AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE

Transcrição

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE
FISIOLOGIA
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE
DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO ‘MONTE
PARNASO’ COM A ANELAGEM
DA CASCA DE RAMOS E USO DE
REGULADORES DE CRESCIMENTO (1)
OTTO CARLOS KOLLER (2); GILMAR SCHÄFER (2); IVAR ANTONIO SARTORI (2)
e JURANDIR GONÇALVES DE LIMA (3)
RESUMO
Objetivando aumentar a produtividade de laranjeiras-de-umbigo ‘Monte Parnaso’ [Citrus sinensis (L.) Osb.]
enxertadas sobre Poncirus trifoliata Raf., pela redução da
queda de frutos, efetuaram-se cinco experimentos: o primeiro
com árvores de dois anos e, o último, com plantas de seis
anos de idade, num pomar comercial com espaçamento de
6,0 X 2,5 m, situado no município de Butiá (RS). O delineamento experimental adotado foi em blocos ao acaso, com
quatro repetições, usando três plantas úteis por parcela testando-se: a anelagem da casca do tronco ou dos ramos principais; irrigação; pulverizações em diversas épocas com
ácido giberélico (AG 3 ) e/ou 2,4-D; pulverizações com
(1)
Artigo elaborado com base em KOLLER et al. (1999a,b) e KOLLER et al. (2000). Apoio:
CNPq, FINEP e FAPERGS.
(2)
Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mails:
[email protected], [email protected], [email protected]
(3)
Empresa Panoramas Citrus, Butiá (RS).
ARTIGO TÉCNICO
470
OTTO CARLOS KOLLER et al.
fungicidas e óleo mineral emulsionável. Verificou-se que
os fungicidas não afetaram a produção de frutos e o óleo
mineral emulsionável exerceu efeito depressivo. A irrigação somente diminuiu significativamente a queda de frutos
e aumentou a produção quando associada ao uso de reguladores de crescimento ou à anelagem da casca dos ramos.
Quando realizados em fases fisiológicas propícias, a
anelagem da casca dos ramos e os reguladores de crescimento diminuíram a queda de frutos e aumentaram a produção; em árvores de cinco a seis anos de idade, a produção
de frutos pode ser aumentada em aproximadamente 50%,
sem diminuição do peso médio dos frutos, realizando apenas uma das quatro operações seguintes: pulverização com
5 ppm de AG3 no final da queda das pétalas, ou com 15 ppm
de 2,4-D em novembro, após a queda natural de frutos, ou
anelagem da casca dos ramos depois da queda das pétalas,
ou em novembro, após a queda natural de frutos.
Termos de indexação: laranjeira-de-umbigo, reguladores de
crescimento, anelagem de ramos, produção, queda de frutos.
SUMMARY
INCREASE OF FRUIT PRODUCTION OF THE ‘MONTE
PARNASO’ NAVEL ORANGE WITH GIRDLING
OF BRANCHES AND USE OF GROWTH REGULATORS
Five experiments were carried out to verify the
increase of fruit yield of navel orange trees cv. Monte
Parnaso [Citrus sinensis (L.) Osb.] on Poncirus trifoliata
Raf. by reducing fruit drop. In the first experiment, 2 to 6year-old trees were used. The research was conducted in a
commercial orchard with plants spaced at 2.5 x 6.0 m, and
located in Butiá county, Rio Grande do Sul State, southern
Brazil. A randomized complete block design was used with
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
471
four replicates. Three plants were evaluated in each plot.
Treatments consisted of ringing of the trunk bark or the bark
of the main branches of tree canopy, irrigation, spray with
giberelic acid (AG3 ) and/or 2,4-D at different periods, spray
with fungicides and mineral oil. The results showed that
fungicide treatments had no effect on fruit yield, mineral
oil spray decreased fruit yield, Irrigation decreased significantly fruit drop and increased yield only when applied with
plant growth regulators or with ringing of branch bark. Ringing of branch bark and plant growth regulators treatments
decreased fruit drop and increased fruit yield when applied
at appropriate physiological periods. Fruit yield of 5 to 6year-old trees can be increased to approximately 50%, without reduction of average fruit weight using: (i) spray with 5
ppm AG3 at the end of petal drop, (ii) 15 ppm 2,5-D in November following natural fruit drop (June drop), (iii) ringing of branch bark following petal drop, or (iv) ringing of
branch bark in November following natural fruit drop.
Index terms: Navel orange, growth regulators, branches
ringing, fruit drop, fruit production.
1. INTRODUÇÃO
No Rio Grande do Sul, ‘Monte Parnaso’ é a laranjeira-de-umbigo
mais plantada, porque produz frutos de boa qualidade, grandes, com peso
de 250 a 350 g e maturação tardia, cuja colheita se verifica de 15 de
agosto a 30 de outubro (KOLLER et al., 2000). Nessa época, os frutos
alcançam preços que variam de R$0,30 a R$0,50 ao produtor na porteira.
Entretanto, a variedade apresenta o defeito de ser pouco produtiva, colhendo-se, em média, 15 kg/árvore, o que equivale a ¼ da produtividade
da laranjeira ‘Valência’ (KOLLER, 1993).
Tem sido observado que nessa variedade pode ocorrer uma exage-
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
472
OTTO CARLOS KOLLER et al.
rada abscisão de frutos durante a queda natural, de outubro a novembro
e, mais tarde, de dezembro a março. Esta, dependendo do ano, em geral
acontece após um período de 20 a 30 dias de escassez de chuvas, com
queda de mais de 60% dos frutos que haviam sido retidos pelas plantas
até então. Depois disso, verificam-se quedas menos intensas, que se estendem
desde o início da mudança da coloração da casca, em maio, até a colheita.
A baixa produtividade da laranjeira ‘Monte Parnaso’ pode estar
relacionada a desequilíbrios nutricionais e hormonais, decorrentes da ausência de sementes e/ou florescimento excessivamente abundante, em
cachos florais desprovidos de folhas, resultando em elevada queda de
botões, flores e frutos, que é tanto mais intensa quanto maior o índice de
floração (AGUSTÍ e ALMELA, 1991).
