Monges e Religiosos: Um panorama histórico

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Monges e Religiosos: Um panorama histórico
Monges e Religiosos: Um panorama histórico
EDÍGINA DE JESUS
ALINE AUGUSTA ALMEIDA ROCHA
MONIQUE HELLEN SANTOS REIS
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Palavras-chave: ascetismo, eremítismo, monasticismo e Ordens Religiosas.
I - Resumo
Este trabalho acadêmico tem como proposta mostrar a origem do monasticismo cristão
e toda forma de vida ascética, ou seja, cenobítica. Será abordada a forma dissidente do
ascetismo no Oriente e Ocidente, tendo em vista que na primeira será destacado o
anacoreta do deserto e por fim a vida cenobítica dos monges no Ocidente. Discutiremos
a expansão do movimento monástico tendo como ponto de partida São Bento de Núrsia
e as causas que levaram a crise religiosa do século XII, originando novas Ordens. Onde
priorizamos a Ordem Cisterciense devido o fervor religioso que apresentavam e sua
forma de organização centralizada. Em seguida vai ser exposto o surgimento das Ordens
Mendicantes no século XIII, ressaltando a nova ideologia de pobreza e humildade. Por
fim abordaremos as conseqüências do quarto Concílio de Latrão e a decadência da vida
monástica.
Acadêmicas do curso de Licenciatura em História:
Aline Rocha
Edígina de Jesus
Monique Hellen
3º Período
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História Medieval
II-Monasticísmo
A origem do monasticismo cristão, ou seja , ascetismo individual, surgiu no
Egito no século III tendo como figura representativa Antônio.Este deixou a Alexandria
para refugiar-se no deserto levando uma vida de ascetismo social.Fato este comprovado
por Perry Anderson onde anota:
Os camponeses egípcios tinham uma tradição de eremitério no deserto, ou
anachoresis, como forma de protesto contra a coleta de impostos ou outros
males sociais; isso foi adaptado por Antônio numa religiosidade anacoreta
ascética no final do século III d.c. . Foi então desenvolvido por Pacômio no
início do século IV na forma de cenobitismo comunal nas áreas cultivadas
próximas ao Nilo, onde eram recomendados trabalho agrícola e a leitura,
assim como a prece e o jejum (ANDERSON, 2004:129).
A atitude de refúgio de Antônio serviu de exemplo à primeira geração que
encararam o isolamento como necessário ao amadurecimento revolucionário para assim
fazer o sucesso do movimento religioso.
A idade de ouro do monasticismo remota do século VIII ao século XII, mas é
importante destacar duas formas distintas de vida ascética tanto na Europa Ocidental
como no Oriente bizantino.
Uma delas era a vida eremítica dos anacoretas do deserto, cujo pioneiro foi
Santo Antão (c.251-346). A outra foi à vida cenobítica de monges que seguem um
regime comum de comunidade de homens e mulheres na região de Tebas no Egito,
iniciado por São Pacômio (c. 292-346).Durante os séculos V e VI, os mosteiros
multiplicaram-se na Itália, Gália, Espanha e Irlanda.Na Gália e Inglaterra anglosaxônica, as fundações monásticas vieram na esteira das missões cristãs aos povos
germânicos.
O ponto ápice para o crescimento dos mosteiros se deu a partir do século
VI; reflexo da experiência de São Bento da Núrsia, que fundou o Mosteiro de Cassino,
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na Itália. A regra monástica de São Bento era “ora et labora” – ore e trabalhe. Bento
exigia aos seus monges obediência consideravelmente maior do que a igreja ao seu
clero ou aos seus membros laicos”.
No mosteiro e nas abadias tudo era partilhado: a oração, refeições e
o trabalho manual, valorizado e elevado à categoria de oração a serviço de Deus. Os
monges trabalhavam nas bibliotecas, nas oficinas e campos, onde desenvolveram
técnicas avançadas tornando cultiváveis bosques e terrenos baldios, servindo de
exemplo aos camponeses. A combinação de conselhos espirituais judiciosos e de
atenção a detalhes práticos garantiu a ordem de São Bento o lugar de destaque,
considerado modelo de observância monástica no ocidente.
A partir do pontificado de Gregório VII (1073-1085) travou-se uma luta
entre o papado e o Império, dando inicio a Querela das Investiduras. A Igreja estava
muito aberta a influencias mundanas, tornando-se assim negligente.
No Sacro Império Romano Germânico, o clero estava submetido ao
imperador, pois era ele que nomeava (investia) os bispos ou forçava a escolha de
candidatos que ele queria, muitas vezes sem formação teológica e com o único interesse
nas vantagens que o cargo oferecia.
