FAPAM- FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Alex

Transcrição

FAPAM- FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Alex
FAPAM- FACULDADE DE PARÁ DE MINAS
Curso de Letras
Alex Sandro Alves da Silva
ANÁLISE DAS GÍRIAS NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO
Pará de Minas
2013
Alex Sandro Alves da Silva
ANÁLISE DAS GÍRIAS NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO
Monografia apresentada à Coordenação de
Letras da Faculdade de Pará de Minas
como requisito parcial para a conclusão do
curso de Letras.
Orientadora: Vanessa Faria Viana
Pará de Minas
2013
Alex Sandro Alves da Silva
ANÁLISE DAS GÍRIAS NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO
Monografia apresentada à Coordenação de
Letras da Faculdade de Pará de Minas
como requisito parcial para a conclusão do
curso de Letras.
Orientadora: Vanessa Faria Viana
Aprovado em: _____/_____/_____
_____________________________________
(título e nome do professor orientador)
_____________________________________
(título e nome do professor examinador)
_____________________________________
(título e nome do professor examinador)
Dedico este trabalho a todos os meus familiares, aos
meus amigos e aos que de alguma forma contribuíram
para a realização deste trabalho.
A todos os autores de livros ou artigos que
disponibilizaram tempo para estudarem esse importante
modismo linguístico, que é a gíria.
A minha orientadora pela ajuda, paciência e cooperação.
Aos rappers brasileiros, por serem quem são.
E por fim, a Deus pela vida e saúde.
“Fazer o que se é assim vida loka
O cheiro é de pólvora, e eu prefiro rosas”.
Racionais Mc’s
cabulosa
RESUMO
Este trabalho é uma análise das gírias presentes no rap brasileiro e sua importância
não somente para o rap, como também, para a sociedade enquanto modismo
linguístico utilizado pela maioria das pessoas e que representa mais de dez por
cento do vocabulário brasileiro. Esta tem como objetivo geral analisar as gírias,
sobretudo, as existentes nas músicas de rap, como também, sua importância para a
Língua Portuguesa. E como objetivos específicos, caracterizar as gírias de uma
forma geral, confrontar as gírias existentes no rap de cantores de diversas capitais
brasileiras e mostrar a contribuição das gírias para a língua portuguesa, bem como,
para a sociedade. De modo que diante da análise nas músicas de rap constatamos
a importância da gíria como um elemento agregado ao rap e que exerce forte papel
na produção de uma canção com uma boa sonoridade, com um bom ritmo e,
sobretudo, com um cunho social e contestador.
Palavras chave: análise discursiva; gíria; rap (rhythm and poetry).
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
1.2 Objetivo Geral .................................................................................................. 10
1.3 Objetivos Específicos ...................................................................................... 10
1.4 Estrutura do Trabalho ...................................................................................... 10
2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS ............................................................................... 12
2.1 A gíria............................................................................................................... 12
2.2 O rap ................................................................................................................ 17
3 ANÁLISES DE DADOS: A GÍRIA NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO .......... 21
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 32
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 33
ANEXOS ................................................................................................................... 37
Anexo A: Soldado do Morro (MV Bill)..................................................................... 37
Anexo B: 12 de Outubro (Facção Central) ............................................................. 41
Anexo C: Super Billy (Conexão do Morro) ............................................................. 43
Anexo D: Eju Orendive (Brô Mc’s) ......................................................................... 47
Anexo E: Só Monstro (Thiagão e os Kamikazes do Gueto) .................................. 49
Anexo F: Jão (DMN) .............................................................................................. 52
Anexo G: Miséria (Inquérito) .................................................................................. 55
Anexo H: Vida Loka Parte II (Racionais Mc’s)........................................................ 57
Anexo I: 3° Opção (Trilha Sonora do Gueto) ........................................................ 60
Anexo J: Vida Loka Parte I (Racionais Mc’s) ......................................................... 64
Anexo K: Minha Droga é Pesada (DJ Jamaika) ..................................................... 67
Anexo L: Ideia Criminal (Mano Tuthão) ................................................................. 70
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INTRODUÇÃO
Esta proposta de pesquisa surgiu a partir da paixão pelo rap, bem como, do
envolvimento com as músicas do gênero. As músicas de rap visam entreter, como
também denunciar a desigualdade social, a corrupção, a miséria, o preconceito,
entre outros males que afligem nossa sociedade.
Geralmente, essas músicas são de autoria de pessoas provenientes das
classes suburbanas das grandes metrópoles, o que faz com que o discurso seja
repleto de expressões típicas do local; caracterizadas, na maioria das vezes, como
gírias. Esses espaços servem como fonte de inspiração para os cantores do gênero.
O interesse sobre o tema se faz também devido ao desejo de mostrar a
riqueza desse modismo linguístico, no caso, as gírias contidas nas músicas de rap e
sua grande contribuição para a produção das letras do gênero.
O rap, gênero musical originalmente da periferia, vem se propagando para
outras classes sociais, sobretudo devido à globalização, colaborando para uma
enorme expansão e enriquecimento de nossa língua, tanto no âmbito cultural como
no musical.
Há também, o interesse de evidenciar a relevância das gírias como um tipo de
expressão distinta da norma padrão, mas que tem seu lugar de valor na língua
portuguesa. A gíria se encaixa como o selo de uma comunidade favorecendo a
difusão de sua linguagem.
Tais gírias colaboram para que sejam produzidas letras de rap bem
elaboradas, informativas, com boa sonoridade e com cunho militante, as quais
contribuem na formação do senso-crítico de um indivíduo, como também na
produção de um discurso bem fundamentado, contundente e firme de um cantor ou
adepto do gênero.
Tanto os cidadãos de comunidades pobres como também os moradores de
classes sociais mais altas utilizam gírias corriqueiramente. As gírias, criadas pelos
meios de comunicação em massa ou as gírias típicas de grupos futebolísticos, de
artistas, de comunidades fechadas ou de cantores, são internalizadas, bem como,
utilizadas pela sociedade em geral.
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Com as gírias presentes no rap não é diferente, visto que há falantes de
diversos lugares, como também de várias classes sociais e de comunidades
distintas, todos em comum, utilizam as gírias existentes no rap em seu cotidiano.
Cada vez mais as pessoas incorporam esses vocábulos gírios. Até mesmo
falantes da alta sociedade acabaram se familiarizando com o rap e suas expressões.
Com isso, podemos constatar que vários indivíduos pertencentes às classes sociais
privilegiadas, os quais se identificaram com as batidas e letras do rap tornaram-se
grandes ouvintes de rap ou até mesmo rappers, como é o caso do cantor carioca
Gabriel, o Pensador.
Há também as pessoas que não são adeptas desse gênero musical, mas que
ao ouvirem e constatarem o fundamento e a riqueza da linguagem integrada nas
letras de rap, consequentemente passaram a utilizá-las.
Segundo Gurgel (2009), “É falsa a afirmação de que a gíria é linguagem de
malandros, marginais, de pobres, de excluídos” (GURGEL, 2009).
As gírias são utilizadas por todos os brasileiros, tanto pelos que não
conhecem a norma padrão, como por aqueles que a conhecem. Logo, o uso em tais
músicas de rap se justifica pelo fato de muitos rappers provenientes da periferia não
terem conhecimento da linguagem padrão, bem como, buscarem se autoafirmar
através da linguagem de sua própria comunidade. Assim, quem ouve uma música
de rap, geralmente fica conhecendo o cotidiano do autor da letra.
Portanto, a gíria tende a contribuir na diversificação, valorização e
enriquecimento da língua portuguesa. Como também, informa a realidade do cantor
ou de determinado grupo social. Gurgel (2009) afirma “É falsa a afirmação de que
rico, educado, bem nascido, não fala gíria. Também é falsa a afirmação de que a
gíria empobrece a língua”.
Também é intuito do projeto contribuir para que se acabe com o estigma de
que as letras de rap, compostas maciçamente por gírias não contribuem para a
formação de um grande indivíduo.
Dessa maneira, esta análise visa mostrar o real valor das gírias nas letras de
rap, não somente para a formação de identidades de muitos jovens carentes; mas
também como componente importante do rap, o qual direciona o jovem a traçar
caminhos de sucesso, fugir da criminalidade e ter perspectiva de futuro. Um gênero
musical que promove a inclusão social.
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1.2 OBJETIVO GERAL
Analisar as gírias, sobretudo, as existentes nas músicas de rap e sua importância
para a Língua Portuguesa.
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Caracterizar as gírias de uma forma geral.
Confrontar as gírias existentes no rap de cantores de diversas capitais brasileiras.
Mostrar a contribuição das gírias para a língua portuguesa e para a sociedade.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho está estruturado em cincos capítulos, nos quais são abordados
elementos que estão totalmente voltados para a análise das gírias no rap brasileiro.
O primeiro capítulo é divido em quatro seções, de modo que a primeira seção
faz esclarecimentos sobre o motivo de abordar esse tema, bem como, descreve
como será feita essa análise das gírias nas músicas de rap. Além disso, explica a
importância do que está sendo analisado. A segunda e a terceira seção explanam
qual é o objetivo geral e quais são os objetivos específicos da análise
respectivamente. E a quarta seção apresenta de que forma o trabalho foi
estruturado.
O segundo capítulo é dividido em duas seções. Na primeira seção há
algumas explicações, de forma sucinta, do que se tratam as gírias, quais as suas
características e como se deu seu surgimento; esclarecimentos baseados em
diversos autores como Dino Preti e J.B Serra e Gurgel. Na segunda faz-se um breve
panorama da história do rap, o que inclui: seu surgimento nos EUA, sua chegada ao
Brasil e seu desenvolvimento no país, abordando para isso os principais expoentes
do rap brasileiro, sua situação atual e a responsabilidade desse gênero musical para
com a sociedade.
O terceiro capítulo traça uma análise sobre as gírias no rap brasileiro. Nela
são mencionadas as expressões mais utilizadas, cujos significados são explicitados
logo em seguida. Também expomos algumas situações que envolvem a questão da
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variação linguística nas gírias. Além disso, evidenciamos o papel da gíria na
formação do rap que contribui significativamente no âmbito social.
No quarto capítulo, descrevem-se os tipos de métodos utilizados, quais foram
os tipos de observações e de análises feitas, como também quais foram os
procedimentos usados na realização desta pesquisa.
E por fim, no quinto capítulo fazemos algumas considerações finais sobre o
que foi constatado ao longo desta análise nas músicas de rap brasileiro.
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2 PERSPECTIVAS TEÓRICAS
2.1 A GÍRIA
Considerado o componente mais importante do modismo linguístico, a gíria
também é considerada um signo de grupo, a princípio secreto, que representa o
maior número de palavras utilizadas na linguagem falada do cotidiano. Ela está
intimamente ligada à questão da época e da moda, com isso, podemos constatar
que de tempos em tempos surgem novas gírias que se tornam as mais usuais e
outras, entretanto, passam a ser menos usadas ou caem em desuso.
As gírias surgiram como uma forma de comunicação, diferenciação e
denúncia, bem como, um mecanismo de autodefesa para grupos sociais e
profissionais. A princípio apenas os membros de tais grupos a entendiam. Contudo,
com a difusão dessa linguagem gíria para os meios de comunicação em massa,
outros grupos passaram a conhecer e a entender seus significados.
De acordo com PRETI (1984):
Caracterizada como um vocabulário especial, a gíria surge como um
signo de grupo, a princípio secreto, domínio exclusivo de uma comunidade
social restrita (seja a gíria dos marginais ou da polícia, dos estudantes, ou
de outros grupos ou profissões). E quanto maior for o sentimento de união
que liga os membros do pequeno grupo, tanto mais a linguagem gíria
servirá como elemento identificador, diferenciando o falante na sociedade e
servindo como meio ideal de comunicação, além de forma de autoafirmação. (PRETI,1984, p.3).
A gíria é uma forma de expressão mais prática, dinâmica e que se enquadra
melhor no perfil de nossas cidades atuais. Hoje as metrópoles convivem com essa
explosão demográfica que faz com que o nosso cotidiano seja extremamente
movimentado, induzindo as pessoas a optar por um discurso cada vez mais
simplificado, objetivo e de fácil entendimento.
Gurgel (1984) afirma:
A gíria facilita o entendimento, a compreensão de signos e significados, de
maneira linear e objetiva. Sem rodeios, mesmo quando as palavras se
distanciam de sua etimologia e os metaplasmos adquirem aparentemente
conotações estapafúrdias. (GURGEL,1984, p.15).
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Seria extremamente errôneo considerarmos a gíria como uma expressão de
grupos, facções, malandros, enfim, uma sublinguagem do português padrão. Fazer
isso é simplesmente ignorar a linguagem que está predominantemente inserida em
nosso dia a dia. É não enxergar a realidade que nos permeia. É obvio que tal
linguagem tem suas imperfeições e seus defeitos.
A gíria, a qual é considerada um modismo linguístico incorporou-se a outras
classes sociais, expandindo-se além dos seus limites, ou seja, não se restringindo
mais a seu local de origem. Além da disseminação da gíria para outros âmbitos, o
fato de que qualquer pessoa pode criar uma gíria nova favorece a popularização de
seu uso, em virtude do grande número de gírias existentes.
