ARTIGO PRÁTICAS ESPORTIVAS E O SERVIÇO MILITAR Carlos

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ARTIGO PRÁTICAS ESPORTIVAS E O SERVIÇO MILITAR Carlos
ARTIGO
PRÁTICAS ESPORTIVAS E O SERVIÇO MILITAR
Carlos Bolli Mota
Érico Felden Pereira Pereira
Clarissa Stefani Teixeira
RESUMO
Este artigo trata do binômio práticas esportivas e trabalho; para
isso, escolheu-se investigar algumas relações entre essas práticas
em militares, por se tratar de uma profissão que historicamente possui
grande relação com o esporte. Dessa forma, 605 militares do sexo
masculino com idade média de 28,82 8,75 anos, da Aeronáutica,
responderam a um questionário com perguntas abertas sobre suas
práticas esportivas dentro e fora do meio militar, a freqüência com que
praticam tais modalidades, os principais motivos que os levam a prática
de exercícios físicos, entre outras. As análises das respostas permitem
vislumbrar os seguintes resultados: grande parte dos militares pratica
exercícios físicos uma vez na semana, sendo o futebol e o atletismo
as modalidades mais citadas, com o primeiro sendo a modalidade
mais praticada em forma de competição. Verificou-se ainda que a
melhora do condicionamento físico e a saúde são os principais motivos
dos militares para a prática de esportes.
Palavras-chave: serviço militar, práticas esportivas, trabalho.
+
O serviço militar obrigatório no Brasil, em caráter universal, foi
regulamentado em 1908; anteriormente, o recrutamento não era
sistematizado. Sua obrigatoriedade começou a vigorar em 1916,
quando a iminência das guerras e a política nacional exigiam dos
militares características de atletas. O serviço militar é considerado
ainda uma instituição fundamental para fornecer uma "idéia de Pátria"
a juventude; ate hoje poucas modificações ocorreram nas leis que o
' Universidade
Federal d e S a n t a Maria.
It Miii. Pcluc. Fis., Viqosa, v. 14, ri. I , p. 7-18: 2006
7
regulamentam (KUHLMANN, 2001). Os militares, segundo Gallardo
(2000), exerceram grande influência na cultura esportiva do Brasil,
inclusive na Educação Física.
O trabalho com o corpo e os militares sempre tiveram relação
próxima devido as características dessa carreira, porém as novas
tecnologias vêm mudando a atuação destes, exigindo cada vez mais
alto conhecimento técnico de diversas rotinas, dando ao serviço militar
características semelhantes aos trabalhos realizados fora das Unidades
Militares. O trabalho, segundo Roeder (2003), ocupa um espaço muito
importante na vida das pessoas, ou seja, quase todo mundo trabalha, e
uma grande parte da vida é passada dentro de organizações. Possui
também um importante valor na sociedade, e as pessoas começam a
ingressar nele cada vez mais jovens. Contudo, o miindo do trabalho
moderno parece tomar uma configuração sentida pelo homem como
mental e espiritualmente pouco saudável. Pode-se dizer tranqüilamente
que muitas pessoas adoecem por causa do trabalho.
De acordo com Arendt (1909), o trabalho é uma das condições
básicas para a vida humana; ele produz um rriundo artificial de coisas,
buscando transcender as vidas individuais. Ao acrescentar objetos ao
nii.indo, o trabalho possibilita a criacão de um ambiente de coisas
permanentes, com as quais nos familiarizamos através do uso. Pode
ser considerado basicamente como o conjunto de ações que levam a
produção d e bens individuais e coletivos, promovendo o
desenvolvimento pessoal, familiar e até de uma nação. Por outro lado,
as variáveis intervenientes no trabalho podem gerar agressões ao
trabalhador; nesse sentido, Dejours ( 1 992) esclarece que a
organização do trabalho pode estabelecer uma relação de dominação
da vida psíquica do sujeito e da ocultação de seus desejos.
