BackUp - Eu Sou Famecos

Transcrição

BackUp - Eu Sou Famecos
Buenas, pensando
em toda essa trova,
poderíamos nos
perguntar como fica a
tradição gaúcha entre a
gurizada. Com a história
de globalização, falar
com viventes de todos
os lugares possíveis sem
sair de casa significa
adquirir conhecimento
sobre o mundo todo.
Com essa barbaridade
de aprendizado vem um
novo jeito de avaliar os
nossos valores e a nossa
cultura. E então, como
fica o orgulho gaúcho?
A princípio, parece
que mesmo os piá
conhecendo cada vez
mais culturas e lugares e
gente diferentes, o amor
pelo Rio Grande continua
o mesmo. Quando não
aumenta. Em muitas
cidades brasileiras, por
exemplo, os jovens
simplesmente escolhem
ser gaúchos. Uma opção
identitária.
Nem toda a gurizada do
rincão gaúcho frequenta
centros tradicionalistas,
é verdade, mas cultiva os
hábitos daqui de alguma
forma. Pode ser tomando
chimarrão, usando
alpargata, colando um
adesivo com a bandeira do
estado no carro, cantando
o hino rio-grandense
no estádio de futebol,
gritando “Ah, eu sou
gaúcho” em convenções
fora do estado ou mesmo
falando “Bah, guri, bem
capaz!”. Todas são formas
de demonstrar o nosso
orgulho.
O que interessa é que,
ao que tudo indica, a
tendência é essa mesma,
misturar hábitos antigos
com novos valores.
Quer um exemplo? Ir
na Redenção com os
amigos, numa balaca só,
de skinning e Nike SB, com
um wayfarer e uma cuia
de chimarrão na mão. Já
viu coisa mais bizarra?
Mas é o jeito que cada um
encontra de demonstrar
sua personalidade e, ao
mesmo tempo, mostrar
que “é daqui”.
A nova forma de
ostentação tradicionalista,
de alguns, é convergir o
que é nosso com o que é
do mundo. Como se fosse
um relicário USB, que
une coisas antigas e, ao
mesmo tempo, distintas.
Até parece Grenal, de
tão absurdas que são
essas junções. Mesmo
que o guri seja o último
dos modernos, só escute
músicas eletro-indie-poptrash-disco-punk-dance,
ele com certeza sabe
a letra do hino do Rio
Grande do Sul, porque
é dele. Não se pode
encontrar em qualquer
lugar do mundo. O hino
sim, mas a significação, a
tradição que vem com ele,
só quem é daqui conhece.
E é isso que se mantém
independentemente da
geração: o orgulho e o
amor pelo Rio Grande,por
ser daqui, por ser gaúcho.
Expediente:
BackUp é uma publicação do
Núcleo de Tendências e Pesquisa.
Elaborado por:
Debora Hinchink Dias
Matheus Danoski Cabral
Coordenadores:
Cristiane Mafacioli Carvalho
Rosane Palacci Santos
Participação:
André Cauduro D’Angelo
Fotos:
Cristina S. Lima (Prof.
orientadora)
Carolina Silveira
Eduardo Audy
Juliana Viccari
Matheus Bergmann
Sandro Netto
Espaço Experiência da Famecos
PUCRS
Fábian Chelkanoff Thier
espaç[email protected]
Quê? Mas quem é que falou em S.W.A.T. aqui, tchê?
So what?
Quer te dar bem por aqui? Então te puxa, decora aí...
Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o vinte de setembro
O precursor da liberdade
Mostremos valor e constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra
Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Boiou legal em várias palavras? Te acalma, entra em eusoufamecos.pucrs.br/tendencias/ que tu te acha.
Cabresto Abichornado Achego Açoiteira
Afeitar
Acolherar
Tira a ca-
Yeah, eu sou gaúcho!
Sorvendo o chimarrão...
