Ler um trecho

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Ler um trecho
Um
k
T
emos de ir, sra. Sands.
Rachel O’Malley não deixou a idosa senhora voltar para a sala de estar e a conduziu para
a porta da frente e em direção ao voluntário da Cruz Vermelha, ali à espera. Venezianas batiam, e a chuva pesada entrava
pela porta aberta, molhando o corredor. O rio Des Plaines
avolumava-se ao longo do dique; a prioridade era garantir a
segurança das pessoas. Era terça-feira, 13 de março, e as chuvas que assolavam toda a cidade de Chicago provocaram a
rápida enchente ao longo dos quase dez quilômetros do rio.
– Preciso das minhas pinturas.
– Sim, mamãe. Mas temo que não haja tempo para isso.
Rachel mudou de mão a gaiola e a bolsa de remédios que
carregava para ajudar a sra. Sands com a capa de chuva.
– O vento está forte, deixe Nora e o responsável pelo resgate a ajudarem.
Os residentes foram alertados que tinham apenas vinte minutos para abandonar suas casas e conseguiam pegar somente
algumas peças de roupas e objetos pessoais, mas isso era tudo.
–
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Nora segurou o braço da sra. Sands e a ajudou a caminhar até
o veículo de salvamento que estava à espera. Rachel entregou
os itens pessoais para o responsável pelo resgate.
No crepúsculo, as luzes das tochas tremulavam como vagalumes ao longo do quarteirão enquanto três policiais e outros
dois voluntários da Cruz Vermelha participavam do resgate
dos moradores. O trabalho com acidentes era o meio de vida
de Rachel, mas jamais se acostumaria com as enchentes. Pouco se podia fazer uma vez que a inundação avançava. Rachel
colou o quadrado vermelho fosforescente sobre a porta da garagem do número 58 da rua Governor, indicando que a casa
fora evacuada. A água fria e barrenta passava sobre suas botas
alcançando seu jeans, enquanto ela atravessava com dificuldade o pátio.
A casa seguinte ficava afastada da rua, e o terreno ajardinado era escarpado. A casa localizada perto do rio sofria os danos mais sérios, já que a água enchia o jardim de trás e corria
em torno da casa em direção à rua Governor. Rachel lutava
contra a água para subir a entrada de carro. Os pés vacilaram
e ela, ao cair, instintivamente protegeu a cabeça com os braços enquanto era arrastada em direção à rua. Foi seu segundo
mergulho do dia.
Ela procurou por todos os cantos as botas de bombeiro.
– Peguei.
As palavras tranqüilizadoras chegaram momentos antes de
as mãos deslizarem em volta de sua jaqueta para colocá-la em
pé. O capitão Cole Parker se mantinha firme na corredeira de
água com os pés separados e deixava que a corrente passasse
em volta dele. Ele abotoava seu casaco de bombeiro.
– Obrigada, Cole.
Ela estava toda molhada. Ela se inclinou e enxugou o
rosto na camisa dele. A camisa era de sarja azul rústica, e ela
podia ver a camiseta branca por baixo dela. Ele se preparara para esse tempo melhor que ela, pois tinha camadas de
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roupa para se proteger do frio. A musculatura do homem
deixava o tecido esticado.
– O prazer é meu, Rae.
As mãos dele empurraram o cabelo molhado dela para
trás, enquanto ela ria.
– Você está realmente molhada. A corredeira de água machucou você?
– Estou bem.
Ela estava sem graça e aborrecida por ele ter presenciado
seu tombo, mas não podia fazer muito a respeito disso. Cortara o cabelo havia pouco tempo, e quando ele ficava molhado
simplesmente perdia a forma e permanecia todo despenteado. Ela piscou para tirar a água dos olhos, fungou e, depois,
alcançou a mão dele e enxugou o olho na parte de trás do
punho da camisa dele.
– Queria ter trazido, pelo menos, uma toalha de mão.
Ela sacudiu a cabeça para tirar a água do ouvido.
– Você está se divertindo com isso.
– Gostaria de ter uma máquina fotográfica – confirmou
Cole, alargando o sorriso.
Ele colocou as mãos sobre os ombros dela e a ajudou a se
virar contra a corrente de água.
– Vá com Jack, vou verificar a última casa.
Seu irmão atravessava a rua em direção a ela. Ele era tenente no mesmo batalhão de bombeiros no qual Cole era capitão.
Cole dizia que seus cabelos grisalhos prematuros, pelo menos
em parte, eram culpa de Jack. Este era um bombeiro cuidadoso e atento à segurança, mas invariavelmente comandava seus
homens no combate ao fogo das linhas de frente, em especial,
quando havia alguém em risco. Jack estava ali, e Cole, e isso
queria dizer que o Batalhão 81 do Corpo de Bombeiros fora
mandado para a cena.
