Jerald Whitehouse

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Jerald Whitehouse
MISSÃO MUNDIAL
Jerald Whitehouse
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por Jerald Whitehouse
S
em entrar em muitos detalhes, parece ser apropriado esclarecer a minha compreensão de
“diálogo” desde já. Isso se faz necessário pelo fato de que essa palavra tem sido usada por
pessoas diferentes e de maneiras significativamente diferentes. Eu apresentaria a seguinte
definição para o propósito da minha discussão neste artigo:
Diálogo implica em um compromisso mútuo entre duas ou mais partes engajadas no exercício de respeitosamente ouvir e comunicar umas com as outras, com o propósito de compreender e apreciar a tradição da fé do outro. O diálogo visa colocar de lado atitudes de superioridade e
foca nas questões da nossa humanidade comum. Assim fazendo, a pessoa busca ver evidências da mão
de Deus na outra. O diálogo não impede abordar a diversidade ou diferenças, mas sempre faz isso com
respeito e com o desejo de entender os elementos
únicos que proveem particularidade, sem perder
de vista aquilo que temos em comum e que nos liga
uns aos outros. Isso significa que, se estivermos
engajados com um espírito apropriado, tal interação conduzirá a um crescimento em compreensão
espiritual por cada uma das partes envolvidas.
Diálogo, portanto, não deveria ser compreendido como estar de fora ou em contradição com a
missão evangelística do povo de Deus no tempo do
fim. Ao contrário, preenche um papel importante e
integral no espectro global das iniciativas evangelísticas do corpo de crentes.
Por que Dialogar?
Frequentemente temos dito que o mundo está
se tornando uma aldeia global. Paradoxalmente,
as forças que estão criando a “Aldeia Global”, ou
como Friedman descreve, um “mundo plano”, são
as mesmas forças que estão fraturando o nosso
mundo. As forças atuantes em favor da globalização, sejam elas fatores econômicos, tecnologia,
entretenimento, moda, etc., ameaçam ao mesmo
tempo valores sociais e religiosos únicos e, portanto, atingem o fundamento das nossas respectivas
identidades. Este processo de homogeneização
provoca uma resistência a qual frequentemente
toma forma de retórica defensiva ou violência física,
ou ambas. Neste contexto, as identidades étnicas
ou religiosas se tornam o forte onde as pessoas se
refugiam para obter algum senso de identidade e
dignidade. O senso de frustração é exacerbado por
regimes opressivos e estagnação econômica em
certas regiões.
Em face dessa tensão crescente entre blocos
étnicos e religiosos, qual deveria ser a resposta
dos adventistas do sétimo dia?
Deixe-me oferecer algumas sugestões:
1. Não podemos fazer separação entre conhecer
a Deus e conhecer o nosso próximo, mesmo aqueles que mantêm uma crença religiosa diferente da
nossa. Esperar que possamos experimentar um relacionamento capacitador com o Deus do universo,
um Deus que nos criou para viver em relacionamento, e ignorar ou sermos abusivos com outros passa
por alto a realidade do mundo que Deus criou.
2. Nosso chamado como o povo de Deus no
tempo do fim parece incluir mais do que meramente definir a verdade, e mesmo proclamá-la,
por mais importante que isso seja. Parece que está
incluído em nossa missão personificar a própria
essência do Evangelho da reconciliação parece que
construir pontes ao invés de muros é uma importante parte de ser evangelisticamente eficaz e que
a nossa missão primária é sermos testemunhas da
verdade acerca de um Deus de graça, ao invés de
juízes da ortodoxia de outros, que não são parte do
nosso sistema de fé.
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3. Um reconhecimento da nossa humanidade
comum parece ser uma resposta bíblica apropriada. O fôlego de vida que Deus soprou no homem está presente em cada ser humano. Uma
atitude de respeito para com o outro é, portanto,
imperativo.
4. O diálogo nos forca a buscar em nós mesmos
a melhor ética em relação ao outro. Em outras palavras, lutamos para apresentar o melhor de nós
mesmos. O perigo, obviamente, é que, no processo de tentar apresentar o melhor de nós mesmos,
comparemos o melhor da nossa tradição com o
pior na tradição do outro. Portanto, devemos estar
dispostos a ouvir a articulação do outro e comparar
com o melhor na tradição deles, da mesma forma.
