AS HERESIAS MEDIEVAIS
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AS HERESIAS MEDIEVAIS
AS HERESIAS MEDIEVAIS Jackeline Auxiliadora Leilane Andrade Luís Carlos Cruz* RESUMO Os atos heréticos representaram uma forte expressão do livre arbítrio de toda uma sociedade. As conseqüências desses atos acabaram aniquilando seus praticantes, por irem de encontro ao poder da Igreja Cristã. PALAVRAS-CHAVE Igreja, princípios, poder, opressão, violência, revoltas. Heresia em grego significa “escolher” e com o advento do Cristianismo no século II – época em que a mensagem cristã passou a ser mais elaborada e se repartiu em inúmeras interpretações e versões – irá receber uma nova significação conotativa de “princípios que vão de encontro aos dogmas da Igreja”. Pode ser caracterizada também como divergência de opinião, onde, neste caso específico, a opinião do mais forte sempre irá subjugar a do mais fraco, inclusive por meio de chacinas covardes que mancharam a história ocidental. ___________________________________ * Alunos de graduação do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira. Trabalho solicitado pelo professor Marco Antonio Matos Antonio como pré-requisito da terceira nota da disciplina de História Medieval. Partindo de uma análise mais elaborada, pode se dizer que heresia foram opiniões e movimentos fundados por pensadores adeptos ou não do Cristianismo, que desgastados com tudo que estava sendo pregado pela Igreja, procuraram fundar novas doutrinas religiosas, que causaram um conflito indesejado e acabaram por diagnosticar o quanto seria conturbada toda história daqueles que procurassem seguir outro caminho que não fosse deliberado pelo poder da Igreja Cristã. Porém, para muitos a heresia poderia ser caracterizada com uma forma de aperfeiçoamento e progresso na compreensão da fé, isso porque, segundo Paulo: “convém que haja heresias para que se veja o que se deve aprovar” (1 Coríntios 11, 19). Com isso, as heresias podem ter sido o tranco que a Igreja cristã precisava para tentar recapitular e reparar o que estava errado, procurando um redirecionamento que possa preencher todas as lacunas e não deixe brechas para novas intervenções. Nos séculos IX e XI, foi criado um ambiente favorável ao desenvolvimento das heresias medievais. Isso porque houve o conhecido “Cisma Grego”, episódio no qual a Igreja Católica, com sede em Constantinopla, separouse da Igreja Ocidental, com sede em Roma. Esse acontecimento não pode ser considerado como uma heresia propriamente dita, embora tenha significado uma desunião entre cristãos. Mas, nesse contexto, a expansão econômica da Europa do século XI ao século XIII, juntamente com a reunião de mercadores e de classes pobres organizadas nas cidades, proporcionaram o surgimento de movimentos populares que deram início a muitas heresias. Esses movimentos acabaram por incomodar a Igreja e o poder civil, que representavam a classe dominante da época. É por isso que se diz que “A heresia nem sempre nasce da dúvida intelectual, como ocorreu nos séculos anteriores, ela também surge das condições sociais, econômicas e políticas; da oposição das classes dominantes” (João Ribeiro Jr., em Pequena História das Heresias; 1989). As pessoas que se propuseram a cultuar a pobreza e a vida comum estavam reagindo contra o luxo e a riqueza adquirida pelo Clero e pelos representantes do poder civil – elas criticavam a sociedade feudal cristã que fora estabelecida por quem detinha o poder e pregavam um discurso teológico que, por vezes, representava, na verdade, as intenções exclusivistas e ambiciosas dos indivíduos que constituíam o episcopado aristocrático e instituições religiosas.Toda essa situação fez com que surgisse todos esses levantes populares “heréticos”, um violento aparelho repressivo montado pelo poder clerical, a fim de sufocar a infiltração de doutrinas estranhas