Leia um trecho do livro

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Leia um trecho do livro
Amizade com Deus
Um diálogo incomum
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Título Original: Friendship With God.
Copyright © 1999 Neale Donald Walsch
All rights reserved including the right of reproduction in whole or in part in any form.
This edition published by arrangement with G.P.Putnam’s
Sons, a member of Penguin Group (USA) Inc.
Todos os direitos reservados pela Editora Nossa Cultura Ltda, 2012.
Editor: Paulo Fernando Ferrari Lago
Coordenação Editorial: Claudio Kobachuk
Coordenação Gráfica: Renata Sklaski
Tradução: Helena Marcia Passarelli
Revisão: Claudia Cabral Oliveira, Adriana Gallego Mateos e Valquíria Molinari
Capa: Ceó Pontual
Diagramação: Cláudio R. Paitra e Marline M. Paitra
Contato comercial: Rosângela Britto
Nota: A edição desta obra contou com o trabalho, dedicação e empenho
de vários profissionais. Porém podem ocorrer erros de digitação
e impressão. Grafia atualizada segundo o acordo ortográfico da
Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
EDITORA NOSSA CULTURA LTDA
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Dados internacionais de catalogação na publicação
Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira
Walsch, Neale Donald.
W222
Amizade com Deus / Neale Donald Walsch.—
Curitiba : Nossa Cultura, 2012.
512 p. ; 18 x 13 cm.
Tradução de: Friendship with God.
ISBN 978-85-8066-088-3
1. Espiritualidade. 2. Deus. I. Título.
CDD 211
CDU 211
IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL
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Agradecimentos
Antes de tudo, quero agradecer novamente ao meu melhor amigo,
Deus. Sou profundamente grato por ter encontrado Deus em minha
vida e, finalmente, ter feito amigos com Ele. Sou profundamente
grato por tudo que Deus tem me dado – e proporcionado a
oportunidade de dar.
Em um plano um pouco diferente, embora não menos celestial,
encontra-se a minha amizade com Nancy, esposa e parceira, que
é uma definição viva da palavra “bênção”. Tenho sido abençoado
desde o momento em que nos conhecemos, e em todos os momentos
desde então.
Nancy é uma pessoa surpreendente. Ela irradia, do seu
coração, uma sabedoria serena, infinita paciência, compaixão
profunda e o mais puro amor que já conheci. Em um mundo de
trevas, às vezes ela é uma fonte de Luz. Conhecê-la foi me ligar
novamente às ideias que sempre tive sobre tudo que é bom, amável
e belo; com toda a esperança que já realizei sobre companheirismo
gentil e auxiliador; e com as fantasias que nutri sobre amantes
verdadeiramente apaixonados.
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Estou em dívida com todas as pessoas maravilhosas que
impactaram minha vida e me ajudaram em meu trabalho,
demonstrando comportamentos, atributos e maneiras de ser que
têm me inspirado e instruído. Que inestimável dádiva contar com
tais professores que indicam o caminho! Dentre eles, sou muito
grato a...
Kirsten Bakke, por definir confiança absoluta, mostrando que
se encarregar de uma espetacular liderança não significa jamais
deixar para trás compaixão, sensibilidade ou cuidado.
Rita Curtis, por demonstrar de maneira formidável que poder
pessoal não diminui a feminilidade, mas acrescenta a ela.
Ellen DeGeneres, por ser um modelo de coragem que a
maioria das pessoas não acha ser possível e, desta maneira, tornar
isso possível a todos nós.
Bob Friedman, por me mostrar que integridade existe, de fato.
Bill Griswold e Dan Higgs, por darem o exemplo do que uma
amizade ao longo da vida era para ser.
Jeff Golden, por me mostrar que convicção firme e gentil
persuasão podem andar lado a lado.
Patt Hammett, por demonstrar que amor, lealdade e
compromisso inabalável são tudo.
