Clique aqui para ler a sexta edição do jornal.

Transcrição

Clique aqui para ler a sexta edição do jornal.
conexão
PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015 | Nº 6
jornaldoppe.wordpress.com
PROGRAMA DE PORTUGUÊS
PARA ESTRANGEIROS | UFRGS
Greves afetam o acesso a alimentos
Nos últimos anos, o atendimento em vários restaurantes universitários da UFRGS tem sido interrompido devido a paralisações
Marianela Zúñiga
Entre o final de maio e o início de outubro de 2015, o RU do Centro fechou as portas. Foto: João Felipe Brum
Entrevista
Para sabermos mais detalhes da greve e da situação
do RU, entrevistamos Ludymila Barroso, que ocupa o
cargo de nutricionista chefe
do RU do Campus Centro
desde outubro de 2014. Ela
é formada em Nutrição pela
UFRGS (2013) e possui especialização em Segurança
de Alimentos.
As greves no RU do Campus Centro são frequentes?
Ludymila Barroso – As
greves que ocorrem no RU
são de origem nacional, não
apenas uma escolha deste RU.
Não há uma frequência prédeterminada, depende do
andamento das tratativas do
sindicato com o governo.
E qual foi o objetivo da
última greve?
Ludymila – O objetivo da
última greve nacional foi reposição salarial pelo aumento
da inflação, reajuste salarial,
data-base, além de modificações no plano de carreira
e melhorias das condições de
trabalho.
Quais foram os principais ganhos com a greve?
Ludymila – Na verdade,
os ganhos foram poucos, mas
haverá um pequeno reajuste
salarial.
As greves dos servidores
técnico-administrativos
da
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) provocaram o fechamento dos
serviços universitários nos últimos anos. Entre os serviços
mais afetados, estão os restaurantes universitários (RUs),
que oferecem, por preços acessíveis, alimentação a estudantes, professores e funcionários
da universidade. Em 2015, a
comunidade acadêmica foi
surpreendida ao encontrar as
portas do RU do Campus Centro fechadas no final de maio,
e a paralisação seguiu até o início de outubro.
De acordo com dados da
universidade, o RU do Campus Centro é normalmente utilizado por mais de mil
pessoas para almoçar e pouco
menos da metade desse número para jantar. É frequentado
principalmente por estudantes bolsistas, muitos deles estrangeiros que dependem em
grande medida desse serviço
para realizarem suas refeições
diárias. Para garantir o atendimento, esse RU conta com cerca de 50 trabalhadores.
Muitos estudantes contam
unicamente com bolsas de estudos e não possuem outra
fonte de renda. Além disso, o
horário de estudos na universidade pode dificultar chegar a
tempo de almoçar em lugares
mais afastados. Assim, o serviço oferecido nos RUs é fundamental para grande parte da
comunidade acadêmica.
No caso dos estudantes
O serviço do RU é uma
obrigação ou um favor do governo para a comunidade?
Ludymila – É uma política institucional das instituições federais de Ensino Superior, subsidiada pelo governo,
consolidada em algumas universidades, como a UFRGS,
e em desenvolvimento em
outras. Algumas instituições preferem a concessão
de auxílio-alimentação, pela
complexidade que é a ad-
que frequentam o RU do Campus Centro, uma das saídas
encontradas foi realizar as refeições no RU do Campus Saúde, que permaneceu aberto.
Entretanto, esse RU fica distante dos lugares onde muitos
tinham aula e, por isso, não era
uma alternativa possível para
todos. Como conta a estudante
colombiana Diana Manrrique,
que frequenta o RU do Campus Centro cinco vezes por
semana, “a gente não tinha
RU perto e, quando tínhamos
aula, a gente devia caminhar
até o RU da Saúde, que estava
em funcionamento”.
“Acabei gastando dinheiro
a mais por isso”, complementa
Sammer Maravilha, estudante
brasileira da UFRGS. Longe
de conseguir um almoço pelo
mesmo valor do RU, os alunos
precisaram conter seus gastos durante a greve. De fato,
os restaurantes em torno da
universidade têm preços que
ultrapassam as possibilidades
dos estudantes bolsistas, que
precisavam pagar até 15 vezes
o preço do RU.
Mesmo não sendo confortável a situação dos estudantes
durante a greve, muitos se solidarizaram com as reivindicações dos servidores. Nathalia
Valderrama, estudante colombiana da UFRGS, afirma que
os trabalhadores têm direito
de lutar por condições de trabalho melhores e se unir para
evitar a exploração de sua mão
de obra. No entanto, ela também acredita que a UFRGS demorou muito tempo para solucionar o impasse e negociar
com os trabalhadores.
ministração de restaurantes
universitários, principalmente pela dificuldade de implementação de suas rotinas e de
aporte de novas vagas de pessoal técnico-administrativo
especializado.
Quais são os próximos
objetivos dos trabalhadores
do RU?
Ludymila – Seguir lutando por melhores condições e
valorização do trabalho.
2|
CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
EM DEBATE
Arquivo pessoal
O drama dos refugiados
Milhões de pessoas são forçadas a deixar seus países em função de conflitos
Somos um
Freddy Galileo Santa Cruz
Nos últimos meses, o tema
imigrantes e refugiados tem sido
bastante discutido no mundo todo.
Na Colômbia, onde nasci, devido a
50 anos de conflito armado, muitas
pessoas têm deixado o país. Existem atualmente 396.633 refugiados
colombianos em diferentes países
do mundo, sendo que 2.872 deles
foram explulsos principalmente por
grupos violentos. Somente no Brasil, até 2013, havia 1.147 refugiados
colombianos. Com o acordo de paz
entre o governo e as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc),
anunciado em Havana, Cuba, no ano
passado, espera-se que aconteça a
repatriação dos que foram expulsos
do país e a cessação da emigração de
colombianos para outros lugares no
mundo.
Muitos dos grandes países foram constituídos por imigrantes e
refugiados. Isso ajudou muito no
desenvolvimento dos mesmos. Por-
tanto, as pessoas não precisam ver as
imigrações e os refugiados como um
problema, mas devem pensar sobre
como eles podem contribuir para
o desenvolvimento de sua região e
como, em primeiro lugar, nós podemos ajudá-los.
Eu tenho familiares que já foram
imigrantes e que também precisa-
“Muitos dos grandes
países foram constituídos por imigrantes
e refugiados”
vam de ajuda. É agora o momento
de agradecer e dar a mão aos novos
imigrantes e refugiados e, juntos, desenvolvermos nossos países e buscar
um futuro melhor.
Acredito que temos que pensar
que no mundo ninguém está isen-
to de alguma calamidade, que pode
acontecer pela ação da natureza, por
algum conflito político. Ou ainda
pode ser que algum dia queiramos
estudar ou trabalhar em outro país,
onde necessariamente precisaremos
de ajuda e gostaremos de ser tratados da melhor maneira possível, com
cordialidade.
Portanto, hoje devemos pensar
já não como países, tampouco como
continentes – é hora de pensar como
um só planeta, como espécie que habita um mesmo lugar, chamado Terra, e pensar sempre no bem comum.
No momento em que o homem
pensar dessa maneira, será possível
dizer que, de fato, evoluímos. Como
o cientista Stephen Hawking disse:
“somos apenas uma raça avançada de
macacos em um planeta menor que
uma estrela de tamanho mediano.
Mas podemos compreender o universo. Isso nos torna muito especiais”.
Precisamos compreender que somos
um só, uma só comunidade, e que
devemos nos ajudar.
