoas carentes e que não tenham estudo, o desejo de adquirir bens materiais somados à pobreza fazem com que o crime e as drogas tornem-se muito atrativo para jovens das classes menos favorecidas. Assim, o rap não somente oferece perspectiva de futuro, mas também faz com que o jovem fique longe do crime e das drogas, o instiga a buscar 20 conhecimento, a ter senso-crítico, a se preocupar com as questões políticas e sociais de nosso país, entre outros benefícios. Apesar de a maioria dos rappers serem oriundos das periferias, há alguns que surgiram de classes sociais mais altas como o conhecido rapper carioca Gabriel o Pensador que nasceu na classe média alta e que em suas músicas, além de abordar temas como a vulgaridade e a corrupção, busca relatar problemas do cotidiano da classe média. Contudo, ele compõe músicas extremamente conscientes e saudáveis, conseguindo alcançar sucesso nacional e internacionalmente. Desse modo, entendemos que para ser um bom rapper não importa sua classe social, mas sim a ideologia e o senso-crítico do cantor. Com a questão da globalização, o rap vem tendo mais espaço na mídia, principalmente na televisiva, devido a alguns rappers mais antigos como Rappin Hood, Marcelo D2 e MV Bill e aos novos nomes do rap nacional como Projota, Emicida, Crioulo Doido, entre outros, serem menos anti-midiáticos, visto que eles têm menos resistência a aparecerem nos meios de comunicação em massa. O rap é totalmente permeado de gírias que dão um aspecto mais diversificado e peculiar às letras do gênero, como também uma melhor sonoridade às músicas, além de oferecem mais opções de rimas e melhores estrofes musicais. 21 3 ANÁLISES DE DADOS: A GÍRIA NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO Nesta análise, é necessário ressaltar o compromisso do rap com a sociedade, bem como, sua responsabilidade com as questões sociais e a formação de cidadãos. Assim, afirmamos que em momento algum se tem o interesse de inserir, neste trabalho, músicas que fazem apologia ao crime ou que ofendam alguma profissão ou instituição. Os trechos das músicas colocadas nesta pesquisa são apenas fragmentos de histórias vividas ou ouvidas por rappers, como também, criadas com toda verossimilhança em relação ao cotidiano das metrópoles. Esses artistas têm o interesse de apenas relatar histórias, posicionando-se totalmente contra a criminalidade. Empregando em seus relatos uma infinidade de gírias que serão utilizadas como objeto de análise do presente trabalho A gíria, importante modismo linguístico, é composta por uma infinidade de palavras, as quais representam mais de dez por cento do português brasileiro. Muitas pessoas veem as gírias como um grupo de palavras sem utilidade e que apenas servem para grupos marginalizados, visto que seu surgimento se deu em meio às classes menos favorecidas. Como afirma PRETI: Apesar de sua ligação com os mais variados grupos sociais, podemos afirmar, ainda uma vez, que a gíria nasce comumente nos grupos da população menos favorecida e, posteriormente, se espalha pela comunidade, em geral, pelo contato desses falantes com outros grupos, muitas vezes, por meio da mídia. (PRETI, p.5). No entanto, a gíria é utilizada como um mecanismo de defesa e como um meio de identificação de qualquer grupo linguístico, não importando a classe a qual pertence. Tamanha é a sua amplitude que foi necessário criar dicionários de gírias para especificar o significado dessas palavras que tanto enriquem a língua portuguesa. Ela se divide em diversos grupos, como as gírias dos skatistas, dos motoristas, dos policiais, dos homossexuais, dos carteiros, das prostitutas, dos presidiários, dos rappers, entre outras. Sendo a última a fonte de nossas análises. 22 A linguagem dos rappers, no caso, a dos brasileiros é muito extensa e peculiar, com forte predominância de gírias que fazem parte também da linguagem dos presidiários e dos skatistas, pois os três grupos possuem afinidades em comum como o movimento Hip Hop e o fato de muitas letras de rap representarem os presidiários, de alguma forma. As gírias compõem a estrutura da maioria das músicas de rap. Eis algumas gírias presente em músicas de rap e seus respectivos significados: à pampa- estar satisfeito; bagulho- objeto qualquer, mano ou truta- companheiro e irmão de ideologia, nóia- alguém que acabou de usar droga, X- cela da cadeia e dar goeladeixar transparecer algo errado. Nesta análise iremos confrontar, bem como, explicar o significado de diversas gírias usadas por rappers nas músicas de rap, utilizando canções de grupos de rap de vários centros urbanos como meio de comprovação. Logo, nós destacaremos gírias que os grupos têm em comum e gírias que se distinguem. A princípio, faremos uma explicação sobre a questão da entonação de uma gíria presente em duas músicas de rappers brasileiros. As canções são “Soldado do Morro” do rapper carioca MV Bill e “12 de Outubro” do grupo paulista Facção Central. No trecho da música “Soldado do Morro”, o rapper MV Bill cita “minha condição é sinistra não posso dar rolé, não posso ficar de bobeira na pista” e o grupo Facção Central em “12 de outubro” diz “eu vou fazer um rolê e buscar meu presente, uma vítima anel de ouro corrente”. No entanto, em ambas as músicas, as gírias “rolé” e “rolê” possuem o mesmo significado, ou seja, dar um passeio ou dar uma volta, porém, o que muda é a entonação. Em “Soldado do Morro”, a gíria rolé é pronunciada com a vogal aberta. Em contrapartida, na canção “12 de outubro”, a mesma palavra é dita com a vogal fechada. Assim, percebe-se uma pronúncia distinta dessa gíria, em virtude das diferentes localidades dos rappers, ou seja, a variação linguística influencia sensivelmente a pronúncia. Seguindo um fenômeno das periferias brasileiras, o rap se refere às drogas por meio de vários nomes gírios, seja por uma questão de identificação de alguns grupos ou até mesmo por ser algo que infelizmente está fortemente inserido em 23 nossa sociedade atual. Em virtude disso, surgiram inúmeros termos para se atribuir as drogas lícitas, como também às ilícitas. Caso do Crack; droga ilegal que é formada através da conversão do cloridrato de cocaína para base livre através de sua mistura com bicarbonato de sódio e água feita com os restos da Cocaína. Essa droga no rap é chamada de “Pedra” , “Criptonita”, entre outras diversas nomenclaturas. Podemos ver isto no trecho “criptonita permanece na dupla sobrevivente” da música “Super Billy” do grupo paulista Conexão do Morro. Assim como a cocaína, droga também ilícita que é um alcalóide e estimulante do sistema nervoso central, é chamada de “pó”, “farinha”, “branquinha” “vera”, “ratatá”, “senhora”, dentre outros nomes. Podemos comprovar esse uso no seguinte trecho: “Foi fuzilado à queima roupa no colégio, abastecendo a playboyzada de farinha” da música “ Homem na Estrada” dos Racionais Mc’s Além da maconha que são as flores e folhas secas da planta “Cannabis Sativa”, conhecida também como “beck”, “erva”, “brau”, “pacau”, “baseado”, “fininho”. Além do famoso “tabaco” conhecido vulgarmente como “cigarro”, “careta”, “paioso”, dentre outros nomes. E ainda, as bebidas alcoólicas também popularmente conhecidas e chamadas por vários termos gírios como “goró”, “breja”, “mé”, “golo”, “ceva”, “cachaça”, “cana” ,entre outros nomes. É notório o grande uso das gírias nas músicas do rap brasileiro para nomear todas essas drogas citadas acima. De forma que no trecho “Pode vir gambé, paga pau, tô na minha na moral, na maior, sem goró, sem pacau, sem pó. Eu tô ligeiro, eu tenho a minha regra, não sou pedreiro, não fumo pedra” da música “Fórmula Mágica da Paz” dos Racionais Mc’s fica evidente esse uso. Em virtude dos rappers geralmente defenderem os problemas sociais que assolam a periferia como a miséria, a pobreza, o preconceito e a violência policial, eles difundiram uma enormidade de gírias para se referir à polícia. Assim como nas favelas, no rap também eles chamam os policiais de diversos vocábulos gírios como “gambé”, “os homi”, “ganso”, “porco”, “pé-preto”, “samango”, “os cana”, “caixinha”, “mão branca”, “coxinha”, entre outras terminologias. Podemos constatar isso em várias músicas como em “Da Ponte Pra Cá” do grupo paulista Racionais Mc’s em que há alusão à polícia em dois trechos dessa canção. Em “Viajar de GTI quebra a banca, Só não pode viajar cus mão branca” e 24 em “Os moleque tem instinto e ninguém amarela. Os coxinha cresce o zóio na função e gela”. Há também referência à polícia na música “Desculpa Mãe” do grupo paulista Facção Central, nela é mencionada “Os gambé vigiando o pronto-socorro, eu na cama delirando quase morto”. Assim como em “O Rei da Montanha”, canção também do grupo Facção Central, nela é dito “Colou um ganso de opala, placa fria, ai Brother, liga quem vende uma farinha”. Ocorre também referência à policia na música “ Qual Mentira Vou Acreditar” do grupo Racionais Mc’s, na qual é citado “Quinze pras