Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das
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Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das
PROJETO: “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” Fotografia 1: Aldeia Morada Nova. Crianças kampa. RELATORIO DE ATIVIDADES (1º PRODUTO) (DEZEMBRO 2005 – MARÇO 2006) FLORIANÓPOLIS/SÃO PAULO, 20 DE ABRIL DE 2006. EQUIPE TECNICA EXECUTORA Laura Pérez Gil – Coordenação antropológica e administrativa (NESSI/UFSC) Juliana Rosalen – Coordenação antropológica e administrativa Edina Carlos Brandão – Monitora shanenawa (Sitoakore) Letícia Luiza Yawanawá – Apoio administrativo (Sitoakore) 2 INDICE INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6 ENUMERAÇÃO DAS ATIVIDADES .................................................................. 7 1. 1ª OFICINA DE TRABALHO..................................................................... 8 2. REUNIÕES DA EQUIPE EXECUTORA .................................................. 11 1.1 Conformação e papéis da equipe executora ..................................................... 11 1.2 Temas tratados .................................................................................................... 11 1.3 Infraestrutura...................................................................................................... 13 2 REUNIÕES NO DSEI ALTO JURUÁ E NOS PÓLOS-BASE DE CRUZEIRO DO SUL, TARAUACÁ E FEIJÓ. .................................................. 14 2.1 Apresentação do projeto às equipes multidisciplinares................................... 16 2.2 Apresentação preliminar das informações levantadas .................................... 17 2.3 Especificidades de cada pólo e de sua equipe. .................................................. 19 3 REUNIÕES DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS .......................................... 21 3.1 Articulações com as organizações indígenas locais. ......................................... 22 3.2 Aspectos metodológicos ...................................................................................... 23 3.2.1. Construindo metodologias.....................................................................................................23 3.2.2. Monitoria: adentrando nas relações entre os grupos .............................................................28 3.2.3. Considerações a respeito do registro áudio-visual ................................................................30 3.3 1º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................................................. 32 3.3.1. Desenvolvimento da reunião .................................................................................................33 3.3.2. Participação e especificidades da interação entre os grupos indígenas participantes ............37 3.3.3. Reunião com os profissionais de saúde. ................................................................................40 3.4 2º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................................................. 44 3.4.1. Desenvolvimento da reunião .................................................................................................44 3.4.2. Interação entre parteiras pajés e AIS e entre os vários grupos indígenas participantes.........49 3.4.3. Reunião com os profissionais de saúde. ................................................................................51 3.5 3º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................................................. 52 3.5.1. Desenvolvimento da reunião .................................................................................................53 3.5.2. Interação entre os grupos indígenas participantes .................................................................60 3.5.3. Reunião com os profissionais de saúde. ................................................................................63 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS:............................................................................ 66 ANEXOS .......................................................................................................... 72 Programações................................................................................................................ 72 Lista de participantes (função, TI, aldeia). ................................................................ 78 Documentos produzidos ............................................................................................... 88 Transcrição dos cartazes produzidos durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS pelos grupos de trabalho.......................................................................................................................................88 Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ..............93 Transcrição dos Cartazes produzidos durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, pelos representantes de cada T.I. a respeito dos problemas de saúde que enfrentam e as propostas de solução ..........................................................................................................................................100 Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ............112 Cadastro das parteiras (Tarauacá e Feijó)............................................................... 116 Cadastro das Parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ........................116 Cadastro das Parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ........................120 Cadastro de pajés que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................123 Tabela de gestantes por aldeia (Municípios de Tarauacá e Feijó) ......................... 124 Convites ....................................................................................................................... 126 Documento de Diretrizes............................................................................................ 129 Tabela dos pólos-base do DSEI Alto Juruá, número de população indígena e número de enfermeiros por pólo. .............................................................................. 130 Declaração de comprometimento de Luciane Ouriques Ferreira para repassar cópia das gravações realizadas durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS às comunidades envolvidas............................................................................................. 132 Relatório do primeiro trimestre do projeto, elaborado pelas integrantes da Sitoakore que formam parte da equipe executora. ................................................. 133 Consolidados epidemiológicos coletados .................................................................. 142 4 Siglas Sitoakore – Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia. AIS - Agente Indígena de Saúde AISAN - Agente Indígena de Saneamento AAF – Agente Agroflorestal DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena OPIRE – Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira.. OPIRJ – Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá. OPITAR – Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá OAEYRG – Organização dos Agricultores Extrativistas Yawanawa do Rio Gregório. T.I. – Terra Indígena SUS – Sistema Único de Saúde SIASI – Sistema de Informações de Saúde Indígena DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis GMI – Grupo de Mulheres Indígenas UNI/AC – União Nacional Indígena /Acre 5 Introdução O presente relatório se refere às atividades desenvolvidas durante o primeiro período de execução do projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas”. Os objetivos pretendidos com este produto são descrever as atividades executadas e produzir uma avaliação preliminar de seus desenvolvimentos, da construção das metodologias e dos resultados alcançados. Esta primeira reflexão também tem por intuito fornecer subsídios para o planejamento da próxima etapa do projeto que ocorrerá na região do Alto Purus. As atividades aqui descritas visam cumprir os objetivos definidos no projeto, a saber: incentivar e valorizar o trabalho das parteiras e dos pajés; suscitar reflexões acerca das possibilidades e limites da articulação do trabalho desses agentes com o sistema oficial de saúde; produzir conhecimentos sobre práticas e concepções tradicionais indígenas referentes aos processos de concepção, gestação, parto, pós-parto e amamentação para subsidiar políticas de saúde diferenciada; realizar um diagnóstico sobre a situação atual da saúde, especialmente a materno-infantil, das populações alvo, nas aldeias e na cidade; avaliar o impacto do curso de Aperfeiçoamento de Parteiras Tradicionais Indígenas. Além desses objetivos, o desenvolvimento das atividades está permitindo produzir um diagnóstico sobre outros aspectos intimamente relacionados às questões do projeto: representações dos participantes das reuniões acerca dos partos nos hospitais e maternidades; reflexões acerca do contato com os nawa ou cariú1 e seu impacto no sistema sócio-cultural dos grupos; formas possíveis de colaboração e limites quanto à atuação conjunta dos diversos agentes indígenas - reconhecidos pela sociedade nãoíndia - que trabalham com a saúde nas comunidades (parteiras, pajés, AIS, AISAN, 1 Na região, os “brancos” são denominados pelos grupos indígenas da região – e muitas vezes pela população não-indígena – como cariú ou nawa. Este último é um termo pano que designa a categoria social mais externa, com a conotação, muitas vezes, de “inimigo”. Nos etnônimos de muitos grupos pano este termo funciona como sufixo indicando uma coletividade. Ex.: Yawanawa (lit. “gente queixada”): yawa = queixada / nawa = gente. Para uma reflexão aprofundada do termo nawa entre os povos pano ver Calavia (2002) e Keifenhein (1990). 6 Agente Agroflorestal); percepção das representações dos profissionais de saúde quanto às práticas de saúde tradicionais indígenas; reflexão sobre os processos de revitalização cultural, especialmente aqueles relacionados à medicina tradicional; reflexão sobre o histórico das políticas de saúde indígena na região. É importante destacar que a execução das atividades tem gerado ramificações que extrapolam o âmbito previsto, embora não sendo possível desenvolvê-las com mais profundidade no marco deste projeto. Estas não se limitam à questão dos sistemas de parto tradicionais, referindo-se a várias temáticas, tais como: parceria entre organizações indígenas e não-indígenas; impacto de projetos nas relações políticas entre as próprias organizações indígenas e destas com as comunidades; problemáticas advindas da questão dos registros áudio-visuais; o papel e a representatividade das instâncias de reivindicação política (Conselhos Locais e Distritais, organizações indígenas, FUNAI, etc) no âmbito da saúde indígena, entre outros. Estas temáticas mencionadas estarão permeando a descrição das atividades, de forma a evidenciar a complexidade política dos contextos e das redes de relações quando se constrói espaços de reflexão. Enumeração das Atividades Durante o período referente aos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março foram desenvolvidas as seguintes atividades: 1. 1ª Oficina de Trabalho realizada em Rio Branco entre os dias 07 a 10 de dezembro de 2005. 2. Reuniões internas da equipe executora relativas ao planejamento das atividades, logística, conteúdo e metodologia das reuniões. 3. Reuniões com as organizações indígenas locais para consolidar o apoio e definir aspectos logísticos referentes à chegada dos participantes nos locais da reunião. 4. Reuniões no DSEI Alto Juruá em Cruzeiro do Sul e nos pólos-base de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó para apresentação do projeto, definição do apoio logístico, entrevista com os profissionais de saúde e levantamento dos dados epidemiológicos. 7 5. Três reuniões de Parteiras, Pajés e AIS nos municípios de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó (Acre). 1. 1ª Oficina de Trabalho Entre os dias 07 e 10 de dezembro de 2005 foi realizada em Rio Branco a primeira das três Oficinas de trabalho contempladas no projeto. Esta oficina tinha como finalidade planificar o início das atividades. Inicialmente estavam previstas uma reunião entre as técnicas do projeto (Laura Pérez Gil e Maria Elisa Guedes Vieira), o diretor do Instituto Olhar Etnográfico (Ricardo Calaça) e a representante da Área de Intervenção em Medicina Tradicional/VIGISUS II (Stella Matta Machado) no dia 07, e outra reunião entre eles e as representantes de Sitoakore (Letícia Luiza Yawanawa, Edna Brandão) durante os dias 08 e 09. Porém, dado que Letícia Luiza Yawanawa, presidente da Sitoakore não se encontrava em Rio Branco por causa de uma viagem, as reuniões com as representantes de esta organização foram adiadas, acontecendo nos dias 09 e 10. Na reunião entre técnicas, Instituto Olhar Etnográfico e VIGISUS foram tratados temas referentes ao planejamento das atividades do projeto, tais como: a possibilidade de realizar uma capacitação previa dos profissionais de saúde que seriam convidados a participar das Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS; a necessidade de contatar os DSEIs para fazer um levantamento dos profissionais que trabalham na região; e um levantamento do equipamento apropriado para o registro das reuniões. Quanto à questão dos DSEIs, a representante de VIGISUS informou sobre os questionamentos colocados por membros do DSEI/Purus em relação ao presente projeto, os conflitos de interesses que estão por trás desses questionamentos e o estado da situação até aquele presente momento. As objeções ao projeto eram relativas, principalmente, ao orçamento (considerava-se que a porcentagem dos recursos do projeto destinados aos “brancos” era grande demais) e ao fato de se terem contratado para executá-lo técnicos que não moram no Acre. Por trás de esta oposição da responsável do DSEI do Alto Purus, à qual se somaram alguns dirigentes da Organização Manchineri do Alto Iaco, parecia existir certo temor de que o presente projeto interferisse em outro planejado pelo DSEI, que consistia na realização de cursos de formação para parteiras indígenas. Entretanto, os dois projetos possuem objetivos completamente distintos. O fato de que, finalmente, o projeto de formação de parteiras 8 tenha se realizado sem interferências, parece que vem contribuindo para diminuir a resistência da responsável do DSEI/Purus. A reunião com as integrantes da Sitoakore foi tensa por ainda existirem malentendidos não resolvidos a respeito, principalmente, do orçamento. Mesmo que elas tivessem participado ativamente na sua elaboração, as integrantes de Sitoakore fizeram vários questionamentos: o fato de estar orçado um recurso para cobrir “Custos Administrativos” para Olhar Etnográfico; a quantia destinada aos honorários das técnicas foi considerada muito alta; o fato de não estarem destinados honorários às integrantes da Sitoakore, apesar delas terem que desenvolver um trabalho que as impossibilitaria de assumir qualquer outra atividade remunerada. Estes questionamentos apontaram, em essência, para o mesmo ponto: existe um mal-estar derivado do entendimento de que há recursos demais destinados aos participantes ‘brancos’ do projeto, enquanto que a organização Sitoakore não receberia recursos suficientes, produzindo-se assim um agravo comparativo. Uma boa parte do tempo da reunião foi dedicada a negociar para se chegar a uma solução que satisfizesse todas as partes envolvidas, uma vez que sem acordo, o projeto seria inviabilizado. Para chegar a tal, alguns recursos foram remanejados como consta nos ofícios apresentados à Gerência da Área de Medicina Tradicional do VIGISUS II. Existe, por outro lado, uma questão que permeou as reuniões, não completamente desligada deste mal-estar em relação ao destino dos recursos e que já tinha sido manifestada durante os encontros prévios em Brasília: as representantes da Sitoakore alegaram que existe uma rejeição entre as populações indígenas de qualquer atividade que implique em pesquisa junto a eles. A pesquisa é entendida como uma espécie de “roubo”, já que se considera que o pesquisador obtém alguma coisa de valor dos povos indígenas (neste caso informação) e que de posse desse conhecimento vai ganhar muito dinheiro, não fornecendo, em geral, nenhum retorno, nem recursos para as comunidades. Tratamos de explicar que a pesquisa implicada no projeto não deveria, de forma alguma, ser entendida nesses termos e que seu objetivo era de obter informações para ajudar a entender a situação e os problemas relativos à saúde materno-infantil, para então propor soluções com o intuito de melhorar a vida das populações indígenas. Apesar dos impasses a respeito desses temas, foi possível chegar a um acordo negociado que satisfez a todos. Um acerto importante para o desenvolvimento do projeto foi que duas integrantes da Sitoakore irão acompanhar todas as reuniões: a 9 presidente, Letícia Luiza Yawanawa, enquanto presidente da organização e realizando funções de apoio administrativo, e Edina Carlos Brandão cumprindo as tarefas de monitora. O cumprimento destas funções, para as quais se solicitou à Gerente da Área de Medicina Tradicional/VIGISUS II a aprovação de remuneração através do remanejamento de recursos, implicou, principalmente, no auxílio das técnicas na organização das reuniões, especialmente em todas as questões relacionadas com a logística; na mediação da relação com as comunidades e as organizações indígenas; e no acompanhamento das reuniões, assumindo o papel de conduzir as discussões durante as mesmas conforme as diretrizes acordadas com as técnicas. Outras questões foram consideradas ao longo da reunião: Dado que tinham surgidos gastos que não tinham sido considerados no orçamento, e não existindo recursos suficientes, decidiu-se por eliminar uma das reuniões programadas, à que deveria ser realizada no município de Assis Brasil (na qual participariam habitantes do Alto Iaco e da cabeceira do Rio Acre). Decidiu-se cancelar esta, já que era a que menos população indígena abrangia. Considerou-se que a melhor opção seria que as comunidades previstas para participar da reunião de Assis Brasil o fizessem na de Sena Madureira, já que não haveria problemas relativos ao transporte (os rios Iaco e Acre são afluentes do Purus, onde seria realizada a reunião de Sena Madureira). Foi redefinido o cronograma de atividades em função da recente liberação dos recursos. Numa reunião realizada em Brasília em junho de 2005 entre as técnicas, a Sitoakore, o Instituto Olhar Etnográfico e a representante da Área de Medicina Tradicional/VIGISUS II, se tinha definido um cronograma que previa o início das atividades em setembro de 2005. Entretanto, a demora na liberação dos recursos fez com que o início do projeto apenas acontecesse em dezembro de 2005. O cronograma foi reformulado, sendo definido que a primeira reunião aconteceria em fevereiro de 2006. Diversas circunstâncias fizeram com que não fosse possível dar início às reuniões antes desta data: a necessidade de contar com tempo suficiente, a partir da liberação dos recursos, para realizar as articulações que a organização das reuniões precisa; as festividades 10 natalinas; a previsão inicial de realizar um evento de abertura do projeto que finalmente não foi possível – antes de dar início às reuniões. 2. Reuniões da equipe executora 1.1 Conformação e papéis da equipe executora A equipe executora está composta por duas integrantes da Sitoakore (Organização de Mulheres do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia) e duas antropólogas, com experiência em etnologia e ênfase na área de Antropologia da Saúde e da Doença. A seguir são indicados os nomes e as competências de cada uma das integrantes da equipe executora: ¾ Letícia Luiza Yawanawá - coordenadora da Organização, cumpre no projeto o papel de apoio administrativo. ¾ Edina Carlos Brandão Shanenawa - vice-coordenadora da Organização, cumpre no projeto a função de monitora. ¾ Laura Pérez Gil – antropóloga, cumpre no projeto a função de coordenação antropológica. ¾ Juliana Rosalen – antropóloga, cumpre no projeto a função de coordenação administrativa. Inicialmente o Instituto Olhar Etnográfico indicou Maria Elisa Guedes Vieira para assumir esta função. Entretanto, ela saiu do projeto por motivos pessoais, sendo substituída por Juliana Rosalen. Embora o projeto previsse que as coordenações antropológica e administrativa fossem desempenhadas por duas pessoas diferentes, as técnicas do projeto juntamente com o Instituto Olhar Etnográfico acordaram que ambas as funções passaram a ser compartilhadas por Laura Pérez Gil e Juliana Rosalen. 1.2 Temas tratados Nesta primeira etapa do projeto, a equipe executora se reuniu semanalmente para refletir, planejar e organizar as atividades do período entre dezembro e março. 11 Os assuntos tratados durante estas reuniões foram vários, sendo que um primeiro a ser apontado refere-se à organização logística das reuniões. Para cada uma das reuniões foi elaborado um convite (em anexo) destinado às comunidades indígenas participantes. A partir da reunião de Feijó, a equipe decidiu elaborar, além do convite, um documento de diretrizes (em anexo) a ser enviado às organizações indígenas locais para auxiliar na organização da reunião. As integrantes da Sitoakore ficaram responsáveis por fazer a articulação com as organizações indígenas de cada município de forma a garantir o repasse das informações relativas às reuniões às comunidades. Para a divulgação do convite as organizações utilizaram, principalmente, o sistema de radiofonia e programas de rádios locais destinadas à população rural e indígena (Rádio Floresta; Programa Voz Indígena). A organização logística das reuniões incluiu o planejamento da compra de alimentação (priorizando-se os produtos da aldeia aos industrializados) e do material de oficina para a reunião (apoiada em sugestões da Sitoakore), assim como o levantamento dos dados relativos ao deslocamento dos participantes das diversas TIs para cada reunião, mapeando o apoio necessário a ser solicitado ao DSEI e pólos-base. A preparação das reuniões implicou também numa discussão e reflexão junto com as integrantes da Sitoakore de um roteiro de temas a serem debatidos durante as mesmas. Quanto ao roteiro referente à reunião no município de Cruzeiro do Sul, não foram apresentadas sugestões, tampouco objeções ao conteúdo proposto. De fato, esperávamos que houvesse um interesse maior da Sitoakore em refletir sobre os temas a serem discutidos na reunião. A partir deste roteiro preliminar foi elaborada uma programação, aberta a sugestões, para ser apresentada especialmente ao DSEI e pólobase local. Esta primeira programação (em anexo) serviu como base para elaboração da programação da reunião de Tarauacá. Já a programação da reunião de Feijó foi integralmente re-elaborada a partir de uma avaliação das programações anteriores e uma discussão entre as técnicas e a Edina quanto à rentabilidade e a pertinência dos temas propostos. Edina chamou especialmente atenção para o uso de uma linguagem mais acessível aos participantes da reunião. Um outro assunto tratado, e de extrema relevância, foram as avaliações realizadas pela equipe executora quanto ao desenvolvimento das reuniões. Este procedimento, após cada reunião, permitiu vislumbrar os avanços e dificuldades relativas ao alcance dos objetivos propostos. Serviu também para repensar várias questões como as metodologias, os procedimentos referentes à monitoria, o tempo necessário para as 12 discussões, as formas de envolvimento e integração dos participantes, a sistematização de temas surgidos nas discussões, a recepção e a avaliação da reunião pelos participantes. Além das reuniões para tratar questões relativas à organização das atividades do projeto, durante o período referido as técnicas auxiliaram a Sitoakore no que tange a procedimentos de acompanhamento da gestão do projeto, com ênfase no controle e organização de documentos. Esta assessoria decorreu da percepção de que as integrantes da Sitoakore, apesar de estarem há algum tempo no movimento indígena, possuem pouca familiaridade com os inúmeros procedimentos burocráticos que um projeto exige. Percebemos uma certa dificuldade quanto ao acompanhamento de atividades consideradas como próprias dos não-índios. Contudo, o fato da Organização estar envolvida em vários projetos tem desencadeado preocupações, explicitadas em vários comentários, a respeito da necessidade de aprender a dominar estes procedimentos para assim minimizar a dependência dos não-índios. 1.3 Infraestrutura Neste primeiro período é possível apontar que várias das dificuldades que tivemos para realizar as articulações e a logística das reuniões decorreu do fato de não possuirmos infra-estrutura para tal. Embora a Sitoakore possua uma sala em Rio Branco, esta carece de linha telefônica, fax e internet para realizar os contatos necessários. Recorremos à telefonia pública e aos locais pagos de acesso à internet para viabilizar a comunicação com as organizações indígenas regionais, DSEI, pólos-base, VIGISUS e Olhar Etnográfico. A necessidade de recorrer a esses serviços implicou em um gasto de tempo que poderia ter sido melhor aproveitado para outras atividades concernentes ao projeto. Já nos município de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó nos vimos em situação semelhante, uma vez que as organizações indígenas locais, que apoiaram as reuniões, também se encontram com uma infra-estrutura mínima para seu funcionamento. Apesar dos pólos-base colocarem sua infra-estrutura à disposição, a rotina de trabalho extremamente intensa, impossibilitou sua utilização sem detrimento das atividades do pólo. Especificamente depois da reunião de Cruzeiro do Sul, Edina e Letícia adiantaram a passagem de volta para Rio Branco, de forma a poder utilizar o computador da 13 Sitoakore para a elaboração conjunta do Relatório de Atividades da 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS (anexo). 2 Reuniões no DSEI Alto Juruá e nos pólos-base de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó. Os grupos indígenas que participaram das três primeiras Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS ocupam T.Is. localizadas nos seguintes municípios: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Tarauacá, Feijó, Jordão, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Rodrigues Alves. As populações indígenas radicadas nestes municípios, no que se refere à saúde indígena, estão sob responsabilidade do DSEI Alto Juruá. Cada município, exceto o de Rodrigues Alves, conta com um pólo-base2 e uma equipe multidisciplinar de saúde que deve realizar prioritariamente os atendimentos nas T.Is (ver tabela em anexo). Para desenvolver as atividades previstas no projeto foi necessário realizar reuniões com a coordenação do DSEI Alto Juruá e com as equipes dos pólos-base. Ao todo foram quatro reuniões com a coordenação do DSEI. As duas primeiras, nas quais participou toda a equipe executora do projeto, tiveram por objetivo consolidar articulações, negociar o repasse de dados por meio de consolidados e de entrevistas com integrantes das equipes multidisciplinares e definir o apoio logístico (disponibilização dos pólos-base para hospedar os participantes na cidade; transporte para deslocar os participantes até a aldeia hospedeira; empréstimo de galões e isopores) e institucional (participação dos profissionais de saúde que integram a equipe multidisciplinar nos últimos dois dias das Reuniões de Parteiras, Pajés de AIS; articulação com os chefes dos pólos-base de Tarauacá e de Feijó) necessário para a execução das reuniões a serem realizadas nos municípios de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó. Os últimos dois encontros com a coordenação do DSEI contaram somente com as técnicas (devido à não disponibilidade das integrantes da Sitoakore) e objetivaram, em especial, uma avaliação preliminar por parte da coordenação quanto aos resultados (avanços e impasses) 2 Os pólos-base do DSEI Alto Juruá funcionam nos municípios de referência e contam com uma Equipe Multidisciplinar para realizar os atendimentos. As demandas que superam a capacidade de resolução no nível dos Pólos-Base são encaminhadas para a rede do SUS. 14 alcançados na 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ocorrida no município de Cruzeiro do Sul. Em relação aos pólos-base foram realizadas várias reuniões, algumas delas com os chefes dos pólos e outras contando especificamente com as equipes multidisciplinares. As reuniões iniciais com os chefes dos pólos tiveram por finalidade conhecer a realidade local e a equipe do pólo, assim como apresentar o projeto e a equipe executora do mesmo. Desta forma propusemos uma relação de aliança apontando possíveis contribuições do projeto ao aprimoramento do trabalho da equipe junto às comunidades, e uma reflexão acerca da estrutura atualmente existente para atender a saúde indígena. Quanto às equipes multidisciplinares, as reuniões visaram obter informações referentes à composição e experiência dos profissionais que as integram; ao funcionamento do pólo (planejamentos do trabalho da equipe nas T.Is, encaminhamentos de pacientes indígenas à rede do SUS, especialmente no que se refere ao fluxo pólo – posto de saúde – maternidade/hospital); à relação dos AIS e das parteiras com a equipe multidisciplinar e com o pólo; às ações da equipe relativas à saúde da mulher e da criança (PCCU, pré-natal, pós-parto, exame do pezinho, crescimento e desenvolvimento dos recém-nascidos, vacinação); à coleta e consolidação dos dados epidemiológicos por parte da equipe multidisciplinar. As conversas mais direcionadas com os profissionais de saúde tiveram também o intuito de obter impressões destes quanto às práticas das parteiras e dos AIS nas aldeias, quanto à opção e/ou encaminhamento das gestantes para a realização de partos na cidade, assim como as percepções relativas aos comportamentos de cada grupo frente aos procedimentos médicos associados ao pré-natal, parto e pós-parto. Desde a entrada do atual chefe no DSEI/Alto Juruá em junho de 2005, este se encontra num processo de reestruturação no que se refere principalmente às diretrizes relacionadas ao atendimento das equipes multidisciplinares e à adoção de procedimentos que permitam constituir uma base de dados confiável e que traduza a situação epidemiológica indígena dos municípios abarcados. Devido a essa reestruturação ainda há poucos dados disponíveis e sistematizados. Quanto aos dados brutos, não nos foram repassados porque, segundo as equipes, são os que se encontram incorporados aos consolidados atuais. Os dados mais antigos, anteriores a atual gestão do DSEI, não se encontram sistematizados e compõem os ´arquivos mortos` do pólo. 15 Uma pesquisa deste material exigiria uma negociação com o DSEI, além de um tempo extra para tal atividade. Uma outra dificuldade que encontramos, apesar de todos os nossos esforços, foi a frágil articulação realizada pelo DSEI junto aos pólos-base, em especial no de Tarauacá e no de Feijó. Segundo os chefes dos pólos referidos, o DSEI não os havia informado acerca do desenvolvimento do projeto. Ainda que isto não tenha inviabilizado nosso trabalho, exigiu um esforço maior no sentido de estabelecer uma relação de confiança visando envolver as equipes nas atividades do projeto. O pólo de Feijó foi o único que não aceitou repassar os consolidados, sem uma autorização expressa da CORE. Mesmo assim, não apresentaram nenhuma objeção quanto à realização de entrevistas e do repasse informal dos dados. 