Anne Heche, por ser um modelo de absoluta autenticidade e
de como não desistir por nada.
Jerry Jampolsky e Diane Cirincione, por me mostrarem que
quando os humanos estão dispostos a amar, não há limite para o
que pode ser criado compassivamente – e ignorado com mansidão.
Elisabeth Kübler-Ross, por me mostrar que é possível fazer
uma surpreendente contribuição ao planeta inteiro sem que você
mesmo fique impressionado por isso.
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Kaela Marshall, por dar sempre exemplo de perdão quando
confrontada com o imperdoável, permitindo-me acreditar na
promessa de Deus de que existe redenção para todos nós.
Scott McGuire, por demonstrar assombrosamente que
sensibilidade não diminui a masculinidade, mas acrescenta a ela.
Will Richardson, por me mostrar que você não tem que ter a
mesma mãe para ser um irmão.
Bryan L. Walsch, pelo exemplo de firmeza do papel importante
da família.
Dennis Weaver, por me mostrar tudo que há para saber sobre
a graça do sexo masculino e sobre o uso dos talentos de pessoas
comuns e de celebridades para melhorar a vida dos outros.
Marianne Williamson, por demonstrar que lideranças
espirituais e temporais não são mutuamente exclusivas.
Oprah Winfrey, por ser um modelo incomum de determinação
pessoal e bravura, e do que significa colocar tudo na linha para o
que você acredita.
Gary Zukav, por ser um exemplo de sabedoria suave e de como
encontrar o Centro e a importância de permanecer nele.
Esses professores, e muitos mais, foram os que eu tive e com
quem tenho aprendido. Por isso, eu sei que qualquer coisa boa
que possa proceder de mim veio, em algum grau, deles, que me
ensinaram, e eu apenas passo adiante.
Estamos aqui para fazer isso um para o outro, é claro. Somos
todos professores uns dos outros. Não somos verdadeiramente
abençoados?
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Para
Dra. Elisabeth Kübler-Ross
Que mudou o entendimento do mundo sobre a morte e
a vida, sendo a primeira a ousar
falar de um Deus de amor
incondicional de quem poderíamos ser amigos.
E para
Lyman W. (“Bill”) Griswold
Cuja amizade de trinta anos me ensinou
aceitação, paciência e generosidade de espírito,
e tantas coisas que as palavras não podem expressar,
mas as almas nunca podem esquecer.
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Introdução
Tente dizer a alguém que você acabou de ter uma conversa
com Deus e veja o que acontece.
Não importa. Eu posso lhe dizer o que acontece.
Sua vida inteira muda.
Primeiro porque você teve a conversa; segundo, porque
você contou sobre isso para alguém.
Para ser justo, eu devia dizer que fiz mais do que ter uma
conversa, eu tive um diálogo durante seis anos. E fiz mais do
que “contar” para alguém, pois mantive um registro escrito do
que foi dito e o enviei para uma editora.
As coisas têm sido muito interessantes desde então. E um
pouco surpreendentes.
A primeira surpresa, na verdade, foi que o editor leu o
material e o transformou em um livro. A segunda surpresa
foi que as pessoas; de fato; compraram o livro, e até mesmo
o recomendaram aos seus amigos. A terceira surpresa é que
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seus amigos o recomendaram aos amigos deles, e ele se tornou
um best-seller. A quarta surpresa é que agora o livro é vendido
em 27 países. E a quinta é que nenhuma delas é uma surpresa,
considerando-se quem é o coautor.
Quando Deus diz que Ele vai fazer algo, você pode contar
com isso. Deus sempre abre o caminho.
Deus me disse, em meio ao que eu achava ser um diálogo
particular, que “um dia isto se tornaria um livro.” Eu não
acreditei Nele. É claro, eu não acreditava em dois terços do
que Deus me dizia desde que nasci. Isso era um problema.
Não apenas comigo, mas com toda a raça humana.
Se nós apenas ouvíssemos...
