Volume – 1 Número – 3 Julho de 2007
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Volume – 1 Número – 3 Julho de 2007
CAPA Volume – 1 Número – 3 Julho de 2007 Arquivos de Fisioterapia Editorial O Editor Luís Eva Ferreira Percorrendo algumas velhas relíquias da minha biblioteca deparei-me com o seguinte trecho: “A lei é uma relação matemática. Ela incide , não sobre a natureza das coisas, mas sobre um emaranhado de sinais, de índices e de símbolos que indicam as transformações e a evolução das coisas”. Tal era o entendimento do filosofo Abel Ray, citado por A.D. Sertillanges em “Para Além da Ciência...” (Livraria Tavares Martins -1942), obra coordenada por Luois Broglie (Prémio Nobel da Física em 1929), nos meados do século passado. Vem isto a propósito não de qualquer rebate nostálgico, de uma época que só conheço dos registos históricos, mas sim da corrente de transformações em nos encontramos mergulhados como cidadãos e como profissionais. Reflectir sobre o nosso passado, “voar” sobre o presente para nos determos a conjecturar sobre o futuro é a dinâmica que imprimimos todos os dias á nossa existência. A evolução da nossa profissão é sem dúvida um emaranhado de vivências experiências que têm, continuamente, de ser devidamente organizadas e padronizadas com o objectivo de a tronarmos verdadeiramente cientifica. Vamos, neste número, dar um contributo nesse sentido. O artigo da ”“N” Reflexões” da autoria da colega Isabel Coutinho, que se publica agora, é sem dúvida um importante documento de apelo ao registo histórico e , obviamente, um convite à reflexão sobre a nossa actividade profissional e à nossa actuação diária, num enquadramento onde a legalidade assume um caracter de complemento organizador. Não gostaria de acabar estas linhas sem chamar à atenção sobre um outro aspecto deste nosso 3º número. A transversalidade desta nossa publicação. Assim iniciamos agora a colaboração com o colega Pedro Patrício, Técnico Coordenador de Imagiologia do Hospital da Luz, com a perspectiva de que ele, neste e em futuros artigos, nos mostre “aquilo” que tratamos e também aquilo que normalmente, estando ao alcance das nossas mãos, está inatingível com a nossa visão. A todos uma boa leitura O Editor Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página I Arquivos de Fisioterapia Nota aos Autores e Leitores Como é sabido, pois está na nossa Carta de Intenções, a propriedade dos artigos publicados pela Arquivos de Fisioterapia (AF) permanece dos seus autores. Nesta filosofia de Imprensa de Acesso Livre (permita-se esta “tradução livre” do conceito), os autores concedem à AF ape-nas a autorização para publicar, guardar, distribuir na íntegra ou em parte, os seus artigos. Assim fazemos notar que, ainda que sendo nós uma fonte para a recolha dessas peças, os seus autores, e não só a AF, devem ser sempre contactados quando estiver em causa a utilização das suas matérias, textos, imagens ou outros elementos, Por outro lado, é sabido que a qualidade e utilidade dos artigos se encontra no local, forma e número de vezes que são citados. Nesse intuito está já ao dispor de todos, Autores e Leitores, na nossa página de Internet um formulário de preenchimento on-line, para que possam ser averbadas as informações referentes às citações dos nossos artigos. Assim podemos simultaneamente, enriquecer o curriculum da comunidade, “completar” os temas por nós publicados e fornecer aos leitores artigos relacionados com os assuntos tratados. Por isso pedimos a todos para que nos informem, através da www.afisioterapia.com sempre que no decurso dos vossos trabalhos citem os artigos da AF. Só assim podemos construir bases sólidas e credíveis de conhecimento. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página II Arquivos de Fisioterapia Ficha Técnica Director: Luís Eva Ferreira Editor: Luís Eva Ferreira Editores Adjuntos: João Brites de Sousa Paulo Gaspar Acessoria de Edição: SFC - Consultores Colaboradores: Fátima Belo; Lúcia Pedrosa; José Mata; Marta Freitas; Ana Ferreira; Paulo Geraldo; Manuela Nogueira; Susana Simão; Luís C. Pereira; Leonor Madureira; Ana Santos Francisco; Elsa Silva, Isabel Coutinho. Capa: Fotografia - Lúcia Pedrosa Endereços: Rua Prof. Fernando Gonçalves da Silva, nº 3, 2300-398 Tomar www.afisioterapia.com [email protected] [email protected] Tiragem 1000 exemplares Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página III Arquivos de Fisioterapia Páginas Editorial I Nota aos Autores e Leitores II Ficha Técnica III Índice 1 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um doente com Doença de 2 - 16 Meniére. Estudo de Caso Dias, S. ; Luzio, C. ; Garcia, V. Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura 17 - 24 Publirreportagem Terapia com Ondas de Choque 25 - 28 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva 29 - 34 Pires, C.; Fernandes, J.; Alves. M. C.; Sousa, V.; Coutinho, I.; Fernandes,B.; Carolino, E. Palma, E. - Sorisa Ribeiro, F. Arthritics Impact Measurement Scales 2 - short version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal 35 - 43 Sousa, A.; Silva, C.; Clemente, C.;Coutinho, I.; Carolino, E.; Fonseca, J.. Imagiologia na Fisioterapia Patrício, P. 44 - 47 “N”- Reflexões O Exercício em Fisioterapia - Padrões de 48 - 53 Prática Coutinho, M. I. Índice de Anunciantes Arquivos de Fisioterapia 54 Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 1 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso Dias, S. ; Luzio, C. ; Garcia, V. Autores RESUMO Introdução: A Doença de Meniére caracteriza-se pela associação de - Dias, Sílvia Fisioterapeuta uma tríade de sintomas: crises de vertigem, acufenos e surdez. A - Luzio, Cristina Fisioterapeuta EQUI - Clinica da Vertigem e Desequilibrio – Hospital Particular minucioso e um plano de tratamento orientado para a resolução dos - Garcia, Vaz Médico ORL EQUI - Clinica da Vertigem e Desequilibrio – Hospital Particular Meniére e apresentar um modelo de intervenção possível. abordagem a este caso englobou um processo de avaliação problemas revelados pelo utente. Objectivo: Com a elaboração deste estudo de caso, propuséssemo-nos contribuir para um maior conhecimento desta área da Fisioterapia, documentar a Doença de Descrição do Caso: O quadro patológico iniciou-se há cerca de 2 anos, com o aparecimento de acufenos unilaterais à direita. Até ao momento da avaliação, a utente tinha sofrido 2 crises de vertigem, apresentando como principais problemas: diminuição da independência funcional, nistagmo espontâneo de grau II direito, oscilopsia (3/10 EVA), acufenos unilaterais à direita, hipoacúsia ligeira à direita e laterodesvio direito na marcha. Resultados: Após o período em estudo, com excepção do nistagmo patológico, registamos uma regressão de todos os sintomas. Conclusão: Podese considerar que os resultados obtidos neste caso foram bastante satisfatórios, suportando o modelo de intervenção proposto. Novos estudos são no entanto necessários de forma a documentar o trabalho desenvolvido e a relevância da Fisioterapia na reabilitação vestibular. Palavras Chave: Reabilitação vestibular, Doença de Meniére, défice vestibular unilateral periférico Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 2 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso e/ou desequilíbrio (Garcia, 2000). Introdução A Doença de Meniére (DM) é uma A hipoacúsia na DM é do tipo flutuante, disfunção do ouvido interno que pode causar atingindo preferencialmente as frequências sintomas vestibulares graves e afecta inicialmente apenas um ouvido, devastadores. Distribui-se de forma igual por embora possa evoluir para uma situação ambos os sexos e inicia-se, geralmente entre a bilateral (Garcia, 2000). auditivos e quarta e a sexta década de vida. Em 15% dos Os acufenos, outro dos sintomas típicos casos existe história familiar coincidente, o que da DM, estão presentes do mesmo lado que a leva a sugerir a importância dos factores hipoacúsia, podendo ter timbres variados. genéticos (Herdman, 2000). Muitas A pesar de existirem casos de DM onde vezes o doente apercebe-se da proximidade de uma crise de vertigens pela se apuram relações causais com otites modificação da crónicas, otosclerose, traumatismos cranianos (Garcia, 2000). tonalidade dos acufenos ou sífilis, nomeando-se assim Síndrome de Com a progressão da doença a Meniére (Grupo de estudos da vertigem, hipoacúsia vai-se agravando, enquanto as 1997), esta patologia, é essencialmente de crises de vertigem vão sendo cada vez mais causa pela raras. Ao fim de um período variável de tempo, associação de uma tríade de sintomas: crises com o evoluir da patologia, pode mesmo de vertigens, acufenos e surdez. acontecer a abolição total da audição, ao Não é vulgar a simultaneidade do início de mesmo tempo que as vertigens podem deixar todos os sintomas, sendo as vertigens e os de se manifestar por completo. idiopática, e caracteriza-se Na origem dos sintomas descritos está acufenos que normalmente inauguram o quadro (Garcia, 2000). uma desregulação da endolinfa – hidropsia As vertigens aparecem por crises e endolinfática – que resulta de uma má são, tipicamente, rotatórias, intensas e com absorção da mesma no ducto e no saco uma duração que oscila entre 20 minutos e endolinfático. Desconhece, no entanto, se esta um dia, ou mesmo dois. Acompanham-se de condição é a causa ou apenas uma alteração manifestações vagais como náuseas, vómitos, fisiopatológica observada na doença (Herdman, palidez e sudorese, sendo habitualmente 2000). agravados com os movimentos da cabeça. Em crises muito intensas o simples movimento ocular pode desencadear a sensação de vertigem. Objectivos Os objectivos principais deste estudo de caso são contribuir para o desenvolvimento de Quanto à duração, é frequente o doente uma área recente da Fisioterapia, documentar ter vertigens durante um dia inteiro, que uma patologia vestibular muito incapacitante e desaparecem ou se atenuam após o sono, apresentar um modelo de intervenção possível, podendo no entanto permanecer instabilidade apoiado no raciocínio clínico e na evidência Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 3 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso científica disponível actualmente. na reavaliação. No exame objectivo utilizaram-se como instrumentos de medida: o registo em vídeo Materiais e Método Antes de se iniciar a intervenção, é essencial que o Fisioterapeuta obtenha para a pesquisa de nistagmo; a (PDC), que permite avaliar informações referentes ao diagnóstico médico visualizando e somatosensoriais, exames ontológicos e vestibulares o a estabilidade contributo das visuais postural, aferências e vestibulares à (Beninato & Krebs, 2000); a prova de Fukuda, Posturografia Dinâmica Computorizada (PDC), realizada na plataforma STATITESTTM que realizados em laboratório, e que só depois possibilita o registo gráfico, de forma a avaliar proceda a uma anamnese detalhada. o (videonistagmografia e audiograma) e Ao contrário do diagnóstico médico que movimento auto-iniciado da marcha (Herdman, 2000); a avaliação de vários tenta identificar uma doença em particular, o componentes diagnóstico da observação e registo; e a avaliação da constelação de sinais e sintomas na direcção influência das informações vestibulares sobre o dos quais a intervenção será orientada controlo postural, testada através do teste (Herdman, 2000). Uma descrição completa clínico modificado da interacção sensorial no dos sintomas do utente, incluindo a sua equilíbrio (TCISE). em Fisioterapia parte da marcha através da natureza e qualidade temporal, bem como as Tendo em conta a avaliação realizada e limitações funcionais que daí advêm, deverão os problemas revelados pela utente, o modelo ser documentadas. Para tal, é de suma de intervenção centrou-se na reeducação importância a realização de um exame vestibular, visando a reabilitação do equilíbrio e subjectivo minucioso, que engloba questões o alívio das vertigens e nistagmo causados por que habitualmente não constam na anamnese patologia vestibular (Garcia, 2004). da avaliação fisioterapêutica tradicional. Tendo sempre como objectivo Na abordagem a este caso foi utilizado promover a compensação vestibular, podem o DHI (Dizziness Handicap Inventory), a ser vários os mecanismos envolvidos na consistência interna, a fidedignidade e a recuperação da função após a perda vestibular validade deste instrumento de medida já foi unilateral, definida por vários estudos e o DIH tem sido celular, utilizado para medir a eficácia da reabilitação adaptação vestibular, a substituição e a vestibular (Benzinho & Luzio, 2004). habituação (Herdman, 2004) . Durante o exame subjectivo foi também nomeadamente: a recuperação a recuperação espontânea, a A abordagem de tratamento deste caso utilizada a Escala Visual Análoga (EVA) para específico aferir o grau de intensidade das vertigens adaptação e na substituição. Entende-se por durante as crises e da oscilopsia, servindo adaptação vestibular as mudanças a longo também para perceber a evolução da utente prazo que ocorrem na resposta do sistema Arquivos de Fisioterapia centrou-se essencialmente Volume 1, nº3, Ano 2007, Página na 4 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso vestibular a uma informação, durante o intervenção, principalmente na forma de desenvolvimento e amadurecimento ou após incentivos e encorajamento para que a utente uma doença ou lesão. Existem evidências de saí-se sozinha à rua, de forma a estar exposta que o sistema vestibular pode ser alterado a diferentes estímulos. após perda unilateral vestibular, principalmente De uma forma geral a abordagem do no que respeita ao ganho do reflexo vestíbulo- Fisioterapeuta deverá ser orientada para a ocular (RVO) (Herdman, 2004). resolução dos problemas encontrados na Neste caso específico, utilizou-se a avaliação do utente. cadeira rotatória visando a estabilização do Deste modo, apesar de não ser olhar e a consequente anulação do nistagmo possível, patológico. Fisioterapia, evitar as crises de vertigem típicas Quando o sistema vestibular periférico se lesiona da intervenção da da Doença de Meniére, devido à natureza a actividade flutuante do processo mórbido em si, a vestibular ipsilateral intervenção do Fisioterapeuta deverá ser encontra-se reduzida em comparação com o dirigida aos sinais e sintomas que o utente núcleo vestibular contralateral. manifesta no período intercrises e que são neuronal unilateralmente, através do núcleo Consequentemente, o cérebro vai passíveis de ser alterados tais como a interpretar esta assimetria de informações oscilopsia, o nistagmo espontâneo e os desvios como se se trata-se de um movimento de laterais na marcha. rotação cefálico para o lado oposto à É também de extrema importância lesão(Schubert & Minor, 2004). Que se traduz, incluir no plano de tratamento a educação para o paciente, numa sensação de vertigem. sobre a modificação ambiental que o utente vai É deste modo que surge o nistagmo sofrer durante o resto da sua vida e sobre as patológico, com o componente rápido a bater medidas de segurança. Através da intervenção para da Fisioterapia o utente irá aprender exercícios o lado contralesional. O nistagmo patológico aparece porque o cérebro recebe úteis e perceber que comportamentos informações de que um movimento cefálico poderão auxiliar ou atrasar a recuperação pós- está a ocorrer, estimulando o RVO para crise. conseguir a estabilização da visão, o que As crises podem surgir várias vezes por resulta em movimentos oculares rítmicos e ano, durante um largo período da vida do involuntários utente, sendo por isso de suma importância A substituição com que aprenda a reconhecer os sinais que aferências indicam a sua proximidade, que se familiarize proprioceptivas, visuais e exteroceptivas com o com os sintomas desencadeados durante a objectivo de se recuperar os padrões motores crise e que adopte medidas de segurança, tais normais (R. GIL et al, 1991). Este mecanismo como de compensação foi bastante solicitado nesta elucidativo abordagens que consegue-se solicitem Arquivos de Fisioterapia as transportar da consigo patologia um e das cartão suas Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 5 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso características, sentar-se de imediato no chão, patológico e a clarificação do diagnóstico na presença de uma crise e pedir que chamem serem uma ambulância, se necessário. características comunicativas e participativas O tratamento, após uma crise de vertigens, deve ser iniciado o mais cedo relativamente recentes e pelas da utente, sugestivas de poderem facilitar a recolha dos dados necessários. possível, uma vez que quando a experiência A utente, M.F.P., de 63 anos, género visuo-motora é impedida no período inicial de feminino, doméstica e residente em Lisboa, uma perda vestibular unilateral, ocorre um num 5º andar com elevador, deslocava-se para atraso na recuperação (Herdman, 2000). os tratamentos de Fisioterapia de metro ou de Os exercícios de reabilitação podem ser carro sempre acompanhada pelo marido. praticados por períodos curtos de tempo, Tinha como passatempos fazer croché, ver conseguindo-se televisão e passear, actividades que no ainda assim produzir alterações no ganho do RVO (Herdman, 2000). momento eram afectadas pela patologia. É importante explicar ao utente que os O quadro patológico teve inicio há cerca exercícios irão desencadear os sintomas, de 2 anos, altura em que a utente relata o porque envolvem os movimentos cefálicos que aparecimento de acufenos no ouvido direito, muitas tendo sido por isso medicada com Vastarel e vezes o utente limita inconscientemente, mas que é imprescindível a procedido sua realização no processo de reabilitação diagnóstico