Forca na peruca - Carlini e Caniato Editorial

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Forca na peruca - Carlini e Caniato Editorial
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© Mirela Janotti, 2012.
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa da autora
e das editoras (art. 184 do Código Penal e Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J34f
Janotti, Mirela
Força na Peruca! Tragédias e Comédias de um
Câncer./ Mirela Janotti. 2. ed. Cuiabá: Carlini &
Caniato; Just Editora, 2012.
ISBN – 978-85-8009-043-7 (Carlini & Caniato)
ISBN – 978-85-64861-18-3 (Just Editora)
1.Literatura. 2.Saúde – Comportamento.
3.Câncer. 4.Tragicomédia. I.Título
CDU 82 : 61 : 159.9
Editores
Elaine Caniato
Ramon Carlini
Alexandre Mazega
Capa e ilustrações
Fernanda Guedes
Foto da autora
Paulo Schlick
Ilustrações do auto-exame
Gilberto Yudi
Revisão
Aquiles Lazzarotto
Carlini & Caniato Editorial (nome fantasia da Editora TantaTinta Ltda.)
Rua Nossa Senhora de Santana, 139 – sl. 03 – Goiabeira
Cuiabá-MT – (65) 3023-5714
carliniecaniatoeditorial.wordpress.com - [email protected]
Just Editora
Rua Marcelina, 207 – Vila Romana
São Paulo - SP – (11) 2169-6126
www.justeditora.com.br
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Dedico este livro à minha avó Lola,
meu maior exemplo de força.
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Sumário
Prefácio (por Ênio Mainardi) ....................................................................... 9
Tragédias e comédias............................................................................ 11
Eu tenho medo do plantão do Jornal Nacional ................................. 15
Era uma vez uma ervilha ...............................................................19
Se não fose a minha mãe ...........................................................23
Entrando na faca ................................................................... 27
É Natal .................................................................................. 31
A peruca ..............................................................................35
Feliz 2007 .......................................................................... 39
A primeira vez em um oncologista
a gente nunca esquece ..................................................... 43
Eu, minha carrasca ............................................................47
Vai uma picadinha ai? .......................................................... 51
Eu continuo a mesma mas os meus cabelos ..........................55
Tudo o que você nunca quis saber sobre a quimioterapia ...... 63
Viver dá câncer ............................................................................... 69
Tudo quase se ajeitando ...................................................................... 73
A convenção mundial dos lenços ........................................................81
Na balada ............................................................................................. 85
Depois do susto, divirta-se ..................................................................91
Na era da rádio .................................................................................... 95
Acabooooooooou! ..............................................................................99
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O doutor invisível ..............................................................................103
Passar de ano ..................................................................................... 107
Faça o que eu digo, não o que faço.....................................................111
Mulheres de peito ............................................................................... 119
Vai por mim .......................................................................................123
Se este livro fosse uma música...........................................................127
Dicas de programas para quem tem pouco tempo de vida ............. 131
Dez anos depois.................................................................................. 135
Thank you, very much ........................................................................139
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Mirela Janotti
Prefácio
por Enio Mainardi
Câncer? Me assusta mais a doença de Alzheimer. Depois vem a
doença de Parkinson. Então fica assim a minha hierarquia de medos:
Alzheimer na ponta, Parkinson em segundo lugar e, pagando placê,
num terceiro lugar, o câncer. Este livro da Mirela, portanto, trata do
meu medo menor. Mas não é sempre assim. Quando faço endoscopia
para controlar úlceras antigas e que podem voltar, o câncer às vezes vira
meu pior medo, disparado na frente dos outros. Tudo depende, num
momento ou noutro, de como vai a percepção das minhas próprias
fragilidades.
Pior ainda é eu saber que posso ficar realmente doente dependendo de como está minha cabeça. Artigos que tratam do assunto, o lado
psicossomático, alargam o campo de minhas incertezas, minhas culpas.
Quer dizer que posso ser o culpado se eu pegar câncer? Pode, dizem
os doutos. Nesse caso os doentes podem ser seus próprios carrascos.
Infernal, além de estar doente, ainda ser o responsável pela existência
da doença. Esse é outro medo para acrescentar aos meus já existentes:
não me deixar ficar deprimido. Livrar-me dos desgostos e não permitir
emoções de baixa estima. Não é fácil.
Comer certos alimentos, também dizem, pode ajudar a criar um
escudo de força, como se fossem vacinas infalíveis contra várias doenças.
Não são, mas as revistas insistem em recomendar determinados legumes,
sei lá, a lista é inesgotável.
Mas parece que o perigo maior, mesmo, é estar vivo. Dessa maneira,
temos a obrigação de ficar vigilantes. De um lado, há que se controlar
as emoções deletérias. De outro, nos livrar dos hábitos ruins. Atravessar
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Força na Peruca!
a rua sem olhar para os lados também pode ser absolutamente mortal,
como nos ensinaram quando éramos pequenos. E na hora do amor,
ronda a Aids.
Estamos assim, agora, nesta época de tantos conhecimentos, sabendo demais das sombras que nos acompanham. O que não sabemos,
por certo, é como vamos reagir se, apesar de tantos cuidados, cairmos
doentes.
Para Mirela, a vida saiu desses temores teóricos e aconteceu na
prática. Ela conta neste livro, com muito senso de humor e coragem,
como enfrentou o câncer que ainda não tivemos. Ou que vamos ter,
toc, toc, toc.
