patrícia canetti | priscila arantes | renata motta
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patrícia canetti | priscila arantes | renata motta
pat r í c i a c a n et ti | priscil a arantes | renata mot ta (orgs.) c o n e x õ e s tecnológic as Patrícia Canetti | Priscila Arantes | Renata Motta (orgs.) Cadernos Instituto Sergio Motta 12 Coleção Cultural c o n e x õ e s t e cnológic as Organização: Patrícia Canetti, Priscila Arantes e Renata Motta Coordenação Editorial: Juliana Monachesi Produção Editorial: Camila Duprat Martins Textos: André Lemos, Brian Holmes, Daniela Kutschat Hanns, Hernani Dimantas, João Antonio Zuffo, Jonas de Oliveira Junior, Karin Ohlenschläger, Lucas Bambozzi, Patrícia Canetti, Priscila Arantes, Rejane Cantoni, Renata Motta Revisão: Dulce Rosell Marques e Sylmara Beletti Tradução: Camila Barreiros Versão: Gavin Adams Projeto Gráfico: Paula Astiz Design Editoração Eletrônica: Ângela Mendes ISBN 978-85-60824-00-7 CTP, Impressão e Acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Tiragem: 1.500 exemplares (português) | 1.000 exemplares (inglês) São Paulo, Brasil, 2007 i n s t i t u to s e rgio mot ta Presidente: Luiz Carlos Mendonça de Barros Vice-Presidente (Conselho Deliberativo): Wilma Motta Secretária Geral: Maria José Tenório de Paiva Trav. Dorothy Poli Zioni, 7 | São Paulo-SP | 05016-070 | Brasil T (5511) 3873-0279 | [email protected] p r ê m i o s e r g i o mot ta de arte e tecnologia Relações Institucionais: Wilma Motta Coordenação Geral: Renata Motta Curadora: Vitória Daniela Bousso Coordenação de Projetos: Camila Duprat Martins Coordenação de Produção: Luciana Dacar Produção: Aline Gambin Administração: Sadao Kitagawa www.premiosergiomotta.org.br sumário co n e x õ e s t e c n o l ó g i c a s 05 co n e x õ e s c r í t i c a s 11 13 Patrícia Canetti, Priscila Arantes, Renata Motta Bodies and flows: táticas e estratégias do produtor de mídia ativista Brian Holmes Interfaces expandidas: conexões críticas Lucas Bambozzi 27 Software livre e globalização contra-hegemônica André Lemos 44 Multidão hiperlinkada: resistência e descentralização Hernani Dimantas 65 pe s q u i s a , f o r m a ç ã o e m e r c ado 75 77 Medialabmadrid: da pesquisa básica ao impacto cultural Karin Ohlenschläger Laboratório de Sistemas Integráveis João Antonio Zuffo 80 Pesquisa e produção em interfaces emergentes: projeto OP_ERA Daniela Kutschat Hanns e Rejane Cantoni 83 Convergência tecnológica Jonas de Oliveira Junior 86 Debates: conexões tecnológicas 89 fó r u m o n - l i n e referências Realizadores e participantes Notas sobre os autores Referências bibliográficas 13-110 113 115 119 123 conexõe s t e c n o l ó g i c a s Patrícia Canetti, Priscila Arantes e Renata Motta questões iniciais Muitos analistas da sociedade e da cultura vêm afirmando que estamos vivendo um verdadeiro choque do futuro, ocasionado, sobretudo, pelos avanços das tecnologias da informação. Aglutinado sob o rótulo de revolução digital, este momento histórico vem se deslocando rumo à formação de novos paradigmas, trazendo reverberações profundas para diversas esferas da sociedade. A partir de uma intensa reorganização dos sistemas produtivos, econômicos, espaciais e temporais, a globalização tem gerado novas topografias e relações mediadas pela conexão generalizada. Produzir, distribuir e circular a informação, enfim, estar conectado é um dos requisitos básicos da cena contemporânea. Nesta nova cartografia verifica-se, de um lado, uma versão otimista e utópica que aposta em uma sociedade mais igualitária e democrática a partir da descentralização e participação reclamada pelas redes. Se a cultura de massa configurou um processo de distribuição de produtos industrializados, de forma padronizada e centralizada com conteúdos ideológicos, a cultura em rede rompe com a emissão controlada e proprietária, permitindo o direito à livre expressão em meios diversos – blogs, sites pessoais, fotologs, peer to peer etc. – e uma maior participação da audiência na construção do conhecimento coletivo. Novas formas de socialização e agrupamentos se conformam dentro de uma cartografia líquida e