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Anuncio ANÚNCIO REDE DE CREDENCIADOS 2 CAPA Anuncio ANÚNCIO REDE DE CREDENCIADOS EXPEDIENTE 04 Vida Associativa 07 PrevDow, rumo aos 100% de adesão Entrevista com Patrícia Cosentino 13 Novo estágio em governança de investimentos Tema inaugural demonstra que o sistema é responsável e avança em qualidade de gestão, sendo uma resposta à ideia equivocada de “grandes rombos” divulgada na mídia 21 Holanda introduz os Fundos de Pensão Gerais Desenho oferece uma alternativa de baixo custo para fundações que buscam economia ou cogitam transferir seus passivos para companhias seguradoras 29 Ano XXXV - Número 405 Julho/Agosto 2016 FUNDOS DE PENSÃO Revista da ABRAPP / ICSS / SINDAPP Editora Flávia Pereira da Silva Reg. Profissional nº 0035080/RJ Apesar das dificuldades, a nova obrigação deixará como legado a integração entre as diversas áreas das EFPC: contabilidade, benefícios, seguridade e governança 35 43 Núcleo de Comercialização Abrapp Telefone: (11) 3031-2317/7313 Endereço Av. Nações Unidas, 12.551 – 20o andar World Trade Center - Brooklin Novo CEP 04578-903 – São Paulo, Capital 47 2 RESERVADO PARA SELO FSC FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Províncias canadenses revisam regras de solvência Especialistas e reguladores discutem o relaxamento das regras trinta anos após a introdução dos primeiros padrões de fundeamento para os planos privados 55 NTN-B’s longas: de olho no risco Artigo de Emílio Carvalhais 59 Qualificação e certificação mais adequadas à realidade das EFPC A atuação do supervisor está alinhada à necessidade de aprimoramento dos processos, mas são necessários ajustes que privilegiem uma visão mais estratégica 65 Compartilhamento de riscos ganha sugestões de aprimoramento A principal preocupação é que o modelo a ser aprovado prime pela simplicidade, sem qualquer excesso burocrático que possa comprometer a contratação www.portaldosfundosdepensao.org.br Impressão Intergraf Ind. Gráfica Eireli Expectativa de posicionamento estratégico do CNPC Sob o ponto de vista prático, o primeiro passo é a definição da composição efetiva do colegiado a partir da anexação do ministério da Previdência pela Fazenda Redação [email protected] Publicidade: Abrapp Atende (11) 3043-8783 (11) 3043-8784 (11) 3043-8785 (11) 3043-8787 (11) 3043-8739 E-mail: [email protected] Alocação de ativos e maus hábitos Artigo de Andrew Ang, Amit Goyal e Antti Ilmanen Programação visual e Capa Virgínia Carraca Colaboradores Débora Diniz, Martha Elizabeth Corazza E-Financeira propicia integração e visibilidade de informações 70 A marcação pela curva e a necessidade de aprimoramento da educação financeira e previdenciária Artigo de Ronnie Gonzaga Tavares 79 Consolidado Estatístico Diretor-Presidente José Ribeiro Pena Neto Diretores Executivos Regional Centro-Norte Dante Daniel Giacomelli Scolari Regional Leste Guilherme Velloso Leão Nairam Félix de Barros Regional Nordeste Jussara Carvalho Salustiano Liane Câmara Matoso Chacon Regional Sudeste Luiz Carlos Cotta Milton Luis de Araújo Leobons Regional Sudoeste Luis Ricardo Marcondes Martins Luiz Paulo Brasizza Regional Sul Celso Ribeiro de Souza Luis Alexandre Ribeiro Cure Conselho Deliberativo Presidente Gueitiro Matsuo Genso Vice-presidente Reginaldo José Camilo 1º Secretário Silvio Renato Rangel Silveira 2a Secretária Regidia Alvina Frantz Conselho Fiscal Presidente Wellington Silveira apresentada no Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, em setembro. O tema inicial é Governança de Investimentos. O novo código veio para reforçar o que muitos já sabem: as fundações registram avanços expressivos na qualidade da gestão, tendo demonstrado preocupação cada vez maior com controles internos e transparência, embora desvios de conduta isolados possam ocorrer em todas as indústrias, no Brasil ou no exterior. Em nossa matéria de capa trazemos a versão preliminar do CARTA DA EDITORA F oi concluído o primeiro código de autorregulação da Previdência Complementar fechada, cuja versão final será código, que ainda poderá sofrer ajustes pontuais, e a visão de especialistas, que são unanimes em afirmar que a iniciativa, inspirada em outras entidades de classe, trará inúmeros benefícios, passando a balizar procedimentos e condutas. Destacamos também as sugestões de aprimoramento para a minuta de IN que detalha a operacionalização dos mecanismos de compartilhamento de riscos entre seguradoras e fundos de pensão. Já bastante disseminadas em outras partes do mundo, algumas coberturas de risco ainda inexistem no Brasil; no entanto, tudo leva a crer que caminhamos para um consenso que tende a favorecer todos os envolvidos, restando apenas verificar, agora, as condições em que tais contratos serão ofertados. Foco de preocupação, conforme apurado na presente edição, é a estagnação dos trabalhos no âmbito do órgão regulador (CNPC), que ainda não se reuniu em 2016. Com a absorção do Presidente Vitor Paulo Camargo Gonçalves Diretores Carlos Frederico Aires Duque Liége Oliveira Ayub Conselho Fiscal Presidente Wellington Silveira Ministério da Previdência pela Fazenda, há dúvidas sobre como ficará a própria composição do conselho, cujos mandatos estão prestes a expirar. A boa notícia é que com criatividade e comunicação efetiva é possível alcançar excelentes resultados. Esse é justamente o caso da PrevDow, que comemora a adesão de nada menos que 95% dos funcionários da Dow Chemical, sua patrocinadora. Um “trabalho de formiguinha” e conscientização que pode Diretora-Presidente Nélia Maria de Campos Pozzi Vice-Presidente Jarbas Antonio de Biagi Diretores Carlos Alberto Pereira José Luiz Costa Taborda Rauen Marcos Moreira Maria Isolda Paurá Jardelino da Costa Conselho Fiscal Presidente Luiz Celso Ferreira Lemos servir de inspiração para outras empresas e fundações. A partir desta edição teremos uma nova seção, logo no início da revista, batizada de “Vida Associativa”, onde serão disponibilizadas, de forma resumida, informações sobre a atuação da Abrapp nas mais variadas frentes. Boa leitura! A editora 3 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 VIDA ASSOCIATIVA Fique por dentro das AÇÕES e POSICIONAMENTOS da sua Associação PLANO DE FOMENTO DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR Amplo e ambicioso, como a relevância da questão demanda, o Plano já foi aprovado pelo Conselho Deliberativo da Abrapp. A proposta foi produzida por nossos consultores e equipe interna, tendo sido estruturada em cinco focos direcionadores agrupados em três grandes pilares: Estudos, Pesquisas e Pareceres; Comunicação e Marketing; e Imprensa. O objetivo é transformar ideias em ações concretas. Para tal, foi proposto pelo Conselho à AGE a dotação, por parte das associadas, de contribuição extraordinária em parcela única correspondente a uma mensalidade. Esse é o 1º passo e, a partir dele, seguirá, nos próximos meses, a construção do projeto de negócio contemplando estruturação operacional e financeira, assim como métricas e metas de resultados a serem atingidos. 4 AGENDA CNPC Temos trabalhado para que o CNPC, que ainda não se reuniu em 2016, volte a atuar efetivamente. A expectativa é que o regulador assuma um posicionamento mais estratégico daqui para frente. Na página 43 você encontra maiores detalhes sobre uma possível pauta de trabalho para o órgão regulador - em linha com os anseios do sistema. CÓDIGO DE AUTORREGULAÇÃO EM GOVERNANÇA DE INVESTIMENTOS Já aprovado por diferentes instâncias e objeto de audiência pública, o código deve ser lançado no 37º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão. Para saber mais sobre o tema, leia a nossa matéria de capa, na página 13. INICIATIVAS JURÍDICAS Amicus Curiae na ADI impetrada pelo PSOL com objetivo de preservar o conceito da adesão automática A Abrapp foi admitida como amicus curiae junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) contra a figura da “inscrição automática”. Após a publicação da decisão, a Associação teve dez dias úteis para se manifestar. A Funpresp-Exe e a Funpresp-Jud informaram que também ingressarão no processo, e a Previc estuda a possibilidade após sugestão do Comitê de Fundos de Pensão dos Servidores Públicos da Abrapp. Amicus Curiae em processo sobre Reflexo de Condenações Trabalhistas na justiça comum em razão de modulação O Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu, no dia 12.04, que passa a valer o que está escrito no regulamento vigente na data de iní- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 cio do pagamento do benefício pelo fundo de pensão, incluindo as alterações feitas no contrato entre os momentos da contratação e da aposentadoria. A Abrapp, por meio de escritório de advocacia contratado, atuou como amicus curiae, elaborou e entregou memoriais e fez a sustentação oral na sessão do TST. A decisão alcança cerca de 55 mil processos que tramitam no Tribunal, mas estavam sobrestados aguardando esse julgamento que, ao nosso ver, é mais uma importante vitória para o sistema. Em decorrência da modulação dos efeitos do novo entendimento, não poderá ser aplicada a nova redação do verbete aos recursos julgados pelo TST nos quais já tenha havido a aplicação da antiga redação da Súmula 288. Para primeira e segunda instâncias (varas do Trabalho e TRTs), e também para os recursos ainda pendentes de julgamento no próprio TST, o novo entendimento passa a valer imediatamente. Conforme previsto em nosso Planejamento Estratégico 2014 - 2016, foi aplicada uma pesquisa de satisfação ao quadro associativo com o auxílio do Instituto Ibero Brasileiro de Relacionamento com o Cliente (IBRC), responsável pelo reconhecido Ranking Exame de Atendimento ao Cliente. A Abrapp foi muito bem avaliada, atingindo 93% de satisfação geral espontânea. Apesar do bom resultado, buscamos aprofundar a pesquisa de modo a identificar fraquezas e oportunidades, tanto para a manutenção dos resultados quanto para o alcance dos 7% de insatisfeitos. A pesquisa nos abriu um leque de oportunidades ao mostrar que há aspectos específicos para os quais temos espaço para aprimoramentos. Nesse sentido, desde julho, já foram colocadas em práticas as primeiras ações do plano de fortalecimento da relação associativa, criado a partir dos resultados identificados. Agradecemos mais uma vez às entidades participantes da pesquisa pela confiança e oportunidade. RELACIONAMENTO INSTITUCIONAL Em busca de um maior alinhamento e envolvimento dos atores pertinentes em prol do fomento, estivemos reunidos com Casa Civil, Anapar e Apep. Na pauta o PLP 268, a retomada dos trabalhos do regulador CNPC - e discussão de possíveis temas - e a revisão mais ambiciosa do modelo previdenciário brasileiro que, sob o nosso ponto de vista, deve prever o fortalecimento da Previdência Complementar de forma a beneficiar um número maior de trabalhadores e a própria economia, que sofre com a escassez de recursos para investimento. VIDA ASSOCIATIVA FORTALECIMENTO DO RELACIONAMENTO ASSOCIATIVO ANÚNCIO BIBLIOTECA DIGITAL 5 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - SINDAPP ENTREVISTA PATRÍCIA COSENTINO PREVDOW, RUMO AOS 100% DE ADESÃO C om um universo total de 3.707 participantes ativos, vinculados, assistidos e autopatrocinados e um patrimônio de R$ 1,6 bilhão (em maio passado), a PrevDow atingiu uma taxa de adesão de 95% entre os trabalhadores de suas patrocinadoras, as empresas do grupo Dow Chemical no Brasil. A meta agora é buscar os 100% por meio de estratégias que valorizam sobretudo a educação, os serviços e a comunicação. Pesquisas de mapeamento que buscam compreender o comportamento das pessoas que compõem seu público-alvo, comunicação individual e um esforço permanente de educação financeira e previdenciária fazem parte do dia a dia da fundação, que completou 25 anos de existência em 2015. O maior desafio enfrentado ao longo dessa história tem um foco específico: como lidar com um conjunto de participantes e de candidatos a participantes 7 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 ENTREVISTA | Patrícia Cosentino 8 de diferentes perfis profissionais e etários de modo a fazer um diagnóstico preciso de suas diferentes características e demandas? Além da contrapartida da empresa, que é de 150% nas contribuições básica e suplementar (13ª contribuição) sobre o valor de investimento do participante, os juros cobrados nos empréstimos aos participantes (em torno de 1% ao mês) são revertidos para o próprio plano de previdência. E quando o participante investe o bônus anual no plano PrevDow, ele conta com um incremento das patrocinadoras, que é de 50% do valor escolhido, limitado a 3,5% do valor total do bônus. Diante de tudo isso, chegar aos 100% de adesão é um desafio complexo, porém possível de ser conquistado, acredita Patrícia Cosentino, líder de Compensação e Benefícios da Dow e diretora da PrevDow. Nesta entrevista exclusiva, ela fala sobre a experiência do alcance à adesão integral. mente 75%, passando para cerca de 83% em 2013, quando decidimos fazer uma pesquisa junto aos não participantes que aumentou o ritmo de crescimento na adesão. Como foi obtido o patamar de O que foi feito para aplicar 95% de adesão? Houve um trabalho específico de uma ou mais áreas dentro da fundação ou da patrocinadora? esse conceito na prática? Patrícia Cosentino - A PrevDow, em seus 25 anos, sempre registrou uma taxa elevada de adesão, em parte por conta do matching de contribuição em que as patrocinadoras entram com 150%, portanto bastante atrativo, e pelo fato de ter sido uma das entidades pioneiras em Previdência Complementar fechada no Brasil, focada num grande esforço para tentar compreender as demandas apresentadas pelos funcionários. O objetivo é descobrir os motivos pelos quais eles tomam a decisão de aderir ou não ao plano e identificar os fatores que impedem os 100% de adesão mesmo com um matching tão atraente. Em 2009, o percentual de adesão era de aproximada- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Quais foram as respostas a essa pesquisa e como elas foram tratadas? Patrícia Cosentino - Vieram respostas diversas, ou seja, não havia uma razão específica. As pessoas apontavam questões como a falta de detalhamento nas informações sobre as contribuições ou diziam que as contribuições não cabiam no orçamento pessoal. Logo, não foi possível identificar um aspecto único. Então veio a decisão de fazer um mapeamento de ações destinadas especialmente a essa população sob um ponto de vista diferente; a ideia era aprender a “pensar fora da caixa” para descobrir o que estava havendo, já que as pessoas não compreendiam a vantagem de uma contrapartida de 150% pela empresa. Patrícia Cosentino - Identificamos as duas plantas da Dow, em São Paulo, em que havia uma população maior de trabalhadores descobertos pelo plano e passamos a implementar um projeto de comunicação que procurava falar diretamente a eles. Foi contratado um ator que percorria todos os andares vestido de maneira informal, como se fosse um aposentado com boa qualidade de vida que estivesse circulando por ali, tranquilo, para passar uma imagem de futuro. Essa escolha foi feita porque eram populações muito jovens, gente que não conseguia visualizar o seu futuro na aposentadoria, então esse personagem ajudou a fixar uma imagem próxima ao que eles seriam dentro de algumas décadas. Foi surpreendente E quais foram os outros passos nessa estratégia? Patrícia Cosentino - Começamos, ao mesmo tempo, a trabalhar uma outra frente, procurando o apoio das lideranças nas plantas para identificar os funcionários de suas equipes que demandavam uma abordagem mais próxima. Os gestores, quase em sua totalidade, são participantes do plano, e passaram a fazer essa abordagem abrangente junto aos líderes, sempre com o cuidado necessário e num cenário de inclusão das pessoas que não pode, de modo algum, ser mandatório. Havia o cuidado de não deixar que isso parecesse uma ação impositiva, já que a opção é sempre voluntária, mas com um viés de orientação. Havia líderes nos vários departamentos que ainda não eram participantes, então passamos a repetir essa abordagem em cada departamento para começar a discutir a questão previdenciária de modo mais próximo às pessoas porque há uma fragilidade muito grande em educação financeira e previdenciária no Brasil. Aproveitávamos reuniões dos times de cada área para incluir alguém que pudesse falar sobre previdência, criando um “momento prev” e isso ajudou a produzir todo esse incremento de 2013 para cá. Como está sendo mantido esse trabalho? Patrícia Cosentino - Não se trata de uma ação pontual, mas de um conjunto de iniciativas. As ações, com exceção daquela específica em SP, com a presença do ator, são voltadas para todas as plantas da Dow e para profissionais de todos os perfis. Todo funcionário passa pelo programa de integração quando chega à empresa, mas agora não é somente a equipe de previdência que faz essa orientação porque todos os meses há uma sessão de integração especialmente voltada para o assunto previdência. Além disso, continuamos com as palestras nas reuniões dos times e, a cada seis meses, fazemos uma análise dos não participantes e preparamos um comunicado específico para eles. Existem duas frentes de ações segmentadas. Uma delas é para quem ainda não ingressou no plano, para saber por que ainda não entrou e mostrar quanto teria ganhado se estivesse no plano durante esse período. A segunda frente é para aqueles que suspenderam a participação por algum motivo. Além disso, lembramos aos participantes que eles poderiam chegar ao teto máximo se optassem por fazer uma contribuição voluntária acima daquela que têm hoje. São várias ações coordenadas, sempre ressaltando a contrapartida vantajosa da empresa. ENTREVISTA verificar que o pessoal que teria maiores condições de acesso a informações sobre educação financeira e previdenciária, um público jovem trabalhando em centro de serviços e escritório central em São Paulo, era justamente o que apresentava menor adesão. Ao mesmo tempo, foram criados folders direcionados a esse público. Esse foi um primeiro movimento a partir do qual a adesão começou a crescer de maneira mais significativa. A área de comunicação, portanto, tem sido um fator central para o crescimento? Patrícia Cosentino - Sim, a construção dessa área foi fundamental. No website lançamos o programa “Fale com a Diretoria” em que as pessoas podem questionar os diretores, via e-mail, e receber respostas pelo mesmo canal; é uma maneira de permitir a participação de todos na comunicação com a maior transparência possível. Essa proximi- 9 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 ENTREVISTA | Patrícia Cosentino 10 dade é muito importante, as pessoas têm que se sentir participantes mesmo, recebem um jornal em linguagem acessível e reformulamos todo o relatório anual para oferecer também uma versão mais simples e objetiva. Qual é a estrutura de comunicação e como ela interage com as demandas do plano? Patrícia Cosentino - Na área de comunicação somos todos voluntários, temos cargos na Dow e acumulamos o trabalho na PrevDow, no meu caso com dois funcionários dedicados. Em 2015, lançamos o programa de educação financeira e previdenciária, aberto a todos, e estamos agora com um plano de comunicação mais estruturado. Uma pesquisa de satisfação dos participantes, feita também em 2015, mostrou quais eram as debilidades do atendimento no website e trabalhamos para adotar melhorias e descobrir para onde direcionar esforços. Vale lembrar que a PrevDow acaba de criar um perfil de investimentos mais conservador – já havia o perfil moderado – e estimulamos os participantes a entrarem no website, centralizando tudo no portal para que eles tenham maior acesso a todas as informações, inclusive ao simulador, porque a