de-magalhães

Transcrição

de-magalhães
Instituições participantes desta edição:
Nesta edição:
Manual de campo para colheita e
armazenamento de informações e
amostras proveniente do
pinguim-de-Magalhães............... 1
A malária aviária causada por
agentes do gênero Plasmodium
pode ser um desafio durante a
reabilitação...................................2
Curiosidades................................3
A pesca da anchoíta e as
populações do Pingüim-deMagalhães no Brasil....................4
A utilização de carcaças
do pinguins-de-Magalhães para
promoção da educação ambiental
......................................................6
Instituto de Pesquisa e
Reabilitação de Aves Marinhas no
ES.................................................7
Endotélio da córnea de pingüimde-Magalhães ............................ 9
Editorial......................................10
Número 02 - 28 de outubro de 2011
Boletim PINGUINS no BRASIL
MANUAL DE CAMPO PARA
COLHEITA E
ARMAZENAMENTO DE
INFORMAÇÕES E
AMOSTRAS PROVENIENTES
DO
PINGUIM-DE-MAGALHÃES
(Spheniscus magellanicus)
O projeto Nacional de
Monitoramento do Pinguim-deMagalhães
(Spheniscus
magellanicus)
elaborado
pelo
CEMAVE (Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Aves
Silvestres) junto a diversas
instituições brasileiras tem como
intuito ampliar o conhecimento
sobre essa espécie no Brasil e
aperfeiçoar os esforços de
pesquisa,
reabilitação
e
monitoramento, possibilitando a
contribuição e integração de
iniciativas em prol da conservação
desta espécie.
Dentre as propostas deste
Projeto, está a elaboração de um
manual prático de campo com
recomendações para colheita e
armazenamento de dados e
amostras biológicas.
Este manual está organizado em
função dos tipos de material
biológico que podem ser utilizados,
e assim indicar quais as diferentes
técnicas para colher e armazenar.
Esse manual fornece as
informações
necessárias
aos
profissionais
envolvidos
no
monitoramento e reabilitação destas
aves no país, encorajando-os e
subsidiando-os para a participação
na pesquisa científica aplicada a
conservação
do
pingüim-deMagalhães, bem como dos
ambientes marinhos e sua fauna.
Este manual está disponível em:
http://www4.icmbio.gov.br/cemave//index.p
hp?id_menu=480
Perguntas ou sugestões sobre este manual
podem ser enviadas a:
[email protected]
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
A MALÁRIA AVIÁRIA CAUSADA POR AGENTES
DO GÊNERO PLASMODIUM PODE SER UM
DESAFIO DURANTE A REABILITAÇÃO
Sabrina Destri Emmerick CAMPOS a; Nádia Regina Pereira ALMOSNY
Estudos têm relatado que alguns
hemoparasitos podem contribuir para a
extinção de espécies, além de afetar o
sucesso reprodutivo, a seleção sexual
e a coloração de plumagem, podendo
ainda tornar os animais parasitados
mais susceptíveis aos predadores e
menos hábeis para estabelecer
territórios (Anderson e May, 1979; van
Riper III et al., 1986 ; Kirkpatrick e
Ryan, 1991; Feldman et al., 1995;
Deviche et al., 2001).
Os pinguins-de-Magalhães são
aves de hábito migratório que por
vezes atingem o litoral do estado do
Rio de Janeiro, assim como em outros
estados
brasileiros.
As
aves
encontradas são resgatadas por
diferentes centros de recuperação,
onde são submetidas a exames e
tratamento, para posteriormente serem
encaminhadas
ao
Centro
de
Recuperação de Animais Marinhos
(CRAM) na cidade do Rio Grande, que
desempenha um papel fundamental na
reabilitação e reintrodução de pinguins
em vida livre. Contudo até o final desse
processo, as aves podem estar
bastante debilitadas, sendo acometidas
por muitas enfermidades. Dentre elas,
a malária aviária é considerada um
grave problema em pinguins de
cativeiro, responsável por altos índices
de mortalidade para os animais
mantidos em áreas descobertas
(Fleischman et al., 1968; Griner, 1974;
Silva Filho e Ruoppolo, 2007).
Os protozoários sanguíneos do
gênero Plasmodium acometem aves de
diversas espécies, além de répteis,
seres humanos e outros mamíferos. Os
agentes da malária aviária apresentam
distribuição mundial, assim, a
ocorrência da doença está associada à
presença dos vetores, dípteros
principalmente dos gêneros Culex,
Aedes e Anopheles (Silva Filho e
Ruoppolo, 2007). Esses protozoários
parecem ter relação comensal com a
maioria de seus hospedeiros, contudo,
acredita-se que a infecção por
Plasmodium spp. pode torná-los mais
susceptíveis a outras enfermidades e
predadores.
