Entrevista SEW EURODRIVE - Industrial Robotics LAB

Transcrição

Entrevista SEW EURODRIVE - Industrial Robotics LAB
NTREVISTA
SEW Eurodrive SEW EEurodrive
................................................................................................................................................................................................................................
ENTREVISTA
SEW Eurodrive
O serviço em sobreposição
ao produto
“Um estudo de mercado concluiu
que o mercado português já
justificava o investimento numa
unidade da SEW.” É com estas
palavras que Fernando Lopes
Barroso, gerente da SEW Eurodrive
Portugal, explica o aparecimento da
empresa no nosso país, em 1990.
R i c a r d o
B r a g a * ........
A presença da SEW Eurodrive em Portugal responde,
segundo ele, “a uma estratégia elaborada pela SEW
(grupo empresarial alemão fundado em 1931) que passa pela entrada num mercado, com equipas locais, a
partir do momento que este o justifica”.
“Com o sistema modular (produção centralizada de
componentes modulares) conseguimos configurar
localmente a solução que mais se aproxime dos requisitos específicos do cliente, satisfazendo as suas
necessidades”, refere Fernando Lopes Barroso, a
propósito da filosofia adoptada pela SEW Eurodrive, na sua estratégia de internacionalização.
Ainda assim, o responsável da SEW Eurodrive Portugal tem bem claras as razões do sucesso da
empresa em terras lusas. “Se há uma coisa em que
a SEW foi inovadora foi em ter-se posicionado no
mercado português como parceira dos construtores de máquinas. A SEW faz equipa com os parceiros e não é um mero fornecedor. Não encontramos
soluções numa perspectiva imediatista, mas numa
perspectiva de futuro”, adianta.
A escolha da zona Centro (E. N. 234 Mealhada-Luso)
para a localização deste Estabelecimento de Montagem e respectivos escritórios em território nacional
teve essencialmente a ver com questões de logística.
A proximidade do IP5 e a saída da auto-estrada A1
tiveram uma importância decisiva nesta escolha, da
mesma forma que a proximidade da Universidade de
Coimbra tornou a Mealhada num lugar apetecível, já
90
R O B Ó T I C A
que, como nos diz
o gerente da SEW
Eurodrive Portugal,
“procuramos aproximar-nos de um
centro universitário,
até para nos facilitar
o recrutamento dos
nossos técnicos”.
Da experiência do
serviço ao conhecimento universitário.
A revista ROBÓTICA tem procurado dar a conhecer a realidade da indústria da automação em Portugal, por esse
facto, o seu director, J. Norberto Pires, falou com Fernando Lopes Barroso, gerente da SEW Eurodrive Portugal.
Uma conversa que abarca desde a metodologia de actuação da empresa no mercado português até temas tão sensíveis como a formação.
Norberto Pires – Que tipo de posicionamento é
que a SEW adopta no mercado português, conhecendo como conhece os seus concorrentes
mais directos?
Fernando Lopes Barroso – A nossa posição no mercado é
sustentada por um forte investimento em instalações, equipamentos e meios humanos. A SEW, ao longo destes dez
anos, tem investido seriamente nestas vertentes.
Na SEW costumamos dizer que o serviço é talvez até mais
importante que o produto, e isso é algo que nos distingue
em termos de mercado.
Esta aposta em meios humanos, nomeadamente na equipa que contacta os clientes, tem permitido que alcancemos taxas de crescimento elevadas. A nossa taxa média
de crescimento é da ordem dos 30 por cento ao ano.
Uma vez que atingimos uma posição de liderança, queremos continuar a ter uma atitude muito orientada para
os clientes.
Posicionamo-nos sempre como parceiros dos construtores de máquinas, é nesse segmento que fazemos toda a
nossa aposta. Setenta por cento do nosso volume de negócios é feito com os construtores de máquinas.
N.P. – E em relação ao cliente final?
F.L.B. – Ao estarmos mais voltados para os construtores
de máquinas isso não significa que o cliente final não seja
muito importante para nós. Como é óbvio, damos-lhes a
I I I
t r i m e s t r e
2 0 0 0
n .
o
4 0 / 4 1
SEW Eurodrive
mesma atenção
que damos aos
construtores de
máquinas. Contudo, apostamos na
parceria com os
construtores de
máquinas, no sentido de que encontrassem um motorizador credível e válido, capaz de lhes
trazer alguma satisfação às suas próprias necessidades.
Disponibilizamos apoio técnico na pré-venda, na selecção
de accionamentos e nos cálculos, além disso, temos uma
capacidade de resposta rápida e flexível, com curtos prazos de entrega, e podemos alterar o produto adaptandoo às situações que o projecto justificar. Para além de tudo
isto, temos ainda o serviço após-vendas, que dá o apoio
necessário durante e após o período de garantia.
