Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das

Transcrição

Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das
PROJETO: “Valorização e Adequação dos
Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas
do Acre e do Sul do Amazonas”
Fotografia 1: Aldeia Morada Nova. Crianças
kampa.
RELATORIO DE ATIVIDADES (1º PRODUTO)
(DEZEMBRO 2005 – MARÇO 2006)
FLORIANÓPOLIS/SÃO PAULO, 20 DE ABRIL DE 2006.
EQUIPE TECNICA EXECUTORA
Laura Pérez Gil – Coordenação antropológica e administrativa (NESSI/UFSC)
Juliana Rosalen – Coordenação antropológica e administrativa
Edina Carlos Brandão – Monitora shanenawa (Sitoakore)
Letícia Luiza Yawanawá – Apoio administrativo (Sitoakore)
2
INDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6
ENUMERAÇÃO DAS ATIVIDADES .................................................................. 7
1.
1ª OFICINA DE TRABALHO..................................................................... 8
2.
REUNIÕES DA EQUIPE EXECUTORA .................................................. 11
1.1
Conformação e papéis da equipe executora ..................................................... 11
1.2
Temas tratados .................................................................................................... 11
1.3
Infraestrutura...................................................................................................... 13
2
REUNIÕES NO DSEI ALTO JURUÁ E NOS PÓLOS-BASE DE
CRUZEIRO DO SUL, TARAUACÁ E FEIJÓ. .................................................. 14
2.1
Apresentação do projeto às equipes multidisciplinares................................... 16
2.2
Apresentação preliminar das informações levantadas .................................... 17
2.3
Especificidades de cada pólo e de sua equipe. .................................................. 19
3
REUNIÕES DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS .......................................... 21
3.1
Articulações com as organizações indígenas locais. ......................................... 22
3.2
Aspectos metodológicos ...................................................................................... 23
3.2.1. Construindo metodologias.....................................................................................................23
3.2.2. Monitoria: adentrando nas relações entre os grupos .............................................................28
3.2.3. Considerações a respeito do registro áudio-visual ................................................................30
3.3
1º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................................................. 32
3.3.1. Desenvolvimento da reunião .................................................................................................33
3.3.2. Participação e especificidades da interação entre os grupos indígenas participantes ............37
3.3.3. Reunião com os profissionais de saúde. ................................................................................40
3.4
2º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................................................. 44
3.4.1. Desenvolvimento da reunião .................................................................................................44
3.4.2. Interação entre parteiras pajés e AIS e entre os vários grupos indígenas participantes.........49
3.4.3. Reunião com os profissionais de saúde. ................................................................................51
3.5
3º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................................................. 52
3.5.1. Desenvolvimento da reunião .................................................................................................53
3.5.2. Interação entre os grupos indígenas participantes .................................................................60
3.5.3. Reunião com os profissionais de saúde. ................................................................................63
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS:............................................................................ 66
ANEXOS .......................................................................................................... 72
Programações................................................................................................................ 72
Lista de participantes (função, TI, aldeia). ................................................................ 78
Documentos produzidos ............................................................................................... 88
Transcrição dos cartazes produzidos durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS pelos grupos
de trabalho.......................................................................................................................................88
Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ..............93
Transcrição dos Cartazes produzidos durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, pelos
representantes de cada T.I. a respeito dos problemas de saúde que enfrentam e as propostas de
solução ..........................................................................................................................................100
Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ............112
Cadastro das parteiras (Tarauacá e Feijó)............................................................... 116
Cadastro das Parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ........................116
Cadastro das Parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ........................120
Cadastro de pajés que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS................................123
Tabela de gestantes por aldeia (Municípios de Tarauacá e Feijó) ......................... 124
Convites ....................................................................................................................... 126
Documento de Diretrizes............................................................................................ 129
Tabela dos pólos-base do DSEI Alto Juruá, número de população indígena e
número de enfermeiros por pólo. .............................................................................. 130
Declaração de comprometimento de Luciane Ouriques Ferreira para repassar
cópia das gravações realizadas durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS às
comunidades envolvidas............................................................................................. 132
Relatório do primeiro trimestre do projeto, elaborado pelas integrantes da
Sitoakore que formam parte da equipe executora. ................................................. 133
Consolidados epidemiológicos coletados .................................................................. 142
4
Siglas
Sitoakore – Organização das Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e
Noroeste de Rondônia.
AIS - Agente Indígena de Saúde
AISAN - Agente Indígena de Saneamento
AAF – Agente Agroflorestal
DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena
OPIRE – Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira..
OPIRJ – Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá.
OPITAR – Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá
OAEYRG – Organização dos Agricultores Extrativistas Yawanawa do Rio
Gregório.
T.I. – Terra Indígena
SUS – Sistema Único de Saúde
SIASI – Sistema de Informações de Saúde Indígena
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis
GMI – Grupo de Mulheres Indígenas
UNI/AC – União Nacional Indígena /Acre
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Introdução
O presente relatório se refere às atividades desenvolvidas durante o primeiro
período de execução do projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto
Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas”. Os objetivos
pretendidos com este produto são descrever as atividades executadas e produzir uma
avaliação preliminar de seus desenvolvimentos, da construção das metodologias e dos
resultados alcançados. Esta primeira reflexão também tem por intuito fornecer subsídios
para o planejamento da próxima etapa do projeto que ocorrerá na região do Alto Purus.
As atividades aqui descritas visam cumprir os objetivos definidos no projeto, a
saber: incentivar e valorizar o trabalho das parteiras e dos pajés; suscitar reflexões
acerca das possibilidades e limites da articulação do trabalho desses agentes com o
sistema oficial de saúde; produzir conhecimentos sobre práticas e concepções
tradicionais indígenas referentes aos processos de concepção, gestação, parto, pós-parto
e amamentação para subsidiar políticas de saúde diferenciada; realizar um diagnóstico
sobre a situação atual da saúde, especialmente a materno-infantil, das populações alvo,
nas aldeias e na cidade; avaliar o impacto do curso de Aperfeiçoamento de Parteiras
Tradicionais Indígenas.
Além desses objetivos, o desenvolvimento das atividades está permitindo
produzir um diagnóstico sobre outros aspectos intimamente relacionados às questões do
projeto: representações dos participantes das reuniões acerca dos partos nos hospitais e
maternidades; reflexões acerca do contato com os nawa ou cariú1 e seu impacto no
sistema sócio-cultural dos grupos; formas possíveis de colaboração e limites quanto à
atuação conjunta dos diversos agentes indígenas - reconhecidos pela sociedade nãoíndia - que trabalham com a saúde nas comunidades (parteiras, pajés, AIS, AISAN,
1
Na região, os “brancos” são denominados pelos grupos indígenas da região – e muitas vezes
pela população não-indígena – como cariú ou nawa. Este último é um termo pano que designa a categoria
social mais externa, com a conotação, muitas vezes, de “inimigo”. Nos etnônimos de muitos grupos pano
este termo funciona como sufixo indicando uma coletividade. Ex.: Yawanawa (lit. “gente queixada”):
yawa = queixada / nawa = gente. Para uma reflexão aprofundada do termo nawa entre os povos pano ver
Calavia (2002) e Keifenhein (1990).
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Agente Agroflorestal); percepção das representações dos profissionais de saúde quanto
às práticas de saúde tradicionais indígenas; reflexão sobre os processos de revitalização
cultural, especialmente aqueles relacionados à medicina tradicional; reflexão sobre o
histórico das políticas de saúde indígena na região.
É importante destacar que a execução das atividades tem gerado ramificações
que extrapolam o âmbito previsto, embora não sendo possível desenvolvê-las com mais
profundidade no marco deste projeto. Estas não se limitam à questão dos sistemas de
parto tradicionais, referindo-se a várias temáticas, tais como: parceria entre
organizações indígenas e não-indígenas; impacto de projetos nas relações políticas entre
as próprias organizações indígenas e destas com as comunidades; problemáticas
advindas da questão dos registros áudio-visuais; o papel e a representatividade das
instâncias de reivindicação política (Conselhos Locais e Distritais, organizações
indígenas, FUNAI, etc) no âmbito da saúde indígena, entre outros.
Estas temáticas mencionadas estarão permeando a descrição das atividades, de
forma a evidenciar a complexidade política dos contextos e das redes de relações
quando se constrói espaços de reflexão.
Enumeração das Atividades
Durante o período referente aos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março
foram desenvolvidas as seguintes atividades:
1. 1ª Oficina de Trabalho realizada em Rio Branco entre os dias 07 a 10 de
dezembro de 2005.
2. Reuniões internas da equipe executora relativas ao planejamento das
atividades, logística, conteúdo e metodologia das reuniões.
3. Reuniões com as organizações indígenas locais para consolidar o apoio e
definir aspectos logísticos referentes à chegada dos participantes nos
locais da reunião.
4. Reuniões no DSEI Alto Juruá em Cruzeiro do Sul e nos pólos-base de
Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó para apresentação do projeto, definição
do apoio logístico, entrevista com os profissionais de saúde e
levantamento dos dados epidemiológicos.
7
5. Três reuniões de Parteiras, Pajés e AIS nos municípios de Cruzeiro do
Sul, Tarauacá e Feijó (Acre).
1. 1ª Oficina de Trabalho
Entre os dias 07 e 10 de dezembro de 2005 foi realizada em Rio Branco a
primeira das três Oficinas de trabalho contempladas no projeto. Esta oficina tinha como
finalidade planificar o início das atividades. Inicialmente estavam previstas uma reunião
entre as técnicas do projeto (Laura Pérez Gil e Maria Elisa Guedes Vieira), o diretor do
Instituto Olhar Etnográfico (Ricardo Calaça) e a representante da Área de Intervenção
em Medicina Tradicional/VIGISUS II (Stella Matta Machado) no dia 07, e outra
reunião entre eles e as representantes de Sitoakore (Letícia Luiza Yawanawa, Edna
Brandão) durante os dias 08 e 09. Porém, dado que Letícia Luiza Yawanawa, presidente
da Sitoakore não se encontrava em Rio Branco por causa de uma viagem, as reuniões
com as representantes de esta organização foram adiadas, acontecendo nos dias 09 e 10.
Na reunião entre técnicas, Instituto Olhar Etnográfico e VIGISUS foram
tratados temas referentes ao planejamento das atividades do projeto, tais como: a
possibilidade de realizar uma capacitação previa dos profissionais de saúde que seriam
convidados a participar das Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS; a necessidade de
contatar os DSEIs para fazer um levantamento dos profissionais que trabalham na
região; e um levantamento do equipamento apropriado para o registro das reuniões.
Quanto à questão dos DSEIs, a representante de VIGISUS informou sobre os
questionamentos colocados por membros do DSEI/Purus em relação ao presente
projeto, os conflitos de interesses que estão por trás desses questionamentos e o estado
da situação até aquele presente momento. As objeções ao projeto eram relativas,
principalmente, ao orçamento (considerava-se que a porcentagem dos recursos do
projeto destinados aos “brancos” era grande demais) e ao fato de se terem contratado
para executá-lo técnicos que não moram no Acre. Por trás de esta oposição da
responsável do DSEI do Alto Purus, à qual se somaram alguns dirigentes da
Organização Manchineri do Alto Iaco, parecia existir certo temor de que o presente
projeto interferisse em outro planejado pelo DSEI, que consistia na realização de cursos
de formação para parteiras indígenas. Entretanto, os dois projetos possuem objetivos
completamente distintos. O fato de que, finalmente, o projeto de formação de parteiras
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tenha se realizado sem interferências, parece que vem contribuindo para diminuir a
resistência da responsável do DSEI/Purus.
A reunião com as integrantes da Sitoakore foi tensa por ainda existirem malentendidos não resolvidos a respeito, principalmente, do orçamento. Mesmo que elas
tivessem participado ativamente na sua elaboração, as integrantes de Sitoakore fizeram
vários questionamentos: o fato de estar orçado um recurso para cobrir “Custos
Administrativos” para Olhar Etnográfico; a quantia destinada aos honorários das
técnicas foi considerada muito alta; o fato de não estarem destinados honorários às
integrantes da Sitoakore, apesar delas terem que desenvolver um trabalho que as
impossibilitaria de assumir qualquer outra atividade remunerada. Estes questionamentos
apontaram, em essência, para o mesmo ponto: existe um mal-estar derivado do
entendimento de que há recursos demais destinados aos participantes ‘brancos’ do
projeto, enquanto que a organização Sitoakore não receberia recursos suficientes,
produzindo-se assim um agravo comparativo. Uma boa parte do tempo da reunião foi
dedicada a negociar para se chegar a uma solução que satisfizesse todas as partes
envolvidas, uma vez que sem acordo, o projeto seria inviabilizado. Para chegar a tal,
alguns recursos foram remanejados como consta nos ofícios apresentados à Gerência da
Área de Medicina Tradicional do VIGISUS II.
Existe, por outro lado, uma questão que permeou as reuniões, não
completamente desligada deste mal-estar em relação ao destino dos recursos e que já
tinha sido manifestada durante os encontros prévios em Brasília: as representantes da
Sitoakore alegaram que existe uma rejeição entre as populações indígenas de qualquer
atividade que implique em pesquisa junto a eles. A pesquisa é entendida como uma
espécie de “roubo”, já que se considera que o pesquisador obtém alguma coisa de valor
dos povos indígenas (neste caso informação) e que de posse desse conhecimento vai
ganhar muito dinheiro, não fornecendo, em geral, nenhum retorno, nem recursos para as
comunidades. Tratamos de explicar que a pesquisa implicada no projeto não deveria, de
forma alguma, ser entendida nesses termos e que seu objetivo era de obter informações
para ajudar a entender a situação e os problemas relativos à saúde materno-infantil, para
então propor soluções com o intuito de melhorar a vida das populações indígenas.
Apesar dos impasses a respeito desses temas, foi possível chegar a um acordo
negociado que satisfez a todos. Um acerto importante para o desenvolvimento do
projeto foi que duas integrantes da Sitoakore irão acompanhar todas as reuniões: a
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presidente, Letícia Luiza Yawanawa, enquanto presidente da organização e realizando
funções de apoio administrativo, e Edina Carlos Brandão cumprindo as tarefas de
monitora. O cumprimento destas funções, para as quais se solicitou à Gerente da Área
de Medicina Tradicional/VIGISUS II a aprovação de remuneração através do
remanejamento de recursos, implicou, principalmente, no auxílio das técnicas na
organização das reuniões, especialmente em todas as questões relacionadas com a
logística; na mediação da relação com as comunidades e as organizações indígenas; e no
acompanhamento das reuniões, assumindo o papel de conduzir as discussões durante as
mesmas conforme as diretrizes acordadas com as técnicas.
Outras questões foram consideradas ao longo da reunião:
Dado que tinham surgidos gastos que não tinham sido considerados no
orçamento, e não existindo recursos suficientes, decidiu-se por eliminar uma
das reuniões programadas, à que deveria ser realizada no município de Assis
Brasil (na qual participariam habitantes do Alto Iaco e da cabeceira do Rio
Acre). Decidiu-se cancelar esta, já que era a que menos população indígena
abrangia. Considerou-se que a melhor opção seria que as comunidades
previstas para participar da reunião de Assis Brasil o fizessem na de Sena
Madureira, já que não haveria problemas relativos ao transporte (os rios Iaco
e Acre são afluentes do Purus, onde seria realizada a reunião de Sena
Madureira).
Foi redefinido o cronograma de atividades em função da recente liberação
dos recursos. Numa reunião realizada em Brasília em junho de 2005 entre
as técnicas, a Sitoakore, o Instituto Olhar Etnográfico e a representante da
Área de Medicina Tradicional/VIGISUS II, se tinha definido um
cronograma que previa o início das atividades em setembro de 2005.
Entretanto, a demora na liberação dos recursos fez com que o início do
projeto apenas acontecesse em dezembro de 2005. O cronograma foi
reformulado, sendo definido que a primeira reunião aconteceria em
fevereiro de 2006. Diversas circunstâncias fizeram com que não fosse
possível dar início às reuniões antes desta data: a necessidade de contar
com tempo suficiente, a partir da liberação dos recursos, para realizar as
articulações que a organização das reuniões precisa; as festividades
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natalinas; a previsão inicial de realizar um evento de abertura do projeto que finalmente não foi possível – antes de dar início às reuniões.
2. Reuniões da equipe executora
1.1
Conformação e papéis da equipe executora
A equipe executora está composta por duas integrantes da Sitoakore
(Organização de Mulheres do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia) e duas
antropólogas, com experiência em etnologia e ênfase na área de Antropologia da Saúde
e da Doença.
A seguir são indicados os nomes e as competências de cada uma das integrantes
da equipe executora:
¾ Letícia Luiza Yawanawá - coordenadora da Organização, cumpre no projeto o papel
de apoio administrativo.
¾ Edina Carlos Brandão Shanenawa - vice-coordenadora da Organização, cumpre no
projeto a função de monitora.
¾ Laura Pérez Gil – antropóloga, cumpre no projeto a função de coordenação
antropológica.
¾ Juliana Rosalen – antropóloga, cumpre no projeto a função de coordenação
administrativa. Inicialmente o Instituto Olhar Etnográfico indicou Maria Elisa
Guedes Vieira para assumir esta função. Entretanto, ela saiu do projeto por motivos
pessoais, sendo substituída por Juliana Rosalen.
Embora o projeto previsse que as coordenações antropológica e administrativa
fossem desempenhadas por duas pessoas diferentes, as técnicas do projeto juntamente
com o Instituto Olhar Etnográfico acordaram que ambas as funções passaram a ser
compartilhadas por Laura Pérez Gil e Juliana Rosalen.
1.2
Temas tratados
Nesta primeira etapa do projeto, a equipe executora se reuniu semanalmente para
refletir, planejar e organizar as atividades do período entre dezembro e março.
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Os assuntos tratados durante estas reuniões foram vários, sendo que um primeiro a
ser apontado refere-se à organização logística das reuniões. Para cada uma das reuniões
foi elaborado um convite (em anexo) destinado às comunidades indígenas participantes.
A partir da reunião de Feijó, a equipe decidiu elaborar, além do convite, um documento
de diretrizes (em anexo) a ser enviado às organizações indígenas locais para auxiliar na
organização da reunião. As integrantes da Sitoakore ficaram responsáveis por fazer a
articulação com as organizações indígenas de cada município de forma a garantir o
repasse das informações relativas às reuniões às comunidades. Para a divulgação do
convite as organizações utilizaram, principalmente, o sistema de radiofonia e programas
de rádios locais destinadas à população rural e indígena (Rádio Floresta; Programa Voz
Indígena). A organização logística das reuniões incluiu o planejamento da compra de
alimentação (priorizando-se os produtos da aldeia aos industrializados) e do material de
oficina para a reunião (apoiada em sugestões da Sitoakore), assim como o levantamento
dos dados relativos ao deslocamento dos participantes das diversas TIs para cada
reunião, mapeando o apoio necessário a ser solicitado ao DSEI e pólos-base.
A preparação das reuniões implicou também numa discussão e reflexão junto com
as integrantes da Sitoakore de um roteiro de temas a serem debatidos durante as
mesmas. Quanto ao roteiro referente à reunião no município de Cruzeiro do Sul, não
foram apresentadas sugestões, tampouco objeções ao conteúdo proposto. De fato,
esperávamos que houvesse um interesse maior da Sitoakore em refletir sobre os temas a
serem discutidos na reunião. A partir deste roteiro preliminar foi elaborada uma
programação, aberta a sugestões, para ser apresentada especialmente ao DSEI e pólobase local. Esta primeira programação (em anexo) serviu como base para elaboração da
programação da reunião de Tarauacá. Já a programação da reunião de Feijó foi
integralmente re-elaborada a partir de uma avaliação das programações anteriores e uma
discussão entre as técnicas e a Edina quanto à rentabilidade e a pertinência dos temas
propostos. Edina chamou especialmente atenção para o uso de uma linguagem mais
acessível aos participantes da reunião.
Um outro assunto tratado, e de extrema relevância, foram as avaliações realizadas
pela equipe executora quanto ao desenvolvimento das reuniões. Este procedimento,
após cada reunião, permitiu vislumbrar os avanços e dificuldades relativas ao alcance
dos objetivos propostos. Serviu também para repensar várias questões como as
metodologias, os procedimentos referentes à monitoria, o tempo necessário para as
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discussões, as formas de envolvimento e integração dos participantes, a sistematização
de temas surgidos nas discussões, a recepção e a avaliação da reunião pelos
participantes.
Além das reuniões para tratar questões relativas à organização das atividades do
projeto, durante o período referido as técnicas auxiliaram a Sitoakore no que tange a
procedimentos de acompanhamento da gestão do projeto, com ênfase no controle e
organização de documentos. Esta assessoria decorreu da percepção de que as integrantes
da Sitoakore, apesar de estarem há algum tempo no movimento indígena, possuem
pouca familiaridade com os inúmeros procedimentos burocráticos que um projeto exige.
Percebemos uma certa dificuldade quanto ao acompanhamento de atividades
consideradas como próprias dos não-índios. Contudo, o fato da Organização estar
envolvida em vários projetos tem desencadeado preocupações, explicitadas em vários
comentários, a respeito da necessidade de aprender a dominar estes procedimentos para
assim minimizar a dependência dos não-índios.
1.3
Infraestrutura
Neste primeiro período é possível apontar que várias das dificuldades que tivemos
para realizar as articulações e a logística das reuniões decorreu do fato de não
possuirmos infra-estrutura para tal. Embora a Sitoakore possua uma sala em Rio
Branco, esta carece de linha telefônica, fax e internet para realizar os contatos
necessários. Recorremos à telefonia pública e aos locais pagos de acesso à internet para
viabilizar a comunicação com as organizações indígenas regionais, DSEI, pólos-base,
VIGISUS e Olhar Etnográfico. A necessidade de recorrer a esses serviços implicou em
um gasto de tempo que poderia ter sido melhor aproveitado para outras atividades
concernentes ao projeto.
Já nos município de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó nos vimos em situação
semelhante, uma vez que as organizações indígenas locais, que apoiaram as reuniões,
também se encontram com uma infra-estrutura mínima para seu funcionamento.
Apesar dos pólos-base colocarem sua infra-estrutura à disposição, a rotina de
trabalho extremamente intensa, impossibilitou sua utilização sem detrimento das
atividades do pólo.
Especificamente depois da reunião de Cruzeiro do Sul, Edina e Letícia adiantaram a
passagem de volta para Rio Branco, de forma a poder utilizar o computador da
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Sitoakore para a elaboração conjunta do Relatório de Atividades da 1ª Reunião de
Parteiras, Pajés e AIS (anexo).
2
Reuniões no DSEI Alto Juruá e nos pólos-base de Cruzeiro do Sul,
Tarauacá e Feijó.
Os grupos indígenas que participaram das três primeiras Reuniões de Parteiras,
Pajés e AIS ocupam T.Is. localizadas nos seguintes municípios: Cruzeiro do Sul,
Mâncio Lima, Tarauacá, Feijó, Jordão, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter,
Rodrigues Alves. As populações indígenas radicadas nestes municípios, no que se refere
à saúde indígena, estão sob responsabilidade do DSEI Alto Juruá. Cada município,
exceto o de Rodrigues Alves, conta com um pólo-base2 e uma equipe multidisciplinar
de saúde que deve realizar prioritariamente os atendimentos nas T.Is (ver tabela em
anexo).
Para desenvolver as atividades previstas no projeto foi necessário realizar
reuniões com a coordenação do DSEI Alto Juruá e com as equipes dos pólos-base.
Ao todo foram quatro reuniões com a coordenação do DSEI. As duas primeiras,
nas quais participou toda a equipe executora do projeto, tiveram por objetivo consolidar
articulações, negociar o repasse de dados por meio de consolidados e de entrevistas com
integrantes das equipes multidisciplinares e definir o apoio logístico (disponibilização
dos pólos-base para hospedar os participantes na cidade; transporte para deslocar os
participantes até a aldeia hospedeira; empréstimo de galões e isopores) e institucional
(participação dos profissionais de saúde que integram a equipe multidisciplinar nos
últimos dois dias das Reuniões de Parteiras, Pajés de AIS; articulação com os chefes dos
pólos-base de Tarauacá e de Feijó) necessário para a execução das reuniões a serem
realizadas nos municípios de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó. Os últimos dois
encontros com a coordenação do DSEI contaram somente com as técnicas (devido à não
disponibilidade das integrantes da Sitoakore) e objetivaram, em especial, uma avaliação
preliminar por parte da coordenação quanto aos resultados (avanços e impasses)
2
Os pólos-base do DSEI Alto Juruá funcionam nos municípios de referência e contam com uma
Equipe Multidisciplinar para realizar os atendimentos. As demandas que superam a capacidade de
resolução no nível dos Pólos-Base são encaminhadas para a rede do SUS.
14
alcançados na 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS ocorrida no município de Cruzeiro
do Sul.
Em relação aos pólos-base foram realizadas várias reuniões, algumas delas com
os chefes dos pólos e outras contando especificamente com as equipes
multidisciplinares. As reuniões iniciais com os chefes dos pólos tiveram por finalidade
conhecer a realidade local e a equipe do pólo, assim como apresentar o projeto e a
equipe executora do mesmo. Desta forma propusemos uma relação de aliança
apontando possíveis contribuições do projeto ao aprimoramento do trabalho da equipe
junto às comunidades, e uma reflexão acerca da estrutura atualmente existente para
atender a saúde indígena.
Quanto às equipes multidisciplinares, as reuniões visaram obter informações
referentes à composição e experiência dos profissionais que as integram; ao
funcionamento
do
pólo
(planejamentos
do
trabalho
da
equipe
nas
T.Is,
encaminhamentos de pacientes indígenas à rede do SUS, especialmente no que se refere
ao fluxo pólo – posto de saúde – maternidade/hospital); à relação dos AIS e das
parteiras com a equipe multidisciplinar e com o pólo; às ações da equipe relativas à
saúde da mulher e da criança (PCCU, pré-natal, pós-parto, exame do pezinho,
crescimento e desenvolvimento dos recém-nascidos, vacinação); à coleta e consolidação
dos dados epidemiológicos por parte da equipe multidisciplinar.
As conversas mais direcionadas com os profissionais de saúde tiveram também o
intuito de obter impressões destes quanto às práticas das parteiras e dos AIS nas aldeias,
quanto à opção e/ou encaminhamento das gestantes para a realização de partos na
cidade, assim como as percepções relativas aos comportamentos de cada grupo frente
aos procedimentos médicos associados ao pré-natal, parto e pós-parto.
Desde a entrada do atual chefe no DSEI/Alto Juruá em junho de 2005, este se
encontra num processo de reestruturação no que se refere principalmente às diretrizes
relacionadas ao atendimento das equipes multidisciplinares e à adoção de
procedimentos que permitam constituir uma base de dados confiável e que traduza a
situação epidemiológica indígena dos municípios abarcados. Devido a essa
reestruturação ainda há poucos dados disponíveis e sistematizados. Quanto aos dados
brutos, não nos foram repassados porque, segundo as equipes, são os que se encontram
incorporados aos consolidados atuais. Os dados mais antigos, anteriores a atual gestão
do DSEI, não se encontram sistematizados e compõem os ´arquivos mortos` do pólo.
15
Uma pesquisa deste material exigiria uma negociação com o DSEI, além de um tempo
extra para tal atividade.
Uma outra dificuldade que encontramos, apesar de todos os nossos esforços, foi
a frágil articulação realizada pelo DSEI junto aos pólos-base, em especial no de
Tarauacá e no de Feijó. Segundo os chefes dos pólos referidos, o DSEI não os havia
informado acerca do desenvolvimento do projeto. Ainda que isto não tenha
inviabilizado nosso trabalho, exigiu um esforço maior no sentido de estabelecer uma
relação de confiança visando envolver as equipes nas atividades do projeto.
O pólo de Feijó foi o único que não aceitou repassar os consolidados, sem uma
autorização expressa da CORE. Mesmo assim, não apresentaram nenhuma objeção
quanto à realização de entrevistas e do repasse informal dos dados.
2.1
Apresentação do projeto às equipes multidisciplinares
A apresentação do projeto às equipes multidisciplinares foi realizada, conforme
apontamos acima, através de reuniões envolvendo grande parte dos profissionais de
saúde e a chefia dos pólos-base.
A princípio o projeto previa a realização de oficinas de treinamento para capacitar
os profissionais de saúde para participarem das Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS.
Como esta capacitação não ocorreu, sentimos necessidade, particularmente depois da 1ª
Reunião, de dedicar uma atenção especial à sensibilização dos profissionais de saúde
para o ato de ouvir e refletir sobre as falas dos participantes sem tomá-las a partir de
pré-conceitos ou de uma atitude defensiva. Também consideramos importante definir
melhor junto a esses profissionais como o projeto concebia sua participação.
Nestas reuniões foram detalhados os temas previstos na programação, o que
desencadeou comentários acerca de experiências e situações vivenciadas pelos
profissionais em sua atuação nas T.Is. A partir destes comentários surgiram questões
que foram incorporadas à programação, tais como o uso de anticoncepcionais e a opção
por realizar ligadura sistematicamente vetada pelas lideranças de muitos grupos. É
interessante notar estes dois temas, em particular, são extremamente delicados e
polêmicos, tendo sua discussão pouco estimulada pelas integrantes da Sitoakore.
16
2.2
Apresentação preliminar das informações levantadas
Durante as conversas com as equipes multidisciplinares foram coletadas
informações a respeito da situação de saúde dos diversos grupos abrangidos pelos
pólos-base e, mais especificamente, sobre as temáticas às quais se refere este projeto.
A seguir apresentamos alguns dos temas que apareceram com mais recorrência
nas falas dos profissionais, embora seja necessário levar em conta que em cada conversa
estes assuntos tiveram uma série de desdobramentos específicos.
Como assinalaram todas as equipes, existem grandes diferenças entre os grupos
indígenas quanto à aceitação do pré-natal e à realização de partos na cidade. Realizaram
uma distinção entre grupos que recorrem mais à assistência fornecida na cidade e
aqueles que têm mais dificuldade ou mesmo se recusam a esse tipo de atendimento.
Para tal distinção utilizaram dois tipos de critérios: a distância geográfica e o grau de
“indianidade” dos grupos.
A equipe do pólo-base de Cruzeiro do Sul estabeleceu uma clara diferenciação
entre os Katukina, “que são cheios de cultura, de regras”, e que “só se passar mal
mesmo, eles mandam para a cidade”, e os Nawa, Nukini e Poyanawa que “são mais
urbanos”, e não apresentam nenhum tipo de problema com a realização do PCCU, do
pré-natal e do parto na cidade. Apesar dos Katukina terem um fácil acesso à cidade de
Cruzeiro do Sul, já que a BR 364 corta a T.I. Campinas/Katukina, isso não altera a rara
procura pela assistência. Das dezesseis gestantes notificadas nesta T.I. em fevereiro de
2006, somente uma aceitou realizar os exames de rotina na cidade. A equipe atribui essa
atitude ao fato que elas “têm medo, não tem como forçar”.
Já os Poyanawa, que têm também a BR 364 adentrando sua T.I., recorrem com
mais freqüência aos cuidados biomédicos. O que estas informações sugerem é que nos
grupos citados o que define a procura pela assistência é menos a questão do acesso à
cidade e mais a questão da semelhança ou adoção de traços culturais considerados como
dos não-índios.