Segundo o Jornalista J.B. Serra Gurgel (2007):
Se a gíria não se propagasse, ela seria uma linguagem de grupos , facções,
tribos. Essa mobilidade é que equilibra a sociedade brasileira, se não
houvesse essa mobilidade certamente o brasileiro cordial teria virado obra
de ficção. A gíria tem caráter democrático. Quando vira gíria comum, todos,
até os mais arcaicos, aceitam e até usam-na, sem falar que a televisão, em
novelas e publicidades, lança algumas expressões, como por exemplo, “né
brinquedo não! Da personagem d. Jura da novela O Clone, da Rede Globo
de televisão, em 2002 ou o “Fala sério! da adolescente Paty, vivida por
Eloísa Perissê, no Programa Zorra Total, na Rede Globo de televisão,
dentre outros que vão surgindo e acabam virando (jargão) ou gíria
simplesmente”. ( GURGEL,2007,apud SILVA, 2008,p 8).
Devido à globalização e aos avanços da tecnologia, as línguas utilizadas por
determinados grupos se expandem vertiginosamente para outros locais, através do
rádio, televisão, cinema e, especialmente, pela internet. Segundo PRETI (1984):
Hoje, com a grande divulgação da informação, com a presença
social atuante da mídia, a gíria se vulgariza muito rapidamente, assim como
rapidamente se extingue e é substituída por novas formas. Essa
efemeridade é uma das características mais presentes no vocabulário gírio
e, de certa maneira, identifica-o com a grande mobilidade de costumes da
época contemporânea. E, talvez por essa constante dinâmica é que a gíria
tornou-se tão utilizada em nossos tempos”. (PRETI, 1984,Pág 2;3).
Entretanto, os meios de comunicação não se limitam a apenas difundir as
gírias. Eles também são responsáveis pela criação de uma infinidade de palavras
que se encaixam no grupo das gírias.
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Com essa propagação das gírias, sobretudo, devido aos grandes meios de
comunicação, esse modismo linguístico não somente se espalha, mas também
acaba sendo internalizado, reciclado, como também, modificado.
Como afirma Fusaro (2001):
Quando é espalhada, a gíria está sujeita a mudanças de percurso. A
expressão passa de boca em boca, vai ganhando acentos e significados
diferentes do original, como numa brincadeira de telefone sem fio. Os meios
de comunicação, além de lançar novos termos, são fortes propagadores da
gíria que já existe. (FUSARO, 2001,p.6).
Assim, podemos inferir que a gíria não surge apenas em grupos fechados,
mas também durante o seu processo de expansão. Logo, os meios de comunicação
são grandes responsáveis por novas gírias. Tais expressões gírias são muito
dinâmicas e mutáveis. Constantemente surgem novas gírias e as já existentes vão
perdendo seu sentido original e adquirindo novos significados.
A gíria é considerada a marca de um grupo social, na maioria das vezes
ligada a centros urbanos, utilizada como um grande recurso de expressividade. No
passado não teve a atenção merecida, visto que era considerada uma linguagem de
malandros, arruaceiros e de prostitutas por estar diretamente relacionada com a fala
desses grupos.
Uma das características desse modismo linguístico é de que quando a
linguagem gíria se restringe apenas a um grupo de pessoas, o falante logo a utiliza
para ser entendido apenas por pessoas desse grupo. De modo que a gíria se
encaixa como um selo dessa comunidade representando uma realização pessoal,
como também, um símbolo de identificação, tornando assim um signo de grupo.
PRETI (1984) afirma:
A criação dessa linguagem especial pode não apenas atender ao
desejo de originalidade mas também servir a finalidades diversas, como, por
exemplo, ao desejo de se fazer entender apenas por indivíduos do grupo,
sem ser entendido pelos demais da comunidade, de onde advém o seu
caráter hermético. A partir do momento em que essa linguagem especial
serve ao grupo como elemento de auto-afirmação, de verdadeira realização
pessoal, de marca original, ela se transforma em signo de grupo.
(PRETI,1984, p. 2,3).
No entanto, ao se difundir a gíria deixa de pertencer apenas a grupos
fechados e comunidades linguísticas pequenas, ganhando assim um caráter mais
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universal. Ela passa a fazer parte da vida de todos os falantes no âmbito em que ela
se propagou.
Geralmente, o indivíduo com um baixo nível intelectual tende a deixar mais
evidente os traços e peculiaridades da linguagem de sua comunidade durante a
comunicação. Assim, fica evidente que a gíria está totalmente ligada à questão
social.
Quando a linguagem gíria se dissemina para as grandes comunidades
linguísticas em geral, ela deixa de ser uma gíria especial, ou seja, um signo de grupo
e torna-se uma gíria comum. Esse vocábulo passa a ser entendido, de uma maneira
geral, não se restringindo apenas a um grupo fechado.
A gíria não se atém a representar apenas grupos de comunidades carentes,
marginais e prostitutas. Ela vai muito além, estendendo-se a diversos grupos
linguísticos
como estudantes universitários, esportistas, hippies, homossexuais
entre outros. Contudo, todos esses grupos utilizam a gíria como uma maneira de
expor ideais, colocar para fora sentimentos e emoções, bem como, questionar algo
errado em nossa sociedade, entre outras utilidades.
Segundo PRETI (1984):
Essa gíria reflete bem certa feição catártica da linguagem das
classes marginais, entendendo-se por estas não apenas os marginais do
crime propriamente ditos (malandros, punguistas etc.), mas também grupos
intelectuais, como os estudantes universitários, por exemplo, pequenas
comunidades muito preocupadas em ditar hábitos lingüísticos originais ( e,
por isso, sempre renovados). (PRETI,1984, p. 4).
Muitos vocábulos gírios, independentemente do grupo do qual se originaram,
possuem um tom de agressividade, embora algumas gírias tenham sido utilizadas
com significados mais brandos durante alguns períodos. Como o vocábulo gírio
“bicho”, cujo significado revela certa agressividade, na década de 70 passou a ser
uma forma de chamamento entre amigos.
A praticidade da gíria faz com que ela seja muito usada por conseguir
absorver o que é mais típico da linguagem oral, ou seja, há agilidade para se
comunicar e ser entendido.
Apesar de estar altamente relacionada com a época e envolver diversos
povos, todavia, não se tem uma precisão de quando surgiram as gírias. Sabe-se que
é um vocábulo voltado para a linguagem falada e que há registros de linguagem
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gíria em diversos países como na Itália e na França por volta do século XV e em
Portugal no século XVI.
De acordo com PRETI (2000):
Apesar desse maior interesse recente, a gíria é um vocabulário de todas as
épocas e de todos os povos, se lhe atribuirmos o sentido de linguagem de
um grupo social determinado. Como manifestação tipicamente oral, porém,
não deixa documentos suficientes para datar o seu exato aparecimento,
embora sua existência possa ser vislumbrada em muitos povos. Na França,
por exemplo, os primeiros vocábulos gírios documentados remetem à
linguagem marginal ou aos mascates, comerciantes ambulantes, na Idade
Média; ou são surpreendidos nos versos de um poeta popular, François de
Villon, nas suas baladas argóticas dos fins do século XV, obras que, ainda
hoje, guardam, em parte, sua natureza criptológica. Também do século XV
datam os primeiros documentos gírios italianos, ligados aos principais
dialetos da Península (cf. Ferrero, 1972). Em Portugal, no século XVI, a
obra de Gil Vicente testemunha a existência de muitos vocábulos populares,
de natureza gíria, em geral ligados às profissões. ( PRETI, 2000, p.2).
Dessa maneira, sabemos que a linguagem gíria existe e que está cada vez
mais sendo utilizada pela sociedade em geral. E isso, não se deve apenas aos
meios de comunicação, mas também à própria população que gradualmente vai
deixando o preconceito linguístico de lado e assumindo uma postura mais
permissiva e aberta quanto às questões de linguagens.
Enfim, a gíria é um riquíssimo modismo linguístico, cujo uso e significado
mudam constantemente, de forma que uma gíria especial, ou seja, um signo de
grupo, se vulgariza tornando-se uma gíria comum que,
com o tempo torna-se
menos usada ganhando assim um aspecto de linguagem de um grupo fechado
novamente.
Segundo SILVA (2008):
A gíria é uma transição da vida das palavras: sai do vocabulário comum, vai
para a linguagem de grupo, depois se desgasta, volta para a linguagem
comum ou desaparece. Esta também, é pouco resistente ao tempo, tem
muito a ver com a contemporaneidade, já que, o universo se renova
rapidamente, e a partir do momento em que fica muito conhecida, muda, ou
seja, a aceitação em massa, provém do dinamismo da modernidade, da
velocidade das mudanças. (SILVA, 2008, p.4).
E todas essas mudanças constantes que ocorrem com as gírias são
características normais e intrínsecas da língua. Sejam os vícios de linguagem, as
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dialetologias ou os modismos linguísticos são extremamente dinâmicos e temporais.
Enfim, toda e qualquer manifestação da linguagem está sujeita a mudanças.
2.2 O RAP
O rap é um gênero musical pertencente ao movimento Hip Hop cujo
surgimento se deu nos EUA no final da década de 1960 e início de 1970, o qual se
espalhou pelo mundo. A sigla rap significa
rhythm and poetry, ou seja, ritmo e
poesia. No início o rap era chamado de “MCing’, nesse caso, uma referência aos
Mestres de Cerimônias (MC’s).
O movimento Hip Hop é composto por quatro elementos: o Disc Jockeys
(DJ), o Breaking Boys (b-boy), o Grafite e o Mestre de Cerimônia (MC). Nesse
contexto, o rap se encaixa como a música representativa do movimento, cantada
pelo (MC), tocada pelo (DJ), dançada pelo (B-Boy) e expressada pelo grafiteiro.
No rap houve três grandes pioneiros, os quais são Mestres de Cerimônia
(MC’s) e Disc Jockeys (DJs): .Afrika Bambaataa; Grandrmaster Flash e Kool Herc.
Eles são responsáveis por animar os bailes no Bronx, em Nova Iorque. Essas festas
foram as primeiras com contornos do movimento Hip Hop.
O termo Hip Hop foi criado por Bambaataa. Ele utilizava a expressão como
uma forma de nomear os bailes no Bronx, onde se reuniam dançarinos, MC’s e DJs.
Como afirma ROCHA (2001):
O termo hip hop, que significa, numa tradução literal, movimentar os quadris
(to hip, em inglês) e saltar (to hop), foi criado pelo DJ Afrika Bambaataa, em
1968, para nomear os encontros dos dançarinos de break, DJs (disc
Jóqueis) e MC’s (mestres-de-cerimônias) nas festas de rua do bairro do
Bronx, em Nova York. Bambaataa percebeu que a dança seria uma forma
eficiente e pacífica de expressar os sentimentos de revolta e de exclusão,
uma maneira de diminuir as brigas de gangue no gueto
e,consequentemente, o clima de violência. (ROCHA, 2002, apud SOUZA,
2004,p.17).
Desse modo, tornaram-se popular o rap e o Hip Hop, de uma maneira geral. E
desde aquela época o rap possuía um caráter extremamente social. Os pioneiros do
Hip Hop foram Influenciados pelos movimentos negros dos EUA na década de 60 e
70 como os “Panteras Negras”, partido negro revolucionário estadunidense e o
“Black Power”, movimento a favor dos negros ao redor do mundo.
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Todas essas manifestações procuravam defender o orgulho negro e os
direitos civis como a liberdade de expressão, o direito à educação, à moradia, a
julgamento justo e ao voto. Além disso, lutavam pelo fim da corrupção, do
preconceito e da desigualdade social.
Como afirma ANDRADE (1999):
A Organização Black Panthers exercia forte influência entre os jovens
negros, indicando-lhes a necessidade da organização grupal, da dedicação
aos estudos e do conhecimento das leis jurídicas. Boa parte destes valores
foram resgatados pelos membros do Hip-Hop, principalmente no Brasil,para
combater os abusos de poder exercido pela instituição policial contra os
negros. (ANDRADE apud Pimentel, 1999, p.4)
Ademais, alguns representantes da música negra norte-americana,
como
cantores de Soul, tinham o intuito de defender os direitos dos negros em suas
músicas, sobretudo, Marvin Gay e James Brown, de modo que as canções desse
gênero musical exerceram forte influência sobre o Hip Hop, principalmente, sobre o
rap.
Assim o rap norte-americano ganhava força, não somente através das letras,
mas também em virtude dos movimentos negros nos EUA, os quais acabavam
divulgando peculiaridades do movimento Hip Hop como expressões, vestimentas e
ideologia. Nos EUA toda a cultura negra desembocou até o rap norte-americano.
Logo, percebe-se a tamanha força desse gênero musical no país.
Enquanto no Brasil os costumes passavam de pai para filho, sejam através da
contação de histórias, da literatura de cordel, do samba ou até mesmo por meio dos
repentistas, nos EUA as tradições também eram transmitidas de pai para filho, mas
com uma ressalva, o que era ensinado aos filhos eram as batalhas de “MC’s” ou os
freestyles que são disputas com versos improvisados.
Na década de 1980, o rap chegou ao Brasil totalmente influenciado pelo Hip
Hop estadunidense. Dessa maneira, muitas batidas utilizadas por rappers brasileiros
eram provenientes de músicas de artistas norte-americanos como cantores de soul e
até mesmo cantores de rap.
Além disso, muitos rappers brasileiros utilizavam os nomes de artistas da
América do Norte para formarem seus próprios pseudônimos artísticos, como o
principal rapper do conhecido grupo paulista Racionais Mc’s que formou seu apelido
utilizando o segundo nome do cantor estadunidense James Brown.
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Assim, Pedro Paulo Soares Pereira passou a ser chamado nacionalmente de
“Mano Brown”. Outro membro dos Racionais Mc’s, “Ice Blue” também adotou um
apelido artístico se apropriando de nomes norte-americanos. O nome “Ice Blue” é
formado a partir da música do cantor Jorge Ben Jor chamada “Negro Blue” que faz
alusão ao Blue, gênero musical norte-americano.