2.1 Apresentação do projeto às equipes multidisciplinares A apresentação do projeto às equipes multidisciplinares foi realizada, conforme apontamos acima, através de reuniões envolvendo grande parte dos profissionais de saúde e a chefia dos pólos-base. A princípio o projeto previa a realização de oficinas de treinamento para capacitar os profissionais de saúde para participarem das Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS. Como esta capacitação não ocorreu, sentimos necessidade, particularmente depois da 1ª Reunião, de dedicar uma atenção especial à sensibilização dos profissionais de saúde para o ato de ouvir e refletir sobre as falas dos participantes sem tomá-las a partir de pré-conceitos ou de uma atitude defensiva. Também consideramos importante definir melhor junto a esses profissionais como o projeto concebia sua participação. Nestas reuniões foram detalhados os temas previstos na programação, o que desencadeou comentários acerca de experiências e situações vivenciadas pelos profissionais em sua atuação nas T.Is. A partir destes comentários surgiram questões que foram incorporadas à programação, tais como o uso de anticoncepcionais e a opção por realizar ligadura sistematicamente vetada pelas lideranças de muitos grupos. É interessante notar estes dois temas, em particular, são extremamente delicados e polêmicos, tendo sua discussão pouco estimulada pelas integrantes da Sitoakore. 16 2.2 Apresentação preliminar das informações levantadas Durante as conversas com as equipes multidisciplinares foram coletadas informações a respeito da situação de saúde dos diversos grupos abrangidos pelos pólos-base e, mais especificamente, sobre as temáticas às quais se refere este projeto. A seguir apresentamos alguns dos temas que apareceram com mais recorrência nas falas dos profissionais, embora seja necessário levar em conta que em cada conversa estes assuntos tiveram uma série de desdobramentos específicos. Como assinalaram todas as equipes, existem grandes diferenças entre os grupos indígenas quanto à aceitação do pré-natal e à realização de partos na cidade. Realizaram uma distinção entre grupos que recorrem mais à assistência fornecida na cidade e aqueles que têm mais dificuldade ou mesmo se recusam a esse tipo de atendimento. Para tal distinção utilizaram dois tipos de critérios: a distância geográfica e o grau de “indianidade” dos grupos. A equipe do pólo-base de Cruzeiro do Sul estabeleceu uma clara diferenciação entre os Katukina, “que são cheios de cultura, de regras”, e que “só se passar mal mesmo, eles mandam para a cidade”, e os Nawa, Nukini e Poyanawa que “são mais urbanos”, e não apresentam nenhum tipo de problema com a realização do PCCU, do pré-natal e do parto na cidade. Apesar dos Katukina terem um fácil acesso à cidade de Cruzeiro do Sul, já que a BR 364 corta a T.I. Campinas/Katukina, isso não altera a rara procura pela assistência. Das dezesseis gestantes notificadas nesta T.I. em fevereiro de 2006, somente uma aceitou realizar os exames de rotina na cidade. A equipe atribui essa atitude ao fato que elas “têm medo, não tem como forçar”. Já os Poyanawa, que têm também a BR 364 adentrando sua T.I., recorrem com mais freqüência aos cuidados biomédicos. O que estas informações sugerem é que nos grupos citados o que define a procura pela assistência é menos a questão do acesso à cidade e mais a questão da semelhança ou adoção de traços culturais considerados como dos não-índios. No município de Feijó, os dois critérios parecem se sobrepor, ou seja, a maior procura pela assistência – com exceção dos partos – provém dos grupos do Baixo Envira, localizados mais próximos da cidade de Feijó. Os grupos do Alto Envira – 17 Kampa e Madihá3 – procuram bem menos o pólo devido a dificuldades de acesso – são necessários vários dias de viagem pelo rio desde as aldeias até Feijó, e muitos litros de combustível – e também pelo fato de serem grupos com tendência a preservar mais seus costumes, conforme a percepção da equipe. Em relação à amamentação as equipes dos pólos não levantaram nenhum problema específico, apesar de ficar evidente os descompassos entre os entendimentos do que a equipe e os vários grupos consideram como uma alimentação adequada para o recém-nascido e para a criança. Outro tema importante elencado nas conversas foi à questão do atendimento na cidade. Segundo os profissionais “não existe um atendimento diferenciado para os índios na rede do SUS”, “o acompanhamento das parturientes é igual dos não-índios”. De fato, um chefe de um dos pólos-base, para reforçar que os índios estavam sendo bem atendidos nos hospitais fez a seguinte colocação: “antes sim [eram mal atendidos], mas agora os índios são tratados como os não-índios, igual, da mesma forma”. O problema está justamente no fato do não reconhecimento da diferença, ainda que esta tenha sido levada em conta pela política de saúde indígena quando o conceito de saúde diferenciada foi elaborado4. A questão da falta de capacitação dos AIS e os problemas decorrentes dessa situação foram bastante enfatizados pelas equipes. Apesar das dificuldades a este respeito, os profissionais reconhecem a importância da figura do AIS e a necessidade de fornecer um treinamento adequado a esses agentes. A equipe do pólo de Feijó, por sua vez, mostrou preocupação em criar estratégias, ainda que não totalmente formalizadas, para capacitação, acompanhamento e controle do trabalho dos AIS. Umas das funções dos AIS ressaltadas pelos profissionais foi seu papel de elo entre a equipe multidisciplinar e a comunidade no que tange ao diagnóstico e tratamento de problemas relacionados à saúde reprodutiva e às DST. Nestes casos a questão de gênero tem se 3 Os Kampa – termo este usado principalmente na Amazônia Peruana – são conhecidos normalmente como Ashaninka, e os Madihá como Kulina. Dado que Kampa e Madihá são os termos que eles preferem, respectivamente, são os que usaremos neste relatório. 4 Para uma reflexão sobre o conceito de saúde diferenciada, sobre como está sendo entendido e aplicado e sobre a importância de melhorar a colaboração entre antropólogos e profissionais de saúde para aprimorar a aplicação deste conceito, ver Langdon (2004). 18 mostrado fundamental, pois pode tanto promover quanto inviabilizar procedimentos terapêuticos, dado que as pessoas encontram dificuldades em falar sobre esses temas com um agente ou profissional do sexo contrário. Para a área de interesse desse projeto as reflexões das equipes multidisciplinares acerca do conceito de medicina tradicional se tornam extremamente relevantes. A equipe do pólo de Cruzeiro do Sul afirmou não interferir na “questão cultural”, traduzida pelos procedimentos terapêuticos tradicionais, como os remédios da mata, as injeções do sapo kampo e o consumo do rapé e do tabaco. Opiniões similares foram emitidas por integrantes dos outros pólos-base, que enfatizaram ainda que problemas “leves” poderiam ser resolvidos no âmbito das aldeias através do uso de recursos terapêuticos tradicionais. No caso de Tarauacá a equipe mencionou seu apoio a um projeto de valorização das plantas medicinais, que visa pesquisar as principais doenças e seus remédios, assim como divulgar e constituir viveiros de mudas dessas plantas nos vários grupos da região. O surgimento deste processo de revitalização está associado, segundo a equipe, ao trabalho dos Agentes Agroflorestais. A equipe frisou ainda ser favorável à medicação alopática em casos em os quais a medicina tradicional não tem conseguido resultados satisfatórios. 2.3 Especificidades de cada pólo e de sua equipe. Este subitem tem por finalidade contextualizar as diferenças dos resultados obtidos quanto ao levantamento de dados em cada pólo e a participação dos profissionais de saúde das equipes nas reuniões. Essa variabilidade decorre de atitudes e formas distintas de pensar tanto o atendimento fornecido, quanto a própria relação estabelecida com os grupos indígenas. Ainda que ao longo do relatório tratemos as equipes de forma genérica, é importante salientar que nestas há profissionais com mais ou menos sensibilidade para a compreensão das realidades locais. Esta sensibilidade não só é percebida pelos grupos, como reivindicada enquanto uma maneira adequada de atuação. Pontuamos a seguir algumas especificações. 19 Pólo-base de Cruzeiro do Sul O Pólo de Cruzeiro do Sul, apesar da precariedade de sua sede - que serve de hospedagem para os pacientes que são encaminhados à cidade -, se beneficia do fato do DSEI estar sediado na mesma cidade. Isto facilita a agilidade quanto ao repasse de recursos, medicamentos e capacitações para os profissionais de saúde. Uma característica importante do pólo é a presença em seu quadro de um Katukina, Orlando Katukina, que cumpre a função de vice-administrador além de ser o Presidente do Conselho Distrital. Tentamos em várias ocasiões marcar uma conversa com ele, e de fato, chegamos a ir ao pólo na hora combinada, mas devido a compromissos imprevistos, a reunião não ocorreu. Apesar dos desencontros, a equipe não se negou a colaborar com a pesquisa nos arquivos mortos da instituição. Dado que não houve tempo suficiente para a realização dessa pesquisa, a enfermeira do pólo se disponibilizou a enviar os dados solicitados pelas técnicas, via correio. Pólo-base de Tarauacá Diferentemente do pólo de Cruzeiro do Sul, o pólo-base de Tarauacá não hospeda pacientes e possui uma sede maior e mais cuidada. A equipe de saúde deste pólo foi a que melhor acolheu a equipe executora, se disponibilizando a fornecer tanto os consolidados gerais, quanto os dados brutos atuais (Livro de Controle da Maternidade e o Livro das Gestantes). Em relação aos arquivos mortos, a equipe ressaltou que estavam totalmente desorganizados e, em decorrência disso, seria difícil realizar uma pesquisa. Os profissionais de saúde também dedicaram um tempo exclusivo para conversar com as técnicas, tanto sobre os assuntos do projeto, quanto sobre sua participação na Reunião. Pólo-base de Feijó Atualmente Feijó é o município que possui maior contingente de população indígena da região (ver tabela em anexo) e por isso mesmo possui a equipe com o maior número de integrantes: duas enfermeiras, quatro auxiliares de enfermagem, uma dentista e um supervisor de saneamento. A equipe de Feijó, diferentemente das demais, mostrou capacidade e iniciativa de propor estratégias para maximizar o trabalho da equipe e produzir um melhor entrosamento e articulação entre os profissionais e as comunidades. Algumas dessas estratégias foram comentadas pela equipe, tais como: a realização do planejamento das 20 viagens de atendimento à saúde nas T.Is. juntamente com a OPIRE (Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira) e as lideranças das comunidades envolvidas; a realização de reuniões com os AIS para discutir e negociar diretrizes a respeito do trabalho destes em suas comunidades e quando realizam encaminhamentos à cidade; incentivo e valorização dos trabalhos dos AIS através de uma certificação de bom desempenho das atividades, com base na opinião da comunidade; implementação de um Livro de Ponto dos AIS para controle e discussão com estes a respeito das suas atividades e encaminhamentos; a intenção de realizar, ainda que informalmente, uma capacitação, de pelo menos uma semana, para os AIS; realização de um cadastramento das famílias do Alto e Baixo Rio Envira para atualizar os dados populacionais que subsidiam as ações de saúde (os dados de 2005 de acordo com a equipe, estavam totalmente defasados prejudicando o repasse de remédios, vacinas, etc). Estas iniciativas mostram o interesse da equipe em melhorar a situação de saúde das comunidades assim como sua sensibilidade e esforço para procurar compreender as formas específicas de vivência, organização e comportamentos dos grupos indígenas locais. Cabe ressaltar que este pólo foi o único no qual os grupos indígenas a ele referidos reivindicaram a contratação de uma enfermeira específica, escolhida por sua boa atuação junto às comunidades. Em relação ao levantamento de dados, apesar da equipe se disponibilizar a realizar entrevistas, os consolidados e informações brutas não nos foram repassados formalmente. Para tanto a equipe considerava necessário uma autorização da CORE. Ainda assim possuímos alguns consolidados referentes a Feijó, obtidos junto ao DSEI/Alto Juruá. 3 Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS Neste item pretendemos, por um lado, desenvolver uma análise preliminar de aspectos que consideramos relevantes para reflexão quando se trata de se pensar na execução de projetos em parceria com organizações indígenas voltadas às comunidades indígenas, e por outro, descrever e fazer uma primeira avaliação das três Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS realizadas durante o período ao qual se refere esse relatório. Antes de adentrar nos aspectos selecionados, cabe destacar que a parceria com as integrantes da Sitoakore tem sido extremamente profícua e elucidativa, pois permite entrever avanços e impasses relativos à construção de formas de atuação e de 21 metodologias conjuntas que traduzem, no limite, um esforço por todas as partes de articulação entre lógicas de pensamento distintas. 3.1 Articulações com as organizações indígenas locais. Para a organização logística das Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS foi fundamental a articulação da equipe executora com as organizações indígenas que agregam os grupos de cada uma das regiões, a saber: ¾ Em Cruzeiro do Sul, a OPIRJ, Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá. ¾ Em Tarauacá, a OPITAR, Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá. ¾ Em Feijó, a OPIRE, Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira.. A articulação com estas organizações foi uma das principais funções das integrantes da Sitoakore. Desse processo de articulação é possível desprender algumas considerações: Dentro do movimento indígena ao qual pertence à Sitoakore, as organizações indígenas regionais constituem os canais mais apropriados para estabelecer a ponte com as comunidades locais. Dessa forma é essencial para a Sitoakore manter uma boa relação com essas organizações. As integrantes da Sitoakore afirmaram, em várias ocasiões, que determinadas decisões só poderiam ser tomadas em concordância com as lideranças da comunidade hospedeira e/ou com as organizações regionais. Em um caso específico foi possível perceber uma tensão entre uma liderança local – da aldeia onde seria realizada a reunião – e o Coordenador da organização indígena regional. Este exemplo evidencia que existem tensões geradas pela concorrência no campo político por recursos e prestígio - advindos através de projetos como esse - entre as lideranças locais e as organizações regionais. As organizações indígenas regionais não conseguem dissipar as tensões existentes entre os vários grupos indígenas que as compõem. Neste sentido, a organização passa a ser mais uma arena de disputa entre os grupos. 22 As organizações indígenas regionais são espaços importantes para se pensar à questão da representatividade junto às comunidades indígenas. As reuniões junto às organizações indígenas contaram com a presença da equipe executora e objetivaram verificar o andamento das providências já tomadas pela organização, assim como definir os últimos acertos para realização das Reuniões. Todas as organizações cumpriram a função de divulgar as Reuniões para os grupos indígenas e centralizar as informações sobre os nomes dos participantes e sobre os alimentos a serem fornecidos pelas comunidades. Também se prontificaram a acompanhar a chegada, hospedagem e alimentação dos participantes às cidades de referência (Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó), e seu posterior deslocamento à aldeia hospedeira. Disponibilizaram também sua infraestrutura (sede, batelão, computador, freezer, telefone), variada em cada uma das organizações. 3.2 Aspectos metodológicos 3.2.1. Construindo metodologias O objetivo mais significativo das Reuniões tem sido criar espaços de troca de experiências e de reflexão entre os grupos indígenas participantes, a respeito dos temas propostos no projeto. Este item pretende explicitar as metodologias construídas para possibilitar estes espaços de intercâmbios Vale ressaltar que, mesmo procurando respeitar as formas tradicionais de diálogo, a própria proposta da reunião cria um contexto novo de relações sociais. Em primeiro lugar, porque reúne vários grupos indígenas que não costumam se juntar de forma espontânea. Em segundo, porque não existe um contexto tradicional onde os participantes convidados - parteiras, pajés e AIS - se reuniriam dessa maneira. Por último, os assuntos propostos não seriam temas de uma discussão mais elaborada e surgida espontaneamente. Alguns aspectos formais do evento, estabelecidos ou exigidos ou pela Sitoakore ou pelos próprios participantes, evidenciaram que, para ambos, o contexto da Reunião remete ao mundo dos brancos. Podemos citar a este respeito: crachá de identificação, estabelecimento de horários para as conversas e alimentação, apresentação da 23 programação, solicitação de materiais para realizar anotações, a realização de dinâmicas e do forró dos brancos. Estes aspectos do mundo dos brancos convivem com outros tradicionais, fornecendo às reuniões características muito peculiares. Alguns elementos tradicionais que estiveram presentes nas reuniões foram: o uso de rapé e do tabaco, o fato dos participantes se pintarem uns aos outros com jenipapo durante as conversas, a presença de crianças, a circulação de alimentos da aldeia (ingá, amendoim, bananas, pupunha, cana, caiçuma), a priorização do cupishawa5 como espaço para as Reuniões, a feitura de esteiras para as mulheres se sentarem no chão (unicamente na reunião de Campinas), a elaboração de ornamentos, a celebração de rituais de ayahuasca com o intuito de envolver os participantes de outras aldeias e a realização de cantos, danças e brincadeiras tradicionais vários dos grupos presentes na reunião. Fotografia 2. Aldeia Morada Nova. Terminada a sessão da tarde, os Shanënawa organizam uma brincadeira na que dois pajés (Albeci, no chão, e Maria Batista, animando) participam ativamente. 5 O cupishawa, também chamado “chapéu de palha” no Acre, é uma estrutura circular, geralmente sem paredes, e com um teto cônico de palha. Atualmente, está presente em muitas das aldeias pano no Acre, sendo que nos últimos anos sua construção parece ter sido financiada pelo próprio Governo do Acre. Esta estrutura remete à casa tradicional dos grupos pano, a maloca ou shobu, que costumava ser ocupada por várias famílias ligadas por laços de parentesco que constituíam um grupo local. Os cupishawa que hoje encontramos nas aldeias pano são usados para realizar tanto festas quanto reuniões comunitárias ou outros tipos de eventos públicos como o proposto por este projeto, definindo-se prioritariamente como um espaço para atividades comunais e de interação com os visitantes. 24 Fotografia 3: Aldeia Campinas. Os Katukina envolvem os outros participantes no mariri, um ritual festivo com cantos e danças. A forma negociada de realizar as Reuniões procurou criar um espaço onde as pessoas se sentissem a vontade para discutir os temas propostos - abertos a sugestões -, procurando respeitar ritmos e modos específicos de ouvir, refletir e falar dos grupos. Nossa atitude enquanto técnicas, tem sido de nos colocar em segundo plano, deixando às monitoras e integrantes da Sitoakore o papel de protagonistas na condução da reunião. Em várias ocasiões quando tínhamos dúvidas a serem colocadas aos participantes, sugeríamos às monitoras de forma que elas as elaborassem e apresentassem aos participantes valendo-se de um formato mais adequado, minimizando assim nossa interferência na reunião. Uma outra metodologia utilizada por nós, especialmente na 3ª Reunião foi realizar provocações sobre determinado tema com o objetivo de gerar uma reflexão, ao invés de fornecer uma idéia, opinião ou solução já pronta. Acostumadas com a questão da hierarquia nas reuniões, as integrantes da Sitoakore se posicionaram, especialmente na primeira reunião, de forma a estabelecer um distanciamento e uma diferenciação com os participantes (ver figura 1). Durante esta mesma reunião fomos, com cautela, desconstruindo este posicionamento e esta diferenciação. De fato na segunda e na terceira reunião esta relação hierárquica foi amenizada, embora não completamente diluída. 25 Especificamente na 2ª Reunião foi utilizada a infra-estrutura de uma escola, uma vez que o cupishawa estava indisponível pelo fato de seu teto haver desmoronado. O tamanho e o formato da sala da escola, somado à quantidade de participantes, impossibilitou uma disposição espacial mais interessante durante a reunião. Na negociação interna das metodologias entre as integrantes da equipe executora, as representantes da Sitoakore sugeriram fortemente a realização de dinâmicas aprendidas por elas em cursos com os brancos. A justificativa fornecida para tal atividade foi de que as reuniões são extremamente cansativas para as pessoas e estas precisam de momentos de relaxamento. Nas dinâmicas propostas pelas integrantes da Sitoakore sempre prevalece um tom de jocosidade, porém servem de pretexto para propor uma reflexão acerca de um dos temas tratados na reunião. Uma outra metodologia proposta pela equipe executora para a reunião de Cruzeiro do Sul foi a de formação de grupos de discussão que mesclavam parteiras, pajés e AIS de diferentes etnias. Os grupos propiciaram uma troca de experiências extremamente rica entre os seus componentes. A forma de apresentar a discussão de um determinado grupo para os demais foi definida pelos participantes, consistindo fundamentalmente na elaboração de um cartaz, método que implicou um esforço dos participantes em sintetizar as informações geradas, principalmente através da comparação entre os saberes dos vários grupos. O mais importante no uso desta metodologia foi que propiciou um espaço de aproximação e de informalidade para a troca de experiências e conhecimentos exclusivamente entre os participantes indígenas. Fotografia 4: Aldeia Campinas. Um grupo apresenta os resultados da sua discussão. 26 A metodologia de discussões em grupo foi utilizada em dois contextos distintos: para a troca de experiências sobre temas específicos e para sistematizar os problemas e soluções visando à melhoria da atenção à saúde visando à preparação da conversa com os profissionais de saúde. Nesse último contexto, esta metodologia apenas foi utilizada nas duas primeiras reuniões. Apesar das vantagens mencionadas anteriormente, devido ao fato que esta metodologia despende muito tempo, especialmente quando há um grande número de participantes, e que não dá conta da riqueza das falas, consideramos oportuno não utilizá-la durante a 3ª Reunião, celebrada na aldeia Morada Nova, como será descrito no item correspondente (3.5.3.). Faz-se importante esclarecer que, embora inicialmente o espaço de diálogo com os profissionais de saúde tenha sido pensado como uma troca de experiências e também para a sensibilização dos mesmos, os grupos se apropriaram desse momento para ampliar o tema de discussão, não o restringindo a uma melhor articulação entre os vários especialistas (parteira, pajé, AIS, AISAN, AAF, profissionais de saúde), e reforçando a idéia de que a saúde é um problema não somente dos especialistas e que envolve o conjunto da comunidade. Dessa forma, o tempo reservado ao diálogo serviu também como espaço de reflexão e reivindicação a respeito da assistência prestada pelos não-índios, especialmente na cidade. Com base nos cartazes produzidos pelos grupos foram elaborados documentos (ver em anexo) a serem encaminhados pela Sitoakore e pelas técnicas do projeto as instituições responsáveis pela saúde indígena. Na reunião de Feijó foi experimentada uma metodologia diferente, pelas razões expostas acima. A preparação da conversa com os profissionais de saúde não se realizou em grupos, mas em formato de um fórum aberto de discussão. Já a preparação do documento, depois da reunião com a equipe, foi feita em duas etapas. Na primeira etapa constituiu-se uma comissão, da qual fizemos parte, para elaborar um rascunho das reivindicações e soluções discutidas. Na segunda etapa, este rascunho foi lido e debatido conjuntamente por todos os participantes, gerando um documento final. Visando aprofundar as informações comentadas durante a reunião a respeito da experiência e atuação das parteiras - por sugestão de Luciane Ferreira e a partir da reunião de Tarauacá - iniciamos a elaboração de um cadastro dessas. Nestes vemos recolhendo os seguintes dados: nome, aldeia/TI., quando a parteira começou a fazer parto, cursos realizados, número de partos realizados (ver anexo). A realização deste cadastro tem permitido acessar informações específicas sobre experiências das parteiras, 27 processos de aprendizagem, práticas utilizadas, concepções sobre o parto, tratamentos voltados à gestante e à parturiente, cuidados com os recém-nascidos, entre outros. Estes temas por serem delicados, pouco aparecem nas discussões mais gerais durante as reuniões, já que estas contam também com a presença dos homens. Apesar da metodologia já estar delineada no projeto, o fato de existir determinadas condições já estabelecidas (parceria com a Sitoakore, reuniões que juntam pessoas de vários grupos indígenas, modelos de reuniões já incorporados pelos grupos, etc) faz com que esta tenha que ser constantemente repensada e negociada tanto internamente pela equipe quanto junto aos grupos participantes das reuniões. À medida que as reuniões têm ocorrido, percebemos com mais clareza melhores estratégias para alcançar os objetivos propostos nesse projeto. 3.2.2. Monitoria: adentrando nas relações entre os grupos A monitoria tal como aparece proposta no projeto possui as seguintes atribuições: acompanhar e orientar as técnicas quanto à adequação dos comportamentos; participar na organização das reuniões e na condução dos diálogos; acompanhar as técnicas na sistematização dos dados e na elaboração dos produtos; tradução das gravações em língua indígena. Embora seguindo as diretrizes indicadas pelo projeto, a figura do monitor teve que ser adaptada à complexidade das realidades com as quais nos deparamos. Em primeiro lugar faz-se necessário especificar que o projeto tem previsto duas monitoras, sendo uma fixa (função preenchida por uma das integrantes da Sitoakore) e uma outra definida a cada reunião. Com o início da execução do projeto e em função de vários fatores, o papel da monitora que não é fixa se fragmentou. Os fatores que determinaram esta alteração foram os seguintes: Dado que as reuniões agregam pessoas de grupos que pertencem a famílias lingüísticas diferentes, se faz necessário contar com mais de um monitor para realização de tradução durante as reuniões visando a compreensão das discussões por todos os participantes. Por ex: na Reunião realizada na Aldeia Morada Nova (município de Feijó) estavam presentes grupos das famílias lingüísticas Pano (Shanenawa e kaxinawa), Arawak (Kampa) e Arawá (Madihá). 28 As organizações indígenas regionais, por serem parceiras importantes na organização das Reuniões, acabaram por indicar uma pessoa como monitora para assumir o apoio logístico da reunião. Duas dessas pessoas indicadas cumprem também o papel de representante das mulheres dentro das organizações indígenas envolvidas. Porém a colaboração dessas pessoas foi essencial, dado que as integrantes da Sitoakore nem sempre têm o conhecimento necessário sobre a realidade local para realizar a logística da reunião. As redes de parentesco e as pressões das lideranças locais também influenciaram na definição de algumas pessoas como monitoras. De qualquer forma a incorporação das monitoras, passou por um processo de discussão e negociação interno à equipe executora. É muito difícil que uma pessoa só concentre determinadas qualidades (conhecimento apurado da língua indígena e capacidade de realizar as traduções, capacidade para conduzir os diálogos durante as reuniões, sensibilidade para ganhar a confiança das pessoas e saber incentivá-las a colocarem suas opiniões) e/ou ao mesmo tempo consiga desempenhar as funções organizacionais previstas (colaboração na organização da reunião, condução de diálogos e tradução) e não previstas (coordenação das atividades das cozinheiras, controle da alimentação, aquisição de produtos no decorrer da reunião), fundamentais para o bom desenvolvimento da reunião. Desta forma tem-se que a monitoria acabou sendo exercida nas reuniões por pelo menos três pessoas distintas: a monitora fixa da Sitoakore, uma monitora definida pela organização indígena regional com ênfase na questão organizacional, e uma monitora (que pode se desdobrar em duas, conforme a necessidade) definida pela comunidade com ênfase nas traduções. O recurso previsto para o pagamento inicial de uma monitora foi dividido informalmente entre as pessoas que cumpriram as funções apontadas em cada uma das reuniões. Esta solução foi considerada satisfatória por todos os envolvidos. Em relação à questão lingüística, tem-se que nas reuniões a língua franca foi o português, ainda que algumas pessoas tenham optado por se expressar na língua indígena. Mas alguns participantes, de fato, como certos Kampa e Madihá não têm fluência no português. Nestes casos o papel da monitora, além de realizar a tradução, foi 29 fornecer um apoio mais individualizado a fim de verificar o entendimento das pessoas acerca das discussões. Deve-se ressaltar também que em todas as reuniões houve pessoas que se disponibilizaram espontaneamente a realizar as traduções, sem que para isso estivesse envolvido algum tipo de recurso. Em muitos casos existia uma relação de parentesco e/ou confiança entre a pessoa cuja fala era traduzida e o tradutor. Também ficou claro, que, dado o faccionalismo interno de alguns grupos, a escolha de um tradutor não resolve o problema da tradução. Isto se dá fundamentalmente porque o tradutor não tem legitimidade e nem é reconhecido pela facção oposta. A equipe executora definiu alguns procedimentos a serem adotados em relação ao trabalho com a monitoria, tais como: a realização de uma reunião de preparação antes do evento na qual são explicadas as funções de cada uma das monitoras, e também repassada e discutida a programação sugerida para a Reunião; realização de reuniões cotidianas à noite durante o evento, para avaliar a discussão do dia e preparar a do dia seguinte. Infelizmente dado à falta de tempo, só foi possível realizar as reuniões preparatórias, que por isso mesmo foram incrementadas com uma discussão mais aprofundada dos temas e uma reflexão conjunta sobre as possíveis metodologias. Ainda que não tenha sido estabelecida uma rotina de conversa com os monitores, aproveitamos ao máximo os espaços informais (antes do início, intervalos para os lanches e refeições) para discussão sobre o andamento da reunião e a atuação dos monitores. 