Revista Prouni - Ministério da Educação
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Revista Prouni - Ministério da Educação
Palavra do Ministro A revista do ProUni tem a sua origem relacionada, entre outros aspectos, ao desejo do Ministério da Educação de compartilhar com a sociedade brasileira uma idéia que se transformou em compromisso coletivo e se consolidou como importante política pública de acesso ao ensino superior. As análises resultantes da leitura do material que dá corpo à revista permitem reconfigurar idéias e valores sobre as motivações pessoais e sobre a importância atribuída por segmentos sociais à educação superior. As experiências relatadas por alunos e gestores, as múltiplas e diferentes visões que os estudiosos da educação nacional têm sobre o ProUni, os vários sentidos que ele comporta, a compreensão e a complexidade da dimensão ampla e integradora que ele alcançou, são indicadores que revelam o seu significado social. sua essência, é mais que um projeto de curso, ele é parte de um projeto de educação, que igualmente reflete um projeto de sociedade. Uma sociedade que se revelará em um espaço de práticas sociais no qual esse estudante irá intervir e onde irá utilizar o saber apreendido para, de forma solidária, resolver os problemas de sua época, imprimindo dimensão política à sua formação acadêmica. Dessa forma, as reflexões, os artigos e os depoimentos que compõem esta revista traduzem um esforço conjunto em direção ao estabelecimento de um diálogo amplo sobre as práticas que se desenvolvem no âmbito do ProUni e sobre a concretização de compromissos educacionais que se inscrevem no tempo de hoje, mas que apontam para o futuro de uma parcela importante da juventude brasileira. Assim, por mais que o estudante participante do ProUni alimente o desejo mais imediato de ingressar em uma universidade e concluir a graduação, este programa, na Presidência da República Ministério da Educação - MEC Secretaria de Educação Superior – SESu Fernando Haddad Ministro da Educação Índice 6 ARTIGO ProUni - Porta aberta para a inclusão social 10 HISTÓRIAS DO PROUNI 8 EDUCAÇÃO O Brasil de Paula Inclusão com qualidade 11 CONQUISTA Superação de limites 12 ARTIGO ProUni - Quatro anos de história 15 HISTÓRIAS DO PROUNI O Brasil de Daniel 16 TECNOLOGIA SISPROUNI - Transparência e segurança 18 TRANSPARÊNCIA Controle social do ProUni 19 FINANCIAMENTO Acesso e permanência no ensino superior 20 ETAPA FINAL E Valeu a pena xpediente Revista ProUni – MEC/SESu Conselho Editorial Iguatemy Maria de Lucena Martins Paula Branco de Mello Fernando Antônio Ribeiro de Freitas Edição e redação Ellen Santana Foto capa Julio Cesar Paes Projeto gráfico e diagramação Sidna Silva Jornalista responsável Ellen Santana - DF 3585 JP 22 ARTIGO ProUni e a democratização do acesso e permanência no ensino superior 24 HISTÓRIAS DO PROUNI O Brasil de Adejane 25 MERCADO DE TRABALHO Emprego garantido 26 ARTIGO Educação e desigualdade: o papel do ProUni 30 HISTÓRIAS DO PROUNI 31 EVENTO O Brasil de Danilo 1º Encontro dos Estudantes do ProUni 32 ARTIGO O ProUni e a formação profissional para o Magistério 35 BOLSA PERMANÊNCIA ProUni - Garantia de permanência no ensino superior 36 ENTENDA O PROUNI 38 DEPOIMENTOS Fala universitário A RTIGO PROUNI Porta aberta para a inclusão social Q uando o Programa Universidade para Todos (ProUni) foi lançado, várias vozes levantaram-se contra ele. A dúvida na ocasião sobre as conseqüências, especialmente acerca da qualidade acadêmica dos estudantes bene-ficiados, eram compreensíveis, ainda que pouco pertinentes, como o futuro mostraria. O que se sabe, porém, é que o programa já beneficiou, desde 2005, mais de 300 mil estudantes em todo o País. Além disso, os estudantes universitários beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) obtiveram, em média, notas superiores, em alguns casos muito superiores, aos seus colegas não-bolsistas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2006. O resultado apontou superioridade dos bolsistas do ProUni em 14 das 15 áreas do conhecimento avaliadas que permitiam comparação: Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, Formação de Professores (Normal Superior), Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. Participaram do exame 871 municípios, em todos os estados e no Distrito Federal, com 386.860 estudantes — 211.993 ingressantes e 174.867 concluintes — pertencentes a 5.701 cursos de 1.600 instituições de educação superior. 6 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 Com atraso de 16 anos, foram reguladas pelo ProUni as isenções fiscais constitucionais concedidas às instituições privadas de ensino superior. De 1988 a 2004, as instituições de ensino superior sem fins lucrativos, que respondem por 85% das matrículas do setor privado, amparadas pela Constituição Federal, gozaram de isenções fiscais sem nenhuma regulação do Poder Público. Ou seja, sem nenhuma contrapartida. Acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 1991, tornou reconhecida a lacuna legislativa. Mas, por conta dessa omissão, garantia o gozo das isenções enquanto perdurasse a situação. Até 2004, as instituições sem fins lucrativos concediam bolsas de estudos, mas eram elas que definiam os beneficiários, os cursos, o número de bolsas e os descontos concedidos. Resultado: raramente era concedida uma bolsa integral e quase nunca em curso de alta demanda. A isenção fiscal não resultava em uma ampliação do acesso ao ensino superior. O ProUni estabelece que as instituições beneficiadas por isenções fiscais passem a conceder bolsas de estudos na proporção dos alunos pagantes por curso e turno, sem exceção. Ficou estabelecido que só haveria dois tipos de bolsas - integral ou parcial de 50% - e que os beneficiários fossem selecionados pelo Enem. A concessão da bolsa teria como único critério o mérito. Além disso, foi definido o perfil socioeconômico dos bolsistas: egressos de escola pública com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio para bolsa integral e de até três salários mínimos para bolsa parcial de 50%. Assim, o ProUni é, dentre todos os programas, aquele que melhor sintetiza os pressupostos básicos da educação superior. A educação superior baliza-se pelos seguintes princípios complementares entre si: expansão da oferta de vagas, dado ser inaceitável que somente 11% de jovens, entre 18 e 24 anos, tenham acesso a este nível educacional; garantia de qualidade, sendo que não basta ampliar, é preciso fazê-lo com qualidade; promoção de inclusão social pela educação, minorando nosso histórico de desperdício de talentos, considerando que dispomos comprovadamente de significativo contingente de jovens competentes e criativos que têm sido sistematicamente excluídos por um filtro de natureza econômica; ordenação territorial, permitindo que ensino de qualidade seja acessível às regiões mais remotas do País; e desenvolvimento econômico e social, fazendo da educação superior, seja enquanto formadora de recursos humanos altamente qualificados ou como peça imprescin-dível na produção científico-tecnológica, elemento-chave da integração e formação da nação. um com o outro. Assim, a avaliação se torna a base da regulação, em um desenho institucional que cria um marco regulatório coerente, assegurando ao Poder Público maior capaci-dade, inclusive do ponto de vista jurídico, de supervisão sobre o sistema federal de educação superior e abrindo às boas instituições condições de construir sua reputação e conquistar autonomia. A ampliação do acesso ao ensino superior, público e privado, só adquire plenamente sentido quando vislumbrada como elos adicionais de um conjunto de projetos no âmbito da educação superior que articulam, com um olho na educação básica e outro na pós-graduação, ampliação de acesso e permanência, reestruturação acadêmica, recuperação orçamentária, avaliação e regulação. Ronaldo Mota Secretário de Educação Superior SESu/MEC Quanto à avaliação da educação superior, ela será em consonância com os três componentes do Sinaes: avaliação institucional, avaliação de cursos e avaliação de desempenho dos estudantes, os quais dialogam Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 7 E DUCAÇÃO Inclusão com qualidade O ProUni oferece bolsa de estudos com qualidade educacional A bolsa de estudos ofertada pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) rompe a limitação li imposta pela condição econômica e abre oportunidades eco para que estudantes ingressem cada vez mais em uma instituição de ensino superior. Não basta democratizar oe ensino, é preciso promover inclusão social com qualidade. soc Po isso, um dos critérios para a maPor nutenção da bolsa do ProUni é o rennu dimento acadêmico. O estudante com di bolsa integral ou parcial precisa ser bo ap aprovado em, no mínimo, 75% do total das disciplinas cursadas em cada ta período letivo. p O bom desempenho dos bolsistas do ProUni já pode ser constatado. Os d alunos do Programa tiveram as mea llhores notas no Exame Nacional de D Desempenho de Estudantes (Enade) de 2006. No total, 386.860 (211.993 ingressantes e 174.867 concluintes) fizeram o Enade 2006. 8 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 O resultado, divulgado em maio de 2007, revela superioridade em todas as catorze áreas de conhecimento avaliadas: Administração, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, Formação de Professores (Normal Superior), Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. Apenas Arquivologia ficou de fora porque não tinha alunos bolsistas. Para Francis Irineu, coordenador do curso de graduação em Administração do INEA Faculdades, da cidade de São José dos Campos (SP), o bom resultado dos alunos bolsistas no Enade não pode ser avaliado apenas como medo de perder a bolsa. “ Vejo nesses estudantes compromisso com a educação que levará a um bom posicionamento no mercado de tabalho”, diz. Resultados No curso de Administração, os estudantes do ProUni atingiram nota mé- dia de 48,7, enquanto os não-bolsistas ficaram com 39,9. Na Formação de Professores (Normal Superior), os beneficiados pelo ProUni obtiveram 50,4 enquanto os não-bolsistas, 46,1. A maior diferença ocorreu nos cursos de Biomedicina que alcançou uma diferença de cerca de 9 pontos. A estudante de Psicologia Clarissa Borges também contribuiu com o bom resultado. Ela tem bolsa integral do ProUni na Universidade Católica de Brasília (UCB). “Sempre fui muito esforçada com os estudos. Procuro ter boas notas na faculdade e corresponder ao incentivo que recebo”, revela Clarissa. comparativa, quanto ao desempenho acadêmico, entre os bolsistas e os demais estudantes. “Foram consideradas cinco variáveis relacionadas com o desempenho acadêmico. Uma comparação baseada, unicamente, no confronto dos valores assumidos pelas referidas variáveis (estatística descritiva) apontou uma superioridade dos bolsistas do ProUni em todos os aspectos estudados”, explica. Cursos de qualidade Para manter a qualidade dos cursos que participam do ProUni foi sancionada, em julho de 2007, a Lei nº. 11.509, que prevê a desvinculação do Programa de cursos com duas avaliações negativas consecutivas pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes). O sistema inclui não apenas o Enade, mais avaliação das condições do curso e da instituição. Para Márcio de Andrade, estudante de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o ProUni vai além da bolsa. “Tenho a oportunidade de estudar numa instituição de ensino bem conceituada, com bons professores e infra-estutura de ponta”, declara. O Enade avalia o aluno utilizando dois critérios: formação geral, que verifica como ele está preparado para viver em sociedade e seu grau de cidadania, e formação específica, que são os conhecimentos adquiridos no curso que está fazendo. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) vem acompanhando, semestre a semestre, os bolsistas do ProUni e constatando bons resultados acadêmicos. Segundo o professor Antônio Mário Bianchi, a Universidade efetuou uma análise Clarissa Borges Estudante de Psicologia, UCB/DF Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 9 H ISTÓRIAS DO PROUNI O BRASIL de Paula O Programa Universidade para todos (ProUni) reserva bolsas para pessoas com deficiência, afrodescendentes e indígenas. Esse é o caso de Paula Shirlene de Oliveria, 31 anos, que ingressou no ProUni pelo sistema de cotas para indígenas. persisitência. “Só consegui terminar o ensino médio com 29 anos. “Minha família tinha uma vida meio nômade. Começava a estudar e logo era preciso mudar de cidade. Além disso, começei a trabalhar muito cedo para ajudar no sustento da família”. Paula é descendente de índio, mas nunca viveu numa tribo. “Meu avô materno deixou a tribo quando decidiu casar com uma pessoa branca. Apenas meu pai viveu na tribo”, explica. A universitária mora em Bayeux, na Paraíba, e estuda na capital João Pessoa. Todos os dias gasta uma hora de ônibus até o Instituto Paraíba de Educação e Cultura, onde estuda. No quinto semestre de Direito, a estudante conta que é a única universitária de sua família. “ Sempre acalentei o sonho de fazer faculdade, mas achava que sendo pobre e índia nunca conseguiria chegar até aqui”. A vida de estudante não é muito fácil, principalmente, quando se tem filhos. “Tenho dois filhos: uma menina com 6 meses e um rapaz de 16 anos. Mesmo assim sou bem esforçada com os estudos”. Para estudar, Paula precisou de muita Um dos maiores desafios de Paula foi 10 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 Paula Shirlene de Oliveira Estudante de Direito, Instituto Paraíba de Educação e Cultura/PB concluir o primeiro ano de faculdade. “Tudo era muito diferente. O choque cultural foi muito grande. Passei por períodos complicados. Até achei que ia desisitir, mas felizmente, consegui vencer. Hoje, me sinto bem mais tranqüila na faculdade”. A história de Paula tem sido um incentivo para muitas pessoas que moram na cidade Bayeux. “Moro em uma região carente onde os jovens com poucas oportunidades seguem dois caminhos: a prostitiução ou as drogas. Procuro mostrar uma alternativa diferente marcada por estudo, esforço, determinação e vontade de vencer”. C ONQUISTA Superação de me dedicar ao ramo de eventos ou ao turismo de inclusão porque a vida no esporte não é muito duradoura”. limites Odair relata que com a graduação, novas oportunidades apareceram. “Já fui convidado para palestrar sobre minhas conquistas e superações”. A s pessoas com deficiências têm no esporte uma oportunidade de provar o seu valor como atletas e cidadãos. O paulista de Osvaldo Cruz, Odair Ferreira dos Santos, 26 anos, deficiente visual, é um destes exemplos de determinação no esporte e nos estudos. Apaixonado por atletismo, Odair é considerado um dos melhores corredores paraolímpicos do Brasil nos 1.500 m rasos. Em 2007, o atleta conquistou três medalhas de ouro no atletismo (1.500m, 5.000 m e 10.000m) nos jogos Parapanamericanos do Rio de Janeiro. Nas Paraolimpíadas de Atenas (2004) foram duas medalhas de prata e uma de bronze. Em 2003, nos Parapanamericanos de Mar Del Plata, na Argentina, foram três medalhas de ouro. O atletismo é um dos esportes que congrega o maior número de pessoas com deficiência. Alguns competem em cadeiras de rodas, outros com próteses. Já os atletas com deficiência visual total ou parcial (dependendo do grau de deficiência), participam das provas com ou sem um guia. Com apenas 10 anos, o atleta começou sua carreira como corredor profissional. O primeiro troféu foi conquistado com 12 anos e desde então nunca mais parou de correr. Odair conta que só se profissionalizou no esporte paraolímpico em 2003. A retinose pigmentar hereditária começou a se manifestar quando criança e foi se agravando durante a adolescência. Além do treinamento diário e o trabalho voluntário na Associação de Cegos de Prudente, Odair também dedica tempo para os estudos. O atleta é aluno do 4º semestre do curso de Turismo da UNIESP, em Presidente Prudente (SP), cidade onde reside e treina. Alguns meses depois de ingressar na faculdade, o estudante conheceu o ProUni. O estudante revela que o ProUni é uma excelente oportunidade para muitos jovens que, como ele, têm dificuldade para arcar com as mensalidades de um curso de ensino superior. “Posso dizer que atualmente minha vida está completa porque estou garantindo o meu futuro. Após finalizar o curso superior, pretendo seguir carreira pública, Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 11 De acordo com a diretora geral da UNIESP, Cláudia A. Pereira, a instituição aderiu ao ProUni, em 2005, e, desde então, tem acreditado no potencial dos universitários bolsistas. “Atualmente, esses estudantes saíram da condição de excluídos socialmente e passaram para a condição de cidadãos atuantes, além de conquistarem formação de qualidade que os insere no mercado de trabalho regional. O ProUni incentiva o jovem a fixar-se na região após a sua formação acadêmica”. A RTIGO PROUNI Quatro anos de história Paula Branco de Mello Coordenadora Geral do ProUni SESu/MEC Francisco Martins da Silva Diretor e professor do curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília I ntegrando as políticas de expansão da educação superior, com foco na ampliação do acesso com qualidade, o Governo Federal criou, em 10/09/2004, por meio da Medida Provisória nº 213, institucionalizada pela Lei nº 11.096/2005, o Programa Universidade para Todos – ProUni. O Programa concede bolsas de estudos integrais e parciais de 50% e 25%, em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior, oferecendo em contrapartida isenção de tributos federais1. Dirigido aos brasileiros sem diploma de curso superior, com renda per capita máxima de três salários mínimos, egressos do ensino médio público ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, o ProUni apresenta-se como uma realidade no cenário educacional do país. No seu primeiro ciclo, assim compreendidos os cinco processos seletivos realizados no período de 2004 a 2007, foram 1 A isenção abrange os seguintes tributos (Lei nº 11.096/2005, art. 8º): a) Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ); b) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); c) Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social (COFINS); d) Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS). 12 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 atendidos aproximadamente trezentos e dez mil estudantes. O ProUni contou com a adesão inicial de 1.142 instituições de ensino superior, encerrando o ano de 2007 com a participação de mais de 1.400 instituições, sintetizando assim sua eficácia e reconhecimento social, ratificados pela também crescente demanda pelas bolsas ofertadas, que chegou a contar com a inscrição de 790 mil candidatos num único processo seletivo. A dimensão territorial também encontra-se contemplada no Programa, uma vez que o ProUni possui abrangência nacional, estando presente em todas as Unidades da Federação. Referenciado no Plano Nacional da Educação – PNE, que tem como uma de suas metas a presença até 2010 de 30% dos jovens entre 18 e 24 anos na educação superior, o ProUni contabilizou, desde sua criação, a oferta de mais de cem mil bolsas anuais. Conforme expresso no Gráfico I, representativo da série histórica de bolsas ofertadas, aqui compreendidas as bolsas obrigatórias e as adicionais ofertadas pelas instituições em proporção superior à estabelecida pela legislação, verifica-se um crescimento anual dessa oferta de cerca de 20%. Gráfico I. Bolsas ProUni ofertadas 2005-2007 Fonte: SISPROUNI – 01/11/2007 Com um sistema de seleção informatizado e impessoal, o que confere transparência e segurança ao processo de ingresso, os candidatos às bolsas são pré-selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio – Enem. Desse modo, o ProUni conjuga inclusão à qualidade e mérito dos estudantes com melhores desempenhos acadêmicos. Nesse sentido, é importante ressaltar a elevação da nota média do Enem dos estudantes inscritos para as bolsas do ProUni, de 48 pontos no primeiro processo seletivo para 54,77 no processo seletivo 1°/2007. Já a nota média do Enem dos pré-selecionados manteve-se, em todos os processos, acima dos 60 pontos. Soma-se a isso a exigência de aprovação mínima em 75% das disciplinas cursadas, em cada período letivo, para permanência do bolsista no Programa. Caracterizando o universo desses bolsistas, referidos no gráfico II, merece destacar que a concentração dos estudantes já atendidos pelo Programa encontra-se nas bolsas integrais, que cobrem a totalidade da mensalidade e são ofertadas apenas àqueles com renda familiar per capita máxima de um salário mínimo e meio. Gráfico II. Percentual de bolsistas por tipo de bolsa (Integral x Parcial) Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007 No que se refere à modalidade de ensino, registra-se uma predominância do ensino presencial, responsável por 92,96% das bolsas, cabendo ao ensino a distância os outros 7,04%, de acordo com dados expressos no Gráfico III. Gráfico III. Percentual de bolsistas por modalidade de ensino (presencial x EAD) Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007 