Como pioneiros do rap brasileiro podemos citar o rapper “Pepeu” e os “Black
Juniors”, que cantavam um rap com teor mais romântico; a dupla “Taíde” e o “DJ
Hum” que em 1988 foram os primeiros a abordarem temas políticos e sociais; e,
como não poderia deixar de mencionar, o maior expoente do rap nacional; o grupo
paulista Racionais Mc’s formado em 1988, composto por “Mano Brown”, “Ice Blue”,
“Edi Rock” e “DJ kL Jay”.
Com o passar dos anos foram surgindo outros grupos de rap que se tornaram
fortes no cenário nacional como Ao Cubo, Cirurgia Moral, Consciência X Atual,
Detentos do Rap, Expressão Ativa, Facção Central, Face da Morte, Gabriel O
Pensador, GOG, MV Bill, Ndee Naldinho, Realidade Cruel, Rappin Hood, o extinto
grupo 509-E , o falecido Sabotage, entre outros nomes.
Apesar do preconceito do governo brasileiro e de parte da população contra o
rap, ele foi se desenvolvendo ao longo dos anos. A cada ano, ele foi ganhando mais
e mais adeptos até chegar ao patamar que se encontra atualmente.
Hoje o rap tornou-se mais popular, embora, ainda seja visto por algumas
pessoas como uma música para criminosos, cheia de palavrões e gírias, e que faz
apologia ao crime.
Entretanto, o rap é um gênero musical que visa denunciar os problemas
sociais muitas vezes maquiados em nossa sociedade como a corrupção, a miséria,
a desigualdade social, a violência policial e o preconceito, sobretudo, o racial.
Além disso, o rap transforma vidas, visto que ele é proveniente da periferia,
transformou-se em um meio de escape das drogas e da criminalidade para muitos
jovens das favelas brasileiras.
Em virtude da falta de oportunidades para pessoas carentes e que não
tenham estudo, o desejo de adquirir bens materiais somados à pobreza fazem com
que o crime e as drogas tornem-se muito atrativo para jovens das classes menos
favorecidas. Assim, o rap não somente oferece perspectiva de futuro, mas também
faz com que o jovem fique longe do crime e das drogas, o instiga a buscar
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conhecimento,
a ter senso-crítico, a se preocupar com as questões políticas e
sociais de nosso país, entre outros benefícios.
Apesar de a maioria dos rappers serem oriundos das periferias, há alguns que
surgiram de classes sociais mais altas como o conhecido rapper carioca Gabriel o
Pensador que nasceu na classe média alta e que em suas músicas, além de abordar
temas como a vulgaridade e a corrupção, busca relatar problemas do cotidiano da
classe média.
Contudo, ele compõe músicas extremamente conscientes e saudáveis,
conseguindo alcançar sucesso nacional e internacionalmente. Desse modo,
entendemos que para ser um bom rapper não importa sua classe social, mas sim a
ideologia e o senso-crítico do cantor.
Com a questão da globalização, o rap vem tendo mais espaço na mídia,
principalmente na televisiva, devido a alguns rappers mais antigos como Rappin
Hood, Marcelo D2 e MV Bill e aos novos nomes do rap nacional como Projota,
Emicida, Crioulo Doido, entre outros, serem menos anti-midiáticos, visto que eles
têm menos resistência a aparecerem nos meios de comunicação em massa.
O rap é totalmente permeado de gírias que dão um aspecto mais diversificado
e peculiar às letras do gênero, como também uma melhor sonoridade às músicas,
além de oferecem mais opções de rimas e melhores estrofes musicais.
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3 ANÁLISES DE DADOS: A GÍRIA NAS MÚSICAS DO RAP BRASILEIRO
Nesta análise, é necessário ressaltar o compromisso do rap com a sociedade,
bem como, sua responsabilidade com as questões sociais e a formação de
cidadãos.
Assim, afirmamos que em momento algum se tem o interesse de inserir,
neste trabalho, músicas que fazem apologia ao crime ou que ofendam alguma
profissão ou instituição.
Os trechos das músicas colocadas nesta pesquisa são apenas fragmentos de
histórias vividas ou ouvidas por rappers, como também, criadas com toda
verossimilhança em relação ao cotidiano das metrópoles. Esses artistas têm o
interesse de apenas relatar histórias, posicionando-se totalmente contra a
criminalidade. Empregando em seus relatos uma infinidade de gírias que serão
utilizadas como objeto de análise do presente trabalho
A gíria, importante modismo linguístico, é composta por uma infinidade de
palavras, as quais representam mais de dez por cento do português brasileiro.
Muitas pessoas veem as gírias como um grupo de palavras sem utilidade e que
apenas servem para grupos marginalizados, visto que seu surgimento se deu em
meio às classes menos favorecidas.
Como afirma PRETI:
Apesar de sua ligação com os mais variados grupos sociais, podemos
afirmar, ainda uma vez, que a gíria nasce comumente nos grupos da
população menos favorecida e, posteriormente, se espalha pela
comunidade, em geral, pelo contato desses falantes com outros grupos,
muitas vezes, por meio da mídia. (PRETI, p.5).
No entanto, a gíria é utilizada como um mecanismo de defesa e como um
meio de identificação de qualquer grupo linguístico, não importando a classe a qual
pertence. Tamanha é a sua amplitude que foi necessário criar dicionários de gírias
para especificar o significado dessas palavras que tanto enriquem a língua
portuguesa.
Ela se divide em diversos grupos, como as gírias dos skatistas, dos
motoristas, dos policiais, dos homossexuais, dos carteiros, das prostitutas, dos
presidiários, dos rappers, entre outras. Sendo a última a fonte de nossas análises.
22
A linguagem dos rappers, no caso, a dos brasileiros é muito extensa e
peculiar, com forte predominância de gírias que fazem parte também da linguagem
dos presidiários e dos skatistas, pois os três grupos possuem afinidades em comum
como o movimento Hip Hop e o fato de muitas letras de rap representarem os
presidiários, de alguma forma.
As gírias compõem a estrutura da maioria das músicas de rap. Eis algumas
gírias presente em músicas de rap e seus respectivos significados: à pampa- estar
satisfeito; bagulho- objeto qualquer, mano ou truta- companheiro e irmão de
ideologia, nóia- alguém que acabou de usar droga, X- cela da cadeia e dar goeladeixar transparecer algo errado.
Nesta análise iremos confrontar, bem como, explicar o significado de diversas
gírias usadas por rappers nas músicas de rap, utilizando canções de grupos de rap
de vários centros urbanos como meio de comprovação. Logo, nós destacaremos
gírias que os grupos têm em comum e gírias que se distinguem.
A princípio, faremos uma explicação sobre a questão da entonação de uma
gíria presente em duas músicas de rappers brasileiros. As canções são “Soldado do
Morro” do rapper carioca MV Bill e “12 de Outubro” do grupo paulista Facção
Central.
No trecho da música “Soldado do Morro”, o rapper MV Bill cita “minha
condição é sinistra não posso dar rolé, não posso ficar de bobeira na pista” e o
grupo Facção Central em “12 de outubro” diz “eu vou fazer um rolê e buscar meu
presente, uma vítima anel de ouro corrente”. No entanto, em ambas as músicas, as
gírias “rolé” e “rolê” possuem o mesmo significado, ou seja, dar um passeio ou dar
uma volta, porém, o que muda é a entonação.
Em “Soldado do Morro”, a gíria rolé é pronunciada com a vogal aberta. Em
contrapartida, na canção “12 de outubro”, a mesma palavra é dita com a vogal
fechada. Assim, percebe-se uma pronúncia distinta dessa gíria, em virtude das
diferentes localidades dos rappers, ou seja, a variação linguística influencia
sensivelmente a pronúncia.
Seguindo um fenômeno das periferias brasileiras, o rap se refere às drogas
por meio de vários nomes gírios, seja por uma questão de identificação de alguns
grupos ou até mesmo por ser algo que infelizmente está fortemente inserido em
23
nossa sociedade atual. Em virtude disso, surgiram inúmeros termos para se atribuir
as drogas lícitas, como também às ilícitas.
Caso do Crack; droga ilegal que é formada através da conversão do cloridrato
de cocaína para base livre através de sua mistura com bicarbonato de sódio e água
feita com os restos da Cocaína. Essa droga no rap é chamada de “Pedra” ,
“Criptonita”, entre outras diversas nomenclaturas. Podemos ver isto no trecho
“criptonita permanece na dupla sobrevivente”
da música “Super Billy” do grupo
paulista Conexão do Morro.
Assim como a cocaína, droga também ilícita que é um alcalóide e estimulante
do sistema nervoso central, é chamada de “pó”, “farinha”, “branquinha” “vera”,
“ratatá”, “senhora”, dentre outros nomes. Podemos comprovar esse uso no seguinte
trecho: “Foi fuzilado à queima roupa no colégio, abastecendo a playboyzada de
farinha” da música “ Homem na Estrada” dos Racionais Mc’s
Além da maconha que são as flores e folhas secas da planta “Cannabis
Sativa”, conhecida também como “beck”, “erva”, “brau”, “pacau”, “baseado”, “fininho”.
Além do famoso “tabaco” conhecido vulgarmente como “cigarro”, “careta”, “paioso”,
dentre outros nomes. E ainda, as bebidas alcoólicas também popularmente
conhecidas e chamadas por vários termos gírios como “goró”, “breja”, “mé”, “golo”,
“ceva”, “cachaça”, “cana” ,entre outros nomes.
É notório o grande uso das gírias nas músicas do rap brasileiro para nomear
todas essas drogas citadas acima. De forma que no trecho “Pode vir gambé, paga
pau, tô na minha na moral, na maior, sem goró, sem pacau, sem pó. Eu tô ligeiro, eu
tenho a minha regra, não sou pedreiro, não fumo pedra” da música “Fórmula Mágica
da Paz” dos Racionais Mc’s fica evidente esse uso.
Em virtude dos rappers geralmente defenderem os problemas sociais que
assolam a periferia como a miséria, a pobreza, o preconceito e a violência policial,
eles difundiram uma enormidade de gírias para se referir à polícia. Assim como nas
favelas, no rap também eles chamam os policiais de diversos vocábulos gírios como
“gambé”, “os homi”, “ganso”, “porco”, “pé-preto”, “samango”, “os cana”, “caixinha”,
“mão branca”, “coxinha”, entre outras terminologias.
Podemos constatar isso em várias músicas como em “Da Ponte Pra Cá” do
grupo paulista Racionais Mc’s em que há alusão à polícia em dois trechos dessa
canção. Em “Viajar de GTI quebra a banca, Só não pode viajar cus mão branca” e
24
em “Os moleque tem instinto e ninguém amarela. Os coxinha cresce o zóio na
função e gela”.
Há também referência à polícia na música “Desculpa Mãe” do grupo paulista
Facção Central, nela é mencionada “Os gambé vigiando o pronto-socorro, eu na
cama delirando quase morto”. Assim como em “O Rei da Montanha”,
canção
também do grupo Facção Central, nela é dito “Colou um ganso de opala, placa fria,
ai Brother, liga quem vende uma farinha”.
Ocorre também referência à policia na música “ Qual Mentira Vou Acreditar”
do grupo Racionais Mc’s, na qual é citado “Quinze pras onze eu nem fui muito longe
E os homi embaçou”. E por último, na música “Num Vai dá nada... Se Der é Pouca
Coisa” do grupo brasiliense Cirurgia Moral. É mencionado nessa música “Se vê a
forra, aí os homi endoida , faz casinha e faz campana, até que sai da toca”.
Os rappers utilizam também diversas expressões para se referir a agentes
penitenciários, entre elas “funça” e “Charles Bronson” , sendo a última, uma alusão
ao ator estadunidense conhecido em seu filmes por capturar e matar muitos
criminosos.
Pressupõe-se que esses termos gírios usados para designar pessoas que
trabalham como vigias no sistema prisional foram assimilados pelos rappers devido
ao contato com pessoas que estiveram em presídios, através da leitura e busca por
conhecimento ou também por vivência própria.
A riqueza e a contribuição das gírias para o rap é imensa chegando a
ultrapassar fronteiras, visto que até os índios da tribo “Guarani Kaiowá” lançaram um
álbum de rap no qual continham músicas repletas de gírias. As gírias desse grupo
de rap indígena são cantadas em sua maioria, na língua da própria tribo, contudo,
suas letras são transcritas em português. Esse grupo se chama Brô Mc’s e sua
principal música é “Eju Orendive”, canção que ganhou destaque pela sua boa
musicalidade, temática e por ter um estilo inovador.
No rap brasileiro surgiram diversos termos gírios que são substantivos
próprios ou comuns, mas que ganham uma conotação gíria dependendo do contexto
em que estão inseridos. Além disso, muitos nomes foram reduzidos tornando-se
também expressões gírias. A seguir serão mostrados vários desses substantivos
que se tornaram gírias, logo são bastante utilizados nas letras de rap.
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A princípio temos o termo “Jão”, expressão para se referir a alguém, seja um
irmão de ideologia ou um desconhecido. De modo que esse termo surgiu da redução
do nome “João”.
Tal uso é percebido em vários trechos como “na caçada do cifrão só monstrão
jão”
e
em
“nem
tenta
se
envolve
se
for
panguão,
aqui
no
interior
o bango é loco jão”, ambos os fragmentos são da música “Só Monstro” do grupo
paranaense Thiagão e os Kamikazes do Gueto. E no trecho “Pra onde você vai
desse jeito jão?” excerto pertencente à música “Jão” do grupo paulista DMN.