no seio da Igreja – essas poderiam quebrar a ordem alicerçada sob o juramento de fidelidade do vassalo para com o seu senhor. Outro obstáculo surge com o renascimento da dialética baseada na lógica de Aristóteles que estava sendo aplicada nas novas Universidades. A Igreja deparou-se com perigo do racionalismo, já que esse ameaçava tanto a fé quanto o poder. Com isso a autoridade dos padres passa a ser sempre contestada; a não ser quando estava em perfeita harmonia com a racionalidade. Com a dialética, os atos heréticos passaram a ser inspirados pela a razão, e isso ocasionou uma nova visão religiosa cristã e principalmente passaram ater um caráter de caráter popular. É por volta das últimas décadas do século X e início do século XI, que iremos nos deparar com as primeiras heresias medievais de que se tem notícias, em diversas regiões da França e norte da Itália. É justamente nessa época que a Europa, amparada pelo poder da Igreja e das instituições feudais, pretendia ampliar seus domínios e fronteiras por toda parte, visando abocanhar todo um território que viesse suprir todas as necessidades e todo o seu desejo ganancioso de concentrar um poder absoluto em suas mãos. Dentre todas as heresias existentes na história, desde o século II e o seu reaparecimento por volta dos séculos X, XI, XII e XIII, é destes últimos que estaremos a direcionar nossas atenções. Mais especificamente do Catarismo fundado sobre a distinção dualista, o Valdeísmo (heresias de retorno à pureza do Cristianismo primitivo) e as de retorno à pureza escatológica (as Wycliffianas e os Hussitas). Contudo, deixemos bem claro que todos os dados que serão explícitos terão como base textos que foram transcritos por personagens que estavam ligados à Igreja Católica; levando em consideração que justamente nesta época as pessoas encarregadas de relatar o que estava acontecendo eram indivíduos ligados ao Estado e ao poder do Clero. OS CÁTAROS O que se sabe atualmente sobre os cátaros é fruto de processos e manuais deixados pela Inquisição, visto que os escritos de fonte cátara foram queimados por inquisidores, no intuito de combater a heresia. Religião surgida na França ao final do século IX, o catarismo está ligado ao manaqueísmo (religião surgida no século III que mesclava cristianismo, zoroastrismo e gnosticismo), e despreza o corpo e as sensações corporais, pois acredita que assim o espírito poderá triunfar. É relativamente desligado dos movimentos anteriores e apresentam uma leitura independente das Sagradas Escrituras. O nome cátaro vem do grego katharos e significa “puro”. Sua origem é pouco conhecida, mas, no geral, é uma doutrina baseada no dualismo – dualidade entre espírito e matéria e duplo princípio eterno. Para os cátaros, existem dois deuses: um do bem, representado por Deus e um do mal, representado por Satã. O Deus bom teria criado o mundo dos espíritos, e o mal, o mundo material. O homem é fruto da união desses dois princípios: sua alma é prisioneira da matéria e esta, por sua vez, encontra-se presa ao mundo material. O objetivo do homem seria, portanto, purificar-se espiritualmente, buscando libertar-se do mundo material – isso seria fruto de várias reencarnações. Não havia crença na idéia de inferno, uma vez que acreditava-se que, no fim, o Deus do bem triunfaria sobre o do mal. O Catarismo difundiu-se por toda a Europa entre os séculos XI e XIII. No início do século XIII, essa heresia desenvolveu-se principalmente em Languedoc, no sul da França, onde os cátaros passaram a ser chamados também de albigenses, nome derivado da cidade de Albi, onde vivia considerado número de heréticos dessa doutrina. Mas, mesmo tendo obtido êxito em sua propagação por Languedoc – situação que pode ser atribuída à política da região, já que essa era independente do reino da França e as altas autoridades eram simpatizantes do Catarismo –, não