UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO – UNISA

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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO – UNISA
UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO – UNISA
FACULDADE DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA
DANIELE NUNES DA SILVA
História da Saúde:
a Tuberculose na cidade de São Paulo em 1910
São Paulo
2015
DANIELE NUNES DA SILVA
História da Saúde:
a Tuberculose na cidade de São Paulo em 1910
Projeto de Pesquisa apresentado conforme
normas estabelecidas pelo Edital 009/2015
como pré-requisito para a solicitação de
Bolsa
de
Iniciação
Científica
–
PIBIC/CNPq.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernando de
Souza Campos.
.
São Paulo
2015
RESUMO
A presente pesquisa busca compreender e contextualizar o processo da saúde
pública na cidade de São Paulo em 1910, onde grandes epidemias emergiram,
por influência das transformações urbanas causadas na época. Entre tantas
epidemias, a tuberculose, que, por muitos anos sua causa foi desconhecida,
mas, no final do século XIX a situação reverte com a revelação do bacilo,
causador da moléstia. Em São Paulo no século XX não existia uma atenção
devida a doença e que levou a Liga Paulista Contra a Tuberculose, a procurar
meios fora da cidades aglomeradas, construindo sanatórios e estâncias com
qualidades terapêuticas, como, em Campos de Jordão. Com base na pesquisa,
foram utilizadas um jogo documental trocada pelo casal Martiniano Medina e
Esther Figueiredo, datadas entre 1908 a 1919 e endereçadas para a região
central da cidade de São Paulo, no bairro Pari. Assim, essa base primária,
permitiu encaminhar para algumas indagações na presente pesquisa, mesmo
que não aborde especificamente sobre a epidemia, tuberculose, que são as
seguintes: O que de fato, as transformações urbanas na cidade de São Paulo,
influenciaram na Saúde Pública? Diante das epidemias emergentes, a
tuberculose era marginalizada e esquecida por muitos. Como a atenção dessa
moléstia ganhou espaço na Saúde Pública? Como a leitura das referências, as
cartas, abre espaço para a questão da Saúde Pública na cidade de São Paulo
e para o tratamento da moléstia delimitada na Pesquisa?
Palavras-Chave: Cidade; São Paulo; Saúde Pública; Epidemia.
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5
2 . OBJETIVOS ........................................................................................................................ 9
2.1 Objetivo Geral.................................................................................................................... 9
2.2. Objetivos Específicos ..................................................................................................... 9
3. PLANO DE TRABALHO ............................................................................................... 10
3.1 Cronograma .................................................................................................................... 10
4. Material e Método .......................................................................................................... 11
5. Forma de Análise e Resultado ................................................................................. 12
6. Referências ...................................................................................................................... 13
1. INTRODUÇÃO
No final do século XIX e início do XX, o Brasil passava por
transformações sociais e politicas como o fim do regime monárquico,
consolidação da República e a substituição de mão de obra escrava para livre,
o que resultou em imigrações para o país, principalmente para o Estado de São
Paulo. No contexto, a cidade de São Paulo passava por um processo
modernização com construções de ferrovias e implantação da produção
industrial, assim, a pauliceia começava a expandir-se economicamente, além
de elevar o índice populacional multiplicando seus habitantes. Com isso, houve
uma segregação geográfica das classes sociais, dividindo a elite e o
proletariado em formação.
As famílias da elite paulista começaram a residir em áreas novas como
as regiões da Avenida Paulista, Campos Elíseos, Higienópolis, enquanto as
famílias humildes residiam nas áreas próximas aos comércios e indústrias,
onde trabalhavam, em bairros industriais como Mooca, Bixiga, Bom Retiro e
Brás e Pari:
A própria população urbana, largada a seu destino, encontra soluções
para seus maiores problemas. Soluções esdrúxulas é verdade, mas
são as únicas que estão a seu alcance. Aprende a edificar favelas
nas morrarias mais íngremes fora de todos os regulamentos
urbanísticos, mas que lhe permitem viver junto aos seus locais de
trabalho e conviver como comunidades humanas regulares,
estruturando uma vida social intensa e orgulhosa de si. Em São
Paulo, onde faltavam morrarias, as favelas se assentam no chão liso
de áreas de propriedade contestada e organizam-se socialmente
como favelas. (RIBEIRO, 2006, p.188).
