v26 n1 art02 Manejo pratico
Transcrição
v26 n1 art02 Manejo pratico
ENTOMOLOGIA MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE DOS CITROS SANTIN GRAVENA1, SÉRGIO ROBERTO BENVENGA1, LUÍS CARLOS SOUZA AMORIM1, JOSÉ LUIZ DA SILVA1 e NILTON ARAUJO JUNIOR1 RESUMO O manejo prático da resistência a acaricidas do ácaro- daleprose, Brevipalpus phoenicis Geijskes (Acari: Tenuipalpidae) consiste na análise do histórico de tratamentos fitossanitários realizados no talhão cítrico e a recomendação de um acaricida com mecanismo de ação distinto ou a rotação de acordo com os casos de resistência cruzada ou múltipla. As características técnicas dos acaricidas registrados para a cultura são apresentadas neste artigo para consulta por parte de citricultores e técnicos. Em termos práticos, a recomendação do acaricida também pode ser realizada por meio de um bioensaio prático de laboratório, avaliando-se o índice de mortalidade de uma amostra da população do ácaro-da-leprose do talhão cítrico, previamente à aplicação. Garante-se, dessa forma, além do manejo da resistência, a recomendação de acaricidas com eficiência de controle comprovada sobre o respectivo alvo biológico. Os procedimentos detalhados de testes de rotina são descritos no artigo, para demonstrar a facilidade perante os resultados consistentes de modo a contribuir no sucesso do manejo dessa praga-chave na citricultura. Termos de indexação: Brevipalpus phoenicis, acaricidas, mecanismos de ação, controle integrado, controle químico. 1 Gravena - ManEcol Ltda. Rod. Dep. Cunha Bueno, km 221,5 - SP 253, Caixa Postal 546, 14870-990 Jaboticabal (SP). ARTIGO TÉCNICO 12 SANTIN GRAVENA et al. SUMMARY PRACTICAL MANAGEMENT OF THE CITRUS LEPROSIS MITE RESISTANCE, IN BRAZIL The resistance management of leprosis citrus mite, Brevipalpus phoenicis Geijskes (Acari: Tenuipalpidae) is based on the rotation technique, according to mechanisms of action mitecides and to the cases of crossed or multiple resistances. The technical characteristics of the main mitecides registered for citrus are shown in this article. The practical recommendation of the mitecide also can be done by a laboratory bioassay, evaluating the mortality rate of a population sample, previously to the application, guaranteeing both the resistance management and an effective recommendation on the respective biological target. The detailed procedures of this routine test are described in this paper, to demonstrate the easiness before the consistent results to contribute to the success of this key citrus pest management. Index terms: Brevipalpus phoenicis, mitecides, mechanisms of action, integrated management, chemical control. 1. INTRODUÇÃO O ácaro-da-leprose dos citros, Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Acari: Tenuipalpidae), é a praga de maior importância na citricultura brasileira, em se tratando de manejo, sobretudo em vista do elevado custo dos tratamentos fitossanitários, cerca de 60 milhões de dólares anuais, que, realizados de forma desordenada e como tática única de manejo, favorecem o desenvolvimento de populações resistentes a acaricidas. Além disso, os danos que causam por meio de transmissão do vírus da leprose dos citros contribuem para a redução da produtividade e, conseqüentemente, da rentabilidade da atividade citrícola. O controle químico do ácaro-da-leprose, como a única tática de manejo em pomares, intensifica o uso de acaricidas e inseticidas-acaricidas pelo citricultor e pode resultar em desequilíbrios biológicos pela drástica redução da população de ácaros predadores (Phytoseiidae e Stigmaeidae) e de insetos benéficos. É comum a constatação de que acaricidas de eficiência LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE... 13 comprovada deixam de tê-la, tornando as aplicações mais freqüentes do que o desejável, havendo pomares com média anual até de três aplicações por talhão. Contribuem para agravar esse desequilíbrio as aplicações sistemáticas de inseticidas (piretróides + fosforados) realizadas atualmente pelos citricultores para o controle de insetos-praga como as cigarrinhas transmissoras da clorose variegada dos citros (CVC), do bicho-furão e da cochonilha Ortézia, bem como de fungicidas (cúpricos + orgânicos) para a prevenção contra o cancro cítrico, a pinta-preta e a podridão-floral, entre outros, causando redução da incidência de insetos benéficos e fungos respectivamente, os quais controlam naturalmente muitas pragas dos citros. Um exemplo evidente é a ocorrência de surtos severos da cochonilha branca, Planococcus citri Risso (Hemíptera: Pseudococcidae), nos últimos quatro anos, em grande parte do parque citrícola paulista e do Triângulo Mineiro. 