ideia é cultivar mais o hábito de fazer simulações, algo que confere maior transparência e permite visualizar melhor as diferentes situações. Havia um desenho para criar um terceiro perfil de investimentos, mais agressivo, mas desaceleramos o projeto porque as pesquisas feitas mostraram que os participantes receavam a volatilidade dos mercados, e o momento do País não estimula esse perfil. Quais as próximas ações já planejadas? FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Patrícia Cosentino - Uma delas é o programa Poupa Tempo, que integra o projeto de educação financeira. Vamos às plantas mais remotas da empresa e, durante um dia de atendimento integral, levamos aos funcionários informações sobre questões financeiras e atendemos a demandas variadas, como, por exemplo, explicar como podem atualizar seus dados no plano, aumentar a contribuição, o que fazer para começar a receber o benefício, alterar sua senha no portal, etc. A primeira sessão Poupa Tempo acontece em agosto, na Bahia, e a segunda está programada para novembro, em São Paulo. Vamos abordar todas as populações com atendimentos diferenciados de acordo com as demandas de cada uma delas. O conceito é ter alguém disponível, nesse canal do Poupa Tempo, para responder a todas as questões, trazendo inclusive os inativos para que eles criem o hábito de estarem próximos da PrevDow. Outra ação de comunicação foi a adoção de um novo aplicativo, o MyPush, uma plataforma de comunicação que deve contribuir para melhorar essa proximidade entre os participantes e o plano. No momento, por exemplo, estamos em campanha para aumentar a faixa de contribuição, e esse aplicativo é uma ferramenta importante. O objetivo é trazer sempre alertas sobre assuntos que são do interesse das pessoas e que ajudem a manter essa proximidade. Como são tratadas as novas populações de funcionários originadas por operações de aquisições da patrocinadora? Patrícia Cosentino - A ideia é consolidar cada vez mais a estrutura da PrevDow até porque no início tínhamos um desenho elaborado para uma determinada dimen- Três anos depois da pesquisa feita em 2013, o que mudou nas razões alegadas pelos não participantes? Patrícia Cosentino - Hoje faltam apenas cinco pontos percentuais para atingirmos a meta dos 100%, mas as razões continuam as mesmas: as pessoas alegam que a contribuição não cabe no orçamento, elas ainda têm dificuldade para compreender a importância de um plano de Previdência Complementar, outros dizem que optaram por um plano aberto. Um fator que leva a isso também é a dificuldade que o empregado tem de enxergar sua longevidade dentro da empresa, e quando isso acontece ele pode optar por poupar de outro modo. Há profissionais que trabalham há 15 anos e ainda não enxergaram esse valor da contrapartida, é um comportamento difícil de ser compreendido diante do que ele está perdendo financeiramente. A estratégia, nesses casos, é continuar a fazer um trabalho de formiguinha, um corpo a corpo com aqueles que cada um conhece melhor, trabalhar individualmente para compreender comportamentos e também para reforçar, junto aos jovens, que o futuro é agora. ENTREVISTA são do negócio, mas houve uma ampliação de valor, o patrimônio chegou a R$ 1,6 bilhão, e também a crescente necessidade de harmonização dos planos. A Dow comprou outra empresa há aproximadamente seis anos e trouxemos essas pessoas para dentro do nosso plano. Agora foi incorporada outra empresa que já tem dois planos distintos com um percentual de adesão em torno de 80%, e no momento estamos trabalhando para avaliar como fazer essa harmonização. anúncio calendário de obrigações 11 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - UNIABRAPP Autorregulação Novo estágio em governança de investimentos Tema inaugural demonstra que o sistema é responsável e avança em qualidade de gestão, sendo uma resposta à ideia equivocada de “grandes rombos” divulgada na mídia POR MARTHA ELIZABETH CORAZZA A autorregulação dos fundos de pensão brasileiros, projeto que pretende tornar mais robusta a governança das Entidades Fechadas de Previdência Complementar por meio do estímulo a iniciativas voluntárias de reforço às práticas previs- tas pela legislação e pela regulação do setor, começa a ser construída a partir do Código de Autorregulação em Governança de Investimentos, cuja minuta entrou em audiência pública. O texto final do Código, que será apresentado durante o 37º Con- 13 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Autorregulação 14 em seus estágios iniciais, mas é “taylor gresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, made”, pois atende às demandas específiem setembro, é uma primeira resposta do cas das EFPC. O fato de seguir um modelo sistema à sociedade brasileira diante das inclusivo, voluntário e evolutivo replica o dúvidas formuladas recentemente a rescase da Anbima (na época, Anbid), recopeito da qualidade da gestão de investinhecido no mercado como um bem sucementos nas EFPC. dido exemplo de autorregulação. “Esse é o primeiro passo na construção de um projeto muito amplo no qual Selo de qualidade a Comissão Mista de Autorregulação trabalha há quase dois anos; é um passo peA minuta do Código foi aprovaqueno, porém muito importante”, afirma da unanimemente pelos diretores da o coordenador da Comissão, José Luiz Abrapp, Sindapp e ICSS, assim como o Taborda Rauen. A escolha do tema da goconteúdo do regimento interno do Convernança de investimentos como etapa selho de Autorregulação. “Estamos neste inaugural do projeto tem motivação clara: momento construindo um primeiro pi“Era preciso mostrar que o sistema é malar nesse caminho, que é o da supervisão duro e convive num ambiente associativo indireta dos fundos de pensão por meio responsável que tem produzido expressida certificação de processos”, comenta vos avanços em governança e qualidade Rauen. As EFPC que aderirem ao Códide gestão, uma resposta para congo poderão, se quiserem, passar trapor à ideia equivocada de por um crivo, uma auditoria “grandes rombos” que é de processos promovida O modelo muitas vezes divulgapelo Conselho e, sendo inclusivo, da pela mídia”, expliaprovadas, terão dica Rauen. reito a um selo de voluntário e evolutivo “A decisão requalidade com vareflete o case da Anbima, fletiu a necessilidade por três dade de construir anos. reconhecido no mercado um primeiro passo A adesão e o como um bem sucedido que trouxesse beneselo de qualidade exemplo de fícios imediatos do são duas coisas seponto de vista da separadas e nem todas autorregulação gurança, transparência as entidades aderentes e visibilidade”, acrescenta o serão necessariamente caneconomista e consultor Luiz Caladidatas ao selo. Começará em sedo, da Andato Metodologia, que prestou guida a segunda etapa, da supervisão consultoria durante todo o processo de direta nas entidades e, finalmente, na terelaboração do Código. ceira fase, será criado um conselho para É crucial que o primeiro passo vá na emitir opiniões técnicas sobre questões de interesse de todo o sistema. Não havedireção certa e, para isso, foi importante rá custos para quem aderir, a não ser no compreender os projetos da Anbima, da caso da auditoria para conferir o selo de Febraban e do Conar; o Código do sistequalidade, cujo custo será de competênma se aproxima de outras experiências FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Autorregulação cia da entidade interessada em passar por com a intenção de ter uma autorregulaesse crivo. ção que funcione em perfeita cooperação “Esse é um passo enorme para o com segmentos importantes do mercado, sistema. A adesão das entidades ao Cóuma vez que o objetivo é equalizar o tipo digo pode trazer um novo estágio de gode informação disponível sobre a gestão vernança aos investimentos, com maior dos fundos de pensão, reduzir incertezas transparência e condutas mais éticas, e contribuir para aumentar a confiança profissionalização da gestão e da goverdos diversos agentes. nança acima do que exige a leCom isso, espera-se favoregislação”, pondera o diretor cer igualmente todos os parda Abrapp responsável ticipantes do mercado e, pela Comissão Técniao mesmo tempo, torAs entidades ca Nacional de Invesnar mais difícil a vida poderão passar timentos, Guilherme de quem se beneficiou, Velloso Leão. no passado, com a falpor uma auditoria de Outra expectata de informações claprocessos; se aprovadas, tiva importante dos ras e transparentes. receberão um selo fundos de pensão é “Estamos trabalhande que, aos poucos, a do em sintonia com a de qualidade autorregulação ajude a Previc, que manteve um criar um parâmetro balizarepresentante no Grupo de dor para o órgão supervisor, Trabalho que tratou do Códidentro do conceito da Supervisão go; depois de aprovado o texto final e Baseada em Risco. “A gestão de investilançado o Código, teremos quebrado a rementos não é dissociada do passivo dos sistência inicial ao projeto, uma resistência planos, o que significa que sua melhor natural a tudo que é novo”, diz Rauen. governança contribuirá para o fortaleciEle lembra que o selo de qualidade mento das entidades”, avalia Leão. Ao não é uma “licença para matar”, ou seja, aprimorar o relacionamento com todas as casos de fraudes e comportamentos antipartes envolvidas na gestão, deve-se taméticos podem ter sua percepção de risco bém obter uma redução do risco de conmitigada, mas não serão resolvidos por flitos de interesses, mitigando riscos de um selo, mesmo porque uma entidade fraudes e falta de transparência. pode reunir todas as condições de certificação e ainda assim apresentar problemas Conselho e legitimidade originados por casos específicos de comportamento antiético. Com a autorregulaA ideia de conferir selos surgiu para ção, porém, cai o risco de contágio entre dar legitimidade aos processos das EFPC as entidades diante de eventuais problea partir de um Conselho formado por sete mas, pois diminui a chance de contamientidades: as três associações que represennação que poderia ocorrer se houvesse tam os fundos de pensão (Abrapp, Sindapp quebra de confiança sistêmica. e ICSS) além de instituições de mercado Essa redução do risco de contágio é que guardam relação com o tema. A preuma característica comum aos diversos sença de entidades externas é coerente 15 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Autorregulação 16 processos de autorregulação, como os do mercado de investimentos, bancos e outros já consolidados. “A autorregulação vai fortalecer a credibilidade do sistema de Previdência Complementar fechada, o que é essencial para o fomento”, analisa Leão. Modelo enxuto Enxuto, o Código de Autorregulação em Governança de Investimentos traz apenas nove artigos. Seu coração está no art. 3º, que trata das obrigações das entidades aderentes, abordando em nove incisos temas como a estrutura da governança, segregação de funções e critérios de seleção Efeito conjunto e monitoramento de gestores, gestão de A busca por maior transparência e meriscos e outros itens considerados essenlhor governança é uma tendência clara que ciais para a qualidade da governança dos tem sido acentuada em todo o mercado investimentos. “Outra característica imde capitais e de investimentos brasileiro, portante é ser um código inclusivo por ser assim como no segmento de Previdênrepresentativo de entidades de qualquer cia Complementar fechada, com medidas tamanho e tipo”, lembra Rauen. alinhadas às melhores práticas de goverAntes de entrar em audiência públinança internacionais. “O Guia Previc, os ca, a lista de obrigações assim como todo vários Códigos de Autorregulação da Ano Código foram discutidos com as Comisbima, a recém-anunciada reforma do Novo sões Técnicas Nacionais de InvestimenMercado na BM&FBovespa e o Cótos e de Governança da Abrapp, digo de Stewardship da AssoO explica Guilherme Leão. “O ciação de Investidores no processo foi muito bem código dará Mercado de Capitais conduzido pela Covisibilidade à forma (Amec) são mostras missão Mista e pelo claras dessa evolucomo as obrigações grupo especial de ção”, sublinha o restrabalho que tratou são administradas pelos ponsável pela CTN da governança dos de Investimentos. fundos, um termômetro investimentos, enO mercado tão não houve surimportante, já que os de capitais procupresas, o Código processos internos de ra instrumentos que está amplo e demofortaleçam sua gogestão ainda são pouco crático e respeita portes vernança e os gestores e características.” conhecidos precisam encontrar uma A partir de sua ediestrutura mais sólida para dar ção terá início um processo de segurança a todos os agentes de inadequação das entidades aderentes que vestimento. “Isso deve dar maior seguranajudará a dar visibilidade às diversas ça para toda a gestão de recursos no País, obrigações e como elas são administradas maior segurança ao poupador brasileiro, dentro de cada EFPC. “Será interessanfortalecendo, portanto, a formação de te descobrir se as entidades estão prepapoupança interna, que é a base do sistema radas para cumprir com essas obrigações de Previdência Complementar fechada”, e o que falta a cada uma delas”, observa destaca Leão. FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Autorregulação o diretor da CTN de Investimentos. Ele gestores do setor financeiro “porque uma coisa alimenta a outra”. acredita que esse processo funcionará O Código foi idealizado em meio a como um termômetro importante porque um contexto de proposições legais (PLS não há hoje conhecimento detalhado dos 388 e 78/2015, atual PLP 268/2016) que processos internos de gestão: “Será um buscam instituir regras claras para a gesperíodo de aprendizado e melhoria, printão de investimentos, observou a cipalmente para as EFPC de porte equipe da Previ por meio de pequeno e médio”. sua assessoria. A entidade O grande Na CASFAM, entidaesteve envolvida em todo de de Previdência Combenefício da o processo de discussão plementar do sistema autorregulação é o do tema por meio do FIEMG (Federação das Grupo de Trabalho que aperfeiçoamento do Indústrias do Estado de Minas Gerais), da arcabouço normativo do preparou a proposta inicial do Código, tenqual Leão é presidente, sistema sob a ótica dos do participado também os tópicos listados pelo da aprovação da minuta que o vivenciam Código já estão sendo anano Conselho Deliberativo da lisados. “Vamos apurar como Abrapp. “A iniciativa poderá poderemos melhorar os critérios colaborar para o aperfeiçoamento das de seleção de gestores e custodiantes, por práticas de governança de investimentos, exemplo, descobrir se há o que melhoredução de riscos e desenvolvimento susrar; vai ser um ótimo exercício de reflexão tentável da Previdência Complementar fepara todos nós.” chada no Brasil.” Um dos pontos centrais do art. 3º é De acordo com essa análise, os prino inciso II, com a exigência de que a enticípios e obrigações incluídos no Código dade tenha uma política de limites de alpermitirão às EFPC signatárias partirem çada de investimentos e defina quem são de patamares elevados na gestão de seus os responsáveis pela aprovação desses investimentos e controle dos riscos eninvestimentos. Além disso, há a exigênvolvidos. “A elevação das exigências terá cia de uma estrutura de governança que como efeito a maior confiança nas práticas tenha atribuições de cada órgão ligado à internas das entidades para a tomada de decisão de investimentos, assim como a decisão.” Segundo a Previ, as obrigações necessidade de evidenciar a segregação previstas informam conteúdos mínimos de funções e o monitoramento de gestores que permitem aos fundos de pensão uma e custodiantes. “Tudo isso será verificado atuação mais equânime em sua goverquando houver a visita do grupo que irá nança. A expectativa, portanto, é de que avaliar eventuais falhas nas exigências”, a observância dos princípios e obrigações observa Leão. Ele acredita que, além de beneficie todo o sistema ao elevar e uniinduzir a uma maior transparência e claformizar as exigências de gestão do patrireza dos controles, esse esforço devemônio dos fundos. rá levar, pelo próprio porte do sistema, Sob o ponto de vista da fundação, o grande benefício da autorregulação é ter também à maior profissionalização dos 17 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Autorregulação 18 o arcabouço normativo aperfeiçoado pelos especialistas do sistema, que vivenciam e têm maior ciência das necessidades das entidades. das entidades, sejam elas aderentes ou não, porque as regras passam a ser públicas.” Entre os aspectos positivos mais relevantes, Araújo cita o inciso V do art. 2º que determina “não praticar atos que posBalizando práticas sam comprometer a relação fiduciária com os participantes, assistidos, patrocinadores, Todas as obrigações são igualmente instituidores, sociedade civil e todas as deimportantes, acredita Luiz Calado, embora mais partes interessadas”. Em sua opinião, ele destaque a exigência da política de limiesse é um ganho muito grande porque a retes de alçada como um fator essencial para lação fiduciária com os participantes já está observar a existência de eventuais discrena Resolução CMN 3.792, mas faltava inpâncias. A definição clara das atribuições cluir os patrocinadores. de cada órgão ligado à decisão de investiEmbora o Código já mencione a adementos é outro ponto relevante para evitar quação de acordo com o porte de cada problemas. EFPC, aponta o consultor da TAG, “o ideNa avaliação do consultor responsáal seria detalhar certos pontos para simplivel pelo relacionamento com investidoficar a vida das entidades que terceirizam res institucionais da TAG Investimentos, toda a sua gestão, até porque o órgão suLauro Araújo, a simples publicação do pervisor costuma tratar todos como se fosCódigo já é em si positiva porque todas as sem iguais”. Ele cita, por exemplo, o entidades - aderentes ou não - pocaso da seleção de gestores e derão usá-lo como balizador custodiantes, que poderia para repensar suas práti“Os conselheiros ter regras específicas para cas. “Ele deve ser incluganharão força as gestões totalmente ído nos treinamentos, terceirizadas. especialmente dos para solicitar mudanças A intenção é que conselheiros fiscais, na estrutura de governança o Código avance perque poderão assim manentemente e não compreender medas EFPC, sejam elas se cristalize no temlhor a estrutura de aderentes ou não, porque po, o que permitirá governança das entias regras serão absorver todas as modades em que atuam.” dificações e atualizações Os integrantes dos públicas” necessárias. “As exigências conselhos e particularpara essa fase inicial já assegumente os conselheiros fiscais, ram um claro aumento na segurança, que podem encontrar dificuldades depois virão outros passos”, diz Calado. A para ler os relatórios das carteiras de inevolução gradual e contínua é fundamenvestimentos, e muitas vezes reclamam do tal em autorregulação. O amplo debate que excesso de informações e de dados confuprecedeu a elaboração da minuta permisos, sairão ganhando com a publicação do te esperar apenas pequenos ajustes e não Código, observa Araújo. “Com o Código grandes alterações durante a consulta púeles ganharão força para solicitar eventublica, acredita o consultor. ais mudanças na estrutura de governança FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 A EFPC, respeitada a sua forma, estrutura e porte deve implementar as melhores práticas de governança de investimentos, atendendo as seguintes obrigações: I. Apresentar a estrutura de governança com as atribuições de cada órgão relacionado à decisão de investimentos, explicitando regras tais como: composição mínima de comitês ou semelhantes, periodicidade de reuniões e situações que possam demandar convocações extraordinárias, bem como sua formalização e os documentos comprobatórios. II. Possuir política de limites