SHOWMAN Em discurso em Iowa, Trump tenta converter fãs em

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SHOWMAN Em discurso em Iowa, Trump tenta converter fãs em
SHOWMAN
Em discurso em Iowa,
Trump tenta converter
fãs em eleitores
©
MARK KAUZLARICH/REUTERS
TODOS DE
OLHO EM
TRUMP
O bilionário deixou de ser um aspirante-piada
à Presidência dos EUA, preocupa seriamente
os outros pré-candidatos republicanos e já
encosta em Hillary Clinton nas pesquisas
NATHALIA WATKINS
A LIDERANÇA DE DONALD TRUMP nas primárias
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Republicano e a insatisfação com a
classe política. Também usa com habilidade a atenção da imprensa”, diz a
cientista política Christina Greer, da
Universidade Fordham.
Sete meses após o magnata do setor imobiliário anunciar sua pré-candidatura, a possibilidade de que ele
tropece nas próprias bobagens ou na
inexperiência política foi descartada.
Para Trump, aliás, tropeções convertem-se em saltos. As bravatas lançadas contra imigrantes mexicanos,
muçulmanos, mulheres e até um reSÐUWHUGHmFLHQWHDMXGDUDPDFRORFÀ
lo à frente nas pesquisas de intenção
de voto entre os republicanos e apenas 2 pontos porcentuais atrás de
Hillary Clinton, num hipotético enfrentamento entre os dois.
As primárias republicanas, processo pelo qual os eleitores de cada estado dão seu veredicto sobre quem deve
ser o indicado do partido para as eleições de novembro, iniciam-se em fevereiro em Iowa. Trump e o senador
texano Ted Cruz aparecem como favoritos no estado. Apesar de designar
poucos delegados e, portanto, ter influência limitada na nomeação do
candidato, Iowa será o primeiro termômetro da campanha. A estratégia
de Trump é manter-se no noticiário a
qualquer custo, com propostas como a
deportação em massa de imigrantes e
insultos tanto a políticos republicanos
(o senador John McCain, que foi prisioneiro durante a Guerra do Vietnã,
não é um herói, segundo o bilionário)
como a democratas, como o ex-presidente Bill Clinton (a quem acusou de
ter um “terrível histórico de abuso de
mulheres”). “Os apoiadores de Trump
admiram sua capacidade de falar o
que pensa e não acham que ele seria
tão radical no governo”, diz o cientista
político David Karol, da Universidade
de Maryland. Ele completa: “Todo es-
54 20 DE JANEIRO, 2016
A popularidade de Trump não significa
que os Estados Unidos estejam
abraçando a xenofobia ou o racismo,
mas um rechaço à política tradicional
ENTRELINHAS Obama criticou Trump em discurso sobre o Estado da União
se espetáculo político faz parte de
uma estratégia pragmática e oportunista para obter sucesso e poder”.
Trump sempre foi nacionalista e
populista, mas não tem o hábito de se
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circulou entre as legendas democrata
e republicana e foi candidato por um
SDUWLGRPHQRU'HVGHRLQËFLRGRnHUte com a Presidência, em 1988, ostentou posições contra e a favor do aborto e do controle de armas, e foi até
menos rigoroso no que diz respeito a
políticas migratórias. Na atual campanha, tenta provar que é o único ca-
paz de transformar os Estados Unidos em uma grande potência novamente. “Seus eleitores identificam
coragem nele e acham que o país está
em decadência, e que não ocupa o lugar de direito no mundo. Portanto,
acham que o sucesso de Trump será
convertido em êxito político”, diz Rebecca Deen. A desenvoltura diante
das câmeras foi fundamental para a
consolidação da base de Trump, de
maioria branca e com pouca escolaULGDGH2QRYDLRUTXLQRFXMDIRUWXQD
é estimada em 4,5 bilhões de dólares,
associa sua riqueza à garantia de in-
©
CARLOS BARRIA E SCOTT AUDETTE/REUTERS
A VIDA É UM CIRCO Na Flórida, um elefante desfila com slogan de campanha de Trump: “Devolva a grandeza dos EUA”
dependência política. O empreendedor fez milhões como produtor e
apresentador do programa O Aprendiz, criado em 2003, e conseguiu expandir os empreendimentos imobiliários que herdou. Seu nome está em
hotéis, arranha-céus, agência de modelos e até em uma pista de patinação
no gelo no Central Park.
O excêntrico empresário despertou raro consenso na semana passada
ao ser criticado por republicanos e
democratas. “Precisamos rejeitar
qualquer tipo de política que mira em
pessoas por causa de raça ou religião”, disse Obama no discurso sobre
o Estado da União, proferido na terçafeira 12. Em seguida, foi a vez de a governadora da Carolina do Sul, Nikki
Haley, mostrar o desagrado republicano. “Em tempos de ansiedade, pode
ser tentador seguir o chamado das
vozes mais raivosas. Precisamos resistir a essa tentação”, disse ela, que é
cotada para vice-presidente da chapa
republicana. Donald Trump guarda
poucos traços do tradicional conservadorismo partidário, o que o deixa
sem o apoio dos correligionários. Entre eleitores, a base parou de crescer.
“Sua retórica o prejudicou, mesmo
que o dano não seja visível neste momento. Será difícil que supere os
25-30% de apoio para vencer”, diz o
americano Kyle Kondik, do Centro de
Política da Universidade de Virgínia.
Se for verdade que Trump atingiu o
seu teto eleitoral, há chance de que
Marco Rubio ou Ted Cruz vença a indicação. Em nível nacional, só 37% dos
americanos têm uma imagem positiva de Trump. Mas, se superar os obstáculos das primárias, Trump se beneficiará da voz dos tradicionais re-
publicanos que abominam o partido
opositor. “Desde 2000, em quarenta
dos cinquenta estados americanos, o
vencedor é sempre do mesmo partido. Se Trump for nomeado, é provável que receba uma grande parcela
desses votos — ainda que parte dos
eleitores esteja contrariada”, diz o
cientista político David Karol.
Se chegar à Presidência americana, Trump não poderá causar o mesmo estrago de outros demagogos do
extremo oposto do espectro político,
como o venezuelano Hugo Chávez.
No sistema americano, em que as instituições são fortes e independentes,
há pouca margem para estripulias. É
possível que essa certeza nunca seja
posta à prova. Seja como for, Trump já
deixou sua marca na política americana. Cabe aos outros candidatos entender a mensagem e reinventar-se. ƒ
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