A qualidade de vida no trabalho é um tema facilmente percebtdo
nos estudos do binômio indivíduo-organização e que possS:'
! I sua
importância reconhecida há várias décadas, o que ~onI:ibu::.i ;?<iraa
existência de várias abordagens sobre o tema. Seu grasde objztivo 6
inelhorar o bem-estar do trabalhador, aliado a melhoria do desenpenho
organizacionai. Na atualidade, observa-se expressiva preocupação com
a disseminação dos princípios da qualidade de vida nc trabalho, em
empresas de todo o mundo, através da fiiosofia e de métodos y ~ i e
buscam maior- satisfação do indil/iduo no trabalho. Duarte e De Pinho
(1995) afirmam que, diante dos problemas que a sociedade atual vive,
o corpo humano está envolvido de uma forma geral em uma complexa
8
K. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 14, n. I . p. 7- 18,2006
fusão entre os aspectos físicos, psicológicos e sociais, os quais se
inserem em um entendimento mais complexo de saúde.
O estilo de vida proveniente da era industrial vem, por um lado,
promover comodidade e desenvolvimento das atividades diárias e, por
outro, esse avanço tecnológico é desvantajoso, pois limita a realização
dos movimentos, dispensando os esforços físicos que possibilitam a
conservação e o bom funcionamento das capacidades funcionais dos
indivíduos. Com o decorrer do tempo, o homem foi modificando sua
forma de trabalhar. O tipo de trabalho e seus componentes sofreram
alterações, entre as quais o ambiente físico e psicológico; o mcjdo de
pr-odução e, ainda, a renda obtida de sua execução são determinantes
do bem-estar dos indivíduos (MAKCHIOR; HAMANN, 2000).
E rriuito difícil estabelecer uma relação direta entre a prática de
exercícios físicos e o cleserripenho no trabalho, porém alguns estudos
indicam que a prática de exercicios físicos 63 a dimiriuição de lesões
ocasionam, por exemplo, diminuição de afastamentos por atestados
rnedicos. Estudos confirmam ainda que os militares que apresentam
menores níveis de aptidão física estão mais propensos a lesões
arliculares (ACHOUR JUNIOR, 1995).
Ainda de acordo com Achour Jiinior (1995): são bastante restritas
as empresas que investem no exercício no meio do trabalho, que
podern vir a ter uma resposta profilática i desorderii
musculoesquei~tica,por atuarem especificamente ncs componentes
da aptidão física relacioriados a promoção da saúde. O exercício físico
deve ter espaço tanto no zmbiente escolar como no local de trabalho e
deve ainda incentivar a necessidade de um estilo de vida ativo por toda
a vida, evitando despesas pessoais como transpor-te e exames
médicos. Nesse contexto, o meio militar talvez seja um dos que mais
ofereçam condições para aliar a prática de exercici~sfísicos e o trabalho.
estilo de vida
Considerando que a manutenyão de i ~ m
fisicarriente ativo também pode contribtiir para reduzir aig~.ins
aspt.ctf.>s
negativos que se fiianifsr;lciin com a aposerituc!cria, ciliirio a deprcssao,
reta!-c!aridç o apc7reciimc:rito de falhas ria çaíide e a dependcncia (Ic
autrcis pessoas para o Uesei-ilpenho de tarefa.; :,c: viiin dizri;,
(GALLAt-iUE; Gi?ML!IL',2003 j, hern co~moa çresc~íiiepreocur;atj:~ci ~r3i.l-t
íoi-irias de aliar !r-2t)oiho e çaiicie e o gra:iiie coniiii:~eiii~?
dt:: mi!ltárf:r
ern nosso país, es!e trabalho buscou ide~tificarc+ anaiisar alguma:;
características c~!nportarnentaisde niilitai-es em reiayão ZI pr5tic;: c'c;
exercicios fisicoç.