N.P. – Se um construtor de máquinas estivesse à
procura de um fornecedor nesta área, que tipo
de serviço é que a SEW poderia oferecer que levasse esse construtor a optar pelos vossos produtos e não a escolher outros mais ou menos
equivalentes?
F.L.B. – Reconheço que ao nível do produto cada vez há
menos diferenças, ainda assim, a SEW tem uma gama muito
completa. Temos desde o pequeno redutor, e estamos a
falar das aplicações mais simples, até às aplicações mais
complicadas, ao nível da potência. O que significa que a
SEW tem, de alguma maneira, um posicionamento de fornecedor da solução completa.
Ao nível do produto temos alguma importância, embora
reconheça que o produto em si possa não constituir uma
grande diferença em comparação com a concorrência.
Apesar de tudo, sabemos que mesmo os líderes da electrónica não têm a solução completa, têm uma qualidade
A melhor de 2000
A nova fábrica de electrónica da SEW Eurodrive, na
Alemanha, foi contemplada com o título de “Melhor
Fábrica Alemã 2000”.
A produtividade, a flexibilidade e a orientação para o
cliente serviram de molde a este centro de produção
de accionamentos electrónicos.
Desta nova unidade de produção tem resultado um
significativo aumento da produtividade e da qualidade
dos produtos electrónicos.
Escolhida como “The Best Plant 2000” de um universo de 22 fábricas concorrentes, a SEW Eurodrive encara agora o futuro com capacidade para enfrentar
novos desafios.
I I I
t r i m e s t r e
2 0 0 0
n .
o
4 0 / 4 1
ENTREVISTA
reconhecida, mas
não têm essa
possibilidade.
Somos rápidos
como fornecedores de produtos e,
no nosso mercado, os prazos de
entrega têm uma
importância muito grande. Podemos fazer as adaptações
e alterações necessárias a posteriori, sejam elas de potência, de binário, ou até da própria configuração. Temos
essa capacidade de corrigir o projecto, o que é muito
importante.
O nosso Serviço de Engenharia serve de apoio ao construtor de máquinas, de maneira a que a procura da solução
técnico-económica, feita em conjunto com o nosso cliente,
seja a mais adequada.
Temos ainda o serviço Help Desk que, via telefone, fax ou
e-mail, dá apoio aos nossos clientes em tudo o que se
relaciona com a resolução de problemas técnicos ligados
com a parte electrónica, electromecânica, variação e controlo de velocidade, assim como, no esclarecimento de
dúvidas técnicas, redes de bus de campo, identificação de
avarias, manutenção, sobressalentes. Também dispomos
de uma banca de simulação onde fazemos testes de software e hardware de acordo com aquilo que estudamos
com os clientes.
Temos um Serviço Móvel de Manutenção com capacidade
de intervenção ao nível da manutenção, seja preventiva,
seja correctiva. Encarregamo-nos da inventariação técnica de todos os equipamentos, fazendo a sua classificação
por estado, e disponibilizamos um Serviço de Emergência
que garante um contacto com clientes e utilizadores durante 24 horas, 365 dias por ano.
Este tipo de apoio torna-se interessante para os construtores de máquinas, dado que têm a possibilidade de venderem um equipamento que tem uma garantia acrescida,
mesmo em termos do mercado de exportação.
N.P. – Dá a ideia de que, uma vez escolhida, a
SEW é para toda a vida. Pelo menos, enquanto o
motor existir? Por um lado, o fabricante de máquinas tem um produto de qualidade e, por outro, oferece uma garantia ao cliente final, que
lhe é dada por um grande grupo industrial como
é o caso da SEW, o que faz do vosso serviço
algo inovador?
F.L.B. – Sim. Apesar do produto ser bom, por si só não
marcaria a diferença. O serviço é o valor acrescentado
dos nossos produtos em relação à concorrência, que dispõe de produtos de qualidade muito semelhante.
Há ainda um aspecto muito importante e muito característico na SEW. O grupo está implantado com estabelecimentos de montagem em todos os países industrializados mantendo equipas nacionais. Segundo a filosofia da empresa,
os elementos da organização que vivem e conhecem a
cultura local, são os que melhor se adaptam àquele mercado. Uma equipa alemã em Portugal não faria o mesmo que
R O B Ó T I C A
91
SEW Eurodrive
faz uma equipa portuguesa.
Para quem escolhe um equipamento, ter uma representação local é um factor decisivo.
N.P. – Quando escolheram a zona centro para erguer as instalações da SEW fizeram-no por estarem próximos de um pólo universitário, como a
Universidade de Coimbra. Já que utilizam a U.C.
para irem recrutar técnicos, como é que vêem a
evolução dos cursos da universidade nesta área?