que resultaram inconclusivos. Em vestibular. Dezembro de 2003 a utente sofreu a primeira Apesar de ser um tipo de tratamento à realização de exames de crise com vertigens rotatórias, intensas, desconfortável e muitas vezes difícil para o acompanhadas utente, a reabilitação vestibular é hoje aceite (naúseas e vómitos), enquanto estava no como tratamento aeroporto, tendo-se deslocado de imediato apropriada e valiosa para os pacientes com para casa onde permaneceu deitada. No dia hipofunção vestibular (Herdman, 2000). seguinte, quando acordou, a utente sentia-se uma abordagem de de manifestações vagais bastante melhor, apesar de ainda persistirem Descrição do Sujeito A intervenção que deu origem ao vertigens de intensidade francamente menor (réplicas). Em Fevereiro de 2004 a crise repetiu- presente estudo de caso foi efectuada na clínica da Vertigem e Desequilíbrio – Equi, se, sedeada no Hospital Particular de Lisboa, no primeira, pelo que a paciente se dirigiu às período de 14 de Maio a 3 de Junho de 2004. urgências do Hospital Particular de Lisboa, A utente em estudo foi seleccionada onde com foi características consultada semelhantes por um à médico principalmente pela sua patologia: Doença de neurologista que a medicou com Betaserc Meniére unilateral à direita. Foi também (vestibulo-depressor). Passados alguns dias critério de escolha, o facto do início do quadro voltou a ser consultada, desta vez por um Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 6 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso médico otorrinolaringologista que pediu a vestibulares, realização de um audiograma, de um VNG e de distensão dos órgãos otolíticos que pode uma PDC. Foi-lhe afectar suspendido o Vastarel e encaminhada para reabilitação vestibular. Não fisicamente resultar a de crista uma ampular (Herdman, 2000). são conhecidos casos semelhantes na sua família. parecem Em relação aos sintomas vestibulares a utente revelou oscilopsia, descrevendo-a como Apesar desta patologia comportar uma “Parece que vejo mal as pessoas” e vertente psico-social muito grande, a utente classificando-a com um 3/10 na EVA. Este revela-se uma pessoa optimista. No entanto, sintoma deve-se ao défice do RVO, que resulta com o decorrer da anamnese e posteriores no nistagmo espontâneo, levando à sensação intervenções, chegou-se à conclusão que o subjectiva descrita. optimismo da utente se devia principalmente A paciente referiu não sentir ao não reconhecimento das repercussões que desequilíbrios, mas na PDC a performance de a DM poderia ter na sua vida a longo prazo. olhos As expectativas da utente em relação fechados, (quando o numa sistema superfície vestibular instável é mais ao tratamento da Fisioterapia e à evolução da requisitado na função do equilíbrio), revelou sua condição são, segundo palavras da própria: alguma instabilidade. Descreve também um “Melhorar, voltar a fazer a minha vida. laterodesvio Conseguir sair sozinha sem ter medo de cair.” provavelmente se deve ao comprometimento do reflexo direito na vestíbulo-espinhal marcha, (RVE), que mais acentuado quando se desloca na rua sem Exame Durante a avaliação subjectiva a utente referiu acufenos unilaterais à direita, acompanhante. O facto deste sintoma ser mais intenso fora de casa deve-se à exposição a persistentes e mais intensos durante a noite, estímulos facto que se deve à diminuição dos ruídos agressivos sensoriais do que diferentes e em casa. sua mais externos durante esta parte do dia, dando a Simultaneamente, a apreensão em sensação errónea do aumento de intensidade relação ao que as outras pessoas poderão dos pensar ao observarem a sua deambulação, é acufenos. Referiu também pressão auricular no ouvido esquerdo e hipoacúsia ligeira no ouvido direito, pelo que utilizava uma só por si um factor limitante. Estes factores levam a utente a evitar cocleares sair de casa sozinha, atrasando a sua bastante recuperação – uma vez que diminui os vulgares na DM e pensa-se que resultam de estímulos a que o aparelho vestibular e todas um mecanismo físico da patologia que leva à as aferências responsáveis pelo controlo do obliteração do ducto coclear (Herdman, 2000), equilíbrio, estão expostos – e aumentado o provocando à manifestação dos sintomas risco de descondicionamento físico e de descritos. isolamento. Este tipo de alterações, quando prótese auditiva. apresentados Por Os pela seu Arquivos de Fisioterapia sintomas utente lado são os sintomas Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 7 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso a propriamente dita. O software deste modelo consequências físicas e psico-sociais bastante também possibilita a realização da prova de graves. Fukuda e o seu registo gráfico. não são As contornadas, vertigens podem levar apareceram apenas durante as duas crises que a utente sofreu até ao momento, sendo do tipo rotatório e muito intensas (10/10 EVA). Pensa-se que as vertigens resultam de um desequilíbrio funcional entre os dois labirintos (Thai-van et al, 2000). Como componente da anamnese foram colocadas várias questões à utente de forma a completar o DHI, que foi preenchido pelo Para a realização da pesquisa de nistagmo, tanto do espontâneo e do olhar descentrado como para o Head Shaking Test (HST), utilizaram-se óculos fechados ligados a um circuito de vídeo, de forma a permitir a observação e registo em vídeo dos movimento oculares, ao mesmo tempo que se anula a possibilidade do utente estabilizar a visão através da fixação ocular. Fisioterapeuta. Após a análise do inventário A pesquisa do nistagmo é um chegaram-se aos seguintes valores: 9/28 no procedimento muito importante na avaliação factor físico, 20/36 no factor funcional e de um utente com estas características uma 13/36 no factor emocional. Concluindo-se que vez que a sua presença na ausência de fixação para a utente, a componente que se encontra visual, combinada com a ausência de nistagmo mais limitada pela patologia é a que diz na presença de fixação visual configura uma respeito aos factores funcionais. evidência definitiva de que existe uma lesão Com a realização do exame objectivo pretende-se confirmar hipóteses que se colocaram aquando da análise dos testes vestibular periférica, no lado oposto ao da batida da fase rápida do nistagmo (Herdman, 2000). laboratoriais e da realização da anamnese. Na sequência da pesquisa do nistagmo plataforma espontâneo e do olhar descentrado a utente STATITESTTM permite avaliar a estabilidade manifestou um nistagmo de grau II, com postural, das batidas direitas no olhar em frente e para a e direita, correspondendo este sinal ao recovery vestibulares, para a manutenção do equilíbrio, nistagmo, que indica que existe já uma através de seis condições de teste, que são recuperação da função vestibular periférica repetidos três vezes cada, nomeadamente: o que não está a ser acompanhada pelo plano fixo com os olhos abertos (OA) e com os mecanismo de adaptação central (Herdman, olhos fechados (OF); a plataforma de Bessou 2000). A aferências PDC realizada visualizando o na contributo somatosensoriais, visuais (plano instável) com os OA e com os OF; a prova impulsional com os OA e os OF. No caso especifico desta utente a PDC já tinha sido realizada quando Arquivos de Fisioterapia iniciou a Fisioterapia O HST é um teste bastante vantajoso no diagnóstico de indivíduos com assimetria dos inputs periféricos vestibulares para as regiões Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 8 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso vestibulares a nível central. No caso desta em todos os sentidos, mas a sua resposta utente o HST foi positivo com batidas para a pode ser considerada dentro da normalidade. direita, ou seja, para o lado do ouvido com Com a recolha dos dados objectivos sobre a patologia. Este resultado deve-se igualmente à condição da utente e após a sua confrontação presença do recovery nistagmo. com os dados subjectivos, torna-se possível, Foi também realizada a prova de Fukuda através do raciocínio clínico, a descrição dos registando-se uma rotação exagerada para o problemas da utente e a sua provável evolução. lado direito, o lado lesionado, tal como seria de esperar. Esta prova foi realizada em todos os dias de tratamento, antes e após Avaliação, Diagnóstico e Prognóstico Após a a avaliação e análise da intervenção, para perceber se os exercícios informação recolhida foi possível confirmar que efectuados estimulavam o sistema vestibular a utente apresentava um défice vestibular de forma adequada. periférico unilateral do lado direito, que se deve A avaliação da marcha foi realizada com à DM diagnosticada previamente. Foi possível o objectivo de clarificar de que forma o verificar que o défice periférico sugeria no laterodesvio a momento alguma recuperação que não estava anamnese, poderia interferir na deambulação a ser acompanhada pela adaptação a nível da utente. Procedeu-se à sua avaliação em central, apresentado a utente um recovery várias situações, não se tendo observado nistagmo. direito, relatado durante Na sequência da análise de todos os desequilíbrios relevantes nem laterodesvios. Este resultado, apesar de satisfatório parâmetros da disfunção identificaram-se as não se pode considerar absolutamente fiável, seguintes limitações funcionais: uma vez que o caminhar na rua é uma • Incapacidade para sair de casa sozinha. experiência completamente diferente do que • Incapacidade para deambular no exterior na clínica, onde os estímulos são diferentes e o Fisioterapeuta está ao lado da utente dando-lhe mais segurança. sem sensação subjectiva de laterodesvio. • Incapacidade para realizar tarefas que impliquem fixação ocular. O TCISE deve ser incluído na avaliação Tendo em conta as limitações da Fisioterapia, se o paciente apresentar funcionais citadas foi possível identificar os instabilidade sob estas condições o plano de problemas primários, que se tratamento deverá projectado para melhorar a hierarquizados de acordo com o seu grau de função do sistema vestibular remanescente incapacidade para a utente: (Herdman, 2000). Deste modo, pediu-se à utente que • encontram Diminuição da independência funcional devido ao receio de sair de casa permanecesse de pé, sob um trampolim, de sozinha, olhos fechados. Registou-se a manifestação de ocorrência de uma nova crise e pelo alguma dificuldade, com algumas oscilações laterodesvio direito que apresenta na Arquivos de Fisioterapia pela possibilidade Volume 1, nº3, Ano 2007, Página de 9 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso marcha levando a um grande receio de • sofrer quedas. • Quadro patológico recente. Nistagmo espôntaneo de grau II com • Idade não muito avançada. fase rápida para a direita (recovery • Personalidade nistagmo) devido à adaptação vestibular central que se seguiu à hiporreflexia vestibular unilateral decorrente da crise de vertigens. • manifestam pela obliteração do ducto coclear típico desta patologia. muito motivada. • Suporte familiar e económico favorável. Por outro lado, existem outros factores que • Possibilidade de ocorrência de uma • Diminuição dos estímulos sensoriais a que a utente está exposta, por diminuição das actividades. Os Laterodesvio ligeiro na marcha para a direita devido a uma disfunção do RVE. • e nova crise a qualquer momento. Acufenos persistentes à direita, do “tipo zumbido”, que provavelmente se • optimista podem condicionar o sucesso da intervenção: Oscilopsia (3/10 EVA) devido a um RVO inapropriado. • nomeadamente: objectivos do tratamento são delineados de forma a dar resposta aos problemas primários encontrados, a evitar que Hipoacúsia ligeira à direita, pela mesma os problemas potenciais se tornem problemas razão primários, a contornar as possíveis barreiras e apresentada para a manifestação dos acufenos. a optimizar os factores facilitadores. Existem também alguns problemas potenciais que no prazo serão o ensino da utente de forma a manifestavam, mas que necessitam de ser permitir-lhe: prever a proximidade de uma prevenidos crise; minimizar as consequências de uma evitar que não Desta forma, os objectivos a longo se para momento se tornem problemas primários: • • Risco de recidiva desenvolver patologia • centrais potencializar de os recuperação mecanismos vestibular. depressiva ou ansiosa pela componente Conseguindo-se emocional e social que a DM comporta. qualidade de vida, mesmo com a convivência Risco de isolamento social pela evicção com a patologia. de sair à rua. • e desta forma uma maior No que respeita aos objectivos a curto desenvolver prazo, o que se irá tentar com o plano de descondicionamento físico devido à tratamento é: aumentar a independência diminuição das actividades. funcional da utente, encorajando-a a sair de Risco de sofrer algum tipo de lesão por casa e contornando os seus receios através do desconhecimento de como reagir na ensino; diminuir a oscilopsia de 3 para 0 na eminência de um nova crise. EVA; anular o nistagmo espontâneo e de olhar Risco de Existem também alguns factores que podem descentrado. Em relação aos acufenos e à ser facilitadores do processo de recuperação, hipoacúsia Arquivos de Fisioterapia apresentada pela utente, Volume 1, nº3, Ano 2007, Página a 10 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso Fisioterapia não possui competências que nos a uma regressão total dos sintomas. Deste permitam actuar a esse nível. modo, o objectivo principal será aumentar a É de suma importância que se esclareça o utente com DM que apesar de ter indicação para reabilitação vestibular, por manifestar sintomatologia no período qualidade de vida do utente no período intercrises e prepará-lo para uma nova crise. A utente em estudo neste trabalho realizava 2 tratamentos de reabilitação intercrises, nos casos em que as crises vestibular por semana, de duração média de ocorrem o 30 minutos cada um, durante 3 semanas. Ao prognóstico é bastante reservado. Neste caso, fim dos 6 tratamentos procedeu-se a uma a utente, até ao momento só experimentou 2 reavaliação e a utente foi de novo consultada crises espaçadas de 2 meses, pelo que se pelo otorrinolaringologista. mais do que mensalmente pode esperar uma regressão dos sintomas significativa. No caso de um défice vestibular de instalação súbita é prioritário estabilizar a visão, de preferência através de cadeira rotatória (Beninato & Krebs, 2000). Este Intervenção A primeira sessão de Fisioterapia instrumento vai possibilitar o uso de realizou-se dia 14 de Maio de 2004, a utente movimentos giratórios, com o objectivo de parecia bem disposta, um pouco apreensiva, estimular os diferentes canais semicirculares mas muito comunicativa. sensíveis à aceleração angular, no sentido de O tratamento da DM usualmente inclui orientações dietéticas, fisioterapia, apoio favorecer a instalação da compensação de forma a obter uma resposta equilibrada dos dois labirintos (R. Gil et al, 1991). psicológico e farmacoterapia (Thai-Van et Neste caso específico, a utente em al, 2000). da estudo apresentava um recovery nistagmo, Fisioterapia, nestes casos reportamo-nos a com batidas direitas. No entanto o que se deve uma das suas áreas, a reabilitação vestibular. valorizar é o défice em si, em conjunto com as Em relação à intervenção Os exercícios vestibulares destinam-se suas manifestações harmoniosas e não a a desencadear a compensação central e a localização indirecta que nos é dada por um treinar os doentes com vertigens para o indicador isolado, como é o caso. vestibulo- Deste oculomotor e vestibulo-espinhal (Grupo de presença de estudos da vertigem, 1997). pretende estimular é um nistagmo pós- reajustamento dos reflexos modo, como estamos na um défice direito, o que se A nível geral, a recuperação das lesões rotatório contrário ao nistagmo patológico que vestibulares unilaterais é satisfatória e os este tipo de défice origina, ou seja um pacientes devem esperar um retorno às nistagmo com batidas para a direita. actividades normais. No entanto, no caso da Como o nistagmo pós-rotatório se dá no DM, a incidência de uma nova crise pode levar sentido oposto à rotação, a rotação imprimida Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 11 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso teria que ser para a esquerda de modo a se para “reequilibrar os dois ouvidos” mas que as conseguir atingir os objectivos propostos. crises se iriam manter. Explicou-se também Assim, com o utente de olhos fechados, que na proximidade de uma crise os acufenos imprimia-se uma rotação para a esquerda na mudam de tonalidade ou aumentam de cadeira completava intensidade e que seria importante estar aproximadamente 6 voltas, após o que era atenta e não ignorar estes sinais. Elucidou-se a parada repentinamente, repetindo-se este utente sobre o que fazer durante uma crise, tal procedimento por várias vezes, dependendo da como já foi explicado acima neste texto. rotatória que tolerância da utente. Na primeira sessão Reforçou-se todos os dias que pode e apenas se realizaram 3 repetições porque a deve sair à rua, continuar a desempenhar as manifestação das vertigens e os sintomas de funções origem vagal foram muito severos, mas nas exceptuando situações de risco, não há nada sessões seguintes foi possível repetir o que tenha que deixar de fazer. anteriores às crises e que, procedimento por 10 vezes, inicialmente mais O programa para realizar em casa, espaçadas e no final de uma forma mais neste caso específico, consistia apenas em contínua. sair de casa sozinha e dia após dias superar as Um outro factor que se deve mensurar suas limitações. No início a utente mostrou-se é o tempo que o nistagmo pós-rotatório leva a um pouco reticente, mas após algum cessar desde que se pára a rotação da