O desenvolvimento dos frutos cítricos se divide em três fases bem
definidas (BAIN, 1958): a fase I, de crescimento rápido, estende-se desde a antese até o final da queda natural dos frutos, é caracterizada por
intensa multiplicação celular; a fase II, também de crescimento rápido,
provocado pelo aumento do tamanho das células, estende-se do final da
queda natural até o início da maturação dos frutos, e a fase III, de crescimento lento, ocorre no período de maturação, até a colheita.
Existe uma relação inversa entre a velocidade de crescimento ou
tamanho inicial do ovário e a probabilidade de abscisão de frutos; todos
os fatores que estimulam o crescimento inicial aumentam a retenção de
frutos (ZUCCONI et al., 1978).
Os fatores que determinam a fixação de frutos são os seguintes:
disponibilidade de nutrientes, disponibilidade hídrica e níveis hormonais
(PRIMO-MILLO, 1993); déficits hídricos durante a fase de crescimento
dos frutos intensificam-lhes a queda, principalmente em variedades sem
sementes, como laranjeiras-de-umbigo e tangerineiras ‘Clementina’. Segundo CASTRO (1994), durante o estresse hídrico, pode haver interações
entre os hormônios endógenos das plantas, capazes de alterar processos
fisiológicos. A diminuição do potencial de água das folhas pode intensi-
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
473
ficar a síntese de etileno, reduzindo o transporte de auxinas e causando a
queda de folhas e frutos.
As flores e os frutos são considerados grandes consumidores de
metabólitos, tanto assim que, se houver a presença de mais de 20 flores/
100 nós do ramo, o índice de fixação de frutos diminui progressivamente
(BECERRA e GUARDIOLA, 1984). Por outro lado, a presença de folhas
é importante para a retenção de frutos, pelo seu papel de supridor de
metabólitos (carboidratos, giberelinas e citocininas); por isso, a retirada
das folhas, junto aos botões florais, pode reduzir 75% a fixação de frutos
(LENZ, 1966).
Em laranjeiras ‘Navelate’ (de maturação tardia), verificou-se que
a fixação inicial de frutos é maior do que em outros cultivares de umbigo
mais precoces; isso resulta em maior consumo de matéria seca e nutrientes minerais logo após a queda natural (GONZÁLEZ-FERRER et al.,
1984). Isso e a baixa taxa de translocação de nutrientes minerais e orgânicos, das folhas velhas para as novas e para os frutos, podem ser os
motivos da menor retenção de frutos após a queda natural.
Em laranjeiras ‘Valência’, 70% dos frutos retidos na planta, 77
dias após a plena floração, foram provenientes de ramos que brotaram
com folhas e apenas 20% foram retidos naqueles sem folhas (HOFMAN,
1988). Os teores de ácido giberélico (AG 3 ) e ácido abscísico (ABA)
praticamente não diferiram entre esses frutos, mas como os frutos de
ramos com folhas haviam crescido mais, o conteúdo de AG 3 e de ABA
deles foi maior.
MONSELISE e HALEVY (1964) observaram que duas aplicações
de 10 ppm de AG 3 em plantas cítricas, feitas no outono, durante a indução
da diferenciação das gemas, inibiram a formação de gemas florais e
aumentaram o comprimento das brotações vegetativas (SHAOLAN et al.,
1995). Segundo MOSS (1970), a adição de 1% de óleo mineral
emulsionável aumenta o efeito de raleio de flores do AG3.
Em função disso, para provocar o raleio de flores e aumentar o
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
474
OTTO CARLOS KOLLER et al.
índice de florescimento em ramos com folhas novas, em tangerineiras
‘Clementina’ e laranjeiras-de-umbigo ‘Navelate’, na Espanha, AGUSTÍ
e ALMELA (1991) recomendam pulverizar as árvores com 10 ppm de
AG3 em novembro/dezembro (que corresponde a maio/junho no hemisfério sul); nessa ocasião, os frutos da florada do ano anterior iniciam a
maturação, começando a mudar a cor da casca: a adição de 15 ppm de
ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) diminui a queda de frutos no período de maturação. STEWART et al. (1951) já haviam observado que
pulverizações com 8 a 16 ppm de 2,4-D, feitas desde o outono até o
início da primavera, controlam satisfatoriamente a queda de frutos maduros em laranjeiras-de-umbigo ‘Washington Navel’.
Além disso, é importante pulverizar as árvores das variedades pouco
produtivas, de frutos sem sementes, com 10 ppm de AG 3 durante o
florescimento (MOSS,1972), ou no final da queda das pétalas, para acelerar o crescimento dos ovários na fase I (GUARDIOLA, 1994). Esse
efeito pode ser intensificado com uma anelagem da casca dos ramos, dez
dias após a queda das pétalas (AGUSTÍ e ALMELA, 1991).
Em face de tais informações, comentando os resultados de diversos experimentos, objetivou-se, neste trabalho, avaliar a produção da
laranjeira-de-umbigo ‘Monte Parnaso’ em função de irrigações, anelagem
de ramos e aplicação de reguladores de crescimento em diversas épocas.
2. MATERIAL E MÉTODOS
As pesquisas compreenderam cinco experimentos, num pomar de
laranjeiras-de-umbigo ‘Monte Parnaso’ [Citrus sinensis (L.) Osbeck]
enxertadas sobre Poncirus trifoliata (L.) Raf., com espaçamento de 6,0 x
2,5 m, da Empresa Panoramas Citrus, situada no município de Butiá (RS).
Em todos os ensaios, as práticas culturais, excetuados os trata-
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
475
mentos que eram objeto da pesquisa, foram uniformes. Os delineamentos
experimentais sempre foram em blocos ao acaso, com quatro repetições,
usando cinco árvores por parcela ao longo da linha de plantas, das quais
somente as três centrais foram consideradas úteis.
Experimento 1
Foi iniciado em junho de 1993, quando as árvores haviam completado dois anos de idade: o delineamento experimental envolveu parcelas
subsubdivididas.
Os tratamentos principais compreenderam duas dosagens de óleo
mineral emulsionável: 0 e 1% do produto comercial Triona. Nos
subtratamentos, compararam-se árvores submetidas ao corte anelar da
casca do tronco, após a queda das pétalas, com árvores não aneladas. Os
subsubtratamentos compreenderam quatro dosagens de AG3: 0, 10, 20 e
30 ppm de AG 3, aplicado em duas pulverizações, em 22 e 29/7/1993,
juntamente com o óleo mineral emulsionável, um pouco antes da brotação
primaveril (KOLLER et al, 1999a).