foi apenas a heresia cátara que existiu nesse território. Além dessa localidade, existiram cátaros também na Alemanha, na França, no norte da Itália (em Milão, Lombardia e Florença), em Flandres e, ao que parece, na Inglaterra. A doutrina cátara foi aceita por contrariar alguns dogmas cristãos, especialmente no que diz respeito à volta pobreza e do cristianismo – ela chegou a ser considerada por seus seguidores, como o verdadeiro cristianismo. Opunha-se também a partes do Antigo Testamento, elaborando uma espécie de mitologia para substituí-lo, por acreditar que esse era obra do “mau princípio”; quanto ao Novo Testamento, em alguns casos, ele acabou sendo reescrito, pois, por exemplo, negava-se a Encarnação, Paixão e a Ressurreição de Jesus. Quanto à organização da Igreja cátara, o que se tem conhecimento é que existiam dois tipos de discípulos, os eleitos ou perfeitos e os simples crentes. Os primeiros, em pequeno número, praticavam um ascetismo rigoroso, viviam em mosteiros e atentavam-se para a filosofia moral do Catarismo: eram contra a união sexual, já que havia a crença que perpetuar a vida terrena era uma ilusão satânica, e praticavam jejum absoluto três vezes por ano. Repuguinam tanto o juramento quanto o serviço militar, pois, para eles deixar-se morrer de fome é a forma perfeita de cometer suicídio (considerado o ideal da santidade). Os simples crentes constituíam a grande maioria, tinham regras para jejuar e eram proibidos de ingerir certos alimentos, como carne, leite e ovos; não deveriam aspirar ao alto nível, no qual estavam os “perfeitos”. Os perfeitos, que preferiam ser chamados de “bons cristãos”, recebiam o batismo do espírito, o consolamentum, que era um dos ritos de iniciação para ingressar na seita – com isso é que alcançava-se a condição de “perfeito”. No consolamentum havia duas partes: o servitium (uma confissão geral feita pela assembléia) e o Pater Noster, no qual a pessoa que se preparava para ser batizada, pedia que o bispo-chefe o abençoasse e rogasse a Deus por ele, renunciando também os ritos da Igreja Romana. Os crentes recebiam o consolamentum na hora da morte. Além desse rito, existia ainda a covenenza, que era um acordo entre a Igreja Cátara e o crente, no qual este era levado a crer que, na hora da morte, seria “consolado”. O Catarismo foi considerado herético e condenado pelo Concílio Regional de Toulouse em 1119, quando a Igreja Católica a considerou uma ameaça para a fé e a unidade cristã. Os cátaros diziam que a Igreja havia se corrompido desde os tempos de Constantino e por isso rejeitavam seus sacramentos. No início, procurou-se dialogar com esses heréticos enviando pregadores a Languedoc, mas essa tentativa fracassou e isso estimulou o uso da violência – os cátaros não aceitavam submeter-se às regras católicas, por apontarem um nascente capitalismo, e negavam-se a seguir o sistema feudal da época, baseado em juramentos de um homem a outro, que por vezes perdia o seu valor. Sendo assim, foi estabelecida a Cruzada albigense, para combater essa heresia, que cada vez mais conquistava mais adeptos. O papa Inocêncio III, que se considerava acima dos reis e do poder tmporal, decidiu pregar a Cruzada contra os Albigenses. Levantava-se, então, um grande exército, comandado por Simão de Montfort, com aproximadamente 100 mil combatentes. Antes do ataque, o papa excomungou o conde Toulose e o enviou o legado papal Pedro de Castelneau, que se afogou no Ródano para que Raimundo VII, Conde de Toulose, fosse acusado de tê-lo assassinado. Essa mentira foi o estopim para o início do movimento da Cruzada, que teve amplas repercussões, como por exemplo, o aumento excessivo do poder da Inquisição, órgão de repressão instituído pelo papa Lúcio III. Um grande número de terras dos nobres passou às mãos de Simão Montfort, fruto de sua competência militar, dedicação à causa católica