onze eu nem fui muito longe E os homi embaçou”. E por último, na música “Num Vai dá nada... Se Der é Pouca Coisa” do grupo brasiliense Cirurgia Moral. É mencionado nessa música “Se vê a forra, aí os homi endoida , faz casinha e faz campana, até que sai da toca”. Os rappers utilizam também diversas expressões para se referir a agentes penitenciários, entre elas “funça” e “Charles Bronson” , sendo a última, uma alusão ao ator estadunidense conhecido em seu filmes por capturar e matar muitos criminosos. Pressupõe-se que esses termos gírios usados para designar pessoas que trabalham como vigias no sistema prisional foram assimilados pelos rappers devido ao contato com pessoas que estiveram em presídios, através da leitura e busca por conhecimento ou também por vivência própria. A riqueza e a contribuição das gírias para o rap é imensa chegando a ultrapassar fronteiras, visto que até os índios da tribo “Guarani Kaiowá” lançaram um álbum de rap no qual continham músicas repletas de gírias. As gírias desse grupo de rap indígena são cantadas em sua maioria, na língua da própria tribo, contudo, suas letras são transcritas em português. Esse grupo se chama Brô Mc’s e sua principal música é “Eju Orendive”, canção que ganhou destaque pela sua boa musicalidade, temática e por ter um estilo inovador. No rap brasileiro surgiram diversos termos gírios que são substantivos próprios ou comuns, mas que ganham uma conotação gíria dependendo do contexto em que estão inseridos. Além disso, muitos nomes foram reduzidos tornando-se também expressões gírias. A seguir serão mostrados vários desses substantivos que se tornaram gírias, logo são bastante utilizados nas letras de rap. 25 A princípio temos o termo “Jão”, expressão para se referir a alguém, seja um irmão de ideologia ou um desconhecido. De modo que esse termo surgiu da redução do nome “João”. Tal uso é percebido em vários trechos como “na caçada do cifrão só monstrão jão” e em “nem tenta se envolve se for panguão, aqui no interior o bango é loco jão”, ambos os fragmentos são da música “Só Monstro” do grupo paranaense Thiagão e os Kamikazes do Gueto. E no trecho “Pra onde você vai desse jeito jão?” excerto pertencente à música “Jão” do grupo paulista DMN. Há também o termo “tio” com suas flexões e derivados como “tiazinha” “tiozão” e “tiozinho” que geralmente se referem às pessoas idosas e sofridas ou simplesmente a pessoas com uma idade mais avançada. É possível notar esses termos gírios em diversas músicas de rap como “Não queria o moleque com a faca na mão ajoelhando o tio grisalho, querendo seu cartão” e em “pergunta pro tio, do terreno invadido no escuro o que é um trator transformando seu sonho em entulho?” ambas as passagens são da música “A Marcha Fúnebre Prossegue” do grupo Facção Central. Ocorre igualmente esse tipo de vocábulo no trecho: “Aí tia da mansão, fazendo oração, esperando o contato do sequestrador em vão” fragmento da música “A Guerra Não Vai Acabar” do Facção Central e também em dois excertos: “Vou te mostrar o outro lado que talvez você nunca viu, cada rebelião aqui tiozão é uma Chernobyl” e em “Cansei, de ver as tias na porta dos hospitais, das cadeias, de pé em fila Indiana” ambos trechos da música “Miséria” do grupo paulista Inquérito. Outro termo bastante utilizado é “Zé povinho” que entre outras definições pode significar uma pessoa que leva uma vida normal, sem riqueza e ambição, ou seja, uma pessoa do povo, posto que o nome “Zé” faz alusão a uma pessoa humilde e simples. O termo “Zé povinho” exprime também a ideia de uma pessoa que procura ser correta e íntegra. Além disso, essa gíria pode ser também definida como pessoas fofoqueiras e invejosas. Essa expressão pode ser observada nos trechos: “É só questão de tempo, o fim do sofrimento um brinde pros guerreiro, Zé povinho eu lamento” da música “Vida Loka Parte II” e em “Zé povinho é o cão, tem esses defeitos, Quê? Cê tendo ou não cresce os zóio de qualquer jeito” referente a música “Jesus chorou” ambas canções 26 dos Racionais Mc’s e no excerto “Facção não faz rap pra você, boy, grupo invejoso, Zé povinho”, trecho da música “Chico Xavier do Gueto” do grupo Facção Central Entretanto, esse termo gírio em algumas músicas é utilizado com mesmo significado dos descritos acima, mas com entonação e escrita diferente como acontece nos trechos abaixo em que o termo “Zé povinho” é usado com pronúncia e escrita na oralidade. Vejamos os trechos “Celular, óctoc na mão, do Zé povim é uma arma poderosa nisso eu acredito sim” e “o meu parceiro com a matraca dominava o salão, Zé povim era mato tudo deitado no chão” ambos os fragmentos são da música “3° Opção” do grupo paulista Trilha Sonora do Gueto. De modo que esse grupo de rap tem como característica principal o uso extremo da oralidade e da gíria, prova disso é o nome dado a alguns álbuns da banda como “Us Fracu num Tem Veiz (2003)” ,”Aos Vivos (Kumigo Kem Kisé, Kontra Mim Kem Pudé) (2006) e “ Purke Tudu Num Mundo é Vaidade (2008)”. Temos também o substantivo comum “doido” que adquire aspecto gírio em diversas músicas de rap transmitindo uma ideia de chamamento, com isso ganhando um sentido parecido com o de um pronome, ou seja, substituindo um nome. É como se fosse dizer “ ô Alex” ou “ E aí tudo bem Alex”, de forma que utilizando essa expressão ficaria “ô doido” e “ E aí tudo bem doido”. Podemos verificar esse uso no trecho “Já penso doido, e se eu tô com o meu filho no sofá de vacilo desarmado era aquilo” da música “Vida Loka Parte I” dos Racionais Mc’s. Nas músicas de rap são introduzidas diversas expressões gírias que possuem a mesma definição e poderiam ser evitadas, contudo, esses vocábulos são empregados por vários motivos, entre eles para obter uma boa sonoridade nas rimas, por fazer parte do vocabulário do rapper, por buscar autoafirmação ou até mesmo por ser a linguagem do cotidiano da região do autor da letra. De modo que em vários fragmentos de rap verificamos esses empregos como quando o falante afirma ao receptor se ele entendeu o que lhe foi dito. Geralmente nessa situação usam-se gírias como “pode crê”, “morô”, “tá ligado” “sacô” “fragô”, entre outros termos. Desta maneira, nas músicas de rap constatamos esse uso em muitos trechos como “Pode crê, já tô ficando bonito na foto. Não precisei ganhar na Sena e nem na Loto” fragmento proveniente da música “ Minha Droga é Pesada” do rapper 27 brasiliense DJ Jamaika ou também em “Usa teu ódio pra conseguir um diploma morô!” este último trecho faz parte da música “ Outro Caminho” do grupo Facção Central. A versatilidade da gíria favorece a transformação de muitas palavras em expressões gírias. É possível notar muitas palavras como o substantivo “mato” que por meio da comparação se tornou uma gíria em alguns contextos tomando significado de algo que há em todo lugar ou que acomete todas as pessoas. Vemos tal vocábulo gírio em trechos como “Hei, mulher é mato a marijane impera, dilui a raiva e solta na atmosfera” fragmento da música “Da Ponte Pra Cá” e em “A noite tá boa, a noite tá de barato, mas puta, gambé, pilantra é mato”, trecho da canção “Qual Mentira Vou Acreditar” , ambas as músicas são dos Racionais Mc’s. Ocorre esse mesmo vocábulo gírio nos trechos “Frustração aqui no X é mato, vários maluco gente boa vivendo como rato” e em “Choveu ninguém saiu no pátio pilantragem é mal, traíragem aqui é mato” ambas as passagens são música “ Ideia Criminal” do falecido rapper Mano Tuthão. No rap brasileiro, há uma gíria que acabou sendo incorporada por todos os rappers nacionais e adeptos do gênero, o termo “Vida Loka” que foi criado pelo rapper “Mano Brown” líder do grupo Racionais Mc’s e por “Cascão” líder do grupo Trilha Sonora do Gueto. Essa expressão foi extremamente difundida por todo o rap brasileiro cujo significado é uma pessoa que independentemente de estar envolvida no crime ou não, o que ela fizer vai levá-la a Jesus, seja de uma forma legal ou de uma forma triste. O exemplo mais clássico de uma pessoa tida como “Vida Loka” foi “Dimas”, o ladrão que morreu na cruz ao lado de Jesus Cristo e que se arrependeu de seus pecados. Sendo que “Dimas” é mencionado na música “Vida Loka Parte II” dos Racionais Mc’s. Podemos comprovar o uso desse termo em três trechos de “Vida Loka Parte II”. Primeiramente no trecho “Aos 45 do segundo arrependido, salvo e perdoado, é Dimas o bandido”, também em “ É loko o bagulho arrepia na hora ó, Dimas primeiro Vida Loka da história” e por fim em “A Dimas, o primeiro, saúde guerreiro, Dimas... Dimas... Dimas”. 