No município de Feijó, os dois critérios parecem se sobrepor, ou seja, a maior
procura pela assistência – com exceção dos partos – provém dos grupos do Baixo
Envira, localizados mais próximos da cidade de Feijó. Os grupos do Alto Envira –
17
Kampa e Madihá3 – procuram bem menos o pólo devido a dificuldades de acesso – são
necessários vários dias de viagem pelo rio desde as aldeias até Feijó, e muitos litros de
combustível – e também pelo fato de serem grupos com tendência a preservar mais seus
costumes, conforme a percepção da equipe.
Em relação à amamentação as equipes dos pólos não levantaram nenhum
problema específico, apesar de ficar evidente os descompassos entre os entendimentos
do que a equipe e os vários grupos consideram como uma alimentação adequada para o
recém-nascido e para a criança.
Outro tema importante elencado nas conversas foi à questão do atendimento na
cidade. Segundo os profissionais “não existe um atendimento diferenciado para os
índios na rede do SUS”, “o acompanhamento das parturientes é igual dos não-índios”.
De fato, um chefe de um dos pólos-base, para reforçar que os índios estavam sendo bem
atendidos nos hospitais fez a seguinte colocação: “antes sim [eram mal atendidos], mas
agora os índios são tratados como os não-índios, igual, da mesma forma”. O problema
está justamente no fato do não reconhecimento da diferença, ainda que esta tenha sido
levada em conta pela política de saúde indígena quando o conceito de saúde
diferenciada foi elaborado4.
A questão da falta de capacitação dos AIS e os problemas decorrentes dessa
situação foram bastante enfatizados pelas equipes. Apesar das dificuldades a este
respeito, os profissionais reconhecem a importância da figura do AIS e a necessidade de
fornecer um treinamento adequado a esses agentes. A equipe do pólo de Feijó, por sua
vez, mostrou preocupação em criar estratégias, ainda que não totalmente formalizadas,
para capacitação, acompanhamento e controle do trabalho dos AIS. Umas das funções
dos AIS ressaltadas pelos profissionais foi seu papel de elo entre a equipe
multidisciplinar e a comunidade no que tange ao diagnóstico e tratamento de problemas
relacionados à saúde reprodutiva e às DST. Nestes casos a questão de gênero tem se
3
Os Kampa – termo este usado principalmente na Amazônia Peruana – são conhecidos
normalmente como Ashaninka, e os Madihá como Kulina. Dado que Kampa e Madihá são os termos que
eles preferem, respectivamente, são os que usaremos neste relatório.
4
Para uma reflexão sobre o conceito de saúde diferenciada, sobre como está sendo entendido e
aplicado e sobre a importância de melhorar a colaboração entre antropólogos e profissionais de saúde para
aprimorar a aplicação deste conceito, ver Langdon (2004).
18
mostrado fundamental, pois pode tanto promover quanto inviabilizar procedimentos
terapêuticos, dado que as pessoas encontram dificuldades em falar sobre esses temas
com um agente ou profissional do sexo contrário.
Para a área de interesse desse projeto as reflexões das equipes multidisciplinares
acerca do conceito de medicina tradicional se tornam extremamente relevantes. A
equipe do pólo de Cruzeiro do Sul afirmou não interferir na “questão cultural”,
traduzida pelos procedimentos terapêuticos tradicionais, como os remédios da mata, as
injeções do sapo kampo e o consumo do rapé e do tabaco. Opiniões similares foram
emitidas por integrantes dos outros pólos-base, que enfatizaram ainda que problemas
“leves” poderiam ser resolvidos no âmbito das aldeias através do uso de recursos
terapêuticos tradicionais.
No caso de Tarauacá a equipe mencionou seu apoio a um projeto de valorização
das plantas medicinais, que visa pesquisar as principais doenças e seus remédios, assim
como divulgar e constituir viveiros de mudas dessas plantas nos vários grupos da
região. O surgimento deste processo de revitalização está associado, segundo a equipe,
ao trabalho dos Agentes Agroflorestais. A equipe frisou ainda ser favorável à medicação
alopática em casos em os quais a medicina tradicional não tem conseguido resultados
satisfatórios.
2.3
Especificidades de cada pólo e de sua equipe.
Este subitem tem por finalidade contextualizar as diferenças dos resultados
obtidos quanto ao levantamento de dados em cada pólo e a participação dos
profissionais de saúde das equipes nas reuniões. Essa variabilidade decorre de atitudes e
formas distintas de pensar tanto o atendimento fornecido, quanto a própria relação
estabelecida com os grupos indígenas. Ainda que ao longo do relatório tratemos as
equipes de forma genérica, é importante salientar que nestas há profissionais com mais
ou menos sensibilidade para a compreensão das realidades locais. Esta sensibilidade não
só é percebida pelos grupos, como reivindicada enquanto uma maneira adequada de
atuação.
Pontuamos a seguir algumas especificações.
19
Pólo-base de Cruzeiro do Sul
O Pólo de Cruzeiro do Sul, apesar da precariedade de sua sede - que serve de
hospedagem para os pacientes que são encaminhados à cidade -, se beneficia do fato do
DSEI estar sediado na mesma cidade. Isto facilita a agilidade quanto ao repasse de
recursos, medicamentos e capacitações para os profissionais de saúde. Uma
característica importante do pólo é a presença em seu quadro de um Katukina, Orlando
Katukina, que cumpre a função de vice-administrador além de ser o Presidente do
Conselho Distrital. Tentamos em várias ocasiões marcar uma conversa com ele, e de
fato, chegamos a ir ao pólo na hora combinada, mas devido a compromissos
imprevistos, a reunião não ocorreu. Apesar dos desencontros, a equipe não se negou a
colaborar com a pesquisa nos arquivos mortos da instituição. Dado que não houve
tempo suficiente para a realização dessa pesquisa, a enfermeira do pólo se
disponibilizou a enviar os dados solicitados pelas técnicas, via correio.
Pólo-base de Tarauacá
Diferentemente do pólo de Cruzeiro do Sul, o pólo-base de Tarauacá não
hospeda pacientes e possui uma sede maior e mais cuidada. A equipe de saúde deste
pólo foi a que melhor acolheu a equipe executora, se disponibilizando a fornecer tanto
os consolidados gerais, quanto os dados brutos atuais (Livro de Controle da
Maternidade e o Livro das Gestantes). Em relação aos arquivos mortos, a equipe
ressaltou que estavam totalmente desorganizados e, em decorrência disso, seria difícil
realizar uma pesquisa. Os profissionais de saúde também dedicaram um tempo
exclusivo para conversar com as técnicas, tanto sobre os assuntos do projeto, quanto
sobre sua participação na Reunião.
Pólo-base de Feijó
Atualmente Feijó é o município que possui maior contingente de população
indígena da região (ver tabela em anexo) e por isso mesmo possui a equipe com o maior
número de integrantes: duas enfermeiras, quatro auxiliares de enfermagem, uma dentista
e um supervisor de saneamento.
A equipe de Feijó, diferentemente das demais, mostrou capacidade e iniciativa
de propor estratégias para maximizar o trabalho da equipe e produzir um melhor
entrosamento e articulação entre os profissionais e as comunidades. Algumas dessas
estratégias foram comentadas pela equipe, tais como: a realização do planejamento das
20
viagens de atendimento à saúde nas T.Is. juntamente com a OPIRE (Organização dos
Povos Indígenas do Rio Envira) e as lideranças das comunidades envolvidas; a
realização de reuniões com os AIS para discutir e negociar diretrizes a respeito do
trabalho destes em suas comunidades e quando realizam encaminhamentos à cidade;
incentivo e valorização dos trabalhos dos AIS através de uma certificação de bom
desempenho das atividades, com base na opinião da comunidade; implementação de um
Livro de Ponto dos AIS para controle e discussão com estes a respeito das suas
atividades e encaminhamentos; a intenção de realizar, ainda que informalmente, uma
capacitação, de pelo menos uma semana, para os AIS; realização de um cadastramento
das famílias do Alto e Baixo Rio Envira para atualizar os dados populacionais que
subsidiam as ações de saúde (os dados de 2005 de acordo com a equipe, estavam
totalmente defasados prejudicando o repasse de remédios, vacinas, etc). Estas iniciativas
mostram o interesse da equipe em melhorar a situação de saúde das comunidades assim
como sua sensibilidade e esforço para procurar compreender as formas específicas de
vivência, organização e comportamentos dos grupos indígenas locais.
Cabe ressaltar que este pólo foi o único no qual os grupos indígenas a ele
referidos reivindicaram a contratação de uma enfermeira específica, escolhida por sua
boa atuação junto às comunidades.
Em relação ao levantamento de dados, apesar da equipe se disponibilizar a
realizar entrevistas, os consolidados e informações brutas não nos foram repassados
formalmente. Para tanto a equipe considerava necessário uma autorização da CORE.
Ainda assim possuímos alguns consolidados referentes a Feijó, obtidos junto ao
DSEI/Alto Juruá.
3
Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS
Neste item pretendemos, por um lado, desenvolver uma análise preliminar de
aspectos que consideramos relevantes para reflexão quando se trata de se pensar na
execução de projetos em parceria com organizações indígenas voltadas às comunidades
indígenas, e por outro, descrever e fazer uma primeira avaliação das três Reuniões de
Parteiras, Pajés e AIS realizadas durante o período ao qual se refere esse relatório.
Antes de adentrar nos aspectos selecionados, cabe destacar que a parceria com as
integrantes da Sitoakore tem sido extremamente profícua e elucidativa, pois permite
entrever avanços e impasses relativos à construção de formas de atuação e de
21
metodologias conjuntas que traduzem, no limite, um esforço por todas as partes de
articulação entre lógicas de pensamento distintas.
3.1
Articulações com as organizações indígenas locais.
Para a organização logística das Reuniões de Parteiras, Pajés e AIS foi
fundamental a articulação da equipe executora com as organizações indígenas que
agregam os grupos de cada uma das regiões, a saber:
¾ Em Cruzeiro do Sul, a OPIRJ, Organização dos Povos Indígenas do Rio
Juruá.
¾ Em Tarauacá, a OPITAR, Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá.
¾ Em Feijó, a OPIRE, Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira..
A articulação com estas organizações foi uma das principais funções das
integrantes da Sitoakore. Desse processo de articulação é possível desprender algumas
considerações:
Dentro do movimento indígena ao qual pertence à Sitoakore, as
organizações indígenas regionais constituem os canais mais apropriados
para estabelecer a ponte com as comunidades locais. Dessa forma é
essencial para a Sitoakore manter uma boa relação com essas organizações.
As integrantes da Sitoakore afirmaram, em várias ocasiões, que
determinadas decisões só poderiam ser tomadas em concordância com as
lideranças da comunidade hospedeira e/ou com as organizações regionais.
Em um caso específico foi possível perceber uma tensão entre uma
liderança local – da aldeia onde seria realizada a reunião – e o Coordenador
da organização indígena regional. Este exemplo evidencia que existem
tensões geradas pela concorrência no campo político por recursos e
prestígio - advindos através de projetos como esse - entre as lideranças
locais e as organizações regionais.
As organizações indígenas regionais não conseguem dissipar as tensões
existentes entre os vários grupos indígenas que as compõem. Neste sentido,
a organização passa a ser mais uma arena de disputa entre os grupos.
22
As organizações indígenas regionais são espaços importantes para se pensar
à questão da representatividade junto às comunidades indígenas.
As reuniões junto às organizações indígenas contaram com a presença da equipe
executora e objetivaram verificar o andamento das providências já tomadas pela
organização, assim como definir os últimos acertos para realização das Reuniões.
Todas as organizações cumpriram a função de divulgar as Reuniões para os
grupos indígenas e centralizar as informações sobre os nomes dos participantes e sobre
os alimentos a serem fornecidos pelas comunidades. Também se prontificaram a
acompanhar a chegada, hospedagem e alimentação dos participantes às cidades de
referência (Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó), e seu posterior deslocamento à aldeia
hospedeira. Disponibilizaram também sua infraestrutura (sede, batelão, computador,
freezer, telefone), variada em cada uma das organizações.
3.2
Aspectos metodológicos
3.2.1. Construindo metodologias
O objetivo mais significativo das Reuniões tem sido criar espaços de troca de
experiências e de reflexão entre os grupos indígenas participantes, a respeito dos temas
propostos no projeto. Este item pretende explicitar as metodologias construídas para
possibilitar estes espaços de intercâmbios
Vale ressaltar que, mesmo procurando respeitar as formas tradicionais de
diálogo, a própria proposta da reunião cria um contexto novo de relações sociais. Em
primeiro lugar, porque reúne vários grupos indígenas que não costumam se juntar de
forma espontânea. Em segundo, porque não existe um contexto tradicional onde os
participantes convidados - parteiras, pajés e AIS - se reuniriam dessa maneira. Por
último, os assuntos propostos não seriam temas de uma discussão mais elaborada e
surgida espontaneamente.
Alguns aspectos formais do evento, estabelecidos ou exigidos ou pela Sitoakore
ou pelos próprios participantes, evidenciaram que, para ambos, o contexto da Reunião
remete ao mundo dos brancos. Podemos citar a este respeito: crachá de identificação,
estabelecimento de horários para as conversas e alimentação, apresentação da
23
programação, solicitação de materiais para realizar anotações, a realização de dinâmicas
e do forró dos brancos.
Estes aspectos do mundo dos brancos convivem com outros tradicionais,
fornecendo às reuniões características muito peculiares. Alguns elementos tradicionais
que estiveram presentes nas reuniões foram: o uso de rapé e do tabaco, o fato dos
participantes se pintarem uns aos outros com jenipapo durante as conversas, a presença
de crianças, a circulação de alimentos da aldeia (ingá, amendoim, bananas, pupunha,
cana, caiçuma), a priorização do cupishawa5 como espaço para as Reuniões, a feitura de
esteiras para as mulheres se sentarem no chão (unicamente na reunião de Campinas), a
elaboração de ornamentos, a celebração de rituais de ayahuasca com o intuito de
envolver
os
participantes
de
outras aldeias e a
realização de cantos,
danças e brincadeiras
tradicionais
vários
dos
grupos
presentes na reunião.
Fotografia 2. Aldeia Morada Nova. Terminada a sessão da
tarde, os Shanënawa organizam uma brincadeira na que dois pajés
(Albeci, no chão, e Maria Batista, animando) participam ativamente.
5
O cupishawa, também chamado “chapéu de palha” no Acre, é uma estrutura circular,
geralmente sem paredes, e com um teto cônico de palha. Atualmente, está presente em muitas das aldeias
pano no Acre, sendo que nos últimos anos sua construção parece ter sido financiada pelo próprio Governo
do Acre. Esta estrutura remete à casa tradicional dos grupos pano, a maloca ou shobu, que costumava ser
ocupada por várias famílias ligadas por laços de parentesco que constituíam um grupo local. Os
cupishawa que hoje encontramos nas aldeias pano são usados para realizar tanto festas quanto reuniões
comunitárias ou outros tipos de eventos públicos como o proposto por este projeto, definindo-se
prioritariamente como um espaço para atividades comunais e de interação com os visitantes.
24
Fotografia 3: Aldeia Campinas. Os Katukina envolvem os outros
participantes no mariri, um ritual festivo com cantos e danças.
A forma negociada de realizar as Reuniões procurou criar um espaço onde as
pessoas se sentissem a vontade para discutir os temas propostos - abertos a sugestões -,
procurando respeitar ritmos e modos específicos de ouvir, refletir e falar dos grupos.
Nossa atitude enquanto técnicas, tem sido de nos colocar em segundo plano,
deixando às monitoras e integrantes da Sitoakore o papel de protagonistas na condução
da reunião. Em várias ocasiões quando tínhamos dúvidas a serem colocadas aos
participantes, sugeríamos às monitoras de forma que elas as elaborassem e
apresentassem aos participantes valendo-se de um formato mais adequado, minimizando
assim nossa interferência na reunião. Uma outra metodologia utilizada por nós,
especialmente na 3ª Reunião foi realizar provocações sobre determinado tema com o
objetivo de gerar uma reflexão, ao invés de fornecer uma idéia, opinião ou solução já
pronta.
Acostumadas com a questão da hierarquia nas reuniões, as integrantes da
Sitoakore se posicionaram, especialmente na primeira reunião, de forma a estabelecer
um distanciamento e uma diferenciação com os participantes (ver figura 1). Durante
esta mesma reunião fomos, com cautela, desconstruindo este posicionamento e esta
diferenciação. De fato na segunda e na terceira reunião esta relação hierárquica foi
amenizada, embora não completamente diluída.
25
Especificamente na 2ª Reunião foi utilizada a infra-estrutura de uma escola, uma
vez que o cupishawa estava indisponível pelo fato de seu teto haver desmoronado. O
tamanho e o formato da sala da escola, somado à quantidade de participantes,
impossibilitou uma disposição espacial mais interessante durante a reunião.
Na negociação interna das metodologias entre as integrantes da equipe
executora, as representantes da Sitoakore sugeriram fortemente a realização de
dinâmicas aprendidas por elas em cursos com os brancos. A justificativa fornecida para
tal atividade foi de que as reuniões são extremamente cansativas para as pessoas e estas
precisam de momentos de relaxamento. Nas dinâmicas propostas pelas integrantes da
Sitoakore sempre prevalece um tom de jocosidade, porém servem de pretexto para
propor uma reflexão acerca de um dos temas tratados na reunião.
Uma outra metodologia proposta pela equipe executora para a reunião de
Cruzeiro do Sul foi a de formação de grupos de discussão que mesclavam parteiras,
pajés e AIS de diferentes etnias. Os grupos propiciaram uma troca de experiências
extremamente rica entre os seus componentes. A forma de apresentar a discussão de um
determinado grupo para os demais foi definida pelos participantes, consistindo
fundamentalmente na elaboração de um cartaz, método que implicou um esforço dos
participantes em sintetizar as informações geradas, principalmente através da
comparação entre os saberes dos vários grupos. O mais importante no uso desta
metodologia foi que propiciou um espaço de aproximação e de informalidade para a
troca de experiências e conhecimentos exclusivamente entre os participantes indígenas.
Fotografia 4: Aldeia Campinas. Um grupo apresenta os resultados da sua discussão.
26
A metodologia de discussões em grupo foi utilizada em dois contextos distintos:
para a troca de experiências sobre temas específicos e para sistematizar os problemas e
soluções visando à melhoria da atenção à saúde visando à preparação da conversa com
os profissionais de saúde. Nesse último contexto, esta metodologia apenas foi utilizada
nas duas primeiras reuniões. Apesar das vantagens mencionadas anteriormente, devido
ao fato que esta metodologia despende muito tempo, especialmente quando há um
grande número de participantes, e que não dá conta da riqueza das falas, consideramos
oportuno não utilizá-la durante a 3ª Reunião, celebrada na aldeia Morada Nova, como
será descrito no item correspondente (3.5.3.).
Faz-se importante esclarecer que, embora inicialmente o espaço de diálogo com
os profissionais de saúde tenha sido pensado como uma troca de experiências e também
para a sensibilização dos mesmos, os grupos se apropriaram desse momento para
ampliar o tema de discussão, não o restringindo a uma melhor articulação entre os
vários especialistas (parteira, pajé, AIS, AISAN, AAF, profissionais de saúde), e
reforçando a idéia de que a saúde é um problema não somente dos especialistas e que
envolve o conjunto da comunidade. Dessa forma, o tempo reservado ao diálogo serviu
também como espaço de reflexão e reivindicação a respeito da assistência prestada
pelos não-índios, especialmente na cidade. Com base nos cartazes produzidos pelos
grupos foram elaborados documentos (ver em anexo) a serem encaminhados pela
Sitoakore e pelas técnicas do projeto as instituições responsáveis pela saúde indígena.
Na reunião de Feijó foi experimentada uma metodologia diferente, pelas razões
expostas acima. A preparação da conversa com os profissionais de saúde não se realizou
em grupos, mas em formato de um fórum aberto de discussão. Já a preparação do
documento, depois da reunião com a equipe, foi feita em duas etapas. Na primeira etapa
constituiu-se uma comissão, da qual fizemos parte, para elaborar um rascunho das
reivindicações e soluções discutidas. Na segunda etapa, este rascunho foi lido e debatido
conjuntamente por todos os participantes, gerando um documento final.
Visando aprofundar as informações comentadas durante a reunião a respeito da
experiência e atuação das parteiras - por sugestão de Luciane Ferreira e a partir da
reunião de Tarauacá - iniciamos a elaboração de um cadastro dessas. Nestes vemos
recolhendo os seguintes dados: nome, aldeia/TI., quando a parteira começou a fazer
parto, cursos realizados, número de partos realizados (ver anexo). A realização deste
cadastro tem permitido acessar informações específicas sobre experiências das parteiras,
27
processos de aprendizagem, práticas utilizadas, concepções sobre o parto, tratamentos
voltados à gestante e à parturiente, cuidados com os recém-nascidos, entre outros. Estes
temas por serem delicados, pouco aparecem nas discussões mais gerais durante as
reuniões, já que estas contam também com a presença dos homens.
Apesar da metodologia já estar delineada no projeto, o fato de existir
determinadas condições já estabelecidas (parceria com a Sitoakore, reuniões que juntam
pessoas de vários grupos indígenas, modelos de reuniões já incorporados pelos grupos,
etc) faz com que esta tenha que ser constantemente repensada e negociada tanto
internamente pela equipe quanto junto aos grupos participantes das reuniões. À medida
que as reuniões têm ocorrido, percebemos com mais clareza melhores estratégias para
alcançar os objetivos propostos nesse projeto.
3.2.2. Monitoria: adentrando nas relações entre os grupos
A monitoria tal como aparece proposta no projeto possui as seguintes
atribuições: acompanhar e orientar as técnicas quanto à adequação dos comportamentos;
participar na organização das reuniões e na condução dos diálogos; acompanhar as
técnicas na sistematização dos dados e na elaboração dos produtos; tradução das
gravações em língua indígena.
Embora seguindo as diretrizes indicadas pelo projeto, a figura do monitor teve
que ser adaptada à complexidade das realidades com as quais nos deparamos. Em
primeiro lugar faz-se necessário especificar que o projeto tem previsto duas monitoras,
sendo uma fixa (função preenchida por uma das integrantes da Sitoakore) e uma outra
definida a cada reunião. Com o início da execução do projeto e em função de vários
fatores, o papel da monitora que não é fixa se fragmentou. Os fatores que determinaram
esta alteração foram os seguintes:
Dado que as reuniões agregam pessoas de grupos que pertencem a famílias
lingüísticas diferentes, se faz necessário contar com mais de um monitor
para realização de tradução durante as reuniões visando a compreensão das
discussões por todos os participantes. Por ex: na Reunião realizada na
Aldeia Morada Nova (município de Feijó) estavam presentes grupos das
famílias lingüísticas Pano (Shanenawa e kaxinawa), Arawak (Kampa) e
Arawá (Madihá).
28
As organizações indígenas regionais, por serem parceiras importantes na
organização das Reuniões, acabaram por indicar uma pessoa como
monitora para assumir o apoio logístico da reunião. Duas dessas pessoas
indicadas cumprem também o papel de representante das mulheres dentro
das organizações indígenas envolvidas. Porém a colaboração dessas pessoas
foi essencial, dado que as integrantes da Sitoakore nem sempre têm o
conhecimento necessário sobre a realidade local para realizar a logística da
reunião. As redes de parentesco e as pressões das lideranças locais também
influenciaram na definição de algumas pessoas como monitoras. De
qualquer forma a incorporação das monitoras, passou por um processo de
discussão e negociação interno à equipe executora.
É muito difícil que uma pessoa só concentre determinadas qualidades
(conhecimento apurado da língua indígena e capacidade de realizar as
traduções, capacidade para conduzir os diálogos durante as reuniões,
sensibilidade para ganhar a confiança das pessoas e saber incentivá-las a
colocarem suas opiniões) e/ou ao mesmo tempo consiga desempenhar as
funções organizacionais previstas (colaboração na organização da reunião,
condução de diálogos e tradução) e não previstas (coordenação das
atividades das cozinheiras, controle da alimentação, aquisição de produtos
no decorrer da reunião), fundamentais para o bom desenvolvimento da
reunião. Desta forma tem-se que a monitoria acabou sendo exercida nas
reuniões por pelo menos três pessoas distintas: a monitora fixa da
Sitoakore, uma monitora definida pela organização indígena regional com
ênfase na questão organizacional, e uma monitora (que pode se desdobrar
em duas, conforme a necessidade) definida pela comunidade com ênfase
nas traduções. O recurso previsto para o pagamento inicial de uma monitora
foi dividido informalmente entre as pessoas que cumpriram as funções
apontadas em cada uma das reuniões. Esta solução foi considerada
satisfatória por todos os envolvidos.
Em relação à questão lingüística, tem-se que nas reuniões a língua franca foi o
português, ainda que algumas pessoas tenham optado por se expressar na língua
indígena. Mas alguns participantes, de fato, como certos Kampa e Madihá não têm
fluência no português. Nestes casos o papel da monitora, além de realizar a tradução, foi
29
fornecer um apoio mais individualizado a fim de verificar o entendimento das pessoas
acerca das discussões.
Deve-se ressaltar também que em todas as reuniões houve pessoas que se
disponibilizaram espontaneamente a realizar as traduções, sem que para isso estivesse
envolvido algum tipo de recurso. Em muitos casos existia uma relação de parentesco
e/ou confiança entre a pessoa cuja fala era traduzida e o tradutor. Também ficou claro,
que, dado o faccionalismo interno de alguns grupos, a escolha de um tradutor não
resolve o problema da tradução. Isto se dá fundamentalmente porque o tradutor não tem
legitimidade e nem é reconhecido pela facção oposta.
A equipe executora definiu alguns procedimentos a serem adotados em relação
ao trabalho com a monitoria, tais como: a realização de uma reunião de preparação
antes do evento na qual são explicadas as funções de cada uma das monitoras, e também
repassada e discutida a programação sugerida para a Reunião; realização de reuniões
cotidianas à noite durante o evento, para avaliar a discussão do dia e preparar a do dia
seguinte. Infelizmente dado à falta de tempo, só foi possível realizar as reuniões
preparatórias, que por isso mesmo foram incrementadas com uma discussão mais
aprofundada dos temas e uma reflexão conjunta sobre as possíveis metodologias. Ainda
que não tenha sido estabelecida uma rotina de conversa com os monitores, aproveitamos
ao máximo os espaços informais (antes do início, intervalos para os lanches e refeições)
para discussão sobre o andamento da reunião e a atuação dos monitores.
3.2.3. Considerações a respeito do registro áudio-visual
No projeto foi previsto o registro áudio-visual das Reuniões como um dos
métodos para etnografá-la. A Sitoakore mostrou um interesse especial na realização
desses registros, uma vez que fornecem visibilidade às atividades que a organização
vem desenvolvendo junto as comunidades. A organização também considera importante
a obtenção desses registros como forma de construir uma memória da instituição.
Cumpre ressaltar que, atualmente, os grupos estão muito sensibilizados com a
discussão do uso de imagens e dos direitos autorais e, portanto, a questão do registro
áudio-visual das reuniões tem um sido um tema delicado. A proposta de realizar esse
registro exigiu uma árdua negociação com as comunidades indígenas e participantes
envolvidos em cada uma das Reuniões. Por mais difíceis e complexas que tenham sido
essas negociações, percebemos essa reflexão dos participantes como algo extremamente
30
positivo e que promove também uma discussão sobre as articulações possíveis com o
mundo dos brancos.
Tivemos três experiências diferentes quanto a essa questão. Na Reunião no
município de Cruzeiro do Sul os participantes foram informados que o projeto previa
esses registros e consultados oralmente quanto à possibilidade de realizá-los. Não houve
qualquer objeção por parte dos participantes quanto à utilização do gravador e da
máquina fotográfica.
Na Reunião ocorrida no município de Tarauacá a situação foi mais complexa.
Um dos parceiros do projeto considerou oportuno que os participantes assinassem um
termo de autorização de uso de imagem. No dia anterior ao início da Reunião, a equipe
executora se reuniu com as monitoras - estando também presentes a liderança da aldeia
assim como o diretor do Instituto Olhar Etnográfico, uma assessora do mesmo e a
Gerente da Área de Medicinas Tradicionais do VIGISUS II - para discutir a monitoria e
apresentar o termo de autorização. Por um desentendimento a respeito do objetivo e
conteúdo do termo entre os participantes dessa reunião, decidiu-se não utilizar o termo e
realizar uma discussão aberta, no início do evento no dia seguinte, considerando como
objeto de negociação apenas o registro através do gravador. A decisão final dos
participantes foi aceitar a gravação, com a condição da Gerente da Área de Medicinas
Tradicionais assinar um documento (em anexo) no qual a mesma se compromete a
providenciar uma cópia das gravações realizadas durante o evento e do relatório técnico
para as comunidades envolvidas.
Nesse mesmo evento, uma das integrantes da Sitoakore negociou, informalmente
e apenas com a comunidade a qual pertence, a possibilidade de fotografar essas pessoas
fora do contexto da Reunião. Consideramos, entretanto, que essa não é uma forma
adequada, num projeto que se propõe participativo e que pretende respeitar decisões
gerais, de obter um registro fotográfico.
Na última Reunião, do município de Feijó, foi utilizado o mesmo procedimento
que na reunião de Cruzeiro do Sul. A consulta aos participantes nesse caso, gerou um
debate acalorado no qual algumas pessoas expressaram suas dúvidas e suas opiniões.
Dentre estas dúvidas as mais significativas foram: a preocupação que através da
gravação fossem revelados “segredos” dos grupos indígenas que não devem ser
divulgados e de que maneira e em que medida o registro fortaleceria o conhecimento
tradicional. Edina Shanenawa, monitora da Reunião, explicou que os “segredos” não
31
seriam traduzidos para os nawa e que o registro serviria, além de memória do evento,
para a elaboração de bons relatórios por parte das técnicas. Ela também protagonizou a
condução das discussões e o esclarecimento das dúvidas, contando com contribuições
importantes de outros participantes da reunião. A única contribuição das técnicas nessa
discussão foi de explicar a relevância desse projeto, na medida em que visa subsidiar a
elaboração de políticas de saúde indígena mais adequadas, que valorizem
principalmente os agentes tradicionais que atuam junto às suas comunidades.
Foi significativo perceber que o próprio fato de realizar a consulta aos
participantes - procedimento inexistente em outros eventos relacionados à saúde, à
educação, etc – foi considerada por eles como uma atitude de respeito e seriedade da
equipe executora em relação às opiniões e decisões das comunidades. Por fim, vale
também positivar que as reflexões dos grupos somam-se ao processo de construção de
estratégias de forma a garantir acesso e maior controle quanto aos materiais áudiovisuais obtidos junto às comunidades.
3.3
1º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
A 1ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS foi realizada na aldeia
Campinas (T.I. Campinas/Katukina, município de Cruzeiro do Sul) entre os dias 15 a 19
de fevereiro. Estava prevista a vinda de participantes das seguintes T.Is:
Campinas/Katukina; Jaminawa do Igarapé Preto; Jaminawa Arara do Rio Bajé, Kampa
do Rio Amônea; Arara do Igarapé Humaitá; Arara do Rio Amônea; Kashinawa e
Ashaninka do Rio Breu; Nawa; Poyanawa e Nukini. Devido a problemas tais como
doença - caso das parteiras indicadas pelos Poyanawa e Huni Kuin6 do Breu -,
transporte e dificuldade de comunicação, faltaram participantes das seguintes T.Is.:
Kampa do rio Amônea; Arara do Rio Amônea; Ashaninka do rio Breu e Poyanawa.
Vale salientar que além do convite ter sido repassado pelo sistema de radiofonia local,
também foi divulgado através de um programa de rádio denominado Rádio Floresta.