– Não sabia que bombeiros combatiam enchente.
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Cole sacudiu a jaqueta da Cruz Vermelha, agora ensopada,
antes de colocá-la de novo em volta dos ombros dela.
– Parece que vamos ter de aprender a combater enchentes.
Os camaradas da Unidade de Engenheiros estão com falta de
pessoal, e temos de proteger a ponte.
O olhar espantado dela encontrou o dele.
– Na lista de quem vocês estão?
Cole riu.
– Espero que isso apenas pareça impossível. Jack disse que
parece divertido. Você tem uma muda de roupa seca no abrigo?
– Se não tiver, terei umas duas horas terríveis até secar.
A água avançava em torno deles. Ela olhou a casa que fora
seu destino original.
– É melhor você verificar a casa enquanto ainda consegue
chegar até ela. Contudo, por favor, tenha cuidado.
– Sempre – prometeu Cole.
– Você pode fazer uma contagem das pessoas no abrigo de
emergência e perguntar a respeito de animais de estimação?
Vou tirar meus camaradas desta rua em cerca de vinte minutos.
– Farei isso.
Rachel agarrou a mão de Jack para manter o equilíbrio na
corredeira de água e subiu a rua em direção ao caminhão que
estava na parte mais alta da rua. Cole estava defendendo a
ponte. Ela sorriu. Bem, pelo menos, ela sabia onde encontrálo em um futuro próximo. De repente, a idéia de trabalhar no
abrigo ali perto pareceu mais tentadora.
****
Na sexta-feira, as águas impetuosas bramiam cada vez mais
alto na noite à medida que Cole se aproximava do rio Des
Plaines. Um dos moradores da rua Governor, forçado a sair de
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casa por causa da enchente, fincara uma bandeira dos Estados
Unidos que tremulava acima do dique de sacos de areia que os
trabalhadores chamaram de “a linha do Álamo”. A bandeira
ondulava na brisa noturna iluminada por trás pelas luzes de
emergência que permitiam que os trabalhadores vigiassem a
ponte, agora interditada e rodeada pelas águas. Ela era um símbolo de resistência; condizente com a atitude dos que lidavam
com a calamidade dos últimos três dias.
Hoje o dia foi difícil. Quando Cole não estava arrastando
sacos de areia nem arrumando equipamento de bombear água,
ajudava os camaradas que faziam o perigoso trabalho de cortar
e tirar os entulhos que ficavam presos e se acumulavam em
cima da ponte. Enquanto fazia sua ronda noturna, Cole sentiuse um pouco como um general inspecionando a condição de
sua tropa. Combater as águas estava longe de ser a especialidade
dele – ele liderava o grupo de incêndio criminoso – mas seus
homens encaravam o desafio. Eles conseguiram aliviar a pressão do rio, e isso foi ótimo.
Cole observava Rachel enquanto ele caminhava. Ela trazia café quente para eles, e também os resultados dos jogos.
O cabelo cor de caramelo de Rachel já secara, deixando os
cachos revoltos, e, nos raros momentos em que ele a pegava
com os óculos de leitura, Rae lembrava-lhe uma universitária
estudiosa, anos mais jovem que sua idade real.
Se Jack, irmão dela, fosse confiável, ela teria 35 anos, e
Cole não se espantava, em vista da intensidade do trabalho
de Rachel em cenas de calamidade nacional, que começassem
a aparecer os primeiros fios de cabelo branco em meio aos
cachos revoltos. Ela se tornava mais velha com elegância. Se
hoje à noite ele não pudesse ter o prazer da companhia dela
em um encontro, reservaria alguns minutos para conversar
com ela e se deleitar com aquele sorriso que não saía de sua
lembrança.
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Cole não a viu e esperava que finalmente ela tivesse conseguido algumas horas de sono. Ela preferia ficar no abrigo de
emergência, em vez de voltar para a sua casa poucos quilômetros ao sul; e o saco de dormir e a mochila dela estavam sendo
bem usados. Ela carregava objetos estranhos naquela mochila
que considerava seu kit de emergência. Ele vira esmalte de
unha, rótulos adesivos e todos os tipos de fitas coloridas para
cabelo com aspirina, envelopes e selos. Ele enfiou ali um cartão impresso engraçado que conseguira em uma das poucas
lojas da região que insistia em permanecer aberta. Ele queria
que, essa noite, ela pensasse nele com um sorriso e uma gargalhada.
Cole, identificando a amarelada face risonha de Jack
O’Malley por trás do casaco de bombeiro, mudou de direção
e foi até onde estava o equipamento azul de bombear água.
O equipamento fora aposentado anos atrás e substituído por
um equipamento mais moderno, porém, em uma luta como
aquela não podia se dispensar nada que pudesse bombear
água.
