Revista N.º 21
Transcrição
Revista N.º 21
SINCOMAR SINCOMAR Folha Informativa nº 21 Janeiro|Fevereiro| Março |Abril 2008 1 “Azimutes” “Tratado de Lisboa” “Marinha Mercante” “O Mundo num Navio” Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 2 Ri ver dance Riv erdance Texto: Luis Silva O ferry “Riverdance” acabou por ir dar um pezinho de dança na praia de Blackpool, frente ao Mar da Irlanda. As tragédias sempre foram fotogénicas e esta não foge à regra. A 31 de Janeiro, aquilo que era mais uma viagem diária entre a Irlanda do Norte e Inglaterra, carregado com 52 trailers e várias viaturas, desta vez acabou mal. Atingido por uma onda gigante, vulgo “freak”, a carga acabou por correr e sofreu um adorno de 60 graus. Após o Cmdt. do navio ter solicitado assistência, um helicóptero dirigiu-se ao local e evacuou os 10 tripulantes e 4 passageiros, debaixo de ventos de 60 nós. A bordo ficaram o Cmdt. do navio e mais 9 tripulantes, preparando o navio para ser posto a flutuar na próxima maré. Mais tarde o navio acabou por ser totalmente evacuado. Tudo acabaria em mais uma operação de “salvage” a cargo da Smits de Roterdão. No final de Março o “Riverdance” acabaria por ser declarado Perda Total. Fonte: www.cargolaw.com Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 (In)Segurança no Tabalho 3 SINCOMAR Texto: Luis Silva Em pleno século XXI, e quando se fala tanto em segurança no trabalho, estas situações ainda ocorrem, com mais frequência do que possamos imaginar, embora não deixando de ser caricatas, revela uma imaginação enorme Máscara e óculos? Capacete de segurança? Contrabalanço? Produtividade? Capacete sim, Óculos também, mas máscara? Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 4 A MARINHA MER CANTE MERCANTE NACION AL N A HORA DE MUD ANÇA CIONAL NA MUDANÇA Texto: Cmte Joaquim Coelho Da Estratégia Nacional para o Mar: z elogiou-se o carácter prioritário concedido à criação de um mecanismo de coordenação para a sua implementação e ao Forum Permanente para os Assuntos do Mar; z registou-se, com apreço, as acções estratégicas de sensibilização e mobilização da sociedade para a importância do Mar e as de promoção do ensino e divulgação nas escolas de actividades ligadas ao Mar; Temos acompanhado nestas páginas o declínio do sector dos transportes marítimos em Portugal, o definhamento da frota e os problemas que lhe estão associados. Sempre na esperança de que a situação melhore, animamo-nos agarrando as novidades que ocasionalmente surgem, mesmo as mais pequenas, procurando ver nelas sinais de mudança, a tal luz ao fundo do túnel. Mas também esta capacidade de reacção se vai desvanecendo. É certo que se tem verificado, recentemente, um interesse do Governo pelos assuntos do mar, interesse logo manifestado quando, há três anos, no seu Programa, contemplou “a necessidade de Portugal adoptar uma política integrada e abrangente na governação de todos os assuntos do mar”; só que das palavras aos actos vai um oceano de promessas. É certo que se seguiu a aprovação, em 16 de Novembro de 2006, da Estratégia Nacional para o Mar e, três dias mais tarde, a apresentação das Orientações Estratégicas para o Sector Marítimo – Portuário. E daí? Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 z mas logo se lamentou a pobreza das medidas apontadas para fomentar a economia do Mar por não conterem qualquer referência aos transportes marítimos. Foi já com alguma compreensível indiferença que constatámos a publicação da Resolução do Conselho de Ministros nº 40/2007, de 12 de Março que, entre outras deliberações, criou, na dependência do Ministro da Defesa Nacional, a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar e precisou a sua composição e objectivos; dela, só agora, um ano passado, se voltou a falar para anunciar a concretização de um dos objectivos que lhe está atribuído, ou seja, a criação do previsto Forum Permanente para os Assuntos do Mar cujo lançamento irá ocorrer no próximo dia 7 de Maio. Mas... que pode esperar o “transporte marítimo” de um grupo de reflexão e acompanhamento... onde participam personalidades de reconhecido mérito, organizações não governamentais e entidades privadas: zque reunirá, ordinariamente em sessão plenária, apenas duas vezes por ano, z onde o próprio “transporte marítimo” é, apenas, uma das dezassete áreas temáticas já identificadas: (1) Ciência, Tecnologia e Inovação, (2) Educação e Ensino, (3) Ambiente e Conservação da Natureza, (4) Transporte marítimo e Portos, (5) Construção Naval, (6) Energias Renováveis, (7) Náutica de Recreio, (8) Desportos Náuticos, (9) Pesca e Aquacultura, (10) Turismo e Lazer, (11) Defesa, Segurança e Vigilância, (12) Direito Marítimo e Direito do Mar, (13) Relações Internacionais, (14) Governação, (15) Economia do Mar (“Clusters” e Polos de Competitividade), (16) Planeamento e Ordenamento Espacial e (17) Gestão Integrada da Zona Costeira ? Não esperará, certamente, as medidas de que tão urgentemente carece, há muito identificadas e reivindicadas No respeitante às Orientações Estratégicas para o Sector Marítimo – 5 Portuário a situação é mais preocupante. Das medidas prometidas para incentivar a Marinha de Comércio Nacional ou, mais concretamente, para criar condições potencialmente mais favoráveis para que até 2015 se tenha alterado a actual situação em relação à dimensão da frota nacional e aos marítimos portugueses não houve quaisquer notícias ... e já lá vão 16 meses desde que foram anunciadas. É certo que, entretanto, se viveu a Presidência Portuguesa da União Europeia da qual o sector guarda a noção do dever cumprido e a total identificação com as palavras do Secretário de Estado dos Assuntos Europeus: gostaríamos que a nossa presidência fosse um factor de arranque da política marítima, no sentido de se iniciar a tradução em medidas concretas de tudo o que está previsto no âmbito do turismo, transportes, segurança, ambiente, recursos energéticos. É certo que o Governo persiste em apresentar as Orientações Estratégicas como um referencial. Isto constata-se, por exemplo, na recente intervenção da Secretária de Estado dos Transportes, em 6 de Março, nas 1ªs Jornadas de Lisboa de Direito Marítimo, onde estas Orientações foram apresentadas como uma visão estratégica para o Sector Marítimo – Portuário para cuja concretização foi delineado um plano de acção com 7 vectores: (1) Reorganização Institucional e Empresarial do Sector e Definição dos Perfis