28 Da mesma maneira que a expressão “Thug Life” que foi criada pelo falecido rapper estadunidense Tupac Amaru Shakur tornou-se símbolo do rap norteamericano, o termo “Vida Loka” passou a ser a gíria clássica do rap nacional. Sendo que seu significado é “Vida Difícil”, ou seja, uma forma de se referir aos negros dos guetos americanos que em virtude de sua raça e de sua cor sofriam com o preconceito, com a desigualdade social e com a miséria. De acordo com as análises feitas nas músicas de rap constatamos que os vocábulos gírios são fundamentais para a constituição das letras do gênero, visto que a maioria dos rappers está intrinsecamente ligados às gírias, tanto pelo fato desse recurso de expressão ser a linguagem desses cantores, como também, por ser uma forma de autoafirmação e de identificação da periferia. Assim, tais expressões gírias funcionam como uma espécie de idioma para esses rappers, de modo que eles geralmente utilizam a gíria como um de seus recursos valiosos de linguagem para dar sentido, musicalidade e ritmo as suas canções. No entanto, há também alguns rappers com mais instrução que se utilizam da gíria para fazer com que sua música não perca as características típicas do rap, ou seja, a predominância de expressões gírias. Em virtude da variedade de gírias existentes e a sua peculiaridade, elas conseguem atender as necessidades dos rappers, de forma que o cantor consegue abordar vários tipos de temas, utilizando o recurso da gíria, sem que a letra do compositor fique pobre, redundante ou menos poética. Os principais centros do rap nacional possuem suas próprias gírias, no entanto, muitas expressões gírias são tão difundidas que se tornam populares e conhecidas em qualquer metrópole brasileira, como o termo clássico do rap brasileiro “Vida Loka”, explicado acima. Fica evidente que os rappers, na maioria dos casos, moradores da periferia desenvolveram inúmeras gírias que interligadas com o rap demonstram toda a insatisfação das classes menos privilegiadas com o governo e com os problemas sociais que a aflige como a miséria, a violência, a desigualdade social, as injustiças, entre outros males. E essa revolta é toda descarregada nas letras de rap. Percebe-se também que as gírias inseridas nas músicas de rap são os gritos de afirmação da periferia, bem como, a voz que clama por reconhecimento, por 29 educação, saúde e qualidade de vida. Por isso, fica óbvio a responsabilidade do rap não somente com sua própria linguagem, mas também, como modificador social e porta-voz dos sem vozes. 30 4 METODOLOGIA Esta análise sobre as gírias no rap brasileiro foi feita por meio da observação de letras de rap, comprovação através de trechos das músicas do gênero e da explicação dos termos gírios existentes nessas canções. Foram utilizadas músicas de rappers de diferentes localidades, sobretudo, de São Paulo. Tal pesquisa é considerada descritiva visto que é detalhado como se dá a ocorrência de gírias nas músicas de rap, bem como, as expressões gírias mais utilizadas, o porquê de se utilizar algumas expressões gírias e como aconteceu o surgimento de alguns vocábulos gírios. O método é considerado dedutivo, em virtude de termos analisado as gírias de uma forma geral e em seguida termos focado apenas nas gírias existentes no rap brasileiro, ou seja, partimos do geral para o particular. Esta análise é, do ponto de vista da sua natureza, sobre verdades e interesses universais. Através desta análise explicamos a relevância das gírias para o rap, como também, elucidamos o que levou esses rappers a utilizar tais expressões e esclarecemos o significado desses vocábulos em cada contexto. Do ponto de vista da abordagem é considerada uma pesquisa qualitativa, visto que, conforme as observações não são possíveis traduzir em números tal análise e não se faz necessário o uso de métodos e práticas estatísticas. A pesquisa é tida como explicativa, pois analisamos um grande número de expressões gírias presentes no rap e explicitamos o significado de cada gíria presente nos trechos destacados. E de acordo com os procedimentos técnicos, esta pesquisa pode ser considerada bibliográfica, pois por meio de muitas pesquisas em sites, livros e artigos científicos conseguimos encontrar os dados necessários para a presente análise. Também decodificamos o significado das gírias em algumas músicas do gênero. Além disso, mostramos o quão formadora de opinião e de indivíduos é a linguagem do rap. O corpo desta análise é composto pela utilização das seguintes músicas no trabalho respectivamente: “Soldado do Morro (MV Bill), 12 de Outubro (Facção Central), Super Billy (Conexão do Morro), Homem na Estrada (Racionais Mc’s), 31 Fórmula Mágica da Paz (Racionais Mc’s), Da Ponte Pra Cá (Racionais Mc’s), Desculpa Mãe (Facção Central), O Rei da Montanha (Facção Central), Qual Mentira Vou Acreditar (Racionais Mc’s), Num Vai Dá Nada... Se Der é Pouca Coisa (Cirurgia Moral), Eju Orendive (Brô Mc’s), Só Monstro (Thiagão e os Kamikazes do Gueto), Jão (DMN), A Marcha Fúnebre Prossegue (Facção Central), A Guerra Não Vai Acabar (Facção Central), Miséria (Inquérito), Vida Loka Parte II (Racionais Mc’s), Chico Xavier do Gueto (Facção Central), 3° Opção (Trilha Sonora do Gueto), Vida Loka Parte I (Racionais Mc’s), Minha Droga é Pesada (DJ Jamaika), Outro Caminho (Facção Central) e Ideia Criminal (Mano Tuthão)”. No entanto, transcrevemos apenas algumas músicas nos anexos, as quais consideramos mais relevantes ao entendimento da análise. Assim, expomos músicas de cantores variados e de lugares diversos. 32 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho se ateve a analisar as gírias nas músicas de rap brasileiro. No entanto, fizemos esclarecimentos sobre o que é a gíria, além de termos traçado o histórico do rap no cenário mundial e nacional. Diante das análises feitas constatamos primeiramente que a gíria é componente fundamental para atuação do rap na frente mais notável desse gênero musical, no caso, a consciência social. Além disso, evidenciamos como a gíria no rap está extremamente ligada ao cotidiano e a identidade do cantor. Como também percebemos o quanto as expressões gírias enriquecem, dão sonoridade, poética e ritmo as músicas de rap. Foi constatado também que os rappers utilizam as gírias em suas músicas por vários motivos sociais, dentre eles, como uma forma de autoafirmação, de identidade, de orgulho e, sobretudo, como um modo de buscar melhor qualidade em suas canções, denunciando assim, os problemas que afligem seu cotidiano e o de sua comunidade. E por fim, fica evidente o quanto as expressões gírias enriquecem a Língua Portuguesa, não somente acrescentando em termos de vocabulário, como também, no que diz respeito à variedade linguística. 33 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUSARO, Kárin. Gírias: De Todas As Tribos. 1. ed. São Paulo: Panda, 2001. GURGEL, J.B Serra. Dicionário de Gíria – Modismo Linguístico – O Equipamento Falado Do Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro,1984. PIMENTEL, Spensy. O Livro Vermelho do Hip Hop. Pág 4. Disponível em: < www.literarua.com.br/morto/gratuito/OLivroVermelhodoHipHop.PDF>. Acesso em: 26 set.2013. PRETI, Dino. A Gíria e Outros Temas. 1° ed. São Paulo: T.A.Queiroz, 1984. PRETI, Dino. O Léxico na linguagem popular: A Gíria. Pág 2;3 Disponível em: < http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/slp18/02.>. Acesso em: 11 mai.2013. PRETI, Dino. Dicionário de Gíria. Pág 2 Disponível em: <seer.fclar.unesp.br/alfa/article/download/4199/3795>. Acesso em: 10 ago.2013. SILVA, Alessandra Freitas. Gíria: Linguagem ou Vocabulário? Pág 8. Disponível em: < http://www.ela.uevora.pt/download/ELA_desenvolvimento_09. >. Acesso em: 17 abr.2013. SOUZA, Ana Raquel Motta. A Favela de Influência: Uma Análise das Práticas Discursivas dos Racionais MC’s. Pág 17. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000332559>. Acesso em: 12 ago.2013. VAGALUME, Letras de Músicas. MV Bill: Soldado do Morro. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/mv-bill/soldado-do-morro.html>. set.2013. Acesso em: 12 34 VAGALUME, Letras de Músicas. Facção Central: 12 de Outubro. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br/faccao-central/12-de-outubro.html>. Acesso em: 12 set.2013. VAGALUME, Letras de Músicas. Conexão do Morro: Super Billy. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br/conexao-do-morro/super-billy.html>. Acesso em: 23 set.2013. VAGALUME, Letras de Músicas. Racionais Mc’s: Homem na Estrada. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br/racionais-mcs/homem-na-estrada.html>. Acesso em: 23 set.2013. VAGALUME, Letras de Músicas. Racionais Mc’s: Fórmula Mágica da Paz. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br/racionais-mcs/formula-magica-dapaz.html>. Acesso em: 26 set.2013. VAGALUME, Letras de Músicas. 