Jack estava trabalhando no topo do dique, puxando sacos
de 13,5 quilos. Ao lado dele, uma mangueira de borracha
de 15 centímetros de diâmetro estava esticada sobre o muro
de sacos de areia bombeando a água de volta para o rio na
velocidade máxima que as bombas suportavam. Cole parou
em frente ao obsoleto equipamento de bombear água, curioso
para ver como estava funcionando, e abriu outro amendoim
enquanto esperava Jack terminar o que fazia. Parecia que seu
bolso cheio de amendoins seria o jantar de hoje.
Seu amigo puxou a mangueira de água para o novo suporte que fizera. O jato de água se transformou em uma fonte de
água com refletores iluminando a área alagada. Jack desceu
e ergueu uma caixa de papelão plana sobre os sacos de areia.
Momentos depois, um pato amarelo de plástico com óculos
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escuros desceu pelo jato de água e reapareceu no meio do
rio.
Jack estava brincando.
As águas agitadas carregaram o pato amarelo rio abaixo e
para debaixo da ponte onde ele sumiu.
– Belo tiro.
Jack voltou para a sua posição.
– Temos dez mil deles, imagino que não darão falta de
duas dúzias deles.
Ele jogou outro pato de plástico, e a água o arremessou no
rio onde ele virou de cabeça para baixo, endireitou-se e foi
abatido por um galho de árvore com o qual colidiu.
A Associação Comercial local planejara uma corrida de patos
como o evento inaugural de um movimento de levantamento
de fundos para caridade. Eles tinham dez mil patos estocados na
garagem de manutenção do departamento de incêndio. Parecia
que eles ficariam com os patos empacados por um bom tempo
– o evento fora cancelado.
– Pegue uma caixa para o Adam amanhã. Ele vai gostar dos
patos – disse Cole.
– Estava pensando nisso.
De dia, a casa do menino era visível através das árvores,
mas agora a água alcançava a metade das janelas da sala de
estar, a caixa de correio ao lado da estrada estava sob a água.
Adam vinha ajudá-los todos os dias. Ele teve de assistir o rio
destruir sua casa. Todos procuravam tornar a situação um
pouco melhor para ele.
– Parece que o rio está recobrando a velocidade?
Jack pegou um cronômetro no bolso interno do seu casaco. Ele cronometrou a corrida do pato seguinte entre dois
postes que marcaram com bandeiras vermelhas.
– Deu 8,2 segundos. Agora, o rio está realmente se movendo.
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– Deve atingir o pico em 48 horas.
– Vi algo parecido com um pequeno tanque de propano
passar rolando feito cortiça. Provavelmente, a churrasqueira
de alguém se partiu.
– Esta noite, o cemitério da estrada Rosecrans foi inundado. Aquele solo é formado por areia e terra. Garanto que esse
rio vai comer todo esse solo – disse Cole.
– Você sabe as coisas mais feias.
– Trabalho com isso.
Cole não comentou que Lisa, irmã de Jack, passara para
deixar dois sacos para transportar cadáver. O chefe de Lisa, o
médico legista, lembrara da última vez que recebera um corpo
tirado do rio. O corpo fora enrolado em uma cortina na falta de melhor cobertura. Hoje, ele enviara sua equipe principal
para ter certeza de que fosse preparado o resgate de barco. Era
inevitável alguém procurar atravessar de carro uma rua inundada, tentar alcançar uma casa inundada, ou fazer alguma coisa
antes de ter tempo de pensar. O rio não teria misericórdia.
Cole gesticula em direção ao equipamento de bombear
água.
– Como está funcionando?
– Maravilhosamente. Essa gracinha bombearia o rio inteiro se pedíssemos para fazer isso.
Jack estava molhado e cansado. O excesso começava a pesar, mas ele tinha uma causa a defender. Ele mantivera o velho
equipamento de bombear água em ótima forma juntando articulações e repondo partes danificadas. Esse era o momento
da bomba brilhar. E, até o momento, ela estava inteira, apesar
do forte escoamento de água.
Os sacos de areia diminuíam a velocidade do rio, forçando-o infiltrar-se em vez de forçar o dique. As bombas tinham
de trabalhar com eficiência, pois se a água não fosse repelida,
o rio inundaria os canos de esgoto da cidade.
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– Estou fazendo uma nova fileira de sacos em volta da
margem apenas para garantir. O rio vai subir, pelo menos,
mais 15 centímetros antes de atingir o pico. Você precisa de
alguma coisa? – perguntou Cole.
– Café. Meias secas. Cassie.
– Interessante a ordem. Não contarei a Cassie que a deixou
por último.