Há também
o termo “tio” com suas flexões e derivados como “tiazinha”
“tiozão” e “tiozinho” que geralmente se referem às pessoas idosas e sofridas ou
simplesmente a pessoas com uma idade mais avançada. É possível notar esses
termos gírios em diversas músicas de rap como “Não queria o moleque com a faca
na mão ajoelhando o tio grisalho, querendo seu cartão” e em “pergunta pro tio, do
terreno invadido no escuro o que é um trator transformando seu sonho em entulho?”
ambas as passagens são da música “A Marcha Fúnebre Prossegue” do grupo
Facção Central.
Ocorre igualmente esse tipo de vocábulo no trecho: “Aí tia da mansão,
fazendo oração, esperando o contato do sequestrador em vão” fragmento da música
“A Guerra Não Vai Acabar” do Facção Central e também em dois excertos: “Vou te
mostrar o outro lado que talvez você nunca viu, cada rebelião aqui tiozão é uma
Chernobyl” e em “Cansei, de ver as tias na porta dos hospitais, das cadeias, de pé
em fila Indiana” ambos trechos da música “Miséria” do grupo paulista Inquérito.
Outro termo bastante utilizado é “Zé povinho” que entre outras definições
pode significar uma pessoa que leva uma vida normal, sem riqueza e ambição, ou
seja, uma pessoa do povo, posto que o nome “Zé” faz alusão a uma pessoa humilde
e simples. O termo “Zé povinho” exprime também a ideia de uma pessoa que
procura ser correta e íntegra. Além disso, essa gíria pode ser também definida como
pessoas fofoqueiras e invejosas.
Essa expressão pode ser observada nos trechos: “É só questão de tempo, o
fim do sofrimento um brinde pros guerreiro, Zé povinho eu lamento” da música “Vida
Loka Parte II” e em “Zé povinho é o cão, tem esses defeitos, Quê? Cê tendo ou não
cresce os zóio de qualquer jeito” referente a música “Jesus chorou” ambas canções
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dos Racionais Mc’s e no excerto “Facção não faz rap pra você, boy, grupo invejoso,
Zé povinho”, trecho da música “Chico Xavier do Gueto” do grupo Facção Central
Entretanto, esse termo gírio em algumas músicas é utilizado com mesmo
significado dos descritos acima, mas com entonação e escrita diferente como
acontece nos trechos abaixo em que o termo “Zé povinho” é usado com pronúncia e
escrita na oralidade. Vejamos os trechos “Celular, óctoc na mão, do Zé povim é uma
arma poderosa nisso eu acredito sim” e “o meu parceiro com a matraca dominava o
salão, Zé povim era mato tudo deitado no chão” ambos os fragmentos são da
música “3° Opção” do grupo paulista Trilha Sonora do Gueto.
De modo que esse grupo de rap tem como característica principal o uso
extremo da oralidade e da gíria, prova disso é o nome dado a alguns álbuns da
banda como “Us Fracu num Tem Veiz (2003)” ,”Aos Vivos (Kumigo Kem Kisé, Kontra
Mim Kem Pudé) (2006) e “ Purke Tudu Num Mundo é Vaidade (2008)”.
Temos também o substantivo comum “doido” que adquire aspecto gírio em
diversas músicas de rap transmitindo uma ideia de chamamento, com isso
ganhando um sentido parecido com o de um pronome, ou seja, substituindo um
nome. É como se fosse dizer “ ô Alex” ou “ E aí tudo bem Alex”, de forma que
utilizando essa expressão ficaria “ô doido” e “ E aí tudo bem doido”.
Podemos verificar esse uso no trecho “Já penso doido, e se eu tô com o meu
filho no sofá de vacilo desarmado era aquilo” da música “Vida Loka Parte I” dos
Racionais Mc’s.
Nas músicas de rap são introduzidas diversas expressões gírias que possuem
a mesma definição e poderiam ser evitadas, contudo, esses vocábulos são
empregados por vários motivos, entre eles para obter uma boa sonoridade nas
rimas, por fazer parte do vocabulário do rapper, por buscar autoafirmação ou até
mesmo por ser a linguagem do cotidiano da região do autor da letra.
De modo que em vários fragmentos de rap verificamos esses empregos como
quando o falante afirma ao receptor se ele entendeu o que lhe foi dito. Geralmente
nessa situação usam-se gírias como “pode crê”, “morô”, “tá ligado” “sacô” “fragô”,
entre outros termos.
Desta maneira, nas músicas de rap constatamos esse uso em muitos trechos
como “Pode crê, já tô ficando bonito na foto. Não precisei ganhar na Sena e nem na
Loto” fragmento proveniente da música “ Minha Droga é Pesada” do rapper
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brasiliense DJ Jamaika ou também em “Usa teu ódio pra conseguir um diploma
morô!” este último trecho faz parte da música “ Outro Caminho” do grupo Facção
Central.
A versatilidade da gíria favorece a transformação de muitas palavras em
expressões gírias. É possível notar muitas palavras como o substantivo “mato” que
por meio da comparação se tornou uma gíria em alguns contextos tomando
significado de algo que há em todo lugar ou que acomete todas as pessoas.
Vemos tal vocábulo gírio em trechos como “Hei, mulher é mato a marijane
impera, dilui a raiva e solta na atmosfera” fragmento da música “Da Ponte Pra Cá” e
em “A noite tá boa, a noite tá de barato, mas puta, gambé, pilantra é mato”, trecho
da canção “Qual Mentira Vou Acreditar” , ambas as músicas são dos Racionais Mc’s.
Ocorre esse mesmo vocábulo gírio nos trechos “Frustração aqui no X é mato,
vários maluco gente boa vivendo como rato” e em “Choveu ninguém saiu no pátio
pilantragem é mal, traíragem aqui é mato” ambas as passagens são música “ Ideia
Criminal” do falecido rapper Mano Tuthão.
No rap brasileiro, há uma gíria que acabou sendo incorporada por todos os
rappers nacionais e adeptos do gênero, o termo “Vida Loka” que foi criado pelo
rapper “Mano Brown” líder do grupo Racionais Mc’s e por “Cascão” líder do grupo
Trilha Sonora do Gueto.
Essa expressão foi extremamente difundida por todo o rap brasileiro cujo
significado é uma pessoa que independentemente de estar envolvida no crime ou
não, o que ela fizer vai levá-la a Jesus, seja de uma forma legal ou de uma forma
triste.
O exemplo mais clássico de uma pessoa tida como “Vida Loka” foi “Dimas”, o
ladrão que morreu na cruz ao lado de Jesus Cristo e que se arrependeu de seus
pecados. Sendo que “Dimas” é mencionado na música “Vida Loka Parte II” dos
Racionais Mc’s.
Podemos comprovar o uso desse termo em três trechos de “Vida Loka Parte
II”. Primeiramente no trecho “Aos 45 do segundo arrependido, salvo e perdoado, é
Dimas o bandido”, também em “ É loko o bagulho arrepia na hora ó, Dimas primeiro
Vida Loka da história” e por fim em “A Dimas, o primeiro, saúde guerreiro, Dimas...
Dimas... Dimas”.
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Da mesma maneira que a expressão “Thug Life” que foi criada pelo falecido
rapper estadunidense Tupac Amaru Shakur tornou-se símbolo do rap norteamericano, o termo “Vida Loka” passou a ser a gíria clássica do rap nacional. Sendo
que seu significado é “Vida Difícil”, ou seja, uma forma de se referir aos negros dos
guetos americanos que em virtude de sua raça e de sua cor sofriam com o
preconceito, com a desigualdade social e com a miséria.
De acordo com as análises feitas nas músicas de rap constatamos que os
vocábulos gírios são fundamentais para a constituição das letras do gênero, visto
que a maioria dos rappers está intrinsecamente ligados às gírias, tanto pelo fato
desse recurso de expressão ser a linguagem desses cantores, como também, por
ser uma forma de autoafirmação e de identificação da periferia.
Assim, tais expressões gírias funcionam como uma espécie de idioma para
esses rappers, de modo que eles geralmente utilizam a gíria como um de seus
recursos valiosos de linguagem para dar sentido, musicalidade e ritmo as suas
canções.
No entanto, há também alguns rappers com mais instrução que se utilizam da
gíria para fazer com que sua música não perca as características típicas do rap, ou
seja, a predominância de expressões gírias.
Em virtude da variedade de gírias existentes e a sua peculiaridade, elas
conseguem atender as necessidades dos rappers, de forma que o cantor consegue
abordar vários tipos de temas, utilizando o recurso da gíria, sem que a letra do
compositor fique pobre, redundante ou menos poética.
Os principais centros do rap nacional possuem suas próprias gírias, no
entanto, muitas expressões gírias são tão difundidas que se tornam populares e
conhecidas em qualquer metrópole brasileira, como o termo clássico do rap
brasileiro “Vida Loka”, explicado acima.
Fica evidente que os rappers, na maioria dos casos, moradores da periferia
desenvolveram inúmeras gírias que interligadas com o rap demonstram toda a
insatisfação das classes menos privilegiadas com o governo e com os problemas
sociais que a aflige como a miséria, a violência, a desigualdade social, as injustiças,
entre outros males. E essa revolta é toda descarregada nas letras de rap.
Percebe-se também que as gírias inseridas nas músicas de rap são os gritos
de afirmação da periferia, bem como, a voz que clama por reconhecimento, por
29
educação, saúde e qualidade de vida. Por isso, fica óbvio a responsabilidade do rap
não somente com sua própria linguagem, mas também, como modificador social e
porta-voz dos sem vozes.
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4 METODOLOGIA
Esta análise sobre as gírias no rap brasileiro foi feita por meio da observação
de letras de rap, comprovação através de trechos das músicas do gênero
e da explicação dos termos gírios existentes nessas canções. Foram utilizadas
músicas de rappers de diferentes localidades, sobretudo, de São Paulo.
Tal pesquisa é considerada descritiva visto que é detalhado como se dá a
ocorrência de gírias nas músicas de rap, bem como, as expressões gírias mais
utilizadas, o porquê de se utilizar algumas expressões gírias e como aconteceu o
surgimento de alguns vocábulos gírios.
O método é considerado dedutivo, em virtude de termos analisado as gírias
de uma forma geral e em seguida termos focado apenas nas gírias existentes no rap
brasileiro, ou seja, partimos do geral para o particular.
Esta análise é, do ponto de vista da sua natureza, sobre verdades e
interesses universais. Através desta análise explicamos a relevância das gírias para
o rap, como também, elucidamos o que levou esses rappers a utilizar tais
expressões e esclarecemos o significado desses vocábulos em cada contexto.
Do ponto de vista da abordagem é considerada uma pesquisa qualitativa,
visto que, conforme as observações não são possíveis traduzir em números tal
análise e não se faz necessário o uso de métodos e práticas estatísticas.
A pesquisa é tida como explicativa, pois analisamos um grande número de
expressões gírias presentes no rap e explicitamos o significado de cada gíria
presente nos trechos destacados.
E de acordo com os procedimentos técnicos, esta pesquisa pode ser
considerada bibliográfica, pois por meio de muitas pesquisas em sites, livros e
artigos científicos conseguimos encontrar os dados necessários para a presente
análise.
Também decodificamos o significado das gírias em algumas músicas do
gênero. Além disso, mostramos o quão formadora de opinião e de indivíduos é a
linguagem do rap.
O corpo desta análise é composto pela utilização das seguintes músicas no
trabalho respectivamente: “Soldado do Morro (MV Bill), 12 de Outubro (Facção
Central), Super Billy (Conexão do Morro), Homem na Estrada (Racionais Mc’s),
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Fórmula Mágica da Paz (Racionais Mc’s), Da Ponte Pra Cá (Racionais Mc’s),
Desculpa Mãe (Facção Central), O Rei da Montanha (Facção Central), Qual Mentira
Vou Acreditar (Racionais Mc’s), Num Vai Dá Nada... Se Der é Pouca Coisa (Cirurgia
Moral), Eju Orendive (Brô Mc’s), Só Monstro (Thiagão e os Kamikazes do Gueto),
Jão (DMN), A Marcha Fúnebre Prossegue (Facção Central), A Guerra Não Vai
Acabar (Facção Central), Miséria (Inquérito), Vida Loka Parte II (Racionais Mc’s),
Chico Xavier do Gueto (Facção Central), 3° Opção (Trilha Sonora do Gueto), Vida
Loka Parte I (Racionais Mc’s), Minha Droga é Pesada (DJ Jamaika), Outro Caminho
(Facção Central) e Ideia Criminal (Mano Tuthão)”.
No entanto, transcrevemos apenas algumas músicas nos anexos, as quais
consideramos mais relevantes ao entendimento da análise. Assim, expomos
músicas de cantores variados e de lugares diversos.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho se ateve a analisar as gírias nas músicas de rap
brasileiro. No entanto, fizemos esclarecimentos sobre o que é a gíria, além de
termos traçado o histórico do rap no cenário mundial e nacional.
Diante das análises feitas constatamos primeiramente que a gíria é
componente fundamental para atuação do rap na frente mais notável desse gênero
musical, no caso, a consciência social.
Além disso, evidenciamos como a gíria no rap está extremamente ligada ao
cotidiano e a identidade do cantor. Como também percebemos o quanto as
expressões gírias enriquecem, dão sonoridade, poética e ritmo as músicas de rap.
Foi constatado também que os rappers utilizam as gírias em suas músicas
por vários motivos sociais, dentre eles, como uma forma de autoafirmação, de
identidade, de orgulho e, sobretudo, como um modo de buscar melhor qualidade em
suas canções, denunciando assim, os problemas que afligem seu cotidiano e o de
sua comunidade.