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Acesso em: 11 37 ANEXOS Anexo A: Soldado do Morro (MV Bill) MV Bill: Minha condição é sinistra Não posso dar rolé, não posso ficar de bobeira na pista Na vida que eu levo eu não posso brincar Eu carrego uma nove e uma HK Pra minha segurança e tranqüilidade do morro Se pá se pam eu sou mais um soldado morto Vinte e quatro horas de tensão Ligado na policia bolado com os alemão Disposição cem por cento até o osso Tem mais um pente lotado no meu bolso Qualquer roupa agora eu posso comprar Tem um monte de cachorra querendo me dar De olho grande no dinheiro esquecem do perigo A moda por aqui é ser mulher de bandido Sem sucesso mantendo o olho aberto Quebraram mais um otário querendo ser esperto Essa porra me persegue até o fim Nesse momento minha coroa tá orando por mim É assim demorou já é Roubaram minha alma, mas não levaram minha fé Não consigo me olhar no espelho Sou combatente coração vermelho Minha mina de fé ta em casa com o meu menor Agora posso dar do bom e melhor Várias vezes me senti menos homem Desempregado e meu moleque com fome 38 É muito fácil vir aqui me criticar A sociedade me criou agora manda me matar Me condenar e morrer na prisão Virar noticia de televisão Seria diferente se eu fosse mauricinho Criado a sustagem e leite ninho Colégio particular depois faculdade Não, não é essa minha realidade Sou caboclinho comum com sangue no olho Com ódio na veia soldado do morro REFRÃO: Feio e esperto com uma cara de mal A sociedade me criou mais um marginal Eu tenho uma nove e uma HK Com ódio na veia pronto para atirar (2x) MV Bill: Um pelo poder dois pela grana Tem muito cara que entrou pela fama Plantou na boca tendo outra opção Não durou quase nada amanheceu no valão Porque o papo não faz curva aqui o papo é reto Ouvi isso de um bandido mais velho Plantado aqui não tenho irmão Só o cospe chumbo que tá na minha mão Como pássaro que defende seu ninho Arrebento o primeiro que cruzar meu caminho Fora da lei chamado de elemento Agora o crime que dá o meu sustento Já pedi esmola já me humilhei Fui pisoteado só eu sei que eu passei Eu to ligado não vai justificar Meu tempo é pequeno não sei o quanto vai durar 39 É pior do que pedir favor Arruma um emprego tenho um filho pequeno seu doutor Fila grande eu e mais trezentos Depois de muito tempo sem vaga no momento A mesma história todo dia é foda É isso tudo que gera revolta Me deixou desnorteado mais um maluco armado Tô ligado bolado quem é o culpado Que fabrica a guerra e nunca morre por ela Distribui a droga que destrói a favela Fazendo dinheiro com a nossa realidade Me deixaram entre o crime e a necessidade REFRÃO: Feio e esperto com uma cara de mal A sociedade me criou mais um marginal Eu tenho uma nove e uma HK Com ódio na veia pronto para atirar (2x) MV Bill: A violência da favela começou a descer pro asfalto Homicídio, seqüestro, assalto Quem deveria dar a proteção Invade a favela de fuzil na mão Eu sei que o mundo que eu vivo é errado Mas quando eu precisei ninguém tava do meu lado Errado por errado quem nunca errou Aquele que pede voto também já matou Me colocou no lado podre da sociedade Com muita droga muita arma muita maldade Vida do crime é suicídio lento Bangu 1 2 3 meus amigos lá dentro Eu tô ligado qual é sei qual é o final Um saldo negativo menos um marginal 40 Pra sociedade contar um a menos na lista E engordar a triste estatística De jovens como eu que desconhecem o medo Seduzidos pelo crime desde muito cedo Mesmo sabendo que não há futuro Eu não queria ta nesse bagulho Já tô no prejuízo um tiro na barriga Na próxima batida quem sabe levam minha vida E vou deixar meu moleque sozinho Com tendência a trilhar meu caminho Se eu cair só minha mãe vai chorar Na fila tem um monte querendo entrar no meu lugar Não sei se é pior virar bandido Ou se matar por um salário mínimo Eu no crime ironia do destino Minha mãe tá preocupada seu filho está perdido Enquanto não chegar a hora da partida A gente se cruza nas favelas da vida REFRÃO: Feio e esperto com uma cara de mal A sociedade me criou mais um marginal Eu tenho uma nove e uma HK Com ódio na veia pronto para atirar (4x) 41 Anexo B: 12 de Outubro (Facção Central) Eduardo: Cadê o meu presente o meu abraço A bicicleta que eu sonhei não vem com o laço Não tem bolo nem alegria É dia das crianças, mas não pra periferia Queria fugir daqui é impossível Eu não queria ver lágrimas é difícil Meus exemplos de vitória estão todos na esquina De Tempra, de Golfe vendendo cocaína Bem melhores que minha mãe no pé da cruz Pedindo comida um milagre pra Jesus Antes dos doze eu vou estar com um oitão Matando alguém sem compaixão Vou ver o filho, a mulher chorando no corpo Vou dar risada, vou dar mais uns quatro no morto Eu vou brincar de assassino descarregando um 38 Legal a cara explodindo, voando um olho Hoje é dia das crianças e daí Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir Não existe presente na caixa com fita Só moleque morrendo na mesa de cirurgia REFRÃO: Hoje é dia das crianças e daí Quem vê sangue não tem motivos pra sorrir Não existe presente e alegria Nem dia das crianças na periferia (2x) Eduardo: Não dá pra ser criança comendo lixo Enrolado num cobertor sujo e fedido É dá esmola pelo amor de deus num dia No outro é assalto não reage vadia O que eu vou ser quando eu crescer Quer dizer se eu crescer, se eu não morrer Um assaltante de banco um assassino Descarregando minha PT no seu filho 42 Eu vou fazer um rolê e buscar meu presente Uma vítima, anel de ouro corrente Vou mostrar minha pureza Eu vou matar o cuzão por uma carteira Feliz dia das crianças é 12 de outubro Põe um brinquedo em cima do meu túmulo Quem brinca com revolver não conhece a alegria Não tem dia das crianças na periferia REFRÃO: Hoje é dia das crianças e daí Quem vê sangue não tem motivos pra sorrir Não existe presente e alegria Nem dia das crianças na periferia (2x) Eduardo: Posto de saúde paz Grajaú Feliz 12 de outubro zona sul Desrespeito um médico ausente O filho do nordestino aqui não é gente Depois querem formatura e alegria Mais que se foda se eu estou com meningite pneumonia O Brasil não me respeita quer me vê morrer Quer um preso a mais porque que eu fui nascer Pra não ter um carrinho um Danone Ou trafico uma droga ou morro de fome Se não meter uma faca na suas costas A minha chance é 100% de acabar nessa bosta Pra ter um brinquedo só com latrocínio Se não for jogador de futebol vou ser bandido Queria ter um videogame como eu queria Mas não tem dia das crianças na periferia REFRÃO: Hoje é dia das crianças e daí Quem vê sangue não tem motivos pra sorrir Não existe presente e alegria Nem dia das crianças na periferia (4x) Menino: É mano, queria um videogame e de presente ganhei um cano! Não tem dia das crianças na periferia! 43 Anexo C: Super Billy (Conexão do Morro) REFRÃO: Puxa fundo vai morrer Num segundo quer o quê Eu não quero ver o mal De um irmão que não sabia o que era o crack (1x) Mano Cachorrão: Ah superior Super Billy isso te destrói Por dentro me corrói quando vejo você querendo ser super-herói Não gosto da parada Ligo os camaradas Isso traz desgraça, Escapam não escapam, às vezes escapam Estão na madrugada Dando várias mancadas Que loucura, quem vive sabe dizer Quem morre sabe por que, na balada ao amanhecer Criptonita permanece na dupla sobrevivente Embalado com medo do sol Billy enrolado parece um anzol Com sua energia atraente Billy sente Sua língua ficando dura de repente Ao ataque ao ataque, overdose o ataca Pega uma colher põe debaixo da língua senão ele não escapa... Vozes de fundo: O cara tá morrrendo! Se o cara morrer cê tá fudido! Vão cobrir você mano! Eu não tô nem aí, eu vou sair fora Mano Cachorrão: Grande Madureira incentivando vários moleques Puta mano errado quase vai o primeiro pivete O primeiro pega ficou relax O segundo jamais esquece REFRÃO: Mais um Nascido e criado na Zona Sul Rejeitado na favela já foi mais um Na periferia só mais um rapaz comum Mais um rapaz comum, mais um rapaz comum (2x) 44 Mano Cachorrão: Billy Billy Billy pá, Billy Billy Billy vou já Ao passar do tempo Billy se recupera Tira a colher debaixo da língua e vai buscar uma pedra Pra você ver, Billy no rolê É normal sair na captura de um real Sem dinheiro no bolso tem maluco que passa mal 5 da matina seu pai tem que trampar Vira a esquina e encontra o Billy perto do bar do Lagoa Onde duas semanas atrás mataram uma coroa Pai do Billy: Billy que você faz essa hora no bote? Billy: Aí pai, saí com as minas Tô chegando agora Mano Cachorrão: Simplesmente Billy mente, ele tava no barraco a noite inteira Se acabando no cachimbo com Madureira Billy no peão encontra com Cipó Cipó com uma na mão já chama pro mocó Um, dois, três, Billy não pensa duas vez O cachimbo já tá pronto foi Cipó que fez Billy bate na porta do céu, escuta réu Na sua mãe a dor bate no peito, não tem jeito Pra seus amigos entrou no crime, perdeu respeito Seu João revela com dona Maria Presente o fim de um sonho de ver o filho formado em advocacia Como tantas vezes prometia para os seus pais Que não mexia com drogas estava bem na escola e seus professores eram legais Dona Maria, sempre dizia: Abre o olho João! Agora é mais difícil controlar o vício Está viciado na pedra E cada vez que fita quer mais um pega ! REFRÃO: Mais um Nascido e criado na Zona Sul Rejeitado na favela já foi mais um Na periferia só mais um rapaz comum 45 Mais um rapaz comum, mais um