rizomática. Por outro lado, verifica-se um posicionamento crítico em relação a estas versões, já que o desenvolvimento tecnológico se configura dentro do atual estágio do sistema capitalista, cujo pilar de sustentação é a capacidade de acumulação do capital em uma economia de interconexão eletrônica e midiática, e cujos objetivos estão na base dos novos conflitos sociais e das profundas desigualdades no acesso às oportunidades e à melhoria da qualidade de vida. Ancorados em um sistema de fluxos de informação de alta velocidade, os mercados financeiros e conglomerados empresariais pa5 conexões t ecn o l ó gic as recem, de fato, adequar-se às novas configurações do poder nômade. Um novo território se forma com base em novos serviços, em novas estratégias de consumo e de vigilância, postulando os paradoxos da cultura contemporânea. Ao mesmo tempo, a aceleração temporal, o culto ao tempo real e instantâneo e o não-lugar parecem colocar em cena novos formatos perceptivos. Sem um sentido claro de lugar, as audiências se tornam fluídas, movediças, potencializando uma percepção em zapping; dispersa, instantânea e fragmentária. Diante destas mudanças, torna-se fundamental alavancar discussões entre diversos setores da sociedade para a construção de uma visão crítica em relação ao impacto das novas tecnologias no mundo contemporâneo. Dentro de uma abordagem transdisciplinar e dinâmica, a primeira edição do Conexões Tecnológicas contou com uma ação on-line no Canal Contemporâneo e uma etapa presencial no dia 26 de maio de 2006 no Centro Universitário Senac – Unidade Lapa Scipião, em São Paulo. O projeto congregou artistas, teóricos nacionais e internacionais, cientistas e o setor empresarial no sentido de promover reflexões que enfrentem os desafios colocados pelas novas tecnologias no cenário contemporâneo. fo r m ato Ao definirmos o campo de atuação do Conexões Tecnológicas, fomos contaminadas pelas questões de que estávamos tratando. Se, inicialmente, trabalhamos no projeto de um fórum de debates, pensar e discutir as novas formas de conexão e os seus efeitos na sociedade e na arte nos levaram a querer experimentar as novas práticas no próprio projeto e a interferir no formato tradicional da dobradinha “mesas de debates e publicação”. Colher e pesquisar o tema na rede, promover uma maior “intimidade” entre público e palestrantes, estimular a discussão antes do evento e proporcionar uma continuidade para além dele foram alguns dos objetivos que surgiram na formulação deste novo conceito e prática de fórum. Usar as características inerentes à rede para ampliar o espaço/tempo do evento se colocava como uma missão ambiciosa a ser trabalhada. Com a parceria do Canal Contemporâneo, responsável pela difusão na rede, desenvolvemos um pré-fórum on-line com os alunos do Centro 6 realização Conexões Tecnológicas configurou-se, então, como um projeto de reflexão, que visa instaurar um debate público, ampliando as ressonâncias e as conexões em torno desse choque do futuro que vivenciamos hoje. O projeto é resultado do entendimento comum da necessidade de extravasar essas discussões para além das fronteiras acadêmicas e foi formatado a partir dos nossos diferentes perfis, mesclando experiências e atuações teóricas, institucionais e de ativismo na rede. O Instituto Sergio Motta acolheu a idéia desde o início e viabilizou a sua realização, articulando as parcerias com o Centro Universitário Senac – contando com o especial apoio e dedicação da Profa. Dra. Danie7 conexões t ecn o l ó gic as Universitário Senac para elaborar e compartilhar pesquisas e discussões de maneira informal. Os conteúdos mais interessantes foram transferidos para o fórum on-line aberto ao público e divulgado no informativo do Canal. O fórum on-line funcionou como uma preparação para aqueles que iriam participar do fórum presencial, mas também informaria aos que não podiam estar presentes para os debates em São Paulo. Foram publicadas apresentações sobre os palestrantes e seus trabalhos, links para textos e trabalhos na rede, e as respostas a uma entrevista – realizada por e-mail por Juliana Monachesi – que, divulgados