E por fim, fica evidente o quanto as expressões gírias enriquecem a Língua
Portuguesa, não somente acrescentando em termos de vocabulário, como também,
no que diz respeito à variedade linguística.
33
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VAGALUME, Letras de Músicas. Trilha Sonora do Gueto: 3° Opção. Disponível
em: < http://www.vagalume.com.br/trilha-sonora-do-gueto/3-opcao.html>. Acesso
em: 07 out.2013.
VAGALUME, Letras de Músicas. Racionais Mc’s: Vida Loka Parte I. Disponível
em: < http://www.vagalume.com.br/racionais-mcs/vida-loka-parte-1.html >. Acesso
em: 09 out.2013.
36
VAGALUME, Letras de Músicas. DJ Jamaika: Minha Droga é Pesada. Disponível
em: < http://www.vagalume.com.br/dj-jamaika/minha-droga-e-pesada.html>. Acesso
em: 09 out.2013.
VAGALUME, Letras de Músicas. Facção Central: Outro Caminho. Disponível em:
< http://www.vagalume.com.br/faccao-central/outro-caminho.html>. Acesso em: 11
out.2013.
VAGALUME, Letras de Músicas. Mano Tuthão: Ideia Criminal. Disponível em: <
http://www.vagalume.com.br/mano-tuthao/ideia-criminal.html
out.2013.
>.
Acesso
em:
11
37
ANEXOS
Anexo A: Soldado do Morro (MV Bill)
MV Bill: Minha condição é sinistra
Não posso dar rolé, não posso ficar de bobeira na pista
Na vida que eu levo eu não posso brincar
Eu carrego uma nove e uma HK
Pra minha segurança e tranqüilidade do morro
Se pá se pam eu sou mais um soldado morto
Vinte e quatro horas de tensão
Ligado na policia bolado com os alemão
Disposição cem por cento até o osso
Tem mais um pente lotado no meu bolso
Qualquer roupa agora eu posso comprar
Tem um monte de cachorra querendo me dar
De olho grande no dinheiro esquecem do perigo
A moda por aqui é ser mulher de bandido
Sem sucesso mantendo o olho aberto
Quebraram mais um otário querendo ser esperto
Essa porra me persegue até o fim
Nesse momento minha coroa tá orando por mim
É assim demorou já é
Roubaram minha alma, mas não levaram minha fé
Não consigo me olhar no espelho
Sou combatente coração vermelho
Minha mina de fé ta em casa com o meu menor
Agora posso dar do bom e melhor
Várias vezes me senti menos homem
Desempregado e meu moleque com fome
38
É muito fácil vir aqui me criticar
A sociedade me criou agora manda me matar
Me condenar e morrer na prisão
Virar noticia de televisão
Seria diferente se eu fosse mauricinho
Criado a sustagem e leite ninho
Colégio particular depois faculdade
Não, não é essa minha realidade
Sou caboclinho comum com sangue no olho
Com ódio na veia soldado do morro
REFRÃO: Feio e esperto com uma cara de mal
A sociedade me criou mais um marginal
Eu tenho uma nove e uma HK
Com ódio na veia pronto para atirar (2x)
MV Bill: Um pelo poder dois pela grana
Tem muito cara que entrou pela fama
Plantou na boca tendo outra opção
Não durou quase nada amanheceu no valão
Porque o papo não faz curva aqui o papo é reto
Ouvi isso de um bandido mais velho
Plantado aqui não tenho irmão
Só o cospe chumbo que tá na minha mão
Como pássaro que defende seu ninho
Arrebento o primeiro que cruzar meu caminho
Fora da lei chamado de elemento
Agora o crime que dá o meu sustento
Já pedi esmola já me humilhei
Fui pisoteado só eu sei que eu passei
Eu to ligado não vai justificar
Meu tempo é pequeno não sei o quanto vai durar
39
É pior do que pedir favor
Arruma um emprego tenho um filho pequeno seu doutor
Fila grande eu e mais trezentos
Depois de muito tempo sem vaga no momento
A mesma história todo dia é foda
É isso tudo que gera revolta
Me deixou desnorteado mais um maluco armado
Tô ligado bolado quem é o culpado
Que fabrica a guerra e nunca morre por ela
Distribui a droga que destrói a favela
Fazendo dinheiro com a nossa realidade
Me deixaram entre o crime e a necessidade
REFRÃO: Feio e esperto com uma cara de mal
A sociedade me criou mais um marginal
Eu tenho uma nove e uma HK
Com ódio na veia pronto para atirar (2x)
MV Bill: A violência da favela começou a descer pro asfalto
Homicídio, seqüestro, assalto
Quem deveria dar a proteção
Invade a favela de fuzil na mão
Eu sei que o mundo que eu vivo é errado
Mas quando eu precisei ninguém tava do meu lado
Errado por errado quem nunca errou
Aquele que pede voto também já matou
Me colocou no lado podre da sociedade
Com muita droga muita arma muita maldade
Vida do crime é suicídio lento
Bangu 1 2 3 meus amigos lá dentro
Eu tô ligado qual é sei qual é o final
Um saldo negativo menos um marginal
40
Pra sociedade contar um a menos na lista
E engordar a triste estatística
De jovens como eu que desconhecem o medo
Seduzidos pelo crime desde muito cedo
Mesmo sabendo que não há futuro
Eu não queria ta nesse bagulho
Já tô no prejuízo um tiro na barriga
Na próxima batida quem sabe levam minha vida
E vou deixar meu moleque sozinho
Com tendência a trilhar meu caminho
Se eu cair só minha mãe vai chorar
Na fila tem um monte querendo entrar no meu lugar
Não sei se é pior virar bandido
Ou se matar por um salário mínimo
Eu no crime ironia do destino
Minha mãe tá preocupada seu filho está perdido
Enquanto não chegar a hora da partida
A gente se cruza nas favelas da vida
REFRÃO: Feio e esperto com uma cara de mal
A sociedade me criou mais um marginal
Eu tenho uma nove e uma HK
Com ódio na veia pronto para atirar (4x)
41
Anexo B: 12 de Outubro (Facção Central)
Eduardo: Cadê o meu presente o meu abraço
A bicicleta que eu sonhei não vem com o laço
Não tem bolo nem alegria
É dia das crianças, mas não pra periferia
Queria fugir daqui é impossível
Eu não queria ver lágrimas é difícil
Meus exemplos de vitória estão todos na esquina
De Tempra, de Golfe vendendo cocaína
Bem melhores que minha mãe no pé da cruz
Pedindo comida um milagre pra Jesus
Antes dos doze eu vou estar com um oitão
Matando alguém sem compaixão
Vou ver o filho, a mulher chorando no corpo
Vou dar risada, vou dar mais uns quatro no morto
Eu vou brincar de assassino descarregando um 38
Legal a cara explodindo, voando um olho
Hoje é dia das crianças e daí
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir
Não existe presente na caixa com fita
Só moleque morrendo na mesa de cirurgia
REFRÃO: Hoje é dia das crianças e daí
Quem vê sangue não tem motivos pra sorrir
Não existe presente e alegria
Nem dia das crianças na periferia (2x)
Eduardo: Não dá pra ser criança comendo lixo
Enrolado num cobertor sujo e fedido
É dá esmola pelo amor de deus num dia
No outro é assalto não reage vadia
O que eu vou ser quando eu crescer
Quer dizer se eu crescer, se eu não morrer
Um assaltante de banco um assassino
Descarregando minha PT no seu filho
42
Eu vou fazer um rolê e buscar meu presente
Uma vítima, anel de ouro corrente
Vou mostrar minha pureza
Eu vou matar o cuzão por uma carteira
Feliz dia das crianças é 12 de outubro
Põe um brinquedo em cima do meu túmulo
Quem brinca com revolver não conhece a alegria
Não tem dia das crianças na periferia
REFRÃO: Hoje é dia das crianças e daí
Quem vê sangue não tem motivos pra sorrir
Não existe presente e alegria
Nem dia das crianças na periferia (2x)
Eduardo: Posto de saúde paz Grajaú
Feliz 12 de outubro zona sul
Desrespeito um médico ausente
O filho do nordestino aqui não é gente
Depois querem formatura e alegria
Mais que se foda se eu estou com meningite pneumonia
O Brasil não me respeita quer me vê morrer
Quer um preso a mais porque que eu fui nascer
Pra não ter um carrinho um Danone
Ou trafico uma droga ou morro de fome
Se não meter uma faca na suas costas
A minha chance é 100% de acabar nessa bosta
Pra ter um brinquedo só com latrocínio
Se não for jogador de futebol vou ser bandido
Queria ter um videogame como eu queria
Mas não tem dia das crianças na periferia
REFRÃO: Hoje é dia das crianças e daí
Quem vê sangue não tem motivos pra sorrir
Não existe presente e alegria
Nem dia das crianças na periferia (4x)
Menino: É mano, queria um videogame e de presente ganhei um cano!
Não tem dia das crianças na periferia!
43
Anexo C: Super Billy (Conexão do Morro)
REFRÃO: Puxa fundo vai morrer
Num segundo quer o quê
Eu não quero ver o mal
De um irmão que não sabia o que era o crack (1x)
Mano Cachorrão: Ah superior Super Billy isso te destrói
Por dentro me corrói quando vejo você querendo ser super-herói
Não gosto da parada
Ligo os camaradas
Isso traz desgraça,
Escapam não escapam, às vezes escapam
Estão na madrugada
Dando várias mancadas
Que loucura, quem vive sabe dizer
Quem morre sabe por que, na balada ao amanhecer
Criptonita permanece na dupla sobrevivente
Embalado com medo do sol
Billy enrolado parece um anzol
Com sua energia atraente Billy sente
Sua língua ficando dura de repente
Ao ataque ao ataque, overdose o ataca
Pega uma colher põe debaixo da língua senão ele não escapa...
Vozes de fundo: O cara tá morrrendo! Se o cara morrer cê tá fudido! Vão cobrir
você mano!
Eu não tô nem aí, eu vou sair fora
Mano Cachorrão: Grande Madureira incentivando vários moleques
Puta mano errado quase vai o primeiro pivete
O primeiro pega ficou relax
O segundo jamais esquece
REFRÃO: Mais um
Nascido e criado na Zona Sul
Rejeitado na favela já foi mais um
Na periferia só mais um rapaz comum
Mais um rapaz comum, mais um rapaz comum (2x)
44
Mano Cachorrão: Billy Billy Billy pá, Billy Billy Billy vou já
Ao passar do tempo Billy se recupera
Tira a colher debaixo da língua e vai buscar uma pedra
Pra você ver, Billy no rolê
É normal sair na captura de um real
Sem dinheiro no bolso tem maluco que passa mal
5 da matina seu pai tem que trampar
Vira a esquina e encontra o Billy perto do bar do Lagoa
Onde duas semanas atrás mataram uma coroa
Pai do Billy: Billy que você faz essa hora no bote?
Billy: Aí pai, saí com as minas
Tô chegando agora
Mano Cachorrão: Simplesmente Billy mente, ele tava no barraco a noite inteira
Se acabando no cachimbo com Madureira
Billy no peão encontra com Cipó
Cipó com uma na mão já chama pro mocó
Um, dois, três, Billy não pensa duas vez
O cachimbo já tá pronto foi Cipó que fez
Billy bate na porta do céu, escuta réu
Na sua mãe a dor bate no peito, não tem jeito
Pra seus amigos entrou no crime, perdeu respeito
Seu João revela com dona Maria
Presente o fim de um sonho de ver o filho formado em advocacia
Como tantas vezes prometia para os seus pais
Que não mexia com drogas estava bem na escola e seus professores eram legais
Dona Maria, sempre dizia:
Abre o olho João! Agora é mais difícil controlar o vício
Está viciado na pedra
E cada vez que fita quer mais um pega !
REFRÃO: Mais um
Nascido e criado na Zona Sul
Rejeitado na favela já foi mais um
Na periferia só mais um rapaz comum
45
Mais um rapaz comum, mais um rapaz comum (2x)
Mano Cobra: Mais uma vítima
Não ficou pista, criptonita
Fase da vida é assim, dura de viver
Quem vive sabe dizer, quem morre sabe por quê
Dona Maria pobre velha esquecida na favela
Seu João indisposto, morrendo de desgosto
Seu João é preto velho tem malícia
Já entregou pra Deus só aguarda notícia
É triste pro pai saber que já seu filho vai
Só com companhias erradas, ideias furadas, criaturas que não valem nada
O primeiro tomou o bote
Madureira foi linchado pro lado do Inocope
Paulada, pedrada até choque pelo que fez foi até pouco
Essa morte judiaram, depois deram dois pipoco no coco, mas aí já estava morto
É o final de quem apronta
Acerto de contas
Mano Cachorrrão: Vou já, dez em ponto, vamos pro ponto, é logo ali
Vamos pegar um busão pro parque e ir direto pro Aracati
Mano Cachorrão: Tem uma festa lá em cima
Mano Cobra: Mas antes vamos passar no Vaz de Lima
Lá eu soube que Cipó já foi
Um, dois, não deram boi
Rápido ninguém viu, pow, pow, pow e já caiu
Mais um pilantra que subiu, em meados de abril
15 de agosto de um ano qualquer
Foi a vez do Billy, morreu pro lado do Café
Amarrado, enforcado, morreu que nem viado
Vestido de mulher
Seu João não suportou o fato
Morreu duas semanas depois de infarto
Dona Maria, chora todo dia, têm saudades da família
Do seu velho, do seu filho, o terço agora é seu abrigo
46
Com ele na mão pede proteção
E pede pra ir embora
Olha para o céu e diz que toda vez que chove é seu menino que chora
Helião: Pode crê Cobra!