Experimento 2
Foi efetuado na mesma época do anterior, do qual diferiu porque
se realizou somente uma pulverização AG3, combinado ou não com óleo
mineral emulsionável, na plena floração, em 15/9/1993 (KOLLER et al,
1999a).
Experimento 3
Utilizaram-se árvores que haviam completado cinco anos de idade
em junho de 1996 e, objetivando controlar ataques de Alternaria citri
nos frutos (BROWN e ECKERT, 1993), incluíram-se tratamentos com
fungicidas.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
476
OTTO CARLOS KOLLER et al.
Foram testados os seguintes tratamentos: 1) testemunha; 2) pulverização com 5 ppm de AG 3 + 15 ppm de 2,4-D no final da queda das
pétalas; 3) anelagem da casca dos ramos principais dez dias após a queda
das pétalas; 4) anelagem da casca dos ramos principais após a queda natural dos frutos, em 15/11/96; 5) pulverização com 15 ppm de 2,4-D depois da queda natural dos frutos, em 15/11/96; 6) duas pulverizações com
oxicloreto de cobre (500 g de cobre metálico) a 0,17% (0,2% de Funguran
500 PM) + 1% de óleo mineral emulsionável (Triona), com intervalo de
14 dias, após a queda natural dos frutos, em 15 e 29/11/1996; 7) Duas
pulverizações com tebuconazole a 0,025% (Folicur PM) + 1% de óleo
mineral emulsionável, nas mesmas épocas do tratamento 6; e 8) anelagem
da casca dos ramos principais + pulverização com 15 ppm de 2,4-D no
final da queda natural dos frutos e duas pulverizações com oxicloreto
de cobre a 0,17% + tebuconazole a 0,025% + 1% de óleo mineral
emulsionável, nas mesmas épocas do tratamento 6 (KOLLER et al., 1999b).
Experimento 4
Também foi realizado com árvores que haviam completado cinco
anos de idade, no período de junho de 1996 a outubro de 1997, testandose os seis tratamentos seguintes: 1) testemunha; 2) irrigação por infiltração, a cada sete dias sem chuvas, de outubro de 1996 a abril de 1997; 3)
pulverização com 10 ppm de AG3 quando as gemas se mostravam com
brotações de 2 a 3 mm, em 7/8/1996 + 5 ppm de AG 3 no final da queda
das pétalas, em 5/10/1996 + anelagem da casca dos ramos principais dez
dias depois da queda das pétalas + 15 ppm de 2,4-D após a queda natural
dos frutos, em 15/11/1996 + 10 ppm de AG 3 com 15 ppm de 2,4-D em
14/5/1997 (início da mudança de coloração da casca dos frutos); 4) Pulverização com 10 ppm de AG3 em 7/8/96, quando as gemas em brotação
estavam com 2 a 3 mm + anelagem dos ramos em 15/10/96 após a queda
natural das pétalas e novamente em 19/11/96 e 14/5/97; 5) idem tratamentos 2 + 3; e 6) idem tratamento 3 + anelagem dos ramos em 19/11/96
e em 14/5/97.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
477
Experimento 5
Essa pesquisa também foi realizada com árvores que haviam completado cinco anos de idade, no período de junho de 1996 a outubro de
1997.
Foram testados os treze tratamentos seguintes: 1) testemunha; 2)
pulverização com 10 ppm de AG3, em agosto/setembro, no momento em
que as brotações estavam com apenas 2 a 3 mm de comprimento; 3) pulverização com 5 ppm de AG 3 no final da queda das pétalas; 4) pulverização com 10 ppm de AG 3 no início da brotação e com 5 ppm de AG3 no
final da queda das pétalas; 5) anelagem da casca dos ramos principais
dez dias após a queda das pétalas; 6) idem tratamentos 4 + 5; 7) pulverização com 15 ppm de 2,4-D em 15 de novembro; 8) idem tratamentos
4 + 5 + 7; 9) anelagem da casca dos ramos principais em 15 de novembro
de 1996; 10) idem tratamentos 7 e 9; 11) idem tratamentos 4 +5 + 7 + 9; 12)
idem tratamentos 4 + 5 + 7 + pulverização com 10 ppm de AG3 e 15 ppm
de 2,4-D em maio de 1996 e 1997; 13) idem tratamentos 4 + 5 + 7 + 9 +
pulverização com 10 ppm de AG3 e 15 ppm de 2,4-D em maio de 1996 e
1997 (KOLLER et al., 2000).
Os experimentos 4 e 5, inclusive as testemunhas, localizados em
um pomar comercial, foram acidentalmente pulverizados com 15 ppm de
2,4-D em novembro de 1996, tratamento esse habitualmente realizado
na propriedade, visando diminuir a queda de frutos.
Efetuou-se a anelagem da casca com uma tesoura aneladora, dotada de lâminas encurvadas para dentro, fazendo uma incisão de 360º, exercendo pressão apenas suficiente para cortar a casca, sem danificar muito
o lenho. Essa incisão interrompe, durante dez a quinze dias, a descida da
seiva elaborada para as raízes; retida na copa, a seiva melhora a nutrição
dos frutos e acelera seu crescimento (AGUSTÍ e ALMELA, 1991). No
experimento 1, a anelagem da casca foi feita no tronco, 5 cm abaixo da
copa; nos demais, nos ramos principais (pernadas) da copa.
Em todos os experimentos, usou-se o produto comercial PRO-GIBB
da Abbott Laboratórios do Brasil Ltda como fonte de ácido giberélico e,
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
478
OTTO CARLOS KOLLER et al.
como fonte de 2,4-D, o produto comercial U 46 D-FLUID 2,4-D da BASF
Brasileira S.A. A aplicação dos reguladores de crescimento foi realizada
com pulverizador costal manual, molhando-se as folhas e os frutos até o
ponto de escorrimento.
Os resultados foram avaliados mediante contagem de frutos caídos, número, peso total e peso médio dos frutos produzidos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos experimentos 1 e 2, algumas plantas evidenciaram clorose nas
folhas, dois a quatro meses após a anelagem da casca, decorrente da
execução de cortes excessivamente profundos, afetando o lenho, à semelhança de efeitos descritos por AGUSTÍ e ALMELA (1991). A cor verde
normal das folhas se restabeleceu cinco a seis meses depois da anelagem.
