Judaísmo 2

Transcrição

Judaísmo 2
A religião judaica
Bruno Glaab
INTRODUÇÃO
Faremos, no presente trabalho, um estudo em três momentos. No primeiro momento veremos o Judaísmo em suas linhas gerais. No segundo momento estudaremos o
judaísmo no século I e no terceiro momento estudaremos o judaísmo moderno. Desta
forma pretendemos dar uma visão ampla do judaísmo, sem, no entanto, termos a pretensão de esgotar o assunto. Seria impossível, em tão poucas páginas fazermos um estudo
exaustivo de um fenômeno tão abrangente e rico como é o judaísmo.
O judaísmo tem um papel importante em nossa história, pois impregnou todo o
ocidente religioso e cultural. O cristianismo, que é a maior religião do ocidente é filho
do judaísmo e muitos de seus ritos, costumes e crenças têm suas raízes no judaísmo.
I – ELEMENTOS GERAIS DO JUDAÍSMO
Os elementos essenciais que caracterizam o judaísmo são: Um só Deus, a Torá
(Pentateuco) e Israel. Este Deus fez Aliança com Israel (Ex 19-24), por isto mesmo, Israel é o filho amado (Is 49,6). Não se quer, como nas demais religiões, transformar todos os povos em judeus, uma vez que o conceito “judeu” além de religioso, é também
racial.
“No judaísmo não se imagina que todas as pessoas venham a se tornar judias,
mas existe a esperança de que o mundo inteiro reconheça a soberania de um único
Deus” (COOGAN, 2007, p.16). Israel se entendia, no passado como um povo, uma nação, uma crença, uma cultura. Hoje, porém, há dúvidas quanto a estes conceitos. Existem judeus de diversas cores de pele (GAARDER, 2002,98).
1.1 - As Escrituras (Bíblia – Antigo Testamento)
Para o judaísmo, as Escrituras têm papel central. Elas se dividem em:
 A Lei (Torá) = Pentateuco ou 5 livros de Moisés
 Os Profetas (Neviim)= Livros históricos e proféticos
 Os Escritos ((Ketuvim) = livros sapienciais
Tomando as letras iniciais de Torá, Neviim e Ketuvin se forma a palavra Tenakh, que se tornou a palavra hebraica para Bíblia, pois Bíblia é palavra grega.
Para os judeus, a Torá é o miolo da Bíblia. Alguns grupos só usam a Torá. Ou
seja, mesmo aqueles grupos que usam os demais textos, têm a Torá como a parte principal. O rolo da Torá é o objeto mais sagrado do judaísmo. Cada letra deve ser bem escrita por um escriba treinado. Desaparecendo uma letra, o rolo é inutilizado, enterrado em
cemitério (COOGAN, 2007, p.35).
1.2 - Mishná/Talmude e outros escritos
As muitas Tradições Orais da Bíblia foram comentadas, discutidas e aplicadas à
vida concreta. Este trabalho recebe o nome de Mishná (O que é ensinado). Representam
a opinião das maiorias e das minorias. Ao serem compiladas em livros, recebem o nome de Talmude (Estudo). Algumas tradições rabínicas davam o mesmo valor ao Talmude que à Torá. Além do Talmude havia também o Targum, que era a tradução da Torá
para o aramaico, língua falada pelos judeus depois da volta do Exílio 1. No século XIII
um rabino espanhol, Moisés de León compilou uma porção de escritos aramaicos (Zohar). Estes serviram de Base da Cabala. Trata-se de um movimento místico com uma
tentativa de penetrar nos mistérios da divindade. Acabou num movimento esotérico que
tem influência até os nosso dias.
1.3 -Deus
O Deus de Israel recebe diversos nomes. O mais comum é YHWH
, ou seja, na forma aportuguesada, Javé, ou também, Jeová. Existe também a forma Elohim
(plural de El) e El Shaddai. Mas a forma YHWH se impôs e aos poucos foi absorvendo
as demais formas. Yahweh pode ser traduzido por “Eu sou o que sou”, ou ainda, “O que
faz acontecer”.
Javé é um Deus transcendente. Seu nome é totalmente santo, por isto mesmo não
podia ser pronunciado, a não ser pelo Sumo Sacerdote, no dia do Yom Kipur. Aparecendo a Palavra YHWH em algum texto, o leitor devia pronunciar Adonai (meu senhor). Se o escriba estivesse copiando textos sagrados e aparecesse o nome santo Yahweh, ele tinha de parar e lavar as mãos, para depois copiar o nome de Deus.
O Deus de Israel não podia ser representado por figuras como seres humanos,
animais ou estátuas (Ex 20,4-6). Assim em Israel não se encontra representações artísticas de Deus. Ele não tem forma física, é invisível (COOGAN, 2007, p.26).
O Credo judaico era: “Ouve Israel: Yahweh nosso Deus é o único Yahweh” (Dt
6,4). Esta frase é repetida todas as manhãs pelos judeus. É um Deus pessoal que se preocupa com o mundo que criou.