Hora de acolher
Karina Yang
Cada vez mais haitianos chegam
a Porto Alegre. A televisão, as revistas
e os jornais estão cheios de notícias
sobre preconceito, discriminação
racial e crimes recentes relacionados
aos refugiados. O assunto constitui
atualmente um tema importante no
Brasil e no mundo. Nós devemos
acolher os refugiados?
De acordo com estatísticas da
ONU (Organização das Nações Unidas), em 2014, cerca de 1 milhão de
pessoas se deslocaram, e isso efetivou
uma gigante maré de refugiados no
mundo. Ao mesmo tempo, cada país
adotou atitudes e posturas diferentes
para tratar os refugiados: alguns aceitaram, outros rejeitaram ou ficaram
pensando demais.
Na minha opinião, nós devemos
acolher os refugiados sem hesitar. Por
quê? Penso em dois aspectos para
justificar a minha resposta.
Não devemos deixar pessoas
inocentes ficarem em países em
guerra ou que não respeitem seus
direitos básicos. Elas podem morrer
“Na minha opinião,
nós devemos acolher
os refugiados sem
hesitar”
se não fugirem. Podem ser presas
por organizações terroristas ou ser
forçadas a se tornar membros dessas
organizações. Elas não apenas não recebem direitos básicos, mas também
podem ser vítimas de violência.
conexão
Nº 6 | Dezembro de 2015
Expediente
Coordenação: Gabriela Bulla e Margarete Schlatter
Edição e projeto gráfico: João Felipe Brum
Produção: Caroline Wink
Colaboração: Camila Alexandrini, Diego Grando, Janaína Vianna, Kétina Timboni,
Laura Moreira, Melissa Kuhn Fornari e Willian Radünz
E-mail: [email protected]
Site: jornaldoppe.wordpress.com
Devemos enxergar essas pessoas
como iguais, como seres humanos
com os mesmos direitos de todos os
demais.
Não é possível para os numerosos refugiados fugirem para outros
países através dos meios normais.
Eles só têm à disposição formas ilegais, e a maioria das formas ilegais
são muito perigosas. Recebê-los e
ajudá-los é a melhor maneira de contribuir para melhorar as suas vidas.
Os refugiados podem perder a vida
durante a travessia. Quando chegam
ao destino, eles devem receber identidades autênticas, além de não ser
discriminados por fugirem de guerras ou não ter os próprios direitos
respeitados.
Portanto, devemos nos esforçar
para que essas pessoas tenham oportunidades. Acolham os refugiados,
por favor.
PROSA DO PROFESSOR
Melissa Kuhn Fornari
Ler e discutir Porto Alegre a
partir de uma crônica de Luis Fernando Verissimo, pensar representações de arte e literatura a partir de
uma crônica de Drummond, discutir questões de comportamento,
relacionamentos e linguagem lendo
Clarice Lispector, Caio Fernando
Abreu e Nelson Rodrigues com os
alunos do PPE foram experiências
que ampliaram minha visão sobre
ensino de língua adicional, sobre
cultura, sobre como discutir um
texto literário, e fizeram toda a diferença na minha trajetória.
A experiência como professora no curso de Contos e Crônicas
me ensinou a trabalhar a partir das
leituras dos alunos, e, assim, experiências prévias, expectativas, concepções culturais e formas de como
falar sobre um texto se tornaram
parte do que compartilhávamos em
aula. Para mim, as discussões no
curso eram sempre novas leituras,
novas formas de olhar e de pensar
interpretações e efeitos de sentido
em um texto, enfim, representavam um constante descobrir e (re)
conhecer, tanto em relação a textos
e histórias quanto sobre formas de
ensinar e aprender. Algumas tarefas
eram elaboradas de forma a incen-
tivar a discussão sobre a temática,
como a partir de textos de Rubem
Fonseca, Marçal Aquino, Marcelino Freire, e poemas de Quintana,
por exemplo. Outras focavam na
construção de personagens, na sequência de fatos narrados, na linguagem, e, a partir delas, os alunos
comentavam se uma crônica de
Fernando Sabino era engraçada,
sobre formas de ler ironia e humor,
sobre o gaúcho em trechos de um
romance de Erico Verissimo e sobre
como uma canção de Los Hermanos pode ajudar a refletir sobre um
conto de Nélida Piñon. Muitas vezes, os alunos relacionavam o texto
lido com histórias dos seus países,
com crenças, com questões culturais e até com ditados populares,
apontando pontos de contato (por
vezes inesperados), como entre um
trecho de um conto de Guimarães
Rosa e um ditado chinês.
As aulas me mostraram que
no ensino e aprendizagem de línguas adicionais há sempre novas
possibilidades a serem exploradas, e
me ensinaram sobre como o texto
literário pode nos ajudar a aprender
mais sobre representações culturais,
sobre língua, sobre si mesmo e sobre o outro.
CARTA D OS EDITORES
Caroline Wink e João Felipe Brum
Nesta edição do Conexão PPE,
acompanhamos estudantes de diferentes países no desafio de serem
repórteres de um jornal em língua
portuguesa. Para começar, eles tiveram de se apropriar dos principais
gêneros jornalísticos, como a notícia,
a reportagem e a entrevista. Foi um
trabalho intenso de leitura e análise
de publicações nacionais e internacionais, com destaque para o debate
sobre a representação do Brasil em
jornais dos países de origem dos alunos. Além disso, houve uma oficina
de fotografia com o professor Mateus
Pereira, que ofereceu diversas dicas
importantes.
Depois, a turma partiu para a
experiência prática. Eles tiveram a
liberdade de escolher suas pautas,
mas levando em consideração a importância do tema para os leitores.
Todos puderam compartilhar seus
“esboços” de pauta com os colegas,
que ouviram as ideias iniciais e fizeram sugestões. Por fim, cada um se
dedicou à elaboração de seu texto a
partir de entrevistas e coleta de informações, assim como à produção de
fotos para compor as páginas do jornal. Além de reportagens e artigos de
opinião, a edição também conta com
roteiros de viagem e poemas.
Boa leitura!
CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
REPORTAGEM
Ativismo estudantil em alta
Na UFRGS, alunos se engajam em lutas relativas a cortes, bolsistas e moradia
Bert Venema
No início do segundo semestre de 2015, entrei em uma
universidade que passava por
grandes transtornos. Os servidores técnico-administrativos
da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) estavam em greve por cortes na
educação pública. Isso eu pude
compreender; entretanto, quando vi que também os estudantes
protestavam contra esses cortes,
fiquei surpreendido. Não só estudantes como também professores explicavam nas aulas o
que estava acontecendo e esclareciam porque era importante
apoiar a luta dos trabalhadores
contra esses cortes.
As universidades na Holanda são lugares onde o foco está
em estudar e, além disso, a gente
não costuma se preocupar muito
com a política nacional e, muito
menos, com a política estudantil. Então, quando eu cheguei ao
Brasil, não esperava ver tantas
pessoas envolvidas na política.
Inicialmente, o que me chamou
a atenção foi o fato de que as pessoas andavam pelo campus com
camisetas de Stalin, Mao TséTung e outras figuras históricas
polêmicas. Ao ver esses alunos,
eu me perguntava por que essas
camisas eram usadas, mesmo
quando esses líderes carregavam
um legado polêmico. Uma dessas pessoas, certa vez, entrou no
ônibus lendo o jornal A Verdade, que defende os interesses dos
trabalhadores na luta de classes.
Era, então, bem claro que esses
estudantes se identificavam com
essa ideologia e que, por isso,
se vestiam assim. Mas o que eu
ainda queria saber é como essas
ideias poderiam ser aplicadas na
universidade. Quer dizer, quais
são exatamente as lutas importantes para eles na universidade?