Cassie Ellis e Jack namoravam desde o último outono, e
Cole esperava vê-los casados um dia. Cassie, ex-bombeira, sofrera uma feia queimadura em um incêndio numa casa de repouso. Cole admirava a maneira que ela lidara com a situação
e reconstruíra sua vida.
– Café e meias não representam um problema. Vi Cassie
supervisionando a retirada de documentos históricos da biblioteca. Se ela não puder ser substituída, não vale se arriscar
à toa.
Cole olhou para os patos.
– Se você quiser pôr o nome dela em um dos patos, pedirei
que ela desça mais tarde.
Ele tirou o marcador preto à prova d’água do bolso do seu
casaco e entregou para Jack.
– Ela vai ficar entusiasmada com isso.
– Obrigado, chefe.
– Não caia no rio.
Jack riu e pegou um pato para começar seu trabalho artístico.
Cole continuou a verificar o restante dos camaradas que
trabalhavam na linha de frente.
****
As pernas de Rachel estavam entorpecidas, e seu braço esquerdo doía. Ela não se moveria por nada neste mundo. Finalmente, Nathan Noles dormira, seu corpo pequeno ainda era
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sacudido por ocasionais soluços. Os grandes olhos castanhos
do menino, transbordando de lágrimas, partiram seu coração.
A vida é dura quando se tem três anos, e seu cobertor favorito
foi engolido por águas rápidas que invadiram sua casa da rua
Governor.
Rachel fizera pequenos círculos nas costas dele com seu polegar. Eles eram parceiros. O ursinho que ela oferecera para
substituir o cobertor estava agora com manchas e ainda apertado sob um dos braços do menino. Nathan se agarrara a ele
e não o soltava.
Ela não constituíra uma família, mas tinha sonhos. Ela
sentiu um nó na garganta enquanto olhava o menino adormecido. Ela queria ter um filho como ele. Ela beijou a testa
dele, alisou as pregas da parte de cima do pijama, bem acolhedor e quente, e envolveu os ombros dele com o cobertor.
A família de Nathan chegou ao abrigo de emergência enquanto Rachel arrumava as mesas para o serviço de informações da Cruz Vermelha. Ela encontrou sua mochila que tinha
jogado em um canto, afastou seu blusão azul de moletom a
fim de alcançar o ursinho que estava encolhido no canto.
– Este é o Joseph. Ele está velho e meio surradinho, mas você
gostaria de ficar com ele, Nathan? Ele é um urso camarada.
Os olhos do menino foram dela para o urso. Nathan fungou e segurou o braço do urso com a mão. Ele apertou Joseph
bem junto de seu corpo e suspirou, depois, inclinou a cabeça
de novo no ombro da mãe.
Rachel trocou um sorriso com a mãe de Nathan e fez sua
primeira amiga nessa tragédia. Ann Noles era uma mãe solteira que trabalhava no centro de emergências. Ela estava otimista, pois achava que parte de sua casa pudesse ser salva. Rachel
encontrou um espírito afim em Ann.
Adam, irmão de Nathan, adormecera, seu saco de dormir foi aberto em cima de um tatame do ginásio de esportes.
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Rachel pegou a brochura que ele estivera lendo, com a ajuda
de uma pequena lanterna, marcou a página em que ele estava
e colocou o livro na mochila dele. O ursinho ajudara Nathan,
e ela ainda estava pensando em alguma coisa para Adam.
A inundação destruíra a coleção de quatro anos de histórias
em quadrinhos que ele comprara fazendo pequenas tarefas e
capinando jardins.
No dia seguinte, Ann iria com a família para a casa de amigos, pois levaria algum tempo até que pudessem voltar para
casa e começar a limpeza. Adam não estava vibrando com
a idéia de voltar à escola na segunda-feira. Os homens que
trabalhavam nos diques o fizeram sentir-se bem-vindo. Esse
trabalho era muito mais legal que a escola.
****
Rachel inclinou a cabeça contra a cabeça de Nathan, fechou os olhos e descansou um pouquinho. Seus dias começavam antes do alvorecer. As inundações eram mais difíceis que
os tufões porque elas primeiro deixavam as pessoas exaustas
pela luta contra a água e, depois, não as deixavam com nada
além da devastação. A tragédia abatia-se de novo sobre as pessoas quando chegavam em casa e constatavam a perda – cadeiras amontoadas até o teto, mobília esmagada e empilhada
pela água, reboco caído, utensílios destruídos. A exaustão e as
esperanças desfeitas arrasam as pessoas.
Rachel construiu sua vida em torno de ajudar pessoas feridas, mas ela não era mais tão jovem quanto antes, e o ritmo
do trabalho a deixava exausta. Ser psicóloga especializada em
traumas, trabalhando para a Cruz Vermelha, era uma profissão para pessoas jovens. Nem todos conseguiam permanecer
otimistas como Ann e, inevitavelmente, manter o espírito dos
outros elevado exauria o dela.