Nos demais experimentos, os cortes, menos profundos, não causaram
danos visíveis.
Em nenhum deles perceberam-se sintomas visuais de toxicidade
provocada pela aplicação de 2,4-D ou AG 3.
Nos experimentos 1 e 2, não houve interações significativas entre
doses de AG 3 com anelagem da casca, nem com óleo mineral
emulsionável. Também não houve efeito do AG 3 e do óleo mineral
emulsionável sobre o peso total dos frutos produzidos por planta.
Quando o AG3 foi aplicado sucessivamente em 22 e 29/7/93, aproximadamente vinte dias antes da brotação, no experimento 1, doses crescentes causaram a diminuição linear do número de frutos produzidos (Figura 1). Esse resultado indica que as doses crescentes de AG3, principalmente de 20 e 30 pmm, diminuíram a diferenciação de gemas florais,
reduzindo o número de frutos produzidos (MONSELISE e
HALEVY,1964).
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
25
479
_
‹
^
Y = 22,10 - 0,30x
20
‹
Número de frutos
‹
15 _
‹
10 _
0
10
20
_
_
0
_
5 _
30
Ácido giberélico, ppm
Figura 1. Número de frutos produzidos por laranjeira-de-umbigo ‘Monte
Parnaso’ aos três anos de idade, em função de duas pulverizações, em
22 e 27/7/93, com quatro doses de ácido giberélico, no experimento 1
(KOLLER et al., 1999a)
O raleio de flores deveria ter diminuído a competição entre flores e
frutos novos, por metabólitos, aumentando a retenção de frutos na planta
(ZUCCONI et al.,1978). Isso, entretanto, não acontece em árvores com
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
480
OTTO CARLOS KOLLER et al.
baixo índice de floração, inferior a 20 flores/100 nós (BECERRA e
GUARDIOLA, 1984), como ficou evidenciado neste experimento, cujas
árvores, com apenas dois anos de idade, apresentavam floração escassa.
Por isso, inibindo o florescimento, o AG 3 diminuiu também o número de
frutos produzidos por árvore.
Nessas duas aplicações, feitas vinte dias "antes da brotação", é provável que as gemas já estivessem com 2 a 3 mm, em início de brotação
(detalhe importante que, inadvertidamente, não foi observado pelos autores da pesquisa), pois, segundo AGUSTÍ e ALMELA (1991), essa é
justamente uma das fases fisiológicas, curta, em que o ácido giberélico
exógeno exerce efeito de inibição da diferenciação de gemas florais.
Quando, porém no experimento 2, o AG3 foi aplicado na plena
floração, as doses testadas não exerceram efeito significativo sobre o
número de frutos produzidos (Tabela 1), porque já havia passado a fase
em que o AG 3 exógeno promove raleio de flores e também porque as
doses testadas não foram propícias, já que AGUSTÍ e ALMELA (1991)
recomendam aplicar somente 5 ppm de AG3 no final da queda das pétalas e, não, na plena floração. Além disso, tratando-se de plantas novas,
em intenso crescimento vegetativo e com floração escassa, nessa fase a
retenção de frutos deve estar relacionada a outros fatores e não predominantemente à disponibilidade de ácido giberélico.
A anelagem da casca do tronco aumentou o número de frutos produzidos no experimento 1 (Tabela 2), independentemente da aplicação
ou não de óleo mineral emulsionável, ao passo que, no 2, o aumento do
número de frutos somente foi significativo na ausência do óleo mineral.
Esse efeito benéfico da anelagem da casca, sobre a produção de frutos, já
havia sido evidenciado em muitos experimentos (AGUSTÍ e ALMELA,
1991), devendo-se à melhor nutrição dos frutos na fase de multiplicação
celular, logo após o florescimento (ZUCCONI et al., 1978), pela interrupção da descida da seiva, que, na falta da anelagem da casca, seria
consumida pelas raízes, em detrimento da nutrição dos frutos
(GOLDSCHMIDT e GOLOMB, 1982).
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
481
Tabela 1. Número de frutos produzidos por laranjeiras-de-umbigo ‘Monte
Parnaso’, aos três anos de idade, em conseqüência de uma pulverização com quatro doses de ácido giberélico, em 15/9/96 (plena floração),
em plantas com e sem anelagem da casca do tronco, no experimento 2
(KOLLER et al., 1999a)
Doses de AG3
Sem anelagem
Com anelagem
ppm
0 ............
12,4
19,4
10 ..........
14,1
14,6
20 ..........
12,3
16,9
30 ..........
12,6
16,1
Tabela 2. Número de frutos produzidos por laranjeiras-de-umbigo 'Monte
Parnaso', aos três anos de idade, em função de pulverizações com
óleo mineral emulsionável, com e sem anelagem da casca do tronco,
em dois experimentos (KOLLER et.al., 1999a)
Experimento
Anelagem
da casca
Dosagem de óleo mineral (1)
0%
1%
Médias
Número de frutos
1 .............
Com anelagem
24,50
14,50
19,50A
1 .............
Sem anelagem
19,83
11,17
15,50B
22,17a
12,84b
1,–
Média ....
2 .............
Com anelagem
16,94A
15,31A
16,13
2 .............
Sem anelagem
10,75B
15,94B
13,35
13,84
15,63
Média ....
1,–
(1)
Médias seguidas de letras distintas, minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas, diferem
entre si pelo teste de Duncan, a 5% de probabilidade.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
482
OTTO CARLOS KOLLER et al.
A diferença de efeito sobre o número de frutos produzidos, em função da aplicação de óleo mineral emulsionável, observada entre os experimentos 1 e 2, pode dever-se à época de aplicação. No 1, o óleo mineral,
aplicado em gemas de 2 a 3 mm, deve ter causado excessivo raleio de
flores, atribuído à presença de detergentes (MOSS, 1973), diminuindo a
produção de frutos. No experimento 2, na ausência de anelagem da casca, o óleo mineral aplicado na plena floração pode ter provocado um
pequeno efeito fitotóxico, promovendo a queda de flores e frutinhos, fazendo com que estes, fixados em menor número após a queda natural,
crescessem com maior rapidez e fossem retidos com maior força pelas
plantas, diminuindo quedas posteriores (AGUSTÍ e ALMELA, 1991).
