- Bons Negócios

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- Bons Negócios
G E S TÃ O T E C N O L O G I A M A R K E T I N G F I N A N C I A M E N T O N E G Ó C I O S
N O VA B A S E
E T I C A D AT A
MICROSOFT
LIVESKETCHING
de
os
Empresas como Apple e eBay adotaram
uma nova metodologia para desenvolverem
produtos e serviços. Em nome da inovação,
pelo cliente. Saiba também como o fazer
#16
MARÇO 2015 | TRIMESTRAL | 3€
BONSNEGOCIOS.COM.PT
sig
e
d
do
s
é
atrav
n
k
ing
pen s
ar neg
o
i
c
ó
s
orma
f
a
outr
n
thi
SUMÁRIO
& EDITORIAL
4 BREVES
14 EVENTO
2 8 N OVO S N E G Ó C I O S
NOTÍCIA S, SUGESTÕES, ESTUDOS
PORTO SERVICE JAM
LIVESKETCHING
16 BASTIDORES
3 0 F I LT RO
Ideias, vídeos e exercícios para melhorar
a sua criatividade e aumentar os seus
conhecimentos
7 O P I N I ÃO
H E N R I Q U E C AYAT T E
O designer aconselha as empresas
a colherem o melhor que as diferentes
metodologias oferecem e adaptarem
ao projeto que têm em mãos
8 MEET THE LEADER
E T I C A D ATA
J o s é G o nç a lve s va i t ra b a lh a r to d o s o s d i a s
pa ra a e t i c a d a t a , s e m ex c e ç ã o à re g ra ,
e m no m e d o s e u s o nh o : d e i xa r a s u a
m a r c a no m u nd o
10 EXPERIÊNCIA
N O VA B A S E
A c o ns u lto ra a d o to u a m e to d o lo g i a d o
d e s i g n t h i nk i ng no s e u ne gó c i o h á q u a t ro
a no s . E o s re s u lt a d o s tê m s i d o b a s t a nte
po s i t i vo s . O s c li e nte s pe d e m pa ra nã o
vo lt a re m a o s m é to d o s a nt i go s
Diretor Victor Ferreira
Subdiretor Marco Souta
Editora Mar ta de Sousa
Fotografia Marko Rosalline
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Nº Registo na ERC 126112
Edição Nº 16
O Porto foi palco de mais um Global Service
Jam, um evento só para apaixonados por
inovação, que se realiza todos os anos nos
quatro cantos do mundo
Co n heç a a LiveSket c hing , u m a em presa
q u e resolve problem as de c om u nic aç ão
a t ravés da ilu st raç ão. Faz ilu st raç ões de
d o c um entos, eventos, reu niões e work shops
MICROSOFT PORTUGAL
GADGETS
E m pre s a a b r i u u m novo c o nc e i to d e
e s c r i tó r i o no Pa rq u e d a s N a ç õ e s q u e re c o r re
a o d e s i g n e , s o b re t u d o , à te c no lo g i a pa ra
ge r i r m e lh o r a s pe s s o a s e o s e u t ra b a lh o
A B ons N egóc ios fez u m a seleç ão de
a lg uns gadget s c om u m desig n sim ples
e q ue podem ser m u ito ú teis para
q u a lqu er em presário
1 8 T E M A D E C A PA
3 3 F I LT RO
OUTRA FORMA DE PENSAR OS NEGÓCIOS
LIVROS
E x i s te m m i l e u m a fo r m a s pa ra i nova r
no s s e u s ne gó c i o s . D e s i g n t h i nk i ng é u m a
d e la s . A m e to d o lo g i a , m u i to c e nt ra d a
no s e r h u m a no , é u t i li za d a po r e m pre s a s
c o m o Apple e e B ay pa ra c r i a re m novo s
pro d u to s o u s e r v i ç o s . O pro c e s s o , q u e
s e d i v i d e e m c i nc o fa s e s – e m pa t h i ze ,
d e f i ne , i d e a te , pro to t y pe e te s t , fo i
i d e a li za d o po r D av i d Ke lley , f u nd a d o r
d a a gê nc i a d e d e s i g n I D E O , u m a d a s 2 5
e m pre s a s m a i s i nova d o ra s d o m u nd o ,
s e g u nd o a rev i s t a Fa s t Co m pa ny .
Po r c á , a m e to d o lo g i a j á é c o ns i d e ra d a
po r 3 0 % d a s e m pre s a s po r t u g u e s a s
34 OLHARES
I d r i s Mootee ex pl ic a na su a obra c om o
a m etodolog ia do desig n t hink ing pode
s e r im port ante na gest ão e m arket ing
d o s negóc ios
ALBUQUERQUE DESIGNING
BUSINESS
O d esig ner Pedro Al bu qu erqu e revela
a s u a visão sobre o papel do desig n
no s negóc ios
“N
ão podemos resolver os problemas utilizando o mesmo tipo de pensamento
que utilizámos quando foram criados”. Esta frase foi proferida por Albert
Einstein e foi este tipo de abordagem que lhe permitiu fantasiar e romper com
a ideia de um espaço-tempo absoluto. Desta fascinante ideia surgiu a Teoria da
Relatividade. Neste número da Bons Negócios não procuramos teorizar sobre a relatividade, mas procuramos levar o leitor a conhecer um pouco melhor novas formas
de abordar problemáticas e de encontrar soluções. O design thinking, apesar de ser
uma ferramenta ainda pouco em voga nas empresas em Portugal, começa a dar
os primeiros passos, prometendo revolucionar métodos até aqui tradicionais, permitindo que essas mesmas empresas desenvolvam novos produtos, implementem novos
processos, tudo pela procura de soluções para questões complexas. Acreditamos
que existe uma necessidade permanente de procurar novas formas de olhar para
as questões com que o tecido empresarial se depara no dia a dia e que caminhamos
no sentido de colocar as pessoas e os empresários no centro de desenvolvimento
dos projetos, de forma a que os resultados gerados estejam cada vez mais próximos
do pretendido e de uma realidade atingível, económica e tecnicamente viável.
Por fim, e através de métodos inovadores, acreditamos que cada empresa estará
mais próxima de descobrir a sua própria “Teoria da Relatividade”.
Bons Negócios a todos e boas leituras.
MARCO SOUTA
SUBDIRETOR
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 3
BREVES
BREVES
NOTÍCIAS, SUGESTÕES, ESTUDOS
NOTÍCIAS, SUGESTÕES, ESTUDOS
A dobe S yste m s lança programa
de inovaç ão dentro da cai x a
Sabia que a Google tem um designer só para tratar
do seu motor de busca? O design também é importante
no mundo online. Não basta ter um website. E os estudos
provam-no: cada vez mais os utilizadores dão valor
ao design e à funcionalidade de um website.
“NA SONY, ASSUMIMOS QUE TODOS
OS PRODUTOS DOS NOSSOS
CONCORRENTES TÊM BASICAMENTE
A MESMA TECNOLOGIA, PREÇO,
DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS.
DESIGN É A ÚNICA COISA QUE
DIFERENCIA UM PRODUTO DE OUTRO
NO MERCADO”
Norio Ohga, antigo presidente da Sony
“82% DAS EMPRESAS ACREDITAM QUE EXISTE
UMA FORTE LIGAÇÃO ENTRE CRIATIVIDADE
E RESULTADOS NOS NEGÓCIOS”
48%
das pessoas apontam o design de um website
como o fator número um para avaliar a credibilidade de
um negócio
94% das pessoas citaram o web design como uma
das razões para rejeitarem um website
61%
dos clientes que visitam um website que não
é user friendly em plataformas móveis estão dispostos
a ir a um website da concorrência
62% das empresas que desenharam o seu website
para plataformas móveis aumentaram as suas vendas
85% dos clientes B2B pesquisam na internet antes
de tomar uma decisão de compra
F ontes : w w w . ironpaper . com , w w w . clarityqst. com
P
ara que uma empresa seja inovadora e bem sucedida, os seus colaboradores também
têm de o ser. Correto? E para isso é preciso uma certa dose de criatividade, de ambas as
partes. Mas o que uma empresa pode fazer para ajudar a sua equipa a ser mais criativa?
O mesmo que a Adobe Systems fez, por exemplo. A companhia norte-americana lançou no
ano passado um programa de inovação interno com o objetivo de levar os seus colaboradores
a pensarem em novas ideias de negócios. E, assim, despoletar a criatividade que há dentro de cada um.