Rio Grande
Água-benta #tenso
Água-de-cheiro Expansiva Aguada Reculuta Relho Renguear Repontar
beça daí, Luiza
Reponte Sanga
Talho
bo
Agregado
Sesmaria
Sarandi Selin Soga
Ajojo
Surungo
Tala
Taco Taipa
Alambrado Anca Erva-caúna Erva-lavada
Taita
Talagaço
Estrela-boieira Estri-
Estropiado Facada Facho Fatiota Fiambre Flaco Flete AFF
Funda Gadaria
Gaudério Graxaim Gringo Guabiju Nem trinta
Guaiaca Guaipeca Guapo Guasca Guasqueaço Guri Haraganear Puta falta de
sacanagem Iguaria Maleva Coalheira Lasqueado Eu tenho academia Invernada Invernadas Juiz Jururu Lábia Lançante Cassinho Légua Macanudo Felipe
Galpão Ganiçar Gato
Neto Mata Apojo Aporreado Apotrar-se Arapuca Maludo Arreios Azucrinado Ba-
dana
Bagual Bah Call of Dutt Baixeiro Bicheira Bidê Biriva Bóia Bolicho
Bolicheiro Braça-de-Sesmaria Buenacha Bugio Cabresto Dá um FF no movie
Cachaço Varar Cagaço Caju Som indescritível Calavera Cambicho Campear Canga Canzil
Capão Capataz Cacho Carboteiro Carancho Carancho Pe Lanza Carrei-
ra Caudilho Chalana Chambão Charla Chasque Chimango China Chineiro Grenal
Chinoca Chorro Fiuk Cincha Coalheira Cocho Colhudo Corredor Credo Cuia
Cusco Daga Doma Lomba Domador Embretado
Chatão Entreveromona Mangueira Bakápi Manotaço Marica Negrinho Oigalê
Meu irmãozinho
Cuiudo Cupincha
Orelhano Paisano Fail Palanque Papudo Treta Parelheiro D43 Patrão Patrão-velho
Pereba Pealar Pelechar
Peleia Pelear Petiço Piá Piguancha Lídio Mateus Piquete
Senta lá, Cláudia
Quero-mana
Poncho
Porongo Sinaleira
Rebenque Tapera Tchê
Beatles
dor Tranco Tramposo Coloridos
Tentos
Potrilho Unicórnio Queixo-duro
Tosa Crepúsculo
Tira-
Trem Três-Marias Gremlin A2 Toniolo Trovar
Tropeiro T1D Uma-de-pé Vacaria Vareio Vaza Vil Vivente Xepa
Rápido, Ricardo Sbornia Tô de banda Gostei Xiru DiguidiguiÊ Fato Xucro
Algodão doce Pila Avada Kedavra É tão fofinho Zunir Cacetinho
Soulja Boy
Redenção Caramba Pandorga Pingua Guria Bem
BackUp
relatório de tendências
edição nº 4, set/out 2010
capaz Pior
Colocando a chaleira pra chiar...
Não é raro alguém dizer que essa nossa terra, onde
semáforo é sinaleira, cachorro é cusco e briga é
peleia, ocupa uma posição única em relação ao Brasil.
Isso por causa das características geográficas, forma
de povoamento, economia e pelo jeito que se insere
na história nacional.
O nosso Estado, por exemplo, foi possivelmente a
única província que se separou do Brasil – e dele
permaneceu separado durante oito anos. O Brasil
é que nunca nos reconheceu como República do
Piratini. Assim, em 1845, voltamos às boas com o
povo brasileiro, ou, pelo menos, a maioria dele.
Desde então, o sonho separatista só alimenta algumas
mentes mais radicais, palestras e,
talvez, alguns magrões entusiastas.
Cevando a erva...
E outra, muitos presidentes brasileiros
eram daqui. A economia, a organização
política e a educação do estado
foram e, de certa forma,
são até hoje referências
para o resto do país. Vale
ressaltar que desde 1982 os
governantes estaduais
são escolhidos
por voto direto.
E, guenta esse
amargo: o Rio
Grande do Sul é o único estado
brasileiro que nunca reelegeu um governador.
Além do mais, não podemos esquecer de mencionar
Quando falamos em identidade gaúcha, de
relancina a maioria já pensa em bairrismo.
Tudo bem. Nós, gaúchos, somos sim
bairristas, adoramos nosso Estado, nossa
tradição, temos orgulho da nossa história.
Admiramos, e muito, nossos “filhos”.
Há alguns anos, nos gabávamos de que
a melhor modelo, o melhor jogador de
futebol e a melhor ginasta do mundo
eram daqui. Mas esse orgulho não é uma
exclusividade da piazada que chama pão
francês de cacetinho. Todos são bairristas:
o paulista, o carioca, o mineiro, o baiano.
Todos buscam ressaltar as qualidades do
próprio povo, da própria terra. Então, o
bairrismo é uma característica do Brasil, e
não só do Rio Grande do Sul.
O brabo é que muitas vezes nos passamos,
esquecemos as quebradas desse orgulho.
Tudo bem saber cantar o hino rio-grandense
a beleza das nossas chinocas, vista por muitos como
inigualável, insuperável, irresistível – buenas, vamos
parar por aqui. Mas essa fama, tchê, não é à toa.
Pra quem não sabe, o Miss Universo, concurso
internacional de beleza feminina mais importante do
mundo, já se chamou Desfile Internacional de Beleza,
entre 1926 e 1935. A competição foi encerrada, em
1935, por causa da Grande Depressão e a Segunda
Guerra Mundial e só retomou atividades em 1952, já
então com o nome Miss Universo.