2. TALHÕES COM PROBLEMA DE CONTROLE Supondo-se que o citricultor esteja com um ou mais talhões apresentando sinais de dificuldade no controle do ácaro-da-leprose por determinado acaricida ou mistura de acaricidas, o primeiro passo recomendado para detectar as possíveis causas é definir, pelo menos, um dos talhões em dificuldade de controle. Na referida área, deve-se verificar o histórico de pulverizações, bem como as condições do pulverizador e do clima durante a pulverização que se mostrou ineficiente. Uma das atitudes de grande valia para determinar o que ocasionou a ineficiência é a realização de um bioensaio de laboratório, cujos procedimentos são apresentados na seqüência. Este ensaio pode ser realizado com o acaricida utilizado pelo citricultor, sendo importante separar um frasco do lote do produto, que também poderá ser destinado para outras pesquisas e análise química, quando necessário. 2.1 Coleta de amostra Por meio de bioensaios de laboratório de natureza prática, é possível diagnosticar a situação de um talhão onde o citricultor constata que a pulverização não surtiu o efeito esperado. LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 14 SANTIN GRAVENA et al. Para isso, alguns aspectos devem ser considerados pelo interessado, destacando-se, em primeiro lugar, a definição clara do problema pelo citricultor ou técnico e o fornecimento do histórico completo de pulverizações realizadas por um longo período no talhão. Atualmente, recomenda-se que esse período seja de, pelo menos, dois anos. Nessas informações, devem constar o nome comercial dos inseticidas, acaricidas e fungicidas utilizados, bem como as doses e o volume de calda aplicados por planta. Em segundo lugar, faz-se necessário seguir rigorosamente o procedimento de coleta e transporte da amostra a ser adotada no bioensaio, os quais são descritos a seguir. Recipiente de transporte: O acondicionamento de frutos infestados com o ácaro deve, preferencialmente, ser realizado em uma caixa de poliestireno (Isopor®) com tampa, refrigerada com gelo acondicionado em saco plástico vedado, depositado no fundo da caixa e isolado dos frutos por meio de uma camada de papel jornal. O número de frutos coletados deve variar em função da quantidade de bioensaios, bem como da infestação de ácaros no pomar, mas no interior da caixa de poliestireno o número deve ser suficiente para evitar que os frutos fiquem soltos, podendo danificar toda a amostra coletada. Nesses casos, uma quantidade maior de frutos deve ser intercalada em meio aos frutos infestados, ou sugere-se fazer o acondicionamento dos frutos em meio a bolas confeccionadas com papel jornal. Coleta de frutos no talhão-problema: Com o auxílio da lente de inspeção (10 aumentos), deve-se confirmar a presença do ácaro na fase adulta em cada fruto coletado e acondicioná-lo no interior da caixa de poliestireno conforme descrito. Para cada cada acaricida a ser testado no laboratório, são necessários 40 ácaros adultos, sendo esse número referencial para a definição do número de frutos a coletar. No laboratório, os ácaros devem ser distribuídos em quatro frutos, correspondendo às quatro repetições de cada acaricida para validade estatística dos dados de eficiência. O tratamento testemunha, somente com a aplicação de água, é necessário para avaliação da mortalidade natural do ácaro a utilizar para corrigir o cálculo da redução populacional ocasionada pelo acaricida. É usual o bioensaio com a referida população coletada no talhão-problema utilizando-se um acaricida com mecanismo distinto de ação, visando orientar o citricultor na possível rotação de acaricida com comprovada eficiência de controle. LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE... 15 Para avaliar a eficácia do acaricida do mesmo lote utilizado no talhão, quando há disponibilidade do produto desse lote pelo citricultor, procede-se ao bioensaio sobre uma população de ácaro-da-leprose