Ainda, concernente aos cursos presenciais que integram o ProUni, é importante frisar a preponderância dos cursos noturnos, que congregam 71,81% dos bolsistas, como demonstrado no Gráfico IV. Situação essa que concorre para ampliar as possibilidades de acesso do estudante trabalhador ao ensino superior, permitindo a compatibilização de suas atividades laborais e acadêmicas. Gráfico IV. Percentual de bolsistas por turno Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007 Em consonância com a política de inclusão social do Governo Federal, o ProUni reserva um percentual das bolsas aos afrodescendentes, indígenas e às pessoas com deficiência, proporcionalmente ao número desses cidadãos nos Estados da Federação, conforme informações do último Censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 13 Traduzindo o caráter includente do Programa, aproximadamente 138 mil bolsistas são afrodescendentes, o que representa um percentual de cerca de 45% do contingente de estudantes atendidos pelo ProUni. Esses dados, representados no Gráfico V, atestam a relevância da inclusão de uma parcela de jovens que, historicamente, não tinham acesso ao ensino superior. Gráfico V. Percentual de bolsistas por raça concedendo maior flexibilização na contratação aos estudantes com bolsas parciais do ProUni que encontram dificuldades em arcar com os custos da parcela não coberta pelo benefício. Ressalta-se, por fim, o baixo custo do ProUni para a sociedade, conforme dados da Receita Federal do Brasil, consubstanciados no gráfico VI. A renúncia fiscal apurada para o ano de 2005 foi de apenas R$106,7 milhões de reais, sendo estimados para os anos de 2006 e 2007 valores de R$114,7 e R$126 milhões de reais, respectivamente. Gráfico VI. Renúncia Fiscal em milhões de reais/ano Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007 Articulado à concepção sistêmica da educação, traduzida no compromisso do poder público com todo o ciclo educacional, o ProUni também estabelece critérios diferenciados para participação dos professores no Programa, o que vem ao encontro da política de incentivo à formação e qualificação dos docentes da educação básica pública. Desse modo, esse segmento é dispensado da comprovação de renda mínima e do ensino médio público ao concorrer a bolsas para os cursos de licenciaturas, normal superior e pedagogia. O ProUni possui, ainda, ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes nas instituições, como a Bolsa Permanência e o FIES - Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior. Como parte das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, no âmbito das políticas de inclusão e permanência de jovens carentes na educação superior, foi sancionada a Lei n° 11.552/2007, que estabelece medidas de aprimoramento desse crédito estudantil, 14 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 * Valores estimados Fonte: Receita Federal - Coordenação-Geral de Política Tributária Nota COPAT nº 010/2007, de 02/03/2007. O ProUni revela-se, assim, um Programa consolidado e fecha seu primeiro ciclo ultrapassando a meta inicial de 100 mil bolsas anuais, o que confirma seu elevado poder de abrangência, forte impacto social e a indiscutível qualidade de seus bolsistas. Mais do que isso, extrapola o caráter acadêmico ao possibilitar a expressão do grande potencial de uma parcela significativa dos jovens brasileiros. Questão de oportunidade! Elaboração dos gráficos: Carmen Sílvia Lima Luccas José Alberto da Silva Viegas H ISTÓRIAS DO PROUNI O BRASIL de Daniel E studar, trabalhar e cuidar da família. Uma vida comum para muitas pessoas, porém difícil de ser conciliada. A vida do personagem principal dessa história, Daniel de Lima, é assim. Para oferecer uma vida melhor para sua esposa e filha, Daniel precisou priorizar os estudos. No início, a esposa de Daniel não entendia o sacrifício e a força de vontade do marido para com os estudos. “Tivemos que conversar muito para que ela entendesse que eu estava atrás de uma vida melhor”. Agora numa situação mais confortável, Daniel pôde trazer a filha para morar em Manaus. Tudo começou na cidade de Apuí, 450 quilômetros de Manaus, no interior do Amazonas. Daniel trabalhava como eletricista, mas sempre acalentou o sonho de cursar uma faculdade. Hoje, faltam apenas dois semestre para que Daniel conclua o ensino superior. “O ProUni foi importante porque mudou a minha vida e permitiu que eu realizasse um sonho antigo, entrar numa universidade. Também estou feliz porque minha esposa decidiu seguir o meu exemplo e vai estudar Filosofia”, declara. Segundo o estudante todo o sacrifício valeu a pena. “Quero fazer carreira como contador e voltar para Apuí um dia. Afinal, este sacrifício só vai ser válido se no futuro puder ajudar no progresso do meu município”. “No fim do Ensino Médio, vi na televisão uma propaganda sobre o ProUni e me interessei. O gestor da escola onde eu estudava me auxiliou durante a inscrição, pois na época eu não tinha conhecimentos de informática e internet. Utilizei meus resultados no Enem e fui aprovado para Ciências Contábeis na Faculdade Salesiana Dom Bosco (FSDB-AM)”, explica Daniel. A jornada de Daniel para estudar não foi fácil. Precisou mudar para Manaus e enfrentar duros desafios. “Ao chegar na capital, após uma viagem de barco que durou cinco dias, eu e minha esposa alugamos uma quitinete. Passei quase um ano vivendo de bicos até que consegui um emprego como assistente contábil. Não tínhamos amigos ou parentes, por isso passamos muitas dificuldades. Dormimos dois meses numa rede porque não tínhamos dinheiro para comprar móveis”. Daniel de Lima Estudante de Ciências Contábeis, FSDB/AM Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 15 T ECNOLOGIA SISPROUNI Transparência e Segurança Certificação digital é chave para a segurança na web P ara aumentar a segurança de transações via internet, empresas têm utilizado a tecnologia de Certificação Digital, que é um conjunto de técnicas e processos que propiciam maior segurança às comunicações e transações eletrônicas, garantindo a autenticidade de documentos. Os certificados digitais são “documentos de identificação” eletrônicos. Eles são emitidos por uma Autoridade Certificadora, considerada confiável pelas partes envolvidas em uma comunicação e/ou negociação. Na prática, o certificado digital funciona como uma carteira de identidade virtual que permite a identificação segura de uma mensagem ou transação em rede de computadores. O acesso ao sistema do ProUni (SISPROUNI) é realizado com a utilização de certificados digitais, emitidos no âmbito da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICPBrasil, sendo todos os documentos emitidos pelo sistema assinados digitalmente. A assinatura digital de documentos utilizando certificados, emitidos pela raiz do ICP-Brasil, em âmbito nacional brasileiro, tem validade jurídica. Por isso, quando uma instituição emite, por meio do SISPROUNI, um Termo de Concessão de Bolsa a um estudante e o assina digitalmente, esse procedimento equivale a emitir o mesmo termo em papel com uma assinatura do mundo real. Segundo Elmer Alexandre de Oliveira, gerente de projetos da Coordenação Geral de Informática e Telecomunicações (CEINF), do Ministério da Educação, a certificação digital permitiu desburocratizar os processos com total autenticidade e segurança. “No 16 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 SISPROUNI recebe prêmio roUni venceu a 6ª Em 2006, o SisP Padrão de Qualiedição do Prêmio , tegoria educação dade em B2B, ca r po l, ão Editoria iniciativa da Padr B Magazine. meio da Revista B2 objetivo de contriEste prêmio tem o olvimento de negó buir para o desenv ocn voltados para te cios e estratégias disseminando as logia da informação de negócios corpomelhores práticas rativos na internet. cipantes do Prêmio As empresas parti s avaliados seguntiveram seus case resultado das suas do a eficácia e o gicas e digitais. estratégias tecnoló Brasil, o ProUni foi pioneiro no uso de Certificação Digital via internet, com abrangência nacional”, declara. O SISPROUNI foi elaborado sob a Gestão da Diretoria de Políticas e Programas de Graduação da Educação Superior da Secretaria de Educação Superior e desenvolvido pela CEINF. É por meio desse sistema que o MEC é capaz de identificar, em tempo real, a situação dos bolsista e de cada uma das instituições participantes do Programa. Sistema Inteligente Todo o sistema de seleção do ProUni é realizado, exclusivamente, pela internet, o que confere transparência ao Programa. Quando o estudante inicia o processo de inscrição, o sistema busca, automaticamente, no banco de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) a nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao fazer sua inscrição, o candidato escolhe até cinco opções de cursos, habilitações, turnos ou instituições de ensino superior, dentre as disponíveis. O estudante é pré-selecionado uma única vez para sua opção de maior prioridade. O estudante que tiver obtido o melhor resultado no Enem é o primeiro a ser beneficiado em sua primeira opção. Também está disponível no SISPROUNI consulta que permite ao candidato acompanhar, on line, até o encerramento das inscrições, as respectivas notas mínimas de classificação com base nas inscrições já feitas. Além disso, o Sistema permite que os candidatos possam refazer, a qualquer momento, antes do final das inscrições, suas opções. Quanto à capacidade de operação, o SISPROUNI recebeu, no primeiro processo seletivo de 2007, mais de 10 milhões de consultas de estudantes, com tempo médio de conexão e inscrição de 9 minutos. O Sistema já foi capaz de receber simultâneamente o acesso de 20 mil usuários. Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 17 T RANSPARÊNCIA Segundo o secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota, “o ProUni já se consolidou como uma iniciativa de impacto muito positivo na educação superior brasileira. O importante agora é, cada vez mais, aperfeiçoar os mecanismos e os instrumentos de controle e fiscalização, no sentido de garantir que o Programa cumpra as suas diretrizes”. Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Programa Universidade para Todos (CONAP) Controle social do PROUNI A Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Programa Universidade para Todos (CONAP) cumpre um papel importante como exemplo da consolidação das estruturas democráticas do nosso país. Sua missão é aperfeiçoar e conso-lidar as qualidades do ProUni, por meio da legítima representação da sociedade civil, reafirmando o compromisso de oferece aos estudantes brasileiros uma educação superior de qualidade. Constituída em março de 2006 pelo Ministério da Educação, a CONAP realiza reuniões trimestrais nas quais seus membros apresentam críticas, denúncias e sugestões ao Programa. O objetivo é garantir a transparência e estabelecer uma relação direta entre sociedade e os órgãos reguladores e executores do ProUni. A Comissão que promove o acompanhamento dos procedimentos operacionais de concessão de bolsas e 18 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 demais atribuições consultivas é composta por dois representantes do corpo discente das instituições privadas de ensino superior, sendo pelo menos um deles bolsista do ProUni – designados pela União Nacional dos Estudantes (UNE); dois representantes dos estudantes do ensino médio público – indicados pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES); dois representan-tes do corpo docente das instituições privadas de ensino superior – definidos pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Esta-belecimentos de Ensino (CONTEE); dois representantes dos dirigentes das instituições privadas de ensino superior – recomendados pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB); além de dois representantes da sociedade, atualmente representados pelo MSU e Educafro. Sendo assim, os representantes da CONAP atuam em suas instâncias, localidades e entidades no sentido de absorver as demandas dos bolsistas e conhecer suas principais necessidades, dificuldades e reivindicações. Durante as reuniões, após apresentadas e debatidas, as informações colhidas são encaminhadas à Secretaria de Educação Superior (SESu) do MEC. A Comissão já apresentou contribuições significativas no processo de acompanhamento do Programa e prepara ações importantes para 2008, como a elaboração de um manual de informações sobre os direitos e os deveres dos bolsistas, atendendo a uma reivindicação dos estudantes, feita durante o 1º Encontro dos Estudantes do ProUni de São Paulo. Esse manual será elaborado de forma cooperativa entre o Ministério da Educação e a CONAP, sob a supervisão da Secretaria de Educação Superior/MEC. A partir de agora, a Comissão entra em uma nova fase, cuja prioridade será o aperfeiçoamento dos mecanismos e instrumentos de avaliação e fiscalização, a fim de evitar fraudes e verificar o cumprimento da missão do ProUni. Acima de tudo, a CONAP trabalha para garantir que a aliança entre o compromisso social e a expansão de vagas no ensino superior seja feita por meio da oferta de uma educação de qualidade para todos. F INANCIAMENTO Acesso e permanência no r o i r e p u S Ensino Integrando as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação, foi sancionada, em novembro de 2007, a Lei nº 11.552 que estabeleceu medidas de aprimoramento do FIES, criando melhores condições e facilidades aos estudantes. I ntegrando as políticas de acesso dos jovens brasileiros à educação superior, o Prouni e o FIES juntos já possibilitaram a inclusão de mais de 800 mil estudantes. Criado em 1999, o FIES é um programa que se destina a financiar cursos superiores para estudantes que não têm condições de arcar integralmente com os custos de sua formação. A gestão do programa é realizada conjuntamente pelo Ministério da Educação, na qualidade de agente supervisor, responsável pelas políticas educacionais norteadoras do Programa e pela Caixa Econômica Federal, agente operador e financeiro, responsável pela administração dos ativos e passivos do Fundo, assim como pela concessão e manutenção dos financiamentos. O FIES já atendeu, desde sua criação, mais de meio milhão de estudantes, com um investimento estimado em cerca de 4,8 bilhões de reais. Estabelecendo a complementariedade entre os dois programas, o FIES prioriza as instituições participantes do ProUni na distribuição dos recursos assim como concede financiamento prioritário aos bolsistas parciais desse Programa. É o caso da estudante Cristênia Siqueira Alves, da Universidade Paulista. Mesmo recebendo uma bolsa parcial de 50% do ProUni, tinha dificuldades para custear a outra metade da mensalidade de R$ 1.100,00. “O salário que recebo não é suficiente para pagar o restante da faculdade e os meus custos pessoais, por isso utilizei o FIES. Assim que terminar o curso pretendo conseguir um emprego melhor na minha área e pagar com tranqüilidade o valor financiado”, declara. Entre as novidades, está a criação da carência de seis meses para início do pagamento, o aumento do prazo de amortização do contrato para duas vezes o prazo de utilização do financiamento, a possibilidade de utilização da fiança solidária como garantia, dispensando a figura do fiador tradicional, o desconto das prestações em folha de pagamento e a ampliação do percentual de financiamento que pode chegar a 100% da mensalidade paga. Ainda como parte das alterações está a possibilidade de extensão do FIES aos cursos de mestrado e doutorado, a serem oferecidos de acordo com as diretrizes educacionais do MEC, após o atendimento prioritário dos cursos de graduação e mediante disponibilidade orçamentária. O ProUni e o FIES figuram, assim, como importantes iniciativas do Governo Federal para a democratização do acesso focado na qualidade, na inclusão e na garantia da permanência de milhares de jovens na educação superior. Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 19 E TAPA FINAL “Valeu a pena O fim da graduação é um momento de alegria para muitos estudantes. O sonho da formatura, o diploma na mão, a realização profissional são os maiores objetivos dos jovens universitários. Um grupo de bolsistas do ProUni, da Universidade Católica de Brasília (UCB), está vivendo a etapa final de mais uma caminhada de estudos. Viviane, Daniel, Greti, Benoni, Michelle e Fábio contam a experiência de ser um estudante ProUni. Viviane Moro sozinha e sempre trabalhei para a pagar a faculdade. No início do curso, eu recebia uma bolsa social da própria universidade, mas mesmo assim precisava ter dois empregos para custear os estudos e as minhas despesas pessoais. Quando fiquei sabendo do ProUni não perdi tempo e logo fiz o Enem. Com 78 pontos consegui a única vaga disponível no curso de Pedagogia para alunos que já estudavam na instituição. A bolsa integral do ProUni me deu a oportunidade de trabalhar apenas um período e me dedicar melhor aos estudos. Na minha opinião, o mais interessante do ProUni é a valorização do próprio estudante. É o seu empenho que está em jogo. Tem a questão da carência aliada ao esforço individual em obter uma boa nota no Enem. Estou realizada e feliz porque agora sou uma Pedagoga. Meu sonho é continuar estudando. Quero fazer pós-graduação e me tornar uma professora universitária. Viviane Nunes da Silva (28 anos) Pedagogia Bolsa integral 20 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 20 | Revista PROUNI • Edição xxx 2008 Daniel Recebi o ProUni no 6º semestre da faculdade. Minha grade de curso era irregular porque eu não tinha condições de pagar toda a mensalidade. A bolsa do ProUni facilitou a minha vida e me ajudou a terminar mais rapidamente o curso. Sempre quis fazer Educação Física. Felizmente tive a liberdade de escolher o curso que gosto. Acho que a gente nunca se forma totalmente. Por isso, quero continuar estudando. Daniel Pereira Rosa (30 anos) Educação Física Bolsa parcial Apenas no 6º semestre consegui a bolsa integral do ProUni. Foi uma alegria porque tive a oportunidade de regularizar o curso e não atrasar ainda mais disciplinas. O certo seria terminar a faculdade em 4 anos, mas com muito esforço e apoio dos meus pais vou concluir o curso em 5 anos. Não estou triste, pelo contrário, estou feliz. Venci mais uma etapa da vida. Tenho muitas expectativas profissionais. O ProUni me ajudou e agora espero ter uma boa colocação profissional. Greti de Oliveira Rocha (27 anos) Engenharia Ambiental Bolsa integral ni Beno Michelle Fábio Foram muitas dificuldades para eu concluir o ensino superior. Há dois anos desempregado, posso afirmar que sou um engenheiro ambiental graças ao ProUni. Por ter a bolsa parcial do ProUni, meus pais me incentivaram a priorizar os estudos. Me dediquei bastante ao curso e, nas horas vagas, estudava para concurso. Posso dividir o meu curso em antes e depois do ProUni. Antes do ProUni, eu trabalhava na UCB numa área diferente do meu curso. Ficava ali porque precisava da bolsa. Só recebi a bolsa depois do 5º semestre de faculdade. No início do curso, eu trabalhava à noite e para ficar acordado em sala era realmente muito complicado. Depois que eu perdi o emprego e passei a ser apenas um estudante eu pude, mesmo em situações adversas, me dedicar melhor. Tive oportunidade de fazer cursos de extensão e estudar mais. Todo esse esfoço valeu a pena. Recebi um prêmio de melhor aluna do curso de Economia e ainda passei em um concurso na minha área. Acredito que correspondi a toda esse incentivo. O mercado de informática é muito prático e exige que você tenha experiência na área. Ao ganhar a bolsa do ProUni, eu pude ir para o mercado de trabalho e o meu redimento nas aulas também aumentou. Tudo o que eu aprendia em sala de aula, tive a oportunidade de praticar. Isso para mim foi muito bom. Na minha opinião, o ProUni é um dos melhores programas do Governo Federal. Sem ele, seria praticamente impossível eu terminar a faculdade. Além disso, fico feliz porque minha esposa faz o curso de Direito com bolsa integral do ProUni. Agora, formado posso garantir um futuro melhor para a minha família. Benoni Pereira Martins (39 anos) Engenharia Ambiental Bolsa parcial Greti Pretendo continuar estudando. Vou tentar mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Estou aliviada porque terminei mais uma etapa, mas triste porque estou saindo da faculdade. Michelle Pinto Oliveira (24 anos) Ciências Econômicas Bolsa parcial Hoje, me sinto um vitorioso. Quero continuar os estudos fazendo uma pós-graduação. O meu objetivo é dar aulas em universidades. Meu desafio é fazer a diferença numa sala de aula. Fábio Alves de Almeida (23 anos) O acesso ao ensino superior é algo muito difícil para a maioria das pessoas. Hoje, com o ProUni, vejo que a universidade começa a fazer parte da periferia. Num país cheio de desigualdades sociais, o ProUni trouxe oportunidade para as pessoas carentes, porém determinadas a vencer. Ele trouxe a oportunidade para as pessoas sonharem. Agora, tudo depende do esforço individual. Sistemas de Informação Bolsa integral ” Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 21 A RTIGO PROUNI e a democratização do acesso e