1.4 -Messianismo
Pairava, sobre Israel uma promessa de que sempre haveria um filho de Davi
(descendente) para governar Israel (2Sm 7,9ss). Quando, porém, em 589 a.C. a Babilônia invadiu Jerusalém e assassinou todos os filhos do último rei e depois de o ter vazado
os olhos deste, o levou cativo para a Babilônia, pôs fim a dinastia de Davi.
1
Antes do Exílio da Babilônia em Israel se fala o Hebraico. Todos os livros do antigo Testamento da Bíblia
Hebraica são escritos em hebraico, menos uma parte do livro de Daniel que já é escrito em aramaico.
Nasce agora a esperança messiânica de vir um novo Messias (ungido como Davi) para reinar sobre Israel que estava sob o jugo estrangeiro. Este ungido esperado deverá ser um novo Davi ou um novo Moisés e que assim, Israel voltaria a ser um país livre (Is 7,13-14; Is 11,1ss e Dt 18,13ss). Mais tarde este messias assumiu características
apocalípticas, como alguém que viria sobre as nuvens para reinar (Dn 7,13ss). No Novo
Testamento Jesus assume o papel de Messias = Cristo (COOGAN, 2007, p.28).
2
1.5 -Personagens
O judaísmo não venera figuras como os santos. Mesmo assim, entre seus antepassados há muitos destaques: Abraão, Moisés, Davi são os mais importantes. Abraão é
visto como o pai da fé. Moisés é o legislador. Por meio dele foi dada a Lei (Torá) e Davi
é o primeiro rei, por isto é visto como o rei por excelência, o iniciador da dinastia real.
Há outros personagens importantes com Esdras, Hilel, Akira, etc. Estes personagens desempenharam papel importante na vida do povo e da fé.
1.6 - Crença
No judaísmo primitivo não existe a crença na vida eterna, ou seja, vida após a
morte. A recompensa de Abraão e dos antigos, é ter muitas terras e muitos filhos (Gn 12
e 15), pois acreditavam que Deus abençoava os bons com terras e nos filhos continuaria
a vida dos pais. A crença na Vida eterna entra em Israel, talvez a partir da Babilônia. Já
nos tempos do Novo Testamento alguns grupos acreditavam em vida eterna, como os
fariseus. Já os saduceus não acreditavam (Mc 12,18).
Os judeus viviam a Torá, que os rabinos resumiram em 613 leis (COOGAN,
2007, p.38). Deviam imitar a santidade de Deus. Sua moral consistia na observação das
leis, no serviço divino (culto – liturgia) e em atos de caridade para com o semelhante.
Creem que o SH tem o poder de fazer o bem e o mal. Cada indivíduo deve optar. Isto é
o livre arbítrio.
Uma das características do judaísmo é seu rígido sistema alimentar. Não podem
comer alimentos comuns. O Kashrut ou Kasher (adequado) é um critério baseado na
Torá, principalmente no Lv 11. Não comem carne de porcos, não comem peixes sem
escamas, etc. Em certos supermercados existe o setor Kasher, isto, produtos que podem
ser consumidos por judeus. Mesmo animais que podem ser consumidos devem ser abatidos dentro dos critérios judaicos. Por isto, os grandes batedouros exportadores de carne para Israel devem ter fiscais judaicos. Só assim os produtos serão declarados Kasher.
1.7 - Fases da Vida
A religião judaica tem diversos ritos para as diversas fases da vida do SH (GAARDER, 2002, p.112). estes ritos são realizados comunitariamente.
2
Messias é a palavra aramaica que para nós é conhecida por Cristo (grego). Tanto Messias como Cristo
significa Ungido. O rei era ungido com óleo. Assim foi ungido Saul (1Sm 10,1ss), como também Davi
(1Sm 16,1ss).
 Circuncisão: todo menino é circuncidado ao oitavo dia. Trata-se de um
pequeno corte na glande do menino. É o sinal da aliança com Javé. Neste
dia o menino recebe o nome. A menina também recebe o nome ao oitavo
dia, em uma cerimônia na sinagoga, mas não é circuncidada.
 Bar Mitzvá e Bat Mitzvá: Filho do mandamento/filha do mandamento.
O menino ao completar 13 anos se torna Bar Mitzvá e a menina, aos 12.
A partir de então o menino é responsável como o adulto e apreende a lei.
A menina é instruída quanto aos costumes alimentares Kasher.
 Casamento: a família é o núcleo básico do judaísmo. Por isto se valoriza
muito o casamento. Este geralmente é realizado na sinagoga. É entendido
como a forma privilegiada de viver a fidelidade a Deus. Dificilmente acontecem casamentos mistos, o que para o judaísmo é um problema.
Permite-se o divórcio, mas esta é mais uma questão decidida pelo homem, que deve dar carta de divórcio à esposa e ratificado por um conselho de rabinos.
 Sepultamento: o sepultamento deve ser realizado o mais breve possível.
Não permitem a cremação. Têm profundo respeito pelos seus cemitérios,
pois ali repousam os corpos até o dia da ressurreição.