encorajamento começou a ganhar confiança, cadeira. Inicialmente, nas primeiras duas até já não ter qualquer receio de se deslocar sessões, a utente levava cerca de 20 segundos sozinha na rua. até esta manifestação cessar, no entanto, nos últimos tratamentos o tempo diminui para Reavaliação cerca de 10 segundos, o que revela uma Devido à curta duração do tratamento evolução positiva, uma vez que se trata de um desta paciente, apenas se realizou uma valor que, em média, é registado em indivíduos reavaliação sem patologia. tratamento. No entanto, procedeu-se à prova completa, no último dia de Uma outra abordagem utilizada nesta de Fukuda em todas as sessões, antes e após intervenção foi o ensino centrado na patologia a intervenção, para se aferir se a estimulação e nas suas consequências. Desta forma vestibular estava a ser efectiva. explicou-se à utente o carácter periódico da Na reavaliação que foi levada a cabo no DM e o porquê dos seus sintomas. Tentou-se dia 31 de Maio de 2004, a utente apresentou, clarificar o facto de que a patologia a iria na prova de Fukuda, uma ligeira rotação para a acompanhar durante toda a vida, mas que direita. Realizou-se também a pesquisa do existiam nistagmo, que revelou a manutenção do comportamentos que permitiam “contornar” alguns aspectos da doença. Explicou-se que a Fisioterapia servia Arquivos de Fisioterapia nistagmo patológico de grau II. A execução do HST revelou-se negativa e com uma oscilopsia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 12 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso que a utente classificou como 0/10 na EVA. Repetiu-se uma vez mais diagnóstico médico e neste caso específico, o apesar do diagnóstico médico se traduzir na procedimento, de forma a preencher o DHI do DM, para a intervenção da Fisioterapia, o qual se obteve os seguintes valores: 2/28 no diagnóstico relevante foi o défice vestibular factor físico, 0/36 no factor funcional e 0/36 periférico unilateral à direita, pobremente no factor emocional. compensado a nível central. Em relação à avaliação subjectiva a Deste modo, a principal preocupação foi utente, referiu que as suas expectativas foram perceber, quais os problemas primários da plenamente atingidas, uma vez que nos últimos utente e se a intervenção da Fisioterapia dois tratamentos se sentiu completamente poderia contribuir para a sua melhoria. recuperada. Registou-se também um maior Após uma avaliação minuciosa chegou- cuidado da paciente com o seu aspecto físico, se à conclusão que, de acordo com o o que denota uma melhoria referente aos conhecimento actual, se poderia interferir ao aspectos emocionais e psíquicos. nível dos seguintes problemas: nistagmo Após a análise dos dados referentes à reavaliação, a opinião, por parte patológico, oscilopsia, laterodesvio na marcha da e, de uma forma geral, no aumento da Fisioterapia, foi de que a utente deveria independência funcional da utente e do seu continuar os tratamentos, uma vez que, a nível de conhecimento sobre a patologia. presença do nistagmo de grau II e da rotação O plano de intervenção foi construído direita na prova de Fukuda, eram sugestivas de com o objectivo prioritário de estabilizar a uma compensação central do défice periférico visão, por isso se recorreu à cadeira rotatória. ainda não completa, representado este o único Quando este objectivo é atingido, e nos casos factor objectivos em que existe um comprometimento do RVE, a terapêuticos que nos tínhamos proposto intervenção progride para o objectivo de se atingir. conseguir de incumprimento dos a estabilização do corpo, procedendo-se então à realização de exercícios sobre o trampolim, a bola de ginástica, a Discussão A reabilitação vestibular na Doença de Meniére, é uma questão que levanta, actualmente, alguma controvérsia. Existem esponja ou a plataforma de Friedman (Garcia, 2004). Os resultados conseguidos podem-se autores (Herdman, 2000) que não são a favor considerar bastante satisfatórios. Com deste tipo de intervenção, uma vez que a DM é excepção do nistagmo patológico, todos os episódica e os exercícios vestibulares são sintomas e sinais regrediram ao fim de 6 projectados para induzir mudanças a longo sessões de tratamento e as expectativas da prazo no sistema vestibular. utente atingiram-se plenamente. Por outro lado, o diagnóstico da Apesar de não se terem encontrados Fisioterapia não equivale necessariamente ao estudos que abordassem, especificamente, os Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 13 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso efeitos da reabilitação vestibular na DM, sabe- se pensa ser pertinente, uma vez que aborda a se que a recuperação das lesões vestibulares intervenção da Fisioterapia numa patologia unilaterais é geralmente satisfatória e os complexa, à luz de uma área recente, a pacientes devem esperar um retorno às reabilitação vestibular. actividades normais (Herdman, 2000). É pois nosso propósito contribuir para a Existem vários factores que podem evolução de uma disciplina onde a Fisioterapia, comprometer o sucesso da recuperação, tais já com indicadores de crescimento, tem, a como: a limitação dos movimentos cefálicos ou nosso ver, um papel importante. das informações visuais, o uso prolongado de Com o avanço das novas tecnologias, os medicação vestibulo-depressora, a presença meios de diagnóstico disponíveis são cada vez simultânea de outra disfunção que envolva o mais e melhores, permitindo diagnósticos mais sistema nervoso central ou periférico, ou a precisos e pormenorizados, que requerem, por idade avançada do paciente (Herdman, 2000). outro lado, novas abordagens terapêuticas que É importante que o Fisioterapeuta tenha possibilitem encontrar respostas para os conhecimento destes factores, de forma a diversos problemas. Por outro lado, como é do contornar aqueles que são manipuláveis, conhecimento geral, nos últimos anos, a aumentado assim a probabilidade de sucesso população tem envelhecido significativamente, da sua intervenção. mantendo-se esta tendência nos próximos O ensino da utente foi um dos factores anos. À medida que o Ser Humano envelhece, que mais contribuiu para os resultados finais, ocorrem mudanças nos sistemas vestibular, uma vez que tendo passado a conhecer as visual e somatossensorial, verificando-se uma características da DM e os comportamentos redução da capacidade adaptativa do sistema que deveria adoptar para acelerar a sua vestibular (Herdman, 2000). Deste modo, a recuperação, aumentou a sua auto confiança intervenção com o objectivo de estimular os permitindo-lhe a execução de tarefas diárias de mecanismos de compensação inatos, numa forma autónoma, que contribuiu de forma perspectiva do aumento da qualidade de vida, definitiva para a diminuição/regressão dos será cada vez mais solicitada. sintomas. Deste modo, pensa-se ser de suma importância, a elaboração de novos estudos Conclusões Do ponto de vista terapêutico, pode-se que documentem a intervenção da Fisioterapia nas várias patologias vestibular vestibulares. concluir que foram alcançados os objectivos reabilitação propostos. A intervenção em Fisioterapia adaptados contribuiu de forma definitiva para uma maior individualizando-se os exercícios para cada qualidade de vida da utente paciente (Garcia, 2004). a cada requer A tipo de protocolos patologia, A elaboração do presente estudo de Numa perspectiva de evolução desta caso constituiu um trabalho interessante, que área específica, torna-se determinante neste Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 14 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso momento, a construção de trabalhos que e Luzio, 2004) apresentem aos nossos pares e a outros Prova de Fukuda – Prova em que o utente profissionais de saúde, os resultados que a marca passo, no mesmo local, com os olhos intervenção em Fisioterapia pode conseguir em fechados durante 1 minuto. Nas lesões patologias com sintomas muito incapacitantes, periféricas o utente tende a rodar sobre si conseguindo-se, em muitos casos, um aumento próprio na direcção da lesão. considerável da qualidade de vida do utente. RVE – Reflexo que gera um movimento corporal de compensação com o objectivo de Glossário manter a estabilidade cefálica e postural Acufenos – Zumbidos apenas percepcionados (Herdman, 2000) pelo próprio. RVO – Principal mecanismo da estabilidade do DHI – Questionário de 25 itens, que avalia olhar durante o movimento cefálico. Encontra- múltiplos aspectos da vida diária, possibilitando se comprovadamente reduzido para 25% conhecer a importância relativa das dimensões imediatamente após lesões vestibulares, em física, funcional e emocional do desequilíbrio na movimentos cefálicos ipsilaterais (Herdman, qualidade de vida do utente (Beninato, 2000). 2000). Hipoacúsia – Diminuição da audição; surdez. TCISE – Avalia o efeito da remoção das HST – Para a realização deste teste a cabeça aferências do utente é oscilada horizontalmente, de forma aferências somatossensoriais na estabilidade passiva, durante, aproximadamente, 20 ciclos postural, com uma frequência de duas repetições por vestibulares passam a ser as mais relevantes segundo (2 Hz). Tipicamente, quando se pára a no controlo postural. Na prática durante este oscilação, défice teste o utente tenta manter o equilíbrio numa vestibular periférico unilateral irá manifestar superfície instável, com a anulação das um nistagmo horizontal com batidas para o aferências visuais. lado do ouvido são (Shubert & Minor, 2004). Vertigem – Ilusão de movimento de rotação do Nistagmo patológico – Movimentos oculares próprio ou do ambiente que o rodeia, rítmicos e involuntários, com um componente acompanha-se sempre de desequilíbrio. um indivíduo com um visuais deste e da modo alteração as das aferências lento e um rápido, este último caracteriza por convenção a direcção do nistagmo. Bibliografia Oscilopsia – Percepção ilusória de movimento - Beninato, M. & Krebs, D. (2000). Relationship do ambiente. among Plataforma STATITESTTM – Plataforma Móvel performance, Passiva Multisegmentos. Equipamento para o peripheral vestibular hipofunction. Physical therapy, estudo do equilíbrio e da postura, isto é, dos 80(8), 748-758.. fenómenos - Benzinho T. & Luzio C. S. (2004) O papel das que permitem e regulam a actividade tónico-postural ortostática (Benzinho Arquivos de Fisioterapia balance impairments, functional and disability in people with plataformas móveis em reabilitação vestibular – A nossa experiência com a STATITESTTM. Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 15 A Fisioterapia na Reabilitação Vestibular de um Doente com Doença de Meniére. Estudo de Caso http://www.otoneuro.pt/forum18.pdf compatible - Ferreire, V. (1999). Zumbido e as suas http://www.vestib.org/chap7rehabvestib/sommc implicações na qualidade de vida de seu portador. h7.html. CEFAC. - Pélissier, J., Brun, V. & Enjulbert M. (1993). Garcia, V. (2004) Reeducação vestibular. haute fréquence.(2004). Posture, equilibratión et médecine de rééducation. http://www.otoneuro.pt/forum12.htm. Editora Masson. - Garcia, V. (2000). Vertigem – Casos exemplares. - Popper, V. (2001). A reabilitação vestibular na Associação Portuguesa de Otoneurologia e Solvay vertigem. CEFAC. Farma. - R. Gil et al. (1991). Rééducation des troubles de - Grupo de estudos da vertigem/Portugal. (1997). l’équilibre. Édition Frison-Roche. Vertigem e desequilíbrio. Noções básicas. Antunes - Schubert, M. & Minor, L. (2004). Vestibular-ocular e Amílcar, Lda. physiology - Herdman, S. J. (2000). Vestibular Rehabilitation Physical Therapy, 84(4), 373-385. (Second Edition). F. A. Davis Company - Thai-Van et al. (2000). Meniére’s disease. - Herdman, S. (1997). Advances in the treatment Pathophysiology and treatment. Drugs, 61(8), of vestibular disorders. Physical Therapy, 77(6), 1089-1109. 602-615. Topuz, - Matériel utilisé pour l’exploration et la réhabilitation vestibulaire. Le fauteuil rotatoire Arquivos de Fisioterapia underlying O. rehabilitation (2004). on vestibular Efficacy chronic hypofunction. of unilateral vestibular vestibular dysfunction. Clinical Rehabilitation, 18, 76-83. Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 16 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura Pires, C.; Fernandes, J.; Alves. M. C.; Sousa, V.; Coutinho, I.; Fernandes,B.; Carolino, E. Autores - Pires, Cátia Fisioterapeuta - Fernandes, Joana Fisioterapeuta - Alves, Maria Cristina Fisioterapeuta Cº. Fisiatria Dr. Joaquim Neto - Rito, Sara Fisioterapeuta - Sousa, Vera Fisioterapeuta - Coutinho, Isabel Fisioterapeuta, Profª. Coordenadora ESTeSL - Fernandes, Beatriz Fisioterapeuta Profª. Assistente ESTeSL - Carolino, Elizabete Matemática Profª. Assistente ESTeSL RESUMO Objectivos: Verificar se existem diferenças na postura estática e dinâmica, em indivíduos normovisuais, quando lhes é induzida uma alteração da aferência visual. Materiais e Método: O estudo foi do tipo quantitativo, transversal, analítico e descritivo, realizado numa plataforma de forças. Os testes foram efectuados na posição ortostática (olhos abertos, olho direito ocluído, olho esquerdo ocluído, olhos ocluídos) e dinâmica (agachamento com os olhos abertos e ocluídos) por uma amostra constituida por 29 estudantes normovisuais da ESTeSL, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos, dos Cursos Superiores de Fisioterapia, Ortoprotesia e Ortóptica. Resultados: Na posição ortostática, o membro inferior (MI) que, em média, efectuava mais carga nos 4 testes realizados era o esquerdo. Observou-se uma maior assimetria (diferença da carga entre o MI direito e o MI esquerdo em cada teste), em média, com o olho esquerdo ocluído. Dividiu-se a amostra em dois grupos, 1º grupo (15 indivíduos que apresentavam maior carga, em média, no MI esquerdo, com os olhos abertos) e 2º grupo (14 indivíduos que apresentavam maior carga, em média, no MI direito, com os olhos abertos). No 1º grupo observou-se uma maior simetria, em média, com o olho direito ocluído. No 2º grupo observou-se, em média, uma maior simetria com o olho esquerdo ocluído. No ponto máximo de agachamento, com os olhos abertos, o MI que, em média, efectuava mais carga era o esquerdo. No ponto máximo de agachamento, com os olhos ocluídos, o MI que, em média, efectuava mais carga era o direito. Verificou-se, em média, uma maior assimetria, no ponto máximo de agachamento, com os olhos ocluídos. Conclusões: O olho mais eficaz para o controlo da postura corresponde ao mesmo hemicorpo do MI que realiza mais carga (membro de apoio). A informação visual é mais importante para a manutenção da postura dinâmica do que para a manutenção da postura estática. Palavras Chave: aferência visual; visão; postura Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 17 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura de existirem poucos estudos nesta área. O objectivo desta investigação foi verifi- Introdução A manutenção de uma postura corporal car se existem diferenças na postura estática e adequada, revela-se importante para a realiza- dinâmica, em indivíduos normovisuais, quando ção das actividades da vida diária com o menor lhes é alterada a aferência visual. dispêndio de energia possível. Segundo Wade & Jones (1997), a estabilidade postural (exibida sob a forma de ajustamentos Materiais e Método posturais) é modulada pela tríade da postura e O estudo realizado é do tipo quantitativo, locomoção: os sistemas somatosensorial, vesti- transversal, analítico e descritivo e pretende bular e visual. Por conseguinte, estes autores, responder à questão orientadora: “Será que subscrevem que, sem a interacção adequada existem diferenças na postura estática e destes sistemas, o organismo não pode dinâmica em indivíduos normovisuais quando adquirir a capacidade para explorar e interagir lhes é alterada a aferência visual?”