O livro publicado foi intitulado, sem originalidade
suficiente, Conversando Com Deus. Você pode não acreditar
que eu tive tal conversa, e não preciso que você acredite. Isso
não muda o fato de que eu a tive. Fica simplesmente mais
fácil, se você optar por fazê-lo, rejeitar o que me foi dito nessa
conversa – o que algumas pessoas têm feito. Por outro lado,
têm havido muitas pessoas que não apenas concordam que
tal conversa é possível, mas também fazem da comunicação
com Deus uma regularidade em suas próprias vidas. Não
é uma comunicação de mão única, mas, sim, de mão dupla.
Entretanto, essas pessoas aprenderam a ser cautelosas sobre
quem disse isso. Acontece que, quando uma pessoa diz que
conversa com Deus todos os dias, é chamada de devota, mas
quando outra pessoa diz que Deus fala com ela todos os dias,
é chamada de louca.
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No meu caso, isso é perfeitamente normal. Como eu disse,
não tenho necessidade de que ninguém acredite em nada
do que eu digo. De fato, prefiro que as pessoas escutem seus
próprios corações, encontrem suas próprias verdades, busquem
seus próprios conselhos, acessem sua própria sabedoria e, se
desejarem, tenham suas próprias conversas com Deus.
Se alguma coisa do que eu digo as leva a fazer isso – provoca
o questionamento de como têm vivido e do que acreditavam
no passado, trazendo-as para um lugar de maior exploração
de suas próprias experiências, motivadas a se comprometerem
mais profundamente com suas próprias verdades –, então,
partilhar minha experiência será uma ideia muito boa.
Acho que essa foi a ideia o tempo todo. De fato, estou
convencido disto. É por isso que Conversando Com Deus se
tornou um best-seller, assim como os livros II e III, que se
seguiram. E creio que o livro que você está lendo agora se
encontra em suas mãos para fazer com que mais uma vez você
admire, explore e busque a sua própria verdade – mas, desta
vez, sobre um tema ainda maior: É possível ter mais do que
conversar com Deus? É possível que se tenha uma verdadeira
amizade com Deus?
Este livro diz que sim, e ensina como. Com as próprias
palavras de Deus. Pois neste livro, felizmente, nosso diálogo
continua, levando-nos a novos lugares, e poderosamente
reitera algo do que me foi dito anteriormente.
Tenho aprendido que é dessa forma que as minhas
conversas com Deus prosseguem. Elas são circulares, revendo
o que já foi dito, depois, de maneira estonteante, vão se
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espiralando para um novo território. Esta abordagem de dois
passos à frente e um para trás, me permite manter em mente
uma sabedoria previamente compartilhada, plantando-a
firmemente em minha consciência a fim de formar uma base
sólida para o melhor entendimento.
Assim é o processo aqui. Não é desprovido de projeto.
Enquanto, a princípio, esse processo é um pouco frustrante,
eu acabei por apreciar profundamente o seu funcionamento.
Pois ao plantar a sabedoria de Deus firmemente em nossa
consciência, nós a afetamos. Nós a despertamos e a elevamos.
E ao fazê-lo, entendemos melhor; chegamos a recordar de
Quem Realmente Somos, e começamos a demonstrar isso.
Nestas páginas, pretendo partilhar um pouco do meu
passado e sobre como minha vida mudou desde a publicação
da trilogia Conversando Com Deus. Muitos amigos têm me
perguntado a respeito de tudo isso, o que é compreensível.
Querem saber algo sobre esta pessoa que diz ter bate-papos
casuais com Aquele no Andar de Cima. No entanto, não é por
isso que eu incluo algumas anedotas. Fragmentos da minha
“história pessoal” consumiram parte deste livro, não para
satisfazer a curiosidade das pessoas, mas para mostrar que a
minha vida testemunha como é ter uma amizade com Deus – e
como todas as nossas vidas demonstram a mesma coisa.