permanência no ensino superior O contexto educacional brasileiro tem se caracterizado na atualidade pelo amplo debate acerca de alternativas pedagógico-educacionais que garantam a todos o ingresso, a participação e a aprendizagem nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino. Esse movimento, que teve início com a Conferência Mundial de Educação para Todos de 1990, mobiliza os sistemas de ensino e os profissionais da educação a transformarem suas concepções de ensinar e aprender. A defesa por uma visão sistêmica proposta pelo Ministério da Educação tem promovido a evolução das ações políticas de inclusão social e educacional e tem propiciado o desenvolvimento de ações afirmativas no âmbito do Ensino Superior. A abordagem sistêmica de educação, na área da educação especial, contribuiu para uma transformação conceitual fundamental, que serve de pilar para a sustentação de uma educação para todos: o entendimento da educação especial como um campo de conhecimento e uma modalidade transversal, que perpassa desde a educação infantil até o ensino superior. A proposição de uma política de inclusão tem como fundamento a premissa de que todos têm direito à educação e à aprendizagem com qualidade e que aos sistemas de ensino cabe a articulação de ações de acessibilidade, seguidas por transformações conceituais quanto ao ensino e à aprendizagem, superando con- 22 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 cepções segregacionistas e classificatórias de educação. Dados do MEC/INEP têm mostrado que menos de 10% dos jovens entre 18 e 24 anos conseguem entrar em uma universidade ou faculdade. Neste contingente é inexpressivo o número de pessoas com algum tipo de deficiência, não por sua incapacidade de ascender a uma universidade, como apregoavam concepções reducionistas sobre a aprendizagem, mas pela total fragilidade de políticas que garantam condições de acessibilidade ao ensino superior destinadas a essa população. Tendo em vista essa realidade, o Ministério da Educação desencadeia ações promotoras da inclusão da pessoa com deficiência no Ensino Superior, entre elas, o ProUni – Programa Universidade para Todos, criado pela Medida Provisória nº. 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº. 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Esse Programa tem como objetivo conceder bolsas de estudo integrais ou parciais a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, oferecendo, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa. Como critérios para ingresso é necessário participar do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, obtendo a média estabelecida pelo Ministério da Educação e possuir renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos, satisfazendo, também, as condições de ter cursado ensino médio completo em escola pública, ter cursado o ensino médio completo em escola privada com bolsa integral, ter cursado todo o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em instituição privada, na condição de bolsista integral da respectiva instituição, ser pessoa com deficiência, ser professor da rede pública de ensino básico em efetivo exercício sem formação em nível superior. O Programa tem contribuído para o avanço e cumprimento dos marcos legais, como a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - que assegura a educação como um direito de todos e o acesso aos níveis mais elevados de ensino (art.208), o Decreto nº 5296/2004, que regulamenta os critérios básicos de acessibilidade em todos os níveis de ensino, e a Portaria nº 3284/2003 do MEC, que dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoass com deficiências para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de cursos sos e de credenciamento de instituições de ensino nsino superior. Com isso, a democratização de e acesso e permanência se torna possível, propiciando opiciando condições para que os alunos com deficiência alcancem os níveis mais elevados de ensino e, conseqüentemente, tenham adqui-rido qui-rido seu direito de participação e atuação o na sociedade. bastante recente, jamais vislumbra-riam a possibilidade de entrar em uma universidade. O Plano de Desenvolvimento de Educação afirma que o desempenho dos bolsistas do ProUni é superior ao desempenho dos alunos pagantes, o que demonstra cabalmente que a questão do acesso foi tratada corretamente: os alunos não chegavam à educação superior por uma questão econômica e não por falta de méritos. A superação de uma política afirmativa dependerá da articulação da comunidade acadêmica e da sociedade como um todo em prol da eliminação das barreiras do preconceito e da indiferença marcando definitivamente um novo patamar de educação no Brasil. Cláudia Dutra Secretária de Educação Especial SEESP/MEC Nesse contexto, o ProUni se apresenta resenta como uma ação afirmativa, que, conjugada jugada à proposta do Plano de Desenvolvimento ento da Educação (PDE), converte-se em efetivo ivo instrumento de democratização da educação ção superior no Brasil. Por ora, essa importante nte iniciativa governamental já tem melhorado do o acesso e a permanência de brasileiros e brasileiras em situação de vulnerabilidade e social que, num passado O Plano de Desenvolvimento da Educação – Razões, Princípios e Programas. Brasília.. MEC, 2007. Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 23 H ISTÓRIAS DO PROUNI O BRASIL de Adejane A deficiência visual nunca foi obstáculo para Adejane Pereira ir em busca de seus sonhos. Bolsista do ProUni ingressante pelo sistema de cotas para pessoas com deficiência, a estudante está no último semestre do curso de Letras na Faculdade do Grande ABC, em São Paulo. Na faculdade, Adejane conta com a ajuda dos colegas para copiar as matérias do quadro. “Tenho apenas 20% de visão. Sou totalmente indepedente quando se trata da minha locomoção, mas na faculdade sempre preciso do apoio dos professores e colegas”. De uma família humilde, o pai pedreiro e a mãe vendedora, Adejane conta que a educação sempre foi uma das prioridades de sua família. “Tenho mais duas irmãs que também fazem faculdade. Sei que o salário dos meus pais nunca daria para pagar um curso de graduação, por isso sempre fui em busca das oportunidades”. Desde que começou o curso, a vida de Adejane mudou muito. Já ministrou palestras na faculdade contando sua história de desafios e superação. “Minha vida também mudou porque recentemente consegui um emprego. Não tenho palavras para expressar o quanto estou realizada”, diz. 24 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 Adejane Pereira Correia Estudante de Letras, Faculdade do Grande ABC/SP Assim que terminar o curso, a estudante pretende continuar na empresa onde trabalha e também dar aulas. “Pretendo estudar ainda mais e ultrapassar todas as barreiras que ainda estão por vir. Hoje, só tenho que agradecer a Deus, a minha família, ao ProUni, a universidade e as minhas amigas de sala que contribuíram para o meu sonho se tornar realidade”. M ERCADO DE TRABALHO garantido Qualificação é a chave para um bom emprego Rosilane Santos Vasconcelos Rosila Enfermeira é o sonho h de d qualquer l universitário. Além disso, com o meu salário tenho a oportunidade de ajudar meus pais financeiramente”. D epois de concluir o ensino superior, a maior preocupação do jovem recém-formado é a inserção no mercado de trabalho. Especialistas na área de empregabilidade são unânimes em dizer que não há crise para os profissionais bem preparados. Rosilane Santos Vasconcelos, 30 anos, teve o privilégio de terminar a faculdade com um emprego garantido. Atualmente, trabalha como enfermeira em um hospital do Rio de Janeiro. “Estou muito feliz e realizada profissionalmente. Tive a oportunidade de fazer um curso por amor e vocação e não apenas para ter um bom salário”, diz. Com bolsa integral do ProUni, Rosilane fez o curso de Enfermagem na Universidade do Grande Rio. “No 4º semestre de faculdade ganhei a bolsa. Para conseguir pagar a mensalidade, eu trabalhava em três empregos como técnica de enfermagem. Quando ganhei a bolsa tudo melhorou em minha vida. Comecei a trabalhar menos e a estudar mais”, revela. Numa família de nove irmãos, Rosilane se destaca. Seu esforço e dedicação foram recompensados. “Estar bem profissionalmente Para se manter atualizada, Rosilane não quer parar de estudar. Em 2008, começa a fazer pós-graduação em UTI Neo-Natal. “Meu maior sonho agora é entrar para a Marinha. Como sei que a concorrência é muito grande vou, primeiramente, me especializar e depois tentar concorrer à uma vaga”. A experiência de Rosilane como bolsista já repercuti dentro da sua família. Seus sobrinhos também vão tentar uma vaga no ensino superior por meio do ProUni. “Para mim, o ProUni é o programa de governo mais inteligente que já vi. Beneficia quem está disposto a estudar e, consequentemente, ajuda o estudante a conquistar um lugar no mercado de trabalho”. Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 25 A RTIGO Educação e desigualdade: o papel do PROUNI A s sociedades democráticas, apoiadas na concepção soberana do indivíduo, têm na educação seu mais importante instrumento de afirmação de valores e princípios. A partir das premissas da igualdade perante a lei e da irredutibilidade do indivíduo, as sociedades democráticas apostam no valor eqüitativo da educação: cada um de acordo com seus méritos terá acesso ao conjunto de direitos e oportunidades reservadas aos seus cidadãos educados. Acessar a educação é premissa para ter acesso à condição de cidadão de pleno direito. A história da educação brasileira tem sido marcada pela iniqüidade e também pela luta para que o acesso à educação realize a promessa democrática. No entanto, a sociedade mantém uma relação paradoxal com a educação: se, por um lado, reafirma sua importância como fator de desenvolvimento – individual e coletivo – por outro, reage fortemente quando se adotam medidas que buscam dar eqüidade de acesso a segmentos tradicionalmente excluídos da educação, em especial da educação superior. O Programa Universidade para Todos – ProUni – pode ser visto como um bom exemplo desse rico e complexo debate que envolve valores, visões de mundo, a compreensão do que fomos e do que queremos ser como nação. Nascido para regulamentar um dispositivo constitucional – a filantropia – que concede isenção fiscal a um conjunto de instituições educacionais, o ProUni tornou-se o maior e mais importante programa de bolsas para o acesso de segmentos da população pobre à educação superior 26 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 em nosso país. A trajetória