de alçada de investimentos, definindo os responsáveis pela aprovação de investimentos. III. Explicitar na política de investimentos as etapas dos processos de gestão e monitoramento de investimentos e a formulação da alocação estratégica de ativos, considerando as características de cada plano de benefícios. IV. Esclarecer na política de investimentos os estudos técnicos que fundamentam as macroalocações de investimentos por classes de ativos. V. Apresentar de que forma os limites prudenciais são estabelecidos em consonância com as obrigações previdenciárias, visando aferir os impactos na solvência (benefício definido), o atendimento de expectativas (contribuição definida) e Plano de Gestão Administrativa. como metodologia aplicada, ferramentas utilizadas e frequência de acompanhamento destes gestores. As etapas do processo de seleção e monitoramento deverão: a) estar vinculadas a estrutura de governança e aos limites de alçada definidos nos critérios anteriores (de acordo com os incisos I e II); b) Contemplar, na análise qualitativa de seleção e monitoramento, a verificação de idoneidade, credibilidade, existência de conflitos de interesses, histórico do gestor, composição de equipe, governança, portfólio de clientes, dentre outros aspectos; e c) Estipular penalidades para quebras de SLAs e frustração dos objetivos da gestão. Autorregulação A lista das obrigações VIII.Apresentar política de gestão de riscos contendo os principais riscos identificados na gestão de investimentos e o seu processo de monitoramento e mitigação de perdas financeiras e danos de imagem, devendo conter, no mínimo: a) descrição dos limites de exposição aos riscos e os órgãos competentes para sua avaliação; b) ferramentas utilizadas no monitoramento; c) periodicidade e forma de diligência para avaliar aderência de processos à política de gestão de risco; e d) providências a serem tomadas em caso de não conformidade com os limites e em situações não previstas; VI. Evidenciar a segregação das funções entre os responsáveis pela gestão e controle, nos casos de gestão interna de investimentos, quando a forma, estrutura e porte da EFPC permitir tal segregação. IX. Apresentar programa de qualificação profissional daqueles que lidam com investimentos, definindo ações de educação continuada e certificação dos empregados, diretores, conselheiros e membros de comitês, utilizando critérios de pertinência e utilidade para o exercício das atividades e funções, estabelecendo a metodologia de acompanhamento da adoção desta política e monitoramento do programa. VII. Apresentar as principais etapas envolvidas na seleção e monitoramento de gestores de investimento e custódia, incluindo, no mínimo, definição de mandato, critérios de análise quantitativa e qualitativa, bem Parágrafo único - As políticas mencionadas neste Código deverão ser aprovadas pelo Conselho Deliberativo da EFPC, estando disponíveis para consulta dos participantes e assistidos de forma simples e direta. 19 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - ICSS os Fundos de Pensão Gerais Fundos de Pensão Gerais Holanda introduz Desenho oferece uma alternativa de baixo custo para fundações que buscam economia ou cogitam transferir seus passivos para companhias seguradoras POR FLÁVIA PEREIRA DA SILVA A partir de 1º de janeiro de 2016, um novo tipo de veículo previdenciário foi introduzido na Holanda, país já conhecido por suas soluções inovadoras em se tratando do provimento de benefícios. Constituído como fundações, os chamados Fundos de Pensão Gerais ou Algemeen Pensioenfonds (APF), em holandês, funcio- narão como uma espécie de centro de gestão de planos de pensão, formando “círculos” com administração financeira independente e ativos segregados uns dos outros, podendo ser estabelecidos por companhias seguradoras ou outras organizações especializadas. De acordo com o Banco Central Holandês (DNB), 21 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Fundos de Pensão Gerais responsável pelo licenciamento e supervisão dos fundos de pensão - e portanto, das novas entidades - a proposta dos APF é facilitar a administração conjunta dos programas, sejam eles industriais, coletivos (para profissões especificas) ou corporativos, além de promover o aprimoramento da governança. Eles também servirão como uma alternativa de baixo custo para as fundações - sobretudo as de menor porte - que desejam manter sua identidade, algo que seria perdido caso fossem liquidadas ou transferissem os seus passivos para uma companhia seguradora. Há tempos os principais stakeholders do sistema de Previdência Complementar holandês vinham pleiteando junto ao governo a criação de um novo veículo. Muitos planos menores manifestavam o desejo pela unificação ou a fusão com planos maiores, seja em função da redução do universo de participantes, dos altos custos associados à gestão de benefícios e ativos, que no país costumam ser terceirizadas e, em especial, à dificuldade de encontrar integrantes para os conselhos que cumpram com todos os requisitos impostos pela regulação. Governança Os APFs oferecem aos chamados “parceiros sociais” - governo, participantes, assistidos, patrocinadores, sindicatos e associações representativas - a possibilidade de administrar conjuntamente di- 22 ferentes planos de pensão, ainda que de setores diferentes, por meio de um único conselho deliberativo. Alguns tipos de APFs terão colegiados compostos exclusivamente por conselheiros profissionais especializados, que ficarão responsáveis pela administração dos benefícios e gestão dos investimentos. Os ativos de cada plano são segregados, bem como a sua gestão financeira, e o colegiado deve garantir um tratamento equilibrado a todos os planos, que também ficarão sob a supervisão de um único conselho fiscal caso isso seja do interesse das partes interessadas. O empregador poderá optar por ter seu plano de benefícios administrado de forma exclusiva ou coletivamente por um dos “círculos” que integram os APFs, os quais podem incluir diferentes patrocinadores e seus programas corporativos, coletivos ou industriais. Cada um desses “círculos” poderá contar com um colegiado em separado, integrado pelos parceiros sociais, que discutirá questões relacionadas a investimentos, indexação de benefícios e níveis contributivos. Redução de custos A exemplo dos demais fundos em operação no país, os APF estão sujeitos às regras que compõem o novo Financial Assessment Framework (nFTK), que dispõe sobre as exigências de fundeamento dos planos previdenciários. No entanto, Planos de menor porte têm buscado a fusão com fundos maiores devido aos altos custos administrativos e dificuldades para encontrar conselheiros qualificados FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 devido à redução das despesas administrativas trazida pelos APFs, que segundo especialistas pode chegar a 40% para os fundos de pequeno e médio portes, as perspectivas de indexação dos benefícios tornam-se mais favoráveis. Além de promover economias de escala, há a expectativa de que o novo desenho reduza o total de fundos para menos de 200, dando continuidade ao processo de consolidação do setor. Desde 1992, o número de fundações holandesas passou de mais de 1.100 para cerca de 350 atualmente. CD coletivo Espera-se que os novos veículos que serão predominantemente estruturados na modalidade de Contribuição Definida Coletiva (CDC) - ganhem adeptos no país em que prevaleceram, até bem pouco tempo, os planos de Benefício Definido. No entanto, as baixíssimas taxas de juros, o aumento da longevidade e a dificuldade cada vez maior de alcançar a rentabilidade necessária para fazer frente às garantias inerentes a tais arranjos têm trazido mudanças nesse panorama. Conforme afirmou recentemente Klaas Knot, presidente do regulador DNB, “os fundos de pensão não podem mais se dar ao luxo de oferecer garantias previdenciárias a jovens de vinte e cinco anos.” Para se ter uma ideia, somente nos primeiros meses de 2016, muitos dos maiores planos de pensão holandeses viram seus níveis de solvência despencar até dez pontos percentuais, atingindo o patamar de 90% e aproximando-se, assim, do limite mínimo a partir do qual pode haver cortes nos benefícios. Nesse contexto pouco favorável, os parceiros sociais parecem mais predispostos a aceitar os planos de Contribuição Definida, ainda que numa versão que preveja o compartilhamento de riscos e o pooling de ativos para fins de investimento. Nos planos CDC, há uma meta de beneficio, embora passível de revisão; as contribuições patronais são fixas e os riscos atuariais e de investimento recaem sobre o participante. Ao optar pela modalidade, os “círculos” dos APFs se qualificam para o padrão contábil US GAAP, superando algumas dificuldades impostas pelo padrão contábil holandês, que em muitos aspectos difere consideravelmente do IFRS (Padrões de Reporte Financeiros Internacionais). A contabilidade dos planos CD traz ainda outras vantagens importantes para o empregador, como a ausência de passivos no balanço da empresa e menos exigências de disclosure. Fundos de Pensão Gerais Os APFs devem contribuir para a consolidação da indústria, reduzindo ainda mais o total de fundações, que desde 1992 passou de 1.100 para 350, aproximadamente Aproximação dos segmentos Quando o modelo foi aprovado pelo parlamento holandês no final de 2015, a expectativa era a de que os fundos de pensão se mobilizariam para constituir APFs. Contudo, o que se observa até 23 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Fundos de Pensão Gerais 24 agora é um interesse maior por parte das companhias seguradoras, o que deve contribuir para a maior interação entre os setores. O veículo deve dar novo fôlego à indústria de seguros, cujas coberturas de risco deixaram de ser atrativas para os fundos de pensão devido às baixas taxas de juros. As empresas patrocinadoras têm dado preferência aos contratos de curto prazo, resultando em forte diminuição do volume de buyouts - operações em que o plano paga um prêmio à seguradora, que em troca assume o pagamento dos benefícios. É provável que a partir de agora as seguradoras venham a substituir os contratos pertos do vencimento por um APF com a vantagem de que esses fundos ficarão sujeitos à regras da Estrutura de Avaliação Financeira (FTK), que permite o corte de benefícios em casos específicos. Por outro lado, o advento dos APFs deve impor maior eficiência às seguradoras, que atuarão exclusivamente como provedoras de serviços, podendo ser substituídas caso o cliente (plano de pensão) esteja insatisfeito. Analistas ressaltam que ambas as indústrias se aproximarão ainda mais uma vez que o governo autorize os fundos setoriais de adesão obrigatória a estabelecer ou aderir a um APF, o que ainda não é permitido devido a restrições impostas à segregação dos ativos de tais programas. As entidades representati- vas dos fundos de pensão, a exemplo da Pensioen Federatie, já estão trabalhando para viabilizar tal possibilidade o quanto antes. Pioneiros Cinco APFs já foram anunciadas ou estão em processo de criação por seguradoras. Uma delas é a Centraal Beheer, que faz parte do provedor de serviços financeiros Achmea, que no momento dedica-se a desenvolver um APF em conjunto com a Syntrus Achmea, o seu braço previdenciário. A Syntrus Achmea já administra benefícios para mais de oitenta fundos de pensão holandeses. Também entram na lista as seguradoras ASR e Delta Lloyd; Aegon e a Nationale -Nederlanden Investment Partners em cooperação com as suas subsidiárias e gestoras de benefícios TKP e AZL. A Aegon e sua subsidiária TKP já tiveram o pedido de licenciamento aprovado pelo DNB. O novo veículo, batizado de Stap, terá uma capitalização inicial de €500 mil e vinte mil participantes. Não há informações oficiais sobre quais seriam as fundações aderentes ao APF, mas especula-se que o novo fundo terá, em princípio, três pools de ativos de diferentes patrocinadores, cada qual com metas de indexação e políticas de investimento específicas. Será cobrada das empresas uma contribuição atuarial por participante e os prêmios deverão manter-se estáveis em O veículo recém-inaugurado dará novo fôlego à indústria de seguros, cujas coberturas de risco deixaram de ser atrativas devido às baixas taxas de juros FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 função do número de patrocinadores em cada “círculo” de ativos. Especialistas informam que as companhias e os fundos de pensão de maior porte poderão ter seu próprio círculo de ativos dentro do APF, embora o compartilhamento do círculo com outros patrocinadores seja mais interessante levando-se em conta a relação custo beneficio da gestão. Na indústria previdenciária, a PGGM, administradora de benefícios e gestora de ativos (€182 bilhões) do plano de pensão dos trabalhadores do setor de saúde, o PFZW, fez o pedido de licença para a criação de um APF em março deste ano. Em sua página eletrônica, a PGGM declarou ter como alvo os fundos de pensão de pequenas empresas. A Unilever também anunciou que o Progress e o Forward, seus planos previdenciários na Holanda, se unirão ao novo Fundo de Pensão Geral da companhia. Segundo um porta-voz, o principal objetivo é reduzir os custos do Forward, plano CD Coletivo da empresa, e do Progress, programa BD com €6 bilhões de ativos sob gestão que foi fechado a novos entrantes no final de 2014. O APF da Unilever não deverá administrar benefícios para outros empregadores. Similarmente, os fundos de pensão de três empresas do setor financeiro (Van Lanschot Bank, o custodiante KAS Bank, e o processador de pagamentos Equens) anunciaram a intenção de lançar um APF conjunto após terem concluído que os fundos gerais criados pelas seguradoras tendem ser menos onerosos que o estabelecimento de um fundo de pensão setorial. Decisão importante Muitos fundos de pensão já manifestaram interesse em participar dos APFs, mas ainda não se observa passos mais concretos. Afinal, trata-se de uma decisão que envolve questões complexas como a transferência de ativos e a conjugação de diferentes níveis de solvência. Além disso, salientam analistas, há de se vencer a resistência dos conselhos e diretoria, bem como a desconfiança dos participantes, sentimento que vem crescendo em relação aos fundos de pensão em anos recentes. Os mais críticos advogam que haveria poucas vantagens para que os fundos de pequeno porte estabeleçam coletivamente um APF quando eles podem simplesmente aderir a um veículo já existente de uma companhia seguradora. Também há dúvidas quanto aos ganhos com economias de escala, já que nenhum APF entrou efetivamente em operação. Ainda assim, os novos fundos surgem cercados de grande expectativa. Em entrevista ao portal IPE, Maarten Edixhoven, diretor de Previdência da Aegon, diz esperar que aproximadamente 130 dos cerca de 350 fundos em operação no país venham a optar pela liquidação nos próximos anos. Os APFs seriam uma opção interessante e financeiramente viável para muitos deles. Fundos de Pensão Gerais A Unilever anunciou recentemente que o Progress e o Forward, seus planos previdenciários na Holanda, se unirão ao novo Fundo de Pensão Geral da companhia 25 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Fundos de Pensão Gerais Alguns especialistas levantam dúvidas quanto aos ganhos com economias de escala dos APFs, dado que o novo modelo ainda não entrou efetivamente em operação Outro ponto que deve influenciar o sucesso do novo modelo é o conjunto de regras que se aplicarão aos fundos que desejarem deixar um APF ou trocar de provedor. Tais regras devem ser bastante claras e conhecidas por todos os stakeholders antes que o plano opte por aderir ao novo veículo, recomendam especialistas. Edixhoven afirmou ainda não acreditar que o provimento de benefícios previdenciários deixará de ter como base os fundos de pensão para tornar-se respon- sabilidade de players mais comerciais, um receio manifestado pelos parceiros sociais. Sob o seu ponto de vista, na medida em que novos atores entram no mercado, a diversidade aumenta e mudam também as “regras do jogo”. “O Fundo de Pensão Geral é uma alternativa nova e de baixo custo para as fundações e empregadores de pequeno porte, mas cada APF ainda necessitará dos serviços de gestoras de ativos e administradores de benefícios” funções comumente terceirizadas pelas entidades holandesas. anúncio Abrapp Atende 26 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO ATENA TECNOLOGIA Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - BANCO DE TALENTOS E-Financeira E-Financeira propicia integração e visibilidade de informações Apesar das dificuldades, a nova obrigação deixará como legado a integração entre as diversas áreas das EFPC: contabilidade, benefícios, seguridade e governança D epois de um esforço concentrado, desde janeiro, para cumprir o primeiro módulo da nova obrigação fiscal acessória - a E-Financeira - as Entidades Fechadas de Previdência Complementar trabalham agora na adequação à próxima etapa desse normativo, o módulo de Previdência Complementar, cujo desenho final ainda precisa ser definido, e que deverá ser cumprido a partir de 2017. A ex- 29 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 E-Financeira 30 pectativa é de que a minuta do manual de preenchimento de formulários desse novo módulo esteja disponível ainda em agosto e o manual seja finalizado até o final do ano. A primeira fase de implementação, com o preenchimento e envio dos dados relativos ao módulo de Obrigações Financeiras, exigiu sintonia entre os fundos de pensão e a Receita Federal para adequar conceitos e operacionalizar o envio dos dados, além de ter demandado um forte envolvimento das áreas de tecnologia das EFPC e de seus prestadores de serviços na criação de ferramentas apropriadas para atender às novas exigências. O prazo final para cumprimento da obrigação fiscal foi postergado pela Receita, passando do dia 31 de maio para 12 de agosto, mas a maioria das EFPC já havia feito os ajustes e enviado as informações dentro do prazo original, explicam dirigentes e especialistas em contabilidade. “O adiamento não ocorreu por conta das fundações porque, apesar dos atrasos dos prestadores de serviços terceirizados, foram raras as que não entregaram no prazo original”, afirma o gerente de Controladoria da CBS Previdência, Edgar Silva Grassi, integrante do Grupo de Trabalho criado pela Abrapp para tratar da nova obrigação. A E-Financeira é produto de um acordo bilateral de transmissão de dados sobre disponibilidades financeiras mantidas no Brasil por titulares estadunidenses FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 A E-Financeira foi instituída pela Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil - IN nº 1.571, de julho de 2015, que definiu os procedimentos para o envio de informações sobre as disponibilidades financeiras e a movimentação de recursos financeiros dos participantes dos planos de benefícios de Previdência Complementar no âmbito do Foreign Account Tax Compliance Act – FATCA – acordo bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos. O acordo, assinado em setembro de 2014 e ratificado em junho de 2015 pelo Decreto Legislativo nº 46, tem como objetivo garantir a transmissão automática de dados fidedignos, para fins fiscais, sobre as disponibilidades financeiras mantidas no Brasil por titulares norte-americanos ou residentes nos Estados Unidos. O FATCA não se refere igualmente a todas as EFPC. Algumas delas (as patrocinadas, desde que não haja um único participante dono de 5% ou mais dos ativos totais) entram na lista de exceções previstas pelo Decreto e, portanto, não seriam consideradas informantes. Mas a Receita Federal brasileira, que cuida da operacionalização do acordo, decidiu ampliar o escopo da obrigação fiscal com a criação da