Além destes momentos marcantes da fase da vída, os judeus rezam três vezes ao
dia, enfatizam muito a higiene pessoal, recitam bênçãos para quase todos os momentos
do dia. Leem a Tora em trechos alternados aos sábados, ou seja, num ano devem ler toda a Torá (COOGAN, 2007, p.44).
Seu dia celebrativo é o Sábado. No sábado não fazem nenhum trabalho, vão à
sinagoga para o culto. Aí se transmite os costumes e a doutrina judaica.
O calendário judaico é muito anterior ao calendário cristão. Quando o calendário
cristão marcava 1999 o calendário judaico marcava 5759-60, pois creem que esta é a idade do mundo3. Seu calendário é lunar e não fecha completamente com o calendário
cristão. Por isto, em cada 19 anos eles acrescentam um mês para corrigir o calendário
defasado.
A seguir iremos fazer um estudo sobre o judaísmo como ele se apresentava no
século I da nossa era. Este estudo é importante, pois é neste tempo que o judaísmo se
desinstala de Israel e ganha o mundo. Além do deslocamento geográfico, acontece também uma metamorfose no judaísmo. Este se adapta aos novos tempos.
II - INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS NO SÉCULO I
A religião, em Israel, perpassa tudo: economia, política, sociedade, etc (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p.37ss).
3
Is é uma antiga crença que prevalece, embora nenhum judeu instruído hoje acredite que o mundo foi
criado a 5759 anos.
2.1 - O templo
O templo é o centro de Israel. O 1º foi construído por Salomão (971-931ª.C) em
Jerusalém e destruído por Nabucodonosor (597). O 2º foi reconstruído sobre as ruínas
do 1º, na volta do Exílio(515). O mesmo foi reedificado e enriquecido por Herodes em
20 a.C. - 64 d.C.
Um edifício esplêndido recoberto de ouro e de mármore branco. Josefo fala do
ouro e diz que este refletia tanto que não se podia fitá-lo em dia de sol. No seu interior
havia diversos níveis:
1 - Santo dos Santos - só entra o sumo sacerdote.
2 - Santo - os sacerdotes: altar dos perfumes, mesa
dos pães, candelabro.
3 - Altar dos sacrifícios.
4 - Pátio dos sacerdotes.
5 - Pátio de Israel - homens.
6 - Pátio das mulheres
7 - Pátio dos gentios.
Na mentalidade judaica, Deus é todo santo, todo puro. Tudo o mais é imperfeito
e impuro. Quanto mais se aproxima de Deus, tanto mais puro se recebe a santidade e a
pureza de Deus. Esta santidade e pureza decrescem quando se afasta. O ser humano,
conforme o seu estado, vai penetrando nos níveis superiores. Não pode ultrapassar seus
limites, pois assim se profanaria tal ambiente. Por isto, no templo, cada um tem sua área
bem delimitada.
Ao lado do templo funcionava o Sinédrio e na frente estavam os comerciantes de
animais para o culto e os cambistas.
Apesar da beleza, o templo tinha uma parte mal cheirosa: o altar, onde se queimava os animais (SAULNIER, ROLLAND, 1983, p.39).. Este poluía o ambiente. Colocava-se o incenso para abafar o cheiro. Todos os dias se imolava dois cordeiros a Deus,
um de manhã, outro à tarde. Também se imolava dois animais a Deus pelo imperador.
Faziam-se, também, outros sacrifícios durante o dia.
O fiel entrava no templo, comprava o animal, a farinha, o óleo para o sacrifício.
Depois penetrava no pátio de Israel, apresentava sua oferta a um sacerdote, este o conduzia aos pés do altar. Lá o sacerdote imolava o animal e o esfacelava. Depois era
queimado. A mulher e o estrangeiro podiam mandar oferecer sacrifícios, mas não podiam ir ao altar.
2.2 - A sinagoga
Só há um templo para todo israel. Ele está localizado em Jerusalém, mas para a
vida cotidiana, existem muitas sinagogas, até nas menores aldeias. Sinagoga é um edifício onde se reúnem os fiéis para a oração, mas nelas não se faz sacrifícios, como no
templo.
2.2.1 - A reunião
A sinagoga começa a existir nos tempos do Exílio, quando o povo não consegue
mais ir ao templo, pois está deportado e o templo fora arrasado (2Rs 24 e 25). Para cultivar a fé e meditar a Torá, sobre os acontecimentos políticos, bem como sobre os profetas, o povo se reúne em pequenas salas, estas recebem o nome de Sinagoga (em grego,
locais de reunião). Jeremias e Ezequiel devem ter forte influência na sua origem. Mais
tarde, de volta a Judá e mesmo os que vivem no Exílio, se reúnem para alimentar sua
espiritualidade. Nos tempos de Jesus havia muitas sinagogas espalhadas pelas aldeias.
Só em Jerusalém havia 480 (SAULNIER; ROLLAND, 1983, p.450.