. adequadamente com o meio envolvente. Constituiu-se uma amostra com 29 Contudo, se algum destes sistemas não indivíduos normovisuais, seleccionados por exercer a sua função correctamente, os outros conveniência, sistemas podem colmatar essa falha, de modo compreendidas entre os 18 e os 23 anos, dos que o indivíduo mantenha a postura adequada Cursos Superiores de Fisioterapia, Ortoprotesia às actividades exigidas. Constata-se assim, que e Ortóptica, sendo 20 indivíduos do sexo a tríade acima referida é fundamental para feminino (69%) e 9 do sexo masculino (31%) promover o eficaz desempenho das actividades com alturas compreendidas entre 1,50 m e do dia-a-dia, bem como para a saúde e bem- 1,85 m (média = 1,69 ±0,09 m), com peso estar dos indivíduos. compreendido entre 44 kg e 82 kg (média = da ESTeSL, com idades Tendo em consideração o que foi 62,8 ±10,8) e um IMC entre os 17,72 kg/m2 referido, a pertinência deste trabalho de investi- e os 27,73 kg/m2 (média = 21,96 ± 2,6 gação para a Fisioterapia justifica-se: pela relevância que a relação visão e postura assumem na qualidade de vida dos indivíduos; pelo interesse em conhecer a interacção entre o corpo do indivíduo e o ambiente; pelo interesse em despistar alterações posturais kg/m2). Da amostra, 10 indivíduos (34,5%) praticavam actividade física com regularidade (mínimo de 3 horas semanais) e 19 não praticavam qualquer tipo de actividade física (65,5%). decorrentes das aferências visuais; pela avalia- A selecção da amostra foi realizada de ção da importância da visão nas transferências acordo com os critérios de inclusão: idades de carga, pela necessidade de progressão compreendidas entre 18 e 25 anos; indivíduos científica na área da visão e postura como dos sistemas interdependentes e ainda pelo facto Ortóptica e Ortoprotesia; autorização para Arquivos de Fisioterapia Cursos Superiores de Fisioterapia, Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 18 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura Teste Teste A Habitual Stance (olhos abertos) Teste B Fall to a squat (olhos abertos) Teste C Habitual Stance (olho direito ocluído) Teste D Habitual Stance (olho esquerdo ocluído) Teste E Habitual Stance (olhos ocluídos) Teste F Fall to a squat (olhos ocluídos) Descrição Manter o corpo imóvel na posição ortostática, braços pendentes ao longo do corpo, com apoio palmar na face lateral da coxa, os pés alinhados e ambos os olhos abertos, olhando em frente para o ponto de fixação. Intervalo A partir da posição ortostática, e com os pés alinhados, realizar um agachamento máximo, após ordem da examinadora (aos 4 segundos), com flexão dos ombros a 90º e os cotovelos em extensão. Ambos os olhos se mantêm abertos olhando em frente para o ponto de fixação. Intervalo Manter o corpo imóvel na posição ortostática, braços pendentes ao longo do corpo, com apoio palmar na face lateral da coxa, com os pés alinhados e o olho direito ocluído. O olho esquerdo encontra-se aberto olhando em frente para o ponto de fixação. Intervalo Manter o corpo imóvel na posição ortostática, braços pendentes ao longo do corpo, com apoio palmar na face lateral da coxa, com os pés alinhados e o olho esquerdo ocluído. O olho direito encontra-se aberto olhando em frente para o ponto de fixação. Intervalo Manter o corpo imóvel na posição ortostática, braços pendentes ao longo do corpo, com apoio palmar na face lateral da coxa, com os pés alinhados e ambos os olhos ocluídos. Intervalo A partir da posição ortostática, e com os pés alinhados, realizar um agachamento máximo, após ordem da examinadora (aos 4 segundos) com flexão dos ombros a 90º e os cotovelos em extensão. Ambos os olhos se mantêm ocluídos. Tempo (s) 20 20 20 20 20 20 Tabela 1 – Descrição dos testes efectuados participar no estudo; ausência de período descalços, sem meias, sobre a plataforma , gestacional; ausência de história de patologia com t-shirt e calções, pés segundo eixos ou traumatismo crâneo-encefálico, vértebro- paralelos e com os calcanhares tangenciais à -medular, dos membros inferiores; ausência de linha previamente demarcada na plataforma, à patologia degenerativa, tonturas, zumbidos, distância de 4m de um círculo negro de 20mm dores de cabeça ou desmaios, distúrbios de diâmetro (ponto de fixação), fixo à altura dos sensoriais e de equilíbrio, alterações visuais olhos quando em posição ortostática. Cada não corrigidas ou corrigidas há mais de dois teste teve a duração de 20 segundos, porque anos, alterações posturais diagnosticadas; a se considerou que este período de tempo era não ingestão de medicamentos ou outras suficiente para a recolha de dados e porque drogas que afectem o sistema nervoso central. este período de tempo foi também utilizado nos A realização dos testes posturográficos estudos de Fernandes (1994) e Cacho (1989). na plataforma mtd-Balance® decorreu nas As condições ambientais foram instalações da ESTeSL. Com a realização dos controladas e padronizadas para todos os testes, pretendeu-se avaliar a postura estática indivíduos. Os testes foram realizados com e dinâmica. Os testes (Tabela 1) foram pensos oclusores em ambos os olhos, quando realizados em apoio bipodal, com os indivíduos se pretendia os olhos ocluídos e um penso Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 19 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura oclusor, quando se pretendia apenas um olho carga, em média, era no teste D (301,19 N). ocluído. Resultados Posição ortostática Verificou-se que, na posição ortostática o MI que, em média, efectuava mais carga nos 4 testes realizados, é o esquerdo. Analisando os dados no que respeita ao número de indivíduos que realizava mais ou menos carga, em cada membro inferior, obtiveram-se os seguintes resultados: no teste A (olhos abertos) 15 indivíduos (51,7%) realizavam maior carga (314,56 N) com o MI esquerdo; teste C (olho direito ocluído) 16 indivíduos (55,2%) realizavam maior carga (313, 75 N) Dividindo-se a amostra em dois grupos, 1º grupo (15 indivíduos que apresentavam maior carga, em média, no MI esquerdo, no teste A) e 2º grupo (14 indivíduos que apresentavam maior carga, em média, no MI direito, no teste A), analisou-se separadamente cada grupo no que respeita às assimetrias nos vários testes. No 1º grupo observou-se uma maior simetria, em média, no teste C (olho direito ocluído), 35,1 N, seguido pelos testes A (olhos abertos), 38,9 N, e E (olhos ocluídos), 38,9 N, e o teste D (olho esquerdo ocluído), 40,9 N, onde se verificou uma maior assimetria. com o MI esquerdo; teste D (olho esquerdo No 2º grupo observou-se, em média, ocluído) 19 indivíduos (65,5%) realizavam uma maior simetria no teste D (olho esquerdo maior carga (318,79 N) com o MI esquerdo; ocluído), 7,4 N, seguido pelos testes C (olho teste E (olhos ocluídos) 16 indivíduos (55,2%) direito ocluído), 22,4 N, e E (olhos ocluídos), realizavam maior carga (314,83 N) com o MI 21,8 N, e o teste A (olhos abertos), 23,4, onde esquerdo. Observou-se uma maior assimetria se verificou uma maior assimetria. (diferença da carga entre o MI direito e o MI Agachamento esquerdo em cada teste), em média, no teste D (17,6 N), seguida pelo teste E (9,59 N), pelo teste A (8,8 N) e menor assimetria no teste C (7,36 N). De todos os testes realizados foi no teste D que se verificou o maior número de indivíduos a realizar mais carga com o MI esquerdo (n=19) e, em média, onde se realizou a maior carga (318,79N). No que respeita ao MI direito, nos testes A, C, D e E, este realizava menor carga, Verificou-se que, no ponto máximo de agachamento: teste B (olhos abertos), 18 indivíduos (62,1%) realizavam, em média, maior carga (400,38 N) com o MI esquerdo; teste F (olhos ocluídos), 16 indivíduos (55,2%) realizavam, em média, maior carga (418,38 N) com o MI direito. Verificou-se, em média, uma maior assimetria no teste F (31,38 N), enquanto que no teste B a diferença entre os dois MI foi de 18,55 N. em média, do que o MI esquerdo. O teste no qual o MI direito realizava mais carga era o C (306, 39 N), seguido do teste A (305,76 N), teste E (305,24 N) e no que realizava menos Discussão Posição ortostática Neste estudo procurou-se estudar a Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 20 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura relação entre a visão e a postura, neste caso a apoiada por Raîche et al. (1998), cujo estudo simetria das transferências de carga. De revelou uma assimetria na carga efectuada acordo com Palmer & Epler (2000), aquando pelos MI que aumenta quando os indivíduos da avaliação da postura através do exame estão com os olhos ocluídos. Os autores clínico, a simetria é um factor muito importante defendem, porém que essa assimetria é para a avaliação, sendo que a presença de funcional e aumenta a capacidade do indivíduo assimetrias está associada à presença de para restabelecer o equilíbrio, uma vez que, alterações e quando se transfere mais carga para um MI, o patologias. Porém, estes autores consideram outro fica mais disponível para efectuar uma normal ocorrer uma assimetria relacionada reacção de extensão protectiva. posturais, desequilíbrios com o membro superior dominante. No Observou-se que, nos indivíduos que presente estudo também foi encontrada efectuavam maior carga com o MI esquerdo, assimetria entre a carga efectuada nos MI. No com a oclusão do olho direito (teste C) se que respeita à posição ortostática, nos testes verificou uma menor assimetria, em média, em A, C, D, e E, a percentagem de indivíduos que relação ao teste realizado com o olho esquerdo realizava maior carga com o MI esquerdo era ocluído (teste D), pelo que se pode supor que o superior (51,7 % no teste A, 55, 2% no teste seu olho mais eficaz no controlo da postura C, 65,5% no teste D e 55,2% no teste E). Este será o esquerdo. Por seu lado, nos indivíduos achado poderá estar relacionado com as em que a maior carga era realizada com o MI curvaturas fisiológicas laterais da coluna direito no teste A (olhos abertos), verificou-se vertebral: a curvatura cervical convexa à uma menor assimetria em relação ao teste D esquerda, a curvatura dorsal convexa à direita (olho esquerdo ocluído), em comparação com o e a lombar convexa à esquerda (Pina, 2004). teste C (olho direito ocluído). Constatou-se a Se a curvatura dorsal não compensar as partir destes achados, que a perna que outras duas curvaturas, a carga efectuada pelo realizava mais carga coincidia com o olho mais MI esquerdo será superior. Por outro lado, de eficaz no controle da postura e que, na maioria acordo com Stern & Shif (s.d.), citados por dos indivíduos da amostra, este se encontrava Kosog (1999), a maior parte das pessoas que à esquerda. Este facto está de acordo com são destras ao nível do membro superior, Sérgio (1995), segundo o qual o olho director também o são no MI (membro inferior da verticalidade será o esquerdo. dominante). O membro dominante é, segundo Perennou et al. (1997) obtiveram Carpes (2005), o primeiro a responder a resultados semelhantes aos do presente qualquer solicitação, como dar um passo. estudo, no que respeita à maior assimetria, em Deste modo, o membro não dominante será o média, quando se realizou o teste com o olho membro esquerdo dominante de apoio, livre deixando membro efectuar ocluído. Estes investigadores mais realizaram um estudo que pretendia testar a prontamente as actividades. Esta afirmação é hipótese de que o hemisfério cerebral direito é Arquivos de Fisioterapia para o Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 21 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura dominante no controlo visual. Para testar esta avaliado é a simetria da distribuição da carga hipótese procedimento entre os dois MI, e não a oscilação do centro experimental em que colocaram oito indivíduos de gravidade, como é referido na bibliografia. adultos saudáveis num estabilómetro com Para além disso, apesar de diversos estudos olhos abertos, olhos fechados (no escuro), olho (Edwards, 1946; Lee & Lishman, 1975; Paulus direito fechado e olho esquerdo fechado. Os et al., 1984, citados por Cook & Woollacott, resultados deste estudo mostraram que a 2001) provarem que os inputs visuais têm estabilização da cabeça no espaço é muito influência no controlo postural, estes não são mais eficiente com as aferências provenientes absolutamente indispensáveis para o controlo do campo visual esquerdo do que nas outras da postura em posição ortostática. Este três condições visuais. Verificando-se uma pressuposto deve-se à habilidade do sistema dominância clara do hemisfério direito no nervoso central em modificar a importância de controlo da postura da cabeça. Esta hipótese qualquer aferência e pelo facto das aferências poderá explicar porque se obteve maior visuais serem facilmente substituídas pelos simetria, em média, com o olho esquerdo inputs vestibulares e somatosensoriais, em aberto nos indivíduos da amostra. caso de défice visual. realizaram um Quando se comparam os resultados do Verificou-se também que a simetria em teste A (olhos abertos) e E (olhos ocluídos), no relação que diz respeito ao número de indivíduos, alterações quando a amostra era sujeita à verifica-se que a maioria dos indivíduos (n=18) oclusão do respectivo olho mais eficaz no aumenta a assimetria quando são sujeitos à controle da postura (teste D no 1º grupo e C oclusão dos dois olhos (teste E). Porém, quando no 2ª grupo), em relação aos dois olhos se comparam estes mesmos testes em ocluídos (teste E). Este achado pode ser relação à média da assimetria, verifica-se que explicado pelo seguinte: a manutenção da não ocorreram grandes diferenças nos dois postura e equilíbrio depende da tríade óculo- testes [teste A (8,8 N) e teste E (9,59 N)]. Esta vestíbulo-cerebelosa; quando falta uma das semelhança, esperada informações, esta é colmatada pelos restantes inicialmente, pode ser explicada por diversos sistemas, que proporcionam um controlo factores. O primeiro, prende-se com as simétrico, pelo que a distribuição da carga contingências no entre o MI esquerdo e direito se mantém. estudo, uma vez que este aparelho não mede Porém se a informação é “enviesada”, devido à as oscilações do centro massa, mas só a carga oclusão do olho com maior capacidade de que é realizada em cada um dos membros regulação tónico-postural , esta vai alterar a inferiores. Deste modo, o tratamento dos postura e a simetria em relação ao eixo sagital. que da não era plataforma utilizada ao eixo sagital sofria maiores dados, fornece apenas a média da carga em Agachamento cada MI e a média das diferenças da carga No que respeita ao agachamento entre os membros, pelo que o que é realmente verificou-se que, em média, no ponto máximo Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 22 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura de agachamento, no teste B (olhos abertos), a maioria dos indivíduos realizava maior carga comparação com o olho esquerdo ocluído; • o olho mais eficaz para o controlo da com o MI esquerdo, enquanto que no teste F postura corresponde ao mesmo hemicorpo (olhos ocluídos), a maioria dos indivíduos do MI que realiza mais carga. realizava maior carga com o MI direito. Nos testes dinâmicos, em que se No que diz respeito à assimetria na realizou agachamento, os resultados distribuição da carga nos MI, verificou-se que permitiram tirar a seguinte conclusão: existe era muito superior no teste F (olhos ocluídos), maior assimetria com os olhos ocluídos do que em relação ao teste B (olhos abertos). Este com os olhos abertos. resultado pode ser explicado pelo facto da Os resultados permitiram concluir ainda informação visual ser mais relevante para a que, a informação visual é mais importante postura dinâmica do que para a postura para a manutenção da postura dinâmica do ortostática, que para a manutenção da postura estática. pois contingências do permite antecipar as meio envolvente e proporcionar uma maior segurança ao nível do movimento, que se acredita manifestar por uma maior simetria. Limitações Neste estudo pretendia-se que o ponto de fixação fosse colocado a 6 m, porque é a partir desta distância que o indivíduo se Conclusões encontra em posição primária do olhar, ou seja, Os resultados obtidos corroboram a com o eixo visual de ambos os olhos paralelos, existência de diferenças na postura estática e como no olhar para longe (posição de dinâmica em indivíduos normovisuais quando diagnóstico, por contraponto ao olhar para lhes é alterada a aferência visual, permitindo perto). Também de acordo com Gouazé retirar as seguintes conclusões, relativamente (1983), o estudo do equilíbrio deve ser à posição ortostática: realizado com os olhos imóveis, olhando para o • em média, os indivíduos realizam mais infinito. No entanto, a sala disponível não carga no MI esquerdo; permitiu que o ponto de fixação fosse colocado quando se analisa separadamente os a mais de 4 m do indivíduo. De referir que, na indivíduos que fazem mais carga no MI pesquisa bibliográfica por nós efectuada não foi esquerdo e no MI direito, verifica-se que os encontrada homogeneidade na distância de indivíduos que realizam mais carga no MI colocação e características dos pontos de esquerdo apresentam maior assimetria fixação. Este factor não permite assim, a quando têm o olho esquerdo ocluído, em comparação deste estudo com outros já comparação com o olho direito ocluído, e os realizados, pois a posição dos olhos tem indivíduos que realizam mais carga no MI influência sobre a postura. • assimetria Alguns dos factores que condicionaram quanto têm o olho direito ocluído, em o presente estudo referem-se ao tipo e direito apresentam Arquivos de Fisioterapia maior Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 23 Importância da Aferência Visual no Controlo da Postura tamanho da amostra, uma vez que se trata de Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins. uma amostra por conveniência, constituída por - Fernandes, J. (1994). Comportamento Postural e apenas 29 indivíduos. Deficiência Visual - influência na prática desportiva Outra das limitações do estudo foi a falta de informação quanto à lateralidade dos indivíduos estudados e ao respectivo olho dominante, o que não permitiu tirar conclusões quanto à relação que é descrita na bibliografia de alto rendimento no comportamento postural de indivíduos com capacidade visual nula e muito reduzida. Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa. - Gouazé, A. (1983). Léxamen Neurologique et ses Bases Anatomiques (1ª ed.). Paris: Expansion entre a lateralidade, olho dominante e MI Scientifique Française. dominante, a qual refere que o olho dominante - Kosog, S. (1999) The Dominant Leg. Consultado corresponde ao hemicorpo do MI e membro em superior dominante em 80% dos casos. http://www.somatic.de/Dominantleg.htm. 8 de Junho de 2005 através de Além das limitações já referidas, uma - Palmer, M., Epler, M., (2000). Fundamentos das outra que foi encontrada, diz respeito ao facto Técnicas de Avaliação Musculoesquelética (2ª ed.). de os testes não terem sido realizados à Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. mesma hora. Esta situação deveu-se à limitação no tempo para a sua realização e ainda pelo facto de os mesmos estarem condicionados à disponibilidade horária dos - Perennou, A., Amblard, B., Laassel, E.,Pelissier, J. (1997). Hemispheric asymmetry in the visual contribution to postural control in healthy adults. Neuroreport, 8(14), 3137-3141. Consultado em 14 de Junho de 2005 através de http://asb- indivíduos da amostra e da plataforma mtd- biomech.org/onlineals/NACOB98/180/. Balance®. - Pina, J. (2004). Anatomia Humana da Locomoção (5ªed.). Lisboa: Lidel. Bibliografia - Raîche, M., Blaszczyk, J., Prince, F., Hérbert, R. - Cacho, F. (1989). Estudo do Comportamento (1998). Effect of Ageing and Vision on Limb Load Postural – influência de diferentes tipos de Asymmetry During Quiet Stance. 