Este exercício deveria desafiar cada um de nós a
viver no nível mais elevado da nossa fé, à medida
que nos relacionamos com o outro. Só assim compreenderemos como o outro nos enxergaria se eles
considerassem apenas o pior da nossa tradição
como a norma.
Desta forma, outro resultado de entrar num relacionamento com o outro seria necessariamente
incluir um questionamento respeitoso por parte do
outro em relação às realidades menos que ideais
nas nossas respectivas tradições. Este questionamento do outro, embora doloroso, é necessário se
estivermos buscando crescimento mútuo na direção de vivermos respeitosamente juntos.
5. Diálogo e proclamação não são mutualmente
exclusivos. Proclamação é a comunicação da compreensão bíblica do relacionamento entre Deus e o
homem, piedade e fé que salva, na maneira de Deus
resolver o problema do pecado, com toda bondade,
respeito e “competência em relação à religião do outro”, no poder do Espírito Santo. Diálogo é estar aberto
ao mistério da ação de Deus no outro. É uma expressão de consciência da presença e ação de Deus fora
dos limites do meu sistema de fé. Contudo, este reconhecimento não é um empecilho para a proclamação.
Historicamente, cristãos e mulçumanos têm se
relacionado de uma das maneiras abaixo:
Indiferença – Jihad/Cruzada – Tolerância – Respeito – Afirmação – Relacionamento – Crescimento Mútuo
O diálogo pode ser uma ferramenta eficaz para nos mover para frente
nesse espectro, para que possamos desfrutar relacionamentos mais produtivos. Para mim, essa parece ser uma importante parte da missão adventista.
Quais Poderiam ser Alguns Objetivos Adventistas Específicos no Diálogo com os Mulçumanos?
Primeiro, vamos analisar alguns pontos gerais. O Alcorão faz referência
ao “verdadeiro povo do Livro” (3:113-113). Eu acredito que um objetivo digno e possível é sermos conhecidos pelos mulçumanos como o “Verdadeiro
Povo do Livro”, considerando a nossa compreensão acerca do papel único
que o movimento adventista deve desempenhar na história final da Terra.
Os adventistas compartilham um interesse com os mulçumanos nos
eventos do tempo do fim. Nossa ênfase na escatologia, incorporada ao nosso próprio nome, nos provê uma ponte natural com a fé islâmica. Embora
detalhes acerca das nossas compreensões acerca dos eventos finais sejam diferentes, os mulçumanos compartilham conosco o foco nos temas
centrais como o dia do julgamento, o fim do mal e um paraíso eterno para
os fiéis. O preparo para “o dia” nos dá uma forte motivação para diálogo e
interação espiritual com os mulçumanos.
O cumprimento do nosso papel como o movimento profético de Deus no
tempo do fim inclui chamar pessoas de todos os lugares para ser parte do
povo remanescente de Deus no tempo do fim. O diálogo com os muçulmanos é uma importante parte desse processo.
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© Deviantart
Conclusão
Como forma de prevenção, para que não pensemos que dialogar com o mundo mulçumano é muito arriscado, muito caro ou sem importância, considere a alternativa de uma crescente má compreensão, distanciamento e militância de ambos os lados que inevitavelmente resultará em inatividade – essencialmente, o
“choque de civilizações”, acerca do qual Huntington tem descrito como inevitável.
Encorajar tal deterioração por indiferença, falta de ação preventiva, ou, Deus não permita, uma atitude
de triunfalismo cristão, é simplesmente não viver a altura da nossa compreensão dos propósitos de Deus
para o Seu povo neste período crítico da história. Além disso, Deus está trabalhando no coração dos mulçumanos para preparar aqueles que fazem parte da igreja invisível dentro dessa comunidade.
A questão é, se como adventistas do sétimo dia nós consideramos importante cooperar com as iniciativas
missionárias de Deus, ou se, por necessidade, Ele vai trabalhar através de outros.
JERALD WHITEHOUSE
Jerald Whitehouse tem servido a Igreja Adventista por mais de quatro décadas como
missionário e também em outras funções. Foi diretor do Centro Global para Relações
Adventistas-Mulcumanos por 14 anos. Atualmente é Consultor Especial para
Relações com Mulçumanos da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.
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