Além disso, causou-me estranheza o fato de que, nas salas
de aulas, usualmente entravam
participantes do movimento estudantil explicando por
que lutavam. Entregavam jornais defendendo a posição de-
les. Nos jornais, explicavam-se
quais eram os problemas do país
atualmente e como esses problemas afetavam os estudantes.
O Movimento Estudantil
brasileiro é constituído por estudantes que se organizam para
alcançar certos objetivos nas
universidades, mas também na
política nacional. Já na época da
ditadura militar, o movimento
estudantil tinha um papel muito importante. Os Diretórios
Centrais Estudantis (DCEs), as
Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs) e a União Nacional
dos Estudantes (UNE) influenciaram os rumos da política
nacional. Essas instituições formavam uma importante fonte
de oposição ao governo militar
através de seus protestos para a
volta da democracia.
“Quando eu cheguei
ao Brasil, não esperava
ver tantas pessoas envolvidas na política”
Para saber mais sobre a
atuação do movimento estudantil na UFRGS, falei com David
Pires, estudante de Engenharia
de Energia de 23 anos. David,
que se considera parte do movimento estudantil, explica que os
maiores problemas na universidade hoje são os cortes na educação, que prejudicam o nível da
educação pública. Além disso,
ele menciona o fato de não haver igual representação do povo
brasileiro nas universidades públicas no país.
“Gostaria que a universidade fosse uma representação correta do Brasil. Temos um país
tão diverso, mas eu não consigo
ver isso na UFRGS. Acho que
isso é um problema em todo
país. Os grupos étnicos não são
representados de forma igual”,
complementa.
Ainda há muita coisa para
fazer, segundo David, para que
esses desejos se tornem realidade, mas ele acredita que o movimento estudantil seja forte aqui.
Como exemplo, explica que estudantes ocuparam a reitoria
da universidade de 11 até 25
de setembro de 2015. Na ocupação, pediram por melhores
condições para os bolsistas na
UFRGS. “Bolsistas da UFRGS
são obrigados a disponibilizar
20 horas todas as semanas para
trabalho administrativo. Isso faz
com que eles não possam usar
esse tempo para estudar”, declara David. Mas esse não é o único
motivo, ele explica: “As pessoas
que vivem nas casas estudantis
estão em um quarto com 20 pessoas e quase não há vagas para
os novos estudantes que precisam de um quarto na cidade”.
Na página “Ocupa Reitoria
UFRGS 2015 - Permanência Estudantil” no Facebook, podemse encontrar mais dados sobre as
condições dos bolsistas e de sua
moradia. As pautas pelas quais
os estudantes lutam são numerosas. Além das reivindicações
dos bolsistas, exigem uma casa
de estudantes no Campus do
Vale e mais segurança para quem
estuda na UFRGS. É imprescindível, para esse movimento, que
os estudantes que moram nas
casas da universidade tenham
segurança, o que implica, por
exemplo, que essas casas sejam
equipadas com alarmes contra
incêndio. E esses não são os únicos problemas contra os quais
esse movimento luta.
Por fim, entendi que o movimento estudantil é mais forte no
Brasil do que na Holanda devido
à sua trajetória. Desde a ditadura militar, os estudantes já são
uma parte importante da política nacional. Além disso, eles
são ativos porque têm um ideal
pelo qual estão dispostos a lutar.
Isso nós podemos ver no movimento da ocupação da reitoria
e também em algumas aulas da
UFRGS, interrompidas por estudantes. Também se pode ver o
impacto do movimento nos cartazes e nas bandeiras espalhados
pelos campi.
|3
VOZES POÉTICAS
Canção do exílio
Jose Oviedo Perez
Minha terra tem subúrbios
Onde nem pássaros sussurram.
As aves, que aqui gorjeiam,
Lá esqueceram como cantar.
Este céu tem mais poluição,
Estas ruas têm mais assaltos,
Mas estes bosques têm mais vida,
Esta vida mais amores.
Minha terra tem valores puritanos,
Que tais não encontro eu cá.
Em cismar – sozinho, à noite –
Ou acompanhado na balada
Mais prazeres encontro eu cá.
Minha terra tem subúrbios,
Onde nem pássaros sussurram.
Mockingbird, Cardinal, Nightingale –
Nem os nomes são bonitos como cá.
Sabiá, Sabiá, Sabiá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para cá.
Eu não desfruto dos primores
Que se oferecem por lá.
Ainda quero o céu poluído,
E as ruas de assalto ladeadas
De palmeiras, onde canta o Sabiá.
Canção do exílio
Guojin Huang - Bruno
Minha terra tem montanhas,
Onde mora uma muralha;
As cercas, que aqui protegem,
Não protegem como lá.
Nossas campinas têm mais cavalos,
Nosso inverno tem mais neves,
Nossas cidades têm mais movimento,
Nossa noite mais atrações.
Estou sempre a procurar
As belezas que parecem como lá;
Minha terra tem montanhas,
Onde mora uma muralha.
Minha terra tem comida
Mais variada do que cá;
Estou sempre a procurar
Sabores parecidos com os de lá.
Espero que alguém me ajude
A descobrir as belezas daqui
Antes de eu voltar para lá.
As universidades brasileiras costumam ser centros de ativismo estudantil. Na UFRGS, chamam a atenção cartazes, faixas e pichações que revelam as causas defendidas. Fotos: Bert Venema
4|
CONEXÃO PPE |
­ PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
O Parque Farroupilha reúne diversas atrações, como o Auditório Araújo Vianna (à esquerda), um lago com animais (à direita) e outros encantos para os visitantes. Fotos: Karina Espinoza
ROTEIROS
O passeio da borboleta na Redenção
Um dos locais preferidos dos porto-alegrenses nos fins de semana, o parque oferece shows, brincadeiras, sombra e muita natureza
Karina Espinoza Merchan
Era um domingo de manhã,
e uma pequena borboleta chegava
na rodoviária da cidade com muita
alegria para conhecer um enorme
parque, do qual muitas das suas amigas tinham falado. Mas ela não sabia
como chegar a ele.
Então, decidiu pegar a rua da
Conceição (rua que permite o transporte para vários bairros de Porto
Alegre), e ali nossa pequena amiga
observou muitas pessoas caminhando e, principalmente, muitos automóveis que circulavam rapidamente.
Ao chegar ao viaduto, ela resolveu não o pegar, porque tinha muito
barulho e escuridão, então pegou as
escadas que ficam do seu lado e continuou voando. Chegou a uma praça
em frente à igreja Nossa Senhora da
Conceição, que tinha poucas pessoas
andando. À distância, ela viu uma
bela flor e voou até lá, comeu um
pouco de néctar e continuou.
Ao chegar à Avenida Osvaldo
Aranha, viu os prédios muito grandes
do Campus Centro da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Continuou voando até que finalmente
encontrou o que estava procurando,
o parque da Redenção, oficialmente
chamado Parque Farroupilha. Viu
que o parque era contornado pelas
avenidas João Pessoa, José Bonifácio,
Osvaldo Aranha e pelas ruas Setembrina e Engenheiro Luís Englert.
A borboleta sentiu no ar algo
diferente, que não sentia há muito
tempo, uma brisa fresca emanada
pelas milhares de árvores que nele es-
tão plantadas. Além disso, percebeu
o canto dos passarinhos, que voavam
tranquilamente; assim, começou seu
passeio pelo parque.