6
Em geral, os Huni Kuin são conhecidos como Kaxinawa, mas dado que este etnônimo tem uma
conotação pejorativa (kaxi significa ‘morcego’, de forma que kaxinawa se traduziria como “a gente
morcego”), eles preferem a primeira denominação, que é traduzida como “gente de verdade”. Ao longo
do texto usaremos, portanto, este segundo como etnônimo, embora mantenhamos o termo kaxinawa
quando seja uma referência à língua ou no caso do nome oficial das T.Is.
32
Várias comunidades não o receberam porque o sistema de radiofonia local não está
funcionando na maioria das aldeias da região, em especial nas mais distantes.
Esta primeira reunião estava inicialmente prevista para ocorrer na Aldeia Martin,
mas depois de uma conversa entre a equipe executora e a comunidade na T.I. Campinas
Katukina no dia 10/02, ficou decidido que o evento seria realizado na Aldeia Campinas
por esta contar com uma infra-estrutura mais adequada - cupishawa e casa de
hospedagem – para a realização da reunião e a acomodação dos participantes.
3.3.1. Desenvolvimento da reunião
Como foi previsto no projeto, os três primeiros dias da reunião foram dedicados
à troca de experiências entre os grupos indígenas participantes. Devido a um atraso na
chegada dos participantes à Aldeia Campinas, decorrente da chuva e da impossibilidade
da balsa atravessar o Rio Juruá, a reunião só teve início no final da tarde do dia 15/02.
Nessa sessão foi realizada apenas uma exposição do projeto por parte da equipe
executora e também a apresentação dos participantes.
No dia seguinte (16/02), a sessão se iniciou com uma avaliação do curso de
Aperfeiçoamento das Parteiras Tradicionais Indígenas. Em geral quase todas as
parteiras haviam participado, em alguma ocasião, desse e/ou de outros cursos e fizeram
uma avaliação positiva dos mesmos. Essa avaliação foi pautada em dois pontos: o
primeiro foi a aquisição do kit e a importância e utilização dos materiais que o
compõem em suas práticas na aldeia; o segundo ponto foi uma valorização da
aprendizagem de novas técnicas dos nawa, explicitadas através das seguintes falas:
“[aprendi] jeito de pegar criança e ajeitar a mulher”; “sobre limpeza de material”;
“como cuidar da criança”. Especialmente em relação ao kit foi recorrente a fala sobre
a dificuldade de repor materiais que se acabam tais como gaze, álcool iodado, algodão,
luvas, entre outros. A partir de uma colocação da Edina Shanenawa explicando que as
parteiras de sua aldeia (Morada Nova) têm acompanhado partos no hospital junto com
os médicos, desencadeou-se uma discussão sobre a questão do reconhecimento e a
contratação das parteiras e dos pajés. As parteiras argumentaram que recebendo um
recurso poderiam desenvolver seu trabalho com mais qualidade uma vez que teriam
maior facilidade de se deslocar até a gestante, acompanhá-la no pós-parto, repor os
materiais necessários, além de ajudar em sua própria manutenção.
33
Durante a tarde, o tema abordado foi o perfil da parteira. Cada qual explicou
como começou a fazer parto e se havia aprendido com alguém as técnicas relativas a
esta prática. Os depoimentos revelam uma variabilidade de experiências e de processos
de aprendizagem. Este tema desembocou em dois outros: o pajé enquanto colaborador
das parteiras e o trabalho dos AIS.
No dia 17/02 pela manhã foi proposto o tema da relação entre parteiras, pajés e
AIS. A conversa teve início com os AIS que explicaram sua parceria com as parteiras,
especialmente em atividades como medir a pressão da grávida, buscar medicamentos da
mata, aplicar soro, pesar o recém-nascido, preencher a ficha de nascimento. Somente os
Katukina ressaltaram que “nunca tiveram trabalho de AIS junto com a parteira”.
Fotografia 5: Aldeia Campinas. Os pajés katukina tomam rapé
durante a reunião.
A discussão evidenciou as diferenças a respeito de problemas vivenciados
atualmente pelos grupos presentes e as práticas associadas aos cuidados relacionados à
gestante durante a gravidez e pós-parto. Assim por exemplo, enquanto que para as
mulheres Nawa e Nukini um dos principais problemas que aflige as grávidas é a pressão
alta, exigindo seu encaminhamento para a cidade, para os Katukina as gestantes têm boa
saúde porque tomam kampo durante a gravidez.
34
A princípio não havíamos previsto na programação tratar especificamente sobre
os cuidados tradicionais com a gestante e sim fazer uma discussão acerca do pré-natal
em geral. Mas foi justamente a partir da riqueza dessa pequena discussão espontânea
que decidimos realizar uma discussão mais aprofundada à tarde, e também incorpora-la
nas programações das reuniões subseqüentes.
Um outro desdobramento deste tema das parcerias foi a pertinência da figura da
AIS mulher. A esse respeito ficou claro que para as mulheres é muito constrangedor
falar de determinadas questões com os AIS homem (inclusive questões relacionadas ao
parto) e que a presença de uma AIS mulher facilitaria tanto o trabalho com as parteiras
quanto com a equipe multidisciplinar. De fato no documento final esses grupos
reivindicaram a necessidade de se ter AIS mulheres nas aldeias.
No final da manhã foi proposta uma discussão sobre partos na aldeia e partos na
cidade. Nossa intenção era promover uma comparação entre os dois contextos.
Entretanto, devido a uma colocação de uma das monitoras alegando que os partos na
aldeia implicavam na revelação de segredos, a discussão se limitou aos partos na cidade.
Para a maioria dos participantes, e em particular para as Katukina, existem vários
fatores que as desencorajam de realizarem partos na cidade: discriminação e preconceito
por parte dos profissionais do hospital; falta de carinho e de cuidados com a gestante
antes, durante e após o parto; a não permissão de acompanhantes; técnicas de parto e de
cuidados com os recém-nascidos não reconhecidas como adequadas. Os Katukina e os
Kaxinawá enfatizaram que procuram o hospital somente em caso de complicações na
gravidez e/ou parto (bebê de travessa ou sentado, hemorragia, etc).
Na sessão da tarde foi proposto um trabalho em grupo para discutir a temática do
“pré-natal tradicional” (ver a transcrição dos cartazes em anexo), ou seja como a
parteira, o pajé e o AIS cuidam da grávida, detectam problemas e fornecem soluções
para esses problemas.
No final desta sessão as pessoas se posicionaram em um círculo para discutir
dois temas: anticoncepcionais e amamentação. Em relação ao primeiro tema, os
Katukina foram bastante enfáticos quanto à rejeição dos métodos anticoncepcionais,
incluindo a camisinha, uma vez que seu uso poderia ter implicações na política
demográfica do grupo. De forma menos radical, os Arara e os Jaminawa-Arara também
negaram o uso desses medicamentos atualmente. Já os Nawa, Nukini e Huni Kuin vêm
se valendo do uso de anticoncepcionais, apesar de acreditarem que acarretam uma série
35
de problemas à saúde. Especificamente nos Huni Kuin, a procura pelos
anticoncepcionais tem sido realizada no Peru, cujo Governo os fornece de graça e no
formato injetável. Em relação à discussão sobre amamentação surgiram diferenças entre
os grupos indígenas quanto à forma adequada de alimentar a criança depois de seu
nascimento, mas os participantes, de um modo geral, concordaram quanto ao
fornecimento concomitante de determinados alimentos (mingau de banana e caiçuma de
macaxeira) e leite para as crianças, no período que os não-índios consideram como
exclusivo da amamentação. Os Nawa e Nukini comentaram também que algumas
mulheres em seus grupos usam leite em pó porque consideram que “não tem leite” ou
que “o leite é fraco e não sustenta”, sendo atualmente uma das funções da parteira a de
conscientizar a puérpera quanto aos benefícios de amamentação.
Fotografia 6: Aldeia Campinas. Mulheres Jaminawa e JaminawaArara durante a reunião.
Devido à empolgação que gerou o trabalho em grupo, a equipe executora
resolveu no terceiro dia (18/03) pela manhã utilizar a mesma metodologia para a
discussão dos cuidados com o recém-nascido. Os temas focalizados pelos grupos foram
as práticas destinadas a garantir a saúde do bebê; os cuidados com o umbigo (uso de
remédios tradicionais e de limpeza) e com o nascimento dos dentes; e a alimentação da
criança (ver transcrição de cartazes em anexo).
O período da tarde foi destinado à preparação da conversa com a equipe
multidisciplinar. Os participantes sugeriram a divisão em grupos por T.I. para refletir
36
sobre problemas - no âmbito da aldeia e da cidade – e soluções a serem apresentados e
discutidos com os profissionais de saúde. Da mesma forma que nos trabalhos anteriores,
os participantes sistematizaram os resultados da discussão em cartazes com o objetivo
de apresentá-los aos profissionais de saúde que se incorporaram à reunião no dia
seguinte. O conteúdo desses cartazes serviu como base para a elaboração de um
documento reivindicativo (ver em anexo) dirigido ao chefe do DSEI/Alto Juruá que a
Sitoakore se disponibilizou a encaminhar.
Finalmente, o último dia foi dedicado à avaliação individual da reunião por parte
dos participantes e da equipe executora e à elaboração do documento mencionado.
Quanto à avaliação da reunião, os balanços dos participantes foram muito positivos. A
maior parte deles enfatizou que gostou do fato da reunião ser realizada em uma aldeia e
também porque constituiu um espaço no qual adquiriram experiência e aprenderam a
partir da troca com os outros participantes. O representante da T.I. Kaxinawa do Breu,
considerou ainda que a reunião teve um papel importante no sentido de ajudar a
perceber as necessidades de outros povos e de contribuir ao fortalecimento do próprio
conhecimento. Chamou atenção especial sobre a importância da reflexão a respeito das
funções dos pajés, parteiras e AIS. Mirvana Nukini também salientou que, além de
aprender com a experiência dos outros participantes, também se divertiu com as danças
e brincadeiras.
3.3.2. Participação e especificidades da interação entre os grupos indígenas
participantes
Em relação à interação entre os participantes durante a reunião, podem ser
consideradas questões relativas às relações de gênero, inter-grupais e inter-geracionais.
Deve-se notar, em primeiro lugar, que os únicos pajés que participaram eram Katukina,
moradores da T.I. onde foi celebrada a reunião. Os três pajés que estiveram presentes se
declararam muito felizes e emocionados de terem sido convidados pela primeira vez a
participar de uma reunião sobre saúde. Durante todo o evento foram extremamente
assíduos e colaboraram ativamente em todas as atividades, especialmente nos trabalhos
em grupo e nas brincadeiras.
Apesar de ser uma reunião à qual, além das parteiras, foram convidados pajés e
AIS – todos eles homens -, o evento de Campinas se constituiu como um espaço
fundamentalmente feminino, não apenas porque o número de mulheres era muito maior,
37
senão também porque o foco temático estava centrado nas atividades, práticas e
problemas das parteiras, enfim, em conhecimentos dominados por elas. As práticas dos
AIS e dos pajés foram tratadas especialmente na medida em que estavam associadas às
das parteiras. Nesse sentido, a reunião inverteu a lógica predominante na qual os
homens costumam ser escutados e protagonizar as ações que as instituições dos nawa
desenvolvem em favor das populações indígenas. Aqui, as mulheres assumiram o
protagonismo colocando os homens em segundo plano. Ainda assim, as mulheres não se
sentiram a vontade para falar sobre determinados temas, precisamente pela presença de
homens na reunião. Contudo, é necessário destacar que a participação dos homens foi
importante, de um lado, para eles escutarem a voz feminina num espaço de legitimidade
ao qual as mulheres dificilmente acessam, e, de outro, para realizar uma reflexão
conjunta sobre os temas propostos. Afinal, como ficou claro na reunião, as práticas e
problemas associados aos processos de gestação, parto e pós-parto incumbem à
comunidade como um todo e não apenas às mulheres.
Fotografia 7: Aldeia Campinas. Participantes katukina, em primeiro
plano, e nukini e nawa em segundo.
Nesta reunião um AIS Huni Kuin, em particular, acabou se destacando dos
demais por apresentar sempre uma postura tranqüila, gostar de ouvir as pessoas mais
velhas antes de se colocar e por ter já algum conhecimento a respeito dos temas de
discussão, dado que sua mãe é parteira. Foi importante constatar também o interesse e
respeito com que tanto as parteiras quanto, especialmente, os AIS, escutavam as
38
intervenções dos pajés. O que foi possível perceber na reunião é que os AIS novos estão
interessados em ter os pajés como parceiros e aprender com eles certas práticas,
especialmente o uso de ervas medicinais.
Em relação às relações inter-grupais cabe destacar que, enquanto entre as
pessoas vindas de fora se criou uma relação de proximidade e camaradagem – para o
qual foram importantes os espaços informais, como deslocamento coletivo de ônibus, a
hospedagem concentrada em dois locais, as horas do almoço e da janta, a hora do banho
–, já em relação as mulheres katukina, estas permaneceram mais fechadas e sua
integração no conjunto de participantes foi menor. Esta disjunção viu-se intensificada
por outro fato significativo, já que ao longo da reunião foi estabelecida uma diferença
clara entre os vários grupos participantes, definindo-se estes em dois pólos. De um lado,
os Katukina que se apresentaram, e eram percebidos pelos outros, como os “mais
tradicionais”, imagem construída em função de certos traços que eles se esforçaram em
sublinhar constantemente: falam preferencialmente na língua indígena, tendo muitos
deles pouca fluência em português; mantém numerosos “costumes tradicionais”;
recorrem o menos possível ao serviço de atendimento dos brancos; preservam aspectos
“visíveis” identificados com um maior grau de indianidade (pinturas, cantos, festas...).
No outro extremo, os Nukini e Nawa foram percebidos como os grupos mais
“aculturados”, com “cultura de branco”: já não falam mais a língua indígena, seus
costumes são identificadas pelos outros como costumes de branco7, recorrem com mais
freqüência aos serviços de saúde dos brancos, tendo pouco grau de autonomia a esse
respeito. Esta situação criou alguns constrangimentos, já que em determinado momento
da reunião as mulheres katukina reclamaram que não queriam mais trabalhar em grupos
que misturassem pessoas de diferentes etnias porque elas “falavam coisas de índio”,
enquanto as outras pessoas “falavam coisas de branco” e depois o discurso assumido
pelo grupo, para apresentar nos cartazes, era unicamente o dos Katukina. Igualmente, se
mostraram incomodadas ante a idéia de que pessoas de outros grupos que “tinham
7
No que diz respeito a questões associadas ao parto, o fato da pressão alta durante a gravidez ser
um problema significativo para as mulheres Nukini e Nawa, assim como a relevância do cumprimento de
resguardo e do fato de optarem por ganhar nenê prioritariamente na cidade, foram identificados pelas
Katukina como traços da “cultura de branco”, que se contrapõem às próprias práticas: as mulheres
Katukina não realizam “resguardo” – logo após ganhar nenê retomam suas atividades –; não sofrem
pressão alta porque usam as injeções de kambo durante a gravidez e se recusam a ganhar nenê na cidade.
39
perdido sua cultura” estivessem aprendendo e levando consigo aspectos da cultura
katukina.
Na disposição espacial dos participantes no cupishawa durante a reunião foi
possível perceber de que forma deu-se a integração entre eles: enquanto as mulheres
Nawa, Nukini, Jaminawa-Arara e Arara se sentavam em pequenas cadeiras, em geral
misturadas entre si, as mulheres Katukina se sentavam sobre esteiras de palha, no chão,
sem se misturar com as outras mulheres e numa posição mais interior.
porta
Arara e
JaminawaArara
Nukini,
Nawa
Homens
Katukina
Mulheres
Katukina
Técnicas e
integrantes
de Sitoakore
Figura 1: Disposição dos participantes durante a Reunião realizada na Aldeia Campinas
3.3.3. Reunião com os profissionais de saúde.
O projeto previa inicialmente dois dias para realização de uma conversa com a
equipe do pólo-base de forma a aprofundar a reflexão sobre as possíveis articulações e
limites entre os saberes tradicionais e a biomedicina.
Após uma negociação com o DSEI em Cruzeiro, esses dois dias foram reduzidos
a um, de maneira a não alterar demasiadamente à programação de trabalho da equipe
multidisciplinar. Em reunião junto ao DSEI fomos informados de que a equipe
encontrava-se realizando atendimento em uma T.I., mas que até o dia da Reunião alguns
profissionais já estariam de volta e poderiam participar. Repassamos a programação
40
para as enfermeiras do DSEI, explicando os objetivos da Reunião e o que esperávamos
da participação dos profissionais de saúde.
No final da manhã do penúltimo dia de discussões (19/02), os representantes do
DSEI e pólo-base de Cruzeiro do Sul chegaram na aldeia Campinas e à tarde foram
incorporados na Reunião.
Primeiramente houve uma apresentação dos profissionais presentes (um médico,
um odontólogo, uma farmacêutica, uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, um
representante do DSEI). O discurso dos profissionais nesta apresentação inicial foi no
sentido de reforçar que estavam participando especialmente “para ouvir” e “(...) para
responder e tentar fazer este questionamento com vocês da melhor forma possível (...)
nosso chefe de distrito não pode comparecer e a gente vai estar fazendo anotações e
levando esses questionamentos a ele e posteriormente ele vai estar passando algum
posicionamento frente a esses questionamentos de vocês” . A fala do médico, recém
chegado na equipe, distinguiu-se das demais por apontar uma disposição em não só
tratar, mas especialmente aprender com os grupos: “estou aqui para atender todos
vocês, não só para passar alguma coisa para vocês, mas aprender com vocês, o que
vocês me ensinarem eu vou agradecer”.
Após as apresentações, as técnicas sugeriram que principalmente as duas
profissionais com alguma experiência de trabalho nas TIs comentassem sobre a questão
dos atendimentos em área, as dificuldades relativas à atenção à saúde da mulher,
exames de PCCU, pré-natal, relação com as parteiras e AIS, etc. A enfermeira que hoje
atua no pólo iniciou contando sua experiência na equipe do pólo de Mâncio Lima.
Ressaltou que os grupos Nawa e Poyanawa são muito bons para trabalhar, porque já
falam português muito bem. O maior problema encontrado por ela foi quanto à questão
de realização do pré-natal e da imunização das gestantes na região do Môa, pela
distância e a dificuldade de deslocamento. Explicou que atualmente são realizadas por
gestante, em média, três consultas de pré-natal, mas que estas não são suficientes para
solicitação de todos os exames necessários. Isto porque existe uma demora na liberação
dos exames pela rede do SUS. Muitas vezes quando a liberação ocorre, a mulher já
pariu. Também comentou que o cronograma de viagens não coincide com as
necessidades de acompanhamento do puerpério e do recém-nascido.
Quanto aos partos, salientou que as mulheres indígenas preferem que sejam
realizados pelas parteiras na aldeia, e que a equipe multidisciplinar procura respeitar
41
essa opção. A equipe, estando em área, fornece à parteira os materiais de parto, e só
intervém quando ocorre algum tipo de problema.
Comentou que os grupos são de fato muito diferentes entre si e que geralmente o
primeiro contato da equipe em um determinado local “cria um pouco de rejeição”. Esta
vai sendo dissipada à medida que a equipe vai ganhando a confiança das pessoas.
Também chamou atenção para o fato que os profissionais de saúde geralmente saem da
faculdade e vão direto para a área indígena, sem ter nenhum tipo de preparo, e que a
comunidade deveria tentar ajudar estes profissionais.
Há de se salientar que os discursos dentro de uma equipe são múltiplos. Se por
um lado tem-se uma enfermeira que reconhece as dificuldades em relação ao trabalho e
se mostra minimamente sensível às diferenças culturais, por outro há profissionais
extremamente etnocêntricos e que não conseguem ter uma percepção mais refinada da
realidade com a qual trabalham, como aponta o depoimento a seguir: “a gente ta aqui
para tratar da saúde do ser humano, o índio ele é um ser humano, a gente não tem que
pensar essa diferença entre branco, ou índio ou não-índio, a gente tem que tratar é tudo
igual, eu vejo por essa forma não tem que ter diferença” e continua, “hoje a gente
estava lá na Bananeira uma gestante chegando nos 9 meses de gestação estava com
falciparum e tava com medo de ir para cidade para fazer exame, eu não entendo o
motivo, não sei se ela tem medo da equipe, não sei que trauma que deu para essa
pessoa para ela rejeitar esse tipo de atendimento”. Estas colocações mostram a
dificuldade de alguns profissionais de saúde de se distanciarem de suas próprias
referências para ouvir, procurar entender e respeitar culturas distintas. Por isso mesmo
torna-se incompreensível para estes, as críticas advindas dos grupos, já que não
apreendem a significação mais profunda que subsidia essas reclamações: (...) “se estiver
tendo algum ponto negativo tem que chegar para gente e falar (...) porque existe esta
dificuldade também, a gente pensa que faz um bom trabalho, hoje eu acabei de atender
aqui eu imagino que todo mundo esteja satisfeito, porque ninguém falou nada, mas
depois a gente fica escutando buchicho, não tá legal, podia ter melhorado, então é
acabar com isso”.
Depois da fala dos profissionais e conforme havia sido acertado com os
participantes, os grupos iniciaram suas apresentações a partir de cartazes produzidos por
eles mesmos (em anexo). Nestes cartazes foram listadas as dificuldades dos grupos
quanto ao trabalho da equipe em área indígena (incluindo aqui a relação dos
42
profissionais com os vários agentes indígenas que atuam com saúde), bem como os
problemas relativos ao atendimento e encaminhamentos ao pólo-base, incluindo aqui a
questão da hospedagem e da alimentação na cidade para o paciente e acompanhante, a
falta de infraestrutura do pólo, falta de medicamentos, e o mau atendimento nos postos
de saúde, hospital e maternidade. Foram levantados não somente os problemas, mas
também sugeridas soluções para resolvê-los.
Dentre as reivindicações mais recorrentes que surgiram foram:
¾
A formação e contratação de uma AIS mulher por aldeia.
¾
A FUNASA deve disponibilizar motor, barco e gasolina para cada uma das
parteiras e dos AIS, quando a locomoção entre as aldeias de determinada TI ou desta à
cidade é fluvial, ou ainda bicicletas quando a locomoção entre aldeias é realizada pela
estrada (no caso dos Katukina).
¾
Devem ser fornecidos equipamentos para as parteiras (kit da parteira, balança) e
para os AIS (medicamento básico) trabalharem com qualidade nas aldeias.
¾
É necessária a construção de um ponto de apoio para as parteiras realizarem os
partos (“às vezes na casa da gestante tem criança, tem o marido dela”; “não tem
sossego...”) e para os AIS guardarem os equipamentos e medicamentos. Quanto a essa
reivindicação, alguns grupos se dispuseram a construir essa casa de apoio, desde que a
FUNASA forneça o material necessário.
¾
É importante uma ajuda financeira para as parteiras e pajés e também a
contratação dos AIS homem e AIS mulher.
¾
É urgente o conserto ou implementação do sistema de radiofonia nas Terras
Indígenas ou a implantação de telefone público na aldeia, de forma a possibilitar o
contato com o pólo-base.
Além dessas reivindicações gerais foram apontadas algumas mais específicas,
detalhadas no documento que segue em anexo.
Vale considerar, por fim, que o tempo de discussão destinado à troca com os
profissionais de saúde foi insuficiente para aprofundar na reflexão sobre a relação entre
saberes das populações indígenas e a biomedicina, e que a troca ficou prejudicada não
somente pela questão do tempo, mas, especialmente, porque a maioria dos profissionais
43
que atuam há mais tempo na equipe não compareceu pelo fato das pessoas estarem
envolvidas em outras atividades do pólo e DSEI.
3.4
2º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
A 2ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS foi realizada na Aldeia do
Caucho (T.I. Igarapé do Caucho, município de Tarauacá) entre os dias 13 a 17 de
março. Estava prevista a vinda de participantes das seguintes T.Is: Kaxinawa do Rio
Humaitá; Igarapé do Caucho; Kampa do Igarapé Primavera; Kaxinawa da Praia do
Carapanã; Rio Gregório; Kaxinawa da Colônia Vinte e Sete; Kaxinawa do Baixo Rio
Jordão; Kaxinawa do Rio Jordão; Kaxinawa do Seringal Independência.
Devido as comunidades do Jordão estarem envolvidas na gravação de um DVD
de cantos no mesmo período previsto para a Reunião, não contamos com a participação
de nenhum representante das T.Is. Kaxinawa do Baixo Rio Jordão e Kaxinawa do Rio
Jordão.
Especificamente em relação aos Kampa, apesar de se encontrarem em Tarauacá
na data marcada, sentiram-se constrangidos de participar porque, segundo o que nos foi
repassado pela monitora, ‘eles não sabiam escrever’. Apesar de nosso repasse de
argumentos para a monitora sensibilizá-los quanto à importância da presença deles na
Reunião, acabaram enviando somente um rapaz com fluência em português.
Vale apontar que, em relação à questão logística e de articulação com as
comunidades, contamos com o apoio das organizações indígenas locais (OPIRE e
OAEYRG). A liderança da aldeia na qual seria realizada a reunião também se colocou a
disposição e nos ajudou com a previsão da alimentação e combustível, de forma a
garantir o bom desenvolvimento da mesma.
Esta Reunião esteve também marcada pelo comparecimento da Gerente da Área
de Intervenção de Medicina Tradicional Indígena - Subcomponente Ações Inovadoras
em Saúde - Projeto VIGISUS II/FUNASA, Luciane Ouriques Ferreira, do Diretor do
Instituto de Pesquisa e Documentação Olhar Etnográfico, Ricardo Calaça, e de uma
assessora desse mesmo instituto, Virgínia Litwinczik.
3.4.1. Desenvolvimento da reunião
Os participantes dos grupos indígenas convidados e as técnicas do projeto se
deslocaram de barco para a Aldeia do Caucho um dia antes do início da Reunião
44
propriamente dita. Os Huni Kuin prepararam uma recepção tradicional para os
convidados.
Assim como em Cruzeiro do Sul, a programação serviu essencialmente como um
roteiro de temas. No decorrer da reunião as falas propuseram conexões com tópicos não
pontuados no roteiro, encaminhando as conversas para novas searas. Optamos aqui por
apresentar
algumas
discussões
que
consideramos
relevantes,
sem
seguir
necessariamente a ordem cronológica da programação (em anexo).
Quanto à Avaliação dos cursos de aperfeiçoamento das parteiras tradicionais,
percebemos uma expectativa das parteiras que não haviam realizado cursos ou das mais
novatas - escolhidas recentemente pela comunidade – quanto à obtenção do kit e/ou dos
materiais que o compõe: “estou com 10 partos que eu faço; eu nunca fiz curso; nunca
ganhei material de parto”.
A avaliação dos cursos, da mesma forma que na reunião na aldeia Campinas, foi
positiva mas centrada em alguns procedimentos técnicos e nos materiais das parteiras.
De forma geral, os materiais são vistos como tecnologias que incrementam o trabalho,
conforme apontam os seguintes depoimentos: “minha mãe fazia um cordãozinho e
amarrava, agora usa tesoura”; “recebi material, me ajudou muito (...) antes trazia
para cá para fazer pré-natal”; “ [primeiro] só pegava tipo essas pessoas antigo, não
tinha nem um material (...) pegava com o pano, ela [minha avó] me ensinou a pegar
com pano, isso que eu fazia antes da gente ter o curso e agora eu não faço mais isso, e
até a tesoura de cortar o umbigo das criança era as vezes tesoura enferrujada, até a
faca nós cortemos o umbigo da criança que nós peguemos que não tinha uma tesoura
na casa dessa família...”; “nós recebemos todo o material: a bota, a sombrinha, a
lanterna que às vezes o parto faz mais a noite” . Se por um lado o kit é bem vindo pelas
parteiras – assim como os cursos -, por outro sua ausência não cria nenhum tipo de
impedimento para a realização dos partos: “ela nunca recebeu o kit (...) mas nem por
isso ela não deixou de fazer o parto, ela sempre vem fazendo da maneira que ela
sempre vem fazendo” ou ainda, “quanto o parto tradicional ela sabe muito bem, mas
como ela quer aprender qual a diferença do parto tradicional e o não-tradicional que
ela está participando dessa oficina e de outros cursos(...)”.
Um outro ponto a ressaltar foi o contraste entre mulheres que nunca fizeram
curso, mas que são reconhecidas pelo grupo por sua experiência em pegar crianças (“ela
sempre vem pegando, mas ela nunca participou de nenhum curso”; “Porque na Nova
45
Esperança não é só a L. [parteira convidada a participar da reunião] que é parteira, tem
muitas mulheres, muitas velhas que faz parto e que sabe tem um conhecimento muito
avançado, de muito tempo (...)”) e mulheres instituídas pelo grupo como parteiras e que
só começaram a fazer parto a partir dos cursos (“lá na minha comunidade não tinha
nenhuma parteira, aí nossa liderança me escolheu como parteira, eu participei e eu
também recebi um pouquinho de material que eles deram aquela época para as
parteiras, antes eu só participava, mas eu não tinha coragem de chegar eu mesmo fazer
um parto, aí depois daquele curso eu aprendi muita coisa, foi muito importante, eu
aprendi eu mesmo fazer um parto, depois daquela participação que eu tive eu mesmo eu
fiz 4 partos, lá mesmo na minha aldeia”). Este processo de instituição de novas
parteiras não tem retirado a proeminência e o reconhecimento da experiência das
parteiras mais antigas.
Vale salientar também que os cursos, apesar de terem o foco no repasse de
informações e muitas vezes ignorarem o conhecimento pré-existente das parteiras,
acabam propiciando, sem intenção, trocas informais de saberes entre os representantes
dos vários grupos indígenas presentes: “(...) cada aldeia faz um parto diferente, um
cuidado diferente da outra aldeia (...) então a gente trocou também de experiência uma
com a outra naquele curso que teve [do GMI, em Tarauacá]”. De qualquer forma, a
experiência das parteiras (‘como começaram a pegar criança’) e o processo de
aprendizagem (baseado no “olhar”, “assistir” e “ajudar”) de algumas técnicas foram
contrastados pelas próprias parteiras ao conteúdo e metodologia dos cursos. Como
sintetizou uma parteira “Curso é bom, ensina o que a gente não sabia no passado;
[mas] o melhor curso é estar fazendo o parto”.
Um outro tema que merece ser destacado é que no processo que envolve os
cuidados com a gestante, o parto, o puerpério e os cuidados com a criança, a parteira
não atua sozinha. Os homens tais como, o esposo da grávida, às vezes o marido da
parteira, pajés e AIS, realizam funções essenciais como as de buscar remédios na mata,
auxiliar na hora do parto, rezar, curar, entre outras.
Os participantes designaram especificamente os cuidados com a gestante como
pré-natal indígena ou pré-natal na aldeia: “primeiro nós faz o pré-natal na aldeia assim,
com os pajés, né? e pelo menos nós parteiras se souber nós faz, nós mesmos; aí eu vou
entrar em contato com o pajé, eu vou falar que minha gravidez tá sentindo isso, aí ele
tá entendendo o que que tá sentindo, o que precisa, aí ele que vai tirar o remédio do
46
mato, se é pra tomar, se é pra banhar, isso que nós trabalha parceria” ou ainda “ela
[parteira] também faz o pré-natal indígena junto com o esposo dela (...) para mulher ter
o parto mais rápido” .