Estratégicos dos Portos Nacionais, (2) Preparação do Novo Regime Jurídico para a Utilização das Áreas Portuárias, isto é, a elaboração de uma Lei dos Portos, (3) Melhoria das Condições de Operacionalidade das Unidades Portuárias, (4) Melhoria das Condições de Navegabilidade da Costa Portuguesa, (5) Promoção da Intermodalidade, (6) Aposta no Conhecimento: ensino, qualificação profissional e ID&I, (7) Incentivo à Marinha de Comércio Nacional. As Orientações Estratégicas foram também retomadas pelo Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, em 14 de Março, na inauguração da 1ª fase do Sistema Nacional de Controlo de Tráfego Marítimo VTS Costeiro e Portuário. Fê-lo, justificando a sua definição – não só para responder às necessidades do nosso comércio, como para assegurar a nossa participação crescente no transporte marítimo no âmbito da EU e no comércio com e entre outros países e continentes – e relembrando que as Orientações Estratégicas definem seis domínios prioritários de intervenção; surpreendentemente, ao nomear estes, os mesmos que a Secretária de Estado dos Transportes havia identificado na semana anterior, excluiu o “incentivo à Marinha de Comércio Nacional” (!). Esta exclusão, se intencional, parece sintonizada com a não inscrição, já no PIDDAC 2008, de qualquer verba para o Projecto de Investimento Estruturante na Marinha de Comércio e vem na sequência da redução a 1/3 dos montantes disponibilizados em 2007. A confirmar-se, vem penalizar fortemente os armadores nacionais e SINCOMAR cações e consignaram, por exemplo, nas Orientações Estratégicas: Criar condições para a concessão de apoios mais eficientes ao desenvolvimento da Marinha de Comércio nos termos das “Guidelines”. Ou será que a referida exclusão prenuncia a viragem para o aguardado novo sistema de apoios (qual?), a concretização das medidas tantas vezes prometidas e que, segundo o IPTM, numa declaração datada de Novembro passado, estariam já ultimadas e a aguardar a aprovação da tutela? Mas um tal eventual desfasamento de decisões não teria justificado já um esclarecimento? Qualquer que seja o cenário uma coisa é já certa: o Governo acaba de introduzir no sector a maior preocupação, como há muito não se verificava e, deliberadamente ou não, está a induzi-lo, agora e claramente à mudança já esperada mas sucessivamente protelada. frustrar, inesperadamente, as suas legítimas expectativas, expectativas, aliás, criadas pelos sucessivos Governos que, sistematicamente, vêm prometendo atender às suas reivindi- Até quando resistirão os armadores na presente situação, confrontados que estão já com um tão abrupto quão elevado agravamento dos seus encargos? Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 6 AZIMUTES Texto: António Pereira Caneco R Tripulações levam seguradoras a introduzir nova cláusula nos contratos As seguradoras londrinas, ao introduzirem uma nova cláusula de avaliação das tripulações e da gestão de terra, trazem o enfoque para o elemento humano assegurando-se que os armadores utilizam tripulações de qualidade. O rigor das peritagens e das avaliações de risco tende a estenderse à gestão de terra e às tripulações e as seguradoras vão exigir, entre outras, informação sobre: para dar resposta ao crescente numero e sofisticação da frota mundial. A necessidade de tripulações para as novas construções é “brutal”, segundo fontes do sector dos seguros, colocando-se a questão onde se irá encontrar a resposta. “Só para a frota controlada por interesses alemães, serão necessários mais 15.000 tripulantes nos próximos 3 a 4 anos” *. * Simon Stonehouse Chairman do London Joint Hull Committee - a certificação, composição e experiência das tripulações; - a avaliação de desempenho e identificação de necessidades de formação; O que pode então ser feito, desde já, para obviar toda esta situação? - a avaliação de competências no processo de recrutamento; - a percentagem de tripulantes que se mantêm na empresa; - o numero de praticantes; - os procedimentos de estabelecimento de quartos a bordo; - a existência de língua comum a bordo. Definitivamente este é um sinal claro do reconhecimento, da carência de tripulações devidamente qualificadas Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 A carência de tripulações qualificadas e as pressões comerciais são os dois factores determinantes para o aumento de acidentes, segundo o Dr. Torkel Soma, consultor da DNV. Naturalmente que a análise e as conclusões da DNV, não são consensuais no mundo marítimo. Porém, não deixa de ser verdade que os mais cépticos reconhecem, apesar de tudo, não existir oficiais suficientes para a frota mundial e que a rapidez com que actualmente se chega de praticante a comandante, sem que se tenha adquirido a experiência e obtido as qualificações necessárias, é um problema gravíssimo. - a idade, experiência e qualificação dos comandantes e chefes de máquinas; - as condições de alojamento; Estima-se que este ano os prémios de seguro aumentem 30% para cobrir o aumento “alarmante” dos acidentes de navegação. As estatísticas desta classificadora demonstram que nos últimos cinco anos, duplicou o risco de um navio se ver envolvido num acidente grave. - a gestão das tripulações e a sua ligação com o armador; - a familiarização dos tripulantes com o tipo de navio; num recente seminário ocorrido em Singapura, face ao aumento dos acidentes marítimos verificado na última década. R DNV chama atenção aos armadores para o aumento do numero e gravidade dos acidentes Qualidade operacional foi a mensagem da DNV ao armamento, Evitar acidentes não passa exclusivamente pela melhoria tecnológica e pela utilização das mais modernas ajudas à navegação. É cada vez mais necessária a existência de uma boa cultura de segurança. A retenção e fidelização das tripulações e o investimento na sua formação assumem-se como aspectos fundamentais de resposta a este problema. “É necessária uma cultura de segurança e de integridade operacional - a indústria do transporte marítimo tem que focalizar a atenção nas operações e não só nos aspectos comerciais. É uma questão de responsabilidade so- 7 cial e corporativa de toda a indústria”, são palavras de John Wiik, CEO do Norwegian Hull Club. R Pirataria aumenta 10% em 2007 suspeitas. Obviamente que as intervenções carecem de aprovação do Governo Federal da Somália, o qual por sua vez já solicitou ajuda à ONU no combate a este flagelo. Esta iniciativa da França e dos EUA vem juntar-se à proposta submetida o ano passado pela IMO ao Conselho de Segurança da ONU. Citando o embaixador dos EUA junto da ONU, “Chegou a hora do Conselho de Segurança responder a esta questão”. R Austrália “cresce” 35% Somália (31) e Nigéria (42) lideram o aumento dos actos de pirataria reportados em 2007. 