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Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 24 Publirreportagem Terapia com Ondas de Choque - Publirreportagem ELIO DI PALMA LICENCIADO EM CINESIOTERAPIA E REEDUCAÇÃO LICENCIADO EM OSTEOPATIA PROFESSOR DE ELECTROFISIOTERAPIA E BIOMECÂNICA DA LA HAUTE ÉCOLE ANDRÉ VESALE DE LIÈGE, SECÇÃO CINESIOTERAPIA. GYMNAUNIPHY SORISA SA N As ondas mecânicas aplicadas no exterior do corpo são utilizadas desde os anos 80 na área da urologia para destruir os cálculos renais. É a terapia com ondas de choque extra-corpóreas ou ESWT (Terapia de Ondas de Choque Extra-Corpóreas). Neste caso específico, falamos de litotrícia. o início dos anos 90, começaram a ser estudadas em traumatologia pela sua capacidade de favorecimento da cicatrização de fracturas, em particular nos casos de atraso na consolidação de fracturas, de nãounião ou de pseudartrose. Subsequentemente, esta terapia é cada vez mais utilizada para tratar diferentes tipos de lesões músculo-esqueléticas. Neste caso, falamos de ortotrícia. A Terapia de Ondas de Choque extra-corpóreas tem Estas ondas de choque caracterizam-se pelo aumento indicações diferentes de acordo com as intensidades de muito abrupto da pressão, seguido de uma fase rápida energia” da pressão negativa. A zona de acção é em forma Níveis de energia elipsoidal (ou em forma de cigarro). Os diferentes tipos de geradores de ESWT criam as suas ondas de choque A terapia com baixa densidade de energia: utiliza os com a ajuda de complexos processos físicos. Em paralelo impulsos de 0,04 e 0,12mJ/mm². É utilizada para tratar com estes aparelhos de ondas de choque surgem os a dor. Não é necessária uma anestesia local antes da aparelhos que desenvolvem uma energia muito mais aplicação e provoca poucos efeitos secundários. O fraca RSWT (terapia de ondas de choque radiais), ver tratamento é repetido durante 5 a 7 dias. adiante. São classificados como «onda de choque forte» para a ESWT e «onda de choque suave» para a RSWT. A terapia com média densidade de energia: utiliza os impulsos que variam entre 0,12 e 0,28mJ/mm². Até A energia é expressa em joules ou milli joules (mJ), e a 0,22mJ/mm² é utilizada para o tratamento de pressão em bar ou em mega pascais (MPa). A dosagem tendinopatias, tecidos calcificados, terapia dos pontos do tratamento é feita em função da densidade da gatilho (trigger points). Não é necessária uma anestesia energia acústica: energia (mJ)/superfície (mm²) e do local e é efectuada uma sessão por semana. Poderá número de impulsos gerados. Atenção, não existe uma provocar pequenos hematomas. Além de 0,22mJ/mm², relação directa entre a pressão em bar e a energia pois é utilizada para os problemas de consolidação óssea. depende do tipo de material, e fabrico das peças, Neste caso, é talvez necessária uma anestesia local e O que significa que dois aparelhos que forneçam 4bar poderá provocar pequenos hematomas. O tratamento não fornecem necessariamente o mesmo nível de não é repetido antes de uma a doze semanas. energia. A terapia com ondas de choque extra-corpóreas A terapia com alta densidade de energia: geralmente tem indicações diferentes de acordo com as densidades entre 0,28 e 1,5mJ/mm² por impulso, é utilizada de energia: sobretudo para destruir cálculos renais, os tecidos calci- Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 25 Publirreportagem ficados ou os problemas de consolidação óssea. Exige uma anestesia e está associada a efeitos secundários mais importantes. Em geral, um tratamento é suficiente. Diferenças entre ESWT e RSWT Para o tratamento da dor e dos tecidos moles, o nível de energia necessário é fraco a médio, não é necessária a focalização muito precisa efectuada pela ESWT e a profundidade da acção não deverá ser necessariamente grande, surgindo um novo tipo de aparelho: RSWT. RSWT: Radial Shock Wave Therapy ou ondas de choque radiais. Na realidade, devia utilizar-se antes do termo terapia com ondas balísticas. As ondas de choque são produzidas pelo impulso pneumático que cria um movimento balístico. Esta onda será transmitida aos tecidos em contacto. Aplicam-se pelo intermédio de um aplicador leve e prático, colocado directamente em contacto com a pele no local da lesão. Quando o projéctil atinge o aplicador, cria uma onda mecânica radial (ou esférica). Ao contrário da ESWT clássica, a zona de acção da onda radial é um cone cuja ponta se situa na extremidade da peça. A onda radial é entregue directamente em contacto com a pele e desaparece rapidamente penetrando nos tecidos, não atingindo mais do que 3 a 3,5cm de profundidade. Cabeças específicas de ondas de choque Certos fabricantes da RSWT propõem também uma cabeça «focal». A focalização de uma onda radial não é possível a não ser através de uma lente acústica colocada na extremidade do aplicador. Apesar desta lente, não se atinge a focalização e as possibilidades que podem proporcionar a ESWT. Esta possibilidade de «focalizar» a onda radial e de ter uma zona de acção em forma de cigarro é útil para problemas muito localizados e/ou perto de uma zona ossuda muito superficial como por exemplo no epicondilo, epitróclea, tendão de Aquiles,… O problema é que a zona de focalização não é modificada pois é fixada pela lente acústica. Em geral, a zona em cigarro produz-se a uma profundidade aproximada de 20mm. Foi desenvolvido também um outro tipo de aplicador para RSWT que associa a onda Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 26 Publirreportagem de choque e uma vibração (infra-sons). Esta associação • Formação de micro-correntes essenciais ao processo abre a porta à utilização da RSWT nas patologias de cicatrização; musculares como as contracturas, alongamentos, • Modificação da permeabilidade das membranas lacerações, enxaquecas de tensão… celulares, por exemplo, das fibras nervosas nociceptivas, Existem ainda outros tipos de cabeças para aplicações podendo ir até à quebra mais ou menos completa, específicas como a cabeça para os pontos desen- prevenindo assim a sua despolarização; cadeantes e a cabeça para os pontos de acupunctura • Analgesia por hiperestimulação semelhante à (acupressão). provocada por determinadas aplicações de electroanalgesia e remete para a teoria “gate control” de Modo de acção Os mecanismos de acção das terapias através de ondas acústicas ainda não são claros. Melzack e Wall e para a libertação de endorfinas; • Modificação do arco reflexo do controlo do tónus muscular; • Aumento da difusão de citocina através das paredes As características das ondas extra-corpóreas induzem vasculares, acelerando a cicatrização; uma cavitação (produção de bolhas gasosas) nos líquidos • Fragmentação e detersão do tecido patológico intersticiais, produzindo micro-danos nos tecidos. Os micro-danos induzidos pela cavitação são responsáveis por uma parte do efeito terapêutico. debilitado (aqui supõe-se que uma parte dos tecido não é patológica e pode ajudar à cicatrização). O esquema abaixo ilustra a continuação dos efeitos mecânicos das diferentes técnicas nos tecidos moles: Fricção Mobilização transversa aumentada dos de Cyriax tecidos moles RSWT ESWT Técnicas de aplicação O tratamento deve ser efectuado sobre o local exacto de uma lesão bem diagnosticada, localizada e palpável. Esta precaução é mais imperativa se a zona de tratamento for pequena. Geralmente, são suficientes três sessões de tratamento de 1000 a 2000 ondas mecânicas (5 a “ O tratamento deve ser efectuado sobre o local exacto de uma lesão bem diagnosticada, localizada e palpável” Os outros micro-danos são produzidos directamente pelos efeitos mecânicos no tecido. 15 minutos por tratamento). Indicações • Bursites; • Tendinopatias (epicondilites, epitrócleites, tendão de Certos autores sugerem que para as doenças degene- Aquiles, tendão da rótula, …); rativas dos tecidos moles, como as tendinopatias • Tendinite calcificante do ombro; degenerativas ou crónicas, a estimulação de um • Esporão do calcâneo; processo inflamatório pode ajudar a estimular a • Fasceíte plantar; regeneração do tendão. • Periostite; Os efeitos principais atribuídos são: • Banda iliotibial; • Doença de Lapeyronie; • Aumento da circulação sanguínea e criação de uma • Pontos gatilho (com cabeça específica); neovascularização da zona tratada; • Pontos de acupunctura (com cabeça específica); • Quebra dos depósitos cálcicos de modo a promover a • Contracturas musculares e sequelas de lesões sua reabsorção; musculares, cefaleia de tensão, lombalgia. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 27 Publirreportagem Contra-indicações Bibliografia • Uma dor mal localizada e não palpável; Brunet-Guedj, E. et coll.: "Traitement des tendinopathies chroniques par ondes de choc radiales", J Traumatol Sport, 19 : 239-243, 2002. Buchbinder, R. et coll.: "Ultrasound guided shockwave extracorporeal shock wave therapy for plantar fasciitis. A randomized controlled trial", JAMA, 19; 288: 1364-1372, 2002. Cosentino, R. et coll.: "Efficacy of extracorporeal shock wave treatment in calcaneal enthesophytosis", Ann Rheum Dis, 60: 1064-1067, 2001. Diesch, R. et coll.: "Conventional versus Ballistic Extracorporeal Shock Waves for the treatment of Calcaneal Spur", 2nd International Congress of the the ISMST, Londre, 1999. Frölich, T. et G. Haupt: "Successful therapy of tennis elbow and calcaneal spur by ballistic shockwaves. 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Zingas, C.N. et coll.: "Shock Wave Therapy for Plantar Fasciitis", AOFAS 2000 Annual Summer Meeting. • Local de passagem dos troncos nervosos ou dos grandes vasos sanguíneos; • As cavidades onde se encontra ar como os pulmões ou os intestinos; • A gravidez para os casos ao nível do tronco e da pélvis; • Risco de hemorragia, como no caso de hemofilia, ou dos pacientes sob tratamento com anticoagulantes; • Presença de tromboflebite; • A zona cardíaca; • Uma cicatriz aberta na zona a tratar; • A presença de infecção ou de inflamação aguda no local da lesão a tratar; • Um paciente não cooperante, por exemplo, em estado de demência; • Cartilagem de crescimento; • As vértebras em geral, principalmente as cervicais; • Os tecidos fragilizados, por exemplo, as metástases ou devido à corticoterapia intensiva prolongada. Poderão surgir pequenos efeitos secundários como por exemplo dores, hematomas, inchaços, irritações cutâneas e aumento dos sintomas em alguns casos. Em geral, no dia seguinte à primeira sessão, a dor poderá ser muito forte. Conselho A terapia de ondas de choque pode ser considerada desconfortável e até dolorosa. De modo a evitar este inconveniente, aconselha-se começar o tratamento com um pouco de crioterapia a fim de provocar uma analgesia que tornará o tratamento mais confortável e por conseguinte mais eficaz. Mais informações: www.gymnauniphy.com/en/shockmaster/index.php Sorisa SA Tel. 21 381 80 00 E-mail: [email protected] Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 28 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva Ribeiro, F. RESUMO Autores - Ribeiro, Fernando Fisioterapeuta, Mestre em Ciências do Desporto, Doutorando em Actividade Física e Saúde Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Objectivos: Documentar a incidência global de lesões agudas e de sobrecarga no voleibol durante uma época desportiva numa equipa portuguesa de topo, encontrar as lesões mais comuns e citar as regiões corporais mais atingidas. Materiais e Métodos: Estudo de cohort prospectivo durante os oito meses da época desportiva, com acompanhamento permanente de treinos e jogos, sendo registadas todas as lesões desportivas ocorridas. A amostra foi constituída por 12 atletas do sexo feminino, com peso médio de 67,3 kg, altura média de 1,80m e sem historial de lesão grave. Resultados e Conclusões: No final da época, foi registado um total de 19 lesões no decorrer dos 46 jogos (75 horas) e das 348 horas de treino, sendo a lesão mais frequente a lombalgia mecânica (15,8%). O rácio de lesão por atleta foi de 1,58, tendo ocorrido uma lesão em cada 22,3 horas de competição (treinos e jogos). As lesões de sobrecarga funcional apresentam-se como a causa mais frequente de queixas por parte das atletas (42,1%). Entre as lesões de sobrecarga funcional a mais frequente foi a lombalgia mecânica, seguida do ombro do voleibolista (10,5%), tendinopatia do tendão de Aquiles (10,5) e tendinite do tendão rotuliano (5,3% de todas as lesões). Em relação às lesões agudas a mais frequente foi a entorse do joelho (10,5%). A região corporal mais lesada foi o membro inferior (11 lesões), seguido do tronco (5) e do membro superior (3). Palavras Chave: Voleibol; lesões agudas; lesões de sobrecarga; região corporal Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 29 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva Kacmar, 1997; Briner & Benjamin, 1999; Verhagen et al, 2004). O Introdução presente estudo pretende O papel da fisioterapia na área do documentar a incidência global de lesões desporto vai adquirindo um estatuto de grande agudas e de sobrecarga no voleibol durante exigência na exacta medida em que os uma época desportiva numa equipa feminina desportistas procuram ultrapassar os padrões portuguesa de topo e encontrar as lesões mais conseguidos num ritmo impensável há uma comuns e as regiões corporais mais atingidas. dezena de anos. Nas últimas realizados duas numerosos décadas estudos foram Materiais e Método Realizou-se tentando um estudo de cohort caracterizar as lesões mais frequentemente prospectivo na equipa feminina do Castêlo da encontradas Maia Ginásio Clube durante os oito meses da em diversos desportos. A informação que se ganha com este tipo de época desportiva. médicos, Foi efectuado um acompanhamento fisioterapeutas, professores de educação física permanente de treinos e jogos (Campeonato e outros profissionais que trabalham com Nacional, Taça de Portugal e Competições atletas de alta competição, a formular planos Europeias), sendo registadas, de acordo com a de assistência para as competições e delinear nomenclatura usada em estudos anteriores estratégias de prevenção para as lesões mais (Briner & Benjamin, 1999; Massada, 2000), comuns de cada desporto. todas as lesões desportivas ocorridas durante estudos pode ajudar os As investigações feitas no voleibol indicam que as lesões de sobrecarga funcional apresentam maior incidência do que as lesões agudas (Schafle et al., 1990; Watkins & Green, 1992; Briner & Kacmar, 1997; Briner & Benjamin, 1999). O jumper’s knee (tendinite rotuliana), o ombro de voleibolista (tendinite longa porção bicípite) e a lombalgia mecânica são, por ordem decrescente de incidência, as treinos e jogos, depois de diagnóstico médico. A lesão desportiva pode ser definida como qualquer dano resultante da participação no desporto, afectando um ou mais segmentos e que tem como consequência a redução do nível de actividade, necessidade de cuidados ou aconselhamento médico ou ainda efeitos sociais e económicos adversos (Pinheiro, 1998). lesões de sobrecarga mais frequentes em A amostra foi constituída por 12 atletas atletas de voleibol (Schafle et al., 1990; do sexo feminino, duas de nacionalidade Watkins & Green, 1992; Briner & Kacmar, brasileira, três canadiana, uma espanhola e 1997; Briner & Benjamin, 1999). A entorse da seis portuguesa, com peso médio de 67,3 kg, tibio-társica altura média de 1,80 m e sem historial de é frequentemente a lesão encontrada aguda no mais voleibol lesão grave (Tabela 1). (Schafle, 1993; Bahr & Bahr, 1997; Briner & Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 30 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva Amostra Atletas (n12) Idade (anos) 26,3 ± 4,5 Peso (Kg) 67,3 ± 5,5 Altura (m) 1,8 ± 0,07 Anos de prática 12,6 ± 4,5 Os valores são expressos em média ± desvio padrão. Tabela 1. Caracterização da amostra relativamente à idade, peso, altura e anos de prática desportiva Resultados No final da época foi registado um total de 19 lesões (Figura 1) no decorrer dos 46 jogos (75 horas) e das 348 horas de treino, em 12 atletas, sendo a lesão mais frequente a lombalgia mecânica (15,8%). Neste grupo de Figura 2. Incidência de lesões de sobrecarga funcional durante a época desportiva atletas o rácio de lesão por atleta é 1,58, tendo ocorrido uma lesão em cada 22,3 horas de competição (treinos e jogos). Neste estudo a lesão aguda mais frequente foi a entorse do joelho (10,5%). Com menor expressão diagnosticadas DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: contractura Lesões Tendinosas as muscular do quadricípete, contusão muscular do quadricípete e ruptura Lesões Articulares Limitações: 2 3 Número de lesões Ortopedista) entorse da tibio-társica, entorse do cotovelo, Lesões Musculares 1 (Médico foram seguintes lesões agudas: torcicolo agudo, Lesões coluna vertebral 0 percentual muscular do gastrocnémio medial. 