Essa é a mensagem. É claro, todos nós temos uma amizade
com Deus, quer saibamos disso ou não.
Eu era um daqueles que não sabia. Nem sabia para onde
essa amizade poderia me levar. Esta é a grande surpresa aqui,
a maravilha. Não tanto o que nós podemos fazer para ter uma
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amizade com Deus, mas no que essa amizade foi concebida
para nos oferecer – e para onde ela pode nos levar.
Estamos em uma jornada nesta vida. Há um propósito
para a amizade que fomos convidados a desenvolver, uma
razão de ser. Até recentemente eu não conhecia a razão, não
me lembrava dela. Agora que me lembro, não mais temo a
Deus, e isso mudou minha vida.
Nestas páginas (e em minha vida) eu ainda faço muitas
perguntas, mas agora também dou respostas. Essa é a
diferença aqui, e essa é a mudança. Agora eu falo com Deus,
não meramente para Ele. Estou caminhando ao lado de Deus,
não simplesmente seguindo.
É o meu desejo mais profundo que sua vida seja
transformada da mesma maneira que a minha; que você
também, com a ajuda e orientação deste livro, desenvolva uma
amizade muito real com Deus e que, como resultado, você
também possa falar sobre sua conversa e viver sua vida com
uma nova autoridade.
É minha esperança que você não mais seja um buscador,
mas um portador da Luz. Pois o que você traz é o que vai
encontrar.
Parece que Deus não está procurando tanto seguidores
quanto líderes. Podemos seguir a Deus, ou podemos conduzir
outros a Deus. A primeira direção nos faz mudar, a segunda
transformará o mundo.
—Neale Donald Walsch
Ashland, Oregon
Julho, 1999
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Um
Lembro-me exatamente quando eu decidi que devia ter medo
de Deus. Foi quando Ele disse que minha mãe ia para o
inferno.
Tudo bem, Ele não disse isso claramente, mas alguém
disse em Seu nome.
Eu tinha cerca de seis anos e minha mãe, que se
considerava uma espécie de mística, “lia as cartas” em nossa
mesa da cozinha para uma amiga. As pessoas sempre vinham
em casa para ver quais tipos de adivinhações minha mãe
conseguia extrair de um baralho de cartas comum. Ela era boa
nisso, elas diziam, e a notícia de suas habilidades secretamente
se espalhou.
Enquanto minha mãe lia as cartas nesse dia específico,
sua irmã nos fez uma visita surpresa. Lembro-me que minha
tia não ficou muito feliz com a cena que encontrou, quando,
após bater só uma vez, irrompeu pela porta de tela dos fundos.
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Minha mãe agiu como se tivesse sido apanhada em flagrante,
fazendo alguma coisa que não devia estar fazendo. Ela fez
uma apresentação desajeitada para sua amiga e rapidamente
recolheu as cartas, metendo-as nos bolsos de seu avental.
Nada foi dito a respeito disso naquele momento, porém,
mais tarde, minha tia veio dizer adeus no quintal onde eu
tinha ido brincar.
“Você sabe”, disse ela enquanto eu a acompanhava até o
seu carro, “sua mãe não devia estar prevendo o futuro dessas
pessoas com aquele baralho dela. Deus vai castigá-la.”
“Por quê?” eu perguntei.
“Porque ela está negociando com o demônio” – Eu me
lembro dessa frase arrepiante por causa do seu som peculiar
em meu ouvido –, “e Deus vai levá-la direto para o inferno.”
Ela disse isso animadamente, como se estivesse anunciando
que ia chover amanhã. Até hoje me lembro de ficar tremendo
de medo à medida que ela se afastava, morrendo de medo que
minha mãe tivesse irritado tanto a Deus. A partir dessa hora,
o medo ficou incorporado em mim.
Como seria possível que Deus, que devia ser o criador mais
bondoso no Universo, quisesse punir minha mãe, que era a
criatura mais bondosa em minha vida, com condenação eterna?