Como será que Jennifer está?
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Sempre que Rachel fazia uma pausa no meio de seu dia, seus
pensamentos se voltavam para a irmã. O câncer de Jennifer
passara por uma breve remissão e, depois, voltara mais agressivo. O tumor era perto da espinha e alcançara o fígado. Essa
internação dela no Hospital Johns Hopkins estava durando
mais que a do ano passado, sua primeira internação. As notícias
não eram boas. Rachel tinha de voltar a Baltimore para vê-la.
Ter uma família unida foi um daqueles sonhos que se tornaram realidade para os O’Malleys, e a idéia de perder a irmã
por causa desse câncer... Esse pensamento era suficiente para
trazer de volta as lágrimas. Jennifer era a amiga mais preciosa
que tinha.
– Ele está apaixonado.
Rachel abriu os olhos e piscou para afastar a umidade antes
de virar a cabeça com um sorriso nos lábios. Ela não ouvira
Cole entrar no ginásio de esportes.
– Eu também.
Ele sentou-se no tatame à esquerda dela. A lama sujara
a camiseta que ele colocara de manhã. Ela ficou inclinada a
limpar a lama que ficaria dura e desconfortável depois de seca,
mas ela sabia que ele ainda não terminara o trabalho daquela
noite. Ele teria de inspecionar as barragens de sacos de areia
diversas vezes durante a noite.
Ele abriu a mochila que deixara perto da dela e pegou
meias secas.
– Você jantou?
– Eles trouxeram frango hoje à noite.
– Vou levá-la para um jantar de verdade quando isso acabar.
– Combinado.
Ele fez uma pausa para examiná-la.
– Verdade?
Ela riu com a reação dele.
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– Quantas vezes eu usei o trabalho como desculpa ultimamente?
– Três, mas quem se importa com isso? – disse ele sorrindo
para ela.
Ela passara bastante tempo com Cole desde o Natal para
saber que o sentimento que nutria por ele não se resumia a
apenas gostar da companhia dele. Ela estava olhando para o
camarada com o qual gostaria de passar o restante de sua vida.
Mas ela, por mais auspiciosa e alegre que essa idéia fosse e por
mais que quisesse examinar como o relacionamento evoluiria,
simplesmente não tinha energia nem tempo naquele exato
momento.
Ela sabia que os outros O’Malleys logo captariam no ar o
relacionamento deles. Ela se esforçara ao máximo para não
mencionar muito Cole perto deles a fim de evitar especulações. Contudo, ao procurar se preservar e a Cole da atenção
da família, ela provavelmente fora mais cautelosa com ele do
que o necessário.
– Não vamos comer comida mexicana.
– Que tal chinesa?
– Boa idéia.
– Procurarei um restaurante.
Os olhos dele se voltaram para o menino que ela abraçava.
Ele aproximou o ursinho de Nathan.
– Parece que ele está confortável.
– Gosto de crianças.
– Eu também.
Ela sorriu e encostou a cabeça na cabeça de Nathan, preferindo não falar sobre o comentário dele.
– Ann está terminando a remessa – comentou Cole. – Não
tem problema você ficar com os meninos por mais vinte minutos?
– Claro.
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Cole recostou de novo a cabeça na parede, cruzou os braços no peito e fechou os olhos.
– Acorde-me quando ela voltar.
Rachel hesitou por um momento, deixando-se levar por
um minuto pela dúvida de se estaria interpretando da maneira correta o interesse de Cole por Ann.
– Claro.
Ele não abriu os olhos, mas sorriu.
– Ela é uma amiga, Rae. Gosto dos filhos dela. Mas é seu
irmão quem está de olho na mãe.
– Stephen?
Rachel tinha apenas um irmão que não estava envolvido
em nenhum relacionamento sério no momento. A surpresa
dela acordou Nathan.
– Hu-hum. Só consigo imaginar um motivo para um paramédico ficar na remessa numa sexta-feira à noite.
Ela poderia pensar em outro motivo, mas então...
– Ele se ofereceu para ajudá-los amanhã a se mudar para a
casa dos amigos.
– Também soube disso.
Ann comentara que tinha conhecido Stephen, mas não fizera mais que duas perguntas genéricas. Rachel pensava nisso
enquanto embalava Nathan para dormir de novo.
– Stephen?
Cole riu e se estendeu para dar um tapinha no ombro
dela.
– Você realmente anda muito ocupada.
****
Rachel viu o fio de luz quando a porta do ginásio foi aberta, e a pessoa que entrou parou um momento para se acostumar com a penumbra no interior dele. Ann atravessou o salão
com cuidado e relaxou no colchão de ar ao lado dela.
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– Nathan acordou e percebeu que você não estava – sussurrou Rachel.