Acredita-se que os pinguins-demagalhães que atingem o litoral
brasileiro possuem baixa resistência à
doença sendo por isso observado o
grande impacto negativo nesses
animais jovens e expostos ao parasito
pela primeira vez (van Riper III et al.,
1986; Cranfield et al., 2000; Silva Filho
e Ruoppolo 2007). Se um animal
sobrevive à infecção aguda, pode
ocorrer resistência homóloga, levandoo a uma fase crônica ou latente, com
reduzida carga parasitária e assim
pode permanecer infectado por toda a
vida (Cranfield et al., 1991), sendo uma
possível fonte de contaminação.
apresentar baixo parasitismo ou estiver
infectada por mais de uma espécie de
parasito (Richard et al., 2002). Alguns
protocolos de PCR são sensíveis para
detectar infecções com concentrações
de DNA do parasito correspondente a
um eritrócito infectado em 100.000 não
infectados (Waldenstrom et al., 2002;
Fallon et al., 2003).
Outra
vantagem
está
na
possibilidade da análise filogenética,
com a qual é possível relacionar várias
espécies de Plasmodium spp. que
infectam mamíferos, aves e répteis e,
por esta razão, recentemente, estudos
revelaram uma riqueza de diversidade
genética entre as linhagens do parasito
que podem não ser aparentes em sua
morfologia (Bensch et al., 2000;
Ricklefs e Fallon, 2002).
A sintomatologia em diferentes
espécies é variável, com casos
assintomáticos e casos de óbito. Essa
variação pode estar relacionada com a
exposição do animal a fatores
imunossupressivos, entretanto, é
sugere-se também que quadros mais
graves esteja associados com maior
parasitemia. Para os pinguins-deMagalhães, são frequentes anorexia,
dispnéia, regurgitação, palidez de
mucosas e morte súbita, que podem
ser exacerbados em situações de
estresse (Atkinson et al., 1995; Silva
Filho e Ruoppolo, 2007).
Casos de óbito em condições
compatíveis com a malária aviária
podem ser também avaliados por
exame de necropsia das aves. Os
principais achados macroscópicos
incluem edema pulmonar e de
subcutâneo, hidropericárdio, hepatoesplenomegalia (Fleischman et al.,
1968). Na avaliação microscópica pode
ser evidenciada a presença de
esquizogonia
exoeritrocítica
em
diversos tecidos, em especial pulmão,
fígado, baço e coração, além da
presença de esquizontes em menor
quantidade nos rins, musculatura
esquelética, intestino, cérebro e medula
óssea (Fleischman et al., 1968).
A detecção direta dos parasitos em
esfregaços sanguíneos ainda constituiu
o método mais utilizado como rotina,
embora, apresente baixa sensibilidade.
Atualmente, métodos de diagnóstico
moleculares, como a Reação em
Cadeia da Polimerase (PCR), estão
sendo cada vez mais utilizados. Além
de ser uma técnica bastante sensível, a
PCR pode fornecer diagnóstico rápido
e confiável mesmo quando a amostra
Somado a isso, também podem
ser encontrados infiltrados inflamatórios
linforeticulares em pulmão, fígado e
baço (Fleischman et al., 1968).
Contudo, tais manifestações tissulares
podem
não
estar
presentes,
dificultando o diagnóstico post-mortem
da infecção (Fleischman et al., 1968).
De acordo com o proposto por Beier et
al. (1981), o conjunto de elevada
parasitemia,
esquizogonia
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Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
2
A MALÁRIA AVIÁRIA CAUSADA POR AGENTES
DO GÊNERO PLASMODIUM PODE SER UM
DESAFIO DURANTE A REABILITAÇÃO
Sabrina Destri Emmerick CAMPOS a; Nádia Regina Pereira ALMOSNY
continuação...
exoeritrocítica e achados macro e
microscópicos permitem implicar a
malária aviária como causa de
mortalidade nas aves.
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a – Laboratório de Patologia Clínica Veterinária
Setor de Clínica Médica de Animais Selvagens
Universidade Federal Fluminense-UFF
Niterói-RJ, Brasil
[email protected]
CURIOSIDADES
Além de todas as ameaças que
vem interferindo no ciclo migratório
do
pingüim-de-Magalhães
(Spheniscus magellanicus), agora o
Brasil vem se confrontando com
mais uma: A venda ilegal de
Pingüins no Brasil.
