Inclusão Social - International HIV/AIDS Alliance
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Inclusão Social - International HIV/AIDS Alliance
As Crianças do Amanhã: Notas Temáticas na África Vasta Recursos para comunidades que trabalham com crianças órfãs e vulneráveis Inclusão Social INCLUSÃO SOCIAL Agradecimentos O que é a Aliança Internacional Contra o HIV/SIDA? A Aliança gostaria de agradecer a todos aqueles que contribuíram para esta publicação: A Aliança Internacional Contra o HIV/SIDA (Aliança) é uma organização internacional não governamental que apoia comunidades em países em desenvolvimento com o objectivo de fazer uma contribuição significativa na prevenção do HIV, na assistência à SIDA e no apoio a crianças afectadas pela epidemia. Desde a sua fundação em 1993, a Aliança tem fornecido assistência financeira e técnica a ONGs e OBCs de mais de 40 países. MEMBROS DO GRUPO DE DESENVOLVIMENTO AS CRIANÇAS DO AMANHÃ © Copyright texto International HIV/AIDS Alliance 2003 © Copyright ilustrações David Gifford 2003 As informações e ilustrações contidas nesta publicação podem ser livremente reproduzidas, publicadas ou de outra forma usadas em atividades que não visem o lucro sem a autorização prévia da International HIV/AIDS Alliance. No entanto, a International HIV/AIDS Alliance exige sua citação como fonte de tais informações. Esses recursos tornaram-se viáveis através do apoio da U.S. Agency for International Development (USAID) e USAID Bureau for Africa sob os termos da Concessão Número HRN-G-00-98-00010-00, e da Swedish International Development Agency (Sida). Opiniões aqui expressas não reflectem necessariamente as opiniões dos patrocinadores mencionados acima. Adama Gueye, RNP+, Senegal; Alioune Fall, ANCS, Senegal; Amadou Sambe, CEGID, Senegal; Amani Mwagomba, TICOBAO, Quénia; Ana Gerónimo Martins, Associação Mulemba, Angola; Ana Pereira, Pastoral da Criança, Angola; Angello Mbola Terca, Caritas Angola, Angola; Anne Sjord, CONCERN, Uganda; Baba Goumbala, ANCS, Senegal; Batuke Walusiku, Forum for the Advancement of Women Educationists in Zambia, Zâmbia; Beven Mwachande, Salvation Army Masiye Camp, Zimbabwe; Boniface Kalanda, National AIDS Commission, Malawi; Bonifacio Mahumane, Save the Children, Moçambique; Boubacar Mane, Bokk Jëf, Senegal; Brice Millogo, IPC, Burkina Faso; Bruno Somé, IPC, Burkina Faso; C. Nleya, Ministry of Health and Child Welfare, Zimbabwe; Carina Winberg, Kubatsirana, Moçambique; Catherine Diouf, SWAA, Senegal; Catherine Fall, Bokk Jëf, Senegal; Catherine S. Ogolla, KANCO, Quénia; Charles Becker, Réser-SIDA, Senegal; Clara Chinaca, Kubatsirana, Moçambique; David Mawejje, Save the Children UK, Uganda; Deo Nyanzi, UNESO, Uganda; Diallo Oumar Allaye, Mali; Dieudonné Bassonon, IPC, Burkina Faso; Djibril M. Baal, Synergie Pour l’Enfance, Senegal; Dorothy Namutamba, NACWOLA, Uganda; Dr. Edgar Lafia, Labo Bactério-virologie, Senegal; Dr. Fatim Louise Dia, ACI, Senegal; Dr. Léopold Gaston Boissy, Chu Fann, Senegal; Dr. Mame Anta Ngoné, Ndour Réser-Sida, Senegal; Dr. Maty Diouf, Synergie Pour l’Enfance, Senegal; Dr. Nakakeeto Margaret, Mulago Hospital, Uganda; Dr. Yakhya Ba, Synergie Pour l’Enfance, Senegal; Dr. Mtana Lewa, COBA, Quénia; Dr. Richard Okech, Plan International, Uganda; Ellen Jiyani, Malawi; Estela Paulo, FDC, Moçambique; Fodé konde, AJTB, Burkina Faso; Fortune Thembo, Salvation Army Masiye Camp, Zimbabwe; Fr. Alberto Mandavili, Caritas de Angola, Angola; Franceline Kaboré, IPC, Burkina Faso; Francisco Dala, Centro de Apoio as Crianças Órfãs, Angola; George Alufandika, Malawi; Hector Chiboola, University of Zambia, Zâmbia; Hope for a Child in Christ, Zimbabwe; Humphrey Shumba, Save the Children UK, Malawi; Irmã Emília Buendo, Abrigo das Crianças Órfãs, Angola; Jacinta Wamiti, COREMI, Quénia; Jackie Nabwire, NACWOLA, Uganda; Jacob Mati, IDS, Quénia; James Njuguna, UNV/NACC, Quénia; Jane Nalubega, Child Advocacy International, Uganda; John Williamson, Technical Advisor, DCOF, EUA; Kally Niang, CEGID, Senegal; Keith Heywood, Christian Brothers College, Zimbabwe; Khalifa Soulama, IPC, Burkina Faso; Kilton Moyo, Thuthuka Project, Zimbabwe; Lillian Mworeko, UNASO, Uganda; Linda Dube, Salvation Army Masiye Camp, Zimbabwe; Ludifine Opundo, SWAK, Quénia; Lukubo Mary, TASO, Uganda; Mame Diarra Seck, RNP+, Senegal; Mark Rabundi, St. John INCLUSÃO SOCIAL Agradecimentos Community Center, Quénia; Mary Simasiku, Care International Zambia, Zâmbia; Ncazelo Ncube, Salvation Army Masive Camp, Zimbabwe; Ndèye Seynabou Ndoye Ngom, Synergie Pour l’Enfance, Senegal; Noah Sanganyi, Children’s Department, Quénia; Olex Kamowa, Malawi; PACT Zimbabwe, Zimbabwe; Pafadnam Frédéric, APASEV, Burkina Faso; Pamela Mugisha, Action Aid, Uganda; Pastor Z.K. Khadambi, PAG, Quénia; Patience Lily Alidri, Save the Children UK, Uganda; Patrick Nayupe, Save the Children UK, Malawi; Petronella Mayeya, African Regional Council for Mental Health, Zâmbia; Resistance Mhlanga, Salvation Army Masiye Camp, Zimbabwe; Rose Kambewa, Malawi; Sawadogo Fati, AAS, Burkina Faso; Simon Ochieng, FHI, Quénia; Simon Pierre Sagna, Sida-Service, Senegal; Sobgo Gaston, Save the Children, Burkina Faso; Some Paul-André, IPC, Burkina Faso; Sphelile Kaseke, National Aids Council Youth Task Force – Bulawayo, Zimbabwe; T. Ncube, Ministry of Health and Child Welfare, Zimbabwe; Tahirou Ndoye, CEGID, Senegal; Thompson Odoki, UWESO, Uganda; Tommaso Giovacchini, Save The Children UK, Angola; V. N. Thatha, Ministry of Education and Culture, Zimbabwe; Victor K. Jere, Save the Children USA, Malawi; Wachira Mugo, ARO, Quénia; Wairimu Mungai, WEMIHS, Quénia; Willard