263 incidentes em 2007 contra os 239 em 2006, são os números que constam no relatório anual da IMB (International Maritime Bureau). Especificamente naqueles dois países a situação tem vindo a agravarse quer no número, quer também na natureza, nas armas utilizadas e em muitos casos na violência com que os mesmos são perpetrados. A intervenção do Secretário-geral da IMO junto das Nações Unidas, levou à tomada de acções concretas, através das patrulhas anti pirataria levadas a cabo por forças da coligação a operar no corno de Africa. A Austrália foi o primeiro país a ver aprovada a proposta de extensão da sua fronteira marítima, no âmbito da UNCLOS, aumentando assim o seu território em 2.5 Milhões de Km2 o que constitui um aumento de 35% face à dimensão actual. De acordo com a UNCLOS, os Estados podem reclamar a extensão das ZEE para além das tradicionais 200 milhas (normalmente até às 350 milhas) no caso de fazerem prova de que as respectivas plataformas continentais vão para além daquele limite. A notícia da extensão veio animar a industria petrolífera e de gás, apesar R SINCOMAR SHELL contrata oficiais norte americanos A SHELL Ship Management vai contratar oficiais norte-americanos para os seus 25 navios LNG novos, de registo internacional. Cada navio conta com 22 tripulantes dos quais entre 12 a 14 são oficiais. O acordo alcançado entre a empresa e o sindicato americano dos oficiais da marinha mercante (AMO American Maritime Officers) contou com a participação da administração marítima americana e é válido por 3 anos. Segundo Sean Connaughton da US MARAD, este acordo representa um forte compromisso político no sentido de aumentar os níveis de segurança e protecção e na melhoria da eficiência do próprio transporte, criando oportunidades de emprego neste segmento altamente especializado do transporte marítimo. Connaughton é claro ao sublinhar os esforços que têm vindo a ser feitos no sentido de aumentar o número de finalistas das escolas náuticas americanas, actualmente nos 700 por ano, de forma a fazer face à crescente procura de oficiais. Afirma mesmo o crescente interesse dos jovens ame- Apesar de tudo, de referir também as melhorias significativas sentidas nomeadamente na Indonésia e Bangladesh, resultantes da acção das autoridades locais, que levaram à diminuição de 121 para 43 incidentes na Indonésia, e de 47 para 15 no Bangladesh. Os EUA e a França, com o apoio do Reino Unido e Panamá apresentaram uma proposta de Resolução às Nações Unidas tendo em vista a união de esforços das nações marítimas no processo de combate à pirataria na Somália. A Resolução irá permitir a intervenção de forças navais estrangeiras em águas da Somália por forma a proceder à busca e detenção de embarcações de não ser ainda claro se o Governo da Austrália irá proceder à fiscalização desta imensa área agora acrescentada e como o irá fazer. ricanos pela carreira marítima em contraste com o que acontece na Europa e Ásia. Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 8 www .sitesmaisuteis .com www.sitesmaisuteis .sitesmaisuteis.com Texto: A. Laureano Í Í http://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal Uma página que reúne todo o tipo de informações sobre habitação e reabilitação urbana. Saiba quais são os projectos de reabilitação urbana que estão a ser preparados e também em que situações se pode candidatar a um apoio para estes fins. Na área da habitação, fique a conhecer os seus direitos e deveres em áreas tão diversas como a gestão de condomínios ou o arrendamento. www.maisgasolina.com O Mais Gasolina é um directório interactivo de postos de abastecimento de Portugal, com a localização de vários postos, o preço actualizado dos combustíveis e outras informações úteis aos automobilistas. Pode assim de uma forma simples através da navegação num mapa ou num directório de distritos, concelhos e localidades encontrar um posto de abastecimento ou comparar preços para encontrar o posto mais barato da sua região. Esta página vai sendo actualizada pelos utilizadores, sendo os dados monitorizados pela equipa que gere o site. Í http://perdidoseachados.mai.gov.pt/ O portal dos Perdidos & Achados visa permitir uma pesquisa rápida e simples sobre bens achados que foram entregues às forças de segurança (GNR e PSP). Ainda em fase inicial do projecto, por enquanto ainda só são pesquisáveis os dados respeitantes às Secções de Achados da PSP das cidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Setúbal e da GNR de Fátima, mas o objectivo é que este sistema esteja operacional em todo o país até ao final do ano. Í http://mapas.sapo.pt Descubra ruas e cidades de Portugal e qual a melhor maneira de lá chegar. Aqui encontrará um mapa interactivo do país, onde poderá escolher ao detalhe o que quer ver: desde a minuciosa localização das ruas e dos bairros até uma vista geral dos distritos e do país. Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 9 SINCOMAR Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 10 SEGURANÇA E COMB ATE À POL UIÇÃO COMBA POLUIÇÃO DOS MARES Texto: Cte. Ferreira da Silva Uma Palavra O JULGAMENTO FINAL DO CASO “ERIKA” o estado do navio, os quais não foram considerados. Quanto à sociedade classificadora o juiz considerou que o mau estado do casco do navio, as deficientes reparações e o seu estado de corrosão não deviam ter sido por ela ignoradas, aquando das suas inspecções ao navio. O julgamento definitivo (processo), que decorreu recentemente em França sobre o incidente havido com este petroleiro, realizado apenas oito anos depois do caso, (12 Dezembro 1999) mostra quanto é moroso e penoso para os atingidos pela poluição se obterem as indemnizações devidas pelos prejuízos causados. A primeira lição a tirar do facto é a de quanto é cada vez mais importante tomar medidas de prevenção e segurança de modo a se reduzirem cada vez mais os acidentes com navios, em especial com os grandes petroleiros. O julgamento em si demorou cerca de sete meses e após largos debates o tribunal francês condenou quatro entidades por danos físicos e morais; as duas principais entidades foram