Em 2008, o “mercado de
pingüins no Brasil” cresceu em
função da grande exposição destes
na costa e da grande facilidade de
captura nas praias brasileiras e
então, chegou à mídia. Pingüim-demagalhães
estavam
sendo
vendidos por moradores das Praias
da Ribeira e da Boa Viagem, em
Salvador, Bahia, por R$ 500.
Constataram-se as más condições
em que se encontram esses
indivíduos. Sujos, muito magros e
muitas vezes, doentes (Figura 1).
Figura 1. Pingüim resgatado.
No Brasil, a venda ou guarda
de espécies da fauna silvestre,
nativa ou em rota migratória, é
crime pela lei ambiental.
Fora do Brasil, isso também vem
acontecendo. Segundo informações do
Projeto Karumbé do Uruguai, em 1992
um pseudo centro de reabilitação de
fauna marinha exportou 50 pingüins ao
Zoo de Madrid (España), com um valor
de 700 dólares por indivíduo.
Também se descobriu a venda de
pingüins vivos na Feira de Piedras
Blancas em Montevideo no Uruguai e
pinguins taxidermizados podem ser
encontrados
até
na
Internet
(Ebay/Mercado Libre) por 1050 dólares.
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Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
3
A PESCA DA ANCHOÍTA E AS
POPULAÇÕES DO PINGUIM-DEMAGALHÃES NO BRASIL
Aurélea MÄDERa
Pinguins-de-Magalhães
tem
dieta especializada na captura de
grandes
cardumes
pelágicos
(escolas de peixes) (Wilson &
Wilson 1990) e migram para norte
em função nas mudanças de seus
recursos alimentares (Boersma et
al. 1990). Uma das principais
presas deste pinguim é a anchoíta,
(Engraulis anchoita) (Blanco et al.
1996, Frere et al. 1996, Scolaro et
al. 1999).
No sul do Brasil, os estudos
alimentares feitos com jovens
pingüins arribados na costa
apresentam pouca ou nada de
camada de gordura e evidenciam
ausência de alimentos ou apenas
cefalópodes nos tratos digestivos
(Fonseca et al. 2001, Pinto et al.
2007, Mäder et al. 2010b). Os
cefalópodes são elementos de
baixo valor nutricional e requer
grande gasto de energia para a sua
captura nas proporções necessárias
para o indivíduo. Suas causas de
morte é geralmente a inanição
(Fonseca et al. 2001; Mäder et al.
2010a,b). Especula-se que exista
uma perda populacional associada
ao insucesso na captura de peixes.
Ocorre uma perda natural do
excedente
populacional
que
apresenta associações significativas
a causas isoladas, de origem
antrópica e/ou climática. Somente
no Rio Grande do Sul esse número
que excede a perda natural de
pingüins anualmente é estimada em
7.000 indivíduos (Mäder et al.
2010a).
A exploração da anchoíta pela
indústria pesqueira argentina tem
sido considerada como uma
ameaça ao ecossistema patagônico
(Skewgar et al. 2007).
A pesca da anchoíta agora é
realidade na Brasil. Em 2010
através da uma parceria da FURG
com o Ministério da Aquicultura e
Pesca, foi criado o Projeto
ANCHOÍTA, que, contempla tanto o
desenvolvimento de tecnologias
pesqueiras visando à captura da
anchoíta e a construção de uma
planta de processamento dos
produtos derivados desta pesca.
Apesar da excelente vertente
social do projeto que considera a
geração de novos empregos e a
utilização deste alimento para a
merenda de escolas da região sul
do Brasil (Carvalho & Castello,
2011), a pesca de arrasto utilizada
para a captura da anchoíta sobre a
plataforma continental de junho a
novembro terá alvo indireto os
pingüins, pois onde há cardumes de
anchoíta, há grande possibilidade
de existir bandos pingüins-deMagalhães, por seguirem os
cardumes.
Essa captura incidental pode
ser minimizada por tecnologias
pesqueiras avançadas, mas nem
sempre esse equipamento é
disponível para as embarcações.
Relatos de captura incidental de
pingüins em artefatos de pesca no
Brasil foi relatada em Cardoso et al.
(no prelo) e Mäder (2011).
O que era apenas um projeto
começa a ser colocado em prática.
Esse ano (2011), as primeiras 22
mil latas com o produto começam a
ser rotuladas para distribuição inicial
nas escolas de Rio Grande e Porto
Alegre, no RS (Figura 1). A partir da
conclusão, a produção passará para
a planta, com a possibilidade de
ampliar o tipo de processamento e
realizar a comercialização, inclusive
para o mercado externo.
Figura 1. Anchoíta processada e enlatada
no Brasil. Foto Jornal Agora, Rio Grande.