aos poucos, serviram para instigar a participação do público. A publicação da cobertura das palestras e dos debates com o público no fórum presencial, divulgadas após o evento, completaria o material de pesquisa disponibilizado online, servindo de esboço para a publicação do Conexões Tecnológicas. Esta preparação opensource do evento se mantém disponível na internet e serve como fonte de pesquisa permanente, que se completa agora com a disponibilização on-line desta publicação. Ao nos perguntarmos como poderíamos transformar eventos acadêmicos experimentando uma nova formatação no Conexões Tecnológicas, a exemplo do que já ocorre com a convergência de outros formatos – televisão, jornais e revistas já se mesclam entre si e ao uso de celular e internet –, não objetivamos um resultado específico, mas o processo de livre expressão que nos levaria principalmente à ampliação da circulação de informação e conhecimento. conexões t ecn o l ó gic as la Kutschat Hanns e do coordenador de pós-graduação lato sensu Gley Fabiano – e com o Canal Contemporâneo. O projeto contou, ainda, com o patrocínio da Telefonica e os apoios da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo e do Ministério da Cultura. Desde 2000, o Instituto realiza o Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia, inserindo-se em lugar de destaque no fomento da produção artística contemporânea brasileira. Na sua 6ª edição, em 2005, o Instituto Sergio Motta ampliou o escopo de atuação do Prêmio. Desdobrado em uma ação bienal, passou a realizar, além da premiação propriamente dita, outras ações no campo da reflexão (fórum de debates, publicações) e da difusão (oficinas, exposições) das novas mídias. O Conexões Tecnológicas incluiu-se nesse novo calendário, consolidando essa importante vertente de reflexão. O projeto é resultante desse trabalho coletivo de criação intelectual individual e institucional. O formato dinâmico, que incluiu ações online e presencial, foi implementado pela participação fundamental da equipe, docentes e alunos do Centro Universitário Senac, dos palestrantes, dos debatedores convidados e do público, que participou ativamente tanto na fase on-line, quanto nas mesas presenciais. Esta publicação é mais uma etapa do Conexões Tecnológicas. Incorpora os principais debates on-line e os conteúdos das apresentações e debates realizados no Centro Universitário Senac – Unidade Lapa Scipião em maio de 2006, editados de forma a ampliar a discussão. Os textos foram organizados em dois blocos. O primeiro, agrupado sob a nomenclatura Conexões Críticas, inclui os textos dos palestrantes que fizeram parte da mesa da tarde no evento e incorpora posicionamentos diversos em relação à democratização da informação e os processos críticos referentes à globalização e à sociedade capitalista informacional. O segundo bloco, Pesquisa, Formação e Mercado, aglutina os resumos das palestras apresentadas na parte da manhã do evento. São textos que apresentam um espectro amplo de experiências no campo da produção artística e tecnológica: do artista individual, passando pelos contextos institucionais públicos até a outra ponta, a da corporação privada. Esse segundo bloco reúne também os debates referentes a essa mesa do período da manhã. Finalmente, correndo paralelamente na 8 9 conexões t ecn o l ó gic as parte inferior da publicação, está uma edição dos conteúdos e debates do Fórum on-line. Desejamos que esse conjunto de conteúdos, que também serão disponibilizados on-line (em versão PDF), sirva como fonte de pesquisa continuada, potencializando o debate público nas próximas edições do Conexões Tecnológicas. c o n e xõ e s crític as reúne artigos que colocam em debate a democratização da informação e os processos críticos referentes à globalização e à sociedade capitalista informacional. Software livre, mídia ativismo, novas estratégias de resistência à sociedade capitalista, são alguns dos pontos tratados. bodies a n d f l ow s : tátic as e e s t r at é g i a s d o produto r d e m í d i a at i v i s ta Brian Holmes p r é - f ó r u m on-line Alunos do Centro Universitário Senac – Unidade Lapa Scipião