da proposta inicial do programa, as alterações que sofreu, as críticas a que foi submetido fazem do ProUni um caso exemplar dos paradoxos de nosso país. Acusado por opiniões conservadoras (à direita) de ser uma intervenção indevida na iniciativa privada e por outras opiniões igualmente conservadoras (à esquerda) de ser um programa assistencialista com a real finalidade de defender os interesses do setor privado da educação superior, o ProUni atravessou esses poucos e longos anos de existência confirmando sua pertinência para o tema da democratização do acesso à educação superior. Se criado no mesmo momento em que a Constituição de 1988 definiu a condição de filantropia, teria gerado milhares de vagas para acesso de segmentos mais pobres da população, uma verdadeira revolução em nosso país, tão avaro em oportunidades para os excluídos. Esse é, certamente, um dos paradoxos mais gritantes: a sociedade reafirma sua crença no valor da educação como instrumento de redução de desigualdades e criação de oportunidades e, no entanto, reage quando se cria um programa que pretende democratizar o acesso e ampliar oportunidades. Quando se trata de considerar o ProUni levando em conta os temas da diversidade étnica e cultural, sua contribuição é imensa. Ao estabelecer a reserva de vagas para afrodescendentes e indígenas, entre outros segmentos, o programa aponta para o desafio que precisa ser enfrentado com urgência e que, isoladamente, o próprio programa não dará conta. O desafio que o ProUni tem enfrentado diz respeito à promessa de tornar a educação um fator de mobilidade social para os indivíduos e também um fator de redução das desigualdades da própria sociedade. Ao estabelecer cotas para afrodescendentes e indígenas, o Programa indica um caminho a ser seguido: a educação deve gerar oportunidades para vencer as desigualdades. Não será a educação isoladamente o único caminho para o enfrentamento da desigualdade em nosso país. Mas se alcançarmos, neste campo, padrões mínimos de eqüidade de acesso, permanência e sucesso, haverá mais vozes, mais atores empenhados e qualificados para a necessária transformação do ambiente social, econômico e cultural de nosso país. A rigor, o ProUni inicia a possibilidade da formação de elites intelectuais comprometidas com suas origens, visto que o sentimento de pertencimento a determinados grupos – quer sejam afrodescendentes, quer indígenas – é condição para acesso às bolsas. O debate sobre as cotas talvez não tenha ainda contribuído o bastante para a compreensão da desigualdade de acesso à educação pelas populações negras. Estudos recentes demonstram que a diferença de escolaridade entre as populações brancas e negras no Brasil se mantém constante há três gerações. Como é consenso que não se trata de uma diferença natural – não há raças no sentido biológico – a explicação para a desigualdade só pode ser encontrada no processo histórico, econômico, cultural e social que estruturou a nação brasileira. Romper o ciclo de herança da pobreza é um imperativo e cabe à educação – mas não somente a ela – um papel decisivo na criação de um novo ciclo de oportunidades para todos. Os estudos educacionais têm apontado que a diferença não é apenas de acesso, mas também de permanência e de sucesso em todos os níveis de ensino. A herança da pobreza vem se perpetuando, garantida por argumentos insustentáveis à luz das premissas democráticas. O ProUni tem contribuído, entre outros aspectos, Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 27 para derrubar os mitos que esses argumentos traduzem. Um dos mais fortes argumentos sustenta que o acesso à educação superior deve ser creditado ao mérito e que políticas afirmativas teriam como corolário a perda de qualidade da educação superior do país, minando todo o sistema de mérito em que está apoiada esta qualidade. Na medida em que o acesso às bolsas se faz por meio dos resultados do Enem, derrubou-se o mito do ingresso. As avaliações realizadas pelo Enade apontaram que os estudantes bolsistas do ProUni alcançaram resultados superiores aos dos demais estudantes na maioria dos cursos avaliados. Assim se confirma que o resultado de uma única prova – seja o Enem, seja o vestibular – não é termômetro suficiente para avaliar mérito, que deveria ser, a rigor, no plural – méritos – visto que provas avaliam aspectos do conhecimento, mas não mensuram outras dimensões que contribuem para o bom desempenho dos estudantes no ensino superior. Os resultados do Enade demoliram definitivamente o preconceito que atribuía aos mais pobres – em particular aos negros – insuficiência de aprendizado ou de capacidade de superar os obstáculos próprios de uma educação tradicionalmente elitizada, vinculada a um universo de valores marcadamente europeizante, branco, masculino e homofóbico. No entanto, o ProUni não é uma ação isolada e integra uma política de governo que tem na expansão das redes de educação superior e profissional outro importante instrumento de democratização do acesso. As políticas de promoção da igualdade racial, implementadas pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR – enfrentam outras dimensões com que o preconceito e a discriminação marcam a sociedade brasileira atual. O ProUni, tanto do ponto de vista simbólico quanto do ponto de vista da trajetória concreta da vida de milhares de indivíduos, trouxe uma enorme contribuição à educação brasileira e ao rompimento do ciclo de reprodução das desigualdades. O Programa, integrado ao con- 28 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 junto de políticas afirmativas em curso no país, é um marco que deve orientar a criação de novas janelas de oportunidades aos excluídos na sociedade brasileira. Na questão indígena, o ProUni também traz uma importante inovação, ao estabelecer cotas de acordo com os indicadores demográficos de cada estado da federação. Criou-se o primeiro programa de acesso à educação superior para a população indígena – ou melhor, as populações indígenas, visto que não há índio, no singular, mas cerca de 225 povos distintos, falantes de 180 línguas maternas. A constituição de 1988 foi um importante marco nas conquistas das comunidades indígenas, garantindo-lhes o direito a uma educação própria, em sua própria língua e em diálogo com suas tradições e projetos de futuro. Quando se trata de educação, é disso que se trata: o direito à construção de futuros e, para as comunidades indígenas, esse direito ainda aguardava sua realização por meio de políticas adequadas. O ProUni abre a oportunidade para que jovens e lideranças indígenas alcancem cursos de nível superior, habilitando-os à aquisição de conhecimentos sem os quais as relações já assimétricas entre suas comunidades e a sociedade envolvente se distanciariam ainda mais. O ProUni está apenas em seu começo. Estão se formando as primeiras turmas, estão sendo realizadas as primeiras pesquisas mais amplas e detalhadas sobre seus impactos: na vida dos bolsistas e de suas comunidades, no ambiente acadêmico e no conjunto de valores criado nesse ambiente, nas próprias instituições e nas políticas públicas de educação superior e ações afirmativas. Em recente encontro com o Ministro da Educação, bolsistas apresentaram sugestões para modificação e aprimoramento do Programa. Desde já se pode observar que o ProUni inova e cria oportunidades, tanto para os indivíduos diretamente beneficiados como para suas famílias, mas também para as instituições que os recebem e seus estudantes. Se acreditamos que educar é mais do que adestrar para uma técnica, se educar é construir valores para a sustentabilidade – ambiental, política, econômica, social e cultural – de nossas sociedades, o ProUni inova mais uma vez: a diversidade é, em si, um valor educativo e conviver mais ampla e livremente com a diversidade étnica e cultural de nosso país formará gerações mais aptas a valorizar a riqueza que essa diversidade significa, contribuindo ativamente para a sociedade mais justa pela qual lutamos e que o país merece. A partir do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE – as possibilidades de articulação entre território, educação e desenvolvimento se ampliam enormemente. No caso da educação escolar indígena, o caminho traçado pelo Ministério da Educação é fortalecer os arranjos etno-educativos, promovendo a integração de diferentes atores – as comunidades indígenas, os municípios, estados e a União – para garantir o direito constitucional a uma educação própria. Neste contexto, as bolsas do ProUni ganharão um significado ainda maior, pois estarão arti-culadas com um projeto que leva em conta as tradições, línguas e culturas das etnias participantes. Há muitos desafios a serem vencidos. Os valores culturais desenvolvidos ao longo da história pelos segmentos excluídos também devem eles ser incorporados aos saberes constituídos e valorizados. É o caso, por exemplo, dos saberes dos povos indígenas. Em tempos de piratarias, contar com indígenas formados em biologia, medicina, veterinária e também em letras, pedagogia e história, certamente contribuirá para que a nação brasileira se enriqueça e distribua melhor a riqueza criada. André Lázaro Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SECAD/MEC Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 29 H ISTÓRIAS DO PROUNI O BRASIL de Danilo A inda quando cursava o terceiro ano do ensino médio, Danilo Reis de Souza, 23 anos, assistiu pela televisão uma matéria sobre o Programa Universidade para Todos. Sem perder tempo fez sua inscrição e foi aprovado no primeiro processo seletivo do ProUni pelo sistema de cotas para afrodescendente. Alegre e espontâneo no falar, Danilo, que mora em Salvador, conta como foi seus primeiros dias de universitário. “No início, tive muito medo da convivência com as pessoas de um nível social mais elevado, mas como sou muito falante fiz amizades e logo me adaptei a esse novo mundo. Nunca senti nenhum tipo de discriminação”, revela. De família muito humilde, o estudante nunca imaginou estar dentro de uma universidade. “Minha família sempre viveu numa situação complicada, abaixo da linha da pobreza. Comecei a estudar com 10 anos. Nunca reprovei, mas precisava parar de estudar quando a situação complicava”, diz Danilo. O estudante começou a estudar turismo na Faculdade Castro Alves (BA), mas no decorrer do curso sentiu a necessidade de mudar para Administração com habilitação em Marketing. “Apesar de gostar muito de turismo percebi que não seria fácil conseguir um emprego durante o curso. Precisava trabalhar para ajudar a família, por isso, optei por