A anchoíta destaca-se por ser a
espécie mais abundante no
ecossistema pelágico da plataforma
continental do sudeste e sul do
Brasil (Castello, 2007). A última
estimativa corresponde a cerca de
600 mil toneladas por ano para a
região sul do Brasil (Madureira, et
al. 2009). Segundo estes autores,
uma exploração sustentável sobre
este estoque é capaz de gerar 135
mil
toneladas
por
ano,
incrementando consideravelmente a
atual produção pesqueira nacional.
Essa sustentabilidade garante os
estoques de peixes para o sistema
pesqueiro.
Acredito que o manejo de
pesca deve se basear não somente
na recuperação dos principais
estoques explorados para seu
próprio consumo, e sim deve ser
avaliada a biomassa necessária
para manter a biodiversidade
associada a estes estoques; como
outros peixes, mamíferos e aves
marinhas. No caso da anchoíta,
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
4
A PESCA DA ANCHOÍTA E AS
POPULAÇÕES DO PINGUIM-DEMAGALHÃES NO BRASIL
Aurélea MÄDERa
continuação...
sugiro um estudo direcionado a
importância na dieta e qual
biomassa necessária para sustentar
as populações de pingüins-deMagalhães que chegam todo ano
no Brasil atrás deste recurso.
Também acho necessário que haja
a realização de um monitoramento
na pesca da anchoíta que insira
novas técnicas para a diminuição da
captura incidental e propicie novas
respostas através de estudos
utilizando as carcaças adquiridas.
Visto que o conhecimento sobre os
pingüins no Brasil é basicamente
dos indivíduos que chegam às
praias, geralmente mortos ou
moribundos.
A perda anual populacional de
pingüins associada à pesca
industrial da anchoíta no Brasil
poderá ser ainda maior, trazendo
conseqüências sobre o sucesso
migratório das populações e assim,
o insucesso reprodutivo. Segundo
Crawford & Dyer (1995) o sucesso
reprodutivo
depende
da
disponibilidade alimentar.
Sem os estudos de dieta dos
pingüins sadios retirados do mar e
os projetos de minimização das
capturas incidentais inseridos ao
manejo pesqueiro, efeitos negativos
podem surgir nas populações dos
pingüins com a pesca da anchoíta
que está surgindo no Brasil.
Podemos especular um aumento de
morte por inanição e por
afogamento.
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a - ARDEA Consultoria Ambiental
[email protected]
www.ardeaconsultoria.com
+55 51 32264629
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Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
5
A UTILIZAÇÃO DE CARCAÇAS
DO PINGUINS-DE-MAGALHÃES PARA
PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Mariane Trichês PEZENTE a; Silvia Damiani SIMÕES; Kelly Cristina
Minotto BOM; Morgana Cirimbelli GAIDZINSKI
O
pinguim-de-Magalhães
(Spheniscus magellanicus Forster,
1781), encontra-se amplamente
distribuído na costa meridional da
América do Sul, realizando
anualmente movimentos migratórios
sazonais de suas colônias
reprodutivas
distribuídas
pela
Argentina, Ilhas Falkland (Malvinas)
e Chile para o Brasil.
A espécie é atualmente
classificada como Quase Ameaçada
pela lista da União Internacional
para Conservação da Natureza
(IUCN, 2010). Tal fato pode ser
explicado
devido
sua
vulnerabilidade, uma vez que os
indivíduos encontrados mortos na
costa brasileira são, em sua
maioria, “náufragos” enfraquecidos
e com problemas de saúde.
Alguns fatores têm sido
apontados no enfraquecimento e
mortalidade
dos
pinguins-deMagalhães durante a migração,
entre
eles
destacam-se
a
contaminação dos oceanos com
petróleo e derivados, os acidentes
com redes de pesca, a ingestão de
detritos
antropogênicos
e
parasitoses gastrointestinais.
No litoral do estado de Santa
Catarina, é comum a avistagem de
pinguins-de-Magalhães encalhados,
principalmente entre os meses de
julho a dezembro.
Com o objetivo de conhecer e
desenvolver
ações
conservacionistas em prol da
espécie, a Unidade de Zoologia
Profª Morgana Cirimbelli Gaidzinski,
da Universidade do Extremo Sul
Catarinense (Unesc), desde 2002
tem realizado monitoramentos ao
longo do litoral sul do estado e
recolhido carcaças destes animais a
fim de submetê-las a um processo
de taxidermização.
O processo de taxidermização
envolve basicamente: a retirada da
pele da ave através da separação
dos músculos e ossos; a
higienização e secagem da mesma
e a adição de produtos químicos
para sua conservação. A forma da
ave é dada por meio da confecção
de uma estrutura de arame, a qual
sustentará o corpo da mesma e
pelo preenchimento interno com
algodão ou estopa.
