comunidades criativas das geraes
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comunidades criativas das geraes
1 Programa de Pós Graduação em Design (PPGD) MESTRADO EM DESIGN COMUNIDADES CRIATIVAS DAS GERAES: UM CASO DE INOVAÇÃO SOCIAL NA PRODUÇÃO ARTESANAL SOB A PERSPECTIVA DO DESIGN Dissertação de Mestrado DANIELA MENEZES MARTINS Belo Horizonte 2013 2 DANIELA MENEZES MARTINS COMUNIDADES CRIATIVAS DAS GERAES: Um Caso de Inovação Social na Produção Artesanal Sob a Perspectiva do Design Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Design na área de concentração em Design, Inovação e Sustentabilidade. Linha de Pesquisa: Design, Cultura e Sociedade. Orientadora: Profª. Drª. Rita de Castro Engler UEMG - Escola de Design Belo Horizonte 2013 3 M386c Martins, Daniela Menezes. Comunidades Criativas Das Geraes: um caso de inovação social na produção artesanal sob a perspectiva do design [manuscrito] / Daniela Menezes Martins. – 2013. 203 f. il. color. grafs. maps. fots.; 31 cm. Orientadora: Rita de Castro Engler Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Minas Gerais. Programa de Pós Graduação em Design. Bibliografia: f. 141-147 Inclui catálogo Artesania Águas Claras 1. Desenho (Projeto) – Desenvolvimento Sustentável – Minas Gerais – Teses. 2. Artesanato – Turismo – Empreendedorismo – Minas Gerais – Teses. 3. Desenho Industrial – Metodologia – Minas Gerais – Teses. 4. Inovações Tecnológicas – Criatividade – Artesanato – Teses. I. Engler, Rita de Castro. II. Universidade do Estado de Minas Gerais. Escola de Design. III. Título. CDU: 7.05:745 Ficha Catalográfica: Cileia Gomes Faleiro Ferreira CRB 236/6 4 5 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a minha mãe Cida e a meu filho Lucca. 6 AGRADECIMENTOS À Escola de Design e à UEMG por proporcionar qualidade de ensino ao longo de 8 anos da minha trajetória acadêmica. Aos coordenadores, professores e funcionários do PPGD pelo comprometimento e empenho com o meu desenvolvimento no mestrado. À minha orientadora Rita Engler pelo estímulo, confiança, paciência e carinho com meu trabalho. Aos membros das bancas de qualificação e defesa pelas críticas e avaliações sempre pertinentes e construtivas. À CAPES, pelo apoio financeiro a esta pesquisa. Aos colegas de trabalho do CEDTec, professores e alunos pelo apoio, amizade e compreensão na difícil tarefa de convivência diária. À todos os estagiários do Programa Comunidade Criativas das Geraes pela confiança, amizade e momentos felizes compartilhados juntos. Aos meus queridos assistentes de pesquisa pelo apoio e dedicação a esse trabalho. Aos artesãos e produtores que participaram do Programa Comunidade Criativas das Geraes pelo compromisso e confiança depositadas nesse trabalho. A comunidade de São Sebastião das Águas Claras pelo apoio e carinho com que nos receberam. À Prefeitura Municipal de Nova Lima, através de seus funcionários que receberam e apoiaram as demandas do projeto. Enfim, a todos que de alguma maneira contribuiram para a realização desse trabalho deixo o meu profundo agradeciemento! 7 “O planeta não precisa de mais ‘pessoas de sucesso’. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e amantes de todo tipo. Precisa de pessoas que vivam bem nos seus lugares. Precisa de pessoas com coragem moral dispostas a aderir à luta para tornar o mundo habitável e humano, e essas qualidades têm pouco a ver com o sucesso tal como a nossa cultura o tem definido.” (Dalai Lama) 8 RESUMO MARTINS, D. M. Comunidades Criativas das Geraes: Um Caso de Inovação Social na Produção Artesanal Sob a Perspectiva do Design. 2013. 206 f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. As “Comunidades Criativas” são iniciativas locais que empregam os recursos disponíveis no território com o intuito de resolver os problemas da vida cotidiana, promovendo métodos criativos de interação social, de forma sustentável. É através desses grupos de pessoas que acontece a mobilização local em torno de atividades produtivas que possibilitam a inovação social trazendo melhorias em níveis econômico, social, cultural e ambiental. O design pode colaborar com as “Comunidades Criativas”, quando se tranforma em agente de mudança, contribuindo para a viabilização de um programa de desenvolvimento local, comprometido com a valorização do território, da identidade e da sustentabilidade. Para que o trabalho do designer seja efetivo e proveitoso nessas iniciativas sociais é necessário uma abordagem sistêmica demonstrando que essas formas de organização criativa encontram-se cada vez mais emergentes, dentro de uma demanda social que busca por um modelo de vida mais sustentável. A partir destes conceitos foi criado o Programa Comunidades Criativas das Geraes, no intuito de integrar e beneficiar os indivíduos em seu território por meio de experiências, trocas e dinâmicas culturais, entendendo a criatividade como catalisadora do processo de desenvolvimento sustentável de “Comunidades Criativas”. Este trabalho é resultado da pesquisa e das atividades práticas para o desenvolvimento do Programa Comunidades Criativas das Geraes em Macacos. Os resultados da pesquisa apontam que o design, quando fomentador da inovação social, é um instrumento capaz de auxiliar o desenvolvimento local. A partir da experiência dessa pesquisa, espera-se que o design possa contribuir com as transformações de outras “Comunidades Criativas” pelo mundo. Palavras-chave: Comunidades Criativas, design, inovação social, produção artesanal, desenvolvimento sustentável. 9 ABSTRACT MARTINS, D. M. Geraes Creative Communities: A Case of Social Innovation in Artisanal Production Under the Perspective of Design. 2013. 206 f. Master (MSc) School of Design, Graduate Program in Design at the University of Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. “Creative Communities" are local initiatives that employ the available resources in the territory in order to solve the problems of everyday life, promoting creative methods of social interaction in a sustainable manner. These groups of people are capable of mobilizing local support around productive activities that enable social innovation which brings improvements in economic, social, cultural and environmental levels. Design can collaborate with the "Creative Communities", becoming an agent of change, contributing to the viability of a local development program, committed to the enhancement of the territory, identity and sustainability. In order to make designer's work more effective and useful, these social initiatives need a systemic approach demonstrating that these creative forms of organization are emerging increasingly, and searching for a more sustainable model. Based on these concepts Geraes Creative Communities Program was created, aiming to integrate and benefit individuals in its territory through experiences, cultural exchanges and dynamics, understanding creativity as a catalyst for the sustainable development process of "Creative Communities". This work is the result of research and practical activities developed by Geraes Creative Communities Program in Macacos. The program results indicate that the design, when used as of social innovation promoter, becomes a powerful tool to assist local development. We hope that this research can contribute spread the use of design in other "Creative Communities" worldwide. Keywords: Creative Communities, design, social innovation, artisanal production, sustainable development. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Mapa dos limites do Quadrilátero Ferrífero..................................... 55 Figura 2 Mapa dos limites da Mata do Jambreiro.......................................... 56 Figura 3 Integrantes do Congado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.. 57 Figura 4 Bicame, aqueduto construído pelos ingleses.................................. 58 Figura 5 Tradicional queca novalimense....................................................... 59 Figura 6 Altar da Igreja Nossa Senhora do Pilar, esculpido por Aleijadinho. 60 Figura 7 Localização do Arraial de São Sebastião........................................ 62 Figura 8 Capela de São Sebastião em Macacos no início do século XX...... 63 Figura 9 Ecobags produzidas com materiais descartados............................ 65 Figura 10 Grupo de artesãs e equipe da Oficina de Costura.......................... 66 Figura 11 Desenvolvimento de chapéu durante Oficina de Papietagem......... 66 Figura 12 Grupo de jovens da Casa de Proteção PROREIS e equipe........... 67 Figura 13 Cartaz e faixa de divulgação do processo seletivo......................... 68 Figura 14 Cartaz de divulgação do seminário de sensibilização..................... 70 Figura 15 Instalações da Escola Municipal Rubem Costa Lima...................... 70 Figura 16 Monitor apresenta aula sobre design e artesanato......................... 73 Figura 17 Artesãos debatem sobre a cultura material e imaterial................... 74 Figura 18 Monitora apresentando aula sobre turismo..................................... 75 Figura 19 Professora convidada apresentando seu trabalho.......................... 76 Figura 20 Monitora apresentando aula sobre resíduos sólidos....................... 76 Figura 21 Processo criativo do artista plástico Vik Muniz............................... 78 Figura 22 Artesã trabalhando na personalização do seu caderno.................. 80 Figura 23 Flor da Manhã emoldurada por uma artesã.................................... 81 Figura 24 Artesã participando da construção do mapa iconográfico............... 82 Figura 25 Artesã apresentando seu “Caderno de Processos” para o grupo... 83 Figura 26 Banner da “Campanha Lixo Criativo”.............................................. 84 Figura 27 Artesãs registrando elementos do artesanato mineiro.................... 85 Figura 28 Artesãs observando imagens esculpidas em madeira.................... 86 Figura 29 Artesãs observando os produtos artesanais expostos na loja........ 87 Figura 30 Grupo de artesãs explorando uma obra interativa.......................... 88 Figura 31 Vegetação típica de Cerrado na entrada do parque....................... 89 11 Figura 32 Artesãs observam a coloração azulada do manancial.................... 90 Figura 33 Artesã apresenta seu produto para orientação coletiva.................. 91 Figura 34 Quadro dos pensamentos divergente e convergente...................... 92 Figura 35 Equipe de trabalho durante visita para orientação.......................... 93 Figura 36 Cabaças em cerâmica antes da queima......................................... 94 Figura 37 Flor de papel feita com saco de cimento......................................... 94 Figura 38 Exposição de produtos em sala de aula.......................................... 95 Figura 39 Convidados no evento de encerramento da oficina........................ 96 Figura 40 Apresentação musical de uma artesã............................................. 97 Figura 41 Equipe de trabalho e artesãs com seus certificados....................... 97 Figura 42 Equipe de trabalho entrevistando produtora de doces.................... 98 Figura 43 Técnico da EMATER apresenta a Feira da Terra para o grupo...... 99 Figura 44 Monitor apresentando aula sobre design e marketing.................... 100 Figura 45 Professor convidado discursa sobre embalagem............................ 101 Figura 46 Monitora apresenta aula sobre Food Design.................................. 102 Figura 47 Produtores assistem atentos à aula sobre turismo......................... 103 Figura 48 Participantes tiram dúvidas sobre finanças pessoais...................... 104 Figura 49 Grupo visita lojas do Mercado Central de Belo Horizonte............... 105 Figura 50 Produtoras observam os produtos no supermercado..................... 106 Figura 51 Equipe de trabalho e produtores após o encerramento da oficina.. 107 Figura 52 Monitor da equipe de trabalho entrevista produtora........................ 108 Figura 53 Produtoras assistem a apresentação das propostas...................... 109 Figura 54 Vista da estrada de acesso a São Sebastião das Águas Claras.... 110 Figura 55 Vista do projeto arquitetônico do Mercure Hotel & Spa Macacos... 111 Figura 56 Vista da rua principal com bares e restaurantes............................. 112 Figura 57 Barraquinha de doces caseiros em Macacos.................................. 112 Figura 58 Cachoeira do Marumbé em Macacos.............................................. 113 Figura 59 Procissão de São Sebastião em Macacos...................................... 114 Figura 60 Logotipo do grupo Artesania Águas Claras..................................... 126 Figura 61 Critérios de avaliação dos produtos artesanais............................... 128 Figura 62 Prato em cerâmica com forma orgânica de folha............................ 128 Figura 63 Quadro em feltro com a Capela de São Sebastião......................... 129 Figura 64 Jogo americano feito com lacre de alumínio e crochê.................... 129 12 Figura 65 Adorno de parede com resíduos vegetais e feltro........................... 127 Figura 66 Bandeja em bambu e mosaico de borboletas................................. 128 Figura 67 Capa do catálogo Artesania Águas Claras...................................... 128 Figura 68 Logotipo Ateliê do Brigadeiro e aplicação no produto..................... 129 Figura 69 Logotipo e selo Chiquita Pimenta e aplicação no produto.............. 129 Figura 70 Logotipo, etiqueta e aplicação no produto Zé do Mel...................... 130 Figura 71 Logotipo Sorveteria Cheia de Graça e aplicação no carrinho......... 130 Figura 72 Expositor para biscoitos e bolinhos artesanais Zên........................ 131 Figura 73 Capa do Guia dos Produtos Típicos Artesanais de Macacos......... 131 Figura 74 Cartaz da Campanha de Inverno em Macacos............................... 132 Figura 75 Grupo no lançamento da Campanha Lixo Criativo.......................... 133 Figura 76 Artesãs em frente à loja de artesanato Chiquita Banana................ 134 Figura 77 Artesã autografando o livro de poesia intitulado Macacos.............. 134 Figura 78 Visão geral da Feira dos Produtores de Macacos........................... 135 Figura 79 Barracas da Feira dos Produtores de Macacos.............................. 135 Figura 80 Banner de divulgação da Feira dos Produtores de Macacos.......... 136 13 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Renda proveniente do artesanato................................................. 117 Gráfico 2 Outra atividade remunerada.......................................................... 117 Gráfico 3 Tempo dedicado ao artesanato..................................................... 117 Gráfico 4 Opção pela atividade artesanal..................................................... 118 Gráfico 5 Participação em grupo ou associação........................................... 118 Gráfico 6 Escolaridade.................................................................................. 120 Gráfico 7 População economicamente ativa................................................. 120 Gráfico 8 Período de estadia........................................................................ 120 Gráfico 9 Motivo para escolha do destino..................................................... 121 Gráfico 10 Consumo de produtos artesanais.................................................. 121 Gráfico 11 Tipo de produto adquirido.............................................................. 122 Gráfico 12 Motivo para adquirir produto artesanal.......................................... 122 Gráfico 13 Comparativo de renda proveniente do artesanato........................ 124 Gráfico 14 Comparativo de canais de comercialização.................................. 125 Gráfico 15 Comparativo de valor percebido do produto................................. 125 Gráfico 16 Comparativo de adesão a um grupo ou associação..................... 127 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 3 Rs Reduzir, Reutilizar e Reciclar a.C. Antes de Cristo ASCAP Associação dos Catadores de Papel de Nova Lima AMG 160 BR 040 Rodovia Estadual de Acesso Belo Horizonte - São Sebastião das Águas Claras Rodovia Radial Federal Rio de Janeiro - Brasília CCG Comunidades Criativas das Geraes CEART Centro de Artesanato Mineiro CEDTec Centro de Estudos em Design e Tecnologia CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais ED Escola de Design EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural FJP Fundação João Pinheiro GTO Geraldo Teles de Oliveira IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICSID International Council of Societies of Industrial Design IEPHA-MG IHGARV Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais Instituto Histórico e Geográfico Alto do Rio das Velhas IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional KM Quilômetro KM² Quilômetro Quadrado MEC Ministério da Educação MG Minas Gerais MTUR Ministério do Turismo MEC Ministério da Educação PET Poli Tereftalato de Etila PDV Ponto de Venda PMNL Prefeitura Municipal de Nova Lima PPGD Programa de Pós Graduação em Design PROEXT Programa de Extensão Universitária 15 PROREIS Projeto de Reintegração Social PUC Pontifícia Universidade Católica QFE Quadrilátero Ferrífero R$ Real RJ Rio de Janeiro RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SPA Sanitas Per Aquam SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNWTO World Tourism Organization USP Universidade de São Paulo WEFORUM World Economic Forum 16 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................. 19 1.1 Objetivos......................................................................................... 21 1.1.1 Objetivo Geral.................................................................................. 21 1.1.2 Objetivos Específicos....................................................................... 21 1.2 Justificativa.................................................................................... 22 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO.............................................................. 24 2.1 Comunidades Criativas no Âmbito da Inovação Social............. 24 2.2 Interface Design e Produção Artesanal....................................... 26 2.3 Origens e Definições do Artesanato............................................ 28 2.4 Sistematização da Atividade Artesanal....................................... 30 2.4.1 2.4.2 2.4.3 Classificação por Função................................................................. Classificação por Origem................................................................. Classificação por Organização........................................................ 30 31 33 2.4.4 Classificação por Tipologia.............................................................. 34 2.5 Valor de Estima do Objeto Artesanal........................................... 35 2.6 Identidade Cultural no Contexto do Artesanato......................... 37 2.7 Inovação em Produção Artesanal................................................ 38 2.8 Sustentabilidade da Produção Artesanal.................................... 40 2.9 Produção Artesanal Associada ao Turismo................................ 43 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS.................................................. 48 3.1 Abordagem da Pesquisa Qualitativa............................................ 48 3.1.1 Métodos de Coleta de Dados Qualitativos....................................... 49 3.2 Objeto de Estudo........................................................................... 51 3.3 Metodologia de Pesquisa.............................................................. 52 4 ESTUDO DE CASO......................................................................... 54 4.1 Contexto.......................................................................................... 54 4.1.1 Município de Nova Lima................................................................... 54 4.1.2 Distrito de São Sebastião das Águas Claras................................... 61 17 4.2 Programa Comunidades Criativas das Geraes........................... 63 4.2.1 Antecedentes do Programa............................................................. 64 4.3 Oficina de Processos Criativos.................................................... 67 4.3.1 Atividades Expositivas..................................................................... 72 4.3.1.1 Design e Artesanato......................................................................... 72 4.3.1.2 Cultura Material e Imaterial.............................................................. 73 4.3.1.3 Turismo e Desenvolvimento Local................................................... 74 4.3.1.4 Sustentabilidade e Produção Artesanal........................................... 75 4.3.1.5 Resíduos Vegetais e Domésticos.................................................... 77 4.3.1.6 Documentário Lixo Extraordinário.................................................... 78 4.3.2 Atividades Práticas........................................................................... 79 4.3.2.1 Dinâmica de Grupo.......................................................................... 79 4.3.2.2 Expedição Fotográfica..................................................................... 80 4.3.2.3 Mapa Iconográfico............................................................................ 81 4.3.2.4 Caderno de Processos..................................................................... 82 4.3.2.5 Trilha da Coleta Seletiva.................................................................. 83 4.3.3 Visitas Técnicas............................................................................... 85 4.3.3.1 Museu Memorial Minas Gerais Vale................................................ 85 4.3.3.2 Centro de Arte Popular CEMIG........................................................ 86 4.3.3.3 Centro de Artesanato Mineiro.......................................................... 87 4.3.3.4 Centro de Arte Contemporânea Inhotim.......................................... 88 4.3.3.5 Parque Estadual Serra do Rola Moça.............................................. 89 4.3.4 Orientações Coletivas e Individuais................................................. 90 4.3.4.1 Apresentação dos Novos Produtos.................................................. 94 4.3.5 Encerramento da Oficina de Processos Criativos............................ 96 4.4 Oficina de Estratégias de Mercado.............................................. 97 4.4.1 Atividades Expositivas..................................................................... 99 4.4.1.1 Design e Marketing.......................................................................... 99 4.4.1.2 Embalagens e Ponto de Venda....................................................... 100 4.4.1.3 Inovação para Produtos Típicos...................................................... 100 4.4.1.4 Turismo como Oportunidades de Negócios..................................... 102 4.4.1.5 Educação Financeira para Pequenos Empreendedores................. 103 4.4.2 Visitas Técnicas............................................................................... 104 18 4.4.2.1 Mercado Central de Belo Horizonte................................................. 104 4.4.2.2 Supermercado Verdemar Jardim Canadá....................................... 105 4.4.3 Encerramento da Oficina de Estratégias de Mercado..................... 106 4.4.4 Consultorias..................................................................................... 107 4.4.4.1 Apresentação das Propostas........................................................... 108 4.5 Resultados e Discussões.............................................................. 109 4.5.1 Diagnóstico Participativo.................................................................. 109 4.5.2 Perfil da Produção Artesanal........................................................... 115 4.5.3 Perfil do Turista em Macacos........................................................... 119 4.5.4 Análise das Oficinas de Capacitação............................................... 123 4.5.4.1 Resultados Quantitativos................................................................. 123 4.5.4.2 Grupo Artesania Águas Claras........................................................ 126 4.5.4.3 Catálogo Artesania Águas Claras.................................................... 127 4.5.4.4 Material Promocional para Produtos Típicos................................... 130 4.5.4.5 Campanhas de Mobilização Social.................................................. 134 4.5.4.6 Iniciativas Empreendedoras na Comunidade.................................. 135 5 CONCLUSÃO.................................................................................. 139 REFERÊNCIAS............................................................................... 141 Bibliografia Complementar........................................................... 146 APÊNDICES A Questionário Inicial Oficina de Processos Criativos.................. 148 B Questionário Inicial Oficina de Estratégias de Mercado............ 151 C Questionário Pesquisa de Mercado sobre Turismo................... 154 D Questionário Briefing para Produtos Típicos............................. 159 E Questionário Avaliação Oficinas de Capacitação....................... 161 F Catálogo Artesania Águas Claras................................................ 163 19 INTRODUÇÃO O mundo vem passando por mudanças radicais causadas pelo processo de industrialização e uso indiscriminado dos recursos naturais. Os impactos ambientais, econômicos e sociais são cada vez mais visíveis e requerem atitudes cada vez mais criativas e inovadoras. Diante desse cenário global, esses fatores impactantes, geram desigualdades por toda parte. A sociedade só poderá crescer e prosperar quando prestar a devida atenção e encarar de forma consciente seus problemas. Assim, para atender as necessidades de mudanças da sociedade surgem iniciativas locais com o intuito de resolver os problemas do cotidiano, promovendo métodos criativos de interação social, de forma sustentável. Essas iniciativas podem ser consideradas exemplos de “Comunidades Criativas”, ou seja, grupos de pessoas que realizam ações no intuito de resolver os problemas do dia-a-dia motivadas pelas suas necessidades específicas. É através delas que acontece a mobilização local de indivíduos em torno de atividades produtivas que possibilitam a inovação social, trazendo melhorias em níveis econômico, ambiental, social e cultural como afirma Cipolla (2012): A definição de inovação social, consequentemente, indica também o reconhecimento dos limites do modelo atual de produção e consumo, considerando não somente termos ambientais, mas também questões econômicas, sociais e institucionais. Apesar do fato de que inovações sociais podem ser não planejadas ou acontecer espontaneamente, se condições favoráveis forem criadas por meio do design, elas podem ser encorajadas, empoderadas, reforçadas, ampliadas e integradas com programas maiores para gerar mudanças sustentáveis (CIPOLLA, 2012, p. 65-66). A proposta dessa pesquisa envolve o atendimento às demandas de comunidades que buscam por soluções participativas e inovadoras para seus problemas locais. Essas soluções são estabelecidas no contexto das contribuições do design para produtos e serviços sustentáveis. Neste sentido, foi criado o Programa Comunidades Criativas das Geraes (CCG) dentro das atividades do Centro de Estudos em Design & Tecnologia (CEDTec) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), visando atender a estas comunidades e preparar seus alunos e professores para atuação junto à comunidade, valorizando as pesquisas e atividades práticas, materiais didáticos para a formação de novos profissionais, 20 coerentes com os recursos e conhecimentos de acordo com as diretrizes do desenvolvimento sustentável. A abordagem desenvolvida nesse trabalho procura associar o design, a produção artesanal e o turismo por meio da cultura e dos valores territoriais presentes na história e memória dessa comunidade, fazendo com que estes elementos interajam na promoção do desenvolvimento sustentável da região de forma criativa e inovadora. Através da aplicação das metodologias de design, buscase o desenvolvimento sustentável de iniciativas locais no âmbito da produção artesanal associada ao turismo em São Sebastião das Águas Claras, também conhecido como “Macacos”, distrito do município de Nova Lima, pertencente a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) em Minas Gerais. Em 2011, o Brasil posicionou-se na 49º posição no âmbito global, e a RMBH especificamente aparece como estratégica no estado e no país segundo o “Índice de Competitividade em Viagens e Turismo”, Relatório Anual que mede a atratividade de realização de investimentos ou desenvolvimento de negócios no setor de viagens e turismo de um país publicado durante o World Economic Forum1 (WEFORUM). Já em pesquisas realizadas em municípios da RMBH, o município de Nova Lima destaca-se dentre as 65 regiões mais importantes no âmbito do turismo nacional, apresentando um potencial crescente de investimentos e desenvolvimento de novos negócios através do turismo, como aponta o “Índice de Competitividade do Turismo Nacional” (BARBOSA, 2010). Assim, é possível perceber a importância do turismo para o desenvolvimento de muitos municípios e regiões brasileiras. Dentre os diversos produtos e serviços da cadeia produtiva do turismo, destaca-se o artesanato como uma atividade de grande valor sociocultural e econômico para o desenvolvimento de uma comunidade. Comunidades com vocação natural e potencial turístico sustentam suas famílias e estimulam o desenvolvimento local através da criação de produtos artesanais com técnicas tradicionais de produções, que são passadas de geração em geração. Atualmente, a valorização do artesanato cresce à medida que se busca nos recursos transversais do design, o aprimoramento da produção artesanal através dos domínios produtivos, tecnológicos e econômicos da atividade. Freitas (2011) destaca que: 1 Em tradução para o português: Fórum Econômico Mundial. 