a TOTAL FRANCE, a dona da carga transportada pelo petroleiro “Erika” e a RINA, a Sociedade Classificadora Italiana do navio; cada uma condenada a pagar uma multa de 375.000 • pela poluição marítima originada. O juiz teve em consideração o facto de que no caso julgado o grupo francês TOTAL, ao afretar o navio, devia ter seguido as instruções dadas pelo “vetting”, que determinava a idade e Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 As duas outras entidades condenadas foram o armador italiano do navio, Giuseppe Savarese e o seu agente António Pollera, considerados culpados pelo mau estado do navio ao qual se atribuiu as roturas do casco que originaram os derrames da carga e o consequente afundamento. Sofreram a pena duma multa de 75.000• cada. Paralelamente o tribunal aprovou o acordo, já realizado entre as partes, de 192 milhões de Euros a pagar pela TOTAL FRANCE às entidades civis pelos prejuízos materiais e morais resultantes da poluição. Finalmente note-se que o comandante do navio, o indiano Karun Mathur, acabou por ser ilibado de qualquer culpa no acidente tendo mesmo sido considerado uma das vítimas do acidente com direito a indemnização. O comandante do navio começou por ser preso quando chegou a terra, após ser recolhido como náufrago. Estas decisões vão certamente ter grande repercussão no “shipping” mundial e acelerar o abate de todos os navios que não se encontrem em condições de garantir um serviço de segurança mínimo aos seus utilizadores. Pena que fossem preciso tantos anos para se alcançar tais decisões, num meio onde a tecnologia evoluiu muito mais célere durante esse período. NOTÍCIAS TERMINAIS “VERDES” A empresa dinamarquesa Maersk pôs recentemente em funcionamento mais um terminal privado de contentores, nos Estados Unidos. O terminal em referência, o maior terminal privado naquele país, é o de Hampton Road, no porto de Portmouth. Será dirigido pela APM Terminals, uma filial da Maersk, e a sua construção obedeceu aos mais actualizados requisitos para reduzir o consumo de energia e as emissões de CO2 para a atmosfera. Concebido para um movimento anual de 1 milhão de TEUS, com a designação de “Terminal Verde” está equipado com elementos técnicos com o menor consumo de energia que o mercado produz e a disposição do fluxo de veículos, necessários à mobilidade dos contentores, deve atingir uma redução de 50% de emissão de gases do que os actuais terminais com capacidade similar. (Maritime News) 11 O APRISIONAMENTO DO NAVIO “ECUADOR STAR” EM BREST Esta acção tem sido realizada nos últimos treze anos consecutivamente e tem por objectivo a limpeza dos litorais espraiados na base do programa OCEANOS. A acção empreendida tem por alvo a recolha de detritos de plástico, sanitários e medicamentos que as marés deixam arremessados sobre as praias e considerados os mais perigosos para o meio marinho. No dia 7 do passado mês de Março o porta-contentores “ECUADOR STAR”, quando em viagem de Lisboa para Portmouth passava ao largo da Bretanha francesa, foi desviado para Brest por um navio patrulha da marinha francesa que o escoltou até aquele porto. A razão desta atitude deveu-se ao facto do navio, na véspera, quando seguia ao largo da costa a cerca de 100 milhas a oeste de Brest - portanto já em águas económicas francesas -– ao ser sobrevoado por uma avião da patrulha aduaneira francesa o fotografou quando deixava uma esteira de poluição de hidrocarbonetos pela sua popa, numa extensão de 24 quilómetros e 100 metros de largura. O navio construído em 1992, com um comprimento total de 180 metros e 10.000 toneladas de porte pertence ao armador norueguês “Star Reefers”. As autoridades francesas face à prova evidente da poluição das suas águas abriram um processo contra o Comandante e o Armador do navio. De notar que a fiscalização francesa tem obrigado a navegação às maiores cautelas nas suas águas tendo-se registado em 2004 catorze casos de condenação e em 2007 apenas dois. (Maretime News) LIMPEZA DAS PRAIAS A associação SUFRIDER FUNDATION EUROPE mobilizou alguns milhares de voluntários, de diferentes países, para fazerem a limpeza das praias nos passados três dias feriados das últimas férias da Páscoa. Procura-se assim alertar as populações e os responsáveis pela preservação do ecossistema marinho em dar cumprimento às disposições das convenções a tal referente, em especial o que se determina na Convenção OSPAR. (Europa News) AS CONSEQUÊNCIAS DO DESASTRE DO “PRESTIGE” No passado dia 11 de Abril o Instituto Ricardo Jorge de Lisboa realizou um seminário sobre as consequências, para a saúde humana, da limpeza das costas da Galiza resultantes da poluição causada pelo derrame do petroleiro referido o qual se afundou ao largo das mesmas em Novembro de 2002. Numa das intervenções feitas, a investigadora da Universidade da Galiza, Profª. Blanca Laffton declarou que “se tinha concluído que a exposição das pessoas intervenientes na limpeza das praias, feita após o desastre, aumentou o risco de cancro mas não se sabe os efeitos efectivos da toxidade crónica. A exposição ao fuelóleo está relacionada com danos no ADN sobretudo em pessoas que tiveram longa exposição aos poluentes.” A Universidade da Galiza deseja continuar os estudos sobre essas pessoas ao longo dos próximos anos para obter melhores resultados sobre essas consequências. Fica-nos a preocupação; que acontece à saúde dos tripulantes dos petroleiros ao longo dos muitos anos de actividade a bordo desses navios? Alguém investiga? SINCOMAR REFINARIAS, POTENCIAIS POLUIDORES Não são só os navios que constituem um alvo potencial como possíveis poluidores do meio marinho. Na verdade a Convenção da IMO, a Marpol, bem conhecida de todos quantos estão ligados às actividades marítimas, é somente aplicada aos navios e até ao momento nenhuma Convenção Internacional se constituiu para regular a actividade das refinarias de hidrocarbonetos. Estão sujeitas à legislação de cada um dos países onde se implementam, o que evidentemente varia de uns para os outros. Onde se podem localizar e construir? Que portos podem recebê-las? A que distâncias devem ficar do mar? Estas e outras questões preventivas são importantes para definir as compensações a pagar aquando das poluições ocorridas com origem nessas instalações. O recente acidente havido em 18 de Março passado, na refinaria francesa da TOTAL, situada em Donges, no Loire, que originou um derrame de mais de 400 toneladas de