Os espécimes taxidermizados
são expostos em dioramas no
acervo “Ecossistema Marinho” da
Unidade de Zoologia, os quais
reproduzem
importantes
informações sobre o ambiente e a
história natural dos mesmos.
sensibilizar os visitantes para a
importância
prioritária
do
conhecimento e da necessidade da
preservação do meio marinho.
O acervo localizado no campus
universitário é aberto à visitação
pública e gratuita permitindo desta
forma a popularização e a difusão
do conhecimento desta espécie. O
acervo é visitado por um número
significativo de alunos e professores
de escolas particulares e públicas
dos municípios do extremo sul
catarinense. Durante a visita
monitorada, os visitantes escutam
sons característicos do ambiente
marinho. Ao término, os estudantes
participam de atividades lúdicas
sobre o acervo em exposição.
Deste modo, os estudantes podem
conhecer, observar e fazer
comparações,
ampliando
os
conhecimentos construídos em sala
de aula e na área zoológica.
Os
pinguins-de-Magalhães
taxidermizados que compõem o
acervo da Unidade de Zoologia
estimulam o aprendizado dos
educandos,
aproximando
e
fortalecendo os laços da natureza
com o homem.
Figura 1. Pingüins taxidermizados no
“Ecossitema marinho”.
Estes
animais
tornam-se
importantes
instrumentos
de
educação ambiental, informando
direta e indiretamente o público
visitante sobre o papel da fauna nos
ecossistemas e a necessidade de
sua preservação. A formação deste
acervo
tem
como
objetivo
Referências
PÜTZ, K.; INGHAM, R.J.; SMITH, J.G. 2007.
Winter migration of Magellanic penguins
(Spheniscus magellanicus) from the
southernmost distributional range. Marine
Biology, Berlin, DE, v. 152, p. 1227–1235.
ROCHA, E. N. 2009. O ensino da educação
ambiental com o auxílio de animais
taxidermizados. Revista da Católica,
Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 201.
a - Projeto Ceciesc/Sala Verde
Universidade do Extremo Sul Catarinense
[email protected]
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
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INSTITUTO DE PESQUISA E
REABILITAÇÃO DE ANIMAIS
MARINHOS NO ESPÍRITO SANTO
Luis Felipe S.P. MAYORGAa, Renata C.C. BHERINGa, Laila
C.C. MEDEIROSa, b, Luiz Muri B. COSTAc.
Relatos informais sobre a
ocorrência de pinguins no estado do
Espírito Santo (ES) são comuns,
sendo este fenômeno conhecido por
algumas comunidades litorâneas há
algumas décadas. Entretanto,
registros confiáveis são escassos.
Entre junho de 2000 e o
primeiro semestre de 2001 foram
registrados 65 exemplares no litoral
do estado, dos quais 36 (55,4%)
foram reabilitados e reconduzidos
ao mar pela Escola de Pesca de
Piúma, o Projeto TAMAR/ICMBio e
a Polícia Ambiental (SILVA, 2001).
No ano de 2006, foram recolhidos
26 pinguins-de-magalhães. Destes,
10 (38,46%) foram reabilitados e
encaminhados ao Centro de
Recuperação de Animais Marinhos
da Fundação Universidade Federal
do Rio Grande (CRAM/FURG),
instituição responsável pela soltura
(PONTES et al., 2007).
No ano de 2008 ocorreu um
encalhe em massa em vários
estados brasileiros, do Rio Grande
do Sul até o Rio Grande do Norte
(GARCÍA-BORBOROGLU et al.,
2010). Foram registrados 420
pinguins no litoral do ES, dos quais
366 foram recolhidos com vida.
Destes, 72 (19,73%) foram
encaminhados ao CRAM/FURG,
dos quais 55 foram efetivamente
reconduzidos ao mar no litoral do
Rio Grande do Sul.
Em 2009 apenas 4 pinguins
foram registrados; não houve
operação de soltura. Em 2010,
foram registrados 192 pinguins,
porém apenas 33 exemplares
(17,18%) foram encaminhados ao
estado de São Paulo (SP) para
soltura. Neste ano, fundou-se o
Instituto de Pesquisa e Reabilitação
de Animais Marinhos (IPRAM), com
o objetivo de otimizar a resposta a
este cenário.
É notável que apenas em 2001
o número de exemplares rea
bilitados tenha ultrapassado a
metade do número total de animais
encalhados. Em Florianópolis, no
estado de Santa Catarina (SC),
Kolesnikovas et al. (2009) relatam o
sucesso no tratamento de 88,1% de
328 pinguins petrolizados em 2008,
internados em um Centro de
Triagem de Animais Silvestres
(CETAS) com o auxílio da equipe
do CRAM/FURG, demonstrando a
importância de um atendimento
especializado.