Minha mente ansiava saber e, então, do alto dos meus seis anos,
cheguei a uma conclusão: se Deus era cruel o bastante para
fazer algo assim para minha mãe que, aos olhos de todos que a
conheciam, era praticamente uma santa, então devia ser muito
fácil enfurecê-Lo – mais fácil do que ao meu pai. Portanto, nós
todos nos comportávamos de forma adequada.
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Tive medo de Deus durante muitos anos porque o meu
medo era continuamente reforçado.
Lembro-me que me disseram, no segundo ano de
catecismo, que, a menos que um bebê seja batizado, ele não
irá para o céu. Parecia tão improvável, mesmo para os do
segundo ano, que costumávamos passar a rasteira na freira
fazendo perguntas intrigantes como, “Irmã, Irmã, e se os pais
estiverem levando o bebê para ser batizado, e a família inteira
morrer num acidente de carro? Esse bebê não conseguiria ir
para o céu com seus pais?”
Nossa freira deve ter vindo da Velha Escolha. “Não”, ela
suspirou pesadamente, “Receio que não.” Para ela, doutrina
era doutrina, não havia exceções.
“Mas para onde o bebê iria?”, um dos meus colegas
perguntou seriamente. “Para o céu ou o purgatório?” (Em
boas famílias católicas, nove anos é uma idade suficiente para
saber o que exatamente é o “céu”.)
“O bebê não iria nem para o céu nem para o purgatório.”
A Irmã disse. “Ele iria para o limbo.”
Limbo?
Limbo, a Irmã explicou, era para onde Deus enviava os
bebês e outras pessoas que, embora não tivessem cometido
nenhuma falta, morriam sem ser batizados na única fé
verdadeira. Eles não estavam sendo punidos, exatamente, mas
jamais conseguiriam ver a Deus.
Esse é o Deus com quem eu cresci. Você pode achar que
estou inventando, mas não estou.
O temor a Deus é criado por muitas religiões e é, de fato,
incentivado por muitas delas.
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Mas eu lhe digo que ninguém teve que me incentivar. Se
você acha que eu fiquei atemorizado com a questão do limbo,
espere até saber sobre a questão do Fim do Mundo.
Em algum período do início dos anos 1950, ouvi a história
das Crianças de Fátima. Fátima é uma aldeia no centro de
Portugal, ao norte de Lisboa, onde disseram que a Virgem Maria
apareceu em ocasiões repetidas para uma menina e seus dois
primos. Aqui, relato o que me disseram sobre isso: A Virgem
Maria deu às crianças uma Carta para o Mundo, que devia ser
entregue, em mãos, para o Papa. Ele, por sua vez, devia abri-la
e ler seu conteúdo, mas depois selar a carta de novo, revelando
sua mensagem ao público anos mais tarde, se necessário.
Disseram que o Papa chorou durante três dias após ler a
carta, por conter notícias terríveis sobre a profunda decepção
de Deus conosco, e detalhes de como Ele teria que castigar
o mundo se não observássemos essa advertência final e
mudássemos nossos caminhos. Seria o fim do mundo, haveria
lamentações e ranger de dentes e um tormento inacreditável.
Deus, disseram-nos no catecismo, estava zangado o
bastante para infligir o castigo ali mesmo, mas devido a
sua misericórdia nos daria mais uma chance, por conta da
intercessão da Santa Mãe.
A história de Nossa Senhora de Fátima encheu o meu
coração de terror. Corri para casa e perguntei a minha mãe
se era verdade. Ela explicou que se os padres e freiras assim o
diziam, devia ser verdade. Nervosas e ansiosas, as crianças em
nossa sala bombardearam a Irmã com perguntas sobre o que
poderíamos fazer.