“O lamentável estado a que descer a Igreja durante o século IX mostrava-se
através de escritos de homens de alta hierarquia. Declara um bispo
abertamente, expondo a própria Simonia (comércio de cargos eclesiástico):
‘Dei meu ouro e recebi o bispado, mas confio recebê-lo de volta, se souber
como proceder. Para ordenar um padre cobrarei em ouro; para ordenar um
diácono, cobrarei em prata (...) Paguei bom ouro, mas hei de rechear a bolsa’
’’ ( OLIMPYO, p.38)
Para combater essa corrupção por parte do clero, surgiram muitos
movimentos dentro da própria Igreja. Um dos mais importantes foi o da Ordem de
Cluny, fundada em 910 na Borgonha. Este movimento ganhou grande impulso no
século XI espalhando-se por toda a Europa, tendo a frente GregórioVII que era um
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antigo monge da Ordem de Cluny. Ele propôs a reforma espiritual do clero, acabando
com a submissão da Igreja ao imperador, expulsando os bispos indignos, criando o
celibato clerical e eliminando a investidura por parte dos leigos. Afirmando assim a
autoridade suprema do papado.
No entanto o papado havia progredido no sentido administrativo do que no
ascetismo apostólico e isso viria influenciar na crise religiosa que ocorreu no século XII,
pois a sociedade não estava estática e exigia reformas.
Sendo assim a estrutura da vida monástica recebeu diversas críticas, tanto
pelas suas extravagâncias como pelos seus ideais. Tiveram início na Itália do Norte no
Século XI visto que a partir dai havia sido rompido os laços entre a Igreja e a sociedade,
pois os bispos já não eram mais os governantes administrativos das cidades italianas e
estas puderam tomar impulso definitivo para o comércio mercantil. Os críticos
iniciantes pregavam o retorno ao eremitismo primitivo desenvolvido no deserto egípcio,
um destes Pedro Damiano encorajou muitos homens a aceitarem o eremitismo ou o
monasticismo não tão complexo como o já existente. Para estes críticos as regalias em
torno da simbologia monástica se tornavam supérfluas.
Em fins do século XI e tendo como desenrolar todo o século XII ocorreu
uma nova mudança no foco religioso, até então para se alcançar à salvação o cristão
tinha que renunciar o mundo no qual vivia e se dedicar à oração para expulsar os
demônios que os desviavam do caminho, agora a vida de Cristo e seus apóstolos deviam
ser tomados como referência e tendo a Igreja como guia para se chegar à salvação. Esta
nova mentalidade desencadeou uma mudança na espiritualidade medieval, sendo
considerada por muitos historiadores como a crise religiosa do século XII. Como relata
Brenda:
Este estudo reaviado do Evangelho feito por todo o corpo social da Igreja
durante o século XII penetrou o mistério cristão com controvérsias relativas
ao comportamento intelectual e institucional, de modo que os cristãos se
tornaram coletivamente cada vez mais conscientes do mundo que os rodeava
e procuravam racionalizá-lo. Também do ponto de vista individual se
verificava uma nova tomada de consciência do próprio homem, relacionada
com a condenação que Cristo fizera do pecado no coração e conduziu a um
despertar da importância de consciência. (BOLTON, 1986: 20).
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A exemplo da Ordem Cisterciense fundada por Roberto de Molesme, eles
ultrapassaram a regra de São Bento, fazendo reviver a forma mais rigorosa do
monasticismo pré-beneditino, utilizando o modelo egípcio; buscando fixar-se numa
imitação evangélica de Cristo, criticando o modo relaxado como os beneditinos tinham
seguido a regra de São Bento.
Os Cistercienses priorizavam a criação de organizações que transcediam os
conventos individuais, estabelecendo assim um controle centralizado de regras e
assembléias.No final do século XII está ordem cresceu e espalhou-se por toda a Europa
como forma eficaz e coesa de organização. Este alto grau de autonomia gerou uma forte
ligação dos Cistercienses com a Igreja e o Papado devido à forma como defendiam suas
práticas religiosas, acabaram tornando-se fundamentais para a cruzada do Papado como
evangelizadores e rotulados que estavam sempre prontos para combater as heresias.
Outra importante ordem surgiu no século XIII, a dos Mendicantes que tinha
como o ideal de vida a combinação da pobreza evangélica pregada por Cristo, o amor
criativo e o proselitismo itinerante no mundo. Estava fundamentada nessa ideologia a
Ordem dos Dominicanos e dos Franciscanos. É importante ressaltar que havia
divergências entre eles: São Domingos que era integrante da Igreja, pregava a
necessidade de uma formação teológica para os membros adeptos, pois a missão
evangelizadora tinha que ser pronunciada por religiosos, segundo ele o que estava
faltando naquele período era justamente pregações; já São Francisco de Assis que não
fazia parte desse círculo religioso ressaltava a importância de seguir fielmente o
Evangelho porque é a única regra necessária a vida religiosa. Era adepto da vida
eremítica e exercia seu ministério junto aos seus seguidores pedindo esmolas nas
cidades durante o dia e passando a noite nas florestas.