K. Mil;. Educ. Fís., Viçosa, v. 14, n. 1, p. 7-18,2000
9
A amostra deste estudo foi formada por 605 militares do sexo
masculino com idade média de 28,82 I 8,75 anos, da Aeronáutica. Os
militares responderam a um formulário com perguntas abertas que
buscavam identificar questões relacionadas a prática de exercícios
físicos dentro e fora da Unidade Militar e permitiram que as informações
fossem divulgadas. Foram realizadas análises da frequência e do
percentual das respostas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste item estão apresentados e discutidos os resultados
obtidos através das análises das respostas aos questionários. Dessa
forma, apresentam-se as informações referentes a práticas de
modalidades esportivas pelos militares dentro e fora da Unidade Militar,
seus objetivos com prática esportiva, suas opiniões sobre a importância
da prática de exercícios físicos, entre outros aspectos investigados.
Tabela 1 - Freqüência semanal de prática de exercícios físicos dos
militares
Frequencia semanal
Praticantes (%)
1 vez
2 vezes
3 vezes
4 vezes
5 vezes
7 vezes
Não possuem freqüência definida
21 50
19.90
G,69
0,64
1.11
0.64
49,52
A Tabela 1 apresenta a frequência semanal de prática de
exercícios físicos daqueles militares que praticam pelo menos uma
modalidade dentro ou fora do meio militar. O maior percentual de
militares (21,50°/~) realiza exercícios uma Única vez na semana, e
19,90% praticam duas vezes. Pieron (2004) afirma que diversos
estudos têm sugerido uma periodicidade de no mínimo três vezes por
semana, com a duração de pelo menos uma hora por semana etn
atividades físicas. Segundo o mesmo autor, nota-se que pelo menos
6,69% dos militares estão seguindo uma periodicidade, visto que estes
1O
R . Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 14, n. 1, p. 7-18,2006
são os que praticam atividades com periodicidade mínima de três vezes
na semana. A participação pouco freqüente não permite cumprir as
recomendações referentes a uma prática mínima que provoque efeitos
ligados a saúde. Alem disso, o autor salienta que o atual modelo usado
é o Paradigma da Saúde e Atividade Física, que preconiza atividades
físicas regulares durante a vida, voltando-se mais para a quantidade
física necessária para a saúde e não para marcas alcançadas. Cada
vez mais se reconhece o valor das atividades que aumentam o gasto
energético ao longo do dia - maior que o valor de atividade de
moderada a intensa em uma só prática.
A falta de tempo e a falta de incentivo foram motivos apontados
por diversos militares para a pouca ou nenhuma prática esportiva.
Muitos, inclusive, não participam das atividades de Educação Física
proporcionadas na Unidade Militar, percebendo-se, que aliado aos
motivos apontados pelos militares, há também falta de interesse pelas
atividades motoras proporcionadas.
Este estudo mostra que 49,52% dos militares não possuem
freqüência definida. Cada vez mais estudos têm apontado a
regularidade da prática de exercícios como um fator importante na
busca de urri estilo mais saudável. A prática de atividades regiiiares (6
a 7 dias na semana), em intensidades moderadas, de forma contínua
ou acumulada, tem se mostrado benéfica na redução do risco de
diversas doenças. Considera-se uma duração muito curta aquelas
atividades realizadas em menos de uma tiora por semana, uma
duração moderada aquelas realizadas de duas a três horas por semana
e de larga duração aquelas com mais de quatro horas por semana
(American Heart Association apud NAHAS, 1997; PIERON, 2004).
Considerarido que a aderência e manuten~ãoa programas de
exercícios físicos está intimamente ligada aos fatores motivacioneis
dos sujeitos, a tabela a seguir wostra os fatores motivacionais que
ievam os militares a praticar- exercícios físicos.
Tabela 2 - Objetivos dos miiitarea com a prática de exercícios ffsicos
--
-
i?
Mii-i
Lduc Pis.. \/i(«sa,
L.