Administração. Hoje, faço estágio na minha área e estou gostando muito”. É Danilo quem colabora com as despesas da casa. O dinheiro que recebe no estágio é a maior renda da família. A mãe, de 59 anos, trabalha como diarista e pela idade não consegue trabalhar todos os dias. Mesmo trabalhando durante todo o dia, sem muito tempo para os estudos, o jovem universitário é o mais cotado da turma para ajudar os colegas nas matérias mais complicadas. “Quando chego à faculdade esqueço do trabalho e me concentro ao máximo para aprender. Além disso, sempre que posso tiro as dúvidas dos meus colegas”. O estudante acredita que só a educação pode dar um futuro melhor para as pessoas. “Vejo no ProUni a esperança de uma vida diferente não só para mim como para a minha família”. Danilo Reis de Souza Estudante de Administração, Faculdade Castro Alves/BA 30 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 E VENTO 1º Encontro dos Estudantes do PROUNI C om o objetivo de promover um debate sobre políticas públicas de acesso ao ensino superior, a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) e o Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ), em parceria com a União Nacional dos Estudantes (UNE), realizaram o 1º Encontro dos Estudantes do ProUni da cidade de São Paulo. Leandro, José, Hussein, Filipe, Ronaldo e Artur foram os seis representantes dos estudantes do Programa Universidade para Todos que entregaram uma carta ao Ministro da Educação, Fernando Haddad. O documento contém sugestões de aperfeiçoamento do Programa. Durante o evento, que contou com a participação de cerca de 400 bolsistas, os estudantes destacaram o quanto o ProUni ampliou o acesso à educação superior, e indicaram alguns pontos que podem melhorar ainda mais o Programa. Fernando Haddad elogiou a objetividade da carta entregue pelos estudantes, definindo-a como uma das contribuições mais importantes que recebeu desde que está à frente do Ministério da Educação. O ministro afirmou ainda que esta geração entra para a história da educação superior do Brasil por ter derrubado um mito: mérito não tem a ver, necessariamente, com a situação sócioeconômica do estudante, concluiu. O evento foi realizado, em São Paulo, em novembro de 2007 e contou com o apoio do MEC. Fonte: Ministério da Educação No encerramento do evento, o Ministro da Educação lembrou do lançamento do ProUni, quando alguns setores da sociedade acreditavam que os bolsistas CAIXA e MEC firmam parceria para oferta de estágio Estudantes do ProUni terão oportunidade de fazer estágio na Caixa Econômica Federal. O ministro da Educação, Fernando Haddad, e o vice-presidente de Gestão de Pessoas da Caixa Econômica Federal, Carlos Gomes, assinaram um Protocolo de Intenções entre a CAIXA e rebaixariam a qualidade do ensino superior. “O que se viu foi exatamente o contrário: em todos os exames e avaliações os bolsistas do ProUni têm desempenho superior aos não bolsistas”. o MEC, firmando uma parceria que estabelece a oferta de estágios, nas unidades administrativas da CAIXA, aos bolsistas do ProUni. Podem concorrer às vagas do Programa de Estágio da CAIXA todos os bolsistas do ProUni que estiverem com a matrícula ativa e que estejam cursando a partir do 3º semestre para os cursos com duração de 3 anos e o 5º semestre para os cursos com duração de 4 ou 5 anos. A assinatura do protocolo aconteceu em dezembro de 2007, no Palácio do Planalto, e faz parte dos atos complementares do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 31 A RTIGO O PROUNI e a formação profissional para o Magistério N os tempos atuais, vive-se o contexto histórico em que a sociedade conquistou um salto brusco de uma dimensão provincial e regional para uma dimensão planetária: imposta pela abertura de fronteiras econômicas e financeiras, impelida por teorias do livre comércio, reforçada pelo desmembramento do bloco soviético, instrumentalizada pelas novas tecnologias da informação, bem como pela interdependência no plano econômico, científico, cultural e político. Ao lado desse fator, convive-se com realidades, tais como o analfabetismo, a mortalidade infantil,a violência, o que torna a modernidade mais complexa. A impressão que se tem é a de que se vive, no próprio Brasil, situações de primeiro mundo e até de submundo. Neste século XXI, o processo educativo deve privilegiar a diversidade, a criatividade, a imaginação e, para tanto, os educandos necessitam dispor de condições para realizar descobertas e experimentações – estéticas, científicas, desportivas, culturais, sociais -, para se relacionarem ativamente com um mundo em mudança. Nessa perspectiva, o papel da educação escolar é extremamente relevante, pois o profissional precisa dominar, além dos fundamentos teóricos do conhecimento formal, o circuito do processamento informacional e seus respectivos equipamentos tecnológicos. Além da formação teórica, tecnológica e política é papel também da educação escolar buscar o desenvolvimento de determinadas características, como: a abertura, a criatividade, a iniciativa, a curiosidade, a vontade de aprender e de buscar soluções, em articulação com as habilidades de cooperação, responsabilidade, organização, equilíbrio, disciplina, concentração e solidariedade. b Se vivemos na era da globalização da economia e das comunicações, também o fazemos numa época de acirramento das contradições tanto inter quanto intra povos e nações, época do ressurgimento do racismo, de certo triunfo do individualismo, de fundamentalismos. A Em um mundo cada vez mais interligado, em que as distâncias se encurtam e a comunicação ocorre simultaneamente de várias formas, sem limites geográficos, toda e qualquer Nação que projeta a construção de um desenvolvimento com sustentabilidade deve propor, definir políticas de educação com o objetivo de preparar o indivíduo que tenha condições de processar, selecionar e aplicar informações, para inserir-se criticamente na sociedade. 32 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 Desse modo, outro desafio se apresenta: o da formação de professores com qualidade social e em quantidade para atender esse nosso Brasil diverso, desigual e de dimensão continental. Essa é uma das metas previstas no Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado pela Lei Nº. 10.172/2001, em que um dos objetivos centrais é o da melhoria da qualidade do ensino. Este objetivo poderá ser alcançado apenas se for promovida, ao mesmo tempo, a valorização do magistério. Do contrário, tornam-se frágeis quaisquer esforços para alcan- c c çar as metas estabelecidas em cada um dos níveis e modalidades do ensino. A Década da Educação estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº. 9.394/1996 já expirou em 2007 e ainda não se cumpriram as metas que prevêem a qualificação e a valorização de todos os professores da educação básica. Essa valorização só pode ser obtida por meio de uma política global de magistério, que implica, simultaneamente: a formação profissional inicial; as condições de trabalho, salário e carreira; a formação continuada. A simultaneidade dessas três condições, mais do que uma conclusão lógica é uma lição extraída da prática (PNE, Lei Nº. 10.172/2001). Reconhecemos, também, que muito já se fez nesse sentido. Assim, gostaríamos de destacar o papel do Programa da Universidade para Todos – ProUni, criado pelo Governo Federal em 2004, com a finalidade de conceder bolsas de estudo, integrais e parciais, a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. Dessa forma, esse Programa acolhe a todos em qualquer curso. Ressaltamos, no entanto, que mesmo não sendo específico para os cursos de Licenciatura, tem se transformado em grande incentivo à formação e ao aperfeiçoamento de professores da educação básica. Esse incentivo se caracteriza pelos critérios adotados para seleção de professores da rede pública, quais sejam: a) esteja concorrendo à vaga em cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia; b) seja professor da rede pública de ensino básico; c) esteja em efetivo exercício na rede pública; d) integre o quadro permanente da instituição, neste caso, o candidato não precisa comprovar a renda familiar por pessoa e , nem ter cursado o ensino médio em escola pública (ProUni, 2004). já beneficiou com bolsas cerca de 310 mil estudantes bolsistas,dos quais 67.729 realizam cursos de licenciatura. Essas bolsas podem ser integrais ou parciais nas modalidades - presencial ou educação a distância, nos diversos turnos: integral, matutino, vespertino ou noturno. Estatisticamente, esse quadro está assim distribuído: a) tipos de bolsa: integral, 49.793; parcial, 17.936; b) modalidades: presencial, 56.302; EAD, 11.427; c) turnos: integral, 601; matutino, 9.258; vespertino, 2.577; noturno, 43.866 bolsistas. E Outra contribuição em relação à melhoria da qualidade da educação básica está no grande potencial que se abriu para uma interação e articulação com o Ensino Médio. Só pode se candidatar ao ProUni, o estudante que tiver participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e obtido a nota mínima de 45 pontos (média aritmética entre as provas de redação e conhecimentos gerais). d Dados apresentados pela coordenação do Programa em dezembro de 2007 registram que nesses quase 4 anos de existência, o ProUni Ressaltamos, ainda, a importância do acompanhamento estabelecido pelo Programa ao longo da trajetória acadêmica, pois é condição para a permanência do estudante beneficiário de bolsa integral ou parcial, o aproveitamento acadêmico em, no mínimo, 75% (setenta e cinco por cento) das disciplinas cursadas em cada período letivo. Outro ponto que nos parece extremamente importante é o entendimento, por parte das Instituições de Ensino Superior que aderem ao Programa, que não é suficiente apenas o compromisso com o acesso desses e dessas jovens aos cursos de licenciaturas, mas, sobretudo, a responsabilidade de formar professores e professoras para o contexto que já nos referimos e para este Brasil. Dessa forma, as IES que oferecem cursos de formação inicial de docentes para a educação básica devem considerar as Diretrizes Nacionais (Parecer CNE/CP N° 5/2005): - o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 33 i - a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional; - a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino. As novas referências culturais, com seus códigos próprios, impõem desafios para a formação do cidadão, tais como o conhecimento dos símbolos, dos diferentes tipos de linguagem e das habilidades que possibilitam a comunicação. As instituições educacionais