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Faculdades Integradas do Tapajós
REVISTA PERSPECTIVA
AMAZÔNICA
Santarém – PA
Ano 1. N. 01. jan 2011.
Conselho Mantenedor
Paulo Roberto Carvalho Batista – Presidente
Antônio de Carvalho Vaz Pereira – Vice-Presidente
Ana Paula Salomão Mufarrej
Edson Raymundo Pinheiro de Sousa Franco
Etiane Maria Borges Arruda
Marlene Coeli Vianna
Direção Geral da FIT
Helvio Moreira Arruda
Direção Adm/Financeira
William J.P. Coelho
Direção do Centro de Estudos Sociais Aplicados
Ana Campos da Silva Calderaro
Direção do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
José Almir Moraes da Rocha
Editor Responsável (Coordenação de TCC e Pesquisa)
Gabriel Geller
Conselho Editorial
Helvio Moreira Arruda
Ana Campos da Silva Calderaro
José Almir Moraes da Rocha
Gabriel Geller
Capa: Pedro Santos Sousa
Diagramação: Pedro Santos Sousa
Fotolito e Impressão: Global Gráfica
Perspectiva Amazônica: Revista de Publicação Acadêmica da FIT. Ano I. N.
01 (Jan. 2011)
Santarém. Pará: Faculdades Integradas do Tapajós. 2011. 120p.
Semestral
ISSN 2179-6513
Estudos Multidisciplinares relacionados à Amazônia.
AVALIADORES:
NOME
Alexandre
Rodrigo Batista
de Oliveira
Ana Karine
de Albuquerque
Alves Brito
INSTITUIÇÃO TITULAÇÃO
ÁREA
FIT/UEPA
Mestre
20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências
da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências)
FIT
Mestre
60000007. Ciências Sociais Aplicadas
Francisco Edson
Sousa de Oliveira
FIT
Doutor
60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências
Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes; 90000005.
Multidisciplinar (Sociais e Humanidades)
Hipócrates
Menezes
Chalkidis
FIT
Mestre
20000006. Ciências Biológicas; 40000001.
Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar
(Ensino de Ciências)
José Almir
Moraes da Rocha
FIT/UEPA/
UFOPA
Doutor
20000006. Ciências Biológicas; 40000001.
Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar
(Ensino de Ciências)
José de
Lima Pereira
FIT
Mestre
60000007. Ciências Sociais Aplicadas
UFOPA
Mestre
60000007. Ciências Sociais Aplicadas;
70000000. Ciências Humanas; 90000005.
Multidisciplinar (Sociais e Humanidades)
FIT
Mestre
80000002. Linguística, Letras e Artes;
Marla T.
Barbosa Geller
CEULS/
ULBRA
Mestre
10000003. Ciências Exatas e da Terra
(Computação); 30000009. Engenharias
Martinho
Leite
FIT
Mestre
10000003. Ciências Exatas e da Terra
(Computação); 30000009. Engenharias
Raimunda
Nonata
Monteiro
UFOPA
Doutor
50000004. Ciências Agrárias;
60000007. Ciências Sociais Aplicadas
Robinson
Severo
UFOPA
Doutor
50000004. Ciências Agrárias
Ministério da
Ciência e
Tecnologia
Doutor
7000000. Ciências Humanas;
FIT
Doutora
20000006. Ciências Biológicas; 40000001.
Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar
(Ensino de Ciências)
Lidiane
Nascimento
Leão
Mara Rejane
Miranda de
Almeida
Rubens de
Oliveira
Martins
Síria Lissandra
de Barcelos
Ribeiro
O Abstract, a revisão linguística e a ortográfica são de responsabilidade dos autores.
Os artigos publicados não expressam necessariamente a opinião da FIT.
REVISTA PERSPECTIVA AMAZÔNICA
Missão
“Contribuir para o entendimento aprofundado das questões amazônicas nos diversos campos do conhecimento mediante a divulgação de produção científica local que possa subsidiar as atividades acadêmicas e práticas
tendo em vista o estudo da Amazônia para o progresso da humanidade e o aumento da qualidade de vida da
população Amazônica”.
Escopo e Foco
A revista Perspectiva Amazônica publica trabalhos teóricos e teórico-empíricos nas seguintes modalidades:
artigo original, artigo de revisão, resenha, relato de caso e ensaio, em qualquer área do conhecimento e
preferencialmente que tenham relação com a região Amazônica.
Público alvo
O público-alvo é constituído principalmente de profissionais e estudantes da academia amazônica e brasileira, e, paralelamente, de todas as pessoas interessadas nas questões da Amazônia nos diversos campos do
conhecimento.
Requisitos
Os artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios submetidos à apreciação da revista
“Perspectiva Amazônica” devem ser inéditos, nacional e internacionalmente, não estando sob consideração
para publicação em nenhum outro veículo de divulgação. Trabalhos publicados ou em consideração para
publicação em anais de congressos podem ser considerados pelo Conselho Editorial e pelos Avaliadores,
desde que estejam em forma final de artigo. Os artigos e documentos podem ser redigidos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Para serem publicados, os trabalhos deverão adequar-se às normas para publicação da revista e serem aprovados pelos Avaliadores.
SUMÁRIO
EDITORIAL
6
NOTAS SOBRE AGRICULTURA A PARTIR DE INTERPRETAÇÕES DA
CIÊNCIA ECONÔMICA E DA ECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
Sandro Augusto Viégas Leão
7
ESTUDO DAS PERDAS DE RECEITAS POR CONGELAMENTO DA TARIFA DE
ESTUDANTES NO SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO DO
MUNICÍPIO DE SANTARÉM, ESTADO DO PARÁ.
José de Lima Pereira
20
ECONOMIA E MEIO AMBIENTE: UMA DISCUSSÃO INTRODUTÓRIA
Andréa Simone Gomes Rente
29
PERFIL DO CONSUMIDOR DE PLANTAS MEDICINAIS NAS LOJAS DO
CENTRO DA CIDADE DE BELÉM
Helvio Moreira Arruda
41
A MARCA EMERGENTE DA MODERNIDADE NA AMAZÔNIA
Francisco Edson Sousa de Oliveira
57
DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA EM ZONA PERIFÉRICA DO
MUNICÍPIO DE SANTARÉM – PA, BRASIL
José Almir Moraes da Rocha, Adjanny Estela Santos de Souza, Adriene Freire Silva;
Andressa, Castilho Monteiro, Bruce Kazuki de Sousa Yano, Davi Viana, Jéssica Vieira de
Sousa, Juliana Oliveira da Silva, Kennedy Antônio Araújo Almeida, Richele Camila Peleja
Nunes.
66
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: FERRAMENTA
IMPORTANTE NA PRÁTICA DO PROFISSIONAL ENFERMEIRO
Maria da Conceição Farias, Adria Leitão Maia, Ismara Portela Aguiar, Jessika Larissa de
Assis Araújo
73
ESTIMATIVA VISUAL E GONIOMETRIA UNIVERSAL PARA AVALIAÇÕES DA
AMPLITUDE ARTICULAR ESTÁTICA DO COTOVELO
Rodrigo Luis Ferreira da Silva, Renato Ramos Coelho, Estélio Henrique Martin Dantas
82
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO PARA EQUIPES VIRTUAIS
Alexandre Waimer Spinola, Caroline Peixoto Pilletti
94
CUSTOMIZAÇÃO DE PROCESSOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE
SOFTWARE
Marla Teresinha Barbosa Geller, Marialina Correa Sobrinho, João Elias Brasil Bentes
Júnior, Monilson Marinho
106
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
118
E D I T O R I A L
Consolidando sua posição como Instituição de Educação Superior de qualidade e comprometida com a Amazônia, a FIT lança em 2011 a revista Perspectiva Amazônica, sua
primeira publicação científica que tem como objetivo principal contribuir para o entendimento aprofundado das questões amazônicas nos diversos campos do conhecimento, tendo em
vista o estudo da Amazônia para o progresso da humanidade e o aumento da qualidade de vida
da população Amazônica.
Nossa região constitui um dos ambientes mais atrativos para a pesquisa científica, e os
olhos do mundo estão cada vez mais voltados para cá. É imperativo que nós, amazônidas e
brasileiros, passemos a contribuir de maneira mais expressiva com o debate global acerca do
futuro desta região e de seu papel na sustentabilidade e no desenvolvimento do mundo. Para
isso, é preciso conhecer nossa natureza e nossa sociedade mais e melhor. E a pesquisa científica existe justamente para conhecermos melhor determinados fenômenos e realidades e
refletirmos sobre eles.
É oportuno neste momento agradecermos aos pesquisadores que submeteram artigos, aos
professores que atuaram e atuarão como avaliadores desta publicação, ao corpo diretivo das
Faculdades Integradas do Tapajós e a todos os seus colaboradores que contribuíram decisivamente para o sucesso desta empreitada. Esperamos que esta iniciativa seja apenas o estímulo
inicial para uma cultura universitária que valorize cada vez mais a pesquisa, auxiliando assim
nossa Faculdade a exercer um papel determinante no desenvolvimento da educação, da
cultura, da economia e da sociedade santarenas por meio das três bases fundamentais da
educação superior: ensino, pesquisa e extensão.
Gabriel Geller
Editor Geral da Revista Perspectiva Amazônica
Coordenador de TCC e Pesquisa da FIT
NOTAS SOBRE AGRICULTURA A PARTIR DE
INTERPRETAÇÕES DA CIÊNCIA ECONÔMICA E
DA ECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
Sandro Augusto Viégas Leão¹
Uma gama de interpretações sobre desenvolvimento econômico podem ser analisadas à luz da teoria econômica
e social. Buscando explorar um campo de estudo que trata das relações entre desenvolvimento, subdesenvolvimento e a agricultura, o objetivo deste trabalho é analisar o papel atribuído á agricultura e ao meio rural pelas
teorias do desenvolvimento em geral e em particular pela teoria econômica. Algumas destas interpretações
mostram a relevância da agricultura e do meio rural o em relação ao desenvolvimento. Mostraremos isso
observado as abordagens iniciais da ciência econômica, assim como na discussão mais recente sobre a economia do desenvolvimento.
Palavras-Chave: Desenvolvimento, Agricultura, Economia, Economia do Desenvolvimento.
ABSTRACT
A range of interpretations about economic development can be analysed in the light of economic and social
theory. Seeking to explore a field of study that deals with the relationship between development and underdevelopment and agriculture, the objective of this paper is to examine the role assigned to agriculture and rural areas
by the theories of development in General and in particular by economic theory. Some of these interpretations
show the importance of agriculture and the rural development. We'll show you this observed initial approaches
of economic science, as well as in the most recent discussion about the economics of development.
Keywords: Development, Agriculture, Economy, Development Economy.
¹Bacharel em Ciências Econômicas – UFPA. Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade – CPDA/UFRRJ. Doutorando do Programa de PósGraduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade – CPDA/UFRRJ. Professor das Faculdades Integradas do Tapajós. E-mail:
[email protected]
7
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
Uma gama de interpretações sobre desenvolvimento econômico podem ser analisadas à luz da teoria
econômica e social. Buscando explorar um campo de estudo que trata das relações entre desenvolvimento,
subdesenvolvimento e a agricultura, o objetivo deste trabalho é analisar o papel atribuído á agricultura e ao meio
rural pelas teorias do desenvolvimento em geral e em particular pela teoria econômica.
Em torno deste debate, partiremos de parâmetros conceituais, buscando dar sustentação teóricometodológica ao trabalho aqui apresentado. Nesta linha de abordagem Hirschmam (1986) elabora uma tipologia de classificação para teorias do desenvolvimento. Para este autor a teoria econômica sob as diferentes
concepções da economia do desenvolvimento se fundamentam em dois “postulados fundamentais”: 1- a recusa
do princípio monoeconomista. Para Hirschmam (1986, p. 52) rejeitar o monoeconomismo significa dizer que
“os países subdesenvolvidos tomados em conjunto, apresentam um certo tipo de características econômicas
comuns, que os distinguem de modo bastante determinado dos países industriais avançados” e não se poderia
fazer análises das economias subdesenvolvidas com os mesmos parâmetros da economia convencional, centrada nos países industriais; 2- de afirmação do princípio da reciprocidade de vantagens. Este princípio significa
que é possível articular as economias de dois grupos de países (subdesenvolvidos x avançados), de maneira que
ambos tenham resultados positivos.
Para Hirschmam, cada um desses princípios pode ser afirmado ou negado. Isto determina que quatro
posições fundamentais podem ser pensadas, conforme o quadro a seguir (Quadro 1): 1- no primeiro caso, onde
os dois postulados se afirmam, se situa a Economia Ortodoxa (Escolas clássica e neoclássica); 2- no segundo,
onde o monoeconomismo é afirmado e a reciprocidade de vantagens é negada, temos o Marxismo; 3- no terceiro
caso, onde se afirma a reciprocidade das vantagens e se nega o monoeconomismo se situa a Economia do
Desenvolvimento; 4- e no quarto retângulo, onde se negam os dois postulados temos as teorias Neomarxistas,
como as que se apoiam na idéia dual entre um conjunto de países “centrais” e uma periferia “subdesenvolvida”.
Quadro 1- Tipologia das teorias do desenvolvimento
Monoeconomismo
Afirmada
Negada
Afirmada
Economia
Ortodoxa
Economia do
Desenvolvimento
Negada
Marx
Teorias
Neomarxistas e
CEPAL
Reciprocidade
das vantagens
Fonte: Hirschmam (1986, p. 52).
8
2 A AGRICULTURA NA CIÊNCIA ECONÔMICA
No início da história econômica, a agricultura tinha por finalidade produzir alimentos para atender às
necessidades da sociedade em geral. Com o avanço das relações capitalistas seu objetivo passou a ser a
produção de alimentos para atender aos anseios do mercado cada vez mais complexo.
Do ponto de vista teórico o pensamento econômico também incorpora essas mudanças de papel sofridas
pela agricultura. Para Quesnay, (Escola Fisiocrata), o valor ou riqueza social dependeria do setor agrícola,
considerado o único setor produtivo da economia, uma vez que a terra seria o lócus da produção alimentos. Além
disso, no modelo fisiocrata o comércio e as manufaturas tinham seu desenvolvimento atrelado ao
desenvolvimento agrícola· (HUNT, 1978).
Porém neste modelo, o crescimento econômico não depende da atividade agrícola strictu sensu, mas do
processo de acumulação de capital desenvolvido pelas atividades agropastoris, e isso se dará quando toda
agricultura estiver organizada e produzindo de forma capitalista (MARTINELLI, JR; CORRAZA, 2002).
Portanto, a política do governo deveria favorecer o curso da 'ordem natural' do desenvolvimento agrícola, pois é
dele que dependeria a prosperidade social. Esta escola, embora tivesse dominado o pensamento econômico por
um curto período de tempo, deixou raízes profundas no posterior desenvolvimento da ciência econômica, a
começar por Adam Smith e a Economia Política Clássica.
Para Smith, a agricultura começa a perder o status central que ocupava na fisiocracia, passando a
subordinar-se à dinâmica da acumulação de capital da economia como um todo. A razão básica desse
deslocamento do papel da agricultura está na mudança de foco sobre a origem e a natureza do valor que passa da
terra ou do trabalho agrícola para o trabalho humano de uma forma geral.
Apesar de o setor agrícola deixar de ser o centro dinâmico da economia, na estrutura da análise clássica, o
status que a agricultura ocupa como produtora de alimentos e matérias-primas para a indústria, mesmo em
posição subordinada, tem efeitos que afetam toda dinâmica econômica. O fundamental no sistema idealizado
por Smith é que esse aumento da demanda de produtos agrícolas tem efeitos distributivos sobre as classes
sociais, fato que também afeta a dinâmica do próprio crescimento econômico (MARTINELLI, JR; CORRAZA,
2002).
É nessa perspectiva também que se insere o pensamento de Malthus. Para este autor, na medida em que a
capacidade da agricultura em produzir alimentos é limitada e cresce apenas a uma taxa aritmética devido à lei
dos rendimentos decrescentes4, ao passo que a população cresce a uma taxa geométrica. A solução para o
problema, para Malthus, não está em procurar aumentar a produtividade da terra, melhorando as formas de seu
cultivo ou introduzindo progresso técnico, mas em controlar o crescimento da população (HUNT, 1978).
Em termos econômicos, a limitação da terra em produzir alimentos necessários para atender à demanda
vai implicar um aumento crescente da renda da terra apropriado pela nobreza proprietária, como será visto com
mais detalhes ao analisarmos o pensamento de Ricardo. A agricultura no pensamento de Ricardo é muito
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
Neste sentido a agricultura é a responsável de gerar o produto líquido - um excedente em relação aos
custos agrícolas- o qual, transferido aos proprietários fundiários na forma de renda da terra, é a causa ou o motor
do desenvolvimento econômico. A teoria fisiocrata está construída em torno do conceito central de produto
líquido, cuja origem está na agricultura e sua causa é a fertilidade da terra.
importante, pois a evolução do produto a partir do uso da terra e da renda ali gerada terá o poder de
determinar não só a tendência do desenvolvimento econômico, mas, também, a distribuição da riqueza entre as
classes sociais (NAPOLEONI, 1990).
Porém Ricardo rejeitava o enfoque fisiocrata de que a agricultura era o único setor produtivo da economia.
Para ele as conclusões obtidas de seu modelo agrícola poderiam valer para toda economia, pois o mercado
tenderia o generalizar o comportamento dos lucros na agricultura. Como para Smith, também para Ricardo, o
crescimento econômico não é contínuo, e seus limites advém da terra e dos recursos naturais. Na perspectiva da
escola clássica, o conceito de desenvolvimento se confunde com o de crescimento econômico, visto a partir da
geração de excedentes econômicos, que se constitui no elemento básico de análise da Economia Clássica.
3 AGRICULTURA E QUESTÃO AGRÁRIA NO MARXISMO
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
Na concepção de Marx, a atividade agrícola organizada no campo tem uma função subordinada ao capital
advindo do setor urbano-industrial e também ao processo mais geral de acumulação do capital.
A subordinação da agricultura à grande indústria seria resultado da penetração do capitalismo no campo,
que transforma a forma da propriedade da terra, as relações de trabalho e a própria produção agrícola,
conduzindo o conjunto das atividades agrícolas ao movimento mais amplo do processo de valorização do capital
(MARTINELLI, JR; CORRAZA, 2002).
A agricultura foi o setor mais importante do sistema econômico pré-capitalista e contribuiu para a
consolidação do próprio capitalismo, no fornecimento de insumos e mão-de-obra, além da transferência de
renda para o desenvolvimento urbano-industrial (MARX, 1998) Nessa perspectiva, a própria lógica e dinâmica
da produção capitalista pode recriar formas antigas de produção, mas, na essência, não são as mesmas, pois que
inseridas num novo contexto. É assim que pensa Marx o papel da agricultura tanto nas suas formas passadas
5
como também nas suas formas atuais .
Traçando relação com esta posição da agricultura no contexto de avanço do capitalismo industrial, Marx
em um de seus trabalhos sociológicos de maior relevo discute sobre a atuação das classes sociais em uma
situação histórica específica.
Neste texto, Marx, apresenta uma compreensão de classe mais complexa, saindo da análise puramente
econômica. Trás a tona o elemento político como também participante da reprodução da relações sociais.
Ele faz neste caso uma análise do campesinato que pouco aparece nas interpretações clássicas, entre as
quais o marxismo. Há uma secundarização deste seguimento, que parece decorrer do fato de não se visualizar
futuro ao mesmo, principalmente no que toca à transformação social. Em O Dezoito Brumário, Marx (1968)6, ao
se referir ao campesinato francês de meados do século XIX, afirma que os camponeses formam uma imensa
massa na qual seus membros se encontram na mesma situação sócio-econômica, mas que não se organizaram
por razões diversas. Isso decorre de seu modo de produção que os separa uns dos outros. A sua forma de
produção (parcelar) não possibilita a divisão do trabalho, a utilização de métodos científicos, e,
conseqüentemente, a diversidade de desenvolvimento. Cada família camponesa quase que se bastaria em si
própria.
10
A caracterização de que esta massa é composta por indivíduos que apresentam traços comuns, mas se
encontram separados entrem si, leva Marx a comparar o campesinato a um saco de batatas. Estes milhões de
famílias agrárias podem ser consideradas uma classe pelo fato de viverem em condições econômicas que
mesmo separando-as umas das outras, opõem seu modo de viver, interesses e cultura aos das demais classes. Se
por este lado são uma classe, por outro não o são, pois entre os pequenos camponeses existe uma ligação local e
uma similitude de interesses que não produz entre os mesmos qualquer comunidade, tampouco ligação nacional
ou organização política. Disto decorre que não conseguem representar a si próprios, devendo ser representados
por outros.
É importante lembrar que após Marx, mas seguindo um caminho teórico totalmente diverso surge a Teoria
Econômica Neoclássica (Marshall, Jevons, Walras, entre outros) que, além de abandonar a visão e elementos
fundamentais da Economia Política Clássica, fazem também desaparecer completamente a agricultura como
setor específico da análise econômica. Em seu modelo de análise a agricultura se estrutura em torno dos
chamados “fatores de produção”, constituídos pelo capital, pelo trabalho e pela terra. Desse modo, a partir de
Marx e do pensamento econômico neoclássico, por razões diferentes, a agricultura descaracteriza-se
completamente como categoria analítica. O pensamento econômico convencional e seus modelos de
desenvolvimento de corte neoclássico ou keynesiano não conferem um grande peso ou relevância teórica à
agricultura.
Por mais que pareça que a agricultura tenha saído do foco da análise econômica, isso não pode ser
afirmado plenamente pelo fato deste debate teórico ter assumido outras características. Se por um lado ela se
transformou numa questão da política econômica ou de políticas intersetoriais, por outro, sua discussão assumiu
a forma de “questão agrária”. dentro do pensamento marxista ou neomarxista.
A questão agrária é um tema complexo do ponto de vista teórico e analítico, pois trata historicamente das
relações de produção no campo e das formas de expansão do capitalismo no campo. Esse tema pode ser mais
bem sistematizado como debate clássico da questão agrária e da questão camponesa (MARTINELLI, JR;
CORRAZA, 2002). A divergência de fundo ocorre entre Chayanov e a corrente marxista liderada por Kautsky e
Lênin. Para Chayanov a lógica interna da produção familiar reside o núcleo de funcionamento do sistema
camponês onde as unidades de produção não são funcionam pelas mesmas categorias econômicas da economia
capitalista.
A questão agrária é um tema de destaque neste debate marxista. As principais contribuições vieram
especialmente de Kautsky (1980) e de Lênin (1982). Para ambos os autores, as leis do capitalismo são
tendências gerais, válidas para todos os setores; assim, não haveria razão para supor que a forma de produção
camponesa tivesse algum grau de autonomia sobre o processo de expansão do capital. Para Kautsky, a
superioridade técnica da produção industrial era evidente, dado o maior potencial da sua divisão interna de
trabalho e, portanto, dos ganhos de sua especialização produtiva. Para Lênin, o processo de expansão do
capitalismo era, o de criação do mercado para a produção capitalista e um processo de destruição de estruturas
socioeconômicas velhas e a criação de novas (CORRAZZA E MARTINELLI JR, 2002). A partir da década de
11
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
Como pode ser observado, esta interpretação analisa este seguimento como desprovido de projeto
próprio. Partindo desta constatação e de que os interesses do camponês se chocam com os interesses da
burguesia, Marx vê no proletariado urbano o aliado e guia natural do campesinato, cuja tarefa é a derrocada do
regime capitalista.
1950, o mesmo debate se desenvolve no âmbito do pensamento estruturalista da CEPAL.
4 CELSO FURTADO E O PENSAMENTO ESTRUTURALISTA DA CEPAL
Um dos problemas básicos da discussão sobre o desenvolvimento é a definição de um modelo a ser
seguido. Os processos de industrialização dos países ricos se tornariam obviamente, o ponto de referência. E
por mais que existisse um longo debate sobre qual seria o perfil clássico deste processo, Raul Prebisch nos anos
50 já indicava que o desenvolvimento econômico no capitalismo pode ser entendido como um processo de
difusão técnica desigual, sob o comando dos países que geram o conhecimento e as novas técnicas (FURTADO,
1992).
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
Este situação conformou historicamente um conjunto de países ricos e industrializados que passaram por
processos de acumulação de capital e certa geração de poupanças que foram em parte distribuídos com a classe
trabalhadora, conformando uma homogeneização social7.
Por outro lado se formou um conjunto de países que se industrializaram tardiamente e mesmo com
processos de crescimento e acumulação de capital com forte contribuição do Estado, não alcançaram como
resultado redução das desigualdades sociais e desconcentração da renda gerada. Neste sentido, a teoria do
subdesenvolvimento trata “de processos sociais em que aumentos de produtividade e assimilação de novas
técnicas não conduzem à homogeneização social, ainda que causem a elevação do nível de vida médio da
população.” (Furtado, 1992, p. 07).
É exatamente na conformação de um sistema de “ruptura estrutural” que Raul Prebich denominou de
Centro-Periferia, que se encontra a divisão internacional do trabalho, que cria relativa diligência aos países
subdesenvolvidos em relação a que setores produtivos que estes devam se especializar na composição do
comércio internacional. Prebisch foi um dos primeiros a apontar os entraves do setor agrícola como obstáculos
ao desenvolvimento econômico. Dessa forma, procura aproximar de sua análise teórica do desenvolvimento os
problemas gerados pela estrutura agrária e os desequilíbrios gerados na produção agrícola.
Este autores fizeram parte da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina)8, e produziram obras
juntamente com outros expoentes do pensamento crítico sobre a problemática da industrialização na América
latina e do subdesenvolvimento.
BIELSCHOWSKY (2000) apresenta fases da evolução do pensamento cepalino. Assim, a primeira fase
teríamos a sucessão do processo de industrialização de 1948 a 1960. A segunda teríamos nos anos 1960 as
reformas estruturais para desobstruir a industrialização. A terceira, nos anos 1970 a reorientação dos Estilos de
Desenvolvimento; e nos anos 1980 a tentativa de superação da dívida, culminando, nos anos 90, com a
transformação produtiva.
A CEPAL no início (1948-60) entendia que as economias ditas periféricas, se continuassem orientadas
pelas livres forças de mercado, nunca sairiam do subdesenvolvimento. A saída seria uma política dirigida de
desenvolvimento industrial, além da promoção de reforma agrária, eficiência na alocação de recursos
produtivos que impedisse a evasão de produtividade via deterioração dos termos de troca9. Tratava-se de
reverter o eixo básico da economia, antes voltada “para fora”, para o desenvolvimento voltado “para dentro”, ou
12
seja, baseado na industrialização para o mercado interno.
As contribuições de Furtado dão conta do caráter capitalista da agricultura brasileira. Para Furtado (1991),
a colonização brasileira ocorreu sob a forma da “empresa agromercantil”, que sustentou tanto o núcleo
dinâmico do desenvolvimento da economia – a estrutura agroexportadora, que gerava a maior parcela da renda
agregada–, como também, ao mesmo tempo, o plano das relações sociais, gerando um sistema coercitivo e
assimétrico de poder (concentrado nas mãos dos grandes proprietários de terra) e heterogêneo em termos
regionais e das relações produtivas. Essa raiz histórica fazia com que o Brasil divergisse do modelo clássico de
desenvolvimento (o crescimento da demanda de excedentes agrícolas e forte absorção de mão-de-obra rural
pelas zonas urbanas em níveis mais altos de salários são processos que ocorrem paralelamente) em que reformas
estruturais seriam desnecessárias, como no caso inglês.
Desse modo, embora as questões propriamente agrícolas não fossem um tema central em sua obra, mas os
problemas macroeconômicos gerais do desenvolvimento, as questões agrárias eram um fator estrutural de
entrave e de distorção ao processo desenvolvimentista. Caberiam, inclusive, medidas radicais como a reforma
agrária, para barrar o processo intrínseco de concentração fundiária e exclusão social existente no caso
brasileiro.
A tese central na década de 60 da Comissão (reformas estruturais) sugere o caráter inelástico da oferta de
alimentos às pressões da demanda urbana e industrial, como um problema estrutural do setor agrícola que
justificaria mudança na estrutura fundiária e nas relações de trabalho no campo (DELGADO, 2001). A CEPAL
via nas condições de produção e na estrutura da propriedade fundiária obstáculos à realização desse processo de
desenvolvimento e considerava o cumprimento das etapas da industrialização (análise departamental) como o
caminho mais rápido para superar a condição do subdesenvolvimento da América Latina.
Assim, o estudo da questão agrária é inserido na análise do subdesenvolvimento periférico da América
Latina. Nesse contexto, a questão agrária e agrícola assumia a seguinte configuração: por um lado, a
modernização do setor deveria dar-se através da mecanização, liberando mão-de-obra para a indústria; de
outro, não havia capital suficiente na cidade que permitisse absorver essa população expulsa do campo.
Portanto, a mecanização da agricultura, que poderia produzir alimentos para o consumo interno e para a
exportação, gerava desemprego no campo e na cidade.
Para superar esses obstáculos, a CEPAL apregoava políticas de transformação tanto na forma de
produção agrícola, através da mecanização e do progresso técnico, como na estrutura da propriedade, através da
tributação ou da reforma agrária, de forma a romper com as estruturas improdutivas que conspiravam contra a
industrialização, o caminho mais curto e direto para o desenvolvimento. Finalmente, a CEPAL recomendava a
distribuição estratégica dos investimentos entre os setores modernos e os atrasados, de modo a poder formar no
longo prazo uma estrutura produtiva moderna, diversificada e homogênea.
13
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
No caso brasileiro o modelo de desenvolvimento posto em prática, privilegiou o processo de
industrialização, marcado em primeira instância pelo modelo de substituição de importações, apresentado por
Furtado (1991), em Formação Econômica do Brasil. Para Hirschmam (1996: p. 193-95) as experiências mal
sucedidas no processo de substituição de importações ficaram a cargo do México, Argentina e Chile, enquanto o
Brasil, apesar do vinte anos de ditadura militar, obteve a melhor posição, resultando na principal potência
industrial do continente, mesmo sendo o maior devedor de capital externo.
Em resumo, a CEPAL propõe uma transformação radical nas estruturas sócio-econômica nos países
periféricos em especial na América Latina e das suas relações com os países centrais. Qualquer outra proposta
seria capitular a novas formas de exploração e de 'dependência'. Para Hirschmam (1986) a CEPAL se colocava
numa posição crítica em relação a economia do desenvolvimento, acabando por culpa-la pela processo de
industrialização a todo custo e por todos os problemas decorrentes desta política. Em seguida analisaremos a
economia do desenvolvimento.
5 A ECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO E ALGUMAS VISÕES ALTERNATIVAS
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
A Economia do Desenvolvimento enquanto disciplina, se apresenta lugar e período histórico
determinados, ou seja, nos países industriais avançados, particularmente EUA e Inglaterra, no final da segunda
grande guerra.
Para Hirschmam (1986) isso se deveu ao encontro de duas grandes teses: 1- a estrutura econômica dos
países subdesenvolvidos apresenta certos traços específicos que tornam boa parte das análises econômicas
vinculadas à teoria convencional e ortodoxa sem efeito; 2- mesmo assim, é possível articular as relações entre
os países desenvolvidos e subdesenvolvidos de modo a que elas sejam vantajosas para os dois grupos de países,
e que o primeiro grupo possam ajudar o segundo. Estas proposições constituem-se como eixos que
contribuíram para consolidação da Economia do desenvolvimento como “edifício teórico distinto”.
Relacionadas a elas surgem duas considerações que iram demonstrar a especificidade dos países
subdesenvolvidos no plano da teoria e da política econômica: 1- as que se referem ao subemprego rural; 2- e as
que analisam a industrialização tardia. Ambas relacionadas aos países subdesenvolvidos num primeiro
momento, mas inseridas numa discussão mais ampla que inclui a dinâmica dos países centrais.
Para Byres (2004) alguns textos foram importantes para esta nova tendência do pensamento econômico a
respeito do desenvolvimento. Particularmente Rosenstein-Rodan em 'Problems of Industrialisation of Eastern
and South-eastern Europe' (1943) e Arthur Lewis em 'Economic Development with Unlimited Supplies of
Labour' (1954). Ambos conceberam um 'estado de desenvolvimento' como essencial. A teoria econômica
neoclássica parecia pouco capaz para tratar do desenvolvimento, especialmente dos países subdesenvolvidos.
Para Byres (2004, p. 236):
Reccal Lewis's opening paragraph: 'this essay is written in the classical tradition, making
the classical assumption, and asking the classical question. The classics, from Smith to
Marx, all assumed, or argued that an unlimited supply of labour was available at
subsistence wages'. Neoclassical economics was, lewis insisted, irrelevant for his part,
when he came to assess his views as one of the 'pioneers in development' some forty years
after the publication of his celebreted article, entitled his paper, in continuing defiance of
the relevance neoclassical economics, 'Natural Facit Saltum: Analysis of the
Disequilibrium Growth Process' (1984) - Natura Non Facit Saltum (Nature does not
make a jump) being the motto that Marshall placed on the frontispiece of his Principles,
the first polished statement of neoclassical economics.
Ainda segundo Byres (2004) nas primeiras duas décadas após a II Guerra mundial estes
autoresrepresentaram uma variante moderna da economia política clássica que foi hegemônica dentro da
Economia do desenvolvimento. Nem Roseinstein-Rodan nem Lewis eram seguidores das teorias neoclássicas.
14
Nem eram simpatizantes do marxismo. E de certa forma não acreditavam que a teoria clássica fosse
aplicável aos países pobres, apesar de suas análises estarem mais próximas da tradição da economia política
clássica. Não obstante, suas análises eram profundamente anti-neoclássicas.
Porém, antes deste tempo, o centro de gravidade da ciência econômica tinha começado já a mover
decisivamente da economia política clássica para as teorias neoclássicas, e isto era sentido também em relação à
agricultura, além de todos os outros setores. Esse monoecomismo é quebrado já no período da crise de 1929 por
uma poderosa linha de pensamento vindo por dentro do próprio establishment econômico: a revolução
keynesiana.
E o autor que melhor iria analisar esta correlação seria Artur Lewis, que inclusive define qual seria uma
das principais diferenças entre o objeto de estudo keynesiano (desemprego), num país desenvolvido, e numa
economia subdesenvolvida: pois enquanto o subemprego numa economia desenvolvida afeta não somente a
mão de obra, mas outros fatores de produção, na economia subdesenvolvida a oferta de trabalho é
superabundante em relação à demanda, para salários em nível de subsistência.
Neste contexto particular, Hirschmam (1986) contribui ao debate na tentativa de criar uma generalização
ao conceito de subemprego enquanto caráter essencial do subdesenvolvimento, pois para ele não só a força de
trabalho, mas também a poupança, o 'espírito empresarial”, e outros recursos fazem parte das 'reservas ocultas'
presentes nos países subdesenvolvidos e para que estes recursos fossem postos em ação a 'terapêutica
keynesiana' não bastava, seria necessário recorrer a outros mecanismos que impulsionassem o crescimento
nestes países. Resultando daí algumas das concepções mais relevantes de Hirschmam: a questão da estratégia
de crescimento não equilibrada, que também viria servir mais adiante aos países desenvolvidos.
Uma outra consideração relevante no surgimento da Economia do desenvolvimento diz respeito a
'industrialização tardia', pois desde a crise de 1929, passando pela economia de guerra passou-se a ter uma
compreensão de qualquer política de desenvolvimento passaria necessariamente por um processo de
industrialização. Neste contexto os países subdesenvolvidos haviam se especializado historicamente na
produção de matérias-primas para exportação aos países centrais, que lhes forneciam em troca produtos
industrializados.
Em primeiro lugar surge a necessidade de se pensar esquemas de desenvolvimento para este grupo de
países. Estes esquemas levavam em conta um conjunto de problemas ou entraves às possíveis estratégias com
por exemplo a baixa capacidade de investimento do setor privado, ou de falta de mercado consumidor com
renda, etc. Neste sentido várias concepções são pensadas (Hirschmam: 1986, p. 61/62) :
Para designar esse esforço e situar sua natureza, haverá uma viva competição entre
metáforas: tratade de “soltar as rédeas ou big push de Rosenstain-Rodan, da
“decolagem” (take-off), do “grande rush” (spurt) de Gerschenkron, do “limiar crítico”de
Libenstein, dos “encadeamentos”ou “efeitos em cadeia a montante e jusante” (backward
and forward linkages) de Hirshman. No debate que então se instaura acerca dessas
diferentes concepções, os argumentos teóricos – fundados em novas análises referentes
às medidas protecionistas, à planificação e a própria natureza da industrialização –
15
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.7-19 jan 2011
Para Hirschmam (1986) as primeiras contribuições à economia do desenvolvimento refletiam a
preocupação de estabelecer uma relação com a teoria keynesiana centrada no desemprego, enquanto os
'pioneiros” da economia do desenvolvimento se preocupavam com o subemprego, sobretudo os primeiros
trabalhos focavam a correlação entre subemprego e subdesenvolvimento10.
alternam-se considerações históricas, inspiradas pelos precedentes europeus do século
XIX.