14. t i 1 , p. 7-18, ?OU6
-- ----- -' 1
A Tabela 2 mostra os objetivos dos militares com a prática de
exercícios físicos. A maior parte deles busca um aprimoramento do
condicionamento físico, uma melhor aptidão física. Asaúde e a estética
também são motivos importantes. Além disso, o trabalho também é
um motivo citado, indicando que muitos militares reconhecem a relação
de sua atuação profissional com um bom desempenho físico. Verificouse ainda que 9,56% dos militares buscam mais do que um objetivo
com a prática de exercícios físicos.
O condicionamento físico e a saúde são aspectos qiie podem
possuir uma relação íntima. Maskatova (1997) afirma que as qualidades
físicas diretamente relacionadas a saúde, como a composição corporal,
resistência cardiorrespiratória, flexibilidade e resistência muscular
localizada, formam tarribém a base para o desempenho atlético.
Em relação ao conceito de saúde, percebe-se que se está longe
de estabelecer um consenso. Todavia, parece ser universal o
entendimento de que saiide não se resume apenas a ausencia de
doença. Há uma tendência em se mudar de um paradigma biológico
para ecológico, definindo saúde como urna condição multidimensiorial,
avaliada numa escala contínua, resiiltante de complexa interação de
fatores hereditários, ambientais e do eçtiio de vida (BCIIJCHARD et ai.
apud NAtiAS, i997)
Do ponto de vista psicossocial, ap:irecern os di\/cctrsos níveis de
exiaências da vida ern sociedade e dar relações: com outros seres
h:;manos, seja em nivel comuriitarto ou no irabaliio, capr-izes d e grrcqi
:.insiedade e estresse. Eril nível individual. os fatores riai.; in~prirtantes
íelcicionam-se coin o estilo de vÍda pessoal, iriciuináo die.tri, exercícioc,
fisicos. comportamento preventivo e ,:;orrtrole do estrerse (9OUCHAF;D
ct a!., 1990). As chamadas doença.; cr6nico-degenerativas (doei173
arterial cororiariana, acidente vascular cerebral, cânccr, diabetes e as
doenças pulmonares obslrutivas crônicas), lideres ,.:i-ri mortalidade
prec,oce nos países iridustrializados, estão ;rissociadas ao h3kito de
fumar, a dieta inadequada e a inatividade física.
Governos e organizações não-(iovern3mentais em todo o
r n u ~ d o particularmente
.
nos países v a i s derjenvolvidoç, passaram a
corisiderar a promoç5o cla atividade física copio q~iestãoediicacicnal
e de saúde pública de grande importância. Trata-se de uma tentativa de
reverter o crescerite quadro de inatividade presente ria chaniada "era
tecnológica" (últimos 50 anos), que afeta mais significativamente os
países industrializados e as áreas i i r b a ~ a sem particular (NAHAS, 1999).
O trabalho como um motivo para a prática de exercícios físicos,
embora não seja o principal fator motivacional, demonstra que os
niilitares reconhecem a relação do trabalho rnilitar com uma boa aptidão
física, que foi o motivo mais citado; assim, os motivos para melhorar o
condicionamento físico e o trabalho estão relacionados.
Outro motivo importante citado pelos rnilitares se refere a
estética, que reflete a motivação de muitas pessoas, militares ou não,
para a prática de exercícios fisicos. Saritin (2002) afirma que uma
importante fonte para definir os perfis corporais é constituída pelos
padrões de beleza assumidos pela sociedade; cada sociedade, em
caaa época, estabelece quais modelos de beleza devem ser seguidos.
Embora a busca pela estética tenha grande influência da cultura da
época, da midia, entre outros, pode-se utilizar dessa motivação no
sentido de as pessoas aliarem a busca da estética com a saúde e o
lazer, adquirindo um gosto pelas práticas esportivas.
Uin fator que pode interferir nas práticas de exercícios f í s i c a é
a ir-icidência de lesões. Contudo. neste estudo verificou-.se que 87,90°/0
dos militares niinca tiveram nenhcm tipo de lesao com a prática de
exercicios fisicos.