Se a parceria das parteiras com os pajés já está consolidada, a com os AIS é
recente e, por isso mesmo, encontra-se ainda em processo de construção. Os AIS além
de desempenharem funções relativas à atenção à saúde próprias dos não-índios, tais
como prescrever analgésicos, aplicar soro, medir a pressão, etc., têm também ajudado as
parteiras na busca de remédios na mata e nos encaminhamentos da paciente à cidade em
casos de emergência na hora do parto. Alguns AIS disseram ainda contribuir com as
parteiras na leitura dos livros recebidos nos cursos -“Parteira ganha material, ela não
sabe ler, mas leva na memória” - e também quanto ao preenchimento da ficha do
recém-nascido. Já a relação entre AIS e pajés é bastante variada. Enquanto que um
Katukina do Gregório afirma que o“AIS não entende o que é medicina da mata”, os
Huni Kuin tanto do Carapanã, quanto do Humaitá explicitam de que maneira vêm se
dando concretamente esta articulação em suas comunidades. Um AIS do Carapanã
reforçou que, além dos AIS, AISAN, professor indígena e parteiras, a família também
tem seus próprios conhecimentos acerca das plantas e suas potencialidades. A saúde,
portanto, não diz respeito somente aos especialistas ou agentes institucionalizados, mas
a todas as pessoas.
É interessante ressaltar que, no decorrer da reunião, os participantes se
depararam com as diferenças culturais, o que causou muitas vezes sensações de
estranhamentos, confrontos entre saberes e muita reflexão. A fala de um Katukina em
uma discussão que tinha como tema a medicina tradicional é bastante esclarecedora
desse processo: “Estou sentindo mais um pouco vergonhoso, nós não sabe o que é
medicina, nós não entende o que é medicina da mata, nós cura através da reza dos
pajés”. Esta fala surge em um contexto onde os Huni Kuin estavam explicando sobre o
trabalho dos pajés especializados em ervas. Para os Katukina, como foi apontado, não
há essa especialização dos pajés que se opera junto aos Huni Kuin.
Um outro tema que suscitou muita discussão foi a respeito das experiências das
mulheres que vão ganhar a criança no hospital/maternidade. As participantes apontaram
sofrer mal-tratos e preconceitos por parte dos profissionais de saúde que atuam nas
instituições, falta de cuidados específicos com a gestante e as técnicas de parto que são
consideradas agressivas e distintas das que as gestantes indígenas estão acostumadas na
47
aldeia, conforme apontam os seguintes depoimentos: “[antes do parto] a enfermeira
mandava ficar andando”; “na mesa [de parto] fica deitada só, [uma] perna prá lá,
outra prá cá”, “enfermeira mata porque não sabe puxar a criança”, “pessoa fica muito
só, não tem apoio das enfermeiras parece que nem é um ser humano”.
Em contraste com os descuidos encontrados na cidade, a discussão que se
seguiu foi justamente à atenção fornecida à gestante e à puérpera nas aldeias. O
acolhimento e o ‘carinho’ dos familiares e da parteira parecem ter um papel
fundamental nessa discussão. Os cuidados mais recorrentes apresentados foram quanto
à dieta da gestante, da mulher que ganhou a criança e do marido desta. Tanto os
comportamentos, quanto a alimentação são essenciais para evitar problemas à criança.
Também foram bastante ressaltados a aplicação de remédios da mata pela parteira e
pelos pajés. Mais uma vez, os grupos contrastaram seus saberes, mas também
encontraram pontos de intersecção, especialmente em relação às dietas.
Da aldeia retornou-se novamente à cidade, para a discussão sobre o pré-natal.
Em geral não existe uma recusa quanto a este procedimento, uma vez que os grupos
reconhecem a importância de verificar a situação de saúde da gestante em especial entre
os Yawanawa, onde há casos sérios de diabetes e pessoas com problemas recorrentes
durante a gravidez. Se não há recusa há, porém, uma crítica generalizada quanto à falta
de infra-estrutura (combustível, transporte, alimentação, hospedagem, falta de recursos ultra-sonografia-) na cidade, para atender tanto as próprias gestantes quanto às parteiras
que as acompanham. Existe também uma falta de reconhecimento do trabalho das
parteiras pelo pólo - quando estas encaminham uma gestante à cidade sem estarem
acompanhadas pelos AIS - e pelos hospitais, uma vez que são impedidas de participar
das consultas de suas pacientes e de assistirem aos partos.
Foi prevista para esta reunião uma discussão sobre amamentação e também
sobre o uso de métodos anticoncepcionais, que acabou não ocorrendo devido a atrasos
no cronograma. Dessa forma partiu-se diretamente à preparação da conversa com os
profissionais de saúde, a partir da metodologia de trabalhos em grupo. Diferentemente
do que ocorreu em Cruzeiro e principalmente pelo fato de haver um número maior de
grupos e também de assessores não-índios, saíram resultados bem distintos. Apesar das
monitoras indígenas terem apontado em uma reunião inicial que a metodologia de
grupos seria pouco interessante, a utilizamos para potencializar as discussões relativas
aos problemas de saúde enfrentados por cada T.I. e especificamente pelos grupos
48
indígenas que a compõe. Sugerimos que os grupos de debate fornecessem atenção
especial quanto à relação entre as parteiras e os AIS e a equipe de saúde. Estes fóruns
menores de discussão, de modo geral, garantiram uma participação efetiva dos
componentes, além de propor um exercício de reflexão e sistematização tanto dos
problemas de saúde, quanto de possíveis soluções a serem apresentadas e sugeridas à
equipe multidisciplinar.
No último dia foi proposta uma avaliação individual da reunião. Os participantes
de modo geral fizeram uma avaliação positiva e ressaltaram que aprenderam muito de
ouvir as experiências das parteiras mais velhas e dos pajés. A reunião propiciou não
somente uma percepção sobre a diversidade cultural, mas especialmente uma reflexão
sobre os conceitos de cultura e também de saúde.
3.4.2. Interação entre parteiras pajés e AIS e entre os vários grupos indígenas
participantes.
Nessa 2ª Reunião ocorrida na aldeia do Caucho quase todos os participantes,
com exceção de um rapaz kampa e duas parteiras nawa casadas com Huni Kuin, eram
falantes de línguas da família Pano, facilitando sobremaneira o entendimento mútuo e a
comunicação. Isso fez com que em muitos momentos da reunião, inclusive na
apresentação, não fossem realizadas traduções, uma vez que a maioria dos participantes
estava entendendo o que estava sendo falado. Esta apropriação da reunião pelos grupos
‘pano’ também reverberou em um certo descaso, quanto a participação das parteiras
nawa. Já em relação ao rapaz kampa, houve uma preocupação dos participantes em
envolvê-lo, não somente na esfera dessa reunião específica, mas preconizando uma
articulação política mais ampla dos Kampa com os outros grupos indígenas da região.
As traduções, por sua vez, quando ocorreram, foram realizadas logo após os
depoimentos e com as devidas censuras quanto ao que foi estipulado pelos participantes
e/ou pelo tradutor como sendo ´segredo`. Nesta categoria foram incluídos nomes de
plantas medicinais e sua manipulação, mitos, etc.
A interação entre os participantes dos vários grupos indígenas deu-se
gradualmente e tanto no espaço formal, ou seja, na reunião propriamente dita, quanto
nos informais como os locais de hospedagem, de alimentação, no chafariz, entre outros.
49
A primeira discussão conjunta foi para a elaboração de um Regimento
estabelecendo horários para início e término da reunião, bem como os intervalos para as
refeições e lanches. É interessante perceber que se por um lado os horários dizem
respeito a uma forma específica dos não-índios organizarem seu tempo, por outro
também tem sido apropriados pelos grupos indígenas para garantir fundamentalmente
espaços de descanso, alimentação, descontração e inclusive troca de experiências
durante a reunião.
A disponibilização de crachás e de materiais para anotação, sugestão das
integrantes da Sitoakore, também pode ser entendida neste mesmo registro da interação
entre os participantes. Enquanto os crachás auxiliam na identificação das pessoas, os
materiais de anotação incrementaram a conexão entre os participantes mais velhos e os
mais jovens (novas parteiras e AIS) uma vez que esses últimos demonstraram muito
interesse em registrar as discussões para disponibilizá-las também aos mais velhos.
Quanto ao contexto da reunião, vale dizer que os participantes reconheceram o
protagonismo das parteiras. De fato, criou-se pela primeira vez um espaço onde os
homens, representados especialmente na figura dos pajés e AIS, ouviram as
experiências e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres e parteiras. Esta apreensão foi
explicitada em várias falas, especialmente dos AIS. “Todos passaram pela mão das
parteiras, é importante estar aqui para ouvir; porque as dificuldades são muito
grandes”.
Os pajés, por sua vez, sentiram-se respeitados – pelo fato de terem sido
convidados – e reconhecidos pelos participantes como agentes produtores de saúde e
detentores de conhecimentos. Os pajés puderam contrastar através das falas, as
diferenças quanto as suas atuações em cada comunidade e principalmente as
possibilidades e limites das parcerias com as parteiras e AIS. Um outro aspecto
extremamente relevante foi que a reunião permitiu estabelecer (nos grupos onde não
havia) e/ou consolidar (naqueles que já havia) um canal de diálogo principalmente entre
os jovens AIS e os pajés.
Durante a reunião, a equipe executora procurou incorporar os vários agentes
presentes - AIS, AISAN, professores indígenas e os Agentes Agroflorestais – nas
discussões, de forma a fazê-los refletir sobre seu papel quanto à saúde e as parcerias
possíveis com os outros agentes presentes, em especial com as parteiras.
50
3.4.3. Reunião com os profissionais de saúde.
A falta de uma articulação prévia do DSEI/Alto Juruá junto ao pólo-base de
Tarauacá não inviabilizou o desenvolvimento das atividades previstas para esta etapa do
projeto, mas trouxe algumas implicações ao desenvolvimento da reunião. Sem o devido
repasse de informações, o pólo não programou um tempo exclusivo para ser dedicado
pela equipe multidisciplinar ao evento, tendo esta uma viagem já agendada para a T.I.
Humaitá. Assim, contamos apenas com uma única profissional de saúde no evento.
Vale apontar que uma das atividades desenvolvidas pelas técnicas, antes de
seguir para a TI, foi colocar a equipe de saúde a par dos objetivos da reunião, dos temas
que seriam enfocados e como havia sido pensada a participação deles no evento. Os
assuntos sugeridos para uma discussão mais aprofundada foram: a relação entre os
vários agentes – parteiras, pajés, AIS, profissionais não-índios, AISAN e AAF - que
atuam com saúde indígena e questões específicas relacionadas com a saúde da mulher.
Não deixamos de salientar, para evitar possíveis constrangimentos, que o espaço na
reunião havia sido apropriado e estava sendo utilizado pelos grupos também como um
espaço de reivindicações.
Já com a devida noção do que estava sendo discutido na reunião, os
representantes da equipe e do pólo chegaram para participar do evento, no penúltimo dia
pela manhã. Depois da recepção, a auxiliar de enfermagem comentou rapidamente sobre
o trabalho da equipe e forneceu um panorama das dificuldades enfrentadas por esta para
desenvolver as ações relativas à saúde materno-infantil. Dentre as dificuldades destacou
a falta de equipamento (maca portátil e local para atendimento) e materiais para exames
(PCCU) a serem utilizados na aldeia, a falta de um recurso específico destinado à
alimentação das gestantes que vão realizar o pré-natal na cidade, dificuldades quanto
aos encaminhamentos para ultra-sonografia e endoscopia e a falta do retorno para a
parteira que acompanha a gestante no pré-natal.
Depois desta fala, os grupos, por T.I., iniciaram a apresentação dos cartazes
produzidos, que traziam listados problemas enfrentados em relação à saúde e sugestões
de resolução (ver anexo). Alguns grupos apenas leram o que havia sido escrito, não
permitindo entrever a riqueza das discussões que haviam gerado as sínteses. Outros
grupos, em compensação, optaram por comentar e complementar o que estava escrito
nos cartazes, fornecendo para tal, exemplos concretos, vivenciados por eles. Apesar da
51
apresentação ter sido um tanto quanto cansativa, já que alguns problemas eram
reiterados por vários grupos, essa metodologia de trabalho garantiu a exposição
conjunta de problemas específicos de cada grupo indígena. Por mais que várias questões
já tivessem sido levantadas nas reuniões do Conselho Local e Distrital, cumpre ressaltar
a importância e especificidade deste fórum, que propiciou às mulheres um espaço
próprio e legítimo para suas reivindicações, frente aos vários agentes de diversos grupos
indígenas presentes.
Após as apresentações, vários participantes se manifestaram individualmente e
de forma contundente, exemplificando problemas genericamente pontuados nos cartazes
e também discutindo possibilidades e/ou limites de articulação entre os trabalhos dos
profissionais de saúde não-índios e os agentes indígenas (parteiras, pajés, AIS, AISAN,
AAF e professor).
Apesar das tensões, a representante da equipe multidisciplinar procurou
responder algumas das questões levantadas e se colocou pessoalmente a disposição para
atender e resolver problemas ao seu alcance.
3.5
3º Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
A 3ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS foi realizada na Aldeia Morada
Nova (T.I. Katukina/Kaxinawa, município de Feijó) entre os dias 27 a 31 de março.
Estava prevista a vinda de participantes das seguintes T.Is: Jaminawa/Envira; Kampa e
Isolados do Rio Envira; Katukina/Kaxinawa; Kaxinawa do Nova Olinda; Kulina do
Igarapé do Pau; Kulina do Rio Envira; Kaxinawa do Seringal Curralinho.
Nesta reunião compareceram participantes de todas as T.Is. previstas. Vale
salientar que o número de participantes foi muito maior do esperado (lembremos que,
como consta no projeto, foi prevista a participação de 32 pessoas por reunião) e que a
presença dos Kampa foi especialmente significativa, tanto numérica, quanto
qualitativamente. Conforme fica registrado nas listas de presença passadas diariamente
para os participantes assinarem, no primeiro dia de reunião (27/03) estiveram presentes
105 pessoas; no segundo, 73 pessoas; no terceiro, 79 pessoas; no quarto, 78 pessoas; e
no quinto (31/02), 80. Como aconteceu na reunião realizada na aldeia do Caucho, esta
afluência de participantes muito acima das previsões foi conseqüência, de um lado, de
um repasse de informações inexatas por parte da Sitoakore às organizações indígenas
locais que deviam fazer a intermediação com as aldeias, e de outro, da grande
52
expectativa que o projeto gerou entre as comunidades contempladas por ele, assim
como de certas características próprias das sociedades indígenas (por exemplo, as
pessoas tendem a viajar com outros familiares, ou não levam em conta normas rígidas
que não fazem muito sentido para elas). Mesmo usando como justificativa os limites
estabelecidos pelo projeto, as organizações indígenas locais e, em maior medida, a
Sitoakore não têm capacidade de impor uma decisão às comunidades. A este respeito,
existe sempre uma negociação entre as organizações indígenas que mantêm o diálogo
com as instituições dos brancos e as comunidades. Verificamos assim, um permanente
esforço por parte das organizações para tratar de beneficiar e satisfazer o maior número
possível de pessoas das aldeias, as quais constituem seus apoios de base. Contudo, deve
ser notado que, apesar das dificuldades que o grande número de participantes acarretou
no referente à logística, também teve aspectos positivos, já que implicou numa
diversificação dos participantes e na possibilidade de ter conhecimento de um maior
número de experiências, enriquecendo, deste modo, os debates durante a reunião. Cabe
destacar, finalmente, que mesmo com um número tão alto de participantes, foi possível
cobrir os gastos da reunião com os recursos orçados no projeto.
Fotografia 8: Aldeia Morada Nova. Mulher Kulina
participando da reunião.
3.5.1. Desenvolvimento da reunião
Cumpridos os procedimentos
iniciais realizados em cada reunião
(apresentação do projeto por parte das
integrantes da Sitoakore e das técnicas;
apresentação
definição
dos
de
participantes;
alguns
aspectos
da
dinâmica da reunião, como os horários;
discussão
sobre
a
o
registro
audiovisual da reunião, conforme foi
detalhado no item 3.2.3.), o primeiro
tema proposto, seguindo uma pauta já
estabelecida nas reuniões anteriores
(ver programação da 3ª reunião em
53
anexo), foi a avaliação dos cursos para parteiras, em particular do curso de
Aperfeiçoamento das parteiras tradicionais indígenas realizado pela Sitoakore. De
forma geral, há uma valorização destes cursos pelas participantes. Muitas das
considerações se centraram no aprendizado do uso do material do kit (a tesoura, o
colírio para os olhos da criança, o piná, etc.) e das técnicas de parto (corte do cordão
umbilical, como evitar o tétano, botar colírio no olho da criança, esterilização dos
instrumentos, não fazer força na hora do parto). A maior parte das mulheres considera
fundamental o kit da parteira e reivindica a necessidade de receber periodicamente os
materiais que se acabam como o uso. Apenas as considerações de uma mulher, Lucia,
que além de parteira trabalhou muito tempo como AIS, destoaram deste parecer geral.
Segundo sua opinião, o trabalho da parteira não depende de ter recebido o kit, já que o
importante é aproveitar os recursos ao alcance: “Já participei de dois cursos, não achei
muita diferença o parto indígena do parto do branco. [...] eu não recebi o material,
mas quando eu vou fazer o parto eu primeiramente vou esterilizar minhas mãos. Eu
muitas vezes corto o umbigo com a tesoura que eu uso para cortar a roupa, mas antes
de eu usar, eu primeiro vou ferver, depois que eu fervo aí que eu vou cortar umbigo de
criança. Mas eu não achei muita diferença não. Só tem uma diferença, uma coisa que
diz assim que negocio da placenta custa vir, nascer, eu não vou injetar (?) eu vou
diretamente na mata, eu tiro remédio e eu uso. E nas minhas mulheres que eu faço
parto, eu cuido dela até acabar o resguardo, eu tiro um remédio da mata, eu dou um
banho nela e passo na barriga, eu só desisto dela quando está boa.”
Outro aspecto dos cursos considerado positivo foi o aprendizado dos
procedimentos do pré-natal “do branco”, sendo que esta é uma prática relativamente
nova para as mulheres que moram nas aldeias. Este acompanhamento das grávidas
durante a gestação passou a constituir uma das responsabilidades que atualmente as
parteiras estão assumindo, muitas vezes em colaboração com o AIS. Contudo, os cursos
não foram considerados benéficos apenas porque implicaram na aquisição de técnicas,
materiais e saberes novos que tendem a ajudar às parteiras em seu trabalho; o
significado desta apropriação foi mais profundo no sentido de ter contribuído à
valorização das parteiras em comunidades onde as mulheres estavam recorrendo
prioritariamente aos serviços do hospital para dar à luz.
É interessante constatar que, enquanto nos grupos pano a figura da parteira tem
contornos relativamente definidos, entre os Madihá e Kampa continua sendo bastante
54
difusa, dado que não há esse tipo de especialização. Nenhuma mulher kampa faz curso
ou tem o kit. Como Raina - professora indígena - mencionou, e outros Kampa
reforçaram, na própria reunião estavam aprendendo a respeito das parteiras: “estamos
ouvindo os parentes, o que é ser parteira, aprender também como é que é [...], para
conhecer também essas parteiras”.
Durante a primeira sessão foi proposta também uma discussão sobre o conceito
de “medicina tradicional”. A introdução desse tema na programação teve o intuito, por
parte de nós técnicas, de mapear como está sendo usado esse conceito entre as
populações participantes e de situar os debates subseqüentes no marco do mesmo.
Consideramos que, através de uma discussão crítica deste conceito entre as
comunidades, se promove a valorização das práticas terapêuticas tradicionais, assim
como uma reflexão sobre suas possíveis articulações com o sistema oficial de saúde.
Diferentemente do que aconteceu na reunião do Caucho, o debate sobre o conceito de
medicina tradicional teve um rendimento muito interessante.
Foi enfatizada por muitos participantes a necessidade de se preservar a medicina
tradicional, e para tanto consideram importante obter recursos através de projetos que
incentivem as práticas e a transmissão destes conhecimentos. A este respeito, Juliana
Rosalen lançou uma provocação perguntando se é necessário e desejável depender dos
recursos do ´branco` para desenvolver iniciativas que visem o fortalecimento do
conhecimento tradicional. Isto gerou várias reflexões, sendo que algumas pessoas
enfatizaram que a preservação desse conhecimento depende exclusivamente da vontade
e do esforço das comunidades: “Eu acho que erva tradicional não dependia muito do
dinheiro do branco, depende dos nossos interesses”. A necessidade de preservar o
conhecimento tradicional, como forma tanto de melhorar a saúde das comunidades
quanto de fortalecer a identidade dos povos indígenas, foi um tema que apareceu
recorrentemente em outras sessões da reunião, sendo reconhecida por alguns
participantes a contribuição do presente projeto nesse sentido.
Durante esta sessão dedicada a explorar o conceito de medicina tradicional foi
evidente que numa boa parte das intervenções medicina tradicional estava sendo
entendida, basicamente, como uso de plantas medicinais. Laura Pérez interveio
perguntando se a medicina tradicional se refere exclusivamente ao uso de plantas
medicinais. A partir daí, foram realizadas algumas intervenções onde o conceito de
medicina tradicional foi ampliado às práticas e conhecimentos dos diferentes agentes
55
indígenas que trabalham com a saúde. Zé Luiz Yawanawa se expressou da seguinte
forma: “eu acho que a medicina tradicional é a ciência que o povo indígena tem: o
povo shanenawa, os Ashaninka, os Madiha, os Huni Kuin, é a ciência que eles têm
desde a cultura antiga que eles vêem preservando, e essa ciência é relacionado o pajé,
a parteira, hoje já existe, o não-índio já deu esse nome de Agente Indígena de Saúde,
então eu acho que a medicina tradicional envolve esses trabalhos desse pessoal”. A
inclusão do AIS como praticante da medicina tradicional deve ser entendida no sentido
que, em muitos casos eles estão tendo a iniciativa de aprender junto aos especialistas
das respectivas comunidades o uso de plantas medicinais tradicionais e incorporando-as,
posteriormente, nos atendimentos que realizam. A importância de reforçar e incentivar a
cooperação entre pajés e AIS nas comunidades nas quais esta ainda não ocorre foi
enfatizada durante a reunião.
Fotografia 9: Aldeia Morada Nova. Manoel Albeci,
pajé Huni Kuin.
A colaboração entre parteiras,
pajés e AIS foi um tema aprofundado
em outra sessão. Em geral, todos os
participantes
reconheceram
a
necessidade das parteiras, AIS e pajés
atuarem
conjuntamente.
Alguns
mencionam que essa colaboração já
existe em certos níveis, mas outros
explicam que ela ainda não ocorre ou
deve ser melhorada. Em muitos casos,
o
papel
do
proporcionar
pajé
plantas
consiste
medicinais
em
à
parteira para esta tratar das grávidas e
parturientes quando necessário. O AIS,
por sua parte, ajuda à parteira anotando dados do nascimento da criança (data, nome,
peso, etc,) e encaminhando as grávidas, quando necessário, à cidade. Julio Nunes não se
referiu apenas à parceria entre os diferentes agentes indígenas, mas sublinhou a
necessidade de estabelecer parceria com os não-índios: “[...] não adianta também dizer
56
que tem que incentivar só a erva e deixar os brancos, tem que fazer a parceria assim
com medicamento e com nosso pessoal”.
Fotografia 10: Aldeia Morada Nova. Iraci e
Raimunda,
duas
experimentadas
parteiras
Shanënawa.
Em sessões posteriores, foram
tratados vários temas. Deu-se espaço
para as parteiras falarem sobre suas
experiências de como iniciaram a
prática do atendimento do parto. Muitas
delas explicaram que começaram a
fazer parto a partir de uma situação
extrema, em que, sem saber ainda, se
viram obrigadas a ajudar a uma mulher
que estava parindo já que não havia
ninguém
mais
para
socorrê-la.
Reconhece-se, em geral, a necessidade
de aprender algumas técnicas de outra
pessoa – comumente a mãe ou a avó -,
mas foi enfatizado também por várias
participantes que a capacidade para
realizarem partos é um dom. Dona Antônia, Huni Kuin casada com um Shanënawa de
Morada Nova, descreve assim seu primeiro parto (tradução da monitora): “ela começou
de fazer parto, ela não sabe qual idade, mas ela acha que tinha quatorze anos de idade
quando ela fez o primeiro parto de sua prima. Sua prima estava na casa dela, quando
ela morava em Tarauacá, aí quando a prima dela falou que ela estava com dor de
barriga, mas ela pensava que não era para ganhar nenê, queria fazer um chazinho,
pensava que estava com diarréia. Mas como a prima dela era acostumada de ter filhos,
falou ‘não, eu quero ter filho, você consegue fazer meu parto?’, então ela aprendeu
fazer o parto sozinha, da prima dela, com muito medo, mas conseguiu fazer o parto. E a
mulher que tinha parido ensinou ela como cortar o umbigo, e ela também nunca tinha
visto.”
57
Já as mulheres Kampa e Madihá explicaram que tinham aprendido com suas
mães e avós não apenas às práticas relativas à assistência do parto em si, mas também
outras técnicas relacionadas, como o uso de plantas medicinais durante os períodos de
gravidez e pós-parto. Terezinha, da aldeia Bananeira, explica que sua mãe está
repassando os conhecimentos para ela (traduzido por um tradutor kampa): “a mãe dela
era primeira parteira, a mãe dela está ficando velha não está agüentando mais
trabalhar, então repassou para ela, para ela ser parteira, então ela está lutando para
ser mesmo parteira de verdade, para a comunidade, porque ela já trabalhou com três
pessoas, a irmã dela, a parente dela de Simpatia, de Bananeira, que às vezes ela tem
vontade de aprender mais, trabalha como a mãe dela ensinou [...], o remédio do mato
também a mãe está repassando para ela”
Fotografia 11: Aldeia Morada Nova. Participantes
Kampa
Em relação à comparação entre
os partos na aldeia e os partos na
cidade, os participantes concordaram
em que é melhor dar à luz na aldeia do
que na cidade, sendo que recorrem aos
serviços públicos de saúde apenas
quando há complicações no parto ou
quando a gravidez apresenta riscos.
Foram
várias
as
vantagens
mencionadas em relação aos partos na
aldeia: é possível cuidar melhor da
alimentação, tanto da mãe quanto da
criança; permite realizar práticas que
objetivam preservar a saúde da mãe e
da criança, como por exemplo o uso de plantas medicinais, os resguardos e as dietas; a
parturiente se sente amparada e cuidada pelos parentes, num meio familiar. Ao contrário
disso, o parto no hospital supõe vários inconvenientes, alguns derivados das diferenças
entre os costumes indígenas e as práticas médicas dos brancos (as mulheres não gostam
de dar à luz deitadas, senão acocoradas; consideram atroz a prática de realizar a
episiotomia; não gostam de terem de ficar caminhando antes do parto, ou de ficarem
58
deitadas com as pernas para cima e abertas no momento de ter a criança), e outros de
um atendimento não adequado, marcado pelo preconceito e maus-tratos. Consideram
também que as pessoas que ganham nenê no hospital correm sérios riscos de adoecer, e
que, em suas experiências, as crianças nascidas na cidade costumam ter cólicas, coisa
que não acontece quando o nascimento acontece na aldeia.
Apesar destas considerações, e do incentivo que vem acontecendo por parte das
próprias comunidades para que as mulheres dêem à luz nas aldeias, no caso de algumas
comunidades mais próximas a Feijó, as mulheres mais novas têm optado por realizar o
parto no hospital.
Em relação às práticas tradicionais associadas à gravidez, o parto e o pós-parto,
também se faz importante o conjunto de cuidados com a gestante, a parturiente e o
recém-nascido, sendo esse justamente o tema de uma outra sessão. As parteiras e os
pajés participantes descreveram as regras que, em cada grupo, devem ser seguidas para
não acontecerem problemas de saúde e para que o parto transcorra adequadamente.
Entre estes cuidados destacam as dietas que devem seguir em certas ocasiões apenas as
gestantes, em outras todos os genitores8; os resguardos que precisam ser observados
após o parto pelos pais do recém-nascido; o uso de plantas medicinais durante a
gestação e o período pós-parto, que visam evitar a dor durante o alumbramento, assim
como proteger a mãe e a criança de doenças após o mesmo. Estas observações não se
referem apenas à saúde, mas têm outras ramificações como, por exemplo, a questão da
identidade indígena, já que estes cuidados visam, em última instância, construir corpos
– tanto os das crianças quanto os dos genitores – com capacidades e qualidades
socialmente valorizadas9. Francisco das Chagas, um AIS Huni Kuin, fez a seguinte
8
O tema da “couvade” tem sido retomado recentemente por alguns etnólogos amazonistas,
suscitando reflexões sobre as noções de corpo e de pessoa entre as sociedades amazônicas, assim como
sobre a relação alteridade/identidade no conjunto dos laços de parentesco (Rival 1998; Vilaça 2002).
Entre os grupos pano, não apenas a mãe e o pai ‘oficial’ da criança devem observam certas restrições
alimentares e comportamentais, mas também todos aqueles homens que mantiveram relações sexuais com
a mãe durante a gestação. Considera-se que todos eles contribuíram na formação do corpo da criança e
mantém com ele, portanto, uma ‘relação de substância’, conceito central na etnologia das Terras Baixas
de América do Sul (da Matta 1976; Viveiros de Castro 1977).
9
Muitas páginas e reflexões têm sido dedicadas à noção de “corpo” a respeito das sociedades das
Terras Baixas de América do Sul, assim como aos processos de construção do mesmo e seus significados,
59
reflexão a este respeito: “eu um dia desses estava conversando com minha avó e
procurando saber dela [...] eu estava procurando saber por que era que meu filho
jogava ainda bola, é apaixonado de bola [...], hoje nossas crianças eu tenho certeza de
que eles não são mais [..] matadores de caça [...] porque comeu, nossos pais, nossas
mães, comeram qualquer comida, e hoje nossas crianças são muito apaixonadas pelo
futebol, é porque eu tenho certeza que nós comemos aquela alimentação, pode ser um
animal, mesmo sendo da mata, pula por aqui, pula por aculá, e aquilo vai puxando”.
3.5.2. Interação entre os grupos indígenas participantes
Fotografia 12: Aldeia Morada Nova. Uma mulher kampa e uma huni
kuin conversam durante a reunião.
Diferentemente das reuniões anteriores onde predominaram os grupos pano,
nesta reunião contamos com a presença de grupos pertencentes a três famílias
lingüísticas diferentes: pano (Huni Kuin e Shanënawa), arawak (Kampa) e arawá
(Madihá). Além disso, os participantes dos diferentes grupos possuíam diversos graus
de domínio do português, que iam da fluência do falante a um desconhecimento quase
que remetem tanto ao parentesco em suas mais diversas dimensões, quanto ao mundo ritual e
cosmológico, e à relação entre ética, estética e sociabilidade (Erikson 1996; Seeger, da Matta & Viveiros
de Castro 1987 [1979])
60
total, especialmente entre alguns Kampa e Madihá. Apesar de que, a princípio,
devíamos contar com a ajuda de um monitor por família lingüística – o shanënawa e o
kaxinawa são línguas mutuamente inteligíveis -, tivemos dificuldades junto aos Madihá,
que mantiveram uma atitude de certo isolamento, sendo que nenhum deles tinha um
domínio suficiente do português para realizar as traduções. As traduções foram então
efetivadas de forma informal, da mesma forma que ocorreu entre os Kampa. Tanto os
Madihá quanto os Kampa, especialmente os primeiros, não têm participação ativa nas
atividades desenvolvidas pela OPIRE, organização que, apesar de abranger todos os
grupos da região do Envira, na atual gestão é dominada pelos Huni Kuin e os
Shanënawa, que moram mais próximos a Feijó e têm uma interação maior com a
sociedade envolvente. Os Madihá devido a um mal-entendido – acharam que duas
mulheres Huni kuin estavam caçoando deles, quando na realidade estavam apenas
brincando entre si - se sentiram ofendidos e sua presença diminuiu consideravelmente
ao longo da reunião. Ante essa situação, as monitoras e integrantes da Sitoakore
enfatizaram nos dias subseqüentes, a importância da presença deles na reunião,
precisamente por esta não ser habitual, e foi feito um esforço para animá-los a voltar,
sendo que alguns deles se reincorporaram a reunião.