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“Vá à Missa todos os dias,” ela aconselhou. “Reze o
terço às noites e faça o Sinal da Cruz frequentemente. Vá ao
confessionário uma vez por semana. Faça penitência e ofereça
o seu sofrimento a Deus como prova de que você saiu do
pecado. Receba a Santa Comunhão. E reze o Ato de Contrição
antes de dormir toda noite, para que se você for levado antes
de acordar, seja digno de se juntar aos santos no céu.”
Na verdade, nunca me ocorreu que eu poderia não viver
na manhã seguinte até me ser ensinada a oração...
Agora eu me deito para dormir,
Peço a Deus para guardar minha alma.
E se eu vier a morrer antes de acordar,
Rezo para que o Senhor leve minha alma.
Depois de algumas semanas de oração, fiquei com medo
de ir para cama. Chorava todas as noites, e ninguém conseguia
descobrir o que estava errado comigo. Até hoje eu tenho uma
fixação com morte súbita. Muitas vezes, quando saía de casa
para um voo fora da cidade – ou, às vezes, quando vou ao
mercado – eu digo à minha esposa Nancy: “Se eu não voltar,
lembre-se que as últimas palavras que eu disse a você foram:
eu te amo.” Isto se tornou uma piada corrente, mas existe certa
dose de verdade nisso tudo, o que é um problema grave.
Minha segunda briga com o medo de Deus aconteceu
quando eu tinha treze anos. Minha babá da infância, Frankie
Shultz, que morava do outro lado da nossa rua, estava se
casando e me convidou – bem eu – para ser o pajem em sua
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festa de casamento! Uau, que orgulho. Até eu chegar à escola e
contar para a freira. Foi assim:
“Onde vai ser o casamento?”, ela perguntou desconfiada.
Eu falei o nome do lugar.
Sua voz se transformou em gelo. “É uma igreja luterana,
não é?”
“Bem, eu não sei. Não perguntei, eu suponho que...”
“É uma igreja luterana, e você não vai.”
“Por quê?”, perguntei.
“Você está proibido,” ela declarou, e isso parecia
definitivo.
“Mas por quê?”, insisti assim mesmo.
A Irmã olhou para mim como se não acreditasse que eu
estava fazendo mais perguntas. Então, extraindo paciência de
uma fonte profunda, ela piscou duas vezes e sorriu.
“Deus não quer que você entre numa igreja de pagãos,
meu filho,” a freira explicou. “As pessoas que vão lá não creem
como nós cremos. Elas não ensinam a verdade. É um pecado
frequentar qualquer outra igreja que não seja a católica.
Lamento que sua amiga Frankie tenha escolhido se casar lá.
Deus não vai consagrar o matrimônio.”
“Irmã,” eu pressionei muito, muito além do ponto de
tolerância, “e se eu for o pajem do casamento, afinal?”
“Bem, então,” ela disse com genuína preocupação, “ai de
vós.”
Ufa! Barra pesada. Deus era um homem durão. Não tinha
como sair da linha.
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Bem, eu saí da linha. Gostaria de poder relatar que eu
baseei meu protesto nas mais altas razões morais, mas a verdade
é que eu não conseguia suportar a ideia de não poder usar meu
casaco branco esportivo (com um cravo vermelho – bem como
Pat Boone cantava!). Decidi não contar a ninguém o que a
freira dissera, e fui àquele casamento como pajem. Rapaz, eu
estava com medo! Você pode achar que estou exagerando, mas
pelo dia inteiro, de fato, esperei que Deus fosse me atacar. E
durante a cerimônia fiquei vigilante com as mentiras luteranas
sobre as quais eu havia sido advertido. Porém, tudo o que o
ministro disse eram assuntos animados e interessantes fazendo
com que todos na igreja se emocionassem. Mesmo assim, no
final do culto, eu estava encharcado de suor.
Naquela noite eu implorei a Deus, ajoelhado e com as
mãos juntas, que perdoasse minha transgressão. Recitei o
mais perfeito Ato de Contrição que já se ouviu. (Oh meu Deus,
eu sinceramente me arrependo por ofendê-Lo...) Deitei-me na
cama por horas, com medo de adormecer, repetindo várias
vezes, e se eu morrer antes de acordar, rogo ao Senhor que leve
a minha alma...