Passou pelo Instituto de Educação General Flores da Cunha, que
é o mais antigo estabelecimento de
ensino secundário e de formação de
professores da cidade, fundado em
1869. Depois, observou o Auditório
Araújo Vianna, cenário de grandes
espetáculos, que tem como meta resgatar e preservar a história musical e a
importância cultural da cidade.
Ao redor do parque, ela notou
que muitas pessoas se exercitavam,
algumas caminhavam por trilhas
demarcadas, outras iam de bicicleta e
outras jogavam futebol. Viu que muitas pessoas tiravam fotos do parque,
e outras estavam reunidas conversan-
do e curtindo a tranquilidade da natureza. Até os cachorros se divertiam.
No seu passeio, a borboleta observou diversos recantos: Recanto
Alpino, Recanto Oriental, Recanto
Europeu e Recanto Solar, que davam a impressão de que o parque
era maior do que é. Olhou os vários
monumentos em cobre e mármore,
mas o que chamou sua atenção foi o
Monumento ao Expedicionário, um
duplo arco do triunfo com esculturas em relevo que homenageiam os
“pracinhas” da Força Expedicionária
Brasileira, que lutaram na Segunda
Guerra Mundial.
Perto dali, viu um parque de diversões muito maneiro, com passeios
de trenzinho e pedalinhos, desfrutado principalmente por crianças.
Na Avenida José Bonifácio, a
borboleta conheceu o famoso Brique da Redenção, espaço cultural
que compreende a tradicional feira
de artesanato, de artes plásticas e de
antiguidades, onde os porto-alegrenses se reúnem para desfrutar das
atrações do parque, tomar chimarrão
e encontrar os amigos. Joaquim da
Fonseca diz no texto “A Mal-Entendida”: “O Brique, na língua gaúcha, é
o encurtamento de briqueabraque e
é uma feira de antiguidades em que
tudo, até revista da semana passada, é
considerado antiguidade”.
Ao final do seu longo passeio, a
borboleta ficou cansada, mas muito
satisfeita por ter conhecido esse belíssimo lugar e, especialmente, porque
percebeu que as pessoas ainda tentam preservar a natureza, seus costumes e suas tradições.
Conheça a sucursal do céu
Cali é uma das principais cidades da Colômbia e conta com boas opções turísticas
Dolly Alexandra Tartas
Conhecida como a sucursal
do céu, Cali é uma das cidades
principais da Colômbia, localizada sobre a planície do rio do
Cauca, no centro-oeste do país.
Quem chega ao aeroporto
internacional Alfonso Bonilla
Aragón pode sentir um clima
cálido e tropical ao passar pelo
vale da cana-de-açúcar, fonte da
indústria principal da região.
No centro da cidade, concentram-se a maioria dos pontos turísticos. Para percorrer e
visitar a cidade, inicie pelo local
simbólico mais movimentado, a
Praça de Caicedo, antigamente
chamada de praça maior de altas palmeiras; nela, encontrará
muitos vendedores ambulantes,
engraxates e pessoas sentadas
com muitas histórias para con-
tar. Na frente da praça, o Palácio Nacional, imponente prédio
branco estilo europeu, exibe
aos seus visitantes um pequeno museu, que informa sobre
o cultivo e o processamento da
cana-de-açúcar.
Caminhando duas quadras
está a Ermita, uma igreja estilo
gótica em miniatura edificada
em 1942. Em diagonal ao templo, se encontra a ponte Ortiz,
construída sobre o rio Cali, que
liga a zona sul à zona norte da
cidade. Mas, antes de atravessar
a ponte para conhecer o lado
norte, não deixe de visitar o Parque dos Poetas, que foi construído em 1995 com esculturas em
homenagem aos poetas locais.
Você pode fazer uma visita ao
Teatro Jorge Issac, declarado
monumento nacional com seu
prédio em estilo neoclássico
francês e assim chamado em tributo ao poeta valecaucano.
O rio Cali, cercado de árvores, é uma pequena extensão do
rio Cauca, que desemboca na
cidade dando um ar de natureza no meio da zona urbana. Do
lado norte, poderá fazer um passeio pelo Riacho. Depois de uma
longa caminhada apreciando a
paisagem, você chegará ao Gato
do Rio, uma escultura de bronze
acompanhada pelas figuras de
várias gatas ao seu redor (elas
são as namoradas do Gato), que
enfeitam a beira do rio. A poucos
passos e atravessando a rua, está
o Museu A Tertúlia, onde você
poderá encontrar exposições de
arte moderna e contemporânea
de diferentes artistas.
Outro atrativo turístico é
a escultura e o mirante de Sebastian de Belalcázar, chamado
Praça de Caicedo, em Cali. Foto: Rafael Palacios, Wikimedia Commons
assim em homenagem ao seu
fundador. O lugar oferece uma
linda visão panorâmica de Cali.
Para visitar, é recomendável subir de táxi, porque ir a pé vai ser
muito cansativo e difícil de chegar até o morro.
Cali tem vários lugares para
visitar, como o Teatro Municipal, a Praça de Touros de Caña-
veralejo, a unidade esportiva
Alberto Galindo Herrera, que
tem sido cenário de importantes
eventos, como os jogos mundiais
e o festival mundial da salsa.
Cali é uma cidade encantadora, que recebe os seus visitantes de braços abertos e cativa
com suas paisagens, gastronomia e gente linda.
CONEXÃO PPE ­| PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
|5
ROTEIROS
Traçando a cidade: Bogotá,
a capital da Colômbia
Um passeio pela cidade revela surpresas como Monserrate e o Museu do Ouro
Mayra Sánchez
Nosso passeio começa na
praça principal da cidade. A
praça de Bolívar, cujo nome refere-se ao libertador Simón Bolívar, está rodeada pelos prédios
mais importantes da cidade.
Nela, você encontrará os principais ramos do poder: o Palácio
de Justiça, o Congresso da República, a Catedral Primada e a
Prefeitura de Bogotá. No centro
da praça, você vai ver a estátua
de Bolívar. De lá, é possível ver
as colinas de Bogotá, um lugar
que você vai adorar, pois tem a
melhor vista da cidade. Para ir
até lá, você pode subir de teleférico ou funicular. É só perguntar por Monserrate, e qualquer
pedestre irá apontar o caminho.
Seguindo na praça de Bolívar, na
esquina, você pode visitar o Museu da Independência ou Museu
do 20 de Julho, um lugar muito
importante porque nele ocorreu
um episódio conhecido como o
Grito da Independência, no dia
20 de julho de 1810.
Se você caminhar na direção sul da praça, vai encontrar o
Palácio de Nariño, a residência
oficial do Presidente da Colômbia. Nas imediações, também é
possível observar outros prédios
históricos, de arquitetura colonial, a maioria deles escritórios
de instituições governamentais.
Suba pela Rua 11, e na esquina
da Carrera 5 você pode dar uma
olhada no Centro Cultural Ga-
briel García Márquez, um espaço dedicado à cultura. Tem uma
livraria e uma galeria de arte.
Não perca a oportunidade de
tomar um bom café Juan Valdéz,
um dos melhores da cidade e,
sem dúvida, do mundo.
Se você continuar para cima
na Rua 11, olhe à esquerda e
verá a maior biblioteca do país,
a Luis Ángel Arango, ou, abreviadamente, BLAA. Saindo da
biblioteca, bem em frente, você
encontrará La Casa de la Moneda, um monumento nacional
que atualmente abriga a coleção
numismática e de arte do Banco da República. Ao lado, fica o
Museu de Botero. A sua visita representa uma boa oportunidade
para conhecer as obras doadas à
As inesquecíveis festas de Cahuita
No interior da Costa Rica, é possível participar de diversos festivais populares
Jose Brenes-Andrade
Na Costa Rica, temos festas
pequenas nas cidades. Pode ser
a festa do patrono do bairro ou a
comemoração do aniversário do
bairro. Qualquer pretexto é um
bom motivo para comemorar.