rapaz comum (2x) Mano Cobra: Mais uma vítima Não ficou pista, criptonita Fase da vida é assim, dura de viver Quem vive sabe dizer, quem morre sabe por quê Dona Maria pobre velha esquecida na favela Seu João indisposto, morrendo de desgosto Seu João é preto velho tem malícia Já entregou pra Deus só aguarda notícia É triste pro pai saber que já seu filho vai Só com companhias erradas, ideias furadas, criaturas que não valem nada O primeiro tomou o bote Madureira foi linchado pro lado do Inocope Paulada, pedrada até choque pelo que fez foi até pouco Essa morte judiaram, depois deram dois pipoco no coco, mas aí já estava morto É o final de quem apronta Acerto de contas Mano Cachorrrão: Vou já, dez em ponto, vamos pro ponto, é logo ali Vamos pegar um busão pro parque e ir direto pro Aracati Mano Cachorrão: Tem uma festa lá em cima Mano Cobra: Mas antes vamos passar no Vaz de Lima Lá eu soube que Cipó já foi Um, dois, não deram boi Rápido ninguém viu, pow, pow, pow e já caiu Mais um pilantra que subiu, em meados de abril 15 de agosto de um ano qualquer Foi a vez do Billy, morreu pro lado do Café Amarrado, enforcado, morreu que nem viado Vestido de mulher Seu João não suportou o fato Morreu duas semanas depois de infarto Dona Maria, chora todo dia, têm saudades da família Do seu velho, do seu filho, o terço agora é seu abrigo 46 Com ele na mão pede proteção E pede pra ir embora Olha para o céu e diz que toda vez que chove é seu menino que chora Helião: Pode crê Cobra! Aí são várias histórias Todos tem lembrança que vem do além Mas também veja bem, não é bom pra ninguém Aqui na área também tem esse problema também Só digo amém, Helião não tem rancor de ninguém Tudo bem, bem bem Não é só pra mim, Conexão do Morro Manos de bem bem é sempre assim, som que chapa o globo Sandrão também faz parte do jogo Sandrão: Da licença vou chegar Só pra sumariar Todos sabem que se é pra por na ceda Então proceda Mano sai de mim Sem essa de cachimbo Tô tranquilo que é da minha biqueira sabe, coletividade A toda parte Jardim Imbé, Capão Redondo e Pirituba nem se fale Helião é compadre Conexão do Morro e RZO é de praxe REFRÃO: Mais um Nascido e criado na Zona Sul (periferia é assim) Rejeitado na favela já foi mais um (Essa é a lei de um por um, rapaz comum já foi mais um) Saiam da mira dos tira. Vira estatística na Zona Sul Mais um rapaz comum, mais um rapaz comum (2x) Sampler: Posso eu fazer lamento Vou fazer lamento 47 Anexo D: Eju Orendive (Brô Mc’s) Aqui o meu rap não acabou Aqui o meu rap está apenas começando Eu faço por amor, escute, faz favor Está na mão do senhor, não estou para matar Sempre peço a Deus Que ilumine o seu caminho e o meu caminho Não sei o que se passa na sua cabeça O grau da sua maldade não sei o que você pensa Povo contra povo, não pode se matar Levante sua cabeça Se você chorar não é uma vergonha Jesus também chorou quando ele apanhou Chego e rimo o rap guarani e Kaiowa Você não consegue me olhar E se me olha não consegue me ver Aqui é o rap guarani que está chegando pra revolucionar O tempo nos espera e estamos chegando Por isso venha com nós REFRÃO: Nós te chamamos pra revolucionar Por isso venha com nós, nessa levada Nós te chamamos pra revolucionar Aldeia unida, mostra a cara (2x) Vamos todos nós no rolê Vamos todos nós, índios festejar Vamos mostrar para os brancos Que não há diferença e podemos ser iguais Aquele boy passou por mim Me olhando diferente Agora eu mostro pra você Que sou capaz, e eu estou aqui Mostrando para você O que a gente representa Agora estamos aqui Porque aqui tem índios sonhadores 48 Agora te pergunto rapaz Por que nós matamos e morremos? Em cima desse fato a gente canta Índio e índio se matando Os brancos dando risada Por isso estou aqui Pra defender meu povo Represento cada um E por isso, meu povo, Venha com nós REFRÃO: Nós te chamamos pra revolucionar Por isso venha com nós, nessa levada Nós te chamamos pra revolucionar Aldeia unida, mostra a cara (2x) 49 Anexo E: Só Monstro (Thiagão e os Kamikazes do Gueto) Thiagão: Eu sei que é foda, os dólar, os ouro seduz A patricinha sai do curso os mano vai de capuz Pra catar o celular bolsa da lui viton Mostra que a vida é loka e não é só no capão Os menor é problema, atitude no sangue Tá nem aí mete um latrô no japonês de Mustang O bango é loco, na bala, na faca ou até no soco Saddam Hussein de 15 anos loco apetitoso Na caçada do cifrão só monstrão jão Apetite até umas hora deixa os boy com o cu na mão Na missão não vai faia, se for é pra ganha Os moleque vai busca o que as mãe não puderam dá Vai fala que o rap é apologia pra roubar Do que adianta eu fala pros moleque não roubar, não traficar Se a necessidade bate a porta A favela de havaiana e os boy de 12 mola É foda diz pra mim em quem se espelha No pai que serra pinga ou no patrão de golfe AK É cruel a vida num é doce igual o mel Fala pro filho não rouba não mata que num vai pro céu Que céu a gente vive é no inferno tio Vai fica moscano aí e o inimigo de fuzil Vai pangua, vai perder, vai morrer, fim de jogo Com tensão meninão na quebrada é só monstro REFRÃO : É nossa cara ganha parti pro tudo ou nada O caçador com a giripó pronto pra pega caça Mosca num dá, doidão o tempo passa Se quiser prata de bali no pescoço desimbaça (2x) Thiagão: Aí rapaz fortão só monstrão na pegada Vai busca as tornado, os corola, os masta Que nada espera caí do céu, só cai chuva Corre atrás pega as arma que a pista tá uva 50 Invade a casa a milhão, estilão, avalanche A família na sala comendo MC lanche Bota o terror vai deixa a playboyzada em choque Leva o fuzion, abre o porta mala e joga dentro o cofre Na madrugada a molecada quebra a vidraça no chute Cai pra dentro leva as digital e os notebook Madame você viu que 50 centavos caro Menino: O tia o tia, da uma moedinha pra me ajuda ai? Madame: Não, não moleque, eu não tenho dinheiro sai de perto do meu carro sai, sai! Menino: Aí não vai da não? Então é o seguinte, desce do carro vadia, perdeu Thiagão: Nego uma moeda pro menor perdeu seu carro Você acha que todo ladrão já nasce ladrão? A revolta nasce dentro do peito igual vulcão E se entra em erupção sai que sai, sai da frente Lúcifer tá de bombeta, quadrada e vários pente Preparado pra levar, esquartejar no cativeiro Não quis pagar resgate, encomenda outro herdeiro Uns mata pelo dinheiro, outros vive pelo dinheiro Dinheiro, maldito que arrasta vários parceiro A cena é foda, mete bala e sai dando risada Desde pivete tem a mente de psicopata É lamentável, levo de quebrada, o barato é loco Um oitão canela seca na cena explodindo coco Só doido, na quina vários loco tá sinistro Prepara as vela que daqui a pouco um tá subindo Morreu pela boca falo demais Bla bla bla, leva e traz, bum já era jaz! REFRÃO: É nossa cara ganha parti pro tudo ou nada O caçador com a giripó pronto pra pega caça Mosca num dá, doidão o tempo passa Se quiser prata de bali no pescoço desimbaça (2x) Thiagão: É só monstrão No gueto a molecada puxa o cão 51 A pista tá sinistra, os terrorista na missão, do cifrão Nem tenta se envolve se for panguão Aqui no interior o bango é loco jão Sequestro, assalto, os menor apetite, os doido domina a quebrada Dinheiro no bolso, rolê no pescoço, Wisk, farinha e quadrada Os pano bolado, as moto pra fuga, os moleque capuz é macaca A cena é de mil, a fuga é de mil, a polícia nem pode tocaia Na quebrada só monstro, e no gueto só monstro E no rap só monstro, e no crime só monstro O menor só monstro, na cadeia só monstro Primo no interior do Paraná o barato é loco 52 Anexo F: Jão (DMN) Max: Respeito vai, logo cola a ofensa Intolerância, basta resolver na violência Vergonha sentença, humilhado segue o fraco Treto não foi pã, se fudeu foi zuado Julgado, culpado sem direito a recorrer Pro cê vê, ter dinheiro é diferente de poder Vem trator passa em cima, vai faz chacina Noite cai vão atrás te caçar de carabina Preparado pro combate pra num toma prejuízo Será que você ta preparado pro inimigo? Sentado na calçada, você e seus amigo Moscando na tragada, mosco mó delírio Céu enfumaçado, cachimbo cagueta Acendeu poluiu, consumiu aí já era Qual é a sua meta? Moleque me explica Enquanto o mundo gira, você fuma e parasita Vida na periferia, tá pensando o que? Não se programou, vacilou vai sofrer Contar com a sorte por aqui só se for loko Corre que seu berço não é de ouro REFRÃO: Pra onde você vai desse jeito jão? Desnorteado na nóia, o mais bandidão Pensando que tá bom, usa droga e fala gíria Vai se liga, vai se liga (2x) Max: Ó liga lá, veja só quem é o trouxa As 10 da manhã olho azul tira onda No bar, na porta da facul sentado à mesa Playboy ri à toa, maconha e cerveja 53 Se dedicar pra que? Se é tudo gozolândia Rezo pro pai morre, zóio azul qué herança E você tá no plano de quem? ou do que? Bem loko, fudido, sorrindo por quê? Pra resolver, quer PT, justo, quem se liga Pra onde você for sua cor atrai policia Barão faz lei pra te fuder , você num entende? Que o peso do