mantida em criação laboratorial (criação-estoque), isenta de tratamentos químicos há, pelo menos, dois anos, seguindo-se o padrão descrito. Identificação do talhão e histórico de pulverizações: Identificar com etiqueta o material coletado, indicando o número do talhão, variedade e portaenxerto, idade e número de plantas; deve acompanhar a amostra o histórico das pulverizações de um período de, pelo menos, dois anos. Transporte: A caixa de poliestireno contendo os frutos infestados com ácaros do talhão problema deve ser transportado com todo o cuidado para o laboratório, onde será realizado o biensaio. Esses cuidados se referem à prevenção contra impactos bruscos, alta temperatura, contato com amostra de agrotóxicos e rapidez, ou seja, fazer a programação com o laboratório de modo que seja coletado e enviado, preferencialmente, no mesmo dia. 2.2 Bioensaio Os laboratórios credenciados a realizar serviços de bioensaios para ácaros provenientes de talhões com problema de eficácia de pulverizações devem apresentar certos procedimentos de rotina, sendo os principais os descritos a seguir. Preparo de frutos para o teste: Coletar frutos sem histórico de tratamentos fitossanitários com acaricidas e inseticidas, preferencialmente, com infecções de verrugose, para servirem de substrato ideal aos ácaros; lavá-los com esponja macia em água corrente para a retirada de impurezas e ácaros ou insetos presentes, secá-los à sombra e, finalmente, demarcar a área de confinamento dos ácaros a serem transferidos (arena), utilizando-se caneta para retroprojetor. Os frutos utilizados no teste devem ser mantidos em uma bandeja plástica com encaixes, para evitar a rolagem durante o período de avaliação. Aplicação dos produtos: Os frutos devidamente identificados com o número do tratamento e a letra da repetição devem ser imersos em 1 L da LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 16 SANTIN GRAVENA et al. calda acaricida na concentração recomendada pelo fabricante. É conveniente verificar o pH da água usada para o bioensaio e fazer as correções na calda acaricida, adequando-se ao recomendado na bula do acaricida em teste. Nos casos em que o bioensaio seja realizado com a água da propriedade solicitante, deve-se informar quanto à correção efetuada na data da aplicação em que fora detectado o insucesso do controle ou proceder ao teste laboratorial com o pH corrigido, sendo uma das exigências para a recomendação do acaricida. O recipiente utilizado para esse fim é um becker, havendo a permanência dos frutos sob imersão por 20 segundos. Imediatamente após, os frutos devem ser retirados e mantidos para secagem à sombra e, em seguida, a arena demarcada deve ser circulada com uma cola de adesivo permanente “stick”, com a finalidade de manter os ácaros confinados na referida área e facilitar as avaliações. Inoculação dos ácaros: Através da varredura manual dos frutos do talhão problema ou dos frutos provenientes da criação estoque, os ácaros devem ser retirados e depositados sobre uma placa de Petri de vidro (15 cm de diâmetro), mantida sob as lentes de um microscópio estereoscópico (lupa laboratorial). Em outro equipamento semelhante, deve-se distribur, em seqüência, os frutos do tratamento-testemunha e aqueles tratados com os diferentes acaricidas, respectivamente nessa ordem, e com o auxílio de um pincel com poucos fios inicia-se a transferência individual dos ácaros da placa de Petri para o centro da arena no total de 10 ácaros adultos por fruto (repetição). Avaliação da eficácia dos produtos: A avaliação do número de ácaros vivos, mortos e colados na delimitação da arena deve ser realizada diariamente e por, no máximo 10 dias, variando em função das características dos acaricidas utilizados do bioensaio. Avaliações superiores a esse período são descartadas para bioensaios de avaliação de mortalidade de adultos, sendo restritas aos testes de acaricidas com ação ovicida. Durante todo o período de avaliações, os frutos devem permanecer no interior de salas climatizadas, com temperatura controlada em 25 ± 2 ºC, umidade relativa em 70 ± 10% e fotofase de 12 horas. Os resultados são expressos em porcentagem, referindo-se ao índice de redução populacional em relação à testemunha. Os dados relativos ao número de ácaros que se dirigem para a cola, eventualmente, são analisados LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE... 17 separadamente e prestam-se para destacar o efeito de dispersão ou a ação desalojante dos acaricidas testados. 