e crueldade. A tomada de Béziers foi um sangrento massacre. O legado papal não procurou distinguir a população cátara da católica e mandou assassinar a todos, dizendo que “Deus saberia reconhecer os seus”. Os albigenses que conseguiram escapar da França, se refugiaram na Itália, mas foram descobertos pela Inquisição. Resistiram ainda por quatro anos. Montségur, sua última fortaleza, caiu em 1244, mas nem por isso provocou o desaparecimento do Catarismo, pois este havia conquistado a simpatia do povo – sua tolerância religiosa foi o que a tornou mais conhecida. OS VALDENSES Foram muitas as heresias que surgiram do pretexto de homens pobres, humildes, que iam de encontro ao grande luxo, orgulho e riqueza exagerada da hierarquia eclesiástica medieval. Umas das mais importantes heresias anticlericais foi a dos valdenses, no reino da Borgonha, pertencente ao Império Romano-Germânico (atual França), entre o final do século XII e início do século XIII, e que é analisada com base em registros escritos dos III e IV Concílios de Latrão, que foram realizados em 1179 e 1215, da Assembléia de Párocos realizada em Verona em 1184, e com base em profissões de fé do líder dos valdenses Pedro Valdo e de seguidores seus como Duran de Huesca, que retornaram ao seio da Igreja após a condenação do grupo como herético. Pedro Valdo ou Valdés era um mercador lionês que, assim como São Francisco de Assis, desprendeu-se de todos os seus bens e os entregou aos pobres em 15 de agosto de 1174, depois de se converter mandou traduzir a Bíblia e o Evangelho de São João, passando assim a pregar o Evangelho e a penitência. Os seus discípulos eram um grupo de pregadores pobres da ortodoxia à heresia, na cidade de Lion e por isso ficaram conhecidos como “os pobres de Lion”. Logo o bispo de sua cidade proibiu Pedro Valdo de continuar a pregação do Evangelho, considerando que ele e seu grupo eram propagadores da heresia. Depois disso, Pedro Valdo partiu para Roma para tentar defender sua iniciativa no III Concílio de Latrão (1179). Os valdenses tiveram seu modo de vida aceito pelo papa Alexandre III, recebendo assim autorização para continuar pregando sua doutrina, porém deveriam obedecer e ter o consentimento da autoridade religiosa local do bispo diocesano, o que não venho a acontecer, porque o novo bispo lionês eleito em 1181 recusou-se a autorizar tal pretexto. Inicialmente os valdenses cumpriram a ordem, dedicando-se ao combate do movimento catarista, contudo sua grande vocação de pregadores os fez desrespeitá-la, pois Pedro Valdo declarou “preferir obedecer a Deus do que aos homens”; e veio a ruptura. A doutrina valdense passou a expressar a opinião de que o clero estava a se preocupar menos com a religião, do que com a riqueza e com a posição de destaque que estava ocupando no meio da nobreza. Com o correr do tempo, os valdenses vieram a sustentar algumas práticas e idéias que iam diretamente de encontro aos sacramentos da Igreja. A exemplo, confessavam seus pecados uns aos outros, o que feria a doutrina sacramental de que a confissão, pois essa só poderia ser feita a um padre ordenado, com obrigação de receber penitência, também mantinham a idéia de que os ritos sacerdotais não tinham qualquer efeito, enquanto o próprio padre estivesse em pecado ou fosse o próprio um pecador. Essas eram idéias que a Igreja não poderia admitir, pois estavam negando princípio de que os sacramentos são um milagre realizado por força “sobrenatural” e não pelo do padre como homem. Porém, logo o clero instituído declarou o movimento valdense como herético, com base no discusso de que ele estava pregando aos leigos e, com isso, renegava implicitamente o monopólio sacramental da Igreja, pois, para ela os únicos poderiam fazer pregações eram os padres ordenados por ela. Desse modo, os “pobres de Lion” foram denunciados, e o papa Lúcio III, os condenou