E-Financeira para atingir todos os participantes de todos os planos de benefícios sob supervisão da Previc. O acordo segue o conceito ampliado de instituição financeira, abrangendo o conjunto de instituições supervisionadas pelo Banco Central, CVM, Susep e Previc. A adaptação a esse novo ambiente fiscal tem exigido das EFPC uma série de ajustes que incluem as áreas de governança, compliance, contabilidade, assuntos jurídicos, seguridade e comunicação. A experiência de relacionamento entre a Receita e os fundos de pensão foi fundamental para ajustar a nova norma fiscal à realidade do sistema, dizem os especialistas que participaram da iniciativa. A modelagem original veio com “a cara dos bancos”, explica o coordenador de Contabilidade da Funcef e integrante do Grupo de Trabalho, Rodrigo Andretto. Como resultado desse modelo, as EFPC eram enquadradas na mesma moldura de uma aplicação financeira. “A preocupação, portanto, foi adequar conceitos como, por exemplo, o de reserva matemática, que foi tratado como como reserva resgatável, o que não é bem o conceito que constava no documento original”, destaca Andretto. A nova obrigação traz uma troca de paradigma nesse relacionamento. Antes disso, a Receita desenvolvia um programa e os fundos de pensão preenchiam um formulário; já na E-Financeira, a EFPC faz “pacotes” pequenos, cada um podendo conter até 100 eventos de pagamentos criptografados, assinados digitalmente e enviados à Receita. “Isso representa um desafio tecnológico e um esforço de desenvolvimento de sistemas para buscar dados, formata-los e criptografa-los; além disso, não há mais um validador para servir como critério”, afirma Andretto. Isso significa que as informações podem ser devolvidas caso não estejam adequadas, então é preciso acompanhar todos os envios e os eventuais retornos. “Esse trabalho conjunto foi fundamental para corrigir certas distorções uma vez que a Receita tem demonstrado desconhecer as características das EFPC ao nos comparar ora com instituições financeiras, ora com entidades abertas de previdên- Na primeira etapa houve dois grandes desafios: compreender os conceitos envolvidos e adequar os sistemas de fornecimento de dados cia”, pondera o coordenador contábil da Sistel e integrante do GT, Edgar Almeida Santos. O grande desafio da primeira etapa pode ser concentrado em dois aspectos básicos: a compreensão correta dos conceitos envolvidos e a adequação dos sistemas de fornecimento de dados. “A primeira leva de informações gerou uma grande necessidade de adequação que irá continuar nos próximos meses porque, embora o primeiro módulo já tenha sido encaminhado, o segundo, previsto para 2017, também exigirá um acompanhamento cuidadoso”, explica a advogada tributarista Patrícia Linhares, integrante do GT. Foram realizadas diversas reuniões com técnicos da Receita Federal para obter esclarecimentos em relação ao Manual de Preenchimento do formulário relativo ao primeiro módulo da E-Financeira. Patrícia Linhares lembra que o trabalho não pode ser considerado cumprido enquanto o segundo módulo não estiver consolidado. “A Receita foi muito objetiva ao deixar claro que o segundo módulo não substituirá o primeiro e que, portanto, as fundações terão que conviver com os dois.” As reuniões entre o GT e a Receita foram essenciais na revisão da minuta do manual de preenchimento do primei- E-Financeira Novo paradigma 31 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 E-Financeira ro módulo, o que deve ocorrer também na próxima etapa. “A Receita aceitou praticamente todos os apontamentos que fizemos na revisão para adequar a linguagem do manual, que era mais voltada às entidades abertas de previdência”, explica Edgar Grassi. Além disso, houve um período de treinamento ministrado pela Ancep com o apoio da Abrapp em dez capitais do País, envolvendo cerca de 400 pessoas, de modo a gerar informação única para todos. Dificuldades com sistemas 32 Os atrasos dos prestadores de serviços terceirizados acabaram sendo um dos principais problemas das fundações no cumprimento do primeiro módulo. “A primeira etapa foi bastante difícil porque tivemos que compreender conceitos e ajustar sistemas”, ressalta Linhares. Até agora, a Receita Federal recebia essas informações por meio do Banco Central e, com a E-Financeira, passará a dispor dos dados internamente, sem depender de outros órgãos do governo. A ideia é observar o universo dos planos de previdência para identificar eventuais casos de evasão fiscal, então é preciso que as EFPC tenham absoluta segurança em relação às informações prestadas, que devem ser completas e fidedignas. “As EFPCs tiveram dificuldades porque as prestadoras de serviços de software demoraram a desenvolver uma ferramenta adaptada à nova obrigação, mas apesar disso percebemos, durante os cursos, que as entidades estavam conseguindo entregar no prazo”, observa Grassi. Na CBS Previdência, ainda que tenha havido atraso por parte do fornecedor de sistemas, as informações foram enviadas à Receita no dia 20 de maio, bem antes do encerramento do prazo original. Diante do grande volume de trabalho e dos ajustes técnicos, a prin- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 cipal demanda interna de trabalho coube à área de TI. “As prestadoras terceirizadas não estavam preparadas e vale lembrar que, por força de contrato, em tudo aquilo que diz respeito às obrigações legais, elas devem disponibilizar seus serviços sem custos adicionais, então talvez isso tenha influenciado no atraso”, reforça Edgar Santos. Nesse ambiente, a maioria das informações acabou sendo gerada pelos próprios prestadores a partir das bases de dados da entidade, o que não é uma situação ideal porque tira a visibilidade dessas informações pela EFPC. Por conta disso, a Sistel, que enviou os dados no dia 31 de maio, decidiu aproveitar a postergação até agosto para conferir essas informações junto aos terceirizados. “O mesmo participante pode ter aparecido na conta previdencial e na assistencial, por exemplo, então é preciso conferir, verificar se ficou faltando alguma coisa. Se for o caso, vamos enviar uma retificadora para a Receita”, explica Santos. A partir dos próximos envios, essas informações deverão ser geradas automaticamente, a cada semestre. “O mais importante agora é que tenhamos segurança por parte dos prestadores, sem interferência deles na geração de informações”, pontua o coordenador. Na Funcef, que entregou a E-Financeira no dia 31 de maio, já começaram também a ser desenvolvidos, internamente, alguns mecanismos de controle de dados que ainda precisam evoluir mais, informa Andretto. “Essa obrigação tem formato diferente, não engloba apenas os rendimentos tributáveis, é outro tipo de declaração com objetivos não só nacionais mas internacionais, então esse foi um importante teste inicial porque outras declarações virão também de forma digital.” Ele observa que já havia um desafio Esforço multidisciplinar Além das questões operacionais e sistêmicas, uma das tarefas mais complexas foi a identificação do saldo, sublinha Patrícia Linhares, porque é necessário fazer uma simulação de resgates, com procedimentos que não eram exigidos anteriormente. O saldo de conta das patrocinadoras e o saldo de conta dos participantes já são claramente identificados, mas a Receita exigiu que as EFPC identificassem também qual seria o percentual do saldo de conta da patrocinadora a que o participante teria direito no momento de sua aposentadoria, ou seja, foi preciso fazer uma simulação levando em conta que o participante teria esse direito hoje e calcular o valor para informar na E-Financeira. O “saldo da conta” é o valor a que o participante ou beneficiário teria direito no caso de resgate no último dia útil de cada exercício. O histórico feito pela entidade deve ser rigoroso porque será preciso encaminhar ainda os dados relativos a eventuais encerramentos de contas anteriores ao final do exercício, seja por resgate ou portabilidade. “A maior dificuldade foi mesmo essa questão do saldo por conta do volume de trabalho, já que os dados são individuais, por CPF, e calculados mês a mês, considerando inclusive se houve portabilidade ou resgate. Esse foi um problema operacional porque o universo de participantes é muito grande”, pondera a advogada. O envio dos dados cadastrais ao FATCA também gerou problemas já que nem todas as EFPC haviam feito seus recadastramentos de participantes para ve- Uma das tarefas mais complexas foi apurar o percentual do saldo de conta da patrocinadora a que o participante teria direito no ato da aposentadoria E-Financeira grande de ter controle sobre o que a EFPC declara a fim de se ter dados condizentes e informações fidedignas. rificar quem é residente no Brasil ou no exterior. Apesar das dificuldades, o grande legado da E-Financeira para os fundos de pensão será a integração entre as diversas áreas das fundações: contabilidade, benefícios, seguridade e governança para concluir todo esse esforço, acredita Linhares: “O caráter multidisciplinar imposto pela nova obrigação fiscal permitirá aos fundos de pensão enxergar de modo mais amplo as movimentações financeiras de seus participantes.” Módulo de Previdência Ainda sem uma minuta do manual de preenchimento, o módulo de Previdência Complementar tem apenas um desenho preliminar. A expectativa do GT é de que haja um novo esforço de acompanhamento, junto à Receita, para efetuar eventuais ajustes que sejam necessários do ponto de vista da prestação de informações dos fundos de pensão. A percepção dos especialistas, entretanto, é de que a adequação a essa segunda fase será menos complexa do que a primeira, uma vez que o trabalho será dirigido especificamente a informações previdenciárias. Serão fornecidos dados que já constam atualmente da Instrução Normativa RFB 1452 e que será substituída pela nova obrigação, com o escopo de mostrar 33 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 E-Financeira 34 todas as contribuições recebidas pelos planos de benefícios ao longo do ano. A partir dessas informações, será feito um cruzamento de dados que já existe há três anos no âmbito da IN 1452 e que passará a obedecer o desenho do novo normativo. Além disso, o módulo trará a substituição da Dprev (Declaração sobre Opção de Tributação de Planos Previdenciários) que existe desde 2005 e cujo objetivo é informar a Receita sobre a opção dos participantes pelo regime tributário regressivo. “Em princípio, a adaptação ao segundo módulo não deverá apresentar dificuldades porque as EFPC já têm em seus sistemas esses dados, mas é preciso haver um manual para que possamos, a exemplo do que aconteceu na primeira fase, compreender corretamente os conceitos envolvidos”, explica Linhares. Por tratar especificamente de previdência e, portanto, utilizando dados que já estão disponíveis nos sistemas, essa nova fase deverá ser mais tranquila, concorda Edgar Grassi. “O módulo de operações financeiras só agregou uma obrigação, mas o segundo irá substituir a Dprev, o que vai contribuir bastante para facilitar e reduzir o trabalho de envio de dados”, reforça o gerente. Na primeira reunião para tratar do segundo módulo, quando foi apresentado o layout preliminar do novo manual, o GT expôs algumas preocupações com itens não muito aderentes à realidade das EFPC, informa Edgar Santos, assunto que será tratado em novas reuniões. “Uma dessas questões é a que diz respeito ao tempo decorrido para a tabela regressiva. Não ficou claro o que está sendo pedido pela Receita, então será preciso esclarecer.” Também surgiram dúvidas em relação aos dados da conta assistencial, havendo o entendimento de que esses dados serão re- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 plicados sempre que possível. Alguns pontos foram repensados, outros terão que ser mais bem explicados em nova proposta. De todo modo, Santos também acredita que será uma etapa com ajustes menos complexos. “Em primeiro lugar porque a equipe da Receita aprendeu muito sobre o nosso sistema durante os debates para o primeiro módulo. Por conta do aprendizado que tivemos até agora, o caminho deverá ser mais fácil.” Apesar disso, ele ressalta que os dados enviados no primeiro módulo e os do próximo são um pouco diferentes, com a inclusão das tabelas regressiva e progressiva de tributação. É importante lembrar ainda que a Receita não deve aceitar redundância de informações nos dois módulos. “O conjunto de informações tende a ser melhorado na próxima etapa e o módulo deve vir mais apropriado aos fundos de pensão, sem exigir mais tantos ajustes de conceitos”, concorda Andretto. Modelagem adequada Superado o desgaste inicial com a adaptação à E-Financeira, os fundos de pensão terão condições de prestar informações à Receita de forma mais fácil, coerente e aderente ao seu arcabouço normativo. “Graças a esse trabalho mais próximo, a obrigação fiscal ficará com a cara do nosso segmento e isso evitará que a Receita receba informações equivocadas sem perceber, por ter confundido plano de previdência fechada com plano aberto”, analisa Edgar Santos. A partir dessa experiência, ele conta que o GT pretende seguir na mesma linha de proximidade com a autoridade fiscal, aproveitando seus contatos para dar início a outra frente de trabalho: a discussão da EFD-Reinf, obrigação acessória fiscal, que virá substituir a DIRF (Declaração de Imposto de Renda Retido na Fonte). OPINIÃO Alocação de ativos e maus hábitos 1 POR ANDREW ANG, AMIT GOYAL E ANTTI ILMANEN* O s fundos de pensão estão entre os participantes mais importantes dos mercados financeiros globais. Depois de muitos anos de relativa negligência, a literatura acadêmica começou a dar um enfoque maior às características desse relevante segmento da indústria financeira. Nos fundos de pensão, um processo simplificado de gestão de investimentos abarcaria dois grandes passos ou etapas. A primeira delas é o desenho da política de investimento/definição da alocação de ativos. O segundo passo envolve a seleção de gestores de investimentos com mandatos específicos. 1 Com adaptações Blake et al. (2012) registraram um aumento secular no que se refere ao segundo aspecto mencionado, isto é, a gestão descentralizada dos investimentos, ao passo que Goyal e Wahal (2008) se dedicaram ao estudo da eficácia do processo de seleção de gestores externos de ativos. Há, de fato, um intenso debate no ambiente acadêmico a respeito da contribuição de ambas as etapas para a obtenção de retornos excedentes pelos fundos de pensão. Enquanto Brinson, Hood e Beebower (1986), Brinson, Cantor e Beebower (1991) e Blake, Lehmann e Timmermann (1999) argumentam que a alocação de 35 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 OPINIÃO | Andrew Ang, Amit Goyal e Antti Ilmanen 36 ativos é importante para explicar a variação temporal/histórica dos retornos, Ibbotson e Kaplan (2000) e Kritzman e Page (2002, 2003) defendem que a seleção de papéis é mais relevante para justificar a variação dos retornos obtidos pelos fundos de pensão em cada classe de ativos. Já Andonov, Bauer e Cremers (2012) alegam que os retornos excedentes dos fundos de pensão são de certa forma igualmente ocasionados pela alocação de ativos, pelo timing de mercado e pela seleção de papéis. Há, portanto, muitos estudos que se propõem a analisar a obtenção de retornos. Ao mesmo tempo, praticamente não há estudos dedicados a examinar o impacto que retornos anteriores exercem sobre a alocação de ativos. O presente trabalho busca preencher essa lacuna, focando a dependência da alocação de ativos em dados históricos de performance. Muitos fundos de pensão fazem o rebalanceamento das carteiras regularmente a fim de alcançarem ou manterem determinadas concentrações, tais como a distribuição tradicional de 60% dos ativos em renda variável e 40% em renda fixa. No entanto, há indícios de que alguns fundos deixam suas alocações “à deriva” conforme o desempenho relativo de cada classe de ativo, refletindo uma abordagem passiva de compra e detenção de ativos, o desejo de manter as alocações próximas aos limites de capitalização de mercado ou a “caça” mais proativa de retornos. Tomaremos como foco a última opção. Acredita-se que tanto os investidores de varejo quanto os institucionais estão sempre à caça de retornos - adquirindo papéis “vencedores” seja em curto ou longo prazo - via classes ou gestores de ativos específicos. A muitos falta paciência para lidar com alguns anos de mau desempe- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 nho, mesmo estando cientes da capacidade preditiva limitada da performance histórica e dos custos de transição elevados. Ang e Kjaer (2011) argumentam que um dos maiores vícios dos investidores de longo prazo é o investimento pró-cíclico em horizontes plurianuais: fluxos mal calculados de entrada e saída de bons investimentos podem prejudicar o desempenho do investidor. Vários estudos sugerem que o “mau hábito” de “caça aos retornos” ao longo de vários anos prejudica a geração de riqueza em longo prazo. Por exemplo, o fato de os investidores obterem retornos mais baixos atrelados ao dólar em comparação a retornos ajustados ao horizonte temporal é um indicativo de um fluxo de investimento mal calculado - Dichev (2007) e Friesen e Sapp (2007). A contratação e dispensa frequentes de asset managers por investidores institucionais também acarretam perda de valor ao longo do tempo - Goyal e Wahal (2008). Pode ser que não haja nada de mal em “caçar retornos” - os mercados financeiros tendem a ganhar momentum em intervalos mensais - Jegadeesh e Titman (1993), Moskowitz, Ooi e Pedersen (2012), Asness, Moskowitz e Pedersen (2013). Tamanha persistência pode vir a ser rentável contanto que não seja neutralizada pelos custos transacionais. No entanto, quando se trata de retornos plurianuais, os mercados financeiros são mais propensos a exibir uma reversão à média do que uma tendência à continuidade - DeBondt e Thaler (1985), Poterba e Summers (1988), Cutler, DeLong e Summers (1991), Ilmanen (2011) e Zakamulin (2013). Ainda assim, um número muito elevado de investidores adota uma postura de momento mesmo quando considerados horizontes temporais mais longos. Os investidores institucionais, por exemplo, ten- vestidores ano a ano. Determinados tipos de fluxos pró-cíclicos são especialmente difíceis de identificar. Consideremos as mudanças feitas nos benchmarks dos investidores quando novas classes de ativos são adicionadas às carteiras após alguns anos de bom desempenho. Como as decisões que levam à alteração de benchmarks são raramente analisadas ao longo do tempo, os efeitos pró-cíclicos sobre os portfólios podem passar despercebidos, embora sejam de fundamental importância. Estudos anteriores trazem apenas evidências indiretas a respeito da “caça aos retornos” pelos investidores institucionais - e as consequentes perdas de longo prazo. Utilizamos dados anuais da CEM Benchmarking referentes à evolução da alocação de ativos de fundos de pensão estadunidenses entre 1990 e 2011 a fim de obter dados concretos sobre o comportamento de “caça aos retornos” em classes de ativos específicas e horizontes plurianuais. Também reunimos dados acerca da dinâmica mensal dos mercados financeiros e padrões de reversão ao longo dos anos. Tendo comparado as alocações institucionais pró-cíclicas plurianuais com a reversão também plurianual dos retornos em diversos ativos financeiros, esperamos contribuir para que pelo menos alguns investidores venham a abrir mão de seus maus hábitos. As principais descobertas decorrentes da análise conduzida podem ser facilmente resumidas. Os fundos de pensão, em geral, tendem a não reconhecer a transição entre o momentum e a reversão dos retornos dos ativos em horizontes superiores a um ano. Ao invés disso, continuam buscando retorno por horizontes