martelo pra nós é diferente Dinheiro sem poder num adianta Fiança livra um, mais de mil vai pra tranca Enquadra nossos moleque, barão qué, muitos querem, veja bem Preto e pobre na cadeia aos 16 Se a ideia convém nesse momento então me escuta Esquece os B.O., tira a touca esconde as luva A vida é muito mais cabulosa que cê pensa Sai dessa, mó grupo, maluco se orienta REFRÃO: Pra onde você vai desse jeito jão? Desnorteado na nóia, o mais bandidão Pensando que tá bom, usa droga e fala gíria Vai se liga, vai se liga (2x) LP: Supere a ilusão e o veneno, só veneno E toda fantasia que está vivendo Quem falou que proceder é desse jeito, jão? Que vacilão é quem tem um diploma na mão? Sempre quer o melhor, mas é o pior Faz da vida um nó, a gente assim, cedo vira pó Um desperdício só, viver é coisa melhor Da mó dó, o sofrimento que faz ao redor Zé Povinho qué o seu sucesso (abraça) 54 Esse caminho o final é cara na vala Tem outra forma de respeito, morô Mostrar a si mesmo como virar o jogo Moral verdadeira, viver sem fronteira Da vida derradeira, uma lembrança passageira Vai brilhar na multidão na hora certa Somente os escolhidos, bem disse um poeta Esperto e preparado para guerra, sincera Aquela que liberta o coração e a mente da merda Olha os patrício, veja bem quem se ferra Pelo amor, já num basta a miséria? Migalha é anistia, doação pra família Alimento hoje e a morte no outro dia Os coxinhas cada vez mais violentos De segunda a segunda, os dias são sangrentos A mãe acende vela, reza, faz promessa O pai é mais frio, vive em estado de alerta Mas você num se interessa, jão Pra onde vai, já foram uma pá de irmão REFRÃO: Pra onde você vai desse jeito jão? Desnorteado na nóia, o mais bandidão Pensando que tá bom, usa droga e fala gíria Vai se liga, vai se liga (2x) 55 Anexo G: Miséria (Inquérito) Jornalistas: (Imagens impressionantes, abuso de autoridade, O pior terremoto dos últimos 200 anos, Durante a semana vários pedófilos foram presos, Deus vai julgar a nossa terra, Quem vai acabar é a raça humana). Renan: Pra quem pensava que o país da pizza era a Itália Pra quem achava que a fome matava só na Somália Abraça, que nada bem vindo ao Brasil Vou te mostrar o outro lado que talvez você nunca viu Cada rebelião aqui tiozão é uma Chernobyl E a eleição deveria ser todo primeiro de Abril Da Casa Branca ao inferno só muda a cor do terno De Porto Alegre ao Acre a pobreza só muda o sotaque Miséria não tem fuso horário nem idioma É a mesma no mundo todo desde o Império de Roma (Han) E o som de estômago vazio roncando Não muda do Árabe para o Castelhano A fome é a única língua universal Sem tradução, fala com a expressão facial Talvez só vão dar atenção para tudo isso aqui Quando a quebrada tremer e cair que nem o Haiti REFRÃO: (Miséria) Olha como o mundo está Onde o ser humano vai parar (Miséria) É melhor se preparar Essa bomba ainda vai estourar (2x) Renan: Alemão matou Judeu, Judeu mata Palestino Sangue no Iraque vira petróleo nos Estados Unidos Coca da Colômbia dentro de um Nigeriano Num avião Francês rumo ao nariz de um Britânico Negócio da China do mafioso Italiano 56 Conta na Suíça, charuto Cubano Empresário Espanhol capota Jipe Japonês Depois de beber um litro de uísque Escocês Turista Holandês morre no Brasil numa roleta Russa Escolhe a moeda eu digo quanto custa Tua vida, em dólar, em euro, real Até a morte aqui tem variação cambial Na CPI ninguém vai em cana Corrupção é novela Mexicana E o Brasileiro na urna toda vez Parece até piada de Português REFRÃO: (Miséria) Olha como o mundo está Onde o ser humano vai parar (Miséria) É melhor se preparar Essa bomba ainda vai estourar (2x) Renan: E o povo bebe no copo Americano Come churrasco grego, no pão francês Vai trampar na condução apertado pique corredor Polonês Cansei, de ver as tias na porta dos hospitais Das cadeias, de pé em fila Indiana Vendendo produtos do Paraguai, de Taiwan Correndo pra não ir em cana Se perguntando quem é mais animal na hora da ação A PM ou o Pastor... Alemão. REFRÃO: (Miséria) Olha como o mundo está Onde o ser humano vai parar (Miséria) É melhor se preparar Essa bomba ainda vai estourar (2x) 57 Anexo H: Vida Loka Parte II (Racionais Mc’s) DJ KL Jay: Firmeza total, mais um ano se passando aí graças a Deus a gente tá com saúde, aê morô, com certeza. Muita coletividade na quebrada, dinheiro no bolso, sem miséria e é nóis, (Som de copos brindando) Edi Rock: Vamo brindar o dia de hoje, o amanhã só pertence a Deus. A vida é loka Mano Brown: Deixa eu fala, pocê Tudo, tudo, tudo vai, tudo é fase irmão Logo mais vamo arrebentar no mundão De cordão de elite, 18 quilate Põe no pulso, logo bright que tal, tá bom De lupa, mochilon, bombeta branca e vinho Champanhe para o ar, que é pra abrir nossos caminhos Pobre é o diabo, e eu odeio a ostentação Pode rir, ri, mais não desacredita não É só questão de tempo, o fim do sofrimento Um brinde pros guerreiro, zé povinho eu lamento Vermes que só faz peso na terra Tira o zóio,tira o zóio, vê se me erra Eu durmo pronto pra guerra e eu não era assim Eu tenho ódio e sei o que é mau pra mim Fazer o que se é assim Vida loka cabulosa O cheiro é de pólvora, eu prefiro rosas E eu que... e eu que sempre quis um lugar Gramado e limpo, assim verde como o mar Cercas brancas, uma seringueira com balança Disbicando pipa cercado de criança Oh, Oh, Brown, acorda, sangue bom Aqui é capão redondo tru não o Pokemon Zona sul é invés, é stress concentrado Um coração ferido, por metro quadrado Quanto mais tempo eu vou resistir ? Pior que eu já vi meu lado bom na UTI 58 Meu anjo do perdão foi bom mais tá fraco Culpa dos imundo, do espírito opaco Eu queria ter, pra testa e vê um malote Com glória, fama embrulhado em pacote Se é isso que seis qué vem pega Jogar num rio de merda e ver vários pula Dinheiro é foda na mão de favelado, é mó guela Na crise, vários pedra noventa, esfarela Eu vou joga pra ganha o meu money, vai e vem Porém quem tem, tem, não cresço o zóio em ninguém O que tiver que ser, será meu Tá escrito nas estrela vai reclama com Deus Imagina nóis de Audi ou de Citroen Indo aqui, indo ali, só pã de vai e vem No capão, no apura, vou cola na pedreira Do são bento, na fundão, de pião,sexta-feira De teto solar o luar representa Ouvindo Cassiano, ah os gambé não guenta É mais se não der nego o que é que tem? O importante é nóis aqui junto ano que vem E o caminho da felicidade ainda existi É uma trilha estreita, é em meio à selva triste Quanto cê paga pra vê sua mãe agora E nunca mais vê seu pivete ir embora? Dá a casa, dá o carro uma Glock, e uma Fau Sobe cego de joelho mil e cem degrau Quente é mil grau o que o guerreiro diz O promotor é só um homem, Deus é o juiz Enquanto Zé povinho apedrejava a cruz E o canalha fardado cuspiu em Jesus Aos 45 do segundo arrependido Salvo e perdoado é Dimas, o bandido É loko o bagulho arrepia na hora, ó Dimas: primeiro Vida Loka da história 59 Eu digo, glória, glória sei que Deus tá aqui E só quem é, só quem é vai sentir E meus guerreiro de fé, quero ouvi, quero ouvi E meus guerreiro de fé quero ouvi Coro: Firmão! Programado pra morre nóis é Mano Brown: Ao lado direito do pai, é quente Coro: Certo, é certo, é crer no que der Mano Brown: Firmeza não é questão de luxo, não é questão de cor É questão que fartura alegra o sofredor Não é questão de presa, nem cor, a ideia é essa Miséria traz tristeza e vice-versa Inconscientemente vem na minha mente Inteiro: uma loja de tênis, o olhar do parceiro Feliz de poder comprar o azul, o vermelho O balcão, o esquerdo, o estoque, a modelo Não importa: dinheiro é puta e abre as porta Dos castelo de areia que quiser Preto e dinheiro são palavras rivais? É? Então mostra pra esses cú como é que faz O seu enterro foi dramático como o blues antigo Mas de estilo me perdoe de bandido Tempo pra pensar: qué para? que cê qué? Viver pouco como um rei ou muito como um Zé Às vezes eu acho que todo preto como eu Só quer um terreno no mato só seu Sem luxo, descalço, nadar num riacho Sem fome, pegando as fruta no cacho Aí ,truta, é o que eu acho, e eu quero também Mas em São Paulo, Deus é uma nota de cem Vida Loka Mano Brown: Porque o guerreiro de fé nunca gela, não agrada o injusto e não amarela. O rei dos reis foi traído e sangro nesta terra. Mas morrer como um homem é o prêmio da guerra. Mas ó, conforme for, se precisar, afogar no próprio sangue assim será. Nosso espírito é imortal, sangue do meu sangue. Entre o corte da espada e o perfume da rosa, sem menção honrosa, sem massagem: a Vida é Loka nego e nela eu tô de passagem. 