3.2.3. Considerações a respeito do registro áudio-visual No projeto foi previsto o registro áudio-visual das Reuniões como um dos métodos para etnografá-la. A Sitoakore mostrou um interesse especial na realização desses registros, uma vez que fornecem visibilidade às atividades que a organização vem desenvolvendo junto as comunidades. A organização também considera importante a obtenção desses registros como forma de construir uma memória da instituição. Cumpre ressaltar que, atualmente, os grupos estão muito sensibilizados com a discussão do uso de imagens e dos direitos autorais e, portanto, a questão do registro áudio-visual das reuniões tem um sido um tema delicado. A proposta de realizar esse registro exigiu uma árdua negociação com as comunidades indígenas e participantes envolvidos em cada uma das Reuniões. Por mais difíceis e complexas que tenham sido essas negociações, percebemos essa reflexão dos participantes como algo extremamente 30 positivo e que promove também uma discussão sobre as articulações possíveis com o mundo dos brancos. Tivemos três experiências diferentes quanto a essa questão. Na Reunião no município de Cruzeiro do Sul os participantes foram informados que o projeto previa esses registros e consultados oralmente quanto à possibilidade de realizá-los. Não houve qualquer objeção por parte dos participantes quanto à utilização do gravador e da máquina fotográfica. Na Reunião ocorrida no município de Tarauacá a situação foi mais complexa. Um dos parceiros do projeto considerou oportuno que os participantes assinassem um termo de autorização de uso de imagem. No dia anterior ao início da Reunião, a equipe executora se reuniu com as monitoras - estando também presentes a liderança da aldeia assim como o diretor do Instituto Olhar Etnográfico, uma assessora do mesmo e a Gerente da Área de Medicinas Tradicionais do VIGISUS II - para discutir a monitoria e apresentar o termo de autorização. Por um desentendimento a respeito do objetivo e conteúdo do termo entre os participantes dessa reunião, decidiu-se não utilizar o termo e realizar uma discussão aberta, no início do evento no dia seguinte, considerando como objeto de negociação apenas o registro através do gravador. A decisão final dos participantes foi aceitar a gravação, com a condição da Gerente da Área de Medicinas Tradicionais assinar um documento (em anexo) no qual a mesma se compromete a providenciar uma cópia das gravações realizadas durante o evento e do relatório técnico para as comunidades envolvidas. Nesse mesmo evento, uma das integrantes da Sitoakore negociou, informalmente e apenas com a comunidade a qual pertence, a possibilidade de fotografar essas pessoas fora do contexto da Reunião. Consideramos, entretanto, que essa não é uma forma adequada, num projeto que se propõe participativo e que pretende respeitar decisões gerais, de obter um registro fotográfico. Na última Reunião, do município de Feijó, foi utilizado o mesmo procedimento que na reunião de Cruzeiro do Sul. A consulta aos participantes nesse caso, gerou um debate acalorado no qual algumas pessoas expressaram suas dúvidas e suas opiniões. Dentre estas dúvidas as mais significativas foram: a preocupação que através da gravação fossem revelados “segredos” dos grupos indígenas que não devem ser divulgados e de que maneira e em que medida o registro fortaleceria o conhecimento tradicional. Edina Shanenawa, monitora da Reunião, explicou que os “segredos” não 31 seriam traduzidos para os nawa e que o registro serviria, além de memória do evento, para a elaboração de bons relatórios por parte das técnicas. Ela também protagonizou a condução das discussões e o esclarecimento das dúvidas, contando com contribuições importantes de outros participantes da reunião. A única contribuição das técnicas nessa discussão foi de explicar a relevância desse projeto, na medida em que visa subsidiar a elaboração de políticas de saúde indígena mais adequadas, que valorizem principalmente os agentes tradicionais que atuam junto às suas comunidades. Foi significativo perceber que o próprio fato de realizar a consulta aos participantes - procedimento inexistente em outros eventos relacionados à saúde, à educação, etc – foi considerada por eles como uma atitude de respeito e seriedade da equipe executora em relação às opiniões e decisões das comunidades. Por fim, vale também positivar que as reflexões dos grupos somam-se ao processo de construção de estratégias de forma a garantir acesso e maior controle quanto aos materiais áudiovisuais obtidos junto às comunidades. 3.3 1º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS A 1ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS foi realizada na aldeia Campinas (T.I. Campinas/Katukina, município de Cruzeiro do Sul) entre os dias 15 a 19 de fevereiro. Estava prevista a vinda de participantes das seguintes T.Is: Campinas/Katukina; Jaminawa do Igarapé Preto; Jaminawa Arara do Rio Bajé, Kampa do Rio Amônea; Arara do Igarapé Humaitá; Arara do Rio Amônea; Kashinawa e Ashaninka do Rio Breu; Nawa; Poyanawa e Nukini. Devido a problemas tais como doença - caso das parteiras indicadas pelos Poyanawa e Huni Kuin6 do Breu -, transporte e dificuldade de comunicação, faltaram participantes das seguintes T.Is.: Kampa do rio Amônea; Arara do Rio Amônea; Ashaninka do rio Breu e Poyanawa. Vale salientar que além do convite ter sido repassado pelo sistema de radiofonia local, também foi divulgado através de um programa de rádio denominado Rádio Floresta. 6 Em geral, os Huni Kuin são conhecidos como Kaxinawa, mas dado que este etnônimo tem uma conotação pejorativa (kaxi significa ‘morcego’, de forma que kaxinawa se traduziria como “a gente morcego”), eles preferem a primeira denominação, que é traduzida como “gente de verdade”. Ao longo do texto usaremos, portanto, este segundo como etnônimo, embora mantenhamos o termo kaxinawa quando seja uma referência à língua ou no caso do nome oficial das T.Is. 32 Várias comunidades não o receberam porque o sistema de radiofonia local não está funcionando na maioria das aldeias da região, em especial nas mais distantes. Esta primeira reunião estava inicialmente prevista para ocorrer na Aldeia Martin, mas depois de uma conversa entre a equipe executora e a comunidade na T.I. Campinas Katukina no dia 10/02, ficou decidido que o evento seria realizado na Aldeia Campinas por esta contar com uma infra-estrutura mais adequada - cupishawa e casa de hospedagem – para a realização da reunião e a acomodação dos participantes. 3.3.1. Desenvolvimento da reunião Como foi previsto no projeto, os três primeiros dias da reunião foram dedicados à troca de experiências entre os grupos indígenas participantes. Devido a um atraso na chegada dos participantes à Aldeia Campinas, decorrente da chuva e da impossibilidade da balsa atravessar o Rio Juruá, a reunião só teve início no final da tarde do dia 15/02. Nessa sessão foi realizada apenas uma exposição do projeto por parte da equipe executora e também a apresentação dos participantes. No dia seguinte (16/02), a sessão se iniciou com uma avaliação do curso de Aperfeiçoamento das Parteiras Tradicionais Indígenas. Em geral quase todas as parteiras haviam participado, em alguma ocasião, desse e/ou de outros cursos e fizeram uma avaliação positiva dos mesmos. Essa avaliação foi pautada em dois pontos: o primeiro foi a aquisição do kit e a importância e utilização dos materiais que o compõem em suas práticas na aldeia; o segundo ponto foi uma valorização da aprendizagem de novas técnicas dos nawa, explicitadas através das seguintes falas: “[aprendi] jeito de pegar criança e ajeitar a mulher”; “sobre limpeza de material”; “como cuidar da criança”. Especialmente em relação ao kit foi recorrente a fala sobre a dificuldade de repor materiais que se acabam tais como gaze, álcool iodado, algodão, luvas, entre outros. A partir de uma colocação da Edina Shanenawa explicando que as parteiras de sua aldeia (Morada Nova) têm acompanhado partos no hospital junto com os médicos, desencadeou-se uma discussão sobre a questão do reconhecimento e a contratação das parteiras e dos pajés. As parteiras argumentaram que recebendo um recurso poderiam desenvolver seu trabalho com mais qualidade uma vez que teriam maior facilidade de se deslocar até a gestante, acompanhá-la no pós-parto, repor os materiais necessários, além de ajudar em sua própria manutenção. 33 Durante a tarde, o tema abordado foi o perfil da parteira. Cada qual explicou como começou a fazer parto e se havia aprendido com alguém as técnicas relativas a esta prática. Os depoimentos revelam uma variabilidade de experiências e de processos de aprendizagem. Este tema desembocou em dois outros: o pajé enquanto colaborador das parteiras e o trabalho dos AIS. No dia 17/02 pela manhã foi proposto o tema da relação entre parteiras, pajés e AIS. A conversa teve início com os AIS que explicaram sua parceria com as parteiras, especialmente em atividades como medir a pressão da grávida, buscar medicamentos da mata, aplicar soro, pesar o recém-nascido, preencher a ficha de nascimento. Somente os Katukina ressaltaram que “nunca tiveram trabalho de AIS junto com a parteira”. Fotografia 5: Aldeia Campinas. Os pajés katukina tomam rapé durante a reunião. A discussão evidenciou as diferenças a respeito de problemas vivenciados atualmente pelos grupos presentes e as práticas associadas aos cuidados relacionados à gestante durante a gravidez e pós-parto. Assim por exemplo, enquanto que para as mulheres Nawa e Nukini um dos principais problemas que aflige as grávidas é a pressão alta, exigindo seu encaminhamento para a cidade, para os Katukina as gestantes têm boa saúde porque tomam kampo durante a gravidez. 34 A princípio não havíamos previsto na programação tratar especificamente sobre os cuidados tradicionais com a gestante e sim fazer uma discussão acerca do pré-natal em geral. Mas foi justamente a partir da riqueza dessa pequena discussão espontânea que decidimos realizar uma discussão mais aprofundada à tarde, e também incorpora-la nas programações das reuniões subseqüentes. Um outro desdobramento deste tema das parcerias foi a pertinência da figura da AIS mulher. A esse respeito ficou claro que para as mulheres é muito constrangedor falar de determinadas questões com os AIS homem (inclusive questões relacionadas ao parto) e que a presença de uma AIS mulher facilitaria tanto o trabalho com as parteiras quanto com a equipe multidisciplinar. De fato no documento final esses grupos reivindicaram a necessidade de se ter AIS mulheres nas aldeias. No final da manhã foi proposta uma discussão sobre partos na aldeia e partos na cidade. Nossa intenção era promover uma comparação entre os dois contextos. Entretanto, devido a uma colocação de uma das monitoras alegando que os partos na aldeia implicavam na revelação de segredos, a discussão se limitou aos partos na cidade. Para a maioria dos participantes, e em particular para as Katukina, existem vários fatores que as desencorajam de realizarem partos na cidade: discriminação e preconceito por parte dos profissionais do hospital; falta de carinho e de cuidados com a gestante antes, durante e após o parto; a não permissão de acompanhantes; técnicas de parto e de cuidados com os recém-nascidos não reconhecidas como adequadas. Os Katukina e os Kaxinawá enfatizaram que procuram o hospital somente em caso de complicações na gravidez e/ou parto (bebê de travessa ou sentado, hemorragia, etc). Na sessão da tarde foi proposto um trabalho em grupo para discutir a temática do “pré-natal tradicional” (ver a transcrição dos cartazes em anexo), ou seja como a parteira, o pajé e o AIS cuidam da grávida, detectam problemas e fornecem soluções para esses problemas. No final desta sessão as pessoas se posicionaram em um círculo para discutir dois temas: anticoncepcionais e amamentação. Em relação ao primeiro tema, os Katukina foram bastante enfáticos quanto à rejeição dos métodos anticoncepcionais, incluindo a camisinha, uma vez que seu uso poderia ter implicações na política demográfica do grupo. De forma menos radical, os Arara e os Jaminawa-Arara também negaram o uso desses medicamentos atualmente. Já os Nawa, Nukini e Huni Kuin vêm se valendo do uso de anticoncepcionais, apesar de acreditarem que acarretam uma série 35 de problemas à saúde. Especificamente nos Huni Kuin, a procura pelos anticoncepcionais tem sido realizada no Peru, cujo Governo os fornece de graça e no formato injetável. Em relação à discussão sobre amamentação surgiram diferenças entre os grupos indígenas quanto à forma adequada de alimentar a criança depois de seu nascimento, mas os participantes, de um modo geral, concordaram quanto ao fornecimento concomitante de determinados alimentos (mingau de banana e caiçuma de macaxeira) e leite para as crianças, no período que os não-índios consideram como exclusivo da amamentação. Os Nawa e Nukini comentaram também que algumas mulheres em seus grupos usam leite em pó porque consideram que “não tem leite” ou que “o leite é fraco e não sustenta”, sendo atualmente uma das funções da parteira a de conscientizar a puérpera quanto aos benefícios de amamentação. Fotografia 6: Aldeia Campinas. Mulheres Jaminawa e JaminawaArara durante a reunião. Devido à empolgação que gerou o trabalho em grupo, a equipe executora resolveu no terceiro dia (18/03) pela manhã utilizar a mesma metodologia para a discussão dos cuidados com o recém-nascido. Os temas focalizados pelos grupos foram as práticas destinadas a garantir a saúde do bebê; os cuidados com o umbigo (uso de remédios tradicionais e de limpeza) e com o nascimento dos dentes; e a alimentação da criança (ver transcrição de cartazes em anexo). O período da tarde foi destinado à preparação da conversa com a equipe multidisciplinar. Os participantes sugeriram a divisão em grupos por T.I. para refletir 36 sobre problemas - no âmbito da aldeia e da cidade – e soluções a serem apresentados e discutidos com os profissionais de saúde. Da mesma forma que nos trabalhos anteriores, os participantes sistematizaram os resultados da discussão em cartazes com o objetivo de apresentá-los aos profissionais de saúde que se incorporaram à reunião no dia seguinte. O conteúdo desses cartazes serviu como base para a elaboração de um documento reivindicativo (ver em anexo) dirigido ao chefe do DSEI/Alto Juruá que a Sitoakore se disponibilizou a encaminhar. Finalmente, o último dia foi dedicado à avaliação individual da reunião por parte dos participantes e da equipe executora e à elaboração do documento mencionado. Quanto à avaliação da reunião, os balanços dos participantes foram muito positivos. A maior parte deles enfatizou que gostou do fato da reunião ser realizada em uma aldeia e também porque constituiu um espaço no qual adquiriram experiência e aprenderam a partir da troca com os outros participantes. O representante da T.I. Kaxinawa do Breu, considerou ainda que a reunião teve um papel importante no sentido de ajudar a perceber as necessidades de outros povos e de contribuir ao fortalecimento do próprio conhecimento. Chamou atenção especial sobre a importância da reflexão a respeito das funções dos pajés, parteiras e AIS. Mirvana Nukini também salientou que, além de aprender com a experiência dos outros participantes, também se divertiu com as danças e brincadeiras. 3.3.2. Participação e especificidades da interação entre os grupos indígenas participantes Em relação à interação entre os participantes durante a reunião, podem ser consideradas questões relativas às relações de gênero, inter-grupais e inter-geracionais. Deve-se notar, em primeiro lugar, que os únicos pajés que participaram eram Katukina, moradores da T.I. onde foi celebrada a reunião. Os três pajés que estiveram presentes se declararam muito felizes e emocionados de terem sido convidados pela primeira vez a participar de uma reunião sobre saúde. Durante todo o evento foram extremamente assíduos e colaboraram ativamente em todas as atividades, especialmente nos trabalhos em grupo e nas brincadeiras. Apesar de ser uma reunião à qual, além das parteiras, foram convidados pajés e AIS – todos eles homens -, o evento de Campinas se constituiu como um espaço fundamentalmente feminino, não apenas porque o número de mulheres era muito maior, 37 senão também porque o foco temático estava centrado nas atividades, práticas e problemas das parteiras, enfim, em conhecimentos dominados por elas. As práticas dos AIS e dos pajés foram tratadas especialmente na medida em que estavam associadas às das parteiras. Nesse sentido, a reunião inverteu a lógica predominante na qual os homens costumam ser escutados e protagonizar as ações que as instituições dos nawa desenvolvem em favor das populações indígenas. Aqui, as mulheres assumiram o protagonismo colocando os homens em segundo plano. Ainda assim, as mulheres não se sentiram a vontade para falar sobre determinados temas, precisamente pela presença de homens na reunião. Contudo, é necessário destacar que a participação dos homens foi importante, de um lado, para eles escutarem a voz feminina num espaço de legitimidade ao qual as mulheres dificilmente acessam, e, de outro, para realizar uma reflexão conjunta sobre os temas propostos. Afinal, como ficou claro na reunião, as práticas e problemas associados aos processos de gestação, parto e pós-parto incumbem à comunidade como um todo e não apenas às mulheres. Fotografia 7: Aldeia Campinas. Participantes katukina, em primeiro plano, e nukini e nawa em segundo. Nesta reunião um AIS Huni Kuin, em particular, acabou se destacando dos demais por apresentar sempre uma postura tranqüila, gostar de ouvir as pessoas mais velhas antes de se colocar e por ter já algum conhecimento a respeito dos temas de discussão, dado que sua mãe é parteira. Foi importante constatar também o interesse e respeito com que tanto as parteiras quanto, especialmente, os AIS, escutavam as 38 intervenções dos pajés. O que foi possível perceber na reunião é que os AIS novos estão interessados em ter os pajés como parceiros e aprender com eles certas práticas, especialmente o uso de ervas medicinais. Em relação às relações inter-grupais cabe destacar que, enquanto entre as pessoas vindas de fora se criou uma relação de proximidade e camaradagem – para o qual foram importantes os espaços informais, como deslocamento coletivo de ônibus, a hospedagem concentrada em dois locais, as horas do almoço e da janta, a hora do banho –, já em relação as mulheres katukina, estas permaneceram mais fechadas e sua integração no conjunto de participantes foi menor. Esta disjunção viu-se intensificada por outro fato significativo, já que ao longo da reunião foi estabelecida uma diferença clara entre os vários grupos participantes, definindo-se estes em dois pólos. De um lado, os Katukina que se apresentaram, e eram percebidos pelos outros, como os “mais tradicionais”, imagem construída em função de certos traços que eles se esforçaram em sublinhar constantemente: falam preferencialmente na língua indígena, tendo muitos deles pouca fluência em português; mantém numerosos “costumes tradicionais”; recorrem o menos possível ao serviço de atendimento dos brancos; preservam aspectos “visíveis” identificados com um maior grau de indianidade (pinturas, cantos, festas...). No outro extremo, os Nukini e Nawa foram percebidos como os grupos mais “aculturados”, com “cultura de branco”: já não falam mais a língua indígena, seus costumes são identificadas pelos outros como costumes de branco7, recorrem com mais freqüência aos serviços de saúde dos brancos, tendo pouco grau de autonomia a esse respeito. Esta situação criou alguns constrangimentos, já que em determinado momento da reunião as mulheres katukina reclamaram que não queriam mais trabalhar em grupos que misturassem pessoas de diferentes etnias porque elas “falavam coisas de índio”, enquanto as outras pessoas “falavam coisas de branco” e depois o discurso assumido pelo grupo, para apresentar nos cartazes, era unicamente o dos Katukina. Igualmente, se mostraram incomodadas ante a idéia de que pessoas de outros grupos que “tinham 7 No que diz respeito a questões associadas ao parto, o fato da pressão alta durante a gravidez ser um problema significativo para as mulheres Nukini e Nawa, assim como a relevância do cumprimento de resguardo e do fato de optarem por ganhar nenê prioritariamente na cidade, foram identificados pelas Katukina como traços da “cultura de branco”, que se contrapõem às próprias práticas: as mulheres Katukina não realizam “resguardo” – logo após ganhar nenê retomam suas atividades –; não sofrem pressão alta porque usam as injeções de kambo durante a gravidez e se recusam a ganhar nenê na cidade. 39 perdido sua cultura” estivessem aprendendo e levando consigo aspectos da cultura katukina. Na disposição espacial dos participantes no cupishawa durante a reunião foi possível perceber de que forma deu-se a integração entre eles: enquanto as mulheres Nawa, Nukini, Jaminawa-Arara e Arara se sentavam em pequenas cadeiras, em geral misturadas entre si, as mulheres Katukina se sentavam sobre esteiras de palha, no chão, sem se misturar com as outras mulheres e numa posição mais interior. porta Arara e JaminawaArara Nukini, Nawa Homens Katukina Mulheres Katukina Técnicas e integrantes de Sitoakore Figura 1: Disposição dos participantes durante a Reunião realizada na Aldeia Campinas 3.3.3. Reunião com os profissionais de saúde. O projeto previa inicialmente dois dias para realização de uma conversa com a equipe do pólo-base de forma a aprofundar a reflexão sobre as possíveis articulações e limites entre os saberes tradicionais e a biomedicina. Após uma negociação com o DSEI em Cruzeiro, esses dois dias foram reduzidos a um, de maneira a não alterar demasiadamente à programação de trabalho da equipe multidisciplinar. Em reunião junto ao DSEI fomos informados de que a equipe encontrava-se realizando atendimento em uma T.I., mas que até o dia da Reunião alguns profissionais já estariam de volta e poderiam participar. Repassamos a programação 40 para as enfermeiras do DSEI, explicando os objetivos da Reunião e o que esperávamos da participação dos profissionais de saúde. No final da manhã do penúltimo dia de discussões (19/02), os representantes do DSEI e pólo-base de Cruzeiro do Sul chegaram na aldeia Campinas e à tarde foram incorporados na Reunião. Primeiramente houve uma apresentação dos profissionais presentes (um médico, um odontólogo, uma farmacêutica, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, um representante do DSEI). O discurso dos profissionais nesta apresentação inicial foi no sentido de reforçar que estavam participando especialmente “para ouvir” e “(...) para responder e tentar fazer este questionamento com vocês da melhor forma possível (...) nosso chefe de distrito não pode comparecer e a gente vai estar fazendo anotações e levando esses questionamentos a ele e posteriormente ele vai estar passando algum posicionamento frente a esses questionamentos de vocês” . A fala do médico, recém chegado na equipe, distinguiu-se das demais por apontar uma disposição em não só tratar, mas especialmente aprender com os grupos: “estou aqui para atender todos vocês, não só para passar alguma coisa para vocês, mas aprender com vocês, o que vocês me ensinarem eu vou agradecer”. Após as apresentações, as técnicas sugeriram que principalmente as duas profissionais com alguma experiência de trabalho nas TIs comentassem sobre a questão dos atendimentos em área, as dificuldades relativas à atenção à saúde da mulher, exames de PCCU, pré-natal, relação com as parteiras e AIS, etc. A enfermeira que hoje atua no pólo iniciou contando sua experiência na equipe do pólo de Mâncio Lima. Ressaltou que os grupos Nawa e Poyanawa são muito bons para trabalhar, porque já falam português muito bem. O maior problema encontrado por ela foi quanto à questão de realização do pré-natal e da imunização das gestantes na região do Môa, pela distância e a dificuldade de deslocamento. Explicou que atualmente são realizadas por gestante, em média, três consultas de pré-natal, mas que estas não são suficientes para solicitação de todos os exames necessários. Isto porque existe uma demora na liberação dos exames pela rede do SUS. Muitas vezes quando a liberação ocorre, a mulher já pariu. Também comentou que o cronograma de viagens não coincide com as necessidades de acompanhamento do puerpério e do recém-nascido. Quanto aos partos, salientou que as mulheres indígenas preferem que sejam realizados pelas parteiras na aldeia, e que a equipe multidisciplinar procura respeitar 41 essa opção. A equipe, estando em área, fornece à parteira os materiais de parto, e só intervém quando ocorre algum tipo de problema. Comentou que os grupos são de fato muito diferentes entre si e que geralmente o primeiro contato da equipe em um determinado local “cria um pouco de rejeição”. Esta vai sendo dissipada à medida que a equipe vai ganhando a confiança das pessoas. Também chamou atenção para o fato que os profissionais de saúde geralmente saem da faculdade e vão direto para a área indígena, sem ter nenhum tipo de preparo, e que a comunidade deveria tentar ajudar estes profissionais. Há de se salientar que os discursos dentro de uma equipe são múltiplos. Se por um lado tem-se uma enfermeira que reconhece as dificuldades em relação ao trabalho e se mostra minimamente sensível às diferenças culturais, por outro há profissionais extremamente etnocêntricos e que não conseguem ter uma percepção mais refinada da realidade com a qual trabalham, como aponta o depoimento a seguir: “a gente ta aqui para tratar da saúde do ser humano, o índio ele é um ser humano, a gente não tem que pensar essa diferença entre branco, ou índio ou não-índio, a gente tem que tratar é tudo igual, eu vejo por essa forma não tem que ter diferença” e continua, “hoje a gente estava lá na Bananeira uma gestante chegando nos 9 meses de gestação estava com falciparum e tava com medo de ir para cidade para fazer exame, eu não entendo o motivo, não sei se ela tem medo da equipe, não sei que trauma que deu para essa pessoa para ela rejeitar esse tipo de atendimento”. Estas colocações mostram a dificuldade de alguns profissionais de saúde de se distanciarem de suas próprias referências para ouvir, procurar entender e respeitar culturas distintas. Por isso mesmo torna-se incompreensível para estes, as críticas advindas dos grupos, já que não apreendem a significação mais profunda que subsidia essas reclamações: (...) “se estiver tendo algum ponto negativo tem que chegar para gente e falar (...) porque existe esta dificuldade também, a gente pensa que faz um bom trabalho, hoje eu acabei de atender aqui eu imagino que todo mundo esteja satisfeito, porque ninguém falou nada, mas depois a gente fica escutando buchicho, não tá legal, podia ter melhorado, então é acabar com isso”. Depois da fala dos profissionais e conforme havia sido acertado com os participantes, os grupos iniciaram suas apresentações a partir de cartazes produzidos por eles mesmos (em anexo). Nestes cartazes foram listadas as dificuldades dos grupos quanto ao trabalho da equipe em área indígena (incluindo aqui a relação dos 42 profissionais com os vários agentes indígenas que atuam com saúde), bem como os problemas relativos ao atendimento e encaminhamentos ao pólo-base, incluindo aqui a questão da hospedagem e da alimentação na cidade para o paciente e acompanhante, a falta de infraestrutura do pólo, falta de medicamentos, e o mau atendimento nos postos de saúde, hospital e maternidade. Foram levantados não somente os problemas, mas também sugeridas soluções para resolvê-los. Dentre as reivindicações mais recorrentes que surgiram foram: ¾ A formação e contratação de uma AIS mulher por aldeia. ¾ A FUNASA deve disponibilizar motor, barco e gasolina para cada uma das parteiras e dos AIS, quando a locomoção entre as aldeias de determinada TI ou desta à cidade é fluvial, ou ainda bicicletas quando a locomoção entre aldeias é realizada pela estrada (no caso dos Katukina). ¾ Devem ser fornecidos equipamentos para as parteiras (kit da parteira, balança) e para os AIS (medicamento básico) trabalharem com qualidade nas aldeias. ¾ É necessária a construção de um ponto de apoio para as parteiras realizarem os partos (“às vezes na casa da gestante tem criança, tem o marido dela”; “não tem sossego...”) e para os AIS guardarem os equipamentos e medicamentos. Quanto a essa reivindicação, alguns grupos se dispuseram a construir essa casa de apoio, desde que a FUNASA forneça o material necessário. ¾ É importante uma ajuda financeira para as parteiras e pajés e também a contratação dos AIS homem e AIS mulher. ¾ É urgente o conserto ou implementação do sistema de radiofonia nas Terras Indígenas ou a implantação de telefone público na aldeia, de forma a possibilitar o contato com o pólo-base. Além dessas reivindicações gerais foram apontadas algumas mais específicas, detalhadas no documento que segue em anexo. Vale considerar, por fim, que o tempo de discussão destinado à troca com os profissionais de saúde foi insuficiente para aprofundar na reflexão sobre a relação entre saberes das populações indígenas e a biomedicina, e que a troca ficou prejudicada não somente pela questão do tempo, mas, especialmente, porque a maioria dos profissionais 43 que atuam há mais tempo na equipe não compareceu pelo fato das pessoas estarem envolvidas em outras atividades do pólo e DSEI. 3.4 2º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS A 2ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS foi realizada na Aldeia do Caucho (T.I. Igarapé do Caucho, município de Tarauacá) entre os dias 13 a 17 de março. Estava prevista a vinda de participantes das seguintes T.Is: Kaxinawa do Rio Humaitá; Igarapé do Caucho; Kampa do Igarapé Primavera; Kaxinawa da Praia do Carapanã; Rio Gregório; Kaxinawa da Colônia Vinte e Sete; Kaxinawa do Baixo Rio Jordão; Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Seringal Independência. Devido as comunidades do Jordão estarem envolvidas na gravação de um DVD de cantos no mesmo período previsto para a Reunião, não contamos com a participação de nenhum representante das T.Is. Kaxinawa do Baixo Rio Jordão e Kaxinawa do Rio Jordão. Especificamente em relação aos Kampa, apesar de se encontrarem em Tarauacá na data marcada, sentiram-se constrangidos de participar porque, segundo o que nos foi repassado pela monitora, ‘eles não sabiam escrever’. Apesar de nosso repasse de argumentos para a monitora sensibilizá-los quanto à importância da presença deles na Reunião, acabaram enviando somente um rapaz com fluência em português. Vale apontar que, em relação à questão logística e de articulação com as comunidades, contamos com o apoio das organizações indígenas locais (OPIRE e OAEYRG). A liderança da aldeia na qual seria realizada a reunião também se colocou a disposição e nos ajudou com a previsão da alimentação e combustível, de forma a garantir o bom desenvolvimento da mesma. Esta Reunião esteve também marcada pelo comparecimento da Gerente da Área de Intervenção de Medicina Tradicional Indígena - Subcomponente Ações Inovadoras em Saúde - Projeto VIGISUS II/FUNASA, Luciane Ouriques Ferreira, do Diretor do Instituto de Pesquisa e Documentação Olhar Etnográfico, Ricardo Calaça, e de uma assessora desse mesmo instituto, Virgínia Litwinczik. 