O culto se dava da seguinte maneira:
a) Recitação do Shemá (Credo: Ouve ó Israel (Dt 6,4-9; 11,13-21; Nm 15,37-4l).
b) Recitação de orações, proclamadas pelo líder e o povo respondia: “Amém”.
c) Leitura da Palavra de Deus tirada da Torá (Pentateuco). Lia-se frase por frase
em hebraico e alguém traduzia para o aramaico todas as frases. Todo judeu adulto podia
ler a Torá.
d) Leitura dos profetas.
e) Pregação - todo judeu adulto podia fazer a pregação, mas nem todos eram intelectualmente aptos. Parafraseava-se textos bíblicos, muitas vezes fora do contexto.
f) Fim.
Não precisava de sacerdote, os leigos podiam fazê-lo, mas devido à inaptidão,
muitos deixavam tal ofício aos escribas e fariseus que eram bem preparados para esta
tarefa. Para celebrar o culto era necessário haver um mínimo de 10 homens adultos e livres. As mulheres não contavam.
2.2.2 - Os edifícios
Os edifícios eram orientados para o templo. Continham um armário com os rolos
da Torá e dos profetas. O povo geralmente sentava no chão. As mulheres e as crianças
ficavam separadas dos homens. Nestes prédios também funcionava a escola.
2.3 - As festas
Três grandes festas e algumas de menor importância marcavam o calendário judaico. As três grandes duravam uma semana cada e eram celebradas no templo
(SAULNIER; ROLLAND, 1983, p.47).
2.3.1 - Festas Grandes
a) A Páscoa: Originalmente a páscoa era uma festa de pastores, que recordava a
passagem do inverno para a primavera e dos agricultores que ofereciam as primícias da
cevada. Mais tarde se deu dimensão histórica e se ligou à libertação do Egito. No século
I da Era Cristã se celebrava, na páscoa, todos os grandes fatos fundadores de Israel. A
festa era celebrada em Jerusalém, no templo.
Nesta ocasião acorriam em média 180 mil peregrinos a Jerusalém. Na tarde do
dia 14 de nisan (abril) o pai vinha ao templo com seu cordeiro. O sacerdote o imolava e
levava o sangue ao altar. De volta à casa, o cordeiro era assado. Enquanto isto, a esposa
jogava fora o fermento e o pão fermentado e preparava pães ázimos e ervas amargas 4.
Iniciava-se a refeição sentados em divãs. O vinho era obrigatório. Os pobres recebiam
vinho do templo (4 taças). Durante a refeição cantavam os Salmos 113-118. O pai dava
bênçãos e os filhos perguntavam o porquê desta refeição diferente. O pai então explicava a intervenção de Deus na história de Israel.
Na semana seguinte o povo freqüentava o templo, fazia sacrifícios e ouvia os
discursos de renomados rabinos.
Os romanos, que controlavam Israel nos tempos de Jesus, acompanhavam de
perto esta festa, pois sempre havia motivos de conspiração, pois como se afirmou acima, havia grande peregrinação de povo a Jerusalém, nestas festas.
4
Jogar fora o fermento era uma antiga tradição pré-Israel, quando a festa ainda era apenas agrícola.
Quando se iniciava a colheita, os fiéis não queriam misturar o produto novo com o velho (da safra anterior. Tudo tinha de ser novo. Como o fermento, na época era massa da fornada anterior, guardada crua
e fermentada, ela não podia ser inserida não pão novo, pois aí se misturaria produtos da safra anterior
com a nova. Assim sendo, o primeiro pão da nova safra não tinha fermento. Era pão ázimo. Ainda hoje
os judeus observam isto. Na Igreja Católica se usa a hóstia, que é pão sem fermento.
b) Pentecostes: esta festa era celebrada 50 dias depois da Páscoa (Dt 16,9). Inicialmente era a festa da colheita (Ex 23,16). Tornou-se a festa das semanas (Ex 34,22).
Mais tarde foi vinculada à Aliança do Sinai (Ex 19-24). A partir do século I da era cristã
ela celebrava a renovação da Aliança.
c) Tendas (Tabernáculos): Segundo Josefo, era a mais santa das festas. Sua origem era rural, significava o fim das colheitas (vindimas - Lv 23,43). Nos tempos do NT
lembrava que o povo morou em tendas ao sair do Egito (Ex 16ss). Salomão dedicou o
templo nesta festa (1Rs 8,65-66).
Os peregrinos, nos tempos de Jesus, construíam cabanas nos arredores de Jerusalém e nela moravam durante uma semana. Faziam-se procissões.
2.3.2 - Festas menores
a) Yom Kipur: dia de expiação. Era celebrada alguns dias antes das Tendas. Era
um dia de tristeza e de jejum que durava 24 horas. Neste dia pedia-se o perdão a Deus
pelas culpas do povo. Sumo Sacerdote penetrava no Santo dos Santos onde depositava
incenso e sangue de cordeiro pelos seus pecados e pelos pecados do povo (Hb 9,1ss).