Os processos de industrialização tardia mostraram que os países subdesenvolvidos eram muito
dependentes do capital externo, e com pouca capacidade técnica para administrar as mudanças ocorridas no
período. Além do que, a industrialização não se revelou capaz de absorver boa parte de mão de obra disponível
devido a indústria moderna ser altamente tecnificada. Os resultados históricos desses esquemas demonstraram
que os processos de industrialização tardia avançaram paralelamente à várias tensões e dificuldades sócioeconômicas que se mostraram originais no bojo da análise de desenvolvimento dos países subdesenvolvidos
como inflação e dívida externa.
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Mas o esforço do esquema da economia do desenvolvimento de prestar assistência está ligado à hipótese
da reciprocidade das vantagens, que parte da idéia de que os países industrializados são capazes de efetuar,
através da expansão de trocas, transferências financeiras e assistência técnica, uma contribuição considerável
às economias periféricas. Idéia esta baseada na experiência do Plano Marshall na Europa Ocidental. Neste
sentido Hirschmam (1986, p. 66) destaca que:
(...)É verdade que o sucesso do Plano Marshall induziu a erro os
economistas, fazendo-os crer que uma boa transfusão de capital, reforçada, programada
por uma boa programação dos investimentos, poderia fabricar o crescimento e o bem
estar de uma ponta a outra do planeta. (...)
Entretanto o próprio Hirschmam conclui ressaltando que uma das funções históricas da economia do
desenvolvimento consistiu em mostrar que os problemas do subdesenvolvimento não são insuperáveis e
precisam fazer parte da agenda política não somente internamente mas também dos países desenvolvidos e das
agências de desenvolvimento em nível mundial.
Em trabalho mais recente, que trata das mudanças estruturais da economia e agricultura, Amit Bhaduri
(2004) revisita um dos assuntos fundamentais da economia de desenvolvimento recente, isto é, o papel de
relação de inter-setorial entre em agricultura e a indústria.
Bhaduri combina um modelo baseado em conceitos clássicos (Lewis) com aspectos da teoria póskeynesiana (Kaldor e Kalecki) e desenvolve um modelo simples mas altamente sofisticado de mudança
estrutural. Ele usa este modelo então, para explicar um paradoxo moderno fundamental, isto é, o fato que a
revolução verde não resolveu o problema da desnutrição (e fome) no países “em desenvolvimento”. Pois as
políticas adjacentes à revolução verde proporcionaram o aumento da produção de grãos e alimentos e seu
armazenamento.
Bhaduri discute que isto ocorreu porque a revolução verde não foi complementada através de políticas
para garantir a expansão de indústrias domésticas e renda num ritmo capaz de absorver o excesso agrícola
adicional gerado.
Em trabalho recente Byres (2004) discute a relação entre agricultura e desenvolvimento, e propõe uma
alternativa de análise para a Economia do Desenvolvimento (economia política marxista). O alvo principal de
suas críticas recai sobre as visões da “hortodoxia dominante neocássica” desse campo do conhecimento.
Este autor faz distinção de quais seriam as distintas manifestações d paradigma neoclássico no pós guerra
16
Mais especificamente sua crítica recai sobre a chamada “Nova Economia do Desenvolvimento”
(NNCDE) preconizada por Joseph Stiglitz. Para Byres (2004) este autor não estava recorrendo a nenhuma
substituição por uma economia do desenvolvimento não-neoclássica, mas uma revisão do Consenso de
Washington. Neste sentindo, todo ideário anti-Estado, anti-planejamemnto e pró-mercado é relativizado. A
agricultura passa a um papel central nesta revisão. Mas, para Byres o tratamento destinado ao meio rural e aos
produtores faz com que a NNCDE os conceba: 1- como camponeses homogêneos e não diferenciados, como se
não houvesse classes ou frações de classe antagônicas no meio rural; 2- as relações entre grandes produtores
pequenos produtores e trabalhadores da agricultura são para a NNCDE de mutualidade e não relações
capitalistas de exploração; 3- Para a NNCDE não existe assimetria de poder econômico entre os diferentes
agentes e classes rurais, rebatendo na atuação do Estado; 4- a NNCDE não explica as causas do atraso
econômico de certas regiões em relação á outras; e 5- Os economistas do NNCDE têm uma visão problemática e
ambígua do Estado. Tomando como base Stiglitz, existe uma visão positiva de Estado, que atuaria para além do
jogo de impostos e subsídios, fortalecendo as ´instituições agrárias`.
Para Byres (2004) a discussão sobre agricultura, deve incluir na idéia de fortalecendo as ´instituições
agrárias` um processo de reforma agrária e integração dos pequenos produtores aos mercados. Para isso ocorrer
se faz necessários, volumosos programas de crédito formal, com taxas diferenciadas; programas de irrigação;
criação e disseminação de novas tecnologias aplicadas ao campo; controle de preços inter-setoriais e esquemas
inclusivos de combate à pobreza rural. Pois sem um estado intervencionista, seria difícil conceber a
transformação da dinâmica agrária dos países de economia atrasadas.
6 CONCLUSÕES
A agricultura cumpriu um papel importante ao longo da história do pensamento econômico. No
pensamento econômico anterior a Adam Smith e a economia política clássica, a agricultura era considerada uma
atividade estratégica e por vezes superior às demais, provavelmente por ainda desempenhar sua função
“natural” de prover alimentos para a satisfação das necessidades humanas. O comércio era condenado por visar
a um lucro comercial ou monetário. Deriva daí a teoria fisiocrata. Mas a economia de ordem natural começa a ser
substituídas pela ordem do mercado, que transforma a terra e seus produtos em mercadorias, sob o comando da
lei do valor e da valorização do capital.
Nos autores clássicos, com o deslocamento da origem do excedente da terra para o trabalho, a agricultura
perde a supremacia e começa a subordinar-se à lógica do capital industrial, mas detém, ainda, a supremacia
analítica, particularmente no modelo agrícola de Ricardo, onde são as condições de produção agrícola,
refletidas no encarecimento dos alimentos, que vão determinar a queda dos lucros agrícolas e industriais e, com
ela, a perspectiva do estado estacionário da economia. No pensamento econômico neoclássico, a agricultura
perde toda especificidade, figurando como um setor ao lado do capital e do trabalho.
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com respeito ao desenvolvimento, pois os expoentes de cada tipo teve distintas e diferentes visões sobre
agricultura. As visões mais gerais seriam: 1- antiga economia neoclássica do desenvolvimento nos anos 60/70;
2- o “Consenso de Washington” dos anos 80; 3- a Nova Economia do Desenvolvimento Neoclássica, nos anos
80/90; e o 4- Populismo Neoclássico.
Para Marx, com o surgimento da “grande indústria”, a agricultura assume um papel subordinado na
dinâmica econômica, em relação à qual deve desempenhar suas clássicas funções. A partir daí, o debate teórico
sobre a agricultura se prolonga como discussão da “questão agrária”, relacionada, fundamentalmente, com o
problema do desenvolvimento das regiões atrasadas, especificamente na Rússia, na América Latina e no Brasil.
No caso da Rússia, o debate envolvia autores populistas, que defendiam a preservação da produção familiar e
camponesa, e autores marxistas, para os quais a penetração do capitalismo no campo implicaria a destruição e
incorporação da agricultura camponesa na agricultura capitalista. Na América Latina, a CEPAL centra o debate
nos entraves colocados pelo atraso da agricultura e pela estrutura agrária ao desenvolvimento industrial.
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E é exatamente no período pós-guerra com a problemática de industrialização dos países
subdesenvolvidos ou periféricos que surge uma alternativa de análise do desenvolvimento econômico.
Procurando resgatar a necessidade de intervenção para o desenvolvimento, a Economia do desenvolvimento sai
em defesa analítica da especificidade sócio-econômica dos países pobres e crítica a ortodoxia econômica que
para esse caso se torna sem efeito, e abre o debate sobre a necessidade de articular as relações entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos, contribuindo para a de um “edifício teórico distinto”.
A importância da agricultura e do meio rural faz parte dos elementos que compõe desde o início do
pensamento da economia do desenvolvimento. Destacam-se os seguintes temas: subemprego rural; a
industrialização tardia face à especialização agrícola; as relações entre a indústria e a agricultura; e o novo papel
que os Estados devem desempenhar para a promoção do desenvolvimento rural e agrícola.
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the price mechanism in a 'dual' economy. In: Chang, H-J (ed.). Rethinking development economics. London,
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BYRES, T. Agriculture and development: the dominant orthodoxy and an alternative view. In: Chang, H-J (ed.).
Rethinking development economics. London, Anthem Press, 2003, 235-254.
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Mudar para manter: pseudomorfose da agricultura brasileira. São Paulo: Secretaria da Agricultura e
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FURTADO, C. O subdesenvolvimento revisitado. In: Economia e Sociedade. n. 01, agosto de 1992. Campinas.
HIRSCHMAN, A.O., Auto-subversão - teorias consagradas em xeque. S. Paulo, Companhia das Letras,
1996.
18
HIRSCHMAN, A.O., Grandeza e decadência da economia do desenvolvimento, in Hirschman, A.O., A
economia como ciência moral e política. S. Paulo, Ed. Brasiliense, 1986.
HUNT, E. K. História do pensamento econômico. Editora Campus, rio de Jeneiro , 1978.
KAUTSKY, K. A questão agrária. São Paulo: Proposta Editorial, 1980.
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interno para a grande indústria. Trad. de José Paulo Netto. São Paulo:Abril Cultural, 1982 (Coleção Os
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NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo, Marx. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
19
ESTUDO DAS PERDAS DE RECEITAS POR CONGELAMENTO DA TARIFA DE ESTUDANTES NO
SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO
DO MUNICÍPIO DE SANTARÉM, ESTADO DO PARÁ.
José de Lima Pereira, M.Sc.¹
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RESUMO
Uma gama de interpretações sobre desenvolvimento econômico podem ser analisadas à luz da teoria econômica
e social. Buscando explorar um campo de estudo que trata das relações entre desenvolvimento, subdesenvolvimento e a agricultura, o objetivo deste trabalho é analisar o papel atribuído á agricultura e ao meio rural pelas
teorias do desenvolvimento em geral e em particular pela teoria econômica. Algumas destas interpretações
mostram a relevância da agricultura e do meio rural o em relação ao desenvolvimento. Mostraremos isso
observado as abordagens iniciais da ciência econômica, assim como na discussão mais recente sobre a economia do desenvolvimento.
Palavras-Chave: transporte coletivo, perda de receitas, tarifa, estudante.
ABSTRACT
This study focuses on the analysis of revenue losses of public transportation system in the city of Santarém in the
west of Pará state, from March/2008 to July/2010 due to freezing and the fare for students in $ 0.37. The theory
used to determine the differences was linear algebra extension for the cost structure and pricing in economic
theory. The study highlights the number of students transported in the period and the differences between fixed
rate and other charges paid, generating a real difference of $ 433,700, equivalent to a total of 4.5 million
passengers during the period 32 months.
Keywords: transportation, loss of revenue, tariff, student.
¹JOSÉ DE LIMA PEREIRA é economista, mestre em economia e aluno especial do doutorado em economia e desenvolvimento regional pela NAEA/UFPA.
Professor universitário em graduação e pós-graduação por diversas Instituições de Ensino Superior (FIT, UNAMA, IESPES, ULBRA, UEPA).
Pesquisador do desenvolvimento econômico regional há mais de 20 anos, com mais de 60 trabalhos publicados me níveis nacional e internacional.
Colaborador da equipe técnica que desenvolveu o EIA/RIMA do Proto Graneleiro da Cargill em Santarém (capítulo econômico). Secretário executivo do
CEAMA – Centro Avançado de Estudos Amazônicos. Telefones: (93) 8111-0303 e 8809-0876, e-mails: [email protected] e [email protected].
20
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo a análise das perdas de receitas do sistema de transporte coletivo de
passageiros urbanos de Santarém, no período de 01 de março de 2008 a 30 de julho de 2010, a partir de uma
decisão tomada entre componentes da gestão pública municipal e os empresários que compõem o SETRANS –
Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Santarém e Belterra, em reunião tomada para ajustar
o preço da tarifa de R$ 1,30 para R$ 1,50, quando ficou congelada a tarifa para estudantes em R$ 0,65.
A teoria de base utilizada par determinação das diferenças foi álgebra linear com foco em microeconomia e a
de atualização de valores, teoria dos números índices, com determinação de parcelas no período de março/2008
a julho/2010, período em que a tarifa do transporte coletivo urbano para estudantes, está congelada.
O método utilizado foi o heurístico, dando abordagem em fatos estatísticos, matemáticos e econômicos.
Após esta breve introdução, o estudo se complementa com uma contextualização problemática e suas
justificativas, metodologia, análise de resultados, considerações finais, responsabilidade técnica e bibliografia.
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Avaliar as parcelas das receitas que deixaram de ser recebidas pelas empresas que compõem o Sistema de
transporte coletivo urbano do município de Santarém, no período de março/2008 a julho/2010, período em que a tarifa de
estudantes ficou congelada em R$ 0,65 (sessenta e cinco centavos), por conta de negociações entre o poder público e o
SETRANS Santarém, decorrente de compensações e quitações de débitos anteriores de tributos municipais, que deveriam
ser realizados pela Prefeitura Municipal de Santarém.
2.2 Específicos
2.2.1 Levantar o número de passageiros estudantes transportados no período (mar/2008 a jul/2010), objetivando calcular o
valor nominal decorrente das diferenças dobradas a menor em decorrência de negociações;
2.2.2 Corrigir monetáriamente, mês a mês, os valores nominais decorrentes das diferenças com base no INPC/IBGE;
2.2.3 Calcular juros decorrentes dos valores nominais devidamente corrigidos com base na taxa anual de 12% ou a
equivalente de 1% ao mês.
21
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A quantidade de passageiros estudantes transportados no período foi determinada pela amostra de
fevereiro/2009 a fevereiro/2010, dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Transportes (SMT), que é o
órgão que administra o sistema de transporte coletivo em Santarém.
3 CONTEXTUALIZAÇÃO PROBLEMÁTICA
A meia passagem, além de um direito garantido na Constituição Federal (1888), no Estado do Pará é assegurada
também na Lei que criou a Constituição do Estado, em seu artigo 284, alterado pala emenda constitucional nº 35, de
24/01/2007, que confere o direito a meia passagem no transporte, onde é assegurado aos estudantes de qualquer nível o
benefício da “tarifa reduzida à metade” (50%), nos transportes urbanos, terrestres ou aquaviários, na forma da lei.
Por outro lado, o Estado democrático brasileiro, conforme decorre do próprio preâmbulo da Constituição Federal tem
o objetivo de: assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social.
Segundo a própria Constituição Federal, compete aos estados e municípios a regulamentação do benefício e como se
pôde perceber, no Pará, a Constituição do Estado assegurou o benefício, que também foi estendido aos municípios que tem
a concessão do serviço.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.20-28 jan 2011
Até março de 2008, o município de Santarém vinha assegurando o benefício legal de 50% (cinquênta por cento) da
tarifa, que trata a Constituição do Estado e emenda constitucional referente ao assunto.
Entretanto, em negociação entre o poder público e os empresários do SETRANS, para assegurar o perdão das dívidas
de tributos municipais decorrentes de ISS (imposto sobre serviço de qualquer natureza) e a Taxa de Administração cobrada
pela Secretaria Municipal de Transportes (SMT) que deixaram de ser recolhidos em função da manutenção da tarifa
congelada por mais de três anos e em outros períodos, em administrações anteriores, em abril de 2008, em reunião
extraordinária entre políticos, secretários e técnicos da atual gestão e empresários do sistema, decidiu-se manter em R$
0,65 (sessenta e cinco centavos) a tarifa estudantil do transporte coletivo.
O tempo foi se passando e após 30 (trinta) meses, após o sistema ter transportado 4,6 milhões de estudantes e, após dois
ajustes de preços na tarifa, R$ 1,50 (um real e cinquênta centavos) em março/2008 e; R$ 1,70 (um real e setenta centavos),
em julho/2009 e; ainda, na perspectiva do terceiro ajuste, justificados pela elevação dos custos de operação, o SETRANS
vem amargando um prejuízo nominal que ultrapassa R$ 636 milhões no período.
Diante de do cenário por que passa o sistema em não ter, por parte da gestão pública e o impasse de não se até o presente
momento a remissão das dívidas remanescentes em tempo hábil, as perguntas que se fazem são:
(i)
Qual o valor nominal das diferenças entre a tarifa que deveria ser cobrada em suas datas respectivas e
a tarifa congelada em R$ 0,65 (sessenta centavos)?
(ii)
Qual o valor devido de ajuste monetário pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC),
calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)?
(iii)
Qual o valor dos juros remuneratórios com base na taxa de 1% (um por cento) ao mês sobre os valores
indevidos, adicionado de correção monetária?
(iv)
Qual o valor do montante do crédito a ser pago ou compensado pela Prefeitura Municipal de
Santarém relativo às diferenças dos valores entre o que foi cobrado a menor e o valor devido no
22
período de março/2008 a julho/2010?
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para responder a estas perguntas, fizeram necessárias as utilizações de alguns procedimentos
metodológicos, que excederam da esfera administrativa e que centralizaram a problemática a partir de
fundamentos econômicos, entre os quais:
4.1 A oferta do transporte coletivo
Os dados relativos à oferta dos meios utilizados para a efetivação dos serviços de transporte público foi determinada
pela Equação 1:
S = ?(Pi, Pα, Pπ, T, O)( 1 )Onde:
S = Oferta do serviço do transporte público com tarifa reduzida;
Pα = Preço dos concorrentes (táxi, moto-táxi, van e outros transportes alternativos);
T = Nível de tecnologia empregado no sistema;
O = Objetivos dos empresários operadores do sistema.
4.2 Calculo de taxas equivalentes
Cálculo de taxas equivalentes a partir das taxas efetivas, estabelecidas, através da Equação 2:
n/30
r = { [(1 + i) -1] x 100
( 2 )Onde:
r = taxa relativa equivalente;
i = taxa unitária;
n = intervalo de tempo;
30 = número de dias comerciais no período de um mês.
4.3 Taxa acumulada de índices de inflação
Para o cálculo dos índices acumulados de inflação utilizou-se índice nacional de preços ao consumidor
(INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituto que calcula a inflação
n
n
oficial brasileira, através da Equação 3:iF = [{(1 + iAC) x (1 + iML) ] – 1} x 100( )
Onde:
iF = Taxa unitária de inflação acumulada;
iAC = Índice unitário do INPC/IBGE acumulado anterior;
iM = Índice unitário mensal do INPC/IBGE;
n = Tempo em estudo (Mar/2008 a Jul/2010).
23
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Pi = Preço da tarifa par estudante;
4.4 Determinação das diferenças entre tarifas
Para determinação dos valores das diferenças entre as tarifas cobradas, utilizou-se a soma dos produtos entre
passageiros transportados e diferenças entre tarifa cobrada no tempo n, de acordo com a Equação 4:
Dif = ∑(q1.? 1), q2. ? 2, ... qn? n)( 4 )Onde:
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Dif = Valor do montante nomina da diferença (em R$);
q1 = Quantidade de estudantes transportados no mês 1;
? 1 = Diferença entre tarifa real e tarifa cobrada no mês 1;
q2 = Quantidade de estudantes transportados no mês 2;
? 2 = Diferença entre tarifa real e tarifa cobrada no mês 2;
qn = Quantidade de estudantes transportados no mês n;
? n = Diferença entre tarifa real e tarifa cobrada no mês n.
4.5 Juros remuneratórios
Para determinação dos juros remuneratórios, na base de 12% (doze por cento) ao ano, equivalente a 1% (um por cento)
ao mês, foi utilizada a Equação 5.J = PV.i.n(
Onde:
J = Valor dos juros remuneratórios;
PV = Valor do montante de cada mês;
i = Taxa de juros de 12% ao ano ou 1% ao mês;
n = Tempo em estudo.
4.6 Método
O método utilizado para valoração econômica do imóvel foi o Heurístico, fundamentado através teorias matemáticas,
econômicas, de pesquisas estatísticas e utilização de modelos econométricos, sustentando a eficácia da base de dados da
Secretaria Municipal de Transportes (SMT) da Prefeitura Municipal de Santarém (PMS).
4.6.1. Histórico
Método que consistiu investigar os fatos e acontecimentos ocorridos no passado para conferir possíveis projeções
de sua influência na sociedade contemporânea, prática que oferece ainda a possibilidade de análise da organização da
sociedade e das instituições permitindo-se entender a dinâmica histórica de sua evolução e transformação.
Constituiu um encadeamento de processos que permitiu investigações dos fenômenos (fatos ou eventos) dentro de
uma perspectiva possibilitando o conhecimento de causas e efeitos sistema de transporte coletivo urbano do município.
4.6.2. Econométrico
24
Método que se aplicou ao estudo a partir do estudo da estrutura de mercado e da formação de preços em ambiente de
concorrência perfeita do cálculo da tarifa, especialmente nos conjuntos de procedimentos apoiados em teorias de
modelagem em planilhas e, como tal, indispensáveis na apresentação do cenário do transporte público de passageiros
(estudantes), objeto pretendido para medir o grau de correlação entre dois ou mais fenômenos em estudo nesta avaliação.
5 RESULTADOS
Levando-se em conta os objetivos propostos, a seleção de procedimentos metodológicos, pode-se responder as quatro
perguntas que foram formuladas na contextualização problemática, de forma clara e objetiva.
5.1 O valor nominal das diferenças
O valor nominal das diferenças entre as tarifas corretas de 50% (R$ 0,75 e R$ 0,85) para os estudantes e a tarifa
no período de março/2008 a julho/2010, gerando um montante nominal de R$ 636.069,08 (seiscentos e trinta e seis mil,
sessenta e nove reais e oito centavos) – Tabela 1.
Tabela 1 – Perdas reais com o congelamento da tarifa estudantil: mar/2008 a Jul/2010
FONTE: Calculado com base nos dados da SMT/PMS (2010) e CEAMA (2010).
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congelada de R$ 0,65 (sessenta e cinco centavos), foi multiplicada pela quantidade de estudantes transportada (4.466.594)
5.2 O valor devido de ajuste monetário
O valor devido de ajuste monetário é decorrente da variação dos índices de inflação pelo INPC/IBGE (2010),
totalizando R$ 31.905,93 (trinta e um mil, novecentos e cinco reais e noventa e três centavos) – Tabela 1.
5.3 O valor dos juros remuneratórios
O valor dos juros remuneratório foi calculado com base na taxa de 12% (doze por cento) ao ano, ou 1% (um por
cento) ao mês, sobre os valores devidamente ajustados pelo INPC/IBGE (2010), totalizando R$ 91.083,07 (noventa e um
mil, oitenta e três reais e sete centavos) – Tabela 1.
5.4 Montante real dos créditos
O montante real dos créditos, já adicionados de juros moratórios e atualização monetária, somou R$ 759.058,09
(setecentos e cinquênta e nove mil, cinquênta e oito reais e nove centavos), compondo-se de R$ 636.069,08 (seiscentos e
trinta e seis mil, sessenta e nove reais e oito centavos), de principal; R$ 31.905,93 (trinta e um mil, novecentos e cinco reais
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.20-28 jan 2011
e noventa e três centavos), de atualização monetária e; R$ 91.083,07 (noventa e um mil, oitenta e três reais e sete
centavos), de juros remuneratórios (Figura 1).
Figura 1 – Distribuição das parcelas relativas ao montante de R$ 759.058,09, distribuídas em: valor nominal, juros e
atualização monetária das diferenças em favor do SETRANS.
Dessa forma, tomando como base as diferenças entre as tarifas que deveriam ser cobradas (R$ 0,75 e R$ 0,85) e a tarifa
congelada (R$ 0,65) no período, chegou-se ao montante de R$ 759 mil em favor do SETRANS Santarém.
26
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos pressupostos da teoria econômica, levando em conta os valores nominais a partir das diferenças e do
número de estudantes transportados e também, utilizando-se da metodologia de cálculo para determinação dos valores,
chegou-se ao valor de R$ 759.058,09 (setecentos e cinquênta e nove mil, cinquênta e oito reais e nove centavos),
incluindo-se as diferenças nominais (R$ 636.069,08), juros remuneratórios (R$ 91.083,07) e atualização monetária pelo
INPC/IBGE, que mede a inflação oficial brasileira (R$ 31.905,93). Em outra ótica, todos os modelos econômicos,
estatísticos e matemáticos foram testados, não deixando dúvidas sobre os valores apresentados nesta avaliação.
Por fim, considera-se que, a partir da situação problemática estabelecida, suas justificativas e principalmente a seleção
dos procedimentos metodológicos, este estudo atingiu os objetivos previamente definidos, sem qualquer contratempo ou
imprevisto que viesse colocar em xeque os resultados efetivamente calculados e analisados.
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ECONOMIA E MEIO AMBIENTE:
UMA DISCUSSÃO INTRODUTÓRIA
Andréa Simone Gomes Rente¹
O presente artigo é um exercício teórico que visa apresentar algumas idéias sobre a relação Economia e Meio
Ambiente. Atualmente, tal discussão passa a ser relevante para Economia haja vista em primeiro lugar o
reconhecimento de que os recursos naturais são esgotáveis e, em segundo, a necessidade de se buscar
mecanismos de conservação do meio ambiente e dos seus diversos recursos naturais tão necessários para a
sobrevivência da humanidade. Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar de forma introdutória a economia, o
meio ambiente, sua relação e como tal discussão vem se inserindo na Ciência Econômica a partir de duas
vertentes: a Economia do Meio Ambiente ou dos Recursos Naturais e a Economia Ecológica. É um artigo
bibliográfico que nem de longe tem a pretensão de esgotar a discussão, mas, apresentá-la de uma forma didática
permitindo que acadêmicos das diversas áreas do conhecimento e interessados por essa temática tenham uma
visão geral sobre a mesma.
Palavras-Chave: Economia, Meio Ambiente, Economia do Meio Ambiente e Economia Ecológica.
ABSTRACT
This article is a theoretical exercise which aims to present some ideas about the relationship Economy and
environment. Currently, such discussion shall be relevant for Economy given firstly the recognition that natural
resources are an exhaustible and secondly the need to seek mechanisms for conservation of the environment and
its various natural resources as necessary for the survival of humanity. Therefore, this article is present in general
the economy, the environment, their relationship and as such discussion is entering in economic science from
two aspects: the economics of environment and natural resources and ecological economics. Is an article
bibliographic that nowhere has claim to deplete the discussion more sim present it in a didactic thus so that
academics from various fields of knowledge and interested by this subject with an overview about the same.
Keywords: Economy, Environment, Environment Economy and Ecological Economy.
¹ Bacharel em Ciências Econômicas – UFPA. Especialista em Auditoria e Controladoria – FIT. Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade –
CPDA/UFRRJ. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade – CPDA/UFRRJ. Professora
da Universidade Federal Oeste do Pará – UFOPA, do Centro de Formação Interdisciplinar - CFI. E-mail: [email protected]
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
O presente artigo é um exercício teórico que visa apresentar algumas idéias sobre a relação Economia e
Meio Ambiente. Atualmente, tal discussão passa a ser relevante para Economia haja vista em primeiro lugar o
reconhecimento de que os recursos naturais são esgotáveis e, em segundo, a necessidade de se buscar mecanismos de conservação do meio ambiente e dos seus diversos recursos naturais tão necessários para a sobrevivência
da humanidade. Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar de forma geral a economia, o meio ambiente, sua
relação e como tal discussão vem se inserindo na Ciência Econômica a partir de duas vertentes: a Economia do
Meio Ambiente ou dos Recursos Naturais e a Economia Ecológica.
É um artigo bibliográfico que nem de longe tem a pretensão de esgotar a discussão mais sim apresentá-la
de uma forma didática possibilitando aos acadêmicos das diversas áreas do conhecimento e interessados por
essa temática uma visão geral sobre a mesma. É por esse motivo que o mesmo passa a ser relevante, pois apresenta o caminho percorrido pela economia em relação ao meio ambiente. Num momento em que as Ciências
Sociais é convidada a trabalhar interdisciplinarmente, conhecer como a Ciência Econômica vem abordando tal
tema fortalece a discussão e permite o fornecimento de subsídios para inseri-la na discussão ambiental que tem
por base ser interdisciplinar.
Para que se estabeleça a relação da Economia e Meio Ambiente se apresentará de forma sucinta quatro
tópicos. O primeiro, intitulado Economia, trará a construção de uma ciência que desde seu início e até os dias
atuais se preocupa com a organização da sociedade para a produção de bens materiais como base do processo de
acumulação de riqueza. O segundo, intitulado Meio Ambiente, apresentará uma compreensão sobre meio ambiente partindo da preocupação que se inicia no século XX, denominada de crise ambiental e, que aproxima a sociedade e as Ciências Sociais dessa discussão corriqueira nas Ciências Biológicas. O terceiro, Economia e Meio
Ambiente, se abordará o nível dessa relação partindo da visão que foi somente com a crise ambiental dos anos de
1960 que esta relação se evidencia e, por conta disso, a Economia passa a estabelecer novas formas ou vertentes
para responder a tal fenômeno. E, o último tópico, As Abordagens Econômicas para as Questões Ambientais,
onde se apresentará uma breve discussão sobre Economia do Meio Ambiente ou dos Recursos Naturais e Economia Ecológica, consideradas hoje, as principais abordagens econômicas para tratar a questão ambiental.
2 ECONOMIA
A Economia é uma Ciência que surge no século XVIII, tendo como marco a obra A Riquezas das Nações,
de 1776, do Economista Adam Smith, em plena I Revolução Industrial, com o propósito de estudar, entender e
analisar os fenômenos sociais emergentes com o sistema capitalista. A partir da visão tradicional da Ciência Econômica, tal sistema tinha por base a geração de riqueza através da produção em larga escala de bens e/ou serviços
considerados como “bens econômicos”, devido os mesmos não existirem em quantidade suficiente e, portanto,
serem escassos. Essa escassez acabou sendo a principal fonte de análise da problemática econômica.
Por que os bens são escassos? A resposta econômica para essa questão é: Porque os fatores de produção
(recursos naturais, capital e trabalho) não existem em quantidade suficiente para atender as necessidades ilimitadas da sociedade que, no capitalismo é cada vez mais incentivada ao consumo. Surge assim o grande dilema e
30
desafio da Economia: como equacionar recursos escassos para atender as necessidades ilimitadas da
sociedade? Sociedade esta agora organizada em função da produção desses bens econômicos e dividida em duas
classes reconhecidas tanto pelos economistas clássicos quanto pelos marxistas: a classe capitalista (os detentores dos fatores de produção) e a classe trabalhadora (os que só tinham a força de trabalho para vender como mercadoria).
Marx, que dentre outras obras, escreve em O Capital suas concepções acerca da estrutura de produção
capitalista, mostra como dentro desse sistema a classe trabalhadora ao mesmo tempo em que é a principal fonte
desse processo produtivo, é também a classe relegada ao mais baixo nível de exploração. Esta concepção marxista foi o ponto inicial para que os trabalhadores entendessem que, dentre outras coisas, era primordial que os
mesmos se organizassem para lutar por melhores condições de trabalho e salário. O que até os dias atuais vem
sendo uma luta constante dessa classe dentro do sistema capitalista.
Nesta brevíssima contextualização de um período chave da análise econômica pode-se perceber que a
grande preocupação tanto das escolas tradicionais como da escola crítica do sistema era com o entendimento da
estrutura organizacional do sistema econômico. Sob este ponto de vista, pode-se perguntar, e o meio ambiente,
como era visto? Com o reconhecimento de que para que existisse produção era preciso a interação das forças
produtivas (meios e técnicas para a produção) com as relações sociais (organização da sociedade no processo
produtivo), o meio ambiente passa a ser entendido como o lugar onde se busca a base do processo produtivo, ou
seja, o lugar onde se encontra os recursos naturais (bens extraídos da natureza e colocados no processo produtivo
para a produção de outros bens) e, atualmente, segundo Maimon (1993, p. 49) “[...] para onde se envia os dejetos
da produção e consumo”.
Portanto, nesse período (século XVIII até meados do século XX) a crença para a economia é que o meio
ambiente era o produtor de um dos fatores de produção. Pode-se dizer do fator base para a produção de outros
bens. Mas, este fator por está no meio ambiente era considerado pela modelística econômica abundante e de
fácil acesso não devendo ser preocupação quanto a sua obtenção para o processo produtivo, pois com o advento
tecnológico, à medida que o mesmo fosse se esgotando outros mecanismos iam sendo inventados para a sua substituição (caso da eletricidade, produtos sintéticos, etc.). Dessa concepção, acirra-se a exploração do meio ambiente na busca dos recursos naturais para a produção, limitando assim, no pensar econômico, o meio ambiente a
um espaço de exploração dos recursos naturais. (MAY, 2001)
Mesmo na discussão mais contemporânea da economia, a partir do surgimento da escola keynesiana, por
exemplo, a relação da economia com meio ambiente ainda parte da preocupação no que tange a exploração dos
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
Para esta questão a resposta dos economistas tradicionais (clássicos e neoclássicos) se pautava sempre
na forma de produção e distribuição desses bens econômicos no mercado. Portanto, equacionar a produção de
bens com cada vez mais tecnologia, eficiência e capacitação que proporcione uma produção em larga escala,
que favoreça a distribuição e a comercialização desses bens no mercado está na base da discussão e da busca de
resposta a esse dilema. No entanto, ao se partir para uma visão mais crítica da economia, a exemplo do que fez a
escola marxista, o conceito de economia será atrelado à concepção de que o sistema capitalista em voga desde o
século XVIII traz em sua existência um processo de organização social desigual, fruto da exploração da classe
trabalhadora e da sua forma de organização política e social está assentada na propriedade privada.
to da inserção de John Maynard Keynes, o mundo passava por uma das suas mais difíceis crises, a Crise
de 1929, onde a preocupação era com a superprodução de bens e serviços, desemprego, geração de renda, dentre
outros que necessitavam de medidas pontuais como a Intervenção do Estado na Economia Capitalista. O Estado
a partir desse momento passa a ser o “Estado Providência”, ou seja, onde as empresas não estavam conseguindo
atuar ele se fazia presente para assim gerar produto, emprego, renda e bases para o fortalecimento da economia
de mercado².
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
Ganha força dentro da economia capitalista o planejamento como propulsor do desenvolvimento que, a
partir do exemplo das economias bem-sucedidas deveria sempre estar pautado no crescimento econômico atrelado a industrialização. Portanto, intensifica-se o discurso de que país rico e desenvolvido é país industrializado.
Essa, a partir dos anos de 1950, é a retórica dos países, como a exemplo do Brasil, não se encontravam no patamar de “desenvolvido”, mas que ousavam querer dar esse vôo. Assim chega-se à Era Desenvolvimentista, onde
as teorias e discussões da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL passam a ser referência, principalmente quando o assunto era o desenvolvimento da América Latina³.
O desenvolvimento econômico via industrialização torna-se a meta perseguida pelos países que, tendo
como espelho as grandes potências (como os Estados Unidos) passam a querer galgar o status de país desenvolvido. Contudo, a pergunta que se faz é: a que preço? Tal pergunta, dentre o leque de respostas possíveis tem na
questão ambiental uma das mais debatidas na atualidade: a um preço de esgotamento dos recursos, danos ambientais e catástrofes naturais e provocadas pelo ser humano. É nesse contexto que a questão ambiental aparece
hoje relacionada com a economia.