3.4.1. Desenvolvimento da reunião Os participantes dos grupos indígenas convidados e as técnicas do projeto se deslocaram de barco para a Aldeia do Caucho um dia antes do início da Reunião 44 propriamente dita. Os Huni Kuin prepararam uma recepção tradicional para os convidados. Assim como em Cruzeiro do Sul, a programação serviu essencialmente como um roteiro de temas. No decorrer da reunião as falas propuseram conexões com tópicos não pontuados no roteiro, encaminhando as conversas para novas searas. Optamos aqui por apresentar algumas discussões que consideramos relevantes, sem seguir necessariamente a ordem cronológica da programação (em anexo). Quanto à Avaliação dos cursos de aperfeiçoamento das parteiras tradicionais, percebemos uma expectativa das parteiras que não haviam realizado cursos ou das mais novatas - escolhidas recentemente pela comunidade – quanto à obtenção do kit e/ou dos materiais que o compõe: “estou com 10 partos que eu faço; eu nunca fiz curso; nunca ganhei material de parto”. A avaliação dos cursos, da mesma forma que na reunião na aldeia Campinas, foi positiva mas centrada em alguns procedimentos técnicos e nos materiais das parteiras. De forma geral, os materiais são vistos como tecnologias que incrementam o trabalho, conforme apontam os seguintes depoimentos: “minha mãe fazia um cordãozinho e amarrava, agora usa tesoura”; “recebi material, me ajudou muito (...) antes trazia para cá para fazer pré-natal”; “ [primeiro] só pegava tipo essas pessoas antigo, não tinha nem um material (...) pegava com o pano, ela [minha avó] me ensinou a pegar com pano, isso que eu fazia antes da gente ter o curso e agora eu não faço mais isso, e até a tesoura de cortar o umbigo das criança era as vezes tesoura enferrujada, até a faca nós cortemos o umbigo da criança que nós peguemos que não tinha uma tesoura na casa dessa família...”; “nós recebemos todo o material: a bota, a sombrinha, a lanterna que às vezes o parto faz mais a noite” . Se por um lado o kit é bem vindo pelas parteiras – assim como os cursos -, por outro sua ausência não cria nenhum tipo de impedimento para a realização dos partos: “ela nunca recebeu o kit (...) mas nem por isso ela não deixou de fazer o parto, ela sempre vem fazendo da maneira que ela sempre vem fazendo” ou ainda, “quanto o parto tradicional ela sabe muito bem, mas como ela quer aprender qual a diferença do parto tradicional e o não-tradicional que ela está participando dessa oficina e de outros cursos(...)”. Um outro ponto a ressaltar foi o contraste entre mulheres que nunca fizeram curso, mas que são reconhecidas pelo grupo por sua experiência em pegar crianças (“ela sempre vem pegando, mas ela nunca participou de nenhum curso”; “Porque na Nova 45 Esperança não é só a L. [parteira convidada a participar da reunião] que é parteira, tem muitas mulheres, muitas velhas que faz parto e que sabe tem um conhecimento muito avançado, de muito tempo (...)”) e mulheres instituídas pelo grupo como parteiras e que só começaram a fazer parto a partir dos cursos (“lá na minha comunidade não tinha nenhuma parteira, aí nossa liderança me escolheu como parteira, eu participei e eu também recebi um pouquinho de material que eles deram aquela época para as parteiras, antes eu só participava, mas eu não tinha coragem de chegar eu mesmo fazer um parto, aí depois daquele curso eu aprendi muita coisa, foi muito importante, eu aprendi eu mesmo fazer um parto, depois daquela participação que eu tive eu mesmo eu fiz 4 partos, lá mesmo na minha aldeia”). Este processo de instituição de novas parteiras não tem retirado a proeminência e o reconhecimento da experiência das parteiras mais antigas. Vale salientar também que os cursos, apesar de terem o foco no repasse de informações e muitas vezes ignorarem o conhecimento pré-existente das parteiras, acabam propiciando, sem intenção, trocas informais de saberes entre os representantes dos vários grupos indígenas presentes: “(...) cada aldeia faz um parto diferente, um cuidado diferente da outra aldeia (...) então a gente trocou também de experiência uma com a outra naquele curso que teve [do GMI, em Tarauacá]”. De qualquer forma, a experiência das parteiras (‘como começaram a pegar criança’) e o processo de aprendizagem (baseado no “olhar”, “assistir” e “ajudar”) de algumas técnicas foram contrastados pelas próprias parteiras ao conteúdo e metodologia dos cursos. Como sintetizou uma parteira “Curso é bom, ensina o que a gente não sabia no passado; [mas] o melhor curso é estar fazendo o parto”. Um outro tema que merece ser destacado é que no processo que envolve os cuidados com a gestante, o parto, o puerpério e os cuidados com a criança, a parteira não atua sozinha. Os homens tais como, o esposo da grávida, às vezes o marido da parteira, pajés e AIS, realizam funções essenciais como as de buscar remédios na mata, auxiliar na hora do parto, rezar, curar, entre outras. Os participantes designaram especificamente os cuidados com a gestante como pré-natal indígena ou pré-natal na aldeia: “primeiro nós faz o pré-natal na aldeia assim, com os pajés, né? e pelo menos nós parteiras se souber nós faz, nós mesmos; aí eu vou entrar em contato com o pajé, eu vou falar que minha gravidez tá sentindo isso, aí ele tá entendendo o que que tá sentindo, o que precisa, aí ele que vai tirar o remédio do 46 mato, se é pra tomar, se é pra banhar, isso que nós trabalha parceria” ou ainda “ela [parteira] também faz o pré-natal indígena junto com o esposo dela (...) para mulher ter o parto mais rápido” . Se a parceria das parteiras com os pajés já está consolidada, a com os AIS é recente e, por isso mesmo, encontra-se ainda em processo de construção. Os AIS além de desempenharem funções relativas à atenção à saúde próprias dos não-índios, tais como prescrever analgésicos, aplicar soro, medir a pressão, etc., têm também ajudado as parteiras na busca de remédios na mata e nos encaminhamentos da paciente à cidade em casos de emergência na hora do parto. Alguns AIS disseram ainda contribuir com as parteiras na leitura dos livros recebidos nos cursos -“Parteira ganha material, ela não sabe ler, mas leva na memória” - e também quanto ao preenchimento da ficha do recém-nascido. Já a relação entre AIS e pajés é bastante variada. Enquanto que um Katukina do Gregório afirma que o“AIS não entende o que é medicina da mata”, os Huni Kuin tanto do Carapanã, quanto do Humaitá explicitam de que maneira vêm se dando concretamente esta articulação em suas comunidades. Um AIS do Carapanã reforçou que, além dos AIS, AISAN, professor indígena e parteiras, a família também tem seus próprios conhecimentos acerca das plantas e suas potencialidades. A saúde, portanto, não diz respeito somente aos especialistas ou agentes institucionalizados, mas a todas as pessoas. É interessante ressaltar que, no decorrer da reunião, os participantes se depararam com as diferenças culturais, o que causou muitas vezes sensações de estranhamentos, confrontos entre saberes e muita reflexão. A fala de um Katukina em uma discussão que tinha como tema a medicina tradicional é bastante esclarecedora desse processo: “Estou sentindo mais um pouco vergonhoso, nós não sabe o que é medicina, nós não entende o que é medicina da mata, nós cura através da reza dos pajés”. Esta fala surge em um contexto onde os Huni Kuin estavam explicando sobre o trabalho dos pajés especializados em ervas. Para os Katukina, como foi apontado, não há essa especialização dos pajés que se opera junto aos Huni Kuin. Um outro tema que suscitou muita discussão foi a respeito das experiências das mulheres que vão ganhar a criança no hospital/maternidade. As participantes apontaram sofrer mal-tratos e preconceitos por parte dos profissionais de saúde que atuam nas instituições, falta de cuidados específicos com a gestante e as técnicas de parto que são consideradas agressivas e distintas das que as gestantes indígenas estão acostumadas na 47 aldeia, conforme apontam os seguintes depoimentos: “[antes do parto] a enfermeira mandava ficar andando”; “na mesa [de parto] fica deitada só, [uma] perna prá lá, outra prá cá”, “enfermeira mata porque não sabe puxar a criança”, “pessoa fica muito só, não tem apoio das enfermeiras parece que nem é um ser humano”. Em contraste com os descuidos encontrados na cidade, a discussão que se seguiu foi justamente à atenção fornecida à gestante e à puérpera nas aldeias. O acolhimento e o ‘carinho’ dos familiares e da parteira parecem ter um papel fundamental nessa discussão. Os cuidados mais recorrentes apresentados foram quanto à dieta da gestante, da mulher que ganhou a criança e do marido desta. Tanto os comportamentos, quanto a alimentação são essenciais para evitar problemas à criança. Também foram bastante ressaltados a aplicação de remédios da mata pela parteira e pelos pajés. Mais uma vez, os grupos contrastaram seus saberes, mas também encontraram pontos de intersecção, especialmente em relação às dietas. Da aldeia retornou-se novamente à cidade, para a discussão sobre o pré-natal. Em geral não existe uma recusa quanto a este procedimento, uma vez que os grupos reconhecem a importância de verificar a situação de saúde da gestante em especial entre os Yawanawa, onde há casos sérios de diabetes e pessoas com problemas recorrentes durante a gravidez. Se não há recusa há, porém, uma crítica generalizada quanto à falta de infra-estrutura (combustível, transporte, alimentação, hospedagem, falta de recursos ultra-sonografia-) na cidade, para atender tanto as próprias gestantes quanto às parteiras que as acompanham. Existe também uma falta de reconhecimento do trabalho das parteiras pelo pólo - quando estas encaminham uma gestante à cidade sem estarem acompanhadas pelos AIS - e pelos hospitais, uma vez que são impedidas de participar das consultas de suas pacientes e de assistirem aos partos. Foi prevista para esta reunião uma discussão sobre amamentação e também sobre o uso de métodos anticoncepcionais, que acabou não ocorrendo devido a atrasos no cronograma. Dessa forma partiu-se diretamente à preparação da conversa com os profissionais de saúde, a partir da metodologia de trabalhos em grupo. Diferentemente do que ocorreu em Cruzeiro e principalmente pelo fato de haver um número maior de grupos e também de assessores não-índios, saíram resultados bem distintos. Apesar das monitoras indígenas terem apontado em uma reunião inicial que a metodologia de grupos seria pouco interessante, a utilizamos para potencializar as discussões relativas aos problemas de saúde enfrentados por cada T.I. e especificamente pelos grupos 48 indígenas que a compõe. Sugerimos que os grupos de debate fornecessem atenção especial quanto à relação entre as parteiras e os AIS e a equipe de saúde. Estes fóruns menores de discussão, de modo geral, garantiram uma participação efetiva dos componentes, além de propor um exercício de reflexão e sistematização tanto dos problemas de saúde, quanto de possíveis soluções a serem apresentadas e sugeridas à equipe multidisciplinar. No último dia foi proposta uma avaliação individual da reunião. Os participantes de modo geral fizeram uma avaliação positiva e ressaltaram que aprenderam muito de ouvir as experiências das parteiras mais velhas e dos pajés. A reunião propiciou não somente uma percepção sobre a diversidade cultural, mas especialmente uma reflexão sobre os conceitos de cultura e também de saúde. 3.4.2. Interação entre parteiras pajés e AIS e entre os vários grupos indígenas participantes. Nessa 2ª Reunião ocorrida na aldeia do Caucho quase todos os participantes, com exceção de um rapaz kampa e duas parteiras nawa casadas com Huni Kuin, eram falantes de línguas da família Pano, facilitando sobremaneira o entendimento mútuo e a comunicação. Isso fez com que em muitos momentos da reunião, inclusive na apresentação, não fossem realizadas traduções, uma vez que a maioria dos participantes estava entendendo o que estava sendo falado. Esta apropriação da reunião pelos grupos ‘pano’ também reverberou em um certo descaso, quanto a participação das parteiras nawa. Já em relação ao rapaz kampa, houve uma preocupação dos participantes em envolvê-lo, não somente na esfera dessa reunião específica, mas preconizando uma articulação política mais ampla dos Kampa com os outros grupos indígenas da região. As traduções, por sua vez, quando ocorreram, foram realizadas logo após os depoimentos e com as devidas censuras quanto ao que foi estipulado pelos participantes e/ou pelo tradutor como sendo ´segredo`. Nesta categoria foram incluídos nomes de plantas medicinais e sua manipulação, mitos, etc. A interação entre os participantes dos vários grupos indígenas deu-se gradualmente e tanto no espaço formal, ou seja, na reunião propriamente dita, quanto nos informais como os locais de hospedagem, de alimentação, no chafariz, entre outros. 49 A primeira discussão conjunta foi para a elaboração de um Regimento estabelecendo horários para início e término da reunião, bem como os intervalos para as refeições e lanches. É interessante perceber que se por um lado os horários dizem respeito a uma forma específica dos não-índios organizarem seu tempo, por outro também tem sido apropriados pelos grupos indígenas para garantir fundamentalmente espaços de descanso, alimentação, descontração e inclusive troca de experiências durante a reunião. A disponibilização de crachás e de materiais para anotação, sugestão das integrantes da Sitoakore, também pode ser entendida neste mesmo registro da interação entre os participantes. Enquanto os crachás auxiliam na identificação das pessoas, os materiais de anotação incrementaram a conexão entre os participantes mais velhos e os mais jovens (novas parteiras e AIS) uma vez que esses últimos demonstraram muito interesse em registrar as discussões para disponibilizá-las também aos mais velhos. Quanto ao contexto da reunião, vale dizer que os participantes reconheceram o protagonismo das parteiras. De fato, criou-se pela primeira vez um espaço onde os homens, representados especialmente na figura dos pajés e AIS, ouviram as experiências e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres e parteiras. Esta apreensão foi explicitada em várias falas, especialmente dos AIS. “Todos passaram pela mão das parteiras, é importante estar aqui para ouvir; porque as dificuldades são muito grandes”. Os pajés, por sua vez, sentiram-se respeitados – pelo fato de terem sido convidados – e reconhecidos pelos participantes como agentes produtores de saúde e detentores de conhecimentos. Os pajés puderam contrastar através das falas, as diferenças quanto as suas atuações em cada comunidade e principalmente as possibilidades e limites das parcerias com as parteiras e AIS. Um outro aspecto extremamente relevante foi que a reunião permitiu estabelecer (nos grupos onde não havia) e/ou consolidar (naqueles que já havia) um canal de diálogo principalmente entre os jovens AIS e os pajés. Durante a reunião, a equipe executora procurou incorporar os vários agentes presentes - AIS, AISAN, professores indígenas e os Agentes Agroflorestais – nas discussões, de forma a fazê-los refletir sobre seu papel quanto à saúde e as parcerias possíveis com os outros agentes presentes, em especial com as parteiras. 50 3.4.3. Reunião com os profissionais de saúde. A falta de uma articulação prévia do DSEI/Alto Juruá junto ao pólo-base de Tarauacá não inviabilizou o desenvolvimento das atividades previstas para esta etapa do projeto, mas trouxe algumas implicações ao desenvolvimento da reunião. Sem o devido repasse de informações, o pólo não programou um tempo exclusivo para ser dedicado pela equipe multidisciplinar ao evento, tendo esta uma viagem já agendada para a T.I. Humaitá. Assim, contamos apenas com uma única profissional de saúde no evento. Vale apontar que uma das atividades desenvolvidas pelas técnicas, antes de seguir para a TI, foi colocar a equipe de saúde a par dos objetivos da reunião, dos temas que seriam enfocados e como havia sido pensada a participação deles no evento. Os assuntos sugeridos para uma discussão mais aprofundada foram: a relação entre os vários agentes – parteiras, pajés, AIS, profissionais não-índios, AISAN e AAF - que atuam com saúde indígena e questões específicas relacionadas com a saúde da mulher. Não deixamos de salientar, para evitar possíveis constrangimentos, que o espaço na reunião havia sido apropriado e estava sendo utilizado pelos grupos também como um espaço de reivindicações. Já com a devida noção do que estava sendo discutido na reunião, os representantes da equipe e do pólo chegaram para participar do evento, no penúltimo dia pela manhã. Depois da recepção, a auxiliar de enfermagem comentou rapidamente sobre o trabalho da equipe e forneceu um panorama das dificuldades enfrentadas por esta para desenvolver as ações relativas à saúde materno-infantil. Dentre as dificuldades destacou a falta de equipamento (maca portátil e local para atendimento) e materiais para exames (PCCU) a serem utilizados na aldeia, a falta de um recurso específico destinado à alimentação das gestantes que vão realizar o pré-natal na cidade, dificuldades quanto aos encaminhamentos para ultra-sonografia e endoscopia e a falta do retorno para a parteira que acompanha a gestante no pré-natal. Depois desta fala, os grupos, por T.I., iniciaram a apresentação dos cartazes produzidos, que traziam listados problemas enfrentados em relação à saúde e sugestões de resolução (ver anexo). Alguns grupos apenas leram o que havia sido escrito, não permitindo entrever a riqueza das discussões que haviam gerado as sínteses. Outros grupos, em compensação, optaram por comentar e complementar o que estava escrito nos cartazes, fornecendo para tal, exemplos concretos, vivenciados por eles. Apesar da 51 apresentação ter sido um tanto quanto cansativa, já que alguns problemas eram reiterados por vários grupos, essa metodologia de trabalho garantiu a exposição conjunta de problemas específicos de cada grupo indígena. Por mais que várias questões já tivessem sido levantadas nas reuniões do Conselho Local e Distrital, cumpre ressaltar a importância e especificidade deste fórum, que propiciou às mulheres um espaço próprio e legítimo para suas reivindicações, frente aos vários agentes de diversos grupos indígenas presentes. Após as apresentações, vários participantes se manifestaram individualmente e de forma contundente, exemplificando problemas genericamente pontuados nos cartazes e também discutindo possibilidades e/ou limites de articulação entre os trabalhos dos profissionais de saúde não-índios e os agentes indígenas (parteiras, pajés, AIS, AISAN, AAF e professor). Apesar das tensões, a representante da equipe multidisciplinar procurou responder algumas das questões levantadas e se colocou pessoalmente a disposição para atender e resolver problemas ao seu alcance. 3.5 3º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS A 3ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS foi realizada na Aldeia Morada Nova (T.I. Katukina/Kaxinawa, município de Feijó) entre os dias 27 a 31 de março. Estava prevista a vinda de participantes das seguintes T.Is: Jaminawa/Envira; Kampa e Isolados do Rio Envira; Katukina/Kaxinawa; Kaxinawa do Nova Olinda; Kulina do Igarapé do Pau; Kulina do Rio Envira; Kaxinawa do Seringal Curralinho. Nesta reunião compareceram participantes de todas as T.Is. previstas. Vale salientar que o número de participantes foi muito maior do esperado (lembremos que, como consta no projeto, foi prevista a participação de 32 pessoas por reunião) e que a presença dos Kampa foi especialmente significativa, tanto numérica, quanto qualitativamente. Conforme fica registrado nas listas de presença passadas diariamente para os participantes assinarem, no primeiro dia de reunião (27/03) estiveram presentes 105 pessoas; no segundo, 73 pessoas; no terceiro, 79 pessoas; no quarto, 78 pessoas; e no quinto (31/02), 80. Como aconteceu na reunião realizada na aldeia do Caucho, esta afluência de participantes muito acima das previsões foi conseqüência, de um lado, de um repasse de informações inexatas por parte da Sitoakore às organizações indígenas locais que deviam fazer a intermediação com as aldeias, e de outro, da grande 52 expectativa que o projeto gerou entre as comunidades contempladas por ele, assim como de certas características próprias das sociedades indígenas (por exemplo, as pessoas tendem a viajar com outros familiares, ou não levam em conta normas rígidas que não fazem muito sentido para elas). Mesmo usando como justificativa os limites estabelecidos pelo projeto, as organizações indígenas locais e, em maior medida, a Sitoakore não têm capacidade de impor uma decisão às comunidades. A este respeito, existe sempre uma negociação entre as organizações indígenas que mantêm o diálogo com as instituições dos brancos e as comunidades. Verificamos assim, um permanente esforço por parte das organizações para tratar de beneficiar e satisfazer o maior número possível de pessoas das aldeias, as quais constituem seus apoios de base. Contudo, deve ser notado que, apesar das dificuldades que o grande número de participantes acarretou no referente à logística, também teve aspectos positivos, já que implicou numa diversificação dos participantes e na possibilidade de ter conhecimento de um maior número de experiências, enriquecendo, deste modo, os debates durante a reunião. Cabe destacar, finalmente, que mesmo com um número tão alto de participantes, foi possível cobrir os gastos da reunião com os recursos orçados no projeto. Fotografia 8: Aldeia Morada Nova. Mulher Kulina participando da reunião. 3.5.1. Desenvolvimento da reunião Cumpridos os procedimentos iniciais realizados em cada reunião (apresentação do projeto por parte das integrantes da Sitoakore e das técnicas; apresentação definição dos de participantes; alguns aspectos da dinâmica da reunião, como os horários; discussão sobre a o registro audiovisual da reunião, conforme foi detalhado no item 3.2.3.), o primeiro tema proposto, seguindo uma pauta já estabelecida nas reuniões anteriores (ver programação da 3ª reunião em 53 anexo), foi a avaliação dos cursos para parteiras, em particular do curso de Aperfeiçoamento das parteiras tradicionais indígenas realizado pela Sitoakore. De forma geral, há uma valorização destes cursos pelas participantes. Muitas das considerações se centraram no aprendizado do uso do material do kit (a tesoura, o colírio para os olhos da criança, o piná, etc.) e das técnicas de parto (corte do cordão umbilical, como evitar o tétano, botar colírio no olho da criança, esterilização dos instrumentos, não fazer força na hora do parto). A maior parte das mulheres considera fundamental o kit da parteira e reivindica a necessidade de receber periodicamente os materiais que se acabam como o uso. Apenas as considerações de uma mulher, Lucia, que além de parteira trabalhou muito tempo como AIS, destoaram deste parecer geral. Segundo sua opinião, o trabalho da parteira não depende de ter recebido o kit, já que o importante é aproveitar os recursos ao alcance: “Já participei de dois cursos, não achei muita diferença o parto indígena do parto do branco. [...] eu não recebi o material, mas quando eu vou fazer o parto eu primeiramente vou esterilizar minhas mãos. Eu muitas vezes corto o umbigo com a tesoura que eu uso para cortar a roupa, mas antes de eu usar, eu primeiro vou ferver, depois que eu fervo aí que eu vou cortar umbigo de criança. Mas eu não achei muita diferença não. Só tem uma diferença, uma coisa que diz assim que negocio da placenta custa vir, nascer, eu não vou injetar (?) eu vou diretamente na mata, eu tiro remédio e eu uso. E nas minhas mulheres que eu faço parto, eu cuido dela até acabar o resguardo, eu tiro um remédio da mata, eu dou um banho nela e passo na barriga, eu só desisto dela quando está boa.” Outro aspecto dos cursos considerado positivo foi o aprendizado dos procedimentos do pré-natal “do branco”, sendo que esta é uma prática relativamente nova para as mulheres que moram nas aldeias. Este acompanhamento das grávidas durante a gestação passou a constituir uma das responsabilidades que atualmente as parteiras estão assumindo, muitas vezes em colaboração com o AIS. Contudo, os cursos não foram considerados benéficos apenas porque implicaram na aquisição de técnicas, materiais e saberes novos que tendem a ajudar às parteiras em seu trabalho; o significado desta apropriação foi mais profundo no sentido de ter contribuído à valorização das parteiras em comunidades onde as mulheres estavam recorrendo prioritariamente aos serviços do hospital para dar à luz. É interessante constatar que, enquanto nos grupos pano a figura da parteira tem contornos relativamente definidos, entre os Madihá e Kampa continua sendo bastante 54 difusa, dado que não há esse tipo de especialização. Nenhuma mulher kampa faz curso ou tem o kit. Como Raina - professora indígena - mencionou, e outros Kampa reforçaram, na própria reunião estavam aprendendo a respeito das parteiras: “estamos ouvindo os parentes, o que é ser parteira, aprender também como é que é [...], para conhecer também essas parteiras”. Durante a primeira sessão foi proposta também uma discussão sobre o conceito de “medicina tradicional”. A introdução desse tema na programação teve o intuito, por parte de nós técnicas, de mapear como está sendo usado esse conceito entre as populações participantes e de situar os debates subseqüentes no marco do mesmo. Consideramos que, através de uma discussão crítica deste conceito entre as comunidades, se promove a valorização das práticas terapêuticas tradicionais, assim como uma reflexão sobre suas possíveis articulações com o sistema oficial de saúde. Diferentemente do que aconteceu na reunião do Caucho, o debate sobre o conceito de medicina tradicional teve um rendimento muito interessante. Foi enfatizada por muitos participantes a necessidade de se preservar a medicina tradicional, e para tanto consideram importante obter recursos através de projetos que incentivem as práticas e a transmissão destes conhecimentos. A este respeito, Juliana Rosalen lançou uma provocação perguntando se é necessário e desejável depender dos recursos do ´branco` para desenvolver iniciativas que visem o fortalecimento do conhecimento tradicional. Isto gerou várias reflexões, sendo que algumas pessoas enfatizaram que a preservação desse conhecimento depende exclusivamente da vontade e do esforço das comunidades: “Eu acho que erva tradicional não dependia muito do dinheiro do branco, depende dos nossos interesses”. A necessidade de preservar o conhecimento tradicional, como forma tanto de melhorar a saúde das comunidades quanto de fortalecer a identidade dos povos indígenas, foi um tema que apareceu recorrentemente em outras sessões da reunião, sendo reconhecida por alguns participantes a contribuição do presente projeto nesse sentido. Durante esta sessão dedicada a explorar o conceito de medicina tradicional foi evidente que numa boa parte das intervenções medicina tradicional estava sendo entendida, basicamente, como uso de plantas medicinais. Laura Pérez interveio perguntando se a medicina tradicional se refere exclusivamente ao uso de plantas medicinais. A partir daí, foram realizadas algumas intervenções onde o conceito de medicina tradicional foi ampliado às práticas e conhecimentos dos diferentes agentes 55 indígenas que trabalham com a saúde. Zé Luiz Yawanawa se expressou da seguinte forma: “eu acho que a medicina tradicional é a ciência que o povo indígena tem: o povo shanenawa, os Ashaninka, os Madiha, os Huni Kuin, é a ciência que eles têm desde a cultura antiga que eles vêem preservando, e essa ciência é relacionado o pajé, a parteira, hoje já existe, o não-índio já deu esse nome de Agente Indígena de Saúde, então eu acho que a medicina tradicional envolve esses trabalhos desse pessoal”. A inclusão do AIS como praticante da medicina tradicional deve ser entendida no sentido que, em muitos casos eles estão tendo a iniciativa de aprender junto aos especialistas das respectivas comunidades o uso de plantas medicinais tradicionais e incorporando-as, posteriormente, nos atendimentos que realizam. A importância de reforçar e incentivar a cooperação entre pajés e AIS nas comunidades nas quais esta ainda não ocorre foi enfatizada durante a reunião. Fotografia 9: Aldeia Morada Nova. Manoel Albeci, pajé Huni Kuin. A colaboração entre parteiras, pajés e AIS foi um tema aprofundado em outra sessão. Em geral, todos os participantes reconheceram a necessidade das parteiras, AIS e pajés atuarem conjuntamente. Alguns mencionam que essa colaboração já existe em certos níveis, mas outros explicam que ela ainda não ocorre ou deve ser melhorada. Em muitos casos, o papel do proporcionar pajé plantas consiste medicinais em à parteira para esta tratar das grávidas e parturientes quando necessário. O AIS, por sua parte, ajuda à parteira anotando dados do nascimento da criança (data, nome, peso, etc,) e encaminhando as grávidas, quando necessário, à cidade. Julio Nunes não se referiu apenas à parceria entre os diferentes agentes indígenas, mas sublinhou a necessidade de estabelecer parceria com os não-índios: “[...] não adianta também dizer 56 que tem que incentivar só a erva e deixar os brancos, tem que fazer a parceria assim com medicamento e com nosso pessoal”. Fotografia 10: Aldeia Morada Nova. Iraci e Raimunda, duas experimentadas parteiras Shanënawa. Em sessões posteriores, foram tratados vários temas. Deu-se espaço para as parteiras falarem sobre suas experiências de como iniciaram a prática do atendimento do parto. Muitas delas explicaram que começaram a fazer parto a partir de uma situação extrema, em que, sem saber ainda, se viram obrigadas a ajudar a uma mulher que estava parindo já que não havia ninguém mais para socorrê-la. Reconhece-se, em geral, a necessidade de aprender algumas técnicas de outra pessoa – comumente a mãe ou a avó -, mas foi enfatizado também por várias participantes que a capacidade para realizarem partos é um dom. Dona Antônia, Huni Kuin casada com um Shanënawa de Morada Nova, descreve assim seu primeiro parto (tradução da monitora): “ela começou de fazer parto, ela não sabe qual idade, mas ela acha que tinha quatorze anos de idade quando ela fez o primeiro parto de sua prima. Sua prima estava na casa dela, quando ela morava em Tarauacá, aí quando a prima dela falou que ela estava com dor de barriga, mas ela pensava que não era para ganhar nenê, queria fazer um chazinho, pensava que estava com diarréia. Mas como a prima dela era acostumada de ter filhos, falou ‘não, eu quero ter filho, você consegue fazer meu parto?’, então ela aprendeu fazer o parto sozinha, da prima dela, com muito medo, mas conseguiu fazer o parto. E a mulher que tinha parido ensinou ela como cortar o umbigo, e ela também nunca tinha visto.” 