temporais mais longos em detrimento da riqueza de longo prazo. Contudo, as bases estatísticas para tal constatação ainda deixam a desejar. OPINIÃO dem a ser particularmente pró-cíclicos em horizontes de três a cinco anos, refletindo seus intervalos típicos de avaliação de desempenho. Outras pressões podem vir a exacerbar os fluxos pró-cíclicos na medida em que os investidores buscam replicar as alocações de seus pares ao invés de “caçar” retornos pura e simplesmente. Um exemplo numérico simples pode ajudar a ilustrar essa ideia. Imagine três anos distintos: ano 0, ano 1 e ano 2. Há duas classes de ativos: ações e títulos. Os retornos providos pelas ações foram 10%, 10% e 5% nos três anos, respectivamente, enquanto os retornos providos pelos títulos foram 5%, 5% e 10%. Há, supostamente, uma repetição do momentum no primeiro ano e uma reversão no segundo ano. Vamos presumir que o peso das classes de ativos seja diretamente proporcional aos retornos obtidos. Isso significa que no final do ano 0, a participação das ações e títulos na carteira será de 67% e 33%, respectivamente (proporcionais aos retornos de 10% e 5% registrados no final do ano 0). Não há mudança no final do ano 1. Levando-se em conta essas proporções, o retorno do fundo será igual a 67% × 5% + 33% x 10% = 6,7%. Se o fundo tivesse ciência da reversão que aconteceria no ano 2, ele teria revisto a sua alocação de ativos, passando-a para 33% em ações e 67% em títulos, tendo obtido retorno de 33% × 5% + 67% x 10% = 8,4%. Logo, a perda decorrente da “caça ao retorno” foi de 1,7%. Embora esse exemplo seja estilizado e baseado em pressupostos irreais, a mensagem que fica é que a caça à rentabilidade em horizontes superiores a um ano gera efeitos negativos. Apesar de haver bons indícios, ainda faltam históricos robustos que nos permitam determinar, a partir de bases estatísticas conclusivas, o comportamento dos in- 37 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 OPINIÃO | Andrew Ang, Amit Goyal e Antti Ilmanen Os estudos que mais se aproximam do nosso em se tratando de escopo são aqueles desenvolvidos por Heisler et al. (2007) e Stewart et al. (2009). Esses autores demonstram que os produtos de investimento que recebem aportes têm desempenho posterior inferior àqueles que são objeto de saques ao longo de um a cinco anos. O mau desempenho deve-se mais à seleção dos produtos (gestores) do que à realocação em classes de ativos, embora ambas as atividades sejam prejudiciais à geração de valor. Os dados utilizados nos estudos citados têm como fonte o banco de dados PSN de produtos institucionais ao invés de carteiras de ativos de investidores institucionais propriamente ditas. Os estudos mais próximos do nosso em termos de requisitos de dados são aqueles realizados por Dyck e Pomorski (2011). Os autores utilizaram dados da CEM Benchmarking para analisar as alocações e retornos de planos norte-americanos. O foco do trabalho foram as economias de escala na gestão de ativos, além de componentes da alocação de ativos, como timing de mercado e seleção de papéis. No entanto, nenhum desses estudos analisa a busca por retornos ano a ano ou relaciona as descobertas aos padrões de reversão de médio prazo nos retornos dos ativos. *Andrew Ang é Professor de Negócios na Columbia Business School (EUA), Amit Goyal é professor de Finanças da Universidade de Lausanne (Suíça) e Antti Ilmanen é gerente do Portfolio Solutions Group da AQR Capital Management. (anúncio VINCI PARTNERS) 38 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO FATOR Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - 37º CONGRESSO Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - 37º CONGRESSO Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - TV ABRAPP CNPC Expectativa de posicionamento estratégico do CNPC Sob o ponto de vista prático, o primeiro passo é a definição da composição efetiva do colegiado a partir da anexação do ministério da Previdência pela Fazenda S em realizar reuniões ao longo de todo o primeiro semestre de 2016, o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) terá uma pauta cheia assim que retomar sua agenda para discutir temas cuja relevância é essencial para o funcionamento do sistema em curto e médio prazos. Além da lista de assuntos que esperam definição com uma certa urgência, há principalmente a expectativa de que o Conselho assuma um posicionamento mais estratégico a partir de agora, voltando a traçar programas de trabalho bem delineados para cada exercício e estabelecendo um programa de ação abrangente. “É um pleito 43 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 CNPC 44 antigo termos uma primeira reunião para traçar toda a pauta de trabalho do ano de modo que o sistema pudesse ter uma visão estratégica das ações do Conselho, mas até o encerramento do primeiro semestre não foi realizada sequer uma reunião”, pondera o presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto. A discussão sobre a reforma previdenciária no Brasil, um tema que está na lista de prioridades do governo federal, precisa englobar também a questão da Previdência Complementar e os avanços necessários para que ela possa atingir um número cada vez maior de beneficiários. Sob o ponto de vista prático, o primeiro passo será a definição da composição efetiva do CNPC, uma vez que ele era integrado por representante do Ministério da Fazenda, com uma visão mais forte de política econômica, e um representante do Ministério da Previdência, com uma visão específica do segmento. A partir da anexação da Previdência pela Fazenda, será preciso descobrir como ficará essa composição, até porque há mandatos de dois anos que vencem agora e deverão ser renovados. “O mais importante é que haja um encontro para traçar o planejamento de ações, algumas imediatas e outras de médio prazo, mas todas de grande relevância para o sistema”, diz o presidente. A expectativa da Abrapp é de que haja uma reunião do Conselho ainda em agosto. “Os fundos de pensão tiveram o cuidado, ainda no início deste ano, de forma- lizar uma relação de prioridades e uma agenda de trabalho junto à Previc e à Secretaria de Políticas de Previdência Complementar (SPPC) com o objetivo de dar um tratamento diferenciado a determinadas teses”, sublinha a presidente do Sindapp, Nélia Pozzi. No planejamento estratégico proposto, havia sido enfatizado um claro viés de fomento. Ela lembra que a falta de uma reunião para travar esse debate acabou criando problemas práticos em relação a uma série de providências operacionais que precisam ser adotadas pelas EFPC ao longo deste ano. Além disso, é essencial para as entidades manter contato com aquele colegiado para conhecer a visão das pessoas que estão hoje no governo federal em relação à Previdência Complementar. A principal expectativa, reforça a presidente do Sindapp, é colocar a Previdência Complementar como uma das prioridades do governo e fazer com que o sistema seja contemplado dentro da proposta de reforma previdenciária. “Pretendemos mostrar que somos uma solução e não um problema e que temos propostas consistentes a apresentar”, observa Pozzi. Será fundamental superar as dificuldades que a situação política nacional criou para o planejamento de ações que estavam preparadas desde o início do ano. “Até porque há compromissos das entidades com determinados normativos que precisam ser cumpridos em termos de prazos.” A principal expectativa é colocar a Previdência Complementar nas prioridades do governo, contemplando-a na proposta de reforma previdenciária FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Agenda de curto prazo CNPJ e CNPB Entre os tópicos cuja discussão tem caráter mais urgente, Pena Neto destaca a revisão do plano de contas para adequá-lo a uma série de novas demandas. “Há, por exemplo, a necessidade de abrigar a nova norma de solvência para que o resultado ajustado por ela esteja no balanço, como medida para dar maior segurança e transparência.” Será preciso também preparar o plano de contas para a possibilidade de que as EFPCs venham a ter patrimônio próprio, um pleito cuja discussão está avançada e que, caso seja aprovado, garantirá às entidades os recursos necessários para investir no próprio fomento do sistema. “Deveríamos fazer esses dois ajustes no Plano de Contas já para o balanço de 2016, o que torna a discussão urgente no âmbito do CNPC”, observa o presidente. Outro ponto relevante em curto prazo é o debate sobre o tratamento a ser dado aos planos de benefícios diante de reorganizações societárias como fusões, aquisições, cisões e outras modelagens. O impacto dessas operações corporativas sobre os planos é um assunto que começou a ser discutido há tempos, junto com o caso das retiradas de patrocínio. Entretanto, a normatização das retiradas de patrocínio, de caráter considerado mais urgente na época, foi a única a ser editada enquanto os demais desenhos foram deixados de lado. Há ainda dois pontos que, embora não sejam da competência direta do Conselho, podem ser encampados por ele, o que reforçaria sua tramitação junto ao governo federal, lembra o presidente da Abrapp. O primeiro deles é a revisão de questões tributárias visando ao fomento da Previdência Complementar fechada, trabalho desenvolvido pela Secretaria de Políticas de Previdência Complementar (SPPC) em conjunto com a Abrapp e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). O segundo tópico, de tramitação mais simples e cujo desenho já está adiantado, é a criação do CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - por plano, que já entrou na pauta do CNPC, mas não avançou em 2016. A medida permitiria separar a identidade dos planos, reduzindo riscos de contaminação patrimonial entre os programas geridos por uma mesma entidade em casos de pendências judiciais, ou seja, o risco de um plano pagar pelos compromissos de outro como acontece hoje em diversas decisões judiciais. “Seria preciso, porém, que o plano não tivesse tantas obrigações fiscais como teria uma empresa, isso ficaria no CNPJ da entidade”, explica Pena Neto. Uma alternativa ao CNPJ seria reconhecer, por meio da legislação, o CNPB – Cadastro Nacional de Planos de Benefícios – criado em 2004 e que promove a independência patrimonial entre os planos. CNPC Entre os tópicos urgentes está a revisão do plano de contas para abrigar a nova norma de solvência e para que as EFPC tenham patrimônio próprio, estimulando, assim, o fomento 45 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 CNPC A regulação dos fundos setoriais, já avançada, e a aprovação do mecanismo de adesão automática teriam boa chance de solução até o fim do ano O CNPB, entretanto, embora esteja consolidado dentro do sistema, ainda não é visualizado de maneira adequada pela Fazenda nem pelo Judiciário e precisaria ser fortalecido. “O reconhecimento do CNPB fora do sistema atenderia às necessidades dos fundos de pensão em relação à melhor visualização de cada plano. Esse é um tema que não depende de deliberação do CNPC, mas de posicionamento estratégico a seu favor”, diz o presidente da Abrapp. Outra questão cujo andamento também está em estágio avançado é a do patrimônio de afetação das EFPC, que teria uma condução mais efetiva, acredita Pena Neto, se fosse encaminhada ao Congresso Nacional pelo CNPC. Governança e fundos setoriais 46 Os fundos de pensão esperam ainda uma revisão da Resolução CGPC 13, que trata da governança e precisaria ser revisitada para verificar se há necessidade de ajustes. Ligada a isso está a questão da certificação de governança das EFPC, outro avanço importante do ponto de vista da Supervisão Baseada em Risco e da transparência da gestão. “A certificação não impede fraudes ou comportamentos de má-fé por parte dos gestores, mas quando uma entidade é certificada fica mais difícil para o ‘gênio do mal’ agir”, lembra Pena Neto. Esse é um tópico que precisa apenas de ajustes, observa Nélia Pozzi: “É prioritário porque FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 a Instrução Normativa nº 28 da Previc gerou algum desconforto e pode criar riscos desnecessários ao confrontar a própria regulação do sistema. Precisamos resolver aspectos práticos e operacionais para o cumprimento da norma.” Há outros temas que estão com sua discussão mais adiantada e poderiam ser colocados em pauta de maneira viável ainda em 2016 para que este não seja um ano perdido, avalia Nélia Pozzi. “Em função da conjuntura política, seria utópico pensarmos em concluir rapidamente questões de grande envergadura como, por exemplo, os pleitos na área tributária.” Entre as questões que têm maior chance de encontrar solução até o final do ano ela destaca a regulação dos fundos setoriais, em que a Previc já atingiu um estágio bastante avançado de regulação, e a aprovação do mecanismo da adesão automática dos empregados aos planos de previdência fechada. “Ambos são pontos em que podemos evoluir em pouco tempo porque não partimos do zero, assim como os ajustes no Plano de Contas e a certificação”, acredita a dirigente. Em relação aos assuntos que devem entrar na linha de discussão do Conselho, ainda que não sejam de caráter imediato, Pena Neto destaca a revisão da Resolução CGPC 23, que trata das informações aos participantes dos planos, que precisa ser atualizada para gerar eficiência e evitar custos desnecessários. Sistema canadense Províncias canadenses revisam regras de solvência Especialistas e reguladores discutem o relaxamento das regras trinta anos após a introdução dos primeiros padrões de fundeamento para os planos privados T udo indica que 2016 será uma ano decisivo para os planos de Benefício Definido do Canadá. Isso porque as províncias do país, que gozam de autonomia para definir as regras sob as quais operam os fundos de pensão, têm demonstrado interesse pelo relaxamento dos padrões de solvência impostos aos arranjos privados com um único patrocinador. Reguladores e especialistas parecem concordar que as normas introduzidas, em sua maioria, na década de 80, de pouco adiantaram para resguardar os benefícios. Na visão de muitos, sua principal função tem sido a de onerar as patrocinadoras, dificultando investimentos no setor produtivo. 47 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Sistema canadense 48 As primeiras regras de solvência foram introduzidas pelas províncias canadenses - cada qual com autonomia para desenhar seu próprio arcabouço normativo - em 1987. A ideia era garantir que os planos de Beneficio Definido mantivessem bons níveis de fundeamento mesmo diante de eventual falência da empresa patrocinadora. Na maioria das jurisdições, a solvência do plano era testada a cada três anos por meio de avaliações atuariais a serem entregues aos órgãos de supervisão: as chamadas avaliações de solvência (solvency valuations, em inglês). O cálculo do nível de fundeamento leva em conta o volume de ativos do plano como se o mesmo fosse fechado na data da avaliação, contrastando tal volume com o total de obrigações acumuladas até então. Nesse cálculo, o atuário assume que os participantes se aposentarão tão logo seja possível, além de fazer uso de pressupostos específicos como taxas de desconto e tábuas de mortalidade. Caso o total de passivos seja superior ao de ativos, caberia ao empregador fazer aportes adicionais ao plano a fim de cobrir o déficit, geralmente em prazos que variam de cinco a dez anos. Assim, acreditavam os legisladores na década de 80, seria possível garantir proteção aos participantes e, ao mesmo tempo, fazer com que o ônus sobre as empresas patrocinadoras fosse distribu- ído por horizontes temporais relativamente longos. Mas de lá pra cá muita coisa mudou. Assim como ocorreu em diferentes partes do mundo, a queda nas taxas de juros acarretou em forte elevação no volume de passivos previdenciários, fazendo com que os níveis contributivos das patrocinadoras de planos BD atingissem patamares insustentáveis. Assim, as regras inicialmente propostas, na época consideradas uma solução para todos os problemas, acabaram revelando-se falhas, incapazes de cumprir com seu principal objetivo, que era o de assegurar o pagamento dos direitos acumulados por participantes e assistidos na ausência de um patrocinador para garantir o fundeamento futuro dos arranjos previdenciários. Vale salientar que a legislação isenta a maioria dos planos de pensão BD canadenses de grande porte de regras mínimas de solvência quando eles são multipatrocinados ou voltados para o funcionalismo público. Há um entendimento que tais planos teriam menor probabilidade de incorrer em déficit devido às chances limitadas de insolvência de todos os patrocinadores - ou governo - se comparados a planos privados patrocinados por uma só empresa. Solvência em queda Inúmeros planos já foram fechados no país devido à falência do emprega- As primeiras regras de solvência foram introduzidas pelas províncias - cada qual com autonomia para desenhar seu próprio arcabouço normativo - em 1987 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 dor. Segundo dados de 2015 da agência nacional responsável pela supervisão de instituições financeiras - Office of the Superintendent of Financial Institutions (OSFI), em 2002, 27% dos trabalhadores da iniciativa privada possuíam um plano de pensão; desse total, 73% eram cobertos por arranjos BD. Dez anos mais tarde, tal cobertura havia caído para 24%, e o percentual de empregados inscritos em planos de Benefício Definido fora reduzido para 48%. As consultorias PwC, Morneau Sheppel e Mercer apuraram que somente na província de Ontário, 151 planos BD foram fechados devido à insolvência do patrocinador desde o ano 2000. 