pesquisaram e discutiram os temas do Conexões Tecnológicas, preparando o fórum presencial realizado em 26 de maio de 2006. As colaborações, dos alunos dos cursos de graduação em Tecnologia em Design de Multimídia e da pós-graduação lato sensu em Mídias Interativas, foram organizadas aqui em ordem de postagem e parte do conteúdo foi resumida devido à utilização, por parte dos alunos, do recurso – muito característico da cultura digital – do “copiar e colar”; nestes casos, optou-se por resumir o tema de ensaios e entrevistas reproduzidos no préfórum on-line de modo a manter o registro daquilo que foi foco do interesse das pesquisas do aluno sem, contudo, reproduzir a íntegra de conteúdos já disponíveis on-line em outros sites: http://www.canalcontemporaneo.art.br/forum. 13 fór um on -lin e Nosso tema de hoje é a “democratização da informação voltada para a sociedade”. Para entender como essa democratização poderia ser realizada, e o que poderia estar em seu caminho, falarei do paradoxo do produtor de mídia ativista, quando este fica dividido entre duas posições contraditórias. Em primeiro lugar, a experiência corporificada do fluxo coletivo na rua, em uma situação de experimentação ou protesto. Em segundo lugar, a administração individual de um avatar, uma expressão informatizada de si mesmo, circulando no espaço abstrato das redes de comunicações globais. Como navegar nesta lacuna paradoxal, que, em casos extremos, pode dar a sensação de uma identidade cindida? Eu me basearei na minha própria experiência na Europa e nos Estados Unidos, sem tentar fazer muitas generalizações sobre as condições dos produtores de mídia na América Latina. Mas acredito que chegaremos a um terreno comum, pois o que está em jogo é uma das contradições básicas da democracia. A promessa democrática permanece não-cumprida – necessariamente. Isso porque os mecanismos de representação não podem “co- conexõ es cr ít ic as brir” o amplo espectro das demandas populares e das minorias, a não ser encobrindo-as sob a linguagem da eficiência e do lucro. A contradição tornou-se mais profunda na medida em que os partidos políticos, com um grande número de membros comprometidos, foram substituídos por máquinas eleitorais que fazem uso de campanhas de TV para angariar apoio para um candidato à presidência. A eficácia da representação política para todos, exceto os grupos mais poderosos, tende a diminuir, ainda que a exploração e exclusão social dos grupos mais fracos tendam a se intensificar. Grandes promessas de mudar essas tendências são feitas a cada quatro ou cinco anos; mas as regras econômicas da competição internacional não permitem que elas se realizem. O que vemos como resultado, em todo o mundo, são movimentos sociais, fluxos de pessoas nas ruas, clamando pelos direitos democráticos básicos: liberdade, igualdade, redistribuição. Como os produtores de mídia se encaixam nesses movimentos sociais? E o que significa “democratização” nesse contexto? A primeira democratização é o acesso à expressão, a segunda, à interpretação. O papel do produtor de mídia ativista é distribuir esses dois potenciais. É, literalmente, entregá-los com total respeito e consciência de seus diversos usos. Vamos pensar como isso funciona no nível mais simples: o do protesto corporificado na rua. A influência mútua entre as expressões individuais em uma multidão é uma experiência de emancipação, porque oferece um escape dos códigos dominantes da mídia de massa, um escape na direção do processo ativo de produção de sentido. fór um on -lin e No dia 13 de abril de 2006, Marcelo Amorim chama a atenção dos participantes do fórum para um artigo de Brian Holmes que trata das implicações da sociedade civil se integrando em uma “arquitetura digital” de origem militar, com referências ao Situacionismo e a trabalhos de arte e tecnologia como o Minitasking, Heat Seeking (de Jordan Crandall), e o grupo Yes Men. Intitulado “Drifting Through the Grid: Psychogeography and Imperial Infrastructure” [À deriva pela grelha: psicogeografia e infra-estrutura imperial], o texto de Brian Holmes aborda os novos domínios gerados pelo conteúdo crítico de