57 Já as mulheres Kampa e Madihá explicaram que tinham aprendido com suas mães e avós não apenas às práticas relativas à assistência do parto em si, mas também outras técnicas relacionadas, como o uso de plantas medicinais durante os períodos de gravidez e pós-parto. Terezinha, da aldeia Bananeira, explica que sua mãe está repassando os conhecimentos para ela (traduzido por um tradutor kampa): “a mãe dela era primeira parteira, a mãe dela está ficando velha não está agüentando mais trabalhar, então repassou para ela, para ela ser parteira, então ela está lutando para ser mesmo parteira de verdade, para a comunidade, porque ela já trabalhou com três pessoas, a irmã dela, a parente dela de Simpatia, de Bananeira, que às vezes ela tem vontade de aprender mais, trabalha como a mãe dela ensinou [...], o remédio do mato também a mãe está repassando para ela” Fotografia 11: Aldeia Morada Nova. Participantes Kampa Em relação à comparação entre os partos na aldeia e os partos na cidade, os participantes concordaram em que é melhor dar à luz na aldeia do que na cidade, sendo que recorrem aos serviços públicos de saúde apenas quando há complicações no parto ou quando a gravidez apresenta riscos. Foram várias as vantagens mencionadas em relação aos partos na aldeia: é possível cuidar melhor da alimentação, tanto da mãe quanto da criança; permite realizar práticas que objetivam preservar a saúde da mãe e da criança, como por exemplo o uso de plantas medicinais, os resguardos e as dietas; a parturiente se sente amparada e cuidada pelos parentes, num meio familiar. Ao contrário disso, o parto no hospital supõe vários inconvenientes, alguns derivados das diferenças entre os costumes indígenas e as práticas médicas dos brancos (as mulheres não gostam de dar à luz deitadas, senão acocoradas; consideram atroz a prática de realizar a episiotomia; não gostam de terem de ficar caminhando antes do parto, ou de ficarem 58 deitadas com as pernas para cima e abertas no momento de ter a criança), e outros de um atendimento não adequado, marcado pelo preconceito e maus-tratos. Consideram também que as pessoas que ganham nenê no hospital correm sérios riscos de adoecer, e que, em suas experiências, as crianças nascidas na cidade costumam ter cólicas, coisa que não acontece quando o nascimento acontece na aldeia. Apesar destas considerações, e do incentivo que vem acontecendo por parte das próprias comunidades para que as mulheres dêem à luz nas aldeias, no caso de algumas comunidades mais próximas a Feijó, as mulheres mais novas têm optado por realizar o parto no hospital. Em relação às práticas tradicionais associadas à gravidez, o parto e o pós-parto, também se faz importante o conjunto de cuidados com a gestante, a parturiente e o recém-nascido, sendo esse justamente o tema de uma outra sessão. As parteiras e os pajés participantes descreveram as regras que, em cada grupo, devem ser seguidas para não acontecerem problemas de saúde e para que o parto transcorra adequadamente. Entre estes cuidados destacam as dietas que devem seguir em certas ocasiões apenas as gestantes, em outras todos os genitores8; os resguardos que precisam ser observados após o parto pelos pais do recém-nascido; o uso de plantas medicinais durante a gestação e o período pós-parto, que visam evitar a dor durante o alumbramento, assim como proteger a mãe e a criança de doenças após o mesmo. Estas observações não se referem apenas à saúde, mas têm outras ramificações como, por exemplo, a questão da identidade indígena, já que estes cuidados visam, em última instância, construir corpos – tanto os das crianças quanto os dos genitores – com capacidades e qualidades socialmente valorizadas9. Francisco das Chagas, um AIS Huni Kuin, fez a seguinte 8 O tema da “couvade” tem sido retomado recentemente por alguns etnólogos amazonistas, suscitando reflexões sobre as noções de corpo e de pessoa entre as sociedades amazônicas, assim como sobre a relação alteridade/identidade no conjunto dos laços de parentesco (Rival 1998; Vilaça 2002). Entre os grupos pano, não apenas a mãe e o pai ‘oficial’ da criança devem observam certas restrições alimentares e comportamentais, mas também todos aqueles homens que mantiveram relações sexuais com a mãe durante a gestação. Considera-se que todos eles contribuíram na formação do corpo da criança e mantém com ele, portanto, uma ‘relação de substância’, conceito central na etnologia das Terras Baixas de América do Sul (da Matta 1976; Viveiros de Castro 1977). 9 Muitas páginas e reflexões têm sido dedicadas à noção de “corpo” a respeito das sociedades das Terras Baixas de América do Sul, assim como aos processos de construção do mesmo e seus significados, 59 reflexão a este respeito: “eu um dia desses estava conversando com minha avó e procurando saber dela [...] eu estava procurando saber por que era que meu filho jogava ainda bola, é apaixonado de bola [...], hoje nossas crianças eu tenho certeza de que eles não são mais [..] matadores de caça [...] porque comeu, nossos pais, nossas mães, comeram qualquer comida, e hoje nossas crianças são muito apaixonadas pelo futebol, é porque eu tenho certeza que nós comemos aquela alimentação, pode ser um animal, mesmo sendo da mata, pula por aqui, pula por aculá, e aquilo vai puxando”. 3.5.2. Interação entre os grupos indígenas participantes Fotografia 12: Aldeia Morada Nova. Uma mulher kampa e uma huni kuin conversam durante a reunião. Diferentemente das reuniões anteriores onde predominaram os grupos pano, nesta reunião contamos com a presença de grupos pertencentes a três famílias lingüísticas diferentes: pano (Huni Kuin e Shanënawa), arawak (Kampa) e arawá (Madihá). Além disso, os participantes dos diferentes grupos possuíam diversos graus de domínio do português, que iam da fluência do falante a um desconhecimento quase que remetem tanto ao parentesco em suas mais diversas dimensões, quanto ao mundo ritual e cosmológico, e à relação entre ética, estética e sociabilidade (Erikson 1996; Seeger, da Matta & Viveiros de Castro 1987 [1979]) 60 total, especialmente entre alguns Kampa e Madihá. Apesar de que, a princípio, devíamos contar com a ajuda de um monitor por família lingüística – o shanënawa e o kaxinawa são línguas mutuamente inteligíveis -, tivemos dificuldades junto aos Madihá, que mantiveram uma atitude de certo isolamento, sendo que nenhum deles tinha um domínio suficiente do português para realizar as traduções. As traduções foram então efetivadas de forma informal, da mesma forma que ocorreu entre os Kampa. Tanto os Madihá quanto os Kampa, especialmente os primeiros, não têm participação ativa nas atividades desenvolvidas pela OPIRE, organização que, apesar de abranger todos os grupos da região do Envira, na atual gestão é dominada pelos Huni Kuin e os Shanënawa, que moram mais próximos a Feijó e têm uma interação maior com a sociedade envolvente. Os Madihá devido a um mal-entendido – acharam que duas mulheres Huni kuin estavam caçoando deles, quando na realidade estavam apenas brincando entre si - se sentiram ofendidos e sua presença diminuiu consideravelmente ao longo da reunião. Ante essa situação, as monitoras e integrantes da Sitoakore enfatizaram nos dias subseqüentes, a importância da presença deles na reunião, precisamente por esta não ser habitual, e foi feito um esforço para animá-los a voltar, sendo que alguns deles se reincorporaram a reunião. Fotografia 13: Aldeia Morada Nova. Participantes kampa, huni Kuin e shanënawa observam as brincadeiras organizadas pelos anfitriões. 61 Por sua parte, os Kampa, mesmo com alguns problemas de comunicação, já que, especialmente algumas mulheres não falam português, mantiveram uma presença maciça e constante na reunião. Estavam presentes pessoas de duas T.I.s diferentes, entre as quais existem certos conflitos. Essa foi uma das razões que dificultou a definição de um monitor Kampa, já que o escolhido se mostrou pouco disposto a traduzir as falas das pessoas pertencentes à facção rival. Contudo os Kampa se integraram na reunião, participando ativamente e gostando dos jogos e brincadeiras realizadas durante o evento. Deve ser mencionado que as apresentações culturais, que consistiram em danças e cantos que cada comunidade realizou ao longo dos cinco dias de reunião para dar a conhecer ao resto dos participantes esses aspectos de sua cultura, contribuíram para criar um ambiente descontraído e de aproximação dos participantes entre si. O grau de integração dos diferentes grupos na reunião teve uma expressão espacial muito clara, ficando os Shanenawa e os Huni Kuin no centro da reunião, os Kampa a um lado do cupixawa, sentados num banco disposto ao longo da parede, e os Madihá também na periferia, mas mais distantes ainda do centro. Igualmente, foi possível perceber uma diferença de gênero na disposição dos participantes, sentando-se as mulheres (Shanenawa e Huni Kuin) na parte interior da roda, e os homens na parte mais externa, evidenciando assim o caráter fundamentalmente feminino da reunião. Efetivamente, mesmo que a contribuição e participação dos homens tenha sido fundamental, o fato destes terem ficado num segundo plano mostrou que os participantes reconheceram o espaço da reunião como um evento no qual a voz das mulheres devia ter uma presença especialmente significativa. 62 porta Madihá Shanenawa Huni Kuin Kampa Técnicas, Sitoakore, e monitoas porta Figura 2: Disposição dos participantes na Reunião realizada na Aldeia Morada Nova Por último, gostaríamos de mencionar que a presença dos pajés, tanto homens como mulheres, foi marcada pelo seu caráter geralmente carismático, em alguns casos brincalhão. Suas falas eram recebidas com grande interesse por parte de todos e, freqüentemente, celebradas com aplausos. Mesmo que em número menor, a participação destas figuras foi central. 3.5.3. Reunião com os profissionais de saúde. Diferentemente das reuniões anteriores, não foram organizados grupos de trabalho para preparar a conversa com os profissionais de saúde convidados. De um lado, devido ao grande número de participantes, ia se levar muito tempo na preparação e apresentação dos trabalhos de cada grupo. De outro, e em função de uma avaliação dos resultados dessa metodologia na reunião do Caucho, consideramos que, embora o trabalho em grupo ajude a sistematizar as idéias, acaba por prejudicar a riqueza e a força das falas. Ficou decidido pelos participantes da reunião que, os representantes de cada aldeia deveriam apresentar em uma assembléia, primeiro interna, e depois aberta à equipe de saúde, as dificuldades que enfrentam. A sessão interna durante a qual cada grupo expôs seus problemas teve uma duração maior que as anteriores, estendendo-se 63 até a noite, dado o interesse que o tema levantou e a vontade de cada um de expressar suas idéias a esse respeito. Os participantes consideraram que, como resultado dessa reunião, era necessário elaborar um documento contendo as propostas de solução definidas pelos diferentes grupos, acordando-se que fosse encaminhado pela Sitoakore às instituições governamentais responsáveis pela saúde indígena. Para tanto, depois da conversa com os profissionais de saúde, foi definida uma comissão formada por representantes de cada um dos grupos participantes e pelas técnicas. Esta comissão, baseando-se nos pontos levantados ao longo da sessão, elaborou um rascunho que no dia seguinte foi apresentado ao conjunto dos participantes e discutido até chegar a sua forma final (ver documento em anexo). Entre os problemas colocados durante a reunião, vários deles mencionados por mais de uma pessoa, podemos destacar os seguintes: Os participantes reclamaram sobre o tratamento que recebem por parte de algumas das pessoas que devem dar-lhes assistência. Embora se declarem satisfeitos com a atuação de várias das pessoas que formam a equipe multidisciplinar, consideram que em alguns casos o tratamento não é adequado (não se leva em conta a opinião dos indígenas; existe preconceito e falta de respeito; o atendimento nas aldeias deveria ser mais demorado e freqüente...). Como forma de dar uma solução a este problema, mencionaram a necessidade de contratar pessoal capacitado em saúde indígena e suas especificidades, “tem que acostumar com costume de índio”. O uso do conceito de anti-indígena para definir as pessoas que se comportam de forma preconceituosa com as populações indígenas foi recorrente a este respeito. O grau de descontentamento com o atendimento do pólo-base e da equipe multidisciplinar varia entre as comunidades. Enquanto algumas consideram que recebem um atendimento adequado, outras têm muitas reclamações a fazer. Os representantes da comunidade de Grota, por exemplo, explicam que não têm muito a reclamar da equipe: o relacionamento do AIS com a equipe é bom; recebem recursos em forma de medicamentos; conseguiram diminuir os problemas mais graves de saúde com a ajuda da equipe; não recebem mal-atendimento no pólo. Os problemas que foram colocados 64 pelos representantes desta comunidade têm mais a ver com a falta de recursos em geral do que com o atendimento da equipe do pólo. Já outros grupos consideram que há vários aspectos do atendimento recebido que devem melhorar. As comunidades enfrentam diversos problemas por falta de infraestrutura para o transporte (combustível, embarcação e motor) dos doentes ou das grávidas à cidade, que, em momentos de emergência, constitui um problema muito sério. A maior parte dos participantes mencionou como problema a falta de infraestrutura (hospedagem e alimentação adequada) para os índios que devem ir à cidade receber tratamento de saúde. Existe uma falta de capacitação para o AIS que incide numa escassa qualificação para realizar o trabalho de cuidar a saúde de sua comunidade e em sua baixa remuneração. O trabalho das parteiras não é reconhecido nos pólos-base nem nas instituições como a maternidade e o hospital. Por outro lado, precisam de uma ajuda de custo e infra-estrutura (transporte próprio principalmente) para poder desenvolver adequadamente seu trabalho. As duas enfermeiras que integram a equipe multidisciplinar de saúde atuante na região se incorporaram à reunião no dia 30/03. Solicitou-se a elas, primeiramente, que expusessem o trabalho que vêem desenvolvendo e as dificuldades que enfrentam. Explicaram a importância do recente cadastramento que realizaram no Alto Envira com a finalidade de atualizar os dados que, posteriormente, servirão como referência para o envio de recursos econômicos e medicamentos ao pólo-base. Várias das colocações que fizeram condiziam com alguns dos comentários anteriormente mencionados pelos participantes indígenas: a necessidade de contar com um lugar adequado para se hospedarem os pacientes indígenas que se deslocam até a cidade para receber tratamento médico; a necessidade de capacitar os AIS e de a equipe trabalhar mais coordenadamente com eles; a necessidade de trabalhar em colaboração com as parteiras. Igualmente, chamaram a atenção das comunidades para corrigirem dois problemas que dificultam o trabalho da equipe: o fato de as comunidades estarem realizando festas que implicam o consumo de bebidas alcoólicas quando a equipe de saúde chega para fazer o 65 atendimento na aldeia; deixar de assistir às consultas previamente marcadas nos postos de saúde e hospitais. Dentre os comentários feitos pela equipe, gostaríamos de ressaltar a avaliação que uma das enfermeiras fez de um curso para parteiras que ela mesma ministrou em Morada Nova: “As parteiras é uma coisa divina, mesmo de Deus, elas são muito sabias. Eu já ministrei um curso de parteiras aqui na Morada Nova, eu confesso que aprendi muito com elas. Até seu eu fosse dar à luz uma criança eu preferia com uma parteira indígena. [...] A única coisa que eu passei mais para elas, [...] o que eu vi que estava faltando era o manuseio dos instrumentos na hora de cortar o cordão, foi a única coisa” (enfermeira Madalena). É interessante destacar que depois de ter trabalhado um tempo em Feijó, esta enfermeira saiu do pólo, e as comunidades indígenas da região adotaram diversas medidas para conseguir que ela voltasse a trabalhar junto com eles, dado que gostam muito do trabalho dela. Depois das enfermeiras terem falado, os participantes retomaram a palavra e expuseram algumas dificuldades, várias delas já apresentadas em assembléia no dia anterior. Em vários pontos, as enfermeiras concordaram com os participantes, explicando que elas mesmas tinham já feito propostas para solucionar alguns dos problemas (como criar um crachá de identificação para parteiras e AIS na maternidade e no hospital; construir uma hospedaria aonde os pacientes indígenas que vão à cidade pudessem ficar enquanto conclui seu tratamento; ou fornecer todas as comunidades de sistema de radiofonia). Diferentemente do que aconteceu nas outras reuniões, as integrantes da equipe de saúde não adotaram uma atitude defensiva ante as reivindicações colocadas pelos participantes, estabelecendo-se assim um diálogo frutífero. Dentre as considerações feitas pelas enfermeiras, interessa-nos ressaltar seu reconhecimento do saber e das práticas das parteiras e a necessidade de contribuir para que também outras instituições como a maternidade e o hospital as reconheçam como agentes envolvidas no tratamento e cuidado da saúde das populações indígenas, e por isso mesmo tendo direito a acompanhar seus pacientes dentro dessas instituições. Considerações finais: A partir das atividades já desenvolvidas e descritas no presente relatório, apontamos a seguir algumas considerações preliminares. As Reuniões das Parteiras, Pajés e AIS se constituíram, de fato, como um espaço fundamental de reflexão e de troca de experiências sobre práticas tradicionais entre os 66 participantes dos vários grupos indígenas presentes. Esta troca foi especialmente rica porque os grupos que vivenciam contextos bastante distintos, não possuem espaços específicos para trocas e reflexões conjuntas sobre a questão da saúde, afora os Conselhos Locais e o Conselho Distrital. Essas reuniões promoveram não só uma percepção das diferenças, mas provocaram um movimento de fortalecimento e valorização dos saberes considerados tradicionais de cada grupo. Nesse sentido, a reunião se enquadra junto a outras iniciativas recentes, nas quais estiveram envolvidos muitos dos grupos que participam deste projeto, que objetivam a revitalização e preservação das tradições culturais, mesmo que não sejam especificamente no campo da saúde10. Vale salientar que as reuniões suscitaram o encontro e o diálogo de vários agentes, pertencentes a gerações distintas, e que atuam com saúde nas comunidades, a saber: parteiras, pajés, AIS, AISAN e AAF. Isso gerou reconhecimento e respeito quanto aos espaços de atuação de cada agente, bem como uma reflexão sobre as possibilidades e limites de trabalhos em conjunto entre eles. Ficou claro para todos que já existe uma parceria estabelecida entre pajés e parteiras, uma vez que os primeiros são comumente solicitados a atuar no período que envolve a gestação, o parto e o pós-parto. Já os AIS por sua vez vêm construindo as possibilidades de parcerias tanto com as parteiras, quanto com os pajés. Especificamente em relação às parteiras, os AIS reconhecem limites de sua atuação e a necessidade de pensar em estratégias para melhorar o atendimento à população feminina. Quanto à relação com os pajés, alguns 10 A este respeito existem numerosas iniciativas no Acre que se referem a aspectos diversos, como a cultura material ou a vida ritual. Um exemplo destas iniciativas é o projeto Apoio às Populações Indígenas, dentro do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre, cujo objetivo principal era a valorização da cultura material tradicional, e que consistiu na organização de oficinas nas terras indígenas com o intuito de registrar, revitalizar e discutir sobre a cultura material dos povos indígenas do Acre (Cruz & Ferreira 2004). Estes processos de revitalização da cultura indígena tradicional estão relacionados a dois aspectos importantes: de um lado, o reforço da identidade indígena e a luta pelos direitos destas populações; de outro, à construção de estratégias para o desenvolvimento econômico sustentável das comunidades. Estes fenômenos estão sendo objeto de importantes reflexões por parte da antropologia e a levaram a se questionar sobre um conceito tão caro a ela quanto é o de “cultura” (Conklin 1997; Kuper 2001). 67 AIS demonstraram muito interesse em aprender mais sobre a atuação destes, para poderem trabalhar tanto com os remédios alopáticos, quanto através dos conhecimentos tradicionais. Se por um lado foi um ganho reunir os vários agentes indígenas que atuam com saúde, por outro esta mistura gerou constrangimentos especificamente para as parteiras que, optaram por não falar de determinados assuntos próprios ao domínio feminino, como posições de parto, especificidades quanto às técnicas de ‘pegar as crianças’, cuidados com o resto do parto, etc. Ainda a respeito das parteiras vale retomar aqui a questão da institucionalização deste papel junto aos grupos indígenas. Nas reuniões foi possível perceber grupos que ainda não possuem este papel institucionalizado, como os Kampa, Madihá e Katukina da T.I. Campinas/Katukina. Em outros casos, em maior ou menor grau, o papel da parteira já existe há mais tempo. Em alguns, o processo de institucionalização é mais recente e parece estar ligado ao fato das comunidades se verem na iminência de definirem participantes para cursos e reuniões. Normalmente, as pessoas escolhidas nestas situações são aquelas que se destacam por serem as mais experientes em fazer partos; porém, ouvimos vários casos em que as indicadas nunca tinham realizado nenhum parto. De qualquer forma, os cursos e reuniões para parteiras não são os únicos fatores que determinam a aparição desta figura enquanto especialista. Podemos pensar, como uma hipótese plausível, que a existência de “parteiras” entre a população regional, com a qual as populações indígenas do Acre mantêm relações faz décadas, seja um dos fatores que possam ter contribuído para esta instituição. Em vários casos o surgimento e o processo de definição da figura da parteira foram, de fato, anteriores à organização dos cursos. Assim acontece em grupos por exemplo, como os Nawa e Nukini, mas também em outros mais ‘tradicionais’, como os Yawanawa ou os Shanënawa. São situações bastante distintas que foram confrontadas no espaço da reunião, promovendo uma reflexão sobre a questão do repasse dos conhecimentos tradicionais, de como as mulheres com experiência em realizar partos têm percebido e sentido este processo da institucionalização, do impacto do uso do kit das parteiras frente às técnicas tradicionais, do efeito das informações repassadas nos cursos de parteiras frente às práticas consideradas adequadas pelo grupo, etc. Não podemos deixar de considerar aqui também que, como a antropologia vem demonstrando, a adoção de elementos externos à própria tradição cultural não implica numa “perda de cultura” ou num 68 “processo de aculturação”, já que os elementos incorporados são reinterpretados e lhes são conferidos novos significados e atributos a partir dos esquemas culturais próprios (Sahlins 1997). Foi interessante notar que as reuniões têm gerado uma percepção que as dificuldades enfrentadas pelas parteiras, ainda que apresentem nuances próprias, são semelhantes nos vários grupos indígenas. Como aponta a fala a seguir: “a dificuldade não é só pra nós, só pra elas, é igual”. Isso reforça a contribuição dessas reuniões no processo de organização política das mulheres, de forma que possam garantir suas demandas e exigir que seus direitos, não somente no âmbito de atuação junto à saúde, sejam reconhecidos. Por outro lado, as mulheres consideram essencial obter o apoio dos homens nesse processo e, por isso mesmo, as interações promovidas nas reuniões podem ser pensadas como fundamentais. Essas interações não se deram somente nas reflexões conjuntas, mas especialmente nos espaços informais – hospedagem, hora das refeições, ida ao chafariz ou igarapés, deslocamentos conjuntos, etc – e nos momentos de descontração nos quais os vários participantes apresentaram músicas, realizaram brincadeiras, mostraram danças, fizeram pinturas, usaram rapé e tomaram uni. Cumpre ressaltar também que as discussões promovidas nas reuniões reverberaram para além do espaço do evento, e suscitaram reflexões nas pessoas das comunidades hospedeiras. Dessa forma ainda não é possível avaliar toda a dimensão e extensão do impacto dessas reuniões junto às comunidades. Por fim, vale comentar que o problema apresentado pelo projeto relativo ao aumento da procura pelos partos na cidade e especial do aumento das intervenções cirúrgicas, se mostrou pouco significativo. Certamente, existem casos concretos em que se verifica - conforme as impressões tanto das equipes multidisciplinares de saúde quanto de pessoas das comunidades específicas - uma tendência por parte das mulheres de se deslocarem à cidade para dar à luz nas maternidades ou hospitais. Este parece ser o caso das mulheres nawa, nukini, yawanawa ou huni kuin da T.I. Katukina/Kaxinawa. Porém, na maior parte das comunidades que participaram das reuniões, a procura pelo nosso sistema de saúde é realizada, prioritária e quase exclusivamente nos casos11, em 11 As mulheres Katukina ou Kampa são provavelmente as que representam o caso mais extremo, já que evitam, na medida do possível, dar à luz na cidade. Durante nossa estadia na aldeia de Campinas (T.I. Campinas/Katukina) havia uma mulher katukina grávida, com malária falcípara que, segundo a 69 situações onde a gestante corre risco de vida. Além disso, parece haver uma consciência cada vez maior nas comunidades – e o próprio projeto é uma contribuição a essa tendência – sobre a importância de valorizar o trabalho das parteiras e de incentivar às mulheres a ficarem nas próprias aldeias para ganharem seus filhos. Entretanto, percebemos que a despeito dos partos na cidade, temas como o prénatal, os impactos da institucionalização da figura da parteira, a dependência dos materiais de parto, se mostraram extremamente relevantes de serem discutidos, pois revelam a necessidade de criação de estratégias conjuntas – por parte das comunidades e da equipe multidisciplinar (em primeira instância) - de articulação entre os sistemas de saúde tradicional e biomédico. Foi justamente visando à construção destes espaços de reflexão, que as equipes de saúde multidisciplinares foram convidadas a participar das reuniões. Não obstante, os grupos se apropriaram desses espaços para realizar suas reivindicações, construindo na prática, formas e estratégias de implementar uma saúde diferenciada. equipe médica, corria sérios riscos de vida. Entretanto, a comunidade decidiu recorrer primeiro aos serviços dos pajés, esgotando os recursos médicos próprios antes de decidir enviá-la à cidade para realizar o parto. 70 Bibliografia Calavia, Oscar. 2002. "Nawa, Inawa". Ilha.Revista de Antropologia., 4(1) :35-54 Florianópolis . Conklin, Beth A. 1997. "Body paint, feathers, and VCRs: aesthetics and authenticity in Amazonian activism". American Ethnologist, 24(4) :711-737. Cruz, Tereza A. & Ferreira, Paulo R. N. 2004. Retrato Cultural dos Katukina, Kaxinawá, Shanenawa, Jaminawa e Manchineri. Rio Branco, AC: Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour. da Matta, Roberto. 1976. Um mundo dividido: a estrutura social dos índios Apinayé. Petrópolis: Vozes. Erikson, Philippe. 1996. La Griffe des Aïeux. Marquage du corps et démarquage ethnique chez les Matis d'Amazonie. Paris: Editions Peeters. Keifenheim, Barbara. 1990. "Nawa: un concept clé de l'antérité chez les pano". Journal de la Société del Americanistes, 76 :79-94 Paris . Kuper, Adam. 2001. Cultura. La versión de los antropólogos. Barcelona: Paidós Básica. Langdon, Esther J. 2004 . "Uma avaliação crítica da atenção diferenciada e a colaboração entre antropologia e profissionais de saúde". In: Esther J. Langdon & Luiza Garnelo.(eds.) Saúde dos povos indígenas: reflexões sobre antropologia participativa. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / ABA. Rival, Laura M. 1998. "Androgynous parents and guest children: the Huaorani couvade.". Journal of the Royal Anthropological Institute, 4(4) :619-636. Sahlins, Marshall. 1997. "O "pessimismo sentimental" e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um "objeto" em via de extinção". Mana, 3(1 & 2) :41-73103-150. Seeger, Anthony, da Matta, Roberto & Viveiros de Castro, Eduardo. 1987 [1979]. "A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras". In: João Pacheco de Oliveira Filho.(eds.) Sociedades indígenas e indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro: Marco Zero. Vilaça, Aparecida. 2002. "Making kin out of others in Amazonia". Journal of the Royal Anthropological Institute, 8 :347-365. Viveiros de Castro, Eduardo. 1977. Indivíduo e sociedade no alto Xingu: Os Yawalapíti. Dissertação (Mestrado em Antropologia social). Rio de Janeiro - PPGAS Museu Nacional 71 Anexo 1 - Programações Anexos Programações I Reunião das Parteiras, AIS e Pajés. Projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” Local: Aldeia Campinas. TI Campinas Katukina, município de Tarauacá, AC Data: 15 a 19 de fevereiro de 2006 PROGRAMAÇÃO 15 de fevereiro de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Abertura da reunião: Apresentação cultural. ¾ Apresentação do projeto pelas representantes da Sitoakore e as técnicas do projeto. ¾ Apresentação dos participantes. Tarde: 13:00 – 17:00 ¾ Avaliação dos resultados do projeto Aperfeiçoamento das Parteiras Tradicionais Indígenas. 16 de fevereiro de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Perfil da parteira. Tarde: 13:00 – 17:00 ¾ Relação entre parteiras, pajés e AIS nos cuidados com a saúde da mulher. ¾ Espaço para Sitoakore 17 de fevereiro de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Partos na aldeia e partos na cidade: vantagens e desvantagens. Tarde: 13:00 – 17:00 72 Anexo 1 - Programações Discussão sobre o pré-natal, a identificação de problemas da ¾ grávida e da parturiente, e os encaminhamentos à cidade. Espaço para Sitoakore. ¾ 18 de fevereiro de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Recepção dos profissionais de saúde não índios. ¾ Quais são os problemas que os profissionais de saúde e as comunidades indígenas enfrentam em relação à saúde materno-infantil. Tarde: 13:00 – 17:00 Como os profissionais e as comunidades indígenas percebem a ¾ assistência à saúde fornecida pelo Estado. 