4 5 6 Figura 1. Lesões ocorridas durante uma época A região corporal mais lesada foi o membro inferior (n=11), seguido do tronco (n=5) e do membro superior (n=3) (Figura 3). desportiva As lesões de sobrecarga funcional apresentam-se como a causa mais frequente de queixas por parte das atletas (42,1%). Entre as lesões de sobrecarga funcional a mais frequente foi a lombalgia mecânica, seguida do ombro do voleibolista (10,5%), tendinopatia do tendão de Aquiles (10,5) e o jumper’s knee (5,3% de todas as lesões) (Figura 2.). Arquivos de Fisioterapia Figura 3. Percentagem de lesões por região corporal Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 31 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva al (1990) Watkins & Green (1992), Briner & Discussão Os principais resultados observados foram: (1) uma elevada incidência de lesões de sobrecarga funcional, dentro das quais se destacou a lombalgia mecânica; (2) a constituição da entorse do joelho como a lesão aguda mais frequente e, (3) do membro inferior como o segmento corporal com maior incidência de lesões desportivas. Neste estudo as 19 lesões distribuemse uniformemente por lesões musculares (5), tendinosas (5), articulares (4) e por lesões envolvendo a coluna vertebral (5). Massada (2000) num estudo com 36 voleibolistas portugueses encontrou uma percentagem superior a 50% de lesões articulares, tendo as lesões musculares e da coluna vertebral apresentado baixa percentagem (8,9%). A diferença de valores entre este Kacmar (1997) e Briner & Benjamin (1999) referem o jumper’s knee como a lesão de sobrecarga mais frequente em atletas de voleibol, o que não é consistente com os resultados deste estudo que indicam que a principal lesão de sobrecarga é a lombalgia mecânica (em decorrência do aumento das forças impostas à região lombar na recepção ao salto, como sugerido por Briner & Benjamin em 1999). Neste estudo o jumper’s knee representa apenas 5,3% de todas as lesões de sobrecarga funcional, tendo-se verificado que o ombro do voleibolista (10,5%) e a tendinopatia do tendão de Aquiles (10,5) apresentam incidência superior. A baixa incidência de jumper’s knee nesta amostra pode em parte ser explicada pelo excelente piso (com caixa de ar) existente no pavilhão do clube, pelo cuidado estudo e o realizado por Massada (2000) pode imposto pela equipa técnica na concepção do ser explicada pela diferença no número de programa de musculação, tentando corrigir os indivíduos que constituem a amostra. No desequilíbrios musculares entre o quadricípete entanto, sendo o voleibol um desporto cujo e os isquiotibiais, e pela preocupação das gesto desportivo de base se reveste de elevada atletas na escolha do calçado desportivo. complexidade e exigência, compreendendo a Os resultados obtidos neste estudo, em suspensão (salto e apoio), o remate e o bloco, a relação ao tipo de lesão de sobrecarga, são distribuição das lesões numa equipa durante consistentes com os resultados que Verhagen uma época desportiva pode perfeitamente ser et al (2004) descreveram no seu estudo com uniforme. 486 jogadores de voleibol. Verhagen et al As lesões de sobrecarga funcional, tal (2004) indicam a lombar e o ombro como as como em trabalhos anteriores (Schafle et al., regiões 1990; Watkins & Green, 1992; Briner & sobrecarga. mais afectadas por lesões de Kacmar, 1997; Briner & Benjamin, 1999) Aagaard and Jorgensen (1996), num apresentam-se como a causa mais frequente estudo com 70 voleibolista do sexo feminino e de queixas por parte das atletas (42,1%). No 67 do sexo masculino, verificaram a ocorrência entanto, os resultados deste estudo diferem de patologia de sobrecarga no joelho (16%) e dos estudos citados no tipo de lesão de ombro (15%) como as mais frequentes, sendo sobrecarga funcional mais comum. Schafle et Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 32 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva o ombro mais problemático nas mulheres. entorse do joelho e a tendinopatia do tendão de Em relação às lesões agudas mais comuns Aquiles; (2) que durante uma época desportiva, neste estudo, contrariamente aquilo que outros na equipa feminina do Castêlo da Maia, a autores (Schafle, 1993; Bahr & Bahr, 1997; região corporal mais atingida por lesões foi o Briner & Kacmar, 1997; Briner & Benjamin, membro inferior, seguido do tronco e em 1999; Verhagen et al, 2004) afirmaram, a menor número o membro superior. lesão aguda mais frequente não foi a entorse Outros estudos poderão ser realizados da tibio-társica, mas a entorse do joelho tentando relacionar a região corporal mais (10,5% das lesões totais). Uma das razões que atingida por lesões com a posição que o atleta pode contribuir para este resultado é a desempenha na equipa, distinguir a fase de amostra ser constituída por elementos do sexo ocorrência feminino. Briner and Kacmar (1997) referiram temporada/temporada), que a entorse do joelho não sendo a lesão ocorrência (treino físico/táctico e técnico), aguda mais comum no voleibol, é mais comum tentando classificar a gravidade das lesões e o em equipas femininas do que em equipas tempo efectivo de paragem. de lesão o (pré- momento de masculinas. A incidência de lesões por região Agradecimentos Para a realização de um estudo desta corporal neste estudo é similar à encontrada por Massada (2000) numa amostra natureza foi necessária a colaboração de um constituída pelos 36 voleibolistas das quadro vasto número de pessoas. Gostaria de principais equipas nacionais. agradecer a todos os que de forma directa ou Apesar deste estudo não pretender indirecta colaboraram na realização deste inferir, apenas descrever, as suas limitações estudo, sobretudo às Atletas, ao Médico são grandes uma vez que existem inúmeros Ortopedista (Sílvio Dias) e à Equipa Técnica factores (Paulo Cunha e Manuel Santos), sem os quais intrínsecos e extrínsecos que condicionam o aparecimento de lesões em este estudo não teria sido possível. atletas de alta competição durante uma época desportiva. Da mesma forma o tamanho da Bibliografia amostra poderá impedir que determinadas - Aagaard, H. & Jorgensen, U. (1996) Injuries in tendências se revelem. elite volleyball. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 6(4), 228-232. - Bahr, R. & Bahr, I.A. (1997). Incidence of acute Conclusões Os resultados deste estudo permitem concluir: (1) que as lesões desportivas do aparelho locomotor que ocorreram mais volleyball injuries: a prospective cohort study of injury mechanisms and risk factors. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 7(3), 166171. frequentemente nas atletas que participaram - Briner, W.W., & Benjamin, H.J. (1999). Volleyball neste Injuries: managing acute and overuse disorders. estudo foram, respectivamente, a lombalgia mecânica, o ombro de voleibolista, a Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 33 Incidência de Lesões no Voleibol: Acompanhamento de uma Época Desportiva The Physician and Sportsmedicine, 27(3), 48-63. - Schafle, M.D., Requa, R.K., Patton, W.L., Garrick, - Briner, W.W. & Kacmar, L. (1997). Common J.G. (1990). Injuries in the 1987 national amateur injuries volleyball tournament. The American Journal of in volleyball: mechanisms of injury, prevention and rehabilitation. Sports Medicine, Sports Medicine, 18(6), 624-631. 24(1), 65-71. - Verhagen, E.A., Van der Beek, A.J., Bouter, L.M., do Bahr, R.M., Van Mechelen W. (2004). A one season Desportista. pp. 200-202, 3ª Edição, Lisboa: prospective cohort study of volleyball injuries. British Editorial Caminho. Journal of Sports Medicine, 38(4), 477-481. - Pinheiro, J.P. (1998). Medicina de Reabilitação em - Watkins, J., & Green, B.N. (1992). Volleyball: a Traumatologia do Desporto. pp. 16-17 Lisboa: survey of injuries of Scottish National League male Editorial Caminho. players. British Journal of Sports Medicine, 26(2), - Schafle, M.D. (1993). Common injuries in volleyball: 135-137 - Massada, L. (2000). Lesões Típicas treatment, prevention and rehabilitation. Sports Medicine, 16(2), 126-129. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 34 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal Arthritics Impact Measurement Scales 2 - short version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal Sousa, A.; Silva, C.; Clemente, C.;Coutinho, I.; Carolino, E.; Fonseca, J.. Autores - Sousa, Andreia Fisioterapeuta - Silvia, Cátia Fisioterapeuta - Clemente. Cidália Fisioterapeuta - Coutinho, Isabel Fisioterapeuta, Profª. Coordenadora ESTeSL - Carolino, Elizabete Matemática Profª. Assistente ESTeSL - Fonseca, João Fisioterapeuta Docente ESTeSL RESUMO Enquadramento: Tendo em conta o profundo impacto da Artrite Reumatóide (AR) na funcionalidade e qualidade de vida do utente, é essencial dispor de instrumentos de medida adaptados e estandardizados ao respectivo contexto cultural do indivíduo. Objectivos: O objectivo geral do estudo é contribuir para o processo de adaptação e validação da Arthritics Impact Measurement Scales 2 – short version (AIMS2-sv) para a realidade portuguesa, como instrumento de avaliação do impacto da AR, delineando-se como objectivos específicos a verificação da validade de conteúdo (vc.), da validade simultânea (vs.) e da consistência interna (ci.) da mesma.Materiais e Métodos Procedeu-se a um estudo descritivo correlacional. Após a tradução e retroversão da escala para português e de um estudo piloto, obteve-se a versão final da AIMS2sv (2005). A recolha de dados no que respeita à vs. e ci. da escala, foi efectuada junto de uma amostra de 32 utentes com diagnóstico de AR, excluindo pessoas analfabetas ou com alterações cognitivas. Em relação à vc. recolheu-se opiniões de 11 profissionais de saúde com experiência profissional ≥ 3 anos e com conhecimentos e prática na área de Reumatologia. Na análise da ci. utilizou-se o método estatístico Alfa de Cronbach; para a vs. observou-se a correlação entre a AIMS2-sv e a versão curta do Health Assessment Questionnaire (HAQ); para a vc. procedeu-se a um tratamento quantitativo (Alfa de Cronbach e percentagem de concordância) na observação do grau de concordância dos profissionais, relativamente à importância de cada questão para a avaliação da AR, e a um tratamento qualitativo de análise das sugestões dos mesmos. Resultados: Relativamente à ci. obtiveramse valores de Alfa de Cronbach de 0,8800 e 0,7423; na vs. o Coeficiente de Correlação Linear entre a AIMS2-sv e o HAQ corresponde a 0,677; na vc. o Alfa de Cronbach foi de 0,9642 e mais de 2/3 das perguntas obtiveram uma percentagem de concordância ≥ 82%, do ponto de vista qualitativo as sugestões prendiam-se, na sua maioria, com a vertente gramatical da pergunta. Conclusão: Da análise dos resultados obtidos poder-se-á inferir que a AIMS2-sv (2005) apresenta índices significativos de validade e fidedignidade perante a realidade sócio-cultural portuguesa.. Palavras Chave: Artrite Reumatóide; Arthritics Impact Measurement Scales; Validação. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 35 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal patologia na funcionalidade e qualidade de vida do utente, é essencial dispor de instrumentos Introdução A Artrite Reumatóide (AR) é uma doença inflamatória crónica, de etiologia de medida adaptados e estandardizados ao respectivo contexto cultural do indivíduo. desconhecida, que ocorre em todas as idades, Actualmente, em Portugal existe apenas afectando preferencialmente o sexo feminino, um auto-questionário dirigido a utentes com numa razão de 3 para 1, em relação ao sexo patologias reumáticas – Health Assessment masculino Liga Questionnaire (HAQ). No entanto não existe Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas, nenhum auto-questionário específico para a 2004). avaliação da funcionalidade e qualidade de vida (Queiroz, 1996, Apresenta predominante crónico o das 2003; como manifestação envolvimento estruturas repetido articulares e dos utentes com AR, que se encontre traduzido e e validado à realidade portuguesa. tecido Segundo Rodrigues (1996), a Arthritics conjuntivo de qualquer parte do organismo, Impact Measurement Scale (AIMS) e o HAQ originando as mais variadas manifestações são as escalas mais utilizadas nas suas sistémicas. O tratamento da AR deverá ser versões curtas em Reumatologia. O HAQ tem a iniciado precocemente, centrando-se no alívio vantagem de ser o mais breve a completar, da dor e eliminação da actividade inflamatória, embora a AIMS o supere por incluir no seu tentando evitar deformidades e incapacidade formulário mais três dimensões. Note-se que o funcional. (Queiroz, 2003). São indubitáveis as HAQ, ao contrário da AIMS não aborda a consequências pessoais e sociais ao nível da componente psicológica. periarticulares podendo afectar o incapacidade no trabalho, elevadas taxas de A AIMS foi elaborada pelo Doutor utilização de serviços, mortalidade prematura e Robert Meenam e colaboradores, e publicada aumentos significativos de estados depressivos em 1980. Em 1992, o seu autor, completou decorrentes da cronicidade dos sintomas e uma revisão da mesma chamando-lhe AIMS2, alterações da AR. (Wolfe, O´Dell, Kavanaugh, esta última versão é constituída por 78 itens. Wilskek & Pincust, 2000). Em Novembro de 1996, os médicos Guillemien, Em Portugal, segundo o estudo CESAR Coste, Pouchot, Ghézail, Bregeon e Sany Artrite elaboraram em França, a versão curta da Reumatóide), os custos directos referentes ao AIMS2 (AIMS 2-sv). Esta nova versão, que se (Custo Económico e Social da por encontra num formato de duas páginas, reduz doente/ano e os custos indirectos, tendo em o incómodo para os utentes e a duração do conta os valores dos salários mínimo e médio e tempo de investigação para a pesquisa das pensões média de invalidez e de velhice, preservando foram de 3.362€ por doente/ano (Queiroz, fidedignidade (Guillemien et al, 1997). É 2003). composta por 26 questões divididas por 5 ano de 1999 foram de 3.313€ Considerando o profundo impacto desta Arquivos de Fisioterapia os índices de validade e Dimensões: Função Física; Sintomas; Estado Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 36 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal Psicológico; Interacção Social; Trabalho. As determinam a qualidade de um instrumento de respostas ás questões da AIMS 2-sv variam medida. entre “sempre”, “quase sempre”, “algumas A validade define-se como evidência de vezes”, “quase nunca” e “nunca” para a que um teste mede com precisão aquilo que se dimensão relativa ao estado psicológico, nas propõe medir (Cole, 1994; Fortin, 2000; restantes dimensões as respostas variam Rothstein, 1985 & Wilkin et al, 1993), estando entre “todos os dias”, “quase todos os dias”, relacionada com a adequação das inferências “alguns dias”, “poucos dias” e “nunca. As baseadas numa determinada medida (Sim & respostas encontram-se de modo aleatório e a Arnell, 1993), e podem ser referidas 3 pontuação das mesmas varia de 1 a 5, categorias: a validade de construção, a de devendo algumas delas ser devidamente critério ou simultânea, e a de conteúdo (Fortin recodificados antes do cálculo da pontuação da 2000 & Wilkin et al, 1993). dimensão. O score final é calculado pela soma da pontuação das 5 dimensões. A validade de construção, relevante no processo de construção do original de uma Todo o processo de avaliação sem escala, consiste em saber se os resultados bases científicas origina uma prática isolada, práticos, levando a uma comunicação pouco eficiente instrumento, correspondem às expectativas entre os profissionais de saúde, e a uma derivadas da construção teórica do próprio incapacidade na documentação da efectividade instrumento (Fortin, 2000; Sim & Arnell, 1993; da intervenção e, no contexto da Fisioterapia, Wilkin et al, 1993). tornando-se difícil reclamar a credibilidade científica para a profissão (Rothstein; 1985). Segundo Fortin (2000) a tradução dos obtidos após a aplicação do A validade simultânea representa o grau de correlação entre o instrumento de medida, ou uma técnica, e uma outra medida enunciados constitutivos das escalas tem por independente, objectivo permitir aos participantes exprimir na susceptível de tratar o mesmo fenómeno ou sua própria língua as nuances de certas conceito. (Fortin, 2000; Wilkin et al, 1993) características de maneira que aplicada em simultâneo e sejam A validade de conteúdo permite saber equivalentes aos relatados na língua original. se a escolha de cada componente do Este autor considera imprescindível para um instrumento de medida é apropriada para os processo de tradução adequado a utilização da domínios técnica de retroversão. As duas versões essencialmente (original e retraduzida) devem ser então entrevistas, inventários e de questionários, comparadas corrigidas e retraduzidas até que sendo fundamental a sua verificação junto de as duas versões atinjam um elevado grau de peritos. perfeição ou satisfação. principalmente qualitativo, no entanto é possível que O são supostos utilizada tratamento na da medir. validação informação É de é Fortin (2000) considera a fidedignidade uma abordagem quantitativa através do cálculo e a validade as características essenciais que da percentagem de concordância entre peritos Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 37 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal (Fortin, 2000). Materiais e Método A fidedignidade, propriedade essencial Questão Orientadora: Será que a dos instrumentos de medida, designa a versão portuguesa da escala AIMS 2-sv ficará precisão e a constância dos resultados que bem adaptada à realidade portuguesa e eles fornecem. Uma escala de medida é fiel se manterá as suas propriedades métricas? ela dá em situações semelhantes resultados Tipo de Estudo: De acordo com a idênticos (Fortin, 2000). Dos três tipos de questão de investigação estabelecida, este fidedignidade considerados na validação de estudo é do tipo descritivo correlacional ou de instrumentos de medida: fidedignidade inter- nível II (Fortin, 2000). observador; fidedignidade intra-observador e Tradução/Adaptação: O processo de consistência interna (Wilkin et al, 1993), tradução da escala foi efectuado pelas autoras apenas esta última é relevante quando se trata partindo da AIMS 2-sv original cedida pelo Dr. de auto-questionários e escalas que recolhem Guillemin obtendo-se uma 1ª versão a qual foi informação factual junto dos sujeitos. A sujeita