Verifica-se, na Tabela 3, que a anelagem diminuiu o tamanho médio dos frutos, com efeito significativo no experimento 1. Isso é uma
desvantagem nos mercados que valorizam mais os frutos grandes. Essa
diminuição, ocorrida com a anelagem da casca, foi uma conseqüência
direta do maior número de frutos fixados pelas plantas aneladas. Após a
queda natural, deve ter ocorrido maior competição entre eles, por nutrientes, diminuindo seu crescimento na fase II, de expansão celular (BAIN,
1958, e GONZÁLEZ-FERRER et al., 1984).
Tabela 3. Peso médio de laranjas-de-umbigo 'Monte Parnaso' em função
da anelagem da casca do tronco, feita no final da floração, em dois
experimentos (KOLLER et al., 1990a)
Anelagem da casca
Peso médio dos frutos(1)
Experimento 1
Experimento 2
g
Sem anelagem ........
310a
305a
Com anelagem .......
271b
263a
(1)
Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de
probabilidade.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
483
No experimento 3, verificou-se que, em todos os tratamentos, no
final da queda natural, as plantas evidenciavam retenção de frutos semelhante. A partir de 20/12/96, quando as árvores começaram a brotar após
um mês de escassez de chuvas, iniciou-se uma acentuada queda de frutos, que estavam com 4-6 cm de diâmetro. Antes de cair, eles já evidenciavam sintomas da presença de Alternaria sp, caracterizados pelo
amarelecimento da casca, que progride da região estilar, do umbigo para
o pedúnculo; o corte longitudinal desses frutos mostra internamente o
umbigo, pseudofruto, totalmente necrosado (BROWN e ECKERT, 1993).
Exames de laboratório comprovaram a presença do fungo, porém não foi
possível determinar se essa doença foi a causa da abscisão dos frutos.
Observa-se, nas Tabelas 4 e 5, que os tratamentos 6 e 7, com
oxicloreto de cobre e tebuconazole + óleo mineral emulsionável, não
diminuíram a queda de frutos, evidenciando que, se a Alternaria sp estivesse relacionada com tal queda, seria difícil controlar essa doença, como
relatado por BROWN e ECKERT (1993).
Observa-se, também, que os tratamentos 5 e 8, com 2,4-D e/ou
anelagem da casca dos ramos, reduziram a queda de frutos e/ou aumentaram a retenção de frutos pelas árvores. Isso se deu porque o 2,4-D
aumenta a força de retenção (STEWART et al., 1951) e a anelagem melhora a nutrição dos frutos, acelerando-lhes o crescimento na fase II, logo
após a queda natural (ZUCCONI et al., 1978).
A aplicação de AG3 + 2,4-D no final da queda das pétalas, no tratamento 2, também diminuiu o índice de queda de frutos, com efeito mais
acentuado até 14/1/97, provavelmente em vista do AG 3, cuja aplicação é
recomendada nessa época (AGUSTÍ e ALMELA,1991). Todavia, no período de 14/1 a 12/2/97, a diferença diminuiu em relação à testemunha,
provavelmente porque a retenção de elevado número de frutos, na ausência de tratamentos que acelerassem o crescimento na fase II, promoveu-se a concorrência por nutrientes seguida de maior índice de abscisão
(GONZÁLEZ-FERRER et al.,1984).
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
484
OTTO CARLOS KOLLER et al.
No experimento 4 observou-se que, na região onde foram realizadas as pesquisas, de maio de 1976 até setembro de 1997, ocorreram déficits
hídricos de dezembro de 1996 a junho de 1997, como se pode ver na
Figura 2. Nessas condições, a irrigação diminuiu o número de frutos caídos por planta, como mostra a Tabela 6, confirmando as observações de
PRIMO-MILLO (1993) e CASTRO (1994), mas, isoladamente, o efeito
benéfico da irrigação não foi suficiente para aumentar o tamanho do
fruto a um nível significativo.
Tabela 4. Número de frutos retidos por laranjeiras-de-umbigo ‘Monte
Parnaso’ em função de tratamentos com reguladores de crescimento
e anelagem da casca dos ramos principais no experimento 3 (KOLLER
et al., 1999b)
Tratamentos
Frutos retidos/planta
após a queda natural (1)
Frutos retidos/planta até
14/1/97
12/2/97
1 ................
75,7 ab
59,7 ab
45,9 b
2 ................
76,1 ab
69,1 ab
57,8 ab
3 ................
85,8 ab
67,4 ab
55,7 ab
4 ................
87,5 ab
74,3 ab
60,8 ab
5 ................
87,8 ab
84,0 a
75,6 a
6 ................
72,9 ab
53,4 b
40,3 b
7 ................
63,9 b
48,8 b
38,5 b
8 ................
95,3 a
83,0 a
73,2 a
28,8
23,5
25,0
C.V.(%) .
(1)
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5%.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
485
Resposta semelhante ocorreu, neste experimento, no tratamento 3,
com a anelagem da casca dos ramos + aplicação de reguladores de crescimento. Entretanto, quando a irrigação foi conjugada com o tratamento
3, o número e o peso dos frutos produzidos aumentaram significativamente.
250
Altura de água (mm)
P
ETP
ETR
DH
200
150
100
50
0
M
Meses
7
M
Ju
l/9
7
7
/9
t/9
t/9
a
o
ai
Se
Se
7
7
/9
Ju
l /9
Ja
o
rç
M
ai
/9
7
9
n/
M
ar
/9
7
N
7
97
/
ov
Ja
n/
Se
96
96
6
6
t/9
Ju
t/9
Se
l/9
N
ov
/
6
6
6
Ju
l/9
/9
M
ai
/9
6
M
o
ai
7
Figura 2. Balanço hídrico climático, calculado pelo método de
Thornthwaite e Mather, apud CUNHA (1992), para 150 mm de
armazenamento, durante a realização do experimento, em pomar de
laranjeira ‘Monte Parnaso’. Butiá (RS). Safra 1996/97. P = Precipitação; ETP = Evapotranspiração potencial; ETR = Evapotranspiração
real; DH = Déficit hídrico (SCHÄFER et al., 2000)
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
486
OTTO CARLOS KOLLER et al.
Tabela 5. Número e porcentagem de laranjas-de-umbigo ‘Monte Parnaso’
que caíram por árvore, após a queda natural, em decorrência de tratamentos com reguladores de crescimento, fungicidas e anelagem da
casca dos ramos principais [Experimento 3 (KOLLER et al., 1999b)]
Frutos
Tratamentos caídos até
12/2/97 (1)
n.º
1 ...............