grandes movimentos sociais. Ele cita como exemplo o contínuo prestígio da estética situacionista nos dias de hoje, em um contexto que se transformou dramaticamente desde o início dos anos 1960. A subversão do funcionalismo da grelha modernista nas cidades planejadas defendida pelo 14 É através do exercício recíproco da liberdade expressiva que um movimento passa a reconhecer a si mesmo, a criar um território comum. O produtor de mídia pode fornecer algumas formas iniciais, alguns dos materiais brutos da expressão coletiva, porém, apenas a multidão pode lhes trazer à vida e as transformar através do uso. E esses usos, por sua vez, são capturados, transformados e redistribuídos, criando o desejo e a latência utópica de imaginárias reuniões futuras. Grande parte dessa recente onda de ação política popular pode ser atribuída à circulação de imagens de discórdia e rebelião, que tem sido tornada possível pela multiplicação da mídia audiovisual e da capacidade de distribuição da internet. Porém, a possibilidade de interpretar esta emergência da expressão coletiva é fundamental, porque o território dos movimentos sociais não é apenas utópico, é também um teatro de lutas. Atos de transgressão, gestos de recusa e explosões de violência precisam ser todos explicados por cada participante de maneiras diferentes, que ainda assim convergem em uma ampla afirmação de direitos democráticos, uma resposta contra alguma injustiça, algum dano sofrido e sentido como insuportável. Para que um movimento possa manter o espaço que cria por meio de sua expressão, são necessárias não apenas imagens, mas discursos estruturados. Uma posição política deve ser sustentada, emoldurada como um mapa claramente debatido, tanto do conflito em que está engajada, como do motivo que foi reivindicado em uma base afetiva. O produtor de mídia ativista pode criar e distribuir este tipo de discurso conexõ es cr ít ic as Situacionismo ecoaria, segundo Holmes, na implementação global de uma arquitetura midiática digital. As qualidades sensórias da deriva situacionista estariam presentes em viagens hiperlinkadas pela paisagem da www, como nos projetos de “locative media” de Ben Russel (headmap.org) ou Marc Tuters (gpster.net), que propõem trazer um sentido personalizado de espaço utilizando tecnologia de posicionamento por satélite. Se o compartilhamento de dados e a produção de softwares abertos parecem apontar o caminho para uma economia cooperativa, projetos de mapeamento como o Minitasking retratam a rede de distribuição de arquivos Gnutella como uma sedutora galeria de músicas pop piratas e clipes pornô. “As aspirações revolucionárias da deriva situacionista são difíceis de localizar nas novas cartografias”, escreve Holmes. Daí em diante, passa a discorrer sobre as tecnologias de comunicação global como infra-estrutura imperial. Assim como fór um on -lin e 15 conexõ es cr ít ic as político, abrindo-o para a possibilidade de um debate coletivo. A arte da produção de mídia alternativa está no esforço para reacender continuamente um debate em formas que são em si mesmas expressivas, belas, inspiradoras, satíricas, dramáticas ou chocantes, carregadas de um potencial emotivo que possa ser compartilhado e também inscrito dentro dos elementos discursivos que são essenciais à ação política. A experiência dinâmica de expressões múltiplas que convergem em um território e que estruturam este território em movimento é o que eu chamarei de experiência de fluxo. O antropólogo e teórico da performance Victor Turner descreveu esta experiência de fluxo em um livro chamado From Ritual to Theater: The Human Seriousness of Play [Do ritual ao teatro: a seriedade humana da encenação]. Ele lista seis características diferentes da experiência de fluxo: uma perda do ego; uma centralização da atenção em um campo limitado de estímulo; uma fusão de ação e sabedoria que elimina qualquer autoconsciência paralisante; uma sensação de estar no controle tanto de si como do ambiente; uma percepção de demandas não contraditórias e coerentes para a ação; e finalmente uma convicção de que a experiência é completa em si mesma, que não necessita