(...) O seu modo de vida era extraordinariamente bem mais duro, na verdade
muito mais duro de suportar do que o modo de vida das ordens monásticas
mais ascéticas; incluindo os Cartuxos, porque Francisco tinha como objetivo
renunciar não só a toda propriedade comunitária, privando assim os seus
seguidores da segurança coletiva normal da comunidade cenobítica. Além
disso, Francisco pretendia que os seus seguidores combinassem este padrão
de pobreza extraordinariamente rigoroso com uma actividade secular de
assistência e de sacerdócio ( BOLTON, 1986: 80).
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Com o tempo começou-se a ocorrer modificações na Regra, mesmo com
Francisco vivo e com sua morte esse processo tomou impulso. Essas mudanças
ocorreram para facilitar a ordem nas suas pregações; com a criação de comunidades
permanentes, o relaxamento diante do ideal de pobreza e uma educação aos
Franciscanos para melhor pregarem.
Ao contrário dos mosteiros, os conventos das Ordens Mendicantes estavam
situados nas cidades, os frades passavam de um convento a outro de sua ordem, em
função das necessidades do ministério, ou seja, o apostolado de pobreza, humildade e
obediência.
III- Conclusão
A proliferação de Ordens Religiosas, que desde o século V e VI
multiplicaram-se por toda Europa, ocasionou o decreto do chamado Quarto Concílio
de Latrão em 1215 que tinha como objetivo proibir o surgimento de novas Ordens.
Agora os interessados a viverem uma vida cenobítica deveriam escolher uma regra
já existente e não mais fundarem outras novas.
Desde o momento da sua introdução no Oriente, século III até a ContraReforma no século XIV, a vida monástica ocupou um lugar de destaque no Ocidente
medieval, mas importância esta restrita a um pequeno número de pessoas
pertencentes à classe alta. O que levou a decadência da vocação monástica, que
desde o século XIII, não seduzia mais candidatos de valor.Durante quase todo o
contexto medieval, os mosteiros tinham o prestígio de serem grandes acumuladores
do conhecimento, mas a partir do século XIV, estas instituições monásticas
passaram a serem consideradas atrasadas e conservadoras em todo os campos de
atividade, inclusive na espiritualidade. A prática de doações de crianças para serem
educadas como monges, caiu em desuso com a proliferação de formas alternativas
de vida religiosa. Monges passaram a freqüentar universidades e o estilo de vida de
muitas abadias pouco se distinguia a de um colégio do clero secular. No final do
século XV, as críticas a essas comunidades monásticas se intensificaram, tendo a
frente Erasmo de Rotterdam humanista que passou a criticar o comportamento
eclesiástico e alguns pontos doutrinários como o livre-arbítrio e a importância da
liturgia.
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Assim, os vestígios sobre o monasticismo passaram a serem encontrados
em lugares que antes haviam sido inteiramente eliminados ou que nunca haviam
existido, como as universidades inglesas e americanas responsáveis pelo acervo
cultural das formas ascéticas de vida.
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Sobre o fundador da Ordem Francisca
Francisco, precursor da Ordem Francisca, nasceu na cidade de Assis na Itália. Filho de
Pedro Bernardone pertencia a uma família rica, cuja renda advinha do próspero
comércio de tecidos realizado pelo seu pai, grande comerciante da região.
Quando Francisco nasceu, a Europa medieval passava por profundas mudanças, a
população crescia e os antigos feudos transformavam-se em cidades. Em Assis, novas
culturas eram introduzidas no campo, manufaturas começavam a se desenvolver e
conseqüentemente o comércio ia ganhando seu espaço. A juventude de Francisco,
antes da sua conversão ou aceitação da pobreza, foi marcada pelas inúmeras viagens
de negócios que fazia seu pai. Quando ficava em Assis, trabalhava na loja paterna.
Nesse período, a religião tinha pouca importância para Francisco, embora ele
freqüentar-se as religioso era marcado por duas faces de influência: a autoridade da
Igreja Católica e o Sacro Império Romano-Germânico. A sociedade era sofria as
divergências de poderes entre o papa e o imperador.
Com relação à conversão de Francisco, são grandes os relatos históricos sobre a
radical mudança de vida que aconteceu com ele. Uns defendem que partiu das
experiências com prisioneiro de guerra, já que, Francisco serviu com cavalheiro nas
Cruzadas. Outros defendem uma visão mais mística, ou seja, através de um sonho
Francisco teria ouvido Cristo falar com ele. Seja qual foi o fator primordial, a verdade
é que Francisco passou por uma mudança extremamente profunda a ponto de levá-lo a
rejeitar os meios sociais, as festas, as batalhas e até mesmo a loja do pai. Uma das
primeiras demonstrações da mudança interior de Francisco foi seu contato com os
leprosos, já que estes eram excluídos da sociedade e considerados amaldiçoados.