O operariado vivia em moradias precárias ampliando o número de vilas e
cortiços em bairros operários da cidade de São Paulo. Não só o número de
vilas e cortiços crescia como também crescia na população “[...] o medo de
5
doenças epidêmicas que dizimavam populações inteiras não distinguindo entre
ricos e pobres.” (BERTUCCI,1994, p.77). Grandes epidemias tomaram espaço
no cenário da cidade de São Paulo no início do século XIX, colocando a saúde
de muitos em risco. Dentre tantas epidemias algumas ganharam destaque por
sua força avassaladora como as doenças transmitidas por vetores que
possuem uma ligação com a água, que alastrava doenças como febre amarela
e malária. As doenças de transmissão respiratória, entre elas a varíola e a
tuberculose, também marcaram o contexto histórico delimitado por esse projeto
de pesquisa. Todavia, ainda que as doenças não distinguissem as classes
socais os que mais sofriam com as moléstias eram os pobres que moravam em
habitações coletivas e precárias, os quais não tinham disponíveis serviços
como os de água e esgoto:
Em 1913, um repórter do jornal Fanfulha foi impelido a visitar uma
habitação coletiva do Brás devido à ocorrência de constantes atritos
entre seus moradores e destes com a polícia. Aproveitando a
oportunidade para descrever o dia-a-dia da casa inspecionada, o
repórter informava sobre a existência de mais de duas centenas de
inquilinos em um mesmo prédio e assinalava ainda a ocorrência de 5
mortes por tuberculose apenas no mês anterior à visita. (BERTOLLI
FILHO, 2003, p.45)
Além da falta dos serviços de água e esgoto, outros fatores colocavam
em riscos os moradores como os contatos próximos e sem condições mínimas
de saneamento, aumentando o risco de morte de todos aqueles que moravam
juntos, às vezes, dividindo os mesmos cômodos, o que levava à transmissão
de doenças respiratórias exemplarmente a tuberculose:
O termo ‘tuberculose’ é recente: ele foi cunhado em 1839 por
Schoenlein (1793-1864), baseado no nome dado em 1680 por Sylvius
à lesão nodular, o tubérculo, encontrado em pulmões de doentes. Até
então, a doença era conhecida como tísica (palavra derivada do
verbo grego phthiso, que significa decair, consumir, definhar) ou
6
consunção (do latim, consumptio onios, de mesmo sentido que o
termo grego). Popularmente era chamada de “peste branca” e “mal
do peito”. (GURGEL, 2010, p. 44 )
Por muitos anos, a tuberculose era uma doença com a causa
desconhecida, o que dificultava no diagnóstico “e confundiam-se com doenças
tais como a bronquite e o câncer pulmonar” (GURGEL, 2010, p. 44). No ano
de 1882, o médico e bacteriologista Robert Koch descobre o agente causador
da tuberculose: o bacilo. Esse causador recebe o sobrenome do médico e é
conhecido no mundo hospitalar como o bacilo de Koch. Após a descoberta,
médicos e bacteriologistas aprofundam os estudos da doença que, com a
causa definida, permitiu buscar a cura da moléstia.
Na Primeira República a tuberculose não tinha uma atenção devida, que
também “[...] não dispunha de estratégias preventivas e curativas de aceitação
geral pela corporação médica” (BERTOLLI FILHO, 2001, p. 61). Isso acabou
mudando a partir do ano de 1903 com a Liga Paulista Contra a Tuberculose,
que tinha o apoio do ilustre médico Emilio Ribas. A intenção da Liga era
construir sanatórios e estâncias fora das cidades aglomeradas com qualidades
terapêuticas. Os sanatórios, como eram identificados, foram construídos em
Campos do Jordão com parceria do Ministério da Saúde. Como ainda não
existiam remédios para a moléstia, Campos do Jordão foi uma opção para
parte da população que estava doente. Ricos e pobres procuravam os
sanatórios e as estâncias da cidade, e algumas vilas eram destinadas para
pessoas com melhor nível econômico como o caso de Capivari. Para aqueles
que não tinham muitas condições econômicas, eram oferecidos cortiços que
tinham disciplinas rígidas, entre elas: ter copos individuais, escarradeira
descartáveis e alimentação rigorosa. A cidade Campos do Jordão era
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procurada por não ser longe de São Paulo e oferecer benefícios à saúde, mas
por causa do ar “limpo e puro” das montanhas e das águas, o que era benéfico
aos tísicos.
É nesse cenário histórico-social que o projeto de pesquisa, ora
apresentado, se insere. O ponto central do estudo proposto, entretanto, emerge
de um conjunto de cartas datadas entre os anos de 1908 a 1919 e que
constituem o primeiro lote de registros que compõe o Acervo do Grupo de
Pesquisa Ciência, Saúde, Gênero e Sentimento – CISGES/UNISA/CNPq. As
correspondências, trocadas entre Martiniano Medina, o qual recebia o apelido
de Naninho, estudante de Agronomia no interior do Estado, e Esther
Figueiredo, supostamente filha de um empresário em ascensão na cidade em
crescimento. As cartas eram destinadas para a região central da cidade de São
Paulo, para um dos mais antigos bairros da cidade: o Pari.
Nas correspondências entre o casal é possível notar a recorrência a
doença de Esther Figueiredo, que descrevia os sintomas da tisica para
Martiniano como na carta datada de 22 de Julho de 1910. Nesta carta ela
descreve os sintomas e afirma que está doente, enquanto na carta do dia 01 de
Agosto de 1914, Esther Figueiredo é incentivada por Martiniano a continuar
com seus banhos medicinais, para o tratamento da tuberculose. Podemos
perceber a importância das estâncias nesse período, já que a farmácia para o
caso era deficiente.