21 Nos tempos atuais, o artesanato adquire novas dimensões que buscam revitalizar a atividade. Ele é destacado como portador de elementos culturais, simboliza a autenticidade e promove a educação. Do ponto de vista econômico, é uma atividade que gera trabalho e renda, e adquire a função social. Sob ambos os aspectos, é uma atividade que deveria contribuir para a melhoria da qualidade de vida. O artesanato é um trabalho que pode ser feito em qualquer lugar e em qualquer tempo (FREITAS, 2011, p.38). Dessa forma, identificou-se no artesanato uma oportunidade do designer atuar no alinhamento entre o processo produtivo e o desenvolvimento local, a fim de gerar novos negócios associados ao turismo, estimulando o artesão na criação de produtos que valorizem o território, a identidade cultural e que tenham compromisso com a ética, a sustentabilidade e a responsabilidade social. O resgate da identidade e da cidadania em prol do desenvolvimento local, seja através da criatividade ou de processos que priorizaram a inovação e a sustentabilidade como solução para os problemas locais, apontam o design como fator preponderante para a inovação social. Assim, percebe-se que as contribuições do design envolvem aspectos que visam o ser humano ético, social, cultural e ambiental, em um sistema de rede aprimorado por sua atuação. 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral Verificar como o design pode facilitar o desenvolvimento sustentável de iniciativas locais no âmbito da produção artesanal no distrito de São Sebastião das Águas Claras (Macacos), Nova Lima/MG. 1.1.2 Objetivos Específicos Mapear as relações sistêmicas entre comunidade, território e produção artesanal. Aplicar as metodologias de design na produção artesanal local. Avaliar o papel do design como agente para o desenvolvimento sustentável da produção artesanal de pequenos empreendedores locais. 22 1.2 Justificativa O interesse em empreender uma pesquisa de mestrado surgiu a partir de experiências acadêmicas adquiridas ao longo da graduação, através da participação em projetos de pesquisa e extensão com interface design e artesanato. A saber, Projeto Minas Raízes - Artesanato, Cultura e Design (2008 - 2011) e Programa Comunidades Criativas das Geraes (2010 - 2013) pela Escola de Design e Projeto Beira Linha - Artesanato e Renda (2009), realizado pela PUC Minas - São Gabriel. Após a graduação, propostas profissionais de consultoria em design para projetos relacionados a artesanato, e temáticas que envolviam empreendedorismo social e sustentabilidade, motivaram a busca pela especialização em Gestão da Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável em 2011. Essas experiências bem sucedidas em pesquisas relacionadas ao design e artesanato, realizadas em municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), mais especificamente em Nova Lima, se fizeram oportunas para o desenvolvimento de uma pesquisa aplicada que se configure instrumento capaz de auxiliar a busca por soluções para os problemas da produção artesanal em comunidades dentro de contextos específicos. Nesse sentido, o designer e consultor Eduardo Barroso (1999) aponta que os problemas do artesanato brasileiro abrangem desde os processos criativos, passando pelos processos produtivos até gestão de mercado, comprometendo a sustentabilidade econômica, social e ambiental da atividade produtiva. Os artesãos brasileiros devem buscar agregar valor e diferenciar qualitativamente seu trabalho (ou suas peças) para que consigam competir com o artesanato proveniente de comunidades que possuem forte referencial cultural, como os países asiáticos e africanos. Através da transferência de conhecimento sobre metodologias de design, é possível agregar valores simbólicos ao produto artesanal nacional e, consequentemente, obter um aumento expressivo de valor de mercado, conferindo autonomia e sustentabilidade à atividade artesanal. Existe uma tendência atual do mercado consumidor a valorizar produtos únicos, com identidade cultural e comprometidos com a ética, a sustentabilidade e a responsabilidade social. Acredita-se que a inserção destas características se 23 apresenta como oportunidade para a utilização do design como estratégia para o desenvolvimento sustentável das iniciativas locais de cunho artesanal. Em síntese, parte-se do pressuposto que o design pode contribuir de forma inovadora para o fortalecimento de iniciativas locais que buscam o desenvolvimento sustentável da atividade artesanal em sua comunidade. Espera-se assim, que esta pesquisa possa contribuir para a ampliação do conhecimento no campo do design em interface com artesanato, inovação social e desenvolvimento sustentável, destacando sua interdisciplinaridade e transversalidade. 24 2 REFERENCIAL TEÓRICO Este capítulo estabelece um referencial teórico que dará suporte ao leitor quanto a definições e conceitos sobre design e suas relações transversais com inovação social, produção artesanal, turismo e sustentabilidade sob o ponto de vista de autores reconhecidos em suas áreas de atuação, destacando: Adélia Borges, Eduardo Barroso, Ezio Manzini, Dijon Moraes, Octavio Paz e John Thackara entre outros. 2.1 Comunidades Criativas no Âmbito da Inovação Social A partir da definição do dicionário Houaiss (2009), comunidade é um grupo de pessoas que vivem em conjunto estabelecendo ou não interesses comuns. Para o sociólogo alemão Max Weber (1973), comunidade é um conceito abrangente que se fundamenta nas relações afetivas, emotivas e tradicionais. Comunidade só existe propriamente quando, sobre a base desse sentimento (da situação comum), a ação está reciprocamente referida – não bastando a ação de todos e de cada um deles frente à mesma circunstância – e na medida em que esta referência traduz o sentimento de formar um todo (WEBER, 1973, 142). A criatividade é a capacidade funcional de gerar soluções novas através do enfrentamento dos problemas com uma ótica diferente (HOUAISS, 2009). Nesse sentido, o psicólogo norte americano Ellis Paul Torrance (1976), considerado um dos maiores investigadores em criatividade, afirma: A criatividade é o processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados (TORRANCE, 1976). Ana Meroni (2007) cunhou a expressão “Comunidades Criativas2” e a define como um grupo de pessoas que, de forma colaborativa, inventam, aprimoram e gerenciam soluções inovadoras para novos modos de vida. Na tentativa de um estilo 2 Tradução do termo original em inglês Creative Communities. 25 de vida sustentável, as “Comunidades Criativas” são iniciativas locais que fazem bom uso das fontes territoriais que promovem uma nova forma de interação social, com o intuito de resolver os problemas da vida cotidiana contemporânea. As “Comunidades Criativas” realizam ações no intuito de modificar os modelos de pensar e fazer, atuando com novas propostas e melhorias (MANZINI, 2008). É através delas que acontecem as mobilizações locais de indivíduos em torno de atividades produtivas que possibilitam a inovação social, trazendo melhorias nos âmbitos econômico, social, ambiental e cultural. Assim, “Comunidades Criativas” se configuram como exemplo de inovação social, conforme define Manzini (2008): O termo inovação social refere-se a mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas ou criar novas oportunidades. Tais inovações são guiadas mais por mudanças de comportamento do que por mudanças tecnológicas ou de mercado, geralmente emergindo através de processos organizacionais “de baixo para cima” em vez de daqueles “de cima para baixo” (MANZINI, 2008, p.61). Nesse contexto de mudanças e inovações, o design desenvolve um papel de potencializador através do entendimento de suas formas criativas de organização e/ou de produção, possibilitando o aprimoramento de conhecimentos, técnicas e ferramentas. Para Manzini (2008), em muitos casos, a criatividade se expressa no desenvolvimento de atividades que denominam-se “colaborativas”, como acontece com algumas atividades de produção, fundamentadas nas aptidões e recursos de um lugar específico. As “Comunidades Criativas” são fortemente enraizadas em uma região e isso faz com que esses grupos possam obter uma utilização e/ou reutilização das fontes locais disponíveis. Os empreendimentos sociais, assim como as “Comunidades Criativas”, por serem organizações sociais complexas, não podem ser planejadas de maneira tradicional (MANZINI, 2008). Exigem um ambiente propício para que floresçam e criem seus próprios produtos e serviços. Nesse sentido, John Thackara (2008) afirma: Entre os fatores de sucesso dos projetos de design para localidades, os mais importantes são um contexto do mundo real; uma orientação para serviços; um requisito de conectar os participantes em novas combinações e explorar os efeitos da rede de relacionamentos; e, acima de tudo, uma insistência em que o trabalho em equipe inclua pessoal local e garanta, sempre que possível, que o conhecimento especializado desenvolvido seja disponibilizado localmente após o fim do projeto (THACKARA, 2008, p.124). 26 Para que o trabalho do designer seja efetivo e proveitoso nesses empreendimentos sociais, é necessária uma abordagem sistêmica demonstrando que formas de organização social que valorizam iniciativas criativas encontram-se cada vez mais apreciadas dentro de uma demanda social que busca por um modelo de vida sustentável. 2.2 Interface Design e Produção Artesanal As relações entre design e produção artesanal surgem a partir da sistematização das categorias ou grupos de produção. O "fazer artesanal" é precursor dos processos industriais, trazendo na sua essência a criação de objetos, assim como o design, que atendessem as necessidades do dia-a-dia dos seus usuários. Ao contrário das tendências high tech3, muito exploradas no design, o artesanato segue uma linha low tech4, na qual se pode identificar a procedência da matéria-prima, a qualidade dos insumos utilizados, a capacitação da mão de obra e o emprego de novas tecnologias de baixo impacto. O design, desde a sua origem, perpassou pelas manufaturas e contribuiu para que os processos culminassem em linhas de produção. Na definição adotada pelo International Council of Societies of Industrial Design5 (ICSID): O design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as características multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas em ciclos de vida completos. Portanto, o design é fator central da humanização inovadora das tecnologias e fator crucial do intercâmbio cultural e econômico (ICSID, 2012). Por muito tempo, o design foi percebido como atividade que contempla, com seus esforços, apenas o desenho industrial, no contexto de um ambiente puramente comercial que visa a melhoria estética e a qualidade técnica do produto, tendo como foco principal o aumento das vendas e a geração de lucros para seus produtores. No entanto, “o design rapidamente deixa de conceber apenas produtos de uso doméstico e passa a incluir processos, sistemas e organizações” (NEUMIER, 2010 p.13). 3 High tech é uma expressão em inglês utilizada para designar tecnologia de alta performace. Low tech é uma expressão em inglês utilizada para designar tecnologia de baixo impacto. 5 Em tradução para o português: Conselho Internacional de Sociedades de Design Industrial. 4 27 O design tem como uma de suas principais características a capacidade de diálogo e mediação com outras áreas na busca por soluções para os problemas complexos dos dias atuais. Para Barroso (1999) “o design deve ser entendido como uma forma holística de solução de problemas tendo como objetivo principal de sua intervenção compatibilizar interesses e necessidades daqueles que produzem com aqueles que consomem” (BARROSO, 1999, p.6). Atualmente a prática do design está relacionada ao desenvolvimento da inovação e da sustentabilidade. Através da utilização do design, é possível transformar necessidades e desejos humanos em produtos e sistemas criativos e eficazes, adequados não somente do ponto de vista econômico, mas também social, cultural e ambiental, como coloca Manzini (2008): Nessa perspectiva, os designers podem ser parte da solução, justamente por serem os atores sociais que, mais do que quaisquer outros, lidam com as interações cotidianas dos seres humanos com seus artefatos. São precisamente tais interações, junto com as expectativas de bem-estar a elas associadas, que devem necessariamente mudar durante a transição rumo à sustentabilidade (MANZINI, 2008, p.16). E, num sentido mais abrangente, Barroso (2001a) destaca que: O design pode, e deve, transcender sua dependência exclusiva do sistema produtivo, transformando-se em agente de mudança, contribuindo para a viabilização de uma agenda de desenvolvimento comprometida com o resgate da dívida social (BARROSO, 2001a, p.1). O sociólogo italiano Domenico de Masi (2005) apud Alves e Ferraz (2005), aponta uma tendência mundial para inovação do artesanato através do investimento em design. A união do design com o artesanato gera grandes possibilidades mercadológicas, uma vez que o design dispõe de metodologias e ferramentas que aperfeiçoam a produção artesanal como diferencial competitivo a qual agrega traços da diversificada identidade cultural brasileira. A gestação de objetos com clara identidade dos lugares em que são feitos passa não apenas pela manutenção e desenvolvimento das técnicas e materiais locais, mas também por sua linguagem – domínio em que o design tem muito a oferecer. Essa demanda surge principalmente nos lugares em que a prática é mais recente ou em que o artesanato se encontra mais descaracterizado (BORGES, 2011, p. 97). 28 Direcionar o foco da prática do design para o resgate e a valorização da cultura na produção artesanal é uma das possíveis maneiras de aplicação dos princípios do design num contexto social. Barroso (1999) afirma que o designer deve realizar pesquisas socioculturais e iconográficas e, assim, identificar os valores regionais para o desenvolvimento de produtos com identidade própria e padrões de qualidade mais elevados para serem vendidos em novos mercados sem, no entanto, interferir nos aspectos tradicionais do processo artesanal. Quando ocorre a parceria entre design e artesanato, o artesão deve ser estimulado a pensar e a resolver seus problemas locais a partir de uma nova perspectiva. O designer colabora com sua competência, seus valores e suas ferramentas projetuais, atuando como articulador no setor produtivo artesanal. “O papel do designer é adequar o produto, tendo em vista as possibilidades do mercado” (BORGES, 2011, p.75). 2.3 Origens e Definições do Artesanato O artesanato está ligado à história do homem e à sua necessidade de produzir utensílios e adornos de uso cotidiano desde os tempos mais remotos. Valendo-se da criatividade diversas soluções artesanais permitiram que o homem avançasse na história expandindo suas habilidades artísticas e técnicas. Os mais antigos indícios da existência do artesanato são datados de 6000 a.C. quando o homem aprendeu polir a pedra, fabricar cerâmicas e tecer fibras de animais e vegetais. No Brasil, a atividade artesanal teve surgimento com as práticas indígenas. Suas manifestações mais expressivas se davam na arte da pintura, utilizando pigmentações naturais, cestaria, cerâmica e ornamentos usando penas e plumas de aves. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), das 16 atividades artísticas desenvolvidas no país, o artesanato está presente em 64,3% dos municípios brasileiros. Das técnicas artesanais mais representativas no país, o bordado é a mais recorrente (75,4%), seguida por atividades com madeira (39,7%), barro (21,5%) e material reciclável (19,5%). De acordo com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG, 2008), o artesanato é um bem cultural, uma vez que 29 representa o próprio processo de formação da cultura no território, vetor de valores que podem se tornar legados à sociedade no futuro. O artesanato, portanto, pode ser considerado uma das principais manifestações culturais no Brasil na atualidade. O objeto artesanal é produzido à mão com ferramentas e equipamentos rudimentares, utilizando técnicas transmitidas através de gerações, e matéria-prima geralmente abundantes na região. Conforme definição adotada pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization6 (UNESCO), durante o “Simpósio Internacional UNESCO”: Produtos artesanais são aqueles confeccionados por artesãos, seja totalmente a mão, com o uso de ferramentas ou até mesmo por meios mecânicos, desde que a contribuição direta manual do artesão permaneça como o componente mais substancial do produto acabado. Essas peças são produzidas sem restrição em termos de quantidade e com uso de matérias-primas de recursos sustentáveis. A natureza especial dos produtos artesanais deriva de suas características distintas, que podem ser utilitárias, estéticas, artísticas, criativas, de caráter cultural e simbólicas e significativas do ponto de vista social (UNESCO, 1997). Eduardo Barroso (2001b), designer responsável pelas primeiras sistematizações da produção artesanal no Brasil, propôs a seguinte definição para o artesanato durante o “Seminário Internacional Design sem Fronteiras” realizado na cidade de Bogotá, na Colômbia, em 1996: Podemos compreender como artesanato toda atividade produtiva de objetos e artefatos realizados manualmente, ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, apuro técnico, engenho e arte (BARROSO, 2001b, p.3). O escritor mexicano Octavio Paz (2006) afirma que “o artesanato está no centro de uma balança que pesa a beleza e a utilidade, a arte e a tecnologia. O artesanato pertence a um mundo anterior à distinção entre o útil e o belo” (PAZ, 2006, p.82). Entendido por uns como expressão artística e, por outros como, atividade produtiva, o certo é que as manifestações artesanais traduzem a cultura e a capacidade criativa do homem comum, estabelecendo ligação com sua comunidade e seu lugar de origem. 6 Em tradução para o português: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. 30 2.4 Sistematização da Atividade Artesanal O artesanato apresenta uma infinidade de usos, materiais, técnicas e processos, o que torna sua abordagem bastante extensa e complexa. Numa tentativa de sistematizar a atividade artesanal, Barroso (2001b) definiu os termos mais utilizados pelos profissionais do setor, que posteriormente foram adotados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) no documento intitulado “Termo de Referência - Programa SEBRAE de Artesanato”. No documento são expostos vários conceitos sobre artesanato, estabelecendo categorias de classificação relacionadas a (a) função, (b) origem, (c) organização e (d) tipologia (SEBRAE, 2004). 2.4.1 Classificação por Função O artesanato pode ser classificado segundo seu modo de uso ou de acordo com sua função. Na proposta apresentada pelo “Termo de Referência” (SEBRAE 2004, p.23) estas categorias são: Adornos e Acessórios: quando as peças são desenvolvidas para uso pessoal tais como: bijuterias, bolsas e cintos, quase sempre acompanhando as tendências da moda. Conceitual: quando o objeto expressa alguma ideia ou conceito de quem o produziu. Geralmente, produzido por artistas plásticos ou designers. Decorativo: quando o artefato é produzido com o intuito de embelezar algum espaço ou ambiente. Nesta categoria, encontram-se as esculturas, quadros, almofadas, etc. Educativo: quando o objeto é destinado às práticas pedagógicas. Um bom exemplo são os jogos de memorização que educam e divertem ao mesmo tempo. Litúrgico: quando o objeto é destinado a alguma atividade ritualística ou para demonstração de crenças e da fé. São os castiçais, oratórios, santos, etc. 31 Lúdico: quando a função principal do objeto é entreter crianças e adultos ou para representação do imaginário popular. Nesta categoria, encontram-se carrinhos, bonecas, casinhas, etc. Utilitário: quando o produto é desenvolvido para servir a alguma necessidade doméstica. Potes, jarros, caixas e cestarias são exemplos desta categoria. 2.4.2 Classificação por Origem Também é possível classificar o artesanato segundo sua origem. Esta categoria, de acordo com o “Termo de Referência” (SEBRAE, 2004, p.21) se apresenta conforme sua procedência: Arte Popular: a arte popular é a matriz cultural em que se forja o artesanato tradicional. É fonte de inspiração e de referência para o artesanato contemporâneo e para o design. Por essa razão, deve ser preservada e promovida de modo diferenciado. Artesanato Indígena: conjunto de objetos produzidos em uma comunidade indígena por seus próprios membros. São, em sua maioria, feitos por um grupo de pessoas coletivamente, e incorporados ao cotidiano da vida tribal. Artesanato Tradicional: conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo social, representativo de suas tradições, incorporados à sua vida cotidiana. Sua produção em geral é de origem familiar ou realizada em pequenas oficinas. Sua importância e valor cultural decorrem do fato de ser transmitido de geração em geração, preservando técnicas, tradições, usos e costumes. Artesanato Conceitual: objetos produzidos por pessoas com alguma formação artística, de nível educacional e cultural mais elevado. Geralmente de origem urbana, resultante de um projeto deliberado ou da afirmação de um estilo de vida. A inovação é o elemento principal de diferenciação das demais categorias de artesanato. 32 Artesanato de Referência Cultural: são produtos cuja característica é a incorporação de elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de designers, em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar a oferta artesanal, porém sem a perda de suas características essenciais. Produtos Típicos: em geral, são produtos alimentícios processados segundo métodos tradicionais, em pequena escala, muitas vezes em família ou por um determinado grupo ligado às tradições culturais direcionados principalmente para o turismo. Licores, geleias, compotas, cachaças e doces cristalizados são exemplos de produtos típicos brasileiros. Artesanato Doméstico: são produtos que exigem destreza, habilidade e paciência de quem os produz. Utilizam moldes e padrões pré-definidos, resultando em produtos de estética pouco elaborada. Em geral, não possui vínculo com a cultura local e não constitui a atividade principal daqueles que produzem, sendo, em geral, uma ocupação para a complementação da renda familiar, ou mesmo, um passatempo. Artesanato Utilitário: objetos produzidos para satisfazer necessidades do dia-a-dia, por falta de condições financeiras ou acesso ao produto industrial. São produtos sem preocupações estéticas, geralmente com formas simples, utilizando matéria-prima disponível na região. São encontrados em feiras e mercados de cidades do interior, muitas vezes, utilizados como moeda de troca por outras mercadorias. Artesanato de Grande Escala: são produtos fabricados em série, porém utilizando mão-de-obra artesanal, notadamente nas fases de acabamento, permitindo assim que cada produto tenha suas características próprias diferenciadas. Geralmente, são lembranças de viagem ou souvenires religiosos destinados aos turistas de baixo poder aquisitivo, como por exemplo, em viagens de cunho religioso. 33 2.4.3 Classificação por Organização Ainda de acordo com o “Termo de Referência” (SEBRAE, 2004, p.26), os artesãos ou grupos de artesãos são classificados segundo a forma de organização do trabalho: Mestre Artesão: indivíduo que se destaca em seu ofício, conquistando admiração e respeito não somente de seus aprendizes e auxiliares artesãos, como também dos clientes e consumidores. Sua maior contribuição é repassar, para as novas gerações, técnicas artesanais e experiências fundamentais de sua atividade. Artesão: é o indivíduo que possui conhecimentos técnicos sobre os materiais, ferramentas e processos de sua especialidade, dominando todo o processo produtivo. Aprendiz: é o auxiliar das oficinas de produção artesanal, encarregado de elaborar partes do trabalho e que se encontra em processo de capacitação. Artista: desenvolve em seu trabalho uma coerência temática demonstrada em seu compromisso de criar sempre coisas novas e ir além do já conhecido. Núcleo de Produção Familiar: a força de trabalho é constituída por membros de uma mesma família, alguns com dedicação integral e outros de forma parcial ou temporária. A coordenação dos trabalhos é exercida pelo chefe de família, que organiza os trabalhos de filhos, sobrinhos e outros parentes. Em geral, não existe um sistema de pagamentos préfixados, sendo as pessoas remuneradas de acordo com suas necessidades e disponibilidade de um caixa único. Grupos de Produção Artesanal: agrupamentos de artesãos que atuam no mesmo segmento artesanal e que se valem de acordos informais, como aquisição de matéria-prima, estratégias promocionais conjuntas e produção coletiva. Empresa Artesanal: são núcleos de produção que evoluíram para a forma de micro ou pequenas empresas, com personalidade jurídica, regida por 34 um contrato social. Como qualquer empresa privada busca vantagens comerciais para continuar a existir. Emprega artesãos e aprendizes encarregados da produção remunerados, em geral, com um salário fixo ou uma pequena comissão sobre as vendas. Associação: é uma instituição de direito privado sem fins lucrativos, constituída com o objetivo de defender e zelar pelos interesses de seus associados. É regida também por estatutos sociais, com uma diretoria eleita em assembleia para períodos regulares. Cooperativa: são associações de pessoas, nunca inferior a 20 participantes, que se unem para alcançar benefícios comuns, em geral, para organizar e normatizar atividades de interesse comum. O objetivo essencial de uma cooperativa na área do artesanato é a busca por maior eficiência na produção com ganho de qualidade e por competitividade em virtude da redução de custos na aquisição de matéria-prima, no beneficiamento, no transporte, na distribuição e venda dos produtos. 