Manjolo, Ministry of Gender, Youth and Community Services, Malawi; Yacouba Kaboré, MSF/EDR, Burkina Faso. MEMBROS DA JUNTA DE CONSULTORIA AS CRIANÇAS DO AMANHÃ Amaya Gillespie, UNICEF, EUA; Andrew Chetley, Exchange, Healthlink Worldwide, Reino Unido; Brenda Yamba, SCOPE, Zâmbia; Denis Tindyebwa, Regional Centre for Quality of Health Care, Uganda; Doug Webb, Save the Children UK, Reino Unido; Dr. Ngagne Mbaye, Synergie Pour l’Enfance, Senegal; Eka Williams, Population Council, África do Sul; Elaine Ireland, Save the Children UK, Reino Unido; Geoff Foster, Zimbabwe; Jill Donahue, Catholic Relief Services, Zimbabwe; John Musanje, Family Health Trust, Zâmbia; Peter McDermott, USAID Bureau for Africa, EUA; Stan Phiri, UNICEF, Quénia; Stefan Germann, Salvation Army Masiye Camp, Zimbabwe; Tenso Kalala, SCOPE, Zâmbia. FUNCIONÁRIOS E CONSULTORES DA ALIANÇA INTERNACIONAL CONTRA O HIV/SIDA 01 INCLUSÃO SOCIAL Histórico Essas Notas Temáticas fazem parte de um conjunto de seis documentos, do qual constam cinco assuntos e esta visão geral: • • • • • Apoio educacional Saúde e nutrição Apoio psicossocial Inclusão social Fortalecimento económico Essas Notas Temáticas foram criadas através de um processo altamente participativo, orientado por uma junta de consultoria internacional. Durante a criação dessas Notas Temáticas em inglês, francês e português, elas foram revisadas por mais de 80 pessoas na África. Essas pessoas leram e fizeram comentários sobre os artigos, e adicionaram exemplos e estudos de caso de seus próprios países. Uma parte da revisão ocorreu numa reunião em Uganda, onde compareceram vinte pessoas de Uganda, Malawi, Zâmbia, Zimbabwe, Quénia, Burkina Faso, Senegal, Mali, Moçambique e Angola. As pessoas que compareceram a essa reunião levaram as Notas Temáticas de volta aos seus colegas nos seus países de origem, os quais fizeram mais um processo de revisão. Os exemplos e os estudos de caso desse processo foram anotados no texto como vindo de um “membro do grupo de trabalho As Crianças do Amanhã”. Essas Notas Temáticas estão divididas em quatro secções: INTRODUÇÃO Explica porque os programas devem considerar o estigma e a discriminação. ASSUNTOS Descreve como o estigma e a discriminação relacionados ao HIV/SIDA afectam as crianças, como o HIV/SIDA interage na exclusão social infantil, e porque as crianças órfãs e afectadas podem ser mais vulneráveis à infecção de HIV. PRINCÍPIOS Resume os princípios que devem guiar os programas que visam tratar o estigma e a discriminação que atingem a população infantil, assim como os problemas que sofrem as crianças socialmente excluídas. ESTRATÉGIAS Descreve as possíveis estratégias para tratar o estigma e a discriminação, e para atender às necessidades das crianças socialmente excluídas. 02 Existe uma base de evidência cada vez maior para estratégias que sejam eficazes em apoiar crianças órfãs e vulneráveis. Como a base de evidência ainda não está completa, as estratégias nas Notas INCLUSÃO SOCIAL Histórico Temáticas incluem aquelas que foram implementadas, assim como sugestões para estratégias baseadas na experiência de pessoas que trabalham com crianças órfãs e vulneráveis. Sendo assim, as estratégias não são dadas em nenhuma ordem de prioridade ou eficácia relativa. Introdução COMO DEFINIR O ESTIGMA E A DISCRIMINAÇÃO • Estigma é o atributo que rotula um indivíduo ou grupo específico de indivíduos como diferentes. Eles são rotulados de maneira negativa e discriminatória por possuírem este atributo. • A discriminação é uma das formas de manifestação do estigma. Isto ocorre quando uma pessoa ou um grupo de pessoas é tratada injustamente e de forma desigual na base de seus atributos ou por ser vista como pertencente a um determinado grupo. As pessoas estigmatizadas são, em geral, discriminadas na lei, por políticas estabelecidas e em relacionamentos sociais. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã Embora, em muitas circunstâncias, as crianças órfãs e vulneráveis recebam apoio da mesma forma que as outras crianças, existem situações onde as que têm o status HIV/SIDA ou que perderam um ou ambos os pais com esse problema são estigmatizadas e sofrem discriminação. As pessoas com HIV ou afectadas pelo vírus são estigmatizadas porque o HIV/SIDA é associado com assuntos rodeados de tabus, como sexo, morte e sangue, assim como com comportamentos como promiscuidade, prostituição, uso de drogas e homossexualidade. O estigma e a discriminação geralmente são resultado do medo e da ignorância (HIV/SIDA, por exemplo, muitas vezes é associado à feitiçaria e maldição na família). O estigma e a discriminação podem afectar crianças com ou sem HIV. As crianças que não estão infectadas podem ser estigmatizadas porque um dos pais morreu de SIDA ou é HIV positivo. O estigma e a discriminação ‘secundários’ exerceram um papel importante na criação e reforço do isolamento social que atinge os afectados pelo problema, incluindo as crianças. O estigma e a discriminação são caracterizados pela rejeição, hostilidade, isolamento e violação dos direitos das pessoas (por exemplo, à assistência médica, educação e emprego) e por aumentar o impacto da epidemia nas crianças. Muitas vezes as crianças têm de lidar com situações difíceis, como ouvir que os seus pais estão doentes e a morrer; outras vezes são insultadas e zombadas por vizinhos. Os membros da comunidade que temem que órfãos sejam HIV positivos ou acham que suas famílias envergonham a comunidade, geralmente discriminam e negam assistência social, económica, emocional e educacional a essas crianças. Em geral, as crianças órfãs e vulneráveis e aqueles que cuidam delas não têm conhecimento dos seus direitos e das leis que visam protegê-las contra a discriminação. Muitas delas não têm quem as defenda e não têm acesso a aconselhamento jurídico. Em muitas sociedades a ênfase maior reside nas responsabilidades que 03 INCLUSÃO SOCIAL Introdução essas crianças têm (por exemplo, de ajudar os pais com as tarefas domésticas, nas machambas e no cuidado dos irmãos) e não nos seus direitos. O HIV/SIDA também cria exclusão social e enfatiza o estigma que aflige as crianças já marginalizadas, incluindo os filhos de prostitutas e as crianças de rua, refugiadas, prisioneiras e que usam drogas. As crianças órfãs, vulneráveis e excluídas socialmente correm um risco maior de infecção pelo HIV devido à falta de informação e apoio emocional, impotência e vulnerabilidade, e exploração e abuso sexual. 