Neste dia se conduzia um bode ao deserto para Azazel. Este bode carregava os pecados
do povo (Lv 16).
b) Rosh Hashana: Ano Novo. Dez dias antes do Yom Kipur. É festa austera
que prepara o Yom Kipur.
c) Hanuká: (dedicação). Lembrava o aniversário da purificação do templo depois da vitória de Judas Macabeu (l64 a.C.).
d) Purim: (sortes). Lembra a libertação do povo narrada no livro de Ester. Festa
equivalente ao carnaval.
e) Sábado: Celebra o ritmo semanal. Tem origem complexa. Lembra o ciclo lunar e também a necessidade de liberdade para os escravos. Nos tempos de Jesus o sábado havia sido absolutizado. Jesus o relativizou.
f) Oração diária: Rezava-se:
- De manhã, antes de qualquer atividade;
- De tarde.
- Os homens adultos deviam rezar voltados para o templo de Jerusalém uma
prece de bênção, o Shemá (Credo Dt 6,4-9) e mais 18 bênçãos.
2.4 – A Sociedade Judaica
A sociedade judaica está dividida em diversas camadas (SAULNIER; ROLLAND, 1983,54). Apesar da dominação romana, havia pessoas bem ricas. A sociedade
pode ser assim representada:
2.4.1 - O Sumo Sacerdote
Desde a volta do Exílio, não havendo mais rei, o sumo sacerdote se torna a autoridade máxima. Ele é responsável pela Lei, pelo templo e pelo sinédrio. Sua morte era
vista como expiatória. Nesta ocasião os assassinos eram indultados.
O sumo sacerdote era a máxima dignidade. Tornava-se muito rico. Todas as tardes ele era o primeiro a escolher sua parte entre as ofertas do templo. Às vezes extorquia as sobras destinadas aos demais sacerdotes. O templo era o centro do comércio e
este comércio estava nas mãos do sumo sacerdote. Vendia animais para o sacrifício e,
devido às lei, todos deviam comprar ali. Também vendia madeiras nobres e objetos de
luxo, únicos considerados dignos de Deus.
O sumo sacerdote estava sujeito ao poder romano. Quando não o bajulava ou
não respondesse à confiança podia ser deposto. O novo sumo sacerdote era nomeado pelo poder romano. Para isto os candidatos bajulavam e, às vezes até compravam o cargo.
Os sumo sacerdotes são a espinha dorsal dos saduceus. Eles são assessorados
pelos chefes dos sacerdotes procedentes da família dele ou do seu círculo de amigos.
2.4.2 - Os sacerdotes
O sacerdócio era hereditário, a mãe devia ser judia e o filho, normal. No NT havia 7 mil sacerdotes. Eles ofereciam os sacrifícios e conservavam a parte central do
templo. Dividiam-se em 24 equipes. Cada equipe ficava responsável durante uma semana pelo culto. Só nas grandes festas todos trabalhavam ao mesmo tempo. Assim, cada
sacerdote trabalhava 5 semanas ao ano. Estes sacerdotes muitas vezes eram extremamente pobres. Só recebiam ofertas durante as 5 semanas de trabalho, e só lhes sobravam
as migalhas, pois os sumo sacerdotes e os chefes deixavam pouco para eles. Os dízimos
dificilmente chegavam em suas mãos. Eles têm de ocupar outros cargos: carpinteiros,
pedreiros, comerciantes, etc. Alguns se tornam escribas. O baixo clero está mais próximo do povo, por viver situação semelhante a ele.
2.4.3 - Os levitas
Formavam uma classe de subproletários do templo. Espécie de sacristães. Eram
sacerdotes rebaixados. Nos tempos de Jesus havia 10 mil, também divididos em 24 grupos que se revezavam nos serviços do templo. Trabalhavam 5 semanas por ano no templo. Provavelmente não recebiam nada do templo daquilo que lhes era destinado (Nm
18,8-32), pois os sacerdotes se apoderavam disto. Para subsistir ocupavam-se de outras
funções. No templo eles ocupavam as funções de músicos e de porteiros. Animavam a
liturgia e faziam a limpeza do templo. Faziam, também o policiamento do templo.
2.4.4 - O povo
O povo se subdivide em diversas categorias:
2.4.4.1 - Anciãos
Eram formados por uma aristocracia leiga de Israel, membros do sinédrio. Numericamente eram poucos, mas ricos. Geralmente latifundiários e comerciantes. Ligavam-se ao templo e aos sumo sacerdotes com seus negócios, bem como aos sumo sacerdotes. Muitas vezes arrendavam o ofício de arrecadar os tributos. Lucravam muitos
com isto. São os primeiros em dignidade, fora os sacerdotes. Não podem entrar nas dependências íntimas do templo, apesar de serem membros do sinédrio e de serem saduceus.
2.4.4.2 - Classe média
Comerciantes e artesãos. Dependem do templo. Alguns se ocupam de fabricar e
vender souvenirs para os peregrinos. Também se ocupavam de hotelaria, abastecimento
e transportes.
Os peregrinos deviam consumir o 2º dízimo em Jerusalém (Dt 12,17-18). Esta
lei fazia com que os peregrinos vendessem seu produto em sua terra e comprassem, para
consumir em Jerusalém, onde era bem mais caro (o triplo), enriquecendo os comerciantes com isto.
2.4.4.3 - O povão
Pequenos proprietários agrícolas que só produziam o autosustento. Só o filho
mais velho herdava as terras. Os demais se tornavam operários.