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Quando Francisco abraçou um leproso, teria ele posto em prática aquilo que seria o
ideal de sua vida ascética; seguir o evangelho de Cristo na sua concretude, ou seja,
“amar ao próximo como a si mesmo”.
Logo que iniciou a missão de evangelizar e testemunhar a vida de Cristo, Francisco
precisava da permissão papal, por isso ele teve de criar uma Ordem religiosa e
submeter sua regra ao pontífice. Foi então, a Roma, acompanhado de seus seguidores
maltrapilhos e consegui encontrar-se com o Papa Inocêncio III.
Seu estatuto mal tinha normas, era composto por um conjunto de trechos do Novo
Testamento escrito de maneira simples. A aprovação do papa a Ordem aconteceu em
1209, a partir de então o número de adeptos cresceu, passaram assim a ocupar uma
pequena capela na região de Porciúncula, nas proximidades de Assis. Muito
rapidamente surgiram mais seguidores sendo preciso abrigar e alimentar a todos; a
solução encontrada foi estender os ideais de São Francisco criando conventos para
abrigar e garantir a segurança de todos. No entanto, quando o próprio Francisco
percebeu que seus ideais estavam sendo deturpados, já que ele pregava uma vida
eremítica e não fechada em conventos buscou isolar-se nas florestas e ter como
companhia seus irmão leprosos.
Francisco nunca propôs uma reforma a Igreja Católica e nem inflamou rebeliões
contra o poder político, mas sem dúvida a exemplo de Jesus também foi um homem
revolucionário. Ele abandonou a vida burguesa para dedicar-se aos excluídos de seu
tempo, mostrou que o amor fraterno deveria estar presente em cada ato do cotidiano.
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São Domingos de Gusmão
Nasceu em 1170 em Caleruega, interior do Reino de Castela. Filho de Joana
de Aza e Felix de Gusmão, recebeu boa educação familiar. Sua família pertencia a uma
pequena nobreza marcada por traços guerreiros, característica essa adquirida por conta
do território espanhol e aumentando, ocasionado pelas conquistas cristãs frete aos
mouros.
Domingos, que teve desde cedo inclinação para a vida religiosa, vai em
1189 estudar para Palência, tornando-se, após conclusão dos estudos, em 1196 membro
do cabido da sua Diocese natal, Osma; onde foi escolhido para comitiva do bispo
Diogo, que foi enviado pelo rei a Dinamarca.
Nessa viagem ficou impressionado com a falta de conhecimento da doutrina
cristã por parte dos povos do Norte da Europa , ficando claro que precisavam serem
evangrelizados.
Em 1205, Domingos e Diogo, para conclusão do objectivo inicial,
realizaram nova missão no Norte da Europa, indo também a Roma e a Cister. Nestas
paragens até Toulouse, inseriu-se na atividade missionária promovida pelo
Papa e pelos bispos, dedicou-se à pregação com tanto ardor que queria
pronunciar a Palavra de Deus todo o tempo, tanto nas igrejas como nas casas.
Em 1207 fundou a Ordem das Monjas Dominicanas, em Prouille, e
dos Dominicanos em 1215, em Toulouse, tendo como pregadores diocesanos.
O bispo Fulques, indo ao IV Concílio de Latrão, em 1215, juntou-se a
Domingos, o auxiliando na aprovação pontifícia. Inocêncio III aceitou a
fundação da nova Ordem, apenas mandou escolher uma Regra. Domingos
volta a Toulouse e escolhe a Regra de Santo Agostinho.
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Após esse reconhecimento Domingos enviou seus primeiros discípulos a
fundar novas comunidades em Paris, Bolonha, Roma e Espanha. Ele acreditava que só
com o estudo aprofundado da sagrada escritura poderia dar os meios necessários para
uma pregação eficaz.
Em 1220 na cidade de Bolonha organiza o primeiro capitulo da Ordem, com
a presença frades de diferentes localidades, é adotado um modelo de governo
democrático, pelo qual todos superiores de casas são eleitos por todos os mebros das
comunidades.No ano seguinte funda em Roma um confento de monjas e realiza o
segundo capítulo da Ordem, esta passou a está organizada agora em províncias.Assim
foram enviados irmãos pregadores para a Inglaterra, Escandinâvia, Pôlonia, Hungria e
Alemanha.
Devido a seus esforços constantes com a sua Ordem desgastou-se muito
vindo a falecer a 6 de agosto, na cidade de Bolonha.
Referências Bibliograficas:
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