Ela esperou até Ann se acomodar, então passou Nathan
para o colo da mãe, sentindo de imediato falta do aconchego
e conforto de abraçá-lo. Rachel tirou um lenço de papel do
bolso do jeans e enxugou um rastro de lágrima da bochecha
do menino.
– Como foi o trabalho?
– Agitado.
Ann baixou a cabeça em direção à cabeça do filho e fechou
os olhos.
– Estou tão cansada que hoje o colchão de ar vai parecer
um colchão de penas.
– Coloquei sua máscara de relaxar no freezer. Quer usá-la
por vinte minutos antes de cair no sono?
Ann entrara na inundação para ajudar um vizinho e, infelizmente, levara um golpe forte de um galho de árvore que
flutuava na água. Ann concordou.
– Acho bom usar, sim. Obrigada.
Rachel foi buscar a máscara na geladeira. Ela pegou dois
copos de pudim de tapioca, duas colheres e voltou. Era bom
ter uma amiga com a qual compartilhar os momentos de
quietude em um abrigo. A caminho da porta, ela parou no
quadro de cortiça e examinou os cartões com a lanterna de
sua caneta. Ela encontrou cinco mensagens para Ann e as levou consigo. Ann estava abraçada com Nathan.
– Deixaram algumas mensagens para você hoje. E Cole
também disse que precisava conversar com você.
O homem dormia tão profundo que nem se mexera com
essa conversa sussurrada ao lado dele. Ele devia estar totalmente exausto após três dias de luta contra o rio. Todas as
vezes que Rachel o vira, ele estava trabalhando.
– Deixe-o dormir. Ele queria me passar uma mensagem do
meu primo, e eu a peguei pouco antes de deixar o trabalho.
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Ann se reclinou em volta de Nathan e colocou o gelo sobre
o joelho. Ela deu um suspiro por causa do frio.
Rachel estremeceu em solidariedade.
– Você precisa ver um médico.
– É só um arranhão. Devia ter andado mais hoje. Ficar
sentada faz o ferimento ficar mais intumescido.
A seguir, Ann relaxou e abriu o copo de pudim.
Rachel mostrou o cartão que Cole deixara para ela. Ann
riu ao ler o cartão, lançou um olhar para Cole adormecido e,
depois, olhou de novo para Rachel.
– Ele é carinhoso com você – e devolveu o cartão.
– Espero que sim.
Rachel guardou bem o cartão na bolsa para assegurar-se
que ele fosse com ela para casa.
– Estou pensando em me afastar por dois dias – disse ela,
testando a idéia.
– Ir para o leste ver sua irmã?
– Estou tentando imaginar a logística para fazer isso.
– Você deveria ir.
As crianças precisavam dela. Sua irmã Jennifer precisava
dela. Rachel estava presa à realidade de que não podia estar
em dois lugares ao mesmo tempo.
– Voltarei antes dessa enchente acabar.
Ann sorriu.
– Confie em mim, a água ainda estará aqui.
Ela deitou Nathan e se aninhou ao lado dele.
– Ouvi um boato hoje.
– Que boato?
Ann se esticou e roçou as costas de Adam.
– Jack queria satisfazer o desejo do meu filho de jogar um
barco dentro de uma garrafa no rio.
Rachel lambeu a borda de seu copo de pudim.
– No fundo, meu irmão é uma criança.
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– Eu percebi. Adam fala nele o tempo todo. Jack é um
homem bom.
– Todos meus irmãos são bons. Stephen é o responsável.
Rachel dobrou o travesseiro atrás da cabeça e se ajeitou em
seu saco de dormir.
– Percebi. Ele me trouxe flores hoje.
– É mesmo?
– Hummm – murmurou Ann.
Rachel hesitava, perguntava-se se Ann falaria mais alguma
coisa.
– Se quiser sair, cuido das crianças para você.
– Ele não me convidou para sair.
– Por que não? – perguntou Rachel, apoiando-se no cotovelo.
– Boa pergunta. Você pergunta a ele por mim?
Rachel pegou seu casaco e o telefone. As mãos pairavam
no ar, prestes a discar o número.
Ann olhava fixo para as mãos dela, enquanto sorria.
– Pode fazer isso amanhã.
– Você acabou com a minha alegria.
– Obrigada, Rae – riu Ann.
– Obrigada, por quê?
– Por dizer a Stephen para me trazer flores.
Ela fora descoberta.
– Não tem de que, imaginei que você precisava de alguma
coisa para iluminar seu dia.
– Não se desculpe. Um camarada bonito trazendo flores e
flertando é perfeito.
– Não disse para ele flertar.
Ann sorriu.
– Exatamente. Foi bom para o moral. Vou aceitar sua oferta para tomar conta dos meninos. Diga a Stephen que quero
um bom bife com salada.