60 A Dimas: o primeiro (Som de brinde com copos) Saúde, guerreiro Dimas... Dimas... Dimas 61 Anexo I: 3° Opção (Trilha Sonora do Gueto) Cascão: Celular, óctoc na mão, do Zé Povim É uma arma poderosa nisso eu acredito sim Embocamo num assalto de pistola e matraca E eu grudei logo o gerente com a quadrada engatilhada O meu parceiro com a matraca dominava o salão Karatê: Zé povim era mato tudo deitado no chão Nóis achava que é o seguinte que o bagui tava aguentado Mó engano sangue bom, tava memo era secado Tinha ROTA, tava o GOE a PM mais o GAP Tava tipo aquela fita que cê viu na reportagem Cascão: E eu grudado cum refém, comecei raciocinar Os motivos que fizeram eu no crime ingressar Residente do Capão, ser humano pique jão Que não teve uma cultura uma boa educação Morador de uma favela que aprendeu morrer por ela Nêgo, né comédia não, sofredor que num dá guela Voltando para a real, eu me vi logo enquadrado Me lembrei ni um minuto que eu tava ni um assalto Escutava a gritaria Karatê: Vamô pega e lixar Vagabundo não tem vaga nesse mundo que Deus dá Cascão: Veja bem comé as coisas ninguém tinha coração Só eu, e Deus sabia da minha situação Eu peguei minha quadrada fui pra guerra cum o sistema Só que pá é o seguinte sempre existe um dilema A vida traiçoeira me pregou uma lição Eu só tinha dois minuto pra viver três opção Se eu saísse pelo fundo eu morria assassinado Se eu vazasse pela frente pelos bico era lixado Karatê: E a 3ª opção 62 Cascão: Era eu engatilhar A quadrada na cabeça e eu mesmo me matar Só que Deus tava presente acredite eu não me engano Em fração de 2 segundos eu bolei aquele plano 'Aí xará, é o seguinte eu só vou me entregar Quando aquele sem futuro do Datena vim filmar Tô ligado que prucêis, eu não valo 1 real Só que cê seis invadi, o refém vai passa mal Ele tá todo borrado, tá mijado, tá com medo Tá pagando até com juros o racismo e o preconceito' De repente, pá, pá, caraio que tiroteio Fiquei com a cabeça à mil me bateu um desespero Sampler: Mas se eu sair daqui eu vou mudar (2x) Cascão: Parece que é hoje, quando eu da cena lembro Minha roupa cheia de sangue eu algemado mó veneno Lixado pelos bico, com ajuda dos gambé Desacerto no crime eu tô ligado qual que é Um dia é da caça o outro do caçador Ditado que meu pai já herdara do meu vô Quando eu era pivete, me lembro ele dizia Que um homem sem moral sempre entra numa fria Mas só que eu cresci desandei virei ladrão Eu só tinha 18 quando eu fui pra detenção Karatê: Aí choque, a rua tá daquele jeito ó. Uma pá de mano armado não enxerga um palmo à frente do Nariz. Pensa que é super-ladrão, super-herói. Só que aí jão, São Paulo não é Hollywood, os cara tá iludido. O diabo dá o pé pra sugar até a alma. Sorte que eu tenho uns parceiro lado a lado comigo aí pra debater minha loucura morô.' Cascão: Cês devem tá achando, que isso é ibope Ibope é trabalhar, eu em cana eu era loque Os manos na ventana gritava 'vai morrer Triagem na cadeia se não tiver proceder' Foi lá que eu conheci, a tal da rua 10 Também foi lá que eu li, a história de Moises O tempo foi passando, eu fui me adaptando 63 E quando eu fui notar já passará 7 anos Bem que meu pai dizia: Pai: filho o tempo é rei,tentei te dar o melhor me desculpe se eu falhei Cascão: Aquilo na minha mente, batia tipo Tyson Viver na detenção, tem que ser homem de aço O homem só é grande, quando ele se ajoelha Diante do senhor pra tomar puxão de orelha Naquela madrugada eu não consegui dormir Fazendo um castelo liberdade vem ni mim O tempo foi passando, meu corpo foi cansando O dia clareando na sequência eu fui deitando Sampler: Mas se eu sair daqui eu vou mudar. Dá meu revolver enquanto cristo não vem. Mas se eu sair daqui eu vou mudar. 15 caras lá fora, diversos calibres. Mas se eu sair daqui eu vou mudar. Quero sair do inferno, e não voltar mais. Mas se eu sair daqui eu vou mudar.Vida Longa aos bandidos beneficentes, e os maluco conscientes. Mas se eu sair daqui eu vou mudar. Este é o testemunho de um homem 64 Anexo J: Vida Loka Parte I (Racionais Mc’s) Mano Brown: Vagabundo queria atacar do malucão, usou meu nome, o pipoca abraçou ,foi lá na porta da minha casa, botou pânico em todo mundo 3 horas da tarde e eu não tava lá. KL Jay: E, mais aí, Brown, tem uns tipo de mulher que não dá nem pra comentar meu Mano Brown: E eu nem sei quem é os maluco, isso é que é foda! Edi Rock: Vamo atrás desses pipoca aí e já era! Mano Brown: Atrás de quem? Ir aonde? Não sei nem quem é mano. Mano, não devo, não temo, e dá meu copo que já era. (Conversa ao telefone) Abrão: E aí, bandido mau? Como é que é, meu parceiro? Mano Brown: E aí, Abrão, firmão, truta? Abrão: Firmeza total, Brown. E a quebrada aí, irmão? Mano Brown: Tá pampa. Fiquei sabendo do seu pai, lamentável, hein, truta, meu sentimento mesmo, hein, mano. Abrão: Vai vendo, Brown. Meu pai morreu e nem deixaram e ir no enterro do meu coroa, hein irmão Mano Brown: Isso é louco. Cê tava aonde? Abrão: Tava batendo uma bola, meu. Fiquei na maior neurose irmão Mano Brown: Aí foram te avisar Abrão: Aí vieram me avisar. Mas tá firmão, Brown, tô firmão, logo mais aí eu tô na quebrada com vocês aí! Mano Brown: É quente. Na rua também não tá fácil não moro truta. Uns juntando inimigo, outros juntando dinheiro, sempre tem um pra testa sua fé, nós tá ligado, sempre tem um corre a mais pra fazer. Aí mano, liga nóis aí qualquer coisa, cê tá ligado, mano, lado a lado nós até o fim, morô, irmão. Abrão: Tô ligado Mano Brown: Fé em Deus que ele é justo ei irmão nunca se esqueça Na guarda, guerreiro levanta a cabeça truta Onde estiver seja lá como for Tenha fé porque até no lixão nasce flor Ore por nós pastor, lembra da gente No culto dessa noite, firmão segue quente Admiro os crente, da licença aqui Mó função, mó tabela, pow, desculpa aí Eu me, sinto às vezes meio pá, inseguro Que nem um vira-lata sem fé no futuro 65 Vem alguém lá, quem é quem, quem será meu bom Dá meu brinquedo de furar moletom Porque os bico que me vê com os truta na balada Tenta ver, que saber de mim não vê nada Porque a confiança é uma mulher ingrata Que te beija, e te abraça, te rouba e te mata Desacreditar, nem pensa, só naquela Se uma mosca ameaça me cata piso nela O bico deu mó guela, ró bico e bandidão Foi em casa na missão, me trombar na Cohab De camisa larga, vai saber Deus que sabe qual é A maldade comigo inimigo no migué Tocou a campanhia plin, pá trama meu fim Dois maluco armado sim, um isqueiro e um stopim Pronto pra chamar minha preta pra falar Que eu comi a mina dele, há, se ela tava lá Vadia, mentirosa, nunca vi tão maior falha Espírito do mal, cão tipo senta e saia Talarico nunca fui, é o seguinte Ando certo pelo certo, como dez e dez é vinte Já penso doido, e se eu tô com o meu filho No sofá de vacilo desarmado era aquilo Sem culpa, sem chance, nem pra abri a boca Ia nessa sem sabe Abrão: Pra você vê Mano Brown: Vida Loka Abrão: E aí Brown, nós ta aqui dentro, mas demoro,truta, liga nós, irmão. Mano Brown: Não, truta, jamais vou levar problema pra vocês, nós resolve na rua e rapidinho, também. Abrão: Que é isso. Mano Brown: Mas aí, nem esquenta. E aquele jogo no final do ano que você falou. Abrão: Então, truta, demorou. No final do ano nós vai marcar aquele jogo lá. Vem você, o Blue, os cara dos Racionais tudo aí morô, meu? Visita aqui é sagrada, safado não atravessa não, morô? Mano Brown: Mais na rua num é não, até jack Tem quem passa um pano impostor pé de breque 66 Passa pro malandro a inveja existe, e a cada dez, cinco é na maldade A mãe dos pecado capital é a vaidade Mais se é pra resolver, se envolver, vai meu nome Eu vou fazer o que, se a cadeia é pra homem Malandrão eu, não, ninguém é bobo Se quer guerra terá se quer paz, quero em dobro Mais verme é verme, é o que é Rastejando no chão, sempre embaixo do pé E fala uma, duas vez, se marcar até três Na quarta xeque-mate, que nem no xadrez Eu sou guerreiro do rap e sempre em alta voltagem Um por um, Deus por nós, tô aqui de passagem Vida loka eu não tenho dom pra vitima Justiça e liberdade, a causa é legitima Meu rap faz o cântico do lokos e dos românticos Vô por o sorriso de criança, onde for Pros parceiros tenho a oferece minha presença Talvez até confusa, mais real e intensa Meu melhor Marvin Gaye, sabadão na marginal O que será, será, é nós vamo até o final Liga eu, liga nós, onde preciso for No paraíso ou no dia do juízo pastor E liga eu, e os irmão, é o ponto que eu peço Favela, fundão, imortal nos meus versos Vida loka Abrão: E aí Brown, e os pião, irmão? Mano Brown: Tô com uns mano aí, eu vou, to indo aí pra zona leste ali, tipo umas onze horas já tô voltando, morô, meu Abrão: Ei Brown, você faz a contagem, eu vou desligar, mas manda um salve pros manos da quebrada aí morô, pro Gil, pro Batatão, pro Pacheco, pro porquinho, pro Xande, pro Dé. Aí no dia do jogo os mano do Exaltassamba vai vim, manda um salve pro Binho, morô Brown,aí, fica com Deus aí, irmão. . 