Decidi contar essas histórias da minha infância – e
existem muitas – por um único motivo. Quero que você fique
impressionado de como era real o meu temor, pois minha
história não era a única.
E, como eu disse, não são apenas Católicos Romanos que
ficam com medo de se colocarem diante do Senhor. Longe
disso. Metade das pessoas no mundo acredita que Deus
vai “puni-los” se não forem bonzinhos. Fundamentalistas
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de muitas religiões impingem o medo nos corações de seus
seguidores. Você não pode fazer isto. Não faça aquilo. Pare, ou
Deus vai castigar. E nós não estamos falando sobre proibições
aqui, como Não Matarás. Estamos falando sobre um Deus que
fica aborrecido se você comer carne na sexta-feira (entretanto,
Ele mudou de ideia sobre isso), carne de porco em qualquer
dia da semana ou obter o divórcio. Este é um Deus que faz
você ficar zangado se sua mulher deixar de cobrir o rosto com
um véu, por não visitar Meca durante sua vida, por não parar
todas as atividades, desenrolar seu tapete e se prostrar cinco
vezes por dia, por não se casar em um templo, por deixar de
ir ao confessionário ou frequentar a igreja todos os domingos,
ou seja lá o que for.
Temos que ser cautelosos com Deus. O único problema
é que é difícil saber todas as regras, pois existem tantas. E a
coisa mais difícil é que as regras de todos estão certas. Ou pelo
menos é o que dizem. Contudo, todos eles não podem estar
certos. Então, como escolher, como saber? É uma pergunta
incômoda, mas não é insignificante, dada a aparentemente
pequena margem de erro que temos.
Assim surge um livro chamado Amizade com Deus. O que
isto pode significar? Como pode ser? É possível que Deus não
seja o Santo Bandido, afinal de contas? É possível que bebês
não batizados vão para o céu? Que usar um véu ou se curvar
para o Oriente, permanecer celibatário ou se abster de carne
de porco não tenha nada a ver com nada? Que Alá nos ama
incondicionalmente? Que Jeová vai escolher todos nós para
estar com Ele quando os dias de glória estiverem próximos?
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Amizade com Deus
Fundamentalmente, mais do que fazer tremer a terra, não
deveríamos nos referir a Deus como “Ele”? Poderia ser “Ele”
uma mulher? Ou, até mesmo mais inacreditável ainda, sem
gênero?
Para uma pessoa educada como eu, até cogitar tais
pensamentos podia ser considerado um pecado.
No entanto, temos que pensar sobre eles. Temos que
desafiá-los. Nossa fé cega nos levou a um beco sem saída. A
raça humana não progrediu muito nos últimos dois mil anos
em termos de evolução espiritual. Ouvimos professor após
professor, mestre após mestre, lição após lição e ainda estamos
exibindo os mesmos comportamentos que têm produzido
penúria para nossa espécie desde o início dos tempos.
Nós ainda matamos o próximo, governamos nosso
mundo com poder e ganância, reprimimos sexualmente nossa
sociedade, maltratamos e deseducamos nossas crianças,
ignoramos o sofrimento e, na verdade, o criamos.
Passaram-se dois mil anos desde o nascimento de Cristo,
e dois mil e quinhentos desde a época de Buda, e mais tempo
desde que ouvimos as palavras de Confúcio pela primeira vez
ou a sabedoria de Tao. Entretanto, ainda não conseguimos
descobrir as Questões Principais. Haverá, ainda, uma maneira
de transformar as respostas que já recebemos em algo viável,
algo que possa funcionar em nosso dia a dia?
Eu acho que sim. E me sinto muito certo disso, uma vez
que discuti bastante a esse respeito em minhas conversas com
Deus.
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