2.3. Exemplos de bioensaios 1o Caso: com um histórico de 16 meses sem tratamentos fitossanitários com acaricidas num talhão de laranja, mas com 11 aplicações de inseticidas piretróides nesse período, de forma preventiva, para o controle de cigarrinhas da CVC, optou-se pela pulverização da mistura de dicofol e hexythiazox quando a amostragem indicava nível de ação de 10% em fevereiro de 2004; não reduzindo a infestação do ácaro-da-leprose, decidiu-se pela realização do bioensaio em 23 de março de 2004, após cerca de um mês da aplicação. O resultado está na Tabela 1. 2o Caso: com um histórico de aplicações mensais de inseticida piretróide, durante o período de maturação dos frutos em talhão de tangerina com alta infestação do ácaro-da-leprose, decidiu-se pela aplicação do acaricida dicofol para evitar sua migração pelo vento em direção a um talhão de laranja recémTabela 1. Bioensaio prático para monitoramento da resistência aos acaricidas dicofol + hexythiazox em mistura e cyhexatin sobre o ácaro-da-leprose, Brevipalpus phoenicis, proveniente de talhão de laranja, Citrus sinensis, com alta freqüência de aplicação de inseticidas piretróides para o controle de cigarrinhas da CVC (exemplo 1). Teste de eficiência desses produtos sobre o ácaro-da-leprose da criação estoque da Gravena ManEcol Ltda. Jaboticabal, 2004 Acaricidas Procedência dos ácaros Dicofol + Savey Pomar da Fazenda (11 aplicações de inseticidas piretróides) Cyhexatin Dicofol + Savey Cyhexatin Pomar da Gravena (criação estoque para fins de bioensaios) Dose (2000 L) Eficiência (4 dias após a inoculação) 1,5 L + 30 g 3% 1,0 L 100% 1,5 L + 30 g 1,0 L 71% 100% LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 18 SANTIN GRAVENA et al. transplantado; sendo inexpressiva a redução populacional do ácaro nos frutos e ramos da tangerina após a aplicação do acaricida, optou-se por analisar o caso de insucesso através de bioensaio, cujo resultado está na Tabela 2. Nos dois casos, a aplicação de piretróide para controle de outras pragas dos citros pode ter resultado no desenvolvimento de resistência cruzada e/ou múltipla no ácaro-da-leprose ao dicofol. A explicação é que tanto o dicofol como os piretróides têm compostos derivados do DDT, portanto, com mecanismos de ação similares, embora não atuem necessariamente no mesmo sítio de ação para causar a mortalidade do ácaro. O dicofol atua como inibidor de elétrons na mitocôndria e os piretróides agem como moduladores dos canais de sódio do axônio do sistema nervoso do ácaro. A partir desses bioensaios, está sendo possível orientar os citricultores para melhor manejo de resistência em seus pomares. Além disso, como se observa nas Tabelas 1 e 2, o biensaio prático pode ser útil na indicação de melhores produtos para o citricultor aplicar no talhão analisado. Tabela 2. Bioensaio prático para monitoramento da resistência aos acaricidas sobre o ácaro-da-leprose, Brevipalpus phoenicis, proveniente de talhão de tangerina, Citrus reticulata, com alta freqüência de aplicação de inseticidas piretróides para o controle de moscas-das-frutas (Exemplo 2o Teste de eficiência desses produtos sobre o ácaroda-leprose da criação estoque da Gravena ManEcol Ltda. Jaboticabal, 2004 Dose Eficiência (2 dias após a inoculação) Procedência dos acaricidas Procedência dos ácaros Dicofol (Fazenda) Pomar da Fazenda Pomar da Gravena 1,5 L 12% 100% Propargite (Gravena)1 Cyhexatin (Gravena)1 Pomar da Fazenda 1,0 L 1,0 L 95% 100% 1 (2.000 L) Produtos do estoque da Gravena ManEcol Ltda utilizados como contraprova (ácaros criados em pomar sem alguma aplicação de produto fitossanitário por, pelo menos, 12 anos). Passa-se a abordar a seguir a prevenção de resistência do ácaro-da-leprose em pomares cítricos. LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE... 19 3. DEFINIÇÃO DE RESISTÊNCIA Segundo GEORGHIOU & MELLON (1983), uma população de insetos é considerada resistente quando sua resposta a um inseticida em condições de campo ou em bioensaios diminui significativamente aquém da sua resposta normal. Pela Organização Mundial de Saúde, resistência é o desenvolvimento de uma