04 INCLUSÃO SOCIAL Assuntos 1 COMO O ESTIGMA E A DISCRIMINAÇÃO RELACIONADOS AO HIV/SIDA AFECTAM AS CRIANÇAS As crianças órfãs e vulneráveis são estigmatizadas e discriminadas em diferentes situações e de diversas maneiras. • EDUCAÇÃO Na escola, o estigma e a discriminação podem se manifestar da seguinte forma: - Exclusão directa da escola quando os professores ou os pais dos outros alunos não permitem que essas crianças frequentem as aulas. - Falta às aulas para evitar a rejeição e o desacato por parte dos colegas pelo facto de não terem pais. “Na escola, as outras crianças riem-se de nós porque não temos sapatos... elas não querem brincar connosco.” Num dos bairros de Maputo, em Moçambique, a filha de um membro de uma associação de pessoas que vivem com HIV/AIDS ficou completamente isolada na escola e vizinhança porque as outras crianças recusaram-se a brincar e conversar com ela após um dos moradores do bairro ter divulgado que sua mãe era HIV/AIDS positiva. A família teve que mudar de bairro. Agora a criança sente muito medo que os seus novos amigos venham a saber que a mãe é HIV positiva e que a rejeitem também. • SERVIÇOS DE SAÚDE O estigma e a discriminação por parte dos serviços de saúde podem se manifestar da seguinte forma: - Falta de acesso à assistência médica pelo facto dos assistentes de saúde se recusarem a fazer o tratamento. - Atitudes negativas ou moralistas por parte dos trabalhadores de saúde, o que pode contribuir para que as crianças e os seus provedores de cuidados ou educadores sociais passem a não utilizar esses serviços. - Isolamento e separação de outros pacientes. - Falta de respeito em relação ao aspecto confidencial do estado de HIV positivo. - Assistência de qualidade inferior devido ao medo de transmissão do HIV. Um órfão provavelmente não recebe o mesmo cuidado e atenção que outras crianças 05 INCLUSÃO SOCIAL Assuntos • LAR E FAMÍLIA No lar, o estigma e a discriminação podem se manifestar da seguinte forma: - Rejeição por parte de parentes e tutores. - Discriminação por parte de parentes paternos, caso a mãe tenha sido considerada culpada pela morte do pai. - Negligência, inclusive no menor acesso à comida ou oportunidade de se matricular na escola em relação às outras crianças da mesma família. - Abuso verbal, físico ou sexual. Familiares podem tomar os bens das crianças quando os pais morrem “Quando me batem, eu penso que se os meus pais ainda estivessem aqui as coisas seriam diferentes. Quando sou maltratado pela minha madrasta, eu sempre sinto que preferia morrer.” Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã • COMUNIDADE E SOCIEDADE O estigma e a discriminação por parte da comunidade podem se manifestar da seguinte forma: - Rejeição por parte de amigos e outras crianças. Falta de assistência devido ao medo de contrair o HIV. Isolamento social. Exclusão de cerimónias tradicionais, festivais e acontecimentos comunitários. - Exclusão no acesso à formação profissional e apoio económico. “Desde a morte dos meus pais, eu sou tratado como escravo. Acordo cedo para fazer as tarefas domésticas, enquanto os filhos da minha tia estão a dormir. Não tenho tempo para estudar.” “Desde que o meu pai morreu, os vizinhos me tratam mal. Eles não deixam que eu me aproxime na hora das refeições.” Uma criança afectada por HIV. UNAIDS (2001) “Os vizinhos não nos querem por perto ... porque somos identificados como as crianças cujos pais morreram de HIV/SIDA e existe um boato de que também estamos infectados com o vírus. As pessoas falam a nosso respeito de maneira negativa e nós sentimonos envergonhados.” Uma criança afectada por HIV. UNAIDS (2001) Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã O impacto do estigma e da discriminação nas crianças inclui: - Dificuldades psicológicas e emocionais: medo, vergonha e rejeição acrescidos à dificuldade psicológica e emocional da criança já traumatizada pela doença ou morte de um dos pais. - Isolamento social: as crianças, com medo de serem estigmatizadas ou que passaram por discriminação, podem afastar-se dos amigos e vizinhos, e evitar a escola e o serviço de saúde antes e depois da morte de um dos pais. Em casos extremos, as crianças podem até cometer o suicídio. 06 INCLUSÃO SOCIAL Assuntos Durante a avaliação do projecto Famílias, Órfãos e Crianças sob Tensão (Orphans and Children Under Stress – FOCUS), no Zimbabwe, muitas crianças órfãs e vulneráveis disseram que podiam identificar-se com um garoto de uma fotografia que se mostrava triste e isolado, ignorado pelas outras crianças e adultos. 