Para muitos estudiosos (MAIMON, 1993; FOLADORI, 2001; MAY, 2001, dentre outros) o processo
desencadeado com o desenvolvimento econômico fortaleceu o uso sem limites do meio ambiente, e, portanto o
surgimento dos principais problemas ambientais atuais como: depredação do meio, poluição e crescimento
desordenado. Atualmente, essa relação com o meio ambiente é considerada como uma das principais causas da
crise ambiental detectada a partir de 1960, sendo desde meados da década de 1970 motivo de congressos, debates e discussões em escala mundial, onde a economia tradicional é colocada em evidência e, por isso, exigindo
dos economistas contemporâneos uma nova postura, mais interdisciplinar visando reconhecer que os recursos
naturais são limitados e que o esgotamento de alguns coloca em xeque não só a produção de bens, mas a própria
sobrevivência do ser humano na terra. Segundo Rente (2006, p. 101):
No que diz respeito às crises ambientais, ponto de partida para nossa discussão sobre desenvolvimento e questões ambientais, Foladori (2001) destaca a bomba atômica que atingiu Hiroshima e Nagasaki, ambos no Japão, na Segunda Guerra Mundial, pelos norte-americanos, como
sendo o primeiro grande impacto ambiental e o primeiro indício do 'poder' que o ser humano
tem em modificar o meio ambiente destruindo os seus e outras espécies do ecossistema existentes no mundo. Isto não significa que antes da bomba atômica, outros desastres ambientais já não
tivessem ocorrido no mundo.
Desta forma, entender e colocar a questão ambiental no centro das atenções das Ciências Sociais, a exem
²Para entender as idéias e propostas de Keynes sua principal obra é a Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda.
³Para uma leitura sobre as idéias e concepções da CEPAL e sua participação no período desenvolvimentista, consultar a obra Cinqüenta Anos de Pensamento
da Cepal, volume 1 e 2, organizado por Ricardo Bielschowsky, de 2000.
32
plo da Economia se constitui uma necessidade de compreensão e mudança de comportamento em prol
de um mundo mais saudável e com produção mais eficiente. Para que isso não pareça um alarmismo sem consistência, o próximo item levantará algumas discussões sobre o meio ambiente do seu conceito natural até a contextualização de como esta questão sai do contexto biológico/natural e passa a ser uma questão interdisciplinar
onde as Ciências Sociais e, dentro deste escopo, a Economia é convidada a buscar olhar as questões ambientais
como um processo socialmente construído que envolve dentre outras coisas a relação ser humano-meio ambiente.
Uma das formas de conceituar o ambiente é a expressa no Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio:
“ambiente é o que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados; envolvente: meio ambiente”.
Portanto, meio ambiente é o espaço que cerca, envolve, circunda os seres vivos e, como tal deve ser entendido
como o lugar, a proteção ou ainda o espaço que se tem para viver. É o meio onde o processo ou a evolução da vida
(nascer, crescer, se desenvolver e morrer) de todos os seres vivos ocorre.
Levá-lo em consideração apenas como uma área de estudo de uma ciência ou como os economistas tradicionais entendem como o lugar onde se encontra os recursos naturais para a produção de bens, é minimizar a sua
real importância dentro do contexto da vida. Portanto, o estudo do meio ambiente deve ser interdisciplinar,
tendo como ciência mais próxima aos estudos do meio, a Ecologia, sem com isso, segundo Andrade et al (2005)
deixar de englobar outras áreas do conhecimento como a sociologia, a antropologia, o direito, a economia, a
geografia, a história, as ciências exatas, dentre outras. É sob este ponto de vista que se entende o meio ambiente
como uma questão físico-técnico mais também social. Dependendo da lente científica, tanto os aspectos físicotécnicos como os sociais devem ser levados em consideração. (FOLADORI, 2001)
O que ocorre, portanto, é que devido ao fato do estudo do meio ambiente está mais próximo e, ao mesmo
tempo reconhecido como da área das Ciências Biológicas a relevância maior é para as questões fisico-naturais e
técnicas. Portanto, segundo Foladori (2001) as questões ambientais, sobre este prisma aparecem sempre relacionadas com a interação das espécies e suas possibilidades de adaptação ao meio ambiente. Tal posição é confirmada em Andrade et al (2005, p. 37) onde o mesmo afirma que “as bruscas alterações impostas pelo homem aos
componentes da biosfera causam desbalanços que afetam o complexo equilíbrio.” Ou seja, no meio ambiente a
infinita gama de organismos que aí se localiza deve está em perfeita harmonia dentro dos seus respectivos ecossistemas (unidades funcionais do meio), respeitando tanto seus habitats (local) e seus nichos (função) compondo seus biomas (agrupamentos de ecossistemas) agregados em uma biosfera (um grande ecossistemas onde
todas as espécies da terra podem ser vistas) que, em equilíbrio irá compor a paisagem do ambiente (um grupo de
ecossistema em interação) com as suas diversificadas e complexas interações. (ANDRADE et al, 2005)
Isso não quer dizer que tal visão não seja pertinente, ao contrário, ela é a base fundamental para que se
entenda como, por exemplo, o meio ambiente se comporta se houver uma alteração em algum dos elementos do
seu ecossistema. E, por isso pode-se afirmar que tal discussão, proveniente da Ecologia, foi o despertar para
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3 MEIO AMBIENTE:
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
humano com o meio ambiente. Para Foladori (2001) a questão ambiental passa a ser uma preocupação da
sociedade e das Ciências Sociais a partir do século XX, mais precisamente 1960, quando “[...] o ser humano
constatou estar atravessando uma crise ambiental”. É essa percepção da sociedade que vem com o alerta dos
ambientalistas, ecólogos e outros, que marca a inserção da discussão levando em conta a ação humana nesse
ambiente e as repercussões negativas dessa ação tanto em seu aspecto físico natural (proveniente dos estudos da
biologia e ecologia), mas também em seu aspecto político-social (proveniente dos estudos da sociologia, ciência
política, antropologia, etc.).
Portanto, a partir do exposto se reconhece dois componentes do ensino e da pesquisa sobre o meio ambiente: as ciências da natureza e as ciências sociais. A primeira, mais antiga tem sua base nos estudos do ecossistema e, a segunda, mais recente (anos de 1960) tem nos questionamentos da relação crescimento econômico voltado para o desenvolvimento e meio ambiente, a sua base de discussão. Sendo assim, a relação economia e meio
ambiente parece intrínseca na base da compreensão sobre o que convencionalmente vem se denominando de
crise ambiental. Essa crise ambiental “[...] que tem seu ponto alto de percepção pelo ser humano na década de
1970, balança os alicerces da noção de desenvolvimento econômico baseado no crescimento, na renda e no progresso técnico e tecnológico.” (RENTE, 2006, p. 101) Entender ou no mínimo intuir sobre tal relação será tema
da próxima sessão.
4 ECONOMIA E MEIO AMBIENTE
Como relatada acima Meio Ambiente para a Economia é o lugar onde se extrai os recursos naturais e se
armazena os dejetos advindos da produção e do consumo. Esta concepção, constatada atualmente, muito em
função de a sociedade perceber que tal prática vem causando danos irreversíveis ao meio ambiente e, afetando a
vida do ser humano na Terra é que se pode dizer que foi colocada em xeque a partir dos anos de 1960, com a
deflagrada crise ambiental. Contudo, esta crise tem uma relação estreita com a atuação econômica (advinda dentre outras coisas, do modo tradicional de pensar o meio ambiente), que envolve complexas redes de interligações
e, segundo Foladori (2001), está associada às práticas humanas e sua relação com o meio ambiente.
Falar da relação ser humano-natureza para Foladori (2001, p. 16) é reconhecer que “[...] a sociedade é
parte da natureza e está sujeita à sua dinâmica mais ampla [...]”. E, neste sentido, tal relação gera especificidades
onde “[...] as relações sociais determinam as relações técnicas [...]” (FOLADORI, 2001, p. 17) que, aqui são
consideradas como “[...] aquelas que o ser humano estabelece com os outros seres vivos e com o meio abiótico
no processo de produção de sua vida, as relações sociais são aquelas que se estabelecem entre os seres humanos
para o mesmo fim.” (FOLADORI, 2001, p. 17)
São estas relações técnicas que norteiam as discussões sobre a questão ambiental na maioria dos estudos
que, ao fazerem isso, reduzem o problema em três grupos: poluição, depredação e excesso de população. Na
medida em que os problemas ambientais são reduzidos aos itens acima, se estabelece uma questão técnica que
tem por base “[...] os limites físicos com os quais o ser humano se defronta em seu desenvolvimento.”
(FOLADORI, 2001, p. 17). Contudo o autor citado defende a hipótese de que não há contradição entre os limites
34
físicos e desenvolvimento social, pois em se tratando do meio ambiente, são as relações sociais que vão
direcionar o uso e o viver no meio ambiente e, esse processo se diferenciará mediante as diferentes formas de
organizações sociais.
Com a repercussão da Crise Ambiental no mundo e o despertar de que algo deveria ser feito, surge dentro
da economia, a necessidade de se inserir novas abordagens no que se refere à questão ambiental, que viesse a se
diferenciar das abordagens econômicas tradicionais e, ao mesmo tempo, se colocasse dentro de um contexto
interdisciplinar que agora o tema necessita. Aqui o destaque é para a abordagem neoclássica do meio ambiente,
denominada de Economia do Meio Ambiente ou Economia dos Recursos Naturais e a Economia Ecológica.
5 AS ABORDAGENS ECONÔMICAS PARA AS QUESTÕES AMBIENTAIS:
a. A Abordagem Neoclássica – Economia do Meio Ambiente
A abordagem neoclássica do meio ambiente, chamada segundo Romeiro (2003) de Economia do Meio
Ambiente, leva em consideração três aspectos: 1) o meio ambiente ser o reservatório das matérias-primas que
devem ser utilizadas no processo produtivo; 2) o meio ambiente ser o local para se depositar os restos (resíduos/lixo) da produção e consumo dos bens econômicos; e, 3) o meio ambiente ter outras funções como as relacionadas a fauna, flora, lazer e estética. A partir destes aspectos é perceptível a visão antropocêntrica dos economistas neoclássicos com relação ao meio ambiente. Isso acaba por gerar uma visão a-histórica do processo de utilização dos recursos naturais. (MAIMON, 1993)
Segundo Romeiro (2003, p. 52) a Economia do Meio Ambiente: “[...] considera que os recursos naturais
[...] não representam, a longo prazo, um limite absoluto à expansão da economia.” Ou seja, para essa corrente de
pensamento os recursos naturais eram infinitos no longo prazo, um ideário bastante criticado a partir da década
de 1970, tendo como um dos seus mais ferrenhos críticos Georgescu-Roegen. Segundo Amazonas (2002) para
que a economia neoclássica sustentasse seu ideário quanto aos usos do meio ambiente, esta irá dividir sua abordagem em duas: a economia da poluição e a economia dos recursos naturais.
Segundo Amazonas (2002, p. 109):
A economia da poluição consiste em um desdobramento direto da teoria neoclássica do bemestar (welfare economics) e dos bens públicos. Esta teoria elaborada por Pigou em 1920, fundamenta-se, entre outros elementos, na distinção entre custos ou benefícios privados e sociais,
35
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
Essas organizações sociais tendo por base o tipo de propriedade e as relações de produção irão estabelecer o uso dos meios de produção e, sendo um desses usos os recursos naturais, pode-se então perceber o meio
ambiente como depositário de um dos fatores de produção base da economia. Meio Ambiente e Economia, portanto, se inter-relacionam por um ser o meio, o espaço e a outra ser o conhecimento ou a ciência que estuda as
relações sociais de produção. Esta é uma das relações efetivas entre Economia e Meio Ambiente e, pode-se dizer
que hoje o desgaste dessa relação, dentro da estrutura organizacional capitalista, é que vem gerando a crise ambiental. (FOLADORI, 2001)
dada pelo fato de que a atividade econômica privada pode gerar custos ou benefícios que são
transferidos socialmente. Isto aplica-se particularmente à análise dos bens públicos. Segundo a
teoria neoclássica, estes definem-se por não terem ou não permitirem ter atribuídos a eles direitos de uso exclusivo, o que vale dizer, direitos de propriedade – o que se denomina por atributo
da não-exclusividade. Por não ser de uso exclusivo, ao utilizarem um bem público em seu benefício privado, os indivíduos podem gerar custos ou benefícios a terceiros, ou seja, custos ou
benefícios que são externalizados socialmente. A estes a economia neoclássica define como
externalidades negativas ou positivas, respectivamente.
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Desta forma, a idéia de economia da poluição dos neoclássicos respalda o uso dos recursos naturais por
identificá-los como bens públicos e, portanto, havendo algum tipo de dano ambiental, estes são considerados
externalidades negativas que irão gerar um custo social que deverá ser corrigido por meio de mecanismos institucionais de controle. Ou seja, a responsabilidade de solucionar as externalidades negativas, para os neoclássicos estaria nas mãos do órgão público responsável pelas questões ambientais de um dado local. Neste sentido,
“[...] a economia da poluição, em sua expressão original, não se volta aos recursos ambientais quando na função
de matérias-primas, apenas quando de depositários de outputs, configurando-se como uma abordagem que segmenta o problema ambiental.” (AMAZONAS, 2002, p. 111-112)
Além disso, tal abordagem é estática e não condiz com os critérios de sustentabilidade, principalmente
no que se refere a preocupação com o uso racional como forma de garantir tais recursos e o próprio meio ambiente às futuras gerações. E, por fim, Amazonas (2002, p. 112-13) coloca em xeque os critérios, em termos de valoração, para a determinação dos custos e benefícios ambientais:
Para a economia neoclássica, os valores econômicos que se formam no mercado – na
forma de preços de mercado – são expressões das utilidades dos indivíduos, ou pela
conceituação mais atual, das preferências dos indivíduos, as quais são manifestas por
sua “disposição-a-pagar” [...] por um dado bem. [...] Esta “valoração” é hoje o elemento
mais vital e objeto dos principais esforços para a economia ambiental neoclássica.
Nossa argumentação [...] é que “as preferências dos indivíduos” não constituem a base
adequada para o tratamento da problemática ambiental e da sustentabilidade, uma vez
que os indivíduos da geração corrente não possuem conhecimento suficiente [...] para
manifestar em suas preferências valores que correspondam ao atendimento da sustentabilidade ambiental e à justiça para com as gerações futuras.
E, desta forma, as preferências dos indivíduos, nesse contexto da economia da poluição pode ser parâmetro para algumas situações específicas e, por isso, não pode ser encarada como um princípio geral.
A segunda abordagem da teoria neoclássica é a Economia dos Recursos Naturais:
Elaborada por Hotelling [...], em 1931, foi construída para tratar dos aspectos da extração e exaustão dos recursos naturais ao longo do tempo. O aporte parte do entendimento
de que, uma vez que o estoque de recurso natural pode ser extraído hoje ou preservado
para extração futura, a questão da utilização dos recursos naturais é um problema de
alocação intertemporal de sua extração. (AMAZONAS, 2002, p. 113)
Esta definição, conhecida como Regra de Hotelling, traz como ponto crucial a idéia de que:
Essa alocação seria determinada com base na maximização dos ganhos obtidos com a
extração do recurso ao longo do tempo, através do conceito de custo de oportunidade e do
procedimento de desconto dos valores ambientais futuros a valor presente, determinandose assim o nível “ótimo” ou taxa “ótima” de extração. [...] (AMAZONAS, 2002, p. 113)
36
Em outras palavras, o que determinaria a extração ou não do recurso natural no presente é a relação entre
o nível de escassez e o preço do recurso. Um aumento da escassez possibilita um aumento de preço e, portanto, a
motivação para extrair no presente. Se ao contrário houver um estoque ou a perspectiva de crescimento do estoque isso faz com o preço do recurso diminua, sendo viável esperar mais um pouco para sua extração. E, neste
caso o uso dos recursos naturais estaria sendo determinado pelas relações de mercado. Desta forma, para Amazonas (2002, p. 116):
De um modo geral, podemos então destacar duas ordens de fatores que fazem com que a
regra de Hotelling não promova a melhor utilização social dos recursos ambientais:
insuficiência/inexistência de conhecimento e informação acerca do presente e do futuro
e existência de assimetrias privado/social, ou seja, externalidades; e como a regra de
Hotelling refere-se ao uso privado dos recursos naturais, tais “valores ambientais”
externalizados não são assim incorporados.
[...] um primeiro aspecto da regra de Hotelling, que de pronto chama a atenção, está no
fato de ter sido originalmente elaborada olhando-se para os recursos naturais privadamente extraídos e comercializados no mercado. Pode-se perceber assim, com certa facilidade, como isto aplica-se mais claramente aos recursos ambientais quando no papel de
matéria-prima, inputs para os processos produtivos. Os recursos ambientais utilizados
como depositários de outputs poluentes, por sua vez, são normalmente bens públicos de
livre acesso, sem um mercado que lhes determine seu preço, o que implica que a regra
de Hotelling, em sua expressão original, não tenha visado aplicar-se a estes. Com isso, a
economia dos recursos naturais vai configurar-se como uma segmentação do problema
ambiental, como uma abordagem dos recursos ambientais apenas quando na função de
inputs. Todavia, os problemas ambientais de outputs poluentes também são problemas
intertemporais, com aspecto de exaustão, cumulatividades e irreversibilidades – o que
se evidência pela própria existência do problema da sustentabilidade e da justiça com as
gerações futuras. (AMAZONAS, 2002, p. 117-118)
A síntese do ideário neoclássico sobre a Economia do Meio Ambiente de longe não esgota a discussão.
Contudo, nos possibilita identificar que, com as pressões advindas da crise ambiental ou como definido por Amazonas (2002) como a problemática de identificar respostas no que se refere a sustentabilidade dos usos dos
recursos naturais, os neoclássicos se esforçam, mas não consegue sair de seu “mundinho econômico”, o que
sendo a crise ambiental uma discussão que deve ser feita por dentro da interdisciplinaridade, prejudica suas análises. O contraponto dessa vertente é a Economia Ecológica que, reconhecendo a crise ambiental e a interdisciplinaridade do tema, vem procurando dar respostas no sentido de tal problema ser integrado a outras áreas do
conhecimento científico, ao mesmo tempo em que a preocupação com relação à sustentabilidade do uso dos
recursos se faz presente de uma forma mais clara.
b. A Economia Ecológica
O termo Economia Ecológica surge do esforço de “[...] estender e integrar o estudo e o gerenciamento do
'lar da natureza' (ecologia) e o do 'lar da humanidade' (economia)” (COSTANZA, 1989 apud MAY, 2001, p.
239). Como economia e ecologia têm o mesmo radical oikos = casa, tal junção determina que a economia ecológica volte-se para o estudo das inter-relações do ser humano com a natureza de modo a administrar o bem-estar
37
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
Sendo assim, a regra de Hotelling pode até ter um sentido válido quando a discussão é preço no mercado
dos recursos naturais, mas, em se tratando de problemas como a sustentabilidade e as gerações futuras, tal regra
deixa a desejar. Neste sentido:
tanto das gerações do presente e do futuro como de todas as espécies que vivem no meio ambiente. Portanto, segundo May (2001, 239) “A economia ecológica procura uma abordagem preventiva contra as catástrofes ambientais iminentes pregando a conservação dos recursos naturais [...]” Ainda segundo este autor:
Essa abordagem pressupõe que os limites ao crescimento fundamentados na escassez
dos recursos naturais e sua capacidade de suporte são reais e não necessariamente superáveis por meio do progresso tecnológico. Isso significa que ao lado dos mecanismos
tradicionais de alocação e distribuição geralmente aceitos na análise econômica, a economia ecológica acrescenta o conceito de “escala”, no que se refere ao volume físico de
matéria e energia que é convertido e absorvido nos processos entrópicos da expansão
econômica (throughput). A escala sustentável se adapta de forma gradativa às inovações tecnológicas, de modo que a capacidade de suporte não sofre erosão através do
tempo (Daly, 1992) (MAY, 2001, p. 240)
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
Tal vertente que se estabelece no pensamento econômico teve seu reconhecimento formal em 1989 com
o surgimento de uma sociedade internacional – grupo de pesquisadores que passam a fazer pesquisa nessa área e
a publicar em revista científica dedicada ao tema. Portanto, segundo May (2001, p. 240:
[...] os conceitos que fundamentam sua crítica da teoria neoclássica possuem uma história mais longa. Kenneth Boulding concebeu uma economia adaptada às limitações do
“navio espacial Terra” em 1968. Ainda mais cedo, Ciriacy-Wantrup (1952) propôs os
“Padrões Mínimos de Segurança” como critérios para definir quais recursos devem ser
considerados críticos para preservação. Nicholas Georgescu-Roegen (1971) aplicou a
Segunda Lei da Termodinâmica ao problema do fluxo de energia na economia humana,
sugerindo que a crescente entropia iria impor limites ao crescimento. A economia do
estado estável de Herman Daly (1974) foi fundamentada no mesmo princípio. Os alarmes neo-malthusianos sobre a capacidade da Terra de absorver uma explosão demográfica (Ehrlich & Ehrlich, 1970, Meadows et al, 1972) foram reacesos no final dos anos
80, após uma década de complacência tecnológica, quando as mudanças climáticas
globais emergiram como o enfoque principal do debate sobre a transição para o desenvolvimento sustentável (Goodland et al, 1991).
Partindo das definições acima, as preocupações dos economistas ecológicos se invertem se forem comparadas com as colocadas pelos economistas neoclássicos no que se refere a análise destes partir da eficiência
alocativa dos recursos para daí internalizar os custos ambientais e distributivos. Segundo a Economia Ecológica, três preocupações devem ser levadas em consideração, na seguinte ordem: 1) identificar a capacidade de
carga da Terra passa a ser o ponto de partida fundamental para estabelecer os limites do impacto do ser humano
no meio ambiente de forma ecologicamente sustentável; 2) as atividades poluidoras e o uso dos recursos naturais devem ser autorizados e distribuídos de forma equitativa; e, 3) por fim, somente após a definição da capacidade de carga da Terra e da distribuição equitativa dos recursos que será possível “[...] permitir a realocação entre
indivíduos através de mercados nos interesses da eficiência” (DALY, 1992 apud MAY, 2001, p. 240)
Portanto, partindo da concepção de autores como Costanza, Daly, King e Pearce & Atkinson, May
(2001) irá afirmar que só haverá efetividade e eficiência da Economia Ecológica se “[...] as decisões relativas ao
uso dos recursos naturais sejam incluídas na análise das políticas relevantes.” (MAY, 2001, p. 241) Para isso, tais
economistas definem duas alternativas metodológicas para que suas análises possam ser consideradas nas tomadas de decisões tanto políticas quanto sociais: 1) a expansão da análise do custo-benefício em que as interações
entre as atividades econômicas e as funções ecológicas estejam mais bem representadas, analisadas e contempladas nos modelos quantitativos; e, 2) reconhecer a incapacidade da ciência moderna de estabelecer, explicar e
38
comprovar os complexos fluxos do ecossistema com qualquer grau de certeza, sob pena de definir limites à interferência da economia nos ecossistemas naturais. E, por conta disso, as participações da sociedade nas
escolhas dos usos e de como esses usos influenciam na sua realidade e nas mudanças do meio em que vivem,
passa a ser de fundamental importância para as análises da Economia Ecológica.
Portanto, como se buscou abordar aqui a Ciência Econômica está vivenciando um momento de mudança
no que se refere a sua abordagem quanto o meio ambiente, o uso deste e a sua manutenção para as futuras gerações. Desafio que não só a Ciência Econômica vem vivenciando, mais todas as Ciências Sociais Aplicadas.
O tema Economia e Meio Ambiente levou a uma reflexão sobre a crise ambiental e a necessidade de
mudança de padrões no que se refere à Ciência Econômica pensar o meio ambiente. Neste sentido, se procurou
delimitar que este processo está ocorrendo, mas ao mesmo tempo é um processo que vem se dando em outras
áreas do conhecimento. Contudo, a Economia, de um modo particular, a partir das suas defesas de um desenvolvimento sem pensar nos custos ambientais pode ser considerada como uma das ciências mais cobradas, entre os
séculos XX e XXI, quanto à mudança ótica com relação ao meio ambiente.
A crise ambiental vem gerando reflexões quanto os padrões de desenvolvimento e, mais precisamente, a
relação deste com o Meio Ambiente e Pobreza dos países. Desta forma, sustentabilidade dos recursos, desenvolvimento sustentável são alguns dos eixos macro onde se desenvolve essa discussão e, no âmbito micro, as novas
concepções econômicas ou vertentes de pensamento que buscam introduzir a análise ambiental no processo de
produção capitalista. Muito já se avançou, mas o caminho ainda continua árduo, necessitando que haja uma
maior interdisciplinaridade que leve a respostas que permitam a participação da sociedade e a tomadas de decisões privadas e públicas em prol do ser humano e do meio ambiente como um todo. Disso hoje em dia depende o
futuro da Terra.
REFERÊNCIAS
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II. Capítulo 1. IN: NOBRE, Marcos; AMAZONAS, Maurício de Carvalho (Orgs). Desenvolvimento Sustentável: a institucionalização de um conceito. Brasília, DF: IBAMA, 2002, p. 107-146.
ANDRADE, Galdino; ALBINO, Ulisses Brigatto; NOGUEIRA, Marco Antonio. Meio Ambiente. IN: BORÉM,
Aluízio (Editor). Biotecnologia e Meio Ambiente. Viçosa, MG: Editora Folha de Viçosa, 2005, p. 21-49.
FOLADORI, Guillermo. Limites do Desenvolvimento Sustentável. Tradução de Marise Manoel. Campinas,
SP: Ed. UNICAMP, 2001.
MAIMON, Dália. A Economia e a Problemática Ambiental. IN: VIEIRA, Paulo Freire;
MAIMON, Dália (Orgs.). As Ciências Sociais e a Questão Ambiental: rumo à interdisciplinaridade. Belém,
Pa: APED: NAEA, 1993, p. 45-77.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
MAY, Peter. Economia Ecológica e o Desenvolvimento Eqüitativo no Brasil. IN: CAVALCANTI, Clóvis
(Org.). Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. 3ª Edição. São Paulo, SP:
Cortez: Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco, 2001, p. 235-255.
RENTE, Andréa Simone Gomes. Áreas de Proteção Ambiental como Inspiração para o Desenvolvimento
Sustentável com Liberdade: o caso da criação da APA – Alter do Chão/Pa. 2006. 170 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, RJ, 2006.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.29-40 jan 2011
ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Economia ou Economia Política da Sustentabilidade. IN: MAY, Peter;
LUSTOSA, Maria Cecília; VINHA, Valéria da (Orgs.). Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. Rio
de Janeiro, RJ: Ed. Elsevier, 2003, p. 01-29.
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PERFIL DO CONSUMIDOR DE PLANTAS
MEDICINAIS NAS LOJAS DO CENTRO
DA CIDADE DE BELÉM
Helvio Moreira Arruda¹
Este trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil dos consumidores de plantas medicinais, nas lojas do
centro da cidade de Belém. Foi desenvolvido através de uma pesquisa exploratória/descritiva que contou com
140 consumidores. O questionário com perguntas abertas e fechadas serviu de instrumento para coleta de dados.
Os resultados indicam que as lojas, pontos de venda de produtos naturais, não investem em propaganda.
Concluímos que as plantas medicinais são utilizadas, preferencialmente, por consumidores casados, do sexo
feminino, com mais de 40 anos de idade, possuindo o 2º grau completo; o produto mais procurado, é o boldo e a
finalidade principal da compra é combater uma grande variedade de doenças.
Palavras-Chave: Perfil dos Consumidores. Plantas Medicinais. Belém.
ABSTRACT
This work intends to describe the profile of medicinal plants´ consumers in Belém´s city centre´s stores. It was
developed through an exploatory/descriptive research that has the participation of 140 customers. A questionary
with open and closed questions has served as data gathering instrument. The results indicate that the stores do
not invest in propaganda. We conclude that the medicinal plants are used, mostly, by married consumers,
females, over 40 years old, having high school level of education; the most searched product is “boldo” and the
main goal of the purchase is to fight various diseases.
Keywords: Customer´s Profile. Medicinal Plants. Belém.
¹ Graduado em Administração - Faculdades Integradas Colégio Moderno (1984). Especialista em Marketing - PUC - RJ (1990). Mestre em Administração,
com ênfase em Marketing - Universidade da Amazônia, em convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001). Atualmente é Diretor Geral
das Faculdades Integradas do Tapajós - FIT, Diretor do Colégio Tapajós - Ensino Médio, Representante para a Região Oeste do Estado do Pará do Conselho
Regional de Administração dos Estados do Pará e Amapá - CRA PA/AP
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A tradição milenar do uso de ervas medicinais surgiu na China dos lendários imperadores. Em “Cânones das Ervas” são citadas 252 plantas utilizadas bem antes da morte de seu criador Shen Nultg, em 2698 (ac).
No século VII, houve uma revisão desses cânones e em 1578, surgiu o Compêndio de Matéria Médica listando
1.800 substâncias medicinais e 11.000 receitas de compostos de plantas.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
O uso de ervas medicinais ultrapassa fronteiras através do comércio do oriente antigo, chegando
à Babilônia, em 2000 (ac), berço dos curandeiros mágicos, que pressupunham ser “as ervas as filhas prediletas dos deuses”.
A Grécia do século XII (ac) conhece o primeiro SPA que se tem notícias, centro de tratamento à base de
ervas. A tradição do uso de ervas ficou limitada aos monges e as mulheres de aldeias, na Europa, em virtude da
resistência da Igreja. Somente no século XV é que surgiu a era dourada das ervas, em virtude dos resultados
observados nos tratamentos pelos estudiosos. A ciência começou a se interessar pelo assunto e, hoje, com o
advento da cultura ecológica, incentiva-se muito o uso de medicamentos naturais.
No Brasil, em 1995, SOS FARMA observou queda nas vendas de produtos alopáticos e preocupada
com isso, pesquisou e descobriu que a auto-medicação e o cultivo de ervas em quintais eram as novas tendências
da população brasileira, por isso a CEME está financiando pesquisas em universidades para descobrir se o uso
de fitoterápicos traz os mesmos resultados dos alopáticos com menor custo.
Apesar das pesquisas sobre o uso das ervas, nenhuma delas caracteriza o perfil do consumidor destes
produtos. Foi a constatação de que uma grande parte da população consume medicamentos à base de ervas que
nos levou a propor uma pesquisa para caracterizar o perfil do consumidor de plantas nas lojas do centro da cidade de Belém do Pará.
O presente trabalho tem por objetivo caracterizar o perfil do consumidor de plantas medicinais nas
lojas do centro da cidade de Belém do Pará, descrevendo os hábitos de consumo dos usuários para diagnosticar
as novas tendências do mercado. A relevância desta pesquisa reside em que, além de descrever os hábitos de consumo dos usuários, identificar o atual comportamento do mercado, pretende também caracterizar o perfil do
consumidor, através de questionário com perguntas abertas e fechadas.
2 O MARKETING E AS PLANTAS MEDICINAIS
O termo Marketing provem do latim, da palavra mercari, que significa trocar ou transacionar. De origem inglesa foi aproximado para o português por volta de 1954 como mercadologia, quando surgiram os primeiros movimentos para a implantação de cursos específicos em estabelecimentos de ensino superior, e desde então
tem sido adotado como expressão de uso.
42
Apesar da expressão Marketing ser de época recente, sua operação era praticada até mesmo na Idade
Média, quando um artesão levava seu produto até uma praça (distribuição), oferecia-o aos consumidores por
determinado valor (preço) e realizava a venda pessoalmente, ou mesmo, anunciava em voz alta os artigos que
estavam a venda (promoção).
Observa-se então, que a utilização do Marketing já se fazia presente mesmo em tempos remotos, embora não houvesse um conceito específico para tal.
Com o passar do tempo, as empresas perceberam que o importante não era somente conquistar o cliente, mas acima de tudo mantê-lo fiel a marca e ao produto. Esta teoria encaixa-se num Conceito Moderno de Marketing, em que o objetivo principal é conservar a empresa voltada para o mercado satisfazendo as necessidades
do público.
Já o Conceito Contemporâneo de Marketing propõe qualidade total, tanto em termos de produto, apresentação, assistência quanto em termos de suprimento das carências do consumidor. Têm-se então, como
definição atual,
"marketing é área do conhecimento que engloba todas as atividades concernentes às relações de
troca, orientadas para a satisfação dos desejos e das necessidades dos consumidores, visando
alcançar determinados objetivos de empresa ou indivíduos, considerando sempre o meio ambiente de atuação e o impacto que as relações causam no bem estar da sociedade" LAS CASAS
(1998).
Dentro do Conceito Contemporâneo de Marketing encontra-se o Plano de Marketing que é composto
pela Teoria dos 4 Ps consistindo em produto, preço, promoção e praça, no entanto pode-se resumir em um único
“P”: PERCEPÇÃO. Esse "P", nunca contemplado com a devida importância em nenhuma das clássicas Teorias
de Marketing, é o que realmente faz a diferença entre sucesso e fracasso. Mesmo quem possue conhecimento
apenas superficial sobre Planos de Marketing sabe que este tipo de análise - a percepção - nunca é devidamente
contemplada, se quer mencionada, jamais analisada. Por um motivo simples: trata-se de um componente predominantemente subjetivo, cuja comparação com outras situações semelhantes ou pesquisadas de mercado não
necessariamente ajudam como deveriam. E o mais curioso é que os 4 Ps deveriam fluir como conseqüência direta desse "P".
Então, deve-se, primeiramente, conceber o serviço ao qual estará agregado. Atualmente, o consumidor
não está mais comprando um livro, uma televisão. um sapato. Ele está comprando um conjunto bem/serviço,
ou seja, compra um serviço, que, quase por acaso traz consigo um bem. Este é um dos pontos-chave da percepção, o processo. E é muito mais difícil de ser copiado. Este processo fica totalmente subjetivo na mente do consumidor que procura por aquela marca que, intrinsecamente, encerra o processo. Os 4 Ps associados ao serviço,
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
A primeira definição de Marketing, surgiu em 1960, pela Associação Americana de Marketing, conceituando-o como o desempenho das atividades comerciais que dirigem o fluxo de bens e serviços do produtor ao
consumidor e/ou usuário. Este conceito vigorou até meados dos anos 70, período em que as empresas não eram
orientadas para o mercado, tendo como principal legado fazer um produto e apresentá-lo ao consumidor, sem no
entanto preocupar-se com demais fatores que acompanham o seu levantamento, como preço, propaganda e
público alvo, visando portanto, única e exclusivamente, o lucro.
irão gerar todo esse processo, cujo objetivo é provocar no consumidor "aquela" percepção definida
previamente.
O Marketing exige mais do que apenas desenvolver bons produtos, colocá-los à disposição dos consumidores-alvo e definir preços atrativos. As empresas precisam também comunicar-se com os clientes, e o que é
comunicado não deve ser deixado ao acaso.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Dentre os meios utilizados pelo Marketing para colocar um produto à disposição do consumidor
encontra-se a Promoção. A Promoção, como sinônimo de divulgação, tem três finalidades básicas: informar,
persuadir e recordar. Para realizar a comunicação ao mercado alvo, a promoção se utiliza de alguns instrumentos, classificados, tradicionalmente, em cinco tipos: venda pessoal, publicidade, relações públicas, promoção de
vendas e propaganda que devem somar-se a promoção direta, mais conhecida como Marketing Direto, que
supõem diferentes meios de comunicação. E na tentativa de mostrar características e diferenças dessas atividades de comunicação, dar-se-á a explicação de cada uma delas.
Primeiro, a venda pessoal, uma forma de comunicação oral e interativa, mediante a qual se transmite
informações de forma direta e pessoal, a um cliente potencial específico e recebe de forma simultânea e imediata, resposta do destinatário da informação.
Segundo, publicidade, uma ação unilateral que se realiza normalmente nos meios de comunicação de
massa, em que a empresa mostra os seus produtos ou serviços, e assinala o que lhe parece mais adequado e oportuno sem possibilidades de respostas por parte dos receptores da informação, só pede que comprem, geralmente
este espaço conseguido na mídia, é gratuito.
Terceiro, as relações publicas consistem em um conjunto de atividades que incluem as relações com a
empresa, o cuidado com a imagem e o patrocínio.
Quarto, a promoção de vendas inclui um amplo sortimento de ferramentas: cupons, concursos, descontos, prêmios e outras, e todas com muitas qualidades únicas: atraem a atenção do consumidor e proporcionam
informações que podem levar à compra; oferecem fortes incentivos à compra ao proporcionarem estímulos ou
contribuições que acrescentam um valor adicional para os consumidores e; atraem e recompensam respostas
rápidas. Enquanto a propaganda diz: "compre nosso produto", a promoção de vendas diz: "compre-o agora”.
E finalmente, a propaganda define-se como sendo qualquer forma paga de apresentação e promoção
não-pessoal de idéias, produtos ou serviços efetuada por um patrocinador identificado.