47% desses planos registravam menos de 70% de fundeamento no fechamento, nível que permite, segundo as regras em vigor na província, cortes significativos nos benefícios de participantes ativos e inativos. De acordo com a Comissão de Serviços Financeiros de Ontário (Financial Services Commission of Ontario - FSCO), no final de 2015, a solvência média dos planos regulados pela agência era de 83%, o nível mais baixo desde 2013. O órgão informou ainda que apenas 8% dos planos encontravam-se plenamente fundeados, patamar dramaticamente inferior ao registrado em junho de 2014 (28%). Em janeiro deste ano, a Mercer relatou que o nível de fundeamento mé- dio dos planos canadenses atendidos pela consultoria girava em torno de 85% contra 88% no início de 2015. Resultados parecidos foram revelados por estudo abrangendo os clientes institucionais da Aon Hewitt no primeiro trimestre de 2016, embora levantamentos posteriores tenham indicado uma leve reversão da tendência devido à recuperação do mercado acionário. Sistema canadense No final de 2015, apenas 8% dos planos da província de Ontário encontravam-se plenamente fundeados, nível bem inferior ao registrado em junho de 2014 (28%) Taxas de juros Um dos principais fatores a contribuir para a redução da cobertura dos planos BD no país foram as taxas de juros: em 1987, as taxas mantinham-se na casa dos dois dígitos, passando para pouco mais de 2% a partir de 2012. Esse movimento de queda fez o volume de passivos aumentar entre oito e nove vezes desde que as primeiras regras de solvência foram introduzidas no país. O pico nos retornos sobre os títulos públicos com vencimento de 10 anos ajudou a manter os déficits dos planos estáveis entre 2011 e 2013. No entanto, a rentabilidade dos títulos de longa duração voltou a cair nos anos seguintes, atingindo baixas históricas. Não há, no momento, expectativas de recuperação dos retornos; pelo menos não em curto prazo. A taxa para a concessão de empréstimos overnight do banco central do Canadá (Bank of Canada) tem se mantido abaixo ou igual a 1% desde janeiro de 49 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Sistema canadense 2009. Atualmente, a referida taxa está em 0,5%. Para piorar a situação, o país registrou dois períodos de desaceleração econômica nos últimos 15 anos, sobrecarregando ainda mais as patrocinadoras. O cenário econômico desfavorável associado ao crescente déficit nos planos de pensão - e o aumento dos aportes patronais para saná-los - acabou colocando muitas empresas no vermelho. Metodologia de cálculo Nas avaliações atuariais, normalmente são utilizadas duas taxas de juros (ou taxas de desconto) dependendo da forma de pagamento do benefício. Uma delas destina-se àqueles participantes elegíveis para o saque do pecúlio, enquanto a outra se aplica aos que deverão adquirir uma anuidade no ato da aposentadoria. No primeiro caso, a taxa de juros é definida pelo Conselho de Padrões Atuariais (Actuarial Standards Board - ASB) com base na rentabilidade dos títulos públicos de longo prazo acrescida de um spread. O Instituto Canadense de Atuários (Canadian Institute of Actuaries - CIA) fornece orientações sobre as taxas a serem utilizadas na compra de anuidades a partir do input recebido das companhias seguradoras que as comercializam. Contudo, as taxas podem variar conforme o prêmio pago pelo participante e a data de início de 50 pagamento da renda de aposentadoria, se imediata ou diferida. Regras transitórias Nos últimos anos, setores da indústria financeira canadense - a exemplo de bancos e seguradoras - implementaram mudanças em suas regras de solvência a fim de se adaptar às condições econômicas, ao ambiente de negócios e à maior sofisticação das modelagens utilizadas internacionalmente; no caso dos bancos, os acordos da Basileia I, II e III. Os reguladores da indústria de fundos de pensão, no entanto, vinham resistindo, até então, à implantação de novas regras, optando, na maioria dos casos, por medidas transitórias. Algumas províncias passaram a permitir, por exemplo, a utilização de cartas de crédito como garantia de uma parcela dos déficits (limitadas a 15% dos passivos totais), reduzindo, assim, o valor dos aportes requeridos das empresas. Em 2010, os planos regulados em nível federal também tiveram suas regras de solvência relaxadas em caráter provisório, com as contribuições extraordinárias das patrocinadoras de planos deficitários sendo calculadas com base numa média de três anos ao invés da avaliação atuarial mais recente. No total, 34 medidas de alívio temporário foram editadas no país, sobretudo entre os anos de 2009 e 2014. No Nas avaliações atuariais, normalmente são utilizadas duas taxas de desconto dependendo da forma de pagamento dos benefícios: pecúlio ou anuidades FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 final de 2015, o governo de Ontário decidiu estender a prazo de aplicabilidade de tais medidas, permitindo, com isso, que as empresas renegociassem as dívidas previdenciárias e por períodos mais longos, de dez anos, em comparação aos cinco anos definidos anteriormente. Na visão de especialistas, a extensão da vigência de medidas de alívio só reforça a ideia de que os padrões de solvência são inadequados. Entretanto, compreende-se que tais medidas são inevitáveis devido ao caráter pró-cíclico das regras de fundeamento, que estimulam os patrocinadores a aportar menos recursos ou suspender temporariamente as contribuições aos planos quando as condições econômicas são favoráveis e os déficits inexistentes. Tal comportamento acaba fazendo com que não sejam constituídos buffers ou colchões de solvência para resguardar os arranjos quando a economia ou os mercados financeiros vão mal. Além disso, argumenta a Associação de Gestão Previdenciária Canadense (Association of Canadian Pension Management - ACPM), exigir a cobertura dos passivos por planos em boas condições financeiras implica necessariamente em excesso de fundeamento e “capital parado”, já que as contribuições realizadas visando à cobertura dos déficits não podem ser utilizadas quando as taxas de juros sobem e os planos entram em superávit. Segundo a associação, as empresas patrocinadoras têm tomado empréstimos para injetar dinheiro nos planos de benefícios ou comprado cartas de crédito para fazer frente às exigências de fundeamento, um volume de capital que poderia ser alternativamente investido no setor produtivo, financiando, assim, o crescimento econômico. Sistema canadense O caráter pró-cíclico das regras de fundeamento leva patrocinadores a aportar menos recursos ou suspender as contribuições em condições econômicas favoráveis Desdobramentos recentes Diante de toda a pressão exercida sobre os planos e patrocinadoras, seja pelas baixas taxas de juros, por questões econômicas ou turbulências nos mercados financeiros e de capitais, os governos das províncias perceberam que algo precisava ser feito. Surpreendentemente, o caminho escolhido parece ser o relaxamento das exigências de fundeamento. O governo de Quebec passou a adotar as avaliações de solvência dinâmica - em inglês, goingconcern valuations, que partem do princípio de que o plano continuará a operar indefinidamente - além de colchões de solvência, que vêm sendo chamados de “reservas de estabilização”. A decisão foi negociada com sindicatos, que mostraram-se contrários a uma flexibilização mais radical dos padrões de fundeamento. Os reguladores das províncias de Alberta e British Columbia também promoveram o relaxamento das regras que, segundo os patrocinadores, vi- 51 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Sistema canadense nham onerando desnecessariamente as empresas. Ambas as províncias optaram por lidar com o problema do “capital parado” - oriundo das contribuições patronais extraordinárias - por meio da criação de “contas de reserva de solvência”, que passarão a receber os aportes para fins de saneamento de déficits, os quais poderão ser utilizados em circunstâncias específicas. A expectativa é que Ontário siga pelo mesmo caminho, adotando as avaliações de solvência dinâmica. Em fevereiro, o governo da província anunciou que daria início a uma consulta pública ainda no primeiro semestre. Segundo as diretrizes orçamentárias, o processo propõe-se a “nortear a reforma das regras de solvência dos planos, as quais deverão ter como enfoque a sustentabilidade, a viabilidade financeira e a segurança dos benefícios previdenciários, levando em conta os interesses de todas as partes envolvidas, incluindo patrocinadores, sindicatos, participantes e aposentados”. Pontos controversos A flexibilização das regras de solvência para os fundos BD unipatrocinados é controversa. De um lado, sindicatos e entidades representativas dos trabalhadores defendem regras mais rígidas; de outro, patrocinadores e especialistas argumentam que tais regras pouco contribuem para elevar os níveis 52 de solvência, reduzindo, em contrapartida, a oferta de planos pelas empresas. Os que se opõem ao relaxamento da regulação criticam, em especial, a avaliação atuarial que enfoca a solvência dinâmica, que deixaria de refletir a real situação do plano, colocando-o em risco, ainda que considerados os novos colchões de solvência. Além disso, argumenta-se que, nesse modelo, as contribuições patronais para cobrir eventuais déficits pouco diferem daquelas que seriam necessárias dentro da metodologia tradicional (solvency valuation), que requer do plano os ativos necessários para cobrir todos os direitos acumulados pelos participantes até a data da avaliação. Em contraste, diversos analistas veem com maus olhos as potenciais restrições às metodologias de suavização (smoothing) de ativos e passivos utilizadas atualmente, a exemplo do cálculo de uma média das taxas de desconto para estimar o passivo e a precificação de ativos a valores que se diferenciam em até 20% dos valores de mercado. Similarmente, é considerada prejudicial a imposição do limite mínimo de 85% de fundeamento para que o plano seja considerado “problemático”, passando a requerer avaliações atuariais anuais, uma das mudanças em estudo em Ontário. Os defensores do relaxamento das regras de solvência argumentam ainda que, em última instância, a melhor garan- Os defensores do relaxamento das regras argumentam que, em última instância, a maior garantia de longo prazo para um plano BD é a boa saúde financeira do empregador FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 tendem a crer - equivocadamente - que os padrões de fundeamento lhes garantem alguma segurança. No entanto, salienta, um pouco mais de educação financeira lhes permitiria enxergar que os padrões “não são tudo aquilo que imaginam”. Já a Association of Canadian Pension Management advoga que o país necessita de um novo modelo construído em torno de uma estrutura única e harmonizada, a ser adotada por todas as províncias, que seja perfeitamente comunicada a todos os stakeholders, que não aumente os custos para as patrocinadores e tenha como alicerces bons princípios de fundeamento e gestão de riscos a fim de proteger os direitos dos beneficiários e preservar a natureza de longo prazo dos planos de Benefício Definido. Sistema canadense tia de longo prazo para um plano de Benefício Definido é a boa saúde financeira da patrocinadora. Sendo assim, a imposição de regras que onerem as empresas poderia gerar alguns anos a mais de bons níveis de solvência para os planos, mas, em longo prazo, acabaria surtindo efeitos negativos sobre a patrocinadora em termos de competitividade e produtividade, afetando o fundo de pensão. Um estudo conduzido por Ian Edelist, diretor da consultoria atuarial Eckler, uma das maiores de Toronto, revelou que dos 151 planos de empresas que foram à falência na província entre 2000 e 2013, quase metade possuía menos de 70% de solvência em seus planos de pensão a despeito das regras em vigor. Na opinião do especialista, os participantes anúncio IDGII 53 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO CETIP OPINIÃO NTN-B’s longas: de olho no risco POR EMÍLIO CARVALHAIS* N o final do ano de 2012, os títulos de renda fixa atingiram seu ápice em termos de retorno, com reflexo no aumento dos patrimônios dos fundos de investimento de renda fixa de maior risco, destacadamente aqueles indexados à inflação (NTN-B). A queda observada nas curvas de juros, em um movimento que teve início no final de 2008, ocorreu acompanhada de forte valorização dos títulos públicos, principalmente os de maior duration. Entre 28.10.2008 (Crise do Subprime) e 31.12.2012 a taxa interna de retorno (TIR) da NTN-B 2045 alcançou 30% a.a., enquanto o CDI rendeu 12% 55 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 OPINIÃO | Emílio Ricardo Carvalhais 56 a.a. No mesmo período, o yield daquele título cedeu de 8,51% para 3,95%. O risco, por outro lado, se elevou. A duration é uma medida de sensibilidade do preço de um título de renda fixa às oscilações que ocorrem no seu yield. No caso das NTN-B, não significa o tempo para o vencimento do título, porque pondera os cupons de juros pagos semestralmente. Assim, a duration da NTN-B 2045, que era de 14,6 anos em 2008, elevou-se para 17 anos no final de 2012 (dados da ANBIMA). A variação no preço do título esperada pela elevação instantânea na taxa em 0,10%, que era aproximadamente -1,46% no primeiro momento, passou a ser de cerca de -1,70%. Com o fim do movimento de queda nas curvas de juros nominal e real, iniciamos o ano de 2013 com perspectivas de retorno menor e risco maior para os títulos de longo prazo. Podemos olhar para o yield das NTN-B, de forma simplificada, como sendo a taxa de remuneração da T-Bond de 10 anos (título americano pré-fixado ou T-Bond 10y), acrescida de um prêmio de risco em pontos percentuais. Entre 2006 e os dias atuais este prêmio oscilou em torno de 320 pontos em média, tendo o mínimo sido atingido em 2007 (71 pontos) e o máximo em fevereiro deste ano (570 pontos). No início de 2013, o spread situava-se em torno de 200 pontos. À época, a economia americana estava sob a influência de um programa de afrouxamento monetário, também conhecido como Quantitative Easing, promovido pelo FED (Banco Central Norte Americano). A farta liquidez internacional favorecia o “carry trade” para os países emergentes, pressionando a demanda por títulos soberanos destes países e contribuindo ainda mais para a queda FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 das taxas de retorno. O Real, entretanto, permanecia valorizado frente ao Dólar, cotado a pouco mais de R$ 2,00. Os preços das commodities ainda não haviam começado a cair, impactando severamente as empresas exportadoras e a economia do país. Havia diversos indicadores apontando para um “final de festa” e ainda assim os fundos indexados ao IMA-B e IMA-B 5+ continuavam captando. A NTN-B pagava pouco acima da taxa mínima histórica de IPCA + 3,74% a.a. O período observado compreende 2.839 dias úteis, sendo que em apenas 34 observações as taxas foram inferiores a 4% a.a. e, em contrapartida, somente em 30 dias foram superiores a 8%. Em janeiro daquele ano, as curvas de juros domésticas começaram a elevar-se e, em maio, o movimento intensificou-se com as declarações de Ben Bernanke, então presidente do FED, sobre o possível fim do afrouxamento monetário, pressionando as taxas das T-Bond e dos ativos de maior risco, como os de renda fixa dos países emergentes. Internamente, o cenário político-econômico começou a deteriorar-se até chegarmos às condições atuais. Os títulos de renda fixa sofreram forte ajuste. As taxas das NTN-B longas atingiram patamares próximos aos da crise de 2008. O título de vencimento de 2045 atingiu 7,34% no fim de 2015, tendo permanecido neste nível até o fim de fevereiro de 2016. O IMA-B 5+ registrou pífios 2,2% de rendimento nominal no triênio de 2013/2015. No mesmo período, o IMA-B 5 e o IDKA IPCA 2 anos, índices de duration aproximada de 2 anos, e, portanto, menos sensíveis às oscilações da curva de juros, apresentaram retornos bem superiores, principalmente gos pelos títulos mundo afora, principalmente em países emergentes, incluindo aqueles emitidos em moeda local. Ainda no front externo, devemos ficar atentos aos desdobramentos da possível saída do Reino Unido da União Europeia. Os níveis de atividade na China também são importantes, pois podem impactar os preços das commodities, com possibilidade de afetar a economia brasileira. Internamente, se o governo conseguir equacionar os problemas de natureza fiscal e, adicionalmente, conduzir as expectativas de inflação em direção à meta, pode ser que os yields das NTN-B longas equilibrem-se em níveis entre 5,0 a 6,5% a.a. Este cenário poderia contribuir para que a remuneração dos nossos ativos não se elevasse expressivamente, no caso elevação na curva de juros americana. O início das atividades dos fundos de índices de renda fixa (Exchange Trade Funds ou ETFs) pode impactar a demanda pelos títulos do governo e, consequentemente, promover a valorização adicional dos papéis. Em um cenário onde as expectativas acima não se concretizam, há chances de observarmos negócios com mais frequência no patamar entre 6,5 e 8,0% a.a. As expectativas com o início dos trabalhos da nova equipe econômica são positivas, e seu sucesso pode contribuir para a melhora da nota de crédito do Brasil no futuro. Entretanto, se isto vier a ocorrer, provavelmente o mercado terá se antecipado, trazendo as taxas para patamares abaixo dos atuais. *Emílio Ricardo Carvalhais é gerente da Divisão de Fundos Curto Prazo, DI e Índice de Preço da BB DTVM OPINIÃO devido à combinação de juros reais elevados e inflação alta. Renderam 32,5% e 35,2%, respectivamente, enquanto o CDI rendeu 35,6%. Até o fim do ano passado, a duration do IMA-B 5+ havia decrescido de 12 para 10 anos. Entre os anos de 2012 e 2015, enquanto a remuneração das NTN-B aumentava, os patrimônios dos fundos longos (IMA-B e IMA-B 5+) perdiam espaço para os fundos mais curtos (IDKA IPCA 2 anos, IMA-B 5). Em uma amostra de 76 fundos indexados ao IMA, os fundos longos diminuíram cerca de R$ 19 bilhões, enquanto os curtos ganharam R$ 15 bilhões. Embora a aversão a risco tenha penalizado os títulos brasileiros nos últimos anos, as taxas dos títulos americanos permanecem em patamar historicamente baixo até o presente, contribuindo para que o estresse observado na renda fixa doméstica no início de 2016 não fosse pior. Ao longo dos últimos 10 anos, em apenas 5% das observações diárias o spread entre as NTN-B 2045 e a T-Bond 10y esteve em patamar superior a 500 pontos base. Ou seja, no início de 2016, embora em termos de risco as condições fossem extremas, ao menos do ponto de vista histórico esperávamos alguma recuperação nos preços dos ativos, o que veio a acontecer em maio, com os prêmios cedendo para aproximadamente 413 pontos e o yield atingindo 5,9%. As próximas reuniões do FOMC (comitê de política monetária americana) serão importantes para dar ao mercado a noção do ritmo de elevação das taxas dos Fed Funds. Caso haja impacto relevante no segmento longo da curva de juros nos Estados Unidos (10-30 anos), poderemos observar ajustes nos níveis de juros pa- 57 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO GAMA Certificação e qualificação Qualificação e certificação mais adequadas à realidade das EFPC A atuação do supervisor está alinhada à necessidade de aprimoramento dos processos, mas são necessários ajustes que privilegiem uma visão mais estratégica O processo de qualificação e certificação de dirigentes e conselheiros dos fundos de pensão, assim como a certificação de processos das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, requisitos essenciais para o aperfeiçoamento e crescimento do sistema, ganham novos contornos em 2016. O primeiro semestre trouxe alguns avanços significativos na atuação do Instituto de Certificação de Profissionais de Seguridade Social – ICSS e acentuou o debate sobre alguns aspectos normativos. “A busca pela qualificação, além de indispensável, hoje é um consen- 59 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Certificação e qualificação 60 so no sistema e os ganhos de governança que já vinham ocorrendo se aperfeiçoam ainda mais para atingir as EFPC dos mais diversos portes”, aponta o presidente do ICSS, Vítor Paulo Camargo Gonçalves. O objetivo é elevar a barra de modo a replicar os esforços de aperfeiçoamento profissional verificados em todas as indústrias que exigem a maior qualificação possível de seus gestores, algumas delas, inclusive, com certificações de nível internacional. “Somos gestores de fundos previdenciários e não de fundos de investimentos e, no entanto, por mais paradoxal que possa parecer, houve um momento em que precisamos nos perguntar por que a qualificação exigida de um gestor de banco, por exemplo, não seria exigida também para quem administra a Previdência Complementar fechada.” A resposta a essa pergunta, observa Gonçalves, já foi dada pelo sistema e há um entendimento pleno da importância da certificação nos mesmos níveis das principais indústrias em todo o mundo. Com 4.650 profissionais e dirigentes já certificados (dados relativos ao início do mês de junho), o Instituto mantém certificações por experiência, capacitação e prova. A qualificação por capacitação acaba de ser reforçada pela assinatura de convênio, no final de junho, com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras - Fipecafi -, o segundo de uma série que começou com a UniAbrapp e que será ampliada ainda este ano com a chegada de uma terceira parceria negociada junto a uma universidade corporativa de reconhecimento e abrangência nacionais. O objetivo é agregar ao programa escolas com elevado nível de conhecimento e que comprovem ter capacidade de adequar seus programas aos padrões exigidos pelo ICSS. No caso da Fipecafi, passam a ser integrados ao calendário do Instituto dois novos cursos, o MBA “Gestão Atuarial e Financeira”, e o curso de extensão “Gestão