67 Anexo K: Minha Droga é Pesada (DJ Jamaika) Jamaika: Tudo começou quando eu tinha uns 12 de idade Me ofereceram algo estranho na verdade O cara usava e se sentia bem melhor Peguei um pouco, vou usar, quando eu estiver só Era meio estranho, eu não entendia 1980, eu nada podia Agora tô sozinho, vou experimentar Se for do bom, pros meus chegados eu quero passar Inseri aquela coisa na minha ideia Viajei, fui lá em cima numa odisseia Eu tô meio confuso, perdi o tato Muita coisa tá mudando de formato Usei mais um pouquinho pra ver se era real Pra lombra não ir embora, ficar de boa, normal Taquicardia, falta de oxigênio Quem inventou isso aqui merece um prêmio Deixa pra lá, não quero é me viciar Daqui a pouco em casa minha mãe vai chegar Vou esconder o flagrante, ficar como antes Tudo arrumado, amarrado com barbante Vou pra escola, lá vou fazer a boa Tem altos muleques de rocha que ião perdoar A primeira é de graça tem que ser assim A segunda morre o troco na minha mão aqui A minha droga pesada Pode crê, já tô ficando bonito na foto Não precisei ganhar na Sena e nem na Loto Me viciei sem querer, não quero mais parar Eu não posso parar, eu vou continuar Isso agora já faz parte da minha vida Depois que usa não tem volta e é só ida 68 Já tá passando a lombra e lá vou eu de novo Tô aqui distribuindo pro meu povo Cheguei em casa minha mãe me olhando de lado Meu pai de cabeça baixa, já tão ligados Abriram minha mochila e deram o flagrante Não tive pra onde correr, não corro como antes Tive que me explicar, eles não me entenderam Quando souberam do que rola, quase morreram A única coisa que eu fazia era estudar Tentaram fazer eu parar de isso usar Eu falei sério, eu não paro não Não sou só eu que uso, também o meu irmão Isso não faz mal nenhum, só traz o bem Eu tô bem melhor, agora, então me mostre quem Que não usa e tem uma cabeça assim Penso ajudar todo mundo, vai por mim Senta aqui mãe, experimenta pra ver Depois me conta como foi, dá uma sede A minha droga pesada Tá vendo como é que é, tá se sentindo melhor Eu só curto essa parada, só, só Meu pai diz ainda que é coisa de bandido Minha mãe tá feliz, tá escrito Viajou legal e eu tô liberado Só pra curtir o que eu quiser, tá ligado Eu nem queria, ah, eu nem queria Que ela me desse toda essa estia Dê-me a droga meu Deus Espalha isso na quebrada dos filhos teus É uma droga benigna Ninguém ainda conseguiu desvendar esse enigma Como pode algo assim tão forte Que te leva lá pra cima nesse porte Começou tão pequeno e hoje é imenso 69 Tomou conta da quebrada no relento Vou reunir todo mundo e vou distribuir Eu tenho muito e é de graça e só vai fluir Boas coisas, todo mundo viajando A ideia dos irmãos tá melhorando Essa é a última de hoje, eu não tenho mais Mas pra usar tem que ser forte, tem que ser capaz Vai aí, não tô te oferecendo um back Eu te ofereço a vida eterna, o RAP Eu te ofereço a vida eterna, o RAP Eu te ofereço a vida eterna, o RAP A minha droga pesada 70 Anexo L: Ideia Criminal (Mano Tuthão) Mano Tuthão: Presídio do Carandiru, 6 de Janeiro de 2002. Mais um ano trancafiado aqui, maior saudade de casa, da minha mulher, da minha mãe, dos manos, mas aí, um dia eu vou dar a volta por cima, tenho certeza disso. Ir pro X amanhã é quarta e depois é quinta Cadê meus presto barba amanhã tem visita Tô sem cigarro e a "Maria Loka" acabou Manda um pipa pra minha mãe Deus traz ela por favor Quero saber das noticias lá de fora 96 já puxei o rosto amigo consola Quantas bocas vão cair no 155, 157 O dinheiro ilude, o dinheiro ilude Aí bandido tem uma pá à pampa Carcereiro tá ligado paga pau pra pilantra Horário de visita ninguém chama o meu nome Será que a minha mina arrumou outro homem? O diabo atenta sem neurose na mente, Se ela me trair juro por Deus vai pro pente Olho pras muralhas seguro as minhas lágrimas Acendo um baseado pra afogar as minhas mágoas Na falta de amor o ódio me consola Sem sorriso e sem família meu pai sempre disse que homem não chora Mas como eu fracassou Traficante de quadrada, GTI me inspirou hõ A faculdade do crime é mil grau Faço as contas na parede esse é o décimo natal Choveu ninguém saiu no pátio Pilantragem é mal, traíragem aqui é mato Me lembro das baladas, das mina da quebrada, Quadrada e GTI, várias cilindradas Cordão no pescoço, um rolex no pulso Com uma quadrada eu me sentia o rei do mundo Meu celular tocava, mulher de monte 71 Truco, Skol, tá ligado no pote A fita no Itaú foi da hora Dois segurança pro saco e um latro é moda A fita da Brinks deu uma casa pra coroa Se não fosse o crack hoje tava numa boa Uma mina dizia que me amava Depois que eu vim pra cá que se esqueceu do que falava Restaurante, Shopping Center, perfume do O Boticário Quantas grana gastei, me sinto um otário Jurei pra mim mesmo que essa era a última fita Depois que sair dessa vou trocar de família REFRÃO: Uma cela triste, um lugar pra ler um livro (A Bíblia) O pensamento há em você (Jesus) E sem você não vivo (2x) Mano Tuthão: Frustração aqui no X é mato Vários maluco gente boa vivendo como rato Um mano aqui chegou pra dar uma ideia Vou ouvir qual que é desse maluco a coisa pode ser séria Amigo de Tuthão: Tô aqui a dois anos e não quero morrer atrás de grades E um muro, do lado obscuro Poder sonhar nunca mais, poder dá um rolé Curtir com a minha mulher Na madrugada de risco, tem nada ver eu tô limpo No tira gosto, da hora malandragem Faz roda que alegria é essa de mesa de bar Se os camarada dá área quase tudo vem pra cá Com tranca rua e um lobo nas costas Aqui no X Jesus acalma a revolta Outro dia o mano meu me trouxe agomal Duas fita e um walkman eu fiquei mais na moral Eu fiquei mais feliz em saber Que os camarada das antigas ainda lembram de mim E dos embalo os maluco sente com saudade Foi um presente do capeta fiz mudança de cidade 72 Ganhei um quarto que pra dormir eu tinha horário, uma privada Pedi licença os camaradas Quem curtiu essa onda sabe do que eu tô falando Dá uma grave vei e o bicho tá pegando Mas a hora que eu gostava mesmo Era quando parava pra cantar os hinos, era divino, Um tempo atrás teve um cara que morreu Descobriram o coitado era ateu Tenha piedade seu santo homem Será verdade e no final dos tempos Grande esperança me traz, refrigera e alivia a minha alma Me dá entendimento irmãos de paz, irmãos de paz REFRÃO: Uma cela triste, um lugar pra ler um livro (A Bíblia) O pensamento há em você (Jesus) E sem você não vivo (2x) Amigo de Tuthão: Aí mano, hoje uns crentes vieram aí, oraram por mim, tá ligado. Me deram uma Bíblia, maior paz, e quer saber mais, eu quero essa luz irmão, eu quero Jesus. Eu acho que eu vou virar crente, Pode crer Mano Tuthão: Que nada mano, esse papo de crente eu tô sossegado vagabundo Mas aí, se pá, no braço de Deus mano, tá ligado mano, sei lá, se pá até Cair fora daí, tá ligado que um dia eu mudo é mano, só maldade no ar. Mano Tuthão: Olho pra mim mesmo nem sei que sou Só desgraça e tristeza no lugar onde eu estou Talvez eu seja a bala que mata o playboy A trilha na hora do seqüestro, o ódio corrói No cativeiro o olhar da vítima Não tô nem aí, quem mandou nascer bem de vida Eu não nasci em mansão, nem em berço de ouro Mais um ano aqui nesse inferno eu morro O carcereiro trouxe pipa nave em cana É da minha mina será que ela ainda me ama? Maior clima de tensão, dispara o coração Pode ser o remédio pra minha saudade Começo a ler o bilhete e chego a última frase Esposa de Tuthão: "Eu tô aqui no hospital, tô morrendo de AIDS" Mano Tuthão: O chão sumiu dos meu pés, 73 Na minha mente um revés Começo a refletir das oportunidades Quando na escola pivete, o sonho morre quando cresce Ser médico, engenheiro pagar de camionete Cherokee, só Mercedes zero Diabo: "Você pode ter uma, o diabo soprou" Dá uma vida melhor pra minha mãe quem não sonhou Que pra me criar quanto sofrimento passou Os sintomas começam a sentir Manchas no corpo, só o pó, é emagreci Vou pra enfermaria, aí doutor, eu tô perdido? Quero um exame será que eu tô com o bicho? Mano Tuthão: Primeiro Exame Médico: Positivo Mano Tuthão: Segundo Exame Médico: Positivo Mano Tuthão: Terceiro Exame: E aí eu tô perdido Trouxeram o padre, pra mim me confessar Não quero ver ninguém, não quero conversar Voltei pra enfermaria eu vou tentar a fuga Rendi a enfermeira com o bisturi a coisa muda Corto os meus pulsos Voz de fundo:"Sangue Jorra como água" Mano Tuthão: Eu tô no comando aí ladrão caiu a casa Um agente penitenciário veio por trás Juro por Deus eu morro aqui, pra cela não volto mais Tentei fugir minhas costas fisgou O cara é bom de tiro ha me acertou Cai no chão, a minha vida passa como um filme Me arrependi de tudo que fiz da vida de crime Um dia eu li na bíblia Jesus é o caminho, a verdade e a vida 74 Como o ladrão da cruz, na última hora reconheci O desperdício porque não me entreguei a ti Antes de morrer, mesmo sendo um ladrão Vejo Jesus segurando a minha mão Mano Tuthão: Deus, mesmo na última hora, eu quero me entregar a ti. Eu sei que na minha vida eu só plantei maldade Deus. Mas recebe no teu reino a minha alma, neste momento Deus. Me perdoe tudo o que eu fiz, eu entrego a minha vida. Mesmo na última hora eu quero dizer que eu reconheço o senhor como o salvador da minha vida. REFRÃO: Uma cela triste, um lugar pra ler um livro (A Bíblia) E o pensamento lá em você (Jesus) E sem você não vivo (10x) Sampler: Meu filho só Jesus pode te salvar! Descanse em paz!