fuel pesado o qual se espalhou ao longo de vinte quilómetros daquele rio, com graves consequências para o meio marinho, pois muito produto acabou por sair na sua foz e afectar as costas francesas até á ilha de Ré, é um exemplo do muito que há a legislar nesta área, tanto mais que as solicitações para construir refinarias são muitas. Incluso em Portugal. As autoridades da zona do Loire, Câmaras, Comunas, etc. decidiram levar a Tribunal a TOTAL, exigindo 15 milhões de euros de indemnizações como compensação pelo custo da limpeza das praias (500 pessoas) e prejuízos à pesca (130 barcos). Se houvesse uma Convenção a regular as Refinarias seria mais fácil as decisões compensatórias. Aguardemos os veredictos. URGENTE PARA PORTUGAL Uma verdadeira renovação dos Serviços de Socorros a náufragos impõe-se. Os Equipamentos de Socorro Marítimo tem no seu objectivo Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 12 básico não só o salvamento de vidas no mar mas também o de evitar acidentes marítimos. Os salvamentos de vidas no mar não são apenas aqueles que resgatam náufragos ou quaisquer outras pessoas que se encontram em perigo devido a naufrágios. Muitos navios, em perfeitas condições e em viagem normal, solicitam frequentemente o pedido de socorro para serem resgatados tripulantes ou passageiros, que por doença ou acidente a bordo se encontram em perigo de vida, o que está a ser muito frequente nas águas portuguesas. Reforçar a frota de helis com pessoal e experiência para estas acções é em uma urgência para um País que tem a responsabilidade duma das mais vastas águas marítimas em todo o mundo e por elas passam diariamente, não só um elevado número de navios de todas as nacionalidades como as frotas pesqueiras nacionais tem nelas diariamente largas dezenas de unidades. Por sua vez o caso recente do petroleiro “New Vision”, que ao sofrer forte avaria nos seus meios de amarração da proa teve de recorrer a Sines e Setúbal para evitar maiores e mais consequências do que Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 aquelas; no primeiro porto para descarregar os hidrocarbonetos transportados e no segundo para reparar as avarias, tendo recorrido a salvadegos internacionais para levar a bom termo essas operações, mostrou-nos uma vez mais que as nossas águas não podem continuar desprotegidas de tal tipo de unidades de socorro no mar. No mínimo, para já, que se apresse o acabamento do navio de combate à poluição a construir em Viana do Castelo. Tanta demora começa a exigir explica ções. . 13 SINCOMAR NO TÍCIAS DO MOU NOTÍCIAS DE P ARIS PARIS Texto: Cte. Helder Almeida O Comité do PMoU, órgão decisório máximo, vai ter a sua reunião em Loutraki, Grécia, de 19 a 23 de Maio de 2008. Da vasta agenda que ocupará os delegados dos 32 Estados Membros do Memorando durante uma semana destaca-se: Relatório Anual de 2007 Deste relatório desde já avanço que Portugal continua a cumprir com a obrigação de inspeccionar anualmente um mínimo de 25% dos navios estrangeiros que anualmente escalam os portos portugueses: foram inspeccionados cerca de 35% à semelhança de anos anteriores. Dos 933 navios inspeccionados cerca de 7,5% ficaram detidos até rectificarem deficiências graves relacionadas com a segurança da navegação, protecção do meio ambiente ou condições de vida e trabalho a bordo. A bandeira portuguesa mantém-se na Lista Branca ocupando a posição 23 de entre 38. Nas próximas “notícias “ darei conta detalhada deste relatório que ainda não está aprovado. REPORT OF CIC ON SOLAS CH. V: SAFETY OF NAVIGATION. from 01/09/2008 to 30/11/2008 Ship’s Name/IMO No. Port of Inspection: Date of Inspection: No. Item 1* Does the ship comply with the actual provisions as specified on the appropriate Record of Equipment form for navigational equipment? (0110- S74P88/CI/R12, iii, vi) 2* Is navigational equipment operational? (1500-S74/C.V/R 16) 3* Can master and watch keeping officers demonstrate familiarization of navigating equipment? (1599 – STCW RI/14/. 4) 4* Are arrangements to ensure performance of the equipment? (1685S74/C.V/R 16) 5* Are there adequate and up-to-date nautical charts and publications, necessary for the voyage? (1560 - S74/CV/R27) 6 Is there a suitable back up arrangement for the Electronic Chart Display and Information System (ECDIS) and Nautical Publications in digital form? (1561- S74-23/CV/R 19.2.1.4, .5) 7 Is there a record “of navigational activities and incidents”? (1596, – S74 –23/CV/R28) 8* Is there evidence of detailed voyage planning? (1594, - STCW/SA-VIII/2/P2). 9 Is a valid certificate of compliance (annual testing) of the VDR/S-VDR on board? (1566, - S74/C.V/R18.8) 10 Can navigating officer demonstrate inputting voyage related information in the AIS? (1599, - S74/C.V/R19.2.4.7) 11 Is cargo on deck loaded so as not to obstruct the horizontal view of the sea surface forward of the beam? (1595, - S74-23/CV/R22) 12 Are ships’ officers concerned with the operation of the steering gear able to demonstrate the change over procedures from one system to another? (1593, - S74-23/CV/R26) A B N/A NIR Novo Regime de Inspecções Continua com data prevista de entrada em vigor a 1.1.2011 embora ainda não tenha sido adoptado. A Directiva do PSC reformulada encontra-se em fase de segunda leitura pelo Parlamento Europeu. Só depois se verá se continua a haver divergências profundas entre o PE e o Conselho que já em Maio de 2007 alcançou o acordo político sobre esta Directiva que, à semelhança da actual, dará força de lei ao NIR. Treino dos Inspectores Até agora o treino dos Inspectores (PSCOs) podia resumir-se a um curso PSC dedicado e a praticar como “inspectores de bandeira” durante um ou dois anos consoante fossem oriundos do mar ou de faculdades (engenharia mecânica, construção/ arquitectura naval), respectivamente. A partir de 1 de Janeiro de 2008 as regras são alteradas para os novos inspectores e os actuais necessitarão de revalidar o título cada 5 anos. A finalização deste importante documento deverá ocorrer já neste Comité. CIC sobre a Segurança da Navegação Este ano a Campanha de Inspecções Concentradas incidirá sobre o Capítulo V da Solas, a qual irá decorrer de 1 de Setembro a 30 de Novembro. Durante a inspecção de qualquer navio será respondido um questionário de 12 perguntas. Se algumas tiverem um “não” o navio poderá ser considerado para detenção. A = YES; B = NO; N/A = Not Applicable Notes: If “B” is ticked off, for questions marked with an “*” PSCO should use his/her professional judgement regarding the seriousness of the deficiency as to whether 1 the ship may be considered for detention. The detail of any detention should be appropriately entered on the PSC Report Form B. Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 14 “O TRA TADO DE LISBO A” TRAT LISBOA Texto: Dr. Rui Raposo Porquê a necessidade de um novo tratado? O Tratado assinado em 13 de Dezembro de 2007, em Lisboa, foi ratificado pelo Parlamento Português, no passado dia 23 de Abril. Essencialmente porque as regras de funcionamento hoje em vigor, são sensivelmente as mesmas que foram desenhadas para uma Comunidade Europeia com 6 membros, com uma certa homogeneidade no que se refere ao desenvolvimento económico, ao nível de vida etc.. Mas a CEE evoluiu para União Europeia com sucessivos alargamentos, primeiro para 9 países, depois 10, depois 12, depois 15, e depois para 25 e 27, sem que as regras de funcionamento tivessem sido adaptadas o que as transformou em fontes de ineficácia e de constrangimentos no funcionamento da U.E. Com o processo de ratificação do Tratado por via parlamentar, Portugal alinhou com a esmagadora maioria dos Estados-Membros da União Europeia, pois somente a Irlanda está constitucionalmente obrigada a fazer um referendo sobre este assunto. Nos países onde as regras nacionais permitiam a aprovação do tratado por via parlamentar, esta foi a via escolhida, para evitar mais uma crise institucional como a criada pelas vitórias do NÃO nos referendos realizados há dois anos na França e na Holanda e para não pôr em causa a entrada em vigor do Tratado na data prevista, pois este só pode entrar em vigor se todos os Estados-Membros o ratificarem. E, aqui, poderá estar o grande problema, que se pretendeu evitar através das ratificações por via parlamentar, pois há a possibilidade do NÃO vencer o referendo na Irlanda. A diferença entre as intenções de voto no SIM e no NÃO, é tão pequena, que será o voto dos indecisos que vai determinar a posição da Irlanda sobre o assunto. Se o NÃO ganhar, o Tratado de Lisboa não poderá entrar em vigor, continuando a vigorar o Tratado de Nice, de 2001. Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 que representem, pelo menos 65% da população da União europeia (cerca de 325 milhões). Isto quer dizer que 15 países pequenos, nunca poderão fazer aprovar nenhuma decisão (sem o apoio da Alemanha ou da França), porque, no seu conjunto, a população não atinge os 325 milhões exigidos no 2º quesito. Ou seja, este tratado protege claramente os interesses dos maiores países, já que nenhuma decisão pode ser tomada sem a sua concordância e permite que sejam tomadas decisões que colidam com os interesses dos países mais pequenos, desde que no conjunto dos 15 países que as votem favoravelmente estejam os Estados mais populosos. Presidente do Conselho Europeu A Presidência do Conselho deixa de ser rotativa, passando o Presidente a ser eleito para um mandato de 2,5 anos, renovável uma vez. Comissão Europeia Parece ser pacífico admitir que com tantos países em tão diferentes estágios de desenvolvimento e de níveis de vida, se tornava imperioso criar regras de funcionamento, adaptadas à nova realidade, agilizando e simplificando os processos de decisão Principais alterações Tomada de Decisões Para um país pequeno como Portugal, a principal alteração tem a ver com o processo de tomada de decisões: em matérias onde antes se exigia a unanimidade, passa a decisão a ser tomada por maioria de 55% dos Estados-Membros (15 países), desde A partir de 2014 (a manterem-se os 27 Estados) passará a ser constituída por 18 Comissários. Isto quer dizer que em cada período de 15 anos, Portugal terá um Comissário em 10 anos desses 15. Alto Representante Figura criada para desempenhar simultaneamente os lugares de VicePresidente da Comissão Europeia e Presidente do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros, com o objectivo de coordenar a Política externa da União Europeia. Parlamentos Nacionais Os Parlamentos Nacionais vão ter maior envolvimento no processo legislativo europeu. O Conjunto de 1/3 dos Parlamentos pode exigir a reanálise de uma inici- 15 SINCOMAR ativa legislativa com base no controlo do princípio da subsidiariedade. Entrada em vigor do Tratado de Lisboa continuando a achar que foi um erro enorme não se ter realizado um referendo. Principio da Subsidiariedade Se “tudo correr bem” com o resultado do referendo na Irlanda, esperase que o Tratado possa entrar em vigor em 1 de Janeiro de 2009 ou, pelo menos, antes das eleições para o Parlamento Europeu, que se realizam em Junho de 2009. Segundo José Sócrates, o Tratado de Lisboa além de valorizar o papel da Europa no mundo, reforça a cidadania europeia e melhora o desenho institucional do processo de decisão. A União Europeia só deve actuar, excepto quando se trate de domínios da sua competência exclusiva, quando a sua acção seja mais eficaz que uma acção desenvolvida a nível nacional, regional ou local. Reforço da Europa dos Cidadãos Dá-se um reforço da importância dos cidadãos, com a adopção da Carta Europeia de Direitos Humanos (com força jurídica vinculativa) e com o aumento da participação e dos direitos do cidadão europeu, designadamente através do Direito de Petição Legislativa Principais posições políticas retiradas do debate no Parlamento As grandes divergências entre os partidos do chamado bloco central e da esquerda foi a forma de ratificação do Tratado e questões relacionadas coma a soberania. A grande surpresa (ou talvez não) do debate parlamentar sobre esta matéria veio da intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros – Luís Amado – que afirmou que a crise mundial levou os lideres políticos europeus a optarem pela ratificação por via parlamentar (o que deixa transparecer um acordo nesse sentido) como forma de encontrarem uma saída rápida para o impasse político em que se encontra a União Europeia. O que não se altera Conselho de Ministros A Presidência do Conselho de Ministros continua a ser rotativa com cada Estado membro na Presidência durante 6 meses (em conjuntos de 3 Estadosmembros por 18 meses) Número de deputados europeus Portugal mantém o número de 22 deputados atribuídos pelo Tratado de Nice em 2001. Hoje Portugal tem 24 deputados porque como a Bulgária e a Roménia, não entraram na U.E. até 2004, os lugares que lhes estavam destinados