Havia também muitos artesãos, alguns deles mal vistos: curtidor, tecelão, pastor,
médico, operários e diaristas. Todos estes eram desprezados pelos saduceus, escribas e
fariseus. São chamados de povo da terra, ignorantes e às vezes até de malditos (Jo 7,49).
São as pessoas que esperam a intervenção de Deus para resolver seu problema. Formam
o terreno propício para a semeadura do evangelho: “Bem-aventurados, vós, os pobres...”(Lc 6,20).
2.4.4.4 - Os miseráveis
Deficientes, leprosos, inaptos para o trabalho. Só lhes sobrava mendigar, roubar
ou algum papel de escravo.
Os mendigos geralmente permaneciam em Jerusalém onde os peregrinos davam
esmolas. Entre eles havia muitos ladrões que assaltavam peregrinos nas estradas.
Os escravos se dividiam em duas categorias:
a) Escravos judeus: O ladrão que não pudesse restituir o que roubara, ou quem
fizera empréstimos e não pudesse devolver corria o risco de ser escravo. Só o homem
adulto e a filha menor podem ser escravizados. O homem fica escravo por, no máximo 6
anos. No ano sabático ele devia ser libertado. Ele era tratado como o filho mais velho.
Não podia ser humilhado.
b) Escravo pagão: Este era escravo por toda a vida. Era totalmente propriedade
do senhor. Até seus pertences são do senhor. Não pode conquistar a liberdade. O senhor
só não pode mutilá-lo ou matá-lo. Comprando um escravo, o senhor deve circuncidá-lo.
Se este não concordar, então deverá vendê-lo a um pagão. Mesmo circuncidado, o escravo não vira judeu. Não precisa observar as obrigações religiosas, pois assim não poderia servir plenamente. Só o repouso sabático lhe é reconhecido.
2.4.4.5 - Os escribas
São os especialistas da Lei (Torá). Explicam e atualizam a Lei. São os guias espirituais. Geralmente são leigos. Procedem dos ricos com dos pobres. São considerados
filhos e sucessores dos profetas até que venha o profeta messiânico. Eles têm papel importante nos tribunais. São advogados e juizes. Participam do sinédrio. São próximos
aos fariseus, mas nem todos procedem deles. São os poucos que conseguem ascender na
escala social. Hilel foi mendigo e chegou a ser um escriba dos mais importantes. Para
eles, as qualidades pessoais valem tanto ou mais do que a hereditariedade. Sobrepujam
os sacerdotes e depois dos anos 70 criam o rabinismo em Jâmnia.
Sua vida é rígida. Dedicam 1/3 do dia ao estudo, 1/3 ao trabalho e 1/3 à oração.
Aos 40 anos são ordenados, a partir de então passam a tomar parte no sinédrio. Podem
usar roupas especiais e são saudados por todos. Muitos deles são pobres.
2.4.4.6 - A mulher
Mulher podia ser comprada como o escravo. Ela é submissa ao marido. É desaconselhado ensinar-lhe a Lei. Não observa toda a lei, só aquilo que a torna submissa ao
homem. “Aquele que ensina a Torá à sua filha ensina-lhe a prostituição”.(SAULNIER;
ROLLAND, 1983, p.65).
O lugar da mulher é na casa, nada tem a fazer fora. Quando sai deve usar véu.
Não se deve dirigir palavra a ela, nem cumprimentá-la. Ela não pode ser testemunha. Na
sinagoga ela fica separada do homem, seu número não conta. Se não tiver no mínimo 10
homens, o culto não pode ser celebrado. Se o marido quiser ter outras mulheres, ela deverá admiti-lo. O homem deve dar alimento, vestes e moradia. Se não o fizer, o tribunal
poderá obrigar o marido a se divorciar. Em casos raros as mulheres têm lugar de destaque.
2.4.4.7 - Os filhos
O filho é uma bênção. Não ter filhos é uma maldição e a mulher é reponsabilizada.
a - Nascimento: A criança nascia em casa. Devido ao espaço, muitas vezes as
mulheres davam à luz nos estábulos. Oito dias depois a criança recebia o nome e era
circuncidada pelo pai ou por alguém experiente. O primogênito era de Deus (Ex 13,2).
Como Deus não aceita sacrifícios humanos, ele devia ser resgatado (Ex 13,13) por alguns ciclos de prata (Nm 18,15-16). Nascendo menino, a mãe se purificava 40 dias depois; nascendo menina, a purificação se dava 80 dias depois (Lv 12,2-7).
b - Educação: Havia muita rigidez na educação. A vara era usada com rigor.
Até os 4 anos a responsabilidade é toda da mãe, depois os meninos eram adotados pelo
pai. A partir dos 4 anos começa a educação profissional. A filha podia ser vendida após
os 6 anos. Começa também, agora o ensino da Torá aos meninos. As meninas só aprendiam as severas proibições e tudo o que se refere a ela. Fora disto, quanto menos se lhes
ensinava, melhor. O menino devia aprender a Lei, pois deve honrar o Senhor, deve sa-
ber ler textos sagrados e interpretá-los. Há escolas para os meninos, onde tudo gira ao
redor das Escrituras.
c - Educação superior: Alguns rabinos formavam escola onde instruíam discípulos. Havia duas grandes escolas: Hilel, liberal e Shamai, rigorista. Nestas escolas se
formavam os escribas e doutores da Lei. Quase só os filhos de famílias ricas podiam
freqüentar tais escolas, que funcionavam do nascer ao pôr do sol.