Ainda que o tema da tuberculose não assuma o tom vital na
correspondência, que serve de fonte primária para o estudo proposto, os
indícios e sinais que a documentação epistolar revela são reveladores de uma
realidade social e histórica que levou à morte muitos que viviam na cidade de
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São Paulo na década de 1910. Explorar esse conteúdo e verticalizar o tema
das doenças, no caso a tuberculose, desvela a temática proposta para essa
pesquisa de iniciação científica.
2 . OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
A presente pesquisa pretende avaliar os estudos alusivos à história da
saúde da cidade de São Paulo no início do século XX a partir de um conjunto
documental formalizado pela escrita epistolar (correspondências) datadas entre
1908 a 1919.
2.2 Objetivos Específicos
2.2.1 Compreender e contextualizar o processo histórico da Saúde Pública na
cidade de São Paulo no início do século XX;
2.2.2 Analisar as correspondências (fontes primárias) em relação á
tuberculose na cidade de São Paulo em 1910.
2.2.3 Identificar os movimentos em torno do combate à doença e as formas de
tratamento e cura no contexto delimitado.
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3. Plano de Trabalho
Foram distribuídas tarefas dentro de um cronograma mensal, para atingir
os objetivos da pesquisa abordada.
Levantamento
bibliográfico
x
X
Análise das
fontes primárias
Participação em
eventos
científicos
Entrega de
relatório final
x
X
X
X
X
X
X
X
X
x
Escrita de artigo
Apresentação
do Projeto
GP/CISGES
X
X
Julho
x
x
Junho
X
Maio
x
Abril
x
Fichamento das
cartas
Março
X
Fevereiro
x
Janeiro
x
Dezembro
Outubro
Leitura e
transcrição das
cartas
Setembro
Tarefas
Agosto
Cronograma
Novembro
3.1 Cronograma
X
X
X
X
10
X
4. Material e Método
Ao longo dos séculos, a escrita da História, passou por diversas
transformações, entre elas estão os métodos, as fontes e os objetos, que
levaram as novas técnicas e abordagens. “O século XX fez avançar a reflexão,
da abertura da história às ciências sociais, resultou a revolução na concepção
do tempo histórico e na metodologia da disciplina [...] “ (MALERBA, 2006, p.
12), com isso, podemos observar no movimento dos Annales, na França,
abordagens interdisciplinares entre História, Sociologia e Antropologia e a
busca por novas fontes, as quais abriram novas perspectivas às Ciências
Humanas. Assim, a presente pesquisa utiliza como fonte primária os jogos
documentais formalizados por correspondências datadas entre 1908 a 1919,
trocadas por um casal emergente da Cidade de São Paulo, ela moradora da
região central, o bairro Pari. Nos documentos são abordados diversos temas do
cotidiano do casal: sentimentos como o amor, questões de família, de trabalho
mas também a saúde, que delimita a pesquisa. Portanto, a partir da fonte
primária, que são as cartas, considerando a análise preliminar das mesmas, é
possível contextualizar os problemas e necessidades de saúde na década
tratada: 1910. Como demostra Jacques Le Goff:
O documento que, para a escola histórica positivista do fim do século
XIX e do início do século XX, será o fundamento do fato histórico,
ainda que resulte da escolha, de uma decisão do historiador, parece
apresentar-se por si mesmo como prova histórica. A sua objetividade
parece opor-se à intencionalidade do monumento. Além do mais,
afirma-se essencialmente como um testemunho escrito. (1996,
p.536).
Ou seja, os testemunhos do passado podem ser interpretados e
reconstituídos. Os métodos utilizados na pesquisa estarão pautados no
levantamento bibliográfico de autores que abordam o tema proposto na
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pesquisa: História da Saúde, divisando a epidemia tuberculose. Esse
levantamento bibliográfico contribuirá para a formulação da pesquisa.
Os documentos a serem trabalhados permitirão verticalizar a questão da
saúde no início do século XX e abordar uma das epidemias emergentes da
época e pensar sobre as transformações processadas no bojo da saúde
pública. Cabe ressaltar que o material documental a ser utilizado pela pesquisa
ora apresentada encontra-se disponibilizada no blog do Grupo de Pesquisa
Ciência, Saúde, Gênero e Sentimento – CISGES/UNISA/CNPq do qual a
presente proposta, cujo projeto de pesquisa é parte integrante do mesmo.
5. Forma de Análise e Resultado
A forma de análise dos resultados será a interpretação dos documentos a
serem estudados na pesquisa em consonância com o levantamento
bibliográfico, conectando ambos, para compreender e identificar fatores
importantes da época como definido por teorias e metodologias que
caracterizam o campo interdisciplinar.
Desse modo, as correspondências serão transcritas no sentido de
identificar os sinais e indícios que correspondam ao tema desse projeto de
pesquisa e que permitirão, conforme salienta Carlo Ginzburg (1989) em relação
ao paradigma indiciário, que baliza o trabalho com pequenos enredos,
personagens anônimos, experiências cotidianas encontradas em sinais e
vestígios de tramas aparentemente sem importância.
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6. Referências
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epidemia e sociedade. São Paulo, Paz e Terra, 2003 p.45.
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