foram redistribuídos pelos restantes Estados-Membros, tendo cabido a Portugal dois desses lugares. Nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, em 2009, esses lugares já serão ocupados pelos representantes desses dois países. Enquanto PS e PSD defenderam a ratificação por via parlamentar, PCP, “Verdes” e Bloco de Esquerda defendiam a ratificação por via referendária. Enquanto PS e PSD entendem que o Tratado é um passo em frente para a Europa, PCP, “Verdes” e Bloco de Esquerda, entendem que Portugal transferiu parte da soberania nacional em determinadas matérias e deu um passo atrás na construção europeia. Se leram o texto aprovado em Lisboa, decerto constataram que a redacção é muito complexa e, em certas partes incompreensível, se não tivermos à mão os tratados anteriores, já que os artigos alterados, remetem para esses tratados. Actualmente, há uma versão consolidada, mais compreensível, de 464 páginas que se pode consultar e fazer o download em: http://www.parlamento.pt/SiteCollectionDocuments/ MioloTLisboa®.pdf Quanto ao CDS, embora votando a favor, não é grande o entusiasmo com este Tratado, por “recuar no projecto federalista” do anterior Tratado Constitucional (que foi inviabilizado pelo NÃO da França e da Holanda), Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 16 O MUNDO NUM NAVIO Texto: Cmte Amadeu Albuquerque no bar da tripulação, podem ser dramáticas para quem só tem aqueles momentos para descontrair. É muito normal que, num navio de cruzeiros com 700 tripulantes, se encontrem umas 35 nacionalidades entre a tripulação. Músicos cubanos e bailarinas inglesas, oficiais náuticos bulgaros e oficiais maquinistas croatas, camaroteiros de toda a America do Sul e cozinheiros indianos, pessoal da lavandaria filipino e motoristas indonésios, um Chef sueco e outro alemão, meia dúzia de portugueses, espanhóis, franceses e sabe-se lá quem mais. Uma mistura e tanto! Várias raças, religiões e culturas, diferentes conhecimentos de língua inglesa, a mesma palavra com diferentes significados para diferentes pessoas, enfim, um mundo dentro de um navio. Um desafio... A tripulação tem toda uma estrutura de apoio, claro. A comida preparada para eles tenta, de alguma maneira, refletir gostos ou caracteristicas nacionais ou religiosas, em casos como o Ramadão, por exemplo. Mas será sempre impossível particularizar demasiado. Coisas aparentemente tão pouco importantes como escolher o tipo de música que o DJ toca, á noite, Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 Esta realidade é o perfeito cenário para muitas histórias interessantes. Para conseguir administrar o navio, os responsáveis têm que compreender que o que para uns é uma clara instrução, resulta completamente confuso para outros. Toda a gente sabe que transmitir instruções corretamente é meio caminho andado para que as coisas se façam eficientemente. As diferenças culturais são um factor que nunca deve ser ignorado. Em Portugal, como em muitos outros países, quando alguém está a conversar connosco e não estamos a entender o que estava a dizer, não temos muita relutância em admitir isso, dizendo qualquer coisa como “Perdão, importa-se de repetir?”. Normalmente, a outra pessoa simplesmente repete o que estava a dizer a a Paz regressa ao Mundo. Mas em alguns países, como nas Filipinas, isso não é assim. Se pedirmos à pessoa que fala connosco para repetir, isso quer dizer que não estavamos com atenção. Então, ele estava a falar para nós e não estavamos com atenção? Isso é uma grave falta de educação! Por isso, nunca ninguém pede para repetir coisa nenhuma. Mas as boas maneiras mandam que qualquer tripulante filipino responda sempre “Yes sir!” e abra um sorriso de orelha a orelha. Quer dizer, o oficial diz a um tripulante filipino para ele levar o objecto A ao fulano B. O tripulante faz uma cara de felicidade e responde “Yes, sir!”. Cuidado, provavelmente não entendeu patavina (ou entendeu metade...) e tenta sair dali o mais depres-sa possível, para ver se lhe chega alguma inspiração. Se telefonarmos a B perguntando se recebeu o tal objecto, existem muitas probabilidades de a resposta ser “Qual A?”. A maneira correcta é segurar o tripulante e repetir a coisa tantas vezes até que ele acenda um brilhosinho nos olhos e o sorriso se torne menos plástico. Portanto, nenhum oficial se deve contentar com um simples “Yes, sir”. Normalmente a coisa só funcionará ao fim do terceiro ou quarto. Mesmo assim, estejam preparados para ver uma lata de Coca-Cola transformada numa salada de tomate, ou para pedir uma água com gás, natural e receber uma garrafa de vinho tinto. No Brasil, é raro alguém dizer declaradamente “não!” a outra pessoa. Isso é considerado “grosso”. Portanto, se um qualquer passageiro vai á Recepção e pede a Lua, a recepcionista não deve responder “lamento, mas não podemos”. Deve ir dizendo, sem se rir, que a coisa é dificil, mas que tem uns amigos que talvez resolvam, sempre se vai tentar dar um geitinho, não sei não, vou tentar. Claro que nem a recepcionista nem o passageiro vão pensar mais no assunto e a coisa resolve-se. Na mesma linha, quando o comandante pede alguma coisa ao agente, a resposta será imediatamente que “vamos conseguir, deixa comigo...” o que, em português de Portugal, significa mais ou menos “vai pastar caracóis, ó meu! Pensas que não tenho mais nada que fazer?”. Num restaurante, especialmente na Bahia, acontece o cliente pedir um 17 prato que, embora conste da ementa já não está disponível. A resposta do garçon será, frequentes vezes, “tem, mas acabou...” As instruções aos tripulantes brasileiros também têm estes limites, quer dizer, eles dizem que sim, mas estão a pensar que “nem morto! Não vem que não tem!”. Há alguns anos, em Maceio, a Polícia Federal pediu que eu fosse prestar declarações acerca de uma acontecimento que tinha presenciado. A delegada era muito simpática e a conversa decorreu amigavelmente, até que ela me perguntou se eu achava que as coisas se tinham passado de uma determinada maneira. Eu não sabia, porque não tinha visto todo o acontecimento, mas parecia tão lógico que disparei um português “penso que sim!” Desabou a coisa, a delegada olhou para mim furibunda (melhor “furiosa” senão já me acusam de conotações sexistas...) e quase me prendia. O meu agente, que estava comigo, felizmente percebeu e explicou que, em Portugal, a frase “penso que sim” só queria dizer isso mesmo. Naquela região do Brasil, queria dizer “ó idiota, não se está mesmo a ver que foi assim? Onde é que voçê tem a inteligência, criatura?”