29,8ab
Frutos
caídos até
14/1/97 (1)
22,0ab
Frutos caídos
Total de
de 14/1
frutos caídos
a 12/2/97 (1) até 12/2/97 (1)
%
21,7ab
39,2ab
2 ...............
18,3bc
9,5c
16,0abc
24,0cd
3 ...............
30,2ab
22,7ab
16,9abc
35,9abc
4 ...............
26,8ab
14,7abc
16,7abc
28,9bcd
5 ...............
12,2c
4,5c
10,5c
14,4d
6 ...............
32,7a
26,6a
25,7a
44,9a
7 ...............
25,4abc
24,5ab
22,2a
40,8ab
8 ...............
22,1abc
13,0bc
11,6bc
22,9cd
34,9
45,6
36,5
30,5
C.V. (%)
(1)
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5%.
Os tratamentos 4 e 6 também diminuíram a queda de frutos e
aumentaram a produção, confirmando a eficácia da anelagem da casca
dos ramos e a aplicação de reguladores de crescimento no aumento da
produção, já registrada nos experimentos anteriores. Por outro lado, embora nenhum dos tratamentos tivesse aumentado significativamente o peso
médio dos frutos, ficou evidente que o maior peso da produção, alcançado no tratamento 4, deveu-se ao maior peso médio atingido pelos frutos,
provavelmente em função de maior crescimento nas fases I e II, promovido pela anelagem da casca dos ramos feita no final da queda das pétalas e, novamente, logo após a queda natural dos frutos.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
37,4 b
15,9
6 - Idem 3 + anel. (19/11 e 14/5) ..........................
C.V.(%) ................................................................
(2)
12,7
47,30 ab
47,80 ab
50,65 a
45,20 abc
39,35 bc
37,10 c
kg/planta
13,6
217,3 a
217,8 a
209,0 ab
203,2 ab
198,4 ab
167,8 b
n.°
14,7la
217,4 a
222,9 a
247,3 a
222,0 a
200,9 a
221,1 a
g
Frutos/ Peso médio
planta (2) por fruto (2)
Todas as unidades experimentais receberam uma aplicação acidental de 15 ppm de 2,4-D em novembro de 1996.
Médias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5%.
41,5 b
5 - Idem 2 + 3 .........................................................
(1)
39,2 b
(15/10, 19/11 e 14/5) ........................................
4 - 10 ppm AG 3 (7/8); anelagem ...........................
e 10 ppm AG3 + 15 ppm 2,4-D (14/5) ............
(15/10); anel. (15/10); 15 ppm 2,4-D (19/11)
39,7 b
39,2 b
2 - Irrigação ............................................................
3 - 10 ppm AG 3 (7/8); 5 ppm AG3
57,1 a
n.°
Frutos caídos
de dez.
Produção (2)
(2)
a julho
1 - Testemunha .......................................................
Tratamentos (1)
Tabela 6. Efeito da irrigação, anelagem da casca dos ramos e de reguladores de crescimento sobre a
produção de laranjeiras-de-umbigo ‘Monte Parnaso’: Experimento 4 (SCHÄFER et al., 2000)
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
487
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
488
OTTO CARLOS KOLLER et al.
Os resultados do experimento 5 - Tabela 7- evidenciam que os
tratamentos 3, 5, 6 e 9 aumentaram o número de frutos retidos pelas
plantas até a colheita, em relação à testemunha. Este efeito resultou da
aplicação de AG3 no final da queda das pétalas e/ou da anelagem da casca
dos ramos feita dez dias depois da queda das pétalas, ou após a queda
natural em 15 de novembro de 1996, as quais aceleraram o crescimento
dos frutos (HOFMAN, 1988, e GUARDIOLA, 1994).
A retenção de maior número de frutos logo após o florescimento
pode acentuar o índice de abscisão durante a queda natural de frutinhos,
em vista da competição entre eles por metabólitos, diminuindo o número
de frutos retidos pelas plantas até a colheita (MOSS, 1972); entretanto,
neste experimento, o efeito da aplicação de AG 3 e da anelagem da casca
dos ramos, logo após o florescimento, pode ter persistido até a colheita,
pela aplicação acidental de 2,4-D, feita em novembro, uma vez que
KOLLER et al. (1999b) observaram que, aplicado nessa época, o regulador de crescimento diminui a queda de frutos verdes, de modo semelhante ao ocorrido neste ensaio com a anelagem da casca dos ramos principais (Tratamento 9), que, realizado no final da queda natural, aumenta
o tamanho da células, na fase II, de crescimento linear dos frutos (AGUSTÍ
e ALMELA, 1991).
Por sua vez, os tratamentos 8, 11, 12 e 13, que incluíam a combinação das aplicações de AG 3 no início da brotação e na queda das pétalas,
e a anelagem da casca dez dias após e em 15/11/96, não aumentaram o
número de frutos produzidos a ponto de atingir diferença significativa
em relação à testemunha. Isso aconteceu provavelmente em vista do excesso de tratamentos, envolvendo inclusive duas aplicações de 2,4-D em
novembro de 1996 (uma delas acidental), o que pode ter resultado em
efeitos levemente fitotóxicos, ou concorrência entre um maior número
de frutinhos inicialmente retidos, provocando maior queda de frutos em
momentos posteriores.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
489
Por conseguinte, os resultados desta pesquisa evidenciam que, para
aumentar o número de frutos produzidos por laranjeiras-de-umbigo ‘Monte Parnaso’, desde que se realize uma aplicação de 15 ppm de 2,4-D em
novembro, basta fazer uma aplicação de 5 ppm de AG3 no final da queda
das pétalas, ou uma anelagem da casca dos ramos principais até dez dias
após a queda das pétalas, ou em 15 de novembro.
Os dados da Tabela 7 também permitem observar que, com exceção dos tratamentos 2 e 11, todos os demais aumentaram significativamente o peso da produção de frutos em relação à testemunha. Esse fato
pode parecer anormal, tendo em vista que nenhum tratamento afetou de
modo significativo o peso médio dos frutos e, por conseguinte, a resposta deveria ter sido semelhante ao que ocorreu com o número de frutos
produzidos. O aumento significativo do peso da produção de frutos nos
tratamentos 4, 7, 8, 10, 12 e 15, em relação à testemunha, foi devido,
todavia, aos efeitos conjugados de pequeno aumento do número de frutos
produzidos nesses tratamentos, aliado a seu maior peso médio, que fez
com que o aumento de peso da produção desses tratamentos atingisse o
nível de significância em relação à testemunha.