A própria Adobe foi criativa na forma como apresentou este programa: criou uma caixa vermelha,
a Kickbox, onde o colaborador encontra várias “ferramentas” - um gift card da Starbucks, um
cartão da MasterCard com um saldo de mil dólares e, o mais importante, um guia com seis
níveis para ajudar no processo de desenvolvimento da ideia de negócio. Cada passo (inception,
ideate, improve, investigate, iterate e infiltrate) deve ser completo para que se possa avançar
para o próximo, até chegar à ideia final. Todos os projetos podem ser apresentados aos clientes
e executivos da Adobe para que obtenham feedback e percebam se a ideia tem pernas para andar.
A grande vantagem da Kickbox? Segundo Mark Randall, vice president of creativity da Adobe, os
colaboradores ganham experiência e desenvolvem mais skills. E aí, a empresa só sai a ganhar.
DESIGN ONLINE
F onte : F orrester C onsulting
E x ercite
a sua
c riati vi da d e!
V ídeos , a ver !
D
avid Kelley e Tom Kelley, líderes
da agência de design IDEO, acreditam
que a “criatividade é algo que se
pratica e não apenas um talento com
que nascemos”, de acordo com artigo
escrito para a Harvard Business Review.
Por isso, a recomendação de ambos
é exercitar a mente com pequenos desafios,
a solo ou em equipa. No artigo “Three
Creativity Challenges from IDEO’s Leaders”,
publicado no website da revista, poderá ter
acesso a três exercícios desenvolvidos pelos
irmãos Kelley para aprender a ser mais
criativo. Um deles: criar mindmaps. Segundo
os empresários, estes são uma boa forma
de “procurar padrões, explorar um assunto,
ter ideias realmente inovadoras”.
Vamos experimentar?
4 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
Dois documentários, um só tema: design
thinking. Em ambos, “Design the New
Business” e “Design & Thinking”, podemos
ver como os métodos dos designers estão
a ajudar as empresas a encontrarem soluções
e novas oportunidades de negócio.
www.designthenewbusiness.com
www.designthinkingmovie.com
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 5
O P I N I ÃO
H enrique C ayatte
a for m a de
pensar o design
T E X T O P O R H E N R I Q U E C AYAT T E
“O h o m e m é ele e a sua c irc unstâ n c ia”
José Ortega Y Gasset
D
EXECUTIVE MASTER
IN MANAGEMENT
WITH A SPECIALIZATION IN
LEADERSHIP DEVELOPMENT
EXECUTIVE MASTER
IN MANAGEMENT
WITH A SPECIALIZATION
IN STRATEGIC MARKETING
esign thinking pretende ser um termo universal mas não é.
Nada de mais enganador. Enquanto processo mental está
ligado a todos os que pensam ou exercem esta disciplina.
E se isto é verdade, então o design, que é um tópico tão vasto
e tão universal, obriga à criação de mindmaps e produtos que
são o resultado do trabalho de pessoas e grupos com diferentes
origens, experiências, vidas e culturas. O design é sempre diferente nas suas reflexões e nas suas propostas. E esse é um dos seus
grandes fascínios. As circunstâncias moldam as formas de pensar,
de construir e de descodificar programas. Depois de procurar
respostas, e depois de fazer ensaios sucessivos num longo e nem
sempre linear percurso até à realização final de uma marca, de
um website, de um cartaz, de uma exposição, de uma cadeira ou
de um avião, o designer precisa de dar respostas que são o fruto
desse processo.
Nunca como hoje o design no seu todo esteve em tão grande
e imprevisível movimento. As suas fronteiras mudam constantemente obrigando professores e alunos, profissionais, clientes,
divulgadores e críticos, a releituras permanentes procurando
compreender uma disciplina que nunca como hoje cresceu tanto
e de forma tão inorgânica. Nunca como hoje foi tão difícil prever
tendências e destinos.
Design thinking deve ser entendido como uma das componentes de um processo vasto que, antes de mais, tem que recusar
a ignorância e a arrogância de pensarmos que as mesmas estratégias
servem projetos diversos e que todos os recetores da informação
e do conhecimento perceberão de igual forma a mensagem enviada.
É um processo de cruzar múltiplas fontes do saber com um
programa que o designer deverá e poderá melhorar até se chegar
à encomenda. É ainda um processo que deverá ser o resultado do
acumular de uma vasta experiência pessoal de estudo, de organização das ideias, de muito desenho antes de uma estruturação
sempre complexa e difícil.
O ideal seria não usar metodologias preexistentes de forma
acrítica mas antes procurando colher o que de melhor cada
uma tem e que melhor se adapte ao projeto que temos em mãos.
A experiência de estudo, de ensino e de prática profissional ensina-me
a ser prudente mas a ter também uma atitude de grande abertura
ao que é novo convocando sempre a memória e a experiência
aliados à procura de uma ideia original e inovadora.
Design thinking é a construção de uma história onde os
conceitos, as cores, as letras, as imagens, os sons, as volumetrias,
a espacialidade, a atenção, as emoções, a funcionalidade, a estética
e a ética vão ser atores determinantes e solidários. E a forma como
se “falam” é o resultado desse pensamento e da prática subsequente.
E não tem que se associar necessariamente a uma encomenda.
Quando um designer habita um espaço público ou privado,
usa ou contempla os objetos que os preenchem ou ainda recebe
todos impulsos que lhe são enviados está, mesmo sem se aperceber,
a elaborar sobre esse universo multidisciplinar.
Design thinking é, afinal, uma complexa elaboração do designer
para que as suas peças sejam simples e eficazes. Uma contribuição
para um design útil e não redundante em que o menos é mais.
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revistas e jornais, do Passaporte e do Cartão de Cidadão.
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MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 7
MEET THE LEADER
MEET THE LEADER
E T I C A D A TA
o son h o
co m anda
a v ida
José Gonçalves gosta de estar por
dentro de todos os assuntos da sua
empresa. Apesar dos seus 66 anos,
vai trabalhar todos os dias para
a eticadata, sem exceção à regra,
em nome do seu sonho: deixar
a sua marca no mundo
E T I C A D A TA
T
er uma empresa, gerir um negócio não é fácil, segundo José Gonçalves. “Mas quem
corre por gosto não cansa”, diz-nos o atual CEO da eticadata, empresa portuguesa
de soluções de software profissional de gestão. O empresário de 66 anos orgulha-se tanto do seu projeto que ainda vai trabalhar todos os dias com a mesma vontade
e empenho de há 25 anos, quando criou a eticadata. “Gosto de saber de tudo o que
se passa na empresa. Tudo passa por mim, gosto de estar por dentro de todos os assuntos”.
O seu objetivo, o seu sonho? Deixar a sua marca no mundo. “Quero ver este projeto crescer
ainda mais. Além de Portugal, estamos em Angola e Moçambique. Em breve vamos
investir na Colômbia, já temos uma equipa em formação!”. José Gonçalves quer que a
empresa esteja “presente no mundo” e decidiu começar por alguns mercados que conhece
bem. Em Angola, por exemplo, trabalhou na TAAG – Linhas Aéreas de Angola, durante
três anos. Em 1976 voltou para Portugal, para Braga, onde nasceu e vive atualmente. Foi
nesse ano, aos 27 anos, que o seu caráter de empreendedor veio ao de cima e criou um
escritório de contabilidade, denominado Ética. Nome parecido com o da sua empresa
atual - eticadata. E porquê? José Gonçalves considera-se um líder sério e defende que todo
e qualquer empresário deve ser ético. “Gosto de passar uma imagem de seriedade, não gosto
de mentir nem que mintam aos meus clientes. Gosto de dormir tranquilo. E espero que
os meus colaboradores tenham a mesma atitude”, aponta o CEO da empresa portuguesa.
“ T er u m a e m presa n ão é u m a tarefa
para v elo c istas m as si m para
m aratonistas , porq ue apela m ais
à resist ê n c ia psi col ó gi c a do q ue f í si c a”
José Gonçalves é reconhecido pelo seu sentido de ética, mas também pelo incentivo
à inovação, valor que cultiva pessoalmente e que estende a toda a sua equipa. “Na eticadata
a inovação sempre fez parte de todo o processo funcional e produtivo. Ser, por exemplo,
uma das empresas a integrar a Rede PME Inovação COTEC, PME Excelência, PME Líder,
é o reconhecimento dos 25 anos de trabalho e dedicação no desenvolvimento de práticas
de inovação e qualidade no setor das TI”. O processo de desenvolvimento dos produtos
da eticadata nunca foi sempre igual nestes anos. “Antes, quando queríamos criar um
produto, já conhecíamos as necessidades das empresas. Como trabalhei numa software
house sabia dos problemas dos empresários. Nesse tempo fazíamos o que pensávamos
ser necessário fazer. Agora é diferente. Questionamo-nos sobre o que eles precisam
e os próprios clientes dizem-nos as suas necessidades. São eles que nos dizem o que
querem, o que precisam”, adianta o responsável. Depois a sua equipa de “arquitetos
de software” desenvolvem o produto que passa de seguida para o departamento de
controlo de qualidade, onde é dado o aval para ser lançado o produto no mercado.