2.4.4.8 - O matrimônio
a - Idade: Até os doze anos a pessoa é menor. Os meninos se tornavam maiores
aos 12 anos e se tornavam obrigados a observar a lei e se iniciavam no trabalho. Deviam
construir ou arrumar casa, plantar uma vinha e casar-se. O casamento geralmente se dava entre os 16 e os 22 anos. O ideal era casar aos 18. Alguns rabinos diziam que Deus
está atento a que o homem se case ao mais tardar aos 20 anos e o amaldiçoa se não o fizer até esta data. As meninas são adolescentes entre os 12 e 12 1/2. Neste tempo o pai
deve entregá-la a um homem como esposa. Se não o fizer até então, a filha se torna
maior e livre, não precisa mais aceitar a resolução do pai, porém, no contexto de então,
ela dificilmente o fazia.
b - O noivado: É um compromisso que liga os noivos. Estipula o que cada um
paga: o que o noivo paga ao sogro e o dote que o sogro dá à filha. Só os filhos herdam,
as filhas recebem um dote. Se ela for repudiada, os bens do dote pertencerão a ela. O
noivado dura em media um ano. É o tempo em que a menina vira moça. Ela só deve casar depois de menstruar pela 4º vez.
c - O casamento: Não existe cerimônia religiosa. O noivo vai buscar a noiva e a
conduz até sua casa. A partir de então deve usar véu. O pai pronuncia a bênção (Dt
22,13-21). A noiva passa da submissão ao pai à submissão ao marido. Só ficando viúva
ela se vê livre, mas aí terá outros problemas: deve ter renda suficiente. Caso contrário,
sobram para ela três opções: 2º casamento, a miséria ou a prostituição.
d - O divórcio: Só o homem pode pedir divórcio. Algumas vezes por questões
fúteis (Dt 24,1).
- Shamai: só se a mulher foi infiel.
- Hilel: se a mulher preparou mal uma refeição, ou se já não agrada ao homem.
2.5 – Os Grupos religiosos e políticos
Diversos grupos sociais ou seitas marcaram a Palestina dos tempos de Jesus
(SAULNIER; ROLLAND, 1983, p.74). É difícil separar o social do religioso, pois em
Israel a religião pervade o social. Na época dos Macabeus, os chefes políticos também
assumem o sumo sacerdócio (Jônatas). São os costumes teocráticos, onde a religão marca o social e o político. Eles eram sacerdotes, mas não descendentes de Sadoc (2Sm
8,17; 1Rs 2,35). Isto causou mal estar entre os fiéis, resultando em divisão de grupos.
Assim houve reações e se formaram diversos grupos.
2.5.1 - Os saduceus
Descendentes de Sadoc (2Sm 8,17: Ez 40,46). São descendentes do sacerdócio e
da aristocracia dos tempos dos Macabeus. São abertos aos helenistas. Interferem na política mediante o sumo sacerdote. São coniventes com os romanos. Controlam o templo
e o sinédrio. Nos tempos de Jesus eles haviam perdido um pouco do seu poder para os
fariseus e escribas. Apegam-se ao Pentateuco e desconsideram os profetas e demais escritos. São contra qualquer inovação. Negam a ressurreição e pregam a recompensa imediata e material. São ricos, isto os justifica. A Lei só vale no templo. Fora podem ter
liberdade. A santidade é reservada aos que vivem no templo (sacerdotes). Não têm influência na vida do povo.
Nos tempos de Jesus eles estão em baixa. O sumo sacerdote é nomeado pelo imperador, isto lhes tirou o prestígio. Além disto, sofrem pressão dos fariseus, que aos
poucos vão despojando seu poder sagrado, interferindo no culto, no templo e no sinédrio.
Sua prosperidade depende da paz social, por isto condenam qualquer movimento
popular de insurreição. Eles são os primeiros a condenar Jesus (Jo 11,49-50). Desaparecem nos anos 70 com a destruição do templo.
2.5.2 - Os zelotes
Inicialmente chamados de bandidos e salteadores. Suas origens (Nm 25,6-13)
perpassam a época dos Macabeus. Executam impiedosamente os infiéis e traidores, bem
como os estrangeiros. Nos tempos de Jesus eles se tornam muito violentos contra os
romanos. Vivem, geralmente na Galiléia. Exterminando os infiéis, julgam apressar a
vinda do Reino.
2.5.3 - Os fariseus
Originam-se dos hassidin (judeus piedosos) nos tempos de Esdras e Neemias.
No tempo da restauração querem, além de reconstruir o templo, reconstruir uma vida
espiritual fundada sobre a Lei e a oração.