Além disso, alguns bairros podem ter mais de uma festividade
por ano.
Cada pequena cidade tem a
oportunidade de fazer a sua própria festa, e é por isso que as pessoas da Costa Rica chamam essa
tradição de “El Turno”.
Minha esposa e eu sempre
achamos que essas festas são
uma das principais características das cidades e dos bairros do
interior do país. Em certa ocasião, nas férias, a gente visitou
uma cidade pequena do Atlân-
tico de nome Cahuita. É uma
pequena aldeia habitada por
pessoas muito amigáveis e com
uma cultura bem particular. As
ruas não são asfaltadas e há casas tradicionais e cabanas muito
simples.
Nós gostamos demais de
Cahuita, porque é uma aldeia
com praias tri legais, com muita
natureza, floresta, biodiversidade, cultura e festas. Ao lado da
cidade está localizado o Parque
Nacional Cahuita, que é um lugar maravilhoso e exuberante. É
possível caminhar pelas trilhas,
surfar, nadar, mergulhar; também é possível ver macacos, cobras, lagartos e muitas espécies
de mamíferos e pássaros bem
bonitos.
Mas, naquela viagem de
férias, também encontramos
“El Turno de Cahuita”. Embora
aquela aldeia seja muito tranquila, naqueles dias estava lá uma
multidão. Foi uma experiência
inesperada e inacreditável. Eles
tinham passeios, algodão doce,
música ao vivo, carnes grelhadas e comidas típicas da região.
O festival durou três fins de semana, mas as pessoas queriam
ainda mais festa.
A minha esposa e eu gostamos demais dessa experiência
inesquecível. Embora nós voltemos constantemente para aquele paraíso, nunca tivemos a sorte
de estar de novo durante a festividade. Ainda nos lembramos
com saudade dessa experiência,
porque aproveitamos e conhecemos mais da cultura da cidade e
fizemos amizade com uma galera muito legal.
A bela cidade de Cahuita atrai multidões durante o período de festividades. Foto: Jose Brenes-Andrade
A região histórica de Bogotá é imperdível. Foto: Katja Hasselkus, Flickr
Colômbia pelo artista Fernando
Botero, pintor, escultor e artista
colombiano.
Por fim, você pode ir à procura de um dos maiores tesouros da nossa cultura: a maior
coleção de ouro pré-hispânico
do mundo, com cerca de trinta e
quatro mil peças de ouro. O Museu do Ouro, localizado a quatro
quadras ao norte do Museu de
Botero, preserva e exibe peças de
ourivesaria e cerâmica de culturas indígenas do período pré-colombiano da atual Colômbia.
Espero que você aproveite
a visita ao centro histórico de
Bogotá, um lugar com grande
riqueza arquitetônica, cultural e
gastronômica.
A cidade da luz e os
belos Alumbrados
Em Medellín, o Natal é iluminado e encantador
Sara Domínguez Cardozo
É Natal. A alegria está nas ruas,
a música forte não incomoda e as
cores invadem o ar, sim, o ar. Todos
os dias são dias de festa.
Em Medellín, é Natal desde o
primeiro dia de dezembro até 6 de
janeiro. Na verdade, contando o
momento em que as lojas enfeitam
suas vitrines, é Natal de novembro
a 8 de janeiro, se o Dia de Reis cair
numa sexta-feira.
É a melhor época do ano, sem
dúvida. Em casa, o cheiro de sobremesas, bolachas e bolos que eu vendo para adoçar as vidas ao meu redor enche o andar inteiro do prédio
com o cheiro de baunilha, canela,
maçã, café, morango... Minha mãe
adora quando fica uma “amostra”
de sobremesa, o namorado de minha irmã adora quando uma bolacha quebra e não dá para ser vendida, eu adoro quando os pedidos
são tantos que até meu pai junta-se
à “linha de produção”. Colaboração
familiar em doces jornadas até as
duas da manhã.
Na rua, o cheiro muda também. De vela, de fogão, de fogos
de artifício, de doces de rua... Enfim, de Natal. Na cidade da eterna
primavera, o clima é sempre bom.
Mas, nesses dias, é sempre melhor
ainda, e assim dá para percorrer a
cidade olhando os Alumbrados.
Os Alumbrados, a melhor
parte do Natal (até melhor do que
vender todas as bolachas), são o
que torna Medellín o lugar com o
melhor Natal do mundo. É que lá
os enfeites são feitos de luz; as ruas,
os parques, os prédios, ficam cheios
de luzes e figurinhas natalinas. Sem
contar o cenário principal: o rio. O
rio que atravessa a cidade se torna
por mais ou menos dois quilômetros um corredor que a cada ano
conta uma história diferente: o
percurso de Maria e José até o nascimento, contos internacionais de
Natal, tradições do país... A cada
ano é algo enorme, luminoso e encantador.
Olhar os Alumbrados é algo
indispensável no Natal medellinense. É ver todos os tipos de pessoas que habitam e visitam Medellín, é sentir o barulho e a bagunça
de Natal, é comer algodão de açúcar, oblea com arequipe (um wafer
gigante recheado com doce de
leite), pipoca, manga verde com limão e sal e, para os mais corajosos,
cachorro-quente e espetinho na
rua. Os Alumbrados em Medellín
são o Natal. É por causa deles que
o ar se enche de cores e o coração,
de alegria, e é por causa deles que,
durante um mês inteiro, a capital
da montanha rouba o título da capital da França e ostenta o nome de
Cidade da Luz.
6|
CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
OPINIÃO
Padrões de
beleza: como
nos afetam?
Kay Mars
Os estudantes Chris Taafe (esquerda) e Pedro Wang (direita) entrevistaram Sérgio Toniolo em sua casa no bairro Petrópolis. Foto: Arquivo pessoal
REPORTAGEM
Toniolo, o anti-herói da Capital
Na década de 80, o ex-policial se tornou conhecido em função das pichações que espalhou por toda a cidade
Chris Taafe
Pedro Wang
Muitas pessoas conhecem o pichador Sérgio Toniolo, um personagem famoso em Porto Alegre. Mas
poucos sabem a história dele por trás
das pichações. Hoje ele está se aproximando dos 70 anos, e tivemos a
sorte de nos reunir com esse anti-herói e descobrir mais sobre a vida dele.
Crescendo em Porto Alegre
Nasceu em 1945, em Porto Alegre. Seus bisavôs estavam no primeiro navio de imigrantes que vinham
da Itália. Toniolo cresceu e ainda
reside no bairro Petrópolis, que, segundo ele, já foi o principal bairro da
capital. Por conta da inexperiência de
sua mãe, decidiram que ele moraria
com o avô, que já tinha criado nove
filhos. O pai era proprietário de um
bar; e o avô, um empresário que foi
um dos principais responsáveis pela
construção da Igreja São Sebastião,
na Protásio Alves.
Como não havia muita tecnologia, a atividade favorita de Toniolo
era o futebol. Ele relembra com saudade esses dias mais simples porque
“o povo tá hoje em dia assim, domado que nem um gado [...] não pensa
mais nada”, comenta. Para ele, a juventude foi uma felicidade.