habilidade, numa linhagem de um organismo, de tolerar doses de tóxicos letais para a maioria da população normal (suscetível) da mesma espécie (OMOTO, 1995). Para GEORGHIOU & TAYLOR, 1977a,b), os fatores que afetam a evolução da resistência são divididos em genéticos (número de genes envolvidos, dominância e expressividade da resistência), bioecológicos (características do ácaro ou inseto) e operacionais (características do produto químico e da sua aplicação). Uma população pode desenvolver resistência cruzada contra dois produtos diferentes, mas próximos quimicamente, quando um deles causa seleção para um mecanismo de desintoxicação comum a ambos. Resistência múltipla é quando a seleção é causada separadamente contra mecanismos de desintoxicação diferentes entre produtos químicos não relacionados (FRENCH et al., 1992). Múltipla ou cruzada, o fato é que ocorreu resistência do ácaro-da-leprose ao acaricida dicofol, selecionado por piretróide. É mais provável que seja múltipla, isto é, pode ser ocasional, pois, esse tipo de resistência tem mecanismos governados por genes distintos, ao contrário da resistência cruzada, que é governada por um único gene. 4. PROCESSO DA RESISTÊNCIA Para que o citricultor entenda o processo da resistência e defina um programa de prevenção, são apresentadas as Figuras 1 e 2, embasadas nas indicações do IRAC-BR (Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas, folheto) (GLOBAL PEST RESISTANCE MANAGEMENT SUMMER INSTITUTE, 1995). Na Figura 1, é simulada uma situação A, em que uma população de ácaros-da-leprose supostamente nunca recebeu agrotóxico algum. Sabe-se que, na natureza, toda população de insetos ou ácaros apresenta uma proporção naturalmente resistente, sem nunca ter sido submetida a nenhum tratamento fitossanitário. Partindo-se, portanto, da premissa de que apenas 10% da população seja naturalmente resistente (ácaro ilustrado em cor preta), reiniciam-se LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 Figura 1. Simulação de seleção de indivíduos resistentes em população inicial de ácaros-da-leprose suscetível. (Situação A: Com acaricidas de mesmo mecanismo de ação). Fonte: Folheto do Boletim IRAC-BR. 20 SANTIN GRAVENA et al. LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 Figura 2. Simulação de seleção de indivíduos resistentes em população inicial de ácaros-da-leprose suscetível. (Situação B: Com rotação de acaricidas de mecanismos de ação distintos). Fonte: Folheto do Boletim IRAC-BR. MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE... 21 LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 22 SANTIN GRAVENA et al. as aplicações de um acaricida de mesmo grupo químico ou mecanismo de ação semelhante. Verifica-se que, após cada aplicação, eleva-se a proporção de indivíduos resistentes. Pela simulação, o controle passa a ser totalmente ineficiente com três aplicações, pois ocorre seleção de indivíduos resistentes ao(s) referido(s) acaricida(s). Na Figura 2 simula-se uma situação B, em que o citricultor rotaciona o acaricida ou o mecanismo de ação a partir da primeira aplicação, sobre uma população de ácaros-da-leprose supostamente igual à verificada no início da situação A. Nesse caso, não foi favorecida a seleção de indivíduos resistentes após a segunda aplicação e espera-se que o período de controle do ácaro-da--leprose seja semelhante entre as aplicações, excluindo-se as demais variáveis que influenciam a eficácia de controle. Com isso, o citricultor estará contribuindo para o manejo da resistência do ácaro-da-leprose, bem como escolhendo melhor os produtos mais eficazes, obtendo, assim, redução nos custos de produção e preservando a longevidade das moléculas dos acaricidas registrados para a cultura. 