O empresário não gosta de falhar e todos os produtos da eticadata são pensados
e desenvolvidos com todo o cuidado. Sem pressas. Aliás, José Gonçalves acredita que “ter uma empresa não é uma tarefa para velocistas mas sim para maratonistas, porque apela mais à resistência psicológica do que física”. Por isso ainda
se mantém nesta corrida de realizar o seu sonho, de ver o seu projeto crescer. No mundo. bn
8 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 9
EXPERIÊNCIA
EXPERIÊNCIA
N O VA B A S E
“Design T hinking
é o nosso principal
m odo de inovar”
N O VA B A S E
A
consultora de tecnologias de informação Novabase
já tem 25 anos, mas só adotou a metodologia do design
thinking no seu negócio há quatro anos. A razão
desta nova estratégia? Inovar mais, cada vez mais, sempre
com o ser humano no centro do seu modo de trabalho.
E os resultados têm sido bastante positivos, garante Pedro
Janeiro, Head of Business Design da empresa portuguesa.
Os clientes pedem para não voltarem aos métodos antigos.
O que significa design thinking para a Novabase? Quando
começaram a utilizar esta metodologia e porquê?
O design thinking é uma forma de cumprimos com a nossa visão
corporativa – queremos fazer a vida dos nossos clientes mais
simples e feliz. É uma visão arrojada, porque apesar da sua aparente
simplicidade, quase cândida, é na verdade poderosíssima – implica
um esforço gigante de transformar a cultura e o modo de trabalho
de 2500 pessoas. O design thinking tem-nos ajudado a descobrir
o que é simples e feliz para os clientes e a mudar o nosso trabalho
para tornar a visão uma realidade. O resultado tem sido um ganho
muito interessante de competitividade, uma diferenciação clara no
mercado, criando um posicionamento bastante único, que ainda
não tendo chegado a todos os negócios da Novabase, está já a ter
excelentes efeitos numa parte significativa da empresa.
O primeiro contacto com a metodologia aconteceu em 2010 com
o projeto de rebranding da Novabase. E em 2011 já tínhamos
criado a equipa que tem trabalhado os conceitos de design thinking.
Faltava-nos algo que o design trouxe – human centricity. Estamos
a conseguir colocar o ser humano no centro do nosso modo
de trabalho – na documentação, nas propostas, nos nossos produtos,
na nossa comunicação, na venda, em tudo o que fazemos.
Esta “teoria” dos designers aplica-se na área de tecnologia?
O design thinking é como uma filosofia de vida. Entranha-se.
É difícil ir a um restaurante, a um médico ou fazer uma viagem
de avião, sem olhar para tudo com novos olhos. Porque é fascinante o que se descobre. E como o nosso mundo está cada vez
mais dependente da tecnologia, de sistemas, a ligação é muito
natural – é um corolário.
Pode explicar cada fase do design thinking e como está
a ser aplicada na Novabase?
Um design thinker não é apenas alguém que aplica métodos
de design. É preciso passar por uma transformação das linhas
de raciocínio de engenheiro ou gestor e criar novas conexões
ou caminhos no cérebro, e exercitar esses novos caminhos.
Os métodos ou ferramentas de design ajudam a esse processo
de transformação mental. A Universidade de Stanford sequenciou
vários dos métodos e criou um “processo de design thinking”.
É um processo iterativo que tende a começar por research
no terreno para obter bons insights, a que se seguem ciclos cria-
tivos de divergência/convergência que terminam em protótipos
testados. Um ciclo criativo de design thinking pode incluir 10
a 15 métodos diferentes e, tal como um compositor perante
uma pauta vazia, é importante conhecer as escalas (sugeridas
por Stanford e outros). Mas é preciso um bom domínio técnico
e inspiração para saber compor boa música. E tal como aprender
composição não basta para compor boa música, também não
basta aprender os métodos para se ser capaz de montar uma
abordagem de design thinking que seja adequada a uma dada
situação – é preciso ter o perfil mental certo.
A Novabase segue todas as fases do design thinking?
Por exemplo, a fase da empatia como se processa, o que
fazem para “estarem mais perto” do cliente?
De Stanford e de Amesterdão trouxemos os tijolos de construção
básicos do design thinking. A partir daí tivemos de criar o nosso
flavour próprio, pensado para tecnologias de informação. Um
bom método de empatia é vivermos por algum tempo na pele
dos clientes dos nossos clientes. Fazermos de paciente numas
urgências, abrirmos uma conta bancária, tentarmos mudar
o tarifário do telefone da avó, e extremarmos estas situações para
ressaltarem oportunidades para inovação. A simples observação
antropológica produz dados interessantes, mas é importante
combinar com entrevistas, com dados quantitativos, e outros,
para termos uma leitura do terreno feita pelos olhos dos clientes,
mas uma leitura informada.
“ U m bo m m é todo de e m patia
é v i v er m os por algu m te m po
na pele dos c lientes dos nossos
c lientes . Fa z er m os de pa c iente
nu m as urg ê n c ias , abrir m os u m a
c onta ban c á ria , tentar m os m udar
o tarifá rio do telefone da av ó ”
Esta metodologia é aplicada em todas as áreas de negócio
da Novabase, em todos os projetos?
Ainda não, mas está bem avançado. É um processo de transformação cultural e de gestão da mudança.
Têm uma equipa própria?
Há uma “A-team” que lidera o processo criativo e de gestão
da mudança, mas estas pessoas são apenas a ponta do iceberg.
Para ser uma transformação cultural, a inovação não pode
pertencer a um departamento – é algo a entranhar transversalmente
em toda a empresa.
Equipa de Business Design da Novabase, liderada por Pedro Janeiro (à esquerda)
10 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 11
EXPERIÊNCIA
N O VA B A S E
Quais as características que uma pessoa tem de ter para
trabalhar nesta equipa?
Quero pessoas curiosas pelo mundo que as rodeia. Têm de ter
uma competência core forte e muita apetência para aprender outras
áreas. Têm de ser empáticas. Têm de ser capazes de facilitar uma
reunião complexa. Têm de gostar de trabalhar em equipa, quer
sejam introvertidas ou extrovertidas. A partir daqui, cada uma
tem a sua personalidade, os seus gostos, a sua experiência, e têm
de saber trazer isso para o trabalho.
Os colaboradores da Novabase receberam formação sobre
design thinking?
Já formámos mais de 1200 colaboradores. É um número espantoso,
mais de metade dos colaboradores. E estes têm ensinado outros.
Qual foi a abertura dos colaboradores na adoção desta
metodologia?
Tal como a eletricidade, seguimos o caminho de menor resistência
para espalhar o design thinking na organização. Ao deixarmos
para o fim os que têm manifestado menos vontade seguimos um
caminho sensato de gestão da mudança – começar por quem quer
mesmo experimentar. E o efeito bola de neve vai ajudando a chegar
a quase todos os cantos da empresa.
A Novabase tem empresas como clientes. Como funciona
a metodologia neste caso, há diferenças?
Uma empresa B2C pensa no consumidor final. Uma empresa B2B
pode ter de pensar nos clientes dos seus clientes, ou no interlocutor
que está na empresa cliente. No fim, pensamos sempre em pessoas,
e o âmago “human centric” do design thinking continua válido.
Aconselha uma PME a usar esta metodologia?
A dimensão da empresa é irrelevante. Todas as empresas lidam
com pessoas.
Pode dar um exemplo de produto que tenham desenvolvido
para um cliente seguindo esta metodologia?
Temos vários produtos muito interessantes, mas destaco o Wizzio.
É um produto nosso de software que aplica todo o potencial de um
tablet para bancos. Foi aprovado para fazer parte das parcerias com
a solução Watson da IBM e está a ter muito destaque da Gartner.
Os vossos clientes têm conhecimento que a Novabase
utiliza esta metodologia? Qual o feedback que receberam
até agora?
Há um feedback verdadeiramente entusiástico. Num qualquer
trimestre de 2014 recebemos, seguramente, mais feedback positivo
do que nos três anos anteriores à introdução do design thinking.
Os clientes pedem para não voltarmos aos métodos antigos. Há
uma reação quase visceral se vier uma equipa de projeto em
modo antigo, depois de o cliente ter trabalhado connosco em
modo design thinking. O ciclo de transformação da Novabase
é necessariamente longo e nesse processo de gestão da mudança,
alguns clientes tornaram-se aliados, ao passarem a exigir que
se trabalhasse sempre no novo modo. Para o cliente, a vida fica mais
simples, com menos risco, mais controlo. Quando um documento
técnico, pesadão, de 250 páginas é convertido numa infografia
de cinco metros, a complexidade dissipa-se, a leitura torna-se fácil,
e a vontade de nos comprar mais projetos aumenta.