Ideologicamente estão próximos dos zelotes, mas não se engajam politicamente,
nem usam a violência. Querem salvar a pátria pela piedade e pela Lei. Valem-se da sinagoga para difundir a Lei. Exercem muita influência sobre o povo, principalmente no
campo religioso. São separados do povo, pois o consideram ignorante da Lei e impuro.
Julgam que a Lei de Moisés não está toda escrita. Uma parte vem da tradição oral. Esta
tradição fica esotérica e adquire o mesmo valor da Lei escrita. Os rabinos se valem disto, criando preceitos para o povo.
2.5.4 - Os essênios
São conhecidos por Flávio Josefo, Filon e Plínio. Tornaram-se mais conhecidos
com a descoberta das grutas de Qumram (1947). Parece serem descendentes de Sadoc
que se refugiaram no deserto durante a perseguição dos Macabeus. Lá se ajuntaram com
outros refugiados e formaram uma organização monástica. Parece que nem todos moravam nas grutas e nem todos eram célibes. São extremamente apegados às leis da pureza.
Recusam o templo por estar manchado e pelo fato de o Sumo Sacerdote não ser mais
sadoquita. Esperavam que Deus restabelecesse o culto e o templo na sua pureza original. Enquanto esperam tal intervenção, vivem uma santidade radical. Consideram-se o
exército de Deus para aniquilar os infiéis. Esperam apenas um sinal de Deus para come-
çar o extermínio. Estão sempre prontos para o combate. Os evangelhos nunca falam deles. Jesus não deve ter se aproximado deles.
2.5.5 - Os herodianos - Mc 3,6
Este grupo só nos é conhecido pelos evangelhos. Eram judeus bajuladores de
Herodes, sempre de ouvidos atentos e olhos abertos para farejar qualquer movimento
messiânico contra o poder de Herodes.
2.5.6 - Os Batistas
Formavam um movimento de despertar religioso que se propagava entre o povo
simples. Muitos deles quase não deixaram rastros literários. Propõem a todos a conversão (Lc 3,7-14). Entre eles estão João Batista e seus discípulos, que continuam até os
tempos apostólicos (At 18,25; 19,1-5) e também Jesus e seus discípulos (Jo 3,22; 4,1-2).
Parece ter havido outros grupos.
2.5.7 - Os samaritanos
Segundo 2Rs 17 os samaritanos teriam sua origem na mistura de mesopotâmicos
com israelitas remanescentes. Os samaritanos dizem que sua origem vem da época em
que se abandonou Siquém como lugar de culto (Js 24). Parece mais lógico que sua origem provenha do período pós-exílico, quando se quer reconstruir o templo de Jerusalém
(Esdras e Neemias).
Eles só aceitam o Pentateuco como Escritura. São observantes rigorosos da Lei.
Celebram o Deus único e Moisés seu intérprete. Não aceitam os demais livros do AT,
nem Jerusalém e o templo. Seu lugar de culto é o monte Garizim. Na sua versão do Decálogo há um acréscimo: o 10º mandamento manda celebrar em Garizim. O Messias
que esperam não é descendente de Davi, mas um novo Moisés (Dt 18,15).
III - O JUDAÍSMO MODERNO
Até o fim do século XVIII os judeus, na Europa eram vistos como cidadãos de
segunda categoria. Com a abertura da sociedade para eles, muitos perderam sua identidade (COOGAN, 2007, p.48). Alguns receberam o batismo cristão. Mesmo os que não
se converteram ao cristianismo, assimilaram valores ocidentais e tentaram se adaptar
aos tempos modernos:
 Judaísmo moderno: surge na Alemanha, no século XIX para se adaptar
às filosofias pós-iluminismo. São ecléticos. Ressaltam mais a ética do
que os ritos;
 Judaísmo ortodoxo (correta doutrina): também surgem na Alemanha, no
século XIX, como reação ao judaísmo moderno. Eles se dividem em centristas, hassidicos (pios), ultra-ortodoxos.
 Movimento conservador: surge na Alemanha mas se desenvolvem mais
nos EUA. Fazem o meio termo entre os modernos e os ortodoxos.
Estas diversas correntes geram conflitos para israel. Geralmente os homens de
estado são sionistas seculares que não entram em assuntos religiosos. Muitos israelenses
hoje são secularizados, sem interesse religioso. Mesmo assim, em Israel apenas a tendência ortodoxa é reconhecida como única forma legítima de judaísmo. “O judaísmo or-
todoxo torna-se assim a religião do Estado de Israel, levando a uma deslegitimação de
outros ramos do judaísmo” (COOGAN, 2007, p.51).
BIBLIOGRAFIA
BALANCIN, E. et all. Guia aos mapas da Bíblia. São Paulo: Paulus, 1987
COOGAN, M. (Org). Religiões, história, tradições e fundamentos das principais
crenças religiosas. São Pauolo: Publifolha, 2007
GAARDER, J. et all. O Livro das Religiões. São Paulo: Cia das Letras, 2002
SAULNIER, C; ROLLAND, B. A Palestina no tempo de Jesus. São Paulo: Paulinas,
1983

Documentos relacionados