F.L.B. – Quando escolhemos a localização, sabíamos que tínhamos de investir nos recursos humanos, e que era mais
fácil fazê-lo estando perto da U.C. Para nos situarmos em Lisboa ou no
Porto, que também têm
pólos universitários, teríamos de fazer maiores
investimentos.
Há dez anos, os técnicos
que procurámos recrutar
na U.C. tinham poucos
conhecimentos de electrónica de potência, fossem eles
engenheiros mecânicos, ou engenheiros electrónicos.
Sem ter certezas e um conhecimento profundo da matéria, penso que a universidade vive um pouco isolada e
não tem bem a noção do que é a indústria. Os técnicos
que saem da universidade trazem uma formação prática muito reduzida, que nós tentamos compensar através de uma formação intensiva que fazemos, quer aqui,
quer na Alemanha. Investimos em muitas horas de formação.
N.P. – Quando precisa de um técnico o que é que
vai procurar? Um engenheiro electrotécnico?
F.L.B. – Temos engenheiros mecânicos e electrotécnicos.
N . P. – D á - l h e s a m e s m a f u n ç ã o d e n t r o d a
empresa?
A formação que ministramos, até um determinado nível, é
geral, tanto na parte electromecânica, como na electrónica.
Por exemplo, os nossos técnico-comerciais são certificados internamente, e podem dar assistência até um determinado nível, tanto faz que sejam engenheiros mecânicos
como electrotécnicos.
Relativamente a este assunto, o próprio grupo considera
que as empresas, para além da sua vocação comercial,
devem colaborar com as universidades. É uma orientação
sobre aquilo que pensamos ser uma função das empresas. Temos sempre uma grande disponibilidade para colaborar com as universidades, mas creio que as universidades também têm de se esforçar por fazer o mesmo.
A SEW tem, inclusivamente, um prémio. É um prémio que
atribuímos anualmente a professores e alunos, tendo em
conta a actividade curricular e os seus trabalhos científicos. Este ano, atribuímos o prémio a Georges Henriot.
92
R O B Ó T I C A
ENTREVISTA
Preocupámo-nos em seleccionar uma pessoa que tivesse
a componente académica e a componente industrial, como
no caso do Henriot.
Em Portugal temos uma tradição metalomecânica muito
grande, pelo que o curso de engenharia mecânica ainda é
visto na óptica da metalomecânica. São duas áreas completamente distintas, em que eventualmente tem de haver um tronco comum, mas em que a universidade tem
de identificar perfeitamente o que é a área da mecânica
e o que é a área da metalomecânica. Isto exige que a
universidade se preocupe em preparar técnicos para
as duas vertentes.
Quando digo mecânica, se calhar, actualmente, devia dizer
mais mecatrónica que mecânica. Hoje, um engenheiro mecânico é um integrador, pelo que, provavelmente, é mais
correcto falar de engenharia mecatrónica do que de engenharia mecânica.
N.P. – Sendo responsável por uma empresa que
é líder no mercado e que tem este posicionamento em relação aos fabricantes de máquinas,
como é que pensa que esta área vai evoluir nos
próximos anos? Acha que o mercado da automação industrial, da construção de máquinas e
dos accionamentos vai evoluir ou vai-se manter
como está?
F.L.B. – De uma maneira geral, creio que o tecido industrial
português ainda carece de grandes investimentos. No entanto, nos próximos anos os quadros comunitários de apoio
vão gerar, ainda, grandes oportunidades em toda a área
dos bens de equipamentos e da automação, com novos
investimentos para o aumento de capacidade, de modernização e de produtividade.
A Fundação SEW Eurodrive concedeu
o prémio Ernst-Bickle a Georges Henriot
Conhecido como o “Mestre Francês dos Redutores”, Henriot foi distinguido com o prémio ErnstBickle pelo impacto científico e prático dos seus
trabalhos no domínio das engrenagens e redutores. Os importantes trabalhos técnico-científicos
de Henriot, no campo da engenharia dos accionamentos mecânicos e na tecnologia das engrenagens, podem ser hoje encontrados sob a forma de livros e normas de divulgação mundial.
Todos os anos, esta fundação recompensa uma
série de trabalhos científicos realizados por estudantes universitários. Desde a sua criação em
1989, o Prémio Ernst-Bickle tem laureado cientistas
de todo o mundo, promovendo o aprofundamento
e o desenvolvimento dos conhecimentos científicos nos domínios técnico e económico.
I I I
t r i m e s t r e
2 0 0 0
n .
o
4 0 / 4 1

Documentos relacionados