Os resultados desta pesquisa também evidenciaram que a aplicação de AG 3 e de 2,4-D em maio, por ocasião da indução floral (tratamentos 12 e 13), recomendada por AGUSTÍ e ALMELA (1991), não exerceu
efeito adicional de aumento da produção de frutos. Acontece que a colheita, realizada em agosto, foi precoce, sem tempo para que os reguladores de crescimento manifestassem seu efeito de prolongar a retenção
dos frutos maduros na planta. Por outro lado, como a produção de frutos
das plantas utilizadas no experimento pode ser considerada satisfatória,
provavelmente os próprios frutos exercessem um efeito inibidor da diferenciação de gemas florais, regulando o florescimento e, conseqüentemente, a competição por metabólitos, dispensando a aplicação de AG 3
exógeno, no outono, para promover raleio de flores ou diminuir o
florescimento em cachos desprovidos de folhas (AGUSTÍ e ALMELA,
1991).
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
(2)
(1)
n.o
161 c
183 bc
230 ab
212 abc
242 a
222 ab
211 abc
211 abc
223 ab
197 abc
186 abc
214 abc
205 abc
016,2
Frutos (2)
kg
31,24
40,88
45,02
42,76
46,79
44,68
46,67
44,15
46,58
42,87
39,49
44,36
43,82
15,3
b
ab
a
a
a
a
a
a
a
a
ab
a
a
Peso da
produção (2)
g
197 a
223 a
196 a
202 a
195 a
201 a
224 a
210 a
212 a
220 a
213 a
208 a
214 a
9,8
Peso médio
dos frutos (2)
Todas as unidades experimentais receberam uma aplicação acidental de 15 ppm de 2,4-D em novembro de 1996.
Médias seguidas das mesmas letras, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.
1. Testemunha ............................................
2. 10 ppm AG3 na brotação .......................
3. 5 ppm AG3/final queda pétalas .............
4. Idem tratamentos 2+3 ...........................
5. Anelagem 10 dias/queda pétalas ...........
6. Idem tratamentos 2+3+5 ........................
7. 15 ppm 2,4-D em 15/11/96 ...................
8. Idem tratamentos 2+3+5+7 ...................
9. Anelagem em 15/11/96 ..........................
10. Idem tratamentos 7+9 ..........................
11. Idem tratamentos 2+3+5+7+9 .............
12. Idem trat. 8 +AG3+2,4-D/maio ...........
13. Idem trat. 11+AG3+2,4-D/maio ..........
C.V. (%) ................................................
Tratamento (1)
%
22,3 a
19,3 a
14,7 a
18,2 a
14,4 a
17,6 a
14,8 a
20,2 a
17,3 a
21,4 a
22,3 a
18,6 a
17,7 a
26,6
Frutos caídos.
dez. a mço (2)
Tabela 7 . Efeito da anelagem da casca dos ramos principais e da aplicação de ácido giberélico (AG3) e
ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D), sobre a produção de frutos por laranjeira-de-umbigo ‘Monte
Parnaso’ [Experimento 5. (KOLLER et al., 2000)]
490
OTTO CARLOS KOLLER et al.
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
491
Quanto à porcentagem de frutos verdes caídos no período de dezembro de 1996 a março de 1997, não foram detectadas diferenças
significativas entre os tratamentos (Tabela 7). Esse resultado foi divergente do constatado no experimento 4 e por KOLLER et al. (1999b), de
que a aplicação de 2,4-D ou a anelagem da casca, em 15 de novembro,
diminui a queda de frutos nos meses de dezembro a fevereiro. A aplicação acidental de 15 ppm de 2,4-D, porém, ocorrida em novembro, em
todos os tratamentos, inclusive na testemunha, deve ter mascarado ou
anulado o efeito da aplicação adicional de 2,4-D, que foi objeto de teste,
nos tratamentos 7, 8, 10, 11, 12 e 13, bem como da anelagem de ramos;
todavia, no experimento 4, realizado em condições similares, em que se
avaliou a queda de frutos durante um período mais prolongado, de dezembro a julho, houve diferença significativa entre tratamentos, indicando
que outros fatores, não detectados, devem estar relacionados com a questão, principalmente com as épocas de queda de frutos.
4. CONCLUSÕES
1. Depois da queda natural de frutos, as laranjeiras-de-umbigo
‘Monte Parnaso’ apresentaram uma segunda queda intensa de frutos,
geralmente ocorrida de dezembro a fevereiro.
2. A anelagem da casca do tronco, de laranjeiras-de-umbigo ‘Monte Parnaso’ com menos de três anos de idade, aumentou o número de
frutos produzidos, mas diminuiu seu peso médio.
3. A pulverização de plantas novas, bem no início da brotação das
gemas, com doses de ácido giberélico de 10 a 30 ppm, diminuiu o número de frutos produzidos.
4. A pulverização com 5 ppm de ácido giberélico + 15 ppm de 2,4-D,
no final da queda das pétalas, diminuiu a abscisão de frutos, em laranjei-
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
492
OTTO CARLOS KOLLER et al.
ras ‘Monte Parnaso’, com cinco a seis anos de idade; a anelagem da casca dos ramos principais também diminuiu a queda de frutos, porém as
pulverizações com 2,4-D foram mais eficazes.
5. A irrigação somente promoveu o aumento da produção de frutos
quando conjugada com a anelagem da casca dos ramos e/ou com a aplicação de reguladores de crescimento.
6. Em árvores com cinco a seis anos de idade, a anelagem da casca
dos ramos principais e/ou a aplicação de AG3 e 2,4-D, em momentos
adequados, aumentaram a produção, sem diminuir o peso médio dos frutos.