Fotografia 13: Aldeia Morada Nova. Participantes kampa, huni Kuin
e shanënawa observam as brincadeiras organizadas pelos anfitriões.
61
Por sua parte, os Kampa, mesmo com alguns problemas de comunicação, já que,
especialmente algumas mulheres não falam português, mantiveram uma presença
maciça e constante na reunião. Estavam presentes pessoas de duas T.I.s diferentes, entre
as quais existem certos conflitos. Essa foi uma das razões que dificultou a definição de
um monitor Kampa, já que o escolhido se mostrou pouco disposto a traduzir as falas das
pessoas pertencentes à facção rival. Contudo os Kampa se integraram na reunião,
participando ativamente e gostando dos jogos e brincadeiras realizadas durante o
evento. Deve ser mencionado que as apresentações culturais, que consistiram em danças
e cantos que cada comunidade realizou ao longo dos cinco dias de reunião para dar a
conhecer ao resto dos participantes esses aspectos de sua cultura, contribuíram para
criar um ambiente descontraído e de aproximação dos participantes entre si.
O grau de integração dos diferentes grupos na reunião teve uma expressão
espacial muito clara, ficando os Shanenawa e os Huni Kuin no centro da reunião, os
Kampa a um lado do cupixawa, sentados num banco disposto ao longo da parede, e os
Madihá também na periferia, mas mais distantes ainda do centro. Igualmente, foi
possível perceber uma diferença de gênero na disposição dos participantes, sentando-se
as mulheres (Shanenawa e Huni Kuin) na parte interior da roda, e os homens na parte
mais externa, evidenciando assim o caráter fundamentalmente feminino da reunião.
Efetivamente, mesmo que a contribuição e participação dos homens tenha sido
fundamental, o fato destes terem ficado num segundo plano mostrou que os
participantes reconheceram o espaço da reunião como um evento no qual a voz das
mulheres devia ter uma presença especialmente significativa.
62
porta
Madihá
Shanenawa
Huni Kuin
Kampa
Técnicas,
Sitoakore, e
monitoas
porta
Figura 2: Disposição dos participantes na Reunião realizada na Aldeia Morada Nova
Por último, gostaríamos de mencionar que a presença dos pajés, tanto homens
como mulheres, foi marcada pelo seu caráter geralmente carismático, em alguns casos
brincalhão. Suas falas eram recebidas com grande interesse por parte de todos e,
freqüentemente, celebradas com aplausos. Mesmo que em número menor, a
participação destas figuras foi central.
3.5.3. Reunião com os profissionais de saúde.
Diferentemente das reuniões anteriores, não foram organizados grupos de
trabalho para preparar a conversa com os profissionais de saúde convidados. De um
lado, devido ao grande número de participantes, ia se levar muito tempo na preparação e
apresentação dos trabalhos de cada grupo. De outro, e em função de uma avaliação dos
resultados dessa metodologia na reunião do Caucho, consideramos que, embora o
trabalho em grupo ajude a sistematizar as idéias, acaba por prejudicar a riqueza e a força
das falas. Ficou decidido pelos participantes da reunião que, os representantes de cada
aldeia deveriam apresentar em uma assembléia, primeiro interna, e depois aberta à
equipe de saúde, as dificuldades que enfrentam. A sessão interna durante a qual cada
grupo expôs seus problemas teve uma duração maior que as anteriores, estendendo-se
63
até a noite, dado o interesse que o tema levantou e a vontade de cada um de expressar
suas idéias a esse respeito.
Os participantes consideraram que, como resultado dessa reunião, era necessário
elaborar um documento contendo as propostas de solução definidas pelos diferentes
grupos, acordando-se que fosse encaminhado pela Sitoakore às instituições
governamentais responsáveis pela saúde indígena. Para tanto, depois da conversa com
os profissionais de saúde, foi definida uma comissão formada por representantes de
cada um dos grupos participantes e pelas técnicas. Esta comissão, baseando-se nos
pontos levantados ao longo da sessão, elaborou um rascunho que no dia seguinte foi
apresentado ao conjunto dos participantes e discutido até chegar a sua forma final (ver
documento em anexo).
Entre os problemas colocados durante a reunião, vários deles mencionados por
mais de uma pessoa, podemos destacar os seguintes:
Os participantes reclamaram sobre o tratamento que recebem por parte de
algumas das pessoas que devem dar-lhes assistência. Embora se declarem
satisfeitos com a atuação de várias das pessoas que formam a equipe
multidisciplinar, consideram que em alguns casos o tratamento não é
adequado (não se leva em conta a opinião dos indígenas; existe preconceito
e falta de respeito; o atendimento nas aldeias deveria ser mais demorado e
freqüente...). Como forma de dar uma solução a este problema,
mencionaram a necessidade de contratar pessoal capacitado em saúde
indígena e suas especificidades, “tem que acostumar com costume de
índio”. O uso do conceito de anti-indígena para definir as pessoas que se
comportam de forma preconceituosa com as populações indígenas foi
recorrente a este respeito.
O grau de descontentamento com o atendimento do pólo-base e da equipe
multidisciplinar varia entre as comunidades. Enquanto algumas consideram
que recebem um atendimento adequado, outras têm muitas reclamações a
fazer. Os representantes da comunidade de Grota, por exemplo, explicam
que não têm muito a reclamar da equipe: o relacionamento do AIS com a
equipe é bom; recebem recursos em forma de medicamentos; conseguiram
diminuir os problemas mais graves de saúde com a ajuda da equipe; não
recebem mal-atendimento no pólo. Os problemas que foram colocados
64
pelos representantes desta comunidade têm mais a ver com a falta de
recursos em geral do que com o atendimento da equipe do pólo. Já outros
grupos consideram que há vários aspectos do atendimento recebido que
devem melhorar.
As comunidades enfrentam diversos problemas por falta de infraestrutura
para o transporte (combustível, embarcação e motor) dos doentes ou das
grávidas à cidade, que, em momentos de emergência, constitui um
problema muito sério.
A maior parte dos participantes mencionou como problema a falta de infraestrutura (hospedagem e alimentação adequada) para os índios que devem
ir à cidade receber tratamento de saúde.
Existe uma falta de capacitação para o AIS que incide numa escassa
qualificação para realizar o trabalho de cuidar a saúde de sua comunidade e
em sua baixa remuneração.
O trabalho das parteiras não é reconhecido nos pólos-base nem nas
instituições como a maternidade e o hospital. Por outro lado, precisam de
uma ajuda de custo e infra-estrutura (transporte próprio principalmente)
para poder desenvolver adequadamente seu trabalho.
As duas enfermeiras que integram a equipe multidisciplinar de saúde atuante na
região se incorporaram à reunião no dia 30/03. Solicitou-se a elas, primeiramente, que
expusessem o trabalho que vêem desenvolvendo e as dificuldades que enfrentam.
Explicaram a importância do recente cadastramento que realizaram no Alto Envira com
a finalidade de atualizar os dados que, posteriormente, servirão como referência para o
envio de recursos econômicos e medicamentos ao pólo-base. Várias das colocações que
fizeram condiziam com alguns dos comentários anteriormente mencionados pelos
participantes indígenas: a necessidade de contar com um lugar adequado para se
hospedarem os pacientes indígenas que se deslocam até a cidade para receber
tratamento médico; a necessidade de capacitar os AIS e de a equipe trabalhar mais
coordenadamente com eles; a necessidade de trabalhar em colaboração com as parteiras.
Igualmente, chamaram a atenção das comunidades para corrigirem dois problemas que
dificultam o trabalho da equipe: o fato de as comunidades estarem realizando festas que
implicam o consumo de bebidas alcoólicas quando a equipe de saúde chega para fazer o
65
atendimento na aldeia; deixar de assistir às consultas previamente marcadas nos postos
de saúde e hospitais. Dentre os comentários feitos pela equipe, gostaríamos de ressaltar
a avaliação que uma das enfermeiras fez de um curso para parteiras que ela mesma
ministrou em Morada Nova: “As parteiras é uma coisa divina, mesmo de Deus, elas são
muito sabias. Eu já ministrei um curso de parteiras aqui na Morada Nova, eu confesso
que aprendi muito com elas. Até seu eu fosse dar à luz uma criança eu preferia com
uma parteira indígena. [...] A única coisa que eu passei mais para elas, [...] o que eu vi
que estava faltando era o manuseio dos instrumentos na hora de cortar o cordão, foi a
única coisa” (enfermeira Madalena). É interessante destacar que depois de ter
trabalhado um tempo em Feijó, esta enfermeira saiu do pólo, e as comunidades
indígenas da região adotaram diversas medidas para conseguir que ela voltasse a
trabalhar junto com eles, dado que gostam muito do trabalho dela.
Depois das enfermeiras terem falado, os participantes retomaram a palavra e
expuseram algumas dificuldades, várias delas já apresentadas em assembléia no dia
anterior. Em vários pontos, as enfermeiras concordaram com os participantes,
explicando que elas mesmas tinham já feito propostas para solucionar alguns dos
problemas (como criar um crachá de identificação para parteiras e AIS na maternidade e
no hospital; construir uma hospedaria aonde os pacientes indígenas que vão à cidade
pudessem ficar enquanto conclui seu tratamento; ou fornecer todas as comunidades de
sistema de radiofonia). Diferentemente do que aconteceu nas outras reuniões, as
integrantes da equipe de saúde não adotaram uma atitude defensiva ante as
reivindicações colocadas pelos participantes, estabelecendo-se assim um diálogo
frutífero. Dentre as considerações feitas pelas enfermeiras, interessa-nos ressaltar seu
reconhecimento do saber e das práticas das parteiras e a necessidade de contribuir para
que também outras instituições como a maternidade e o hospital as reconheçam como
agentes envolvidas no tratamento e cuidado da saúde das populações indígenas, e por
isso mesmo tendo direito a acompanhar seus pacientes dentro dessas instituições.
Considerações finais:
A partir das atividades já desenvolvidas e descritas no presente relatório,
apontamos a seguir algumas considerações preliminares.
As Reuniões das Parteiras, Pajés e AIS se constituíram, de fato, como um espaço
fundamental de reflexão e de troca de experiências sobre práticas tradicionais entre os
66
participantes dos vários grupos indígenas presentes. Esta troca foi especialmente rica
porque os grupos que vivenciam contextos bastante distintos, não possuem espaços
específicos para trocas e reflexões conjuntas sobre a questão da saúde, afora os
Conselhos Locais e o Conselho Distrital.
Essas reuniões promoveram não só uma percepção das diferenças, mas
provocaram um movimento de fortalecimento e valorização dos saberes considerados
tradicionais de cada grupo. Nesse sentido, a reunião se enquadra junto a outras
iniciativas recentes, nas quais estiveram envolvidos muitos dos grupos que participam
deste projeto, que objetivam a revitalização e preservação das tradições culturais,
mesmo que não sejam especificamente no campo da saúde10.
Vale salientar que as reuniões suscitaram o encontro e o diálogo de vários
agentes, pertencentes a gerações distintas, e que atuam com saúde nas comunidades, a
saber: parteiras, pajés, AIS, AISAN e AAF. Isso gerou reconhecimento e respeito
quanto aos espaços de atuação de cada agente, bem como uma reflexão sobre as
possibilidades e limites de trabalhos em conjunto entre eles. Ficou claro para todos que
já existe uma parceria estabelecida entre pajés e parteiras, uma vez que os primeiros são
comumente solicitados a atuar no período que envolve a gestação, o parto e o pós-parto.
Já os AIS por sua vez vêm construindo as possibilidades de parcerias tanto com as
parteiras, quanto com os pajés. Especificamente em relação às parteiras, os AIS
reconhecem limites de sua atuação e a necessidade de pensar em estratégias para
melhorar o atendimento à população feminina. Quanto à relação com os pajés, alguns
10
A este respeito existem numerosas iniciativas no Acre que se referem a aspectos diversos,
como a cultura material ou a vida ritual. Um exemplo destas iniciativas é o projeto Apoio às Populações
Indígenas, dentro do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre, cujo objetivo
principal era a valorização da cultura material tradicional, e que consistiu na organização de oficinas nas
terras indígenas com o intuito de registrar, revitalizar e discutir sobre a cultura material dos povos
indígenas do Acre (Cruz & Ferreira 2004).
Estes processos de revitalização da cultura indígena tradicional estão relacionados a dois
aspectos importantes: de um lado, o reforço da identidade indígena e a luta pelos direitos destas
populações; de outro, à construção de estratégias para o desenvolvimento econômico sustentável das
comunidades. Estes fenômenos estão sendo objeto de importantes reflexões por parte da antropologia e a
levaram a se questionar sobre um conceito tão caro a ela quanto é o de “cultura” (Conklin 1997; Kuper
2001).
67
AIS demonstraram muito interesse em aprender mais sobre a atuação destes, para
poderem trabalhar tanto com os remédios alopáticos, quanto através dos conhecimentos
tradicionais.
Se por um lado foi um ganho reunir os vários agentes indígenas que atuam com
saúde, por outro esta mistura gerou constrangimentos especificamente para as parteiras
que, optaram por não falar de determinados assuntos próprios ao domínio feminino,
como posições de parto, especificidades quanto às técnicas de ‘pegar as crianças’,
cuidados com o resto do parto, etc.
Ainda a respeito das parteiras vale retomar aqui a questão da institucionalização
deste papel junto aos grupos indígenas. Nas reuniões foi possível perceber grupos que
ainda não possuem este papel institucionalizado, como os Kampa, Madihá e Katukina
da T.I. Campinas/Katukina. Em outros casos, em maior ou menor grau, o papel da
parteira já existe há mais tempo. Em alguns, o processo de institucionalização é mais
recente e parece estar ligado ao fato das comunidades se verem na iminência de
definirem participantes para cursos e reuniões. Normalmente, as pessoas escolhidas
nestas situações são aquelas que se destacam por serem as mais experientes em fazer
partos; porém, ouvimos vários casos em que as indicadas nunca tinham realizado
nenhum parto. De qualquer forma, os cursos e reuniões para parteiras não são os únicos
fatores que determinam a aparição desta figura enquanto especialista. Podemos pensar,
como uma hipótese plausível, que a existência de “parteiras” entre a população regional,
com a qual as populações indígenas do Acre mantêm relações faz décadas, seja um dos
fatores que possam ter contribuído para esta instituição. Em vários casos o surgimento e
o processo de definição da figura da parteira foram, de fato, anteriores à organização
dos cursos. Assim acontece em grupos por exemplo, como os Nawa e Nukini, mas
também em outros mais ‘tradicionais’, como os Yawanawa ou os Shanënawa. São
situações bastante distintas que foram confrontadas no espaço da reunião, promovendo
uma reflexão sobre a questão do repasse dos conhecimentos tradicionais, de como as
mulheres com experiência em realizar partos têm percebido e sentido este processo da
institucionalização, do impacto do uso do kit das parteiras frente às técnicas
tradicionais, do efeito das informações repassadas nos cursos de parteiras frente às
práticas consideradas adequadas pelo grupo, etc. Não podemos deixar de considerar
aqui também que, como a antropologia vem demonstrando, a adoção de elementos
externos à própria tradição cultural não implica numa “perda de cultura” ou num
68
“processo de aculturação”, já que os elementos incorporados são reinterpretados e lhes
são conferidos novos significados e atributos a partir dos esquemas culturais próprios
(Sahlins 1997).
Foi interessante notar que as reuniões têm gerado uma percepção que as
dificuldades enfrentadas pelas parteiras, ainda que apresentem nuances próprias, são
semelhantes nos vários grupos indígenas. Como aponta a fala a seguir: “a dificuldade
não é só pra nós, só pra elas, é igual”. Isso reforça a contribuição dessas reuniões no
processo de organização política das mulheres, de forma que possam garantir suas
demandas e exigir que seus direitos, não somente no âmbito de atuação junto à saúde,
sejam reconhecidos. Por outro lado, as mulheres consideram essencial obter o apoio
dos homens nesse processo e, por isso mesmo, as interações promovidas nas reuniões
podem ser pensadas como fundamentais. Essas interações não se deram somente nas
reflexões conjuntas, mas especialmente nos espaços informais – hospedagem, hora das
refeições, ida ao chafariz ou igarapés, deslocamentos conjuntos, etc – e nos momentos
de descontração nos quais os vários participantes apresentaram músicas, realizaram
brincadeiras, mostraram danças, fizeram pinturas, usaram rapé e tomaram uni.
Cumpre ressaltar também que as discussões promovidas nas reuniões
reverberaram para além do espaço do evento, e suscitaram reflexões nas pessoas das
comunidades hospedeiras. Dessa forma ainda não é possível avaliar toda a dimensão e
extensão do impacto dessas reuniões junto às comunidades.
Por fim, vale comentar que o problema apresentado pelo projeto relativo ao
aumento da procura pelos partos na cidade e especial do aumento das intervenções
cirúrgicas, se mostrou pouco significativo. Certamente, existem casos concretos em que
se verifica - conforme as impressões tanto das equipes multidisciplinares de saúde
quanto de pessoas das comunidades específicas - uma tendência por parte das mulheres
de se deslocarem à cidade para dar à luz nas maternidades ou hospitais. Este parece ser
o caso das mulheres nawa, nukini, yawanawa ou huni kuin da T.I. Katukina/Kaxinawa.
Porém, na maior parte das comunidades que participaram das reuniões, a procura pelo
nosso sistema de saúde é realizada, prioritária e quase exclusivamente nos casos11, em
11
As mulheres Katukina ou Kampa são provavelmente as que representam o caso mais extremo,
já que evitam, na medida do possível, dar à luz na cidade. Durante nossa estadia na aldeia de Campinas
(T.I. Campinas/Katukina) havia uma mulher katukina grávida, com malária falcípara que, segundo a
69
situações onde a gestante corre risco de vida. Além disso, parece haver uma consciência
cada vez maior nas comunidades – e o próprio projeto é uma contribuição a essa
tendência – sobre a importância de valorizar o trabalho das parteiras e de incentivar às
mulheres a ficarem nas próprias aldeias para ganharem seus filhos.
Entretanto, percebemos que a despeito dos partos na cidade, temas como o prénatal, os impactos da institucionalização da figura da parteira, a dependência dos
materiais de parto, se mostraram extremamente relevantes de serem discutidos, pois
revelam a necessidade de criação de estratégias conjuntas – por parte das comunidades e
da equipe multidisciplinar (em primeira instância) - de articulação entre os sistemas de
saúde tradicional e biomédico. Foi justamente visando à construção destes espaços de
reflexão, que as equipes de saúde multidisciplinares foram convidadas a participar das
reuniões. Não obstante, os grupos se apropriaram desses espaços para realizar suas
reivindicações, construindo na prática, formas e estratégias de implementar uma saúde
diferenciada.
equipe médica, corria sérios riscos de vida. Entretanto, a comunidade decidiu recorrer primeiro aos
serviços dos pajés, esgotando os recursos médicos próprios antes de decidir enviá-la à cidade para realizar
o parto.
70
Bibliografia
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Florianópolis .
Conklin, Beth A. 1997. "Body paint, feathers, and VCRs: aesthetics and authenticity in
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Rival, Laura M. 1998. "Androgynous parents and guest children: the Huaorani
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Viveiros de Castro, Eduardo. 1977. Indivíduo e sociedade no alto Xingu: Os Yawalapíti.
Dissertação (Mestrado em Antropologia social). Rio de Janeiro - PPGAS Museu Nacional
71
Anexo 1 - Programações
Anexos
Programações
I Reunião das Parteiras, AIS e Pajés.
Projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das
etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas”
Local: Aldeia Campinas. TI Campinas Katukina, município de Tarauacá, AC
Data: 15 a 19 de fevereiro de 2006
PROGRAMAÇÃO
15 de fevereiro de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Abertura da reunião: Apresentação cultural.
¾
Apresentação do projeto pelas representantes da Sitoakore e as
técnicas do projeto.
¾
Apresentação dos participantes.
Tarde: 13:00 – 17:00
¾
Avaliação dos resultados do projeto Aperfeiçoamento das
Parteiras Tradicionais Indígenas.
16 de fevereiro de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Perfil da parteira.
Tarde: 13:00 – 17:00
¾
Relação entre parteiras, pajés e AIS nos cuidados com a saúde
da mulher.
¾
Espaço para Sitoakore
17 de fevereiro de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Partos na aldeia e partos na cidade: vantagens e desvantagens.
Tarde: 13:00 – 17:00
72
Anexo 1 - Programações
Discussão sobre o pré-natal, a identificação de problemas da
¾
grávida e da parturiente, e os encaminhamentos à cidade.
Espaço para Sitoakore.
¾
18 de fevereiro de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Recepção dos profissionais de saúde não índios.
¾
Quais são os problemas que os profissionais de saúde e as
comunidades indígenas enfrentam em relação à saúde materno-infantil.
Tarde: 13:00 – 17:00
Como os profissionais e as comunidades indígenas percebem a
¾
assistência à saúde fornecida pelo Estado.
19 de fevereiro de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Levantamento e sistematização das questões importantes
surgidas durante a reunião.
¾
Avaliação da reunião.
Tarde: 13:00 – 17:00
¾
Espaço para a Sitoakore.
Encerramento
73
Anexo 1 - Programações
II Reunião das Parteiras, AIS e Pajés.
Projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto
tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas”
Local: Aldeia do Caucho. TI Igarapé do Caucho, município de Tarauacá, AC
Data: 13 a 17 de março de 2006
PROGRAMAÇÃO
13 de março de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Abertura da reunião: Apresentação cultural.
¾
Apresentação do projeto pelas representantes da Sitoakore e as
técnicas do projeto.
¾
Apresentação dos participantes.
Tarde: 14:00 – 17:30
¾
Avaliação dos resultados do projeto Aperfeiçoamento das
Parteiras Tradicionais Indígenas.
¾
Perfil da parteira.
14 de março de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Relação entre parteiras, pajés e AIS nos cuidados com a saúde
da mulher.
Tarde: 14:00 – 17:30
¾
Discussão sobre iniciativas de valorização dos conhecimentos
tradicionais relativos à saúde.
¾
Partos na aldeia e partos na cidade: vantagens e desvantagens.
74
Anexo 1 - Programações
15 de março de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Cuidados com a grávida (resguardos, dietas)
¾
Discussão sobre o pré-natal, a identificação de problemas da
grávida e da parturiente, e os encaminhamentos à cidade.
Tarde: 14:00 – 17:30
¾
Discussão sobre o uso de métodos anticoncepcionais e a
amamentação.
¾
Preparação da conversa com os profissionais de saúde.
16 de março de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Recepção dos profissionais de saúde não índios.
¾
Quais são os problemas que os profissionais de saúde e as
comunidades indígenas enfrentam em relação à saúde materno-infantil.
Tarde: 14:00 – 17:30
Reflexão conjunta de busca de estratégias para melhorar à
¾
saúde voltada à mulher e a criança.
17 de março de 2006
Manhã: 8:00 – 12:00
¾
Levantamento
e
sistematização
das
questões
importantes
surgidas durante a reunião.
¾
Avaliação da reunião.
Tarde: 14:00
¾
Acertos com os participantes relativo a auxílio transporte e
alimentação, cozinheiras, lenheiro e monitoras.
Encerramento
75
Anexo 1 - Programações
3ª Reunião das Parteiras, AIS e Pajés.
Projeto “Valorização e adequação dos sistemas de parto tradicionais das
etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas”
Local: Aldeia Morada Nova. T.I. Katukina/Kaxinawa, município de Feijó, AC
Data: 27 a 31 de março de 2006
PROGRAMAÇÃO
27 de março de 2006
Manhã:
¾
Abertura da reunião: Apresentação cultural.
¾
Apresentação do projeto pelas representantes da Sitoakore e as
técnicas do projeto.
¾
Apresentação dos participantes.
Tarde:
¾
Avaliação dos cursos de Aperfeiçoamento das Parteiras
Tradicionais Indígenas.
¾
O que é medicina tradicional?
28 de março de 2006
Manhã:
¾
Apresentação cultural.
¾
Perfil da parteira.
¾
Trabalho das parteiras, pajés e AIS.
¾
Partos na aldeia e partos na cidade: vantagens e desvantagens.
Tarde:
¾
Conversa sobre o pré-natal, a saúde da grávida e os
encaminhamentos para a cidade.
29 de março de 2006
Manhã:
¾
Apresentação cultural.
¾
Cuidados com a grávida (resguardos, dietas) e amamentação.
Tarde:
76
Anexo 1 - Programações
¾
Preparação da conversa com os profissionais de saúde.
30 de março de 2006
Manhã:
Apresentação cultural.
¾
¾
Chegada dos profissionais de saúde não
¾
Quais são os problemas que os profissionais de saúde e as
comunidades indígenas enfrentam em relação à saúde indígena.
Tarde:
Como melhorar a saúde indígena.
¾
31 de março de 2006
Manhã:
¾
Levantamento dos pontos importantes e construção de um
documento final.
¾
Avaliação da reunião.
¾
Acertos com os participantes relativos a auxílio transporte e
Tarde:
alimentação, cozinheiras, lenheiro e monitoras.
Encerramento
77
Anexo 2 – Lista de participantes: 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Campinas
Lista de participantes (função, TI, aldeia).
1ª REUNIÃO DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS.
Aldeia Campinas, T.I. Campinas/ Katukina – 15 a 21 de fevereiro de 2006.
Parteiras
1.
Maria da Glória Siqueira Lima – Aldeia Raimundo Vale – TI Arara do Igarapé
Humaitá.
2.
Tereza da Silva Moreira – TI Jaminawa Arara do Rio Bagé
3.
Raimunda Moreira Lima – Aldeia Nova Vida – TI Jaminawa do Igarapé Preto.
4.
Zuila Cruz Barbosa – Aldeia Martin – TI Campinas/Katukina
5.
Nevi Rosa da Silva – Aldeia Bananeira – TI Campinas/Katukina
6.
Creuza Carneiro – Aldeia Samaúma – TI Campinas/Katukina
7.
Rosinilda Paula de Souza (Maxi) – Aldeia Urucum – TI Campinas/ Katukina
8.
Maria Nilza – Katukina – Aldeia Campinas
9.
Maria de Fátima da Costa – Aldeia Novo Recreio – TI Nukini
10. Nilândia Moreira Rebouças – Aldeia Novo Recreio – TI Nawa
11. Mônica Francisca Pereira Lima – Aldeia Foz do Nilo – TI Arara do Igarapé
Humaitá.
12. Aldenizia Costa de Oliveira – Aldeia República – TI Nukini
13. Maria da Cruz Fernando – Aldeia Meia Dúzia – TI Nukini
14. Lucila Moreira da Costa – Aldeia Novo Recreio – TI Nawa
Pajés:
1. Aldemir da Silva Pedrosa Katukina – AISAN e Pajé da aldeia Bananeira - TI
Campinas/ Katukina
2. José Gomes Katukina - TI Campinas/ Katukina
3. José da Silva Txure - TI Campinas/ Katukina
4. João Katukina - TI Campinas/ Katukina
5. Nelson Alfonso - TI Campinas/ Katukina
AIS:
1. Raimundo Lima Pereira – AIS Jaminawa - TI Jaminawa do Igarapé Preto
2. Waldir Carneiro Alves – AISAN – Aldeia Martin - TI Campinas/ Katukina
3. Vander Sereno da Silva – AIS - TI Kaxinawa do Breu
78
Anexo 2 – Lista de participantes: 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Campinas
4. Enaldo Carlos Katukina – AIS – aldeia Masheya - TI Campinas/ Katukina
5. Francisco Deto da Silva Katukina – AIS - TI Campinas/ Katukina
6. Rodrigo Pequeno de Souza – AIS - TI Campinas/ Katukina
7. Mauricio Rodrigues de Souza – AIS - TI Campinas/ Katukina
8. Sérgio Rosa da Silva Katukina – AISAN - TI Campinas/ Katukina
Lideranças e representantes de mulheres:
1. João Lima Pereira – Liderança Jaminawa - TI Jaminawa do Igarapé Preto
2. Claudencio Barbosa de Souza – Liderança katukina - TI Campinas/ Katukina
3. Napes Katukina – cacique - aldeia Bananeira - TI Campinas/ Katukina
4. Mª Glória de Souza Katukina – representante de mulheres - TI Campinas/
Katukina
5. Mª Elza Rodrigues da Silva (katukina) - representante de mulheres - TI
Campinas/ Katukina
6. Cerlene Gomes da Silva Katukina - representante de mulheres - TI Campinas/
Katukina
7. Rosimeire Afonso de Souza (katukina) - representante de mulheres - TI
Campinas/ Katukina
8. Lucinha André Katukina - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina
9. Mirvana M. de Oliveira Silva – Nukini - representante de mulheres - TI Nukini
10. Antônia Elissandra Pereira - TI Arara do Igarapé Humaitá - representante de
mulheres
11. Zuila Barbosa - representante de mulheres - TI Campinas/ Katukina
Outros participantes:
1.
Adeildo Siquiera - TI Arara do Igarapé Humaitá. – Agente ambientalista
2.
Maria Helena Lima de Castro - TI Arara do Igarapé Humaitá. – OPIRJ
3.
Fernando Katukina – FUNAI
4.
Marcelo Katukina - AAF
Profissionais da saúde:
1. Rodrigo de Melo Tosata – Odontólogo Pólo-base CZS
2. Mª Rosejane Souza dos Santos – Auxiliar de enfermagem Pólo-base CZS
3. José Francisco Carneiro – DSEI/Juruá
4. Reglesor de Souza Pereira – Médico Pólo-base CZS
79
Anexo 2 – Lista de participantes: 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Campinas
5. Eliângela Oliveira da Silva – Enfermeira Técnica – DSEI/Juruá
6. Adamara Machado Nascimento – Farmacêutica bioquímica – DSEI
80
Anexo 2 – Lista de participantes: 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do
Caucho
2ª REUNIÃO DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS.
Aldeia Caucho, T.I. Kaxinawa do Caucho – 13 a 17 de março de 2006.
Parteiras
1. Lídia da Silva Yawanawa – Aldeia Nova Esperança, T.I. Rio Gregório.
2. Olinda Luiza Yawanawa – Aldeia Motum, T.I. Rio Gregório.
3. Márcia da Silva Yawanawa – Aldeia Motum, T.I. Rio Gregório.
4. Maria Luiza Ferreira – Aldeia Escondido, T.I. Rio Gregório.
5. Leda Matilde Ferreira – Aldeia Matrichão, T.I. Rio Gregório.
6. Maria dos Anjos Yawanawa - Aldeia Matrichão, T.I. Rio Gregório.
7. Maria Santíssima da Silva Domingos – Aldeia Segredo Artesã, T.I. Praia do
Carapanã.