Desde que utilizam o design thinking, os resultados da
empresa têm melhorado? Ganharam, mantiveram clientes?
A recorrência de trabalhos tem crescido e têm nascido oportunidades comerciais que de outra forma não teríamos hipóteses
de concorrer. O design thinking tem impacto direto nos resultados.
Design thinking está associado a inovação?
Sim. É o nosso principal modo de inovar. Os métodos de design
são métodos de inovação. Saíram da esfera do design de produtos,
para o design gráfico, para o design de serviços, para o design
de tudo. Seja uma cidade, uma comunidade ou uma estratégia
empresarial. Design thinking é este patamar final.
Esta metodologia não é já usada pelas empresas desde
sempre? Isto é, qualquer empresa não passa por todos
os passos do design thinking para criar um produto ou
serviço? Quais as diferenças desta metodologia?
A resposta é um rotundo não. São escassas as empresas que
têm um ADN de design thinking. Nós ainda não chegámos
a esse estatuto tão alto, mas somos em Portugal os líderes indiscutíveis neste caminho, entre empresas de grande dimensão.
O alemão Peter Zec, líder do projeto Red Dot Design Award, levou
um banco alemão a constituir um fundo de investimento baseado
nas empresas com mais prémios “Red Dot Award”. O desempenho
desse fundo tem sido sucessiva e claramente acima do mercado.
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colocar o ser humano no centro
do nosso modo de trabalho ”
12 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
+
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EVENTO
Evento gratuito
para empresas
PORTO SERVICE JAM
I novaç ão
e m 48 h oras !
Sabe o que é o Global Service Jam? Trata-se de um evento
só para apaixonados por inovação, que se realiza todos
os anos nos quatro cantos do mundo. A edição portuguesa
aconteceu no final do mês de fevereiro na cidade do Porto
O
Porto foi palco de mais um Global Service Jam, um evento
que decorreu este ano em simultâneo em mais de 80 cidades do
mundo inteiro. O Global Service Jam é um workshop para apaixonados por inovação que têm de trabalhar em equipa durante 48 horas para
desenvolverem um serviço utilizando a metodologia do design thinking.
Segundo a organização, cerca de 25 participantes foram desafiados
a resolver um problema surpresa em apenas dois dias. Discutiram todo
o processo de design thinking, o que é e para que serve, pesquisaram,
tiveram ideias e até criaram o seu primeiro protótipo. O objetivo principal
era mostrar as mais-valias deste conceito para os negócios.
C
M
Y
CM
MY
CY
O primeiro Global Service Jam aconteceu pela primeira vez em
março de 2011, onde mais de 1200 pessoas de mais de 50 cidades tiveram
que desenvolver um serviço/produto tendo em conta o tema “(Super)
HEROES”. Nesse mesmo ano, realizou-se ainda um evento idêntico
mas relacionado com sustentabilidade.
O Global Service Jam é um evento global sem fins lucrativos dinamizado por organizações independentes. É gratuito, mas, normalmente,
as empresas que ajudam a trazer o evento até às diferentes cidades pedem
um valor para pagar as despesas de material e catering. bn
planet. globalser v i c eja m . org
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O SUCESSO
FICA-LHE TÃO BEM
COM João Alberto Catalão ,
Dra. Margarida Reis e Eng. Benedita Amorim Martins
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abril
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14 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
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PORTO
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Parcerias
BASTIDORES
MICROSOFT PORTUGAL
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O design de um espaço é muito importante para que toda a empresa funcione.
E para que o colaborador seja mais produtivo, também. Pelo menos é essa a visão
da Microsoft Portugal. A empresa abriu um novo conceito de escritório no Parque
das Nações, em 2012, que recorre ao design e, sobretudo, à tecnologia para gerir
melhor as pessoas e o seu trabalho. Aliás, não poderia ser de outra forma, nas palavras
de Patrícia Fernandes, diretora de Relações Públicas, Marketing Central e Comunicação da Microsoft Portugal. “A Microsoft queria um escritório que espelhasse o que
a empresa faz, representa. Vendemos sonhos de produtividade, vendemos ideias
de funcionamento e de mobilidade e que impactam o mundo do trabalho, por isso
seria um contrassenso termos um escritório igual a uma montra, que não fizesse uso
da tecnologia”. Uma das soluções tecnológicas que a responsável destaca é a Smart Glass,
um vidro inteligente que quando “ligado” muda de transparente para opaco. O escritório da
Microsoft tem 106 salas de reunião e a maior parte são envidraçadas com esta tecnologia.
“O objetivo é dar alguma privacidade aos colaboradores e clientes, se assim o desejarem”. Outra mais-valia deste vidro? Funciona como um quadro branco, permitindo escrever nas paredes das salas de reunião. À porta das principais salas existe
ainda um dispositivo que permite saber se estão ocupadas, por quem e por quanto
tempo. Uma vez que os colaboradores têm total liberdade para trabalharem em
qualquer espaço do edifício, esta tecnologia é necessária para manter algum controlo
e organização. “A mobilidade é completa. Uma pessoa pode trabalhar em qualquer parte,
em qualquer sala”, garante Patrícia Fernandes. A reserva das salas é feita através de um
sistema ligado ao Outlook (Roomfinder) onde é possível ver quais é que estão vagas.
Os colaboradores também são livres de trabalharem em qualquer uma das mesas
espalhadas pelo espaço. “As mesas são de toda a gente. Hoje podemos querer trabalhar num sítio, amanhã noutro”, aponta a responsável. O escritório da Microsoft
é em openspace, e por isso houve a necessidade de criar algumas salas específicas para
quem precisa de alguma privacidade para, por exemplo, fazer um telefonema. “Temos
as phone booths onde os colaboradores podem fazer chamadas sem serem interrompidos.
E temos também as salas de pensamento e relaxamento”, revela Patrícia Fernandes.
Como não há lugares fixos, a empresa de tecnologia teve que adotar a política de clean
desk. Ou seja, o colaborador deve arrumar todas as suas coisas no seu cacifo no escritório.
“Todos os trabalhadores têm um laptop, que no final do dia podem levar para casa
ou guardar no seu cacifo pessoal. O importante é que deixem a secretária limpa
no final do dia”. A título de curiosidade: cerca de 80% dos colaboradores levam o laptop
para casa, acabando por vezes por terminar o trabalho fora do escritório.
O edifício da Microsoft Portugal respira modernidade através da tecnologia.
Mas a empresa quis também que o escritório tivesse alguns elementos que apelassem
à tradição. Optou por fazê-lo no design de interiores. O elemento decorativo com
maior destaque? O burel, um tecido artesanal português feito de lã. “O material
dá a sensação de uma atmosfera intimista, caseira. Além disso, é possível brincar com
o tecido e fazer ‘padrões’ diferentes”, adianta. Mais: as arquitetas responsáveis pelo
design do espaço descobriram que o material também serve de isolamento de som.
Por isso, as salas de pensamento são forradas a burel, por exemplo. Todo o mobiliário
escolhido para o escritório também é 100% português, desde as mesas aos candeeiros
e às cadeiras. Bordallo Pinheiro, Vitra, Corticeira Amorim, Azulima e Mood são
algumas das empresas que contribuíram com o seu design para decorar o escritório
da Microsoft com mais de 6300 metros quadrados. bn
16 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 17
T E M A D E C A PA
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
outra forma de pensar os negócios
outra forma de
p e n s ar
Existem mil e uma formas para inovar nos seus negócios.
Design thinking é uma delas. A metodologia, muito centrada no ser humano,
é utilizada por empresas como Apple e eBay para criarem novos produtos
ou serviços. O processo, que se divide em cinco fases - empathize, define, ideate,
prototype e test, já é considerado por 30% das empresas portuguesas
O
que faz um designer? Qual o seu papel no mundo dos negócios?
A resposta imediata: a maior parte das pessoas pensa que
é aquele que faz objetos bonitos para as empresas. A verdade:
faz muito mais que isso. O designer cria objetos bonitos - é certo -,
mas também úteis, funcionais, inovadores. Objetos que facilitam
a vida das pessoas. E para isso, os designers utilizam uma velha
e importante “técnica” que é observar o cliente, observar o seu
comportamento, para melhor entenderem as suas necessidades
e conseguirem desenvolver a solução para determinado problema.