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– Feito!
Rachel jamais vira uma crise em que flores não pudessem
ajudar. Parecia que enviar Stephen para fazer essa tarefa fora
uma boa estratégia. Rachel colocou o braço embaixo da cabeça e fechou os olhos. Já passava das 23 horas e, em seis horas,
ela começaria um novo longo dia.
****
Rachel acordou com a sensação de que alguém roçava seu
punho. Ela mexeu a mão, sorrindo.
– Cole, o que você... – murmurou ela, abrindo os olhos.
Não havia ninguém lá. Seu pager disparara, ela o prendera
com uma faixa no punho para ter certeza de acordar caso ele
vibrasse. Ela o tirou da faixa e olhou o número do telefone
que a chamara. O coração dela disparou ao olhar o número,
especialmente por suspeitar de qual seria o recado. Ela escorregou para fora do saco de dormir, saiu do ginásio e retornou
a ligação no corredor, um local silencioso.
– Rachel, ele não veio essa noite.
Marissa estava chorando.
– Oh, querida, sinto muito!
Rachel saiu do prédio e sentou-se nos degraus da escada,
ouvindo a aflição e torcendo para que o sr. Collins pudesse
ultrapassar o próprio pesar e ver o que estava fazendo com
sua filha. Marissa estava no terceiro ano do ensino médio, e,
nessa noite, acontecera sua competição de música, em que o
principal prêmio era uma bolsa de estudo para a faculdade.
Essa noite fora importante.
– Peguei sua mensagem. Mamãe disse que devia ligar para
você de manhã.
– Pedi que você ligasse – disse Rachel. – Confie em mim,
os amigos não se importam com horário. Como foi sua colocação?
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– Fiquei em segundo lugar.
– Estou orgulhosa de você, Marissa.
– Linda tirou o primeiro lugar. O solo dela estava maravilhoso.
– Sempre temos o ano que vem.
– Queria que papai estivesse lá.
– Eu sei, querida. Ele deu sua palavra. Ele deveria ter ido.
Marissa perdera a perna em um acidente de carro havia dois
anos. Fato bastante traumático para uma jovem, mas o pai dela
guiava o carro no momento do acidente e jamais conseguiu
superar seu pesar. Ele fora embora no ano anterior. Promessas
desfeitas machucam quando somos adultos, imagine quando
acontece com uma menina e ainda mais quando um membro
de sua família não cumpre a promessa – Rachel já passara por
isso, e, mesmo depois de décadas, a dor não sumira completamente. A única coisa que ela podia fazer a essa altura era ser
amiga e ouvir.
– Mamãe, me levou para comer fora depois da apresentação. Estava muito nervosa antes da apresentação.
– O que vocês comeram?
– Ela me convenceu a comer scampi. Estava muito bom.
As lágrimas da menina diminuíam.
Só achei que ele poderia comparecer.
– O amor sempre espera – disse Rachel suavemente. – Ele
ainda sofre com o fato de que dirigia o carro.
– É verdade.
Marissa lutara por dois anos para colocar sua vida em ordem. Contudo, as feridas familiares doem muito mais que as
físicas.
– Estou fazendo algo errado? – sussurrou Marissa.
Rachel fechou os olhos.
– Não. Seu pai sempre quis protegê-la. Agora, ele sente
que precisa proteger você dele mesmo. Com o tempo, tudo
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melhora, Marissa. Lembra-se quando conversamos sobre o
tempo e como ele muda as pessoas? Continue a dar oportunidades a ele em sua vida. Chegará o dia em que ele se sentirá
capaz de vir. Quando ele fizer isso, diga-lhe apenas: “Eu amo
você”.
O silêncio prolongou-se.
– Obrigada.
– Tempo, Marissa. Isso ajudará.
Rachel inclinou-se para pegar dois jogos de pedrinhas que
uma criança esquecera ali.
– Greg Sanford me convidou para o baile de formatura.
– É mesmo?
Rachel ficou contente em ouvir a notícia, pois sabia o
quanto Marissa esperava ser convidada.
– Preciso conhecer esse cavalheiro. Já gosto dele. O que
você respondeu?
– Aceitei, contanto que ele não me peça para dançar. Nós
vamos juntos ao baile.
– Greg esteve ao seu lado neste último ano. Confie em
mim, vocês vão se divertir muito nessa noite especial.
– Não gostaria que fosse a formatura dele, pois isso quer
dizer que ele vai sair da escola em quatro meses. Vou sentir
falta dele.
– Ele já recebeu os formulários de matrícula? – perguntou
Rachel, sentindo as mudanças que viriam para a sua amiga.
– Da Academia de Força Aérea. Ele quer se tornar piloto
como o pai.
Marissa hesitou.