7. Num pomar de laranjeiras ‘Monte Parnaso’ com cinco a seis
anos de idade, pulverizado com 15 ppm de 2,4-D em novembro, a produção de frutos pôde ser aumentada até 50%, sem efeito cumulativo, com
apenas um dos quatro tratamentos seguintes: pulverização com 5 ppm de
ácido giberélico no final da queda das pétalas; anelagem da casca dos
ramos principais dez dias após a queda das pétalas; pulverização com 15
ppm de 2,4-D em novembro, depois da queda natural dos frutos; anelagem
da casca dos ramos principais em novembro, após a queda natural dos
frutos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUSTÍ, M.; ALMELA, V. Aplicación de fitorreguladores en citricultura.
Barcelona: Aedos Editorial, 1991. 169p.
BAIN, J.M. Morphological, anatomical and physiological changes in the
developing fruit of the Valencia orange (Citrus sinensis (L.) Osbeck). Australian
Journal of Botany, v.6, p.69-76, 1958.
BECERRA, S.; GUARDIOLA, J.L. Inter-relationship between flowering and
fruiting in sweet orange, cultivar Navelina. In: INTERNATIONAL CITRUS
CONGRESS. 6., 1984, São Paulo. Proceedings... Piracicaba: International
Society of Citriculture, 1984, v.1, p.190-194.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DE LARANJEIRAS-DE-UMBIGO...
493
BROWN, G.E.; ECKERT, J.W. Postharvest fungal diseases. In: ______.
Compendium of citrus diseases. St. Paul: American Phytopatological Society,
1993. p.30-33.
CASTRO, P.R.C. Comportamento dos citros sob déficit hídrico. Laranja,
Cordeirópolis, v. 15, n.2, p.139-154, 1994.
CUNHA, G. R. Balanço hídrico climático. In: BERGAMASCHI, H. (Coord.)
Agrometeorologia aplicada à irrigação. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1992. p.63-84.
GOLDSCHMIDT, E.E.; GOLOMB, E. The carbohydrate balance of alternate
bearing citrus trees and the significance of reserves for flowering and fruiting.
American Society of Horticultural Science, Alexandria, v.107, p.206-208,
1982.
GONZÁLEZ-FERRER, J.; AGUSTÍ, M.; GUARDIOLA, J.L. Fruiting pattern
and retranslocation of reserves in Navelate and Washington navel oranges. In:
INTERNACIONAL CITRUS CONGRESS, 6., 1984, São Paulo. Proceedings...
Piracicaba: International Society of Citriculture, 1984. v.1, p.194-200, 1984.
GUARDIOLA, J.L. Utilização de reguladores de crescimento em citricultura.
Laranja, Cordeirópolis, v.15, n. 2, p.155-177, 1994.
HOFMAN, P.J. Abscisic acid and gibberellins in the fruitlets and leaves of the
‘Valencia’orange in relation to fruit growth and retention. In: INTERNATIONAL
CITRUS CONGRESS, 6., 1988, Tel Aviv. Proceedings... Tel Aviv: International
Society of Citriculture, 1988. v.1, p.355-363.
KOLLER, O.C. Laranjeira de umbigo: aumento de produtividade. Jornal do
Comércio, Porto Alegre, 23 dez. 1993. p.4.
KOLLER, O. C.; FERRARI SOBRINHO, F.; SCHWARZ, S.F. Frutificação precoce de laranjeiras ‘Monte Parnaso’ com anelagem e pulverizações de ácido
giberélico e óleo mineral. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34,
n.1, p.63-68, 1999a.
KOLLER, O. C.; SCHÄFER, G.; SARTORI, I.A.; LIMA, J.G. de. Efeito da
anelagem, fitorreguladores e fungicidas sobre a fixação de frutos na laranjeira
‘Monte Parnaso’. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.21, n.1,
p.70-73, 1999b.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001
494
OTTO CARLOS KOLLER et al.
KOLLER, O.C.; SCHÄFER, G.; SARTORI, I.A.; SCHWARZ, S.; LIMA. J.G.
de. Produção da laranjeira de umbigo ‘Monte Parnaso’ com anelagem da casca
dos ramos e aplicação de fitorreguladores. Revista Brasileira de Fruticultura,
Jaboticabal, v.22, p.68-72, 2000. Edição especial.
LENZ, F. Flower and fruit development in Valencia Late orange as affected by
type of inflorescence and nutritional status. Horticultural Research,
Amsterdam, v.84, p.141-146, 1966.
MONSELISE, S. P.; HALEVY, A. H. Chemical inibition and promotion of
citrus flower bud induction. Proceedings of the American Society
Horticultural Science, Genova, v. 84, p. 514-515, 1964.
MOSS, G.I. Chemical control of flower development in sweet orange. Australian
Journal of Agricultural Research. Victoria, v.21, p.233-242, 1970.
MOSS, G. I. Promoting fruit-set and yield in sweet orange. Australian Journal
Experimental Agriculture and Animal Husbandry, Melbourn, v. 114, p. 96102, 1972.
PRIMO-MILLO, E. Regulación del cuajado del fruto en los cítricos. In: CONGRESSO DE CITRICULTURA DE LA PLANA, 1., 1993, Nules. Anais...
Valência: Ed. Ajunta de Nules, 1993. p.57-74.
SCHÄFER G.; KOLLER O. C.; SARTORI, I. A.; DORNELLES, A. L. C. Efeito da irrigação, anelagem dos ramos e reguladores de crescimento na retenção
de frutos da laranjeira de umbigo ‘Monte Parnaso’. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.22 n.1, p.118-123, 2000.
SHAOLAN, H.; LIE, D.; YIQIN, l.; XUEHAI, Z. Effects of floral promotion
and amino acid metabolism during flower induction of Citrus plants. Journal
of Southwest Agriculture University, Chongqing, v. 17, n.6, p.501-505, 1995.
STEWART, W.S. ; KLOTZ, L.J.; HIELD. H.Z. Effects of 2,4 - D and related
substances on fruit-drop, yield, size, and quality of Washington Navel oranges.
Hilgardia, v.21, n.7, p.161-194, 1951.
ZUCCONI, F.; MONSELISE, S.P.; GOREN, R. Growth abscission relationships,
in developing orange fruit. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v.9, p.137146, 1978.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.2, p. 469-494, 2001

Documentos relacionados

Reguladores Vegetais na Citricultura

Reguladores Vegetais na Citricultura utilizando um lote homogêneo desta variedade com baixa produção, conduziu experimento durante quatro anos, no qual aplicou 10 mg/L de ácido giberélico, quando 75% dos botões florais estavam aberto...

Leia mais