de Entidades Fechadas de Previdência Complementar”, ambos com turmas já a partir de agosto. Se o maior número de certificados por enquanto está no campo da certificação por experiência – no qual o ICSS exige inclusive diploma de curso superior, quesito adicional ao que está na legislação – o maior índice de crescimento da demanda ocorre nos cursos de capacitação. Para os profissionais que têm experiência, porém não fizeram curso superior, a orientação é que busquem a certificação por capacitação ou prova para suprir essa ausência. “Essa foi uma medida tomada para evitar que houvessem barreiras de entrada. Os nossos programas têm um caráter aberto e inclusivo, mas sempre olhando para o objetivo primordial que é certificação baseada em um Programa de Educação Continuada”, explica o presidente. Se o profissional não dispuser de tempo para fazer o curso, ele pode ir di- O objetivo do ICSS é replicar os esforços de aperfeiçoamento profissional de indústrias que exigem a maior qualificação possível de seus gestores FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 retamente para a terceira modalidade de certificação, por prova. O Instituto tem registrado crescente procura pelos programas de capacitação e pela prova. Entre os meses de maio a dezembro, há 970 cargos de dirigentes e conselheiros vencendo, então o ICSS está se preparando para a renovação desses mandatos, pois eles são passíveis de mudanças e o ideal é que haja o menor impacto possível para as entidades. Melhores práticas No caminho da melhor governança, a certificação dos processos dos fundos de pensão, que deverá ser anunciada ainda no terceiro trimestre deste ano, é um dos principais focos de atuação do ICSS, e contará com a parceria de um instituto voltado às melhores práticas. “Isso não significa que a certificação de processos será obrigatória, mas que estamos preparados para fazer isso e cada EFPC poderá participar, na medida de sua capacidade e de seu interesse, para avaliar seus processos”, diz Gonçalves. Como resultado, a entidade terá um diagnóstico claro e receberá sugestões de eventuais medidas de aprimoramento. A ideia, com isso, explica o presidente do ICSS, “é reduzir custos finais, mitigar riscos e melhorar os benefícios aos participantes, o que configura, na prática, um ato de cidadania por meio da certificação”. O papel do ICSS é disseminar as práticas que possam ser comuns a todos os fundos de pensão, resguardando o sigilo das infor- mações, de maneira que as entidades possam compartilhar sistemas, plataformas e treinamentos. Cada entidade escolherá o módulo que seja mais adequado às suas necessidades e contará com a expertise de profissionais que conhecem bem o sistema, explica Gonçalves. Regulação em debate Cada vez mais consolidado entre os institutos certificadores do País por sua experiência específica no setor e por não ter fins lucrativos, o ICSS espera ver concluídas até setembro as discussões em torno de questões normativas. “A Previc tem atuado de forma preocupada e responsável, mas faltou olhar com maior atenção para a habilitação prévia, uma novidade para todos, inclusive para o regulador”. A Instrução Normativa nº 28 da Previc, com validade a partir de 1º de julho deste ano, prevê um prazo de seis meses de adaptação para o sistema, período durante o qual espera-se que sejam feitos ainda alguns ajustes. A IN foi alterada pela edição, no dia 22 de junho, da Instrução Normativa nº 30 e ficaram estabelecidos os novos procedimentos para certificação, habilitação e qualificação dos membros da diretoria-executiva e dos conselhos. A IN 30 desvinculou a certificação do momento da habilitação dos dirigentes e conselheiros, que passarão a ter prazo de um ano, a contar da posse, para obterem a certificação. Com essa mudança, o envio do certificado deixou de ser obrigató- Certificação e qualificação Especialistas concordam que faltou olhar com maior atenção para a habilitação prévia, uma novidade para todos, inclusive para o órgão regulador 61 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Certificação e qualificação 62 rio no momento da habilitação, embora ele se mantenha como requisito condicionante ao exercício no cargo. A exceção fica para os Administradores Estatutários Tecnicamente Qualificados (AETQ), que deverão ser certificados previamente ao exercício do cargo, uma novidade que tem produzido dúvidas sobre sua operacionalização. O objetivo da Previc foi aperfeiçoar a norma e garantir o seu maior alinhamento à Resolução CNPC 19/2015. As EFPC deverão manter o órgão regulador permanentemente informado a respeito dos dirigentes que possuem certificação, já que esse número será levado em consideração para fins de Supervisão Baseada em Risco. A Instrução terá impacto positivo, como todas as medidas que vêm reforçar a qualificação, “em que pesem os efeitos do ineditismo da habilitação prévia, que pode gerar conflitos entre o regulador e o fiscalizador”, avalia o presidente do ICSS. Além disso, a norma manteve um tópico da IN 28 inalterado, o item V do art. 7º, que exige do profissional habilitado ter “reputação ilibada”. “Esse é um termo subjetivo, bastante obsoleto, que precisa ser alterado. Do jeito que está, dá a impressão de que será possível escolher os dirigentes que serão e os que não serão habilitados por meio de critérios subjetivos”, critica Gonçalves. A expectativa é de que os seis meses de prazo para adequação à norma tragam ajustes nesses pontos que podem gerar problemas. Visão estratégica Outro aspecto regulatório que causou desconforto foi a edição da Portaria nº 297, de 29 de junho passado, que trata das instituições certificadoras e dos tipos de certificações consideradas adequadas pela Previc no âmbito da Resolução CNPC nº 19. É o reconhecimento, pelo órgão supervisor, das instituições certificadoras autônomas para fins de habilitação. A Portaria define os certificados que serão aceitos durante o ano de 2016 e estabelece quais os requisitos mínimos para reconhecimento das instituições certificadoras. Além disso, foi esclarecido que outros certificados poderão ser aceitos desde que comprovem aderência ao conteúdo mínimo previsto na Resolução CNPC nº 19/2015. Desde 1º de julho, novos dirigentes só poderão entrar em exercício de seus cargos depois de passarem pelo processo de habilitação. São definidos os certificados aceitos para o exercício dos cargos de AETQ, diretor de investimentos e demais responsáveis pela aplicação de recursos, assim como para membros da Diretoria-Executiva e dos Conselhos Deliberativo e Fiscal. A Portaria, entretanto, está sendo considerada inadequada e avessa à visão estratégica necessária para que a certificação atenda aos desafios de qualificação profissional enfrentados pelos fundos de pensão. “Alguns certificados não atendem às exigências dos cargos; eles são mais adequados aos gestores do setor financeiro, na área operacional de fundos de investi- O termo “reputação ilibada”, tópico da IN 28 que manteve-se inalterado, abre espaço para que a escolha dos dirigentes a serem ou não habilitados se dê por meio de critérios subjetivos FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 regulamentar esse processo são positivas, mas precisamos continuar atuando para ter uma visão cada vez mais estratégica.” Ao estabelecer distinções e categorias de certificação de maneira diferente do que prevê a Resolução CNPC 19, de 2015, há inclusive o risco de se criar uma situação delicada para os profissionais já certificados dentro dos parâmetros ditados pelo normativo e que poderão, agora, não estar condizentes com a nova orientação. “Esperamos que sejam feitos ajustes na Portaria porque ela tem aspectos anacrônicos em relação à realidade dos fundos de pensão”, afirma Gonçalves. Ele reitera ainda: “Se não formos propositivos, não estimularemos uma mudança de comportamento dos profissionais e dirigentes que atuam no sistema”. Certificação e qualificação mento, e não para quem administra recursos previdenciários de longo prazo”, avalia Gonçalves. Para ele, não ficou clara qual é a correlação entre o tipo de certificado e o exercício do cargo, o que torna a regra burocrática e sem visão estratégica: “Precisamos elevar a barra da qualificação, ter certificações mais sofisticadas e adequadas à gestão da Previdência Complementar”. O normativo considera o certificado emitido pelo ICSS válido para todos os cargos diretivos, como é o caso da certificação para profissional de investimentos, destaca o presidente do Instituto, lembrando que isso reflete o esforço e aperfeiçoamento constante na direção das melhores práticas. “A Previc tem atuado de forma alinhada com a necessidade de aprimoramento e todas as medidas que vêm no sentido de anúncio SEREL 63 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio ANÚNCIO ITAÚ-UNIBANCO de riscos ganha sugestões de aprimoramento Compartilhamento de riscos Compartilhamento A principal preocupação é que o modelo a ser aprovado prime pela simplicidade, sem qualquer excesso burocrático que possa comprometer a contratação A Abrapp apresentou um conjunto de sugestões para aprimoramento da Instrução Normativa que tratará das regras para contratação de seguro para compartilhamento de risco. As propostas atenderam à consulta pública aberta pela Previc para aprimorar a IN que, em conjunto com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), vai regulamentar o comando da Resolução CNPC nº 17, de 30 de março de 2015, tendo sido discutidas em audiência realizada no início de maio. A principal preocupação da Abrapp foi de que o modelo a ser aprovado prime pela simplicidade, sem qualquer excesso burocrático que possa comprometer a contratação. A consulta pública se encerrou em 15 de abril. Cada entidade que se interessasse em oferecer sugestões teve a oportunidade de incluir uma proposta de redação para o artigo, parágrafo, inciso, alínea ou item, com a devida justificativa. A minuta da norma prevê que a entidade fechada poderá contratar seguro específico 65 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Compartilhamento de riscos 66 a fim de dar cobertura aos planos de benefícios em relação aos riscos decorrentes de invalidez de participante; morte de participante ou assistido, sobrevivência do assistido; e desvios de hipóteses biométricas. Os contratos de seguros poderão prever cobertura total ou parcial, sempre com a prévia realização de estudos técnicos demonstrando a viabilidade econômico-financeira e atuarial. Existe também a vedação de pagamento de valores diretamente a participantes ou assistidos, bem como fica proibida a transferência de participante, assistido ou de reserva garantidora para a seguradora. Agora, a Previc está analisando conjuntamente com a Susep as contribuições recebidas da sociedade civil e do mercado e consolidará o texto final a ser publicado. Um dos responsáveis pelas propostas apresentadas pela Abrapp, o consultor e atuário Antônio Fernando Gazzoni, Diretor Geral da Mercer/Gama, ressalta que, embora tenha adotado como base a simplificação nos procedimentos do regulamento, houve o cuidado de que os critérios técnicos e de governança fossem mantidos sobre cada um deles. “O compartilhamento de riscos será totalmente descrito e documentado em contrato, que ficará disponível para consulta por conselhos, patrocinadores, participantes, Previc e demais atores interessados.” Além do contrato, uma nota técnica específica de seguros descreverá quais os procedimentos na concessão, pagamento de prêmios, e assim por diante. “Se houvesse uma burocratização exagerada, isso com certeza dificultaria a contratação pelas entidades”, observa o consultor. Uma das propostas discutidas pela Abrapp foi a obrigatoriedade prevista pela norma de que as contribuições sejam reco- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 lhidas dentro de um fundo previdencial. A ideia era que essas contribuições pudessem ser repassadas diretamente para a seguradora, o que baratearia o produto. No entanto, por conta de norma da Susep, esta possibilidade foi descartada, pelo menos neste momento. Terceira renda A norma fala da contratação de uma renda imediata. Portanto, para este fim, quando o participante se aposentar, além do benefício a ser recebido do plano – provavelmente de Contribuição Definida – haveria outra renda a ser coberta pela seguradora na qual ele acumulou recursos dentro do fundo previdencial e não no saldo de conta. Esses recursos se converteriam em uma renda que a sociedade seguradora devolveria à entidade para que fosse repassada ao participante durante o período de vigência do benefício. A proposta era que houvesse ainda uma terceira renda – e esta não está prevista no momento, por isso a regulação ainda não a contempla – que seria uma renda diferida. “O participante teria aquele mesmo saldo de conta, que geraria uma renda a ser paga pelo prazo determinado no plano CD. Ao fim desse prazo, aí sim ele passaria a receber uma renda diferida vitalícia a ser provida pela seguradora contratada, via destinação de recursos à entidade”, explica Gazzoni. Dessa forma, mesmo os participantes de um plano CD teriam acesso a uma renda vitalícia, capitalizada dentro de um fundo previdencial, por meio do contrato de compartilhamento de risco celebrado entre a entidade e a sociedade seguradora para determinado plano de benefício. Além, claro, do benefício a ser pago pelo plano, limitado ao saldo de conta, como prevê todo plano de Contribuição Definida. As demais propostas da Abrapp tiveram por foco o aprimoramento da redação dos artigos, mas sem mudar a essência. No total, a consulta resultou em 206 sugestões debatidas em audiência com representantes do sistema. O advogado Roberto Messina, que também participou da elaboração das propostas, ressalta que a consulta pública conjunta de Previc e Susep teve o objetivo de proporcionar alguns regramentos para viabilizar a operacionalização da norma. “Temos dois segmentos no mercado: o fechado e o aberto, onde se situam as empresas de seguros, que são reguladas por outro conjunto de normas. Por isso se demanda um casamento entre algumas situações para que se possa ter êxito na empreitada de compatibilizar as ações a serem reguladas. Do ponto de vista dos fundos de pensão, a própria palavra compartilhamento de risco já mostra a utilidade dessa iniciativa”, resume. Em vez de concentrar alguns riscos nos planos previdenciários, na acumulação que a própria entidade faz para cumprir com os compromissos do plano e todos os riscos dele decorrentes – não apenas operacionais, mas também de mercado e até ações movidas pelos participantes – haverá a alternativa de diluir esses riscos com outros players de mercado, que seriam as seguradoras. Para tanto, foi necessário alterar uma regra do setor fechado ainda mais restritiva, a Resolução nº 10 de 2004, o que já foi feito, mas até então sem trazer efeitos práticos, já que não havia disposição do mercado segurador. Vale lembrar que este é um mercado que atua inclusive no segmento aberto de Previdência Complementar e algumas dessas se- Planos CD e BD poderão contratar cobertura para invalidez, morte, sobrevivência do assistido – ou seja, a própria longevidade – e eventuais desvios de hipóteses biométricas guradoras já fazem a cobertura ou oferta dos benefícios de risco dos planos previdenciários de entidades que possuem planos exclusivamente estruturados na modalidade de Contribuição Definida. Só que agora essa oferta será ampliada. Antes era apenas para invalidez e morte e só nos planos CD. Agora vai ser para invalidez, morte, sobrevivência do assistido – ou seja, a própria longevidade – e eventuais desvios de hipóteses biométricas, o que amplia o escopo também para os planos de Benefício Definido. O objetivo é que haja maior segurança para o sistema fechado. Já as seguradoras estariam não só partilhando esse risco com o fundo de pensão, como também poderiam ressegurar seu próprio risco. “É bom para os participantes e para as Entidades Fechadas de Previdência Complementar. A Abrapp sempre foi a favor dessa ideia, tanto que encaminhou a proposição dessa resolução. E agora encaminhou algumas sugestões visando aprimorar a IN que a operacionalizará”, ressalta Messina. Os ajustes foram pontuais, cabendo ser lembrado que a adoção desses caminhos demandará a apresentação de estudos técnicos quanto à necessidade do plano e a viabilidade do seguro para atingir a finalidade desejada. No plano jurídico, para não deixar dúvidas sobre a posição de estipulante do fundo de pensão, e não de beneficiário final. Compartilhamento de riscos Aprimoramentos 67 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Compartilhamento de riscos 68 Quando a EFPC contrata a cobertura dos riscos previstos na Resolução, não está transferindo 100% da responsabilidade, apenas compartilhando algumas situações com a seguradora. Mas o benefício, em si, não é para o fundo de pensão, “que não morre, não se invalida e nem sobrevive além do previsto”, ilustra Messina para reforçar o papel de intermediário das EFPC. Nesse sentido, o prêmio para a seguradora não é pago pela entidade, mas pelos próprios participantes. O fundo de pensão é somente um intermediário nesse pagamento. O advogado observa ainda que a IN acertadamente manteve a possibilidade para que as seguradoras tenham liberdade de oferecer vantagens que sirvam de diferencial no fechamento dos contratos. Como em todo mercado, as companhias concorrem entre si. Usualmente, algumas oferecem parte do prêmio às entidades, que podem revertê-lo em benefício dos participantes. Quanto maior o número de adesões, maior a escala e menor o custo. “É como se fosse uma espécie de desconto oferecido aos fundos de pensão. Algumas entidades também administram assistência à saúde. Existem programas de compra de medicamentos que são parcialmente subsidiados com recursos dessa natureza, por exemplo. E esta ideia de oferecer um atrativo à comunidade representada pelo fundo de pensão está sendo preservada no artigo 5º da IN”, cita Messina. O problema é que o parágrafo 2º desse mesmo artigo da minuta da IN prevê que “os valores destinados ao fundo administrativo deverão ter por finalidade o custeio das despesas inerentes à administração do contrato pela EFPC, na forma definida no regulamento do Plano de Ges- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 tão Administrativa”. A sugestão feita pela Abrapp é esclarecer que a entidade poderia dar destinação a esses recursos segundo as próprias previsões internas, desde que compatível com seu estatuto e a legislação. Outra sugestão foi propor a discussão de um mecanismo mais fácil pra renovação do contrato, que normalmente tem prazo de vigência. “Temos um problema de interpretação no sistema que é a exigência determinada pelo Código Civil de que os contratos de seguros coletivos tenham aprovação de três quartos dos beneficiários quando da mudança de regra, cláusula, etc.”, ressalta Messina. Ou seja, passado o tempo de vigência do contrato, seria necessário ter a aprovação de 75% da massa de participantes para renová-lo. “Tentamos propor algum mecanismo facilitador porque o entendimento é que essa regra não se aplica aos fundos de pensão, que já têm representantes naturais dessa comunidade de pessoas nos conselhos deliberativos das entidades, e que assumem essa posição de representação de interesses, facilitando a operacionalização dos ajustes”, justifica. Há que se lembrar, ainda, que a contratação não é obrigatória. Portanto, quem não quiser contratar, só precisa manifestar essa vontade. “Esperamos que os players de mercado se interessem pelo debate para conhecer um pouco mais do sistema fechado e, dessa forma, possam estabelecer os prêmios compatíveis. Para nós, que essa cobertura signifique maior racionalização dos custos, sem prejuízo da qualidade