Embora a propaganda seja utilizada principalmente na iniciativa privada, é empregada em todos os
países do mundo, inclusive nos países socialistas. Ela é uma boa técnica de informar, persuadir, seja com o propósito de vender coca-cola em todo o mundo, ou levar os consumidores de uma nação em desenvolvimento a
praticarem o controle de natalidade.
As várias formas de propaganda contribuem para o mix de promoção total. A propaganda pode atingir
grandes quantidades de compradores, geograficamente, dispersos a um baixo custo por exposição, permitindo
que um vendedor repita a mensagem muitas vezes e que o comprador receba e comparem as mensagens de vários concorrentes. Devido ao caráter público das propaganda, os consumidores tendem a encarar os produtos anun
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ciados como padronizados e legítimos.
A propaganda também é muito expressiva, permite que a empresa dramatize seus produtos através do
uso criativo de elementos visuais, palavras, som e cor. Por um lado, pode ser utilizada para criar uma imagem de
longo prazo para um produto, e por outro, pode desencadear vendas rápidas, gerando compras por impulso.
3 PLANTAS MEDICINAIS: CULTURA POPULAR
3.1 Essência das Plantas
Dependendo de seu tipo, as ervas recebem tratamento diferente antes de serem mergulhadas no veículo
ao qual transmitirão suas propriedades: Algumas são esmigalhadas ou transformadas em pó; outras podem ser
torradas ou apenas mergulhadas em água quente para banhos medicinais.
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Daí surgem as várias denominações do preparo de cada erva. Ei-las:
Infusão: quando simplesmente se despeja água ou leite sobre as folhas, guardando-se uns 15 minutos ou
mais, tudo dependendo de dois fatores: a temperatura do líquido e o tipo de planta que se emprega.
Água: pode ser um líquido enriquecido pela essência de uma erva, como por exemplo “Água de alfazema”.
Num sentido mais estrito, refere-se ao líquido resultante da imersão de plantas em água e álcool, enriquecido por algumas gotas de mel ou por frutas.
Cocção: como o próprio nome indica, é o cozimento de matérias-primas que não liberam facilmente suas
propriedades: talos, raízes, cascas e algumas sementes. É preciso ferver em fogo brando durante 30 minutos
em água. Depois coa-se.
Tintura: é a solução de uma substância medicinal em álcool ou diluído, os únicos meios de extrair ao máximo os elementos naturais de certas plantas. Obtém-se a tintura através de infusão. Também se côa antes do
uso. Algumas plantas desprendem bem seu sabor, seu aroma, e suas propriedades em vinagre que, dependendo dos ingredientes, serve para tempero de salada ou uso externo.
Ungüento: resulta da mistura e do aquecimento de ervas verdes ou secas, óleos aromáticos, tinturas e essências adicionado a algum tipo de gordura. Acrescenta-se cera, damo-lhes maior consistência. É para uso apenas externo.
Essência: é antes de tudo o óleo “capturado” pelo processo de evaporação das flores.
Xarope: mistura de água, açúcar e planta medicinal. Sua variante é a junção de bebidas alcoólicas, água,
açúcar e planta medicinal.
Geléia: é um xarope mais espesso.
Linimento: substância oleosa para fricções, que se obtém misturando ervas, vinagre, óleos, álcool ou água.
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Os elementos medicinais das ervas e outras espécies são extraídos das folhas, cascas, etc., para uso
interno ou externo. A essência das plantas liberta-se de modos específicos: às vezes apenas em água, às vezes em
álcool, outras em vinagre, leite ou óleo. Deve-se despejar algumas gotas de glicerina ou tintura de benjoim para
dar maior estabilidade ao preparado.
a. Plantas Medicinais
Plantas medicinais são aquelas que possuem em sua composição substâncias químicas, biologicamente sintetizadas a partir de nutrientes, água e luz. Estas substâncias provocam no organismo humano e
animal reações que podem variar entre a cura e o abrandamento de doenças, pela ação de princípios ativos como
alcalóides, glicosídeos, saponimas, etc. A utilização de plantas medicinal para tratamento de doenças é denominada fitoterapia, havendo atualmente 150 delas reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde – OMS, como
de real valor terapêutivo.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Apesar do potencial que representam essas plantas, na região amazônica a aplicação empresarial dos
resultados das pesquisas é bastante rara. A eficiência da fitoterapia é assegurada por milênios de tradição, sendo
prática comum entre os índios e as populações tradicionais. Já existe comprovação científica das propriedades
de um número razoável de plantas, ponto de vista medicinal, tornando-se viáveis para a agroindustrialização ou
uso “in natura”.
As indústrias farmacêuticas nacional e internacional, especialmente esta última, vêm buscando nas
plantas da Amazônia, ou domesticadas na região, essências, produtos e formulações para a produção de medicamentos, vacinas e outras formas de terapias. Visam a industrialização e comercialização em larga escala de, aproximadamente, 5.000 princípios ativos identificados nestas plantas. De acordo com o IBGE, estão identificadas
na Amazônia Legal em torno de 650 espécies vegetais farmacológicas, de valor econômico. O estado do Pará é o
que mais se destaca com 540 espécies, seguido dos estados do Amazonas, com 488; Mato Grosso, 397; Amapá
380; Rondônia, 370; Acre, 368; Roraima, 367; Maranhão, 261, além do Tocantins.
Mercado: Experiências com resultados mais diretos e maior participação das comunidades rurais e
urbanas estão sendo realizadas através de ONGs, comunidades indígenas, comunidades rurais ligadas à Igreja,
associações e até mesmo por iniciativas isoladas de famílias de populações tradicionais da região. São os indígenas e essas populações que detêm e enriquecem, com o passar dos anos, os conhecimentos tradicionais sobre as
propriedades medicinais de diversas espécies vegetais.
A distribuição de plantas medicinais e afins, na Amazônia, está basicamente circunscrita às lojas de
produtos naturais, ambulantes, feirantes, fabricantes de remédios caseiros, empresas familiares de empacotamento de plantas “in natura” e alguns laboratórios e/ou farmácias de manipulação de atuação localizada. Para
uma planta medicinal tornar-se produto de mercado necessita e, pelos menos, dois anos de testes de laboratórios
e uso regular em pacientes. O isolamento de princípios ativos habilitados à industria farmacêutica leva vários
anos de pesquisa.
As plantas, dependendo da espécie, chegam ao consumidor final na forma sólida (“in natura”) em pacotes de cascas, raízes, sementes e folhas, ou após rudimentar processo de beneficiamento. Em alguma situações
são comercializadas na forma líquida: óleos, xaropes, tinturas, e vinhos. Tanto na forma sólida como na líquida,
não existe diferença acentuada do produto entre os diversos comerciantes.
46
3.2 Longo Caminho Noite Adentro
Os pesquisadores de plantas costumam dizer que dormem poucos. O trabalho é cheio de minúcias e,
por vezes, é necessário recorrer ao estimulante coffea arabica, o popular café, para terminar uma checagem de
dados ou a montagem de um gráfico de crescimento. O estudo de laboratório normalmente tem início com a moagem da folha, do caule ou da raiz do vegetal em estudo.
Com o pó resultante são produzidas soluções. O objetivo é identificar o principio ativo e isolá-lo. Depois, verificam-se sua estrutura química, propriedades terapêuticas e toxicidade. Na fase seguinte, chega-se a capacidade de curar. Para isso, são feitos testes "in vitro", com culturas de células, e testes "in vivo", com os animais.
Nessas provas, pesquisam-se as dosagens e a toxidade. Depois de detalhada identificada e aprovada, a substância curativa é finalmente submetida a teste clínicos, com seres humanos.
A Espinheira Santa, por exemplo, indicada para o tratamento de úlcera e gastrite, adapta-se melhor às
características de clima e solo do Sul e do Sudeste do País. A reunião de todos esses dados termina por constituir
um manual de cultivo que será usado pelos produtores. Além disso, pode oferecer uma cartilha de indicações
curativas que será usada na produção de novos medicamentos.
3.3 Fácil de Usar, Difícil de Conhecer
O mundo das plantas medicinais mobiliza hoje milhares de engenheiros agrícolas, biólogos, químicos
e médicos de todos os continentes. Entre eles, há pelo menos uma certeza: as plantas medicinais são fáceis de
usar, mas difíceis de se conhecer cientificamente. Os avós têm receitas prontas, na ponta da língua, e sabem o
que utilizar, como e quanto. As infusões e cataplasmas costumar ser suficientes para revelar as propriedades
curativa de cada espécie. Já para os cientistas, as plantas representam duros desafios. Anos e anos são gastos
em pesquisas para identificar princípios ativos e propriedades curativas.
Estudos aprofundados sobre o tema são realizados permanentemente por laboratórios estrangeiros.
Conclusão: quando se trata de vegetais, é preciso tempo e dinheiro para se chegar a um diagnóstico confiável.
Poucos cientistas brasileiros dispõem, hoje, das condições necessárias ao desenvolvimento de pesquisas sérias
nessa área. As similaridades morfológicas, por exemplo, são fontes inesgotáveis de trabalho.
Não podemos esquecer que é preciso cuidado com alguns tipos de ervas apesar de serem remédios naturais tem algum tipo de contra indicação ou que podem trazer mais males com a sua má administração.
·
Ervas perigosas para o uso por gestantes, pode ser abortiva. Nem por mulheres que amamentam, podem
reduzir o leite: Arnica, Artemísia, Erva de Santa Maria, Espinheira Santa, Fedegoso.
47
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Simultaneamente, a planta é estudada pelos engenheiros agrônomos. Determina-se em que tipo de solo
se desenvolve, qual a quantidade de água e de luz que precisa, as temperaturas que tolera e quais são seus inimigo naturais. Muitas vezes, a mudança em um fator ambiental pode inibir ou impedir o crescimento da planta,
bem como alterar o princípio ativo responsável por suas propriedades curativas.
·
Ervas que não podem ser usadas por pessoas que tenham outros males, como, pessoa débeis, com doenças do coração: Jaborandi.
As plantas ou insumos vegetais utilizados no dia-a-dia de uma farmácia de manipulação são poucas em
qualidades (tipos) e em quantidades (volume); isto ocorre em função do pouco conhecimento e respaldo que os
produtores fitoterápicos nacionais, e em especial os da Amazônia, têm perante os médicos e os próprios pacientes, ou seja, em São Paulo o uso de princípios ativo químicos é a esmagadora maioria, chegando a surpreendentes 95,0% da demanda da farmácia.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Nota-se que as plantas utilizadas em formulações são em sua grande maioria aquelas que sofreram um
processo de marketing em seu lançamento, kwa-kawa, centelha asiática, Gingko biloba, Unha de gato (Uncaria
filamentosa), Spirulina, clrella, Citrin, etc.
Seria interessante respaldar nossa plantas (nacionais) de literatura comprovada (encontra-se várias em
mestrados na USP – Universidade de São Paulo) para serem apresentadas como agentes terapêuticos específicos
e eficientes em determinadas patologias desvinculando o lado milagroso e extraordinário, e, efetivar uma cultura de uso e programas de marketing diretamente aos médicos, que é o agente que prescreverá e junto a opinão
pública, que será o agente mediador e propagador do uso dos fitoterápicos.
4 MÉTODO
4.1 Definição do Método da Pesquisa
A primeira decisão quanto ao método foi a de definir o tipo de pesquisa a ser desenvolvida. Ciente da
importância e conscientização de que as próprias características da metodologia adotada trazem algumas limitações para a utilização dos resultados do estudo realizado.
SELLTIZ (1974) define que, “um estudo exploratório deve ser sempre visto como apenas um primeiro
passo; são necessários estudos mais cuidadosamente controlados, a fim de verificar se as hipóteses que surgem
tem aplicabilidade geral" e ainda, "no caso de problemas em que o conhecimento, é muito reduzido, geralmente
o ESTUDO exploratório é o mais indicado" o autor optou pelo estudo exploratório.
BOYD & WESTFALL (1987) destacam que "os projetos de pesquisa podem ser agrupados em várias
classes. Existem várias bases, tomando-se qualquer classificação arbitrária. A classificação mais comum é a de
estudos exploratórios, descritivos e experimentais".
Os estudos descritivos preocupam-se com a descrição de características ou funções. Estes estudos
freqüentemente envolvem a descrição do grau de associação entre duas ou mais variáveis. Este tipo de informação pode ser usado para tirar inferências em relação a relações entre as variáveis envolvidas. A pesquisa descritiva, ao contrário da exploratória, caracteriza-se pela formulação prévia de questões de pesquisa científica. O
investigador já possui uma quantidade substancial de informações sobre o seu problema de pesquisa, antes do
48
projeto iniciar-se. Ele deve ser capaz de definir claramente o que ele deseja medir e de estabelecer as
medidas especificas e apropriadas para obtê-las.
Devido à dificuldade para identificar estudos anteriores que abordassem este tema, optamos por fazer
um estudo exploratório, que dividimos em duas fases. Qualitativa, realizada através de entrevistas em profundidade e Quantitativa, onde aplicamos um questionário genérico. Antes porém, entrevistamos (em profundidade),
os proprietários e/ou gerentes das lojas objeto do trabalho, o que nos forneceu subsídios para a elaboração do
questionário.
A fase QUALITATIVA, deu-se em função de entrevistas realizadas com empresários das lojas, que
serviram como base para os entrevistadores investigarem os consumidores. Essas entrevistas em profundidade
geraram dados significantes, que contribuíram para a elaboração dos questionários utilizados na pesquisa.
4.2 Universo
O universo deste estudo foi composto de consumidores de plantas medicinais cujas compras são realizadas na região central da cidade de Belém - Pará.
4.3 Amostra
Foi feito uso de amostra por conveniência ou acidental ”amostras selecionadas por conveniência de
pesquisador” MATTAR (1996). Utilizada para obter idéias sobre determinado assunto de interesse. Sua principal utilização é em pesquisas exploratórias.
4.4 Instrumento de Coleta de Dados
De acordo com MATTAR (1996), o instrumento de coleta de dados é o documento através do qual as
perguntas e questões são apresentadas aos respondentes e onde são registradas as repostas e dados obtidos. Todo
o trabalho de planejamento e execução das etapas iniciais do processo de pesquisa se consolida no instrumento
de coleta de dados.
O instrumento de pesquisa escolhido foi o questionário.
Foi feito uso de amostra por conveniência ou acidental ”amostras selecionadas por conveniência de
pesquisador” MATTAR (1996). Utilizada para obter idéias sobre determinado assunto de interesse. Sua principal utilização é em pesquisas exploratórias.
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
A segunda fase, QUANTITATIVA, aplicada através do questionários estruturados, aos compradores de
plantas medicinais, nas lojas previamente escolhidas, no período de 10 a 25 de maio de 2000, no horário comercial. As entrevistas foram realizadas apenas com os consumidores que efetivamente compraram naquele
momento e que aceitaram ser entrevistados.
4.5 Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada na Cidade de Belém-Pará, mais precisamente na zona Central e Comercial da cidade, no período de 10 a 24 de maio de 2000, no horário das 8:00 às 12:00h e das 14:00 às 18:00h, em 10
lojas previamente contactadas, por uma equipe de 22 entrevistadores que revezaram durante o período das
entrevistas.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Foram entrevistados 165 compradores, porém 25 questionários continham erros que prejudicariam o
resultado final deste trabalho, por esse motivo, foram eliminados e tabulados apenas 140 questionários. A maioria dos questionários eliminados foram provenientes das lojas: Casa das Ervas Medicinais, Xá Medicinais e
Natural Ervas, justificando o baixo número de questionários aproveitados nestes estabelecimentos.
Lojas Visitadas:
Casa das Plantas Medicinais da Amazônia: Endereço: Rua Gaspar Viana, 196 loja A Centro Belém - Pará (25
entrevistas).
A Naturalista: Endereço: Rua 13 de Maio, 37 - Centro - Belém - Pará (18 entrevistas).
Casa das Ervas e Raízes Medicinais da Amazônia: Endereço: Rua Gaspar Viana1 196 loja B Centro - Belém Pará (14 entrevistas).
Oriental Central Comércio Ltda. (Moinho Central).: Endereço: Tv. Oriental do Mercado, 55 - Centro
Belém - Pará (43 entrevistas).
Ponto das Ervas Medicinais: Endereço: Tv. Oriental do Mercado, 41 Centro Belém - Pará (13 entrevistas).
Droga – Art: Endereço: Rua Dr. Moraes, 5 Batista Campos - Belém - Pará (10 entrevistas).
Casa Gran-Pará Ltda.: Endereço: Tv. Oriental do Mercado, 42 Centro Belém - Pará (11 entrevistas).
Casa das Ervas Medicinais: Endereço: Rita 28 de Setembro, 130 Centro Belém - Pará (4 entrevistas).
Xá Medicinais: Endereço: Rua 13 de Maio, 428 Centro - Belém - Pará (1 entrevista).
Natural Ervas: Endereço: Rua João Alfredo, 150 - Centro Belém - Pará (1 entrevista).
5 ANÁLISE DOS DADOS
Segundo BOYD e WESTFALL (I973), “a palavra análise significa literalmente separar ou examinar
criticamente as partes. Portanto, a pessoa que se encarrega de uma análise terá de: 1). Dispor os dados em categorias significativas; 2) Determinar se existem diferenças significativas entre as categorias; 3) Explicar por que
existem as diferença; 4) Fazer recomendações".
O material coletado através dos questionários, estão sendo apresentados na forma de tabelas e/ou gráficos, e são interpretados no conjunto com os demais materiais obtidos.
5.1 Características Gerais
*Universo: Consumidores de Plantas Medicinais
*Amostra: 140 consumidores entrevistados nas lojas relacionados anteriormente.
50
*Resultado das entrevistas:
5.1 Perfil demográfico e educacional
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Conforme pesquisa realizada com 140 pessoas, verificou-se que a maioria dos entrevistados 63% são
do sexo feminino e 37% dos entrevistados são do sexo masculino. Constatou-se nesta pesquisa de mercado que a
maioria dos entrevistados 53% são casados, 29% são solteiros, 8% são separados, 6% são viúvos e 4% são divorciados. Constatou-se que a maioria dos entrevistados 52%, tem mais de 40 anos, 25% tem de 31 a 40 anos, 20%
tem de 21 a 30 anos e 3% tem até 20 anos de idade. No levantamento feito sobre o grau de instrução das pessoas
entrevistadas, verificou-se que a maioria, 56% tem o 2º grau completo, 26% tem o 1º grau e 18% possuem o 3º
grau.
Figura 01 – Perfil demográfico e educacional
5.2 Características da compra
A primeira caracteristica analisada dos entrevistados como compradores foi que tipo de produtos eles
procuram. Esta pergunta, obteve como resposta 245 citações de produtos mais procurados, dentre eles, destacamos: Boldo, com 35 citações; Sacaca, com 12 citações; Babatimão, com 10 citações; Espinheira santa, com 8
citações; Erva doce, com 7 citações; Açoita cavalo, sucuba, juá e copaíba, com 6 citações; Alfazema, pariri, car
51
queja, alcachofra e quebra-pedra, com 5 citações; Andiroba e erva-cidreira, com 4 citações.
Tabela 01 – Produtos mais procurados
Boldo
Sacaca
Babatimão
Espinheira Santa
Erva Doce
Açoita cavalo, sucuba, juá e copaíba
Alfazema, pariri, carqueja, alcachofra e quebrapedra
Andiroba e Erva Cidreira
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Outros
TOTAL
ABS
35
12
10
08
07
06 (CADA)
x4 = 24
05 (CADA)
x5 = 25
04 (CADA)
x2 = 8
116
245
A segunda característica da compra analisada foi a frequência. A grande maioria dos entrevistados,
74% responderam que compram com freqüência plantas medicinais e 26% não compram freqüentemente estes
produtos. A terceira caracerística foi a facilidade em encontrar os produtos. A grande maioria dos entrevistados
(88%), disse que sempre acha o que procura nas lojas, apenas (12%) disse que os produtos procurados eventualmente não são encontrados.
Figura 03 – Frequência da compra e Facilidade para encontrar os produtos procurados
Entre os produtos procurados que eventualmente não são encontrados destacamos:
Agar-agar, sena, folhas de amora, pata de vaca, cáscara sagrada, casca de laranja amarga, caxinduba,
angélica, chá bugre, centelta asiática, engaço e coliquito.
Quanto à finalidade da compra, a maioria, 63% disse que a finalidade da compra é para curar doenças,
26% utilizam os produtos para prevenir doenças e 11% utilizam com outras finalidades.
52
Entre os produtos mais procurados, identificamos suas finalidades:
01- Pata de vaca: combate a diabete, controla a pressão arterial e combater o colesterol.
02- Andiroba: massagem muscular.
03- Guiba: previne doença da próstata.
04- Quebra-pedra: cura inflamação dos rins e infeção urinaria.
05- Jucá: cicatrização do útero, combate a anemia e problemas intestinais.
06- Boldo: cura doenças do fígado, regulariza o intestino,combate doenças do estômago, cólica e reumatismo.
07- Erva doce: calmante
08- Juá: combate as caspas e cicatrizante.
09- Verônica: combate a anemia, inflamações e hemorragia.
10- Babatimão: combate inflamações, hemorragia e úlcera.
11- Copaíba: cura inflamações da garganta, contusões e é utilizado como cicatrizante.
12- Sacaca: combate o colesterol, é utilizado para emagrecer e doenças do fígado.
13- Jaborandi: combate a queda de cabelo.
14- Sucuba: combate a gastrite, úlcera, ameba e é utilizado contra inflamações.
15- carqueja: regulariza pressão alta, colesterol, é utilizado como emagrecedor e combate a anemia
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir este trabalho, é importante ressaltar que as lojas, pesquisadas, não investem em propaganda, a divulgação se dá de forma expontânea entre os próprios consumidores. As promoções praticamente não
existem, eventualmente quando há excesso de estoque de um determinado produto e eles mostram sinais de
envelhecimento, são colocados à venda por um preço promocional.
Usando novamente a citação de Kotler “um produto é tudo aquilo capaz de satisfazer a um desejo”
KOTLER (1988), eu completaria, ou a uma necessidade, as plantas medicinais satisfazem aos desejos e/ou
necessidades de seus consumidores fiéis e que tradicionalmente, evitam produtos medicinais industrializados.
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Figura 04 – Finalidade da Compra
As pessoas acima de 40 anos já utilizaram bastante a alopatia, não obtendo resposta terapêutica desejada, por isso, dentre outros motivos, optaram pela “alternativa” fitoterapêutica, levando em consideração o uso
pregresso de seus antepassados.
O preço vendido ao consumidor final, varia conforme a “embalagem”, pois as plantas medicinais são
negociadas de diversas formas, a granel, em amarados, em kilo, em garrafas (garrafadas), etc.
Tradicionalmente, a feria do Ver-o-peso, é a principal concorrente das lojas comerciais de plantas medicinais, praticando os mesmos preços que as lojas, entretanto, eventualmente podem oferecer preços menores.
Os consumidores de plantas medicinais são, na sua maioria mulheres (63%), casados (53%), com mais
de 40 anos de idade (52%), possuindo o 2º grau completo (56%). Os produtos mais procurados são: Boldo
(13%), Sacaca (4,5%), Babatimão (3,7%) e Espinheira Santa (3%).
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.41-56 jan 2011
Estes consumidores compram as plantas medicinais com freqüência (74%) e a grande maioria (88%)
está satisfeita com relação aos produtos procurados, que geralmente são encontrados sem dificuldades.
A finalidade principal de compra de ervas medicinais é de curar doenças (63%), combatendo principalmente doenças do coração (pata de vaca, verônica, sacaca, juá e carqueja), rins (quebra-pedra), útero (juá, verônica, babatimão e sucuba), intestino (jucá e boldo), estômago (boldo, babatimão e secuba), fígado (boldo e sacaca) e reumatismo (boldo e andiroba), 26% das pessoas entrevistada consomem plantas medicinais, com a finalidade de prevenir doenças
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56
A MARCA EMERGENTE DA
MODERNIDADE NA AMAZÔNIA
Resumo
Minha pesquisa visa analisar a construção de um discurso da identidade amazônica e que permite demonstrar a
função que essas narrativas representam nesse processo. A confrontação dos elementos em causa permite fazer
uma comparação de um discurso antropológico, histórico e literário. Do ponto de vista geográfico, em contato
com uma grande diversidade de formas espaciais que contém uma complexidade de relações genéricas de uma
nova dinâmica na região amazônica. O espaço se define como uma capitalização de época e de técnicas
diferentes de uma visão emergente de um mundo inédito. Esta dinâmica permite dialogar o geral e o particular
nas formas atuais e inimagináveis. A pesquisa visa então estabelecer uma relação entre o espaço amazônico e o
processo geral que transformam esse mesmo lugar.
Palavras chave: discurso antropológico, histórico e literário; diversidade de formas
Abstract
Ma recherche vise à analyser laconstruction d'un discours identitaire en Amazonie et de démontrer les fonctions
que les récits on rempli dans ce processus. La confrontation des éléments en cause permet de faire apparaître les
lignes de force du discours anthropologique, historique et littéraire. D'un point de vue géocritique, on constate
une grande diversité de formes spatiales et de contenus constituant un complexe de relations génératrices d'une
dynamique nouvelle dans la région amazonienne. L'espace alors se définit comme une capitalisation d'époque
et de techniques différentes d' où emerge une vision du monde inedited. Cette dynamique met en dialoque le
general et le particulier et s'actualise dans des forms contemporaines inimaginables au par avant. La Thése vise
donc à établir la relation entre l'espaceamazonien et les processus généraux qui transforment en autre chose que
lui-même.
Mots cléfs: discours anthropologique, historique et littéraire, diversité de formes.
¹Possui graduação em Letras pelo Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém (1994), mestrado em Gestão do Desenvolvimento e Cooperação
Internacion pela Universidade Moderna (1999) e doutorado em Literatura Geral e Comparada - Universite de Limoges (2006). Atualmente é coordenador
- 5ª Unidade Regional de Ensino, professor - Esc. Est. de Ens. Fund. e Médio Júlia Gonçalves Passarinho e professor - Faculdades Integradas do Tapajós.
Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: Amazônia, Literatura
Emergentes, ensino, administração escolar, escola rural e comunidade.
57
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
Francisco Edson Sousa de Oliveira¹
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
1 A MARCA EMERGENTE DA MODERNIDADE
A marca da modernidade é uma e sempre a mesma: o objeto é assimilado á imaginação do sujeito criador,
a cidade torna-se translúcida, o que, no caso era quadro de superfície surge como um palimpsesto em que o verniz espesso das linguagens próprias impregna silhuetas de torres e labirintos de ruas, fazendo ressaltar na sua
trama conexões profundas² .
A poética moderna dobra-se aos ritmos do mundo moderno, da civilização mecanicista como em correspondência com o materialismo mecanicista, sendo por ele ritmada, fazendo surgir no centro do mundo urbano,
novos sonhos. Walter Benjamin ressalta que no livro As Flores do Mal não há uma só descrição da cidade de
Paris, a cidade estar dentro dele como um traço constitutivo de sua poesia, não como um cenário que se desenrolam conflitos da sociedade burguesa, nem como uma série de símbolos, mas está presente numa presença medular, como um molde formal e conceitual de ser/estar no mundo³.
Para Benjamin, Baudelaire expressa a experiência do sujeito que se fragmenta nos choques da vivência
na cidade transformada pelo progresso e como um “esgrimista” abre caminho na multidão, ou como um jogador
reinicia constantemente o jogo, ou mesmo como um autônomo faz do movimento da massa seu próprio movimento. Dessa forma, Benjamin vê na poética de Baudelaire a única possibilidade heroica do homem moderno,
que está na marginalidade, nos rejeitados que não se aliam á atrofia da experiência da individualidade agonizada
na amnésia social4.
Como a poética de Baudelaire, a ensaística de Benjamin também constrói uma imagem da cidade como
um labirinto, como uma selva na qual o sujeito se perde não no espaço, mas na sua capacidade de perceber uma
experiência emocional. Nesse sentido, Benjamin denuncia que no seu ritmo frenético a cidade não concede ao
indivíduo nenhum momento de contemplação que lhe possibilite reflexão sobre a vivência, impondo uma atrofia da experiência, já que as impressões desaparecem de forma instantânea, sem se incorporarem na memória. Ë
por isso que Benjamin propõe uma recuperação memorialística a fim de dar aos locais à fisionomia capaz de
torná-los significativos e legíveis. A memória apresenta-se como a experiência daquilo que poderia ter sido diferente. Portanto, o rememorar a infância/cidade conecta a memória da cidade com a memória da infância. Benjamin percebe que através do registro escrito da infância e do passado é perceptível algum significado do possível
esquecido ou recalcado, o qual conecta a memória emotiva do sujeito com a memória da cidade.
A cidade do absolutamente visível – racionalista e abstrata- se contrapõe á cidade infantil e alegórica a
cidade labiríntica com a qual a criança estabelece pactos secretos5.
A cidade torna-se escrita a ser decifrada e o texto sobre a cidade se transforma numa paisagem a ser percorrida, pois nas suas múltiplas possibilidades de espaço há uma linguagem que habita e a visão da criança/alegorista irá mapear para compreender o que foi perdido. Assim, a escrita, o livro, parodiam a cidade e nos
orientam numa perspectiva ambígua entre natureza e artifício. A cidade/escrita apresentam-se como o símbolo
capaz expressar “a tensão entre a racionalidade geométrica e o emaranhado das existências humanas”6.
A partir do motivo da modernidade, a obra poética de Márcio Souza se estabelece e tenta criar uma nova
realidade lírica. Sua pretensão é que esse século da automação e da civilização da imagem se incorpore na sua
poética, para além da fragmentação da palavra ou da temática da urbanidade mecânica, numa operação de confi
²BARRETO, João. O Espinho de Sócrates: Expressionismo eModernismo. Lisboa: Editora Presença, 1987. P.86.
³BENJAN, Walter. Alguns Temas sobre Baudelaire In: Obras escolhidasIII. São Paulo: Brasiliense, 1987.
4
Idem, Infância Em Berlim por volta de 1900. In: Obras escolhidasII. São Paulo: Brasiliense, 1987.
5
GOMES, Renato Cordeiro, Todas as Cidades: Literatura e Experiência Urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. P. 65.
6
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as Cidades, A cidade: literatura e experiência urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, P. 23.
58
guração substancializada. Isso significa que busca estabelecer com a modernidade “correspondências”
que coloquem sua poética em comunhão com o tema trabalhado, incorporando o sentido próprio da modernidade, conforme estabelecido em Baudelaire e Benjamin. A fim de esclarecer essa proposição.
A análise do livro Jeremias sem chorar será desenvolvida a partir do estudo da cidade como metáfora da
linguagem poética .
Já não me entendo
Com
Minhas próprias
sílabas
antes do som
até a que a viagem
tenha
fim
entre o eu que fui
e o eu que vim9
Como nenhuma dessas tentativas traz resultados, realiza três viagens: uma com o globo geográfico,
outra sobre uma esfera que faz rolar sob seus pés no circo e uma em torno da terra. No final chega á conclusão de
que:
Cada um de nós
não precisa sair de onde
Está
pra estar no outro lado
de um (ignorado) fim.
Quem não sente, no corpo
A rua
Que divide o mundo
Em Berlim?10
Só então Jeremias tem a feliz idéia de inverter a situação, não só ter o mecânico dentro de si, mas colocarse dentro da máquina. Fazendo-se urso para crianças transforma a angústia em diversão “e pode chorar por dentro;/e ser aplaudido por fora/ pelos meninos de rua11, isso porque a vida é simultânea/ como um vidro duplo...”12 .
Mas enquanto Jeremias-personagem somente no final de suas viagens, que coincide com o final do livro,
conclui que “o mundo poderá ser salvo/ se o homem desfizer a distância/ que o separa de sua infância13, pois “o
7
Cf. RICARDO, Cassiano, op.cit p. 80.
Id. Ibid p. 87.
8
9
id. Ibid p. 69.
10
id. Ibid P. 133
59
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
Esse caminho, porém, é penoso e cheio de aventuras. Primeiro resolve ir chorar no mar, mas “a fórmula
química da mágoa/ que é a água e sal/não foi mais que um pleonasmo/onde tudo era água e sal”7. Como o mar já é
uma lágrima, busca então, caçar o monstro “não objeto” que,, invisível, impede o irmão sob o arco-iris”8, mas
esse ninguém moderno, que impede que impede o diálogo humano, não é visível. Inventa ainda um jornal sem
data, tenta passar a porta de Bradenburgo, mas também é dividido em dois, como o mundo estava por ela simbolicamente dividido em dois e cria a possibilidade de ser mais rápido que o som, mas a velocidade faz com que:
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
mundo é hoje das crianças/ e dos que se assemelham a elas”;14 Jeremias-autor dá-se conta dessa possibilidade, da visão infantil ser uma vanguarda que registra começos, só com ela é possível dar significado ao mundo
moderno que recalcou a memória emotiva - , já no segundo poema do livro. Quando roda o “globo azul sobre/ a
mesa igual ao da au/ la de geo/ grafia eu/ menino”15, Jeremias-poeta busca o olhar inebriado de criança que
absorve forma e cor. Essa infância é reencontrada na escrita do eu menino.
Se o primeiro poema do livro, “7 razões para não chorar”, faz ingressar na obra a temática da vida moderna mecanizada/desumanizada e a fabulação que envolve a personagem Jeremias, o segundo poema, “Globo azul
sobre a mesa”, é, sem dúvida, o anúncio da poética do livro. Identificando o globo terrestre com a cabeça humana em “rodo o Globo azul? Hoje uma cabeça /esférica (lotérica)”, coloca as duas esferas sob o perigo do jogo
armamentista que se apresenta como um brinquedo na mão de uma criança, mas que pode destruí-las. Porém, ao
mesmo tempo, ao ver a cabeça/globo, como um menino, faz dela uma brincadeira que possibilita possuir a “primavera”, metáfora do recomeçar, do novo, do fruto da comunhão. A possibilidade dessa posse se dá pela palavra
escrita e pela reprodução em imagem.
Para isso, Jeremias-poeta coloca no globo/cabeça “palavras truncadas/ sufixos/ sílabas atomizadas16,
fazendo um verso em que a frase não é seu objetivo, mas a palavra em todo seu potencial visual17, conforme diz
nos versos” um poema, um quase objeto. / uma animada geometria/ da noite em jogo com o dia,/ a zebra18. Palavra essa que em jogo com outras fornece imagens da mais pura inocência, como no poema “Salto no asfalto”, ao
descrever o tigre, faz versos do tipo “Salpicado de sol/ picado, ou no poema “Mesa redonda”19,nos versos “Marav'ilha./Marajó, ilha./ onde mais bonito poema/marajoara?”, nos quais uma palavra brota de outra, reforçando a
carga expressiva na raiz desdobrada, conforme ressalta Helena parente Cunha20, numa sintaxe em que as significações potenciais se relacionam apontando para diferentes significantes.
No entanto, diz Jeremias-poeta que mesmo com as palavras/sílabas soltas sobre a mesa há ... a cumplicidade/fixa da palavra cidade”, como se fosse o núcleo das sílabas atomizadas”, formadora de uma linguagem tal
como um átomo é formador de um sistema. Assim como o átomo é formado pelo núcleo e pelos elétrons que
giram em sua volta, a linguagem/poética elaborada por Jeremias tem como núcleo a cidade, e em volta dessa
agrupam-se sílabas que formam um sistema que lhe possibilita viajar, metáfora do imaginar, e possuir a primavera, metáfora da esperança. Como diz Renato Gomes21, ao refletir sobre a cidade na literatura, representação da
cidade está estritamente ligada às metáforas visuais, do mesmo modo, a palavra escrita faz-se sobre signo da
visualidade. Nesse poema/poético a escrita/palavra sobre a mesa encontra semelhanças com a cidade, objeto
representado, por se apresentarem como um todo/sistema fragmentos fornecem sempre uma nova significação.
Dessa forma, a cidade é a metáfora nuclear da poética de que se reveste em vários sentidos. Cabe primeiramente observar que, ainda no poema “Globo azul sobre a mesa”, a cidade mostra-se cúmplice do poeta, participando da sua poética de forma produtora. No entanto, diferente da cidade de Baudelaire, que é a expressão do
11
id. Ibid P. 153.
id. Ibid P. 70
id.Ibid p. 155.
14
id.Ibid p. 154.
15
id.Ibid p.7
16
id.Ibid p.7.
17
Não é objeto desse trabalho explorar a poética do linossigno proposta pelo autor em Algumas Reflexões sobre poética de vanguarda e explorada em Jeremias sem
chorar, na qual muda as relações do verso, ao desvinculá-lo de sua origem oral, associando-o á escrita. Só é de nosso objeto enfatizar a visualização desse verso que não
basta ser dito, tem que ser visto para que os vários sentidos explorados na palavra sejam observados e sua relação com o caráter visual da cidade. O que nos ajuda a
entender os paradoxos e as metáforas colocadas na paisagem amazônica, principalmente na construção das cidades.