2 COMO O HIV/SIDA INTERAGE NA EXCLUSÃO SOCIAL DAS CRIANÇAS O estigma e a discriminação associados ao HIV/SIDA podem contribuir para a exclusão social das crianças da seguinte forma: • Fuga das crianças para as grandes cidades com o objectivo de escapar de circunstâncias domésticas infelizes, negligência e abuso, preferindo passar a viver nas ruas, sem família e assistência social. • As crianças com problemas emocionais e psicológicos recorrem às drogas e ao álcool para esquecer a dor. • As crianças que não frequentam a escola têm menos oportunidades de encontrar emprego e podem, por isso, acabar envolvidas em crimes ou prostituição. • Os filhos de prostitutas são marginalizados socialmente porque as pessoas culpam as prostitutas pelo alastramento do HIV. Lee, T (1999) Numa área urbana de Burundi, os lares afectados pelo HIV/SIDA não têm acesso ao crédito. Save the Children UK (2001) GÉNERO E VULNERABILIDADE EM RELAÇÃO AO HIV: • As raparigas são mais susceptíveis ao isolamento social e à marginalização por serem responsáveis pelos cuidados dos irmãos menores e pelas tarefas domésticas. • As raparigas são forçadas ou recorrem à prostituição por motivos económicos. • As raparigas e as famílias chefiadas por mulheres têm maior probabilidade de serem carentes. • As raparigas têm maior probabilidade de serem mandadas trabalhar como empregadas domésticas. • As raparigas têm menos oportunidades de frequentar a escola. Estima-se que dois terços das crianças que não estão matriculadas no ensino primário são raparigas. • As raparigas têm maior tendência de desistir da escola devido a suas responsabilidades domésticas ou devido à gravidez prematura. Na África do Sul, por exemplo, uma em oito raparigas é obrigada a desistir da sua educação devido à gravidez. • As raparigas que não frequentam a escola têm menos oportunidades de emprego e menor probabilidade de obter o conhecimento e as habilidades necessários para protegerem-se contra a infecção do HIV. • As raparigas sofrem maior risco de abuso e exploração sexual. Nos casos de estupro por padrastos, parceiros da mãe ou empregadores, as raparigas são frequentemente consideradas culpadas ou permanecem em silêncio por medo de retaliação ou perda de assistência económica da família. 07 INCLUSÃO SOCIAL Assuntos • As raparigas podem ver-se forçadas a um casamento precoce, para poderem sustentar-se a si e a seus irmãos. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã 3 PORQUE AS CRIANÇAS ÓRFÃS E AFECTADAS PODEM SER MAIS VULNERÁVEIS À INFECÇÃO DE HIV Em geral, as crianças órfãs, vulneráveis e excluídas socialmente são mais vulneráveis à infecção pelos seguintes motivos: • As crianças que vivem sob condições económicas difíceis podem ser forçadas a um comportamento sexual arriscado para sobreviver. As raparigas que têm que se auto-sustentar e aos seus irmãos mais novos podem sentir-se pressionadas a trocar sexo por ajuda financeira. • As crianças podem ser mandadas trabalhar fora, onde se tornam vulneráveis ao abuso sexual por parte de empregadores ou à exploração sexual através da prostituição. • As crianças que não têm a orientação e o apoio dos pais e são emocionalmente vulneráveis envolvem-se em relações sexuais arriscadas para responder às suas necessidades emocionais. Na África, ao sul do Saara, o ILO calcula que 41% das crianças entre 5 e 14 anos de idade estão a trabalhar na agricultura comercial e de subsistência, mas também como vendedores ambulantes, empregadas domésticas, na prostituição e no exército. Muitas das crianças que são mandadas a trabalhar fora de casa são abusadas sexual e fisicamente, estão isoladas de suas famílias e têm pouco tempo livre. • As crianças que vivem na rua ou abandonadas tornam-se sexualmente activas mais cedo para além de serem mais vulneráveis ao estupro e à exploração sexual. • As crianças que abusam das drogas e do álcool apresentam maior probabilidade de se envolver em sexo arriscado. • As crianças excluídas socialmente muitas vezes não têm acesso à informação sobre o modo de transmissão do HIV, nem como poderiam se proteger contra esse vírus. Elas também não têm acesso a preservativos e a serviços de saúde. Em Uganda, um estudo feito pelo SCF observou que algumas crianças tornamse sexualmente activas aos 10 anos de idade e que raparigas adolescentes fornecem favores sexuais para homens mais velhos em troca de apoio financeiro e material. • As crianças e adolescentes mais jovens têm menor probabilidade de usar preservativos ou de ser capaz de negociar o uso dos mesmos. As raparigas normalmente têm que cuidar das tarefas domésticas Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã 08 INCLUSÃO SOCIAL Princípios Os princípios chaves para orientar programas que visam superar a exclusão social, o estigma e a discriminação e que têm o objectivo de reduzir a vulnerabilidade infantil ao HIV incluem: Os líderes tradicionais têm um papel importante 1 Ajudar crianças e provedores de cuidados ou assistentes sociais a lidar com o estigma e a discriminação – as acções que visam reduzir o estigma e a discriminação precisam ser complementadas por acções para desenvolver a capacidade dos afectados a desafiar esses problemas. 2 Possibilitar que as crianças se protejam da infecção do HIV – fornecer informações, habilidades e maneiras para que as crianças se protejam. As intervenções que envolvam crianças precisam ser complementadas por esforços para promover um ambiente que incentive o comportamento sexual mais seguro e desencoraje as práticas que colocam as crianças sob risco. 