Aí são várias histórias
Todos tem lembrança que vem do além
Mas também veja bem, não é bom pra ninguém
Aqui na área também tem esse problema também
Só digo amém, Helião não tem rancor de ninguém
Tudo bem, bem bem
Não é só pra mim, Conexão do Morro
Manos de bem bem é sempre assim, som que chapa o globo
Sandrão também faz parte do jogo
Sandrão: Da licença vou chegar
Só pra sumariar
Todos sabem que se é pra por na ceda
Então proceda
Mano sai de mim
Sem essa de cachimbo
Tô tranquilo que é da minha biqueira sabe, coletividade
A toda parte Jardim Imbé, Capão Redondo e Pirituba nem se fale
Helião é compadre
Conexão do Morro e RZO é de praxe
REFRÃO: Mais um
Nascido e criado na Zona Sul (periferia é assim)
Rejeitado na favela já foi mais um
(Essa é a lei de um por um, rapaz comum já foi mais um)
Saiam da mira dos tira. Vira estatística na Zona Sul
Mais um rapaz comum, mais um rapaz comum (2x)
Sampler: Posso eu fazer lamento
Vou fazer lamento
47
Anexo D: Eju Orendive (Brô Mc’s)
Aqui o meu rap não acabou
Aqui o meu rap está apenas começando
Eu faço por amor, escute, faz favor
Está na mão do senhor, não estou para matar
Sempre peço a Deus
Que ilumine o seu caminho e o meu caminho
Não sei o que se passa na sua cabeça
O grau da sua maldade não sei o que você pensa
Povo contra povo, não pode se matar
Levante sua cabeça
Se você chorar não é uma vergonha
Jesus também chorou quando ele apanhou
Chego e rimo o rap guarani e Kaiowa
Você não consegue me olhar
E se me olha não consegue me ver
Aqui é o rap guarani que está chegando pra revolucionar
O tempo nos espera e estamos chegando
Por isso venha com nós
REFRÃO: Nós te chamamos pra revolucionar
Por isso venha com nós, nessa levada
Nós te chamamos pra revolucionar
Aldeia unida, mostra a cara (2x)
Vamos todos nós no rolê
Vamos todos nós, índios festejar
Vamos mostrar para os brancos
Que não há diferença e podemos ser iguais
Aquele boy passou por mim
Me olhando diferente
Agora eu mostro pra você
Que sou capaz, e eu estou aqui
Mostrando para você
O que a gente representa
Agora estamos aqui
Porque aqui tem índios sonhadores
48
Agora te pergunto rapaz
Por que nós matamos e morremos?
Em cima desse fato a gente canta
Índio e índio se matando
Os brancos dando risada
Por isso estou aqui
Pra defender meu povo
Represento cada um
E por isso, meu povo,
Venha com nós
REFRÃO: Nós te chamamos pra revolucionar
Por isso venha com nós, nessa levada
Nós te chamamos pra revolucionar
Aldeia unida, mostra a cara (2x)
49
Anexo E: Só Monstro (Thiagão e os Kamikazes do Gueto)
Thiagão: Eu sei que é foda, os dólar, os ouro seduz
A patricinha sai do curso os mano vai de capuz
Pra catar o celular bolsa da lui viton
Mostra que a vida é loka e não é só no capão
Os menor é problema, atitude no sangue
Tá nem aí mete um latrô no japonês de Mustang
O bango é loco, na bala, na faca ou até no soco
Saddam Hussein de 15 anos loco apetitoso
Na caçada do cifrão só monstrão jão
Apetite até umas hora deixa os boy com o cu na mão
Na missão não vai faia, se for é pra ganha
Os moleque vai busca o que as mãe não puderam dá
Vai fala que o rap é apologia pra roubar
Do que adianta eu fala pros moleque não roubar, não traficar
Se a necessidade bate a porta
A favela de havaiana e os boy de 12 mola
É foda diz pra mim em quem se espelha
No pai que serra pinga ou no patrão de golfe AK
É cruel a vida num é doce igual o mel
Fala pro filho não rouba não mata que num vai pro céu
Que céu a gente vive é no inferno tio
Vai fica moscano aí e o inimigo de fuzil
Vai pangua, vai perder, vai morrer, fim de jogo
Com tensão meninão na quebrada é só monstro
REFRÃO : É nossa cara ganha parti pro tudo ou nada
O caçador com a giripó pronto pra pega caça
Mosca num dá, doidão o tempo passa
Se quiser prata de bali no pescoço desimbaça (2x)
Thiagão: Aí rapaz fortão só monstrão na pegada
Vai busca as tornado, os corola, os masta
Que nada espera caí do céu, só cai chuva
Corre atrás pega as arma que a pista tá uva
50
Invade a casa a milhão, estilão, avalanche
A família na sala comendo MC lanche
Bota o terror vai deixa a playboyzada em choque
Leva o fuzion, abre o porta mala e joga dentro o cofre
Na madrugada a molecada quebra a vidraça no chute
Cai pra dentro leva as digital e os notebook
Madame você viu que 50 centavos caro
Menino: O tia o tia, da uma moedinha pra me ajuda ai?
Madame: Não, não moleque, eu não tenho dinheiro sai de perto do
meu carro sai, sai!
Menino: Aí não vai da não?
Então é o seguinte, desce do carro vadia, perdeu
Thiagão: Nego uma moeda pro menor perdeu seu carro
Você acha que todo ladrão já nasce ladrão?
A revolta nasce dentro do peito igual vulcão
E se entra em erupção sai que sai, sai da frente
Lúcifer tá de bombeta, quadrada e vários pente
Preparado pra levar, esquartejar no cativeiro
Não quis pagar resgate, encomenda outro herdeiro
Uns mata pelo dinheiro, outros vive pelo dinheiro
Dinheiro, maldito que arrasta vários parceiro
A cena é foda, mete bala e sai dando risada
Desde pivete tem a mente de psicopata
É lamentável, levo de quebrada, o barato é loco
Um oitão canela seca na cena explodindo coco
Só doido, na quina vários loco tá sinistro
Prepara as vela que daqui a pouco um tá subindo
Morreu pela boca falo demais
Bla bla bla, leva e traz, bum já era jaz!
REFRÃO: É nossa cara ganha parti pro tudo ou nada
O caçador com a giripó pronto pra pega caça
Mosca num dá, doidão o tempo passa
Se quiser prata de bali no pescoço desimbaça (2x)
Thiagão: É só monstrão
No gueto a molecada puxa o cão
51
A pista tá sinistra, os terrorista na missão, do cifrão
Nem tenta se envolve se for panguão
Aqui no interior o bango é loco jão
Sequestro, assalto, os menor apetite, os doido domina a quebrada
Dinheiro no bolso, rolê no pescoço, Wisk, farinha e quadrada
Os pano bolado, as moto pra fuga, os moleque capuz é macaca
A cena é de mil, a fuga é de mil, a polícia nem pode tocaia
Na quebrada só monstro, e no gueto só monstro
E no rap só monstro, e no crime só monstro
O menor só monstro, na cadeia só monstro
Primo no interior do Paraná o barato é loco
52
Anexo F: Jão (DMN)
Max: Respeito vai, logo cola a ofensa
Intolerância, basta resolver na violência
Vergonha sentença, humilhado segue o fraco
Treto não foi pã, se fudeu foi zuado
Julgado, culpado sem direito a recorrer
Pro cê vê, ter dinheiro é diferente de poder
Vem trator passa em cima, vai faz chacina
Noite cai vão atrás te caçar de carabina
Preparado pro combate pra num toma prejuízo
Será que você ta preparado pro inimigo?
Sentado na calçada, você e seus amigo
Moscando na tragada, mosco mó delírio
Céu enfumaçado, cachimbo cagueta
Acendeu poluiu, consumiu aí já era
Qual é a sua meta? Moleque me explica
Enquanto o mundo gira, você fuma e parasita
Vida na periferia, tá pensando o que?
Não se programou, vacilou vai sofrer
Contar com a sorte por aqui só se for loko
Corre que seu berço não é de ouro
REFRÃO: Pra onde você vai desse jeito jão?
Desnorteado na nóia, o mais bandidão
Pensando que tá bom, usa droga e fala gíria
Vai se liga, vai se liga (2x)
Max: Ó liga lá, veja só quem é o trouxa
As 10 da manhã olho azul tira onda
No bar, na porta da facul sentado à mesa
Playboy ri à toa, maconha e cerveja
53
Se dedicar pra que? Se é tudo gozolândia
Rezo pro pai morre, zóio azul qué herança
E você tá no plano de quem? ou do que?
Bem loko, fudido, sorrindo por quê?
Pra resolver, quer PT, justo, quem se liga
Pra onde você for sua cor atrai policia
Barão faz lei pra te fuder , você num entende?
Que o peso do martelo pra nós é diferente
Dinheiro sem poder num adianta
Fiança livra um, mais de mil vai pra tranca
Enquadra nossos moleque, barão qué, muitos querem, veja bem
Preto e pobre na cadeia aos 16
Se a ideia convém nesse momento então me escuta
Esquece os B.O., tira a touca esconde as luva
A vida é muito mais cabulosa que cê pensa
Sai dessa, mó grupo, maluco se orienta
REFRÃO: Pra onde você vai desse jeito jão?
Desnorteado na nóia, o mais bandidão
Pensando que tá bom, usa droga e fala gíria
Vai se liga, vai se liga (2x)
LP: Supere a ilusão e o veneno, só veneno
E toda fantasia que está vivendo
Quem falou que proceder é desse jeito, jão?
Que vacilão é quem tem um diploma na mão?
Sempre quer o melhor, mas é o pior
Faz da vida um nó, a gente assim, cedo vira pó
Um desperdício só, viver é coisa melhor
Da mó dó, o sofrimento que faz ao redor
Zé Povinho qué o seu sucesso (abraça)
54
Esse caminho o final é cara na vala
Tem outra forma de respeito, morô
Mostrar a si mesmo como virar o jogo
Moral verdadeira, viver sem fronteira
Da vida derradeira, uma lembrança passageira
Vai brilhar na multidão na hora certa
Somente os escolhidos, bem disse um poeta
Esperto e preparado para guerra, sincera
Aquela que liberta o coração e a mente da merda
Olha os patrício, veja bem quem se ferra
Pelo amor, já num basta a miséria?
Migalha é anistia, doação pra família
Alimento hoje e a morte no outro dia
Os coxinhas cada vez mais violentos
De segunda a segunda, os dias são sangrentos
A mãe acende vela, reza, faz promessa
O pai é mais frio, vive em estado de alerta
Mas você num se interessa, jão
Pra onde vai, já foram uma pá de irmão
REFRÃO: Pra onde você vai desse jeito jão?
Desnorteado na nóia, o mais bandidão
Pensando que tá bom, usa droga e fala gíria
Vai se liga, vai se liga (2x)
55
Anexo G: Miséria (Inquérito)
Jornalistas: (Imagens impressionantes, abuso de autoridade,
O pior terremoto dos últimos 200 anos,
Durante a semana vários pedófilos foram presos,
Deus vai julgar a nossa terra,
Quem vai acabar é a raça humana).
Renan: Pra quem pensava que o país da pizza era a Itália
Pra quem achava que a fome matava só na Somália
Abraça, que nada bem vindo ao Brasil
Vou te mostrar o outro lado que talvez você nunca viu
Cada rebelião aqui tiozão é uma Chernobyl
E a eleição deveria ser todo primeiro de Abril
Da Casa Branca ao inferno só muda a cor do terno
De Porto Alegre ao Acre a pobreza só muda o sotaque
Miséria não tem fuso horário nem idioma
É a mesma no mundo todo desde o Império de Roma
(Han)
E o som de estômago vazio roncando
Não muda do Árabe para o Castelhano
A fome é a única língua universal
Sem tradução, fala com a expressão facial
Talvez só vão dar atenção para tudo isso aqui
Quando a quebrada tremer e cair que nem o Haiti
REFRÃO: (Miséria)
Olha como o mundo está
Onde o ser humano vai parar
(Miséria)
É melhor se preparar
Essa bomba ainda vai estourar (2x)
Renan: Alemão matou Judeu, Judeu mata Palestino
Sangue no Iraque vira petróleo nos Estados Unidos
Coca da Colômbia dentro de um Nigeriano
Num avião Francês rumo ao nariz de um Britânico
Negócio da China do mafioso Italiano
56
Conta na Suíça, charuto Cubano
Empresário Espanhol capota Jipe Japonês
Depois de beber um litro de uísque Escocês
Turista Holandês morre no Brasil numa roleta Russa
Escolhe a moeda eu digo quanto custa
Tua vida, em dólar, em euro, real
Até a morte aqui tem variação cambial
Na CPI ninguém vai em cana
Corrupção é novela Mexicana
E o Brasileiro na urna toda vez
Parece até piada de Português
REFRÃO: (Miséria)
Olha como o mundo está
Onde o ser humano vai parar
(Miséria)
É melhor se preparar
Essa bomba ainda vai estourar (2x)
Renan: E o povo bebe no copo Americano
Come churrasco grego, no pão francês
Vai trampar na condução apertado pique corredor Polonês
Cansei, de ver as tias na porta dos hospitais
Das cadeias, de pé em fila Indiana
Vendendo produtos do Paraguai, de Taiwan
Correndo pra não ir em cana
Se perguntando quem é mais animal na hora da ação
A PM ou o Pastor... Alemão.