de proteção. As contratações sempre dependerão de estudos técnicos da entidade, o que vai envolver justamente as duas áreas mais significativas para isso, que são as áreas atuarial e jurídica, que vão ter que enxergar o equilíbrio nessas contraprestações do ponto de vista do custo e das garantias”, explica Messina. Anuncio ANÚNCIO JCMB OPINIÃO | Ronnie Gonzaga Tavares A marcação pela curva e a necessidade de aprimoramento da educação financeira e previdenciária POR RONNIE GONZAGA TAVARES* O 70 objetivo do presente texto é apresentar uma reflexão acerca da necessidade de aprimoramento da educação financeira e previdenciária no país com vistas a se enriquecer o debate em relação a real necessidade da utilização do critério de Marcação pela Curva (MTC) nos investimentos e financiamentos de pes- FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 soas físicas e jurídicas, quando seria recomendável a adoção da Marcação a Mercado (MTM) de forma prioritária. Inicialmente, é importante esclarecer os conceitos de tomadores de recursos e seus financiadores. Sob a ótica econômica, o tomador (agente econômico deficitário) antecipa despesas, para vos, nas expectativas econômicas, entre outros fatores. Nesse sentido, conclui-se que as taxas de juros variam não apenas em função do prazo do contrato, mas também por conta de alterações nas condições econômicas vigentes a cada momento. A partir dessa constatação, chega-se a uma pergunta inexorável: qual o valor de determinado investimento (sob a ótica do financiador) ou dívida (sob a ótica do tomador) em dado momento? Para se chegar ao valor desejado há duas metodologias usualmente utilizadas: a Marcação pela Curva e a Marcação a Mercado, que são critérios contábeis de precificação de ativos (e passivos). A depender da metodologia utilizada, podem suavizar ou intensificar as variações dos preços desses títulos (contratos) entre a data da aquisição (contratação) e de seu vencimento. Entretanto, independentemente do critério adotado, o valor apurado no vencimento será idêntico, seja pela curva ou a mercado. A diferença se encontra tão somente na trajetória de preços ao longo da vida do ativo (ou passivo). Neste momento, vamos focar a análise apenas sob a ótica do investidor. OPINIÃO consumo ou investimento, em um momento em que não possui recursos financeiros suficientes para tanto. Daí a necessidade de recorrer a algum ente que os possua em excesso, identificado como o financiador (agente econômico superavitário), que é aquele que decide emprestar os recursos solicitados adiando seus planos de gastos. Então, quando ocorre a transferência temporária de recursos dos financiadores para os tomadores, há incidência do que se chama “juro”, que pode ser entendido como o “custo do aluguel do dinheiro”, pois é a compensação devida pelo tomador (devedor) do empréstimo para a utilização de recursos oriundos de seu financiador (credor ou investidor), os quais deverão ser devolvidos acrescidos de uma remuneração (juro) ao final do prazo do contrato. Resumidamente, juro nada mais é do que a remuneração do dinheiro no tempo. Essa definição é de suma importância não apenas pelo conceito do rendimento dos recursos financeiros, mas principalmente pelo envolvimento da variável “tempo” na equação. Dessa forma, para cada prazo de investimento (ou empréstimo), há uma taxa de juros correspondente. Adicionalmente, é de vital discernimento destacar que as taxas de juros podem variar a cada instante, inclusive dentro do mesmo dia. Por exemplo, o rendimento de um título prefixado de um ano pode estar sendo negociado a 12,93% ao ano na parte da manhã de determinado dia e passar a ser transacionado a 13,00% ao ano minutos depois. Essa variação nas taxas é decorrente, principalmente, de alterações na oferta e demanda por recursos ou ati- Marcação pela Curva (MTC) Nesta metodologia, o ativo é contabilizado pelo valor de aquisição, acrescido da variação do indexador (se houver) e do rendimento decorrente da taxa de remuneração pactuada (que é mantida fixa) desde a emissão até o vencimento. As principais características desta metodologia são: i) neutraliza ou reduz de forma significativa a volatilidade da carteira de investimentos, pois o re- 71 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 OPINIÃO | Ronnie Gonzaga Tavares torno do ativo é constante (para o caso dos títulos de renda fixa prefixados) ou com baixíssima variação (títulos de renda fixa pós-fixados), visto que o mesmo será remunerado à taxa e indexador pactuados na ocasião de sua aquisição; ii) não possibilita a apresentação de rentabilidade negativa, exceto em casos excepcionais (por exemplo: no caso de títulos indexados a índice de preços e mesmo assim somente com inflação negativa no período em magnitude superior ao ganho decorrente do rendimento da taxa de remuneração pactuada)1; iii) gera transferência de renda entre os cotistas de um fundo de investimento ou participantes de um Plano de Benefícios2, sendo esta a maior crítica em relação a tal metodologia. Marcação a Mercado (MTM) Nesta metodologia, o ativo é contabilizado diariamente pelo preço efetivo de mercado, de acordo com os negócios realizados ou metodologia específica de apreçamento do ativo. As principais características desta metodologia são: i) permite identifi- car o preço de venda do título, caso o investidor queira negociá-lo antes do vencimento; ii) incorpora volatilidade à carteira, decorrente das oscilações positivas ou negativas do preço do título, podendo inclusive, em alguns momentos, apresentar rentabilidade negativa; e, iii) o impacto da desvalorização do papel é neutralizado caso o ativo seja mantido em carteira até o seu vencimento, visto que será remunerado à taxa pactuada na aquisição do título. É importante destacar que, em 2002, os fundos de investimento abertos foram obrigados pelos órgãos reguladores, Banco Central (BC) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a contabilizar todos os seus títulos em carteira pelo critério de Marcação a Mercado. Com a medida, o governo buscou ampliar a transparência dos fundos, que passaram a apurar o valor exato do ativo3, além de impedir a transferência de riqueza entre os cotistas dos referidos fundos de investimento. Porém, no segmento de fundos de pensão, o método de precificação dos recursos fica a critério dos gestores, con- 1.0 Esse critério gera, por consequência, a falsa impressão de que um título de renda fixa não “pode” apresentar rentabilidade negativa, o que é falso, pois se existir a necessidade de desfazimento da aplicação financeira, o preço de venda do ativo será determinado pelas condições de mercado verificadas no momento da operação, ou seja, pelo critério de Marcação a Mercado. Assim, caso a taxa de rendimento do título esteja superior à taxa do título, o preço de venda do mesmo será inferior àquele registrado contabilmente, gerando um prejuízo imediato à aplicação. 72 2. No critério de Marcação pela Curva, o preço registrado do ativo em determinado momento normalmente não corresponde àquele praticado no mercado financeiro, aqui chamado de “justo”. Consequentemente, o valor da cota do fundo de investimento ou plano de benefícios não reflete o real valor naquele instante em caso de necessidade de venda dos ativos. De maneira similar, verificar-seia o mesmo problema no caso de aquisição de novos ativos idênticos aos existentes (que ocorreriam por valor diferente daquele registrado contabilmente), pois seriam comprados pelo preço de mercado (“justo”) e não pelo preço registrado. Dessa forma, a aquisição ou resgate de cotas se daria por quantidade divergente daquela que correta calculada a partir do preço “justo” do ativo, tendo com consequência a transferência de renda (lucro ou prejuízo, seja medido em valor financeiro ou em quantidade de cotas) entre cotistas (no caso dos fundos de investimento) ou participantes (fundos de pensão). 3.http://www.capef.com.br/site/educacaointerna.aspx?id=730 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 a vantagem de se reduzir (ou mesmo eliminar) a volatilidade nos resultados alcançados. O contraponto primordial diz respeito à transferência de riqueza entre participantes ao se adotar tal critério. “Estudos mostram claramente a inadequação da marcação na curva em planos CD, que têm vários cotistas com aportes e resgates em momentos distintos e devem, portanto, optar pela marcação a mercado”6. Passando a análise para a ótica do tomador, chega-se a constatações semelhantes, visto que os critérios de contabilização são os mesmos, ficando a cargo das partes definir qual a metodologia a ser adotada (o Tesouro Nacional contabiliza sua dívida em títulos pelo critério MTC 7 enquanto os investidores destes títulos utilizam tanto MTC quanto MTM). Entretanto, há um detalhe fundamental no caso de empréstimos concedidos para pessoas físicas e jurídicas por parte de instituições financeiras (bancos, cooperativas de crédito, so- OPINIÃO siderando as características específicas de cada plano, desde que, na Marcação pela Curva, seja comprovada a capacidade de manutenção desses títulos até o seu vencimento, respeitados os compromissos financeiros do plano. Usualmente, os planos de Benefício Definido (BD) costumam marcar seus ativos de renda fixa pela curva (MTC), enquanto os planos de Contribuição Definida (CD) normalmente utilizam o critério de Marcação a Mercado. No caso dos planos de Contribuição Variável (CV), há um critério misto com a utilização de MTM durante o período de acumulação (parte CD do plano) e de MTC quando do pagamento de benefícios (parte BD do plano)4, 5. É importante ressaltar que esta discussão sobre os critérios de marcação por parte dos fundos de pensão é antiga e não há consenso ou determinação específica, embora um dos principais argumentos utilizados para a utilização do critério de Marcação pela Curva seja 4.0 Definições da Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC (http://www.previc.gov.br/a-previdencia-complementar-fechada/sobre-o-setor-1): - Plano BD: “Neste tipo de plano, o valor do benefício do participante é decidido no momento de sua adesão e suas contribuições vão variar à medida de sua vida de trabalho para alcançarem o valor estipulado inicialmente”. - Plano CD: “Neste tipo de plano, decide-se o tamanho da contribuição a ser efetuada ao plano, e o benefício do participante é definido no momento da aposentadoria, com base no montante de recursos que o participante tenha contribuído durante o período que trabalhou”. - Plano CV: “Nesta classificação entram aqueles planos que tem presentes características de ambos os tipos de planos citados acima. Trata-se de uma mistura entre contribuição e benefício definidos”. 5. Embora tenhamos relatado o que usualmente é adotado como critérios pelos gestores dos fundos de pensão, há casos de planos BD marcando a mercado e de planos CD marcando os ativos pela curva do título. 6.“Investimentos: um debate cada vez mais relevante”. Texto publicado no Diário dos Fundos de Pensão em 2/jun/2016 (http://diario.abrapp.org.br/Paginas/Detalhes.aspx?nId=39168) 7. Porém, quando ocorre um resgate antecipado da dívida, a liquidação financeira ocorre pelo preço calculado pelo critério MTM e há um ajuste contábil necessário decorrente da diferença verificada entre o preço calculado via MTC (registrado na contabilidade do Tesouro Nacional) e MTM. 8. Neste rol não se encontram os títulos de renda fixa emitidos por pessoas jurídicas (debêntures, por exemplo) adquiridos pelos bancos. 73 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 OPINIÃO | Ronnie Gonzaga Tavares 74 ciedades de crédito imobiliário)8, pois nestes casos o usual é que o critério de apuração do saldo devedor do empréstimo seja sempre utilizando a Marcação pela Curva, além de ser possível a quitação desta dívida, por parte do tomador, pelo saldo devedor calculado por esta metodologia. Elaborando um pouco mais esta questão dos empréstimos concedidos por instituições financeiras a pessoas físicas e jurídicas, chega-se a um ponto bastante interessante: o devedor pode quitar a dívida a qualquer momento (salvo cláusulas de vedação específicas em contrato) e o faz pelo saldo devedor, calculado pelo critério de Marcação pela Curva. Esta metodologia adotada pelas instituições financeiras é bastante intuitiva e de fácil entendimento por parte do tomador de recursos, não gerando questionamentos. Daí a sua aplicação generalizada. Porém, sabe-se que tal critério não garante que o valor daquele contrato espelha o montante “justo” a qualquer momento, pois este somente é possível de se obter por MTM (a menos que a taxa de desconto do critério MTM seja idêntica à taxa de juros do contrato original). Dessa forma, sempre que a taxa de juros se encontrar abaixo do valor da taxa original do contrato seria possível para o tomador quitar o empréstimo e obter um novo financiamento com taxas mais atrativas9. Porém, quando o inverso ocorre (taxas de juros acima da verificada no contrato original), o credor não pode solicitar a quitação antecipada do empréstimo. Ou seja, há uma assimetria de condições entre tomadores e credores nestes casos. Na prática, é como se houvesse uma opção de compra (call option) concedida ao tomador contra o credor, que poderia ser exercida a qualquer momento que lhe fosse favorável. E, como não há “almoço grátis”, esta opção de compra tem um custo, que está embutido nas taxas de juros do empréstimo. Assim, embora praticamente ninguém se dê conta, sempre que um empréstimo é concedido com a possibilidade de quitação antecipada da dívida pelo saldo devedor, as taxas de juros praticadas são superiores àquelas que ocorreriam caso a quitação ocorresse pelo “valor de mercado” da dívida (o que acontece no caso dos títulos de renda fixa). Analisando o caso sob ângulo alternativo, temos que, quando da assinatura do contrato, tanto o tomador do recurso quanto o financiador (investidor) têm a expectativa de que o mesmo será levado até o vencimento, gerando para o investidor o rendimento contratado. Porém, caso o contrato seja encerrado antes do prazo final por conta de eventual queda nas taxas de juros, o recurso recebido pelo financiador será reinvestido, porém gerando um retorno inferior àquele inicialmente pactuado, enquanto para o tomador haverá um benefício na mesma proporção. E isso existe apenas quando da utilização do critério da Marcação pela Curva. Voltando agora ao conceito de juro, remuneração do dinheiro no tempo, pode-se perceber que o critério mais “justo” para o cálculo da dívida também 9.0 Descontando-se os custos de transação eventualmente envolvidos nas operações. FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 não pode apresentar variação negativa, argumento obviamente falso. Deve-se levar em conta que o termo “renda fixa” (fixed income) tem origem nos contratos que estabelecem pagamento periódico de juros prefixados (gerando um fluxo constante e regular entendido como sendo uma renda fixa) e amortização apenas no vencimento11. Mas isso nunca significou que o preço do contrato não pudesse variar com o tempo, apenas que o fluxo de pagamento (passado e futuro) era constante. Nesse sentido, para aqueles que têm um conhecimento mínimo de matemática financeira e de economia ou finanças, é mais natural capturar a real noção do que significa um ativo de renda fixa e suas flutuações de preço ao longo do período de vida do mesmo. E o entendimento do funcionamento do mercado de renda fixa em particular12, e do mercado financeiro em geral, é de fundamental importância para a boa educação financeira e, por conseguinte, da educação previdenciária. E a partir do entendimento dos conceitos e do funcionamento dos diversos segmentos dos mercados financeiros fica menos traumática a discussão de maneira mais profunda acerca de qual o nível de apetite a risco dos investidores (participantes para o caso específico dos fundos de pensão) e as melhores estratégias de investimentos a partir das alternativas OPINIÃO seria a Marcação a Mercado, pois a qualquer momento seria possível calcular o valor do contrato a partir das oscilações verificadas nas condições econômicas, o qual não geraria possibilidade de arbitragens para o tomador, além de se reduzir o custo do empréstimo tendo em vista a não existência da “opção de compra” embutida no contrato. Entretanto, como explicar a um determinado tomador que, em determinados casos, quando as taxas de juros de mercado forem inferiores à taxa originalmente contratada, o valor de quitação do empréstimo dar-se-ia por montante superior ao do saldo devedor (nos moldes atuais calculado pelo MTC)10? A resposta está na educação financeira. Regra geral, as pessoas entendem o conceito de variação no preço dos bens. Há inúmeros exemplos no dia a dia, e não apenas no mercado financeiro. O preço dos alimentos é bastante suscetível às condições climáticas, períodos de safra e entressafra. No lado dos ativos financeiros, as pessoas com um mínimo de conhecimento sabem das oscilações verificadas nas bolsas de valores e no preço do dólar (taxa de câmbio). Porém, quando se trata de um instrumento de renda fixa, o entendimento se extingue. Talvez seja por conta da própria nomenclatura “renda fixa”, que induz o leigo a achar que algo que é fixo 10.0Deve-se ressaltar que a quitação de um contrato por valor superior ao saldo devedor (quitação com ágio) é absolutamente comum no mercado financeiro e ocorre quando o emissor da dívida efetua o resgate antecipado pelo valor de mercado do título, sendo que a taxa de rendimento do mesmo naquele momento é inferior à taxa de juros quando da emissão do título. 11. Tal característica é comumente conhecida nos mercados internacionais como “Plain Vanilla”, o qual não contempla uma tradução exata para o português. 12.Tendo em vista que os ativos de renda fixa se constituem no principal objeto de investimento por parte dos investidores institucionais, sendo ainda que os títulos públicos formam a espinha dorsal deste segmento. 75 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 OPINIÃO | Ronnie Gonzaga Tavares vigentes e que estejam em linha com o nível de risco a ser assumido, sem a necessidade da utilização do subterfúgio da Marcação pela Curva com o intuito apenas de se reduzir a volatilidade de determinada aplicação financeira. Em virtude do exposto, fica cada vez mais evidente a necessidade de se aprofundar ainda mais a promoção da educação financeira e previdenciária para a população em geral e para os participantes dos fundos de pensão em particular. Somente a partir daí será possível aos gestores adotarem as estratégias mais eficientes de investimentos sob o ponto de vista de risco e retorno associados com o objetivo primordial de garantir o melhor benefício previdenciário aos participantes, principalmente nesse novo cenário em que os planos de Contribuição Definida e de Contribuição Variável têm adquirido relevância cada vez maior dentro do sistema. * Ronnie Gonzaga Tavares é servidor público de carreira da Secretaria do Tesouro Nacional desde 1996, com passagem pela iniciativa privada nas tesourarias do Banco Bradesco BBI e do Banco Bradesco entre 2007 e 2010. Graduado em Administração pela Universidade de Brasília (UnB), com especialização em Matemática pela UnB, MBA em Gestão da Dívida Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/ DF) e Mestrado em Gestão Econômica de Negócios pela UnB. Possui Certificação do ICSS, com ênfase em investimentos, e Certificação CPA 20 da ANBIMA. Atualmente é o Diretor de Investimentos da Funpresp-Jud. anúncio zamari marcondes) 76 FUNDOS DE PENSÃO – JULHO/AGOSTO 2016 Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio CONSOLIDADO ESTATÍSTICO Anuncio ANÚNCIO ABRAPP - IGI Anuncio ANÚNCIO HANCOCK ASSET 3 CAPA Anuncio ANÚNCIO BRAM 4 CAPA