Davidoff (2001) afirma que o hornem é u n ser que tem
necessidades; a medida que uma delas B satisfeita, logo surge outra
em seli lugar. Nesse sentido, Maslow (1970) class:ficou-as em unia
escaia de irnportâricia. Eni uni nivel inferior colcicou as necessidades
fisiológicas (dormir, comer. exercitar-seji acima delas, as necessidades
de proteçiio (estabilidade r i s emprego, favoritisrrio oii discriminação
rio trabalho}; quando a s riecessidades fisioiócjicaç e dtt proteção estão
satisfc?iias, passam a ser mais in-tportantes as fiecessidades sociais;
e, acl~ricidestas, as necess!dades egocêr?tricns (auto-estima, auto
realizr!c;ac, corifiariqa, independencia, reputação, status, aprovação,
respeito).
Considerando que é a formci de exerciiaç2o e as modalidades
que os sujeitos mais gostam de praticar um importante fator
rnotivacional para a mandtenção de um estilo de vida mais ativo e
saddavel, as próximas duas tabelas (3 e 4) listam as modalidades
esportivas praticadas pelos militares dentro e fora do meio militar e
também aquelas em que os rnilitares competem.
I<. Min. Educ. Fis., Viçosa, v. 14.11. 1.13.7- lX,2000
I3
Tabela 3 - Modalidades esportivas realizadas dentro e fora da Unidade
Nlilitar
Modalidades
Percenlual de militares que
realizam a modalidade no meio
militar
Percentual de militares que
realizam a modalidade fora do
meio militar
Atletismo
Basquete
31.37
1.91
31.53
3.66
Bocha
0.00
0,16
Paddle
0,OO
0.16
TBnis
0.48
0.00
Tiro
Vdlei
Não fazeni nenhuma atividade
0,16
4.94
32.32
0.32
13.06
28.34
Caminhada
Ciclismo
Futebol
Lutas
Musculação
Natação
Orientação
Tabela 4 - Modalidades esportivas de competição realizadas pelos
militares dentro e fora da Unidade Militar
-
de competição
Atletismo
Basquete
Bocha
Percentual de militares qiie
Percentual de militares qiie
competem no meio militar competem fora do meio militar
0,00
0.48
0,80
0,48
0.00
0.32
Ciclismo
Fiitebol
0.00
0.16
5.57
6.05
Handebol
Liitas
Naiação
Orientação
Tenis
Tiio
Vôlei
0.00
0,16
0,OO
0,16
0,48
0.32
0,3?
0.16
0.32
0.48
0.16
0.64
0.32
0.96
Conforme mostra a Tabela 3, o futebol e o atletisiiio foram as
modalidades mais citadas, praticadas tanto no meio militar como fora
dele. sendo a corrida a prova do atletismo mais praticada, citada por
29,94% dos militares como uma modalidade realizada de;-rtro do meio
militar e poi. 30,10% fora desie. L'erifica-se ainda cjue 489 miliiarei.,
praticam apenas unia modalidade. 172 praticam duas :;riodalidades?
21 praticam três modalidades G 3 militares são praticaqteç de quatro
I4
R. Min. Educ. Fis.. Viçosa. v.
14.11. I .
p. 7- I S. 2000
modalidades; 32,32% afirmam não praticar nenhuma modalidade
esportiva na Unidade Militar e 28,34% fora dela. Pode-se ainda observar
que 64,51% dos militares praticam mais de uma modalidade fora do
meio militar.
Analisando os dados apresentados na Tabela 4 a respeito das
modalidades em que os militares participam de competições, verificase que o futebol é a modalidade de competição mais realizada tanto
dentro como fora da Unidade Militar. Estranhamente, o atletismo, que
é uma modalidade bastante praticada como forma de exercitação, foi
muito pouco citado como uma modalidade de competição,
demonstrando que em militares da Aeronáutica o atletismo é mais
praticado com outros objetivos além das competições. Paim (2001)
afirma que o futebol constitui-se num fenômeno esportivo
principalmente no Brasil, onde contribui para a elevação do espírito
social; conforme os dados deste estudo, é uma opção de prática
esportiva de grande número de militares.