É uma experiência que pode nos ensinar muito. O quê, verdadeiramente? Não sei. A leitura talvez sirva para nos acalmar um pouco ao
mostrar que não existe nada que não possa ser olhado com os olhos
abertos. De frente. Nesse sentido, ler este livro da Mirela é como acender
a luz, quando se está com medo, no escuro. Nossos fantasmas fogem
da luz.
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Tragédias e comédias
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Força na Peruca!
Segundo os otimistas, tudo de ruim que acontece na vida da gente
tem um lado bom. Se o casamento terminou, pode ser a oportunidade
de conhecer alguém melhor. Se você perdeu o emprego, quem sabe
não vem uma proposta com mais dinheiro? Mas, e se essas duas coisas
acontecerem ao mesmo tempo? E, se, para piorar, você descobrir que
está com aquela doença. Aquela doença que antigamente não era nem
pronunciada. Como o grande vilão de Harry Potter. Aquele que não
deve ser nomeado. Haja falta de sorte.
Pois comigo foi assim.
Nem o mais otimista dos meus amigos achou um lado bom quando
eu disse que estava com câncer. Eles já tinham me consolado na minha
separação. Já tinham ouvido meus lamentos por ter perdido um ótimo
emprego.
Mas que proveito eu poderia tirar de um câncer? Morrer, talvez.
E depois tentar a sorte em uma próxima reencarnação. Nascer em um
corpo novo, sem nenhum tumor. De preferência, na pele de alguém mais
afortunado. Uma Angelina Jolie, por exemplo. Como admiro aquela
mulher. Linda, famosa, bem-sucedida, livre de preconceitos e ainda por
cima casada com um deus grego.
Passei alguns dias após a notícia esperando pela morte. Rezava para
morrer dormindo e já acordar Angelina Jolie. Mas tudo o que eu via quando
abria os olhos era a minha empregada Rosângela segurando uma bandeja
com suco de beterraba. Minha mãe decidiu que quem tinha câncer deveria
tomar muito suco de beterraba. Eu fechava os olhos e pedia mais meia hora só
que antes era obrigada a engolir o suco porque senão “perdia a vitamina”.
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Mirela Janotti
Anoitecia, amanhecia e, em vez do Brad Pitt ao meu lado na cama,
a mesma Rosângela, com o mesmo suco de beterraba.
Descobri então que eu não morreria só com a força do pensamento.
Dia após dia eu ficava mais vitaminada, com uma feira inteira na
hora das refeições: espinafre, escarola, couve, caldo de músculo, fígado,
sopa de lentilhas.
Decidi viver mais um pouco, nem que fosse só para voltar a comer
um hambúrguer com bacon e tomar uma cervejinha.
Passaram-se duas cirurgias, veio a quimioterapia e por mais incrível
que pareça, fui descobrindo coisas bacanas no câncer.
Minha grande amiga Mônica Tritone me disse: “Se Deus te der
uma folha de papel, agradeça. Diga: nossa, que máximo, eu tenho uma
folha de papel”. Então, quando não tive mais meus seios, comprei outros novinhos e concluí que os artificiais eram muito mais durinhos e
sensuais do que os originais de fábrica.
Mostrava meus peitos novos para todo mundo. Para a família, os
médicos, as enfermeiras, os amigos, o guarda da rua, o taxista.
Quando não tive mais meus cabelos, comprei uma peruca loira
que me deixava parecendo uma garota de programa e talvez por isso
mesmo fazia sucesso com o sexo oposto. Na verdade, fazia mais sucesso
com os míopes porque brilhava além do necessário e, dependendo da
iluminação do ambiente, eu ganhava uns ares de travesti.
A peruca tinha outro inconveniente: esquentava e tinha que estar
sempre muito bem fixada, quase esmagando o crânio, porque senão
balançava e saía do lugar. Não cheguei a usá-la mais do que umas três
ou quatro vezes e o que acabou mesmo fazendo a minha cabeça foram
os lenços. De seda, de malha, estampados, lisos, curtos, compridos.
Gastei mais dinheiro com lenços do que se tivesse ido ao cabeleireiro para fazer tinturas ou chapinhas. Um dia eu saía de muçulmana,
no outro de cigana, pirata, portuguesa, hippie-chic ou então, vendedora
de acarajé. Era o maior style.
Com o tempo, eu também aprendi a tirar proveito de algumas
situações.
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Força na Peruca!
Furava a fila do cinema dizendo com cara de coitada ao atendente: “Não posso ficar muito tempo em pé por causa da quimioterapia”.
Imediatamente eu era acomodada no melhor lugar da sala, com direito
a pipoca delivery.
Ia para a balada e jogava a mesma conversa: “Faço quimioterapia,
senhor.” E, logo que o hostess virava as costas, eu pedia ao garçom da
minha mesa vip: “Uma caipirinha de lima da Pérsia, por favor”.
Também pude comprar um carro bacana ao preço de um popular
por ficar isenta dos impostos. Sim, alguns portadores de câncer não
pagam IPI nem IPVA. Meus amigos morriam de inveja.
Por último, voltando à história da folha de papel, escrevi este livro que, graças a você que comprou, ainda pode me render uns bons
trocados.
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Eu tenho
medo do
plantão
do Jornal
Nacional
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