O que o Rio Grande tem com essa história? Ora,
a primeira e única brasileira a vencer o Desfile
Internacional de Beleza era gaúcha, chamava-se
Yolanda Pereira e tinha vinte anos quando conquistou
o título. E a primeira brasileira a conquistar o título do
Miss Universo? Gaúcha também!
Ieda Maria Vargas, aos 18 anos,
foi a prenda que venceu o
concurso, em 1963.
Entonces, tá tudo muito lindo,
muito comovente, mas como fica
a prosa quando tomamos um
rumo pra fora do Rio
Grande?
O triste é o orgulho virar intolerância. Quando deixamos de cantar
por nossas glórias e passamos a azucrinar os outros, diminuindo
seus feitos. Todos, sim, todos os estados têm história, música,
gororoba bóia típica, sotaque, expressões próprias e danças
tradicionais. O Brasil é feito de diferenças. O que muda de um lugar
para o outro e até de pessoa pra pessoa é o respeito. Alguns têm,
outros não.
Nós, gaúchos, somos tachados de grossos e abichornados por
muitos. Pode ser só da boca pra fora. Até porque, vários estados,
principalmente os do centro oeste, nos consideram um povo sério e
muito trabalhador.
O fato é que aqui, como no norte, no sudeste, nordeste, existem sim
costumes e diferenças ímpares se comparadas ao restante do país.
Ao mesmo tempo em que adoramos nosso povo, nossas
conquistas, nossa gauderiada, cultivamos também a maior, ou
melhor, uma das maiores (olha o bairrismo) rivalidades do país.
No futebol. Aqui, ou se é colorado ou se é gremista. Não existe
imparcialidade. E muito menos torcer por times de outras regiões.
Mas, falando no orgulho gaúcho, será que, por exemplo, os
gremistas ficam felizes com um título colorado? Sob a alegação de
que “pelo menos é do Rio Grande”? Bem capaz.
Encilhando o mate...
Mas, tchê, e quando resolvemos
cruzar nossas fronteiras? Pois é.
Quando nos abalamos do Rio
Grande para outras estâncias, as
nossas raízes gaúchas afloram.
Vamos exemplificar.
de cor (como é mesmo o hino nacional?) e querer
mostrar pra todo o mundo. Também não há nada
de errado em gostar do próprio lar, fazer uma
roda de mate, lagartear no sol pra comer
bergamota ou carregar a bandeira verde,
amarela e vermelha e dar um manotaço no
peito gritando com todas as forças “Ah, eu
sou gaúcho!”.
Sim, isso realmente é
macanudo e não somos os únicos
que pensam assim. Mesmo
pessoas de outros estados
admitem que é tri legal cantar a
plenos pulmões a beleza dessa
nossa tradição, tchê. Muitos até
“invejam” a de deixar a chama da
nossa identidade sempre acesa.
Imagina um piá de Porto Alegre
que vai solito estudar em São
Paulo. Lá ele será mais gaúcho do
que nunca. Mesmo que jamais
tenha bebido Polar, comido
Pastelina ou falado “tchê” e
“bah”, agora com certeza a
coisa muda. Vai sentir uma falta
enorme da tal cerveja e sempre
que tiver a oportunidade vai
querer “a melhor ceva que
eu já tomei e só tem na minha
terra”. Pastelina, então, bah,
será uma das 7 maravilhas do
mundo, segundo o guri. Até
o frio de renguear cusco vai
dar saudade. Qualquer coisa,
lá vem “barbaridade”, “tchê”,
“bergamota”, (tá, tudo bem,
vamos admitir: o cacetinho vai
virar pão francês).
E claro, não podemos esquecer
um hábito que na capital
gaúcha ele não tinha e agora, na
paulista, cultua: chimarrão. Vai
se tornar um adepto do mate. E
mais: imagina quando ele disser
“bah, que vontade de comer
uma cuca”. Pronto, entrevero no
ar. Até ele conseguir explicar que
não se trata da matungona do
Sítio do Picapau Amarelo...
Será
que
isso
acontece
mesmo? Pior que sim. E tem
uma explicação. Quando nos
afastamos das nossas raízes,
buscamos alguma coisa que
nos remeta a elas. Queremos
uma forma de lembrar a nossa
cultura, a nossa tradição, pra
não esquecermos a própria
identidade, mesmo que seja
preciso forçar um pouquinho.
Aí está a tendência: esse
comportamento
estranho,
essa falta da cultura gaúcha,
chamamos de saudades do
carreteiro da mamãe.