8. Sofía Leonor Prado - Aldeia Morada Nova, T.I. Praia do Carapanã.
9. Nazaré Sabino Kaxinawá - Aldeia Água Viva, T.I. Praia do Carapanã.
10. Maria Iracema Silvino Kaxinawa - Aldeia Carapanã, T.I. Praia do Carapanã.
11. Maria Elizene Leal Peres - Aldeia Cocameiro, T.I. Praia do Carapanã.
12. Maria Aldenira Kaxinawa - Aldeia Goiânia, T.I. Praia do Carapanã.
13. Maria Ivanete Davi Kaxinawa – Nova Vida, T.I. Praia do Carapanã.
14. Ivaniza da Silva Brandão - Aldeia Colônia 27, T.I. Kaxinawa de Colônia 27.
15. Maria Aucelia de Oliveira – Aldeia São Vicente – T.I. Kaxinawá do Humaitá
16. Maria Alzenir Mateus da Silva – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do
Humaitá
17. Vanusa Lopes Kaxinawa – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá
18. Maria Inés Lopes Kaxinawa - – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá
19. Maria Anizia de Paula Sabóia – Aldeia São Vicente – T.I. Kaxinawá do Humaitá
20. Maria Macambira - Aldeia Porto Brasil, T.I. Kaxinawá do Humaitá
21. Jacira Cataiano Mateus - Aldeia Porto Brasil, T.I. Kaxinawá do Humaitá
22. Maria Francisca Mateus – Aldeia Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá
23. Misia Rodrigues de Souza Katukina – Aldeia Sete Estrelas, T.I. Rio Gregório
24. Ivaniza da Silva Brandão Shanenawa – T.I. do Caucho
25. Edite Carlos Barbosa – T.I. do Caucho
26. Francisca Lucilene da Silva – T.I. do Caucho
27. Maria das Graças da Silva – Aldeia Nova Aldeia, T.I. do Caucho
28. Maria Pereira de Souza – Aldeia Nova Aldeia, T.I. do Caucho
29. Francisca Antonia de Lima Pereira – T.I. do Caucho
81
Anexo 2 – Lista de participantes: 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do
Caucho
30. Ivanilde de Souza – T.I. do Caucho
31. Valdemira da Silva Batista – T.I. do Caucho
Pajés:
1. Pedro Sabino Sereno – Nova Vida, T.I. Praia do Carapanã
2. Afonso Manduca Mateus – Aldeia Colônia 27, T.I. Kaxinawa de Colônia 27.
3. Manel de Jesus Sabóia – Aldeia São Vicente – T.I. Kaxinawá do Humaitá
AIS:
1. Olávio Sérgio Kaxinawa – Aldeia Morada Nova, T.I. Praia do Carapanã.
2. Maria Ercília Ferreira – Aldeia Água Viva, T.I. Praia do Carapanã.
3. Anildo Pres Aparecido – Aldeia Cocameiro, T.I. Praia do Carapanã.
4. Francisco Rodrigues da Silva – Aldeia Carapanã, T.I. Praia do Carapanã.
5. Aldenilson da Silca Kaxinawá – Aldeia Goiânia, T.I. Praia do Carapanã
6. José Carlos da Silva – Aldeia Mucuripe, T.I. Praia do Carapanã.
7. Carmélio da Silva Brandão – Aldeia Colônia 27, T.I. Kaxinawa de Colônia 27.
8. Francisco Mateus de Lima – T.I. Kaxinawá do Humaitá
9. Valcenir Mateus – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do Humaitá
10. Ademar Peres Kaxinawa – Aldeia Porto Brasil, T.I. Kaxinawá do Humaitá
11. Josemar da Silva Katukina - Aldeia Sete Estrelas, T.I. Rio Gregório
12. João Paulo Kampa – Aldeia Primavera – T.I. Igarapé Primavera
13. Ivane de Souza da Silva – T.I. do Caucho
14. Valdir Peres Vieira – T.I. do Caucho
15. Nonato Lopes kaxinawá, ajudante de AIS – T.I. do Caucho
Lideranças e representantes de mulheres:
1. Rosevanir Mateus de Lima – coordenadora – Aldeia Novo Futuro, T.I.
Kaxinawá do Humaitá
2. João Carlos Katukina , liderança - Aldeia Sete Estrelas, T.I. Rio Gregório
3. Mardila Araújo Pereira, coordenadora – T.I. do Caucho
4. Maria Josilene Kaxinawa, coordenadora – T.I. do Caucho
82
Anexo 2 – Lista de participantes: 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do
Caucho
Outros participantes:
1. Valdecir Francisco Davi Kaxinawa - Aldeia Cocameiro, T.I. Praia do Carapanã.
2. Aldemir Mateus Kaxinawa - professor, Vice-coordinador OPITAR – Aldeia
Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá
3. Nonato Lopes Kaxinawa – AISAN – Aldeia Boa Sorte, T.I. Kaxinawá do
Humaitá
4. Raimundo Mateus de Lima, representante no Conselho local e distrital – Aldeia
Novo Futuro, T.I. Kaxinawá do Humaitá
5. Marluce Araújo Pereira, estudante – T.I. do Caucho
6. Janis de Araújo, estudante – T.I. do Caucho
7. Adaildo Batista Peres, estudante – T.I. do Caucho
8. Francisco Valdemir de Araújo, estudante – T.I. do Caucho
9. Ivaneide de Araújo Bonaparte, professora – T.I. do Caucho
10. Lara Brandão Shanenawa, estudante – T.I. do Caucho
11. Maria Francisca A. Biló, professora – Aldeia Nova Aldeia, T.I. do Caucho
12. Edison Paulino – T.I. do Caucho
13. Albanir, AAFI – T.I. do Caucho
14. Francisco Alcidesio, professor – T.I. do Caucho
Profissionais de Saúde:
1. Morena, auxiliar de enfermagem
2. Júnior, motorista
83
Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada
Nova
3ª REUNIÃO DE PARTEIRAS, PAJÉS E AIS.
Aldeia Morada Noca, T.I. Katukina/Kaxinawa – 27 a 31 de março de 2006.
Parteiras:
1. Maria das Graças Pereira – Aldeia Grota, T.I. Seringal do Curralinho
2. Maria de Fátima Kaxinawa de Matos – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de
Nova Olinda.
3. Maria Dinah Kaxinawa – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda.
4. Pununã Kampa -– Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
5. Doura Kampa (Huyãne) – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
6. Terezinha Shitan Kampa – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio
Envira
7. Maria diva Martins - Nova Esperança, T.I. Seringal do Curralinho
8. Francilene Maciel – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
9. Maria Kaxinawa – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
10. Maria Auxiliadora Sérgio Kaxinawa – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
11. Maria de Souza Lima – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
12. Maria Lenilce de Araujo Pereira – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
13. Anita Pereira da Silva (parteira e pajé) – Aldeia Pupunha, T.I.
Katukina/Kaxinawa
14. Zenilda Barbosa Pereira – Aldeia Pupunha, T.I. Katukina/Kaxinawa
15. Maria Vilani Pereira Barbosa – Aldeia Pupunha, T.I. Katukina/Kaxinawa
16. Vera Lúci Barbosa - Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa
17. Josefa Barbosa da Silva Aldeia - Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa
18. Francisca Barbosa da Silva – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
19. Maria Juraci Brandão de Silva - Aldeia Paredão, T.I. Katukina/Kaxinawa
20. Marilda da Silva Gomes – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
21. Maria Iraci Brandão (parteira, pajé e liderança) – Morada Nova, T.I.
Katukina/Kaxinawa
22. Raimunda Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
23. Luzia Brandão – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
24. Santa Brandão – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
25. Maria das Graças Shanenawa – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
26. Maria José Pereira Kaxinawa – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
27. Maria Helena Silvino Brandão – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa
28. Joana Kampa – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira
84
Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada
Nova
29. Antônia Carlos Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa – Nova Vida,
T.I. Katukina/Kaxinawa
Pajés:
1. Hananera Kampa – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
2. Valcemir Barbosa Kaxinawa – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
3. Julio Nunes Barbosa - Aldeia Belo Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa
4. Manel Carlos da Silva - Aldeia Paredão, T.I. Katukina/Kaxinawa
5. Antônio Valdes Paulino – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
6. Maria Batista (Yaka) – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
7. Amaral Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
8. Manoel Albeci – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa
9. Paulino Nishma -– Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
10.
AIS:
1. Texerinha Kampa (Txumiri) – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio
Envira
2. Benedito Martins – Nova Esperança, T.I. Seringal do Curralinho
3. José Francimar F. do Nascimento – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
4. Francisco das Chagas Nunes Pereira (AIS e liderança) – Aldeia Belo Monte, T.I.
Katukina/Kaxinawa
5. Francisco Galdino Yawanawa – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
6. José Augustinho (liderança e AIS) – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa
7. Valmar – Aldeia Grota, T.I. Seringal do Curralinho
8. Carlinho Kampa – Aldeia Riozinho T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
9. José Carlos Kampa – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
10. Raimundo Kampa, AIS e conselheiro local – Aldeia Jaminawa, T.I.
Jaminawa/Envira
11. Francisco Kampa – Aldeia Simpatia, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
12. Albecildo Gomes Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
13. José Clerton da Silva Kaxinawá
85
Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada
Nova
Lideranças e representantes de mulheres:
1. Francisco Kampa – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira
2. José Eiraldo Fernandes Marroque – Aldeia Grota, T.I. Seringal do Curralinho
3. Gilberto Fernandes de Matos – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova
Olinda
4. João Kampa (Txate), liderança – Aldeia Cocoaçu, T.I. Kampa e Isolados do Rio
Envira
5. Melk Gonçalves Kulina, liderança – Aldeia Igarapé do Anjo, T.I. Kulina do Ri o
Envira
6. Estefania Barbosa Ferreira, representante de mulheres e professora – Aldeia
Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
7. Maria Gleiciane Fernandes de Matos, representante de mulheres – Aldeia Paroá,
T.I. Katukina/Kaxinawa
8. Francisca Nunes Pereira, representante de mulheres - Aldeia Belo Monte, T.I.
Katukina/Kaxinawa
9. Militão Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
10. Francisco Kampa – Aldeia Jaminawa, T.I. Jaminawa/Envira
11. José Mauro da Silva – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
12. Manel Galdino da Silva Kaxinawa – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
13. Raimundo Francisco Kulina
Outros participantes:
1. Raina Kampa, professora – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira
2. Joana Kampa – Aldeia Alto Bonito, T.I. Jaminawa/Envira
3. Erley Barbosa Kaxinawa – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
4. Nilo Martins da Silva – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
5. Jorgiano de carvalho Rodrigues – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de Nova
Olinda
6. José Mauro da Silva – Aldeia Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
7. Camanhare Kampa – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira
8. Roberto Carlos Fernandes de Matos – Aldeia Nova Olinda, T.I. Kaxinawa de
Nova Olinda
9. João Elias Marcelino Ashaninka, professor – Aldeia Bananeira, T.I. Kampa e
Isolados do Rio Envira
10. José Guilherme Nunes Ferreira, AAFIS – Aldeia Paroá, T.I. Katukina/Kaxinawa
11. Valquiria de Sousa Barbosa, representante de mulheres e artesã - Aldeia Belo
Monte, T.I. Katukina/Kaxinawa
86
Anexo 2 – Lista de participantes: 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia Morada
Nova
12. Lusceline C. Brandão da Silva - Aldeia Paredão, T.I. Katukina/Kaxinawa
13. Lenivardo Paulino de Lima – Formoso, T.I. Kaxinawa de Nova Olinda
14. Ester Batista Brandão – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
15. Rubenilda Silvino – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
16. Francisco das Chagas, AAFI – Cardoso, T.I. Katukina/Kaxinawa
17. Francisco Lima de Nascimento
18. Adriane Batista Paulino (filha de Antonio Valdes Paulino) – Nova Vida, T.I.
Katukina/Kaxinawa
19. Maria Gorete Brandão Batista, representante de mulheres e integrante do
conselho deliberativo de Sitoakore – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
20. José Luiz Yawanawa, AISAN – Nova Vida, T.I. Katukina/Kaxinawa
21. Romão Kulina – Aldeia Salão, T.I. Kulina do Ri o Envira
22. Pedro Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira
23. Lira Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira
24. Manel Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira
25. Nagibe Kulina – T.I. Kulina do Ri o Envira
26. Albeci Brandão de Araújo – Morada Nova, T.I. Katukina/Kaxinawa
27. Rosinha Kampa
28. Mariazinha Kampa
29. Iracilda Gomes de Araujo Shanënawa
30. João Pereira da Silva Kaxinawa
31. Jânio da Silva
32. José A. da Silva Kaxinawa
33. Manoel Barbosa da Silva Kaxinawa, AAFI
34. Nautsa Kulina, professor
Profissionais de Saúde:
1. Madalena, enfermeira
2. Ana Claudia, enfermeira
87
Anexos – Documentos produzidos
01-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Cuidados
com o recém-nascido.
Documentos produzidos
Transcrição dos cartazes produzidos durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e
AIS pelos grupos de trabalho.
GRUPO 1
Tema: Cuidado com o recém-nascido:
•
•
•
•
•
Dar banho no bebê todos os dias
Limpar o umbigo e enxugar bem.
A parteira acompanha até o umbigo da criança cair.
Usa remédio tradicional para sarar, entre eles: Tsĩkitxai rowe, Tsĩkitxai (katukina),
richkiti, pakaraw, copaíba.
Não deixa a criança sair fora antes de sete dias, e nem todas as pessoas podem pegar
no bebê
TEMA: Cuidado com o recém-nascido e amamentação:
- a criança começa a mamar logo após o nascimento
- o leite materno é um alimento saudável e não tem risco de o bebê ter infeções.
- A parteira sempre incentiva à mãe a amamentar a criança
- comida natural ajuda muito no crescimento do bebê
Exemplo: mingau de banana, suco, etc.
Problema com o peito.
- Começa a comer direto depois dos três aos seis meses.
Integrantes do grupo:
- Antonia Elissandra – arara
- Zuila – Katukina
- Mônica – arara
- Creuza – katukina
- Helena – arara
- Lucinha – katukina
- Raimundo – Jaminawa-arara
- Gualdo – katukina
- Suzanna – Jaminawa-arara
- Rodrigo – Katukina
- Fátima – nawa
- Rosenilda – katukina
- Neve Rosa – katukina
- Mª Elsa - Katukina
- Maria da Gloria – katukina
88
Anexos – Documentos produzidos
01-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Cuidados
com o recém-nascido.
GRUPO 2
TEMA: CUIDADOS COM O RECEM-NASCIDO
•
•
•
Cuidados com o umbigo
™ 1º: Dar banho com ervas para o umbigo sarar rápido.
™ 2º: O primeiro cocô do bebê atrepar na cuminheira da casa para não dar
expremedeira.
™ 3º Não exprimir os panos, para não dar expremedeira.
™ 4º Não colocar os panos no sol, para não dar febre.
™ 5º E não deixar cair, para não sair o vento do bebê.
™ 6º Esses cuidados do umbigo têm que ter até um mês de vida. Já o do
vento caído até os 7 anos.
O nascimento dos dentes
™ Os dentes do bebê começa a nascer de 6 meses até um ano de idade.
™ Na nossas experiências a gente coloca no braço e no pescoço do bebê.
Cuidados com a amamentação
™ 1º Colocar a criança para mamar até os 6 meses, sem dar comida.
™ 2º Não deixar o adulto colocar nada na boca da criança, sem ser
necessário.
™ 3ºColocar genipapo na boca, para no dar sapim, e também no corpo, para
não dar coruba ou outros tipos de doenças.
™ 4º Não dar o peito com o corpo quente para não dar dor de barriga.
Deixar as coisas do bebê sempre limpas
Integrantes do grupo:
Nilândia – nawa
Lucila – nawa
Maria da Gloria – arara
Aldenizia Nukini
Maria da Criz Nukini
Vander Sereno Kaxinawa.
89
Anexos – Documentos produzidos
02-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Pré-natal
Grupo 1
TEMA: Pré-natal
- Como a parteira acompanha?
- a partir dos três meses de grávida a parteira conversa com a grávida, usa
a fita para medir se o bebê está crescendo, medir a pressão, verificar o peso, escutar o
coração do bebê com o pina, examinar se a grávida está com anemia, a parteira também
acompanha com o remédio tradicional quando a grávida está com problema, fraca, com
cansaço, ela toma kambo, em outras com o remédio shakuandi, que serve também para
tomar banho até os nove meses, para não ter problemas no parto e o bebe nascer logo.
- Quando a mulher aparece com problemas graves como: sangramento,
anemia, ou dores muito fortes, a parteira convoca com o AIS para ele encaminhar para o
posto de saúde.
Pré-natal
Como o AIS acompanha a grávida?
- o AIS acompanha nas consultas e quando a parteira tem examinado a grávida e
ver que tem que ser passada pela avaliação dos AIS. Nesse caso, o AIS encaminha ou
acompanha até o posto de saúde.
Como o pajé acompanha:
- Quando a grávida está em perigo ou no trabalho de parto.
- Quando a grávida está com sangrameto
- Ele faz a cura com reza e trabalho espiritual
- Nesse caso, a grávida só tem que ser encaminhada se não conseguir ficar
curada ou surgir outro problema.
Dieta na gravidez:
- Não pode comer jabuti, jacaré, jacamim, etc.
- não pode ver cobra jibóia porque ela atrai espírito mal e faz com que o bebe
não possa nascer. Nesse caso tem que passar pela cura do pajé.
90
Anexos – Documentos produzidos
02-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Pré-natal
Participantes do grupo:
- Antonia Elissandra – arara
- Helena – arara
- Raimundo – Jaminawa-arara
- Suzanna – Jaminawa-arara
- Fátima – nawa
- Rodrigo – Katukina
- Aldemir Katukina
- Mônica Arara
- Mirvana – Nukini
- Sérgio Katukina
91
Anexos – Documentos produzidos
02-Reunião de Campinas – transcrição de cartaz produzido pelo trabalho em grupo – Tema: Pré-natal
Grupo 2
Tema: pré-natal
- Acompanhamento das grávidas inicia a partir de 2 meses.
Como:
- Olhando os olhos se estar amarelo, e se estiver a grávida está com anemia.
- Verificando a urina, e também medindo o tamanho da barriga para saber o
tamanho do menino, se está com o peso normal.
Contribuição do pajé:
Contribuir com rezas e trabalhos espirituais e no caso do neném estiver torto, o
pajé o deixa normal.
E o pajé só é chamado quando a grávida está em perigo.
Contribuição do AIS:
Em algumas aldeias, o AIS ajuda, outras não. Eles ajudam com
encaminhamentos, preenchendo cadastros para saber a quantidade de meses e pesando o
neném quando nasce e tem remédios.
Componentes do grupo:
- Maria da Cruz – Nukini
- Tereza da Silva – Jaminawa-arara
- Maria da Glória – Arara
- Nilândia Moreira – Nahua
- Maria Nilza – Katukina
- Aldenizia – Nukini
- Vander Sereno – Kaxinawa
- Francisco Dete – Katukina
- José da Silva – Katukina
- Adeildo – arara.
92
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e
AIS
Aldeia Campinas, 19 de fevereiro de 2006.
Prezado Alcir,
Durante a reunião de parteiras, pajés e AIS do projeto “Valorização e adequação dos
sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” realizada
na aldeia Campinas (T.I. Campinas Katukina) entre os dias 15 a 20 foram discutidos temas
referentes à situação de saúde materno-infantil entre os grupos participantes (Nawa, Nukini,
Katukina, Kaxinawa do Breu, Arara, Jaminawa Arara). Um dos resultados da reunião foi um
levantamento feito pelos participantes das dificuldades e necessidades que cada um dos povos
enfrenta em relação à saúde. Através desse documento estamos encaminhando as
reivindicações dos participantes Nawa e Nukini (1), Arara (2), Kaxinawa do Breu e Jaminawa
Arara do Bagé (3), Jaminawa Arara do Igarapé Preto (4), e, Katukina (5).
As reivindicações que são comuns a todos os povos indígenas do Vale do Juruá são:
¾
Ter AIS mulher, uma por aldeia.
¾
Ter motor, barco e gasolina disponível para cada uma das parteiras e dos AIS quando a
locomoção é fluvial ou bicicleta quando a locomoção da parteira, pajé e AIS é pela estrada
(Katukina).
¾
Ter equipamento para as parteiras (kit da parteira, balança) e para os AIS
(medicamento básico) poderem trabalhar nas aldeias.
¾
Ter um ponto de apoio para as parteiras realizarem os partos e para os AIS guardarem
os equipamentos e medicamentos.
¾
Ter ajuda financeira para as parteiras e pajés e contrato para os AIS homem e mulher.
¾
Consertar ou implementar o sistema de radiofonia nas Terras Indígenas ou implantar o
telefone público.
As reivindicações específicas dos povos participantes são:
1. Nawa e Nukini
Tema – Melhoria do trabalho de saúde nas aldeias e no pólo-base de Mâncio Lima.
O que pode melhorar no atendimento à saúde indígena (equipe multidisciplinar, AIS,
parteira e pajé):
93
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
1.
2.
3.
4.
Ter atendimento da equipe multidisciplinar todos os meses na aldeia.
Não faltar medicamentos nos postos de saúde das aldeias.
Ter AIS mulher na aldeia para facilitar o atendimento das mulheres junto a equipe.
Ter barco, motor e combustível tanto para as parteiras quanto para os AIS dentro da
comunidade.
5. Ter contrato para as parteiras e os AIS.
6. Construir uma casa na aldeia para os atendimentos das parteiras e fornecer
equipamento. Ex: cama, colchão, balança e kit da parteira.
7. Que os motoristas do barco da saúde sejam índios.
O que pode melhorar no atendimento do pólo-base de Mâncio Lima:
1. Que tenham administradores índios para não haver discriminação com a população
indígena, como vem acontecendo hoje no pólo-base.
2. Que os administradores recebam os pacientes índios no pólo ainda com vida, não só
depois de morto.
3. Que os exames e consultas aconteçam mais rápido, não só depois de três meses.
4. Que eles atendam todos os doentes, como grávidas, pacientes com malária, etc; não só
quando a pessoa foi mordida de cobra ou teve alguma fratura (braço e perna
quebrada).
5. Que o pólo tenha cama, colchão, mesa, banco, cortinado e ventilador para os doentes.
6. Que a alimentação seja pela vontade do doente, não pela do funcionário, porque o
funcionário só dá comida enlatada, carne-moída e ovos. Porque para o paciente
melhorar precisa de verduras, frutas, peixe, carne, que os alimentos sejam variados.
Que os bebedouros sirvam para os doentes, não só para os funcionários.
2. Arara
Problema: A equipe multidisciplinar realiza a consulta em público com todos
presentes, homens e mulheres.
Proposta: Que a equipe atenda o paciente em um lugar reservado das outras pessoas.
Exemplo: de um a um.
Problema: Os AIS e as parteiras, apesar de terem solicitado, não foram buscados para
acompanhar a equipe multidisciplinar nas consultas.
Proposta: Fazer um rodízio para que cada um dos AIS e das parteiras possam
acompanhar e aprimorar seu trabalho na saúde.
94
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
Problema: A parteira não tem lugar para fazer o parto na aldeia. Somente sua casa com
a sua família dentro.
Proposta: A comunidade constrói uma casa e a FUNASA coloca o equipamento:
cama, colchão, equipamento com balança, lampião, bacia, gaze, álcool, luva, lanterna, iodo.
Problema: falta canoa para parteira atender a uma urgência, para acompanhar as
grávidas e para levar a paciente para a cidade em caso de necessidade.
Proposta: precisa de canoa e motor para as parteiras e também de combustível para
elas.
Problema: OAIS homem não consegue atender as mulheres por elas terem vergonha
de falar os problemas delas para eles.
Proposta: ter AIS mulheres nas aldeias para atender e facilitar nos atendimentos. A
comunidade decide quem vai ser a AIS mulher e a FUNASA dá capacitação, equipamento e
depois contrata.
Pólo-base
Problema: quando a paciente chega no pólo, que vem doente, passa por dificuldade.
Não tem ninguém para atender na farmácia.
Proposta: Que tenha um auxiliar no pólo para atender a paciente quando chegar e
também para acompanhá-la nas consultas no posto ou hospital.
Problema: O paciente sente dificuldade quando vem doente para o pólo-base, pois ali
onde está instalado não é um pólo-base e sim uma hospedaria do povo Arara em geral. E por
morar família dentro da casa faz barulho que é um problema para os pacientes que estão
doentes.
Proposta: que a FUNASA construa ou alugue um casa para que seja instalado o pólobase de Porto-Walter.
95
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
3. Kaxinawa do Breu e Jaminawa Arara do Bagé.
Dificuldade dentro das aldeias.
1. Transporte para os Agentes de Saúde fazerem seus encaminhamentos.
2. Falta de comunicação por rádio ou telefone.
3. Falta de um Ponto de Apoio para os Agentes Indígenas de Saúde e Parteiras
trabalharem e também de equipamento para este ponto de apoio.
4. Faltam medicamentos básicos nas aldeias para os AIS trabalharem dentro da aldeia.
5. Falta de combustível para os AIS trabalharem em caso de emergência ou quando eles
fazem encaminhamentos.
6. Falta capacitação para os Agentes Indígenas de Saúde melhorarem os seus
atendimentos.
7. Falta Agente Indígena de Saúde Mulher para ajudar as parteiras e os AIS homens.
8. Falta fazer contrato com as parteiras e equipamentos como banheira, álcool, luva,
gaze, balança, lanterna e outros.
9. As visitas da equipe multidisciplinar nas aldeias não são suficientes para atender toda
a comunidade.
Propostas:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Ter barco motorizado para todos os AIS.
Instalar rádio ou outra comunicação em todas as aldeias.
Queremos pontos de apoio estruturados nas aldeias.
Queremos medicamentos básicos dentro da aldeia.
Queremos combustível, embuchamento e óleo lubrificante dentro da aldeia para os
AIS fazerem seus encaminhamentos.
Queremos capacitação para os AIS.
Queremos uma AIS mulher em cada uma das aldeias.
Queremos que as parteiras sejam contratadas e também precisamos de equipamentos
para as parteiras e os AIS trabalharem.
Aumentar a freqüência de atendimento na região do Alto Juruá (TI do Breu; TI do
Bagé; TI Apolima Arara; TI Ashaninka do Rio Amônia).
Dificuldades e propostas no pólo-base.
1. Precisa de uma reforma geral do pólo-base.
2. É necessário ter materiais de cozinha e equipamento (cama, colchão, bebedor, cadeira,
mesa, ventilador, etc) nos pólos. Queremos uma cozinheira e uma faxineira no pólo.
3. Há dificuldade no retorno dos encaminhamentos: precisa de embuchamento e mais
óleo lubrificante do que é fornecido hoje pelo pólo quando o motor é Yamar.
96
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
4 – Jaminawa Arara do Igarapé Preto.
Para melhorar o atendimento da saúde nas aldeias.
1. Necessidade de capacitar e contratar AIS mulher para colaborar com a parteira e com
os AIS homem. As mulheres têm vergonha de consultar alguns problemas com os AIS
homem.
2. Necessidade de contratar as parteiras.
3. Necessidade de melhorar as condições de trabalho dos AIS e das parteiras,
fornecendo:
¾ Barco, motor e combustível para cada AIS e para cada parteira poder trabalhar.
¾ Medicamentos nas aldeias para os AIS.
¾ Completar periodicamente o kit da parteira e acrescentar: balança, bacia para banho,
desinfetante, caixa para guardar os instrumentos esterilizados.
4. Necessidade de um ponto de apoio com quartos para cada um dos profissionais (AIS
homem. AIS mulher, parteira) fazer atendimento. A parteira precisa de um quarto para
fazer os partos e cuidar da parturiente durante os primeiros dias.
5. Precisa ter alimentação no ponto de apoio para os pacientes.
6. Precisa ter capacitação diferenciada para os AIS.
7. Precisa de sistema de radiofonia. Na TI Jaminawa do Igarapé Preto não tem aparelho
de radiofonia. Não ter rádio impede a comunicação com o pólo-base quando acontece
algum caso de doença grave, impedindo o AIS de pedir ajuda.
Problemas com o atendimento da equipe multidisciplinar.
Ocorre mal atendimento do paciente, discriminação e preconceito; a equipe coloca
dificuldades para fazer encaminhamentos; as visitas da equipe são poucas; a equipe não avisa
quando vai chegar e quando chega as vezes tem poucas pessoas na aldeia para atender; as
visitas da equipe são muito curtas.
Problemas no pólo-base.
Os pacientes são mal atendidos e sofrem discriminação no pólo-base.
Propostas para melhorar o atendimento dos Jaminawa Arara no pólo-base:
¾ Construção de um pólo-base em Rodrigues Alves porque é o único município que não
possui pólo-base.
¾ Que o administrador desse pólo-base em Rodrigues Alves seja Jaminawa-Arara.
¾ Que a organização do cotidiano no pólo-base em Rodrigues Alves seja segundo os
costumes Jaminawa Arara principalmente em relação a alimentação.
97
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
5 – Katukina
Problema: A mulher Katukina não entende o que a equipe multidisciplinar está
falando; e a equipe multidisciplinar não entende o que a mulher Katukina está falando; a
mulher tem vergonha do AIS homem para traduzir os problemas dela para a equipe
multidisciplinar.
Solução: Ter uma AIS mulher por aldeia. Precisa a FUNASA dar capacitação para a
AIS mulher poder trabalhar. A comunidade também pode ajudar, porque o AIS homem vai
ensinar a AIS mulher.
Problema: Falta material para trabalho das parteiras.
Proposta: Que a FUNASA dê kit básico como lanterna, tesoura, luvas, álcool, gaze,
algodão, um colchão por aldeia, balança e fita métrica.
A comunidade vai construir uma ponto de apoio, mas a FUNASA dá o material para construir
(brasilite, madeira serrada, prego, alguém não-índio para ajudar na construção).
Problema: Transporte para parteira e pajé.
Solução: Uma bicicleta por aldeia para parteiras e pajés usarem.
Tema – Pólo-base de Cruzeiro do Sul
¾ O almoço é pouco no pólo-base e não tem lanche. Precisa ter café da manhã, lanche,
almoço, lanche e janta. O almoço é melhor se for marmitex igual a CASAI em Rio
Branco.
¾ O pólo não tem nenhum cuidado com a dieta passada pelo médico ao paciente. O pólo
precisa cuidar da dieta desses pacientes.
¾ O pólo precisa ter comida variada: peixes, galinha, boi, fruta (banana, mamão,
melancia)
¾ Os pacientes não querem comida enlatada, nem bolacha que já passou da validade.
¾ É preciso melhorar a limpeza no pólo: passar pano com água sanitária várias vezes
para não ficar cheiro ruim. Não é o paciente que tem que fazer a limpeza.
¾ Precisa de copo descartável para o paciente não pegar doença de outras pessoas.
¾ Precisa de cama, colchão e mosquiteiro para pacientes mais graves.
¾ Precisa de redes e mosquiteiros permanentes no pólo. A pessoa que faz limpeza pode
lavar e guardar depois que o paciente for embora.
¾ Precisa de sabonete, escova de dente, sandália e também aumentar o pedaço de sabão
para o paciente lavar a roupa.