2.4.4 Classificação por Tipologia O artesanato também pode ser classificado em função da matéria-prima utilizada. Segundo o “Termo de Referência” (SEBRAE, 2004, p.24), “as matériasprimas podem ser de origem mineral, vegetal ou animal, podendo ser utilizadas em seu estado natural, processadas ou serem decorrentes de processos de reciclagem/reaproveitamento”. As principais matérias-primas utilizadas no Brasil são: Barro: utilizado para a produção dos mais variados tipos de cerâmicas (terracotas, porcelanas e faianças), tais como: louças, potes, vasos, esculturas, etc. Couro: de origem bovina, caprina, suína, réptil, entre outras utilizadas na fabricação de produtos de uso rural como selas, gibões e chapéus; e produtos urbanos como calçados, bolsas e acessórios de moda. Fibra: as mais comuns são as fibras da taboa, buriti, côco, carnaúba, babaçu, sisal, junco, juta, cipó, bambu, vime, palha de milho e folha de bananeira, utilizadas na produção de cestarias, tapetes, móveis, etc. 35 Fio: os mais utilizados são a lã e o algodão, que podem ser empregados na tecelagem de redes, mantas, colchas, tapetes ou na produção de crochês, tricôs e peças bordadas. Madeira: é um material amplamente utilizado na produção de móveis, objetos decorativos, esculturas, brinquedos, instrumentos musicais e construção de canoas e pequenas embarcações. Metal: os mais utilizados são alumínio fundido, bronze, cobre, ferro e prata, empregados na produção de facas, ferraduras, cabideiros, castiçais, panelas, canecas, joias e bijuterias, entre outros. Pedra: são as pedras semipreciosas, granitos, mármores, pedra-sabão, sendo essa muito utilizada na produção de peças decorativas pela facilidade de manuseio. Vidro: é utilizado na fabricação de produtos utilitários, tais como: copos, garrafas, jarras, vasos e em peças decorativas como luminárias, vitrais, mosaicos e esculturas. Outros: borrachas, papéis, ceras, parafinas, ossos, chifres, penas, sementes e materiais industriais reciclados também são utilizados na produção dos mais diversos objetos artesanais. 2.5 Valor de Estima do Objeto Artesanal O valor de uso de um objeto é a sua capacidade de satisfazer necessidades humanas referentes à sua funcionalidade prática. Segundo Marx (1980), a utilidade de um objeto é que confere um valor de uso, e este só se concretiza com a utilização ou o consumo. O valor de estima é detentor de qualidades mais subjetivas, condicionadas à hermenêutica, a disciplina da interpretação, ou seja, à semântica. De acordo com Krippendorff (1990): Se o significado de um objeto não está claro para nós, nós podemos nos sentir convidados a explorar ou brincar com ele até que tenhamos adquirido uma compreensão prática sobre ele. Desta forma, o significado de algo não reside na sua superfície. Ele emerge no uso, com a prática, a prática de viver o ambiente e contextos específicos, toda vez que nós cognitivamente conectamos nossas ações e percepções em uma perspectiva circular. Os significados então construídos apoiam nosso modo de viver, penetrando a superfície tão fundo quanto nosso conhecimento pode chegar, e envolvendo 36 nossa capacidade cognitiva (KRIPPENDORFF, 1990). quanto mais interagirmos com ele Tanto a estima quanto a cognição são sistemas de processamento de informações, que, no entanto possuem funções distintas. O sistema afetivo faz julgamentos e rapidamente ajuda a determinar os objetos no ambiente que são perigosos ou seguros, bons ou maus. O método cognitivo interpreta e explica o sentido lógico do mundo. A emoção é a experiência consciente do afeto, completa com a atribuição de sua causa e identificação de um objeto. Para compreender o verdadeiro significado do consumo de determinado produto, é preciso entender as motivações da compra de um objeto. Nesse contexto, pode-se afirmar que além das necessidades funcionais de usabilidade, utilidade e forma procuradas no objeto, outros valores também influenciam nessa escolha. Como afirma Norman (2008), a emoção é um elemento necessário da vida, afetando a maneira como nos sentimos, comportamos e pensamos. A emoção está sempre fazendo juízos de valor, apresentando informações imediatas a respeito do mundo. Os objetos em nossas vidas são mais que meros bens materiais. Tem-se orgulho deles, não necessariamente porque estejamos exibindo nossa riqueza ou status, mas por causa dos significados que eles trazem para nossas vidas. Um objeto favorito é um símbolo, que induz a uma postura mental positiva, um lembrete que nos traz boas recordações, ou por vezes uma expressão de nós mesmos. E esse objeto tem uma história, uma lembrança e algo que nos liga pessoalmente àquele objeto em particular, àquela coisa em particular (NORMAN, 2008, p.26). Na sociedade contemporânea, o artesanato adquire novas funções além das tradicionais, advindas da valorização dos consumidores de produtos portadores de referências regionais, nacionais e étnicas. Octavio Paz (2006) afirma que “o objeto feito à mão é um signo que expressa a sociedade humana de uma forma própria: não como ferramenta (tecnologia), não como símbolo (arte, religião), mas como uma forma de vida física e simbiótica” (PAZ, 2006, p.3). Nesse contexto, cresce a valorização do artesanato como portador de novos significados. O aspecto funcional do produto deixa de ser relevante à medida que cresce seu valor no mercado. Um objeto artesanal carrega em si uma série de significados atribuídos por seus consumidores. Estes significados surgem, quase sempre, pela associação do artesanato aos valores culturais ligados ao seu 37 território. Segundo Moraes (2010), o produto artesanal, ao comunicar os elementos culturais e sociais ligados a seu território, permite ao consumidor apreciar e valorizar sua história de maneira correta. No momento da compra de um produto artesanal, o consumidor é levado pela emoção, pelo desejo, pelo impulso. As informações sobre a história do lugar, do contexto da produção, da pessoa que fez aquele produto, podem ter um valor para quem a adquire, o que gera um valor simbólico de estima muito grande por aquele objeto, como reforça Moraes (2010): Os produtos locais são manifestações culturais fortemente relacionados ao território e a comunidade que os produziu. Esses produtos representam os resultados de uma rede tecida ao longo do tempo, que envolve recursos da biodiversidade, modos de fazer tradicionais, costumes e também hábitos de consumo (MORAES, 2010, p. 39). A escolha por determinado objeto acontece a partir de uma profusão de valores que permeia as decisões do consumidor cotidianamente. Para Barroso (1999, p.21), “o conteúdo simbólico do artesanato está intrinsecamente ligado ao seu valor de uso, devendo, pois ser entendido, respeitado e valorizado”. A partir disso, pode-se pensar que existe não uma, mas várias lógicas que orientam o consumo do artesanato e que elas estão associadas aos mais diversos valores, tais como: a tradição, a arte, o indivíduo, o regionalismo, o nacionalismo, entre outros. 2.6 Identidade Cultural no Contexto do Artesanato O significado de identidade cultural está relacionado ao sentimento de pertencimento a um grupo social, lugar ou território. Do ponto de vista antropológico, a identidade cultural de um grupo social é constituída pelo seu espaço territorial e por objetos, adornos, vestimentas, culinária, música, costumes, folclore, mitos, ritos, religião, moral e ética capazes de distinguir um determinado grupo dos demais. O sentimento de pertinência que cada ser humano experimenta não está ligado apenas as suas origens e heranças, mas também as suas sucessivas e deliberadas escolhas e aquisições. A partir de suas opções individuais podemos então falar de identificação cultural que com o tempo pode vir a configurar uma identidade própria (BARROSO, 1999, p.5). 38 Como o processo de globalização, a identidade cultural de um grupo se tornou um processo vivo e dinâmico, de construção continuada. Barroso (1999) afirma que “quanto maior esta dinâmica, maior será a capacidade de sobrevivência e de renovação de uma nação” A identidade de um indivíduo não estaria ligada apenas a um território, mas também a sua história, conforme afirma Octavio Paz (2006). Os artesãos não têm pátria: suas verdadeiras raízes estão nas suas vilas nativas – ou mesmo em um único quarteirão, ou em suas famílias. Os artesãos nos defendem da uniformidade artificial da tecnologia e da improdutividade da geometria: ao preservar as diferenças, eles preservam a fertilidade da história (PAZ, 2006, p.4). Adélia Borges (2003) acredita que existe uma busca dos consumidores por objetos que possuam identidade, diferenciação e referência cultural de seus produtores. Para ela, o artesanato é a representação da identidade de uma comunidade, impregnado de valor cultural. O artesanato exprime um valioso patrimônio cultural acumulado por uma comunidade ao lidar, através de técnicas transmitidas de pai para filho, com materiais abundantes na região e dentro de valores que lhe são caros. Por tudo isso, ele acaba se tornando um dos meios mais importantes de representação da identidade de um povo (BORGES, 2003, p.63). Em síntese, pode-se entender que o artesanato está intimamente ligado à cultura de um grupo ou sociedade. O produto deve ter uma clara identificação com sua origem, representando a cultura e o território da sua comunidade. Barroso, no entanto, alerta que “um produto artesanal, por melhor que seja, deve vir acompanhado de algo que o contextualize, que o localize no tempo e no espaço” (BARROSO, 1999, p.21). A identidade cultural assim, pode se configurar como um diferencial competitivo para o produto artesanal, viabilizando o desenvolvimento sustentável do artesanato numa determinada região. 2.7 Inovação em Produção Artesanal A palavra inovação é derivada do termo latino innovatio, e se refere a uma ideia, método ou objeto que é criado e que não estabelece relação com padrões anteriores. Segundo o dicionário Houaiss (2009), o sentido de inovação está 39 relacionado à concepção de algo novo ou a um modo de fazer diferente do que era feito anteriormente. A inovação é a invenção que chega ao mercado, como afirma Engler (2009): A inovação é a invenção que deu certo, quer dizer, aquela que foi produzida e aceita no mercado, vendeu, e, portanto, fez diferença, influenciou ou facilitou a vida de alguém e gerou riqueza. Mas, hoje em dia, para gerar riqueza é necessário que ela seja sustentável, que seja capaz de reproduzir de forma social, ecológica e financeiramente correta (ENGLER, 2009, p.66). A inovação em produção artesanal está relacionada aos processos de produção, design e sustentabilidade. Segundo o “Termo de Referência” (SEBRAE, 2004, p.35), a inovação da produção artesanal pode ocorrer: Ao criar um novo produto ou uma coleção de produtos. Ao substituir uma matéria-prima escassa por outra mais abundante na região. Ao trocar instrumentos de trabalho por outros mais eficazes. Ao utilizar novas ferramentas que facilitem o trabalho. Ao mudar as técnicas ou processos por outros mais produtivos. Ao alterar a forma, a aparência e/ou a função. Ao apresentar os produtos em uma nova abordagem. Ao agregar valores da cultura material e imaterial. Nesse sentido, os designers têm muito a contribuir, uma vez que sempre estabeleceram conexões entre a sociedade e a tecnologia (MANZINI, 2008). O designer pode cooperar para a valorização de produtos locais ao empregar tecnologias muito utilizadas no design. Moraes (2010) destaca as competências transversais que o design pode oferecer à produção artesanal: Uma estratégia de comunicação efetiva pode contribuir para a valorização de qualidades envolvidas na produção, na comercialização e no próprio consumo. Em outras palavras, o designer pode contribuir para trazer visibilidade ao produto e a seus elementos reduzindo a opacidade do sistema de distribuição e comercialização e aproximando o produtor do consumidor (MORAES, 2010, p.37). 40 Os processos de criação de um novo produto ou de inovação de um produto já existente constituem-se em uma atividade complexa, que requer a colaboração de designers totalmente comprometidos com a ética e a responsabilidade social. O designer alemão Alexander Neumeister reforça essa ideia: Torna-se necessária a formulação de uma nova proposta de ética profissional para os designers embasada na conscientização do equilíbrio precário de nosso planeta, das relações existentes entre os homens e seu meio, entre presente e passado, entre tradição e inovação, entre identidade cultural e perspectiva global (NEUMEISTER, 1999 apud BARROSO, 1999, p.20). Ao participar do desenvolvimento de um produto, os designers precisam demonstrar sensibilidade e se “abster de expressar seu gosto pessoal ou suas preferências estéticas. Do mesmo modo, um designer envolvido com a concepção de produtos artesanais não deve projetar para o artesão” (SEBRAE, 2004, p.52). O ideal é que estes atuem em parceria com os artesãos, respeitando sua imaginação, sua cultura, seu local e origem de seus conhecimentos. 2.8 Sustentabilidade da Produção Artesanal A definição de sustentabilidade parte do equilíbrio entre os aspectos ambientais, econômicos e sociais, visto que são elementos intrínsecos a um mesmo processo. Para Zylbersztajn e Lins (2010), os sistemas produtivos não funcionam sem capital financeiro, capital natural e capital humano integrados e em doses adequadas. Manzini (2008) questiona se realmente deve-se considerar sustentável uma sociedade em que as necessidades mais básicas são atendidas sem considerar os altos custos ambientais, econômicos e sociais. “A sustentabilidade significa planejar ações para que as pessoas retomem o controle das situações, em vez de substituí-las pela tecnologia” (THACKARA, 2008, p.34). Ao longo das últimas décadas, o conceito de sustentabilidade vem acompanhando a evolução da conscientização da população mundial, de acordo com os progressos tecnológicos e os problemas decorrentes dos mesmos. A definição apresentada pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e 41 Desenvolvimento em 1987, durante a elaboração do “Relatório Brundtland7”, conceituou, sustentabilidade como “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações” (BRUNDTLAND, 1991). Assim, pode-se entender a estrutura de desenvolvimento sustentável como: O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais (BRUNDTLAND, 1991). O desenvolvimento sustentável se baseia no pilar ambiental, econômico e social. Todos estão intrinsecamente relacionados, mas ainda assim, é possível compreendê-los em si mesmos: Sustentabilidade Ambiental: compreende a conservação dos elementos e funções do ecossistema de modo sustentável, isto é, a capacidade que o meio ambiente tem de manter as condições de vida para todos os outros seres vivos. Sustentabilidade Econômica: é a capacidade de produção, distribuição e utilização equitativa das riquezas produzidas pelo homem, e num sentido mais amplo, a base para a manutenção de uma sociedade mais justa, estável e igualitária. Sustentabilidade Social: está relacionada ao bem estar, ao respeito e aos diretos dos seres humanos, ou ainda, à mudança de atitude, à quebra de paradigmas e, principalmente, à busca de ações e soluções que possam contribuir para o desenvolvimento humano. Mais recentemente, a sustentabilidade cultural passou a ser discutida e proposta por especialistas da área. Em 2001, o australiano Jon Hawkes lançou o livro “Quarto Pilar da Sustentabilidade: O Papel Essencial da Cultura no “Relatório Brundtland” é o nome extraoficial do relatório intitulado “Nosso Futuro Comum” devido ao fato de ter sido conduzido pela líder internacional Gro Harlem Brundtland (política, diplomata e médica norueguesa). 7 42 Planejamento Público”, e apesar de ainda não integrada oficialmente ao conceito de desenvolvimento sustentável, a cultura é peça fundamental da sustentabilidade por seu valor inestimável para avaliar o passado e planejar o futuro (REIS, 2008). A cultura é um valor que pode promover o desenvolvimento local e revitalizar territórios, gerando empregos e qualidade de vida para a população local. Os valores são essenciais para a criação de riqueza – e também serão centrais para a transição da sustentabilidade. Os relacionamentos humanos e sociais são frequentemente ignorados, mas agora precisam ser postos em evidência. Enquanto vários valores são compartilhados em culturas em todo o mundo, a comunidade do desenvolvimento sustentável deve aprender a reconhecer – e a trabalhar com – a diversidade vinculada aos valores (ELKINGTON, 2012, p.203). Para que ocorra a sustentabilidade da produção artesanal, é necessário que ela seja economicamente viável, ambientalmente correta, socialmente justa e culturalmente aceita. O “Artesanato Indígena” e o “Artesanato Utilitário” são exemplos de produção sustentável, visto que são fabricados em regiões pouco desenvolvidas, utilizam matéria-prima abundante na região, e valem-se de tecnologias de baixo impacto e das tradições culturais da comunidade, conforme relata Adélia Borges (2011): [...] a produção artesanal está sintonizada com a noção contemporânea de sustentabilidade, que compreende os conceitos de ambientalmente responsável, economicamente inclusivo e socialmente justo, englobando ainda o que alguns entendem como o quarto pilar do desenvolvimento sustentável, que é a diversidade cultural (BORGES, 2011, p.217). Ainda sob o ponto de vista da sustentabilidade, o artesanato produzido em regiões com mais infraestrutura e atrativos naturais, encontram-se o “Artesanato Tradicional” e o “Artesanato de Produtos Típicos”, que aproveitam da oferta turística dessas regiões para se sustentarem. A identidade cultural, quando bem trabalhada, é o elemento que confere a inovação e a sustentabilidade da produção artesanal, como aponta o estudo do SEBRAE (2004): A comercialização de produtos regionais em pontos “turísticos”, a ambientação de hotéis e restaurantes, com produtos artesanais regionais evidenciando a identidade cultural local, podem e devem ser trabalhados para reforçar a sustentabilidade dos grupos de artesãos, criando novas possibilidades de consolidação do artesanato enquanto setor econômico viável (SEBRAE, 2004, p.14). 43 Nos casos em que o artesanato encontra-se descaracterizado e desvalorizado, como nos grandes centros urbanos e suas Regiões Metropolitanas, o design pode inspirar um modelo de produção artesanal que gere resultados consistentes a longo prazo, por intermédio do equilíbrio e da coordenação das dimensões econômica, ambiental e social. Manzini (2008) ainda destaca: Neste sentido, os designers podem ter um papel muito especial e, esperamos, importante: mesmo não tendo meios para impor sua própria visão aos outros, possuem, porém, os instrumentos para operar sobre a qualidade das coisas e sua aceitabilidade e, portanto, sobre a atração que novos cenários de bem-estar possam porventura exercer. Seu papel específico na transição que nos aguarda é oferecer novas soluções a problemas, sejam velhos ou novos, e propor seus cenários como tema em processos de discussão social, colaborando na construção de visões compartilhadas sobre futuros possíveis e sustentáveis (MANZINI, 2008, p.16). Dessa forma, “o design procura identificar e avaliar relações estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas” (VEZZOLI, 2010, p.38) que podem contextualizar o artesanato em novos mercados, conferindo a sustentabilidade da atividade artesanal. 2.9 Produção Artesanal Associada ao Turismo Segundo a World Tourism Organization8 (UNWTO), o turismo compreende as “atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros” (WORLD TOURISM ORGANIZATION, 2012). Atualmente o turismo, segmento que vem assumindo recentemente papel de dinamizador da economia em âmbito global, tem se tornado objeto de estudo e alvo de pesquisas sob o olhar de profissionais de diversas áreas. O interesse de regiões e países em promover o incremento local, o aquecimento da economia e a redistribuição de renda através do comércio de produtos e serviços, abre espaço para o estímulo e investimento no turismo, que torna-se assim uma atividade vital para o desenvolvimento sustentável. De acordo com a World Tourism Organization (2012), o turismo é um campo estratégico que possui competência de operar como atenuante sobre a pobreza em países em 8 Em tradução para o português: Organização Mundial do Turismo. 44 desenvolvimento através da geração de novas oportunidades de emprego e renda. Para tanto, o turismo tece uma complexa rede de elementos em que a inter-relação de seus participantes é de fundamental importância. O turismo pode ser considerado um ambiente fluido, e através de uma análise de sistema geográfico do turismo, que consiste na avaliação das tomadas de decisões de um consumidor enquanto indivíduo ao longo de uma jornada de viagem, pode-se traçar um perfil. De acordo com Cooper e Hall (2011), tal análise deve ser segmentada em quatro quesitos: 1. Região geradora ou emissora: morada permanente do turista, destino de partida e chegada. 2. Rota de deslocamento: percurso do turista até alcançar seu destino de viagem. 3. Região de destino: região que construiu algum elemento central que se tornou alvo de turismo e foi eleita para visitação. 4. O ambiente: tudo o que permeia e conecta os três elementos anteriores. Através dessa abordagem, é possível mapear os fluxos que conectam determinada região geradora a outra região de destino, identificando os pontos de ligação. Em cada um dos estágios em que o turista se encontra, ele irá se deparar com situações adversas que irão refletir e influenciar suas orientações e escolhas, criando variações na qualidade e na natureza da experiência pela qual está passando. É justamente a existência de tantas oportunidades de ofertas operacionais que possibilita o planejamento de viagens que atendam às expectativas e interesses de cada consumidor de acordo com seu poder aquisitivo, atividades de lazer ou trabalho que deseja desempenhar, meios de transporte que espera utilizar, dentre outras variáveis. Segundo Gilbert (2011, apud COOPER E HALL, 2011), o produto turístico é “um amalgama de diferentes bens e serviços oferecidos ao turista como uma experiência”. Pode-se então concluir que existe uma extensa gama de variáveis que vão alterar seguidamente a experiência do consumidor e que qualquer ponto 45 conector existente entre o ponto emissor e o destino é uma oportunidade de oferta de produto ou serviço dentro da cadeia produtiva do turismo. O Ministério do Turismo (MTUR), através do Programa de Estruturação da Produção Associada ao Turismo, vem trabalhando para aumentar o fluxo e o período de permanência de turistas, através da diversificação da oferta turística por meio da produção associada ao turismo. O “Manual para o Desenvolvimento e Integração de Atividades Turísticas com Foco na Produção Associada” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011) adota a seguinte definição para a produção associada ao turismo: Qualquer produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais e/ou culturais de uma determinada localidade ou região, capazes de agregar valor ao produto turístico. São as riquezas, os valores e os sabores brasileiros. É o design, o estilismo, a tecnologia: o moderno e o tradicional. É ressaltar o diferencial do produto turístico para incrementar a sua competitividade (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011, p.13). Os produtos associados ao turismo ainda podem ser identificados em três diferentes categorias, segundo o “Guia de Produtos Associados ao Turismo Caminhos do Fazer” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010): Unidades Produtivas: engloba a produção de artesanato, agropecuária e agroindustrial típica de um destino turístico. Manifestações e Grupos Culturais: envolve as mais importantes manifestações de música, dança, teatro, artes plásticas, literatura e folclore típicas dos destinos turísticos. Culinária Típica Local: agrega os empreendimentos de alimentação que utilizam ingredientes tipicamente locais e apresentam pratos da culinária tradicional da região. Barroso (2011) interpreta a produção associada ao turismo como a oferta de produtos e serviços complementares ao turismo provenientes de pequenos produtores autônomos, membros da economia local que interagem e cooperam entre si, nas distintas fases da cadeia de produção e comercialização. “A produção associada presume uma lógica semelhante a dos “arranjos produtivos locais” ou dos 46 “clusters”, com estímulo a constituição de cooperativas de produtores e um plano estratégico comum” (BARROSO, 2011). Considerando essas novas oportunidades de negócios, faz-se cada vez mais necessária a profissionalização do setor. Projetos e programas têm sido implantados em parcerias público/privado buscando diversificar e agregar valor à oferta turística, já que uma gama maior de atrativos e possibilidades de compras, experiências e entretenimento possibilita que o turista desfrute de maneira mais completa daquilo que a cultura local tem a oferecer em todo o seu potencial, aumentando a atratividade do destino. Para mensurar a relação custo/benefício destes projetos, é necessário adotar critérios que indicam a “agregação de valor nos produtos e serviços referenciados na cultura local; a presença da inovação sem descaracterizar a tradição; o incremento da produção e da renda dos produtores; a responsabilidade comercial, social e ambiental” (BARROSO, 2010). Ainda segundo Barroso (2011), o turista espera encontrar tais características nos produtos artesanais, acrescido do fato que o produto deve ser parte ou testemunho da experiência emocional que ele vivencia. Barroso (2011) identificou o comportamento e agrupou os turistas em três grandes grupos: Turista Acidental: aquele que tem como motivação compromissos pessoais, profissionais, familiares ou religiosos, permanecendo em média de 3 a 5 dias no destino. Geralmente, suas aquisições se limitam a presentes compulsórios tais como: produtos típicos, lembranças e souvenires. Turista Tradicional: aquele que tem como motivo o lazer e o relaxamento. Viaja em busca de serviços e produtos conhecidos, que não representem surpresas. Hospeda-se em hotéis tradicionais e compra artesanato em função de seu preço, quase sempre produtos de uso pessoal ou utilitário. Turista Existencial: aquele que é motivado pela experiência cultural, buscando vivenciar hábitos e costumes da comunidade de destino. Tende a permanecer por maiores períodos de tempo e valoriza a gastronomia, a música, a arte popular, o artesanato, os festejos e a vida do lugar. Adquire 47 em geral produtos decorativos com fortes referências culturais e estreitos laços com o território. Diante desse cenário tão diversificado de perfis, o designer, devido às suas competências e experiências relacionadas a avaliação de público alvo, pesquisa e aplicação de novos materiais, habilidade em desenvolver embalagens e material de divulgação, capacidade de construir pontes entre necessidades e desejos, apresenta-se como um o profissional adequado para estabelecer parceria com os produtores e empreendedores locais. No entanto, deve-se atentar para o cuidado e respeito mútuo entre seus atores, evitando que a produção e seus processos produtivos sejam descaracterizados. 48 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS O presente capítulo tem como objetivo apresentar os métodos e procedimentos empregados nesta pesquisa. A priori, pode-se dizer que do ponto de vista de sua natureza, é uma pesquisa aplicada. Quanto à forma de abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa fundamentada na metodologia da pesquisaação, havendo interpretação de fenômenos e atribuição de significados – elementos básicos desse tipo de abordagem. Quanto aos objetivos, é uma pesquisa exploratória, visto que busca proporcionar maior familiaridade com o problema através de pesquisas de campo e entrevistas. O método de investigação é o estudo de caso, utilizando-se a observação qualitativa, participativa e questionários abertos e semiestruturados. Para uma melhor compreensão do tema, registram-se a seguir algumas definições genéricas dos termos. 