Juntando-se à polícia
Aos 20 anos, Toniolo decidiu
que “não queria trabalhar”. Então,
através de conexões da família, ele
entrou para a Polícia Civil. Ele gostava da experiência como policial até
que viu que seu chefe estava se promovendo entre os funcionários para
se tornar vereador de Porto Alegre.
Depois disso, ele começou a publicar
críticas nos jornais da cidade contra
o seu chefe. Disseram que Toniolo
não poderia escrever para as colunas
porque era um funcionário público.
Mas ele respondeu que era um brasileiro e, como qualquer brasileiro, ele
tinha o direito de se expressar através
dos meios de comunicação. Como
resultado dessa disputa, Toniolo foi
aposentado por “razões mentais”. Ele
continua afirmando que nunca escreveu contra a polícia – ele escreveu
contra o que havia de errado dentro
da polícia.
O político
Depois da polícia e das escritas
publicadas, Toniolo ganhou notoriedade e foi convidado para concorrer
nas eleições do estado pelo PMDB
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Ele era conhecido
por se colocar contra o sistema, e as
crônicas dele conquistaram admiradores. Durante a campanha, quando ele era um candidato registrado,
houve uma confusão: seu número
de registro era 007, mas esse número
também pertencia a outro candidato.
Além disso, na sua ficha havia a informação que sua filiação era com o
PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
Por isso, ele tentou concorrer pelo
PDS (Partido Democrático Social)
como o número 5143, mas foi proibido de participar.
O pichador
Foi naquele tempo, quando
começou as ações de pichar, que ele
ficou famoso. Toniolo conta: “Eu comecei a pichar porque em 1982 eu
fui caçado da minha candidatura, fui
impedido de concorrer. E como eu
não tinha nada a perder, eu comecei
a pichar de forma agressiva, a pichar
como se eu fosse um candidato ainda”. Assim, ele pichou Toniolo 5143
em boa parte das paredes de Porto
Alegre.
Em 1984, ele decidiu avisar ao
jornal e à rádio que iria pichar o Palácio Piratini no dia 17 de março, às
17h. Toniolo explica: “Sem avisar é
sem graça, qualquer pessoa pode pichar em qualquer lugar sem avisar”.
Mais do que isso, ele deu uma entrevista ao programa Guaíba Revista,
perto do palácio, porque depois de
pichar ele seria preso e não poderia
falar. E assim aconteceu: enquanto
ele pichava o seu nome no palácio,
acabou detido, faltando apenas a letra “O” para completar. Levaram-no
para o Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde ficou internado por uma
tarde. Deste dia até hoje, ele ainda
faz pichações e cola adesivos com comentários contra todas as coisas que
acredita que estão erradas.
A vida depois
Entre 2005 e 2011, Toniolo foi
internado devido a problemas mentais, mas, de acordo com ele, isso só
aconteceu por causa da justiça. Ele
sempre comenta que o maior ladrão
é a justiça.
Mesmo que considere o Brasil hoje um “campão de ladrão”, ele
nunca esteve fora do país nem tem
vontade de ir, porque, segundo ele,
“o meu país é aqui, então por que eu
vou sair daqui? Vou ficar aqui, não
vou fugir daqui”.
Embora nunca tenha se casado, ele teve uma surpresa sete anos
atrás, quando uma moça de 30 anos
bateu na sua porta e afirmou ser sua
filha. A primeira reação dele foi dizer
“Acho que não é”, mas depois de um
exame de DNA foi confirmado que
ela era filha dele. Com muita alegria,
Toniolo conta que agora ele tem um
bom relacionamento com a filha e
com a mãe dela, e com frequência as
visita em Canoas. De fato, o que ele
mais gosta de fazer hoje é visitar sua
filha.
Ele ainda mora no prédio em
que cresceu, comendo as comidas
favoritas dele: massa a alho e óleo, e
sopa de capelete. Ele ainda gosta de
escutar Roberto Carlos e Beatles. Se
ele pudesse escolher jantar com uma
pessoa, seria Tancredo Neves, e se
ele pudesse pichar em qualquer lugar do mundo, seria na ONU. Você
sabe que ele picharia? “TONIOLO”,
é claro.
Padrões de beleza são ubíquos hoje e afetam a nossa vida,
incluindo a minha, de várias maneiras. Acho que padrões de beleza podem ser comparados com
as morais e a moralidade na vida
cotidiana. Muitas pessoas tendem
a pensar em “preto e branco”. Elas
determinam o que é bom e o que
é ruim, e no caso dos padrões de
beleza, o que é bonito e o que é
feio. Para mim, que sou estudante de antropologia cultural, é bem
interessante descobrir quem define os padrões de beleza na sociedade. Há só um padrão de beleza
ou é possível que vários padrões
coexistam?
Padrões de beleza existem
em vários aspectos da nossa vida.
Um exemplo muito claro é o
“projeto verão” da sociedade brasileira. Quando os dias alongam,
muitos brasileiros começam a ir à
academia para perder peso e entrar em forma para o verão. É algo
familiar para mim. Também as
mulheres holandesas querem se
encaixar em seus novos biquínis e
os homens querem mostrar seus
corpos musculosos na praia, embora em menor extensão do que
os brasileiros. Mesmo que eu quase nunca vá à academia, sempre
tento pegar um bronzeado para
não parecer um fantasma quando
o verão chegar.
Como o projeto verão mostrou que padrões de beleza podem
incentivar pessoas a ir à academia
para perder peso, padrões de beleza podem ter uma influência mais
radical no corpo humano. Há séculos, pessoas vêm modificando
seus corpos para obter a aparência que elas adoram. Frequentemente, isso pede mudanças
radicais, resultando em cirurgia
plástica. O Brasil é um dos países
com a maior proporção de cirurgia plástica no mundo. O que faz
com que os brasileiros façam uma
visita ao cirurgião plástico mais
jovens e com mais frequência do
que, por exemplo, os holandeses?
Nunca considerei ir ao cirurgião
plástico. Estou bem contente com
meu corpo e, por isso, eu acho que
não vou tão cedo.
Os padrões de beleza são
onipresente e afetam a nossa vida,
incluindo a tua e a minha, de várias maneiras. Mas não é uma
coisa ruim. É loucura lutar contra
os padrões. Sempre estiveram e
sempre estarão presentes. A única
coisa que nós não podemos esquecer é que a verdadeira beleza
é a interior.
CONEXÃO PPE ­| PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
|7
OPINIÃO
Voto obrigatório: bom ou ruim?
Enquanto no Brasil maiores de 18 anos devem votar, nos EUA o voto é facultativo
Haley Hunter-Zinck
Em 2012, o presidente americano Barack Obama foi eleito
com só 30% de eleitores, menos
de um terço da população de votantes. Mas essse número não é o
mais baixo. Em 1996, por exemplo, o presidente Bill Clinton foi
reeleito com votos de apenas
24% dos eleitores. Como a democracia mais antiga do mundo
pode eleger um presidente com
menos de um quarto do total de
eleitores?
A resposta é que as eleições
americanas têm porcentagem de
votantes muito baixa. Entre os
países com voto facultativo, os
Estados Unidos têm uma das taxas mais baixas do mundo, com
uma média de 54% desde 1992.
Por outro lado, apesar de sua
atual impopularidade, a presidente brasileira Dilma Rousseff
foi eleita com 41% dos eleitores
em 2014. O Brasil é um dos 24
países que têm alguma forma de
voto obrigatório. Por causa disso, em 2014, a percentagem de
votantes foi quase 80%.