19 de fevereiro de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Levantamento e sistematização das questões importantes surgidas durante a reunião. ¾ Avaliação da reunião. Tarde: 13:00 – 17:00 ¾ Espaço para a Sitoakore. Encerramento 73 Anexo 1 - Programações II Reunião das Parteiras, AIS e Pajés. Projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” Local: Aldeia do Caucho. TI Igarapé do Caucho, município de Tarauacá, AC Data: 13 a 17 de março de 2006 PROGRAMAÇÃO 13 de março de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Abertura da reunião: Apresentação cultural. ¾ Apresentação do projeto pelas representantes da Sitoakore e as técnicas do projeto. ¾ Apresentação dos participantes. Tarde: 14:00 – 17:30 ¾ Avaliação dos resultados do projeto Aperfeiçoamento das Parteiras Tradicionais Indígenas. ¾ Perfil da parteira. 14 de março de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Relação entre parteiras, pajés e AIS nos cuidados com a saúde da mulher. Tarde: 14:00 – 17:30 ¾ Discussão sobre iniciativas de valorização dos conhecimentos tradicionais relativos à saúde. ¾ Partos na aldeia e partos na cidade: vantagens e desvantagens. 74 Anexo 1 - Programações 15 de março de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Cuidados com a grávida (resguardos, dietas) ¾ Discussão sobre o pré-natal, a identificação de problemas da grávida e da parturiente, e os encaminhamentos à cidade. Tarde: 14:00 – 17:30 ¾ Discussão sobre o uso de métodos anticoncepcionais e a amamentação. ¾ Preparação da conversa com os profissionais de saúde. 16 de março de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Recepção dos profissionais de saúde não índios. ¾ Quais são os problemas que os profissionais de saúde e as comunidades indígenas enfrentam em relação à saúde materno-infantil. Tarde: 14:00 – 17:30 Reflexão conjunta de busca de estratégias para melhorar à ¾ saúde voltada à mulher e a criança. 17 de março de 2006 Manhã: 8:00 – 12:00 ¾ Levantamento e sistematização das questões importantes surgidas durante a reunião. ¾ Avaliação da reunião. Tarde: 14:00 ¾ Acertos com os participantes relativo a auxílio transporte e alimentação, cozinheiras, lenheiro e monitoras. Encerramento 75 Anexo 1 - Programações 3ª Reunião das Parteiras, AIS e Pajés. Projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” Local: Aldeia Morada Nova. T.I. Katukina/Kaxinawa, município de Feijó, AC Data: 27 a 31 de março de 2006 PROGRAMAÇÃO 27 de março de 2006 Manhã: ¾ Abertura da reunião: Apresentação cultural. ¾ Apresentação do projeto pelas representantes da Sitoakore e as técnicas do projeto. ¾ Apresentação dos participantes. Tarde: ¾ Avaliação dos cursos de Aperfeiçoamento das Parteiras Tradicionais Indígenas. ¾ O que é medicina tradicional? 28 de março de 2006 Manhã: ¾ Apresentação cultural. ¾ Perfil da parteira. ¾ Trabalho das parteiras, pajés e AIS. ¾ Partos na aldeia e partos na cidade: vantagens e desvantagens. Tarde: ¾ Conversa sobre o pré-natal, a saúde da grávida e os encaminhamentos para a cidade. 29 de março de 2006 Manhã: ¾ Apresentação cultural. ¾ Cuidados com a grávida (resguardos, dietas) e amamentação. Tarde: 76 Anexo 1 - Programações ¾ Preparação da conversa com os profissionais de saúde. 30 de março de 2006 Manhã: Apresentação cultural. ¾ ¾ Chegada dos profissionais de saúde não ¾ Quais são os problemas que os profissionais de saúde e as comunidades indígenas enfrentam em relação à saúde indígena. Tarde: Como melhorar a saúde indígena. ¾ 31 de março de 2006 Manhã: ¾ Levantamento dos pontos importantes e construção de um documento final. ¾ Avaliação da reunião. ¾ Acertos com os participantes relativos a auxílio transporte e Tarde: alimentação, cozinheiras, lenheiro e monitoras. Encerramento 77 Anexo 2 – Lista de participantes: 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Campinas Lista de participantes (função, TI, aldeia). 1ª REUNIÃO DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS. Aldeia Campinas, T.I. Campinas/ Katukina – 15 a 21 de fevereiro de 2006. Parteiras 1. Maria da Glória Siqueira Lima – Aldeia Raimundo Vale – TI Arara do Igarapé Humaitá. 2. Tereza da Silva Moreira – TI Jaminawa Arara do Rio Bagé 3. Raimunda Moreira Lima – Aldeia Nova Vida – TI Jaminawa do Igarapé Preto. 4. Zuila Cruz Barbosa – Aldeia Martin – TI Campinas/Katukina 5. Nevi Rosa da Silva – Aldeia Bananeira – TI Campinas/Katukina 6. Creuza Carneiro – Aldeia Samaúma – TI Campinas/Katukina 7. Rosinilda Paula de Souza (Maxi) – Aldeia Urucum – TI Campinas/ Katukina 8. Maria Nilza – Katukina – Aldeia Campinas 9. Maria de Fátima da Costa – Aldeia Novo Recreio – TI Nukini 10. Nilândia Moreira Rebouças – Aldeia Novo Recreio – TI Nawa 11. Mônica Francisca Pereira Lima – Aldeia Foz do Nilo – TI Arara do Igarapé Humaitá. 12. Aldenizia Costa de Oliveira – Aldeia República – TI Nukini 13. Maria da Cruz Fernando – Aldeia Meia Dúzia – TI Nukini 14. Lucila Moreira da Costa – Aldeia Novo Recreio – TI Nawa Pajés: 1. Aldemir da Silva Pedrosa Katukina – AISAN e Pajé da aldeia Bananeira - TI Campinas/ Katukina 2. José Gomes Katukina - TI Campinas/ Katukina 3. José da Silva Txure - TI Campinas/ Katukina 4. João Katukina - TI Campinas/ Katukina 5. Nelson Alfonso - TI Campinas/ Katukina AIS: 1. Raimundo Lima Pereira – AIS Jaminawa - TI Jaminawa do Igarapé Preto 2. Waldir Carneiro Alves – AISAN – Aldeia Martin - TI Campinas/ Katukina 3. Vander Sereno da Silva – AIS - TI Kaxinawa do Breu 78 Anexo 2 – Lista de participantes: 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Campinas 4. Enaldo Carlos Katukina – AIS – aldeia Masheya - TI Campinas/ Katukina 5. Francisco Deto da Silva Katukina – AIS - TI Campinas/ Katukina 6. Rodrigo Pequeno de Souza – AIS - TI Campinas/ Katukina 7. Mauricio Rodrigues de Souza – AIS - TI Campinas/ Katukina 8. Sérgio Rosa da Silva Katukina – AISAN - TI Campinas/ Katukina Lideranças e representantes de mulheres: 1. João Lima Pereira – Liderança Jaminawa - TI Jaminawa do Igarapé Preto 2. Claudencio Barbosa de Souza – Liderança katukina - TI Campinas/ Katukina 3. Napes Katukina – cacique - aldeia Bananeira - TI Campinas/ Katukina 4. Mª Glória de Souza Katukina – representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina 5. Mª Elza Rodrigues da Silva (katukina) - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina 6. Cerlene Gomes da Silva Katukina - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina 7. Rosimeire Afonso de Souza (katukina) - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina 8. Lucinha André Katukina - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina 9. Mirvana M. de Oliveira Silva – Nukini - representante de mulheres - TI Nukini 10. Antônia Elissandra Pereira - TI Arara do Igarapé Humaitá - representante de mulheres 11. Zuila Barbosa - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina Outros participantes: 1. Adeildo Siquiera - TI Arara do Igarapé Humaitá. – Agente ambientalista 2. Maria Helena Lima de Castro - TI Arara do Igarapé Humaitá. – OPIRJ 3. Fernando Katukina – FUNAI 4. Marcelo Katukina - AAF Profissionais da saúde: 1. Rodrigo de Melo Tosata – Odontólogo Pólo-base CZS 2. Mª Rosejane Souza dos Santos – Auxiliar de enfermagem Pólo-base CZS 3. José Francisco Carneiro – DSEI/Juruá 4. Reglesor de Souza Pereira – Médico Pólo-base CZS 79 Anexo 2 – Lista de participantes: 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Campinas 5. Eliângela Oliveira da Silva – Enfermeira Técnica – DSEI/Juruá 6. Adamara Machado Nascimento – Farmacêutica bioquímica – DSEI 80 Anexo 2 – Lista de participantes: 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho 2ª REUNIÃO DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS. Aldeia Caucho, T.I. Kaxinawa do Caucho – 13 a 17 de março de 2006. Parteiras 1. Lídia da Silva Yawanawa – Aldeia Nova Esperança, T.I. Rio Gregório. 2. Olinda Luiza Yawanawa – Aldeia Motum, T.I. Rio Gregório. 3. Márcia da Silva Yawanawa – Aldeia Motum, T.I. Rio Gregório. 4. Maria Luiza Ferreira – Aldeia Escondido, T.I. Rio Gregório. 5. Leda Matilde Ferreira – Aldeia Matrichão, T.I. Rio Gregório. 6. Maria dos Anjos Yawanawa - Aldeia Matrichão, T.I. Rio Gregório. 7. Maria Santíssima da Silva Domingos – Aldeia Segredo Artesã, T.I. Praia do Carapanã. 8. Sofía Leonor Prado - Aldeia Morada Nova, T.I. Praia do Carapanã. 9. Nazaré Sabino Kaxinawá - Aldeia Água Viva, T.I. Praia do Carapanã. 10. Maria Iracema Silvino Kaxinawa - Aldeia Carapanã, T.I. Praia do Carapanã. 11. Maria Elizene Leal Peres - Aldeia Cocameiro, T.I. Praia do Carapanã. 12. Maria Aldenira Kaxinawa - Aldeia Goiânia, T.I. Praia do Carapanã. 13. Maria Ivanete Davi Kaxinawa – Nova Vida, T.I. Praia do Carapanã. 14. Ivaniza da Silva Brandão - Aldeia Colônia 27, T.I. Kaxinawa de Colônia 27. 15. Maria Aucelia de Oliveira – Aldeia São Vicente – T.I. Kaxinawá do Humaitá 16. Maria Alzenir Mateus da Silva – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá 17. Vanusa Lopes Kaxinawa – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá 18. Maria Inés Lopes Kaxinawa - – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá 19. Maria Anizia de Paula Sabóia – Aldeia São Vicente – T.I. Kaxinawá do Humaitá 20. Maria Macambira - Aldeia Porto Brasil, T.I. Kaxinawá do Humaitá 21. Jacira Cataiano Mateus - Aldeia Porto Brasil, T.I. Kaxinawá do Humaitá 22. Maria Francisca Mateus – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá 23. Misia Rodrigues de Souza Katukina – Aldeia Sete Estrelas, T.I. Rio Gregório 24. Ivaniza da Silva Brandão Shanenawa – T.I. do Caucho 25. Edite Carlos Barbosa – T.I. do Caucho 26. Francisca Lucilene da Silva – T.I. do Caucho 27. Maria das Graças da Silva – Aldeia Nova Aldeia, T.I. do Caucho 28. Maria Pereira de Souza – Aldeia Nova Aldeia, T.I. do Caucho 29. Francisca Antonia de Lima Pereira – T.I. do Caucho 81 Anexo 2 – Lista de participantes: 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho 30. Ivanilde de Souza – T.I. do Caucho 31. Valdemira da Silva Batista – T.I. do Caucho Pajés: 1. Pedro Sabino Sereno – Nova Vida, T.I. Praia do Carapanã 2. Afonso Manduca Mateus – Aldeia Colônia 27, T.I. Kaxinawa de Colônia 27. 3. Manel de Jesus Sabóia – Aldeia São Vicente – T.I. Kaxinawá do Humaitá AIS: 1. Olávio Sérgio Kaxinawa – Aldeia Morada Nova, T.I. Praia do Carapanã. 2. Maria Ercília Ferreira – Aldeia Água Viva, T.I. Praia do Carapanã. 3. Anildo Pres Aparecido – Aldeia Cocameiro, T.I. Praia do Carapanã. 4. Francisco Rodrigues da Silva – Aldeia Carapanã, T.I. Praia do Carapanã. 5. Aldenilson da Silca Kaxinawá – Aldeia Goiânia, T.I. Praia do Carapanã 6. José Carlos da Silva – Aldeia Mucuripe, T.I. Praia do Carapanã. 7. Carmélio da Silva Brandão – Aldeia Colônia 27, T.I. Kaxinawa de Colônia 27. 8. Francisco Mateus de Lima – T.I. Kaxinawá do Humaitá 9. Valcenir Mateus – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá 10. Ademar Peres Kaxinawa – Aldeia Porto Brasil, T.I. Kaxinawá do Humaitá 11. Josemar da Silva Katukina - Aldeia Sete Estrelas, T.I. Rio Gregório 12. João Paulo Kampa – Aldeia Primavera – T.I. Igarapé Primavera 13. Ivane de Souza da Silva – T.I. do Caucho 14. Valdir Peres Vieira – T.I. do Caucho 15. Nonato Lopes kaxinawá, ajudante de AIS – T.I. do Caucho Lideranças e representantes de mulheres: 1. Rosevanir Mateus de Lima – coordenadora – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá 2. João Carlos Katukina , liderança - Aldeia Sete Estrelas, T.I. Rio Gregório 3. Mardila Araújo Pereira, coordenadora – T.I. do Caucho 4. Maria Josilene Kaxinawa, coordenadora – T.I. do Caucho 82 Anexo 2 – Lista de participantes: 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho Outros participantes: 1. Valdecir Francisco Davi Kaxinawa - Aldeia Cocameiro, T.I. Praia do Carapanã. 2. Aldemir Mateus Kaxinawa - professor, Vice-coordinador OPITAR – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá 3. Nonato Lopes Kaxinawa – AISAN – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá 4. Raimundo Mateus de Lima, representante no Conselho local e distrital – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá 5. Marluce Araújo Pereira, estudante – T.I. do Caucho 6. Janis de Araújo, estudante – T.I. do Caucho 7. Adaildo Batista Peres, estudante – T.I. do Caucho 8. Francisco Valdemir de Araújo, estudante – T.I. do Caucho 9. Ivaneide de Araújo Bonaparte, professora – T.I. do Caucho 10. Lara Brandão Shanenawa, estudante – T.I. do Caucho 11. Maria Francisca A. Biló, professora – Aldeia Nova Aldeia, T.I. do Caucho 12. Edison Paulino – T.I. do Caucho 13. Albanir, AAFI – T.I. do Caucho 14. Francisco Alcidesio, professor – T.I. do Caucho Profissionais de Saúde: 1. Morena, auxiliar de enfermagem 2. Júnior, motorista 83 Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada Nova 3ª REUNIÃO DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS. Aldeia Morada Noca, T.I. Katukina/Kaxinawa – 27 a 31 de março de 2006. Parteiras: 1. Maria das Graças Pereira – Aldeia Grota, T.I. Seringal do Curralinho 2. Maria de Fátima Kaxinawa de Matos – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda. 3. Maria Dinah Kaxinawa – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda. 4. Pununã Kampa -– Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 5. Doura Kampa (Huyãne) – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 6. Terezinha Shitan Kampa – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 7. Maria diva Martins - Nova Esperança, T.I. Seringal do Curralinho 8. Francilene Maciel – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 9. Maria Kaxinawa – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 10. Maria Auxiliadora Sérgio Kaxinawa – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 11. Maria de Souza Lima – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 12. Maria Lenilce de Araujo Pereira – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 13. Anita Pereira da Silva (parteira e pajé) – Aldeia Pupunha, T.I. Katukina/Kaxinawa 14. Zenilda Barbosa Pereira – Aldeia Pupunha, T.I. Katukina/Kaxinawa 15. Maria Vilani Pereira Barbosa – Aldeia Pupunha, T.I. Katukina/Kaxinawa 16. Vera Lúci Barbosa - Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa 17. Josefa Barbosa da Silva Aldeia - Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa 18. Francisca Barbosa da Silva – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 19. Maria Juraci Brandão de Silva - Aldeia Paredão, T.I. Katukina/Kaxinawa 20. Marilda da Silva Gomes – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 21. Maria Iraci Brandão (parteira, pajé e liderança) – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 22. Raimunda Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 23. Luzia Brandão – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 24. Santa Brandão – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 25. Maria das Graças Shanenawa – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 26. Maria José Pereira Kaxinawa – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 27. Maria Helena Silvino Brandão – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa 28. Joana Kampa – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira 84 Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada Nova 29. Antônia Carlos Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa Pajés: 1. Hananera Kampa – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 2. Valcemir Barbosa Kaxinawa – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 3. Julio Nunes Barbosa - Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa 4. Manel Carlos da Silva - Aldeia Paredão, T.I. Katukina/Kaxinawa 5. Antônio Valdes Paulino – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 6. Maria Batista (Yaka) – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 7. Amaral Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 8. Manoel Albeci – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa 9. Paulino Nishma -– Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 10. AIS: 1. Texerinha Kampa (Txumiri) – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 2. Benedito Martins – Nova Esperança, T.I. Seringal do Curralinho 3. José Francimar F. do Nascimento – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 4. Francisco das Chagas Nunes Pereira (AIS e liderança) – Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa 5. Francisco Galdino Yawanawa – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 6. José Augustinho (liderança e AIS) – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa 7. Valmar – Aldeia Grota, T.I. Seringal do Curralinho 8. Carlinho Kampa – Aldeia Riozinho T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 9. José Carlos Kampa – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 10. Raimundo Kampa, AIS e conselheiro local – Aldeia Jaminawa, T.I. Jaminawa/Envira 11. Francisco Kampa – Aldeia Simpatia, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 12. Albecildo Gomes Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 13. José Clerton da Silva Kaxinawá 85 Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada Nova Lideranças e representantes de mulheres: 1. Francisco Kampa – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira 2. José Eiraldo Fernandes Marroque – Aldeia Grota, T.I. Seringal do Curralinho 3. Gilberto Fernandes de Matos – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 4. João Kampa (Txate), liderança – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 5. Melk Gonçalves Kulina, liderança – Aldeia Igarapé do Anjo, T.I. Kulina do Ri o Envira 6. Estefania Barbosa Ferreira, representante de mulheres e professora – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 7. Maria Gleiciane Fernandes de Matos, representante de mulheres – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 8. Francisca Nunes Pereira, representante de mulheres - Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa 9. Militão Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 10. Francisco Kampa – Aldeia Jaminawa, T.I. Jaminawa/Envira 11. José Mauro da Silva – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 12. Manel Galdino da Silva Kaxinawa – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 13. Raimundo Francisco Kulina Outros participantes: 1. Raina Kampa, professora – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira 2. Joana Kampa – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira 3. Erley Barbosa Kaxinawa – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 4. Nilo Martins da Silva – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 5. Jorgiano de carvalho Rodrigues – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 6. José Mauro da Silva – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 7. Camanhare Kampa – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 8. Roberto Carlos Fernandes de Matos – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 9. João Elias Marcelino Ashaninka, professor – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira 10. José Guilherme Nunes Ferreira, AAFIS – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa 11. Valquiria de Sousa Barbosa, representante de mulheres e artesã - Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa 86 Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada Nova 12. Lusceline C. Brandão da Silva - Aldeia Paredão, T.I. Katukina/Kaxinawa 13. Lenivardo Paulino de Lima – Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda 14. Ester Batista Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 15. Rubenilda Silvino – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 16. Francisco das Chagas, AAFI – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa 17. Francisco Lima de Nascimento 18. Adriane Batista Paulino (filha de Antonio Valdes Paulino) – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 19. Maria Gorete Brandão Batista, representante de mulheres e integrante do conselho deliberativo de Sitoakore – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 20. José Luiz Yawanawa, AISAN – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa 21. Romão Kulina – Aldeia Salão, T.I. Kulina do Ri o Envira 22. Pedro Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira 23. Lira Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira 24. Manel Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira 25. Nagibe Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira 26. Albeci Brandão de Araújo – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa 27. Rosinha Kampa 28. Mariazinha Kampa 29. Iracilda Gomes de Araujo Shanënawa 30. João Pereira da Silva Kaxinawa 31. Jânio da Silva 32. José A. da Silva Kaxinawa 33. Manoel Barbosa da Silva Kaxinawa, AAFI 34. Nautsa Kulina, professor Profissionais de Saúde: 1. Madalena, enfermeira 2. Ana Claudia, enfermeira 87 Anexos – Documentos produzidos 01-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Cuidados com o recém-nascido. Documentos produzidos Transcrição dos cartazes produzidos durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS pelos grupos de trabalho. GRUPO 1 Tema: Cuidado com o recém-nascido: • • • • • Dar banho no bebê todos os dias Limpar o umbigo e enxugar bem. A parteira acompanha até o umbigo da criança cair. Usa remédio tradicional para sarar, entre eles: Tsĩkitxai rowe, Tsĩkitxai (katukina), richkiti, pakaraw, copaíba. Não deixa a criança sair fora antes de sete dias, e nem todas as pessoas podem pegar no bebê TEMA: Cuidado com o recém-nascido e amamentação: - a criança começa a mamar logo após o nascimento - o leite materno é um alimento saudável e não tem risco de o bebê ter infeções. - A parteira sempre incentiva à mãe a amamentar a criança - comida natural ajuda muito no crescimento do bebê Exemplo: mingau de banana, suco, etc. Problema com o peito. - Começa a comer direto depois dos três aos seis meses. Integrantes do grupo: - Antonia Elissandra – arara - Zuila – Katukina - Mônica – arara - Creuza – katukina - Helena – arara - Lucinha – katukina - Raimundo – Jaminawa-arara - Gualdo – katukina - Suzanna – Jaminawa-arara - Rodrigo – Katukina - Fátima – nawa - Rosenilda – katukina - Neve Rosa – katukina - Mª Elsa - Katukina - Maria da Gloria – katukina 88 Anexos – Documentos produzidos 01-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Cuidados com o recém-nascido. GRUPO 2 TEMA: CUIDADOS COM O RECEM-NASCIDO • • • Cuidados com o umbigo 1º: Dar banho com ervas para o umbigo sarar rápido. 2º: O primeiro cocô do bebê atrepar na cuminheira da casa para não dar expremedeira. 3º Não exprimir os panos, para não dar expremedeira. 4º Não colocar os panos no sol, para não dar febre. 5º E não deixar cair, para não sair o vento do bebê. 6º Esses cuidados do umbigo têm que ter até um mês de vida. Já o do vento caído até os 7 anos. O nascimento dos dentes Os dentes do bebê começa a nascer de 6 meses até um ano de idade. Na nossas experiências a gente coloca no braço e no pescoço do bebê. Cuidados com a amamentação 1º Colocar a criança para mamar até os 6 meses, sem dar comida. 2º Não deixar o adulto colocar nada na boca da criança, sem ser necessário. 3ºColocar genipapo na boca, para no dar sapim, e também no corpo, para não dar coruba ou outros tipos de doenças. 4º Não dar o peito com o corpo quente para não dar dor de barriga. Deixar as coisas do bebê sempre limpas Integrantes do grupo: Nilândia – nawa Lucila – nawa Maria da Gloria – arara Aldenizia Nukini Maria da Criz Nukini Vander Sereno Kaxinawa. 89 Anexos – Documentos produzidos 02-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Pré-natal Grupo 1 TEMA: Pré-natal - Como a parteira acompanha? - a partir dos três meses de grávida a parteira conversa com a grávida, usa a fita para medir se o bebê está crescendo, medir a pressão, verificar o peso, escutar o coração do bebê com o pina, examinar se a grávida está com anemia, a parteira também acompanha com o remédio tradicional quando a grávida está com problema, fraca, com cansaço, ela toma kambo, em outras com o remédio shakuandi, que serve também para tomar banho até os nove meses, para não ter problemas no parto e o bebe nascer logo. - Quando a mulher aparece com problemas graves como: sangramento, anemia, ou dores muito fortes, a parteira convoca com o AIS para ele encaminhar para o posto de saúde. Pré-natal Como o AIS acompanha a grávida? - o AIS acompanha nas consultas e quando a parteira tem examinado a grávida e ver que tem que ser passada pela avaliação dos AIS. Nesse caso, o AIS encaminha ou acompanha até o posto de saúde. Como o pajé acompanha: - Quando a grávida está em perigo ou no trabalho de parto. - Quando a grávida está com sangrameto - Ele faz a cura com reza e trabalho espiritual - Nesse caso, a grávida só tem que ser encaminhada se não conseguir ficar curada ou surgir outro problema. Dieta na gravidez: - Não pode comer jabuti, jacaré, jacamim, etc. - não pode ver cobra jibóia porque ela atrai espírito mal e faz com que o bebe não possa nascer. Nesse caso tem que passar pela cura do pajé. 90 Anexos – Documentos produzidos 02-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Pré-natal Participantes do grupo: - Antonia Elissandra – arara - Helena – arara - Raimundo – Jaminawa-arara - Suzanna – Jaminawa-arara - Fátima – nawa - Rodrigo – Katukina - Aldemir Katukina - Mônica Arara - Mirvana – Nukini - Sérgio Katukina 91 Anexos – Documentos produzidos 02-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Pré-natal Grupo 2 Tema: pré-natal - Acompanhamento das grávidas inicia a partir de 2 meses. Como: - Olhando os olhos se estar amarelo, e se estiver a grávida está com anemia. - Verificando a urina, e também medindo o tamanho da barriga para saber o tamanho do menino, se está com o peso normal. Contribuição do pajé: Contribuir com rezas e trabalhos espirituais e no caso do neném estiver torto, o pajé o deixa normal. E o pajé só é chamado quando a grávida está em perigo. Contribuição do AIS: Em algumas aldeias, o AIS ajuda, outras não. Eles ajudam com encaminhamentos, preenchendo cadastros para saber a quantidade de meses e pesando o neném quando nasce e tem remédios. Componentes do grupo: - Maria da Cruz – Nukini - Tereza da Silva – Jaminawa-arara - Maria da Glória – Arara - Nilândia Moreira – Nahua - Maria Nilza – Katukina - Aldenizia – Nukini - Vander Sereno – Kaxinawa - Francisco Dete – Katukina - José da Silva – Katukina - Adeildo – arara. 92 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Aldeia Campinas, 19 de fevereiro de 2006. Prezado Alcir, Durante a reunião de parteiras, pajés e AIS do projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” realizada na aldeia Campinas (T.I. Campinas Katukina) entre os dias 15 a 20 foram discutidos temas referentes à situação de saúde materno-infantil entre os grupos participantes (Nawa, Nukini, Katukina, Kaxinawa do Breu, Arara, Jaminawa Arara). Um dos resultados da reunião foi um levantamento feito pelos participantes das dificuldades e necessidades que cada um dos povos enfrenta em relação à saúde. Através desse documento estamos encaminhando as reivindicações dos participantes Nawa e Nukini (1), Arara (2), Kaxinawa do Breu e Jaminawa Arara do Bagé (3), Jaminawa Arara do Igarapé Preto (4), e, Katukina (5). As reivindicações que são comuns a todos os povos indígenas do Vale do Juruá são: ¾ Ter AIS mulher, uma por aldeia. ¾ Ter motor, barco e gasolina disponível para cada uma das parteiras e dos AIS quando a locomoção é fluvial ou bicicleta quando a locomoção da parteira, pajé e AIS é pela estrada (Katukina). ¾ Ter equipamento para as parteiras (kit da parteira, balança) e para os AIS (medicamento básico) poderem trabalhar nas aldeias. ¾ Ter um ponto de apoio para as parteiras realizarem os partos e para os AIS guardarem os equipamentos e medicamentos. ¾ Ter ajuda financeira para as parteiras e pajés e contrato para os AIS homem e mulher. ¾ Consertar ou implementar o sistema de radiofonia nas Terras Indígenas ou implantar o telefone público. As reivindicações específicas dos povos participantes são: 1. Nawa e Nukini Tema – Melhoria do trabalho de saúde nas aldeias e no pólo-base de Mâncio Lima. O que pode melhorar no atendimento à saúde indígena (equipe multidisciplinar, AIS, parteira e pajé): 93 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá 1. 2. 3. 4. Ter atendimento da equipe multidisciplinar todos os meses na aldeia. Não faltar medicamentos nos postos de saúde das aldeias. Ter AIS mulher na aldeia para facilitar o atendimento das mulheres junto a equipe. Ter barco, motor e combustível tanto para as parteiras quanto para os AIS dentro da comunidade. 5. Ter contrato para as parteiras e os AIS. 6. Construir uma casa na aldeia para os atendimentos das parteiras e fornecer equipamento. Ex: cama, colchão, balança e kit da parteira. 7. Que os motoristas do barco da saúde sejam índios. O que pode melhorar no atendimento do pólo-base de Mâncio Lima: 1. Que tenham administradores índios para não haver discriminação com a população indígena, como vem acontecendo hoje no pólo-base. 2. Que os administradores recebam os pacientes índios no pólo ainda com vida, não só depois de morto. 3. Que os exames e consultas aconteçam mais rápido, não só depois de três meses. 4. Que eles atendam todos os doentes, como grávidas, pacientes com malária, etc; não só quando a pessoa foi mordida de cobra ou teve alguma fratura (braço e perna quebrada). 5. Que o pólo tenha cama, colchão, mesa, banco, cortinado e ventilador para os doentes. 6. Que a alimentação seja pela vontade do doente, não pela do funcionário, porque o funcionário só dá comida enlatada, carne-moída e ovos. Porque para o paciente melhorar precisa de verduras, frutas, peixe, carne, que os alimentos sejam variados. Que os bebedouros sirvam para os doentes, não só para os funcionários. 2. Arara Problema: A equipe multidisciplinar realiza a consulta em público com todos presentes, homens e mulheres. Proposta: Que a equipe atenda o paciente em um lugar reservado das outras pessoas. Exemplo: de um a um. Problema: Os AIS e as parteiras, apesar de terem solicitado, não foram buscados para acompanhar a equipe multidisciplinar nas consultas. Proposta: Fazer um rodízio para que cada um dos AIS e das parteiras possam acompanhar e aprimorar seu trabalho na saúde. 94 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá Problema: A parteira não tem lugar para fazer o parto na aldeia. Somente sua casa com a sua família dentro. Proposta: A comunidade constrói uma casa e a FUNASA coloca o equipamento: cama, colchão, equipamento com balança, lampião, bacia, gaze, álcool, luva, lanterna, iodo. Problema: falta canoa para parteira atender a uma urgência, para acompanhar as grávidas e para levar a paciente para a cidade em caso de necessidade. Proposta: precisa de canoa e motor para as parteiras e também de combustível para elas. Problema: OAIS homem não consegue atender as mulheres por elas terem vergonha de falar os problemas delas para eles. Proposta: ter AIS mulheres nas aldeias para atender e facilitar nos atendimentos. A comunidade decide quem vai ser a AIS mulher e a FUNASA dá capacitação, equipamento e depois contrata. Pólo-base Problema: quando a paciente chega no pólo, que vem doente, passa por dificuldade. Não tem ninguém para atender na farmácia. Proposta: Que tenha um auxiliar no pólo para atender a paciente quando chegar e também para acompanhá-la nas consultas no posto ou hospital. Problema: O paciente sente dificuldade quando vem doente para o pólo-base, pois ali onde está instalado não é um pólo-base e sim uma hospedaria do povo Arara em geral. E por morar família dentro da casa faz barulho que é um problema para os pacientes que estão doentes. Proposta: que a FUNASA construa ou alugue um casa para que seja instalado o pólobase de Porto-Walter. 