Esta prática, muito centrada no utilizador, há muito que é usada
por uma empresa – a IDEO, considerada pela Fast Company
uma das 25 empresas mais inovadoras do mundo. O fundador
da agência norte-americana de design e consultoria, David Kelley,
foi o grande impulsionador da adoção desta estratégia no mundo
dos negócios, a de pensar como um designer. O responsável
acredita que uma empresa, no desenvolvimento de um produto
ou serviço, deve primeiro observar e entender as pessoas, e só
depois criar a solução. A esta nova abordagem, a IDEO deu-lhe
o nome de design thinking.
os
n egócios
18 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
O conceito teve a sua origem em 1978, quando David Kelley
e alguns colegas de Stanford tiveram a ideia de incorporar a análise
do comportamento humano no design de produtos e criaram a
agência que mais tarde viria a ser a IDEO, segundo a CBS News,
que entrevistou o empresário para o programa 60 Minutos. Kelley
criou a IDEO em 1991 e manteve-se fiel à sua teoria do design
thinking. Um dos seus primeiros clientes? Steve Jobs. A agência
de design criou uma série de produtos para a Apple, incluindo
o primeiro rato da marca e os computadores Apple Lisa e Apple
III. Depois de o fundador da “maçã”, muitos outros clientes
se seguiram, entre os quais Adobe Systems, Hewlett-Packard,
Microsoft, Procter & Gamble, Nokia, Samsung, Vodafone...
Estas e outras empresas procuram a equipa de David Kelley para
a conceção de objetos, mas também de serviços, estratégias,
novos negócios e até design de interiores!
Um exemplo? A IDEO criou uma aplicação interna para
a eBay que dá a conhecer aos colaboradores da plataforma
de comércio eletrónico quem são na realidade os seus clientes.
A eBay tem mais de 128 milhões de compradores e vendedores
e a empresa queria ficar a saber mais sobre essas pessoas: as suas
necessidades, comportamentos, desejos. Para isso, a agência
entrevistou várias pessoas que utilizam o eBay, com o objetivo
de fornecer aos seus colaboradores informação importante sobre
como e porque é que as pessoas usam o website. A aplicação,
lançada em 2012, revela textos, imagens e entrevistas em vídeo,
que ajudam a perceber o que os clientes gostam e o que querem
comprar. Segundo Richelle Parham, diretora de marketing da
eBay, num artigo publicado na Fast Company, “todos, até mesmo
o CEO, fizeram download da aplicação para os seus iPads”.
Este projeto é um de muitos que demonstra qual a base
do design thinking - muito centrada no ser humano. Seguindo
o modelo da d.school, escola de design fundada por David Kelley,
a metodologia divide-se em cinco fases - empathize, define,
ideate, prototype e test. E para Kelley, a fase mais importante de toda a metodologia é a primeira, a empatia pelo consumidor. Katja Tschimmel, professora na ESAD - Escola Superior
de Artes e Design de Matosinhos, na pós-graduação sobre design
thinking, é da mesma opinião. “É a fase mais importante de todo
o processo e também a mais trabalhosa. Empatia é colocar-se no
lugar das pessoas. Vestir a pele do consumidor, do cliente”, adianta.
30% das empresas portuguesas
declara recorrer ao design thinking
Fonte: Inovação: ADN ou atitude?, PWC, 2013.
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 19
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
Katja Tschimmel, professora na ESAD
e
m empathize , as empresas devem tentar perceber o contexto,
as necessidades, as atitudes, as emoções dos outros. Saber
o que pensam, o que sentem. E para isso existem várias formas
de o fazer, de acordo com Katja Tschimmel: “há a observação
propriamente dita, onde vamos ver o que as pessoas fazem e a
forma como interagem num ambiente específico. Por exemplo,
se estamos a trabalhar num projeto relacionado com os correios,
vamos até ao local ver como as pessoas se comportam, as suas
reações na utilização do serviço. Depois, há também a auto-observação, que é vestir a pele do cliente. E aqui, devemos
utilizar os serviços dos correios como clientes, para compreendermos os problemas ou necessidades destes”. As empresas
podem ainda recorrer a entrevistas ou outras ferramentas, mas
“as técnicas utilizadas dependem muito do projeto”, aponta
a professora da ESAD.
Outra opção? Contratar alguém que viva no seu dia a dia
as mesmas dificuldades que os seus futuros clientes, por exemplo.
A IDEO já fez isso no passado. A agência norte-americana
contratou uma senhora de 90 anos para os ajudar num projeto.
Segundo o The Wall Street Journal, todos os anos a IDEO
desafia os seus colaboradores a criarem novos produtos tendo
em conta um tema, e o mais recente estava relacionado com
“velhice”. Por coincidência, Barbara Beskind, uma designer
de 90 anos, escreveu nessa altura para a agência a dizer que gostava
de trabalhar com eles. E assim foi. Beskind foi contratada para
aquele projeto e hoje continua a ajudar a equipa com a sua visão
e o seu conhecimento, no desenvolvimento de novos produtos
ou serviços para pessoas idosas. Vai trabalhar para a agência
uma vez por semana.
20 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
Empathize
“A IDEO tem uma equipa
muito variada. Aliás é assim
que deve ser. É uma mais-valia
para o processo, para os resultados”, defende Katja Tschimmel.
Na opinião da professora alemã,
uma empresa consegue obter
diferentes perspetivas se tiver
colaboradores com for mações completamente diferentes
e, assim, “compreender melhor
quais os problemas que as pessoas
têm e como os podem resolver”.
Tschimmel relembra ainda
a reportagem sobre a IDEO e
todo o processo de design thinking para o programa Nightline
do canal norte-americano ABC, em 1999, onde se confirma
que a equipa da agência já era muito diferente. No episódio,
podemos ver um linguista, um psicólogo e até um biólogo a redesenharem o tradicional carrinho de compras em apenas cinco dias.
“Para trabalhar esta metodologia não é necessário ser designer.
Design thinking é a metodologia de design para não designers”.
metodologia em curso na ESAD
Quer aprender mais sobre design thinking?
A Escola Superior de Artes e Design de
Matosinhos tem uma pós-graduação sobre
a matéria. Segundo Katja Tschimmel, a coordenadora do curso, o objetivo é “dotar os
participantes de conhecimentos e competências no âmbito dos processos de criação
e da inovação nas organizações”. No ano passado,
a pós-graduação contou com algumas empresas
parceiras que desafiaram os alunos com casos
práticos - APGEI e a Corticeira Amorim Ventures.
A pós-graduação destina-se a qualquer pessoa,
licenciada ou com experiência profissional, independentemente da sua área de atividade.
www.esad.pt
Os estudos de mercado são outra ferramenta que pode ser
utilizada para conhecer o consumidor. Apesar de os inquiridos
não representarem um todo, a verdade é que muitas empresas
recorrem às estatísticas para entenderem melhor o mercado
e estarem a par das tendências. E aqui, neste processo de design
thinking, podem ser fundamentais para tentarmos perceber
melhor quem é o cliente e passar à próxima fase define. Verdade?
“Sim, em absoluto. Com os estudos, as empresas podem obter uma
resposta mais honesta daquilo que os consumidores realmente
gostam ou querem. Saberem as suas preferências e necessidades”,
adianta Pedro Vilela, um dos fundadores da Ignidata, plataforma
business to business que realiza estudos à medida.
A grande vantagem do serviço da Ignidata, incubada
na Startup Lisboa, é permitir a uma empresa fazer um estudo
de mercado online personalizado, sendo a própria que elabora
todo o inquérito. “A empresa é que define as perguntas, o que
quer saber sobre o consumidor para os auxiliar num projeto”,
aponta o responsável. Ou seja, este serviço poderá funcionar
como uma espécie de entrevista. Pedro Vilela dá um exemplo
de como a Ignidata pode ser útil: “Imagine que uma empresa
quer lançar um novo produto mas para o mercado internacional. Fazer estudos em vários países sai caro. Além dos custos,
as necessidades e gostos dos consumidores são diferentes de país
para país. Com a Ignidata é possível realizar um só estudo tendo
como alvo vários países. E assim saber qual o melhor mercado
para investir. Saber qual a melhor cor, formato, design, etc..”.
Como isto é possível? “Os estudos da Ignidata são realizados
através de media, como por exemplo jogos, onde o utilizador tem
de responder a perguntas para avançar de nível. E como os jogos
dos nossos parceiros estão disponíveis em vários países, é possível
obter respostas para analisar o cliente-tipo em mercados internacionais”, adianta o fundador da empresa. Outra vantagem deste
serviço é o tempo. “Normalmente um inquérito, numa empresa
de research demora cerca de duas semanas, com a Ignidata pode
demorar apenas algumas horas, porque as pessoas estão sempre
a jogar videojogos”.
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
“Para trabalhar esta metodologia
não é necessário ser designer.