. Sorrisos meio encabulados, desculpa o mal entendido, ficamos amigos outra vez e ainda não foi dessa que dormi numa prisão. Regularmente, no final de um ciclo de cruzeiros, faz-se uma pequena comemoração, envolvendo normalmente um almoço ou jantar para toda a tripulação e algum espectaculo. Tripulantes de várias nacionalidades, com mais ou menos talento culinário, preparam pratos típicos de cada país e tentam impingi-los aos outros. Pela nossa parte (digo “nossa” com toda a injustiça do mundo, porque não sou capaz de estrelar um ovo) sempre preparamos bacalhau á Gomes de Sá que, por sinal, acaba por agradar. Ou somos muito bons ou os outros são terríveis. Normalmente, só como um SINCOMAR serviço. É fácil dizer que todos gostam de bom serviço, mas o que significa isso? Por exemplo, quando faziamos os fiordes, com uma maioria de escandinavos, era normal receber elogios aos camaroteiros, com os passageiros declarando que o tripulante em questão parecia invísivel, nem se notava. No entanto, cada vez que entravam no camarote, tudo tinha sido arrumado e limpo. Invisível, eficiente e elegante, pareciam ser as caracteristicas mais apeciadas. bocadinho para não parecer mal, mas sou mais cliente dos indianos, que fazem um caril de comer e suar por mais. Os passageiros não são, evidentemente, diferentes dos tripulantes nestas coisas de diversidade cultural. No meio de 2000 passageiros haverá, normalmente, umas 15 ou mais nacionalidades. Também eles reagem de maneira diferente e o conhecimento disso é a diferença entre bom e mau Mas também tinhamos passageiros latinos, italianos ou espanhóis e alguns franceses. Para estes, o serviço só não era melhor exatamente porque o camaroteiro era “invisível” e eles gostariam de ter um maior contacto com quem lhes “invadia” o espaço intímo várias vezes por dia... Já agora, a propósito de camarotes, não resisto a contar a história de dois personagens do “jet-set” da nossa terrinha que só se conheciam socialmente mas que, por coincidência, Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 18 foram no mesmo cruzeiro. Como já se conheciam, passaram mais tempo a conversar e, a certa altura, decidiram que queriam “colorir” aquela amizade. Tudo bem, eram dois divorciados, maiores, quero lá saber. Mas eles tinham alguma exposição mediática e não queriam que se soubesse. Tomaram as suas precauções e escolheram a suite dele para passar as noites. Ela regressava á suite própria cerca das 6 da manhã, desfazia a cama e punha tudo como se tivesse acabado de acordar e tudo bem. Lá para o quarto dia deste estado de coisas, a senhora e o camaroteiro tiveram uma pequena conversa acerca de como ela queria determinada coisa. O camaroteiro ia retirar- se mas voltou atrás e disse “Senhora, eu não vou nunca revelar nada da sua vida privada portanto, se é por minha causa, por favor não necessita desfazer a cama...”. A senhora perguntou como é que ele sabia e a resposta foi de que ele já fazia camas há 20 anos... latinos é uma perda de tempo e de energia. Começa porque, se o tripulante encarregado da classe é latino, vai chegar atrazado e mal acordado, não tomou o pequeno almoço e tem dificuldades em permanecer no ginásio, em especial se estiver bem iluminado. Esclareça-se que a história me foi contada, meses mais tarde, pela senhora em questão, não pelo tripulante. Estas diferenças são importantes mas só refletem o interessante mundo em que vivemos. A maneira como os tripulantes se ajustam uns aos outros ou quando os passageiros mudam é um Mas, voltando ás diferenças culturais, o serviço no restaurante tambem não se pode esquecer delas. Servir eficientemente uma mesa, sem comentários nem ruído, é considerado muito bom, no Norte da Europa. Mas, para o Sul, valha-me um santo qualquer se o tripulante não diz quem é, de onde vem, se é casado, quantos filhos tem e não gasta pelo menos uns segundos com cada mesa, discutindo tudo menos a comida. Nas outras actividades, é igualmente importante considerar sempre a diversidade. É perfeitamente legítimo, num cruzeiro com escandinavos, marcar actividades de fitness para as 7 da manhã. Mas fazer o mesmo com exemplo de compreensão e talvez pudesse servir de lição a muita gente. Será verdade que o que nos une são, exatamente, as nossas diferenças? TRANSHIPMENT ON “ICE” Texto: Luis Silva Transporte marítimo. Para muitos uma “commodity”. Na verdade, desde sempre uma expedição marítima. Por muito “just-in-time” que as cadeias logísticas exijam, o risco está sempre presente. O porta-contentores MSC Sabrine, com 243 mts de comprimento, navegava no rio São Lourenço (Canadá) em direcção a Montreal, partindo os gelos no seu caminho, quando subitamente encalhou ao largo de “Port-of-Trois-Rivières”. Após infrutíferas tentativas para libertar o navio, o armador encontrou uma solução genial. Trazer outro portacontentores com gruas e efectuar uma operação de transhipment no meio do gelo. Jan|Fev|Mar |Abr| 2007 Pacientemente o MSC Jasmine foi aligeirando o MSC Sabrine, retirando mais de 400 contentores deste último. Após um mês encalhado, com o apoio de for- tes rebocadores, salientando-se o Ocean Delta, finalmente o MSC Sabrine libertou-se do seu leito gelado. Pronto para mais uma aventura. Fonte: www.cargolaw.com 19 SINCOMAR Jan|Fev|Mar | Abr | 2007 SINCOMAR 20 SINCOMAR Ficha Técnica Edição do SINCOMAR - Sindicato de Capitães e Oficiais da Marinha Mercante | MORADA: Edificio 263 da APL - 1º Andar - Doca de Alcântara Norte, 1399-012 Lisboa |Telefones 213 918 180| 213 918 187|Fax 213 918 189 |e-mail: [email protected] Director José Manuel Teixeira | Maquetização e Paginação António Laureano| Pré-Impressão e Produção Final Imparcial Comunicação e Design, Lda. | Tiragem 1000 exemplares Colaboradores neste número Hélder Almeida, Luís Silva, Rui Raposo, Amadeu Albuquerque, A. Laureano, Joaquim Coelho, Ferreira da Silva e António Caneco Esta edição tem os apoios de: APDL - Administração dos Portos do Douro e Leixões TRANSINSULAR - Transportes Marítimos Insulares, S.A. Imparcial Comunicação e Design, Lda. UECC - United European Car Carriers HP - Hewlett Packard As opiniões expressas nos artigos assinados são apenas as dos autores e podem não representar o ponto de vista do SINCOMAR Jan|Fev|Mar |Abr| A Folha 2007 Informativa está disponível no site do SINCOMAR www.sincomar.pt