3 Usar uma abordagem em vários sectores para atender às necessidades das crianças excluídas socialmente – é necessária uma série ampla de medidas para melhorar a segurança, a saúde e a assistência social das crianças excluídas socialmente (por exemplo, das crianças de rua e dos filhos de prostitutas). São necessárias abordagens inovadoras para que seja possível atingir essas crianças, visto que elas não só estão isoladas da comunidade mais abrangente, mas são frequentemente perseguidas de forma activa. OS DIREITOS DA CRIANÇA E A EXCLUSÃO SOCIAL, O ESTIGMA E A DISCRIMINAÇÃO • As crianças não devem sofrer discriminação durante o seu período de lazer, desporto, recreação e actividades culturais ou devido ao status de HIV positivo de membros de sua família ou delas mesmas. • As crianças devem ter acesso à informação e à educação preventiva sobre o HIV/SIDA, dentro e fora da escola. • Deve-se respeitar os direitos da criança de manter o aspecto confidencial e privado do seu status de HIV positivo. • Deve-se proteger as crianças do tráfico de drogas, da prostituição forçada, da exploração sexual, do abuso sexual, do uso de drogas intravenosas e de práticas tradicionais prejudiciais que as coloquem em risco de adquirir HIV/SIDA. UN Convention on the Rights of the Child 09 INCLUSÃO SOCIAL Estratégias Na África do Sul, o painel de intervenção da criança, CINDI, actua legalmente em nome das crianças e de provedores de cuidados ou assistentes sociais sempre que ocorre alguma falta de pagamento de cuidados de acolhimento e bolsas de estudos, além de certificar-se que as crianças tenham acesso à educação e assistência médica. Também na África do Sul, os comités comunitários de cuidados infantis fazem reclamações sobre clínicas que discriminam ao tratar de crianças infectadas e afectadas. ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR O ESTIGMA E A DISCRIMINAÇÃO 1 CRIAR UMA ESTRUTURA JURÍDICA DE APOIO Princípio no qual essa estratégia baseia-se: Promover uma estrutura jurídica de apoio – advogar leis e políticas que apoiem os direitos infantis e que tornem a discriminação ilegal; garantir que as comunidades tomem consciência disso. Acções para atingir os objectivos propostos: • Identificar a extensão, as situações em que ocorrem e de que maneira as crianças e os adultos são estigmatizados e discriminados, com o objectivo de determinar quais as leis e as políticas necessárias para lidar com esses problemas. • Rever políticas nacionais já existentes para avaliar se elas protegem os direitos da criança de: participar na educação; obter serviços de saúde, assistência e cuidados; receber herança; libertar-se do estigma e da discriminação. Também é importante para a criança ter garantia de protecção dos direitos de seus pais com HIV/SIDA a, por exemplo, obter emprego, assistência médica e benefícios. • Advogar, quando necessário, por leis que protejam as crianças órfãs e vulneráveis contra a discriminação e pela protecção de seus direitos junto a governos, organizações religiosas, ONGs, OBCs, mídia, organizações relacionadas a assistência social de menores, grupos de mulheres, jovens e pessoas vivendo com HIV/SIDA (PVHS). • Garantir que a legislação seja cumprida, por exemplo, através de casos teste levados ao tribunal. No entanto, é necessário garantir o anonimato e o aspecto confidencial da identidade de crianças e provedores de cuidados ou assistentes sociais para impedir o estigma e a discriminação. 2 PROMOVER ATITUDES MAIS POSITIVAS Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã Princípio no qual essa estratégia baseia-se: 10 Promover um ambiente comunitário de apoio – garantir que as comunidades tenham conhecimento básico sobre o HIV/SIDA e como ocorre a transmissão do vírus com o objectivo de reduzir o medo e a ignorância que contribuem para o estigma e a discriminação. Promover atitudes comunitárias mais positivas em relação a crianças e adultos com HIV, e crianças afectadas pela SIDA, influenciando professores, trabalhadores de saúde, líderes comunitários e religiosos. Os membros influentes da comunidade exercem um papel importante na não aceitação social do estigma e da discriminação. INCLUSÃO SOCIAL Estratégias A Comissão de Leis da África do Sul (South African Law Commission) desenvolveu um Estudo Consultivo, o qual estabeleceu os seguintes princípios de orientação para as escolas: • As crianças com HIV/SIDA não devem ser injustamente discriminadas; quaisquer medidas especiais a serem tomadas devem ser legítimas e justificadas através de factos médicos e condições escolares, além dos estarem de acordo com os interesses do próprio aluno e dos outros alunos. • Nenhuma admissão ou frequência de aluno na escola deve ser proibida devido ao seu status de HIV. • É proibido o requerimento de testes de HIV no ato de matrícula ou para permitir a frequência nas aulas. • O status de HIV de um aluno é confidencial e não pode ser revelado sem o consentimento desse aluno ou de um dos pais ou tutor; não é necessário que essa informação seja revelada às autoridades escolares. • Todas as escolas devem implementar acções gerais com vista a eliminar do ambiente escolar o risco de transmissão de elementos patogénicos pertencentes ao sangue, incluindo o HIV. • Embora seja considerado não significativo, todas as escolas devem tomar medidas para evitar o risco de infecção de HIV durante as brincadeiras e na prática de desporto. Isto inclui práticas preventivas universais, para além da proibição de alunos com ferimentos abertos, feridas, rupturas da pele ou lesões abertas de participar nos desportos de contacto. Acções para atingir os objectivos propostos: • Garantir que adultos e crianças conheçam os assuntos básicos sobre o HIV/SIDA e entendam que o HIV não é transmitido pela interacção diária normal (por exemplo, ao compartilhar uma refeição). • Incentivar relatos mais positivos na mídia e a formação de jornalistas a fim de garantir o relato sensível e exacto do impacto do