Conhecer os fatores motivacionais para a prática esportiva e
as modalidades mais praticadas pode ser um primeiro passo para a
implementação de programas de exercícios físicos para os
trabalhadores. Nahas (1999) fala que, em qualquer intervenção para
promover um estilo de vida mais ativo, as atividades devem ser tão
naturais e prazerosas quanto possível, de acordo com as preferências
e possibilidades individuais, para que possam ser incorporadas ao diaa-dia das pessoas. Pesquisas recentes têm demonstrado que o apoio
familiar e dos amigos é fundamental para a continuidade num programa
de exercícios. Também é um fator importante o acesso fácil aos locais
de prática (ciclovias, piscinas, ginásios, trilhas para caminhadas,
quadras de esportes). Neste estudo, verificou-se que 97,13% dos
militares consideram a prática de exercícios regulares essencial para
a vida das pessoas, o que é um fator importante para a inserção em
programas esportivos.
Por fim, é importante salientar que, na discussão entre saúde e
trabalho, uma atividade profissional na qual a pessoa não gosta do
que faz, precisando realizar tarefas em ritmo acelerado, exigindo pouco
ou muito de suas capacidades e submetendo-se a problemas interrelacionais com superiores, pode levar a sérios distúrbios psíquicos
(ROEDER, 2003); e que a prática de exercícios físicos, aliada a uma
organização do trabalho que se preocupe com o bem-estar destes,
R. Min. Educ. Fis., Viçosa. v. 14, n. I , p. 7-18,2006
15
poderá contribuir tanto para a saúde dos trabalhados como para melhui
rendimento no trabalho.
Esta pesquisa buscou investigar algumas questões
relacionadas ao serviço militar e a prática de exercícios físicos. Assim,
uma apreciação global do estudo efetuado indica as seguintes
conclusões: a maior parte dos militares pratica exercícios uma ou duas
vezes na serriatia; os fatores motivacionais rnais relevantes para esta
prática são o aprimoramento do condicionamento físico e a saúde; e
as modalidades esportivas que os militares aiais praticam são o futebol
e o atletismo, sendo a primeira a modalidade rnais praticada de fornia
competitiva.
A partir desses dados, acredita-se q u e p o d e m ser
implementados alguns programas que incentivem os militares a
praticarem exercícios físicos com maior frequêricia e que atendam as
suas motivações para que se rnaritenhan~na ativiaade por um grande
período de tempo, incentivando um estilo de vida mais ativo.
Acredita-se que maiores investigações relacionando a prática
de exercícios fisicos e o trabalho, com diferentes trabalhadores eni
diferenciadas ocupações, são extremarnerite relevantes na sociedai?e
atual e que a partir desses estudos se possam criar formas de tornaro trabalho profissional mais saudáve! e prazeroso a todos.
ABSTRACT
Sport Practices and Miiitary Service
This article is about the binomial of sporting practices arid job.
For that was chilsen to investigate some relations betweeri ttiose
practice ir1 mi!itary because ii is a profession that historical has yrea::
relation wiih spoít. Pherefore, 605 so!diei-s of the cnalv sex with rrieari
ages of 28,,82 2 8,75 years old ir? t h e aeroriautics have answeied to a
questionnaire with open questionç abcut spoiiing prac!ic,e insidt.; aric!
outside the military environniegt. the fi-equency ihat they prciciiíx sirc;ii
n-indaiities, thc: rneari reasons that take thei7i tu practice pi:ysicqI
exercises, amorig others. The arislyses of the answers aliow glimpsing
the following results: a large tail of the soldiers practice physical sports
16
R. Min. Educ. F'is., Viçosa, v. 14, n. 1, p. 7- 18,2006
once a weeK, b;.cn soccet. and atl-iletics the rnost quo:ed and tlié first
been the rnost pi-acticed rnodality iri a championship model. Was yet
checked that the iniprovement of physical condiiior! and health are the
principal reasons for Lhe sport activity of the s:>ldiers.
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