Design thinking é a metodologia
de design para não designers”
f
inda esta parte, a equipa que está a trabalhar no projeto deve
reunir-se e apresentar todos os dados que recolheu. Entramos
na fase define. Aqui, a troca de informação é essencial para
que se encontrem padrões e se consiga chegar à raiz do problema.
O objetivo é ouvir todos os pontos de vista, sintetizar toda essa
informação e chegar a uma conclusão sobre qual é a principal
necessidade do consumidor. Se a equipa conseguir uma boa
definição, as soluções vão surgir mais facilmente. Para ajudar
nesta fase, uma empresa deve recorrer a técnicas mais visuais:
escrever num quadro branco, colar fotografias, utilizar post-its para
associar pensamentos e ideias, agrupar informações e impressões.
É mais fácil partilhar conhecimentos através destes métodos,
do que escrever tudo num documento. Além disso, esta partilha
visual vai funcionar como uma espécie de mural de inspiração para
gerar ideias. Algo que o fundador da IDEO acredita ser um dos
pontos mais positivos da metodologia design thinking: ter ideias
a partir das ideias dos outros.
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 21
A SOLUÇÃO C
TA A A A SUA
!
ideate
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
m
as para chegar a esta fase de geração de ideias, ideate , é preciso trabalhar muito desde o início. David Kelley defende-o, Katja Tschimmel
confirma-o e Lizá Ramalho, fundadora do atelier de design R2, partilha
do mesmo pensamento. “Em termos processuais, para a fase de geração
de ideias, a investigação e a definição são muito importantes. Quanto mais
se investir nas primeiras fases, mais hipóteses temos de alcançar bons resultados, ter boas ideias”, reforça a designer. A empresa portuguesa, que utiliza
a metodologia do design thinking para resolver problemas projetuais dos seus
clientes, revela que nesta fase ideate costumam reunir a equipa para partilharem
e debaterem ideias e conceitos. A técnica mais utilizada: brainstorming, método
que estimula o pensamento criativo em grupo. “Toda a metodologia é baseada
num processo contínuo de discussão e diálogo, de troca de perspetivas. É um
processo de conversação”. O importante aqui é estimular a criatividade de todo
o grupo para que se crie uma lista vasta de ideias. Mas como saber qual é a
tal? “A nossa experiência de mais 15 anos permite-nos identificar com alguma
facilidade as ideias com potencial. No entanto, só depois de uma avaliação
rigorosa é que a ideia é selecionada”. Ainda assim, é sempre bom ter ideias
de “reserva”, segundo a responsável. “Quando, mesmo à partida, sabemos que
encontrámos a solução, mantemos sempre outra de reserva até uma fase mais
desenvolvida do projeto
para conseguirmos um
termo de comparação. E
porque – não são raras as
vezes – existe um aspeto
da ideia de ‘reserva’ que
pode ser incorporado na
principal e até permitir
o aperfeiçoamento da
solução mais consistente”.
Post-it,
da solução para o problema.
surge antes do
Por vezes a solução
e aconteceu com
problema. Foi o qu
os produ tos da
um dos mais famos
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3M, o Post-it. Em
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,
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guém conseguiu
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colar. Na altura,
da solução e o
e
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ardado na gaveta
composto ficou gu
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até 1974 ! Ne ste
3M, era membro
da
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eja e sempre que
no coro de uma igr
as do seu liv ro
marcava as págin
tir as de pape l,
de mú sic as co m
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estas caíam no
ia do seu colega
se lembrou da ide
as experiências,
Silver e após algum
Post-it.
juntos, criaram o
A
é uma empresa de
,
, vocacionada para o
segmento das PMEs tendo uma equipa de 40 colaboradores e abrangência a nível nacional.
LISBOA •
O TO • LUANDA
Visite-nos emmmmmmmmmmmmmmm, contacte-nos para o nº
ou E-mail
Lizá Ramalho, fundadora do atelier de design R2
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 23
Nos últimos quatro anos, o Instituto de Telecomunicações
viu seis protótipos resultarem em empresas
d
e acordo com o guia da d.school sobre design thinking, outra técnica à qual
uma equipa pode recorrer na fase ideate é a criação de protótipos. “Ao fazermos
algo físico chegamos a um ponto em que temos de tomar decisões; e isso leva
ao aparecimento de novas ideias”, pode ler-se no documento. A sugestão da escola
norte-americana é criar diferentes protótipos para depois juntar todas as ideias
num só, para criar o protótipo final. No Instituto de Telecomunicações (IT), em
Lisboa, também é comum criarem mais que um protótipo quando se trabalha num
projeto. “Aqui, no instituto, fazemos alguns protótipos antes de criarmos o protótipo
final. Normalmente dois ou três, depende do projeto. A criação de um protótipo
é sempre feita por fases: a primeira serve para demonstrar o conceito e que a ideia
tem potencial; a segunda já é uma fase em que há a preocupação com a estética
do produto; e, por fim, a terceira será o protótipo final que poderá passar a produção”,
explica Carlos Salema, presidente da instituição privada sem fins lucrativos onde
trabalham cerca de 320 investigadores em projetos na área de telecomunicações.
A fase prototype é uma fase de experimentação onde uma equipa vai construindo, aperfeiçoando a solução. O único requisito para trabalhar bem nesta fase?
Construir o protótipo sempre com as necessidades ou problemas do consumidor
em mente. Algo “respeitado” em cada projeto
desenvolvido no IT. Um exemplo? Investigadores do instituto estão a criar diferentes
protótipos para a aplicação do BITalino,
uma placa eletrónica capaz de captar sinais
fisiológicos (desenvolvida também no IT),
procurando resolver algumas situações que
podem acontecer num dia de uma pessoa.
“O BITalino pode ser aplicado num automóvel, no volante, para evitar roubos. O carro
só liga se reconhecer o batimento cardíaco do
condutor. A solução também pode ser aplicada
em computadores, para evitar que acedam
ao aparelho”, adianta Carlos Salema.
“O BITalino pode ser visto como um substituto
da nossa impressão digital. Nos dias de hoje,
esta pode ser facilmente ‘copiada’, já o nosso
batimento cardíaco não”.
24 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
prototype
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
Outro exemplo de protótipo desenvolvido no IT: as prateleiras inteligentes da Surfaceslab que prometem facilitar a gestão
de inventários. “Os nossos investigadores, em parceria com
a Vicaima e a Creativesystems, criaram umas prateleiras inteligentes que reconhecem os objetos que estão lá arrumados.
O protótipo foi desenvolvido aqui no instituto e a solução já está
à venda no mercado”, revela Salema. As prateleiras inteligentes
utilizam uma tecnologia que permite ler os objetos e saber onde
estes estão arrumados (através de etiquetas RFID). Assim, por
exemplo, “é possível saber quais os produtos em stock ou em falta
e até saber se foram colocados noutro local. O software criado
para o efeito permite ver através de imagens quais os produtos
que uma empresa tem nas prateleiras”.
Este projeto é um dos casos de sucesso do Instituto de Telecomunicações mas, segundo o professor Carlos Salema, há mais.
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
Carlos Salema (à esquerda) mostra um protótipo
em funcionamento no Instituto de Telecomunicações
Nos últimos quatro anos, o IT viu seis protótipos resultarem
em empresas. O caso mais recente é a startup Veniam. “Os
investigadores João Barros e Susana Sargento, que trabalhavam
nos nossos laboratórios do Porto e Aveiro, desenvolveram um
sistema de ligação gratuita à internet nos autocarros da cidade”.
Qual a grande diferença? O utilizador nunca perde a ligação
à net mesmo que saia do autocarro. “Imagine que está a falar com
pessoa via Skype e tem de sair do transporte. Como este sistema
está instalado em vários autocarros, que estão sempre a circular
e a passar por nós, nunca perdemos o contacto. A chamada não
cai”, explica o presidente do IT. O teste na rede de transportes
da cidade do Porto foi um sucesso que os empreendedores-investigadores já pensam levar o sistema para outras cidades.
Recentemente, a startup recebeu um investimento de 4,9 milhões
de dólares de um consórcio de empresas privadas.
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 25
T E M A D E C A PA
T E M A D E C A PA
outra forma de pensar os negócios
test
outra forma de pensar os negócios
r
esumindo: a fase de test – e última desta metodologia –
é a que dita o sucesso de um negócio. E a melhor técnica
para testar um produto é colocar o protótipo nas mãos
dos consumidores, daqueles para quem se criou a solução.
Só assim se consegue obter um feedback real, perceber o que
está bem e o que se deve mudar. Mas, e se o seu produto já é um
sucesso online e o seu problema é perceber se vale a pena abrir
uma loja física? Já existe uma loja-laboratório-de-testes para
isso. Chama-se The Hall e foi idealizada por Tiago Viegas, um
dos fundadores da agência The Hotel. “Era uma ideia antiga,
ter um espaço onde pudéssemos testar conceitos de negócios.