3.1 Abordagem da Pesquisa Qualitativa A pesquisa qualitativa é descritiva, ou seja, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados sem interferência do pesquisador; e faz uso de técnicas padronizadas de coleta de dados. As informações obtidas não podem ser quantificáveis e os dados obtidos são analisados indutivamente. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo da pesquisa qualitativa (RODRIGUES, 2007). Neste sentido, Liebscher (2000 apud DIAS, 2000) também afirma que tais métodos se justificam quando o contexto social e cultural é de fundamental importância para a pesquisa: Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente, são usados quando o entendimento do contexto social e cultural é um elemento importante para a pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas (LIEBSCHER 2000 apud DIAS, 2000). Na “Enciclopédia e Dicionário Porto” (2011), análise qualitativa é um conjunto de técnicas de investigação interpretativa amplamente utilizada na Sociologia e Antropologia, que: 49 [...] permite ajustar as expectativas que os investigadores têm sobre determinado problema social à sua realidade, o que vulgarmente se designa por corte com o senso comum, e apreender mais de perto determinadas realidades sociais que outras técnicas de investigação não permitem (ENCICLOPÉDIA E DICIONÁRIO PORTO, 2011). Essa definição muito se assemelha ao pensamento da socióloga e professora da Universidade de São Paulo (USP), Heloísa Helena Martins (2004) que diz: A pesquisa qualitativa é definida como aquela que privilegia a análise de microprocessos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais, realizando um exame intensivo dos dados, e caracterizado pela heterodoxia no momento da análise (MARTINS, 2004). 3.1.1 Métodos de Coleta de Dados Qualitativos Segundo Rodrigues (2007), a análise qualitativa está classificada de acordo com sua forma de abordagem, quanto aos tipos de pesquisa, que podem ser quantitativa e qualitativa. A abordagem qualitativa pode ser requerida em duas situações (RODRIGUES, 2007): Pesquisa de levantamento preliminar-piloto, base para a elaboração de um questionário, ou ainda, como suporte necessário para explicar os porquês das relações identificadas na pesquisa quantitativa. Utilizada como único método, dependendo da natureza do problema de pesquisa. Os tipos de pesquisa que normalmente adotam uma abordagem qualitativa são a pesquisa-ação, Grounded Theory9, estudos etnográficos e estudos de caso (MYERS, 2000 apud DIAS, 2000). A pesquisa qualitativa trabalha sempre com unidades sociais, privilegiando os estudos de caso - entendendo-se como caso, o indivíduo, a comunidade, o grupo, a instituição (MARTINS, 2004). A pesquisa qualitativa utiliza mais comumente em sua coleta de dados as seguintes estratégias e ferramentas: análise documental, entrevista individual aberta, entrevista individual estruturada, entrevista semiestruturada, grupo focal, 9 Grounded Theory é uma metodologia de pesquisa que usa a teoria indutiva baseada na análise sistemática dos dados. No Brasil é conhecida como "Teoria Fundamentada em Dados", 50 observação direta e observação participante (DIAS, 2000; BONI E QUARESMA, 2005): Análise Documental: método que conta com a etapa de observação e análise de rigor científico do objeto de estudo, destacando seu comportamento, desempenho, costumes e mentalidade; seguida da etapa de documentação dos dados obtidos afim de que possam servir de fonte de informações para outros pesquisadores. Tais documentos podem possuir duas naturezas: (a) documento escrito: arquivos, relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas; e (b) documento não escrito: filmes, vídeos, slides, fotografias, mapas ou pôsteres. Entrevista Individual Aberta: o entrevistado discursa livremente sobre o tema levantado pelo agente realizador da pesquisa. Apresenta como vantagem a exploração de casos individuais, especificidades culturais e comparabilidades de forma mais ampla. Ainda em uma atmosfera informal, o entrevistador pode esclarecer dúvidas e enganos do entrevistado, e este pode fazer com que o entrevistador desperte para detalhes até então impensados que podem simbolizar grandes diferenciais dentro da pesquisa. Entrevista Individual Estruturada: modelo de entrevista que se vale de um roteiro de perguntas previamente estruturado. O questionário em questão deve ser respondido estritamente de acordo com as questões levantadas visando que ao final de sua aplicação seja possível gerar gráficos e tabelas. A chance de compatibilidade dos dados obtidos com a realidade aumenta na medida em que o anonimato dos entrevistados confere a eles mais liberdade. Entrevista Individual Semiestruturada: o entrevistador faz questionamentos tanto de ordem objetiva quanto discursiva. Sempre buscando conduzir a entrevista de modo que o entrevistado se sinta a vontade, o entrevistador pode improvisar buscando obter um enfoque mais direcionado para seus pontos de interesse a fim de controlar o número de informações que pretende obter, conquistar a confiança do 51 entrevistado para a abordagem de temas mais polêmicos e pessoais e extrair respostas mais espontâneas. Grupo Focal: a partir da seleção de pessoas (conhecidas ou não) que possuem opiniões, conhecimentos e pontos de vista que interessam ao pesquisador, forma-se um grupo que é estimulado a debater sobre assuntos relacionados à convergência de seus interesses. Geralmente, o pesquisador intervém assumindo o papel de moderador para garantir que as indagações caminhem na direção desejada. Observação Direta: com a finalidade de explorar o campo a ser pesquisado, essa ferramenta, que constitui uma das bases de uma pesquisa científica, pode ser utilizada individualmente ou aliada a outras técnicas. O pesquisador utiliza-se, a certa distância, de experiências empíricas para apreender o objeto de estudo. “Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar” (LAKATOS E MARCONI, 1992). Observação Participante: utilizando esta técnica, o pesquisador interage diretamente com seu objeto de estudo: passa a fazer parte de seu meio, se porta como ele e se confunde a ele. Infiltrando desta maneira, obtémse o conhecimento de determinada comunidade, grupo ou circunstância a partir de uma perspectiva interna. 3.2 Objeto de Estudo O objeto de estudo consistiu em: (a) identificar como a comunidade de artesãos e produtores artesanais do distrito de São Sebastião das Águas Claras (Macacos) se organiza, produz e comercializa seus produtos; (b) promover a cultura do design e da inovação social nas iniciativas e empreendimentos locais; (c) verificar como o design pode contribuir para a sustentabilidade da produção artesanal na comunidade local. 52 3.3 Metodologia de Pesquisa A metodologia de trabalho desta pesquisa foi fundamentada em três etapas: (a) a primeira parte buscou atender ao conteúdo do referencial teórico; (b) a segunda etapa consistiu em executar as pesquisas de campo e as atividades junto à comunidade e (c) a última etapa compreendeu o registro dos resultados e conclusão da pesquisa. a) A primeira etapa consistiu na revisão bibliográfica abordando design, artesanato, inovação social e sustentabilidade, além de pesquisa documental no Instituto Histórico e Geográfico do Alto do Rio das Velhas (IHGARV) e no Centro de Memória de Nova Lima, contemplando o contexto histórico, cultural, social, econômico e ambiental do município de Nova Lima e do distrito de São Sebastião das Águas Claras (Macacos) abrangendo o período de formação histórica até os dias atuais. b) A segunda etapa iniciou com a realização de um diagnóstico compreendendo um grupo focal com membros da comunidade. Simultaneamente, efetuou-se o levantamento iconográfico através de registro fotográfico e entrevistas em campo com artesãos, através da aplicação de um questionário semiestruturado (APÊNDICE A - B). Na sequência, realizou-se a análise do perfil socioeconômico dos artesãos cadastrados, além da sistematização de dados, visando estabelecer indicadores, tais como: perfil socioeconômico dos artesãos, tipologias artesanais, volumes de produção e vendas, entre outros. Foram elaborados conteúdos e atividades das oficinas. Na sequência, foi realizada nova pesquisa de campo, com a aplicação de questionário semiestruturado (APÊNDICE C), a fim de levantar os hábitos de viagem e consumo dos turistas que frequentam Macacos. Após a conclusão das atividades das oficinas, foi feita a aplicação de um novo questionário semiestruturado para auxiliar a equipe de trabalho no desenvolvimento de produtos e serviços (APÊNDICE D) e, finalmente, após todas essas etapas foi aplicado o questionário final semiestruturado (APÊNDICE E) que permitiu análises dos resultados das ações de design. 53 c) A terceira etapa compreendeu a verificação da abordagem do design nos diferentes níveis de sustentabilidade através da interpretação e do registro das discussões dos resultados, para enfim elaborar a conclusão da pesquisa. 54 4 ESTUDO DE CASO O referente estudo de caso tem como base de análise a Oficina de Processos Criativos e a Oficina de Estratégias de Mercado. A fim de dar início as análises, torna-se necessário delimitar a área de estudo para compreender o contexto geográfico e histórico do local onde as atividades das oficinas foram realizadas. As descrições das atividades procuram oferecer ao leitor um panorama detalhado que irá auxiliá-lo na compreensão das discussões e resultados apresentados ao final deste capítulo. 4.1 Contexto 4.1.1 Município de Nova Lima O município de Nova Lima - MG, foi escolhido para realização das atividades do Programa Comunidades Criativas das Geraes por apresentar características únicas, entre os 34 municípios que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Nova Lima se destaca por ser o único município da RMBH que recebeu imigrantes ingleses para explorar as minas de extração de ouro. A forte ligação com a cultura inglesa confere atributos singulares a sua história, hábitos e costumes. Estas particularidades, como serão expostas a seguir, configuraram um ambiente propício para a implantação de um programa piloto fundamentado no conceito de “Comunidades Criativas”. Nova Lima está localizada em uma região montanhosa, dentro dos limites do Quadrilátero Ferrífero10, conforme figura 1. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE, 2010) a sede do município fica a 22km do centro da capital mineira e sua extensão territorial compreende 429km2, apresentando como bioma predominante a Mata Atlântica em transição para o Cerrado. O clima da região é Tropical Semiúmido, possuindo duas estações climáticas bem definidas: verão úmido e inverno seco. 10 Quadrilátero Ferrífero é a região compreendida entre Itabira, Mariana, Congonhas e Itaúna, recebendo esse nome devido aos depósitos de minério de ferro que ocorrem nesta área. Localiza-se na porção centro-sudeste do estado de Minas Gerais ocupando uma área aproximada de 7.000 km². (GEOPARK QFE, 2012). 55 Figura 1 - Mapa dos limites do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: GEOPARK QFE, 2012. Segundo o Censo de 2010, Nova Lima possui 80.998 habitantes, em sua maioria distribuídos nas zonas urbanas (79.232 habitantes), sendo classificado como um município de médio porte, de acordo com a tabela do IBGE. Na atualidade, além da sede do município, suas fronteiras também incluem os povoados de Honório Bicalho, Santa Rita, Rio do Peixe, São Sebastião das Águas Claras (Macacos) e Jardim Canadá. A renda per capita é de R$ 1.653,47, sendo atualmente a maior do estado de Minas Gerais, segundo dados da Fundação João Pinheiro (FJP, 2010). Apesar de encontrar-se muito próxima a uma grande metrópole, e de sua população estar concentrada em áreas urbanizadas, ainda hoje preserva modos, hábitos e costumes típicos das pequenas cidades do interior mineiro. A Prefeitura Municipal de Nova Lima (2012) destaca que o município possui a maior área verde em metros quadrados por habitantes da RMBH, compondo belas paisagens com suas montanhas, matas, rios e cachoeiras, além de espécies da fauna e flora bastante diversificadas. A Mata do Jambreiro, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), é a mais importante área verde da RMBH, com 912 hectares preservados, conforme figura 2. Segundo Murta (2006), em 2005, a UNESCO certificou essa área como a mais nova reserva da biosfera brasileira. 56 Figura 2 - Mapa dos limites da Mata do Jambreiro. Fonte: MURTA, 2006. O povoado surgiu por volta do ano de 1701 em função da exploração aurífera às margens do Ribeirão dos Cristais, “quando o bandeirante paulista Domingos Rodrigues da Fonseca Leme chegou e instalou-se no que constituíram o povoamento dessa bela cidade" (MELO, 2008, p.21). O escritor e pesquisador inglês Richard Burton (1976) descreve os aspectos geográficos da região como: O belo local do estabelecimento é uma depressão, de formato irregular, com cerca de três quartos de milha de comprimento e meia milha de largura. O estreito vale termina a oeste em um beco sem saída (Voltaire nos proíbe de chama-lo um ‘cul de sac’), formado por uma elevação; os morros que o cercam se elevam de 230 a 300 metros acima do ribeirão. Esse ribeirão, serpenteado para o rumo do nascente, arrasta uma corrente carregada de pirita e lodo de arsênio, deve ter um efeito deletério. A terra em torno foi levada pelo Rio das Velhas e o solo frequentemente bom foi muito empobrecido (BURTON, 1976, p.193). Segundo Villela (1998), devido ao fato das jazidas de ouro encontrarem-se em diversas localidades do território, a ocupação populacional ocorreu de forma desordenada. Com isso, o crescimento demográfico de Nova Lima não se desenvolveu uniformemente, o que levou a fragmentação do seu território. O historiador Ciro Flávio Bandeira de Melo (2008) relata que como consequência da exploração mineral, Nova Lima atraiu uma grande diversidade de povos vindos de várias partes do Brasil e do exterior à procura de metais preciosos. A população do 57 município se formou a partir das migrações internas e externas. Os imigrantes europeus eram bastante numerosos, com destaque aos portugueses, espanhóis, italianos, ingleses, árabes entre outros, cuas influências culturais estão presentes até hoje, nos hábitos e costumes da população da região. Os escravos vieram logo em seguida para trabalhar nas minas e trouxeram consigo suas tradições e cultura. Seus descendentes conseguiram manter viva uma parte desta cultura que trouxeram da África. O Congado, uma das manifestações culturais de matriz africana mais popular, está presente até hoje em Nova Lima. A preservação da memória coletiva dos escravos pode ser vista durante a coroação do rei e da rainha do Congo, conforme figura 3, na época da Festa do Congado realizada todos os anos na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Figura 3 - Integrantes do Congado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Fonte: Arquivo pessoal, 2008 (acervo Jandyr Matos). A cultura inglesa, por sua vez, também deixou marcas únicas na história da cidade. Melo (2008) afirma que a chegada da companhia inglesa Saint Jonh del’ Rey Mining Company, para explorar a mina de ouro do Morro Velho, marcaria para sempre a vida e o futuro da cidade. A influência inglesa na arquitetura e no 58 urbanismo pode ser vista até hoje no bairro das Quintas, local das residências dos dirigentes da mineradora à época. As casas foram construídas no centro dos lotes, que eram geralmente delimitadas por cerca viva (ÁVILA e GUERRA, 2000). Símbolo da arquitetura inglesa, o aqueduto do Bicame foi construído pelos ingleses para facilitar o transporte de água até a entrada da mina do Morro Velho, conforme figura 4. Figura 4 - Bicame, aqueduto construído pelos ingleses. Fonte: Arquivo pessoal, 2003 (acervo Jandyr Matos). As referências da cultura britânica podem ser vistas “não apenas na arquitetura e infraestruturas urbanas, mas também nos hábitos alimentares como no tradicional chá com leite e queca, corruptela do inglês cake, que quer dizer bolo” (MELO, 2008, p.75). As famosas quecas de Nova Lima são feitas tal qual o tradicional bolo de Natal inglês, utilizando nozes, avelãs, castanhas, passas e frutas cristalizadas, conforme figura 5. Em 2011, o Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Nova Lima aprovou a salvaguarda do bem imaterial “Modo de Fazer a Queca” como patrimônio cultural de Nova Lima. 59 Figura 5 - Tradicional queca novalimense. Fonte: Arquivo pessoal, 2005 (acervo Jandyr Matos). Vários sobrenomes ingleses ainda são assinados por famílias novalimense descendentes dos antigos trabalhadores, tais como: Clark, Chalmers, Hodge, Heslop, Gill, Sanders, Nicholls, Lloyd, Jones, Bichart, Morgan. A companhia Saint Jonh Del’ Rey Mining Company11 doou o terreno para a construção do estádio de futebol do primeiro time da cidade, fundado em 28 de junho de 1908, por operários e mineradores ingleses. Os uniformes nas cores vermelho e branco e a mascote (o Leão) fazem uma referência clara ao brasão e à bandeira inglesa. Os britânicos também construíram a Igreja Anglicana e seu cemitério no bairro das Quintas, ambos bem preservados e abertos à visitação. No entanto, a despeito da forte influência nos costumes, no vocabulário e na culinária, não tiveram ascendência nas crenças religiosas dos outros moradores da região. A religiosidade, traço marcante da cultura mineira, também está presente na cultura novalimense. O município possui inúmeras igrejas de vários estilos, em que se destacam a Matriz de Nossa Senhora do Pilar das Congonhas, com altar esculpido por Aleijadinho (1730-1814), conforme figura 6; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pelos escravos; a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, a primeira a ser erguida na região; o Santuário Bom Jesus de Matozinhos, na região de Honório Bicalho; a Capela São Sebastião, no distrito de São Sebastião das Águas Claras, tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Nova Lima. 11 Em tradução para o português: Companhia Mineradora São João Del Rei. 60 Figura 6 - Altar da Igreja Nossa Senhora do Pilar, esculpido por Aleijadinho. Fonte: Arquivo pessoal, 2005 (acervo Jandyr Matos). Entre as atividades esportivas e culturais mais representativas da população apresenta-se ainda hoje o futebol, destacando o Villa Nova Futebol Clube como o quarto maior time de futebol de Minas Gerais, e o carnaval, sendo que este último permanece como a tradição cultural mais expressiva entre os novalimense. Os tradicionais blocos carnavalescos de Nova Lima foram formados por categorias sociais diversas, o que contribuiu para a riqueza cultural da festa popular. Atualmente, a principal atividade econômica desenvolvida na região ainda é extração mineral, contudo o turismo tem se mostrado como uma vocação de grande expressividade na região. Toda a extensão territorial de Nova Lima caracteriza-se pela presença de uma vasta área verde. Detentora de riquezas naturais e arquitetônicas, a região apresenta crescente aquecimento em sua economia proveniente da consolidação de novos negócios com base em serviços e produtos, como pousadas, restaurantes e atividades ecológicas conforme aponta Melo (2008): 61 A cidade é considerada perfeita para os novos negócios que priorizam características como localização, qualidade de vida, atrativos e desenvolvimento como sustentabilidade. [...] Nova Lima tem alcançado uma rápida expansão urbana devido ao crescimento imobiliário, ao surgimento de condomínios e à abertura de novas empresas. A cidade tem se destacado no Estado de Minas Gerais e regiões como a de São Sebastião das Águas Claras (Macacos), Jardim Canadá e Vale do Sol estão inseridas nos roteiros culturais e gastronômicos do mapa turístico mineiro, em razão das excelentes opções de eventos culturais, restaurantes e pousadas (MELO, 2008, p.142). 4.1.2 Distrito de São Sebastião das Águas Claras São Sebastião das Águas Claras, popularmente conhecida como Macacos, possui um histórico de exploração semelhante à de outras tantas povoações mineiras – baseado na mineração. O vilarejo foi um dos mais importantes povoados surgidos na região entre o Rio das Velhas e o Rio Paraopeba, na primeira metade do século XVIII, conforme relata Queiroz (2003) “na região em que se encontram o Rio das Velhas e o Rio Paraopeba, existe uma ampla área de solo aurífero e grande número de córregos e riachos, situação ideal para a atividade mineradora” (QUEIROZ, 2003, p.27). Em 1740, o arraial à época denominado Arraial de São Sebastião dos Macacos, já fazia parte do censo populacional da Vila de Sabará (QUEIROZ, 2003). O povoado teve seu crescimento ligado à exploração de ouro no chamado Descoberto dos Macacos, situado às margens do Ribeirão dos Macacos, na região compreendida entre os córregos das Taquaras, Fundo, Tamanduá e Marumbé, conforme figura 7. A formação do arraial ocorre a partir de uma parada obrigatória para os usuários da Estrada Geral12, rota de uso frequente de mineradores e comerciantes localizada entre vales e montanhas da região. As tropas que levavam mercadorias necessitavam de um local de descanso e trato dos animais, com água e clima ameno. Esses acampamentos acabavam por fazer surgir em seu entorno grupos de pessoas que erguiam suas construções para moradia, plantavam com base na agricultura de subsistência, criavam animais e mantinham contatos de negócios com tropeiros e mineradores (QUEIROZ, 2003). 12 Estrada Geral é a denominação de qualquer via terrestre percorrida no processo de povoamento e exploração econômica à época do Brasil Colônia. 62 Figura 7 - Localização do Arraial de São Sebastião. Fonte: ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DO BRASIL, 2012. Tudo isso fez com que o local obtivesse certo dinamismo, provocando o nascimento de um pequeno foco urbano, início de comunidade muito comum em Minas Gerais no século XVIII. O local tornou-se então habitado por grande número de mineradores com suas necessidades de sobrevivência, consumo e abastecimento, notadamente por volta de 1765. Contudo, semelhante a outras regiões mineradoras, a atividade de extração de ouro decaiu e provocou a estagnação econômica do local. Devido a este fato, o povoado não desenvolveu-se, restando poucas construções arquitetônicas do período colonial, entre elas destaca-se a Capela de São Sebastião, conforme figura 8. A capela foi erguida presumivelmente na segunda metade do século XVIII e tombada pelo Conselho Consultivo Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico de Nova Lima em 2001. A partir das últimas décadas do século XX, o arraial passa a ser explorado por viajantes e aventureiros em busca de sossego e da beleza dos recursos naturais (QUEIROZ, 2003). A proximidade com a capital mineira, aliada às variadas opções de hospedagens e restaurantes oferecidos, faz com que o povoado venha experimentando nos últimos anos, o crescimento do fluxo turístico na região. 63 Figura 8 - Capela de São Sebastião em Macacos no início do século XX. Fonte: MELO, 2008. Assim, São Sebastião das Águas Claras vai descobrindo sua vocação natural para o ecoturismo, turismo de aventura e turismo gastronômico, com opções desde a tradicional culinária mineira até pratos mais sofisticados com influência europeia. Pousadas em diversos estilos completam o roteiro de viagem para quem deseja fugir da rotina diária e descansar em um ambiente tranquilo. 4.2 Programa Comunidades Criativas das Geraes O Programa Comunidades Criativas das Geraes (CCG) é uma ação extensionista da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) em parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Lima (PMNL), que visa à aplicação de um conjunto de ações baseadas no conceito de “Comunidades Criativas”, e tem como modelo piloto comunidades do município de Nova Lima, em Minas Gerais. Desenvolvido pela equipe interdisciplinar do Centro de Estudos em Design & Tecnologia (CEDTec), da Escola de Design (ED), da UEMG, tem como intuito a integração e o beneficiamento dos indivíduos em seu território por meio de 64 experiências, trocas e dinâmicas culturais, entendendo a criatividade como catalisadora do processo de desenvolvimento sustentável de comunidades mineiras. 4.2.1 Antecedentes do Programa O programa “Comunidades Criativas das Geraes” teve início em 2010, quando foi contemplado nos editais n° 05/2010 e 04/2011 do Programa de Extensão Universitária (PROEXT), do Ministério da Educação (MEC). As ações propostas englobaram a utilização do design para o estímulo e apoio às iniciativas produtivas locais através das metodologias do design, e a preparação dos estagiários para atuação junto à comunidade, valorizando as trocas de conhecimentos acadêmicos e populares. Durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 2010, foram realizadas as primeiras atividades do “Programa Comunidades Criativas das Geraes”. Com carga horária de 36 horas/aula, a “Oficina de Costura: Criação de Ecobags13” proporcionou a criação e o desenvolvimento de Ecobags, utilizando como matéria-prima resíduos industrializados descartados pela comunidade, tais como retalhos, sacos de ráfia, sacos de cimento e banners14 conforme figura 9. A Ecobag tem como função primária evitar a utilização de sacolas plásticas, de modo a diminuir o impacto ambiental causado pelo descarte destas no meio ambiente. A proposta de produção de sacolas ecológicas se embasou na oportunidade de geração de novos negócios, quando passou a vigorar a Lei Municipal 9.529/2008 (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2011), que proíbe o uso de sacolas plásticas no comércio de Belo Horizonte. A metodologia utilizada na oficina consistiu em: (a) aulas teóricas sobre introdução dos conceitos de bolsas, sacolas e Ecobags; identificação e seleção de materiais sustentáveis; avaliação de mercado, consumo e comportamento dos consumidores; valorização das diretrizes de moda sustentável; (b) aulas práticas constituídas de exercícios de criação e produção dos protótipos; e (c) visitas técnicas a supermercados e lojas especializadas em aviamentos para costura. 13 Ecobags são sacolas ecológicas retornáveis, normalmente feitas de tecidos naturais, que substituem as sacolas plásticas utilizadas para o transporte de compras. 14 Banners são materiais impressos em grandes formatos em materiais mais resistentes como lonas para serem pendurados em paredes ou em suportes móveis. P ossuem em suas extremidades superior e inferior um pequeno bastão de madeira que lhe confere firmeza. 65 Figura 9 - Ecobags produzidas com materiais descartados. Fonte: Arquivo pessoal, 2010 (acervo CCG). O público participante da “Oficina de Costura” constituiu-se, em sua grande maioria, por membros da Associação de Artesãos de Nova Lima – Artes da Terra, conforme figura 10. A oficina ofereceu uma oportunidade de geração de renda às artesãs, além de proporcionar uma nova perspectiva de produção artesanal através de ações de design aliadas às estratégias de valorização do produto. 66 Figura 10 - Grupo de artesãs e equipe da Oficina de Costura. Fonte: Arquivo pessoal, 2010 (acervo CCG). Em maio e junho de 2011, foi oferecida a “Oficina de Papietagem: Criação de Chapéus”, com carga horária de 12 horas/aula. O objetivo desta atividade foi a criação e o desenvolvimento de chapéus, conforme figura 11, através da técnica da papietagem, utilizando resíduos de papéis, jornais e tecidos coletados pelos catadores da Associação dos Catadores de Papel de Nova Lima (ASCAP). Figura 11- Desenvolvimento de chapéu durante Oficina de Papietagem. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). A proposta beneficiou, em sua grande maioria, jovens do sexo feminino amparadas pelo Projeto de Reintegração Social (PROREIS), de Nova Lima, 67 conforme figura 12. Além da criação de chapéus, a oficina utilizou a metodologia de design com um enfoque social, promovendo o resgate da cidadania e da autoestima, proporcionando o afastamento do cotidiano sofrido de jovens em situação de risco, oferecendo uma opção de lazer e conhecimento. Figura 12 - Grupo de jovens da Casa de Proteção PROREIS e equipe. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). 4.3 Oficina de Processos Criativos No início do segundo semestre de 2011, aconteceu o primeiro contato para a atuação do “Programa Comunidades Criativas das Geraes” fora da sede do município, na comunidade de São Sebastião das Águas Claras (Macacos). A proposta para a atuação em Macacos partiu de uma demanda da própria comunidade insatisfeita com a desarticulação da atividade artesanal. Ao tomarem conhecimento das atividades do CCG em Nova Lima, artesãos e produtores locais se mobilizaram para que pudessem ser contemplados com uma ação do Programa. A partir desse contato inicial, surgiu a necessidade da realização de um diagnóstico de forma a conhecer melhor o local, sua população, os turistas que frequentam a comunidade e os produtos oferecidos, e assim fazer uma análise da viabilidade da implantação de um projeto de geração de renda com foco na sustentabilidade, específico para esta comunidade. O diagnóstico, elaborado de forma participativa com a comunidade, apresentou um panorama da realidade local. Com base nos resultados do diagnóstico, foi elaborada a proposta de uma Oficina 68 de Processos Criativos para os artesãos e outra de estratégias de mercado para produtores de alimentos típicos. A metodologia do diagnóstico foi dividida em três etapas que compreenderam análise documental, observação direta e grupo focal. Primeiro, a equipe de trabalho fez um levantamento dos dados disponíveis na literatura. Com esses dados em mãos, a segunda etapa consistiu em visitas de campo para registro fotográfico e videográfico, além de contatos com as Secretarias de Cultura, Meio Ambiente, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Nova Lima. Por último, foi realizado o grupo focal com moradores e líderes locais com atuação nas áreas de educação, psicologia, artesanato e comércio, através de entrevistas semiestruturadas. A equipe de trabalho procurou formular uma proposta que permitisse a inclusão da atividade produtiva artesanal como geradora de renda, e ações em prol da melhoria da qualidade dos produtos, do fortalecimento da identidade cultural e da valorização do território. Além disso, buscou-se consolidar o grupo de artesãos e produtores locais como unidades produtivas, com a criação de produtos e serviços sustentáveis a partir do desenvolvimento local com o crescimento do ecoturismo e do turismo de negócios e eventos. Em março de 2012, foi realizada a etapa do processo seletivo com aplicação de questionário (APÊNDICE A) e sessão fotográfica dos produtos dos artesãos interessados em participar da oficina. Foram feitas faixas e cartazes, conforme figura 13, distribuídos em locais de grande trânsito de pessoas para ampla divulgação do processo seletivo. Figura 13 - Cartaz e faixa de divulgação do processo seletivo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 69 É importante salientar que o participante deveria ter o perfil proposto pelo programa. No caso, ser artesão com domínio de técnicas artesanais e produção expressiva, uma vez que não estava entre os objetivos do programa ensinar técnicas artesanais aos participantes. Porém, há outros tipos de projetos em que, de acordo com Rena e Pontes (2009), os integrantes recebem capacitações não só em design como também em técnicas artesanais, ou seja, nesse tipo de projeto os participantes passam por um processo de profissionalização durante as oficinas. O conteúdo das entrevistas foi estruturado em questionários cujos temas variaram desde dados pessoais a perguntas sobre a sustentabilidade da produção. A seleção dos participantes foi feita a partir de questões mais substanciais, como as relacionadas à tipologia do artesanato e técnicas artesanais e quanto à disponibilidade e comprometimento com a produção artesanal. Nesta etapa, cada artesão apresentou o produto desenvolvido, o que foi importante para verificar o nível técnico do artesão. Depois dessa etapa, houve a formação do grupo de trabalho, sendo 15 artesãos selecionados somados a equipe do Programa, composta por uma coordenadora geral, uma coordenadora executiva e 10 alunos de graduação dos cursos de Design de Produto, Design Gráfico, Design de Ambientes e Artes Visuais. Para adequação do trabalho, foram desenvolvidas atividades de integração, promovendo uma constante troca de experiências e conhecimentos que contribuíram para o bom andamento das próximas etapas do trabalho. Ainda em março de 2012, foi realizado um seminário de sensibilização denominado “Diálogo entre Parceiros e Comunidade” com o objetivo de apresentar, discutir e propor ações dentro “Programa Comunidades Criativas das Geraes” a fim de aprimorar a proposta da “Oficina de Processo Criativo”. Foram convidados representantes da Secretaria de Cultura, representantes da Associação de Artesãos de Nova Lima – Artes da Terra, artesãos, produtores e comunidade em geral com ampla divulgação para participação no seminário, conforme figura 14. Em abril de 2012, tiveram início as atividades da “Oficina de Processos Criativos”, na Escola Municipal Rubem Costa Lima, conforme figura 15, numa parceria com a Secretaria de Educação, tendo em vista sua localização central, o que possibilitou o fácil acesso de todos os participantes às atividades. A parceria com diferentes secretarias da Prefeitura Municipal de Nova Lima foi estratégica para 70 dar apoio e continuidade as ações a médio e longo prazo, uma vez que o “Programa Comunidades Criativas das Geraes” encerraria suas atividades em Macacos em 2013. Figura 14 - Cartaz de divulgação do seminário de sensibilização. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Figura 15 - Instalações da Escola Municipal Rubem Costa Lima. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 71 A metodologia adotada na “Oficina de Processos Criativos” em Macacos foi desenvolvida a partir da análise do perfil do grupo selecionado, considerando os resultados obtidos pelo diagnóstico participativo realizado anteriormente. A equipe de trabalho elaborou a proposta que melhor atenderia os anseios e as necessidades do grupo selecionado, tendo como base a metodologia de pesquisa-ação, que parte de análises sobre o contexto da realidade das comunidades envolvidas no projeto (THIOLLENT, 1986). A metodologia de pesquisa-ação também pode ser entendida como um processo cocriativo entre designers e artesãos, segundo a definição de Freitas (2011): Na pesquisa-ação o pesquisador tem o papel de agir com o grupo no processo de desenvolvimento de produto, como parceiro do artesão. O artesão tem o domínio técnico-produtivo e nele, na maioria das vezes, prevalece o saber informal. O pesquisador tem a capacidade de investigação, de identificar potencialidades, de planejar, prevalecendo o saber formal. O estudo da metodologia auxilia o pesquisador neste percurso (FREITAS, 2011). Entre os objetivos propostos para esta ação, destacaram-se impulso para mudanças na realidade socioeconômica e cultural por intermédio da criatividade e da sustentabilidade; promoção do bem estar social de todos os envolvidos direta e indiretamente nas atividades; estímulo às trocas e às dinâmicas culturais entre os envolvidos no processo; incentivo à cultura do empreendedorismo, encorajando o desenvolvimento e fortalecimento de associações, cooperativas e empreendimentos de Economia Solidária; promoção das potencialidades e vantagens competitivas do produto artesanal; e apoio a novos nichos de desenvolvimento econômico, social e cultural. Com previsão de duração de quatro meses e carga horária de 57 horas/aula, as atividades para a realização da oficina foram: a) Atividades expositivas sobre Design e Artesanato; Cultura Material e Imaterial; Turismo e Desenvolvimento Local; Sustentabilidade e Produção Artesanal; Resíduos Vegetais e Domésticos; e Sessão de Vídeo Comentada “Documentário Lixo Extraordinário”, buscando fornecer embasamento teórico. b) Atividades práticas compreendendo Dinâmica de Grupo; Expedição Fotográfica; Mapa Iconográfico; Caderno de Processos; e Trilha da Coleta Seletiva como exercícios para estimular a criatividade. 72 c) Visitas técnicas ao Museu Memorial Minas Gerais Vale; Centro de Arte Popular CEMIG; Centro de Artesanato Mineiro; e Centro de Arte Contemporânea Inhotim; Parque Estadual Serra do Rola Moça; Manancial Catarina, para ampliação do referencial cultural. d) Orientações coletivas e individuais nos locais de trabalho dos artesãos auxiliar no processo de desenvolvimento de novos produtos sob a perspectiva da metodologia do design. 4.3.1 Atividades Expositivas As atividades expositivas têm como objetivo prover embasamento teórico aos participantes das oficinas, a fim de ampliar o conhecimento em temas relacionados ao desenvolvimento das atividades práticas. Segundo Rena e Pontes (2009), aulas teóricas juntamente com exercícios práticos reforçam o conhecimento adquirido de forma empírica. 4.3.1.1 Design e Artesanato A aula “Design e Artesanato” foi elaborada pela equipe de monitores (alunos de graduação) sob a supervisão da coordenação do Programa e apresentada pelos mesmos. Essa primeira aula buscou apresentar as definições de design e artesanato e suas relações, conforme figura 16. Na sequência, foram apresentadas as diferentes categorias do artesanato segundo a classificação do “Termo de Referência” do SEBRAE (2004), e alguns exemplos de intervenções de design em parceria com grupos de produção artesanal em outros municípios de Minas Gerais. Também foram exibidos alguns vídeos e disponibilizados livros e catálogos sobre design e artesanato para consulta. Os artesãos se envolveram bastante e fizeram diversas perguntas sobre o tema. Após o término da aula, foi proposto aos artesãos que começassem a esboçar as primeiras ideias sobre um novo produto no caderno de processos. 73 Figura 16 - Monitor apresenta aula sobre design e artesanato. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.1.2 Cultura Material e Imaterial A aula “Cultura Material e Imaterial” foi ministrada por uma monitora que ficou encarregada de pesquisar e elaborar o conteúdo apresentado. Os temas foram abordados de forma que ao final da aula, os artesãos conseguissem identificar e classificar os elementos da cultura local entre material e imaterial, conforme figura 17. A cultura material consiste em bens tangíveis, incluindo instrumentos, artefatos e outros objetos frutos da criação humana e resultantes de determinada tecnologia. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), os patrimônios materiais que podem ser tombados, ou seja, considerado cultura material são: [...] arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticas, videográficos, fotográficos e cinematográficos (IPHAN). A cultura imaterial refere-se a elementos não tangíveis, não palpáveis, que não tem substância material, mas que podem ser traduzidos em formas, texturas e cores. Ainda segundo o IPHAN, cultura imaterial pode ser entendida como: 74 O patrimônio imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (IPHAN). Figura 17 - Artesãos debatem sobre a cultura material e imaterial. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Depois que esses conceitos foram passados aos artesãos, exemplos da cultura mineira foram transmitidos de maneira que aqueles que apresentavam proximidade à realidade de Macacos assumissem papel de destaque. Com isso, foi possível uma contextualização mais próxima à realidade, gerando uma melhor compreensão da cultura local. Essa aula foi muito relevante para o processo de criação, visto que a partir dela os artesãos começaram a identificar e diferenciar os elementos recorrentes e representativos da sua cultura. 4.3.1.3 Turismo e Desenvolvimento Local A aula sobre “Turismo e Desenvolvimento Local’ foi apresentada por uma monitora, conforme figura 18, que explicou as categorias turísticas de acordo com o Ministério do Turismo (2011): Ecoturismo; Turismo Cultural; Turismo de Aventura; Turismo de Turismo de Esportes; Estudos e Intercâmbio; Turismo de Negócios e Eventos; Turismo de Pesca; Turismo de Saúde; Turismo de Sol e Praia; Turismo Náutico; e Turismo Rural e sua relação direta com o desenvolvimento de uma comunidade. 75 A partir Das categorias apresentadas, o grupo identificou o perfil dos turistas que frequentam Macacos. Segundo os artesãos, o turista típico é caracterizado por casais jovens que apreciam passar os finais de semana e feriados em pousadas e têm preferência por programas românticos. Também foi apontado que o distrito de Macacos atrai muitos turistas em busca de contato com a natureza por se tratar de uma região de belezas naturais e vegetação exuberante. Figura 18 - Monitora apresentando a aula sobre turismo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Compreender o tipo de turista que frequenta a região foi muito importante para o grupo, visto que os turistas são os potenciais consumidores do artesanato local. Logo, foi compreendido que os produtos deveriam ser desenvolvidos com foco no público-alvo a fim de garantir e aumentar o volume de vendas. A monitora encerrou a aula destacando os benefícios trazidos pelo desenvolvimento da atividade turística para a comunidade como a geração de empregos e oportunidade de negócios, desde que haja um crescimento planejado e que a paisagem local seja mantida, sem agressões ao meio ambiente. 4.3.1.4 Sustentabilidade e Produção Artesanal A aula sobre “Sustentabilidade e Produção Artesanal” foi apresentada por uma professora da equipe de trabalho do CCG, que apresentou sua pesquisa sobre 76 a utilização dos resíduos vegetais na produção artesanal com a ajuda de um aluno intercambista italiano, conforme figura 19. Figura 19 - Professora convidada apresentando seu trabalho. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). A aula contemplou o conceito de design sistêmico e o desenvolvimento das oficinas de produção artesanal realizada com artesãos do município de Chapada Gaúcha, localizado na região norte de Minas Gerais. Esse projeto serviu para exemplificar como a metodologia do design pode contribuir para o desenvolvimento de um artesanato com características da identidade local, valorizando os recursos disponíveis no território. Os artesãos aproveitaram o conteúdo apresentado para questionar sobre as alternativas sustentáveis de produção artesanal com resíduos vegetais. No encontro também foi distribuído um formulário de avaliação parcial das atividades para analisar o desempenho do trabalho realizado pela equipe do “Programa Comunidades Criativas das Geraes” até aquele momento. Essa prática é indicada na metodologia das oficinas para que possam ser corrigidos a tempo os possíveis problemas apontados pelos artesãos. 77 4.3.1.5 Resíduos Vegetais e Domésticos O objetivo da aula sobre “Resíduos Vegetais e Domésticos”, ministrada por uma monitora, era ampliar os conhecimentos dos artesãos sobre resíduos sólidos, conforme figura 20. Os tipos de resíduos foram divididos em: (a) origem vegetal como folhas, galhos, troncos e sementes; (b) origem industrial - como plásticos, metais, vidros e papéis, encontrados no lixo doméstico. Após as observações a respeito de cada categoria de resíduo, foram apresentados exemplos interessantes de aplicação desse material em acessórios, móveis, objetos decorativos e utilitários. Figura 20 - Monitora apresentando aula sobre resíduos sólidos. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Um assunto relevante levantado durante as discussões em sala de aula foi a importância do acabamento para que o cliente possa se interessar pela peça mesmo sabendo a origem de sua matéria prima. Na aula foram citados ainda três níveis de design percebidos pelo usuário em um produto: o visceral, que é ligado à estética do produto; o comportamental, referente a usabilidade do produto e o reflexivo, que aborda os valores culturais agregados ao produto. A aula sobre resíduos foi interessante para o grupo de artesãos, e atentou para a quantidade de resíduos vegetais e domésticos que podem ser encontrados em Macacos, aumentando assim, o interesse em utilizá-los na sua produção. A ideia despertou a consciência 78 ambiental para a questão do resíduo sólido e ampliou as possibilidades de criação que podem se refletir em um processo produtivo mais sustentável. 4.3.1.6 Documentário Lixo Extraordinário A partir dos questionamentos do grupo de artesãos sobre o descarte inadequado dos resíduos nas ruas, rios e cachoeiras da região, foi proposta uma sessão comentada do vídeo “Lixo Extraordinário”. O documentário relata a trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina localizado na periferia de Duque de Caxias - RJ, até ser transformado em arte pelas mãos do artista plástico Vik Muniz e seguir para prestigiadas casas de leilões internacionais. O vídeo registra todo o processo criativo do projeto contando com a parceria dos catadores de resíduos sólidos para recriar obras famosas de artistas consagrados, conforme figura 21. Figura 21 - Processo criativo do artista plástico Vik Muniz. Fonte: MUNIZ, 2010. Exibir esse documentário foi extremamente inspirador para os artesãos, uma vez que serviu para motiva-los a usarem os resíduos sólidos de forma criativa, tal qual Vik Muniz propôs no documentário “Lixo Extraordinário”. Ao afirmar que “a relação entre o homem e o mundo pode desenvolver-se por intermédio da tecnologia, mas a arte é a tecnologia fora do dogmatismo”, Muniz (2010) reforça o 79 poder transformador da arte sobre a vida das pessoas em condições sub-humanas, como a vivida pelos catadores. 4.3.2 Atividades Práticas As atividades práticas servem para consolidar os conhecimentos adquiridos durante as atividades teóricas. Configuram-se como subsídios na implementação de propostas alternativas de aprendizado que privilegiam o enfoque experimental. São momentos de interação entre os artesãos e a equipe de trabalho, contribuindo para uma participação mais efetiva e produtiva nas oficinas. 4.3.2.1 Dinâmica de Grupo A aproximação entre pessoas a partir de um primeiro contato nem sempre é fácil, ainda mais se tratando de uma equipe de designers e artesãos. Segundo Borges (2011) “no Brasil essas duas atividades sempre viveram em mundos separados, situados em campos até mesmo opostos”. A Dinâmica de Grupo é uma atividade prática utilizada nos primeiros encontros para aproximar e criar vínculos entre os participantes de grupos distintos. A equipe de trabalho escolheu uma dinâmica descrita a seguir para a apresentação dos participantes do projeto, já que grande parte das pessoas não se conhecia. Para dar início à dinâmica, a equipe e os artesãos se dividiram em duplas, sendo que cada uma delas teve 20 minutos para conversar e compartilhar informações sobre sua personalidade e experiências de vida. Em seguida cada dupla apresentou seu respectivo parceiro e vice-versa, de acordo com seu ponto de vista. A próxima etapa foi a entrega dos “cadernos de processos15” para que os artesãos tivessem sua primeira atividade prática: a criação do seu perfil, utilizandose de papéis coloridos, recortes de revistas, canetas, lápis de cor, dentre outros materiais. Ao final, os artesãos apresentaram para todos seus cadernos personalizados, conforme figura 22. “Caderno de Processos” é uma metodologia de processo criativo muito utilizada nos cursos de design. Nesse caderno o aluno registra suas ideias, pesquisas de referências, esboços de protótipos e desenhos que o auxiliam no processo de desenvolvimento de projetos. 15 80 Figura 22 - Artesã trabalhando na personalização do seu caderno. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.2.2 Expedição Fotográfica A Expedição Fotográfica fez com que os artesãos identificassem elementos e signos de maior relevância da cultura de Macacos através de registros fotográficos. Segundo Niemeyer (2009), “só tem significado o que pode ser relacionado com algo já conhecido”. Logo, foi possível identificar os elementos que estabelecem uma relação de maior representatividade na cultura da região através do registro das imagens. A atividade estimulou o artesão a perceber sua comunidade com um novo olhar, observando detalhes que geralmente passam despercebidos no seu dia-a-dia. De acordo com Rena (2009), esse reconhecimento territorial faz com que os participantes descubram novas características ao seu redor com um olhar estético mais apurado. Os artesãos e os monitores foram divididos em três equipes e visitaram lugares distintos. Durante a atividade, fizeram registros da vegetação, texturas, arquitetura, pontos de referências e personagens, cada um percebendo as formas sob sua perspectiva. Foram utilizadas molduras artesanais para que o artesão pudesse enquadrar a imagem exatamente como desejava capturar. Cada artesão teve o seu momento de fotografar o que considerasse relevante no vilarejo, conforme figura 23. Durante o passeio, os artesãos foram apresentando os espaços e contando histórias e causos curiosos para a equipe de trabalho. Esse tipo de 81 atividade influencia a criação à medida que desperta o reconhecimento da sua identidade e território. Figura 23 - Flor da Manhã emoldurada por uma artesã. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.2.3 Mapa Iconográfico A construção do Mapa Iconográfico é uma atividade em que segundo Borges (2011), os designers têm mais a aprender com os artesãos e os moradores locais do que o contrário. Essa atividade consistiu em materializar as referências locais a partir de imagens e objetos e assim, construir um mapa territorial do grupo. Dessa intrínseca ligação, o território é entendido como espaço social que transforma a sociedade e é transformado por ela. Duarte (2008 apud REYES, 2008) define o território como: Território aqui é entendido como uma porção de espaço codificada, onde os símbolos e suas ordens tendem a imantar o espaço, organizando o regime de forças que nele habitam ou que por ele passam não necessariamente controlados apenas por um poder soberano, mas também por valores de determinada sociedade (DUARTE, 2008 apud REYES, 2008). 82 Durante a atividade, foi solicitado aos artesãos que escrevessem palavras em pequenas fichas que representem a região. Feito isso, cada um teve que justificar a sua escolha e agrupar as palavras num grande painel sobre a mesa de acordo com os significados e sentidos, conforme figura 24. Havia a orientação para que todos tivessem a liberdade de alterar e reagrupar as palavras. Ao final, cada palavra foi substituída por um objeto ou imagem formando um mapa simbólico que traduziu a visão coletiva sobre a região. Essa atividade permitiu a criação de um painel iconográfico, a partir do qual os artesãos foram estimulados a se apropriarem de seu território e sua identidade. Figura 24 - Artesã participando da construção do mapa iconográfico. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.2.4 Caderno de Processos Logo, no início das atividades, foi introduzida a primeira ferramenta de design - o “Caderno de Processos”, para os artesãos registrarem esboços, ideais, curiosidades e tudo que achassem pertinente ao desenvolvimento do seu projeto. 83 Além disso, nele é possível a equipe de trabalho acompanhar o desenvolvimento criativo, de pesquisas e ideias. Essa etapa consistiu em uma apresentação livre e bastante dinâmica; onde os artesãos optaram por apresentar referências de seus cotidianos e esboços de produtos que viriam a ser produzido por cada um, conforme figura 25. Ao final dessa etapa, foi solicitado o preenchimento de cédulas (previamente produzidas pela equipe a partir das palavras mais recorrentes na atividade “Mapa Iconográfico”) para a eleição de conceitos que traduzissem a essência de Macacos, a fim de orientar o desenvolvimento de novos produtos. Figura 25 - Artesã apresentando seu “Caderno de Processos” para o grupo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.2.5 Trilha da Coleta Seletiva A Trilha da Coleta Seletiva teve como objetivo estimular a criatividade através da transformação do “lixo” em arte. A atividade aconteceu no encontro seguinte a exibição do documentário “Lixo Extraordinário” e consistia em realizar uma caminhada até a Cachoeira do Marumbé para coletar resíduos descartados ao longo do caminho. Durante o trajeto foram encontradas latas de bebidas, sacos plásticos, garrafas PET16, além de muitos resíduos vegetais como folhas, flores e gravetos. Ao retornarem à Escola Municipal Rubem Costa Lima, os artesãos foram orientados 16 PET é a sigla de Poli Tereftalato de Etila, polímero termoplástico ou plástico utilizado principalmente na forma de fibras para tecelagem e de embalagens para bebidas. 84 pela equipe de trabalho a recriaram a imagem da Capela de São Sebastião com os resíduos coletados, assim como no trabalho do artista plástico Vik Muniz. A partir do belo trabalho produzido pelo grupo, surgiu a ideia de usar a imagem da Capela de São Sebastião para ilustrar uma campanha de sensibilização da comunidade para a questão do descarte inadequado dos resíduos nas ruas, rios e cachoeiras de Macacos. O trabalho foi fotografado por uma monitora da equipe de trabalho e a imagem foi utilizada na criação de um banner para ser exposto no pátio da capela, conforme figura 26. Após o término das atividades da “Oficina de Processos Criativos”, foi realizado o lançamento da “Campanha Lixo Criativo” envolvendo a comunidade local. A campanha também contribuiu para a visibilidade das ações do programa para além do grupo de trabalho. Figura 26 - Banner da “Campanha Lixo Criativo”. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 85 4.3.3 Visitas Técnicas A realização de visitas técnicas é de extrema relevância para os participantes das oficinas, visto que essas visitas têm como propósito a ampliação do repertório cultural, estimulando o olhar crítico sobre a arte, cultura e meio ambiente, proporcionando assim uma formação mais ampla ao artesão. 4.3.3.1 Museu Memorial Minas Gerais Vale A visita técnica ao Museu Memorial Minas Gerais Vale, integrante do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, foi uma experiência rica em história e cultura mineira. Além de um acervo permanente de grande escala, o Museu oferece exposições, seminários e oficinas de arte; promove o contato com a diversidade das linguagens técnicas e estéticas contemporâneas, contribuindo para o desenvolvimento social e humano. O Museu apresenta peças da cultura mineira de todas as épocas e lugares. É possível observar trabalhos de designers e artistas mineiros, artesanato, maquetes e instalações artísticas, cabines de fotos e vídeos com os quais os visitantes puderam interagir. Foi uma visita que encantou a equipe e os artesãos, ampliando o conhecimento sobre a cultura e o artesanato do estado, conforme figura 27. Figura 27 - Artesãs registrando elementos do artesanato mineiro. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 86 4.3.3.2 Centro de Arte Popular CEMIG A visita técnica ao Centro de Arte Popular CEMIG foi valiosa para o processo criativo dos artesões, visto que o acervo do Museu possui muitos objetos artesanais feitos a partir de diferentes técnicas como bordado, escultura em madeira, modelagem em cerâmica, entre outras. As obras do acervo permanente foram criadas por artistas populares em sua grande maioria anônimos. Esses objetos artesanais muitas vezes servem como fonte de inspiração para os artesãos da sua região, conduzindo o visitante ao imaginário de diferentes artistas. Outro atrativo do Museu é uma pequena oficina de restauração, em que restauradores fazem parte do processo de conservação das peças, como a higienização ou fixação de partes descoladas. Para que a visita transcorresse de modo organizado, o grupo de artesões foi dividido em dois pequenos grupos. Os monitores orientaram a todos que registrassem em seus cadernos as impressões sobre a visita. O primeiro grupo começou a visita a partir da exposição temporária da Coleção Maria Zahle Penna, no primeiro andar, com obras de caráter religioso tais como santos e oratórios, de artistas em sua maioria desconhecidos, conforme figura 28. Figura 28 - Artesãs observando imagens esculpidas em madeira. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 87 Os demais artesãos começaram a visita pelo último andar começando pela sala Grandes Mestres. Neste espaço, estão reunidos grandes nomes da arte popular mineira, como GTO, Artur Pereira, Zefa, Zezinha, Placedina, Ulisses Pereira, Isabel Mendes e Noemiza. Por meio de suas obras, é possível compreender as origens, histórias e crenças referentes à cultura mineira. 4.3.3.3 Centro de Artesanato Mineiro Artesãos e equipe de trabalho visitaram o Centro de Artesanato Mineiro (CEART), espaço nobre dentro das instalações do Palácio das Artes, dedicado a comercialização do artesanato de diversos artesãos de Minas Gerais. Há uma grande variedade de produtos que demonstram a diversidade do artesanato mineiro. O CEART é visitado por turistas de todo o país e de diversas partes do mundo e através da comercialização dos produtos, os artesãos conseguem visibilidade para participar de feiras e exposições, possibilitando o escoamento da produção estocada nas comunidades. Os artesãos tiveram oportunidade de conhecer novos materiais e técnicas artesanais, comparar os preços dos produtos e entender a dinâmica do mercado artesanal, conforme figura 29. Figura 29 - Artesãs observando os produtos artesanais expostos na loja. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 88 Após a visita ao CEART, o grupo ainda pôde visitar a exposição “Segue-se Ver o que Quisesse”, em exibição na galeria Alberto da Veiga Guignard. A exposição abordava a vida cotidiana em Minas Gerais, por meio de registros fotográficos sob o ponto de vista de diversos fotógrafos anônimos. Conhecer o Palácio das Artes, a loja do CEART e uma exposição fotográfica foram experiências transformadoras para muitos dos artesãos que nunca tinham tido a oportunidade de visitar o mais tradicional espaço cultural do estado, demonstrando assim a importância da cultura e da arte para a autoestima das pessoas. 4.3.3.4 Centro de Arte Contemporânea Inhotim O grupo de artesãos e a equipe de trabalho visitaram o Centro de Arte Contemporânea Inhotim, um museu ao ar livre que possui acervos culturais e paisagísticos de grande relevância. O Inhotim é um espaço dedicado à arte contemporânea idealizado na década de 1980 e que, ao longo dos anos, tornou-se um ambiente singular, sendo hoje reconhecido como um dos principais destinos de arte contemporânea no mundo. A visita ao Inhotim proporcionou novas experiências aos artesãos e se prestou a quebra de alguns paradigmas sobre a arte, que não se limita necessariamente a espaços formais, podendo adotar novas configurações mais interativas, conforme figura 30. Figura 30 - Grupo de artesãs explorando uma obra interativa. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 89 O grupo deu preferência às galerias icônicas como a Cildo Meireles, Adriana Varejão, Cosmococa, dentre outras, já que a grande extensão do Inhotim inviabiliza a visitação de todas as instalações em um único dia. A visita técnica contribuiu para a ampliação do repertório cultural dos artesãos a partir das várias referências que o local oferece. 4.3.3.5 Parque Estadual Serra do Rola Moça A visita ao Parque Estadual Serra do Rola Moça foi planejada para aproximar os artesãos do seu território. Conhecer a fauna e a flora local é uma fonte de inspiração para a criação de novos produtos. O Parque tem a missão de proteger e preservar os mananciais e campos ferruginosos da região, marcada por fragmentos da Mata Atlântica, Cerrado e Campos Rupestres, entre outros tipos de cobertura, conforme figura 31. São encontradas também vegetações invasoras, como o capim gordura, que apesar de valorizar esteticamente a região com sua cor arroxeada, contribui para a propagação de incêndios. Figura 31 - Vegetação típica de Cerrado na entrada do parque. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). A fauna também é bem diversificada, sendo encontrados animais como micoestrela, coelho, esquilo, tatu-bola, carcará, perereca, jararaca e borboletas. Durante o percurso da caminhada pelo Parque, os artesãos estabeleceram um olhar crítico, 90 já que a região oferece muitas referências para o desenvolvimento dos produtos, desde o formato de uma planta à texturas e cores da pele de um animal. Além da vegetação e dos animais servirem como inspiração para a criação de produtos, de acordo com Borges (2011), o aproveitamento dos materiais encontrados na região possui grande potencial, ou seja, podem ser usados como matéria-prima. A região do Parque Estadual abriga seis importantes mananciais de água Taboões, Rola-Moça, Bálsamo, Barreiro, Mutuca e Catarina - declarados pelo Governo Estadual como Áreas de Proteção Especial. Os mananciais garantem a qualidade dos recursos hídricos que abastecem parte da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O Manancial Catarina, famoso por suas águas cristalinas de coloração azulada, foi o escolhido para ser visitado pelo grupo, conforme figura 32. O reservatório é um dos mais importantes de Minas, abrigando grande diversidade da fauna e flora da região, predominantemente tomada pela Mata Atlântica. A visita ao manancial também serviu para despertar nos artesãos a conscientização para a preservação dos recursos hídricos. Figura 32 - Artesãs observam a coloração azulada do manancial. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.4 Orientações Coletivas e Individuais Através das orientações, foi possível aplicar importantes ferramentas metodológicas do design, que possibilitaram o acompanhamento do 91 desenvolvimento dos produtos. As orientações projetuais iniciaram já na segunda aula (Design e Artesanato), quando os artesãos foram orientados a começar a esboçar ideias para a criação de novos produtos nos “Cadernos de Processos”. Após um mês de início das atividades, foram agendadas visitas aos locais de produção para as primeiras orientações individuais, em que os artesãos foram estimulados a criar produtos diferentes daqueles anteriormente desenvolvidos. Logo, após esse ciclo de orientações, foi realizado um encontro para orientação coletiva. Essa atividade teve como objetivo criar um ambiente propício para que os artesãos pudessem opinar sobre o produto de seus colegas. Esta metodologia parte do princípio que toda criação é uma cocriação, haja vista que toda ideia, salvo raras exceções, surge a partir de outra ideia. Portanto, para Franco (2012), cocriação é uma contínua adaptação, resultado de interação, de imitação e de colaboração. Nesse encontro, os artesãos foram instruídos a colocar seus produtos numa grande mesa no centro da sala de aula e, posteriormente, os apresentaram, conforme figura 33. Figura 33 - Artesã apresenta seu produto para orientação coletiva. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 92 A atividade promoveu o envolvimento do grupo a partir de um processo colaborativo, através da troca de opiniões e sugestões entre os artesãos e equipe de trabalho, a respeito dos produtos apresentados. Após a orientação coletiva, os artesãos foram estimulados a criarem novas alternativas para os produtos apresentados. A metodologia das orientações foi inspirada nos modelos de pensamentos divergente e convergente. A primeira orientação individual pode ser entendida como o período de divergência, quando o artesão é instigado a gerar muitas opções de produtos, aumentado assim o leque de possibilidades, já a orientação final é o momento de convergência, quando é feita a seleção dos melhores produtos para finalização, conforme figura 34. Figura 34 - Quadro dos pensamentos divergente e convergente. Fonte: CRIATIVIDADE APLICADA, 2013. Na primeira fase de orientações, a equipe de trabalho auxiliou os artesãos em seu processo criativo, buscando contribuir com novas concepções. Além disso, a equipe teve a oportunidade de conhecer local de trabalho, métodos de produção e materiais e ferramentas disponíveis, conforme figura 35. Os artesões tiveram a oportunidade de discutir sobre novas técnicas, dicas e soluções para aprimoramento e acabamento dos produtos. Foram sugeridas novas composições e combinações baseadas em uma paleta de cor desenvolvida pela equipe de monitores a partir das cores mais recorrentes nas imagens registradas na atividade “Expedição Fotográfica”. 93 Figura 35 - Equipe de trabalho durante visita para orientação. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). No final das atividades da “Oficina de Processos Criativos”, os artesãos receberam a equipe de trabalho para as orientações finais. As visitas tiveram como objetivo avaliar e selecionar os produtos com maior potencial mercadológico. Os artesãos foram orientados a realizar modificações e aprimoramentos nos produtos e, após essa etapa, tiveram duas semanas para finalizá-los, efetivando as mudanças sugeridas. Ao final do ciclo de visitas, os artesãos foram instruídos a levar os produtos acabados para o último encontro do curso. Entre os novos produtos propostos, destacaram-se flores feitas com papel reutilizado de sacos de cimento inspiradas nas flores do Cerrado, e uma coleção de objetos em cerâmica, ainda inacabados, que faziam alusão às cuias e cabaças, utilizadas pelos tropeiros que frequentaram a região de Macacos, na época do surgimento do arraial, conforme figuras 36 e 37. 94 Figura 36 - Cabaças em cerâmica antes da queima. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Figura 37 - Flor de papel feita com saco de cimento. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.3.4.1 Apresentação dos Novos Produtos A última atividade da “Oficina de Processos Criativos” foi marcada pela apresentação dos novos produtos desenvolvidos ao longo do curso. Estes foram expostos em uma única mesa central e todos puderam observar os resultados alcançados por cada artesão, conforme figura 38. Foi possível identificar a presença dos signos e elementos que constituem a iconografia da região de Macacos nos novos produtos. Dentre os elementos, foram identificados a Capela de São Sebastião, que além de representar um marco na formação do arraial, tem um valor emocional de grande significância para a comunidade. Observou-se que a fauna e a 95 flora estão muito presentes na vida da comunidade, visto que é grande sua representatividade nos produtos apresentados. Figura 38 - Exposição de produtos em sala de aula. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). A flora da região é representada pela vegetação de Mata Atlântica e Cerrado. Dentre essa vegetação exuberante, destacam-se muitas espécies de orquídeas, flores nativas como Cipó de São João e Flor da Manhã, árvores como a Embaúba, o Ipê e a Quaresmeira. Sutilmente, estes elementos apareceram nos novos produtos. Por sua vez, o bambu, abundante na região, foi utilizado como matéria-prima para a produção de alguns produtos. Entre as espécies da fauna, ressaltam-se os pássaros, os micos e os insetos, com destaque especial para as borboletas, que enfeitaram muitas peças. 96 4.3.5 Encerramento da Oficina de Processos Criativos O encerramento da “Oficina de Processos Criativos” foi um evento para apresentar a nova coleção de produtos do grupo e comemorar os resultados alcançados. O evento, realizado no pátio da Escola Municipal Rubem Costa Lima, foi aberto a toda a comunidade e contou com uma cerimônia para entrega dos certificados de conclusão do curso aos artesãos que obtiveram 75% de frequência. Uma exposição também foi montada pela equipe de trabalho com o intuito de exibir os produtos para a comunidade e, assim, divulgar e promover o artesanato produzido pelos participantes da oficina, conforme figura 39. Figura 39 - Convidados no evento de encerramento da oficina. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Ao final do evento, houve uma nova seleção de produtos para serem fotografados para um catálogo produzido por alunos da equipe de trabalho, graduandos em Design Gráfico. O evento de encerramento serviu para consolidar os resultados obtidos por todos e elevar a autoestima dos participantes. Foi o momento de celebrar com parceiros, família e amigos todos os esforços para se alcançar os objetivos propostos no decorrer do curso, conforme figuras 40 e 41. 97 Figura 40 - Apresentação musical de uma artesã. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Figura 41 - Equipe de trabalho e artesãs com seus certificados. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4 Oficina de Estratégias de Mercado Em setembro de 2012, iniciou-se no distrito de Macacos, o mapeamento dos produtores locais. Para isso, foi realizada uma série de entrevistas através da aplicação de questionário semiestruturado (APÊNDICE C) com os produtores de alimentos típicos da região, conforme figura 42. A partir desse levantamento, a 98 equipe de trabalho elaborou as atividades da “Oficina de Estratégias de Mercado” privilegiando a produção da agricultura familiar local, o resgate das tradições culinárias e a melhoria da qualidade dos produtos típicos artesanais através do fortalecimento da identidade cultural e valorização do território. A proposta do curso buscou também atender as demandas do mercado turístico local, garantindo assim a inclusão da atividade produtiva artesanal na cadeia de produção associada ao turismo. Figura 42 - Equipe de trabalho entrevistando produtora de doces. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). A metodologia de trabalho da oficina contemplou atividades expositivas sobre “Design e Marketing”; “Embalagem e Ponto de Venda”; “Inovação para Produtos Típicos”; “Turismo como Oportunidade de Negócios”; e “Educação Financeira para Pequenos Empreendedores”, e visitas técnicas ao Mercado Central de Belo Horizonte e Supermercado Verdemar, totalizando 16 horas/aula. Ainda estavam previstas consultorias sobre posicionamento de mercado para os participantes que obtivessem 100% de frequência no curso. Em outubro, a equipe de trabalho deu início às atividades da “Oficina de Estratégias de Mercado”. A coordenadora executiva apresentou os monitores e o cronograma de atividades aos produtores locais. Nesse encontro, estavam presentes uma funcionária da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Nova Lima e um técnico extencionista da EMATER para apresentar a proposta da Feira da 99 Terra, uma iniciativa da EMATER em parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Lima, conforme figura 43. Os funcionários públicos procuraram a equipe do “Programa Comunidades Criativas das Geraes” para viabilizar a implantação da feira e dinamizar a economia local, voltada para a valorização dos pequenos empreendedores do município de Nova Lima. A proposta apresentada pelos parceiros tinha como objetivo criar oportunidade de comercialização dos produtos locais com aumento da renda familiar, proporcionando um espaço de encontros para a comunidade divulgar sua produção. Figura 43 - Técnico da EMATER apresenta a Feira da Terra para o grupo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.1 Atividades Expositivas 4.4.1.1 Design e Marketing Dois monitores iniciaram a aula “Design e Marketing” apresentando um vídeo que questionava alunos do Ensino Médio, universitários e professores sobre a definição de design. Num segundo momento, esse questionamento foi respondido através de outro vídeo que demonstrou algumas das competências e possíveis áreas de atuação dos designers. A seguir, foi introduzida a importância do marketing e o cuidado que se deve ter ao apresentar um produto ao mercado e com esse será percebido pelos 100 consumidores. Desencadeou-se um intenso discurso entre os produtores servindo para enfatizar e integrar os conteúdos apresentados. Para finalizar, foram abordadas a necessidade e a importância de realizar o desenvolvimento do produto e seu marketing com ética, conforme figura 44. Figura 44 - Monitor apresentando aula sobre design e marketing. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.1.2 Embalagens e Ponto de Venda A aula “Embalagens e Ponto de Venda” foi ministrada por um professor convidado da Escola de Design. Iniciando a aula, o professor explicou a diferença entre os conceitos de preço, custo e valor utilizando a água e o ouro para fazer um comparativo com os produtos típicos artesanais da região. Para que os produtores pudessem ter uma visão mais abrangente, o palestrante apresentou os projetos “Minas Artesanal” e “Cáritas” que apresentam similaridades com o projeto que estava sendo desenvolvido em Macacos. Durante a apresentação, foi enfatizada a importância da embalagem e dos pontos de venda de produtos artesanais não só como um diferencial e indicativo de cuidado, mas também como uma valorização da identidade e da cultura local, conforme figura 45. Os produtores se mostraram bastante interessados ao longo da aula, participando com perguntas, colocações e relatos sobre experiências pessoais em relação ao assunto. Mais uma vez, os funcionários da Prefeitura Municipal de Nova 101 Lima e da EMATER participaram do encontro para reforçar a proposta de implantação da Feira da Terra, recolheram sugestões e listaram os interessados em participar, destacando que a Prefeitura ofereceria barracas e toda infraestrutura necessária e auxílio para transporte de acordo com a necessidade de cada um. Figura 45 - Professor convidado discursa sobre embalagem. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.1.3 Inovação para Produtos Típicos A aula “Inovação para Produtos Típicos” foi preparada por dois monitores e proporcionou aos produtores a oportunidade de conhecer as áreas em que o design de alimentos ou Food Design17 pode atuar e, como essa disciplina pode agregar valor ao produto, fidelizando consumidores, conforme figura 46. 17 Food Design é a aplicação do design na busca por soluções de problemas relacionados ao setor de alimentação. 102 A aula foi bastante dinâmica desencadeando muitas ideias, questionamentos e críticas por parte dos produtores, que perceberam no Food Design uma nova perspectiva para a produção de alimentos típicos visando atender melhor ao público que atualmente frequenta Macacos. A inovação para produtos alimentícios é uma nova maneira de conceber o produto a partir do contexto em que está inserido, segundo as necessidades dos consumidores e os problemas relacionados ao tema. Figura 46 - Monitora apresenta aula sobre Food Design. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.1.4 Turismo como Oportunidades de Negócios A aula “Turismo como Oportunidade de Negócios”, ministrada por um monitor, definiu os tipos de turismo mais característicos da região e assim despertou nos produtores a consciência para a oportunidade de alavancar os pequenos empreendimentos a partir da cadeia produtiva do turismo, conforme figura 47. Contudo, uma avaliação do cenário atual demonstrou que é necessário pensar e agir de forma planejada para atender esse segmento. Outro assunto colocado em pauta foram os eventos que o país sediará, a saber, a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Tais acontecimentos trarão consigo turistas com perfil diferente do público atual, acarretando a necessidade de oferecer produtos e serviços de qualidade para que o 103 turista possa desfrutar de uma experiência única. Alguns dos alunos dessa oficina tinham participado de uma aula semelhante na “Oficina de Processos Criativos”. Esses artesãos já haviam sido despertados da importância de aprimorar e inovar em sua produção para agregar valor a seus produtos, o que enriqueceu a troca de conhecimentos entre todos. Figura 47 - Produtores assistem atentos a aula sobre turismo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.1.5 Educação Financeira para Pequenos Empreendedores A palestrante convidada para a aula “Educação Financeira para Pequenos Empreendedores” optou por apresentar o tema dividindo-o em três tópicos: (a) relevância do tema abordado; (b) reflexões sobre consumo; e (c) sustentabilidade e inteligência financeira para família e negócios. Antes de apresentar o tema proposto, foi importante contextualizá-lo dentro do cenário atual e da realidade dos produtores. A explicação acerca da separação entre finanças da família e do empreendimento foi essencial para que os produtores evitem que uma área interfira e, eventualmente, prejudique a outra, descuido que tem se mostrado o principal problema de pequenos empreendedores e iniciantes nessa área. Os artesãos puderam aprender que ao iniciar todo e qualquer investimento, é preciso que todos os lucros obtidos retornem em forma de aplicação para o próprio negócio até que este atinja um estado de estabilidade e crescimento satisfatório. 104 Durante a aula, além das orientações sobre questões como o endividamento (principalmente por cartão de crédito e cheque especial), foram apresentados algumas dicas e exemplos possíveis de serem aplicados. As dúvidas dos produtores em relação ao assunto foram ouvidas e sanadas pela palestrante convidada de forma clara e didática, conforme figura 48. Figura 48 - Participantes tiram dúvidas sobre finanças pessoais. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.2 Visitas Técnicas 4.4.2.1 Mercado Central de Belo Horizonte Os produtores e a equipe de trabalho participaram de uma visita técnica ao Mercado Central de Belo Horizonte com o intuito de exemplificar, na prática, os conteúdos aprendidos durante a palestra “Embalagem e Ponto de Venda”. Foram identificados vários produtos relacionados à produção típica mineira, embalagens, forma de organização do espaço, forma de atendimento e apresentação do produto. A última loja visitada no Mercado Central de Belo Horizonte demonstrou que um produto com embalagens adequadas e bem trabalhadas interfere diretamente na percepção de valor produto pelo consumidor e no ambiente em que se encontra, conforme figura 49. 105 Após esta etapa, o grupo se encaminhou para a loja Maria Chocolate, próxima ao Mercado Central de Belo Horizonte, onde foi possível observar embalagens diferenciadas e vários insumos para a produção de doces e quitandas como, formas, enfeites, ingredientes, acessórios, dentre outros. A visita técnica foi enriquecedora e instigou os produtores a pensar no desenvolvimento dos seus produtos sob uma nova perspectiva. Figura 49 - Grupo visita lojas do Mercado Central de Belo Horizonte. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.2.2 Supermercado Verdemar Jardim Canadá Entre os objetivos propostos na “Oficina de Estratégias de Mercado” estavam previstos conhecer e entender o público alvo dos produtos típicos. Para tanto, foi realizada uma visita técnica ao Supermercado Verdemar do Jardim Canadá a fim de estabelecer um comparativo de público alvo, produtos e estratégias de venda encontrados no ambiente do supermercado e o Mercado Central de Belo Horizonte, conforme figura 50. O Supermercado Verdemar é uma rede de supermercado gourmet de Belo Horizonte especializada em carnes nobres, frutos do mar, vinhos e produtos importados em geral. A loja do bairro Jardim Canadá em Nova Lima foi projetada para ser um modelo de referência em sustentabilidade. Os produtores puderam observar como uma empresa comercial com foco no consumo pode trabalhar com 106 os conceitos dos 3 Rs - Reduzir, Reutilizar e, Reciclar. A visita proporcionou acesso a diferentes produtos nacionais e importados, o que contribuiu para uma análise crítica dos produtores sobre seu ramo de atuação, gerando discussões em que foi possível ouvir as impressões pessoais e as ideias que poderiam ser implantadas pelos produtores. Figura 50 - Produtoras observam os produtos no supermercado. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.3 Encerramento da Oficina de Estratégias de Mercado O encerramento da “Oficina de Estratégias de Mercado”, acontecem no final de novembro na Escola Municipal Rubem Costa Lima, onde foi entregue os certificados de conclusão de curso aos produtores que obtiveram 75% de frequência. A equipe de trabalho, produtores e convidados assistiram a cerimônia conduzida pela coordenadora geral do programa. A importância do trabalho entre o design e a produção artesanal de produtos típicos ficou evidente na satisfação e empolgação do grupo, conforme figura 51. A perspectiva da realização da Feira da Terra pela Prefeitura Municipal de Nova Lima foi um fator que também contribuiu para que cinco produtores se empenhassem para serem contemplados com as consultorias em design oferecidas pela equipe de trabalho ao final das atividades da oficina. 107 Figura 51 - Equipe de trabalho e produtores após o encerramento da oficina. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.4 Consultorias Após o término da “Oficina de Estratégias de Mercado”, a equipe de monitores agendou vistas aos locais de trabalho dos produtores contemplados para receber as consultorias. Esta atividade compreendia o desenvolvimento de logotipo, embalagem, expositor ou qualquer outro material promocional que se fizesse necessário para impulsionar ou adequar o produto ao mercado. Para dar início às consultorias, foi preparado pela equipe de trabalho um briefing18 (APÊNDICE D), que pode ser definido como um resumo ou uma série de referências contendo informações sobre o produto ou objeto a ser trabalho, seus objetivos, público consumidor e mercado. A realização do briefing com os produtores ajuda a sintetizar as características que serão levadas em consideração para o desenvolvimento do trabalho de consultoria. A equipe composta pode alunos de graduação de Design de Produto e Design Gráfico trabalhou com produtos completamente distintos, embora com o mesmo objetivo que era atender de maneira mais objetiva aos desejos e anseios do público consumidor, tendo como principal referência para o desenvolvimento dos 18 Briefing é um levantamento de dados em uma reunião ou encontro com o cliente. Ele proporciona a criação de um roteiro de ações para o desenvolvimento de um trabalho. 108 produtos, a cultura local reforçando a identidade e o território. Após o recolhimento dessas informações, a equipe de trabalho se reuniu para entender e definir as estratégias de mercados para cada produto dentro da realidade econômica de cada produtor, conforme figura 52. Nesta etapa, foram desenvolvidas propostas para os seguintes produtos: sorvete artesanal, biscoitos artesanais, pimentas em conserva, brigadeiros gourmet19 e mel. Figura 52 - Monitor da equipe de trabalho entrevista produtora. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.4.4.1 Apresentação das Propostas Após o retorno das atividades acadêmicas, em fevereiro de 2013, foram desenvolvidos os projetos a partir dos briefings realizados para compreender melhor a necessidade de cada produtor. A equipe de trabalho desenvolveu os protótipos para verificação e adequação projetual. Em março de 2013, foram apresentados os seguintes serviços de design para os produtores, conforme figura 53, durante encontro na Escola Municipal Rubem Costa Lima: 19 Gourmet é um produto de alta qualidade com produção limitada e características únicas do ponto de vista sensorial. É um produto reservado a paladares mais avançados e a experiências gastronômicas mais elaboradas. 109 1) Identidade visual compreendendo nome, logotipo e adesivação de carrinho de sorvete. 2) Expositor para bolinhos e biscoitos artesanais a partir de materiais sustentáveis. 3) Identidade visual abrangendo nome, logotipo e etiqueta para potes de mel. 4) Identidade visual incluindo nome e logotipo para uma linha de brigadeiros gourmet. 5) Identidade visual envolvendo nome, logotipo e rótulo para uma linha de pimentas em conservas. Figura 53 - Produtoras assistem a apresentação das propostas. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 4.5 Resultados e Discussões 4.5.1 Diagnóstico Participativo Para analisar os dados levantados pelas pesquisas de campo e pelo grupo focal, empregou-se a matriz SWOT20. A metodologia de análise SWOT é uma ferramenta bastante utilizada para fazer diagnósticos de cenário ou ambiente, sendo 20 O termo SWOT é uma sigla oriunda do idioma inglês, e é um acrónimo de Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats. Em português a sigla foi traduzida para FOFA - Força, Oportunidade, Fraqueza e Ameaças. 