18
id. Ibid p.95.
19
id. Ibid p 115
20
CUNHA, Helena Parente, Ö dissídio temático de Jeremias”in; Cassiano Ricardo. Coletânea organizada por Sonia Brayner. Rio de Janeiro: INL,1979.(coleção
Fortuna Crítica, v.3)p.253.
21
cf. GOMES, Renato Cordeiro. Todas as Cidades, a cidade: Literatura e experiênciaurbana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. P.76.
12
13
60
A cada rotação
Uma cidade
Que a máquina
De combinar
Palavras
Forma
Entrosamento
De sílabas
Desgarradas
Com a palavra
Cidade
Nesses versos, no movimento do globo, cidades são criadas a partir de uma rede paradoxal de sílabas, e a
palavra cidade que oscila na relação fixidez-movimento, num universo simultaneamente irradiante e pontual. O
movimento esférico é introduzido como possibilidade de “colocar em choque” a figidez da palavra cidade, produzindo novos sentidos. Em movimento as cidades podem ser
Fero/cidade
Selva/cidade
Dupli/cidade
Menda/cidade
Fuga/cidade
Rapa/cidade
Voro/cidade
Todas as expressões de um mundo desumanizado e condenado. A cidade se mostra também como o espaço por excelência em que se dão/sentem, de forma agudizada, as consequências do desenvolvimento capitalista
industrial, em que circula a atrocidade e a insensatez da urbanidade mecânica.
Ao mesmo tempo, cuspir fonemas e vogais que se entrosam com a cidade também é a possibilidade de
romper com a racionalidade moderna, apresentando-se como condição indispensável para a realização do huma
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
movimento e do fugidio, a palavra/cidade de Jeremias é fixa, recebendo movimento pelas sílabas e sufixos, pelos pedaços de vocábulos que formam “(...) aqui fora/ com a palavra/cidade/ uma a uma as cidades/ que
irei visitar/ no mapa. Assim, a palavra cidade, primeiramente fixa, na inserção com o móvel, na interação semântica, absorve o móvel e amplia a profusão do campo discursivo, desdobra-se, ao agregar sílabas, em outras cidades, imagens/sentidos. Apresenta-se, então, como uma metáfora da linguagem poética que cria cidades imaginárias, lugares a serem percorridos por Jeremias-personagem.
Só que, paradoxalmente, a cidade, conforme apresentada no poema “7 Razões pra não corar”, é mecânica, fez de Jeremias um objeto de concreto”, imagem essa reforçada nos poemas “A máquina e seus prefixos” e
“As 7 cidades”. Esses poemas se completam se lidos em conjunto, já que os prefixos apresentados no primeiro
ganham sentido no segundo ao serem acoplados à palavra cidade. Essa por sua vez, recebe a carga semântica do
título “a máquina e seus Prefixos”. A cidade como metáfora da máquina em comunhão com a metáfora da cidade
como linguagem poética atribui um sentido de máquina à linguagem poética, pois criada por uma máquina –
cabe lembrar que o linossigno dá-se a partir da exploração da linha do linotipo – palavra também é mecanizada.
Observando essa conclusão com mais vagar, notaremos que no poema “As 7 Cidades” nos são apresentadas as cidades” composta pela complexa relação da máquina/cidade/globo/cabeça, que cospe prefixos, e pela
rotação da mesma, que permite novas composições.
no e suas potencialidades inventivas. O movimento é, portanto, a própria esperança, como é colocado no
poema22 “rotação”.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
A esfera
Em torno de si mesma
Me ensina a espera
A espera me ensina
A crença
A esperança me ensina
Uma nova espera nova
Espera me ensina de novo a esperança
Na esfera
Esse movimento pode ser radical e “algum dia/ uma última ro-/ tação desespe-/rada extrema/ e quem
sabe? / a cidade/ de todos/meu poema.23, transformando “o mundo automático que conduz ao maravilhoso”.
Observa-se uma tentativa de encontrar na imagem geométrica – metáfora da racionalidade abstrata e da cidade –
a própria existência humana. Assim, da mesma forma que Jeremias-personagem descobre que, introduzindo-se
no urso automático, pode fazer surgir da máquina o que nela há de lúdico e de encanto para as crianças, Jeremias
poeta, com seu olhar de criança, retira da racionalidade da cidade/palavra mecânica, da linguagem escrita, o que
tem ela de maravilhoso, o que faz dela poesia.
Transformarei a angústia
que a ciência, hoje, me causa,
Em emoção, lírica pausa.24
Através dessa poética do paradoxo, a cidade mostra-se na obra de Cassiano Ricardo não como um cenário, mas como um molde formal de estar no mundo. Na cidade, Jeremias depara-se com a precariedade humana,
e na marginalização encontra a sua possibilidade de experiência emocional. A palavra/cidade, ao mesmo tempo
em que dispersa a linguagem e o sujeito, mostra-se como o diferente ao ser registrada/escrita num novo arranjo.
Essa diferença traz significados recalcados nos quais Jeremias encontra o que foi perdido: a emoção.
Na sua natureza ambígua, a palavra/cidade apresenta-se como a tensão entre a natureza humana – encontrada através da visão da criança – e o artifício racionalista. Es paço em que estão concomitantemente a perdição
e a salvação do homem moderno. A cidade como uma onda de energia destruidora, mas também estimulante e
vital.
Como Baudelaire e Benjamin, Cassiano Ricardo incorpora a modernidade de um ponto de vista da infância que se encontra com o “do novo”, com o começo, dando a poesia um sentido a vida. O paradoxo presente em
Jeremias sem chorar é o mesmo da modernidade, ou seja, como extrair da decadência a salvação. Mantém
simultaneamente a desilusão e a esperança, o desejo de salvar o homem no movimento e a paralisação da cidade,
em que mecanização e humanização convivem em tensão, através do jogo da circulação da linguagem.
22
cf. GOMES, Renato Cordeiro, Todas as Cidades, a cidade: literature e experiência urbana. Rio de Janeiro: Rocco. P.75.
23
id. Ibid P. 26.
24
cf. RICARDO, Cassiano. Jeremias sem chorar. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1994. P. 153.
62
Euclides da cunha vinha à Amazônia e se deslumbrava com o espetáculo do rio, a derramar um volume
incalculável de água doce e barrenta, manchando a superfície azul do oceano. A mesma visão Pizon associava ao
calculo fabuloso de Hartt despertaram a veia literária do ensaísta para produzir uma das páginas mais brilhantes
já escritas na prosa regional.25
A originalidade do trabalho de Euclides da Cunha estava na afirmativa surpreendente de que o brasileiro,
ao saltar nas costas da Geórgia e das Carolinas, na América do Norte, seria estrangeiro em terras do Brasil! A
revelação vinha acompanhada de uma teoria explicativa: o Amazonas joga no oceano uma quantidade incomensurável de detritos, fruto de seu trabalho constante de dragagem na terra, que desde os contrafortes andinos,
desde os sucessivos degraus de pedra dos planaltos Central e Guianenses, vem diluída, em suspensão na corrente. Lançado no oceano esse material dos trens do professor Hartt, emigraria, no impulso das correntes do GulfStream, para os Estados Unidos da América do Norte, e lá aumentava o continente, em detrimento da Amazônia,
que perdia assim parcelas de seu território.26
Mas é na Amazônia mesma que se encontra inaugurada uma grande ficção em torno de seus mistérios,
enigmas e suas relações de futuro e atraso com o resto do mundo. Márcio Souza pode ser considerado o precursor de uma estética literária na Amazônia, lançando romances folhetinescos como: Galvez, O Imperador do
Acre, Mad Maria e o boto Tucuxi. Essa postura irônica transfere-se também para o cenário da dramaturgia (As
Folias do Látex, Tem Piranha no Pirarucu, etc), como a forma mais mimética de compreensão no contexto
autor/público, na retratação da aculturação sofrida pela população no extremo norte do país. Contrariamente,
torna-se respeitoso e, poder-se ia afirmar, cauteloso, ao tomar como temática os mitos amazônicos, transubstanciados em peças teatrais marcantes, objetivando a defesa da autêntica cultura amazônica.27
Único no gênero no Brasil, Márcio Souza transmite os mito do Rio Negro para a literatura brasileira,
através de tragédias (A Paixão de ajuricaba), comédias morais (A maravilhosa estória do sapo tarô-bequê) e
dramas de gesta (Jurupari, A guerra dos sexos e Dessana-Dessana, em co-autoria com AldísioFilgueiras).
Na peça O Pequeno teatro da Felicidade, parodia o golpe Militar brasileiro, ocorrido em 1964. Incursionou, também, na cinematografia, onde realizou o filme A Selva, baseado no romance histórico homônimo, de
Ferreira de Castro e diversos documentários, salientando-se Bárbaro e nosso e o Porto de Manaus.
Escrito com o objetivo de ser discutido entre os universitários do Amazonas, o ensaio A expressão amazonense, do colonialismo ao neocolonialismo, mostra a postura crítica de um amazônida jovem ante o marasmo
crítico de uma geração com participação insignificante no cenário cultural. O empate contra Chico Mendes,
25
Robério Braga, narrando a passagem de Euclides da Cunha, autor de os Sertões, pela Amazônia, enaltece em sua obra; Euclides da Cunha na
Amazônia. O desprendimento de Euclides, que encarna a excelência do despertar de uma literatura eminentemente nacional, voltado, voltado que esteve
sempre para analisar, compreender e denunciar as peculiaridades do nosso Pais na sua imensa complexidade de povo miscigenado, em ebulições social e
política, como que a redescobrir o país, ou mesmo descobri-lo na exatidão do termo, quando as vistas de quase todos os escritores beletristas buscavam e
sonhavam com a encantadora París.
26
Tocantins, Leandro. O Rio Comanda a Vida. Manaus: Valer, 2000. Obra já na nona edição constitui uma homenagem ao trabalhador incansável,
respeitado estudioso desta região. Para escrever seus livros Leandro Tocantins não se deteve em preparar-se apenas como cientista social. Para entender a
Amazônia, ele buscou a erudição e a vivência dos amplos segmentos das ciências e das artes. Preparou-se nas aventuras do espírito, na coragem de
enfrentar-se ante ás contradições dos conflitos que angustiam o ser humano.
27
Souza, 1979: folha de rosto.
63
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
2 UMA LITERATURA COMO CONSCIÊNCIA CRÍTICA NA AMAZÔNIA
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
aparece logo após o assassinato do líder acreano, um “empate” contra os latifundiários, a luta dos seringueiros pela preservação da mata. É lançado em novembro de 1994 em Manaus, e destinado principalmente aos
estudantes do segundo grau, o ensaio Breve História da Amazônia.28
Publicou contos em revistas brasileiras, escreveu na edição de domingo, na Folha de São Paulo, entre
1981 e 1982, excerto do romance A resistível ascensão do Boto Tucuxi, editado em maio de 1982, e que faz uma
retrospectiva da política amazonense, a partir da derrocada da borracha até a tomada do poder pelos militares,
em 1964.
Lançou em Manaus O Mostrador de sombras (1967), livro de crítica cinematográfica. Em São Paulo,
(1969) dirigiu filmes e trabalhou como roteirista de cinema e televisão. Retornando á Manaus, passou a produzir
e a dirigir peças teatrais, no pequeno Teatro Experimental do SESC, criando um grupo formado por profissionais liberais, universitários, operários, professores, comerciários, pessoas que passaram a ter ou já possuíam uma
postura crítica face ao rumo político brasileiro, sobretudo no Amazonas. Aparece em 1984, Palco Verde, análise
do período em que atuou como diretor do Teatro Experimental do SESC (TESC). Narrativa que o autor apresenta comparações do teatro nortista ao teatro já profissional do Sul do País, apresenta os intercâmbios entre o sul e
norte, deixando transparecer que o teatro profissional traz consigo muitos vícios urbanos, provocados pelas
intervenções de facções tendenciosas, e que isso, poderia ajudar na descaracterização do teatro Amador que se
firmava no cenário brasileiro, sobretudo no Amazonas. Aparece em 1984, Palco Verde, análise do período em
que atuou como diretor do Teatro Experimental (TESC).
Galvez, O Imperador do Acre, romance folhetinesco publicado pela Fundação Cultural do Amazonas,
em 1976, é uma tentativa de esclarecimento das imposições governamentais e uma tomada de posição irônica
porque crítica. Lança ainda na década de setenta, o romance Operação Silêncio em (1979). Baseando-se na construção da ferrovia Madeira-Mamoré, edita em 1980, o romance Mad Maria. Em 1983 sai o romance A Ordem do
Dia. Publica ainda os romances A Condolência (1984), O brasileiro Voador, um romance mais-leve-que-o-ar
(1986), O fim do terceiro Mundo. Variações sobre o romance O mundo perdido de Sir Arthur Conan Doyle
(1990) e o livro de contos A Caligrafia de Deus (1994. É com Galvez, Imperador do Acre, que se projeta no âmbito nacional e internacional, já tendo sido editado na Espanha, Portugal, Holanda Suécia, França, Alemanha, e
Estados Unidos da América do Norte.
No folhetim, como denomina o narrador alinhavador ou co-autor, o manuscrito de Luiz Galvez encontrado em Paris, há a vivencia curta de um aventureiro que saíra do Rio de Janeiro rumo a Belém, em busca de
fortuna fácil, propiciada a pessoas que tivessem um pouco de imaginação. Passa por Manaus, onde é incumbido
pelo governador Ramalho Junior da missão de conquistar o Acre do domínio dos bolivianos, de onde provinha a
borracha de maior cotação no mercado mundial. Galvez aceita o encargo em troca do pagamento de cinqüenta
mil libras esterlinas. Recebe, como prêmio por sua coragem e desprendimento, a casa que pertencera a sua família, em Cádiz, na Espanha. Parte de Manaus, em companhia de uma ópera bufa e de boêmios, rumo a Puerto Alonso, no Acre, local onde estava a ex-alfândega brasileira, em mãos bolivianas, e prestes a passar aos americanos,
através de um acordo bilateral entre a Bolívia e os Estados Unidos da América do Norte, na época o maior consumidor de borracha do mundo, graças a florescente indústria automobilística. Os norte-americanos, na pessoa de
seu representante consular Michael Kennedy, pretendiam instalar um sindicato pretensamente boliviano, para
depois apossar-se daquela enorme extensão territorial. A Bolívia, país pobre e sem condições de investir na área
de difícil acesso, graças à muralha natural andina, abre mão do rico território em hevea brasiliensis. O governo
28
Gondim, Neide. Simá, Beiradão e Galvez, O Imperador do Acre (ficção e História). Manaus. Ed Universidade do Amazonas. P., 126.
64
REFERÊNCIAS
BARRETO, João. O Espinho de Sócrates: Expressionismo e Modernismo. Lisboa: Editora Presença, 1987.
P.86
BENJAN, Walter. Alguns Temas sobre Baudelaire In: Obras escolhidas III. São Paulo: Brasiliense, 1987.
CUNHA, Helena Parente, O dissídio temático de Jeremias in: Cassiano Ricardo. Coletânea organizada por
Sonia Brayner. Rio de Janeiro: INL, 1979. (coleção Fortuna Crítica, v.3)p.253.
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as Cidades, A cidade: literatura e experiência urbana. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994, P. 23, 75, 76.
RICARDO, Cassiano. Jeremias sem chorar. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1994. P. 153.
65
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.57-65 jan 2011
brasileiro, dirigido por Campos Sales, por sua vez, é contra a anexação natural da área ao Brasil, pois
baseava-se em um tratado ultrapassado, como muitos que foram feitos por pessoas que sequer conheciam a nascente dos rios, demarcadores naturais da topografia amazônica.
Galvez, Imperador do Acre, retrata, à guisa de ópera-bufa, a dicotomia entre a política governamental e
os coletores de látex, esclarecendo a falta de empatia e desnudando, comicamente, o servilismo de um povo que
não entendia o que se passava à sua volta. Revela, também, os mitos indígenas consagrados durante milênios e
aparamente escondidos dos brancos colonizadores, desnudados por estrangeiros insensíveis e cuja atuação era
avalizada pelo governo brasileiro. O mito da natureza colossal, complexa em seus detalhes, era confirmado
pelos visitantes afoitos em registrar sua passagem pela área. Estes são os três aspectos mais marcantes entre os
inúmeros que Galvez, Imperador do Acre retrata, em uma postura crítica através da comicidade. Os diversos
escritores que abordaram o mesmo período, como temática romanesca, através da crítica aparentemente leve e
ferina, os paradoxos e a ingenuidade de um povo que é duplamente colonizado: pelo estrangeiro e pelo próprio
Brasil.
A grande maioria dos romances produzidos na Amazônia, mimetiza os diferentes ciclos econômicos
calcados no extrativismo, tendo a Selva como fonte de inspiração, que aprisiona e/ou ampara o homem em busca
de riquezas imediatas. Impressiona as narrativas de Márcio Souza, pelo tom de ironia sutilizada atribuída aos
atores externos e internos que protagonizam a construção do discurso. Percebe-se claramente suas tendências e
prioridades em relação a Amazônia. Exemplo patente vê-se em Simá, que reproduz a colonização portuguesa
sob a administração pombalina, tendo como parâmetro o lucro. Beiradão é uma amostra dos desmandos governamentais verificados em uma certa época histórica da região, cuja base é o dinheiro. Galvez, Imperador do Acre
aponta, em 1976, o estigma econômico que acompanha a Amazônia, ou seja, o Neocolonialismo.
No inicio do romance ou folhetim, o narrador diz que atribuirá um papel diferente ao concebido até então
pela história às figuras locais, no curto período do monoextrativismo da borracha e denomina a conquista do
território acreano de burlesca. Com isto tem-se um narrador co-autor ou alinhavador, como se auto-intitula.
Apresenta um Dom Luiz Galvez Rodrigues de Ária de mentiroso e muito imaginativo. Nessa situação o narrador
aparecerá como crítico que freará os arroubos do autor do manuscrito, ou seja, da autobiografia de Galvez. Terse-á, então, três estruturas narrativas justapostas: a do narrador autobiográfico, que conta a vida do aventureiro
Luiz Galvez; a do narrador crítico que funciona também como um leitor que estivesse a par da história da Amazônia. Este narrador tenta inibir os excessos fantasiados pelo aventureiro, mas não o consegue, porque se deixa
envolver por suas mentiras: e depois, bem depois, pensando melhor, para que desviar o leitor da fantasia?
DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA
EM ZONA PERIFÉRICA DO MUNICÍPIO
DE SANTARÉM – PA, BRASIL
José Almir Moraes da Rocha¹
Adjanny Estela Santos de Souza²;.
Adriene Freire Silva³; Andressa Castilho Monteiro3; Bruce Kazuki de Sousa Yano3; Davi
3
3
3
Viana ; Jéssica Vieira de Sousa ; Juliana Oliveira da Silva ; Kennedy Antônio Araújo
3
Almeida ; Richele Camila Peleja Nunes3.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.66-72 jan 2011
RESUMO
As principais doenças causadoras de mortalidade em crianças no mundo são pneumonia, diarréia, malária,
sarampo e desnutrição. As doenças respiratórias são as doenças mais freqüentes durante a infância, acometendo
um número elevado de crianças, de todos os níveis sócio-econômicos. O objetivo deste trabalho foi identificar
as principais doenças prevalentes na infância em população que reside em área periférica localizada no município de Santarém-PA, relacionando com os fatores socioeconômicos e ambientais que atingem essa população. O
trabalho consistiu em uma pesquisa descritiva com estudo de campo, através da utilização de entrevista realizada nos meses de outubro e novembro de 2009. O público alvo foram as mães e responsáveis de 50 crianças que
responderam a entrevista contendo 15 perguntas com base nas características de doenças que prevalecem na
infância. As crianças encontravam-se na faixa etária de 17 dias a 7 anos de idade e estavam inclusas no Programa
CD (Crescimento e Desenvolvimento) da Unidade de Saúde do Maracanã. Das 50 crianças analisadas, 30
(60%) eram do sexo masculino e 20 (40%) do sexo feminino. Destas 39 (78%), os responsáveis relataram a ocorrência de alguma doença. A doença que mais acometeu as crianças foram àquelas relacionadas ao trato respiratório, totalizando 21 casos (56,4%), seguida das doenças do trato intestinal com 10 casos (25,6%). Após observação das crianças residentes na zona periférica do município de Santarém-Pará tornou-se evidente a influência
dos fatores socioeconômicos e ambientais nas condições de saúde, particularmente no que se refere à saúde da
criança.
Palavras-Chave: Doenças da infância, saúde, mortalidade infantil.
ABSTRACT
The main diseases causing mortality in children worldwide are pneumonia, diarrhea, malaria, measles and malnutrition. Respiratory diseases are the most frequent diseases during childhood, affecting a large number of children of all socioeconomic levels. The objective of this study was to identify the major diseases prevalent in
childhood in a population that resides in the peripheral area in the municipality of Santarém-PA, related to the
socioeconomic and environmental factors that affect this population. The work consisted of a descriptive study
of the field, through the use of an interview conducted in October and November 2009. The target audience were
the mothers and guardians of 50 children who responded to interview containing 15 questions based on the characteristics of diseases that are prevalent in childhood. The children were aged from 17 days to 7 years and were
included in the Program CD (Growth and Development) of the Health Unit of the Maracanã. Of the 50 children
studied, 30 (60%) were male and 20 (40%) were female. Of these 39 (78%), those responsible have reported the
occurrence of any disease. The disease that mostly affected the children were related to the respiratory tract,
totaling 21 cases (56.4%), followed by diseases of the intestinal tract with 10 cases (25.6%). After observing the
children living in the surrounding area of Santarém-Pará became evident the influence of socioeconomic and
environmental factors in health, particularly with regard to child health.
Keywords: diseases of childhood, health, infant mortality.
¹Doutor em Biologia Parasitária. Professor da Universidade do Estado do Pará e das Faculdades Integradas do Tapajós. E-mail: [email protected]. Av. Plácido de
Castro, 1399, 68040-090
²Mestra em Genética e Biologia molecular. Professora da Universidade do Estado do Pará e das Faculdades Integradas do Tapajós. E-mail:
[email protected]. Av. Plácido de Castro, 1399, 68040-090
³Acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Pará. E-mail: [email protected]
66
Apesar do imenso avanço da tecnologia e da medicina, observado nas últimas décadas, as doenças infecciosas e as deficiências nutricionais ainda são responsáveis por mais de 11 milhões de mortes infantis a cada ano
no mundo, sendo que a maioria dessas mortes ocorre em países em desenvolvimento (OMS,1995).
De acordo com o Relatório Mundial da Saúde 1999, as principais doenças causadoras de mortalidade em
crianças no mundo são pneumonia, diarréia, malária, sarampo e desnutrição, todas passíveis de tratamento e
prevenção (OMS, 1999).
A análise dos indicadores de saúde de diferentes países e regiões, bem como séries históricas de uma
mesma população, tem demonstrado evidente relação entre fatores socioeconômicos e condições de saúde, particularmente no que se refere à saúde da criança (UNICEF, 2001), dentre os fatores que contribuem para a disseminação rápida de doenças, tornando difícil o controle de doenças de maior prevalência na infância destacam-se
as condições inadequadas de vida, onde se incluem o fornecimento deficiente de água potável, a má higiene e a
aglomeração, fatores característicos de países com o maior índice de doenças infantis (OPAS/OMS, 2000).
As doenças respiratórias são as doenças mais freqüentes durante a infância, acometendo um número
elevado de crianças, de todos os níveis sócio-econômicos e por diversas vezes. Nas classes sociais mais pobres,
as infecções respiratórias agudas ainda se constituem como importante causa de morte de crianças pequenas,
principalmente menores de 1 ano de idade. Os fatores de risco para morbidade e mortalidade são baixa idade,
precárias condições sócio-econômicas, desnutrição, déficit no nível de escolaridade dos pais, poluição ambiental e assistência de saúde de má qualidade (SIGAUD, 1996).
No Brasil as doenças respiratórias compõem um importante problema de saúde pública. Apenas em
2002, segundo dados da Secretaria Estadual de Análises de Dados (SEADE), a mortalidade proporcional por
causas respiratórias foi de 12%, ficando em quarto lugar entre as sete causas principais. Naquele ano, as doenças
respiratórias foram responsáveis por 12% das internações, segunda posição, atrás somente de gravidezes para
partos (SPPT, 2007).
A Divisão de Saúde e Desenvolvimento Infantil da OMS, em conjunto com outros dez programas da
própria OMS e com a UNICEF, na busca de alternativas para superar as dificuldades apresentadas, elaboraram
uma proposta destinada à criança portadora de tais agravos, que foi denominada de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI), (OMS, 1997).
A estratégia AIDPI tem, portanto, como objetivo reduzir a mortalidade na infância e contribuir de maneira significativa com o crescimento e desenvolvimento saudáveis das crianças, em especial daquelas que vivem
em países e regiões menos desenvolvidas. Assim a estratégia AIDPI procura integrar os diversos fatores envolvidos na saúde da criança, como, por exemplo, medicamentos e vacinação (OPAS/OMS, 2000).
Nesse sentido, é necessário maior conhecimento sobre as doenças prevalentes na infância para a busca
de um manejo mais efetivo da combinação de fatores que ameaçam a saúde das crianças, requerendo, portanto,
inovação e mudança.
Assim, o objetivo deste estudo foi identificar as principais doenças prevalentes na infância em população que reside em área periférica localizada no município de Santarém-PA, relacionando com os fatores socioeconômicos e ambientais que atingem essa população.
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1 INTRODUÇÃO
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.66-72 jan 2011
2 MATERIAL E MÉTODOS
O local de estudo foi a Unidade Saúde do Maracanã que atende aos bairros: Elcione Barbalho, São
Sebastião, Nova Jerusalém (Área Maracanã I), Maracanã e Nova Vitória (Área Maracanã II). A unidade possui
dois Programas de Saúde da Família (PSF) sendo que o PSF I atende 5.741 pessoas residentes na Área Maracanã
I e PSF II atende a 5.783 pessoas residentes na Área Maracanã II. Também funcionam na Unidade os programas
HIPERDIA, Planejamento Familiar, PCCU, Programa CD, Programa dos portadores de necessidades especiais
e Vacinação diariamente.
O trabalho consistiu em uma pesquisa descritiva com estudo de campo, através de entrevista realizada
nos meses de outubro e novembro de 2009. O público alvo foram as mães e responsáveis de 50 crianças residentes no bairro Elcione Barbalho, que responderam a entrevista contendo 15 perguntas com base nas características de doenças que prevalecem na infância. Sendo perguntas abertas e fechadas referentes às condições educacionais e de higiene do responsável, os fatores desencadeantes de doenças nas crianças e as condições do ambiente. As variáveis para a coleta dos dados foram as seguintes: nome, idade, sexo, escolaridade, existência de contato da criança com o solo, frequência de diarréia na criança, tempo de residência no bairro, tipo de moradia e quantidade de pessoas que residem com a criança, existência de tratamento de água no bairro, existência de instalações sanitárias, origem da água consumida, tipo de tratamento de água de uso domiciliar, doença mais comum
existente na criança, vacinação da criança e o tempo de alimentação através do leite materno.
As crianças encontravam-se na faixa etária de 17 dias a 7 anos de idade e estavam inclusas no Programa
CD (Crescimento e Desenvolvimento) da Unidade de Saúde do Maracanã.
Os pais e/ou responsáveis pelas crianças foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo em conformidade com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Os dados coletados foram processados com recursos de índices, cálculos estatísticos, tabelas, quadros e
gráficos do programa Excel, componente do Office Versão 2003, para Windows.
3 RESULTADOS
Das 50 crianças analisadas, 30 (60%) eram do sexo masculino e 20 (40%) do sexo feminino. Destas 39
(78%), os responsáveis relataram a ocorrência de alguma doença. No sexo feminino 70% das crianças relataram
algum tipo de doença e no sexo masculino o índice foi de 83,33%. (Tabela 1)
Tabela 1. Relato de doenças por sexo em 50 crianças moradoras do Bairro Elcione Barbalho, município de Santarém (PA), 2009.
Fonte: Formulário de entrevista
68
A doença que mais acometeu as crianças foram àquelas relacionadas ao trato respiratório, totalizando 21
casos (56,4%), seguida das doenças do trato intestinal com 10 casos (25,6%). Em duas crianças observou- se a
associação de problemas no trato respiratório e intestinal (Tabela 2).
Tabela 2. Frequência de doenças prevalentes na infância por sexo em 50 crianças moradoras do Bairro
Elcione Barbalho, município de Santarém (PA), 2009.
Na relação entre a incidência de doenças e a faixa etária observa-se que as doenças do trato respiratório
ocorrem com maior frequência em crianças maiores de 1 ano até 4 anos (69,57%). Já as doenças do trato intestinal acometeram mais as crianças menores de 1 ano até 4 anos (61,74%) (Tabela 3).
Tabela 3. Prevalência de doenças em crianças moradoras do Bairro Elcione Barbalho no município de Santarém
(PA) conforme faixa etária.
Fonte: Formulário de entrevista
Verificou-se ainda que dentre as dez crianças que não foram amamentadas exclusivamente com leite até
os seis meses de vida, oito destas 80% apresentaram alguma doença (Tabela 4).
69
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Fonte: Formulário de entrevista
Tabela 4. Ocorrência de doenças em crianças moradoras do Bairro Elcione Barbalho município de Santarém
(PA) que não foram amamentadas exclusivamente por leite até os seis meses.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.66-72 jan 2011
Fonte: Formulário de entrevista
Na associação da ocorrência de doenças de veiculação hídrica com o tratamento da água domiciliar, percebeu-se que 53,33% não realizam qualquer tipo de tratamento, e dessas, 75% apresentaram doenças do trato
intestinal e 25% problemas na pele. É perceptível também que nas pessoas que realizam métodos de purificação
da água não apresentam problemas relacionados à pele e apenas 11,43% apresentam doenças intestinais (Tabela
5).
Tabela 5. Ocorrência de doenças em crianças moradoras do Bairro Elcione Barbalho, município de Santarém
(PA) de acordo com a realização ou não de tratamento da água
Fonte: Formulário de entrevista
4 DISCUSSÃO
Após observação das crianças residentes no bairro Elcione Barbalho, zona periférica do município de
Santarém-Pará nota-se que há uma influência do ambiente na incidência de doenças, como afirma o Manual de
Assistência Integrada as Doenças Prevalentes na Infância (AIDIPI) quando diz “várias condições contribuem
para tornar difícil o controle das doenças de maior prevalência na infância, entre as quais as condições inadequadas de vida, incluindo o fornecimento deficiente de água potável, má higiene e a aglomeração familiar que promovem a disseminação rápida de doenças.”
O presente estudo realizado confirma que a falta de tratamento adequado da água consumida promovem
a veiculação de doenças intestinais o que confirma o estudo realizado por Giatti et al (2004), quando diz as doenças parasitárias estão diretamente relacionadas com a precariedade de saneamento básico e a consequente
degradação ambiental. As doenças de pele também foram relatadas no estudo, estando diretamente associadas a
70
falta de métodos de purificação da água. Estes resultados mostram-se semelhantes aos encontrados por
Borges (2006), em estudo realizado na Zona Franca de Manaus que analisou as precárias condições da água e
sua relação com as doenças de veiculação hídrica mostrando que a falta de tratamento da mesma acentuam a
ocorrência de verminoses e doenças de pele destas populações.
Ao analisarmos variáveis de natureza socioeconômica como a aglomeração familiar e baixa escolaridade dos pais, estas se mostraram pouco influentes na prevalência de doenças, o que contradiz o Manual do ADIPI
e estudo realizado anteriormente. (PINA, 2008). A relação do tipo de moradia dos indivíduos com a frequência
de doenças do trato respiratório, também não houve a obtenção de dados relevantes, entretanto elas revelaramse influentes em estudo realizado por Victora (apud PRIESTC, 2002), que relaciona a qualidade da habitação
com a frequência de doenças respiratórias.
Um aspecto que merece destaque é a prevalência de doenças do trato intestinal que ficou em segundo
lugar como doenças que acometem as crianças estudadas.
Quanto ao quesito contato das crianças com o solo e sua relação com o surgimento de doenças, não foi
observada relação direta com o acometimento das crianças por doenças intestinais, uma vez que a maioria das
crianças estudadas e que se enquadravam neste quesito houve a prevalência de doenças respiratórias.
Vale ressaltar que um dado bastante interessante foi a ocorrência de doenças nas crianças que não foram
amamentadas exclusivamente com leite até os seis meses de vida fato este que corrobora com o estudo realizado
por Motta (2005), no qual afirma que a ausência de aleitamento materno ou desmame precoce é um fator de risco
decisivo para o comprometimento da saúde infantil.
A análise das diversas variáveis sugere que a ocorrência de doenças na infância está intimamente associada à falta de saneamento básico, coleta de lixo inadequada, ausência de tratamento de esgoto e inadequados
métodos de purificação da água fatores estes presentes na área estudada que propiciam a ocorrência de doenças
neste local.
Assim, o presente estudo aponta para a necessidade de adoção de medidas governamentais que visem
não só a redução da mortalidade infantil, como também a promoção da qualidade de vida das crianças realizando
programas educativos capazes de envolver a comunidade conscientizando-a dos meios de transmissão destas
doenças atuando deste modo na redução das doenças prevalentes na infância.
71
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Com a realização da pesquisa percebe-se que existe uma prevalência de doenças do trato respiratório nas
crianças, o que corrobora com os estudos feitos por Prietsc (2002), no qual afirma que as taxas de doenças respiratórias são mais frequentes em crianças menores de cinco anos. Quadro semelhante já foi apontado por Façanha (2004) ao analisar o número de internações por doenças respiratórias em crianças menores de cinco anos.
“Embora estas doenças sejam leves, a importância reside no fato de aumentarem o risco de doença respiratória
grave, já que podem predispor a criança à infecção do trato inferior” (GRAHAM, 1990). Segundo o Manual do
Programa AIDIPI os principais fatores de risco associados incluem baixa renda familiar, baixa escolaridade dos
pais, desnutrição, baixo peso ao nascer, prematuridade, exposição ao fumo passivo, desmame precoce, creche e
aglomeração familiar.
5 AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Secretaria Municipal de Saúde de Santarém-PA (SEMSA), pela autorização para realização do estudo e à enfermeira Neide Mara, responsável pela Unidade de Saúde do Maracanã, pela gentileza em
nos receber e fornecer as informações necessárias.
REFERÊNCIAS
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Agosto de 2006
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.66-72 jan 2011
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GIATTI, Leandro Luiz. Condições de Saneamento Básico em Iporanga, Estado de São Paulo Revista de
Saúde Publica, vol.38 n 4, São Paulo, Agosto 2004.
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PINA, Juliana Coelho. Contribuições da Estratégia Atenção integrada às doenças prevalentes na infância
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72
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM: FERRAMENTA IMPORTANTE
NA PRÁTICA DO PROFISSIONAL ENFERMEIRO
Maria da Conceição Farias¹
Adria Leitão Maia²
Ismara Portela Aguiar³
Jéssika Larissa de Assis Araújo4
O estudo apresentado busca fazer uma reflexão sobre a utilização do modelo de Sistematização da Assistência
da Enfermagem (SAE) na pratica do profissional enfermeiro, evidenciando-se que tal ferramenta é um instrumento significativo para a efetivação de um serviço referencial de qualidade no processo de cuidar, por favorecer a aplicação dos conhecimentos técnico-científico e humano e por promover uma assistência centralizada na
pessoa e na promoção de sua integridade. Com base em aprofundamento teórico retratou-se com bastante responsabilidade e tenacidade os posicionamentos dos autores que discorrem sobre a temática pesquisada, utilizando-se a pesquisa bibliográfica, a qual proporcionou o desvelamento de conceitos, constatando-se que a
enfermagem é uma ciência e uma arte que tem como objetivo principal de trabalho o “cuidar”, no qual os profissionais precisam estar comprometidos com a saúde e o bem estar do ser humano, com a Sistematização da Assistência de Enfermagem sendo um instrumento prático para a qualidade dos cuidados prestados, humanização no
atendimento, definição no papel do enfermeiro, e autonomia à profissão.
Palavras-chave: Sistematização da Assistência de Enfermagem, enfermeiro, autonomia.