Porém, em 2011 a reabilitação de
pinguins-de-magalhães apresentou
aspectos inéditos:
1 – Conseguiu-se articular parcerias
com diversas entidades locais,
permitindo a realização de exames
radiológicos, hematológicos e
microbiológicos nos pinguins.
2 – A atividade foi devidamente
licenciada e apoiada diretamente
por órgãos estaduais e federais.
3 – O registro e a publicação de
dados referentes aos pinguins
foram otimizados.
4 – As condições ambientais foram
muito melhores que nos anos
anteriores,
evitando
afecções
respiratórias no plantel.
5 – Através de parceria com a
operadora de mergulho científico
Windive, realizou-se pela primeira
vez a soltura oficial de pinguins-demagalhães no litoral do ES.
Formou-se um grupo de 12 pinguins
identificados com anilhas do
CEMAVE.
Para a operação de soltura
(Figura
1),
utilizou-se
uma
embarcação do tipo escuna de
passageiros com tamanho de 9,7
metros e capacidade para 13
passageiros e 02 tripulantes. A
operação foi resultado de meses de
estudos e dois testes com sondas. O
estudo de correntes teve seu escopo
na previsão de uma locomoção
passiva,
respeitando
ângulos
estratégicos para rumos prováveis de
correntes marítimas, mantendo a rota
de retorno numa proximidade da
costa, priorizando um mínimo risco de
um novo encalhe.
Como resultado deste estudo,
se verificou um rumo de 204°,
predominante sul, numa velocidade
média de ½ km/hora. Um dos
objetivos é estimar o grau de
passividade dos pinguins saudáveis
em relação às correntes marítimas,
para que a soltura local em alto mar
possa se tornar protocolo – ou não.
Sem essa possibilidade de soltura
local, os pinguins enfrentariam
operações interestaduais mais
estressantes,
gerando
mais
despesas, como nos anos
anteriores.
Contudo, a atividade de
reabilitação (Figura 2) ainda
apresentou um caráter emergencial
e improvisado, utilizando espaços
de terceiros e dependendo de
doações em vários aspectos. De 30
pinguins encalhados no ES em
2011, 15 (50%) foram reabilitados.
Também foram recebidos 13
pinguins encalhados no litoral norte
do Rio de Janeiro, sendo
reabilitados
seis
(46,15%)
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
7
INSTITUTO DE PESQUISA E
REABILITAÇÃO DE ANIMAIS
MARINHOS NO ESPÍRITO SANTO
continuação...
Luis Felipe S.P. MAYORGAa, Renata C.C. BHERINGa, Laila
C.C. MEDEIROSa, b, Luiz Muri B. COSTAc.
indivíduos. Alguns óbitos ocorreram
nas primeiras horas ou nos
primeiros dias de internação, pela
ausência de infraestrutura. Dessa
forma, observa-se a necessidade de
se implantar um centro de
atendimento específico para as
próximas temporadas.
Referências
GARCÍA BORBOROGLU, P.; BOERSMA, P.D.;
RUOPPOLO, V.; SILVA FILHO, R.P.;
ADORNES, A.C.; SENA, D.C.; VELOZO,
R.; KOLESNIKOVAS, C.M.; DUTRA, G.;
MARACINI, P.; NASCIMENTO, C.C.;
RAMOS JUNIOR, V.; BARBOSA, L.;
SERRA, S. Magellanic penguin mortality in
2008 along the SW Atlantic coast. Marine
Pollution Bulletin, Amsterdam, v. 60, p.
1652–1657, 2010.
KOLESNIKOVAS C.K.M.; SANDRI S. SERAFINI
P. ADORNES A.C. SILVA R.P.
Recuperação de Pinguins de Magalhães
(Spheniscus magellanicus) contaminados
por óleo em Florianópolis/SC, Brasil.
Congresso ABRAVAS 12.; Encontro
ABRAVAS, 18., 2009, Águas de Lindóia.
Anais eletrônicos... Disponível em:
<http://www.abravas.com.br/Anais%20XII%
20Abravas%202009%20para%20web%20(
otimizado).pdf>. Acesso em: 03 mar. 2011.
PONTES, L.A.E.; PETRUCCI, M.P.; BARBOSA,
L.A.; FERREIRA, F.S.; SILVEIRA, L.S.;
VIEIRA-DA-MOTTA, O. Aspergilose e
candidíase em pingüins de magalhães
(Spheniscus magellanicus Foster, 1781)
resgatados na costa do Espírito Santo,
Brasil. Revista Universidade Rural, Série
Ciências da Vida, v. 27, p. 57-59, 2007.