5. MANEJO PRÁTICO DE RESISTÊNCIA Na tomada de decisão de pulverização para o controle do ácaro-da-leprose, o citricultor ou técnico deve analisar o histórico de pulverização no talhão e optar pela rotação de acaricidas de grupos químicos e mecanismos de ação distintos e que não apresentem resistência cruzada e/ou múltipla. Para tanto, o Quadro 1 constitui boa referência para a escolha dos acaricidas a utilizar em rotação ou mistura de produtos. Associada a essa indicação, o uso de bioensaios práticos para a escolha de produtos eficientes para o manejo do ácaro em cada talhão constitui boa estratégia para assegurar a eficiência do manejo da resistência e redução de gastos com aplicações ineficientes. Um fator que também contribui para o sucesso do controle do ácaro-da-leprose diz respeito ao hábito do citricultor em analisar, diariamente, as fichas de inspeção de pragas elaboradas pela equipe de inspetores capacitada no assunto, e decidir pela pulverização no dia seguinte em que for constatado índice de infestação do ácaro superior ao referencial de controle (nível de ação). Desse modo, evitam-se incrementos populacionais despercebidos e a tomada de decisão de controle sob altas infestações, o que torna o alvo LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 MANEJO PRÁTICO DA RESISTÊNCIA DO ÁCARO-DA-LEPROSE... 23 ���������������������������������������������������� �� ������������������������������������������������������������������������������ �������������������������������������������������������������������������� ������������� �������������������������� ������������������������ ������������������������ ���������������������� ���������������� ������������������ �������������� e piretróides ������������� ���������� ������������������� ��������������������������� ������ ������������������������������� ����������������������������������� ������������������������������������ �������������� ������������������������������������ �������������������������������������� ������������������������������ �������� ����������������������������������� ��������� ������������������������� ���������������������������������������� �������������������������������������� ���������� ����������������������� ����������� ���������������������������������� �������������������� ���������������������� ���������������� �������������������������� ��������������� ������������������� �������������������������������������� �������������������������������������� ������������������ ����������� ������������������� ������������������������������������� ������������������������������������� ������ ������������� ��������� ������������� �������������������������� ������������������ ������������������� ������������ ������������������������������������� ��������������������������������� ������������������������������������ ������������������� ��������������� ���������������� ����������������������������������� ��������������������������������������� neurotransmissor ����������������������������� comportamental ������������������������������������ ������������������������� ��������� �������� ������������������������������������ ������������������������������������� �������� LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005 �������������������������������������������������� 24 SANTIN GRAVENA et al. biológico muito disperso nas diversas partes da planta. A boa regulagem do equipamento de pulverização e a observação das características técnicas dos produtos são fatores importantes ou essenciais para o manejo do ácaro-da-leprose. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRENCH, N.M.; HEIM, D.C. & KENNEDY, G.G. Insecticide resistance patterns among Colorado potato beetle, Leptinotarsa decemlineata (Say) (Coleoptera: Chryso-melidae), populations in North Carolina. Pesticide Science, v.36, p.95100, 1992. GEORGHIOU, G.P. & MELLON, R.B. Pesticide resistance in time and space. In: GEORGHIOU, G.P. & SAITO, T. Pest resistance to pesticides. Plenum Press: New York, 1983. p.1-46. GEORGHIOU, G.P. & TAYLOR, C.E. Genetic and biological influences in the evolution of insecticide resistance. J. Econ. Entomol., n.70, p.319-323, 1977a. GEORGHIOU, G.P. & TAYLOR, C.E. Operational influences in the evolution of insecticide resistance. J. Econ. Entomol., n.70, p.653-658, 1977b. GLOBAL PEST RESISTANCE MANAGEMENT SUMMER INSTITUTE. Michigan State University, East Lansing, Mich.; July 5-14, p.2, 9-12, 73-82, 96-97, 113-121, 1995. OMOTO, C. Manejo de resistência de ácaros e insetos aos produtos químicos na citricultura. Laranja, Cordeirópolis, v.16, n.1, p.187-208, 1995. OMOTO, C. Modo de ação de inseticidas e resistência de insetos a inseticidas. In: GUEDES, J.C.; COSTA, I.D. & CASTIGLIONI, E. (Ed.). Bases e técnicas do manejo de insetos. Santa Maria: UFSM/CCR/DFS. Pallotti. 2000. p.31-49. LARANJA, Cordeirópolis, v.25, n.2, p.11-24, 2005