Por coincidência, e na mesma altura, quando encontrámos
o espaço ideal para desenvolver esta ideia, a marca Gin Lovers
também procurava alguém que os ajudasse a evoluir. A Gin
Lovers tornou-se assim o nosso projeto-piloto, onde está a ser
testado um modelo de negócio de loja”, adianta o responsável.
Loja-teste da marca Gin Lovers, idealizada pela equipa do The Hall
Tiago Viegas, The Hotel
26 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
No The Hall estão a testar tudo para a marca Gin Lovers.
O mobiliário, a montra e até o horário! “Tudo é testado ao
máximo. O mobiliário que criámos, por exemplo, serve para
ter os produtos em exposição mas também pode servir de mesa,
caso a marca realize algum evento. A montra também é testada.
A cada 2/3 meses é redesenhada para tentarmos perceber se
a mudança chama a atenção por quem passa na rua”, conta Viegas.
Situada em Lisboa, a loja Gin Lovers vende bebidas, copos,
bolachas, mas também funciona como um bar, onde o cliente pode
beber um gin. “A marca quer perceber se faz sentido também
criar experiências. Recentemente realizámos um workshop
no espaço”.
A grande vantagem do The Hall para a Gin Lovers? O risco
e o investimento são muito menores, em relação à abertura
de um espaço próprio. “A marca paga-nos só um fee criativo.
Zero de renda. O contrato é de seis meses, mas pode durar
mais tempo. Depende de como tudo correr. A loja abriu em
novembro e o feedback é muito positivo”, revela Tiago Viegas.
O horário de funcionamento: das 14h às 19h. O que acha,
o horário passa no teste? bn
s
“O design é muito mais do que um meio para tornar objeto ar
pens
funcionais e apetecíveis. É na sua essência uma forma de essárias
nec
o mundo e de procurar respostas alternativas — hoje tãor a eficácia
para melhorar a qualidade de vida das pessoas e aumenta
dos seus desempenhos nas empresas e instituições”
Lizá Ramalho, R2
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 27
NOVOS NEGÓCIOS
LIVESKETCHING
co m uni c ar através
de ilustraçõ es
O empreendedor Daniel Barradas acredita que uma ilustração pode ajudar as empresas
a comunicarem melhor com os seus clientes e colaboradores. Conheça a LiveSketching,
uma empresa que faz ilustrações de documentos, eventos, reuniões e workshops
I
magine o seguinte cenário: tem um documento com mais
de 50 slides para apresentar numa reunião com um cliente, mas
receia que este não tome a devida atenção. Por serem muitos
slides, por terem muito texto. A solução? LiveSketching, uma
empresa portuguesa que faz ilustrações de documentos, eventos,
reuniões e workshops. “Na prática resolvemos os problemas
de comunicação das empresas através da ilustração. É mais fácil
as pessoas olharem e perceberem a mensagem através de desenhos.
Se tiverem uma folha A4 cheia de texto e uma folha A4 cheia
de desenhos que transmitam a mesma ideia, a folha A4 com
desenhos vai ter muito mais ‘público’, sem dúvidas”, revela-nos
Daniel Barradas, um dos fundadores do projeto.
A ideia principal da LiveSketching é facilitar a comunicação
das empresas. Em outubro passado, por exemplo, estiveram numa
conferência da Salesforce, em São Francisco, a convite da SurveyMonkey. “A empresa ia fazer a sua apresentação como plataforma
integrante da Salesforce e contratou-nos para estar no seu stand
no evento. O nosso papel era fazer ilustrações das apresentações
de alguns oradores da conferência, mas também das pessoas que
passavam por lá”. A LiveSketching faz ilustrações de eventos desde
que começou – a empresa surgiu em 2011 –, mas com a evolução
do negócio agora também auxilia as empresas noutros projetos.
“Recentemente fizemos dois vídeos animados (semelhantes aos
da RSA Animate) para um cliente em Angola, para resolver um
problema de comunicação interna. E agora, estamos a trabalhar
num relatório de tendências para uma instituição inglesa em que
temos de passar 15 conceitos do futuro da indústria aeronáutica
para ilustração, com o objetivo de os clientes entenderem melhor
as ideias”, aponta Daniel Barradas. Outro exemplo do trabalho da
LiveSketching é ilustrar resultados de workshops, para consulta
posterior. As empresas organizam formações sobre liderança
com os quadros superiores e pedem para traduzir as ideias em
posters, “de uma forma a que as pessoas achem piada e interessante
ao mesmo tempo”.
no projeto mas conseguiram entregar todo o concept do escritório.
“Apresentámos a ideia em cerca de 15 metros de papel de cenário
com ilustrações, onde desenhámos como a empresa vende, como
angaria clientes, por exemplo”.
O responsável de 37 anos admite que aceitam qualquer desafio.
Seja no país ou no estrangeiro. Já trabalharam para clientes nos
EUA, França, Inglaterra, Áustria... Para isso, a LiveSketching conta
com dois ilustradores a full time e uma equipa de 17 freelancers
espalhados pelo mundo. O custo dos serviços da LiveSketching
depende do projeto e dos ilustradores necessários para realizar
o trabalho. “Cada projeto é único e tem uma complexidade diferente, por isso é difícil estabelecer um custo médio pelo nosso
trabalho.” Todas as ilustrações são oferecidas aos clientes. bn
“ N a pr áti c a
resolv e m os
proble m as de
co m uni c aç ão
atrav é s da
ilustraç ão ”
Um dos projetos mais desafiantes foi proposto por uma
consultora portuguesa: pediram-lhes para imaginar um escritório
do ano de 2050. Tinham apenas dois dias e meio para trabalharem
28 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 29
F I LT R O
F I LT R O
GADGETS
GADGETS
design útil
Q
uando falamos de design de produto, uma das marcas
que nos vem à mente é a Apple. A empresa de Steve Jobs
conseguiu com a ajuda de vários designers – entre eles
o guru Jonathan Ive – destacar-se entre outras empresas tecnológicas pela estética dos seus aparelhos. O fundador da “maçã”
defendia, e acreditava, que os produtos deviam ter um design
simples mas ao mesmo tempo intuitivo, demonstrando o quanto
o gadget é fácil de usar. Porque design não tem a ver só com
o aspeto visual mas também com a sua usabilidade. Ainda que,
muitos consumidores admitam que compram os seus gadgets
só por os considerarem “atrativos”, sem os testarem primeiro.
E para si, o design importa? A Bons Negócios fez uma seleção
de alguns gadgets com um design simples e que podem ser úteis
para qualquer empresário. Confira! bn
k4 80
Um bom design é amigo do consumidor. E nos tempos que correm, em que um empresário usa vários dispositivos ao mesmo tempo para trabalhar, o seu melhor aliado no
escritório é o teclado bluetooth da Logitech, o K480. Porquê? Este funciona com até
três aparelhos em simultâneo – computador, smartphone e tablet (o teclado tem uma
dock onde se coloca os dois últimos gadgets). A ideia aqui é permitir que o empresário
trabalhe com vários meios, sem ter que desviar as mãos do teclado. Para alternar a ligação entre os dispositivos, basta usar o botão Easy-Switch (no canto superior esquerdo).
Assim, por exemplo, se está a trabalhar num relatório e se receber uma mensagem de
um cliente no telemóvel, poderá responder na hora, rodando apenas o botão. A empresa
defende que o teclado “torna tudo mais simples, para as pessoas trabalharem, criarem
ou comunicarem, de uma forma rápida e confortável”. O teclado da Logitech é compatível com diferentes sistemas operativos.
PREÇO: cerca de 44€ | www.logitech.com
30 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
LIVESCRIBE 3
SMARTPEN
h ig h fi v e
Muitos consumidores acreditam que um
gadget bonito é sinónimo de fácil de usar.
E prático. Algumas empresas têm isso em
mente, como é o caso da startup Highfive,
fundada há dois anos por um ex-engenheiro
da Google. Shan Sinha desenhou um sistema
de videoconferência com um design clean
que, segundo o website The Next Web, parece ter sido criado pela Apple. Estética à parte, o principal objetivo do sistema é facilitar
as reuniões à distância, esteja onde estiver.
Como? É possível fazer a transmissão da videochamada para smartphones, tablets e
laptops! Ou seja, a reunião pode acontecer
em movimento. Por exemplo: começou a falar com um cliente ainda na sua secretária
através da aplicação da Highfive, mas quer
que outras pessoas participem da conversa.