– Você acha que podemos tomar um refrigerante da próxima vez que você estiver na cidade?
– Estou perto – disse Rachel. – Posso encontrá-la amanhã
ou podemos fazer alguma coisa na próxima semana quando
voltar da visita a Jennifer.
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– Na semana que vem depois da escola, perfeito!
– Está marcado!
Rachel escreveu um lembrete na palma da mão para depois marcar em sua agenda. Esse tipo de cansaço provocava
vazios em sua memória.
– Tem alguma coisa que você precisa ou quer que eu conte
para a sua mãe?
– Está tudo bem.
– Há algum detalhe que você não está me dizendo e que
eu deveria saber?
Marissa parou para pensar a respeito.
– Também estou bem nesse aspecto.
– Então, vou vê-la na semana que vem. Se quiser conversar
antes disso, promete me telefonar?
– Sim. Obrigada, Rae.
– Querida, estou orgulhosa de você!
O pager dela disparou de novo.
– Amanhã ligo para a sua mãe para combinar o programa
da semana que vem – disse Rachel enquanto se levantava. Era
um recado de Jack, e isso significava problema no dique.
****
– Cole?!
– Rachel o sacudiu gentilmente, desejando não ter de
acordá-lo. Ele, sentado contra a parede, caíra no sono com
o queixo inclinado contra o peito e os braços cruzados. Ela
admirava a capacidade dele de fechar os olhos e desmaiar.
Se ele se preocupava com as coisas, ela nunca fora capaz de
adivinhar quando, mas, com certeza, isso não afetava o sono
dele.
Cole abriu os olhos, piscou e olhou fixamente para ela.
– Jack bipou. Eles precisam de você no dique.
Ele respirou fundo e suspirou.
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– Está bem, estou acordado.
– É uma hora da manhã.
– Não perguntei.
Ela pousou a mão no antebraço dele enquanto devolvia o
sorriso.
– Eu sei, mas seu relógio parou. Ele está piscando com esse
estranho padrão de números brancos e vermelhos. Nathan
pensou que fosse sua lanterna que ficava acesa a noite toda.
– Água e relógio não combinam. Ele não vai secar nunca.
Ela se afastou, enquanto Cole se levantava.
– O que está acontecendo?
– Jack falou que tem muita lama na água, e as bombas
estão entupindo.
Cole ficou em pé e colocou a mão sobre o ombro dela.
– Você estava acordada?
– Recebi outro telefonema.
– Se precisar de um lugar escondido para conseguir dormir
um pouco, tente o banco da frente de um dos veículos do departamento de incêndio. Ninguém vai encontrá-la ali.
Ele cuidava dela da mesma maneira que cuidava dos seus
homens. Isso era agradável.
– Obrigada.
– Acredite em mim. Mais tarde, leve Adam até o dique.
Jack conseguiu algo que ele precisa ver.
– Farei isso.
– Você disse realmente que encontraria tempo para jantar?
Ele roçou o dedo no ombro dela.
– Odiaria pensar que isso só foi um sonho.
Ela riu.
– Comida chinesa. E esperamos que seja uma noite sem
interrupções.
Ele adiava a hora de partir, não querendo interromper
esse momento. Ela também não queria. Ele, assim sonolento,
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tinha uma aparência tão bonita – e ela queria abraçá-lo e ser
engolida por um abraço.
– Vá trabalhar, Cole.
– Sim, senhora! – ele sorriu e se dirigiu para a porta.
Rachel o viu sair e, em seguida, voltou para o seu saco de
dormir. Ela desligou o pager e abraçou o travesseiro com o
braço. Ela ainda sorria ao fechar os olhos. Um sorriso de Cole
e um convite para jantar eram quase tão bons quanto receber
flores.
****
– O que está acontecendo, Jack?
Cole encontrou o irmão de Rachel na área de estacionamento onde estava o barco de resgate de fundo chato, testando as
luzes de freio do reboque.
– Não quis preocupar Rae. Lisa precisa de nós. Ela disse
para levarmos um saco de transportar cadáver.
– Onde ela está?
– Estrada Rosecrans.
Cole comprimiu a parte superior do nariz e tentou esquecer que era uma hora da manhã.
– Por favor, diga-me que ela sabe que eu estava brincando
com ela. O corpo está embalsamado?
– As primeiras palavras de Lisa, quando retornei sua chamada, foram: “A água está destruindo minha cena do crime!”
Então, ela pareceu irritada. Pareceu real para mim.
– Você tem irmãs interessantes.
– Nem me diga.
Cole pegou as chaves do carro.
– Eu dirijo. Será que só nós dois é o suficiente?
– Pareceu que ela precisava de nós para o transporte.
O Batalhão 42 está trabalhando na área.
– Está bem. Vamos ver no que ela se meteu.
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