ABSTRACT
The presented study search to make a reflection on the use of the model of Systematization of the Assistance of
Enfermagem (SAE) in practises of the professional nurse, proving itself that such tool is a significant instrument
for the efetivação of a referencial service of quality in the process to take care of, for favoring the application of
the knowledge technician-scientific and human and for promoting an assistance centered in the person and the
promotion of its integrity. On the basis of theoretical deepening apologized with responsibility and tenacity sufficient the positionings of the authors who discourse on the thematic one searched, using it bibliographical
research, which provided the desvelamento of concepts, evidencing itself that the nursing is a science and an art
that has as objective main of work “to take care of”, in which the professionals need to be engaged with the
health and the welfare of the human being, with the Systematization of the Assistance of Nursing being a practical instrument for the quality of the given cares, humanização in the attendance, definition in the paper of the
nurse, and autonomy the profession.
Keywords: Systematization of the Assistance of Nursing, nurse, autonomy.
¹Enfermeira e docente das Faculdades Integradas do Tapajós. Especialização em Saúde Coletiva, PSF e Educação em Enfermagem.
[email protected]
²Acadêmica do 6º semestre de Enfermagem (FIT), monitora de Anatomia Humana, [email protected]
³Acadêmica do 6º semestre de Enfermagem (FIT), monitora de Microbiologia, [email protected]
4
Acadêmica do 6º semestre de Enfermagem (FIT), monitora de Histologia, [email protected]
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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A enfermagem é uma profissão que integra a ciência e a arte no cuidado do ser humano, promovendo,
mantendo e restaurando a saúde.Podendo-se dizer que é uma práticaque envolve a dimensão do assistir, precaver, investigar e educar.
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Nesse sentido, falar da implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) nas
ações executadas pelo profissional enfermeiro em sua prática profissional é um debate bastante enriquecedor por
setratar de mudanças no paradigma da saúde e evolução no processo de cuidar, anteriormente se baseava no
modelo curativo, hoje está voltado para a prevenção e reabilitação das pessoas (CHIANCA, 2007).
A sistematização da assistência de enfermagem é um processo planejado e organizado no qual o
enfermeiro se dispõe de novos conceitos com propostas que trarão mais significado à sua profissão, por possibilitar a buscada identidade própria quando se utiliza dos conhecimentos técnico-científicos e humanos, desenvolvendo a sua competência nos determinantes do processo saúde/doença. Deixandode ser o profissional enfermeiro, que atua apenas no atendimento às ordens médicas, e passandoa ser considerado como o sujeito das ações,
pois tem a possibilidade de especificar as metas, programar os cuidados de enfermagem e avaliar continuamente
o paciente ea resposta ao cuidado. Sendo possível também, estabelecer seu próprio diagnóstico, planejamento da
assistência e a prescrição dos cuidados ao paciente.
Dessa forma, o objetivo do trabalho é mostrar a importância da utilização da ferramenta SAE na prática do profissional enfermeiro pela autonomia que será dado à sua profissão, haja vista, a utilização de esse instrumento possibilitar subsídios para a construção das prescrições de enfermagem, por intermédio dos seus
conhecimentos e capacidades, deixando de ser visto, como aquele profissional que somente aplica injeções, realiza curativos, entre outros.
Outro objetivo a se destacar relaciona-se aos resultados da pesquisa, no qual os mesmos possam ser
vistos de forma reflexiva para a efetivação de mudanças e melhorias na prática de enfermagem.
Sendo oportuno afirmar, que a enfermagem é arte, ciência, razão e sensibilidade, portanto, já é tempo
do profissional enfermeiro ser visto sob o olhar de que está legalmente preparado para realizar diagnostico, prescrever medicamentos, solicitar e avaliar exames, conforme Santos (2003).
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Escolheu-se como metodologia a pesquisa bibliográfica,fundamentado no modelo conceitual de Wanda
de Aguiar Horta, que se baseia nas Necessidades Humanas Básicas, por oferecer meios para resolver não somente os problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas do problema (MANZO, 1971, apud.
MARCONI & LAKATOS, 2008).
74
Para tanto, se utilizou o método de abordagem conceitual e analítica, com a finalidade de mostrar os enunciados e discursos de alguns autores que retratam sobre a temática, fazendo sempre reflexões sobre cada referência citada.
Enfatizando-se nos capítulos, a utilização da ferramenta (SAE) na prática do profissional enfermeiro –
sua importância; o modelo da sistematização da assistência de enfermagem como referencial de qualidade e as
bases legais.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O modelo de Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), na prática do profissional enfermeiro é um instrumento significativo e de fundamental importância para a efetivação de um serviço referencial
de qualidade, por se tratar de uma ferramenta norteadora do processo de cuidar, que proporcionaa administração
de uma assistência planejada, organizada e estruturada, por intermédio de ações que se inter-relacionam por
meio de fases sequenciais.
É, portanto, um processo que propicia uma enfermagem planejada pelo conjunto de métodos organizados pelos quais se realiza um plano de cuidados que atenderá às necessidades específicados indivíduos, proporcionando a melhoria de qualidade do cuidado prestado.
A Sistematização da Assistência de Enfermagem é um instrumento prático para prestar uma assistência de qualidade ao cliente (MORAES, 2008).
Partindo dessa premissa, há de se entender, que o método de Sistematização de Assistência de
Enfermagem é um instrumento que assegura e possibilita uma assistência de qualidade ao ser humano, pelas
bases metodológicas e estratégicas que se utiliza na ação.
Para Ferreira (1975) apud Tanure& Gonsalves (2007, p. 13) “sistematizar é tornar coerente determinada linha de pensamento” e entre as linhas de pensamento que podem ser utilizadas na enfermagem propomos
o uso das teorias de enfermagem. A teoria funciona como um alicerce estrutural para a implantação da sistematização da assistência de enfermagem (SAE).
O cerne das teorias de enfermagem é o cuidado, cuidado este percebido como essência do ser, saber
e fazer da enfermagem. Portanto, a SAE está voltada para uma teoria, isto é, para um processo de enfermagem
que direciona as ações do enfermeiro, tendo-se como ênfaseo cuidado humano como um ideal moral eos processos interpessoais.
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I –MODELO DE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: REFERENCIAL DE
UM SERVIÇO DE QUALIDADE
Para tanto, segundo Tannure& Gonsalves (2007, p. 13) “As vantagens e propriedade de se estabelecer uma sistematização da assistência de enfermagem são incontestáveis”.
A relevância da utilização desse método de trabalho tem como pressupostoum plano estratégico de
ação de modo organizado no qual o profissional prestará uma assistência personalizada, com o atendimento voltado ao acolhimento, dando-se ênfase às especificidades do paciente e a qualidade do cuidar.
Sendo, portanto, uma metodologia de caráter estratégico que incluiuma série de práticas essenciais
à assistência e a saúdedo indivíduo, trabalhando-se de forma humanizada, contextualizada e resolutiva.
Em concordância com os enunciados, Silva (2001, p. 18) afirma:
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.73-81 jan 2011
O processo de enfermagem tem sido um instrumento valioso para Sistematizar a Assistencia de Enfermagem e através dele, enfermeiras e docentes de enfermagem buscam
alcançar a qualidade de cuidar do ser humano, seja cuidando, gerenciando, ensinando.
É preciso, então, considerar, que a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem no dia a
dia do profissional enfermeiro pode ser visto como um instrumento de referência e de estrema importânciaem
seu trabalho.
A palavra sistematização, segundo o minidicionário da língua portuguesa Aurélio (2001), significa
ato ou efeito de sistematizar. A palavra sistematizar significa reduzir (vários elementos) a um sistema. A palavra
Sistema significa conjunto de elementos, entre os quais haja uma relação.
No contexto da enfermagem, a palavra sistema, segundo afirmação de Daniel (1981, p.4), “pode
significar o uso de métodos organizados para planejar a assistência de enfermagem preventiva, curativa e reabilitadora, visando ao atendimento das necessidades básicas do individuo, família e comunidade”.
A aplicação do processo de enfermagem sustentado por uma teoria de enfermagem melhora a qualidade dos cuidados prestados, humaniza o atendimento, define o papel do enfermeiro, dá autonomia à profissão e
direciona a equipe de enfermagem (TANNURE & GONSALVES, 2007).
Conforme enunciados dos autores acima apresentados, pode-se definir que a aplicação da SAE na
prática profissional é um método organizado que ajudará o profissional enfermeiro a tomar decisões durante a
assistência de enfermagem pelas etapas do processo que o ajudarão na determinação do estado de saúde do indivíduo.
Assim sendo, a aplicação do processo da sistematização de assistência de enfermagem no contexto
do exercício da profissão do enfermeiro proporcionará um direcionamento da sua prática e uma melhoria dos
serviços prestados, uma vez que haverá a articulação dos saberes técnico-científicos e humanos, evidenciandose uma assistência dialógica, a qual definirá a sua prática trazendo a autonomia da profissão.
Compreendendo-se que a autonomia do profissional enfermeiro se efetiva no momento em que o
mesmo deixa de atuar apenas no atendimento às ordens médicas, passando a ser considerado como o sujeito das
ações, quando especifica as metas, programa os cuidados de enfermagem e avalia continuamente o paciente e
sua resposta ao cuidado de enfermagem, além de estabelecer seu próprio diagnóstico o planejamento da assis
76
tência e a prescrição dos cuidados ao paciente.
Em consonância com as definições apresentadas, compreende-se a relevância da utilização do instrumento SAE pela dimensão que é proporcionada ao enfermeiro de planejar e executar o seu trabalho, dandolhe autonomia na profissão, pela liberdade proporcionada ao mesmo, em relação à tarefa que realiza e pela aplicação do seu conhecimento científico nas situações específicas da assistência ao paciente ou cliente.
Portanto, considera-se uma ferramenta necessária e indispensável no exercício da profissão do
enfermeiro, pelos métodos que o ajudarão a realizar uma investigação sistemática e ordenada.
Para Kimura (1992, p. 33), “É inquestionável a validade de sistematizar a assistência de enfermagem, pois, dessa forma, o paciente passa a ser o centro dessa assistência”. No entender de Bulhões (1998, p. 141)
“A assistência de enfermagem é voltada para o outro. Isso constitui, mesmo, sua razão de ser”.
Do exposto, fica claro que aSAE é um processo no qual o foco e a base estão na integralidade da atenção, na assistência centrada ao paciente, no cuidar próximo, no amplo atendimento das necessidades específicas
e prioritárias do individuo. Aspectos que refletirão na melhoria da qualidade do cuidado, no compromisso com a
saúde do ser humano, da coletividade e na valorização da assistência.
Os produtos das reflexões apresentadasreforçam a essência da assistência de enfermagem e a
importância da tese questionada, estabelecendo que o princípio humanista também encontra-seincluído na teoria de sistematização da assistência, ao evidenciar o paciente como o centro do processo, individualizando os
cuidados prestados ao mesmo. Encontrando-se, assim, o processo da integralidade na relação enfermeiro e usuário, uma sintonia entre ambos, o que ultrapassa a abordagem fragmentária e reducionista dos indivíduos, com o
olhar do profissional passando a ser totalizante nas necessidades mais abrangentes do usuário.
O ponto central da enfermagem é a pessoa humana, sendo necessário o desenvolvimento do conhecimento, compreensão dos indivíduos, famílias e grupos sociais (SOUZA, 2001).
Cuidar é entrar em sintonia. É a relação sujeito-sujeito (BOFF, 1999).
Á luz do contexto sobre o cuidar próximo, Silva (2001, p. 14), aborda: “é importante o cuidar próximo que atenda as necessidades e expectativas que emerjam das pessoas [...], facilita a interação com o cliente
[...]”.
Os diversos recursos utilizados no desempenho mais eficiente da enfermagem só se contemplam
pelo envolvimento e presença do enfermeiro ao lado do indivíduo, relações que valorizam a assistência de enfermagem. (Daniel, 1981)
77
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.73-81 jan 2011
Cabe, entretanto ressaltar, que a SAE é uma metodologia que possibilitará o registro e a avaliação
das ações desenvolvidas pelo profissional enfermeiro. Fazendo-se necessário, a afirmação de que o debate apresentado pode ser apontado como uma premissa determinante para o êxito de assistência de enfermagem. Acreditando-se que a aplicação desse método possibilitará reflexões, questionamentos e o uso do raciocínio lógico na
pratica, pelautilização de atividades relacionadas ao planejamento,execuçãoeavaliação das ações realizadas no
decorrer do processo.
Os conceitos expostos pelos autores são relevantes, nos levando a reflexão de que a proposta da sistematização da assistência de enfermagem está contextualizada em uma visão holística, em um resgate de uma
assistência de enfermagem centrada na compreensão da situação saúde do indivíduo, vendo-o como um todo, e
não apenas como um corpo biológico.
O processo de enfermagem possui um enfoque holístico, ajuda a assegurar que as intervenções
sejam elaboradas para o indivíduo e não apenas para a doença (HORTA, 1979).
O termo holismo origina do grego “holos” que significa todo, inteiro, composto. Mostrando que o
homem é um ser indivisível, que não pode ser entendido através de uma análise separada de suas diferentes partes, por possuir sentimentos, desejos, aspirações, sensações, razões e intuições.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.73-81 jan 2011
A visão holística está relacionada ao processo de humanização nas relações, uma necessidade ética
com os usuários. O termo humanismo está relacionado a uma crença no homem, em seu valor e na sua capacidade de progredir e construir uma sociedade melhor (MOLINA, 2002).
Para Souza (2001, p. 30), “a pessoa que cuida deve ser uma presença, a mais autentica possível, para
perceber o outro, para ouvi-lo, respeitá-lo, e assim, poder ajudá-lo em sua auto-realização.”
Visto sob este prisma, há de se destacar que a essência da assistência de enfermagem fundamenta-se
na relação sujeito-sujeito, na promoção, manutenção e recuperação da saúde do indivíduo.
Para tanto, considera-se que a proposta da Sistematização da Assistência de Enfermagem é um dispositivo que favorece meios para a prestação de uma assistência mais direta, possibilitando ao enfermeiro um
cuidado próximo, uma relação mais aprofundada e mais humana com o paciente, estratégia que permitirá a descoberta e o tratamento às respostas humanas.
É uma atividade em que o enfermeiro através de uma prática metodológica e estratégica de trabalho
realiza a identificação das situações saúde/doença, subsidiando a prescrição e implementação das ações de
assistência de enfermagem, contribuindo para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação na saúde do
individuo, família e comunidade. Atividades estas, que proporcionarão ao profissional enfermeiro a autonomia
da sua profissão e a responsabilidade no cuidado com a saúde.
II – LEGISLAÇÃO:
A Resolução do CONFEN – 272/2002 dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE – nas Instituições de Saude Brasileiras.
CONSIDERANDO que a Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE, sendo atividade privativa do
enfermeiro, utiliza método e estratégia de trabalho científico para a identificação das situações de saúde/doença,
subsidiando ações de assistência de Enfermagem que possam contribuir para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade;
78
CONSIDERANDO a institucionalização da SAE como prática de um processo de trabalho adequado às necessidades da comunidade e como modelo assistencial a ser aplicado em todas as áreas de assistência à saúde pelo
enfermeiro;CONSIDERANDO que a implementação da SAE constitui, efetivamente, melhora na qualidade
da Assistência de Enfermagem;
RESOLVE:
Art. 1º - Ao enfermeiro incube:
I Privativamente:
A implantação, planejamento, execução e avaliação do processo de enfermagem, que compreende as seguintes
etapas:
Para a implementação da assistência de enfermagem, devem ser considerados os aspectos essenciais em cada
uma das etapas, conforme descriminados a seguir:
Histórico: Conhecer hábitos individuais e biopsicossociais visando a adaptação do paciente à unidade de tratamento, assim como a identificação de problemas.
Exame Físico: O Enfermeiro deverá realizar as seguintes técnicas:
Inspeção, ausculta, palpação e percussão, de forma criteriosa, efetuando o levantamento de dados sobre o estado
de saúde do paciente e anotação das anormalidades encontradas para validar as informações obtidas no histórico.
Diagnóstico de Enfermagem: O Enfermeiro após ter analisado os dados colhidos no histórico e exame físico,
identificará os problemas de enfermagem, as necessidades básicas afetadas e grau de dependência, fazendo julgamento clinico sobre as respostas do individuo, da família e comunidade, aos problemas, processos de vida
vigentes ou potenciais.
Prescrição de Enfermagem: É o conjunto de medidas decididas pelo Enfermeiro, que direciona e coordena a
assistência de Enfermagem ao paciente de forma individualizada e contínua, objetivando a prevenção, promoção,proteção, recuperação e manutenção da saúde.
Evolução de Enfermagem: É o registro feito pelo Enfermeiro após a avaliação do estado geral do paciente.
Desse registro constam os problemas novos identificados, um resumo sucinto dos resultados dos cuidados prescritos e os problemas a serem abordados nas 24 horas subsequentes.
Artigo 2º - A implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE - deve ocorrer em toda
instituição da saúde, pública e privada.
Artigo 3º - A Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE deverá ser registrada formalmente no pron
79
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Consulta de Enfermagem– compreende o histórico (entrevista), exame físico, diagnóstico, prescrição e evolução de enfermagem.
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tuário do paciente/cliente/usuário, devendo ser composta por:
- Histórico de enfermagem
- Exame físico
- Diagnóstico de enfermagem
- Prescrição da assistência de enfermagem
- Evolução da assistência de enfermagem
- Relatório de enfermagem
Julgamos pertinente fazer algumas considerações após a realização deste estudo. Continuamos convictas de que em sua trajetória de construção do conhecimento, a enfermagem vem organizando uma sistemática
racional de ações, um método, para alcançar seus objetivos. Este método é um instrumental conceitual e técnico
necessário para abordar a realidade da prática assistencial, focalizado nesta pesquisa como o processo de enfermagem. Ressaltamos a importância do mesmo como fator de atualização, uso e produção do conhecimento,
favorecendo a reflexão, a investigação e identificação dos dados do paciente, o planejamento, execução e avaliação da assistência prestada. Isto deve ser adotado como um modo de vida profissional, já que o método operacionaliza o conhecimento e demonstra o alcance da atividade de enfermagem. Não se pode pensar em uma sistematização eficiente, sem que todas as fases sejam realizadas, elas são interdependentes. Os problemas, as necessidades identificadas permitem as conclusões diagnósticas, a prescrição, o cuidado e possibilita a continuidade
do trabalho e documentação da assistência de enfermagem prestada
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De uma maneira geral, o objetivo desse trabalho foi realizar um estudo abrangente sobre a importância da utilização da ferramenta SAE na prática do profissional enfermeiro, considerando que a pesquisa proporcionou o conhecimento de que a proposta da sistematização da assistência de enfermagem é um dispositivo que
favorece meios para a prestação de uma assistência de qualidade, momento em que o enfermeiro exercita a sua
profissão de forma dinâmica e criativa.
Com base em um aprofundamento teórico, trabalhou-se sobre fundamentações de diversos autores
que expõem sobre a temática, percebendo-se que a utilização da metodologia SAE proporciona a autonomia ao
enfermeiro no exercício de sua prática profissional, quando o mesmo tem a liberdade de agir de forma compromissada, responsabilizando-se pelos resultados de suas ações.
Sugere-se, que mediante as reflexões relatadas os profissionais enfermeiros atuem na sua prática a
partir de uma visão crítica sobre a realidade na qual estão inseridos, desenvolvendo sua competência técnica,
científica, humana e política de forma compromissada e responsável, respeitando os princípios éticos legais da
profissão e reconhecendo que a enfermagemtem como finalidadea promoção, manutenção e restauração à saúde, com o paciente sendo o centro da assistência.
Dessa forma, espera-se contribuir para um maior entendimento a cerca da Sistematização da Assis
80
tência de Enfermagem, e uma reflexão sobre o processo, evidenciando-se a importância da discussão do tema na área de enfermagem, como contributo para a prestação de uma assistência de qualidade e para
transformação da visão que ainda se tem do profissional enfermeiro. Na certeza de que a equipe de enfermagem
deve exigir um tratamento digno pelos direitos que tem de serem capacitados para o exercício de suas atividades.
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prática. In: TANNURE, Meire Chucre eGONÇALVES, Ana Maria Pinheiro. SAE Sistematização da Assistencia de Enfermagem: Guia Prático. 1ª. ed. – Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koongan. S.A, 2007.
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5ª Ed. rev. Ampliada. – Rio de Janeiro: nova fronteira, 2001.
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Processo de Enfermagem na Prática. 2. ed. São Paulo: Ática, 1992.
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DANIEL, Liliana Felcher. A enfermagem planejada. - - 3 ed. rev. e ampl. - - São Paulo: EPU, 1981.
ESTIMATIVA VISUAL E GONIOMETRIA
UNIVERSAL PARA AVALIAÇÕES DA AMPLITUDE
ARTICULAR ESTÁTICA DO COTOVELO
Rodrigo Luis Ferreira da Silva¹;
Renato Ramos Coelho²;
Estélio Henrique Martin Dantas³.
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RESUMO
Objetivo: O presente estudo visou avaliar o grau de confiabilidade intra e interexaminador de medidas da
ADM, do posicionamento angular estático do cotovelo, realizadas por meio da estimativa visual e da goniometria, bem como estabelecer o grau de correlação entre estas técnicas avaliativas. Método: A tomada de medida
dos ângulos foi realizada em 03 dias diferentes, com intervalos de uma semana entre estes e repetindo-se os mesmos avaliados, examinadores e ângulos. Em cada um dos dias de procedimentos avaliativos os 10 avaliados
tiveram sua articulação do cotovelo direito estabilizada por chapas de ferro e mensurada, por 02 examinadores,
com cada uma das técnicas de avaliação empregadas perfazendo, ao final dos três dias, um total de 60 avaliações por técnica. Resultados: A confiabilidade intraexaminador para estimativa visual obteve valor de 0,26
(baixo; p=0,03) e a goniometria de 0,69 (moderado; p=0,00). O valor de confiabilidade interexaminador para
estimativa visual foi de 0,66 (moderado; p=0,00), e para goniometria de 0,84 (alto; p=0,00). O teste de Spearman demonstrou uma correlação de 0,63 entre as duas técnicas e o teste de Wilcoxon demonstrou que não
houve uma diferença significante entre as mesmas (p=0,13). Conclusões: Observou-se que a técnica goniométrica obteve melhores índices de confiabilidade intra e interexaminador do que a estimativa visual, além de uma
correlação média alta (r = 0,63) entre estas técnicas, empregando-se o referido roteiro metodológico de avaliações.
Palavras-Chave: Medida de movimento articular; estimativa visual; goniometria articular; cotovelo.
ABSTRACT
Objective: This study dedicated itself to evaluate realiability degree intra and interrater of ROM measurements,
elbow static range position done by visual estimate and goniometry and also establish the correlation degree
between these evaluation techniques. Method: the collection of the angles measurements was done in three different days, with stops of a week between them and repeating the same evaluated people, examinators and
angles. In each of the days the evaluative procedures the ten evaluated people got their joints of the right elbow
stabilized by steel plates and measured by two examinators each of them with one of the techniques, totalizing
sixty evaluations by technique. Results: The reliability intrarater for visual estimate got 0,26 (down value;
p=0,03) and goniometry 0,69 (moderate value; p=0,00). The reliability value interrater by visual estimate was
0,66 (moderate value; p=0,00), and for goniometry of 0,84 (high value; p=0,00). The Spearman test demonstrated a correlation of 0,63 between the two techniques and the Wilcoxon test demonstrated that it did not have
a significant difference between the same ones (p=0,13). Conclusions: It was noted that the goniometric technique got better rates of reliability intra and interrater than visual estimate, beyond a medium high correlation (r
= 0,63) between these techniques it was used the referred methodological script of evaluations.
Keywords: Articular measurament of the movement; visual estimate; articular goniometry; elbow.
¹Professor titular da UEPA e FIT; Fisioterapeuta Mestre em Motricidade Humana, [email protected]
²Professor da Universidade Presidente Antônio Carlos/MG, Fisioterapeuta Mestre em Motricidade Humana, [email protected]
³Professor da Universidade Castelo Branco/RJ. Livre docente pela UFF, Profissional de Educação Física Pós Doutor em Psicofisiologia e em Fisiologia
do Exercício. Bolsista de produção científica do CNPQ. [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
Cada vez mais os fisioterapeutas têm aprofundado os seus estudos sobre a área de medidas e avaliações
das principais variáveis do condicionamento físico. Dentre estas variáveis pode-se mencionar a amplitude articular de movimento (ADM) que é um importante componente na avaliação física e que permite constatar limitações articulares que causam incapacidades funcionais, bem como permite aos profissionais: determinar as estruturas que precisam de tratamento direcionado e acompanhar de modo quantitativo a eficácia das intervenções
terapêuticas durante a reabilitação (FERREIRA DA SILVA et al, 2009; TEVEITA et al, 2008; BATISTA et al,
2006; VENTURINI et al, 2006a; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b).
Vale ressaltar que para mensurar adequadamente a ADM é necessário seguir protocolos adequados e
utilizar os padrões referenciais apresentados na literatura científica. Além disso, é primordial a escolha de um
equipamento e/ou técnica que atenda as necessidades desses protocolos e que seja utilizado corretamente
(SACCO et al, 2007; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b).
O goniômetro universal é tido como o instrumento mais empregado para medida de ADM na prática
clínica fisioterapêutica (SACCO et al, 2007; BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b), já existindo
diversos estudos que comprovam sua validade (BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; VENTURINI
et al, 2006b).
No entanto, a relativa morosidade para a aplicação dos testes goniométricos, que exigem certo grau de
rigor e de experiência profissional (ARAÚJO; GIL, 2008), acaba por estimular o desuso desta técnica pelos profissionais mais jovens, popularizando procedimentos menos confiáveis, como a estimativa visual (MENADUE
et al, 2006; NORKIN; WHITE, 2003).
Norkin e White (1997) afirmam que as medidas obtidas com o goniômetro são mais precisas e confiáveis do que as estimativas visuais, mesmo quando estas últimas são realizadas por um examinador qualificado,
uma vez que fornecem apenas informações subjetivas.
Apesar destes pressupostos, Watkins et al (1991) relataram em seu estudo valores de boa confiabilidade e objetividade no emprego da estimativa visual para avaliação de ADM. Contudo, Terwee et al (2005) localizaram, em um ensaio envolvendo movimentos ativos e passivos do ombro sadios e lesionados, baixos índices de
confiabilidade interexaminador para avaliações de ADM por estimativa visual.
Ponderadamente, Norkin e White (1997) ainda consideram que esta técnica pode ser útil quando realizada antes da goniometria, comparando-se a medida estimada com a goniométrica, para minimizar os erros de
leitura desse instrumento.
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Dentro deste contexto a avaliação da ADM vem merecendo uma abordagem especial em relação aos
instrumentos, técnicas e protocolos, principalmente no que diz respeito a aspectos como confiabilidade e reprodutibilidade (FERREIRA DA SILVA et al, 2009; TEVEITA et al, 2008; SACCO et al, 2007; BATISTA et al,
2006; BARAÚNA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b;
COELHO, 2006; LIN; YANG, 2006; SPRIGLE et al, 2003; ELIS; BRUTON, 2002; WATKINS et al, 1991).
Diante deste contexto, surgiu à necessidade de avaliar o grau de confiabilidade de avaliações da ADM,
realizadas por meio da estimativa visual e da goniometria, assim como estabelecer o grau de correlação entre a
estimativa visual e a goniometria, uma vez que esta última além de ser bastante empregada na prática fisioterapêutica, é considerada técnica validada (BATISTA et al, 2006; VENTURINI et al, 2006a; VENTURINI et al,
2006b) e que, portanto pode servir de comparação para o estabelecimento de uma validação cruzada de outros
métodos avaliativos da ADM.
Baseado no exposto o presente estudo visou avaliar o grau de confiabilidade intra e interexaminador de
medidas da ADM, do posicionamento angular estático do cotovelo, realizadas por meio da estimativa visual e da
goniometria, bem como estabelecer o grau de correlação entre estas técnicas avaliativas.
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2 METODOLOGIA
Neste estudo experimental quantitativo os valores obtidos para a ADM da articulação do cotovelo pelas
técnicas de estimativa visual e goniometria foram confrontados entre si.
A amostra deste estudo foi dividida em dois grupos distintos, que foram selecionados randomicamente:
O grupo dos avaliados foi selecionado à partir de um universo composto por 123 indivíduos do gênero
masculino com idade variando entre 19-25 anos (22 + 2,79anos) sem histórico de patologias ortopédicas e/ou
neurológicas que interferissem na mobilidade e anatomia normal dos ossos no membro superior direito (MSD).
Foram sorteados 10 indivíduos para integrarem a amostra serviu de objeto de estudo, para avaliação da ADM de
seu cotovelo direito.
O grupo dos examinadores (GE) selecionado à partir de um universo constituído exclusivamente por
fisioterapeutas, com idade variando entre 23-25 anos (24 + 1,41) e todos com pelo menos dois anos de experiência profissional. Deste grupo se sorteou os dois profissionais que integraram o GE que teve como tarefa mensurar a ADM dos cotovelos direitos dos indivíduos que compunham o grupo de avaliados.
Padronizou-se que cada um dos 10 avaliados deveria ter a sua ADM do cotovelo mensurada três vezes,
por cada um dos dois examinadores, com cada uma das técnicas de avaliação, perfazendo um total de 60 avaliações por técnica.
O presente trabalho buscou atender as diretrizes e normas da resolução 196/96, do Conselho Nacional
de Saúde de 10/10/1996, quanto à realização de pesquisas com seres humanos e obteve parecer favorável do
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará/STM (Protocolo nº 048/2008) e da Universidade Castelo Branco/RJ (Protocolo nº 0148/2008).
A pesquisa de campo foi desenvolvida no período de janeiro a fevereiro de 2009, no laboratório de
Recursos Terapêuticos Manuais da UEPA em Santarém.
A tomada de medida dos ângulos foi realizada com os avaliados tendo sua articulação do cotovelo direito
84
estabilizada por chapas de ferro retorcido que possuíam, entre si, ângulos diversos.
Dentre estes ângulos apenas um repetia-se por cinco vezes e serviu como o ângulo chave da pesquisa.
Foram utilizados outros ângulos intercalados ao ângulo chave, para evitar a possível memorização por parte dos
examinadores.
Vale ressaltar que em nenhum momento os examinadores tiveram acesso ao valor do ângulo existente
entre as chapas de ferro retorcido e que a comunicação entre os examinadores foi evitada (cegada) durante a realização das medidas.
Os procedimentos avaliativos desta experimentação científica foram executados em três dias diferentes, com intervalos de uma semana entre estes. Em cada um dos dias de procedimentos avaliativos os examinadores tomavam uma medida do ângulo chave, em cada um dos avaliados, com cada uma das duas técnicas
empregadas.
Os avaliados ficavam em uma sala separada dos examinadores, com o MSD estabilizado por meio de
chapas de ferro retorcido, mantendo a articulação do cotovelo em ângulo fixo. Somente cinco indivíduos recebiam a fixação com as chapas de ferro, com o ângulo de interesse para o estudo, enquanto os demais recebiam a
estabilização com chapas de ferro fixadas em outros ângulos.
Cada examinador entrava individualmente nesta sala e realizava a palpação das estruturas ósseas de
referência em cada avaliado, demarcando-as com uso de marcador metálico circular (Figura 1). Os pontos de
referência foram: o epicôndilo lateral do úmero, a borda lateral do acrômio e o processo estilóide do rádio.
Foram empregados marcadores coloridos com intuito de identificar cada examinador.
Após a demarcação, o avaliado era posicionado em pé e em perfil, á frente de uma parede de fundo claro,
e com o lado direito de seu corpo voltado ao examinador.
O úmero do membro avaliado foi sempre posicionado em alinhamento com a linha média lateral do tronco e o cotovelo foi estabilizado em máxima supinação para todas as avaliações de ADM, para as duas técnicas de
medida utilizadas.
Figura 1. Palpação e demarcação dos pontos ósseos
de referência para a posterior avaliação da ADM
estática do cotovelo.
Fonte: Arquivo do autor (2009).
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Para a realização das diferentes avaliações da ADM deste experimento, foi estabelecida a seguinte
padronização, em cada dia de avaliação:
Neste momento o examinador dava então início a sua seqüência de avaliações iniciando pela técnica de
estimativa visual e seguindo-se ao registro com o uso do goniômetro.
À medida que cada examinador completava sua seqüência de demarcações e avaliações, ocorria à troca
de examinador, sendo seguidos os mesmos passos até que ambos tivessem realizado este mesmo procedimento
uma primeira vez.
Após os examinadores terem palpado, demarcado e mensurado todos os ângulos dos avaliados pela
primeira vez, estes últimos realizavam então a troca das fixações de ferro, de maneira que outros cinco
voluntários fossem estabilizados com as chapas de ferro correspondentes ao ângulo chave.
Uma nova seqüência de avaliação era cumprida até que os dois examinadores tivessem novamente
palpado, demarcado e mensurado todos os ângulos dos avaliados.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011
Desta maneira, ao final destes três dias de avaliações obteve-se: três medidas de estimativa visual e três
medidas goniométricas, de cada examinador em cada um dos avaliados.
Para a tomada das medidas angulares com cada uma das duas técnicas avaliativas, foram empregados
procedimentos distintos e específicos:
· Estimativa Visual
Após a palpação e demarcação das estruturas ósseas de referência para tomada de ADM do cotovelo
em cada avaliado, o examinador observava o ângulo formado nos cotovelos dos avaliados e opinava sobre seus
valores em graus, que eram registrados em planilhas pelo autor da pesquisa (Figura 2).
Figura 2. Avaliação da ADM estática
do cotovelo pelo método da estimativa visual.
Fonte: Arquivo do autor (2009).
Goniometria
Após a palpação e demarcação das estruturas ósseas de referência para tomada de ADM do cotovelo
em cada avaliado, o examinador alinhava um goniômetro metálico, tamanho grande, da marca Baseline
Stainless, de acordo com o recomendado por Norkin e Whrite (1997): O centro do goniômetro alinhado ao
86
epicôndilo lateral do úmero; o braço fixo ao eixo longitudinal do úmero, dirigindo-se à borda lateral do
acrômio; e o braço móvel ao eixo longitudinal do rádio, dirigindo-se ao processo estilóide (Figura 3).
Figura 3. Avaliação da ADM estática do
cotovelo pelo método da goniometria.
Neste procedimento os examinadores atuaram como meros posicionadores do goniômetro, ficando a
leitura do instrumento por conta do autor da pesquisa, que registrou estes valores em planilhas previamente
formuladas.
Os valores dos ângulos colhidos receberam tratamento estatístico com o objetivo de determinar o grau
de confiabilidade intra (coeficiente de correlação intraclasse tipo 3,1) e interexaminadores (coeficiente de
correlação intraclasse tipo 2,3) das medidas, assim como o grau de correlação (Spearman) entre as duas técnicas
empregadas para avaliação de ADM.
Neste estudo, os valores de confiabilidade foram considerados baixos quando menores que 0.50,
moderado entre 0,50 a 0,75, alto acima de 0,75 e muito alto quando superiores a 0.90, segundo o descrito por
Portney et al (2000).
A análise de correlação obedeceu aos critérios empregados por Paula et al (2006): r = 0 inexistentes; 0 <
r < 0,2 baixa; 0,2 ≤ r < 0,4 média baixa; 0,4 ≤ r < 0,6 média; 0,6 ≤ r < 0,8 média alta; 0,8 ≤ r < 1,0 alta e 1,0
perfeita.
Adotou-se uma significância de p < 0,05.
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A Tabela 1 demonstra os valores de confiabilidade intraexaminadores para os valores do ângulo chave
obtidos pela técnica de Estimativa Visual e da Goniometria.
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Fonte: Arquivo do autor (2009).
Tabela 1. Confiabilidade intraexaminador das medidas de dois examinadores, para as
medidas do ângulo chave, pela técnica da Estimativa Visual.
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CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse; p: Nível descritivo do teste de
significância estatística (intervalo de confiança de 25%).
Observa-se que, com a técnica de estimativa visual, os examinadores A e B apresentaram valores baixos
de confiabilidade. Quando as avaliações dos dois examinadores foram analisadas conjuntamente, também se
observou um baixo nível de confiabilidade intraexaminador.
Para a goniometria, os resultados demonstraram confiabilidade baixa para o examinador A e moderada
para o avaliador B. Na análise de todos os achados colhidos pelos examinadores, observou-se uma confiabilidade apenas moderada.