SILVA, N.W.X.; VARGAS, M.P.; ZANINI, S.F.;
ALMEIDA, A.T.S.; CARVALHO, M.A.G.;
ALMADA, G.L. Levantamento preliminar de
pinguins de magalhães
(Spheniscus
magellanicus) (Sphenisciformes) rebilitados
na costa capixaba. In: Congresso
ABRAVAS, 5.; Encontro ABRAVAS, 10.,
2001, São Paulo. Anais eletrônicos…
Disponível
em:
<
http://www.abravas.com.br/anais/anais200
1.zip >. Acesso em: 05 jan. 2011.
Figura 1. Local da soltura dos pinguins, no litoral sul do ES (Fonte: Windive)
Figura 2. Pinguins em tratamento pelo IPRAM (Foto: Luis Felipe Mayorga)
Site: www.ipram-es.org.br
a – Instituto de Pesquisa e Reabilitação de
Animais Marinhos
Rua Vitalino dos Santos Valadares 435 B, Santa
Luiza, Vitória, ES 29045-360, Brasil.
[email protected] Tel.: (27) 9865 6975
b – Universidade Vila Velha
Rua Comissário José Dantas de Melo 21, Vila
Velha, ES 29102-770, Brasil.
c – Windive Atividades Sub
Rua Jofre Ferrari 13, Iriri, Anchieta, ES, Brasil.
[email protected]
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
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ENDOTÉLIO DA CÓRNEA DE PINGÜIMDE-MAGALHÃES
João Antonio Tadeu PIGATTO a
A córnea é um tecido
altamente diferenciado que permite
refração e transmissão da luz. Para
tanto, é necessário que sua
integridade e transparência sejam
mantidas (Figura 1). Entre os
fatores
responsáveis
pela
manutenção da espessura e da
transparência corneana incluem-se:
ausência de vasos sangüíneos e de
pigmentos, inervação superficial
amielinizada, bem como a
organização e o funcionamento
regular das células epiteliais e
endoteliais (Yee, et al., 1987).
Figura 1. Imagem de olho de pinguim-deMagalhães com córnea transparente e
superfície ocular normal.
Na maioria das espécies ocorre
um decréscimo fisiológico na
densidade endotelial em função da
idade. Além do declínio da
densidade endotelial decorrente da
idade, as funções do endotélio
podem ser alteradas por inúmeros
fatores, incluindo diabetes mellitus,
trauma ou inflamação intra-ocular e
perfusão da câmara anterior com
substâncias livres de cálcio ou pH
incompatível entre outros (Yee, et
al., 1987).
Entre as várias técnicas
utilizadas para avaliar a morfometria
do endotélio corneano encontramse os métodos de investigação
clínica e os estudos in vitro (Pigatto,
et al., 2005). Clinicamente a
microscopia especular tem sido
amplamente empregada permitindo,
além dos resultados de exames in
vivo, o registro fotográfico das
células endoteliais (Pigatto et al.,
2006; Pigatto et al., 2008). Das
técnicas in vitro a microscopia
eletrônica de varredura tem se
mostrado de grande valia para o
estudo quanto à toxicidade de
drogas intracamerulares, à eficácia
de meios de preservação de
córneas e em investigações da
ultraestrutura endotelial (Pigatto et
al., 2004). Entre os principais
parâmetros endoteliais mensuráveis
encontram-se a contagem celular e
a variação do tamanho e da forma
de suas células. O conhecimento da
estrutura do endotélio da córnea
possibilita com que as repercussões
do envelhecimento ou de fármacos
e procedimentos cirúrgicos sobre o
endotélio possam ser monitorados
com maior segurança.
O
pinguim-de-Magalhães
(Spheniscus magellanicus) é uma
ave marinha da família Sphenisidae,
não voadora localizada em colônias
distribuídas pela Argentina e Chile,
realizando movimentos migratórios
sazonais para o Brasil.
O endotélio corneano de
pinguim-de-Magalhães é formado
por uma monocamada de células
poligonais uniformes em tamanho e
forma (Figura 2). As bordas
celulares apresentam interdigitações
e sobre a superfície celular
encontram-se
microvilosidades
(Figura 3). Relativamente à
morfologia endotelial a maioria das
células são hexagonais (80%) e
pentagonais (14,2%). Na maioria
das espécies, o percentual de
células hexagonais aproxima-se de
70% e o seu declino é indicativo de
menor reserva funcional. A área
celular
média
utilizando
a
microscopia eletrônica de varredura
é de 269 ± 24 µm2 e a densidade
endotelial 3.717 ± 324 células por
milímetro quadrado. Não são
observadas diferenças significativas
entre os parâmetros endoteliais
avaliados entre os olhos esquerdo e
direito (Pigatto et al., 2005). O
endotélio da córnea de pinguins-deMagalhães é similar ao descrito em
outras espécies de animais.