HIV/SIDA sobre as crianças. • Convidar pessoas de organizações de PVHS para falar na comunidade, nas escolas e para os trabalhadores de saúde. • Incentivar personalidades desportivas, líderes políticos, músicos e outras figuras públicas a promover atitudes de apoio em relação a famílias e crianças afectadas. • Sensibilizar líderes comunitários e religiosos do impacto do estigma e da discriminação sobre as crianças infectadas e afectadas, e promover a assistência às crianças órfãs e vulneráveis. • Sensibilizar professores do impacto do estigma e da discriminação sobre as crianças, promover a consciencialização da importância da aceitação de crianças infectadas e afectadas nas escolas, e informar professores sobre estratégias práticas para trabalhar com o estigma e a discriminação na sala de aula. • Apoiar intervenções nas escolas com o objectivo de promover a tolerância e a assistência a indivíduos com HIV/SIDA através de professores ou trabalhadores de saúde. • Sensibilizar trabalhadores de saúde do impacto do estigma e da discriminação sobre as crianças, e dar instruções relativas a abordagens não discriminatórias de assistência e tratamento, inclusive a prática de acções preventivas universais para evitar a transmissão ocupacional. Em Caritas de Angola, as Irmãs do Santíssimo Salvador passam exemplos de tolerância e compaixão às comunidades. Elas compartilham refeições com PVHS, recebem crianças órfãs e procuram famílias de acolhimento dispostas a cuidar delas. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã South African Law Commission (1998) 11 INCLUSÃO SOCIAL Estratégias No Zimbabwe, algumas organizações estão a incentivar membros influentes da comunidade a envolverem-se na ajuda de famílias afectadas. Isto incentiva outros a fornecer apoio, além de reduzir o estigma e a rejeição. 3 INCENTIVAR A ACÇÃO COMUNITÁRIA Princípio no qual essa estratégia baseia-se: Apoiar as comunidades a encontrar soluções – trabalhar com as comunidades para identificar maneiras de integrar as crianças órfãs e vulneráveis na vida comunitária, e reduzir o estigma e a discriminação. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã Acções para atingir os objectivos propostos: No Zimbabwe, uma certa família (na qual a irmã mais velha cuidava de vários irmãos mais novos) havia sido ignorada até que líderes comunitários envolveram-se para reparar a casa onde moravam. Actualmente essa família recebe assistência dos vizinhos. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã • Dividir informações sobre o estigma e a discriminação sofridos por crianças. • Promover a conscientização comunitária sobre os direitos da criança e sobre a legislação não discriminatória. • Facilitar discussões comunitárias sobre os direitos da criança estabelecidos a partir das estruturas culturais tradicionais e incentivar líderes comunitários a responsabilizarem-se pela observação desses direitos. • Trabalhar com os membros comunitários mais velhos e líderes religiosos para garantir que as crianças sejam incluídas em todas as actividades, rituais tradicionais de passagem e cerimónias religiosas da comunidade. • Incentivar líderes comunitários e religiosos a promover a aceitação e o cuidado das crianças infectadas e afectadas. • Estabelecer um programa informal de visitas da comunidade com o objectivo de proporcionar apoio moral e contacto social regular às crianças e seus provedores de cuidados ou assistentes sociais. • Identificar na comunidade, voluntários para advogar pelas crianças e certificar-se de que elas não estejam sujeitas à discriminação nas escolas, nos serviços de saúde ou em outras instituições. • Criar clubes infantis para oferecer assistência e oportunidades constantes de interacção social. As crianças precisam de apoio emocional 12 INCLUSÃO SOCIAL Estratégias No Zimbabwe, em áreas urbanas e rurais, existem mais de 100 grupos comunitários que trabalham para ajudar as crianças afectadas pela SIDA. Os trabalhos que fornecem assistência à toda a comunidade enfocam todo tipo de órfão, não só aqueles resultantes da SIDA. Mulheres voluntárias fornecem apoio emocional e espiritual, além de advogarem em nome de crianças e famílias junto a igrejas, clínicas, escolas, curandeiros e aos departamentos de assistência social local. 4 Princípio no qual essa estratégia baseia-se: Direccionar assistência a todas as famílias e crianças carentes e vulneráveis – em áreas onde a maioria das famílias é carente oferecer assistência somente às crianças afectadas pelo HIV/SIDA pode causar ressentimento e aumentar o estigma do qual elas são alvo. Acções para atingir os objectivos propostos: • Ajudar provedores de cuidados ou assistentes sociais a desenvolver habilidades para lidar com o estigma e a discriminação, e apoiar as crianças que têm de enfrentar esses problemas. • Estabelecer grupos de apoio para provedores de cuidados e crianças, de forma que possam compartilhar suas experiências e problemas e fornecer apoio uns aos outros. • Certificar-se de que as crianças estejam cientes de seus direitos através, por exemplo, da criação e distribuição de cartões ou folhetos simples, do estabelecimento de sessões especiais nas escolas, de organizações de jovens, de acontecimentos desportivos, de programas de rádio, da criação de canções populares e de dramatizações. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã No Zimbabwe, o programa FOST (Farm Orphan Support Trust) criou clubes que são frequentados por todo tipo de criança para integrar órfãos e não órfãos e desencorajar o estigma. Ainda no Zimbabwe, alguns grupos comunitários criaram actividades de consciencialização sobre a SIDA endereçadas às crianças órfãs e vulneráveis, as quais envolvem alunos de grupos anti-SIDA. Essa iniciativa visa ajudar a criar ligações entre as crianças que frequentam e que não frequentam a escola. CAPACITAR CRIANÇAS E PROVEDORES DE CUIDADOS OU ASSISTENTES SOCIAIS UNAIDS (2001) As habilidades práticas chaves relativas ao HIV/SIDA incluem: • Como tomar decisões sobre relacionamentos e sexo, e lutar por elas. • Como lidar contra as pressões relativas a sexo, álcool ou drogas não desejados. • Como e onde pedir ajuda e assistência. • Como negociar o sexo protegido. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã Crianças promovendo seus direitos na radio • Sensibilizar raparigas sobre os riscos do abuso sexual, como lidar com situações potencialmente exploradoras e o que fazer caso sejam abusadas. • Fornecer assistência e serviços jurídicos para crianças, viúvas e avós, com o objectivo de aconselhá-las sobre o que é legal e ajudá-las a obter o que lhes é de direito. 13 INCLUSÃO SOCIAL Estratégias • Fornecer serviços de aconselhamento terapêutico para ajudar as crianças a lidar com o estigma e a discriminação. • Integrar o aconselhamento terapêutico e o apoio a programas já existentes de cuidados domiciliares que vão até o necessitado. ESTRATÉGIAS PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES DAS CRIANÇAS SOCIALMENTE EXCLUÍDAS PROGRAMAS EFECTIVOS DE ENSINO SOBRE A PREVENÇÃO DO HIV • Ter objectivos claros sobre adiar a primeira relação sexual e sobre a relação sexual protegida. • Enfatizar a fidelidade nas famílias. • Incentivar a aprendizagem de habilidades práticas. • Discutir claramente sobre as consequências do sexo sem protecção e as formas de evitá-lo. • Auxiliar jovens a personalizar seus riscos através de métodos activos de aprendizagem, tais como dramatizações e discussões em grupos pequenos. • Reforçar valores comunitários contra comportamentos de risco na escola e na comunidade. • Enfatizar os aspectos positivos do sexo e minimizar o medo. • Fornecer informação franca. • Dar acesso a serviços e a preservativos. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã Na África do Sul, os comités comunitários de cuidados da criança relatam os casos de abuso infantil à polícia. 1 REDUZIR A VULNERABILIDADE À INFECÇÃO PELO HIV • Fornecer serviços de planeamento familiar e relativo a doenças transmitidas sexualmente que sejam: acessíveis aos jovens; incluam instrução e sensibilização de trabalhadores de saúde e funcionários; ofereçam horários flexíveis de atendimento ou sessões especiais para crianças e adolescentes; recrutem e instruam jovens para actuar como intermediários entre clientes e trabalhadores de saúde. • Promover ligações entre escolas e clínicas para o fornecimento de serviços de saúde a crianças e adolescentes mais jovens. • Identificar abordagens inovadoras que garantam o acesso confidencial e seguro para a obtenção de preservativos. • Identificar e instruir educadores e conselheiros. • Desenvolver intervenções adequadas para: melhorar o conhecimento e a consciencialização; trabalhar a auto-estima e a confiança; desenvolver habilidades de comunicação, negociação e tomada de decisão. • Apoiar a prevenção do HIV nas escolas, inclusive a formação de professores e educadores que garantam o ensino de habilidades práticas e de saúde sexual, e integrar o ensino de prevenção do HIV no currículo escolar. Seleccionar educadores de forma cuidadosa, visto que alguns professores do sexo masculino são responsáveis pela perseguição sexual e abuso de raparigas nas escolas. • Aumentar a consciencialização sobre o abuso sexual de crianças e trabalhar junto aos responsáveis pelas políticas, autoridades educacionais, pais, líderes comunitários e religiosos para proteger as crianças contra o abuso e a exploração sexuais; inclusive garantir que os casos ocorridos sejam relatados à polícia e acompanhados, além de introduzir medidas que lidem com o abuso sexual por parte dos professores. • Promover a colaboração entre as organizações que trabalham com as crianças órfãs e vulneráveis, e aquelas que trabalham com vista a eliminar o abuso e a exploração sexuais. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã 14 INCLUSÃO SOCIAL Estratégias Em Gana, a Acção Católica para Crianças de Rua (Catholic Action for Street Children) fundou postos de saúde ‘de rua’, além de estar a planear postos de alfabetização e creches desse mesmo tipo para bebés de raparigas que não têm onde morar. • Dar apoio às raparigas vítimas de abuso sexual, por exemplo, através da criação de tribunais acessíveis às vítimas; dar aconselhamento terapêutico e apoio para que elas restabeleçam a sua auto-estima. • Mobilizar comunidades a desafiar estereótipos atribuídos aos sexos e práticas que negam às raparigas os seus direitos básicos; criar um ambiente onde o abuso não seja tolerado. • Discutir normas sociais e mitos que aumentam o risco de infecção pelo HIV nas crianças através de métodos como a dramatização e o teatro. 