Os achados para confiabilidade interexaminador, em cada uma das três rodadas de medidas
obtidas pelas duas técnicas estudadas, encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2. Confiabilidade Interexaminador das medidas de quatro examinadores para as ADM
de um ângulo fixo da articulação do cotovelo de 10 indivíduos, como o uso da Estimativa
Visual e da Goniometria.
CCI: Coeficiente de Correlação Intraclasse; p: Nível descritivo do teste de
significância estatística (intervalo de confiança de 25%).
88
Na Tabela 2 observa-se que com a técnica da estimativa visual, os examinadores alcançaram
valores muito baixos de confiabilidade para as medidas da primeira e terceira rodadas, enquanto que
para a segunda rodada observou-se alta confiabilidade. Na análise dos dados de todas as três rodadas de
avaliação, foi observado um moderado grau de confiabilidade.
Esta mesma tabela apresenta, para a técnica goniométrica, valor de moderada confiabilidade
para a primeira rodada de medidas, muito alta para a segunda, e alta para a terceira rodada, o que resultou
em uma alta confiabilidade também quando foram analisados os dados de todas as três rodadas de
avaliação em conjunto.
Tabela 3. Valor da correlação entre a média das medidas obtidas pela Estimativa Visual
e pela Goniometria.
SD: Desvio Padrão; N: Tamanho da amostra; p: Nível descritivo do teste de significância
estatística.
Quanto à comparação estatística entre os valores obtidos pelas duas técnicas, o teste de Wilcoxon,
demonstrou que não houve uma diferença significante entre as mesmas (Z = -1,49; p=0,13).
4 DISCUSSÃO
Corroborando com as afirmativas de Norkin e Writh (1999) e os achados de Watkins et al (1991) e
Andrade et al (2003), os resultados obtidos neste estudo demonstraram uma perceptível maior confiabilidade
para a técnica goniométrica sobre a estimativa visual, tanto para uma análise dos dados individuais de cada examinador, como para uma análise em conjunto dos examinadores em cada dia de avaliação.
Com relação à confiabilidade intraexaminador os resultados com o uso da técnica de estimativa visual,
discordam do observado por Croft et al (1994), que obteve em sua pesquisa níveis alto e muito alto para este tipo
de confiabilidade.
A comparação entre estes estudos, porém, é de difícil análise devido às grandes diferenças metodológicas entre eles, uma vez que Croft et al (1994) observou as avaliações pela estimativa visual da ADM ativa dos
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Os valores de correlação entre estas técnicas são exibidos na Tabela 3, demonstrando a
existência de uma correlação media alta (0,63) entre as medidas obtidas pelas técnicas de Estimativa
Visual e Goniometria (p < 0,05).
movimentos do ombro de apenas seis pacientes.
Para as medidas goniométricas, foram obtidos dois níveis de confiabilidade intraexaminador (baixo e
moderado) para os dois examinadores, demonstrando uma possível diferença quanto à habilidade para realizar
este procedimento, entre os mesmos.
Existem inúmeros outros exemplos de estudos que também observaram estes níveis de confiabilidade
para as avaliações goniométricas (FERREIRA DA SILVA et al, 2009; MUTLU et al, 2007; VENTURINI et al,
2006a; MENADUE et al, 2006; VENTURINI et al, 2006b), mesmo que não necessariamente em um mesmo
ensaio científico, como o que foi constatado no presente.
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Em relação aos índices de confiabilidade interexaminador uma grande variedade de níveis também foi
observado, principalmente para as avaliações pela goniometria.
Em comparação aos resultados de Watkins et al (1991), os mesmos não são totalmente concordantes no
que diz respeito aos índices de confiabilidade interexaminador para estimativa visual, uma vez o referido autor
observou surpreendentes valores favoráveis (alto e muito alto) deste tipo de confiabilidade em seu estudo,
enquanto que no presente, foram observados predominantemente valores de baixa confiabilidade.
Mais uma vez a comparação entre os estudos, torna-se de difícil análise, levando-se em consideração
os diferentes arranjos metodológicos empregados, uma vez que Watkins et al (1991) analisou a ADM passiva do
joelho de 43 pacientes.
Croft et al (1994), por sua vez, também encontrou baixos índices de confiabilidade interexaminador
para a estimativa visual, assim como Terwee et al (2005) avaliando igualmente a mobilidade ativa da articulação
do ombro de 201 pacientes. Estes índices também se observaram no presente estudo para as avaliações estáticas
da ADM do cotovelo de 10 indivíduos.
Os bons resultados quanto a confiabilidade interexaminador, com o uso de goniômetro, obtidos no presente estudo concordam com os achados de Watkins et al (1991), Mutlu et al, (2007) e Ferreira da Silva (2009), e
conflitam com a afirmativa de Venturini et al (2006a) de que a goniometria possui reprodutibilidade limitada
quando suas medidas provêm de diferentes avaliadores.
A análise dos achados de confiabilidade interexaminadores, intrigantemente revelou ainda que o
segundo dia (rodada) de medidas foi perceptivelmente o mais favorável tanto para o uso da técnica de estimativa
visual quanto para a goniometria, não sendo encontrado, até o presente, estudos com resultados similares, ou
ainda uma explicação pertinente.
Percebe-se ainda que os resultados para a confiabilidade interexaminadores foram superiores aos
resultados da confiabilidade intraexaminadores, demonstrando uma maior reprodutibilidade das medidas do
ângulo chave quando se considerou as medidas alcançadas pelos diferentes examinadores em um mesmo dia.
Este fato contradiz a afirmação de Youdas et al (1993), ao descreverem que a confiabilidade intraexaminador geralmente é maior que a confiabilidade interexaminador, por ser mais fácil reproduzir os resultados
quando um único examinador realiza as medidas.
90
Contudo o intervalo de tempo de 07 dias, entre cada momento de avaliação, pode ter influenciado para
a obtenção de valores baixos de confiabilidade intraexaminador para as duas técnicas.
Esta observação já foi empregada por Venturini et al (2006a), na análise de seu estudo sobre a avaliação
da amplitude da articulação do tornozelo, padronizando um intervalo de 02 dias entre suas medidas. Estes autores observaram ainda que a maioria dos estudos que apontam bons resultados, deste tipo de confiabilidade,
padronizam um intervalo de tempo igual ou inferior a 15 minutos entre as avaliações.
O longo intervalo de tempo empregado na presente pesquisa pode ter contribuído, por exemplo, para
que os examinadores mudassem a sua padronização palpatória, necessária na definição dos pontos ósseos de
referência, em cada dia de avaliação.
Percebe-se, portanto, que o intervalo de tempo entre as avaliações pode ser um importante fator de
imprecisão de medidas angulares, mesmo quando tomadas pelo mesmo examinador.
Contudo, Terwee et al (2005) localizou, baixos índices de confiabilidade interexaminador para avaliações de ADM por estimativa visual, empregando o espaço de apenas uma hora entre as avaliações, denotando
que para a estimativa visual, mesmo pequenos intervalos de tempo entre as avaliações não seja suficiente para
melhorar os seus índices de confiabilidade.
Por fim o grau de correlação entre estas técnicas (média alta), discorda dos resultados de Andrade et al
(2003) analisando avaliações de ADM para movimentos ativos do ombro, e do que também já havia sido constatado por Watkins et al (1991) analisando movimentos passivos do joelho, que observaram pouca concordância
nos resultados destas duas técnicas.
Contudo este achado reforça a afirmação de Norkin e Writh (1999) de que a técnica de estimativa visual
somente pode ser útil quando realizada antes da goniometria.
5 CONCLUSÃO
Os achados deste estudo apontam, por tanto, para baixo índice de confiabilidade intraexaminador e
moderada confiabilidade interexaminador para a estimativa visual, enquanto a goniometria demonstrou moderado índice de confiabilidade intraexaminador, além de alta confiabilidade interexaminador.
Além disso, a correlação media alta entre estas técnicas sinaliza para uma boa aplicação clínica em
conjunto destes dois métodos avaliativos, desde que se empregando a estimativa visual como técnica auxiliar
para a goniometria.
91
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.82-93 jan 2011
No que diz respeito à análise dos dados goniométricos, este fato também justificaria os melhores resultados obtidos para confiabilidade interexaminadores, uma vez que esta é resultado da combinação dos dados de
todos os examinadores em um mesmo dia de avaliação.
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Watkins MA, Riddle DL, Lamb RL, Personius WJ. Reliability of goniometric measurements and visual esti-
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
PARA EQUIPES VIRTUAIS
Alexandre Waimer Spinola¹
Caroline Peixoto Pilletti²
RESUMO:
Este artigo tem por objetivo apresentar os conceitos e tecnologias de gerenciamento de projetos, contextualizando equipes virtuais em projetos de Tecnologia da Informação, processos e ferramentas que auxiliem a gestão de equipes distribuídas geograficamente. Equipes virtuais representam uma solução ótima para redução de
custos e aumento de produtividade, considerando o seu fundamento que é o trabalho colaborativo, beneficiando
assim o desenvolvimento de produtos de melhor qualidade. O estudo apresentado identifica alguns dos principais fatores críticos de sucesso para projetos, baseando-se na experiência e conhecimento dos autores referenciados.
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Palavras-chave: Gerenciamento de projetos, Equipes Virtuais, Fatores Críticos de Sucesso.
ABSTRACT:
This paper aims to present the concepts and technology of project management, contextualizing Information
Technology projects in virtual teams, processes and tools to assist the management of teams geographically
distributed. Virtual teams represent one optimal solution to reduce costs and increase productivity, considering
is merits that is the collaborative work, thus benefiting the developing of better quality products. The presented
study identifies some critical success factors for projects, based on the experience and knowledge of the referenced authors.
Key words: Project Management, Virtual Times, Critical Success Factors.
¹Bacharel em Sistemas de Informação (ULBRA - PA). MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos (FGV - SP). Especialista em
Metodologia do Ensino Superior (ULBRA - PA). Mestrando em Gestão (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Lisboa - Portugal)
²Bacharel em Sistemas de Informação (ULBRA - PA). MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos (FGV - SP). Mestranda em Gestão
(Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Lisboa - Portugal)
94
1 INTRODUÇÃO
A solução vem com a utilização das equipes virtuais, uma nova forma de trabalhar e até mesmo de pensar. Os projetos se tornam mais dinâmicos e a quantidade de conhecimento gerado, principalmente pela diversidade cultural empregada por estas equipes, diminui o longo caminho percorrido pelos gerentes de projetos na
busca de um projeto de sucesso. Entretanto, para que efetivamente as equipes virtuais possam representar o diferencial nos projetos, é necessário que os gerentes conheçam os conceitos, processos e tecnologias. Portanto,
entender estes elementos pode determinar a diferença entre sucesso e fracasso e mitigar os riscos do projeto,
além de reforçar o uso das práticas de sucesso, fundamentais para a obtenção de resultados competitivos duradouros (BRANSFIELD, ET. AL., 2010).
Apesar de tantas vantagens, trabalhar virtualmente é um processo que requer uma gerência especializada, de liderança e de comunicação eficaz. As habilidades desenvolvidas para este novo ambiente requerem uma
busca contínua por novos conceitos, definições de fatores críticos de sucesso, ferramentas e processos que aperfeiçoem as atividades e elevem o potencial, tanto da equipe quanto do produto que está sendo desenvolvido.
Utilizam-se as equipes virtuais por estas serem uma tendência que tem crescido rapidamente de forma
global, utilizadas por empresas líderes mundiais, pelas vantagens que estas equipes empregam nos projetos,
como por exemplo, retenção de pessoas talentosas e a redução de custo e tempo (BUCHTIK, 2008). A própria
realidade colaborativa do ambiente de mercado atual, cercada por fatores como a globalização, o crescimento da
importância dos sistemas de informação nas empresas, e os processos de terceirização (outsourcing), impulsionam este tipo de trabalho.
Este artigo é parte de um estudo maior sobre gestão de equipes virtuais em ambientes distribuídos de
desenvolvimento de software e tem como objetivo apresentar uma nova abordagem sobre os conceitos existentes e demonstrar os fatores críticos de sucesso que atualizam a idéia de trabalho colaborativo.
2 EQUIPES VIRTUAIS
Além de fazer parte das ferramentas e técnicas utilizadas para contratação e mobilização da equipes de
um projeto (PMBOK, 2008), as equipes virtuais representam uma revolução na forma de pensamento e execução de trabalho, podendo até mesmo ser definida como uma nova ideologia3 para pesquisa e desenvolvimento
das atividades, norteada pelos conceitos de trabalho colaborativo4 e desenvolvimento das relações humanas,
95
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.94-105 jan 2011
A dispersão geográfica das pessoas envolvidas em um projeto não representa mais uma barreira para o
sucesso de um empreendimento, ao contrário, é vista atualmente pelas organizações como vantagem competitiva a frente dos desafios quanto aos riscos inerentes aos projetos, por exemplo, à indisponibilidade de profissionais, principalmente em regiões distantes dos grandes centros tecnológicos.
principalmente no aspecto da comunicação.
Quando uma pessoa está trabalhando com alguém que não está fisicamente próximo, se torna muito mais
difícil desenvolver uma conversação. A necessidade de melhorar esse processo direciona a equipe a fazer ajustes
nos processos e hábitos de trabalho para aumentar a produtividade em um ambiente virtual, e como conseqüência, novos processos gerenciais são criados.
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Entretanto há um fator contraditório que envolve uma equipe virtual, podendo representar um dos maiores desafios para os gestores de projetos, ou uma oportunidade única de geração de conhecimentos e garantia de
evolução das técnicas: o fator cultural. Diferentes pensamentos, vivências, hábitos de trabalho e muitos outros
elementos que completam a diversidade existente entre os integrantes das equipes virtuais, ampliam a criatividade e a inspiração na organização; cria-se uma sinergia cultural, onde surgem novas formas de resolver problemas, de projetar produtos ou pensar sobre os processos de desenvolvimento (AUDY E PRIKLADNICKI,
2008).
O conhecimento, para as organizações, é a informação relevante, acionável, compreendendo elementos
tácitos surgidos da experiência, sendo muitas vezes subjetivo (LIEBOWITZ E BECKMAN 1998, apud Zimmer, 2009)5. No ambiente dos projetos, em que novos desafios surgem a cada iteração das atividades e o conhecimento surge, espontânea ou obrigatoriamente, como diferencial competitivo, a sinergia cultural inerente às
equipes virtuais amplia a capacidade de aprendizado dos indivíduos da organização, possibilitando o desenvolvimento de uma gestão do conhecimento6 mais eficaz para a equipe.
Apesar dos benefícios gerados, o processo de implantação das equipes virtuais necessita de muitas informações sobre gestão de projetos e todas as áreas do conhecimento que se integram, além da superação, pela própria equipe do projeto, da resistência ao trabalho à distância. Apesar dessa resistência por organizações que
ainda não tiveram a oportunidade de desenvolver um trabalho virtual, Brown et. al. (2007) apresenta um recente
estudo realizado pela American Business Collaborative7 (ABC) que constatou que mais de 80% dos trabalhadores entrevistados são envolvidos, de alguma forma, com equipes que executam trabalhos virtuais, incluindo
membros que trabalham em casa (tele-trabalho) ou que estão em qualquer outra localização geográfica (cidade,
país ou mundo). A pesquisa também constata que o fator cultural, em todos os casos pesquisados, foi o principal
desafio encontrado.
Para que os riscos impostos pela dispersão geográfica sejam mitigados e transformados em oportunidades, Brown et. al. (2007) recomenda que no ambiente virtual os processos devam ser mais explícitos, pois os
habituais locais para conversação – bebedouros ou o local do cafezinho – ocorrem com menor freqüência. Devido ao diversos níveis de dispersão dos membros e equipes, esses encontros provavelmente não acontecerão, por
isso, é importante que ocorra, sempre que possível, revisões e ajustes na infra-estrutura e políticas de TI, tornando o uso destas mais efetivas.
3
Os autores Costa e Costa (2009) apresentam ainda outro conceito: é o estudo dos ideais e idéias aplicadas às situações sociais. Um paradigma pode ser uma
ideologia e as pesquisas podem ser influenciadas pela ideologia.
4
Segundo Michaelis (2009), as palavras cooperar e colaborar possuem o mesmo significado, que é agir ou trabalhar junto com outro ou outros para um fim
comum.
5
Conhecimento, neste caso, é apenas a informação relevante, importante e de utilidade para a organização. A informação é gerada constantemente pelas bases
de dados que são atualizadas frequentemente pelos sistemas utilizados, entretanto, nem toda informação gerada é absorvida pela gerência.
6
Definição segundo Perillo (2009): Knowledge Management refere-se à criação, identificação, integração, recuperação, compartilhamento e utilização do
conhecimento dentro da empresa.
7
http://www.abcdependentcare.com/docs/index.htm
96
É importante entender que a visão dos níveis de dispersão geográfica de equipes virtuais pode variar
consideravelmente, dependendo principalmente do tipo de projeto ao qual está relacionada. A gestão dessas
informações capacita os gerentes na definição de novas estratégias para o projeto, elaboradas visualizando o
contexto e ambiente de cada tipo de projeto. A correta identificação dos níveis de dispersão, por exemplo, pode
facilitar a definição de processos específicos para a comunicação com os stakeholders (partes interessadas).
Todo o volume de informação gerado pela equipe do projeto tende sempre a crescer e desenvolver o aspecto inovador de cada projeto é uma tarefa árdua para os gerentes.
Equipes virtuais como vantagem competitiva se deve à maior abertura, flexibilidade, diversidade e acesso às informações em comparação às equipes tradicionais (NEMIRO, 2004)8. As diferenças entre as equipes
tradicionais e virtuais são inúmeras e crescem proporcionalmente ao nível das tecnologias utilizadas. Algumas
características continuam as mesmas, mas nos últimos dez anos o avanço tecnológico reformulou os conceitos
de equipes e trabalhos virtuais. Novos modelos, metodologias, processos colaborativos de desenvolvimento de
produtos, ferramentas tecnológicas, outros elementos e idéias surgiram para auxiliar a gestão dos projetos com
equipes distantes fisicamente e a incentivar a utilização destas equipes, seja em projetos pequenos ou de grande
complexidade.
No caminhar constante pela superação de desafios e busca crescente pelo inovador e o criativo, o sucesso
de projetos inseridos no ambiente empresarial cada vez mais competitivo dependerá da correta interação entre
gerentes e equipe, e da utilização desses novos conceitos e práticas que evoluem com a mesma velocidade com
que surgem as novas tecnologias. As equipes virtuais podem representar o caminho mais curto para se atingir
esses objetivos.
2.1 Conceito
Equipes, de uma forma geral, são compostas por pessoas, com funções e responsabilidades atribuídas
para o término do projeto (PMBOK, 2008). Podem-se diferenciar as equipes naquelas em que os integrantes
estão fisicamente próximos e naquelas em que os integrantes estão fisicamente separados. Entretanto, com a
evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), essa diferenciação recebeu outros sentidos.
Basta mencionar que, mesmo em uma equipe face a face, muitas informações são trocadas através de emails ou
comunidades digitais, ferramentas que caracterizam um trabalho virtual e, através das videoconferências, é possível se estabelecer uma comunicação “face a face”, mesmo que a distância.
Sendo um conceito dinâmico e evolucionário, poucas definições conseguem abranger a complexidade e
importância das equipes virtuais. Jessica Lipnack e Jeffrey Stamps, pesquisadores há vinte anos sobre redes de
8
O autor expressa nesta afirmação que devido à estrutura e a própria metodologia de trabalho das equipes virtuais (flexibilidade, diversidade, trabalho
colaborativo, e outros) as empresas se beneficiam com as vantagens oferecidas por esta forma de trabalho, como diferencial às tradicionais.
97
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As equipes virtuais começaram a se estabelecer aos poucos, até se configurar como se conhece atualmente e prover ferramentas que ajudam as atividades de gerência e estímulo à criatividade do grupo. Nemiro
(2004) afirma que as equipes virtuais permitem às empresas explorar os melhores talentos para criar alta qualidade e resposta mais rápida às necessidades dos clientes.
comunicação, conceituam equipes virtuais como um grupo de pessoas que trabalham de forma interdependente
com um objetivo comum através do espaço, tempo e limites da organização, utilizando-se da tecnologia. O
PMBOK (2004) também define equipes virtuais, porém, focando na importância destas na etapa de contratação
da equipe:
O uso de equipes virtuais cria novas possibilidades durante a contratação ou a mobilização de
membros da equipe do projeto. As equipes virtuais podem ser definidas como grupos de pessoas
com uma meta compartilhada que executam suas funções sem se encontrarem pessoalmente na
maior parte do tempo. A disponibilidade de comunicação eletrônica, como e-mail e videoconferência, viabilizou a existência dessas equipes.
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Além da tecnologia, outros pilares elevam a qualidade dos trabalhos desenvolvidos nestas equipes. Cossulin (2007) afirma que as pessoas, os objetivos e as conexões, são os fatores determinantes para o sucesso das
equipes virtuais.
Um projeto de sucesso9 deve incorporar uma equipe de projeto focada em selecionar os processos adequados para satisfazer os objetivos e usar uma abordagem definida a ser adotada para atender as exigências de
requisitos, tanto de produto quanto de projeto, e também as necessidades e desejos dos stakeholders (PMBOK
2008).
Apesar de grandes responsabilidades impostas à equipe do projeto, é o gerente quem direciona a equipe
por meio da determinação dos processos adequados e do rigor de cada um, seja no cumprimento de tarefas ou no
monitoramento da documentação. O desenvolvimento da equipe depende também da motivação aplicada, do
estimulo à criatividade individual e do grupo, do aperfeiçoamento do pensamento quanto ao trabalho coletivo e
outras habilidades que são aplicadas através da experiência e prática dos gerentes.
A gerência precisa, então, desenvolver e compreender como lidar com as pessoas, definir os objetivos e escolher
as melhores tecnologias para o desenvolvimento do produto. As considerações a respeito de cada um destes elementos:
·
Pessoas: Tratamento das pessoas como membros independentes, ou partes isoladas, de uma equipe, cada
pessoa tendo, portanto, determinada autonomia fundamentada em confiança mútua; Compartilhamento
da liderança, tendo em vista que, pela diversidade técnica e administrativa dos membros, cada indivíduo
assume naturalmente um papel de liderança em algum momento do trabalho em equipe; A integração
dos indivíduos visando à formação de uma consciência de totalidade da equipe através de seus membros,
para atingir um objetivo final.
·
Objetivos: É o motivo pelo qual um grupo de indivíduos se dispõe a trabalhar em equipe, constituindo-se no
principal fator de envolvimento das pessoas. Um objetivo comum é imprescindível para a equipe virtual,
deve ser definido de forma clara e coerente e estar bem compreendido por todos os participantes da equipe.
9
O sucesso, na visão de BARCAUI (2009), está além do atendimento tradicional de escopo, tempo, custo e qualidade. O autor afirma que a medição de
sucesso “não é trivial e depende muito de quem esteja analisando o projeto” e, além disso, “o sucesso pode ser visto de maneira diferente em função do
tempo e do momento em que se estiver sendo analisado” (CLELAND, 1999 apud BARCAUI, 2009).
98
·
Conexões: Utilização intensa da tecnologia de comunicação em substituição da interação face a face. Os
múltiplos meios e canais de comunicação, em rápida expansão e cada vez mais disponíveis às corporações, permitem a transferência de mensagens, relatórios, imagens conduzindo a um viável acesso às
informações e a novas formas de interação entre as pessoas. A tecnologia de comunicação não é a única
forma de conexão entre as pessoas. A relação de confiança e entendimento das diferenças pessoais e culturais também é necessária para suprir a escassez da interação face a face.
Quando as equipes estão co-localizadas, basta uma sala de conferências para executar o trabalho colaborativo que necessita de coordenação, cooperação, comunicação e percepção sobre as idéias que estão sendo geradas sobre um problema ou questões do projeto, mas com as equipes virtuais, esse método é impraticável, se não
impossível (BROWN ET. AL., 2007).
Por isso, o gerenciamento é indispensável para o direcionamento das equipes virtuais, que necessitam do
rigor e formalismo que apenas processos bem definidos e documentados podem prover, principalmente em
ambientes de constantes mudanças, como são os projetos de TI.
3 FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
O progresso nos estudos sobre os elementos que levam ao sucesso de um projeto aconteceu quando
foram feitas avaliações sobre os diversos aspectos do projeto, aumentando assim o entendimento sobre os fatores críticos de sucesso e propiciando a continuidade na melhoria da compreensão destes fatores e critérios, bem
como da satisfação dos stakeholders com os resultados do projeto e das causas das falhas nos projetos
(ANBARI, 2008). Dentre os alvos desses estudos estão: Relação entre o sucesso do projeto e a sua missão, o
apoio da alta direção; Cronograma e o plano do projeto; Envolvimento dos clientes e a liderança; Relação entre o
sucesso do projeto e o emprego de softwares de gerenciamento de projetos, de processos para a colaboração
entre equipes, das habilidades de liderança em projetos e da comunicação entre o gerente do projeto e o sponsor
(patrocinador) do projeto.
Existe uma diferença entre os termos Critérios de Sucesso de Projetos e Fatores de Sucesso de Projetos.
De acordo com Anbari et. al. (2008 apud ANBARI, 2008), o primeiro define as medidas através das quais o
resultado de um projeto é julgado, ou seja, variáveis dependentes que medem o sucesso do projeto. Barcaui
99
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A essência do trabalho virtual está na colaboração. O desenvolvimento pessoal, o conhecimento agregado durante as fases do projeto, a produção dinâmica, a contribuição inerente das diversidades de estilo de trabalho, comunicação e costumes, são algumas das vantagens do trabalho colaborativo. Também em um ambiente
fisicamente próximo, a colaboração contribui na criação de produto de maior qualidade, através da contribuição
pelo potencial de cada indivíduo e pela capacidade emergente do grupo. Segundo Brown et. al. (2007) trabalhar
colaborativamente pode significar coisas diferentes para diferentes equipes – trabalho individual em um componente e integração com os demais durante os estágios do ciclo do projeto; o trabalho coletivo em um mesmo
componente até sua entrega, para seguir com o ciclo; ou ainda a combinação dessas duas formas de ações.
(2009) define os quatro fatores primários a serem analisados relativos ao sucesso do projeto: Escopo: projeto
entregou ou não toda a especificação prevista; Custos: projeto dentro ou não do orçamento previsto;Tempo:
projeto dentro ou não do cronograma previsto; Qualidade: projeto entregue ou não com qualidade esperada.
Por outro lado, os Fatores de Sucesso são elementos de um projeto que podem ser influenciados para
aumentar a probabilidade de seu sucesso, ou seja, variáveis independentes que tornam o sucesso do projeto mais
provável (ANBARI ET. AL., 2008 apud ANBARI, 2008). Dependendo do tipo de projeto e do ambiente onde
será executado o desenvolvimento do produto, a visão destes fatores pode significar uma gerência mais eficaz.
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Nos projetos de TI, por exemplo, “as falhas são especialmente epidêmicas” e ainda, elas “têm se tornado
geralmente esperadas e até mesmo aceitas”, como afirma Anbari (2008). De fato, os estudos realizados ao longo
dos anos pela Standish Group comprovam isso. Os estudos classificam os projetos em três tipos: Bemsucedidos: concluídos dentro do prazo de conforme o budget, com todas as características e funções conforme
especificado originalmente; Duvidosos: concluído e operacional, mas estourou o budget e ultrapassou a estimativa de prazo, oferecendo menos características de funções do que especificado inicialmente; Falhos: cancelado
antes de sua conclusão.
Evidentemente que falhas não são favoráveis ao cumprimento do projeto. Cossulin (2007) sugere que os
fatores críticos de sucesso da equipes sejam analisados pela perspectiva do cliente interno e pela perspectiva dos
processos internos. Pela perspectiva do cliente interno, analisam-se os objetivos do grupo sob a ótica de satisfação do cliente, ou seja, como o cliente visualiza o trabalho do grupo, qual a imagem e o grau de satisfação com o
serviço prestado e com os resultados do trabalho.
Já pela perspectiva dos processos internos, o foco está no controle dos processos e como os objetivos do
grupo são afetados por eles, e ainda, como controlar os principais processos a fim de criar valor para o cliente e
em quais processos precisa-se ter excelência para satisfazer continuamente às expectativas do nosso cliente
(COSSULIN, 2007).
Sauer e Cuthbertson (2004, apud ANBARI, 2008) apresentam outro estudo, um pouco mais otimista de
uma forma geral, sobre os projetos de TI, revelando melhorias significativas, apesar de orçamento ainda ser um
grande problema para esse tipo de projeto. A pesquisa englobou organizações de setores públicos e privados no
Reino Unido e constatou, além dos dados apresentados na figura 1, que 9% de todos os projetos foram abandonados antes ou durante sua implementação.
As preocupações nos projetos de TI que envolvem equipes e trabalhos virtuais redobram. De acordo com
a experiência em projetos com equipes virtuais, Buchtik (2008) resume em quatro princípios de lições aprendidas, as condições para se ter sucesso nestes ambientes.
O primeiro princípio refere-se à necessidade de entender as diferenças entre um ambiente local e outro
virtual, com seus prós e contras. Essa necessidade deve ser entendida desde o início, procurando aprender e compreender como trabalhar virtualmente e quais as ferramentas e os suportes necessários, evitando assim discussões desnecessárias, impactos sobre o desempenho do projeto ou sobre a motivação da equipe. Buchtik (2008)
afirma que há sempre mais para ser aprendido, e por isso é importante que se busque novos conhecimentos através da literatura existente sobre o assunto ou conversando com outras pessoas experientes que já passaram ou
100
O segundo princípio baseia-se na compreensão de que trabalhar virtualmente não é nem melhor nem pior, apenas diferente. Sem dúvida é um novo desafio para as organizações e os gerentes precisam desenvolver cada vez
mais as habilidades de alta gerência. Portanto é necessário saber quais as condições que tornam o ambiente virtual bem sucedido. Uma destas condições é garantir que o treinamento sobre como trabalhar virtualmente seja
feito com stakeholders. Outros elementos também devem ser revistos, como adotar um código de conduta, uma
matriz de responsabilidades, um plano de comunicação, sistemas de relatórios formais para assegurar reportes
de desempenho adequados e na hora certa, identificação das pessoas chaves que devem dar apoio ao time virtual, dentre outros (BUCHTIK , 2008).
O terceiro princípio afirma que “gerenciar virtualmente não pode ser feito sem utilizar consistentemente
as ferramentas adequadas”. Neste contexto dois aspectos precisam ser enfatizados: um time virtual é um time
que, ao invés de interagir presencialmente, interage eletronicamente e; assim como a empresa tem a responsabilidade de assegurar que as ferramentas adequadas estejam disponíveis e sendo empregadas, a autora explica
que:
[...] é responsabilidade do gerente de projetos assimilar como ser mestre no uso destas ferramentas e comunicar à equipe quais ferramentas devem ser utilizadas em cada situação, a fim de
estabelecer normas para a equipe que incluam estas especificidades ao time virtual
(BUCHTIK , 2008).
101
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.94-105 jan 2011
Figura 1: Resultados da pesquisa de Sauer e Cuthbertson (2004, apud Anbari, 2008), representados em gráficos.
Por fim, o quarto princípio conclui que é fundamental o apoio da empresa e da alta gestão com relação ao
desenvolvimento dos trabalhos virtuais, ou seja, o comprometimento e o suporte necessário, por meio de ações
específicas, de mensagens corporativas e da equipe de gestão. Estes podem facilitar as atividades virtuais através dos suportes necessários, como políticas e ferramentas que podem ser implantadas na organização, proporcionando uma experiência importante para funcionários e, posteriormente, refletindo essa maturidade no desenvolvimento dos projetos.
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.94-105 jan 2011
Os quatro princípios conseguem resumir, de forma clara e objetiva, toda a complexidade de se identificar
com precisão o que realmente é importante para que os projetos de TI em ambientes virtuais tenham sucesso. O
alinhamento do objetivo geral e estratégico da equipe diante da missão e da visão corporativa da organização
também deve ser verificado, no intuito de elevar, cada vez mais, a forma de desenvolvimento dos produtos.
No desenvolvimento de produtos de software, o sucesso é medido pela forma como ele realiza a tarefa
para qual foi proposto, ou seja, todo o esforço de desenvolvimento pode ser total ou parcialmente desperdiçado
se o software, por melhor que seja a qualidade de sua codificação, não executa as tarefas para qual foi destinado.
Assim como, se a tecnologia necessária ao software não for compatível com a existente no ambiente onde ele
será integrado, todo ou parte do trabalho de desenvolvimento tornar-se-á inútil (LOPES E AUDY, 2009).
Portanto, é fundamental que se identifique e documente todas as necessidades e propósitos do produto,
tarefa que exige a compreensão do domínio da aplicação (ambiente, características de negócio, modificações
futuras, necessidades do processo, dentre outros). Em especial na engenharia de requisitos, o sucesso dessa
etapa pode ser influenciado fortemente pelo ambiente virtual de desenvolvimento e, portanto, a cautela é redobrada.
A conclusão do estudo realizado por Lloyd et. al. (2002, apud Lopes e Audy, 2009) afirma que, para uma
engenharia de requisitos mais efetiva em ambientes distribuídos, os stakeholders devem participar mais ativamente das atividades síncronas do processo de requisitos, desde a coleta até a documentação final. Sobre o resultado da prototipação, a estimativa realizada, do mesmo estudo, é problemática porque os engenheiros de requisitos não a utilizaram, e como os participantes não criaram protótipos, então a interpretação do resultado não é
clara. Por isso a Prototipação ainda é altamente recomendada.
Audy e Prikladinicki (2008) definem outra visão dos fatores críticos de sucesso em projetos de TI, através de quatro categorias principais que facilitam o entendimento da dinâmica dos ambientes virtuais e, a compreensão delas, facilita o alcance do sucesso do projeto. As categorias e seus aspectos relevantes são:
·
Comunicação: idioma, diferença de fuso horário e o meio de comunicação. Atenção à
ausência das características da comunicação face a face nas conversações virtuais, e com os
níveis de interação entre os membros.
·
Cultura: contexto, atitude e valores. Atenção à relação de hierarquia, pontualidade e
outros aspectos de valores pessoais da cultura organizacional.
102
·
Gestão do Conhecimento: informações, awareness10 e papéis. Atenção à distribuição de
atividades, conhecimento sobre todas elas e o processamento e disponibilização das informações.
·
Aspectos Técnicos: gerência de configuração, groupware11, padrões e processos. Atenção à padronização de documentação gerada, processos equivalentes para toda a organização
Porém a busca pelo conhecimento não é fácil porque a cada momento novas teorias e práticas surgem e
em muitos momentos a definição dos fatores críticos de sucesso podem se confundir em termos de importância
para o projeto. Deve-se então discutir e julgar sobre o que é necessário para alcançar as metas da equipe e quais
os fatores terão maiores efeitos sobre o resultado final, ou seja, os mais críticos classificá-los em ordem de prioridade e agir conforme o necessário. Anbari (2008) recomenda que se utilizem fluxogramas para representação
gráfica dos fatores encontrados e que a interação entre os participantes do projeto é sem dúvida o melhor caminho para essa atividade.
Portanto, a visão do gerenciamento dos projetos necessita de expansão e integração a um amplo ambiente dentro do qual os projetos são executados, “a fim de solidificar seu papel como instrumento de desenvolvimento da estratégia e considerar seus resultados e impactos sobre clientes, cidadão e sociedade como um todo”,
como afirma Anbari (2008). A figura 3 expressa essa nova visão de gerenciamento, em que o feedback redireciona o fluxo das informações, gerando resultados e impactos sobre o projeto, garantindo assim sua excelência.
Figura 2: Vista dos sistemas
expandidos do Gerenciamento de
Projetos, segundo Anbari (2008)
10
Definição segundo Audy e Prikladinicki (2008): ter consciência, percepção e conhecimento das atividades. Distinguem-se os tipos de awaress em atividade
(tarefa), processo, disponibilidade (presença) e ambiente.
11
Tecnologia utilizada para auxiliar os grupos de trabalhos envolvidos no projeto.
103
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Analisando os autores citados neste capítulo, conclui-se que a busca contínua por novas tecnologias,
processos e formas de integração dos membros da equipe são fatores essenciais e que de fato levam ao sucesso
do projeto. A busca constante dos gerentes pelas melhores práticas, lições aprendidas e desenvolvimento das
competências de gestão caracteriza uma liderança eficiente, elemento fundamental para as equipes. Segundo
Anbari et. al. (2008; CRAWFORD, 2007; GAREIS E HUEMAN, 2007; PMI, 2002; TURNER E MULLER,
2006), as pesquisas mais recentes afirmam que quanto mais competentes e maduros forem os gerentes de projetos, as equipes e as organizações, tanto mais eficientemente será a atuação deles, tanto mais efetivo será o
desempenho dos projetos e tanto mais bem-sucedida será a organização.