110 usada como base para gestão e planejamento estratégico de projetos socioeconômicos, socioambientais, entre outros. O distrito de São Sebastião das Águas Claras (Macacos) tem como acesso principal a estrada AMG 160, ligada à rodovia federal BR 040, distante 20 km do centro de Belo Horizonte - MG. A estrada é asfaltada e circundada por riachos, lagos, montanhas e precipícios, o que a torna muito sinuosa e perigosa, e ainda possui os agravantes de não possuir acostamento e a sinalização encontrar-se encoberta pela vegetação. Outras vias de acesso a Macacos são a Estrada do Jardim de Petrópolis, Estrada de Passárgada e Estrada do Engenho. Nos últimos quilômetros da estrada, é possível avistar o vilarejo, conforme figura 54. Figura 54 - Vista da estrada de acesso a São Sebastião das Águas Claras. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). Macacos possui seis bairros - Centro, Capela Velha, Jardim Amanda, Mendes (Santo Daime) e Engenho. Nos arredores, existem vários condomínios residenciais de luxo - Passárgada, Morro do Chapéu, Arvoredo, entre outros. O distrito possui uma boa infraestrutura turística, contando com pousadas, bares e restaurantes para receber os visitantes. Atualmente, encontram-se em processo de construção dois hotéis de grandes grupos internacionais voltados para o segmento de turismo de negócios e eventos, conforme figura 55. O processo de ampliação da oferta turística na região ocorre à medida que se aproximam os grandes eventos esportivos que ocorrerão no Brasil - Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016. 111 Figura 55 - Vista do projeto arquitetônico do Mercure Hotel & Spa Macacos. Fonte: MERCURE, 2012. A intensa atividade turística, atraída pela tranquilidade, belezas naturais e proximidade da capital mineira provocou um intenso movimento no povoado. A princípio, esse crescimento foi bastante benéfico à comunidade, gerando novas opções de trabalho e desenvolvimento do comércio, porém, ao longo dos anos esse crescimento se tornou um problema, pois não houve investimentos adequados por parte do poder público em infraestrutura básica para comportar o crescente fluxo turístico. O distrito não possui rede de esgoto: residências, pousadas e comércio fazem uso de fossas sépticas. Também é comum acontecerem picos de energia e falta d’água nos fins de semana e feriados devido ao aumento dos visitantes. O atendimento médico é feito em um posto de saúde municipal que só funciona nos dias úteis. O transporte público é precário, contando com duas linhas regulares e pouquíssima oferta de horários. As principais atividades econômicas desenvolvidas em Macacos são o comércio e prestação de serviços ligados à cadeia produtiva do turismo, sendo elas hospedagem, gastronomia e atividades ligadas ao lazer, esportes radicais e de aventura, conforme figura 56. O Trail21, Trekking22, Montainbike23 e cavalgada, entre outras atividades, são praticados nas diversas trilhas do distrito, porém tais práticas esportivas têm contribuído muitas vezes para a degradação do meio ambiente, deixando grandes veios no terreno, que acabam por gerar erosões nas montanhas. 21 Trail é uma atividade esportiva praticada com motocicleta em trilhas pouco acessíveis. Trekking é uma atividade esportiva praticada a pé em trilhas pouco acessíveis. 23 Montainbike é uma atividade esportiva praticada com bicicleta em trilhas pouco acessíveis. 22 112 Figura 56 - Vista da rua principal com bares e restaurantes. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). O vilarejo tem comércio pouco variado contando com depósitos de material de construção; salões de beleza; SPA24; pet shop25, lan house26; locadora de filmes; padarias; mercearias; lojas de produtos artesanais; e algumas barraquinhas de doces caseiros, conforme figura 57. Figura 57 - Barraquinha de doces caseiros em Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). 24 SPA é a designação genérica para um hotel, geralmente voltada a atividades relacionadas ao turismo de saúde e bem-estar. 25 Pet shop é um estabelecimento comercial especializado em vender filhotes de animais, alimentos e acessórios, além de oferecer serviços de embelezamento como banho, tosa e perfumaria. 26 Lan house é um loja ou local de entretenimento caracterizado por possuir computadores conectados a internet permitindo a sua utilização para jogos e outros fins. 113 A mineração é ainda hoje a atividade econômica mais lucrativa da região e, possivelmente, responsável por alguns dos principais problemas que a comunidade enfrenta. A grande movimentação de caminhões das mineradoras deixa um rastro de poeira de minério de ferro muito prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Além disso, essa atividade exploratória também contribui para a extinção de algumas espécies da fauna e flora local. Os poucos projetos apoiados pelas empresas mineradoras da região não são suficientes para neutralizar os efeitos nocivos da exploração mineral. O distrito possui grande diversidade de espécies da fauna e flora da Mata Atlântica e do Cerrado, ambiente propício para a exploração de parques ou reservas ecológicas abertas à visitação pública e atividades educativas. No entanto, isso ainda não faz parte das opções de lazer. O clima é úmido e frio em boa parte do ano. Esse cenário é um dos principais atrativos para os turistas que buscam um clima mais ameno para descanso e lazer. As cachoeiras e represas, no entanto, atraem um tipo de turismo predatório que não contribui para a preservação das águas da região, conforme figura 58. Figura 58 - Cachoeira do Marumbé em Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). 114 No município de Nova Lima acontece uma vez por ano o “Festival de Gastronomia Rota dos Sabores”. A “Rota Macacos” é uma das cinco rotas do festival gastronômico, devido aos atrativos naturais e, principalmente, a oferta variada de bares e restaurantes. A população local possui poucas opções de lazer, não existem grupos folclóricos, sendo o carnaval de rua, as procissões religiosas, as Festas Juninas e a Festa de São Sebastião - padroeiro de Macacos, conforme figura 59, as únicas manifestações culturais expressivas. Figura 59 - Procissão de São Sebastião em Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2011 (acervo CCG). Macacos tem população em torno de 3.000 habitantes27, em sua grande maioria, em idade produtiva. Dentre esses moradores, muitos possuem capacidade criativa, habilidades técnicas e artísticas propícias ao desenvolvimento de produtos e serviços vinculados a cadeia produtiva do turismo. No entanto, falta estímulo para que o empreendedorismo latente se torne um negócio viável e efetivamente autossustentável na comunidade. 27 3.000 habitantes é um número aproximado de moradores tendo como base as informações disponibilizadas pelo Tribunal Regional Eleitoral de Nova Lima, levando em consideração os números de eleitores e justificativas constantes nos registros da 194ª zona eleitoral em 2012. 115 Ainda dentro dos resultados apontados pelo diagnóstico destacou-se que a produção artesanal da região de Macacos necessita de aprimoramentos técnicos e de valorização da cultura local, assim como noções de empreendedorismo. Devido ao grande potencial turístico da região, são importantes treinamento e qualificação dos artesãos de forma que possam valorizar seu território e cultura, empreender e gerar renda usufruindo desse novo panorama que se apresenta. O crescimento do fluxo turístico pode contribuir para a sustentabilidade dos negócios a médio e longo prazo, a partir da comercialização dos produtos resultantes das capacitações em design para um novo segmento de mercado. Pelas oportunidades de novos negócios associados ao turismo, aliadas à uma população receptiva a novos cenários e conscientes das suas necessidades, a comunidade de artesãos e produtores de Macacos mostrou grande potencial para se tornar um modelo de “Comunidade Criativa”. 4.5.2 Perfil da Produção Artesanal Barroso (1999) afirma que ao se iniciar um trabalho com artesãos em uma comunidade, o pesquisador “deve identificar e separar aqueles que têm o artesanato como atividade principal e fundamental a sua sobrevivência daqueles que tem no artesanato uma opção de renda complementar ou como terapia ocupacional” (BARROSO, 1999, p.12). Assim, a partir da análise dos dados obtidos no questionário (APÊNDICE A) aplicado a 22 artesãos de Macacos, foi traçado o perfil da produção artesanal desse grupo. Elaborar esse perfil é uma importante etapa do processo de capacitação, uma vez que de acordo com Barroso (2001b), muitos consultores e instituições que lidam com esse tipo de trabalho se equivocam colocando o artesanato sempre sobre a mesma denominação, com isso produtos de diferentes origens são transformados em pequenos souvenires semi-industrializados, perdendo sua expressão cultural. Posto isto, os resultados da pesquisa realizada no início do projeto indicam que o artesanato do grupo está inserido na categoria “Artesanato Doméstico28”, segundo as classificações apresentadas pelo “Termo de Referência do Programa SEBRAE do Artesanato” (2004). O Artesanato Doméstico tem como caráter o 28 As classificações apresentadas pelo "Termo de Referência do Programa SEBRAE do Artesanato" encontram-se disponíveis no capítulo 2, na seção 2.4. Sistematização da Atividade Artesanal. 116 trabalho manual descomprometido com relação à renda, prazos de entrega, volume de produção, ajuste à demanda de mercado entre outros (SEBRAE, 2004). Ainda de acordo com Barroso (2001b) os produtos do “Artesanato Doméstico” são, em geral, resultantes da utilização de tempo ocioso tanto como atividade ocupacional como um complemento eventual de renda familiar. O desafio para o design é promovê-lo à condição de Artesanato de Referência Cultural, agregando valor simbólico ao produto e direcionando sua produção às demandas de mercado. Este é um dos segmentos mais promissores para o incremento competitivo do artesanato brasileiro, pois trata-se de produtos concebidos dentro de uma lógica de mercado, orientados para a demanda, acompanhados por designers, tendo como referência os elementos mais expressivos e significativos da cultura regional (SEBRAE, 2004, p.59). Foram analisados os dados obtidos através das seguintes perguntas: (a) quanto da renda familiar provem do artesanato; (b) possui outra atividade remunerada; (c) tempo dedicado ao artesanato; (d) pertence a algum grupo ou associação; e (e) o que o levou a atividade artesanal. Em relação à renda familiar proveniente do artesanato, 33% dos artesãos obtêm menos da metade da renda familiar do artesanato, 11% responderam conseguir metade da renda familiar com a venda de produtos artesanais, 45% não obtêm renda familiar dessa atividade e apenas 11% possuem renda familiar proveniente do trabalho artesanal, conforme gráfico 1. Com relação à possuir outra atividade remunerada, 56% dos entrevistados declararam ter outra fonte de renda, contrapondo à 44% que tem o artesanato como renda, conforme gráfico 2. Esses indicadores demonstram que a renda obtida através da atividade artesanal ainda não é suficiente para a sustentabilidade econômica do artesão. 117 Gráfico 1 - Renda proveniente do artesanato. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Gráfico 2 - Outra atividade remunerada. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Quanto ao tempo destinado à produção artesanal, 25% dos artesãos dedicam-se até quatro dias por semana, 25% até dois dias na semana, 12% apenas um dia na semana, 13% trabalham em tempo integral e outros 25% só trabalham sob encomenda, conforme gráfico 3. Gráfico 3 - Tempo dedicado ao artesanato. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 118 O motivo para 38% dos artesãos produzirem artesanato foi dar continuidade a uma tradição familiar, outros 29% têm motivos diversos como prazer ou desafio, 21% buscaram no artesanato uma ocupação ou distração para o tempo ocioso, 8% ingressaram na atividade por estarem desempregados, e somente 4% têm no artesanato uma complementação de renda, conforme gráfico 4. Portanto, apenas 12% optaram por esta atividade por razões econômicas. Ao analisar esses resultados, é possível perceber que o artesanato é encarado pela maioria como uma atividade ocupacional, confirmando assim, o perfil de “Artesanato Doméstico”. Gráfico 4 - Opção pela atividade artesanal. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Quando perguntados sobre pertencer a algum grupo produtivo ou associação, somente 9% dos artesãos responderam que são associados a algum grupo ou entidade de classe, o que aponta um baixo comprometimento profissionalização da atividade artesanal, conforme gráfico 5. Gráfico 5 - Participação em grupo ou associação. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). com a 119 4.5.3 Perfil do Turista em Macacos Gilbert (2011) apud Cooper e Hall (2011) afirmam que existe um conjunto de fatores que influenciam a experiência do turista durante sua viagem. Entendê-los é uma oportunidade para oferecer produtos mais adequados a esse público. Portanto, conhecer o turista que frequenta Macacos, é fundamental para a compreensão da dinâmica do mercado consumidor de produtos artesanais. Uma vez que o turista representa o potencial público consumidor de artesanato e produtos agroindustriais típicos de Macacos, entender quais são desejos e expectativas, seu poder de compra, dentre outras características, foi de grande valia para a equipe de trabalho elaborar as atividades das oficinas. Os perfis do Turista Acidental29, Turista Tradicional30 e Turista Existencial31, compilados por Barroso (2011), orientaram a equipe na elaboração de uma pesquisa de mercado. A fim de identificar o perfil do turista em viagem a Macacos, foi realizada uma pesquisa de campo durante dois fins de semana com 30 pessoas de ambos os sexos e idade superior a 18 anos, abrangendo casais, grupos de amigos e famílias abordadas em pontos turísticos e comerciais do distrito. O questionário semiestruturado (APÊNDICE C) contemplou informações socioeconômicas, hábitos de viagem e de consumo do viajante. Quanto aos aspectos socioeconômicos do grupo entrevistado, 83% tem nível superior, 14% nível médio e 6% Ensino Fundamental, conforme gráfico 6. Quanto à faixa etária, 40% têm entre 25 a 34 anos, 23% possuem entre 35 a 44 anos, e outros 23% estão entre 45 a 59 anos, sendo que 97% do total pertencem a população economicamente ativa, conforme gráfico 7. “Turista Acidental” é aquele que tem como motivação compromissos pessoais, profissionais, familiares ou religiosos, permanecendo em média de 3 a 5 dias no destino. Geralmente suas aquisições se limitam a presentes compulsórios tais como produtos típicos, lembranças e souvenires (BARROSO, 2011). 30 “Turista Tradicional” é aquele que tem como motivo o lazer e o relaxamento. Viaja em busca de serviços e produtos conhecidos, que não representem surpresas. Compra artesanato em função de seu preço, quase sempre produtos de uso pessoal ou utilitário (BARROSO, 2011). 31 “Turista Existencial” é aquele que busca a experiência cultural, procurando vivenciar os hábitos e costumes da comunidade de destino. Tende a permanecer por maiores períodos de tempo e valoriza a gastronomia, a música, a arte popular, o artesanato, os festejos e a vida do lugar (BARROSO, 2011). 29 120 Gráfico 6 - Escolaridade. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Gráfico 7 - População economicamente ativa. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Os dados referentes aos hábitos de viagem revelam que 44% dos turistas permanecem entre 1 a 3 dias, 43% entre 4 a 7 dias, 10% entre 8 a 11 dias e apenas 3% entre 12 a 15 dias, conforme gráfico 8. Gráfico 8 - Período de estadia. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 121 Normalmente, viajam para visitar família e amigos (35%), escolhem o destino de viagem pela beleza natural do lugar (18%), viajam a trabalho (17%), procuram lazer (9%) e descanso (7%), vão em busca da cultura local (7%) e da gastronomia (4%) e somente 3% viajam para visitar museus e exposições, conforme gráfico 9. Gráfico 9 - Motivo para escolha do destino. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). No que diz respeito aos hábitos de consumo, 67% dos visitantes costumam adquirir produtos artesanais, conforme gráfico 10. Dentre estes, a venda de produtos típicos representa 40%, lembranças e souvenir 35%, produtos utilitários 14%, objetos com referência cultural 8%, artigos esotéricos 3%, conforme gráfico 11. Gráfico 10 - Consumo de produtos artesanais. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 122 Gráfico 11 - Tipo de produto adquirido. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). As principais motivações apontadas foram presentear amigos (41%), ter uma lembrança do local (35%), adquirir um objeto decorativo (17%) e preço acessível (7%), conforme gráfico 12. Os turistas que não consomem nenhum tipo de artesanato alegam não ter tempo para procurar, não tem interesse e/ou consideram os produtos pouco inovadores. Gráfico 12 - Motivo para adquirir produto artesanal. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). A partir dos dados expostos, tendo como referência os perfis elaborados por Barroso (2011), pode-se concluir que com relação ao período de estadia e aos tipos de produtos artesanais adquiridos (gráficos 8 e 11), o perfil mais próximo é o “Turista Acidental”, já que compra em geral lembranças, souvenires e produtos típicos tais como doces, compotas, licores e cachaças e pelo fato do período de estadia variar entre 1 a 3 dias. Enquanto que os motivos da escolha do destino (gráfico 9) apontam para o perfil do “Turista Tradicional” que busca a beleza natural e o lazer, os motivos 123 para adquirir artesanato (gráfico 12), confirmam ser o perfil do “Turista Acidental” o mais adequado, visto que os motivos para compra de produtos artesanais são presentear os parentes e amigos ou adquirir uma recordação da viagem. 4.5.4 Análise das Oficinas de Capacitação 4.5.4.1 Resultados Quantitativos O “Programa Comunidades Criativas das Geraes” disponibilizou 15 vagas para duas oficinas direcionadas aos artesãos e produtores de Macacos, totalizando 30 vagas. A “Oficina de Processos Criativos” teve todas as suas vagas preenchidas. Considerando que três artesãos abandonaram o curso, observa-se um índice de frequência de 80% apurado através da lista de presença. Na “Oficina de Estratégias de Mercado” houve 14 inscrições e cinco desistências, com índice de frequência equivalente a 64%. Avaliando esses dados, pode-se afirmar que a adesão e participação nas atividades propostas foram bastante satisfatórias, visto que a maioria dos artesãos e produtores mostrou-se interessada e estimulada, cumprindo a carga horária proposta pelas oficinas até o final. A sustentabilidade econômica do grupo de artesãos e produtores envolvidos nas ações do programa pode ser verificada através da análise da evolução da renda proveniente do artesanato, qualidade de canais de comercialização e valor percebido do produto artesanal, realizada por meio de questionários aplicados no início das oficinas (APÊNDICES A e B) e ao final das mesmas (APÊNDICE E). A renda proveniente do artesanato é um indicador de mudanças na realidade socioeconômica dos artesãos e produtores. Ao comparar a porcentagem de renda obtida através da atividade artesanal, depara-se com um aumento em relação ao primeiro questionário de 26% na opção ‘menos da metade’, 9% na alternativa ‘metade’ e outros 9% na opção ‘mais da metade’, conforme gráfico 13. Proporcionalmente, houve uma diminuição de 34% na alternativa ‘nada’, o que denota um ganho da renda com a atividade artesanal ainda tímida, porém significativa, visto que confere aos participantes uma perspectiva de sustentabilidade socioeconômica com o artesanato. 124 Gráfico 13 - Comparativo de renda proveniente do artesanato. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Em relação aos meios de distribuição e venda dos produtos, comparativamente, os índices apontam que os produtos passaram a ser comercializados em ambientes mais formais, com um aumento de 28% na comercialização em lojas, 4% em vendas sob encomenda e 2% por indicação ou recomendação, conforme gráfico 14. A loja contribui para o sucesso da venda dos produtos por transmitir ao consumidor o caráter de profissionalismo, enquanto os produtos confeccionados por encomenda tem a garantia da venda antes mesmo de sua produção. A indicação boca a boca reflete a experiência positiva do consumidor ao recomendar aos amigos um produto que atende suas expectativas, confirmando a evolução da qualidade dos canais de comercialização. É importante informar que a redução em 18% na comercialização em feiras regulares não foi levada em consideração nessa análise, visto que a pesquisa de avaliação foi realizada antes da implantação da Feira dos Produtores de Macacos, fato esse que altera os índices de comercialização em feiras fixas. 125 Gráfico 14 - Comparativo de canais de comercialização. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Após a exposição das análises relativas à renda proveniente da atividade artesanal e aos canais de comercialização, é interessante ponderar sobre o valor percebido pelo artesão quanto ao seu produto e à atividade que exerce. Quando perguntados se achavam justo o valor cobrado por seus produtos antes das oficinas de capacitação, 75% responderam ‘sim’, conforme gráfico 15. Gráfico 15- Comparativo de valor percebido do produto. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Logo após o término das oficinas, esse percentual diminuiu para 63%, o que indica que o conhecimento oferecido durante as atividades pode ter contribuído para que os artesãos compreendam melhor todo o esforço envolvido no processo de 126 concepção e desenvolvimento do seu produto. O artesanato que antes era vendido por um preço que atendia às suas expectativas, passou a ser entendido agora como representativo da sua cultura e de suas crenças quando agregam valor ao produto. O produto artesanal torna-se assim um objeto de desejo impregnado de valor simbólico, conceito intangível percebido pelo público alvo disposto a pagar mais por esses produtos (BARROSO, 1999). 4.5.4.2 Grupo Artesania Águas Claras Entre as metas propostas pelo “Programa Comunidades Criativas das Geraes” para as oficinas em Macacos estava prevista a consolidação do grupo como uma unidade produtiva. Ao longo das atividades, foi trabalhada a ideia da formação do grupo visando fortalecer o artesanato local. O estímulo às trocas e às dinâmicas culturais entre os envolvidos no processo encorajam o desenvolvimento e o fortalecimento do grupo. Os artesãos compreenderam a importância do associativismo para a sustentabilidade da atividade artesanal em Macacos e elegeram por meio de votação o nome que melhor representasse a essência e a origem do grupo numa clara referência ao nome de São Sebastião das Águas Claras. Uma monitora graduanda em Design Gráfico da equipe de trabalho criou o logotipo do grupo denominado “Artesania Águas Claras” a partir dos conceitos de Transparência, Vida e Movimento, conforme figura 60 Figura 60 - Logotipo do grupo Artesania Águas Claras. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 127 Foi verificado através de análise comparativa que houve adesão de 91% dos artesãos ao grupo “Artesania Águas Claras”, conforme gráfico 16. Considerando-se que o grupo tem como objetivos promover, divulgar e apoiar a produção e comercialização dos produtos locais, percebe-se o aumento do comprometimento com a atividade, passando a encarar o artesanato como atividade produtiva e não mais como um passatempo. Os artesãos começaram a entender que se organizar em grupo contribui para representatividade do artesanato local, além de estimular um ambiente de troca de informações em que tanto a produção quanto a comercialização podem ser facilitadas, propiciando o desenvolvimento local quer direta quer indiretamente. Gráfico 16 - Comparativo de adesão a um grupo ou associação. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.5.4.3 Catálogo Artesania Águas Claras Uma equipe de alunos composta por dois designers gráficos e uma fotógrafa trabalhou no desenvolvimento do catálogo, peça gráfica para a promoção dos produtos artesanais. Após a exposição realizada no encerramento da “Oficina de Processos Criativos”, os produtos que melhor expressavam a produção artesanal do grupo “Artesania Águas Claras” foram selecionados a partir da avaliação dos seguintes critérios: inovação; estética; vínculo cultural; respeito ambiental; ganho 128 social; valor simbólico; acabamento; embalagem; preço; e segurança proposto por Barroso (2012), conforme figura 61. Figura 61 - Critérios de avaliação dos produtos artesanais. Fonte: BARROSO, 2012. Após a seleção, observou-se que 100% dos participantes mudaram seus produtos após a oficina, utilizando novos materiais, melhorando o acabamento, modificando as formas, empregando a iconografia local e o reaproveitando de resíduos, conforme figuras 62, 63, 64, 65 e 66. Figura 62 - Prato em cerâmica com forma orgânica de folha. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 129 Figura 63 - Quadro em feltro com a Capela de São Sebastião. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Figura 64 - Jogo americano feito com lacre de alumínio e crochê. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Figura 65 - Adorno de parede com resíduos vegetais e feltro. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 130 Figura 66 - Bandeja em bambu e mosaico de borboletas. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Com distribuição gratuita em pousadas e hotéis da região, espera-se que o catálogo (figura 67) possa contribuir para a promoção das potencialidades e vantagens competitivas do produto artesanal de Macacos visando atender o crescimento do ecoturismo e do turismo de negócios e eventos na região. Figura 67 - Capa do catálogo Artesania Águas Claras. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 4.5.4.4 Material Promocional para Produtos Típicos Como estímulo ao desenvolvimento dos pequenos negócios de produtos típicos, foi oferecido aos produtores que participaram de todas as atividades da 131 “Oficina de Estratégias de Mercado” uma consultoria em branding32. A equipe de monitores, orientada pelo briefing realizado através de questionário (APÊNDICE D), elaborou propostas com maior valor agregado através de posicionamento de mercado, tais como naming33, marca, identidade visual, PDV34, e embalagem para cinco produtores conforme figuras 68, 69, 70, 71 e 72. Entretanto, ainda não foi possível mensurar os resultados palpáveis dessa ação devido à falta de iniciativa dos produtores para executar as propostas apresentadas, não obstante ao entusiasmo demostrado pelos mesmos durante a exposição do material pelos monitores. Figura 68 - Logotipo Ateliê do Brigadeiro e aplicação no produto. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). Figura 69 - Logotipo e selo Chiquita Pimenta e aplicação no produto. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 32 Branding pode ser traduzido para o português como o ato de administrar a imagem/marca de uma empresa. Refere-se aos atributos descritivos verbais e símbolos concretos, como o nome, logotipo, slogan e identidade visual que representam a essência de uma empresa, produto ou serviço. 33 Naming é uma série de técnicas e estudos de redação, linguística e tendências de consumo e comportamento adotados para encontrar um nome adequado para a uma marca. 34 PDV acrónimo de “ponto de venda”, é um tipo de expositor utilizado para ambientar o produto dentro de uma loja, destacando-o do restante do local, o que lhe oferece maior visibilidade e possibilidade de facilitar a aquisição do produto. 132 Figura 70 - Logotipo, etiqueta e aplicação no produto Zé do Mel. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). Figura 71 - Logotipo Sorveteria Cheia de Graça e aplicação no carrinho. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 133 Figura 72 - Expositor para biscoitos e bolinhos artesanais Zên. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). Ainda como parte do material promocional criado para os produtos típicos, uma aluna de graduação em Design Gráfico desenvolveu o folder35 “Guia dos Produtos Típicos Artesanais de Macacos” para distribuição gratuita em pousadas e hotéis para promoção e divulgação dos produtos e pontos de vendas em Macacos, conforme figura 73. Espera-se, assim, estabelecer uma rede de apoio à comercialização dos produtos artesanais atendendo as expectativas do mercado local. Figura 73 - Capa do Guia dos Produtos Típicos Artesanais de Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 35 Folder é um prospecto, um pequeno impresso em geral com ilustrações, e estampado em folha única, às vezes dobrada em sanfona, no qual se anuncia ou faz propaganda de qualquer coisa, 134 4.5.4.5 Campanhas de Mobilização Social Entre os objetivos específicos do programa também era esperado a promoção do bem estar social dos envolvidos direta e indiretamente nas atividades. A “Campanha de Inverno” e a “Campanha Lixo Criativo” foram iniciativas que aconteceram no decorrer das atividades de forma espontânea entre os membros do grupo de trabalho e envolveram outras pessoas da comunidade em Macacos. Logo no início das atividades da “Oficina de Processos Criativos”, foi criada a Campanha de Inverno em apoio a uma iniciativa da Sociedade São Vicente de Paula - gestora local das ações da Capela de São Sebastião, que todos os anos no período do inverno promove uma campanha de arrecadação de cobertores e agasalhos para a população carente. Uma monitora da equipe de trabalho foi a responsável por criar um cartaz (figura 74), distribuído nos principais pontos comerciais de Macacos e na Escola de Design, envolvendo também a comunidade acadêmica numa ação solidária. Figura 74 - Cartaz da Campanha de Inverno em Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 135 A “Campanha Lixo Criativo” teve como objetivo de conscientização da população e turistas sobre o descarte inadequado do lixo nas ruas, rios e cachoeiras de Macacos. A ideia dessa iniciativa surgiu logo após a exibição do documentário “Lixo Extraordinário”, quando o grupo se disse muito incomodado com a questão do lixo na comunidade. Assim, foi proposta a criação de um banner de grandes proporções com a técnica desenvolvida pelo artista plástico Vik Muniz, que foi instalado no pátio da Capela de São Sebastião - local central de grande visibilidade (figura 75). Esses dois resultados indicam que as ações do programa em Macacos mobilizaram, e possivelmente, sensibilizaram a comunidade para temas atuais envolvendo o meio ambiente e a pobreza. As constantes interações durante todo o processo do programa permitiram que tanto os artesãos e produtores quanto a equipe de trabalho construíssem e redefinissem a dinâmica do programa, de forma colaborativa. Figura 75 - Grupo no lançamento da Campanha Lixo Criativo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). 4.5.4.6 Iniciativas Empreendedoras na Comunidade Ainda dentro dos objetivos de incentivo à cultura do empreendedorismo, pode-se destacar a abertura da loja Chiquita Banana por três artesãs logo após o término da “Oficina de Processos Criativos”. As mesmas se sentiram motivadas e 136 encorajadas para o desafio de abrir uma loja de produtos artesanais e assim suprir a carência por pontos de venda de artesanato em Macacos, conforme figura 76. Figura 76 - Artesãs em frente à loja de artesanato Chiquita Banana. Fonte: Arquivo pessoal, 2012 (acervo CCG). Outra artesã, em busca de apoio para publicar um livro de poesia desenvolvido durante a oficina, procurou comerciantes da comunidade para contribuírem com cotas de patrocínio e, assim, viabilizar a impressão de seu livro intitulado “Macacos”. O lançamento do livro teve manhã de autógrafo no restaurante de uma pousada e foi prestigiado pela comunidade, equipe de trabalho e colegas da oficina, confirmando assim o potencial empreendedor dos artesãos em criar novas oportunidades de negócios na comunidade, conforme figura 77. Figura 77 - Artesã autografando o livro de poesia intitulado Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 137 A Feira da Terra, rebatizada Feira dos Produtores de Macacos foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda de Nova Lima e da EMATER, que com apoio do “Programa Comunidades Criativas das Geraes”, criou uma oportunidade para os produtores e artesãos comercializarem seus produtos e aumentarem a renda familiar, além de proporcionar um espaço de convivência para a comunidade local. A feira começou a acontecer em maio de 2013 no espaço da Creche Municipal de Macacos todos os sábados das 10 às 17 horas, conforme figuras 78 e 79. Figura 78 - Visão geral da Feira dos Produtores de Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). Figura 79 - Barracas da Feira dos Produtores de Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 138 Nas barracas, é possível encontrar produtos orgânicos da agricultura familiar, plantas ornamentais e medicinais, quitandas e quitutes, como doces caseiros, geleias, bolos e pães artesanais. Há uma grande variedade de artesanato, como peças decorativas, produtos para casa, acessórios entre outros. Como continuidade das ações do programa, a equipe de trabalho desenvolveu um banner para a divulgação da iniciativa (figura 80). A adesão dos produtores e comunidade a esta iniciativa aponta o fortalecimento do setor artesanal que começa a ser valorizado não só pelos envolvidos mas também pelas instituições municipais que demonstram maior apoio ao setor. Figura 80 - Banner de divulgação da Feira dos Produtores de Macacos. Fonte: Arquivo pessoal, 2013 (acervo CCG). 139 5 CONCLUSÃO Ao longo de dois anos do “Programa Comunidades Criativas das Geraes”, foi possível acompanhar e analisar como o design contribuiu para o desenvolvimento sustentável de iniciativas locais no âmbito da produção artesanal em Macacos. Nesse processo, foi possível compreender a atuação do designer no alinhamento entre o processo produtivo e o desenvolvimento local, a fim de promover de forma sustentável o artesanato e os produtos típicos. Assim, o design pode colaborar para a sustentabilidade econômica, social, ambiental e cultural da produção artesanal, quando se transforma em agente de mudança, contribuindo para a viabilização de um programa de desenvolvimento sustentável, comprometido com novos modelos de negócios mais éticos e solidários. Ao considerar as relações entre comunidade, território e produção artesanal de forma sistêmica, pode-se acreditar que é viável tornar um produto competitivo não apenas pelos seus atributos estéticos e funcionais, mas também pelo seu valor cultural, social e ambiental. Valorizando o cidadão e seu território, o design pode contribuir de forma significativa para a transformação pessoal e profissional dos indivíduos, além de fortalecer a cadeia produtiva do artesanato. A atuação do designer nesse contexto mostrou-se de grande valia, pois reestruturou a produção já existente, preparando-a para o mercado consumidor, sem que os produtores e seus produtos perdessem sua identidade e autenticidade, valorizando o território e a cultura local. Destaca-se ainda a compreensão obtida por parte dos artesãos e produtores quanto à importância da aplicação da metodologia de design no processo de desenvolvimento de produtos artesanais. As constantes interações entre os atores permitiram que tanto os artesãos e produtores quanto os designers construíssem e redefinissem a dinâmica do programa, de forma colaborativa, adaptando metodologias e processos produtivos em prol da sustentabilidade do mesmo. Contudo, é relevante ressaltar que, além das transformações desenvolvidas no processo produtivo, foi possível observar que o design estimulou os indivíduos com vocação latente para o empreendedorismo a criarem novos negócios. Ficou evidente que o turismo em Macacos é um forte aliado ao desenvolvimento da atividade artesanal, já que através dele, a expectativa do 140 consumidor ao adquirir um produto artesanal se incorpora a experiência da viagem, ampliando a cadeia de valor estabelecida com a localidade. Dessa forma, a vivência no território é valorizada, uma vez que ela acontece durante a permanência na região, e por meio do artesanato, pode prolongar-se para o local de origem do visitante. Pode-se ainda afirmar que a adesão e o envolvimento da comunidade de um modo geral com a Feira de Produtores de Macacos possibilitou que a produção artesanal local se transformasse em um atrativo turístico a mais para o destino, visto que tornou-se um evento fixo no calendário turístico do município. A inovação social sob a perspectiva do design acontece quando o designer se configura no agente de transformação social, destacando-se o impulso para mudanças na realidade socioeconômica e cultural por intermédio da criatividade; divulgação das potencialidades e vantagens competitivas do produto artesanal; incentivo ao empreendedorismo e ao fortalecimento do associativismo; apoio ao desenvolvimento de novos nichos de negócios; estímulo a trocas e dinâmicas culturais entre os envolvidos no processo; e promoção do bem estar social dos participantes direta e indiretamente nas atividades. Este trabalho permitiu a aplicação da metodologia do design para transformar a produção artesanal local em uma atividade comprometida, na qual a produção é valorizada sobre aspectos mercadológicos, enquanto amplia o valor simbólico do produto e torna-se agente de divulgação da cultura local. Durante todo o processo projetual, a utilização dos recursos territoriais foi um dos pilares para tornar a iniciativa sustentável. Sendo assim, o intuito é continuar a trabalhar com o design, criando novas oportunidades de negócios, divulgando os valores locais, promovendo o desenvolvimento sustentável e estimulando a inovação social. A partir da experiência dessa pesquisa, espera-se que o design possa contribuir com as transformações de outras “Comunidades Criativas” pelo mundo. 141 REFERÊNCIAS ALVES, L. FERRAZ, A. Projeto Pedagógico do Curso de Desenho Industrial. Faculdades Barddal. Florianópolis: 2005. Disponível em: < http://www.barddal.br/faculdades/site/docs/design/projeto_pedagogico_design.doc >. Acesso em: 12 out. 2011. ÁVILA, C; GUERRA, R. Alphaville Lagoa dos Ingleses. Belo Horizonte: Alphaville Urbanismo, 2000. BARBOSA, L. G. (org.). Índice de Competitividade do Turismo Nacional: 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional. Relatório Brasil 2010. 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Renda familiar: ( )Até 01 salário ( )Entre 1 e 5 ( )Entre 5 e 8 ( )Acima de 8 salários Você é o principal responsável pelo sustento da sua família? ( )Sim ( )Não Quanto da sua renda provem do artesanato? ( )Nada ( )Menos da metade ( )Metade ( )Mais da metade ( )Tudo Quais destes aparelhos você possui: ( )Computador ( )Notebook ( )Câmera fotográfica ( )Telefone fixo ( )Celular ( )Outros, quais? Possui acesso a internet? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais destas redes sociais você acessa: ( ) E-mail ( )You tube ( )Blog ( )Facebook ( )Twitter ( )Skype ( ) Orkut Dados Profissionais Tempo de atuação na atividade artesanal: Tempo dedicado ao artesanato: Possui outra atividade remunerada? ( ) Sim ( )Não Se sim, qual atividade? O que o levou a atividade artesanal? ( )Desemprego ( )Complementação de renda ( )Tradição familiar ( )Ter uma ocupação ou distração ( )Outra, qual? O artesanato produzido faz parte de alguma tradição de família? ( )Sim ( )Não Se sim, qual tradição? Quais as técnicas artesanais que domina? Possui ajudante ou parceiro de trabalho? ( ) Sim ( )Não Se sim, quantos? Se não, qual o motivo? Faz parte de algum grupo ou associaçãov? ( )Sim ( )Não Se sim, qual (ais) o(s) grupo(s)? Há quanto tempo? O que o levou a participar deste grupo? Tipo de grupo: ( ) Familiar ( ) Comunitário ( ) Outro, qual? Caráter do grupo: ( ) Produção ( )Comercialização ( ) Outro, qual? Dados do Produto Local de produção: ( )Casa ( )Oficina ou ateliê ( )Cooperativa ( )Associação Quais são os produtos que você desenvolve? Os produtos desenvolvidos são: ( )Utilitários ( )Decorativos ( ( )Religiosos ( )Lúdicos ( )Conceituais ( )Outro, qual? Quais são suas fontes de inspiração e referência? )Educacionais Quais as ferramentas, máquinas ou equipamentos utilizados na produção? Quais são os principais materiais utilizados nos produtos? Preocupa-se em reaproveitar materiais (sobras da produção)? ( )Sim ( )Não O produto possui embalagem adequada para transporte? ( )Sim Se não, qual o motivo? ( )Não 150 O produto possui embalagem para presente? ( )Sim ( )Não Qual (descreva)? Existem expectativas de mudança do produto? ( )Sim ( )Não Se sim, quais as expectativas? ( )Acabamento ( )Embalagem ( )Novos materiais ( )Adequação ao mercado ( )Novo produto ( )Outro, qual? Existe receio quanto à mudança ou forma de produção dos produtos? ( )Sim ( )Não Quantidade de peças produzidas em média por mês: Tempo médio de produção por peça: Gasto médio com matéria-prima por peça: Margem de lucro médio por peça: Dados de Comercialização Onde comercializa os produtos? ( )Feiras fixas ( )Indicação boca a boca ( )Bazares ( )Eventos sazonais ( )Lojas ( )Sob encomenda ( )Outro, qual? Tem dificuldade quanto à comercialização dos produtos? ( )Sim ( )Não Se sim, qual a dificuldade? Quantidade de peças vendidas em média por mês: Como você calcula o preço do seu produto? Considera justo o valor de comercialização do seu produto? ( Se não, por quê? ) Sim ( ) Não Dados de Sustentabilidade Você considera que o meio ambiente está sendo preservado na sua comunidade? ( ) Sim ( ) Não Se não, porque? Você utiliza práticas sustentáveis no seu dia-a-dia? ( )Sim ( )Não Se sim, quais são? ( ) Coleta seletiva ( ) Reuso de água ( ) Energia Solar ( ) Compostagem ( ) Opção por transportes limpo ( ) Horta comunitária ( ) Consumo de produtos orgânicos ( ) Troca de produtos usados ( ) Nenhuma Das práticas mencionadas acima, qual o motivo em praticá-las: ( ) necessidade ( ) opção pessoal ( ) ambos ( ) Outras, quais? Há preocupação em trabalhar sem agredir o meio ambiente? ( )Sim ( )Não Se sim, como? Você usa matéria prima reciclável (pet, papelão, etc.) na produção? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais? Conhece as espécies vegetais do entorno de sua residência? ( ) Sim ( )Não Se sim, Quais? Você utiliza resíduos vegetais na produção? ( )Sim ( )Não Se sim, quais? ( ) Folhas ( )Sementes ( )Troncos ( ) Outros, quais? Informações da Capacitação Possui interesse em participar da capacitação? ( )Sim ( )Não Possui disponibilidade de tempo para participar da capacitação? ( Quais são suas expectativas com o curso de capacitação? )Sim ( )Não 151 APÊNDICE B Questionário Inicial Oficina de Estratégias de Mercado QUESTIONÁRIO PROCESSO SELETIVO OFICINA DE ESTRATÉGIAS DE MERCADO Dados Pessoais Nome Completo: Endereço: Bairro: Cidade: Telefone residencial: CEP: Celular: Identidade: CPF: Email: Data de Nascimento: Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Separado ( ) Viúvo ( ) Outro, qual? Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior ( ) Pós-graduado ( Você acha que é importante voltar a estudar? ( )Sim ( )Não Se sim, o que o impede de retornar? Se não, por qual motivo? Tem filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos menores? Quantos maiores? ) Não tem 152 Residência: ( ) Própria ( ) Aluguel ( ) Cedida ( ) Outro, qual? Quantas pessoas moram em sua casa? Quantos trabalham? Quantas possuem renda formal? Quantos possuem renda informal? Renda familiar: ( ) Até 01 salário ( ) Entre 1 e 5 ( ) Entre 5 e 8 ( ) Acima de 8 salários Você é o principal responsável pelo sustento da sua família? ( ) Sim ( ) Não Quanto da sua renda familiar provém da sua produção? ( ) Nada ( ) Menos da metade ( ) Metade ( ) Mais da metade ( ) Tudo Quais destes aparelhos você possui: ( ) Computador ( ) Notebook ( ) Câmera fotográfica ( ) Telefone fixo ( ) Celular ( ) Outros, quais? Possui acesso a internet? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais destas redes sociais você acessa: ( ) E-mail ( ) You tube ( ) Blog ( ) Facebook ( ) Twitter ( ) Skype ( ) Orkut ( ) Outra, qual? Dados Profissionais Tempo de atuação na produção artesanal: Tempo dedicado à produção artesanal: Possui outra atividade remunerada? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual atividade? O que o levou a produção artesanal? ( ) Desemprego ( ) Complementação de renda ( ) Tradição familiar ( ) Ter uma ocupação ou distração ( ) Outra, qual? O seu produto faz parte de alguma tradição de família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual tradição? Existe um produto que julga ser característico da sua cultura ou tradição familiar? Possui ajudante ou parceiro de trabalho? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quantos? Se não, qual o motivo? Dados do Produto Local de produção: ( ) Casa ( ) Cooperativa ( ) Associação ( ) Outro, qual? Quais são os produtos que você desenvolve? Qual a forma de aquisição de matéria prima? Qual a frequência da sua produção? Quais as ferramentas, máquinas ou equipamentos utilizados na produção? Quais são as principais matérias primas utilizadas na produção? Preocupa-se em reaproveitar as sobras da produção? ( ) Sim ( ) Não Se sim, como? O produto possui embalagem adequada? ( ) Sim ( ) Não Se não, qual o motivo? O produto possui embalagem para presente? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual? 153 Existem expectativas de mudança do produto? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais as expectativas? ( ) Mudança na forma de apresentação ( ) Novos sabores ( ) Embalagem ( ) Adequação ao mercado ( ) Novo produto ( ) Outro, qual? Existe receio quanto à mudança nos produtos? ( ) Sim ( ) Não Possui local de estocagem adequada para os produtos? Tempo médio de produção: Gasto médio com matéria-prima: Volume mensal de vendas: Dados de Comercialização Onde comercializa os produtos artesanais? ( ) Em casa ( ) Feiras ( ) Sob encomenda ( ) Eventos sazonais ( ) Bazares ( ) Indicação boca a boca ( ) Loja ( ) Outro, qual? Tem dificuldade quanto à comercialização dos produtos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual a dificuldade? Como é realizada a divulgação do produto? Qual o período de maior venda? Como você calcula o preço do seu produto? Considera justo o valor do seu produto em relação aos outros produtos similares? ( ) Sim ( ) Não Se não, por quê? Dados de Sustentabilidade Você considera que o meio ambiente está sendo preservado na sua comunidade? ( ) Sim ( ) Não Se não, porque? Você utiliza práticas sustentáveis no seu dia-a-dia? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais são? ( ) Coleta seletiva ( ) Reuso de água ( ) Energia Solar ( ) Compostagem ( ) Opção por transportes limpo ( ) Horta comunitária ( ) Consumo de produtos orgânicos ( ) Troca de produtos usados ( ) Nenhuma ( ) Outras, quais? Das práticas mencionadas acima, qual o motivo em praticá-las: ( ) necessidade ( ) opção pessoal ( ) ambos ( ) Outras, quais? Há preocupação em descartar o lixo da sua produção sem agredir o meio ambiente? ( ) Sim ( ) Não Se sim, como? Você usa matéria prima reciclável (pet, papelão, etc.) em embalagens/folhetos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais? Dados da Capacitação Possui interesse em participar da capacitação? ( ) Sim ( ) Não Possui disponibilidade de tempo para participar da capacitação? ( Quais são suas expectativas com a oficina de capacitação? ) Sim ( ) Não 154 APÊNDICE C Questionário Pesquisa de Mercado sobre Turismo PESQUISA DE MERCADO PERFIL DO TURISTA EM MACACOS PERFIL DE ESTILO DE VIDA 1) Painel: A ( ) Turista Acidental B ( ) Turista Tadicional C ( )Turista Existencial HÁBITOS DE VIAGEM 1) Com que frequência viaja? 1-( ) Menos de um vez ao ano 2-( ) 1 vezes ao ano 3-( ) 2 vezes ao ano 4-( ) 3 ou mais vezes ao ano 2) Com quem viaja habitualmente? (marque mais de uma opção se necessário) 1-( ) Cônjuge e filhos 2-( ) Cônjuge 3-( ) Outros parentes 4-( ) Amigos 5-( ) Sozinho 6-( ) Excursão em grupo 155 3) Onde se hospeda normalmente? (marque mais de uma opção se necessário) 1-( ) Hotel 2-( ) Pousada 3-( ) Casa de amigos e parentes 4-( ) Casa ou apartamento alugado 5-( ) Camping 6-( ) Albergue/Hostel 5-( ) Outros_________________________________________________ 4) Qual meio de transporte utiliza? (marque mais de uma opção se necessário) 1-( ) Automóvel/Carro 2-( ) Motocicleta 3-( ) Ônibus/Van 4-( ) Avião 5-( ) Barco 6-( ) Outro__________________________________________________ 5) Qual a duração da estadia em média? 1-( ) 1 a 3 dias 2-( ) 4 a 7 dias 3-( ) 8 a 11 dias 4-( ) 12 a 15 dias 5-( ) 16 a 21 dias 6-( ) 22 a 30 dias 6) Qual principal motivo da escolha do destino? (marque mais de uma opção se necessário) 1-( ) Beleza natural 2-( ) Cultura local 3-( ) Festas populares 4-( ) Visitar familiares ou amigos 5-( ) Gastronomia 6-( ) História/Artes/Museus 156 7-( ) Diversão/Lazer em geral 8-( ) Descanso 9-( ) Outro__________________________________________________ 7) Turismo para você é sinônimo de: (escolha até 3 opções) 1-( ) Descanso/Tranquilidade 2-( ) Diversão/Entretenimento 3-( ) Beleza natural/Lugares bonitos 4-( ) Cultura 5-( ) Felicidade 6-( ) Aprendizado/Conhecimento 7-( ) Novas experiências/Novas amizades 8-( ) Outro__________________________________________________ HÁBITOS DE CONSUMO DE PRODUTOS 1) Em suas viagens você adquiri produtos artesanais? 1-( ) Sim 2-( ) Não 2) Caso a resposta anterior seja sim, qual tipo de produto você compra? (marque mais de uma opção se necessário) 1-( ) Utilitário (cestas, jogo americano, pano de prato, potes, bandejas) 2-( ) Produtos típicos (compotas, doces, geléias, mel, frutas desidratadas) 3-( ) Lembranças/Souvenir 4-( ) Referência cultural (arte e design) 5-( ) Étnico (produzido por tribos ou grupos tradicionais) 6-( ) Esotérico (mandala, porta incenso, critais) 3) Qual a sua motivação de compra para um produto artesanal? 1-( ) Presentear parentes e amigos 2-( ) Lembrança do local 3-( ) Objeto decorativo 157 4-( ) Objeto de uso ou consumo pessoal 5-( ) Outros_________________________________________________ 4) Caso a resposta anterior seja não, qual o motivo? 1-( ) Não encontrou o produto desejado 2-( ) Baixa qualidade do produto 3-( ) A relação preço/ produto não compatível 4-( ) Produtos pouco inovadores 5-( ) Insatisfação com o atendimento 6-( ) Outro 5) Em Macacos, você já adquiriu algum produto artesanal ou produto típico? 1-( ) Sim 2-( ) Não 6) Caso a resposta anterior seja sim, qual o produto adquirido? PERFIL SOCIOECONÔMICO 1) Sexo: 1-( )Masculino 2-( )Feminino 2) Idade: 1-( ) 18 a 24 anos 2-( ) 25 a 34 anos 3-( ) 35 a 44 anos 4-( ) 45 a 59 anos 5-( ) 60 anos ou mais 3) Estado Civil: 1-( ) Solteiro(a) 2-( ) Casado(a) 3-( ) Separado(a) 4-( ) Viúvo(a) 158 5-( ) Outro 4) Escolaridade: 1-( ) Ensino fundamental 2-( ) Ensino médio 3-( ) Ensino superior 4-( ) Não possui 5) Renda familiar: 1-( ) 1 a 3 Salários mínimos 2-( ) 3 a 5 Salários mínimos 3-( ) 5 a 10 Salários mínimos 4-( )10 a 20 Salários mínimos 5-( ) Mais de 20 Salários mínimos 6) Pertence ao grupo de População economicamente ativa? 1-( ) Sim 2-( ) Não GOSTARIA DE RECEBER O RESULTADO DA PESQUISA? 1-( ) Sim. E-mail: ______________________________________________ 2-( ) Não 159 APÊNDICE D Questionário Briefing para Produtos Típicos BRIEFING PARA PRODUTOS TÍPICOS DADOS DO CLIENTE Nome do produto/marca: Responsável: Telefone comercial/celular: E-mail: DADOS DO PRODUTO 1- Qual o produto deseja desenvolver? 2- Quais são os objetivos com o projeto a ser desenvolvido? 3- Quais são os resultados esperados? 4- Cite as características que melhor definem seu produto. 5- Qual a principal mensagem que você quer comunicar através do produto? 6- O que você não quer transmitir com seu produto? Por quê? 7- Qual é a segmentação de mercado que você já atua ou deseja atuar? 160 8- Qual é o público alvo? Defina e caracterize-o o mais claro possível. (sexo predominante, faixa etária, classe social, hábitos culturais, nível de escolaridade, ocupação) 9- Cite algum produto similar que você considere de sucesso? 10 - Indique e descreva seus concorrentes, caso houver. 11 - Existe preferência por algum material para aplicação no projeto? (papelão, caixa de madeira, embalagem de vidro) 12 - Tem algo (estilo, imagem, música, etc.) em que você quer que o designer se baseie no desenvolvimento do produto? Por quê? 13 - Há alguma observação em relação ao produto para o desenvolvimento do projeto? 14 - Qual é o valor de investimento disponível para o projeto? _________________________________________________ Local e data __________________________________________________ Assinatura do Cliente 161 APÊNDICE E Questionário Avaliação Oficinas de Capacitação QUESTIONÁRIO AVALIAÇÃO FINAL OFICINAS DE CAPACITAÇÃO Nome Completo: Renda familiar: ( )Até 01 salário ( )Entre 1 e 5 ( )Entre 5 e 8 ( )Acima de 8 salários Você é o principal responsável pelo sustento da sua família? ( )Sim ( )Não Quanto da sua renda familiar provem do artesanato? ( ( )Metade ( )Mais da metade ( )Tudo Qual o tempo dedicado ao artesanato? )Nada ( )Menos da metade Possui ajudante ou parceiro de trabalho? ( ) Sim ( )Não Se sim, quantos? Se não, qual o motivo? Faz parte de algum grupo? ( )Sim ( )Não Se sim, qual(ais) o(s) grupo(s)? Há quanto tempo? O que o levou a participar deste grupo? Tipo de grupo: ( ) Familiar ( ) Comunitário ( ) Outro, qual? Caráter do grupo: ( ) Produção ( )Comercialização ( ) Outro, qual? Local de produção: ( )Casa ( )Oficina ou ateliê ( )Cooperativa ( )Associação Quais são os produtos que você desenvolve atualmente? Os produtos desenvolvidos são: ( )Utilitários ( )Decorativos ( ( )Religiosos ( )Lúdicos ( )Conceituais ( )Outro, qual? )Educacionais Quais são suas fontes de inspiração e referência atualmente? Você utiliza resíduos vegetais na produção? ( )Sim Se sim, quais? ( ) Folhas ( )Sementes ( )Troncos ( )Não ( ) Outros, quais? 162 Você usa matéria prima reciclável (pet, papelão, etc.) na produção? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais? Você se preocupa em reaproveitar materiais (sobras da produção)? ( )Sim ( )Não Há preocupação em trabalhar sem agredir o meio ambiente? ( )Sim ( )Não Se sim, como? O produto possui embalagem adequada para transporte? ( )Sim Se não, qual o motivo? ( )Não O produto possui embalagem para presente? ( )Sim ( )Não Qual? (descreva) Voce mudou os principais materiais utilizados nos seus produtos? ( ) Sim ( )Não Se sim, quais foram as principais mudanças? Voce mudou os produtos depois do curso de capacitação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais foram as principais mudanças? Voce mudou as ferramentas, máquinas ou equipamentos utilizados na produção? ( ) Sim ( )Não Se sim, quais foram as principais mudanças? Quantidade de peças produzidas em média por mês: Tempo médio de produção por peça: Gasto médio com matéria-prima por peça: Margem de lucro médio por peça: Onde comercializa os produtos? ( )Feiras fixas ( )Indicação boca a boca ( )Bazares ( )Eventos sazonais ( )Lojas ( )Sob encomenda ( )Outro, qual? Tem dificuldade quanto à comercialização dos produtos? ( )Sim Se sim, qual a dificuldade? ( )Não Quantidade de peças vendidas em média por mês: Considera justo o valor de comercialização do seu produto? ( Se não, por quê? ) Sim ( ) Não Os consumidores percebem o valor agregado pelo design ao seu produto? ( )Sim ( )Não Como você gerenciar a comunicação de seus produtos? Quais são as vantagens e desvantagens que você identifica em seu processo de produção? Quais os serviços que você precisa, a fim de melhorar seu processo de produção nas fases de concepção, produção, distribuição, comunicação? O curso de capacitação correspondeu as suas expectativas? ( Se não, o que deixou a desejar? )Sim ( )Não 163 APÊNDICE F Catálogo Artesania Águas Clara 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203