Poderá então deslocar-se até à sala onde
tem o sistema de videoconferência – sem
desligar a chamada – e com um simples toque no smartphone “transferir” a conversa
para o ecrã da TV para que os outros participem também. Caso queira convidar alguém
que esteja fora do escritório, basta enviar-lhe o link que dará acesso à videoconferência. Outros detalhes: o microfone capta
o discurso na sala até uma distância de nove
metros e “elimina” o som ambiente. Todo o
sistema funciona sem fios, através de Bluetooth. Podem participar numa videochamada até 10 pessoas.
Há empresários que, por muita tecnologia
que usem, não dispensam a tradicional caneta esferográfica para fazer anotações. Mas
a verdade é que existem opções no mercado
que apresentam um design clássico e típico
das canetas que os empresários usam, com
a vantagem de serem inteligentes. Exemplo disso, é a Livescribe 3 Smartpen. A principal função da caneta é “digitalizar” o que
escrevemos no papel e passar essas notas
para o nosso smartphone ou tablet (compatível com IOS e Android), através da aplicação da marca. Tudo em tempo real! Mas a
maior vantagem desta caneta é que pode
guardar as notas, convertê-las em texto
digital e partilhá-las se assim o pretender.
Mais: com o seu telemóvel ou tablet poderá gravar anotações de voz e sincronizá-las
com o texto que escreveu nas folhas de papel. Se escrever uma data, por exemplo, esta
é convertida em link que poderá aparecer
no seu calendário. A Livescribe 3 Smartpen
só funciona quando é usada nos blocos de
apontamentos da própria marca.
PREÇO: cerca de 150€ | www.livescribe.com
PREÇO: cerca de 700€ | www.highfive.com
MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 31
F I LT R O
LIVRO
estratégia
para a
inovaç ão
Idris Mootee explica na sua obra como
a metodologia do design thinking
pode ser importante na gestão
e marketing dos negócios
N
O fu turo do mundo
começa nas crianças
Na the big hand acreditamos que crianças educadas num ambiente saudável
podem mudar o mundo e fazer a diferença. O nosso programa de apadrinhamento
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e educação de qualidade à criança, permitindo-lhe atingir todo o seu potencial.
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ão acredita que uma empresa deva utilizar sempre
os mesmos métodos de gestão? E que deva apostar
em estratégias inovadoras para gerir um negócio?
A forma como os clientes fazem negócio com uma empresa
mudou e os avanços tecnológicos em muito contribuíram
para isso. Um exemplo: os consumidores optam cada
vez mais por fazer compras online. Por isso, como se faz
negócio, como se gere um negócio, já não é a mesma coisa.
Idris Mootee é da mesma opinião. O consultor, especialista
em inovação estratégica que já trabalhou para empresas
no ranking da Fortune 500, escreveu um livro onde apresenta
o design thinking como uma nova metodologia de gestão.
No livro “Design Thinking for Strategic Innovation, What
They Can’t Teach You at Business or Design School”, o autor
explica como esta metodologia pode ser importante na
gestão e marketing dos negócios, apresentando um toolkit
para aplicar no trabalho diário. Organizado em cinco secções,
o livro faz uma introdução aos valores e às aplicações do
design thinking e fornece abordagens conceptuais em oito
desafios que as empresas enfrentam nos dias de hoje. Mootee
apresenta ainda no livro exercícios, atividades e recursos que
podem ser utilizados pelas empresas. Além disso, dá vários
exemplos de casos reais onde o design thinking foi aplicado,
em diferentes indústrias e contextos.
Idris Mootee é atualmente CEO da Idea Couture, empresa
de pesquisa e inovação estratégica. Já trabalhou com empresas
como a BMW, Boeing, Cisco, Nike, Samsung e Pepsi. Além
de consultor, participa ainda em conferências de negócios
e workshops para executivos, em áreas como estratégia,
inovação e design thinking. bn
“ U m guia essen c ial
para q ual q uer neg ó c io
q ue pretenda utili z ar
o design t h inking co m o
u m a ferra m enta
de resolu ç ão de
proble m as , be m co m o
u m m é todo de neg ó c io
para transfor m ar
e m presas e c ulturas ”
D e s i g n T h i n k i n g f o r St r at e g i c
I n n ovat i o n , W h at T h e y C a n ’ t T e ac h
Yo u at B u s i n e s s o r D e s i g n S c h o o l ,
I dris Mootee , E ditora Wiley | PREÇO: 28€
outra leitura re c o m endada
the Design of Business –
Why design thinking is
the n ext competitive
a dva n tag e | R oger Martin ,
H arvard B usiness P R E S S
PREÇO: cerca de 26€
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MARÇO 2015 BONS NEGÓCIOS | 33
OLHARES
ALBUQUERQUE DESIGNING BUSINESS
D esign T h inking ou
W is h ful T h inking?
E S C R I T O P O R P edro A lbuquerque ,
Designer Par tner da Albuquerque Designing Business
A
crescentar thinking ao design
é uma redundância. O design já
é sinónimo de pensamento. Mas
o nome parece funcionar e a intenção
de difundir o modo como pensam os designers será sempre pertinente para humanizar os negócios. O design thinking ganha
notoriedade a partir do momento em que
uma certa “maçã com uma dentada” atinge
a liderança sobre todas as tecnológicas,
sobre todas as marcas do planeta. Afinal,
o design vende mais do que o marketing
e a publicidade e também está na génese
de todo o branding, especialmente na
valorização das experiências que as marcas
proporcionam. Com a Apple emergem
outros casos de sucesso de negócios guiados
pelo design, como o IKEA, Nespresso,
Mini, G-Star, Pinterest e em Portugal é
de assinalar o H3. O movimento design
thinking teve a virtude de pôr empresas e
universidades a debater e a redefinir o papel
do design na sociedade e na economia, e
também, de intensificar a sua interação
com a ciência e a tecnologia ao mesmo
nível com que já o fazia com as artes.
David Kelley e Tim Brown da empresa
de design norte-americana IDEO, bem
como a Universidade de Stanford, ao
qual também estão ligados, tiveram um
papel determinante na difusão do design
thinking, embora este movimento esteja
repleto de iniciativas paralelas em diferentes geografias sem qualquer apadrinhamento destes. Por exemplo, por cá, há cinco
anos, a agência portuguesa Albuquerque
lançou uma nova abordagem de design ao
qual deu o nome de Designing Business.
O objectivo era uma abordagem mais
transversal do que desenhar apenas um
logótipo, uma embalagem ou um website.
Tratava-se de desenhar com o cliente todo
o seu negócio em quatro vertentes chave
34 | BONS NEGÓCIOS MARÇO 2015
que, estrategicamente ligadas, formavam
uma única visão ou propósito: Oferta,
Atitude, Posicionamento e Crescimento.
Este método tem muitos pontos em comum
com o design thinking e obteve uma
resposta assinalável em empresas como
a Cartuxa, a Ramos Pinto, o Banco Privado
Atlântico e a Novabase.
Ainda assim, todos os projetos
desenvolvidos nas empresas, bem como
as conferências, cursos, publicações,
fóruns, blogues e livros no âmbito
do design thinking, não terão as repercussões devidas se não houver continuidade. As consultoras, as editoras e algumas
universidades continuam a pôr à disposição as ferramentas do design thinking,
porém, no meio empresarial, continua
a haver muito poucas “Apples”. Os manuais
de alguns aparelhos continuam extensos
e complicados, os comandos remotos têm
funções que nunca usamos, uma boa parte
dos novos automóveis ora parecem naves
espaciais ora peças vintage (como se não
houvesse mais linguagens formais). Quais
as razões, afinal, para sinais tão ténues
de mudança?
dispensar
os designers.
Pensar que a gestão se pode apoderar
do design thinking sem o envolvimento de
designers. Na hora da verdade, envolver
designers nas decisões de topo de uma grande
empresa, não é para todos. Porque será que a
Microsoft nunca consegue estar ao nível da
Apple ou o UI (User Interface) do Android
ao nível do iOS do iPhone? Não é certamente
por falta de recursos.
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a cultura.
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Pensar que uma solução nasce apenas de
uma observação intensiva e empática sobre
o comportamento humano num determinado tempo e contexto. Tal é suficiente para
soluções funcionais e cognitivas mas não
para necessidades culturais mais complexas
e enraizadas.
pensar que
o design é
influenciado
pelas pessoas.
Do ponto de vista funcional, ergonómico
e cognitivo, sim, do ponto de vista cultural
é o design que influencia as pessoas e elas
agradecem. Karl Lagerfeld não liga a insights
de mercado para conceber os seus modelos
nem tão pouco os Radiohead para compor
os seus temas. E no entanto, constituem
produtos e marcas de sucesso continuado.
As pessoas querem ser influenciadas.
K
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