REFRÃO: (Miséria)
Olha como o mundo está
Onde o ser humano vai parar
(Miséria)
É melhor se preparar
Essa bomba ainda vai estourar (2x)
57
Anexo H: Vida Loka Parte II (Racionais Mc’s)
DJ KL Jay: Firmeza total, mais um ano se passando aí graças a Deus a gente tá
com saúde, aê morô, com certeza. Muita coletividade na quebrada, dinheiro no
bolso, sem miséria e é nóis,
(Som de copos brindando)
Edi Rock: Vamo brindar o dia de hoje, o amanhã só pertence a Deus. A vida é loka
Mano Brown: Deixa eu fala, pocê
Tudo, tudo, tudo vai, tudo é fase irmão
Logo mais vamo arrebentar no mundão
De cordão de elite, 18 quilate
Põe no pulso, logo bright que tal, tá bom
De lupa, mochilon, bombeta branca e vinho
Champanhe para o ar, que é pra abrir nossos caminhos
Pobre é o diabo, e eu odeio a ostentação
Pode rir, ri, mais não desacredita não
É só questão de tempo, o fim do sofrimento
Um brinde pros guerreiro, zé povinho eu lamento
Vermes que só faz peso na terra
Tira o zóio,tira o zóio, vê se me erra
Eu durmo pronto pra guerra e eu não era assim
Eu tenho ódio e sei o que é mau pra mim
Fazer o que se é assim Vida loka cabulosa
O cheiro é de pólvora, eu prefiro rosas
E eu que... e eu que sempre quis um lugar
Gramado e limpo, assim verde como o mar
Cercas brancas, uma seringueira com balança
Disbicando pipa cercado de criança
Oh, Oh, Brown, acorda, sangue bom
Aqui é capão redondo tru não o Pokemon
Zona sul é invés, é stress concentrado
Um coração ferido, por metro quadrado
Quanto mais tempo eu vou resistir ?
Pior que eu já vi meu lado bom na UTI
58
Meu anjo do perdão foi bom mais tá fraco
Culpa dos imundo, do espírito opaco
Eu queria ter, pra testa e vê um malote
Com glória, fama embrulhado em pacote
Se é isso que seis qué vem pega
Jogar num rio de merda e ver vários pula
Dinheiro é foda na mão de favelado, é mó guela
Na crise, vários pedra noventa, esfarela
Eu vou joga pra ganha o meu money, vai e vem
Porém quem tem, tem, não cresço o zóio em ninguém
O que tiver que ser, será meu
Tá escrito nas estrela vai reclama com Deus
Imagina nóis de Audi ou de Citroen
Indo aqui, indo ali, só pã de vai e vem
No capão, no apura, vou cola na pedreira
Do são bento, na fundão, de pião,sexta-feira
De teto solar o luar representa
Ouvindo Cassiano, ah os gambé não guenta
É mais se não der nego o que é que tem?
O importante é nóis aqui junto ano que vem
E o caminho da felicidade ainda existi
É uma trilha estreita, é em meio à selva triste
Quanto cê paga pra vê sua mãe agora
E nunca mais vê seu pivete ir embora?
Dá a casa, dá o carro uma Glock, e uma Fau
Sobe cego de joelho mil e cem degrau
Quente é mil grau o que o guerreiro diz
O promotor é só um homem, Deus é o juiz
Enquanto Zé povinho apedrejava a cruz
E o canalha fardado cuspiu em Jesus
Aos 45 do segundo arrependido
Salvo e perdoado é Dimas, o bandido
É loko o bagulho arrepia na hora, ó
Dimas: primeiro Vida Loka da história
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Eu digo, glória, glória sei que Deus tá aqui
E só quem é, só quem é vai sentir
E meus guerreiro de fé, quero ouvi, quero ouvi
E meus guerreiro de fé quero ouvi
Coro: Firmão! Programado pra morre nóis é
Mano Brown: Ao lado direito do pai, é quente
Coro: Certo, é certo, é crer no que der
Mano Brown: Firmeza não é questão de luxo, não é questão de cor
É questão que fartura alegra o sofredor
Não é questão de presa, nem cor, a ideia é essa
Miséria traz tristeza e vice-versa
Inconscientemente vem na minha mente
Inteiro: uma loja de tênis, o olhar do parceiro
Feliz de poder comprar o azul, o vermelho
O balcão, o esquerdo, o estoque, a modelo
Não importa: dinheiro é puta e abre as porta
Dos castelo de areia que quiser
Preto e dinheiro são palavras rivais?
É? Então mostra pra esses cú como é que faz
O seu enterro foi dramático como o blues antigo
Mas de estilo me perdoe de bandido
Tempo pra pensar: qué para? que cê qué?
Viver pouco como um rei ou muito como um Zé
Às vezes eu acho que todo preto como eu
Só quer um terreno no mato só seu
Sem luxo, descalço, nadar num riacho
Sem fome, pegando as fruta no cacho
Aí ,truta, é o que eu acho, e eu quero também
Mas em São Paulo, Deus é uma nota de cem
Vida Loka
Mano Brown: Porque o guerreiro de fé nunca gela, não agrada o injusto e não
amarela. O rei dos reis foi traído e sangro nesta terra. Mas morrer como um homem
é o prêmio da guerra. Mas ó, conforme for, se precisar, afogar no próprio sangue
assim será. Nosso espírito é imortal, sangue do meu sangue. Entre o corte da
espada e o perfume da rosa, sem menção honrosa, sem massagem: a Vida é Loka
nego e nela eu tô de passagem.
60
A Dimas: o primeiro
(Som de brinde com copos)
Saúde, guerreiro
Dimas... Dimas... Dimas
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Anexo I: 3° Opção (Trilha Sonora do Gueto)
Cascão: Celular, óctoc na mão, do Zé Povim
É uma arma poderosa nisso eu acredito sim
Embocamo num assalto de pistola e matraca
E eu grudei logo o gerente com a quadrada engatilhada
O meu parceiro com a matraca dominava o salão
Karatê: Zé povim era mato tudo deitado no chão
Nóis achava que é o seguinte que o bagui tava aguentado
Mó engano sangue bom, tava memo era secado
Tinha ROTA, tava o GOE a PM mais o GAP
Tava tipo aquela fita que cê viu na reportagem
Cascão: E eu grudado cum refém, comecei raciocinar
Os motivos que fizeram eu no crime ingressar
Residente do Capão, ser humano pique jão
Que não teve uma cultura uma boa educação
Morador de uma favela que aprendeu morrer por ela
Nêgo, né comédia não, sofredor que num dá guela
Voltando para a real, eu me vi logo enquadrado
Me lembrei ni um minuto que eu tava ni um assalto
Escutava a gritaria
Karatê: Vamô pega e lixar
Vagabundo não tem vaga nesse mundo que Deus dá
Cascão: Veja bem comé as coisas ninguém tinha coração
Só eu, e Deus sabia da minha situação
Eu peguei minha quadrada fui pra guerra cum o sistema
Só que pá é o seguinte sempre existe um dilema
A vida traiçoeira me pregou uma lição
Eu só tinha dois minuto pra viver três opção
Se eu saísse pelo fundo eu morria assassinado
Se eu vazasse pela frente pelos bico era lixado
Karatê: E a 3ª opção
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Cascão: Era eu engatilhar
A quadrada na cabeça e eu mesmo me matar
Só que Deus tava presente acredite eu não me engano
Em fração de 2 segundos eu bolei aquele plano
'Aí xará, é o seguinte eu só vou me entregar
Quando aquele sem futuro do Datena vim filmar
Tô ligado que prucêis, eu não valo 1 real
Só que cê seis invadi, o refém vai passa mal
Ele tá todo borrado, tá mijado, tá com medo
Tá pagando até com juros o racismo e o preconceito'
De repente, pá, pá, caraio que tiroteio
Fiquei com a cabeça à mil me bateu um desespero
Sampler: Mas se eu sair daqui eu vou mudar (2x)
Cascão: Parece que é hoje, quando eu da cena lembro
Minha roupa cheia de sangue eu algemado mó veneno
Lixado pelos bico, com ajuda dos gambé
Desacerto no crime eu tô ligado qual que é
Um dia é da caça o outro do caçador
Ditado que meu pai já herdara do meu vô
Quando eu era pivete, me lembro ele dizia
Que um homem sem moral sempre entra numa fria
Mas só que eu cresci desandei virei ladrão
Eu só tinha 18 quando eu fui pra detenção
Karatê: Aí choque, a rua tá daquele jeito ó. Uma pá de mano armado não enxerga
um palmo à frente do Nariz. Pensa que é super-ladrão, super-herói. Só que aí jão,
São Paulo não é Hollywood, os cara tá iludido.
O diabo dá o pé pra sugar até a alma. Sorte que eu tenho uns parceiro lado a lado
comigo aí pra debater minha loucura morô.'
Cascão: Cês devem tá achando, que isso é ibope
Ibope é trabalhar, eu em cana eu era loque
Os manos na ventana gritava 'vai morrer
Triagem na cadeia se não tiver proceder'
Foi lá que eu conheci, a tal da rua 10
Também foi lá que eu li, a história de Moises
O tempo foi passando, eu fui me adaptando
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E quando eu fui notar já passará 7 anos
Bem que meu pai dizia:
Pai: filho o tempo é rei,tentei te dar o melhor me desculpe se eu falhei
Cascão: Aquilo na minha mente, batia tipo Tyson
Viver na detenção, tem que ser homem de aço
O homem só é grande, quando ele se ajoelha
Diante do senhor pra tomar puxão de orelha
Naquela madrugada eu não consegui dormir
Fazendo um castelo liberdade vem ni mim
O tempo foi passando, meu corpo foi cansando
O dia clareando na sequência eu fui deitando
Sampler: Mas se eu sair daqui eu vou mudar. Dá meu revolver enquanto cristo não
vem. Mas se eu sair daqui eu vou mudar. 15 caras lá fora, diversos calibres. Mas se
eu sair daqui eu vou mudar. Quero sair do inferno, e não voltar mais. Mas se eu sair
daqui eu vou mudar.Vida Longa aos bandidos beneficentes, e os maluco
conscientes. Mas se eu sair daqui eu vou mudar. Este é o testemunho de um
homem
64
Anexo J: Vida Loka Parte I (Racionais Mc’s)
Mano Brown: Vagabundo queria atacar do malucão, usou meu nome, o pipoca
abraçou ,foi lá na porta da minha casa, botou pânico em todo mundo 3 horas da
tarde e eu não tava lá.
KL Jay: E, mais aí, Brown, tem uns tipo de mulher que não dá nem pra comentar
meu
Mano Brown: E eu nem sei quem é os maluco, isso é que é foda!
Edi Rock: Vamo atrás desses pipoca aí e já era!
Mano Brown: Atrás de quem? Ir aonde? Não sei nem quem é mano. Mano, não
devo, não temo, e dá meu copo que já era.
(Conversa ao telefone)
Abrão: E aí, bandido mau? Como é que é, meu parceiro?
Mano Brown: E aí, Abrão, firmão, truta?
Abrão: Firmeza total, Brown. E a quebrada aí, irmão?
Mano Brown: Tá pampa. Fiquei sabendo do seu pai, lamentável, hein, truta, meu
sentimento mesmo, hein, mano.
Abrão: Vai vendo, Brown. Meu pai morreu e nem deixaram e ir no enterro do meu
coroa, hein irmão
Mano Brown: Isso é louco. Cê tava aonde?
Abrão: Tava batendo uma bola, meu. Fiquei na maior neurose irmão
Mano Brown: Aí foram te avisar
Abrão: Aí vieram me avisar. Mas tá firmão, Brown, tô firmão, logo mais aí eu tô na
quebrada com vocês aí!
Mano Brown: É quente. Na rua também não tá fácil não moro truta. Uns juntando
inimigo, outros juntando dinheiro, sempre tem um pra testa sua fé, nós tá ligado,
sempre tem um corre a mais pra fazer. Aí mano, liga nóis aí qualquer coisa, cê tá
ligado, mano, lado a lado nós até o fim, morô, irmão.
Abrão: Tô ligado
Mano Brown: Fé em Deus que ele é justo ei irmão nunca se esqueça
Na guarda, guerreiro levanta a cabeça truta
Onde estiver seja lá como for
Tenha fé porque até no lixão nasce flor
Ore por nós pastor, lembra da gente
No culto dessa noite, firmão segue quente
Admiro os crente, da licença aqui
Mó função, mó tabela, pow, desculpa aí
Eu me, sinto às vezes meio pá, inseguro
Que nem um vira-lata sem fé no futuro
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Vem alguém lá, quem é quem, quem será meu bom
Dá meu brinquedo de furar moletom
Porque os bico que me vê com os truta na balada
Tenta ver, que saber de mim não vê nada
Porque a confiança é uma mulher ingrata
Que te beija, e te abraça, te rouba e te mata
Desacreditar, nem pensa, só naquela
Se uma mosca ameaça me cata piso nela
O bico deu mó guela, ró bico e bandidão
Foi em casa na missão, me trombar na Cohab
De camisa larga, vai saber Deus que sabe qual é
A maldade comigo inimigo no migué
Tocou a campanhia plin, pá trama meu fim
Dois maluco armado sim, um isqueiro e um stopim
Pronto pra chamar minha preta pra falar
Que eu comi a mina dele, há, se ela tava lá
Vadia, mentirosa, nunca vi tão maior falha
Espírito do mal, cão tipo senta e saia
Talarico nunca fui, é o seguinte
Ando certo pelo certo, como dez e dez é vinte
Já penso doido, e se eu tô com o meu filho
No sofá de vacilo desarmado era aquilo
Sem culpa, sem chance, nem pra abri a boca
Ia nessa sem sabe
Abrão: Pra você vê
Mano Brown: Vida Loka
Abrão: E aí Brown, nós ta aqui dentro, mas demoro,truta, liga nós, irmão.