consistência à professor de inglês bilingue, obtendo-se assim a um versão final da AIMS 2-sv. Realizou-se um instrumento de medida, indicando como cada estudo piloto (pré-teste) a 5 utentes com um deles está ligado aos outros enunciados da diagnóstico de AR do Serviço de Medicina escala. Quanto maior a correlação entre os Física e Reabilitação do Hospital Curry Cabral, enunciados maior a consistência interna do com o intuito de averiguar possíveis dúvidas ou instrumento. Segundo Fortin (2000), uma das dificuldades no preenchimento da escala, o qual principais técnicas para avaliar a consistência não se verificou, não tendo sido, portanto, feita interna é o Alfa Cronbach, o qual é utilizado qualquer alteração à versão final. homogeneidade interna dos corresponde enunciados de quando existem várias escolhas para o estabelecimento dos scores. a retroversão recorrendo a um Instrumentos de Recolha de dados: Instrumento A – constituído por uma primeira parte de explicação do estudo, consentimento Objectivos informado e itens relativos a factores sócio- O objectivo geral do estudo é contribuir demográficos; e uma segunda parte para o processo de adaptação e validação da englobando a AIMS 2-sv e a versão curta do Arthritics Impact Measurement Scales 2 – HAQ. Instrumento B – Composto por uma short version (AIMS2-sv) para a realidade primeira parte semelhante ao instrumento A, portuguesa, como instrumento de avaliação do por uma grelha com as 26 questões da AIMS impacto da AR, delineando-se como objectivos 2-sv correspondendo a cada uma delas uma específicos a verificação da validade de escala de cotação numérica de 1 a 5: conteúdo, 1. Concorda sem reservas; da validade simultânea consistência interna da mesma. e da 2. Concorda na generalidade mas propõe alterações. Arquivos de Fisioterapia Justifique e faça a Volume 1, nº3, Ano 2007, Página sua 38 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal sugestão; e 6,3% divorciados. Em relação à escolaridade 3. Não concorda com a forma como a pergunta está alterações formulada, substanciais e de propõe modo a continuar no guião. Justifique e faça a sua sugestão; 4. Discorda totalmente da verificou-se que: inclusão da pergunta no guião. Justifique e faça a sugestão; Escolaridade nº indivíduos (%) 4º ano 9º ano 12º ano Antigo 7º ano 40,6% 31,3% 9,4% 9,39% Curso Complementar de 3,13% Aprendizagem/Comércio Bacharelato em Secretariado 3,13% de Administração Mestrado em Ciências da 3,13% Educação 5 Sem opinião. Tabela 1.Distribuição por escolaridade(Amostra I) Esta grelha comporta ainda o espaço necessário para as justificações e sugestões encorajadas aquando da selecção das opções 2,3 ou 4 da escala de cotação descrita. A última parte do instrumento B é constituída por três questões cujas opções de resposta são SIM ou NÃO, sendo acompanhadas de uma Respeitante à situação laboral 62,5% estavam reformados, 15,6% empregados a tempo inteiro, 12,5% desempregados e 9,4% empregados a part-time. A média do tempo de diagnóstico de AR é de 10,3 anos, sendo o desvio padrão de 8,15 anos. área específica para sugestões/ justificação Amostra II – 11 profissionais de saúde (1. Concorda com estas perguntas?; Eliminaria com experiência profissional ³ 3 anos e com alguma(s) perguntas(s)?; Além das perguntas conhecimentos existentes Reumatologia contactados durante as diversas e das sugestões que fez, acrescentaria mais alguma(s) pergunta(s)?). e prática na área de etapas do estudo. Caracterização das Amostras: Amostra I – Foi seleccionada uma amostra de conveniência de utentes com diagnóstico de AR, da Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide (ANDAR) e do Hospital Profissão Nº Indivíduos Fisioterapeuta Médico Fisiatra Médico Reumatologista Terapeuta Ocupacional 2 2 1 6 Tabela 2. Distribuição por profissão (Amostra II) Curry Cabral (HCC), num total de 32 utentes, excluindo da amostra pessoas analfabetas que não tivessem ajuda para mediar e pessoas com alterações cognitivas. 84,4% dos indivíduos eram do sexo feminino e 15,6% do sexo masculino, com uma média de idades de 61,4 anos e um desvio padrão de 10,47 anos. Referente ao estado civil 53,1% dos indivíduos eram casados, 28,1% viúvos, 12,5% solteiros Arquivos de Fisioterapia Resultados Procedeu-se a uma abordagem quantitativa e qualitativa dos dados: a primeira através do seu tratamento estatístico utilizando os programas SPSS 12.0 for Windows (Tabela 3); e a segunda baseada na análise de dados relativos à validade de conteúdo. Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 39 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal Objectivos Tratamento Instrumento Quantitativo – Na verificação da qualidade Específicos Análise da Estatístico utilizado interna da escala foi utilizado o Alpha de Consistência Alpha de Cronbach Instrumento Interna Análise da Cronbach, o qual foi de 0,9642. A Correlação de Validade Pearson Simultânea Análise da Alpha de Cronbach e Percentagem (%) de concordância por questão Validade de Conteúdo Dada a especificidade das opiniões dos Instrumento peritos (amostra II) analisou-se a percentagem A de concordância por questão (“1-Concorda Instrumento sem reservas”) (Tabela 5). B Tabela 3. Resumo do Tratamento Estatístico de acordo com os objectivos específicos. Σ do n.º de questões que reúne Percentagem igual valor de percentagem de de concordância 1 15 5 4 1 Concordância 100% 91% 82% 73% 64% Consistência Interna (Fidedignidade): Na análise deste parâmetro utilizou-se o método estatístico Alpha de Cronbach o qual foi de 0,8800 para o preenchimento da Tabela 5. Opinião dos peritos: Percentagem de totalidade das questões da AIMS2-sv (26 concordância (%) questões) ás quais responderam 34,38% dos indivíduos da amostra I, e um valor de 0,7423 para o preenchimento de 24 questões pela totalidade da amostra I (100%) (as questões respeitantes à dimensão de trabalho (2 questões) não foram respondidas caso o individuo se encontrasse reformado, desempregado ou incapacitado). Da análise dos valores de Alpha de Cronbach para cada uma das dimensões da escala tem-se que: Tratamento Qualitativo - Da análise do instrumento B justificações/sugestões (grelha), ás as perguntas que reuniram uma cotação de 2 ou 3 prendiam-se, na sua maioria, com a vertente gramatical da pergunta. Relativamente à ultima parte do instrumento B, a questão: “Concorda com estas perguntas?”, todos os peritos (amostra II) responderam Sim. À questão “Eliminaria alguma(s) pergunta(s)?” apenas um perito respondeu Sim, justificando: “Não acho que Dimensão Função Sintomas Estado Psicológico Interacção Social Trabalho Alpha de Cronbach 0,6682 0,7889 0,8517 0,7281 0,9645 sejam pertinentes (perguntas 16 e 17) para o estudo visto mais à frente estarem perguntas mais directas e bem formadas para a recolha Tabela 4. Valores de Alpha de Cronbach por cada uma de informação acerca dos comportamentos das dimensões da AIMS2-sv. emocionais do doente com AR.” I.R. (Terapeuta Validade Simultânea: Testada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson entre a AIMS2-sv e a versão curta do HAQ, o qual correspondeu a 0,677 (p= 0,01). Validade de Conteúdo: Tratamento Arquivos de Fisioterapia Ocupacional). Em relação à terceira questão (“Além das sugestões perguntas que fez, existentes acrescentaria e das mais alguma(s) pergunta(s)?”) 8 peritos referiram que NÃO e 3 referiram que SIM, tendo feito as seguintes sugestões: “Consegue permanecer Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 40 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal algum tempo na posição de pé (10min)?; sv apresenta um elevado grau de fidedignidade. Consegue baixar-se/curvar-se para apanhar O segundo objectivo específico pretendia um objecto do chão?; Consegue abrir e fechar analisar uma garrafa de rosca?;Consegue cortar as aplicação do coeficiente de correlação de unhas com um corta unhas ou tesoura?; Pearson entre a escala AIMS 2-sv e o HAQ Consegue cortar um bife com faca e garfo?; (versão curta), surge uma correlação positiva Consegue descascar fruta ou legumes com com o valor de 0,677. A probabilidade de erro uma faca?” I.R. (Terapeuta Ocupacional); “Com considerada foi de p=0,01, numa amostra de que frequência necessitou de ajuda para tomar 32 indivíduos. A este respeito Fortin (2000) banho?; Com que frequência necessitou de refere que um coeficiente elevado sugere que ajuda para ir ás compras?” C.F. (Fisioterapeuta) os dois instrumentos medem o mesmo. Neste ; “Incluir uma escala de dor.” E.M. (Terapeuta sentido, Ocupacional). portuguesa da escala AIMS 2-sv possui índices a validade pode-se simultânea. concluir que Após a a versão significativos de validade simultânea para a amostra considerada, visto que indica uma Discussão/Conclusão O primeiro estudo prendia-se objectivo específico com a análise do correlação positiva entre os resultados totais da das duas escalas. fidedignidade, especificamente da consistência O terceiro objectivo visava analisar a interna da AIMS 2-sv, uma vez que, sendo uma validade de conteúdo da AIMS 2-sv. Salienta-se escala faria que todos os elementos da amostra II eram sentido o estudo da validade inter e intra- profissionais ligados à área da Reumatologia. observador. Relativamente à fidedignidade de Do ponto de vista qualitativo as justificações/ um instrumento de medida Fortin (2000) sugestões ás perguntas prendiam-se, na sua menciona que “se o coeficiente se aproxima de maioria, apenas com a vertente gramatical da 1,00, o instrumento gera poucos erros e é dito pergunta. Do cálculo do Alpha de Cronbach altamente fiel”, esta mesma autora acrescenta obteve-se um valor de 0,9642 revelando ainda que a variação aceitável para os grande concordância entre os profissionais, coeficientes de fidedignidade situa-se entre esta evidência é ainda corroborada pela 0,70 e 0,90. Tomando em conta as 26 elevada percentagem de concordância de questões respostas de auto-preenchimento, da AIMS2-sv não respondidas por máximas (“1. concorda sem 34,38% dos indivíduos da amostra I, e para as reservas”). Saliente-se ainda que nenhuma das 24 questões respondidas pela totalidade desta perguntas obteve cotação 5. (“Sem opinião”). mesma amostra, obtiveram-se valores de Perante Alpha de Cronbach de 0,880 e de 0,7423 considerar que a AIMS 2-sv possui índices respectivamente, e da análise da tabela 4., significativos de validade de conteúdo para a pode-se concluir que a consistência interna das amostra considerada. os resultados obtidos, pode-se respostas é bastante aceitável, e que a AIMS 2- Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 41 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal este nível, uma vez que não foi objectivo do Limitações Fortin (2000) adverte que a aplicação presente estudo a criação de uma nova escala, de questionários, ou outros elementos de auto- mas sim um contributo para a adaptação e preenchimento, implica validação da AIMS 2-sv à realidade portuguesa. algumas desvantagens que podem influenciar Considerar-se pertinente um estudo futuro que os abranja amostras de maiores dimensões e que numa resultados do amostra estudo, tais como a impossibilidade de controlar as condições de englobe uma maior diversidade de indivíduos. preenchimento do questionário, a fraca taxa de Seria também relevante analisar qual o índice resposta bem como elevada taxa de dados em de aplicabilidade da AIMS2-vc à população falta. Por se tratar de um instrumento auto- portuguesa com AR. Pode-se administrado, a utilização da AIMS2-sv torna-se específica a indivíduos com qualificação dizer, portanto, que os objectivos deste estudo foram alcançados, e suficiente para o seu preenchimento. Por outro que lado, a informação pretendida é relativa ás profissionais de saúde, um instrumento de quatro seu medida, para a avaliação do impacto da AR, preenchimento. Estes dois factores foram com um nível de validade e fidedignidade contributivos para o surgimento de várias significativos: a AIMS2-sv (2005). semanas condicionantes, anteriores revelando-se ao tanto o mesmo possibilitou facultar aos mais significativas quanto menores as habilitações Bibliografia literárias dos inquiridos. No entanto, tal como já - COLE, B et al (1994) – Physical rehabilitation foi referido, no presente estudo verificou-se Outocme uma elevada taxa de resposta e a ausência de Association.; dados em falta. Pode-se considerar como - FORTIN, M.F.; (2000) - Processo de investigação – limitações centrais do estudo os “timings” de excussão do mesmo, considerados insuficientes, dada a especificidade do estudo e dos trâmites burocráticos associados; o Measures. Canadian Physiotherapy da concepção à realização; 2ª edição, Lusociência, Loures; - LIGA PORTUGUESA CONTRA AS DOENÇAS REUMÁTICAS (2004); Quem somos-Apresentação; www.lpcdr.pt, consultado em 21/01/04. número de elementos das amostras e a - QUEIROZ, M. V. (1996) – Reumatologia Clínica. impossibilidade Lisboa: Lidel – Edições Técnicas Lda. de garantir a representatividade das mesmas, limitando a QUEIROZ, M. V. (2003) – Artrite Reumatóide. (1.ª generalização ás respectivas populações. ed.). Ed. A.N.D.A.R. - RODRIGUES, J. (1996) – Contributo para a adaptação à população portuguesa de um auto- Sugestões Este estudo poderá surgir como ponto de partida para futuros trabalhos: As sugestões apontadas pelos peritos poderão ser tomadas em conta em futuros trabalhos a Arquivos de Fisioterapia questionário de avaliação do impacto da artrite reumatóide. Alcoitão. Escola Superior de Saúde de Alcoitão; - ROTHSTEIN, J.M (1985) – Measurement in Physical Therapy. New York – Churchill Livingstone. Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 42 Arthritics Impact Measurement Scales 2 – sohrt version (2005): Contributo para a Adaptação e Validação para Portugal - SIM, A. & ARNELL, P (1993) – Measurement - WOLFE, F.; O´DELL, J.; KAVANAUGH, A.; WILSKE, Validity in Physical Therapy Research; Physical K. & PINCUS, T. (2000)– Evaluating Severity and Therapy. Status in Rheumatoid Arthritis; Revista Arthritics - WILKIN D. et al (1993) – Measures of Need and Research Center Foundation; Outcome for Primary Health Care – Oxford. Medical Publications. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 43 Imagiologia na Fisioterapia Imagiologia na Fisioterapia Patrício, P. RESUMO Autores - Patrício, Pedro Téc.º Coordenador de Imagiologia Hospital da Luz / Clínica Parque dos Poetas Espírito Santo Saúde A prestação de cuidados de saúde de excelência exige a permanente articulação de conhecimento entre equipas multidisciplinares nas diversas áreas médicas e das tecnologias da saúde, nas quais se incluem, nomeadamente, a Imagiologia e a Fisioterapia, de modo a garantir uma adequada resposta às necessidades de saúde de cada paciente. Neste contexto, é essencial definir a sensibilidade das diferentes modalidades imagiológicas para o diagnóstico mais adequado, tendo em conta a particularidade de cada situação clínica. Assim, neste artigo, para além de uma breve síntese histórica, serão abordadas de forma sumária, as diferentes técnicas imagiológicas mais utilizadas em ambiente fisioterápico, bem como a principal vocação de cada uma delas, na perspectiva de as enquadrar na já referida particularidade clínica. Palavras Chave: Imagiologia; Fisioterapia Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 44 Imagiologia na Fisioterapia A descoberta ocasional da radiação X por respectivamente a ultra-sons e a estímulos de Wilhelm Konrad Roentgen, em 1895, veio radiofrequência na presença de um campo revolucionar a comunidade médico-científica, magnético, estão, actualmente, integradas nas originando a Radiologia como uma nova modalidades de exames diagnósticos na área especialidade médica capaz de proporcionar da Imagiologia. uma nova visão dos fenómenos anatomo-patológicos imagem, como resultado de uma imagem bidimensional. complexa rede de processos, apresenta-se sistema convencional como um veículo de informação diagnóstica constituído pelo conjunto ecrã-película sofreu determinante na orientação de medidas e uma constante adaptação tecnológica em opções terapêuticas, pelo que o conhecimento função de parâmetros de natureza técnica, de alguns princípios de imagiologia se torna nomeadamente, redução da dose de radiação extremamente absorvida pelos pacientes, maximização da profissional do fisioterapeuta, especialmente qualidade da imagem e eficácia e eficiência na nas modalidades imagiológicas relacionadas de disponibilização e acesso à mesma, evoluindo forma para os actuais equipamentos baseados em nomeadamente, imagens detectores digitais de radiação, permitindo, em Radiografia Simples, última instância a optimização dos cuidados de Computorizada (TC), Ressonância Magnética saúde prestados. (RM), Ecografia e Densitometria Óssea. Desde numa A então, o A Imagiologia constitui, actualmente, uma pertinente directa com a no sua exercício intervenção, resultantes de Tomografia Neste contexto, é essencial definir a das mais amplas áreas no que respeita aos sensibilidade das diferentes métodos complementares de diagnóstico e imagiológicas terapêutica, definindo-se como uma inovação e adequado, tendo em conta a particularidade de redefinição no anterior conceito de Radiologia. cada situação clínica. para o modalidades diagnóstico mais A necessidade de efectivar esta mudança Deste modo, a radiografia simples (Fig.1) de terminologia surgiu, sobretudo, devido aos constitui um meio de diagnóstico de menor constantes avanços tecnológicos, decorridos custo, maior disponibilidade e suficientemente nas eficaz para estudo de algumas lesões da coluna últimas décadas, associados aos equipamentos médicos, com o aparecimento vertebral e do sistema osteo-articular, uma vez de novas formas de aquisição de