95 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá 3. Kaxinawa do Breu e Jaminawa Arara do Bagé. Dificuldade dentro das aldeias. 1. Transporte para os Agentes de Saúde fazerem seus encaminhamentos. 2. Falta de comunicação por rádio ou telefone. 3. Falta de um Ponto de Apoio para os Agentes Indígenas de Saúde e Parteiras trabalharem e também de equipamento para este ponto de apoio. 4. Faltam medicamentos básicos nas aldeias para os AIS trabalharem dentro da aldeia. 5. Falta de combustível para os AIS trabalharem em caso de emergência ou quando eles fazem encaminhamentos. 6. Falta capacitação para os Agentes Indígenas de Saúde melhorarem os seus atendimentos. 7. Falta Agente Indígena de Saúde Mulher para ajudar as parteiras e os AIS homens. 8. Falta fazer contrato com as parteiras e equipamentos como banheira, álcool, luva, gaze, balança, lanterna e outros. 9. As visitas da equipe multidisciplinar nas aldeias não são suficientes para atender toda a comunidade. Propostas: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Ter barco motorizado para todos os AIS. Instalar rádio ou outra comunicação em todas as aldeias. Queremos pontos de apoio estruturados nas aldeias. Queremos medicamentos básicos dentro da aldeia. Queremos combustível, embuchamento e óleo lubrificante dentro da aldeia para os AIS fazerem seus encaminhamentos. Queremos capacitação para os AIS. Queremos uma AIS mulher em cada uma das aldeias. Queremos que as parteiras sejam contratadas e também precisamos de equipamentos para as parteiras e os AIS trabalharem. Aumentar a freqüência de atendimento na região do Alto Juruá (TI do Breu; TI do Bagé; TI Apolima Arara; TI Ashaninka do Rio Amônia). Dificuldades e propostas no pólo-base. 1. Precisa de uma reforma geral do pólo-base. 2. É necessário ter materiais de cozinha e equipamento (cama, colchão, bebedor, cadeira, mesa, ventilador, etc) nos pólos. Queremos uma cozinheira e uma faxineira no pólo. 3. Há dificuldade no retorno dos encaminhamentos: precisa de embuchamento e mais óleo lubrificante do que é fornecido hoje pelo pólo quando o motor é Yamar. 96 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá 4 – Jaminawa Arara do Igarapé Preto. Para melhorar o atendimento da saúde nas aldeias. 1. Necessidade de capacitar e contratar AIS mulher para colaborar com a parteira e com os AIS homem. As mulheres têm vergonha de consultar alguns problemas com os AIS homem. 2. Necessidade de contratar as parteiras. 3. Necessidade de melhorar as condições de trabalho dos AIS e das parteiras, fornecendo: ¾ Barco, motor e combustível para cada AIS e para cada parteira poder trabalhar. ¾ Medicamentos nas aldeias para os AIS. ¾ Completar periodicamente o kit da parteira e acrescentar: balança, bacia para banho, desinfetante, caixa para guardar os instrumentos esterilizados. 4. Necessidade de um ponto de apoio com quartos para cada um dos profissionais (AIS homem. AIS mulher, parteira) fazer atendimento. A parteira precisa de um quarto para fazer os partos e cuidar da parturiente durante os primeiros dias. 5. Precisa ter alimentação no ponto de apoio para os pacientes. 6. Precisa ter capacitação diferenciada para os AIS. 7. Precisa de sistema de radiofonia. Na TI Jaminawa do Igarapé Preto não tem aparelho de radiofonia. Não ter rádio impede a comunicação com o pólo-base quando acontece algum caso de doença grave, impedindo o AIS de pedir ajuda. Problemas com o atendimento da equipe multidisciplinar. Ocorre mal atendimento do paciente, discriminação e preconceito; a equipe coloca dificuldades para fazer encaminhamentos; as visitas da equipe são poucas; a equipe não avisa quando vai chegar e quando chega as vezes tem poucas pessoas na aldeia para atender; as visitas da equipe são muito curtas. Problemas no pólo-base. Os pacientes são mal atendidos e sofrem discriminação no pólo-base. Propostas para melhorar o atendimento dos Jaminawa Arara no pólo-base: ¾ Construção de um pólo-base em Rodrigues Alves porque é o único município que não possui pólo-base. ¾ Que o administrador desse pólo-base em Rodrigues Alves seja Jaminawa-Arara. ¾ Que a organização do cotidiano no pólo-base em Rodrigues Alves seja segundo os costumes Jaminawa Arara principalmente em relação a alimentação. 97 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá 5 – Katukina Problema: A mulher Katukina não entende o que a equipe multidisciplinar está falando; e a equipe multidisciplinar não entende o que a mulher Katukina está falando; a mulher tem vergonha do AIS homem para traduzir os problemas dela para a equipe multidisciplinar. Solução: Ter uma AIS mulher por aldeia. Precisa a FUNASA dar capacitação para a AIS mulher poder trabalhar. A comunidade também pode ajudar, porque o AIS homem vai ensinar a AIS mulher. Problema: Falta material para trabalho das parteiras. Proposta: Que a FUNASA dê kit básico como lanterna, tesoura, luvas, álcool, gaze, algodão, um colchão por aldeia, balança e fita métrica. A comunidade vai construir uma ponto de apoio, mas a FUNASA dá o material para construir (brasilite, madeira serrada, prego, alguém não-índio para ajudar na construção). Problema: Transporte para parteira e pajé. Solução: Uma bicicleta por aldeia para parteiras e pajés usarem. Tema – Pólo-base de Cruzeiro do Sul ¾ O almoço é pouco no pólo-base e não tem lanche. Precisa ter café da manhã, lanche, almoço, lanche e janta. O almoço é melhor se for marmitex igual a CASAI em Rio Branco. ¾ O pólo não tem nenhum cuidado com a dieta passada pelo médico ao paciente. O pólo precisa cuidar da dieta desses pacientes. ¾ O pólo precisa ter comida variada: peixes, galinha, boi, fruta (banana, mamão, melancia) ¾ Os pacientes não querem comida enlatada, nem bolacha que já passou da validade. ¾ É preciso melhorar a limpeza no pólo: passar pano com água sanitária várias vezes para não ficar cheiro ruim. Não é o paciente que tem que fazer a limpeza. ¾ Precisa de copo descartável para o paciente não pegar doença de outras pessoas. ¾ Precisa de cama, colchão e mosquiteiro para pacientes mais graves. ¾ Precisa de redes e mosquiteiros permanentes no pólo. A pessoa que faz limpeza pode lavar e guardar depois que o paciente for embora. ¾ Precisa de sabonete, escova de dente, sandália e também aumentar o pedaço de sabão para o paciente lavar a roupa. ¾ A pessoa da FUNASA que leva o paciente para o posto de saúde ou hospital não explica nada; ela não explica onde o paciente tem que pegar a ficha; o paciente muitas 98 Anexos – Documentos produzidos 03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá vezes perde o almoço; a pessoa da FUNASA não verifica se tem médico no posto para fazer o atendimento, antes de deixar o paciente lá; a pessoa da FUNASA vai buscar o paciente no posto na hora que quer. É preciso contratar um Katukina para ajudar os pacientes, principalmente as mulheres, no posto de saúde e hospital e também para cuidar da alimentação quando o médico passa dieta. Hospital ¾ O hospital deve permitir a entrada do AIS para fazer o acompanhamento do paciente que foi fazer consulta ou que está internado. Precisa ter um crachá da FUNASA para o AIS poder ser identificado pelo hospital. A FUNASA deve fornecer ao hospital uma lista com o nome de todos os AIS para permitir a entrada deles. Solicitamos que nossas reivindicações sejam atendidas e desde já contamos com a vossa compreensão e a vossa colaboração. Atenciosamente 99 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Carapanã sobre problemas de saúde e propostas de solução. Transcrição dos Cartazes produzidos durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, pelos representantes de cada T.I. a respeito dos problemas de saúde que enfrentam e as propostas de solução. T.I Carapanã Proposta para o melhoramento 1. Continuando o treinamento para as parteiras e os AIS. 2. Assistência de material para a parteira e o AIS. 3. Transporte e comunicação da aldeia para o pólo-base para a parteira e o AIS. 4. Construção de uma casa na aldeia para receber os pacientes. Juntamente com os AIS, pajé e as parteiras. 5. Recurso econômico para as parteiras. 6. Reconhecimento das parteiras e os AIS no hospital e Posto de Saúde. 7. Fornecer a alimentação adequada para os pacientes no pólo-base. 8. O pólo-base fica a disposição de receber os pacientes em qualquer momento. Problema com o pólo-base de Tarauacá. 1. Não tem retorno para parteira. Quando tem, não é completo, somente óleo diesel. 2. Não tem transporte para o hospital. 3. Não tem vaga suficiente para atender os pacientes indígenas.. Só tem uma vaga por dia. 4. A parteira que não fizer curso, não tem reconhecimento no pólo. 5. Ás vezes quando faz exame fica muito difícil para ver o resultado 6. E também no sábado e domingo não tem plantão. 7. Só aceita o paciente quando estiver bem grave. Grupo Carapanã: Anildo Peres Aparecido (AIS); Adenilson da Silva Kaxinawa (AIS); Maria Iracema Silvina Kaxinawa; Maria Sofia Leonor; Maria Aldenira Kaxinawa; Pedro Sabino Sereno (motorista fluvial); Maria Ivanete Davi Kaxinawa; Maria Elizene Leal Peres; Maria Santisma da Silva Domingos; Nazaré Sabino Kaxinawa; Maria Ercilia Ferreira (AIS); Francisco Rodrigues da Silva (AIS); Maria Leidiane Peres Ribeiro; José Carlos da Silva (AIS); Valdecir Rodrigues Kaxinawa (motorista fluvial). 100 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Igarapé do Caucho sobre problemas de saúde e propostas de solução. TI Caucho – Aldeia 18 Praia, Caucho, Nova Aldeia, Tamandaré Os Problemas Equipe de Saúde na Área. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. A equipe atende muito rápido. Não tem um lugar para a equipe atender. Não tem um lugar para fazer exame preventivo A equipe de saúde não chama as parteiras para ajudar a atender as grávidas. A equipe não confia no AIS. Falta de capacitação para os AIS e parteiras. Falta de material para os AIS e as parteiras trabalharem com mais qualidade. Precisa de ajuda de custo para as parteiras Falta de transporte e combustível para as parteiras e AIS. Problemas no pólo-base 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Falta de lugar para os pacientes para hospedar. Falta de alimentação no pólo-base para os pacientes e acompanhantes. O pólo-base não trata as pessoas todos iguais. Só tem duas vagas no Posto de Saúde por dia para atender paciente indígena. Falta ser melhor atendido no hospital e na maternidade. A parteira não pode acompanhar a grávida na maternidade e na hora do parto. Depois do parto a mulher não tem transporte para ir embora. Tem que ir de pés. Soluções Equipe de Saúde na Área 1. Atender com mais calma e esperar as pessoas para atender. Conversar mais com as pessoas. 2. e 3. Precisa de uma casa nas aldeias para equipe de saúde atender a comunidade. Não é posto de saúde. Se a FUNASA der combustível, alumínio e prego a comunidade tem como fazer a casa. 4. A equipe tem que chamar a parteira na hora que for chamada a grávida para se consultar. 5. e 6. Se tiver capacitação para os AIS, a equipe vai ter que confiar no trabalho do AIS. 7. Precisa do material, do kit para parteira trabalhar na comunidade com as pessoas. Para os AIS precisa de material para curativo, para sutura, remédio, pomada, iodo, água boricada, gaze e outros. 8. A FUNASA precisa dar uma ajuda de custo para as parteiras. 101 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Igarapé do Caucho sobre problemas de saúde e propostas de solução. 9. Precisa de uma canoa com motor para cada aldeia, para as parteiras e os AIS usarem para atender as pessoas. Precisa de combustível para ida e volta, da cidade para a aldeia. Solução para problemas do pólo-base. 1. O pólo-base é referência dos povos indígenas da região de Tarauacá. O pólo tem que hospedar os pacientes. 2. O pólo tem que dar alimentação para o paciente e para o acompanhante. 3. O pólo é para atender todo mundo igual. 4. O pólo tem que contratar um médico para atender todos os povos indígenas da região de Tarauacá. 5. O hospital e a maternidade têm que respeitar e tratar bem o paciente indígena, na hora do atendimento e em qualquer hora que chegar. 6. A parteira e o AIS têm que ter um crachá para entrar na maternidade, no hospital e no Posto de Saúde. O hospital, a maternidade e o Posto de Saúde tem que ter uma lista dos AIS e das parteiras para ser reconhecido. 7. O pólo tem que dar transporte para a mulher que teve filho na maternidade ir embora. Grupo T.I. Igarapé do Caucho: Francisco Jescildo Alves Arsênio (AIS Nova Aldeia); Raimundo Nonato (AIS Tamandaré); Ivane de Souza da Silva (AIS Tamandaré); Ivanilde de Souza Kaxinawa (Tamandaré); Francisco das Chagas Conceição Kaxinawa (Pajé Nova Aldeia); Maria das Graças A. da Silva (Nova Aldeia); Raimundo Ferreira (AAFI 18 Praia); Maria Francisca (professora Nova Aldeia); Francisca Laurilene da Silva Botoza (Caucho); Francisca da Silva Batista (18 Praia); José Nertan Sabino (AIS 18 Praia). 102 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Kaxinawá do Humaitá sobre problemas de saúde e propostas de solução. T.I. Humaitá Problemas 1. O AIS é desconsiderado no pólo- base. 2. O pólo-base tem pouco ou nenhum recurso para alimentação, estadia/ pouso e combustível para retorno às aldeias (5 a 8 dias entre aldeias e Tarauacá). 3. Há somente duas vagas para pacientes indígenas por dia. 4. As parteiras não podem acompanhar suas pacientes. 5. Não abrigo para parteiras, AIS, pacientes grávidas passarem a noite aguardando uma vaga no pólo-base. 6. Falta de intercomunicação entre aldeias e pólo-base. 7. Os profissionais de saúde, em visita às aldeias, não respeitam os segredos das mulheres, causando vergonha à mulher e família. Sugestões para solução 1. O AIS precisa ter mais capacitação para melhor atendimento aos pacientes das aldeias. 2. Posto de saúde nas aldeias. 3. Abastecimento com remédios e aparelhos, materiais, para que os AIS a as parteiras possam atender emergências nas aldeias. 4. Recurso para os agentes de medicina tradicional. 5. As parteiras devem ter acesso no pólo-base, no posto de saúde e na maternidade, para acompanhar suas pacientes grávidas. 6. Ter um médico à disposição para atender especificamente os pacientes indígenas e as mulheres grávidas. 7. Aumentar o número de vagas para atendimento. 8. Capacitação dos profissionais de saúde para melhorar comunicação com AIS e parteiras. 9. Formar reserva de combustível nas aldeias, com os recursos do pólo, destinados ao apoio às comunidades indígenas. 10. Barco motorizado na TI Humaitá para atendimento das emergências de saúde, de pacientes e mulheres grávidas. 11. Instalação de sistema de radiofonia interligando aldeias e pólo-base. Grupo Humaitá: 10. Jacira Mateus 1. Aldemir Mateus Kaxinawa 2. Francisco Mateus de Lima 3. Raimundo Mateus de Lima 4. Rosevanir Mateus de Lima 5. Maria Inês Lopes 6.Raimundo Nonato Lopes 7. Valcenir Mateus 8. Maria Aucélia de Oliveira 9. Ademar Peres Vieira 11. Niza Sabóia 12.Francisca Mateus 13. Maria Macambira 14. Vanuza Lopes 103 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Igarapé Primavera sobre problemas de saúde e propostas de solução. T.I. Primavera Problemas de saúde T.I. Primavera 1. Não tem AIS. 2. Não tem parteira. 3. Não tem rádio. 4. Não tem professor. • Quando tem um doente a comunidade freta um barco ou pega carona para chegar na cidade; • Gastam muitas vezes recursos próprios para comprar remédios; • Se hospedam nos barcos; • O pólo não dá alimentação, o pólo é só para consultas. • Gasta 80 litros de combustível para o retorno, às vezes o pólo dá, outras vezes não. • São 42 pessoas e um barco que pega 6 pessoas e um motor pequeno de 5,5 HP. Não dá para a comunidade inteira utilizar. Soluções 1. Precisa de 1 barco. 2. Precisa de 1 motor. 3. Treinamento AIS. 4. Atendimento melhor no pólo com os pacientes e acompanhantes. 5. Hospedagem no pólo (eles vêm de carona e não tem onde ficar). 6. Alimentação para paciente e retorno. 7. Capacitação de parteira. 8. Combustível de retorno. 9. Precisam que o pólo visite mais a TI Primavera, pelo menos uma vez no mês. Representante Kampa: João Paulo Kampa 104 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Colônia 27 sobre problemas de saúde e propostas de solução. Aldeia 27 – TI Colônia 27 Problema: 1º Comunicação Rádio • • aquisição manutenção Telefone e Celular • • cartão telefônico instalação de orelhão 2º Transporte • • • • Falta de carro na aldeia. Carroça de tração animal. O pólo de saúde não oferece o transporte dos pacientes para cidade. Doação de viatura para aldeia que sirva para a assistência de saúde e para atividade produtiva da comunidade. Problemas e Soluções na Medicina Tradicional • Quando o pajé, parteira e o agente de saúde tem a solução não se encaminha o paciente para o pólo. • Necessidade de profissionalização das parteiras. • Reflorestamento com espécies medicinais por do desmatamento da terra indígena. • Lugar de coleta dos remédios muito longe da aldeia. • Conflito entre a decisão do pajé e a decisão da comunidade em relação a encaminhamento do paciente para o pólo. • Respeito na autoridade. 105 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo da T.I. Colônia 27 sobre problemas de saúde e propostas de solução. Problemas no pólo • • • • • Igualdade no atendimento entre as etnias. Acabar com o atendimento baseado na amizade. Melhorar a distribuição do medicamento. Ter atendimento de qualidade. Resolver o problema da hospedagem do paciente e do acompanhante. Solução: • Construção da casa de saúde na cidade. Grupo Colônia 27: Ivaniza da Silva Brandão Carmélio da Silva Brandão Afonso Manduca Mateus 106 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Katukina da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. Katukina do Rio Gregório – Aldeia Sete Estrelas Problemas Katukina 1. Acesso (5 dias de viagem a pé da aldeia para Tarauacá). • Não tem barco, nem motor, nem combustível para deslocamento dos pacientes. • Pólo-base não disponibiliza transporte. 2. Comunicação • Não tem como conversar com o pólo em caso de urgência e necessidade. 3. Hospedagem e alimentação dos pacientes em Tarauacá – o pólo-base não providencia condições para a permanência dos pacientes em caso de tratamento e exames e de seus acompanhantes. 4. O pessoal do pólo-base tem que receber e tratar melhor os pacientes e acompanhantes dos pacientes. 5. A equipe de saúde não atende na aldeia e muitas vezes as vacinas e medicamentos não chegam. 6. Demora na marcação de consultas. Pólo-base não tem uma atuação eficaz para encaminhar os pacientes para referência e contra-referência. 7. Falta de informações corretas e não cumprimento dos direitos garantidos aos povos indígenas. 8. Parteira não tem material para fazer parto. 9. Água 10. Mulher tem vergonha de AIS homem. Soluções 1. Ter barco com motor para transporte dos pacientes, próprio para Katukina. Carro para transporte do paciente em Tarauacá. 2. Rádio com manutenção. 3. Construção de casa ou 107 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Katukina da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. b) Contratação de hotel com hospedagem e alimentação ou c) Convênio com OPITAR para hospedagem e alimentação. 4. Capacitação do pessoal da saúde pelos próprios povos indígenas; contratação de pessoal qualificado. 5. Ter uma pessoa indígena de referência em Tarauacá para acompanhar o pessoal que vem da aldeia. 6. Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena deve ir à aldeia 6 vezes por ano (2 em 2 meses). 7. Construção de um Posto de Saúde na aldeia com medicamentos. 8. Estabelecimento de procedimentos para agilizar/melhorar a marcação de consultas e o acompanhamento dos pacientes na referência. 9. Capacitação do Conselho Local e dos AIS para fazer valer os direitos dos povos indígenas. 10. Material para parteira com ensinamento sobre o uso. 11. Sistema de abastecimento de água e banheiro. 12. Contratação de AIS mulher. Grupo Katukina: João Carlos Katukina (Liderança e Pajé); Misi Rodrigues de Souza Katukina; Josimar da Silva Katukina (AIS); Luciene Katukina. 108 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. T.I. Rio Gregório – Povo Yawanawa Problemas que enfrentamos 1. Transporte aldeia/cidade Verão: o carro se desloca até a beira do Rio Gregório. Inverno: Caminhamos a pé dois dias até a metade da viagem, depois nós pegamos um carro até a cidade. 2. Retorno AIS e paciente. Algumas vezes o AIS é atendido de boa vontade, às vezes não. 3. Atendimento no pólo. Quando a gente vem doente ou traz um paciente, eles mandam ir para o pólo ou posto de saúde sem acompanhar o paciente; às vezes o paciente não entende a fala dos médicos e fica perdido. Isso tudo quando tem vaga, senão temos que esperar. 4. Alimentação O pólo não dá alimentação e muitas vezes o paciente passa necessidade. 5. Encaminhamento Eles recebem e engavetam. 6. Consultas Tem que esperar as vagas. Mesmo doente o paciente não tem condições de ficar na cidade, andando no sol, passando mal e com filho nos braços. 7. Pajé O povo indígena respeita, valoriza, usa suas curas, valores e saberes, mas o poder público não reconhece. 109 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. 8. Parteiras Não é reconhecida como deveria ser. Os profissionais de saúde devem respeitar, reconhecer seu trabalho. E o poder público também não reconhece como categoria profissional. 9. Profissionais e funcionários Nenhum é treinado para trabalhar com a população indígena. 10. Medicamento Às vezes nós compramos por conta própria, porque os enfermeiros falam que o pólo não tem condições. Solução dos problemas Transporte: A comunidade Yawanawa precisa de barco para atender as 5 aldeias da Terra Indígena Rio Gregório. A solução para nós também é asfaltamento da BR 364. Retorno do AIS e paciente: O AIS e paciente precisa voltar para as aldeias com as condições (combustível, alimentação e medicamento). Atendimento no pólo: Todo paciente e acompanhante deve ser bem atendido e acompanhado pelos enfermeiros até os setores de saúde e, no final de tudo ainda, deve ser acompanhado até ficar bom. Alimentação: O pólo precisa garantir uma alimentação saudável para o paciente e acompanhante. Uma alimentação balanceada com frutas, verduras, etc. Encaminhamentos: Os encaminhamentos devem ser analisados e dada sua urgência encaminhados e os pacientes serem chamados urgentemente. 110 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. Consulta: Vaga de consulta deve ser garantida e dar condições para que o paciente chegue até o local da consulta. Pajé: Que o pajé seja reconhecido pelos poderes públicos estaduais, municipais e federais como conhecedores de cura e erva medicinais. Parteira: Que a parteira seja reconhecida como profissional em saúde indígena com carteira assinada pelos setores de saúde. Funcionários/profissionais: Que todos recebam treinamento de participação em recursos humanos para trabalhar especialmente com a população indígena, respeitando seus valores, costumes, tradições e saberes. Medicamento: Que os medicamentos que podem ser substituídos por plantas medicinais possam ser utilizados pelo pajé e pelos enfermeiros, levando em consideração a doença que o paciente tiver. Grupo Yawanawa: Lídia da Silva Yawanawa; Leda Matilde Ferreira Yawanawá; Orlinda Luiza Yawanawa; Maria Luiza Ferreira; Maria dos Anjos Luiza Felix Yawanawa; Márcia da Silva Yawanawa. 111 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Aldeia Morada Nova, 31 de março de 2006. Durante a 3ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS do projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas”, realizada na aldeia Morada Nova (T.I. Katukina/Kaxinawa) entre os dias 27 a 31 de março de 2006 foram discutidos temas referentes à medicina tradicional e a situação de saúde nos grupos participantes (Kaxinawa, Shanenawa, Ashaninka e Kulina). Durante esta reunião foram levantadas as dificuldades e as necessidades que cada um dos povos enfrenta em relação à saúde em suas comunidades. Desta reunião participaram representantes das aldeias Morada Nova, Paroá, Cardoso, Nova Vida, Paredão, Belo Monte, Pupunha (T.I. Katukina/Kaxinawa); Grota e Nova Esperança (T.I. Seringal Curralinho); Formoso e Nova Olinda (T.I. Nova Olinda); Riozinho, Cocoaçu, Simpatia e Bananeira (T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira); Alto Bonito (T.I. Jaminawa/Envira); Califórnia (T.I. Kulina do Igarapé do Pau); Maronawa, Terra Nova e Igarapé do Anjo (T.I. Kulina do Rio Envira). A seguir são apresentadas as reivindicações dos representantes das comunidades presentes, esperando que sejam tomadas as devidas providências para garantir o direito dos povos indígenas a uma saúde diferenciada, que respeite e reconheça o valor e importância das parteiras, pajés, AIS e auxiliares de enfermagem indígenas enquanto profissionais essenciais na melhoraria da situação de saúde das comunidades. • O pólo-base precisa fornecer alimentação adequada (banana, macaxeira, frutas, arroz, peixe) ao paciente e acompanhante que vêm para a cidade para fazer tratamento. • O pólo-base precisa garantir a dieta receitada pelo médico, fornecendo os alimentos indicados para o paciente durante o período de tratamento. • O pólo-base precisa conversar com o IBAMA para permitir que os pacientes tragam carne de caça para comer quando eles permanecem na cidade. • É necessária uma casa de apoio na aldeia Morada Nova com estrutura completa (cozinheira indígena, auxiliar de enfermagem indígena, medicamentos, transporte, alimentação) para alojar os pacientes e acompanhantes das aldeias mais distantes 112 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. (Alto Envira), principalmente os que estão com tuberculose, doenças infectocontagiosas e hepatite. • É preciso uma Toyota para transportar os pacientes na cidade e a contratação de um motorista indígena. • É necessário que sejam construídos postos de saúde com infra-estrutura completa (medicamentos, radiofonia, placa solar, barco com motor e combustível) em pontos estratégicos (Aldeia Simpatia, Igarapé do Anjo, Califórnia e Nova Olinda) para atender as emergências, e também que sejam contratados auxiliares de enfermagem indígenas nestes postos nos pontos estratégicos. • É preciso um barco com motor à gasolina e uma cota de combustível por mês em cada aldeia para as parteiras trabalharem. • É necessária uma cota de combustível por mês em cada aldeia para que os AIS possam fazer as visitas de rotina às casas e também para usarem em caso de emergência. • É preciso que seja instalado um sistema de radiofonia em todas as aldeias e também que seja garantida pelo pólo a manutenção do equipamento. • É necessária a construção de um posto de saúde em cada aldeia para guardar medicamentos e apoiar o trabalho dos AIS. • É preciso garantir a formação técnica para os AIS e AISAN juntamente com uma formação básica (português, matemática) para melhorar o trabalho desses agentes junto a suas comunidades. • É importante fornecer cursos de aperfeiçoamento para as parteiras, que respeitem seus conhecimentos e suas práticas. • O trabalho dos pajés e parteiras tem que ser reconhecido e valorizado pelo sistema de saúde oficial e com isso garantir uma ajuda de custo para que eles possam trabalhar junto a suas comunidades. 113 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. • O trabalho dos AIS e das parteiras tem que ser reconhecido pelo pólo-base, hospital e maternidade. É necessário criar um crachá de identificação dos AIS e das parteiras, que permita que eles entrem no hospital e maternidade para acompanhar seus pacientes. • O paciente indígena deve ser tratado com respeito no atendimento do pólo-base, do Posto de Saúde, do hospital e da maternidade. • Os AIS têm que receber uma remuneração mais adequada já que trabalham diretamente nas comunidades. • Tem que ser priorizada a contratação dos auxiliares de enfermagem indígenas no quadro do pólo-base quando já existem estes profissionais formados nas comunidades, respeitando a indicação das comunidades. • Os AIS devem ser contratados através de um concurso diferenciado. • É necessário o apoio da Funasa para construir uma casa de parto com infra-estrutura completa (cama, colchão, cortinado, bacia, panela, fogão, botija, kit da parteira, placa solar (onde não existe energia)) em todas as aldeias da região. • Garantir no convênio a contratação de um médico para atuar no pólo-base para atender os pacientes indígenas. • É preciso agilizar a remoção de pacientes do pólo-base para a CASAI (Rio Branco) fazendo com que o DSEI seja responsável pela compra e pela liberação das passagens. • É necessária a construção de poços artesianos nas aldeias onde não tem poço, e nas aldeias onde já tem, é preciso dar manutenção através do AISAN. É necessário que as fossas sejam reconstruídas longe dos poços artesianos para não contaminarem a água. • Melhorar o atendimento odontológico através da prevenção e também do fornecimento de materiais para que o dentista possa fazer restaurações, extrações e próteses para os pacientes indígenas nas comunidades. 114 Anexos – Documentos produzidos 04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução. • É necessário fornecer o kit da parteira completo (inclusive com balança, lanterna de boa qualidade, guarda-chuva, capa de chuva e botas) para todas as parteiras, assegurando a reposição do material não permanente. • Fornecer o livro de cadastro de recém-nascidos para todas as parteiras de todas as comunidades. • Garantir o combustível para as parteiras quando elas levam as grávidas para fazer o pré-natal. • Tirar o convênio da Prefeitura e repassar para uma ONG com experiência em trabalho com populações indígenas e indicada e aprovada por todas as comunidades. As comunidades indígenas da região do Envira esperam que as reivindicações aqui apresentadas sejam atendidas o mais breve possível, de forma a garantir uma melhora da situação de saúde das populações indígenas. Atenciosamente, 115 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Cadastro das parteiras (Tarauacá e Feijó) Cadastro das Parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Nome Aldeia (T.I.) Cursos realizados Tempo atuando Iniciou Evanilde de Souza Tamandaré (TI Caucho) 3 cursos com 12 (1971). Partos realizados Partos realizados entre 2000 e 2005: anos Em 2000: 66 partos (nasceu em 1956) Em 2001: 90 partos Em 2002: 53 partos Em 2003: 59 partos Em 2004: 69 partos Em 2005: 90 partos Desde 1997 19 partos Começou com 26 anos. Hoje tem 30. 4 anos de atuação. 2 partos (antes dos cursos) Faz 21 anos(Desde 9 partos 38 anos de trabalho. 4 cursos Maria Anizia de Paula São Vicente (TI Humaitá) Sabóia Kaxinawa. Evaniza da Silva Brandão Maria Alice Ferreira Lima 1º curso 2000 – Secretária do Estado da Saúde e do Saneamento. 2º curso 2003 – GMI 3º curso 2005 – Prevenção para as parteiras tradicionais. 4ºcurso 2005 – SESA 2 cursos Aldeia 27 (TI Colônia 27) 1ºcurso – 2000 2º curso – 2004 Caucho (TI Caucho) Não fez curso. Porto Brasil (TI Humaitá) 20 anos atuando 1º curso – 2003 – GMI 2º curso – 2005 – Governo do Estado (Começou com 29 anos) do Acre. 2 cursos Jacira Cataiano Mateu aproximadamente) 1986 11 partos 116 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS 3 cursos Francisca da Silva Batista (Maspan) D. Maria Pereira de Souza (D. Maria Branca). 