ALBERTOA 30 final.indd

Série Urticineae (Urticales)
setembro de 2007
Nº 30
FICUS (MORACEAE): CARACTERES DE IMPORTÂNCIA
TAXONÔMICA E GUIA PARA COLETA
Anderson F. P. Machado1,4 , Marcelo D. M. Vianna Filho1,
Tatiana T. Carrijo 1,2 e Otilene dos A. Santos3
1. Museu Nacional/UFRJ, Departamento de Botânica. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão 20940-040,
Rio de Janeiro, RJ. 2. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão
915, Jardim Botânico, 22460-030, Rio de Janeiro, RJ. 3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/
INPA. Departamento de Botânica, Av. André Araújo, 2936, Petrópolis, Manaus/AM. 4. Autor para
correspondência: [email protected]
Resumo: Muitas espécies de Ficus L. têm sido agrupadas em “complexos”, devido
à falta de caracteres diagnósticos, observáveis apenas em material vivo e ausentes
na maioria dos materiais de herbário. Este trabalho apresenta a metodologia
para preparação de exsicatas do gênero Ficus e fornece uma lista de caracteres
importantes a serem registrados no momento da coleta, como: forma da copa,
aspectos do caule, presença/ausência de tricomas em determinadas estruturas; cor
e fase de desenvolvimento do sicônio. Cada exsicata deve conter pelo menos uma
folha desenvolvida, os sicônios e a estípula terminal.
Palavras-chave: Ficus, figueiras, coleções, Urticales, Moraceae.
Abstract – Ficus (Moraceae): A guide to collecting and characters of taxonomic
relevance. The herbarium specimens of the genus Ficus L. have often been grouped
into “complexes”, by the lack of diagnostic characters, only visible in living material.
This work presents suitable methods of collecting and preserving vouchers of Ficus
specimens and provide a list of important diagnostic characters only visible in fresh
material to be annotated in field, which are: crown-shape, bark appearance, color
222
Albertoa.
Série Urticineae 30
of young and adult leaves, presence/absence of trichomes on specific structures;
color and phase of development of the syconium. Each mounted voucher specimen
should have an adult leaf, the syconia and the stipule.
Keywords: Ficus, fig trees, collections, Urticales, Moraceae.
Ficus L., maior gênero de Moraceae, abrange cerca de 60 espécies descritas
para o Brasil (Carauta, 1989). Para determinação de suas espécies são necessárias
informações de campo, freqüentemente omitidas no ato da coleta. Apresenta-se uma
sugestão de procedimento para coleta e herborização de Ficus e caracteres a serem
observados em campo e informados nas etiquetas de coleta (Tab.1).
Antes do processo de herborização aconselha-se adicionar álcool etílico a
70% aos ramos, deixando-os pernoitar dentro de um saco plástico, o que evitará a
queda das folhas e inflorescências na secagem. Para análises moleculares, separar
algumas folhas não tratadas com álcool e colocá-las em um saco plástico hermético
com sílica-gel.
Tabela 1. Estruturas e caracteres de importância taxonômica
1. Tamanho do tronco em relação à copa(verificar a presença de raízes
adventícias);
2. Diferenças entre folhas, tais como de tamanho, pilosidade e coloração;
3. Tonalidade e persistência das estípulas terminais;
4. Coloração do látex (branco leitoso, transparente, amarelo ou verde claro) e
textura do mesmo (aquosa, viscosa); coagulação e a variação destes
caracteres no decorrer da coleta;
5. Porção exterior do sicônio, registrando a presença/ausência de máculas;
6. Verificar com a lupa de mão o interior do sicônio e identificar a fase de
desenvolvimento do mesmo (fases A-E), segundo a tabela 2, e anotar a
coloração das flores;
7. Presença ou não de vespas polinizadoras no interior do sicônio. Se os
insetos estiverem emergindo das galhas é desejável coletá-los e
preservá-los em etanol 70%;
8. Para análise molecular das vespas, deve-se preservá-las em etanol a
96% - 100%, sob refrigeração (-20ºC de preferência).
2007
223
Tabela 2. Fases de desenvolvimento dos sicônios, adaptado de Galil e
Eisikowitch (1968) e Verveke (1989).
Fase
Denominação
Observações
Duração
aproximada
A
Botão floral
Não é possível distimguir nenhuma
estrutura desenvolvida.
B
Fase feminina
(estigmas
receptivos).
Na maioria das espécies forma-se uma
cavidade onde as flores pistiladas
apresentam os estigmas na mesma altura
e coloração esbranquiçada. Fase adequada
para caracterização morfológica das
flores pistiladas.
C
Fase interfloral
Cavidade do figo completamente ou
parcialmente preenchida por sementes e
galhas de vespas em desenvolvimento.
Esta fase é a mais recomendada para
coleta de ramos para herborização, pois os
sicônios estão bem desenvolvidos e não
variam muito de tamanho.
30
dias
D
Fase masculina
Os ovários galhados das flores pistiladas
próximas à cavidade apresentam
coloração mais escura e a prole de vespas
começa a emergir. As flores estaminadas
amadurecem e liberam pólen. Fase
adequada para caracterização morfológica
das flores estaminadas.
3-7
dias
E
Fruto
Sicônio com textura macia e suculento,
após a liberação da prole de vespas. O
sicônio torna-se atrativo a frugívoros.
7-14
dias
1
semana
2-3
dias
De forma geral, uma exsicata com material adequado deve conter o ramo fértil
com sua estípula terminal (fig.1). As anotações deverão assinalar tanto o que se
perderá no processo de secagem, como os caracteres supracitados fundamentais
na delimitação de espécies em Ficus.
Os procedimentos de aplicação de álcool etílico, bem como a existência de
material para análise molecular deverão ser indicados na etiqueta. Se possível,
fotografar as estruturas citadas na tabela 1 e anexá-las ao material de herbário.
224
Albertoa. Série Urticineae 30
Figura 1. Modelo de exsicata.
Referências bibliográficas:
CARAUTA, J.P.P. 1989. Ficus (Moraceae) no Brasil: Conservação e Taxonomia.
Albertoa v.2, 365 páginas.
GALIL, J. & EISIKOWITCH, D. 1968. On the pollination ecology of Ficus
Sycomorus in east Africa. Ecology 49: 259-269.
VERKERKE, W. 1989. Structure and function of the fig. Experientia 45: 612622.