no encontro de Verona, em 1184. Os valdenses foram expulsos de Lion e chegam às cidades italianas, a Germânia e a Suíça, denunciando os males do clero, sua riqueza e seu luxo. Com isso, aproximam-se do discurso de outros grupos heréticos como os cátaros, só que algumas diferenças. “Os valdenses diferenciavam-se dos cátaros porque se opunham ao ascetismo e não tinham um sacerdócio oficial, embora tivessem uma tríplice hierarquia de diácono, presbítero e bispo” (João Ribeiro Jr., em Pequena História das Heresias; 1989). Chegaram ao IV Concílio de Latrão (1215), amalgamados com eles, sofrendo as mesmas punições e foram definitivamente considerados heréticos. Por volta de 1533, os valdenses passaram a ser protestante e aderiram o movimento calvinista. Porém, mesmo depois disso, sofreram várias perseguições e em 1545, 22 aldeias valdenses foram totalmente destruídas, num total de pelo menos 3 mil pessoas mortas. Apesar de tantas perseguições, em 1848, foram libertados pela lei de tolerância religiosa do Piemonte e hoje, aderiram ao movimento ecumênico da unidade das igrejas e vivem espalhados pelo mundo: Vales Alpinos, Piemonte, Lombardia, Veneza, Nici, Toscana, Roma, Sicília e etc. Vimos, portanto que os valdenses iniciaram com uma tentativa local de reformar a Igreja, exercida por homens que desejavam viver em vida apostólica e pobreza voluntária, sofrendo a condenação de seu bispo, tornando-se uma ortodoxia perigosa, ou seja, uma heresia a ser eliminada por aqueles que pretenderam montar a ordem eclesiástica estabelecida sem nenhuma intervenção. A HERESIA DE WYCLIFFE No final do século XIV, surge na Inglaterra uma nova heresia apoiada pela Universidade, na medida que a influência e a corrupção da igreja chegara ao conhecimento de todos, gerando uma revolta e criando um movimento de reforma da Igreja, como os cátaros, os valdenses e outros. Em nenhum outro lugar isso foi mais verdadeiro do que na Boêmia, que jamais exerceu papel central na história da Europa; mas no final da Idade Média, destacou-se como o primeiro dos eleitores do Santo Império Romano. A Boêmia tinha como religião a ortodoxia grega, o rei Vaclav (São Wenceslaus), implantou o catolicismo da Igreja Romana, a Igreja era uma das mais ricas e corruptas da Europa, mais da metade das terras pertencia à hierarquia e à ordem religiosa, os bispos e poderosos abades viviam a luxúria dos senhores seculares. A Boêmia tornou-se palco de intrigas e corrupção que resultava de conflitos entre o imperador e o papa, os papados entraram em falência sendo forçados a fazer uso de tudo que estava ao seu alcance, especialmente a venda de indulgências para levantar fundos, o que provocou um poderoso movimento entre os teólogos da Europa e até mesmo alguns cardeais que desejavam uma solução para o problema. O Concílio de Pisa em 1409 elegeu Alexandre V como papa; Benedito XIII e Gregório XII se recusaram a renunciar, fazendo com que houvesse três papas. Após a morte de Alexandre V, foi coroado papa João XXIII, depois da coroação houve novas vendas de indulgências para financiamento de suas cruzadas. Na Inglaterra, John Wycliffe prega o confisco dos bens da Igreja, que arrecadava impostos, vendia indulgências e fazia lucrativa comércio com o uso de falsas relíquias de santos. Wycliffe pregava que Deus era soberano e detentor de tudo, que a bíblia era a única fonte das verdades cristãs e recusava a transubstanciação. Estas teorias foram levadas à prática pelos seus seguidores chamados lolardos, que vieram a se tornar revolucionários políticos. A inquisição nunca funcionou na Inglaterra, exceto para julgamento dos cavaleiros templários; as heresias eram cuidadas pelos bispos. John Wycliffe não foi formalmente excomungado, mas, apesar de já estar morto, sua doutrina foi novamente condenada e seus restos mortais exumados, queimados e as cinzas atiradas ao rio, alguns