Não é uma surpresa que o
voto obrigatório aumente a porcentagem de votantes. Também,
aumentar essa porcentagem tem
muitas vantagens, como fazer os
resultados da eleição mais representativos da população do
país. Esse efeito, então, resulta
em candidatos mais moderados.
Com o voto facultativo, eleitores
têm perspectivas políticas mais
extremas e, portanto, elegem
políticos com plataformas mais
extremas também. Além disso, a
moderação dos candidatos pode
fazer o governo menos polarizado, evitando os impasses na
legislação vigente no Congresso
americano de hoje.
Outra vantagem do voto
obrigatório é que acaba sendo
muito mais difícil tirar o direito
de votar dos cidadãos do país.
Por exemplo, nos Estados Unidos, alguns estados conservadores têm aprovado leis que exigem
que eleitores tenham um documento para votar. Essas leis são
injustas, porque afetam mais as
minorias, que normalmente votam na esquerda. Se os Estados
Unidos tivessem um sistema de
voto obrigatório, seria mais difícil aprovar leis que dificultam o
direito de voto.
Contudo, os cidadãos de
países com e sem o voto obrigatório têm várias objeções contra
esse tipo de sistema. Uma dessas
objeções, especialmente nos Estados Unidos, é que as pessoas
não devem ser forçadas a votar
se a votação entra em conflito com suas perspectivas pessoais ou suas crenças religiosas.
Porém, com o sistema de voto
obrigatório, cidadãos não são
forçados a votar. Por exemplo,
no Brasil, pessoas podem justificar seus votos facilmente ou,
ainda, votar em branco. Cada
ação é permitida e não traz nenhuma consequência ruim para
o cidadão.
Outra objeção é que esse
sistema vai forçar pessoas que
não são bem informadas a votar.
Essas pessoas, então, elegeriam
candidatos populares, como celebridades, que não são qualificados para serem deputados,
senadores ou até presidentes.
No Brasil, os eleitores utilizam urnas eletrônicas. Foto: Divulgação
Por exemplo, Tiririca, um antigo
palhaço, foi eleito como deputado federal de São Paulo, mas
não tinha nenhuma experiência
política. Entretanto, há alguns
pontos a pensar sobre a eleição
dessas celebridades. Em primeiro lugar, os eleitores dos Estados
Unidos, um país com o voto
facultativo, elegeram muitas celebridades também, incluindo
Arnold Schwarzenegger, como
governador do estado da Califórnia, e Ronald Reagan, como
presidente. Em segundo lugar,
pessoas sem experiência na política não são necessariamente
políticos ruins. E, por fim, essa
objeção assume que os eleitores
atuais em países com o voto facultativo são bem informados.
Embora eles votem voluntariamente, isso não garante que votem depois de fazer muita pesquisa.
Há muitos equívocos nos
argumentos contra o voto obrigatório. Sem dúvida, o voto
obrigatório poderia resolver o
problema da porcentagem baixa
de votantes nos Estados Unidos
e também trazer muitas outras
vantagens, que ainda não são
bem conhecidas por nós.
REPORTAGEM
Mudanças no meio ambiente, mudanças em nós
Se o impacto ambiental resultante das ações das pessoas é cada vez maior, o que se pode fazer para minimizar os efeitos negativos?
Iñigo Alexander
Hoje, o meio ambiente passou a constituir uma parte mais
importante da política internacional, e com razão. O mundo no
qual vivemos está sujeito a mudanças climáticas nunca antes
vistas e cada vez mais perigosas,
tanto para nós mesmos como
para o planeta. No entanto, ainda há muitas pessoas que não
acreditam nos acontecimentos
ligados a mudanças climáticas.
Apesar do ceticismo, evidências
comprovam que a consciência
sobre a mudança climática e
seus impactos é extremamente
importante para a sobrevivência
saudável do planeta e da população humana.
De acordo com estatísticas
publicadas pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), 9 dos 10 anos mais
quentes registrados ocorreram
desde 2000. Isso levou a um aumento mundial das temperaturas em 0,8ºC e ao aquecimento
dos mares. Esse aumento também gerou uma diminuição das
camadas de gelo em uma escala
global, o que significa um aumento do nível médio global do
mar de 178mm nos últimos 100
anos, 3,22mm a cada ano. Além
disso, os níveis de dióxido de
carbono no ar são os mais altos
dos últimos 650.000 anos. Esses
fatos dizem muito sobre a situação na qual nos encontramos e
sobre a nossa relacão com a mudança climática.
Os efeitos da mudança climática já são vistos em Porto Alegre. Estudos ambientais
mostram que o sul do Brasil
poderá experimentar no futuro
um aumento de 5% até 10% das
chuvas e também um aumento
da temperatura da região de até
4ºC. Além da estimativa calculada para o futuro, já sofremos
as consequências diretas disso
hoje. O fenômeno do El Niño
é uma amostra das repercussões das mudanças climáticas
no Brasil. Em 2015, houve o El
Niño mais quente já registrado,
o que causou uma primavera e
um verão mais quentes do que
normalmente acontece. Ramiro,
morador de Porto Alegre há 27
anos, afirma que “cada inverno é
mais quente que o último, agora quase nem preciso usar meu
casaco”.
O impacto ambiental também é influenciado pelas ações
das pessoas que habitam o planeta Terra. Nossas ações diárias
contribuem para a mudança climática, mesmo quando não per-
“Nossas ações diárias
contribuem para a mudança climática, mesmo
quando não percebemos”
cebemos. Há muitas maneiras
fáceis de reduzir o impacto ambiental de cada indivíduo. Aqui
estão algumas dicas:
1) Recicle, especialmente
vidro. Vidro reciclado reduz a
poluição do ar em 20% e a poluição da água em 50%. Se não
for reciclado, pode demorar 1
milhão de anos para se decompor no meio ambiente.
2) Evite fazer refeições à
base de carne. Isso ajuda o planeta e a sua dieta. São necessários mais de 9 mil litros de água
para produzir meio quilo de
carne bovina. Além disso, poupam-se árvores. Para cada hambúrguer originado de animais
criados em fazendas, cerca de
55m² de mata foram destruídos.
3) Tome banhos mais curtos. A cada dois minutos a menos no banho, economizam-se
mais de 37 litros de água.
4) Sempre que possível,
compre de agricultores locais
ou mercados de agricultores,
assim apoiando a economia local e reduzindo a quantidade
de gases do efeito estufa emitidos quando os produtos são
transportados por caminhão.
Lembre-se da quantidade de
poluição gerada para trazer o
alimento da fazenda para a sua
mesa. Comprar verduras e frutas
no Mercado Público é a maneira
mais fácil de fazer isso, mas também há vários supermercados
independentes pela cidade.
5) Antes de jogar algum
item fora, pense se alguém está
precisando dele. Doe para uma
organização de caridade ou
ofereça em algum site. No Facebook, você encontra grupos de
trocas ou vendas.
6) Procure não usar sacolas
de plástico para fazer compras.
Uma sacola de plástico demora
até mil anos para se degradar.
Reciclando sacolas previamente
usadas, podemos ajudar a diminuir o consumo de plástico. Essa
solução já foi implementada em
vários lugares do mundo e também no Brasil. Em dezembro de
2011, São Paulo aprovou uma lei
que proíbe a distribuição gratuita de sacolas de plástico, e agora
há um projeto de lei para proibi
-las em nível nacional.
7) Em vez de usar lâmpadas convencionais, invista em
lâmpadas de baixo consumo. É
uma medida muito eficiente, que
pode representar uma poupança
de 80% em relação às lâmpadas
incandescentes, cuja produção
foi proibida na Europa em 2012.