Mano Brown: Não, truta, jamais vou levar problema pra vocês, nós resolve na rua e
rapidinho, também.
Abrão: Que é isso.
Mano Brown: Mas aí, nem esquenta. E aquele jogo no final do ano que você falou.
Abrão: Então, truta, demorou. No final do ano nós vai marcar aquele jogo lá. Vem
você, o Blue, os cara dos Racionais tudo aí morô, meu? Visita aqui é sagrada,
safado não atravessa não, morô?
Mano Brown: Mais na rua num é não, até jack
Tem quem passa um pano impostor pé de breque
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Passa pro malandro a inveja existe, e a cada dez, cinco é na maldade
A mãe dos pecado capital é a vaidade
Mais se é pra resolver, se envolver, vai meu nome
Eu vou fazer o que, se a cadeia é pra homem
Malandrão eu, não, ninguém é bobo
Se quer guerra terá se quer paz, quero em dobro
Mais verme é verme, é o que é
Rastejando no chão, sempre embaixo do pé
E fala uma, duas vez, se marcar até três
Na quarta xeque-mate, que nem no xadrez
Eu sou guerreiro do rap e sempre em alta voltagem
Um por um, Deus por nós, tô aqui de passagem
Vida loka eu não tenho dom pra vitima
Justiça e liberdade, a causa é legitima
Meu rap faz o cântico do lokos e dos românticos
Vô por o sorriso de criança, onde for
Pros parceiros tenho a oferece minha presença
Talvez até confusa, mais real e intensa
Meu melhor Marvin Gaye, sabadão na marginal
O que será, será, é nós vamo até o final
Liga eu, liga nós, onde preciso for
No paraíso ou no dia do juízo pastor
E liga eu, e os irmão, é o ponto que eu peço
Favela, fundão, imortal nos meus versos
Vida loka
Abrão: E aí Brown, e os pião, irmão?
Mano Brown: Tô com uns mano aí, eu vou, to indo aí pra zona leste ali, tipo umas
onze horas já tô voltando, morô, meu
Abrão: Ei Brown, você faz a contagem, eu vou desligar, mas manda um salve pros
manos da quebrada aí morô, pro Gil, pro Batatão, pro Pacheco, pro porquinho, pro
Xande, pro Dé. Aí no dia do jogo os mano do Exaltassamba vai vim, manda um
salve pro Binho, morô Brown,aí, fica com Deus aí, irmão.
.
67
Anexo K: Minha Droga é Pesada (DJ Jamaika)
Jamaika: Tudo começou quando eu tinha uns 12 de idade
Me ofereceram algo estranho na verdade
O cara usava e se sentia bem melhor
Peguei um pouco, vou usar, quando eu estiver só
Era meio estranho, eu não entendia
1980, eu nada podia
Agora tô sozinho, vou experimentar
Se for do bom, pros meus chegados eu quero passar
Inseri aquela coisa na minha ideia
Viajei, fui lá em cima numa odisseia
Eu tô meio confuso, perdi o tato
Muita coisa tá mudando de formato
Usei mais um pouquinho pra ver se era real
Pra lombra não ir embora, ficar de boa, normal
Taquicardia, falta de oxigênio
Quem inventou isso aqui merece um prêmio
Deixa pra lá, não quero é me viciar
Daqui a pouco em casa minha mãe vai chegar
Vou esconder o flagrante, ficar como antes
Tudo arrumado, amarrado com barbante
Vou pra escola, lá vou fazer a boa
Tem altos muleques de rocha que ião perdoar
A primeira é de graça tem que ser assim
A segunda morre o troco na minha mão aqui
A minha droga pesada
Pode crê, já tô ficando bonito na foto
Não precisei ganhar na Sena e nem na Loto
Me viciei sem querer, não quero mais parar
Eu não posso parar, eu vou continuar
Isso agora já faz parte da minha vida
Depois que usa não tem volta e é só ida
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Já tá passando a lombra e lá vou eu de novo
Tô aqui distribuindo pro meu povo
Cheguei em casa minha mãe me olhando de lado
Meu pai de cabeça baixa, já tão ligados
Abriram minha mochila e deram o flagrante
Não tive pra onde correr, não corro como antes
Tive que me explicar, eles não me entenderam
Quando souberam do que rola, quase morreram
A única coisa que eu fazia era estudar
Tentaram fazer eu parar de isso usar
Eu falei sério, eu não paro não
Não sou só eu que uso, também o meu irmão
Isso não faz mal nenhum, só traz o bem
Eu tô bem melhor, agora, então me mostre quem
Que não usa e tem uma cabeça assim
Penso ajudar todo mundo, vai por mim
Senta aqui mãe, experimenta pra ver
Depois me conta como foi, dá uma sede
A minha droga pesada
Tá vendo como é que é, tá se sentindo melhor
Eu só curto essa parada, só, só
Meu pai diz ainda que é coisa de bandido
Minha mãe tá feliz, tá escrito
Viajou legal e eu tô liberado
Só pra curtir o que eu quiser, tá ligado
Eu nem queria, ah, eu nem queria
Que ela me desse toda essa estia
Dê-me a droga meu Deus
Espalha isso na quebrada dos filhos teus
É uma droga benigna
Ninguém ainda conseguiu desvendar esse enigma
Como pode algo assim tão forte
Que te leva lá pra cima nesse porte
Começou tão pequeno e hoje é imenso
69
Tomou conta da quebrada no relento
Vou reunir todo mundo e vou distribuir
Eu tenho muito e é de graça e só vai fluir
Boas coisas, todo mundo viajando
A ideia dos irmãos tá melhorando
Essa é a última de hoje, eu não tenho mais
Mas pra usar tem que ser forte, tem que ser capaz
Vai aí, não tô te oferecendo um back
Eu te ofereço a vida eterna, o RAP
Eu te ofereço a vida eterna, o RAP
Eu te ofereço a vida eterna, o RAP
A minha droga pesada
70
Anexo L: Ideia Criminal (Mano Tuthão)
Mano Tuthão: Presídio do Carandiru, 6 de Janeiro de 2002. Mais um ano
trancafiado aqui, maior saudade de casa, da minha mulher, da minha mãe, dos
manos, mas aí, um dia eu vou dar a volta por cima, tenho certeza disso.
Ir pro X amanhã é quarta e depois é quinta
Cadê meus presto barba amanhã tem visita
Tô sem cigarro e a "Maria Loka" acabou
Manda um pipa pra minha mãe Deus traz ela por favor
Quero saber das noticias lá de fora
96 já puxei o rosto amigo consola
Quantas bocas vão cair no 155, 157
O dinheiro ilude, o dinheiro ilude
Aí bandido tem uma pá à pampa
Carcereiro tá ligado paga pau pra pilantra
Horário de visita ninguém chama o meu nome
Será que a minha mina arrumou outro homem?
O diabo atenta sem neurose na mente,
Se ela me trair juro por Deus vai pro pente
Olho pras muralhas seguro as minhas lágrimas
Acendo um baseado pra afogar as minhas mágoas
Na falta de amor o ódio me consola
Sem sorriso e sem família meu pai sempre disse que homem não chora
Mas como eu fracassou
Traficante de quadrada, GTI me inspirou hõ
A faculdade do crime é mil grau
Faço as contas na parede esse é o décimo natal
Choveu ninguém saiu no pátio
Pilantragem é mal, traíragem aqui é mato
Me lembro das baladas, das mina da quebrada,
Quadrada e GTI, várias cilindradas
Cordão no pescoço, um rolex no pulso
Com uma quadrada eu me sentia o rei do mundo
Meu celular tocava, mulher de monte
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Truco, Skol, tá ligado no pote
A fita no Itaú foi da hora
Dois segurança pro saco e um latro é moda
A fita da Brinks deu uma casa pra coroa
Se não fosse o crack hoje tava numa boa
Uma mina dizia que me amava
Depois que eu vim pra cá que se esqueceu do que falava
Restaurante, Shopping Center, perfume do O Boticário
Quantas grana gastei, me sinto um otário
Jurei pra mim mesmo que essa era a última fita
Depois que sair dessa vou trocar de família
REFRÃO: Uma cela triste, um lugar pra ler um livro (A Bíblia)
O pensamento há em você (Jesus)
E sem você não vivo (2x)
Mano Tuthão: Frustração aqui no X é mato
Vários maluco gente boa vivendo como rato
Um mano aqui chegou pra dar uma ideia
Vou ouvir qual que é desse maluco a coisa pode ser séria
Amigo de Tuthão: Tô aqui a dois anos e não quero morrer atrás de grades
E um muro, do lado obscuro
Poder sonhar nunca mais, poder dá um rolé
Curtir com a minha mulher
Na madrugada de risco, tem nada ver eu tô limpo
No tira gosto, da hora malandragem
Faz roda que alegria é essa de mesa de bar
Se os camarada dá área quase tudo vem pra cá
Com tranca rua e um lobo nas costas
Aqui no X Jesus acalma a revolta
Outro dia o mano meu me trouxe agomal
Duas fita e um walkman eu fiquei mais na moral
Eu fiquei mais feliz em saber
Que os camarada das antigas ainda lembram de mim
E dos embalo os maluco sente com saudade
Foi um presente do capeta fiz mudança de cidade
72
Ganhei um quarto que pra dormir eu tinha horário, uma privada
Pedi licença os camaradas
Quem curtiu essa onda sabe do que eu tô falando
Dá uma grave vei e o bicho tá pegando
Mas a hora que eu gostava mesmo
Era quando parava pra cantar os hinos, era divino,
Um tempo atrás teve um cara que morreu
Descobriram o coitado era ateu
Tenha piedade seu santo homem
Será verdade e no final dos tempos
Grande esperança me traz, refrigera e alivia a minha alma
Me dá entendimento irmãos de paz, irmãos de paz
REFRÃO: Uma cela triste, um lugar pra ler um livro (A Bíblia)
O pensamento há em você (Jesus)
E sem você não vivo (2x)
Amigo de Tuthão: Aí mano, hoje uns crentes vieram aí, oraram por mim, tá ligado.
Me deram uma Bíblia, maior paz, e quer saber mais, eu quero essa luz irmão, eu
quero Jesus.
Eu acho que eu vou virar crente, Pode crer
Mano Tuthão: Que nada mano, esse papo de crente eu tô sossegado vagabundo
Mas aí, se pá, no braço de Deus mano, tá ligado mano, sei lá, se pá até
Cair fora daí, tá ligado que um dia eu mudo é mano, só maldade no ar.
Mano Tuthão: Olho pra mim mesmo nem sei que sou
Só desgraça e tristeza no lugar onde eu estou
Talvez eu seja a bala que mata o playboy
A trilha na hora do seqüestro, o ódio corrói
No cativeiro o olhar da vítima
Não tô nem aí, quem mandou nascer bem de vida
Eu não nasci em mansão, nem em berço de ouro
Mais um ano aqui nesse inferno eu morro
O carcereiro trouxe pipa nave em cana
É da minha mina será que ela ainda me ama?
Maior clima de tensão, dispara o coração
Pode ser o remédio pra minha saudade
Começo a ler o bilhete e chego a última frase
Esposa de Tuthão: "Eu tô aqui no hospital, tô morrendo de AIDS"
Mano Tuthão: O chão sumiu dos meu pés,
73
Na minha mente um revés
Começo a refletir das oportunidades
Quando na escola pivete, o sonho morre quando cresce
Ser médico, engenheiro pagar de camionete
Cherokee, só Mercedes zero
Diabo: "Você pode ter uma, o diabo soprou"
Dá uma vida melhor pra minha mãe quem não sonhou
Que pra me criar quanto sofrimento passou
Os sintomas começam a sentir
Manchas no corpo, só o pó, é emagreci
Vou pra enfermaria, aí doutor, eu tô perdido?
Quero um exame será que eu tô com o bicho?
Mano Tuthão: Primeiro Exame
Médico: Positivo
Mano Tuthão: Segundo Exame
Médico: Positivo
Mano Tuthão: Terceiro Exame: E aí eu tô perdido
Trouxeram o padre, pra mim me confessar
Não quero ver ninguém, não quero conversar
Voltei pra enfermaria eu vou tentar a fuga
Rendi a enfermeira com o bisturi a coisa muda
Corto os meus pulsos
Voz de fundo:"Sangue Jorra como água"
Mano Tuthão: Eu tô no comando aí ladrão caiu a casa
Um agente penitenciário veio por trás
Juro por Deus eu morro aqui, pra cela não volto mais
Tentei fugir minhas costas fisgou
O cara é bom de tiro ha me acertou
Cai no chão, a minha vida passa como um filme
Me arrependi de tudo que fiz da vida de crime
Um dia eu li na bíblia
Jesus é o caminho, a verdade e a vida
74
Como o ladrão da cruz, na última hora reconheci
O desperdício porque não me entreguei a ti
Antes de morrer, mesmo sendo um ladrão
Vejo Jesus segurando a minha mão
Mano Tuthão: Deus, mesmo na última hora, eu quero me entregar a ti. Eu sei que
na minha vida eu só plantei maldade Deus. Mas recebe no teu reino a minha alma,
neste momento Deus. Me perdoe tudo o que eu fiz, eu entrego a minha vida.
Mesmo na última hora eu quero dizer que eu reconheço o senhor como o salvador
da minha vida.
REFRÃO: Uma cela triste, um lugar pra ler um livro (A Bíblia)
E o pensamento lá em você (Jesus)
E sem você não vivo (10x)
Sampler: Meu filho só Jesus pode te salvar!
Descanse em paz!

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