Figura 2. Eletromicrografia de varredura do
endotélio corneano de pinguim-deMagalhães. Notar células poligonais
uniformes em tamanho e forma. Aumento
original 1000 X.
Figura 3. Eletromicrografia de varredura do
endotélio corneano de pinguim-deMagalhães. Notar interdigitações das
bordas celulares e microvilosidades na
superfície celular. Aumento original 3500 X.
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
Boletim Pinguins no Brasil n°2, outubro de 2011
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ENDOTÉLIO DA CÓRNEA DE PINGÜIMDE-MAGALHÃES
João Antonio Tadeu PIGATTO a
Referências
Pigatto J.A.T., Andrade M.C., Laus J.L., Santos
J.M., Brooks D.E., Guedes P.M., Barros
P.S.M. Morphometric analysis of the corneal
endothelium of Yacare Cayman (Caiman
yacare) using scanning electron microscopy.
Veterinary Ophthalmology, v.7, p.205-208,
2004.
Pigatto, J.A.T., Laus, J.L.; Santos, J.M., Cerva,
C.; Cunha, L.S.; Ruoppolo, V.; Barros, P.S.M.
Corneal Endothelium of Magellanic Penguin
(Spheniscus Magellanicus) by scanning
electron microscopy. Journal of Zoo and
Wildlife Medicine, v.36, n.4, p.702-705, 2005.
Pigatto, J.A.T., Abib, F.C., Pereira, G.T., Barros,
P.S.M., Freire, C.D., Laus, J.L. Density of
corneal endothelial cells in eyes of dogs
using specular microscopy. Brazilian Journal
of Veterinary Research and Animal Science,
v.43, n.4, p.476-480, 2006.
Pigatto, J.A.T., Cerva, C., Freire, C.D., Abib, F.C.,
Bellini, L.P., Barros, P.S.M., Laus, J.L.
Morphological analysis of the corneal
endothelium in eyes of dogs using specular
microscopy. Pesquisa Veterinária Brasileira,
v.28, n.6, p.427-430, 2008.
Yee R.W., Edelhauser H.F., Stern M.E. Specular
microscopy of vertebrae corneal endothelium:
a comparative study. Experimental Eye
Research, v.44, p.703-714, 1987.
Para participar da lista de discussão
PINGUIMBR:
[email protected]
EDITORIAL
Este Boletim é uma publicação do
Projeto Nacional de Monitoramento do
Pingüim-de-Magalhães.
Coordenação 2010-2015:
Para submeter textos para a próxima
publicação do Boletim Pingüins no
Brasil enviar ate:
25 de abril (1° semestre)
25 de outubro (2° semestre)
Textos
Fonte Arial Narrow 12
Espaçamento Simples
Até 7000 caracteres sem espaços
Máximo 3 figuras
Aurélea Mäder
Biol. MSc. em Diversidade e
Manejo de Vida Silvestre.
(ARDEA Consultoria Ambiental)
Patrícia Serafini
Veterinária
Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade
(ICMBio)
Publicação
Aurélea Mäder
Para enviar artigos para publicação no
Boletim PINGUINS NO BRASIL entre
em contato com Aurélea Mäder
Revisão
Patrícia Serafini
[email protected]
Tradução
Ralph Vanstreels
a Médico Veterinário, Professor Adjunto
Faculdade de Veterinária, UFRGS
Porto Alegre, RS
E-mail: [email protected]
Publicação semestral:
1° - até 28 de abril
2° - até 28 de outubro
Maiores informações sobre:
Para receber os Boletins anteriores
entre em contato com Aurélea Mäder
Pesquisadores cadastrados no banco de dados do Projeto Nacional de
Monitoramento do Pinguim-de-Magalhães
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Projetos ativos cadastrados no banco de dados do Projeto Nacional de
Monitoramento do Pinguim-de-Magalhães
ou baixe-os dos arquivos do grupo do
Yahoo PINGUIMBR
As metas do Projeto Nacional de Monitoramento do Pinguim-de-Magalhães
http://www4.icmbio.gov.br/cemave//index.php?id_menu=480
Agradecimentos:
Agradecemos ao ICMBio – CEMAVE
pela iniciativa, workshop e projeto e
também aos autores desta edição e
colaboradores do Grupo Pinguimbr.
Projeto Nacional de Monitoramento do Pingüim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) 2010-2015
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