imagens clínicas sem recurso a radiação ionizante, tendo sido espontaneamente incluídas no domínio da Radiologia, por se tratarem de imagens utilizadas como complemento diagnóstico. Neste sentido, técnicas de imagem como a Ultrassonografia e a Ressonância Magnética (RM), que recorrem Fig. 1. Radiografia do ombro em face e tíbio-társica de face Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 45 Imagiologia na Fisioterapia que, apresenta elevada sensibilidade na detecção de alterações tumorais, infecciosas ou a TC constitui o exame de primeira linha para o degenerativas, estudo do sistema nervoso central e do tórax, inflamatórias, sendo ainda frequentemente utilizado para a traumáticas e de malformações, bem como, de abordagem patologias do foro respiratório, tais como, estudos articulares, com eventual recurso a asma, bronquite e infecções respiratórias. Artro-TC, ou seja, opacificação do espaço Por sua vez, a TC (Fig. 2) permite a obtenção articular através de um meio de contraste. de imagens traumáticas e No que respeita aos estudos por RM (Fig. resolução espacial e de contraste a partir de 3), pode evidenciar-se o seu valor diagnóstico uma aquisição num plano axial, possibilitando através de uma maior resolução de contraste boa descriminação com patologias elevada uma multiplanares de anatómica, não limitada pelas estruturas ósseas. Desta forma, Fig. 3. RM do joelho nos planos coronal e sagital. e espacial que se traduz numa excelente diferenciação Fig. 2. TC Coluna Lombar em reformatações 3D e imagem axial da coluna lombar Arquivos de Fisioterapia tecidular, sobretudo em patologia tumoral, isquémica e desmielinizante do sistema Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 46 Imagiologia na Fisioterapia nervoso central, bem como em patologia tecido subcutâneo, músculos, degenerativa e tumoral da coluna vertebral, ligamentos, apresentando-se, ainda, extremamente útil na cartilagens e líquido sinovial, constituintes do percepção sistema locomotor, permitindo a clara distinção de lesões músculo-tendinosas, cartilagíneas, ligamentares e hematomas e complexo tendões, cápsulo-sinovial, entre estruturas sólidas e líquidas. contusões ósseos, derivados de traumatismos. Por outro lado, a Densitometria Óssea No entanto, este exame apresenta algumas constitui o exame de eleição para detecção limitações à sua realização, tais como a precoce presença de pacemakers e material ferromagnético. de transmitindo, alterações assim, osteoporóticas, uma informação diagnóstica de máxima fiabilidade relativamente A Ecografia (Fig. 4) constitui um estudo de à situação actual e futura da paciente no que maior resolução de contraste relativamente à se refere ao seu nível de osteoporose, radiografia simples, demonstrando-se eficaz no apresentando, igualmente, dados suficientes estudo dos tecidos moles, especificamente, do para a determinação da probabilidade de ocorrência de fracturas relacionadas com esta patologia. Fig. 4. Ecografia do compartimento interno do joelho Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 47 “N” Reflexões - O Exercício em Fisioterapia – Padrões de Prática O Exercício em Fisioterapia - Padrões de Prática Coutinho, I.M. RESUMO Autores - Coutinho, Isabel Maria Fisioterapeuta, Profª. Coordenadora do Curso Superior de Fisioterapia da ESTeSL Com as alterações estruturais ao nível do sistema de saúde português, surge a necessidade de evidenciar o papel dos fisioterapeutas no referido sistema , como agentes indispensáveis para a melhoria da qualidade e eficácia na prestação de cuidados de saúde. Desta forma impõe-se a necessidade de regular sectores de actividades de prestação de cuidados de saúde, processo só possível de atingir pela prossecução de algumas etapas. A primeira etapa superou-se ao atingir um quadro legal onde é muito clara a definição de fisioterapia, recorrendo-se à mesma para definir o fisioterapeuta, tanto no sector público, como no sector privado, A etapa seguinte expressa-se na World Confederation for Physical Theraphy (WCPT) e na Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APF) ao definirem os padrões de prática em fisioterapia. Estes têm como finalidade melhorar a qualidade dos cuidados globais de saúde, pela implementação de padrões elevados de educação e prática em fisioterapia (APF, 2005). Objectivos: Analisar o percurso do exercício da fisioterapia em Portugal e dos seus padrões de prática. Palavras Chave: Fisioterapia, Fisioterapeutas, Padrões de prática Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 48 “N” Reflexões - O Exercício em Fisioterapia – Padrões de Prática Nos serviços públicos de saúde aquele A Fisioterapia em Retrospectiva A primeira definição de Fisioterapia em objectivo tem expressão no diploma da carreira Portugal surgiu no ano de 1993, no contexto dos técnicos de diagnósticos e terapêutica, da regulamentação geral das actividades reestruturada pelo Decreto-Lei nº384-B-85, de paramédicas, assumindo a seguinte redacção: 30 de Setembro, e diplomas complementares, “Centra-se na análise e avaliação do movimento havendo necessidade de proceder a uma e da postura, baseadas na estrutura e função regulamentação mais alargada que igualmente do corpo; utilizando modalidades educativas e garante no sector privado idênticas exigências terapêuticas, com base, essencialmente, no de acesso ao exercício profissional, sujeitando- movimento, nas terapias manipulativas, e em se a prestação de cuidados de saúde ao meios físicos e naturais, com a finalidade de mesmo controlo de qualidade. promoção da saúde e prevenção da doença, da Foi esse o objectivo do Decreto-Lei nº deficiência da incapacidade e da inadaptação, e 261/93 de 24 de Julho, vindo o Decreto-Lei de nº320/99 de 11 de Agosto prosseguir para o tratar, habilitar ou reabilitar, utentes/clientes com disfunções de natureza sector física, mental, de desenvolvimento ou outras, regulamentação das actividades técnicas de incluindo a dor com o objectivo de os ajudar a diagnóstico e terapêutica que condicione o seu atingir a máxima funcionalidade e qualidade de exercício em geral, quer na defesa do direito à vida.” (Decreto-lei nº261/93 de 24 de Julho) saúde, Subjacente a esta definição existe todo um cuidados manancial as adequada, quer na defesa dos interesses dos actividades dos fisioterapeutas no sector profissionais que efectivamente possuam os privado e no sector público, a que importa fazer conhecimentos e as atitudes próprias para o uma alusão. exercício de legislação que regula Assim, em relação ao sector privado e privado, através proporcionando por quem da a de uma prestação detenha correspondente de habilitação profissão (Fisioterapia). tal como decorre da base I da Lei nº48/90, de Ao consultarmos o Decreto-Lei nº 24 de Agosto, a protecção da saúde constitui 320/99 de 11 de Agosto verificamos que se um direito dos indivíduos e da comunidade, que optou por uma regulamentação genérica se efectiva pela responsabilidade conjunta dos destas profissões em geral e da fisioterapia em cidadãos, da sociedade e do Estado, em particular, essencialmente liberdade de procura e de prestação de concessão de cuidados, nos termos da Constituição e a Lei. Fisioterapeuta —, como garante do seu lícito um título baseada na profissional — Desta forma impõe-se a necessidade de exercício, criando-se um órgão consultivo de regular sectores de actividades de prestação apoio ao Ministro da Saúde que participe no de cuidados de saúde, designadamente do acompanhamento e desenvolvimento deste âmbito paramédico, na sequência do Decreto- sector Lei nº261/93 de 24 de Julho. igualmente, a articulação com o Sistema Arquivos de Fisioterapia de actividade, e promovendo--se, Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 49 “N” Reflexões - O Exercício em Fisioterapia – Padrões de Prática Nacional de Certificação, criado pelo Decreto- sistema educativo nacional ao nível do Ensino Lei nº95/92, de 23 de Maio, e regulamentado Superior pelo Decreto Regulamentar nº68/94, de 26 publicação do Decreto-Lei nº415/93, de 23 de de Novembro, nomeadamente através da Dezembro, no qual se verificaram alterações Comissão Permanente de Certificação e da significativas de ordem curricular e institucional Comissão Técnica Especializada da Saúde. nos No desenvolvimento do Politécnico e à estabelecimentos subsequente de ensino, Decreto-Lei consubstanciando-se, de igual modo, a evolução nº261/93, de 24 de Julho, e no quadro do verificada no domínio das ciências aplicadas da disposto da base XV da Lei nº48/90, de 24 de saúde, no âmbito das profissões que integram Agosto, a relevância das actividades de saúde a carreira. exige que a sua prestação seja sujeita a acções Assim, o Decreto-Lei nº 564/99, de 21 de acompanhamento, evitando situações de de Dezembro, visa dotar a carreira de Técnico exercício inqualificado que devem merecer a de diagnóstico e terapêutica, onde estão imediata intervenção dos poderes públicos, integrados os fisioterapeutas, de um estatuto através que melhor evidencie o papel dos profissionais dos actuais mecanismos do licenciamento, de acções inspectivas e da no sistema de saúde, como agentes especial atenção das autoridades de saúde. indispensáveis para a melhoria da qualidade e Em síntese, o Decreto-Lei nº320/99, eficácia da prestação de cuidados de saúde, de 11 de Agosto, tem como objecto a definição adoptando uma escala salarial adequada aos dos princípios gerais em matéria do exercício níveis de formação anteriormente consagrados das profissões de diagnóstico e terapêutica, e a um desempenho profissional que se revela em geral, e da fisioterapia em particular, de crescente complexidade e responsabilidade. passando a designa-las por profissões e A alteração pontual da carreira procede à sua regulamentação para o sector introduzida pelo Decreto-Lei nº 564/99, de 21 privado. de No que diz respeito ao sector público, a carreira de técnico de diagnóstico e Dezembro, tem subjacente o reconhecimento da necessidade de uma reestruturação mais aprofundada que terapêutica, na qual estão integrados os compatibilize o respectivo exercício como fisioterapeutas, regulamentada processo de reforma de ensino em curso, pelo Decreto-Lei nº384-B/85, de 30 de entretanto reflectindo no seu novo grau Setembro, complementares, académico previsto na portaria nº 505-D/99, inserindo-se nos corpos especiais da saúde de 15 de Julho (Licenciaturas Bietápicas), e instituídos pelo Decreto-Lei nº184/89, de 2 de que procede à reavaliação das designações Junho. quer da carreira quer das profissões em geral e encontra-se diplomas A necessidade de um novo estatuto de que a integram e da fisioterapia em particular, carreira para estes profissionais deve-se à de modo a torná-las mais consentâneas com o reformulação do ensino, à sua integração no seu grau de desenvolvimento. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 50 “N” Reflexões - O Exercício em Fisioterapia – Padrões de Prática Do mesmo modo será essencial ter em mesma, determina os princípios éticos que os conta, nessa futura reestruturação, uma Membros das Organizações aderentes devem definição de conteúdos funcionais, actualmente respeitar pelo facto de serem membros da regulados pela Portaria nº 256-A/86, de 28 WCPT. de Maio, manifestamente desactualizados, mas Estes princípios estabelecem que os com justificação residual, pelo que se mantêm fisioterapeutas devem (APF, 2005): transitoriamente em vigor (D.L. nº 564/99, de • Respeitar os direitos e a dignidade de todos 21 de Dezembro). os indivíduos; No que respeita à caracterização das • Agir de acordo com as leis e regulamentos profissões que integram a carreira, e tendo em da prática de fisioterapia no país em que conta os princípios gerais constantes no trabalham; Decreto-Lei nº 320/99, de 11 de Agosto, optou-se por inserir neste diploma o conteúdo da lista do Decreto-Lei nº 261/93, de 24 de Julho (D L. nº 564/99, de 21 de Dezembro). Em resumo, no actual quadro legal é muito clara a definição de fisioterapia e recorre-se à mesma para se definir o fisioterapeuta, tanto no sector público, como no sector privado. • Aceitar a responsabilidade para o exercício; • Providenciar o exercício profissional responsável, honesto e competente; • Ter a obrigação de promover serviços de qualidade, de acordo com os objectivos e política delineadas pela APF; • Ter um nível salarial suficiente e justo para o exercício profissional; Os Padrões de Prática em Fisioterapia A World Confederation for Physical Theraphy (WCPT) e a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (APF) ao definirem os padrões de prática em fisioterapia, têm como • Promover uma informação cuidada aos utentes, a outras instituições e à comunidade sobre a fisioterapia e o papel do planeamento e fisioterapeuta; e • Contribuir para o finalidade melhorar a qualidade dos cuidados desenvolvimento das unidades que dão globais de saúde, pela implementação de resposta às necessidades da saúde da padrões elevados de educação e prática em comunidade. Os padrões de prática são necessários fisioterapia (APF, 2005). Nas Declarações de Princípios e para (APF, 2005): Recomendações da WCPT, bem como no art. • Implementar 2º dos Estatutos da APF está consagrada a prestados obrigação de assegurar padrões de elevada demonstrando também aos cidadãos que os qualidade, na prestação e cuidados (APF, fisioterapeutas são profissionais de saúde 2005). O documento, que foi aprovado em indispensáveis neste processo; Assembleia Geral da WCPT, em 1995, e ao qual a APF está vinculada por integrar a Arquivos de Fisioterapia a e qualidade a sua dos serviços auto-regulação, • Orientar os fisioterapeutas na conduta e avaliação das suas práticas; Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 51 “N” Reflexões - O Exercício em Fisioterapia – Padrões de Prática • Conduzir e orientar os Fisioterapeutas no seu desenvolvimento profissional contínuo e tema da terceira categoria, que é composta por três padrões de prática. Por fim, a quarta categoria é composta aprendizagem ao longo da vida; • Informar sobre a natureza do profissional de pelo tema do desenvolvimento profissional fisioterapia aos Governos, órgãos de tutela e contínuo e aprendizagem ao longo da vida, outros grupos profissionais; composto por quatro padrões de prática onde • Reflectir os valores, condições e objectivos são abordados e desenvolvidas questões que necessários ao desenvolvimento permanente têm directamente a ver com a necessidade de da profissão; o • Ter como base princípios válidos e mensuráveis; • Ir de encontro às necessidades de mudança da comunidade; e • Servir como um meio de comunicação com os membros de profissão, empregadores, outros profissionais de saúde, governos e o público em geral. Os padrões de prática em fisioterapia fisioterapeuta e as instituições estabelecerem projectos educacionais após a formação inicial (APF, 2005). Os padrões de prática em fisioterapia assumem desta forma um papel crucial na excelência da prática. Bibliografia - Associação (2005). Portuguesa Padrões de de prática. Fisioterapeutas Adaptação do documento da região Europeia da WCPT (Core estão divididos em quatro categorias: parceria Standards of Phyical Therapy Practice). (2ª ed.), com o utente, recolha de dados e ciclo de APF. intervenção, promoção de um ambiente seguro - Decreto-Lei nº 384-B/85 de 30 de Setembro (segurança do utente e do fisioterapeuta) e - Decreto-Lei nº 320/90 de 11 de Agosto desenvolvimento - Lei nº 48/90 de 24 de Agosto profissional contínuo/aprendizagem ao longo da vida - Decreto-Lei nº 95/92 de 23 de Maio (DPC/ALV). - Decreto-Lei nº 261/93 de 24 de Julho A primeira categoria é constituída por três padrões e diz respeito à comunicação e relação terapêutica que se estabelece entre o fisioterapeuta e o utente. - Decreto-Lei nº 415/93 de 23 de Dezembro - Decreto Regulamentar nº 68/94 de 26 de Novembro - Portaria nº 505-D/99 de 15 de Julho - Decreto-Lei nº 564/99 de 21 de Dezembro A recolha de dados e o ciclo de intervenção é a segunda categoria, sendo composta por doze padrões que se centram na avaliação do utente, no planeamento, no estabelecimento de protocolo de intervenção e Leituras sobre este tema - Coutinho, M. I. (1999). Atitudes dos fisioterapeutas face ao exercício e ao ensino na área da Administração Regional de Saúde de na reavaliação. Lisboa e Vale do Tejo. Dissertação apresentada A promoção de um ambiente seguro para para obtenção do grau de Mestre em Psicologia segurança do utente e do fisioterapeuta são o Educacional ao Instituto Superior de Psicologia Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 52 “N” Reflexões - O Exercício em Fisioterapia – Padrões de Prática Aplicada,Lisboa. - Coutinho, M. I. (2003). Atitudes dos Fisioterapeutas face aos Padrões de Prática em Fisioterapia. Dissertação apresentada para a realização de provas públicas para professorcoordenador á Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Lisboa. Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 53 Arquivos de Fisioterapia Índice de Anunciantes - Sede: Rua Joaquim António de Aguiar, nº 66, 2º Esq. 1070-153 Lisboa - Escritório Sul: Rua das Oliveiras, Edifício Adriático, 1º,C 8125-472, Vilamoura Telefones: 289 314 742 /96 232 90 50 www.sorisa.pt LISBOA Av. Ressano Garcia, 1B - 1070-234 Lisboa Telefone: 21 381 80 00 | Fax: 21 381 80 88 PORTO Rua do Campo Alegre, 1308 - 4150-174 Telefone: 22 606 10 00 COIMBRA Av. Fernão de Magalhães, 667-Loja C 3000-178 Coimbra Telefone: 239 84 13 17/8 FARO Av. Calouste Gulbenkian - Horta das Figuras, Lote 33/ Bloco A Loja B - 8005-541 Faro Telefones: 289 80 33 91 FUNCHAL Rua 31 de Janeiro, 146 A/B, - 9050-011 Funchal Telefones: 291 70 84 90 Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº3, Ano 2007, Página 54