de seus seguidores foram presos e até queimados. Já na Boêmia foram incentivadas a liberdade religiosa e antipopulismo, e seguidores de Wycliffe imigraram da Inglaterra, Lombardia e dos Alpes para lá. Foi construída em Praga uma capela (Capela de Belém), para a pregação popular independente do arcebispo ou ordem monástica. Parte dos pregadores que lá passavam, eram seguidores da doutrina Wicliffiana. O MOVIMENTO HUSSITA João Hus decano da Faculdade de filosofia e pastor famoso na Capela de Belém, foi designado reitor da Universidade de Praga em 1402. Por ser conservador, discordava de muitas idéias de Wycliffe. Hus fez denúncias públicas dos abusos feitos pela Igreja. O Concílio Ecumênico, para tentar evitar maiores problemas, elegeu apenas um papa e tratou de proibir os livros de Wycliffe e pregações nas capelas independentes. Hus, que continuou pregando, foi excomungado pelo arcebispo, que apelou ao papa João XXIII, considerado um dos mais corruptos e depravados da história. Além de apoiar o arcebispo, colocou Praga sob intervenção enquanto João Hus estivesse pregando e encheu a Boêmia com vendedores de Indulgências, para financiar novas Cruzadas. Hus e seus seguidores denunciaram essa venda. A situação ficou tão difícil que Hus precisou exilar-se. Em 1414, foi convocado a se defender das acusações de heresia. Seu julgamento foi marcado por desordem e abuso de poder e ele acabou sendo condenado por traição ao imperador. Tiraram suas vestes sacerdotais e seus direitos civis e o queimaram na fogueira. Foi com certeza o mais nobre dos reformadores, também o mais conservador. Não queria fundar uma nova seita, nem reformar a Igreja (mudar as suas estruturas e suas bases). Suas idéias pouco diferem das propostas do I Concílio Vaticano; defendia a verdade, mas o que o clero precisava mesmo era da sua submissão. Além de religiosa, o movimento Hussita teve significação política, pois tornou-se expressão do nascente nacionalismo boêmio dirigido contra o domínio alemão na Boêmia. Com base no que foi estudado, é possível perceber que a história da heresia é algo ainda opaco, pois todo ponto de vista sobre os atos heréticos são pendentes – quase todos os registros vêm, com raríssimas exceções, da Igreja. Mas não temos dúvida de que as comunidades heréticas eram organizadas e dividiam seus fiéis em eleitos e crentes. A Igreja usou de todos os meios possíveis para suportar o embate causado pelas heresias, inclusive de meios que até hoje chocam todos que se questionam, estudam e tentam compreender o porquê de tanta violência empregada contra grupos de pessoas que só estavam tentando mostrar o seu ponto de vista a respeito de determinados assuntos. Ao analisar alguns fatos, é notável que o que a Igreja mais queria era fazer com que o Cristianismo se tornasse a única e verdadeira religião, principalmente pelo fato de querer possuir sempre o maior número de bens possível e ser a instituição mais poderosa. Os atos heréticos podem ter sido sufocados e condenados, mas sempre estarão presentes na vida de cada um daqueles que realmente procura conhecer a fundo a história da religião em toda a sua “engrenagem”; e ainda são objetos de debates que abrilhantizam o estudo histórico dessa época. BIBLIOGRAFIA LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval. São Paulo: EDUSC, 2006. LOYN, H. R. (Org.). Dicionário da Idade Média. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. RIBEIRO JÚNIOR, João. Pequena História das Heresias Medievais. São Paulo: Papirus, 1989; capítulos I e V. MAURICIO JUNOR. As Heresias Medievais. Disponível em:.<http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/historiador-cristianismo11.html>. Acesso em: 05 dezembro 2006. WIKIPEDIA. Catarismo. Disponível <http://pt.wikipedia.org/wiki/catarismo>. Acesso em: 05 dezembro 2006. em:.
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