18 Praia (TI Caucho) 2 cursos Nova Aldeia (TI Caucho) Maria das Graças Araújo da Silva (filha da D. Maria) Nova Aldeia (TI Caucho) Francisca da Chaga Acima da Nova Aldeia Conceição Kaxinawa (TI Caucho) Francisca Mateus São Luiz (TI Humaitá) Maria Aucélia de Oliveira Kaxinawa 1º curso 2000 – Secretária do Estado da Saúde e do Saneamento. 2º curso 2003 – GMI 3º curso 2005 – SESA Boa Vista (TI Humaitá) 1 curso 2003 – GMI (acompanhou a mãe) Nunca fez. 2 cursos 1º curso – 2000 (SESA) 2º curso – 2003 (GMI) 2 cursos 1º curso – 2003 (GMI) 2º curso – 2005 Maria Inês Água Viva (TI Carapanã) Lopes Boa Sorte (TI Humaitá) 1º curso – 2000 (SESA/Prefeitura) 2º curso –2003 (GMI) 3º curso – 2005 1 curso 22 partos cadastrados Começou a pegar com 12 Parto de 60 mulheres 1º curso 2000 – Parteiras Tradicionais anos. da Zona Rural Faz 46 anos que pega criança 2º curso 2003 – GMI 3 cursos Nazaré Sabino Kaxinawa Começou com 27 anos (1978) (algumas dessas mulheres tiveram vários partos com ela) A partir de 2003 passou a Acompanhou e ajudou no acompanhar parto de 5 mulheres. Quando fez o primeiro 54 partos parto tinha 10 anos Começou com mais ou menos 10 anos, ‘quando 116 partos estava começando a nascer o peito`. Começou com 14 anos. Hoje tem 30 anos. 16 partos Começou com 11 anos. 52 partos (antes de 2000) Depois do 1º curso – 16 partos Depois do 2º curso – 13 partos Depois do 3º curso 7 partos Hoje tem 63 anos. 52 anos que faz parto Começou com 22 anos. Total de partos: 88 5 partos 117 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS 2005 – Prefeitura Kaxinawá. Maria Ivanete Kaxinawa. Davi Nova Vida (TI Praia do 1 curso no Jordão 2004 Carapanã) Morada Nova (TI Praia do Não fez curso. Carapanã) Sofia Leonor Maria Santíssima da Silva Aldeia Segredo Artesã Domingos (TI Praia do Carapanã) Aldeia Cocameira Praia do Carapanã) Maria Elizene Leal Peres Francisca Lucilene Silva Botoza. Maria Kaxinawa. Aldenira Rosevanir Kaxinawa Maria Macambira da Aldeia Caucho) Caucho Não fez. (TI (TI Aldeia Goiaba (TI Praia do Carapanã) Não fez. Hoje tem 33 anos. Começou com 21 anos. Hoje tem 26 anos. 4 partos Começou a fazer com 12 7 partos anos. Nascimento: 1937. Começou com 20 anos. Tem 26 anos. 6 partos Ajudava a mãe quando Assistiu 5 partos, todos tinha 11 anos. Tem 20 anos. Nasceu em 1986. junto com a mãe dela. Não fez. Começou assistir com 20 anos no Seringal Humaitá. 3 partos 2 cursos Começou com 38 anos 2003 – GMI 2005 – (Secretaria de Saúde) (após fazer capacitação) 14 partos um curso de Aldeia Novo Futuro (TI Não participou de nenhum Começou com 13 anos. Humaitá) curso. Hoje tem 26 anos. 3 partos Aldeia Porto Brasil (TI Não participou de nenhum Começou com 13 anos. Humaitá) curso. Hoje tem 28 anos. 3 partos 118 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Vanilza Lopes Kaxinawa Aldeia Boa Humaitá) Sorte (TI Maria Alzenir Mateus da Aldeia Novo Futuro Silva (TI Humaitá) Maria Iracema Kaxinawa Maria Ercília Kaxinawa Não participou de nenhum. Primeira vez que participa. 1 curso Orlinda Luiza Martin Aldeia Mutum Gregório) (TI 1 curso Leda Matilde Ferreira Aldeia Matrinchã Gregório) (TI Maria dos Anjos Aldeia Matrinchã Gregório) (TI Aldeia Mutum Gregório) (TI Lídia da Silva Filho. Silva Começou com 13 anos. Hoje tem 38 anos. Aldeia Carapanã (TI Praia 2 cursos 2003 – GMI do Carapanã) 2005 – Secretaria de Saúde. Aldeia Viva (TI Praia do Carapanã) Márcia da Yawanawá Começou com 11 anos Hoje tem 22 anos. Aldeia Nova Esperança (TI Gregório) 5 partos 8 partos 30 partos Começou com 29 anos. Hoje tem 42. 3 partos Começou com 20 anos. Hoje tem 45 anos. 15 partos 2003 - GMI Não fez curso. Começou com 15 anos. Hoje tem 35 anos. 50 partos. Não fez curso. Começou com 22 anos. Hoje tem 44 anos. 24 partos Não fez curso. Começou com 14 anos. Hoje tem 25 anos. 3 partos 1 curso Começou com 22 anos. Hoje tem 30 anos. 32 partos 2003 - GMI 2003 - GMI 119 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Cadastro das Parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Nome Aldeia (T.I.) Aldeia Paredão Juraci Brandão Shanenawa Kaxinawa) Anita Pereira da Silva Maria José Kaxinawa Cursos realizados (TI Katukina/ 2 cursos Aldeia Pupunha (T.I. Katukina/ 3 cursos Kaxinawa) Pereira Aldeia Paroá Kaxinawa) (TI Katukina/ 2 cursos Tempo atuando Partos realizados Começou com 18 anos Tem 59 anos. Faz parto há 41 anos. 49 partos Tem 76 anos Nasceu em 1930 Não tem “parecido Raimunda” Começou com 13 anos. Hoje tem 56 + 30 partos Não sabe a conta. com D. Vera Lucia Barbosa Aldeia Belo Monte (T.I. Katukina/ 3 cursos. Kaxinawa) Josefa Barbosa Aldeia Belo Monte (T.I. Katukina/ 2 cursos Kaxinawa) Começou com 30 anos. Hoje tem 42 anos. + 10 partos Estefania Barbosa Ferreira Aldeia Paroá (TI Katukina/ Kaxinawa) 2 cursos Começou com 20 anos Atualmente tem 39 anos 15 partos anotados Não fez curso. Faz um ano que começou a 3 partos pegar criança. Auxiliadora Kaxinawa Sergia Aldeia Paroá (TI Katukina/ Kaxinawa) Fátima Kaxinawa de Matos Nova Olinda (TI Kaxinawa de Nova 1 curso Olinda) Nunca fez parto Faz 3 anos criança. que pega 7 partos. 120 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Maria Lenilse de Araújo Aldeia Paroá Pereira /Kaxinawa) Maria Diva Martin Maria Helena Brandão Santa Batista Shanenawa Goreti Batista Shanenawa (T.I. Katukina Não fez curso Aldeia Nova Esperança (TI Seringal Não fez curso Curralinho) Silvino Aldeia Cardoso /Kaxinawa) Brandão (TI Katukina 3 cursos Aldeia Nova Vida (TI Katukina 2 cursos /Kaxinawa) Brandão Aldeia Nova Vida (TI Katukina /Kaxinawa) Não fez. Francilene Maciel Maria Kaxinawa Antônia Carlos Brandão Zenilde Barbosa da Silva Maria das Graças Pereira Aldeia Formoso (TI Nova Olinda) Aldeia Formoso (TI Nova Olinda) Aldeia Morada Nova (TI Katukina/Kaxinawa) Aldeia Pupunha /Kaxinawa) (T.I. Katukina Aldeia Grota Curralinho) (TI Seringal 2 cursos Há 6 meses. Ainda não pegou sozinha, mas acompanha nos partos. Há 1 ano. 2 partos. Começou no ano de 2000. 1 parto sozinha. Começou com 40 anos. Hoje tem 76 anos. 37 partos Começou com 10 anos. Hoje tem 33 anos. 8 partos Começou com 15 anos. Hoje tem 46 anos. 23 partos 2 cursos Começou a fazer com 18 Não tem a conta. Depois do curso de 2004, 4 anos. Tem 45 anos partos. 2 cursos Começou com 14 anos. Tem 64 anos. Não fez. Começou agora, com 21 Nunca fez parto. anos. 2 cursos 200 e poucos partos. Começou a fazer com 14 23 partos anos.Hoje tem 52. 121 Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Xereteia Kampa Atxoeni Kampa Aldeia Alto Bonito Jaminawa/Envira) Aldeia Alto Jaminawa/Envira) Bonito Aldeia Paroá Maria Gleiciane Fernandes Katukina/Kaxinawa) de Matos Raimunda de Nascimento Aldeia Morada Brandão Katukina/Kaxinawa) (TI Nunca fez. (TI Não participou de nenhum curso. (TI Nova Marilda da Silva Gomes Aldeia Morada Nova (TI Katukina/Kaxinawa) Maria Iraci Brandão Aldeia Morada Katukina/Kaxinawa) Nova Começou com 15 anos. Tem cerca de 70 anos. (TI (TI 36 partos 6 partos Não fez. Desde 2001. Nasceu em 1961 4 cursos 54 partos registrados entre Começou “meninazinha, 1998-2002. não tinha peito”. Nasceu em 1938 3 cursos Começou com 19 anos. Hoje tem 59 anos. 3 cursos Começou com 20 anos. Hoje tem 64 anos. 12 partos. 8 partos só indígenas. + 100 partos. Maria Dinah Kaxinawa Aldeia Nova Olinda Katukina/Kaxinawa) (TI 2 cursos Começou com 12 anos. Não tem a conta. Hoje tem cerca de 60 “já peguei anos. criança” Mª das Graças Shanenawa Aldeia Nova Vida Katukina/Kaxinawa) (TI 2 cursos Começou com 25 anos. Não tem a conta, mas Hoje tem 56 anos. anota em caderno. Albeci Brandão Araújo Aldeia Morada Nova Katukina/Kaxinawa) (TI Não fez curso. Começou faz 1 ano. muita 5 partos. 122 Anexos – Cadastro de pajés que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Cadastro de pajés que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Nome Aldeia (T.I.) José Brandão Aldeia Paredão Katukina/Kaxinawa) Valdemir Ferreira Paulino Manoel Gomes Albeci Atuação (TI Pajé (tira remédio; reza nas crianças quando estão doentes; trabalha para tirar doença) “Hoje tem doença que o pajé não resolve, doença infantilzinha, pneumonia” Aldeia Morada Nova (T.I.. Pajé. Usa plantas medicinais para curar vários tipos de doenças, entre elas algumas Katukina/Kaxinawa) relacionadas com o ciclo reprodutivo da mulher. Trabalha como pajé faz 10 anos. Niipëitapiã: “aquele que sabe de plantas medicinais” Ferreira Aldeia Cardoso (T.I. Pajé (pajé no espiritismo, de rezar para o yuxin voltar; de plantas (Niipëitapiã). Katukina/Kaxinawa) Maria Batista Shanënawa Aldeia Morada Nova(T.I.. Pajé Tem 81 anos. Aprendeu a pajelança desde criança, com sua avó. Ela é tsimuya (lit. Katukina/Kaxinawa) “aquele que tem amargo”): a través do assopro e a massagem (shëyua) extrai a dor e a doença. Durante a cura, incorpora um yuxin (“espírito”) que leva doença embora. 123 Anexos – Tabela de Gestantes por Aldeia Tabela de gestantes por aldeia (Municípios de Tarauacá e Feijó) T.I. Etnia Aldeia Porto Brasil T.I. Rio Humaitá Huni Kuin São Vicente Novo Futuro T.I. Colônia 27 Huni Kuin Colônia 27 Mucuripe T.I. Carapanã Huni Kuin Morada Nova Carapanã Caucho 18 Praia T.I. Igarapé do Caucho Huni Kuin Tamandaré Nova Aldeia Katukina T.I. Rio Gregório Yawanawa T.I. Primavera Kampa Shanënawa 2 1 4 3 2 2 6 7 3 4 3 Sete Estrela 5 Mutum 6 Escondido 2 Matrinchã 1 Nova Esperança 17 Primavera Kampa 2 Paredão T.I. Katukina/Kaxinawa Nº de Grávidas (março 2006) 0 Cardoso 1 Nova Vida 6 Morada Nova 9 124 Anexos – Tabela de Gestantes por Aldeia Pupunha Huni Kuin Seringal Curralinho 5 Belo Monte Paroá 1 (muitas) Nova Esperança 1 Huni Kuin Grota T.I. Kaxinawa de Nova Olinda Formoso 4 Huni Kuin Nova Olinda Alto Bonito T.I. Jaminawa/Envira 3 Kampa Jaminawa 125 Anexo – Convite para a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS Convites CONVITE À Comunidade _______________da Terra Indígena ______________ Informamos o início do Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” cujos objetivos são valorizar o trabalho das parteiras e dos pajés que já atuam na assistência ao parto e refletir sobre como articular suas práticas com o sistema oficial de saúde. Como um dos métodos de trabalho, realizaremos a 1ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e Agentes Indígenas de Saúde na aldeia Martin (Katukina/Campinas), onde prevemos a participação de representantes dos povos indígenas das terras indígenas da região de Cruzeiro do Sul (Campinas/Katukina, Jaminawa do Igarapé Preto, Jaminawa Arara do Rio Bagé, Kampa do Rio Amônea, Arara Igarapé Humaitá, Arara do Rio Amônea, Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu, Nawa, Poyanawa e Nukini). O objetivo da reunião é possibilitar a troca de experiências dos participantes, bem como realizar um levantamento dos problemas, vivenciados pelas comunidades, relacionados à assistência de saúde hoje oferecida. Assim, solicitamos que essa comunidade defina conjuntamente com as demais comunidades de seu povo indígena pertencentes à(s) terra(s) indígena(s) acima listada(s) 03 (três) representantes (01 parteira, 01 pajé e 01 agente indígena de saúde) para participarem da das 1ª Reunião a ser realizada entre os dias 15 a 19 de fevereiro de 2006. Informamos que nos 2 últimos dias desta reunião, estarão presentes os profissionais de saúde que atuam na região para manter um diálogo com os participantes indígenas. Esperamos a indicação dos representantes de seu povo indígena para os necessários planejamentos operacionais (deslocamento, alimentação e outros). Comunicaremos antecipadamente qualquer alteração na programação. Atenciosamente, SITOAKORE OLHAR ETNOGRÁFICO PROJETO VIGISUS II / FUNASA NESSI / UFSC 126 Anexo – Convite para a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS CONVITE Às Comunidades das Terras Indígenas da região de Tarauacá Informamos sobre o início do Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” cujos objetivos são: valorizar o trabalho das parteiras e dos pajés que já atuam na assistência ao parto e refletir sobre como articular suas práticas com o sistema oficial de saúde. Como um dos métodos de trabalho, realizaremos a 2ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e Agentes Indígenas de Saúde na aldeia Caucho (TI Igarapé do Caucho), onde prevemos a participação de representantes dos povos indígenas das seguintes terras indígenas da região de Tarauacá: Kaxinawá do Rio Humaitá, Kaxinawa da Praia do Carapanã, Yawanawa e Katukina do rio Gregório, Kaxinawa da Colônia Vinte e Sete, Kampa do Igarapé Primavera, Kaxinawa do Baixo Jordão, Kaxinawa do Rio Jordão, Kaxinawa do Seringal Independência, Kaxinawa do Igarapé do Caucho. O objetivo da reunião é possibilitar a troca de experiências dos participantes, bem como realizar um levantamento dos problemas vivenciados pelas comunidades, relacionados à assistência à saúde da mulher hoje oferecida. Assim, solicitamos que cada etnia defina junto com suas comunidades pertencentes a sua terra indígena, 03 (três) representantes (01 parteira, 01 pajé e 01 agente indígena de saúde, de preferência mulher) para participarem da 2ª Reunião a ser realizada entre os dias 13 a 17 de março de 2006. Informamos que nos 2 últimos dias desta reunião, estarão presentes os profissionais de saúde que atuam junto as comunidades da região para manter um diálogo com os participantes indígenas. Os participantes que tiverem produtos para vender (banana, arroz, feijão, amendoim, pupunha, carne, peixe) podem trazer para ajudar na alimentação durante a reunião. Se for possível, avisar pelo rádio o que as pessoas estão trazendo. Comunicaremos antecipadamente qualquer alteração na programação. Atenciosamente, SITOAKORE OLHAR ETNOGRÁFICO PROJETO VIGISUS II / FUNASA NESSI / UFSC 127 Anexo – Convite para a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS CONVITE Às Comunidades das Terras Indígenas da região de Feijó Informamos sobre o início do Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” cujos objetivos são: valorizar o trabalho das parteiras e dos pajés que já atuam na assistência ao parto e refletir sobre como articular suas práticas com o sistema oficial de saúde. Como um dos métodos de trabalho, realizaremos no período do dia 27 a 31 de março a 3ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e Agentes Indígenas de Saúde na Aldeia Morada Nova (TI Katukina/Kaxinawa), onde prevemos a participação de representantes dos povos indígenas das seguintes terras indígenas da região de Feijó: Jaminawa/Envira; Kampa e Isolados do Rio Envira; Katukina/Kaxinawa; Kaxinawa do Nova Olinda; Kaxinawa do Curralinho; Kulina do Igarapé do Pau; Kulina do Rio Envira. O objetivo da reunião é possibilitar a troca de experiências dos participantes, bem como realizar um levantamento dos problemas vivenciados pelas comunidades, relacionados à assistência à saúde da mulher hoje oferecida. São convidados a participar da reunião de Feijó três representantes (01 parteira, 01 pajé e 01 Agente Indígena de Saúde de preferência mulher) das seguintes TIs: 3 representantes Kulina da TI Jaminawa/Envira; 3 representantes Ashaninka da TI Jaminawa/ Envira; 3 representantes Ashaninka da TI Kampa e Isolados do Rio Envira; 3 representantes Shanenawa da TI Katukina/Kaxinawa; 3 representantes Kaxinawa da TI Katukina/Kaxinawa; 3 representantes Kulina da TI Kulina do Igarapé do Pau; 3 representantes Kulina da TI Kulina do Rio Envira; 3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa Nova Olinda; 3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa do Seringal Curralinho /Nukumã. Informamos que nos 2 últimos dias desta reunião, estarão presentes os profissionais de saúde que atuam junto às comunidades para manter um diálogo com os participantes indígenas. Os participantes que tiverem produtos para vender (banana, arroz, feijão, amendoim, pupunha, carne, peixe) podem trazer para ajudar na alimentação durante a reunião. Se for possível, avisar pelo rádio o que as pessoas estão trazendo. Comunicaremos antecipadamente qualquer alteração na programação. Atenciosamente SITOAKORE/ OLHAR ETNOGRÁFICO / VIGISUS II - FUNASA 128 Anexo – Documento de Diretrizes Documento de Diretrizes Diretrizes para a 3° Reunião de Parteiras, Pajés e AIS que será realizada na Aldeia Morada Nova da TI Katukina/Kaxinawá entre os dias 27 a 31 de março, através do Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e Sul do Amazonas”. 1. São convidados a participar da reunião de Feijó três representantes (01 parteira, 01 pajé e 01 Agente Indígena de Saúde de preferência mulher) das seguintes TIs: 3 representantes Kulina da TI Jaminawa/Envira; 3 representantes Ashaninka da TI Jaminawa/ Envira; 3 representantes Ashaninka da TI Kampa e Isolados do Rio Envira; 3 representantes Shanenawa da TI Katukina/Kaxinawa; 3 representantes Kaxinawa da TI Katukina/Kaxinawa; 3 representantes Kulina da TI Kulina do Igarapé do Pau; 3 representantes Kulina da TI Kulina do Rio Envira; 3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa Nova Olinda; 3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa do Seringal Curralinho/Nukumã. 2. Solicitamos aos participantes chegarem o mais próximo possível do dia de início da Reunião, trazerem CPF e RG (quando tiverem) e também, se possível, virem em uma única embarcação. O gasto de combustível será coberto pelo projeto e também será oferecida uma ajuda alimentação para os participantes. 3. Na reunião de Feijó será necessário um monitor Ashaninka e um monitor Kulina. Solicitamos que a OPIRE (Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira) indique os monitores. Os monitores têm por papel auxiliar na organização do evento, no desenvolvimento das atividades e na tradução das discussões. 4. As três cozinheiras e o lenhador deverão ser escolhidos pela comunidade onde será realizada a Reunião (Aldeia Morada Nova), em acordo com a equipe executora. 5. Os participantes que tiverem produtos para vender (banana, arroz, feijão, amendoim, pupunha, carne, peixe) podem trazer para ajudar na alimentação durante a reunião. Se for possível, avisar pelo rádio o que as pessoas estão trazendo. Contamos com a presença de todos! Atenciosamente Equipe Executora 129 Anexo – Tabela dos pólos base Tabela dos pólos-base do DSEI Alto Juruá, número de população indígena e número de enfermeiros por pólo. População indígena Atendida (2005) Equipe12 • Campinas/Katukina • Jaminawa-Arara do Igarapé Preto 649 1 enfermeira Mâncio Lima • • • 1049 2 enfermeiros Marechal Thaumaturgo • Kampa do Rio Amônea • Jaminawa-Arara do Bagé • Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu • Arara do Rio Amônea 1128 2 enfermeiros Porto Walter • Arara do Igarapé Humaitá 379 Pólo-base Cruzeiro do Sul Jordão Tarauacá 12 T.Is Atendidas Nawa Poyanawa Nukini • Kaxinawa do Baixo Jordão • Kaxinawa do Rio Jordão • Kaxinawa do Rio Humaitá • Igarapé do Caucho • Kampa do Igarapé Primavera • Kaxinawa Praia do Carapanã • Rio Gregório • Kaxinawa da Colônia Vinte e Sete • Seringal Independência 1906 2 enfermeiros 1943 2 enfermeiros 2 auxiliares de enfermagem Apenas contamos com informações sobre a equipe completa de alguns dos pólos. Nos outros casos, apenas colocamos o número de enfermeiros. 130 Anexo – Tabela dos pólos base Feijó • - Kaxinawa do Seringal Curralinho/Nukumã • - Yaminawa/Envira • - Kampa e Isolados do Rio Envira • - Katukina/Kaxinawa • - Kaxinawa Nova Olinda • - Kulina do Igarapé do Pau • - Kulina do Rio Envira 2377 2 enfermeiras 4 auxiliares de enfermagem 1 odontólogo 1 especialista e saneamento 131 Anexo – Declaração de comprometimento de Luciane Ouriques Ferreira Declaração de comprometimento de Luciane Ouriques Ferreira para repassar cópia das gravações realizadas durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS às comunidades envolvidas. Eu, Luciane Ouriques Ferreira, Gerente da Área de Medicina Tradicional Indígena, Projeto VIGISUS/ FUNASA, me comprometo a providenciar 01 (uma) cópia da gravação da 2º Reunião de Parteira, Pajés e AIS, do Projeto de Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto das Etnias do Acre e Sul do Amazonas, celebrada na Aldeia Caucho, TI Igarapé do Caucho, Município de Tarauacá, entre os dias 13 a 17 de março, para cada Terra Indígena presente nesta reunião (Kaxinawá do Rio Humaitá, Igarapé do Caucho, Kampa do Igarapé Primavera, Kaxinawa Praia do Carapanã, Rio Gregório e Kaxinawá da Colônia Vinte e Sete), assim como dos dois relatórios técnicos que serão produzidos pelo Instituto Olhar Etnográfico ao VIGISUS, que, por sua vez, repassará á Sitoakore, que se responsabilizará em distribuí-lo entre as lideranças das TIs acima discriminadas. 16 de março de 2006, Tarauacá/Acre. 13 _________________________________________ 13 132 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore Relatório do primeiro trimestre do projeto, elaborado pelas integrantes da Sitoakore que formam parte da equipe executora. ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES INDÍGENAS DO ACRE, SUL DO AMAZONAS E NOROESTE DE RONDONIA – SITOAKORE. INSTITUTO OLHAR ETNOGRAFICO RELATÓRIO DE ATIVIDADES PRIMEIRA OFICINA “ VALORIZAÇÂO E ADEQUAÇÂO DOS SISTEMA DO PARTO TRADICIONAL DAS ETNIAS INDEGINAS DO ACRE E SUL DO AMAZONAS” Local: Terra Indígena Campinas/Katukina, aldeia Campina, município de Cruzeiro do Sul, Estado do Acre. Período: 09 a 25 de fevereiro de 2006. Março de 2006. 133 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore Equipe Responsável pela realização da Oficina: Letícia Luiza - Yawanawa Coordenadora da SITOAKORE Edina Carlos Brandão - Shanenawa Vice-Coordenadora da SITOAKORE Laura Perez VIGISUS Juliana Rosalen Instituto Olhar Etnográfico 134 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore APRESENTAÇÃO Apresentaremos no decorrer desse relatório, as atividades realizadas durante a preparação e realização da Primeira Oficina “Valorização e Adequação dos Sistemas do Parto Tradicional das Etnias indígenas do Acre e Sul do Amazonas”, realizado nos dias 02 a 25 de fevereiro de 2006, na terra indígena Campinas/Katukina aldeia campina, município de Cruzeiro do Sul, Estado do Acre, na qual participaram 32 lideranças entre elas parteiras, pajé, Agente Indígena de Saúde e representante de Mulheres indígena, dos povos Katukina, Jaminawa-Arara, Arara, Kaxinawá, Nukini e Nawa das terras indígenas do Vale do Juruá. ATIVIDADES REALIZADAS Inicialmente, nós da Organização SITOAKORE tivemos reunidas no escritório Juntamente com Juliana e Laura para encaminharmos algumas atividade que faltava para a devida realização da oficina, como por exemplo: material de consumo e alguns recibos que tinham para assinar referente a monitora e, dependendo do que estava faltando para ser usado durante a oficina. Após a reunião, Juliana e Laura foram fazer tomada de preços para comprar o que estava precisando de material para oficina. Laura apresentou o documento que já tínhamos recebido também por e- mail sobre a saída da Eliza e a entrada da Juliana no projeto. A referida reunião foi realizada no dia 06 /02 /2006. 135 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore No dia seguinte nos reunimos novamente com Laura e Juliana para esclarecermos algumas duvidas referente as monitoras indígenas e fazermos os últimos acertos antes da viagem para Cruzeiro do Sul. DIA 8/02 /06 Eu. Edina Carlo Brandão, vice Coordena da SITOAKORE, sai juntamente com Laura Peres – VIGISUS e Juliana Rosalen do Instituto Olha Estenográfico com destino ao município de Cruzeiro do Sul para prepararmos a logística da oficina no referido município. A Sra. Letícia Luiza YAWANAWA Coordenadora da SITOAKORE não pôde ir junto no mesmo dia em virtude de sua agenda de trabalho em Rio Branco pois a mesma tinha que participar da reunião com o Sr. Francisco da S. Pianko - Secretario dos povos Indígenas. Mais no dia seguinte ela também seguiu para Cruzeiro do Sul. Edina, Juliana e Laura chegando no Aeroporto de CZS não tinha ninguém nossa espera. Tomamos um Táxi seguimos para Hotel Salvoni, situado enfrente ao escritório da Organização dos povos indígenas do Rio Juruá (OPIRJ) Edina, Laura e Juliana no dia seguinte foi o escritório da Organização para conversa com o coordenador Sr. Luiz Valdenir o mesmo deu as boas vinda a todas e disse que quando recebeu o comunicador da oficina imediatamente repassou para as comunidade através de mensagem pela radio verde floresta e radiofonia do pólo base depois dos informes, Eu Edina vice coordenara deixei uma reunião marcado para informar a cerca do trabalho da organização Sitoakore e da oficina. DIA 10/ 02/06 Conforme a reunião marcada do dia anterior, nos reunimos no escritório da Opirj onde estavam presentes: Paulo Arara tesoureiro e helena Arara secretaria da Opirj , Edina e Letícia da Sitoakore e Fernando katuquina Chefe de posto da Funai -CZS onde discutimos a seguinte pauta: 136 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore 01) o trabalho com artesanato das comunidades Indígenas; 02) o encontro regional de mulheres Indígenas e outras atividade que nòs da organização Vem exercendo conforme o nosso estatuto e, 03) informes sobre o projeto com o VIGISUS, a oficina e indicação de uma monitora indígena da região do Juruá, bem como o seu respectivo trabalho durante a oficina. DIA 11/02/06 Às 9:00hs da manhã eu, Edina, Letícia e Helena Arara fomos em três supermercado fazer coleta de preços da alimentações para oficina. Apòs isso seguimos para OPIRJ para entrarmos em comtato com as comunidade reiterando o convite e confirmando a participação de seus respectivos representantes na oficina. Ficamos aguardando e recebendo as pessoa que estavam chegando. DIA13/02/06 As 8:00h Eu, Edina, Letícia, Laura e Juliana fomos fazer as compras e outras atividade que faltava a ser encaminhado. Das 14 as 16:30h reunião na Funasa juntamente com o senhor Alcir Chefe do Distrito do Alto Juruá e Railda da FUNASA, Alessandro da SEPI, Letícia e Edina do SITOAKORE , Helena da OPIRJ, Laura e Juliana. Letícia repassou informes do projeto da oficina que ia realizar na terra Indígenas Katuquina do Campinas, e repassou sobre a participação das equipe de saúde que seria três dias após da oficina .e Alcir falou para todos presente 137 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore que essa oficina é de grande importância e que era pela premeira vez que estava sendo feito essa oficina e que importante para os AIS, Parteira e Pajè. e que estava fazendo projeto de aperfeiçoamento de parteira. Railda pediu os dados da parteira para Letícia, e a Laura perguntou para o Alcir como que ficaria o transporte para leva os participante da oficina Alcir respondeu que não se preocupasse que não tinha carro disponível mais tinha carro para leva e trazer as pessoas que ia participa da oficina. Eu e Letícia saímos de CZS para terra Indígenas do Campinas, fomos de TOYOTA da Funasa levando alimentos, chegando na aldeias Campinas tivemos que ir pega outra participante da aldeia Bananeira Urucu, Martins e Samauma que ficam distante uma da outra e ver também os alimento que ia ser comprado da aldeia e organizar a oficina. DIA 15/02/06 Eu e Letícia ficamos esperando as participante chegar para ser realizar a oficina Laura e Juliana chegaram 12:00h da manhã Juntamente com as participante porque estava chovendo muito, a abertura da oficina inicio as 14:hs, com apresentação de cada participante. DIA 16/02/06 Inicio da reunião 8:00h da manhã. Informando sobre o projeto Temas: como cuida da grávida e cuidado com o recenacido e amamentação Encerramento as 17:00h Durante a noite nos reunimos com as mulheres indígenas. 138 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore - Informe sobre a organização SITOAKORE; - Qual o trabalho da organização; - Encaminhamento de projeto; - Trabalho com jovem; - Artesanato; - Encontro regionais de mulheres indígenas; Encerramento as 10:hs da noite. DIA 17/02/06 Inicio as 8:00h da manhã com o tema: Qual o trabalho do Ais pajè com a parteira; Qual a dificuldade que parteira enfrenta por Ais ser Homem e a tarde foi sobre qual a diferencia do parto da aldeia para cidade e trabalho em grupo . Encerramento as 17: hs da tarde. No mesmo dia Letícia teve que sair para acompanhar o Seminário Ciencia e Saber na Amazonia: O valor do conhecimeento que estava sendo realizando pelo Governo do Estao através da Procuradoria Geral do Estado, Secretaria dos Povos Indígenas, Secretaria de Meio Ambiente em parceria com a ONG AMAZONLINK, realizado na cidade de CZS, onde estavam presentes representantes indígenas de todas as regiões do Acre, seringueiros e ribeirinhos noossa Organização tinha sido convida e que e de grande importância organização, eu fique na aldeia para acompanha a oficina. DIA /18/02/06 139 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore Troca de experiência entre pajè, Ais ,parteira e representante de mulheres Indígenas e apòs trabalho em grupo foi feito também proposta para as equipe de saúde. Encerramento as 16 00h da tarde DIA/ 19/ 02/06 Ficamos aguardando as Equipe de saúde chegar na aldeia chegaram as 11: 45 da manhâ e apòs o almoço retornamos as 1: da tarde para da o inicio da reunião com as equipe para fala referente a saúde Indígenas e como esta sendo o trabalho nas aldeia e qual a dificuldade. no dia seguinte fizemos o pagamento das pessoas do auxilio transporte e alimentação após cumprindo com as atividade Edina e Letícia viajemos com o destino a CZS para fazer o pagamento das pessoa que faltava e Laura , Juliana ficou na aldeia para termina os documento que faltava como proposta e que tinha tirado como Encaminhamento. DIA/21/02/06 Participemos da Reunião sobre a Universidade da Floresta no centro de treinamento da Diocese de CZS. Onde estava presente: Ribeirinho povos indígenas, extrativistas e representante das Organização: OPIRJ,SITOAKORE, OPIAC, Assessor Indígena do Alto Juruá e Sepi onde teve discussões muito importante principalmente como se dará o acesso dos povos da floresta na Universidade, proposta de cursos que atenda a diversidade das comunidades indígenas e demais povos da floresta, assim 140 Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore como o funcionamento de uma Universidade com um modelo diferente das demais. DIA /22/02/06 Nós da equipe fizemos avaliação da oficina. Eu e Letícia tivemos que viajar para Rio Branco por que não tinha estrutura para fazer o nosso relatório. Com relação a nossa passagem foi pago 78,00 (setenta e oito reais) por pessoa por antecipação da data de embarque. Pela diferencia dos dias antecipado que estava previsto. CONCLUSÃO Esse trabalho foi muito positivo e mais um avanço considerável para nós povos indígenas, pois possibilitou o encontro e o trabalho conjunto dos pajé, parteira e agente indígena de saude. Teve muita participação dos participantes falando das suas experiencias, tirando as suas duvidas ensinando e aprendendendo. Faz-se necessário à continuação de experiências como essas que promovam trocas de experiencias e principalmente o respeito mutuo entre o conhecimento tradicional e o conhecimento cientifico. 141 Consolidados epidemiológicos coletados 142 Anexo 1 - Programações 143