2 ATENDER ÀS NECESSIDADES EDUCACIONAIS, PSICOLÓGICAS E EMOCIONAIS • Incentivar escolas e comunidades a trabalhar juntas para identificar crianças que não estejam a frequentar a escola e encontrar mecanismos que possibilitem a sua frequência. • Criar formas alternativas de ensino formal, com horários flexíveis e convenientes para as crianças órfãs ou de rua. • Explorar mecanismos de recuperação para crianças que faltam às aulas ou que só podem frequentar a escola irregularmente. • Incentivar empregadores de crianças a permitir que elas possam frequentar a escola ou estudar num determinado período e advogar junto às pessoas responsáveis pelas políticas que garantam que os direitos à educação das crianças que trabalham sejam promovidos e cumpridos. • Alterar leis e práticas que excluam da escola as raparigas que ficam grávidas. • Garantir um ambiente seguro para as crianças excluídas socialmente, principalmente as crianças de rua, para que possam brincar e ser elas mesmas. • Identificar a formação profissional adequada à situação das crianças excluídas socialmente. • Trabalhar junto a comerciantes e artesãos locais para criar programas de aprendizagem. • Criar programas de poupança e empréstimo que garantam às crianças excluídas socialmente a possibilidade de iniciar seus próprios negócios. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã Em Uganda, a organização Amigos das Crianças (Friends of Children) está a fornecer instrução para crianças de rua em carpintaria, soldagem, trabalho de alfaiate, consertos de rádio, montagem e reparo de bicicletas. Membro do Grupo de Desenvolvimento As Crianças do Amanhã 15 INCLUSÃO SOCIAL Referências Bibliográficas Lee, T. (1999) FOCUS Evaluation Report. Report of a Participatory Self-Evaluation of the FACT Families Orphans Children Under Stress (FOCUS) Programme, FACT. Save the Children UK (2001) The Impact of HIV/AIDS on Poor Urban Livelihoods in Gitega Town, Burundi. South African Law Commission (1998) Project 85 Third Interim Report on Aspects of the Law Relating to HIV/AIDS and Discrimination in Schools. UNAIDS (2001) Investing in Our Future: Psychosocial Support for Children Affected by HIV/AIDS – Um Estudo de Caso no Zimbabwe e República Unida de Tanzânia. Disponível através de: www.unaids.org/publications/documents/children/children/JC606InvFuture-E.pdf UN Convention on the Rights of the Child. Disponível através de: www.unicef.org/crc.htm 16 INCLUSÃO SOCIAL Recursos Úteis AIDS Law Project, University of Witwatersrand, PB 3, Witwatersrand 2050, South Africa. Alidri, P. (2001) ‘Community and home-based care practices for HIV/AIDS infected and affected children in Uganda: what is the quality like?’ Save the Children UK, Uganda, Apresentação na XII Conferência Internacional sobre DTS/SIDA na África. Association Francois-Xavier Bagnoud (2000) Orphan Alert: International Perspectives on Children Left Behind by HIV/AIDS. Barrett-Grant, K. and Strode, A. (2001) ‘The role of stigma and discrimination in increasing the vulnerability of children and youth with and affected by HIV/AIDS – Research report’, Save the Children UK South Africa Programme. Child Rights Information Network. www.crin.org Children and AIDS International Network (1998) Children Living in a World with AIDS: Guidelines for Children’s Participation in HIV/AIDS Programmes. Donahue, J. and De Lay, B. (1999) HIV/AIDS Alliance and IPC Proposal Assessment: Assisting Orphans and Vulnerable Children in Burkina Faso, Displaced Children and Orphan’s Fund, USAID. Grainger, C.; Webb, D. and Elliott, L. Children Affected by HIV/AIDS: Rights and responsibilities in the developing world. Save The Children UK. Inclui exemplos de práticas funcionais, colectadas a partir da experiência de programas e possíveis maneiras de integração da estrutura de direitos da criança na programação do HIV/SIDA. Disponível através de pedido de encomenda pelo correio: www.savethechildren.org.uk/functions/indx_pubs.html Makerere University (2001) Making a Difference for Children Affected by AIDS: Baseline Findings from Operations Research in Uganda, Horizons Programme. O website The Child-to-Child Trust tem muitos recursos úteis sobre a participação de crianças na promoção de saúde: www.child-to-child.org Overview of Vulnerable Children in Zimbabwe – a incluir vulnerabilidade ao abuso e à exploração sexuais, além de apresentar recomendações para necessidades futuras e como lidar com o impacto em comunidades afectadas. Save the Children UK. 17 INCLUSÃO SOCIAL Recursos Úteis Save the Children (2002) Children Living with HIV/AIDS in South Africa – A rapid appraisal. Visão geral sobre a experiência e os modelos seleccionados de cuidado e assistência, além de apresentar recomendações para a actuação governamental e civil. UNAIDS (1999) Best Practice Case Study: Reducing Girls’ Vulnerability to HIV/AIDS. The Thai Approach. Disponível através de: www.unaids.org/publications/documents/children/young/ reducingcse.pdf UNICEF (2001) Child Workers in the Shadow of AIDS – Ethiopia, Kenya, Mozambique, Lesotho, Tanzania, Uganda. Webb, D. and Elliott, L. (2001) Working Paper 23: Children Affected by HIV/AIDS Rights and Responses in the Developing World, Save the Children UK. Inclui exemplos de boas práticas retirados da experiência de programas e possíveis maneiras de integrar um sistema de direitos das crianças no programa de HIV/SIDA. Welbourn, A. (1995) Stepping Stones: A Training Package in HIV/AIDS, Communication and Relationship Skills, Action Aid. Disponível através de: TALC, PO Box 49, St Albans, AL1 5TX, Reino Unido. 18 INCLUSÃO SOCIAL Observações 19 INCLUSÃO SOCIAL Observações 20 INCLUSÃO SOCIAL Observações Disponível também em: • Inglês • Francês Para receber cópias, envie um e-mail para: [email protected], ou escreva para: International HIV/AIDS Alliance Queensberry House 104-106 Queens Road Brighton BN1 3XF United Kingdom Tel: +44 1273 718900 Fax: +44 1273 718901 E-mail: Websites: [email protected] www.aidsalliance.org www.aidsmap.com Organização de caridade britânica registrada sob o número 1038860 Projectado e produzido por Progression www.progressiondesign.co.uk Publicado: junho de 2003 BBP6 06/03 Fabricado com papel 100% reciclado
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