¾ A pessoa da FUNASA que leva o paciente para o posto de saúde ou hospital não
explica nada; ela não explica onde o paciente tem que pegar a ficha; o paciente muitas
98
Anexos – Documentos produzidos
03-Reunião de Campinas – Documento de reivindicações dirigido ao Chefe do DSEI/Juruá
vezes perde o almoço; a pessoa da FUNASA não verifica se tem médico no posto
para fazer o atendimento, antes de deixar o paciente lá; a pessoa da FUNASA vai
buscar o paciente no posto na hora que quer. É preciso contratar um Katukina para
ajudar os pacientes, principalmente as mulheres, no posto de saúde e hospital e
também para cuidar da alimentação quando o médico passa dieta.
Hospital
¾ O hospital deve permitir a entrada do AIS para fazer o acompanhamento do paciente
que foi fazer consulta ou que está internado. Precisa ter um crachá da FUNASA para
o AIS poder ser identificado pelo hospital. A FUNASA deve fornecer ao hospital
uma lista com o nome de todos os AIS para permitir a entrada deles.
Solicitamos que nossas reivindicações sejam atendidas e desde já contamos com a vossa
compreensão e a vossa colaboração.
Atenciosamente
99
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Carapanã sobre problemas de saúde e propostas de solução.
Transcrição dos Cartazes produzidos durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e
AIS, pelos representantes de cada T.I. a respeito dos problemas de saúde que
enfrentam e as propostas de solução.
T.I Carapanã
Proposta para o melhoramento
1. Continuando o treinamento para as parteiras e os AIS.
2. Assistência de material para a parteira e o AIS.
3. Transporte e comunicação da aldeia para o pólo-base para a parteira e o AIS.
4. Construção de uma casa na aldeia para receber os pacientes. Juntamente com os AIS,
pajé e as parteiras.
5. Recurso econômico para as parteiras.
6. Reconhecimento das parteiras e os AIS no hospital e Posto de Saúde.
7. Fornecer a alimentação adequada para os pacientes no pólo-base.
8. O pólo-base fica a disposição de receber os pacientes em qualquer momento.
Problema com o pólo-base de Tarauacá.
1. Não tem retorno para parteira. Quando tem, não é completo, somente óleo diesel.
2. Não tem transporte para o hospital.
3. Não tem vaga suficiente para atender os pacientes indígenas.. Só tem uma vaga por
dia.
4. A parteira que não fizer curso, não tem reconhecimento no pólo.
5. Ás vezes quando faz exame fica muito difícil para ver o resultado
6. E também no sábado e domingo não tem plantão.
7. Só aceita o paciente quando estiver bem grave.
Grupo Carapanã: Anildo Peres Aparecido (AIS); Adenilson da Silva Kaxinawa (AIS); Maria
Iracema Silvina Kaxinawa; Maria Sofia Leonor; Maria Aldenira Kaxinawa; Pedro Sabino
Sereno (motorista fluvial); Maria Ivanete Davi Kaxinawa; Maria Elizene Leal Peres; Maria
Santisma da Silva Domingos; Nazaré Sabino Kaxinawa; Maria Ercilia Ferreira (AIS); Francisco
Rodrigues da Silva (AIS); Maria Leidiane Peres Ribeiro; José Carlos da Silva (AIS); Valdecir
Rodrigues Kaxinawa (motorista fluvial).
100
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Igarapé do Caucho sobre problemas de saúde e propostas de solução.
TI Caucho – Aldeia 18 Praia, Caucho, Nova Aldeia, Tamandaré
Os Problemas
Equipe de Saúde na Área.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
A equipe atende muito rápido.
Não tem um lugar para a equipe atender.
Não tem um lugar para fazer exame preventivo
A equipe de saúde não chama as parteiras para ajudar a atender as grávidas.
A equipe não confia no AIS.
Falta de capacitação para os AIS e parteiras.
Falta de material para os AIS e as parteiras trabalharem com mais qualidade.
Precisa de ajuda de custo para as parteiras
Falta de transporte e combustível para as parteiras e AIS.
Problemas no pólo-base
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Falta de lugar para os pacientes para hospedar.
Falta de alimentação no pólo-base para os pacientes e acompanhantes.
O pólo-base não trata as pessoas todos iguais.
Só tem duas vagas no Posto de Saúde por dia para atender paciente indígena.
Falta ser melhor atendido no hospital e na maternidade.
A parteira não pode acompanhar a grávida na maternidade e na hora do parto.
Depois do parto a mulher não tem transporte para ir embora. Tem que ir de pés.
Soluções
Equipe de Saúde na Área
1. Atender com mais calma e esperar as pessoas para atender. Conversar mais
com as pessoas.
2. e 3. Precisa de uma casa nas aldeias para equipe de saúde atender a
comunidade. Não é posto de saúde. Se a FUNASA der combustível, alumínio
e prego a comunidade tem como fazer a casa.
4. A equipe tem que chamar a parteira na hora que for chamada a grávida para se
consultar.
5. e 6. Se tiver capacitação para os AIS, a equipe vai ter que confiar no trabalho
do AIS.
7. Precisa do material, do kit para parteira trabalhar na comunidade com as
pessoas. Para os AIS precisa de material para curativo, para sutura, remédio,
pomada, iodo, água boricada, gaze e outros.
8. A FUNASA precisa dar uma ajuda de custo para as parteiras.
101
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Igarapé do Caucho sobre problemas de saúde e propostas de solução.
9.
Precisa de uma canoa com motor para cada aldeia, para as parteiras e os AIS
usarem para atender as pessoas. Precisa de combustível para ida e volta, da
cidade para a aldeia.
Solução para problemas do pólo-base.
1. O pólo-base é referência dos povos indígenas da região de Tarauacá. O pólo tem
que hospedar os pacientes.
2. O pólo tem que dar alimentação para o paciente e para o acompanhante.
3. O pólo é para atender todo mundo igual.
4. O pólo tem que contratar um médico para atender todos os povos indígenas da
região de Tarauacá.
5. O hospital e a maternidade têm que respeitar e tratar bem o paciente indígena, na
hora do atendimento e em qualquer hora que chegar.
6. A parteira e o AIS têm que ter um crachá para entrar na maternidade, no hospital
e no Posto de Saúde. O hospital, a maternidade e o Posto de Saúde tem que ter
uma lista dos AIS e das parteiras para ser reconhecido.
7. O pólo tem que dar transporte para a mulher que teve filho na maternidade ir
embora.
Grupo T.I. Igarapé do Caucho: Francisco Jescildo Alves Arsênio (AIS Nova
Aldeia); Raimundo Nonato (AIS Tamandaré); Ivane de Souza da Silva (AIS Tamandaré);
Ivanilde de Souza Kaxinawa (Tamandaré); Francisco das Chagas Conceição Kaxinawa (Pajé
Nova Aldeia); Maria das Graças A. da Silva (Nova Aldeia); Raimundo Ferreira (AAFI 18
Praia); Maria Francisca (professora Nova Aldeia); Francisca Laurilene da Silva Botoza
(Caucho); Francisca da Silva Batista (18 Praia); José Nertan Sabino (AIS 18 Praia).
102
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Kaxinawá do Humaitá sobre problemas de saúde e propostas de solução.
T.I. Humaitá
Problemas
1. O AIS é desconsiderado no pólo- base.
2. O pólo-base tem pouco ou nenhum recurso para alimentação, estadia/ pouso e
combustível para retorno às aldeias (5 a 8 dias entre aldeias e Tarauacá).
3. Há somente duas vagas para pacientes indígenas por dia.
4. As parteiras não podem acompanhar suas pacientes.
5. Não abrigo para parteiras, AIS, pacientes grávidas passarem a noite aguardando
uma vaga no pólo-base.
6. Falta de intercomunicação entre aldeias e pólo-base.
7. Os profissionais de saúde, em visita às aldeias, não respeitam os segredos das
mulheres, causando vergonha à mulher e família.
Sugestões para solução
1. O AIS precisa ter mais capacitação para melhor atendimento aos pacientes das
aldeias.
2. Posto de saúde nas aldeias.
3. Abastecimento com remédios e aparelhos, materiais, para que os AIS a as
parteiras possam atender emergências nas aldeias.
4. Recurso para os agentes de medicina tradicional.
5. As parteiras devem ter acesso no pólo-base, no posto de saúde e na maternidade,
para acompanhar suas pacientes grávidas.
6. Ter um médico à disposição para atender especificamente os pacientes indígenas
e as mulheres grávidas.
7. Aumentar o número de vagas para atendimento.
8. Capacitação dos profissionais de saúde para melhorar comunicação com AIS e
parteiras.
9. Formar reserva de combustível nas aldeias, com os recursos do pólo, destinados
ao apoio às comunidades indígenas.
10. Barco motorizado na TI Humaitá para atendimento das emergências de saúde, de
pacientes e mulheres grávidas.
11. Instalação de sistema de radiofonia interligando aldeias e pólo-base.
Grupo Humaitá:
10. Jacira Mateus
1. Aldemir Mateus Kaxinawa
2. Francisco Mateus de Lima
3. Raimundo Mateus de Lima
4. Rosevanir Mateus de Lima
5. Maria Inês Lopes
6.Raimundo Nonato Lopes
7. Valcenir Mateus
8. Maria Aucélia de Oliveira
9. Ademar Peres Vieira
11. Niza Sabóia
12.Francisca Mateus
13. Maria Macambira
14. Vanuza Lopes
103
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Igarapé Primavera sobre problemas de saúde e propostas de solução.
T.I. Primavera
Problemas de saúde T.I. Primavera
1. Não tem AIS.
2. Não tem parteira.
3. Não tem rádio.
4. Não tem professor.
• Quando tem um doente a comunidade freta um barco ou pega carona para chegar na
cidade;
• Gastam muitas vezes recursos próprios para comprar remédios;
• Se hospedam nos barcos;
• O pólo não dá alimentação, o pólo é só para consultas.
• Gasta 80 litros de combustível para o retorno, às vezes o pólo dá, outras vezes não.
• São 42 pessoas e um barco que pega 6 pessoas e um motor pequeno de 5,5 HP. Não
dá para a comunidade inteira utilizar.
Soluções
1. Precisa de 1 barco.
2. Precisa de 1 motor.
3. Treinamento AIS.
4. Atendimento melhor no pólo com os pacientes e acompanhantes.
5. Hospedagem no pólo (eles vêm de carona e não tem onde ficar).
6. Alimentação para paciente e retorno.
7. Capacitação de parteira.
8. Combustível de retorno.
9. Precisam que o pólo visite mais a TI Primavera, pelo menos uma vez no mês.
Representante Kampa: João Paulo Kampa
104
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Colônia 27 sobre problemas de saúde e propostas de solução.
Aldeia 27 – TI Colônia 27
Problema:
1º Comunicação
Rádio
•
•
aquisição
manutenção
Telefone e Celular
•
•
cartão telefônico
instalação de orelhão
2º Transporte
•
•
•
•
Falta de carro na aldeia.
Carroça de tração animal.
O pólo de saúde não oferece o transporte dos pacientes para cidade.
Doação de viatura para aldeia que sirva para a assistência de saúde e para atividade
produtiva da comunidade.
Problemas e Soluções na Medicina Tradicional
• Quando o pajé, parteira e o agente de saúde tem a solução não se encaminha o
paciente para o pólo.
• Necessidade de profissionalização das parteiras.
• Reflorestamento com espécies medicinais por do desmatamento da terra indígena.
• Lugar de coleta dos remédios muito longe da aldeia.
• Conflito entre a decisão do pajé e a decisão da comunidade em relação a
encaminhamento do paciente para o pólo.
• Respeito na autoridade.
105
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
da T.I. Colônia 27 sobre problemas de saúde e propostas de solução.
Problemas no pólo
•
•
•
•
•
Igualdade no atendimento entre as etnias.
Acabar com o atendimento baseado na amizade.
Melhorar a distribuição do medicamento.
Ter atendimento de qualidade.
Resolver o problema da hospedagem do paciente e do acompanhante.
Solução:
• Construção da casa de saúde na cidade.
Grupo Colônia 27:
Ivaniza da Silva Brandão
Carmélio da Silva Brandão
Afonso Manduca Mateus
106
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Katukina da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
Katukina do Rio Gregório – Aldeia Sete Estrelas
Problemas Katukina
1. Acesso (5 dias de viagem a pé da aldeia para Tarauacá).
• Não tem barco, nem motor, nem combustível para deslocamento dos pacientes.
• Pólo-base não disponibiliza transporte.
2. Comunicação
• Não tem como conversar com o pólo em caso de urgência e necessidade.
3. Hospedagem e alimentação dos pacientes em Tarauacá – o pólo-base não
providencia condições para a permanência dos pacientes em caso de tratamento
e exames e de seus acompanhantes.
4. O pessoal do pólo-base tem que receber e tratar melhor os pacientes e
acompanhantes dos pacientes.
5. A equipe de saúde não atende na aldeia e muitas vezes as vacinas e
medicamentos não chegam.
6. Demora na marcação de consultas. Pólo-base não tem uma atuação eficaz para
encaminhar os pacientes para referência e contra-referência.
7. Falta de informações corretas e não cumprimento dos direitos garantidos aos
povos indígenas.
8. Parteira não tem material para fazer parto.
9. Água
10. Mulher tem vergonha de AIS homem.
Soluções
1. Ter barco com motor para transporte dos pacientes, próprio para Katukina. Carro
para transporte do paciente em Tarauacá.
2. Rádio com manutenção.
3. Construção de casa ou
107
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Katukina da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
b) Contratação de hotel com hospedagem e alimentação ou
c) Convênio com OPITAR para hospedagem e alimentação.
4. Capacitação do pessoal da saúde pelos próprios povos indígenas; contratação de
pessoal qualificado.
5. Ter uma pessoa indígena de referência em Tarauacá para acompanhar o pessoal
que vem da aldeia.
6. Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena deve ir à aldeia 6 vezes por ano (2
em 2 meses).
7. Construção de um Posto de Saúde na aldeia com medicamentos.
8. Estabelecimento de procedimentos para agilizar/melhorar a marcação de
consultas e o acompanhamento dos pacientes na referência.
9. Capacitação do Conselho Local e dos AIS para fazer valer os direitos dos povos
indígenas.
10. Material para parteira com ensinamento sobre o uso.
11. Sistema de abastecimento de água e banheiro.
12. Contratação de AIS mulher.
Grupo Katukina: João Carlos Katukina (Liderança e Pajé); Misi Rodrigues de Souza
Katukina; Josimar da Silva Katukina (AIS); Luciene Katukina.
108
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
T.I. Rio Gregório – Povo Yawanawa
Problemas que enfrentamos
1. Transporte aldeia/cidade
Verão: o carro se desloca até a beira do Rio Gregório.
Inverno: Caminhamos a pé dois dias até a metade da viagem, depois nós
pegamos um carro até a cidade.
2. Retorno AIS e paciente.
Algumas vezes o AIS é atendido de boa vontade, às vezes não.
3. Atendimento no pólo.
Quando a gente vem doente ou traz um paciente, eles mandam ir para o pólo ou
posto de saúde sem acompanhar o paciente; às vezes o paciente não entende a fala dos
médicos e fica perdido. Isso tudo quando tem vaga, senão temos que esperar.
4. Alimentação
O pólo não dá alimentação e muitas vezes o paciente passa necessidade.
5. Encaminhamento
Eles recebem e engavetam.
6. Consultas
Tem que esperar as vagas. Mesmo doente o paciente não tem condições de ficar
na cidade, andando no sol, passando mal e com filho nos braços.
7. Pajé
O povo indígena respeita, valoriza, usa suas curas, valores e saberes, mas o
poder público não reconhece.
109
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
8. Parteiras
Não é reconhecida como deveria ser. Os profissionais de saúde devem respeitar,
reconhecer seu trabalho. E o poder público também não reconhece como categoria
profissional.
9. Profissionais e funcionários
Nenhum é treinado para trabalhar com a população indígena.
10. Medicamento
Às vezes nós compramos por conta própria, porque os enfermeiros falam que o
pólo não tem condições.
Solução dos problemas
Transporte:
A comunidade Yawanawa precisa de barco para atender as 5 aldeias da Terra
Indígena Rio Gregório. A solução para nós também é asfaltamento da BR 364.
Retorno do AIS e paciente:
O AIS e paciente precisa voltar para as aldeias com as condições (combustível,
alimentação e medicamento).
Atendimento no pólo:
Todo paciente e acompanhante deve ser bem atendido e acompanhado pelos
enfermeiros até os setores de saúde e, no final de tudo ainda, deve ser acompanhado até
ficar bom.
Alimentação:
O pólo precisa garantir uma alimentação saudável para o paciente e
acompanhante. Uma alimentação balanceada com frutas, verduras, etc.
Encaminhamentos:
Os encaminhamentos devem ser analisados e dada sua urgência encaminhados e
os pacientes serem chamados urgentemente.
110
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
Consulta:
Vaga de consulta deve ser garantida e dar condições para que o paciente chegue
até o local da consulta.
Pajé:
Que o pajé seja reconhecido pelos poderes públicos estaduais, municipais e
federais como conhecedores de cura e erva medicinais.
Parteira:
Que a parteira seja reconhecida como profissional em saúde indígena com
carteira assinada pelos setores de saúde.
Funcionários/profissionais:
Que todos recebam treinamento de participação em recursos humanos para
trabalhar especialmente com a população indígena, respeitando seus valores, costumes,
tradições e saberes.
Medicamento:
Que os medicamentos que podem ser substituídos por plantas medicinais possam
ser utilizados pelo pajé e pelos enfermeiros, levando em consideração a doença que o
paciente tiver.
Grupo Yawanawa: Lídia da Silva Yawanawa; Leda Matilde Ferreira Yawanawá; Orlinda
Luiza Yawanawa; Maria Luiza Ferreira; Maria dos Anjos Luiza Felix Yawanawa; Márcia da
Silva Yawanawa.
111
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
Documento de reivindicações produzido durante a 1ª Reunião de Parteiras,
Pajés e AIS
Aldeia Morada Nova, 31 de março de 2006.
Durante a 3ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e AIS do projeto “Valorização
e adequação dos sistemas de parto tradicionais das etnias indígenas do Acre e do Sul do
Amazonas”, realizada na aldeia Morada Nova (T.I. Katukina/Kaxinawa) entre os dias
27 a 31 de março de 2006 foram discutidos temas referentes à medicina tradicional e a
situação de saúde nos grupos participantes (Kaxinawa, Shanenawa, Ashaninka e
Kulina). Durante esta reunião foram levantadas as dificuldades e as necessidades que
cada um dos povos enfrenta em relação à saúde em suas comunidades.
Desta reunião participaram representantes das aldeias Morada Nova, Paroá,
Cardoso, Nova Vida, Paredão, Belo Monte, Pupunha (T.I. Katukina/Kaxinawa); Grota e
Nova Esperança (T.I. Seringal Curralinho); Formoso e Nova Olinda (T.I. Nova Olinda);
Riozinho, Cocoaçu, Simpatia e Bananeira (T.I. Kampa e Isolados do Rio Envira); Alto
Bonito (T.I. Jaminawa/Envira); Califórnia (T.I. Kulina do Igarapé do Pau); Maronawa,
Terra Nova e Igarapé do Anjo (T.I. Kulina do Rio Envira).
A seguir são apresentadas as reivindicações dos representantes das comunidades
presentes, esperando que sejam tomadas as devidas providências para garantir o direito
dos povos indígenas a uma saúde diferenciada, que respeite e reconheça o valor e
importância das parteiras, pajés, AIS e auxiliares de enfermagem indígenas enquanto
profissionais essenciais na melhoraria da situação de saúde das comunidades.
• O pólo-base precisa fornecer alimentação adequada (banana, macaxeira, frutas, arroz,
peixe) ao paciente e acompanhante que vêm para a cidade para fazer tratamento.
• O pólo-base precisa garantir a dieta receitada pelo médico, fornecendo os alimentos
indicados para o paciente durante o período de tratamento.
• O pólo-base precisa conversar com o IBAMA para permitir que os pacientes tragam
carne de caça para comer quando eles permanecem na cidade.
• É necessária uma casa de apoio na aldeia Morada Nova com estrutura completa
(cozinheira indígena, auxiliar de enfermagem indígena, medicamentos, transporte,
alimentação) para alojar os pacientes e acompanhantes das aldeias mais distantes
112
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
(Alto Envira), principalmente os que estão com tuberculose, doenças infectocontagiosas e hepatite.
• É preciso uma Toyota para transportar os pacientes na cidade e a contratação de um
motorista indígena.
• É necessário que sejam construídos postos de saúde com infra-estrutura completa
(medicamentos, radiofonia, placa solar, barco com motor e combustível) em pontos
estratégicos (Aldeia Simpatia, Igarapé do Anjo, Califórnia e Nova Olinda) para
atender as emergências, e também que sejam contratados auxiliares de enfermagem
indígenas nestes postos nos pontos estratégicos.
• É preciso um barco com motor à gasolina e uma cota de combustível por mês em
cada aldeia para as parteiras trabalharem.
• É necessária uma cota de combustível por mês em cada aldeia para que os AIS
possam fazer as visitas de rotina às casas e também para usarem em caso de
emergência.
• É preciso que seja instalado um sistema de radiofonia em todas as aldeias e também
que seja garantida pelo pólo a manutenção do equipamento.
• É necessária a construção de um posto de saúde em cada aldeia para guardar
medicamentos e apoiar o trabalho dos AIS.
• É preciso garantir a formação técnica para os AIS e AISAN juntamente com uma
formação básica (português, matemática) para melhorar o trabalho desses agentes
junto a suas comunidades.
• É importante fornecer cursos de aperfeiçoamento para as parteiras, que respeitem seus
conhecimentos e suas práticas.
• O trabalho dos pajés e parteiras tem que ser reconhecido e valorizado pelo sistema de
saúde oficial e com isso garantir uma ajuda de custo para que eles possam trabalhar
junto a suas comunidades.
113
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
• O trabalho dos AIS e das parteiras tem que ser reconhecido pelo pólo-base, hospital e
maternidade. É necessário criar um crachá de identificação dos AIS e das parteiras,
que permita que eles entrem no hospital e maternidade para acompanhar seus
pacientes.
• O paciente indígena deve ser tratado com respeito no atendimento do pólo-base, do
Posto de Saúde, do hospital e da maternidade.
• Os AIS têm que receber uma remuneração mais adequada já que trabalham
diretamente nas comunidades.
• Tem que ser priorizada a contratação dos auxiliares de enfermagem indígenas no
quadro do pólo-base quando já existem estes profissionais formados nas
comunidades, respeitando a indicação das comunidades.
• Os AIS devem ser contratados através de um concurso diferenciado.
• É necessário o apoio da Funasa para construir uma casa de parto com infra-estrutura
completa (cama, colchão, cortinado, bacia, panela, fogão, botija, kit da parteira, placa
solar (onde não existe energia)) em todas as aldeias da região.
• Garantir no convênio a contratação de um médico para atuar no pólo-base para
atender os pacientes indígenas.
• É preciso agilizar a remoção de pacientes do pólo-base para a CASAI (Rio Branco)
fazendo com que o DSEI seja responsável pela compra e pela liberação das
passagens.
• É necessária a construção de poços artesianos nas aldeias onde não tem poço, e nas
aldeias onde já tem, é preciso dar manutenção através do AISAN. É necessário que as
fossas sejam reconstruídas longe dos poços artesianos para não contaminarem a água.
• Melhorar o atendimento odontológico através da prevenção e também do
fornecimento de materiais para que o dentista possa fazer restaurações, extrações e
próteses para os pacientes indígenas nas comunidades.
114
Anexos – Documentos produzidos
04-2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS, Aldeia do Caucho – Transcrição do cartaz produzido pelo grupo
Yawanawa da T.I. Rio Gregório sobre problemas de saúde e propostas de solução.
• É necessário fornecer o kit da parteira completo (inclusive com balança, lanterna de
boa qualidade, guarda-chuva, capa de chuva e botas) para todas as parteiras,
assegurando a reposição do material não permanente.
• Fornecer o livro de cadastro de recém-nascidos para todas as parteiras de todas as
comunidades.
• Garantir o combustível para as parteiras quando elas levam as grávidas para fazer o
pré-natal.
• Tirar o convênio da Prefeitura e repassar para uma ONG com experiência em trabalho
com populações indígenas e indicada e aprovada por todas as comunidades.
As comunidades indígenas da região do Envira esperam que as reivindicações
aqui apresentadas sejam atendidas o mais breve possível, de forma a garantir uma
melhora da situação de saúde das populações indígenas.
Atenciosamente,
115
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Cadastro das parteiras (Tarauacá e Feijó)
Cadastro das Parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Nome
Aldeia (T.I.)
Cursos realizados
Tempo atuando
Iniciou
Evanilde de Souza
Tamandaré (TI Caucho)
3 cursos
com
12
(1971).
Partos realizados
Partos realizados entre 2000
e 2005:
anos Em 2000: 66 partos
(nasceu em 1956)
Em 2001: 90 partos
Em 2002: 53 partos
Em 2003: 59 partos
Em 2004: 69 partos
Em 2005: 90 partos
Desde 1997
19 partos
Começou com 26 anos.
Hoje tem 30.
4 anos de atuação.
2 partos (antes dos cursos)
Faz 21 anos(Desde
9 partos
38 anos de trabalho.
4 cursos
Maria Anizia de Paula
São Vicente (TI Humaitá)
Sabóia Kaxinawa.
Evaniza da Silva Brandão
Maria Alice Ferreira Lima
1º curso 2000 – Secretária do Estado
da Saúde e do Saneamento.
2º curso 2003 – GMI
3º curso 2005 – Prevenção para as
parteiras tradicionais.
4ºcurso 2005 – SESA
2 cursos
Aldeia 27 (TI Colônia 27)
1ºcurso – 2000
2º curso – 2004
Caucho (TI Caucho)
Não fez curso.
Porto Brasil (TI Humaitá)
20 anos atuando
1º curso – 2003 – GMI
2º curso – 2005 – Governo do Estado (Começou com 29 anos)
do Acre.
2 cursos
Jacira Cataiano Mateu
aproximadamente)
1986
11 partos
116
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
3 cursos
Francisca da Silva Batista
(Maspan)
D. Maria Pereira de Souza
(D. Maria Branca).
18 Praia (TI Caucho)
2 cursos
Nova Aldeia (TI Caucho)
Maria das Graças Araújo
da Silva (filha da D. Maria)
Nova Aldeia (TI Caucho)
Francisca
da
Chaga
Acima da Nova Aldeia
Conceição Kaxinawa
(TI Caucho)
Francisca Mateus
São Luiz (TI Humaitá)
Maria Aucélia de Oliveira
Kaxinawa
1º curso 2000 – Secretária do Estado
da Saúde e do Saneamento.
2º curso 2003 – GMI
3º curso 2005 – SESA
Boa Vista (TI Humaitá)
1 curso
2003 – GMI (acompanhou a mãe)
Nunca fez.
2 cursos
1º curso – 2000 (SESA)
2º curso – 2003 (GMI)
2 cursos
1º curso – 2003 (GMI)
2º curso – 2005
Maria
Inês
Água Viva (TI Carapanã)
Lopes Boa Sorte (TI Humaitá)
1º curso – 2000 (SESA/Prefeitura)
2º curso –2003 (GMI)
3º curso – 2005
1 curso
22 partos cadastrados
Começou a pegar com 12 Parto de 60 mulheres
1º curso 2000 – Parteiras Tradicionais
anos.
da Zona Rural
Faz 46 anos que pega criança
2º curso 2003 – GMI
3 cursos
Nazaré Sabino Kaxinawa
Começou com 27 anos
(1978)
(algumas dessas mulheres tiveram
vários partos com ela)
A partir de 2003 passou a Acompanhou e ajudou no
acompanhar
parto de 5 mulheres.
Quando fez o primeiro 54 partos
parto tinha 10 anos
Começou com mais ou
menos 10 anos, ‘quando 116 partos
estava começando a
nascer o peito`.
Começou com 14 anos.
Hoje tem 30 anos.
16 partos
Começou com 11 anos.
52 partos (antes de 2000)
Depois do 1º curso – 16 partos
Depois do 2º curso – 13 partos
Depois do 3º curso 7 partos
Hoje tem 63 anos.
52 anos que faz parto
Começou com 22 anos.
Total de partos: 88
5 partos
117
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
2005 – Prefeitura
Kaxinawá.
Maria
Ivanete
Kaxinawa.
Davi Nova Vida (TI Praia do 1 curso no Jordão
2004
Carapanã)
Morada Nova (TI Praia do
Não fez curso.
Carapanã)
Sofia Leonor
Maria Santíssima da Silva Aldeia Segredo Artesã
Domingos
(TI Praia do Carapanã)
Aldeia Cocameira
Praia do Carapanã)
Maria Elizene Leal Peres
Francisca Lucilene
Silva Botoza.
Maria
Kaxinawa.
Aldenira
Rosevanir Kaxinawa
Maria Macambira
da
Aldeia
Caucho)
Caucho
Não fez.
(TI
(TI
Aldeia Goiaba (TI Praia
do Carapanã)
Não fez.
Hoje tem 33 anos.
Começou com 21 anos.
Hoje tem 26 anos.
4 partos
Começou a fazer com 12 7 partos
anos.
Nascimento: 1937.
Começou com 20 anos.
Tem 26 anos.
6 partos
Ajudava a mãe quando
Assistiu 5 partos, todos
tinha 11 anos.
Tem 20 anos. Nasceu em 1986.
junto com a mãe dela.
Não fez.
Começou assistir com
20 anos no Seringal
Humaitá.
3 partos
2 cursos
Começou com 38 anos
2003 – GMI
2005 – (Secretaria de Saúde)
(após fazer
capacitação)
14 partos
um
curso
de
Aldeia Novo Futuro (TI Não participou de nenhum Começou com 13 anos.
Humaitá)
curso.
Hoje tem 26 anos.
3 partos
Aldeia Porto Brasil (TI Não participou de nenhum Começou com 13 anos.
Humaitá)
curso.
Hoje tem 28 anos.
3 partos
118
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Vanilza Lopes Kaxinawa
Aldeia Boa
Humaitá)
Sorte
(TI
Maria Alzenir Mateus da Aldeia Novo Futuro
Silva
(TI Humaitá)
Maria Iracema Kaxinawa
Maria Ercília Kaxinawa
Não participou de nenhum.
Primeira vez que participa.
1 curso
Orlinda Luiza Martin
Aldeia
Mutum
Gregório)
(TI
1 curso
Leda Matilde Ferreira
Aldeia Matrinchã
Gregório)
(TI
Maria dos Anjos
Aldeia Matrinchã
Gregório)
(TI
Aldeia
Mutum
Gregório)
(TI
Lídia da Silva Filho.
Silva
Começou com 13 anos.
Hoje tem 38 anos.
Aldeia Carapanã (TI Praia 2 cursos
2003 – GMI
do Carapanã)
2005 – Secretaria de Saúde.
Aldeia Viva (TI Praia do
Carapanã)
Márcia
da
Yawanawá
Começou com 11 anos
Hoje tem 22 anos.
Aldeia Nova Esperança
(TI Gregório)
5 partos
8 partos
30 partos
Começou com 29 anos.
Hoje tem 42.
3 partos
Começou com 20 anos.
Hoje tem 45 anos.
15 partos
2003 - GMI
Não fez curso.
Começou com 15 anos.
Hoje tem 35 anos.
50 partos.
Não fez curso.
Começou com 22 anos.
Hoje tem 44 anos.
24 partos
Não fez curso.
Começou com 14 anos.
Hoje tem 25 anos.
3 partos
1 curso
Começou com 22 anos.
Hoje tem 30 anos.