Agora mais do que nunca, é
importante tomar uma atitude
mais ecológica e implementar
valores centrados no meio ambiente na sociedade.
CONEXÃO PPE | PORTO ALEGRE | DEZEMBRO DE 2015
REPORTAGEM
Porto Alegre, uma
cidade quase alemã
A mesa da tribo
Na capital gaúcha, os interessados pela língua e cultura alemã podem
fazer parte do grupo POA Stammtisch - em alemão, Stammtisch sig-
nifica “a mesa da tribo”, uma oportunidade de estar entre amigos.
Fotos: Lena Fischer
No século XIX, muitos imigrantes alemães chegaram a Porto Alegre e se estabeleceram na cidade. Pouco a pouco,
a cultura e a tradição alemã misturaram-se com vários âmbitos da vida brasileira. Hoje em dia, ainda se nota essa influência na vida cultural de Porto Alegre, e não apenas na culinária, mas também nos diferentes eventos que acontecem
na capital. Saiba mais detalhes sobre essa herança germânica.
Lena Fischer
História
Em 1772, Porto Alegre foi fundada por imigrantes portugueses que
vieram dos Açores. Depois, no século
XIX, muitos alemães, polacos e italianos imigraram para a cidade.
Os primeiros imigrantes alemães vieram em 1824 e fundaram a
cidade de São Leopoldo, localizada
na região metropolitana de Porto
Alegre. Considerada o berço da imigração alemã, a cidade foi nomeada
em homenagem à arquiduquesa
Leopoldina, da casa de Habsburgo.
Leopoldina se casou com D. Pedro
I, imperador do Brasil. Depois do casamento, ela trouxe colonos alemães
para a sua nova pátria: camponeses
pobres de Hunsrück e de Pommern,
que sonhavam com uma vida melhor na América do Sul.
Hoje, estima-se que pelo menos
um quarto dos habitantes de Porto
Alegre tenham raízes alemãs. Muitos
ainda falam Hundsrückisch ou Pommersch, dialetos do alemão.
Stammtisch
Nesta época de globalização,
muitas pessoas desejam aprender a
língua alemã. Alguns já têm conhecimentos prévios do idioma, que
aprenderam em casa com seus avós.
Para as pessoas que querem conhecer
ou praticar a língua alemã em Porto
Alegre, existe uma tradição especial:
o Stammtisch.
Em alemão, Stammtisch é uma
expressão que significa “a mesa da
tribo”. É uma palavra que expressa
tanto um encontro regular de pessoas quanto a mesa na qual esses sujeitos se reúnem. Nesse encontro, as
pessoas vão para um local a fim de
conversar, comer e jogar cartas. Sobretudo, bebe-se cerveja.
Na Alemanha, esses encontros
não são organizados, ou seja, as pessoas vão voluntariamente, embora
normalmente se encontre sempre a
Onde ir
O grupo POA Stammtisch recomenda cinco lugares para quem tem
interesse em conhecer o melhor da
culinária alemã em Porto Alegre:
mesma "tribo" num local. Já em Porto Alegre, o Stammtisch desvia-se da
tradição alemã: os encontros são organizados e o local muda constantemente. Nesses encontros, habitantes
de Porto Alegre com antepassados
alemães, alemães que estão no Brasil
e pessoas que simplesmente querem
aprender a língua reúnem-se a cada
semana para conversar, principalmente em bares e restaurantes vinculados à cultura alemã. Para saber
qual será o próximo local a sediar o
encontro, existe um grupo no Facebook, que se chama POA Stammtisch e conta com 525 membros (veja
fotos ao lado).
O atual organizador do evento, Eduardo Fasolo, explica que o
POA Stammtisch é um grupo que
se encontra ao redor de uma mesa
para praticar e aprender o alemão.
De acordo com Eduardo, a ideia de
fundar esse grupo surgiu de uma
alemã que já regressou ao seu país de
origem. Atualmente, eles reúnem-se
todas as quartas-feiras, às 20h.
A respeito dos locais onde
ocorre o evento, Eduardo comenta
que há vários bares e restaurantes
alemães em Porto Alegre, tais como
Schnaps Haus (“Casa da aguardente”) ou Bierkeller (“Porão da cerveja”). Entretanto, seus lugares favoritos são Cuca Haus (“Casa da cuca”)
e Biermarkt (“Mercado da cerveja”).
Nesses restaurantes, pode-se comer
butterbrezel (pão em formato de coração com manteiga), apfelstrudel
(rolo de maçã) e, além disso, encontram-se várias cervejas importadas
da Alemanha, como a Paulaner. Os
membros do Stammtisch gostam da
comida alemã, sobretudo do Brezel.
Muitas vezes, as cervejas e as conversas do grupo são acompanhadas por
essa iguaria.
Os encontros aproximam os interessados pela cultura e pela língua
alemã. Vanessa, intercambista da
Alemanha na UFRGS e membro do
POA Stammtisch, conta que, durante as reuniões do grupo, ela se sente
como se estivesse na Alemanha. As-
> Biermarkt (Rua Castro Alves,
442, Rio Branco)
> Schnaps Haus (Rua Cândido Silveira, 222, Auxiliadora)
> Cuca Haus (Rua São Luís, 1.101,
Santana)
sim, quando está com saudade do
seu país, vai para o Stammtisch, fala
alemão com os amigos e come comida alemã.
Oktoberfest
Não só a culinária porto-alegrense tem influência alemã. Na cidade, também se festejam algumas
festas típicas da Alemanha – entre
elas, a mais popular é, sem dúvida, a
Oktoberfest.
Em outubro, acontecem várias
Oktoberfests em Porto Alegre. A
maneira como os gaúchos festejam
é resultado de uma mistura da cultura brasileira com a alemã. Poucas
pessoas vão com a roupa tradicional
para a festa, embora as mulheres gostem de pôr flores no cabelo. A música
tem elementos típicos da Alemanha,
mas as letras são cantadas em português. A bebida é evidentemente o
chope (ou Schoppen, em baixo-alemão): um copo de meio litro de cerveja.
Os encontros do grupo POA Stammtisch ocorrem todas as quartasfeiras, às 20h, e o local varia a cada semana. Para se manter informado, basta procurar o grupo no Facebook.
Cultura viva
A cultura alemã ainda sobrevive
em Porto Alegre, embora seja constantemente alterada e misturada com
os elementos da cultura brasileira,
adquirindo novos contornos. De fato,
o Rio Grande do Sul conserva fortemente suas raízes alemãs.
Para quem quiser experimentar
um pouco mais dessa cultura, recomenda-se visitar a cidade de Gramado, na serra. A 124 quilômetros da
Capital, Gramado poderia ser qualquer cidade na Alemanha. No Lago
Negro, por exemplo, encontram-se
árvores cujas sementes foram trazidas da Floresta Negra, localizada no
sudoeste da Alemanha. Além disso,
pode-se visitar um parque de diversão que imita o castelo Schloss Neuschwanstein. Em suma, são várias
atrações que aproximam os povos e
que fazem com que imigrantes e intercambistas alemães possam se sentir em casa, apesar da distância.
> Bierkeller (Rua João Abott, 596,
Petrópolis)
> Ratskeller Baumbach (Avenida
Pará, 1.324, São Geraldo)
Busque o grupo: www.facebook.
com/groups/poastammtisch
Um dos destaques das reuniões é a Paulaner, cerveja importada da
Alemanha que faz grande sucesso entre os participantes.
As cucas, comida típica alemã, são um dos pratos preferidos dos
frequentadores do POA Stammtisch.