têm hoje o papel não só de informar e despertar no aluno o desejo de aprender, como também o de promover o desenvolvimento das capacidades de produzir novos conhecimentos científicos e soluções que atendam às necessidades sociais. Essa processualidade exige instituições educacionais que propiciem o desenvolvimento intenso das potencialidades do indivíduo, sob pena de metas como a mo-dernização tecnológica, o incremento da produtividade e outras, tão importantes para a melhoria da qualidade de vida do cidadão e do País, permanecerem sem resposta. As políticas de capacitação profissional, e ,em especial dos professores, podem influir na direção e ritmo das mudanças tecnológicas e do próprio processo de transformação social. A instituição educacional deve estar atenta à nova dinâmica social, analisando em que medida esse cenário interfere no projeto educativo, na organização do currículo, nas diversas programações, nas relações interpessoais. Não cabe mais ao educador ser o depósito de todo conteúdo que um educando vai precisar em 34 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 sua vida. Para tanto, é fundamental superar a visão epistemológica tradicional do conhecimento que separa sujeito e objeto, as verdades já prontas, a educação transmissora de conteúdo que separa o mundo dos sujeitos que o constroem. A escola deve ser o lugar onde há encontro humano. Para responder a esses desafios, a formação do profissional deverá construir a identidade do professor, centrada em um perfil profissional que expresse o domínio do conhecimento específico de sua área e do conhecimento pedagógico em uma perspectiva de totalidade, permitindo-lhe perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e a globalidade das relações sociais, políticas, culturais, em que o processo educacional ocorre, a produção do conhecimento sobre o seu trabalho, a tomada de decisões em favor da qualidade das aprendizagens escolares do aprendiz, seja ele, criança, jovem ou adulto. Essa construção se dá como parte de um projeto de sociedade, que se fundamenta na concepção histórico-social e tem como paradigma educacional as relações entre cultura, sociedade e educação. Nessa perspectiva, reafirma-se que a formação do professor deverá se fundar nas dimensões: histórica, científica, cultural, pedagógica, emocional e ambiental no interior de um projeto político-pedagógico. m Enfim, é preciso construir uma educação que considere a relação entre a formação inicial e a continuada, que articule os conhecimentos, que promova o encontro entre as pessoas, a investigação, a reflexão, e o compromisso com um mundo em que a separação humanidadesociedade-natureza perde o sentido. Profª. Clélia Brandão Alvarenga Craveiro Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, professora do Curso de Pedagogia e coordenadora de Admissão Discente da Universidade Católica de Goiás B OLSA PERMANÊNCIA PROUNI Garantia de permanência no ensino superior A vida de um estudante universitário não é fácil. Além dos estudos e provas, muitas vezes é preciso trabalhar para custear a mensalidade. Mas, o que fazer quando o curso é integral e não sobra tempo para o trabalho? Além de oferecer bolsa de estudo integral ou parcial, o Programa Universidade para Todos (ProUni) oferta também um auxílio financeiro de R$ 300,00 para que o estudante possa se manter em sala de aula. Ricardo Correia de Araújo, 22 anos, estudante de Medicina da Universidade de Cuiabá, é um dos beneficiados da Bolsa Permanência. “Passo Ricardo Araújo Estudante de Medicina, Universidade de Cuiabá/MT praticamente o dia inteiro na universidade e, por isso, é impossível conciliar estudos com trabalho. A bolsa me auxilia com o transporte, alimentação e livros.”, diz o estudante. O desejo de ser médico motivou o aluno a sair de Rondonópolis, onde moram os pais, para fazer o curso em Cuiabá. “ Meu sonho de ser médico só está sendo possível graças a bolsa do ProUni. Minha família não teria condições de pagar uma mensalidade de R$ 2.700,00, além de outras despesas. Agradeço por morar com a minha irmã e receber a ajuda de custo do ProUni”, explica Ricardo. A Bolsa Permanência, criada pela Lei nº. 11.180/2005, é um benefício concedido a estudantes com bolsa integral, matriculados em cursos presenciais com carga horária média igual ou superior a seis horas diárias de aula. A bolsa é uma forma de garantir a permanência de jovens que não podem conciliar o trabalho com o estudo em razão dos cursos, que exigem dedicação integral. A estudante Daniela Brezolin reforça a importância da bolsa para estudantes de cursos integrais. “Faço Medicina na Universidade de Santa Cruz do Sul (RS) a 400 km da cidade onde moram a minha filha e o meu esposo. Como não posso trabalhar, a bolsa me ajuda com as despesas de alimentação e livros”, explica. Atualmente, cerca de 2500 estudantes estão selecionados para receberem a Bolsa Permanência. Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 35 ENTENDA O 36 | Revista PROUNI • Edição 01/2008 O PROGRAMA O ProUni é um programa do Governo Federal, criado em 2004, que oferece bolsas de estudos integrais e parciais em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica a estudantes brasileiros sem diploma de curso superior, em instituições privadas de educação superior, oferecendo, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa. CONDIÇÕES PARA SE CANDIDATAR Para se candidatar ao Prouni, o estudante deve ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem referente à edição imediatamente anterior ao processo seletivo e obtido nesse exame a nota mínima estabelecida pelo MEC de 45 pontos (média aritmética das provas de redação e conhecimentos gerais). Também é necessário que o estudante possua renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos e satisfaça a uma das condições abaixo: - ter cursado o ensino médio completo em escola pública, ou - ter cursado o ensino médio completo em escola privada com bolsa integral da instituição, ou caso, a renda familiar por pessoa não é considerada. TIPOS DE BOLSA Bolsa integral para estudantes com renda familiar por pessoa de até um salário mínimo e meio. Bolsa parcial de 50% e 25%, para estudantes com renda familiar por pessoa de até três salários mínimos. RESERVA DE COTAS O ProUni reserva bolsas às pessoas com deficiência, aos autodeclarados afrodescendentes e indígenas. O percentual de bolsas destinadas aos cotistas é igual àquele de cidadãos pretos, pardos e índios, por Unidade da Federação, segundo o último censo do IBGE. O candidato cotista também deve atender aos demais critérios de seleção do programa. cronograma semestral divulgado pelo MEC. PROCESSO DE SELEÇÃO O ProUni utiliza as notas do Enem como critério de seleção. São pré-selecionados os estudantes que obtiveram as melhores notas nesse exame. Ao fazer sua inscrição, o candidato poderá escolher até cinco opções de cursos e instituições. O estudante com melhor resultado no Enem é o primeiro a ser pré-selecionado. Desse modo, o Programa reconhece e valoriza o mérito dos melhores estudantes. INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES O ProUni conta com mais de 1.400 instituições de ensino superior participantes, distribuídas por todo o território nacional. A adesão das instituições ao Programa é facultativa. - ser pessoa com deficiência, ou INSCRIÇÕES - ser professor da rede pública de ensino básico, em efetivo exercício, integrando o quadro permanente da instituição e concorrendo a vagas em cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia. Neste As inscrições para o processo seletivo do ProUni são realizadas exclusivamente pela internet, na página eletrônica do Programa http://www. mec.gov.br/prouni, de acordo com INFORMAÇÕES: www.mec.gov.br/prouni e-mail: [email protected] Telefone: 0800 616161 Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 37 D EPOIMENTOS Fala Universitário! “Sou o filho mais velho de uma família de quatro irmãos. Não foi fácil, mas aqui estou na faculdade, fazendo um curso que adoro. Não penso na Engenharia como uma forma de ganhar dinheiro, mas como uma forma de melhorar a vida das pessoas. Esse é o meu objetivo como homem e cidadão. Só tenho a agradecer ao ProUni. Estou feliz de estar participando de um programa que realmente funciona e que mudou a minha vida para melhor”. Tiago Wilson Engenharia de Produção Mecânica Universidade do Grande ABC/SP “O ProUni abriu as portas para o ensino superior. Eu já havia ingressado duas vezes na faculdade, mas tive que desisitir porque priorizei o sustento da minha família. Eu acredito que esse Programa está mudando o perfil da educação do povo brasileiro, incluindo uma camada social de baixa renda que, até então, estava fadada a se conformar com o ensino médio”. Rodrigo Lima Direito Escola Superior de Administração, Direito e Economia/RS “De família pobre, filho de mãe solteira, desde pequeno conheço de perto as dificuldades da vida. Como morávamos na roça e desde pequeno trabalhava para ajudar no sustento da casa, o estudo sempre ficou em segundo plano. Depois de algum tempo, minhã mãe decidiu morar na cidade para que pudéssemos concluir os estudos. Somente em 2003, com 27 anos, eu conclui o ensino médio. A seguir minha meta passou a ser o ingresso em uma instituição de ensino superior, mas esbarrava na falta de condições financeiras e na incapacidade de disputar uma vaga numa universidade federal. Em 2007, depois de fazer o Enem, consegui o ProUni. O ProUni mudou a minha vida, aumentou minha auto-estima e da minha família. Prentendo não parar de estudar. Depois que terminar a gradução quero ser doutor em lingüistica e poder ajudar não só a minha família, mas toda a minha comunidade”. Ronaldo Adriano Lopes da Silva Letras Faculdade das Águas Emendadas/DF “Tenho grande satisfação de fazer parte da primeira turma a ingressar no ensino superior pelo ProUni. Esta é uma oportunidade única de realização pessoal e, futuramente, profissional. Procuro estudar e me envolver nos projetos da faculdade ao máximo, aproveitando todas as oportunidades de crescimento pessoal e acadêmico. Hoje, faço pesquisas, escrevo artigos, sempre buscando novas soluções e interpretações aos assuntos estudados. Enfim, espero que todos aqueles que conseguiram a bolsa se esforcem para mostrar resultados positivos para que este Programa do governo seja permanente e a inclusão do ensino superior seja cada vez maior”. Andressa Schiaffino Direito Faculdade de Direito de Santa Maria/RS Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 38
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