32 partos
2003 - GMI
2003 - GMI
119
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Cadastro das Parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Nome
Aldeia (T.I.)
Aldeia Paredão
Juraci Brandão Shanenawa
Kaxinawa)
Anita Pereira da Silva
Maria
José
Kaxinawa
Cursos realizados
(TI
Katukina/ 2 cursos
Aldeia Pupunha (T.I. Katukina/
3 cursos
Kaxinawa)
Pereira Aldeia Paroá
Kaxinawa)
(TI
Katukina/ 2 cursos
Tempo atuando
Partos realizados
Começou com 18 anos
Tem 59 anos.
Faz parto há 41 anos.
49 partos
Tem 76 anos
Nasceu em 1930
Não
tem
“parecido
Raimunda”
Começou com 13 anos.
Hoje tem 56
+ 30 partos
Não sabe
a
conta.
com
D.
Vera Lucia Barbosa
Aldeia Belo Monte (T.I. Katukina/
3 cursos.
Kaxinawa)
Josefa Barbosa
Aldeia Belo Monte (T.I. Katukina/ 2 cursos
Kaxinawa)
Começou com 30 anos.
Hoje tem 42 anos.
+ 10 partos
Estefania Barbosa Ferreira
Aldeia Paroá (TI Katukina/
Kaxinawa)
2 cursos
Começou com 20 anos
Atualmente tem 39 anos
15 partos anotados
Não fez curso.
Faz um ano que começou a
3 partos
pegar criança.
Auxiliadora
Kaxinawa
Sergia Aldeia Paroá (TI Katukina/
Kaxinawa)
Fátima Kaxinawa de Matos Nova Olinda (TI Kaxinawa de Nova 1 curso
Olinda)
Nunca fez parto
Faz 3 anos
criança.
que
pega
7 partos.
120
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Maria Lenilse de Araújo
Aldeia Paroá
Pereira
/Kaxinawa)
Maria Diva Martin
Maria Helena
Brandão
Santa Batista
Shanenawa
Goreti Batista
Shanenawa
(T.I.
Katukina
Não fez curso
Aldeia Nova Esperança (TI Seringal
Não fez curso
Curralinho)
Silvino Aldeia Cardoso
/Kaxinawa)
Brandão
(TI
Katukina 3 cursos
Aldeia Nova Vida (TI Katukina 2 cursos
/Kaxinawa)
Brandão Aldeia Nova Vida (TI Katukina
/Kaxinawa)
Não fez.
Francilene Maciel
Maria Kaxinawa
Antônia Carlos Brandão
Zenilde Barbosa da Silva
Maria das Graças Pereira
Aldeia Formoso (TI Nova Olinda)
Aldeia Formoso (TI Nova Olinda)
Aldeia Morada Nova
(TI Katukina/Kaxinawa)
Aldeia Pupunha
/Kaxinawa)
(T.I.
Katukina
Aldeia
Grota
Curralinho)
(TI
Seringal
2 cursos
Há 6 meses.
Ainda não pegou sozinha,
mas
acompanha
nos
partos.
Há 1 ano.
2 partos.
Começou no ano de 2000.
1 parto sozinha.
Começou com 40 anos.
Hoje tem 76 anos.
37 partos
Começou com 10 anos.
Hoje tem 33 anos.
8 partos
Começou com 15 anos.
Hoje tem 46 anos.
23 partos
2 cursos
Começou a fazer com 18 Não tem a conta. Depois
do curso de 2004, 4
anos.
Tem 45 anos
partos.
2 cursos
Começou com 14 anos.
Tem 64 anos.
Não fez.
Começou agora, com 21
Nunca fez parto.
anos.
2 cursos
200 e poucos partos.
Começou a fazer com 14
23 partos
anos.Hoje tem 52.
121
Anexos – Cadastro de parteiras que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Xereteia Kampa
Atxoeni Kampa
Aldeia
Alto
Bonito
Jaminawa/Envira)
Aldeia
Alto
Jaminawa/Envira)
Bonito
Aldeia
Paroá
Maria Gleiciane Fernandes
Katukina/Kaxinawa)
de Matos
Raimunda de Nascimento Aldeia
Morada
Brandão
Katukina/Kaxinawa)
(TI
Nunca fez.
(TI Não participou de
nenhum curso.
(TI
Nova
Marilda da Silva Gomes
Aldeia Morada Nova
(TI Katukina/Kaxinawa)
Maria Iraci Brandão
Aldeia
Morada
Katukina/Kaxinawa)
Nova
Começou com 15 anos.
Tem cerca de 70 anos.
(TI
(TI
36 partos
6 partos
Não fez.
Desde 2001.
Nasceu em 1961
4 cursos
54 partos registrados entre
Começou “meninazinha,
1998-2002.
não tinha peito”.
Nasceu em 1938
3 cursos
Começou com 19 anos.
Hoje tem 59 anos.
3 cursos
Começou com 20 anos.
Hoje tem 64 anos.
12 partos.
8 partos só indígenas.
+ 100 partos.
Maria Dinah Kaxinawa
Aldeia
Nova
Olinda
Katukina/Kaxinawa)
(TI 2 cursos
Começou com 12 anos.
Não tem a conta.
Hoje tem cerca de 60
“já
peguei
anos.
criança”
Mª das Graças Shanenawa
Aldeia
Nova
Vida
Katukina/Kaxinawa)
(TI
2 cursos
Começou com 25 anos. Não tem a conta, mas
Hoje tem 56 anos.
anota em caderno.
Albeci Brandão Araújo
Aldeia
Morada
Nova
Katukina/Kaxinawa)
(TI
Não fez curso.
Começou faz 1 ano.
muita
5 partos.
122
Anexos – Cadastro de pajés que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Cadastro de pajés que participaram na 3ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Nome
Aldeia (T.I.)
José Brandão
Aldeia
Paredão
Katukina/Kaxinawa)
Valdemir Ferreira Paulino
Manoel
Gomes
Albeci
Atuação
(TI Pajé
(tira remédio; reza nas crianças quando estão doentes; trabalha para tirar doença)
“Hoje tem doença que o pajé não resolve, doença infantilzinha, pneumonia”
Aldeia Morada Nova (T.I.. Pajé.
Usa plantas medicinais para curar vários tipos de doenças, entre elas algumas
Katukina/Kaxinawa)
relacionadas com o ciclo reprodutivo da mulher. Trabalha como pajé faz 10 anos.
Niipëitapiã: “aquele que sabe de plantas medicinais”
Ferreira Aldeia
Cardoso
(T.I. Pajé
(pajé no espiritismo, de rezar para o yuxin voltar; de plantas (Niipëitapiã).
Katukina/Kaxinawa)
Maria Batista Shanënawa
Aldeia Morada Nova(T.I.. Pajé
Tem 81 anos. Aprendeu a pajelança desde criança, com sua avó. Ela é tsimuya (lit.
Katukina/Kaxinawa)
“aquele que tem amargo”): a través do assopro e a massagem (shëyua) extrai a dor e a
doença. Durante a cura, incorpora um yuxin (“espírito”) que leva doença embora.
123
Anexos – Tabela de Gestantes por Aldeia
Tabela de gestantes por aldeia (Municípios de Tarauacá e Feijó)
T.I.
Etnia
Aldeia
Porto Brasil
T.I. Rio Humaitá
Huni Kuin
São Vicente
Novo Futuro
T.I. Colônia 27
Huni Kuin
Colônia 27
Mucuripe
T.I. Carapanã
Huni Kuin
Morada Nova
Carapanã
Caucho
18 Praia
T.I. Igarapé do
Caucho
Huni Kuin
Tamandaré
Nova Aldeia
Katukina
T.I. Rio Gregório
Yawanawa
T.I. Primavera
Kampa
Shanënawa
2
1
4
3
2
2
6
7
3
4
3
Sete Estrela
5
Mutum
6
Escondido
2
Matrinchã
1
Nova Esperança
17
Primavera Kampa
2
Paredão
T.I.
Katukina/Kaxinawa
Nº de Grávidas
(março 2006)
0
Cardoso
1
Nova Vida
6
Morada Nova
9
124
Anexos – Tabela de Gestantes por Aldeia
Pupunha
Huni Kuin
Seringal Curralinho
5
Belo Monte
Paroá
1
(muitas)
Nova Esperança
1
Huni Kuin
Grota
T.I. Kaxinawa de
Nova Olinda
Formoso
4
Huni Kuin
Nova Olinda
Alto Bonito
T.I.
Jaminawa/Envira
3
Kampa
Jaminawa
125
Anexo – Convite para a 1ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
Convites
CONVITE
À Comunidade _______________da Terra Indígena ______________
Informamos o início do Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto
Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” cujos objetivos são valorizar o
trabalho das parteiras e dos pajés que já atuam na assistência ao parto e refletir sobre como
articular suas práticas com o sistema oficial de saúde.
Como um dos métodos de trabalho, realizaremos a 1ª Reunião Regional de Parteiras,
Pajés e Agentes Indígenas de Saúde na aldeia Martin (Katukina/Campinas), onde prevemos a
participação de representantes dos povos indígenas das terras indígenas da região de Cruzeiro do
Sul (Campinas/Katukina, Jaminawa do Igarapé Preto, Jaminawa Arara do Rio Bagé, Kampa do
Rio Amônea, Arara Igarapé Humaitá, Arara do Rio Amônea, Kaxinawa/Ashaninka do Rio Breu,
Nawa, Poyanawa e Nukini). O objetivo da reunião é possibilitar a troca de experiências dos
participantes, bem como realizar um levantamento dos problemas, vivenciados pelas
comunidades, relacionados à assistência de saúde hoje oferecida.
Assim, solicitamos que essa comunidade defina conjuntamente com as demais
comunidades de seu povo indígena pertencentes à(s) terra(s) indígena(s) acima listada(s) 03 (três)
representantes (01 parteira, 01 pajé e 01 agente indígena de saúde) para participarem da das 1ª
Reunião a ser realizada entre os dias 15 a 19 de fevereiro de 2006. Informamos que nos 2 últimos
dias desta reunião, estarão presentes os profissionais de saúde que atuam na região para manter
um diálogo com os participantes indígenas.
Esperamos a indicação dos representantes de seu povo indígena para os necessários
planejamentos operacionais (deslocamento, alimentação e outros).
Comunicaremos antecipadamente qualquer alteração na programação.
Atenciosamente,
SITOAKORE
OLHAR ETNOGRÁFICO
PROJETO VIGISUS II / FUNASA
NESSI / UFSC
126
Anexo – Convite para a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
CONVITE
Às Comunidades das Terras Indígenas da região de Tarauacá
Informamos sobre o início do Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto
Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas” cujos objetivos são: valorizar
o trabalho das parteiras e dos pajés que já atuam na assistência ao parto e refletir sobre como
articular suas práticas com o sistema oficial de saúde.
Como um dos métodos de trabalho, realizaremos a 2ª Reunião Regional de Parteiras,
Pajés e Agentes Indígenas de Saúde na aldeia Caucho (TI Igarapé do Caucho), onde prevemos
a participação de representantes dos povos indígenas das seguintes terras indígenas da região de
Tarauacá: Kaxinawá do Rio Humaitá, Kaxinawa da Praia do Carapanã, Yawanawa e Katukina do
rio Gregório, Kaxinawa da Colônia Vinte e Sete, Kampa do Igarapé Primavera, Kaxinawa do
Baixo Jordão, Kaxinawa do Rio Jordão, Kaxinawa do Seringal Independência, Kaxinawa do
Igarapé do Caucho.
O objetivo da reunião é possibilitar a troca de experiências dos participantes, bem como
realizar um levantamento dos problemas vivenciados pelas comunidades, relacionados à
assistência à saúde da mulher hoje oferecida.
Assim, solicitamos que cada etnia defina junto com suas comunidades pertencentes a sua
terra indígena, 03 (três) representantes (01 parteira, 01 pajé e 01 agente indígena de saúde,
de preferência mulher) para participarem da 2ª Reunião a ser realizada entre os dias 13 a 17 de
março de 2006. Informamos que nos 2 últimos dias desta reunião, estarão presentes os
profissionais de saúde que atuam junto as comunidades da região para manter um diálogo com os
participantes indígenas.
Os participantes que tiverem produtos para vender (banana, arroz, feijão, amendoim,
pupunha, carne, peixe) podem trazer para ajudar na alimentação durante a reunião. Se for
possível, avisar pelo rádio o que as pessoas estão trazendo.
Comunicaremos antecipadamente qualquer alteração na programação.
Atenciosamente,
SITOAKORE
OLHAR ETNOGRÁFICO
PROJETO VIGISUS II / FUNASA
NESSI / UFSC
127
Anexo – Convite para a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS
CONVITE
Às Comunidades das Terras Indígenas da região de Feijó
Informamos sobre o início do Projeto “Valorização e Adequação dos
Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias Indígenas do Acre e do Sul do
Amazonas” cujos objetivos são: valorizar o trabalho das parteiras e dos
pajés que já atuam na assistência ao parto e refletir sobre como articular
suas práticas com o sistema oficial de saúde.
Como um dos métodos de trabalho, realizaremos no período do dia 27 a 31 de
março a 3ª Reunião Regional de Parteiras, Pajés e Agentes Indígenas de Saúde na
Aldeia Morada Nova (TI Katukina/Kaxinawa), onde prevemos a participação de
representantes dos povos indígenas das seguintes terras indígenas da região de Feijó:
Jaminawa/Envira; Kampa e Isolados do Rio Envira; Katukina/Kaxinawa; Kaxinawa do
Nova Olinda; Kaxinawa do Curralinho; Kulina do Igarapé do Pau; Kulina do Rio
Envira.
O objetivo da reunião é possibilitar a troca de experiências dos participantes,
bem como realizar um levantamento dos problemas vivenciados pelas comunidades,
relacionados à assistência à saúde da mulher hoje oferecida.
São convidados a participar da reunião de Feijó três representantes
(01 parteira, 01 pajé e 01 Agente Indígena de Saúde de preferência mulher)
das seguintes TIs:
3 representantes Kulina da TI Jaminawa/Envira;
3 representantes Ashaninka da TI Jaminawa/ Envira;
3 representantes Ashaninka da TI Kampa e Isolados do Rio Envira;
3 representantes Shanenawa da TI Katukina/Kaxinawa;
3 representantes Kaxinawa da TI Katukina/Kaxinawa;
3 representantes Kulina da TI Kulina do Igarapé do Pau;
3 representantes Kulina da TI Kulina do Rio Envira;
3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa Nova Olinda;
3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa do Seringal Curralinho /Nukumã.
Informamos que nos 2 últimos dias desta reunião, estarão presentes os
profissionais de saúde que atuam junto às comunidades para manter um diálogo com os
participantes indígenas.
Os participantes que tiverem produtos para vender (banana, arroz, feijão,
amendoim, pupunha, carne, peixe) podem trazer para ajudar na alimentação durante a
reunião. Se for possível, avisar pelo rádio o que as pessoas estão trazendo.
Comunicaremos antecipadamente qualquer alteração na programação.
Atenciosamente
SITOAKORE/ OLHAR ETNOGRÁFICO / VIGISUS II - FUNASA
128
Anexo – Documento de Diretrizes
Documento de Diretrizes
Diretrizes para a 3° Reunião de Parteiras, Pajés e AIS que será realizada na Aldeia
Morada Nova da TI Katukina/Kaxinawá entre os dias 27 a 31 de março, através do
Projeto “Valorização e Adequação dos Sistemas de Parto Tradicionais das Etnias
Indígenas do Acre e Sul do Amazonas”.
1. São convidados a participar da reunião de Feijó três representantes (01 parteira, 01
pajé e 01 Agente Indígena de Saúde de preferência mulher) das seguintes TIs:
3 representantes Kulina da TI Jaminawa/Envira;
3 representantes Ashaninka da TI Jaminawa/ Envira;
3 representantes Ashaninka da TI Kampa e Isolados do Rio Envira;
3 representantes Shanenawa da TI Katukina/Kaxinawa;
3 representantes Kaxinawa da TI Katukina/Kaxinawa;
3 representantes Kulina da TI Kulina do Igarapé do Pau;
3 representantes Kulina da TI Kulina do Rio Envira;
3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa Nova Olinda;
3 representantes Kaxinawa da TI Kaxinawa do Seringal Curralinho/Nukumã.
2. Solicitamos aos participantes chegarem o mais próximo possível do dia de início da
Reunião, trazerem CPF e RG (quando tiverem) e também, se possível, virem em uma única
embarcação. O gasto de combustível será coberto pelo projeto e também será oferecida uma
ajuda alimentação para os participantes.
3. Na reunião de Feijó será necessário um monitor Ashaninka e um monitor Kulina.
Solicitamos que a OPIRE (Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira) indique os
monitores. Os monitores têm por papel auxiliar na organização do evento, no desenvolvimento
das atividades e na tradução das discussões.
4. As três cozinheiras e o lenhador deverão ser escolhidos pela comunidade onde será
realizada a Reunião (Aldeia Morada Nova), em acordo com a equipe executora.
5. Os participantes que tiverem produtos para vender (banana, arroz, feijão, amendoim,
pupunha, carne, peixe) podem trazer para ajudar na alimentação durante a reunião. Se
for possível, avisar pelo rádio o que as pessoas estão trazendo.
Contamos com a presença de todos!
Atenciosamente
Equipe Executora
129
Anexo – Tabela dos pólos base
Tabela dos pólos-base do DSEI Alto Juruá, número de população indígena e
número de enfermeiros por pólo.
População
indígena
Atendida
(2005)
Equipe12
•
Campinas/Katukina
•
Jaminawa-Arara do
Igarapé Preto
649
1 enfermeira
Mâncio Lima
•
•
•
1049
2 enfermeiros
Marechal
Thaumaturgo
•
Kampa do Rio Amônea
•
Jaminawa-Arara do
Bagé
•
Kaxinawa/Ashaninka
do Rio Breu
•
Arara do Rio Amônea
1128
2 enfermeiros
Porto Walter
•
Arara do Igarapé
Humaitá
379
Pólo-base
Cruzeiro do
Sul
Jordão
Tarauacá
12
T.Is Atendidas
Nawa
Poyanawa
Nukini
•
Kaxinawa do Baixo
Jordão
•
Kaxinawa do Rio
Jordão
•
Kaxinawa do Rio Humaitá
•
Igarapé do Caucho
•
Kampa do Igarapé
Primavera
•
Kaxinawa Praia do
Carapanã
•
Rio Gregório
•
Kaxinawa da Colônia
Vinte e Sete
•
Seringal Independência
1906
2 enfermeiros
1943
2 enfermeiros
2 auxiliares de
enfermagem
Apenas contamos com informações sobre a equipe completa de alguns dos pólos. Nos outros
casos, apenas colocamos o número de enfermeiros.
130
Anexo – Tabela dos pólos base
Feijó
•
- Kaxinawa do Seringal
Curralinho/Nukumã
•
- Yaminawa/Envira
•
- Kampa e Isolados do
Rio Envira
•
- Katukina/Kaxinawa
•
- Kaxinawa Nova Olinda
•
- Kulina do Igarapé do
Pau
•
- Kulina do Rio Envira
2377
2 enfermeiras
4 auxiliares de
enfermagem
1 odontólogo
1 especialista e
saneamento
131
Anexo – Declaração de comprometimento de Luciane Ouriques Ferreira
Declaração de comprometimento de Luciane Ouriques Ferreira para repassar
cópia das gravações realizadas durante a 2ª Reunião de Parteiras, Pajés e AIS às
comunidades envolvidas.
Eu, Luciane Ouriques Ferreira, Gerente da Área de Medicina Tradicional
Indígena, Projeto VIGISUS/ FUNASA, me comprometo a providenciar 01 (uma) cópia
da gravação da 2º Reunião de Parteira, Pajés e AIS, do Projeto de Valorização e
Adequação dos Sistemas de Parto das Etnias do Acre e Sul do Amazonas, celebrada na
Aldeia Caucho, TI Igarapé do Caucho, Município de Tarauacá, entre os dias 13 a 17 de
março, para cada Terra Indígena presente nesta reunião (Kaxinawá do Rio Humaitá,
Igarapé do Caucho, Kampa do Igarapé Primavera, Kaxinawa Praia do Carapanã, Rio
Gregório e Kaxinawá da Colônia Vinte e Sete), assim como dos dois relatórios técnicos
que serão produzidos pelo Instituto Olhar Etnográfico ao VIGISUS, que, por sua vez,
repassará á Sitoakore, que se responsabilizará em distribuí-lo entre as lideranças das TIs
acima discriminadas.
16 de março de 2006, Tarauacá/Acre.
13
_________________________________________
13
132
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
Relatório do primeiro trimestre do projeto, elaborado pelas integrantes da
Sitoakore que formam parte da equipe executora.
ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES INDÍGENAS DO ACRE, SUL DO
AMAZONAS E NOROESTE DE RONDONIA – SITOAKORE.
INSTITUTO OLHAR ETNOGRAFICO
RELATÓRIO DE ATIVIDADES
PRIMEIRA OFICINA “ VALORIZAÇÂO E
ADEQUAÇÂO
DOS SISTEMA DO PARTO TRADICIONAL DAS ETNIAS
INDEGINAS DO ACRE E SUL DO AMAZONAS”
Local: Terra Indígena Campinas/Katukina, aldeia Campina, município de Cruzeiro do
Sul, Estado do Acre.
Período: 09 a 25 de fevereiro de 2006.
Março de 2006.
133
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
Equipe Responsável pela realização da Oficina:
Letícia Luiza - Yawanawa
Coordenadora da SITOAKORE
Edina Carlos Brandão - Shanenawa
Vice-Coordenadora da SITOAKORE
Laura Perez
VIGISUS
Juliana Rosalen
Instituto Olhar Etnográfico
134
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
APRESENTAÇÃO
Apresentaremos no decorrer desse relatório, as atividades realizadas
durante a preparação e realização da Primeira Oficina “Valorização e
Adequação dos Sistemas do Parto Tradicional das Etnias indígenas do Acre e
Sul do Amazonas”, realizado nos dias 02 a 25 de fevereiro de 2006, na terra
indígena Campinas/Katukina aldeia campina, município de Cruzeiro do Sul,
Estado do Acre, na qual participaram 32 lideranças entre elas parteiras, pajé,
Agente Indígena de Saúde e representante de Mulheres indígena, dos povos
Katukina, Jaminawa-Arara, Arara, Kaxinawá, Nukini e Nawa das terras
indígenas do Vale do Juruá.
ATIVIDADES REALIZADAS
Inicialmente, nós da Organização SITOAKORE tivemos reunidas
no
escritório Juntamente com Juliana e Laura para encaminharmos algumas
atividade que faltava para a devida realização da oficina, como por exemplo:
material de consumo e alguns recibos que tinham para assinar referente a
monitora e, dependendo do que estava faltando para ser usado durante
a oficina. Após a reunião, Juliana e Laura foram fazer tomada de preços para
comprar o que estava precisando de material para oficina.
Laura apresentou o documento que já tínhamos recebido também
por e- mail sobre a saída da Eliza e a entrada da Juliana no projeto.
A referida reunião foi realizada no dia 06 /02 /2006.
135
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
No dia seguinte nos reunimos novamente com Laura e Juliana para
esclarecermos algumas duvidas referente as monitoras indígenas e fazermos
os últimos acertos antes da viagem para Cruzeiro do Sul.
DIA 8/02 /06
Eu. Edina Carlo Brandão, vice Coordena da
SITOAKORE,
sai
juntamente com Laura Peres – VIGISUS e Juliana Rosalen do Instituto Olha
Estenográfico
com
destino
ao
município de Cruzeiro do Sul para
prepararmos a logística da oficina no referido município. A Sra. Letícia Luiza
YAWANAWA Coordenadora da SITOAKORE não pôde ir junto no mesmo dia
em virtude de sua agenda de trabalho em Rio Branco pois a mesma tinha que
participar da reunião com o Sr. Francisco da S. Pianko - Secretario dos
povos Indígenas. Mais no dia seguinte ela também seguiu para Cruzeiro do
Sul. Edina, Juliana e Laura chegando no Aeroporto de CZS não tinha ninguém
nossa espera. Tomamos um Táxi seguimos para Hotel Salvoni, situado
enfrente ao escritório da Organização dos povos indígenas do Rio Juruá
(OPIRJ)
Edina, Laura e
Juliana
no dia seguinte
foi o escritório da
Organização para conversa com o coordenador Sr. Luiz Valdenir o mesmo
deu as boas vinda a todas e disse que quando recebeu o comunicador da
oficina
imediatamente
repassou
para
as
comunidade através
de
mensagem pela radio verde floresta e radiofonia do pólo base depois dos
informes, Eu Edina vice coordenara deixei uma reunião marcado para
informar a cerca do trabalho da organização Sitoakore e da oficina.
DIA 10/ 02/06
Conforme a reunião marcada do dia anterior, nos reunimos no escritório
da Opirj onde estavam presentes: Paulo Arara tesoureiro e helena Arara
secretaria da Opirj , Edina e Letícia da Sitoakore e Fernando katuquina Chefe
de posto da Funai -CZS onde discutimos a seguinte pauta:
136
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
01) o trabalho com artesanato das comunidades Indígenas;
02) o encontro regional de mulheres Indígenas e outras atividade que
nòs da organização
Vem exercendo conforme o nosso estatuto e,
03) informes sobre o projeto com o VIGISUS, a oficina e indicação de
uma monitora indígena da região do Juruá, bem como o seu respectivo
trabalho durante a oficina.
DIA 11/02/06
Às 9:00hs da manhã eu, Edina, Letícia e Helena Arara fomos em três
supermercado fazer coleta de preços da alimentações para oficina. Apòs isso
seguimos para OPIRJ
para entrarmos em comtato
com as comunidade
reiterando o convite e confirmando a participação de seus respectivos
representantes na oficina. Ficamos aguardando e recebendo as pessoa que
estavam chegando.
DIA13/02/06
As 8:00h Eu, Edina, Letícia, Laura e Juliana
fomos
fazer
as
compras e outras atividade que faltava a ser encaminhado.
Das 14 as 16:30h reunião na Funasa juntamente com o senhor Alcir
Chefe do Distrito do Alto Juruá e Railda da FUNASA, Alessandro da SEPI,
Letícia e Edina do SITOAKORE , Helena da OPIRJ, Laura e Juliana.
Letícia repassou informes do projeto da oficina que ia realizar na terra
Indígenas Katuquina do Campinas, e repassou sobre a participação das equipe
de saúde que seria três dias após da oficina .e Alcir falou para todos presente
137
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
que essa oficina é de grande importância e que era pela premeira vez que
estava sendo feito essa oficina e que importante para os AIS, Parteira e Pajè.
e que estava fazendo projeto de aperfeiçoamento de parteira. Railda pediu os
dados da
parteira para Letícia, e a Laura perguntou para o Alcir como que
ficaria o transporte para leva os participante da oficina Alcir respondeu que
não se preocupasse que não tinha carro disponível mais tinha carro para
leva e trazer as pessoas que ia participa da oficina.
Eu e Letícia saímos de CZS para terra Indígenas do Campinas, fomos
de TOYOTA da Funasa levando alimentos, chegando na aldeias Campinas
tivemos que ir pega outra participante da aldeia Bananeira Urucu, Martins e
Samauma que ficam distante uma da outra e ver também os alimento que ia
ser comprado da aldeia e organizar a oficina.
DIA 15/02/06
Eu e Letícia ficamos esperando as participante chegar para ser
realizar a oficina Laura e Juliana chegaram 12:00h da manhã Juntamente com
as participante porque estava chovendo muito, a abertura da oficina inicio as
14:hs, com apresentação de cada participante.
DIA 16/02/06
Inicio da reunião 8:00h da manhã.
Informando sobre o projeto
Temas: como cuida da grávida e cuidado com o recenacido e
amamentação
Encerramento as 17:00h
Durante a noite nos reunimos com as mulheres indígenas.
138
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
-
Informe sobre a organização SITOAKORE;
-
Qual o trabalho da organização;
-
Encaminhamento de projeto;
-
Trabalho com jovem;
-
Artesanato;
-
Encontro regionais de mulheres indígenas;
Encerramento as 10:hs da noite.
DIA 17/02/06
Inicio as 8:00h da manhã com o tema:
Qual o trabalho do Ais pajè com a parteira;
Qual a dificuldade que parteira enfrenta por Ais ser Homem e a tarde
foi sobre
qual a diferencia do parto da aldeia para cidade e trabalho em
grupo .
Encerramento as 17: hs da tarde.
No mesmo dia Letícia teve que sair para acompanhar o Seminário
Ciencia e Saber na Amazonia: O valor do conhecimeento que estava sendo
realizando pelo Governo do Estao através da Procuradoria Geral do Estado,
Secretaria dos Povos Indígenas, Secretaria de Meio Ambiente em parceria com
a ONG AMAZONLINK, realizado na cidade de CZS, onde estavam presentes
representantes indígenas de todas as regiões do Acre, seringueiros e
ribeirinhos noossa Organização tinha sido convida e que e de grande
importância organização, eu fique na aldeia para acompanha a oficina.
DIA /18/02/06
139
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
Troca de experiência
entre pajè, Ais ,parteira e representante de
mulheres Indígenas e apòs trabalho em grupo foi feito também proposta
para as equipe de saúde.
Encerramento as 16 00h da tarde
DIA/ 19/ 02/06
Ficamos aguardando as Equipe de saúde chegar na aldeia chegaram as 11: 45
da manhâ e apòs o almoço retornamos as 1: da tarde para da o inicio da reunião
com as equipe para fala referente a saúde Indígenas e como esta sendo o trabalho
nas aldeia e qual a dificuldade. no dia seguinte fizemos o pagamento das pessoas do
auxilio transporte e alimentação após cumprindo com as atividade Edina e Letícia
viajemos com o destino a CZS para fazer o pagamento das pessoa que faltava e Laura
, Juliana ficou na aldeia para termina os documento que faltava como proposta e
que tinha tirado como Encaminhamento.
DIA/21/02/06
Participemos da Reunião sobre a Universidade da Floresta no centro
de treinamento da Diocese de CZS. Onde estava presente: Ribeirinho povos
indígenas,
extrativistas
e
representante
das
Organização:
OPIRJ,SITOAKORE, OPIAC, Assessor Indígena do Alto Juruá e Sepi onde
teve discussões muito importante principalmente como se dará o acesso dos
povos da floresta na Universidade, proposta de cursos que atenda a
diversidade das comunidades indígenas e demais povos da floresta, assim
140
Anexos – Relatório de atividades do primeiro semestre elaborado pelas integrantes de Sitoakore
como o funcionamento de uma
Universidade com um modelo diferente das
demais.
DIA /22/02/06
Nós da equipe fizemos avaliação da oficina. Eu e Letícia tivemos que
viajar para Rio Branco por que não tinha estrutura para fazer o nosso relatório.
Com relação a nossa passagem foi pago 78,00 (setenta e oito reais) por
pessoa por antecipação da data de embarque. Pela diferencia dos dias
antecipado que estava previsto.
CONCLUSÃO
Esse trabalho foi muito positivo e mais um avanço considerável para
nós povos indígenas, pois possibilitou o encontro e o trabalho conjunto dos
pajé, parteira e agente indígena de saude.
Teve muita participação dos
participantes falando das suas experiencias, tirando as suas duvidas ensinando
e aprendendendo. Faz-se necessário à continuação de experiências como
essas que promovam trocas de experiencias e principalmente o respeito mutuo
entre o conhecimento tradicional e o conhecimento cientifico.
141
Consolidados epidemiológicos coletados
142
Anexo 1 - Programações
143