4 CONCLUSÕES
Definir o sucesso dos projetos está intimamente conectado ao entendimento do produto que está sendo
projetado. Em projetos de Tecnologia da Informação (TI), por exemplo, as necessidades diferenciam-se em
larga escala, comparadas aos projetos da construção civil ou de produtos industriais.
Produtos de TI são complexos, repletos de definições e documentação, difíceis de serem gerenciados e
imprecisos em sua descrição de usuário, ou seja, são produtos que requerem um trabalho redobrado durante as
primeiras fases de definição. Para solucionar estes problemas e outros problemas discutidos no artigo são utilizadas as equipes virtuais
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.94-105 jan 2011
Nesse contexto conclui-se que para uma gestão mais eficaz das equipes virtuais é necessário que o gerente de projetos conheça os conceitos e os processos necessários para a implantação eficaz deste tipo de equipe. Os
benefícios apresentados pelas equipes virtuais são inúmeros, entretanto serão alcançados com a gestão orientada ao conhecimento e à busca contínua por melhorias dos processos de gestão utilizados.
Definir os fatores críticos de sucesso é apenas um dos passos necessários para o sucesso do projeto. O
gerente precisa também desenvolver as habilidades de liderança e de busca contínua pelo conhecimento, estar
aberto às novas tendências de gerenciamento e de realização dos trabalhos, bem como aprimorar uma comunicação que integre os membros da equipe aos objetivos do projeto, respeitando as diferenças culturais e de opiniões, e as experiências vividas por cada um deles extraindo assim o melhor de sua equipe.
REFERÊNCIAS
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Administração de Empresas, jul/set. 2001.
ANBARI, F. T. Estratégia, Geração de Valor e Pesquisa. Revista Mundo PM, Ano 4, ? 23. Rio de Janeiro:
Editora Mundo, out/nov 2008.
AUDY, Jorge; PRIKLADNICKI, Rafael. Desenvolvimento Distribuído de Software – Desenvolvimento de
Software com Equipes Distribuídas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
BARCAUI, A. B. O Desafio do Sucesso em Projetos de Tecnologia da Informação. Disponível em:
<http://www.bbbrothers.com.br/scripts/Artigos/Artigo%20-%20Sucesso%20em%20Projetos%20TI.pdf>.
Acesso em 5 ago. 2009a.
BRANSFIELD, S., BAHT, S., CHOMA, A. A. Sucesso VS. Fracasso: O que Faz a Diferença entre os Melhores e Piores Projetos? Revista Mundo PM, Ano 5, Nº 30. Rio de Janeiro: Editora Mundo, dez/jan 2010.
BROWN, M. K.; HUETTNER, B.; JAMMES-TANNY, C. Managing Virtual Teams – Getting the Most
From Wikis, Blogs, and Other Collaborative Tools. Texas: Wordware Publishing, 2007.
BUCHTIK, L. Gerenciando Projetos Virtualmente: Quatro Condições para o Sucesso. Revista Mundo PM,
104
CUSTOMIZAÇÃO DE PROCESSOS PARA O
DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE
Marla Teresinha Barbosa Geller¹
Marialina Correa Sobrinho²
João Elias Brasil Bentes Júnior³
Monilson Marinho4
Resumo
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Este artigo descreve a pesquisa do Grupo de Trabalho Ágil – GTA,formado por uma equipe de professores e
alunos que desenvolvem as atividades dentro do ambiente acadêmico utilizando as disciplinas de
desenvolvimento de software para testar a instanciação de processos adaptados a sistemas diversos. Os
processos utilizados como base são processos já consolidados dentre eles o Processo Unificado, o SCRUM e
Programação Extrema. Dentre os processos já instanciados estão P@PSI – Processo Ágil para Pequenos
sistemas, o P@PSeduc – Processo Ágil para Software educativo e o P@PGame – Processo Ágil para Games. A
descrição dos processos resultantes deste estudo inicial é o conteúdo principal deste trabalho.
Palavras Chave: Engenharia de Software. Processo de Software. Metodologias Ágeis.
Abstract
This article describes the research of the Agile Work Group - GTA, comprising a team of teachers and pupils
that develop activities within the academic environment using the disciplines of software development to test
the instantiation of processes adapted to various systems. The procedures used are based on procedures already
established including the Unified Process, Scrum and Extreme Programming. Among the processes already
instantiated are P @ PSI - Agile Process for Small Systems, P @ PSeduc - Agile Process for Educational
Software and P@Pgame – Agile Process for Games. The description of cases arising from this initial study is
the main content of this work.
Keywords: Software Engineering. Software Process.Agile Methodologi
¹Professora e Coordenadora do Curso de Sistemas de Informação do Centro Universitário Luterano de Santarém – CEULS/ULBRA. Graduada em
Informática e Mestre em Engenharia Elétrica com ênfase em Computação Aplicada pela Universidade Federal do Pará. Pesquisadora na área de Engenharia
de Software mais especificamente em Melhoria de Processo de Desenvolvimento de Software. E-mail: [email protected]
²Professora do Curso de Sistemas de Informação do Centro Universitário Luterano de Santarém – CEULS/ULBRA e do Instituto Esperança de Ensino
Superior de Santarém. Graduada em Pedagogia, com especialização em Informática na Educação e Mestre em Engenharia Elétrica com ênfase em
Computação Aplicada pela Universidade Federal do Pará. Pesquisadora na área de Informática na Educação, mais especificamente em Objetos de
Aprendizagem E-mail: [email protected]
³Bacharel em Sistemas de Informação do Centro Universitário Luterano de Santarém, desenvolve pesquisa na área de Melhoria de Processo de software para
desenvolvimento de Jogos. E-mail: [email protected]
4
Aluno concluinte do Curso de Sistemas de Informação do Centro Universitário Luterano de Santarém, desenvolve pesquisa na área de desenvolvimento
de Jogos. E-mail: [email protected]
106
1 INTRODUÇÃO
O aumento da demanda por projetos com características específicas como o desenvolvimento de software para pequenas empresas, de software educativo, de jogos eletrônicos, entre outros, é o que justifica a pesquisa. As particularidades de cada sistema impõem uma busca por processos customizados que atendam um contexto específico.
O trabalho do GTA – Grupo de Trabalho Ágil iniciou em 2007, onde na primeira etapa do
projeto foram estudados os processos existentes e a especificação de um processo adaptado para atender o
desenvolvimento de software para pequenos sistemas – P@PSI(Processo Ágil para Pequenos Sistemas). O processo definido foi testado inicialmente pela equipe no desenvolvimento de um sistema para dispositivos móveis. Em 2008, o processo instanciado objetivou atender o desenvolvimento de software educativo – P@PSEduc
(Processo Ágil para Software Educativo)
que é utilizado no desenvolvimento de software educativo por
alunos do curso de Pedagogia em colaboração com os alunos do curso de Sistemas de Informação, no curso de
pós graduação em “Informática e as Novas Tecnologias Educacionais”. Em andamento está a aplicação do processo para o desenvolvimento de jogos eletrônicos – P@PGame (Processo Ágil para Games), que está sendo
aplicado na criação e um jogo eletrônico.
As atividades de pesquisa do GTA devem ser permanentes e contínuas, e a aplicação, avaliação e melhoramentos nos processos devem fazer parte do conteúdo de diversas disciplinas no curso de Sistemas de Informação, que abordam o tema, formando um trabalho interdisciplinar avaliado a cada período de um semestre.
O trabalho aqui relatado está organizado em tópicos, onde o próximo tópico faz a fundamentação teórica
dos processos base e sua adaptação, o terceiro tópico descreve a metodologia utilizada para pesquisa e cita
alguns trabalhos correlatos, a seguir descrevem-se os processos resultantes e finalmente nas considerações finais apresentam-se algumas conclusões com o uso dos processos e o que se pretende como trabalhos futuros.
2 PROCESSOS BASE E ADAPTAÇÃO
A pesquisa do grupo inicia com o estudo de processos já consolidados existentes no mercado, intensificando-se no detalhamento do Scrum, da Programação Extrema e do Processo Unificado. A opção por estas meto
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O desenvolvimento de software de forma ágil e com qualidade, têm sido o grande desafio de todas as
épocas. Atender as exigências de qualidade, obedecendo planilhas de custo e atendendo as necessidades do cliente é uma questão crítica para os desenvolvedores de software. Com maior intensidade nos tempos atuais, onde
o equilíbrio do tripé custo, escopo e qualidade é alcançado somente com o auxílio de um bom processo para organização e acompanhamento no desenvolvimento do software. Estão disponíveis na literatura muitos modelos de
processos, alguns modelos tradicionais bastante utilizados ainda, como o Modelo Cascata, ou modelos iterativos e incrementais, como o Processo Unificado, este que se tornou padrão para muitas empresas de desenvolvimento. Segundo Ambler (2004), o problema das perspectivas tradicionais é que elas enfocam procedimentos
prescritivos e os produtos que devem ser criados. São considerados métodos “pesados“ por fundamentar-se em
regras definidas, inertes a mudanças dos requisitos e por possuírem um ciclo de desenvolvimento pouco adaptável e que devem ser completamente executados. Quanto ao Processo Unificado, a expectativa para que atenda o
maior número de sistemas, torna-o muito genérico, voltado principalmente para equipes mais experientes.
dologias deve-se a análises preliminares feitas com alguns processos de desenvolvimento de software disponíveis e conhecidos no mercado. Dos processos estudados já consolidados na literatura pode-se citar o Processo
Pessoal de Software, Processo Espiral, Prototipagem, Crystal,Desenvolvimento Adaptativo de Software, entre
outros.(PRESSMAN, 2006).Estudos correlatos foram também objetos de pesquisa para fundamentar o tema e
conhecer outras propostas de soluções para o mesmo problema, podendo-se citar Paiva (2004), Garcia (2004),
Schneider(2003), Hazzan (2006), Alves(2006).
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A prática de desenvolvimento de sistemas com o uso de um processo se dá em geral, com o auxílio do
Processo Unificado, que é iterativo, porém prescritivo e definido. Ao mesmo tempo, incorporam-se ao mundo
do desenvolvimento, os Processos Ágeis, que sugerem práticas e valores a serem utilizados no trabalho do dia a
dia do desenvolvedor.
Tem-se dessa forma, de um lado, os modelos tradicionais de desenvolvimento de sistemas voltados para
documentação, que são opções, geralmente, pesadas para pequenos projetos. Por outro lado os métodos adaptativos como o Scrum ou a Programação Extrema, podem não ser suficientes para equipes sem muita experiência
em desenvolvimento, pois suas práticas são rigorosas e disciplinadoras, mas não possuem uma prescrição da
ordem de como as atividades devem ser realizadas. Neste cenário, é bastante comum, equipes iniciantes em
desenvolvimento, não adotarem processo algum, por não se adaptarem ao trabalho árduo da documentação e
nem conseguirem se organizar quando não é prescrito o que deve ser feito, ou seja, estão entre os dois extremos.
(CHARETTE, 2001).
Seguindo a teoria de Keenan (2004), que diz que um processo de desenvolvimento de software
pode ser melhorado através da captura do que de melhor se adapta ao contexto, unindo práticas de processos
conhecidos, o GTA tem por objetivo adaptar essas práticas para melhor atender projetos com características específicas. Dessa forma os processos propostos unem os princípios e práticas de métodos empíricos, como o Scrum
e o XP, com o auxílio da organização do Processo Unificado que é um processo definido.
2.1 Scrum
A metodologia Scrum compartilha com XP a adoção das práticas definidas no “Manifesto para o Desenvolvimento Ágil de Software”, AgileManifest (2001). O foco da metodologia Scrum é a flexibilidade, a adaptabilidade e a produtividade. O resultado do processo deve ser um software que é realmente útil para o cliente.
(SCHWABER, 2002).
O ciclo de vida do Scrum é baseado em três fases: fase de planejamento, fase de desenvolvimento
(Sprint) e fase de encerramento. A primeira e a última fase consistem em processos definidos, onde o fluxo de
atividades é linear, podendo haver algumas iterações na fase de planejamento, como refereSchwaber (1995).
Nesta fase define-se o ProductBacklog5, que consiste em uma lista priorizada de todas as estórias de usuários que
o sistema deve atender. A fase de desenvolvimento é dividida em ciclos chamados Sprints, que são realizados em
tempo determinado (não mais que 30 dias). Um Sprint contém uma funcionalidade ou funcionalidades (Sprint
Backlog6) que devem ser implementadas. São os casos de uso priorizados. O Sprint Backlog é dividido em tarefas (Sprints Diários7) que não devem exceder 24 horas. Tem-se a cada final de Sprint um release ou uma parte do
5
ProductBacklog: conjunto de requisitos do sistema.
6
Sprint Backlog: itens do ProductBacklog que a equipe se compromete em desenvolver em um período de até 4 semanas.
7
Sprints diários: definição da atividade a ser realizada em um dia e que faz parte do Sprint Backlog.
108
produto a ser avaliado ou até mesmo utilizado pelo cliente. Na fase de encerramento são feitas reuniões para analisar o progresso do projeto e demonstrar o software atual para os clientes. Nesta fase são feitas as etapas de integração, testes finais e documentação. (PRESSMAN, 2006).
Uma equipe Scrum é formada pelo Scrum Master (gerente do projeto), que é responsável pela aplicação
das regras do Scrum, que garante a plena funcionalidade e produtividade da equipe e que representa o escudo nas
interferências externas; pelo ScrumOwner(dono do produto), que define as funcionalidades do produto, decide
datas de lançamento do conteúdo, e pela equipe de desenvolvedores que deve ser pequena e multifuncional (programadores, testadores, desenvolvedores de interfaces, entre outros).
2.2 Programação Extrema - eXtremeProgramming - XP
Conforme Beck (2004), XP é uma metodologia ágil para equipes pequenas a médias que desenvolvem
software com requisitos vagos ou que mudam frequentemente. Baseia-se em quatro valores que são: comunicação, simplicidade, feedback e coragem.
A XP possui práticas que são aplicadas a qualquer outro processo e que agregam valor à equipe de desenvolvimento. Entre estas práticas estão: programação em pares, cliente presente, reuniões breves, testes freqüentes, refatoração do código, integração contínua, semanas de 40 horas. (TELES, 2004) .
A XP assim como o Scrum é um processo adaptativo, ou seja, adota a mudança, ou melhor, considera a
mudança uma característica intrínseca aos sistemas. Portanto, ao invés de prever o que pode acontecer no futuro,
adapta-se às mudanças, baseando-se em situações concretas, que realmente acontecem. XP recebe críticas, por
ter uma análise de requisitos muito informal e por não valorizar tanto a modelagem como o Processo Unificado.
2.3 Processo Unificado
Kruchten (2003) define o Processo Unificado como uma estrutura genérica de processo que pode ser customizado adicionando-se ou removendo-se atividades com base nas necessidades específicas e nos recursos disponíveis para um projeto. Possui quatro fases: Concepção, Elaboração, Construção e Transição. Dentro do Processo Unificado, fluxos de trabalho atravessam as fases do processo: Requisitos, Análise, Projeto, Implementação, Testes.(AMBLER, 2004). O Processo Unificado é um processo definido e preditivo que utilizado com a
Linguagem de Modelagem Unificada, sugere a documentação do sistema através de modelos, como refere-se
Scott (2003). Apesar de ter característica iterativa e incremental, prescreve as fases com planejamento e documentação mais extensa.
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Pode-se fazer uma analogia do Scrum com o jogo onde todos trabalham ao mesmo tempo para conseguir
o mesmo objetivo, Takehushi (1986) descreve: “O estilo de corrida de revezamento onde é dada a cada participante da equipe a responsabilidade de uma parte do projeto, quando aplicado ao desenvolvimento de produtos
pode conflitar com os objetivos de velocidade e flexibilidade máximas”. Na interpretação do texto de transcrito
acima, tem-se a descrição do que acontece nos processos tradicionais. Ao invés disto, “um estilo holístico, onde
a equipe busca, como em um jogo de futebol, de forma integrada, chegar ao gol, com passes de bola, pode servir
melhor às atuais necessidades competitivas”. (TAKEHUSHI, 1986).
3 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E TRABALHOS CORRELATOS
A metodologia utilizada para escolha dos processos base foi primeiramente o estudo de processos prescritivos para inserir no processo resultante o mínimo de organização necessária para orientar desenvolvedores
inexperientes. Desta forma as etapas realizadas para instanciação do processo passaram por leitura e estudo dos
diversos processos, dentre eles o tradicional Processo em Cascata. Através do Processo Cascata foi possível
entender claramente os fluxos de Levantamento de Requisitos, Análise, Projeto, Implementação e Testes, fluxos
estes que atravessam ortogonalmente qualquer processo.
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Ao mesmo tempo, preocupou-se em proporcionar agilidade através de práticas que facilitassem o desenvolvimento de pequenos projetos. Dentre as práticas herdadas do XP, utilizou-se a adoção da programação em
pares, da refatoração de código, do planejamento diário, da propriedade coletiva do código, dentre outras. O
processo Scrum uniu-se ao XP e ao Processo Unificado para gerenciar cada processo instanciado.
O estudo das metodologias ágeis incluiu a Programação Extrema descrita por Astels (2002), família
Crystal, Desenvolvimento Adaptativo de Software, referidos porPressmann (2006) e Scrum por Schwaber
(1995). Estudos referentes a desenvolvimento de software educativo foram também objetos de pesquisa para
fundamentá-la e conhecer outras propostas de soluções para o mesmo problema, podendo-se citar: Paiva
(2004), Garcia (2004), Schneider (2003), Hazzan (2003), Alves (2006), Bassani (2006), Benitti (2005), Falkembach (2005). Quanto às metodologias para desenvolvimento de jogos pode-se considerar as propostas de Cabral
(2004), Credidio (2008) e Nascimento (2008).
4 PROCESSOS RESULTANTES
Como resultado inicial desta pesquisa, apresenta-se a seguir os processos instanciados que possuem
como características comuns serem voltados para pequenos projetos e desenvolvidos por equipes inexperientes.
E como especificidades, atenderem ao desenvolvimento de software para pequenas empresas, software educativos e desenvolvimento de jogos.
4.1 P@PSI – Processo Ágil para Pequenos Sistemas
O processo resultante - P@PSI (Processo Ágil para Pequenos Sistemas), é descrito como sendo gerenciado pelo Scrum, adotando práticas XP e com fluxos organizados do Processo Unificado.
O processo constitui-se de três etapas representadas em raias no diagrama de atividades da figura 1: Planejamento, Desenvolvimento e Encerramento que possibilitam a iteratividade. Inicia-se com a fase de Planejamento, onde a equipe de desenvolvimento trabalha na captura de requisitos para definir o “Produto Total”. Os
recursos utilizados para esta atividade são reuniões, entrevistas com os clientes, questionários, entre outras, que
resultam em estórias de usuários podendo ser representados através de diagrama de casos de uso. Recomenda-se
se necessário a descrição dos cenários dos casos de uso mais complexos. Seguindo para a fase de Desenvolvimento, prioriza-se do Produto Total, uma funcionalidade ou pequenas funcionalidades, representadas por um ou
mais casos de uso. Essa funcionalidade deve ser desenvolvida em um período determinado, (aconselhável não
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mais que quatro semanas). A esse pequeno pacote com os casos de uso priorizados chama-se Funcionalidade
Priorizada, que é solucionada em um fluxo diário de projeto, implementação e teste, ou seja, executa-se o projeto, desenhando e detalhando as classes, implementa-se o código e testa-se a unidade funcional diariamente,
podendo este fluxo ser iterativo. Nesta fase utilizam-se os recursos do diagrama de seqüência da UML para definir atributos e métodos, obtendo-se um diagrama de classes de projeto.
Figura 1: Diagrama de atividades do P@PSI, com as fases definidas por raias.
As atividades desenvolvidas na fase de Encerramento incluem a revisão, demonstração e entrega da Funcionalidade Priorizadaao cliente. Neste ponto o processo retorna executando uma nova iteração com um novo
conjunto de funcionalidades priorizadas, criando um novo pacote,passando por todas as fases. Quando o Produto Total estiver finalizado o processo encerra-se.
O P@PSI está sendo utilizado pelos acadêmicos do Curso de Sistemas de Informação em seus trabalhos
de Conclusão de Curso, nos trabalhos de desenvolvimento das diversas disciplinas e nos trabalhos de Iniciação
Científica, contribuindo desta forma para aprimoramento do processo.
111
4.2 P@PSEduc – Processo Ágil para Software Educativo
No que se refere ao desenvolvimento de software educativo é importante que se tenha conhecimento das
principais teorias de aprendizagem além de conhecimento de técnicas da engenharia de software que facilitem a
produção do software com qualidade. Desta forma, tem-se a necessidade de trabalho colaborativo entre a área
tecnológica (engenharia de software) e a área psico-pedagógica. (BASSANI,2006). Oliveira et al (2004) aponta
4 (quatro) parâmetros que distinguem um software qualquer de um software educativo: fundamentação pedagógica, conteúdo, interação aluno-software educativo–professor e a programação. Nesta perspectiva, diversos
autores têm apresentado algumas propostas metodológicas para o processo de desenvolvimento de software
educativo. Entretanto, percebe-se que essas propostas tendem a contemplar aspectos educacionais e psicológicos, em detrimento dos aspectos computacionais, enfatizando o caráter descritivo.
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A proposta apresentada pelo GTA é uma adaptação do processo inicial P@PSI, atendendo os requisitos
para o desenvolvimento de um software educativo, com o principal objetivo de facilitar o trabalho interdisciplinar entre as duas áreas (pedagógica e técnica), especificando cada papel no decorrer do processo, bem como
sugerir os artefatos criados. Partindo-se deste cenário o P@PSEduc foi dividido em quatro fases, apresentadas
através do diagrama de atividades na figura 2.
Figura 2: Diagrama de atividades do P@PSEduc com suas fases definidas por raias.
112
Fase de Planejamento, onde é preciso considerar o produto a ser desenvolvido, definir os objetivos da
aprendizagem e requisitos do software, além de definir o escopo e o público alvo conforme Benitti(2005). É
preciso definir o tema, considerar as aplicações existentes e os recursos disponíveis. Fase de Modelagem - modelar um sistema é apresentá-lo em modelos gráficos com o objetivo de facilitar a compreensão, discussão e aprovação do sistema antes de começar a construí-lo. Uma aplicação que utiliza os recursos da hipermídia como a
maior parte dos software educativos, inclui a criação de três modelos –modelo conceitual, modelo navegacional
e modelo de interface. A Fase de Desenvolvimento inclui as atividades de produção, reutilização, organização e
integração das mídias. Cria-se os sons, as imagens, código, animações, vídeos e todo o recurso necessário para o
sistema. (GELLER, 2009). Esta fase é facilitada quando se utiliza um Sistema de Autoria que ofereça os recursos para integrar todas as mídias em uma estrutura interativa permitindo uma navegação lógica e intuitiva
(FALKEMBACH, 2005). Fase de Encerramento – neste ponto o software já está em funcionamento, testado e
corrigido. A equipe de desenvolvimento é responsável por confeccionar o manual do usuário e oferecer treinamento para todos aqueles que irão utilizar o sistema.
Este projeto iniciado em agosto de 2008 visa atender o desenvolvimento de um tipo peculiar de software,
os jogos eletrônicos. O desenvolvimento de um jogo eletrônico é um processo criativo e em vários pontos artístico, com fases semelhantes às de um software comum, porém processos convencionais de desenvolvimento, não
são adequados às necessidades desse tipo de projeto.(JUNIOR, 2002). No planejamento de jogos e simulações é
de vital importância definir e fixar os objetivos da atividade, a determinação do contexto desejado para a mesma,
a identificação dos recursos utilizáveis para se alcançar os objetivos finais e a determinação da seqüência de
interações, ou seja, uma fase de planejamento bastante criteriosa. A aprendizagem dos processos de desenvolvimento e da utilização das ferramentas necessárias é essencial para a evolução de um projeto de desenvolvimento
de jogos.(AMAZONAS, 2007).
O P@PGame tem sua base no P@PSI, com a união das melhores práticas das metodologias de desenvolvimento de games mais conhecidas no mercado, como o processo Cabal da Valve Software Valve (2007). A
estrutura do P@PGame é uma mescla das fases de Planejamento, Desenvolvimento e Encerramento do P@PSI
com o modelo de Game Design apresentado por Schuytema, (2008) e Perucia et al (2005). O processo está divido em três grandes fases, como mostra a figura 3: Pré-Produção, Produção e Pós-Produção.
O processo está sendo validado no desenvolvimento de um pequeno game, denominado Vivá (jogo para
evidenciar conceitos de ecologia e sustentabilidade), que encontra-se em sua fase de Produção. O projeto de
construção do jogo iniciou em outubro de 2009, com uma equipe liderada por acadêmicos do curso de sistemas
de informação do CEULS/ULBRA. Durante a fase de Pré-Produção todas as atividades foram realizadas, sendo
que após o Estudo de Viabilidade foram realizados brainstormings para produzir o Escopo do Jogo. A decisão
foi tomada a partir da análise do Roteiro que gerou o Documento de Design Inicial . Durante a atividade Priorização de Level da Fase de Produção, a equipe definiu que o game seria desenvolvido na mesma ordem cronológica do Roteiro, com isso, o I Capítulo está sendo desenvolvido. Após a atividade de Priorização de Level, iniciou-se a criação da arte conceitual dos personagens principais. No momento, os desenhistas trabalham na produção dos modelos conceituais dos personagens principais do 1º level, e o game designer está trabalhando no roteiro.
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.106-117 jan 2011
4.3 P@PGame – Processo Ágil para Games
4.3 P@PGame – Processo Ágil para Games
Este projeto iniciado em agosto de 2008 visa atender o desenvolvimento de um tipo peculiar de software,
os jogos eletrônicos. O desenvolvimento de um jogo eletrônico é um processo criativo e em vários pontos artístico, com fases semelhantes às de um software comum, porém processos convencionais de desenvolvimento, não
são adequados às necessidades desse tipo de projeto.(JUNIOR, 2002). No planejamento de jogos e simulações é
de vital importância definir e fixar os objetivos da atividade, a determinação do contexto desejado para a mesma,
a identificação dos recursos utilizáveis para se alcançar os objetivos finais e a determinação da seqüência de interações, ou seja, uma fase de planejamento bastante criteriosa. A aprendizagem dos processos de desenvolvimento e da utilização das ferramentas necessárias é essencial para a evolução de um projeto de desenvolvimento de
jogos.(AMAZONAS, 2007).
Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.106-117 jan 2011
O P@PGame tem sua base no P@PSI, com a união das melhores práticas das metodologias de desenvolvimento de games mais conhecidas no mercado, como o processo Cabal da Valve Software Valve (2007). A
estrutura do P@PGame é uma mescla das fases de Planejamento, Desenvolvimento e Encerramento do P@PSI
com o modelo de Game Design apresentado por Schuytema, (2008) e Perucia et al (2005). O processo está divido em três grandes fases, como mostra a figura 3: Pré-Produção, Produção e Pós-Produção.
Figura 3: Diagrama de atividades do P@PGame
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que a dificuldade de seguir um processo tradicional e definido tem sido um fator propulsor
de pesquisas para encontrar um meio termo entre o desenvolvimento caótico e a rigidez das regras da Engenharia de Software. A prática da customização entre processos já existentes é considerada uma disciplina na área de
desenvolvimento de sistemas.
Como identificado nos processos descritos anteriormente a caracterização de um processo se dá pela
intensidade de cada fluxo de trabalho dentro das fases que ocorre conforme as necessidades da aplicação. Assim
tem-se que a característica principal do P@PSIé a evidência da complementaridade entre Scrum, XP e Processo
Unificado. Enquanto XP não prevê análise de riscos, um sprint do Scrum ao ser organizado pelo fluxo do Processo Unificado analisa os riscos diariamente. As práticas do XP facilitam à equipe inexperiente o comportamento e relacionamento da equipe no dia a dia, como cliente presente, programação em pares, propriedade coletiva do código, reuniões em pé, integração diária, programação orientada por testes enquanto que a ordem dos
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fluxos dada pelo Processo Unificado orienta as tarefas na seqüência do tempo. A natureza gerencial do Scrum
possibilita a visão das atividades como um todo, fazendo com que a equipe trabalhe com um objetivo bem focado.
O P@PGame procurou criar uma forma de nortear o desenvolvimento de um produto mais artístico do
que sistemático. Isso se deu pela união dos conceitos de metodologias ágeis previstas no P@PSI e no
P@PSEduc com os conceitos de Game Design e a metodologia do Cabal Process. Observou-se que é possível
utilizar um processo com equipes inexperientes em desenvolvimento, porém é necessário que um acompanhamento das atividades seja realizado por um membro da equipe que tenha conhecimento dos princípios e práticas
da engenharia de software. Desta forma é que se pode documentar as práticas positivas e as dificuldades para
possíveis melhorias no processo. Também ficou claro que mesmo com um bom Game Designer conduzindo o
projeto, é necessário capacitar a equipe que deve ser guiada por um processo adaptado às necessidades deste tipo
de software.
A dificuldade de se trabalhar pela primeira vez com um processo situa-se principalmente no fato de que
não se tem histórico de experiências já realizadas e portanto é vital que se documente todo o processo com relato
das dificuldades encontradas e das facilidades produzidas pelas regras. Assim foram elaborados relatórios de
dificuldades encontradas em cada aplicação e conforme as necessidades os processos P@PSI, P@PSEduc e
P@PGame estão sendo melhorados. A aplicação dos processos com vários sistemas e equipes diversificadas
deve ser prática permanente do grupo – GTA, para que boas experiências possam ser reproduzidas, relatadas e
aperfeiçoadas a cada período. O Grupo de Trabalho Ágil espera com esta pesquisa encontrar não soluções, mas
experimentar práticas capazes de facilitar a solução para sistemas específicos, enriquecendo os relatórios sobre
as tentativas de customização de processos e de busca por recursos facilitadores para os engenheiros de software.
Como trabalhos futuros pretende-se utilizar os relatos de experiências com os processos, considerar as
dificuldades e pontos positivos e criar templates (modelo de documento) para facilitar a utilização do processo
como documentação dos sistemas criados.
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.106-117 jan 2011
No P@PSEduc tem-se um fluxo de levantamento de requisitos e análise bastante criterioso e extenso
colocando a Fase de Planejamento como uma das mais importantes, pois é nesta fase que a função da equipe
psico-pedagógica irá definir o conjunto de requisitos a serem cumpridos. Como em um software educativo se
utiliza muitas mídias já prontas e ferramentas facilitadoras, o fluxo de implementação inclui mais a integração
dessas mídias do que propriamente criação de código. A Fase de Encerramento do Processo para o software educativo tem como ponto principal o treinamento dos usuários, ou seja, a preparação dos professores, orientadores
pedagógicos, diretores de escolas, entre outros, para utilização correta do software, a fim de que ele alcance seus
objetivos reais.
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Normas Gerais:
1. A revista “Perspectiva Amazônica” publicará artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e
ensaios, desenvolvidos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa, que tenham caráter
científico, sejam inéditos e versem sobre qualquer área do conhecimento e preferencialmente que possuam alguma relação com a realidade Amazônica.
Perspectiva
Amazônica
- Santarém
v.1v.1
n.1
p.82-93
jul/dez
2010
Perspectiva
Amazônica
- Santarém
n.1
p.1-120
jan 2011
Artigo científico “é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos,
técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT. NBR 6022, 2003, p. 2). Os
artigos originais apresentam temas ou abordagens inéditas, ao passo que os artigos de revisão analisam e
discutem trabalhos já publicados sobre um determinado tema.
Resenhas são revisões críticas de livros e de publicações científicas ou de interesse científico, nacionais ou
estrangeiros. Uma resenha deve resumir, analisar, comparar e opinar sobre a obra em questão, constituindo
portanto contribuição teórica ou científica ao campo.
Relatos de caso são relatos de experiências vivenciadas adaptadas ao uso didático. Os relatos devem analisar a
situação em exame e propor questões para reflexão, contextualizando o caso dentro da área do conhecimento e
suas implicações nesta área.
Ensaios são opiniões aprofundadas obtidas através da análise de um assunto. São exposições objetivas, lógicas,
críticas e originais sobre determinado tema, pelo qual o autor pode transmitir informações e ideias.
2. Os trabalhos serão submetidos ao Conselho Editorial da revista que os encaminhará a dois Avaliadores
conforme área de conhecimento e disponibilidade, para que emitam o parecer favorável ou desfavorável à
publicação do artigo. O(s) avaliador(es), ao apreciar(em) o trabalho, não terá(ão) conhecimento de sua
autoria.
3. O encaminhamento do manuscrito deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores,
reafirmando que o material não foi publicado e nem está sendo submetido a outro periódico.
4. Ao enviar o trabalho para análise o(s) autor(es) concorda(m) com todos os termos das normas de publicação e abre(m) mão de qualquer ação com relação a estes. As Faculdades Integradas do Tapajós, o Conselho
Editorial e os Avaliadores da Revista “PERSPECTIVA AMAZÔNICA” não se responsabilizam, nem de
forma individual nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, que são de
inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).
5. As pesquisas que envolvam seres humanos ou animais devem apresentar na metodologia que os experimentos foram realizados em conformidade com a legislação vigente sobre o assunto adotada no país, de
preferência com prévia aprovação do Comitê de Ética correspondente.
6. Os Avaliadores podem aceitar ou não os trabalhos submetidos e, eventualmente, sugerir modificações
ao(s) autor(es), a fim de adequar os textos à publicação. Nesse sentido, só serão publicados os trabalhos que
recebam parecer favorável, e que tenham sido ajustados conforme indicação dos avaliadores.
7. Os trabalhos não aceitos para publicação ficarão à disposição do autor até três meses após a comunicação do resultado.
8.
Os autores terão direito a dois exemplares da revista na qual seu trabalho foi publicado.
9.
Os trabalhos serão aceitos em fluxo contínuo e caso aprovados publicados conforme a edição semestral.
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Normas específicas:
1. Na primeira página do arquivo deverá constar: a) título e subtítulo (se houver); b) autoria: nome completo
do(s) autor(es) na forma direta, acompanhados de um breve currículo¹ que o(s) qualifique na área do artigo; c)
órgão financiador (se houver); d) resumo e abstract (máximo de 200 palavras); e) palavras-chave (no mínimo
três);
2. O corpo do texto dos artigos originais deve apresentar, sempre que possível, a seguinte estrutura: a) introdução; b) fundamentação teórica; c) metodologia ou material e métodos; d) resultados; e) discussão; f) conclusões;
h) referências².
3. Nos artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios não será exigida a estrutura comum aos artigos
originais.
4. As referências devem ser apresentadas conforme norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), em ordem alfabética, com entrada pelo último sobrenome do (s) autor (es). Quando houver mais de um
trabalho do mesmo autor citado, deve-se seguir a ordem cronológica das publicações.
6.
As características técnicas dos trabalhos devem ser as seguintes:
a.
Editor de texto: Word 97 ou superior
b.
Fonte: Times New Roman, 12
c.
Espaçamento: 1,5 linhas
d.
Papel: A4
e.
Alinhamento: Justificado
f.
Margens: Superior: 3cm, Inferior: 3cm, Esquerda: 2cm, Direita: 2cm
g.
Extensão: De 08 a 20 páginas, incluindo a primeira página (título, autor, abstract, conforme
item 1.)
7. Os trabalhos deverão ser entregues com cópia digital (em cd ou e-mail) e duas cópias impressas, enviados
para:
Revista “PERSPECTIVA AMAZÔNICA”
Faculdades Integradas do Tapajós
Coordenação de Pesquisa e TCC
Rua Rosa Vermelha, 335 – Aeroporto Velho
68010-200
Santarém – Pará – Brasil
e-mail: [email protected]
¹O currículo deve aparecer em nota de rodapé e conter, de forma sintética, graus acadêmicos, filiação científica (Departamento, Instituto, Faculdade, Universidade, etc.), principal atividade profissional e o endereço de e-mail do(s) autor(es).
²Notas servem para explicações ou esclarecimentos e não se confundem com referência à fonte.
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Perspectiva Amazônica - Santarém v.1 n.1 p.1-120 jan 2011
5. As figuras e tabelas devem ser sempre em preto e branco, apresentadas em folha separada do texto e com
numeração específica para cada categoria, acompanhadas das legendas, créditos e fonte. As tabelas e figuras
devem ser executadas no mesmo programa usado na elaboração do texto.

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