de outras metas ou recompensas. Essa última característica é uma das coisas mais surpreendentes sobre movimentos sociais: a convicção íntima e compartilhada de que uma ação política séria, cujo objetivo explícito é consertar um erro mudando um costume, uma lei ou tratado, é, ao mesmo tempo, completa em si mesma e sem necessidade de quaisquer outras conseqüências. Um fór um on -lin e os projetos que se valem de tecnologia GPS podem mapear trajetos subjetivos em uma cidade de forma poética, como na obra RealTime, de Esther Polak, eles tendem a reforçar o caráter de vigilância e controle da sociedade civil pelo governo. No dia 17 de abril de 2006, Laís Cerullo destaca no fórum o texto “Realidades alteradas”, de Rejane Cantoni, publicado na revista on-line Cibercultura do Itaú Cultural, sobre interfaces de realidade virtual em que se pode interagir com ilimitados depósitos de informação binária. Uma interface de ambiente virtual transforma cada movimento produzido pelo corpo em informação binária, além de transformar códigos binários em informações sensórias a serem apreendidas pelo corpo. “O cenário mais exótico é transformar uma parte do corpo em hardware (o que, do ponto de vista técnico, significa implantar chips 16 movimento social em ação é um mundo expressivo em si mesmo, que cria suas leis juntamente com seu território. Turner compara esta sensação de estar em fluxo com a experiência arcaica da communitas, ou seja, da união espontânea e sem mediação com seus iguais. Mas ao invés de simplesmente identificar a sensação de fluxo com uma comunidade tradicional, ele a coloca preferencialmente ao lado do que ele chama de “comportamento liminar”, que é o equivalente moderno, secular e individualizado de ritual, associado nas sociedades contemporâneas com arte, jogos, esporte e lazer – mas também com o Carnaval e a revolução. Fluxo, diz Turner, “é uma das técnicas pelas quais as pessoas procuram o ‘reino’ perdido ou ‘anti-reino’ da comunhão direta, não mediada um com o outro, mesmo que uma severa submissão a regras seja o formato no qual a comunhão possa ser induzida” [turner: 1982, p.58]. Vamos tentar nos ater a esse sentido de fluxo corporificado, sentí-lo não só como é experimentado no protesto de rua, mas também em todos os contextos nos quais o desejo político é inseparável de uma influência mútua de expressões, seja em reuniões, workshops, festivais, projetos em grupo ou eventos artísticos, momentos compartilhados de produção coletiva ou comunicação. Vamos tentar nos ater a ele precisamente na medida em que ele nos escapa e se transforma em outra coisa, que parece ser sua duplicata, simulacro ou oposto. Eu gostaria de abordar esta transformação paradoxal da experiência de fluxo por meio de uma observação aparentemente acidental do sociólogo contemporâneo Ma- conexõ es cr ít ic as diretamente no sistema nervoso central) e fazer o seu cérebro interagir diretamente com o computador. A alternativa é optar por um hardware externo transparente, como são as ‘cavernas’ imersivas cujas paredes são formadas por enormes telas de projeção. “Em ambos os casos, basta que o operador do projetor ligue a tomada e sua percepção da tecnologia como um objeto separado – uma ferramenta – irá desaparecer”, escreve Cantoni, para, em seguida, destrinchar que “outro mundo” é esse, constituído de bits. A artista aborda, por exemplo, as inúmeras possibilidades de interação com outras pessoas em um ambiente virtual como o ciberespaço, dentre elas a de “conectar todos os seus outputs e inputs ao aparato sensório de um robô remoto o que pode criar a sensação de que você ‘habita’ o corpo dele”, o que implicaria em uma migrar para a localização geográfica do robô. “Os problemas técnicos para alcançarmos tais capa- fór um on -lin e 17 conexõ es cr ít ic as nuel Castells. Considerem esta citação extraída de A sociedade em rede, parte de sua monumental trilogia A era da informação, na qual o sociólogo descreve seu encontro com o distrito de Belleville em Paris, em uma tentativa de distinguir a experiência de lugares específicos daquela das redes abstratas de comunicações, ou o que ele chama “o espaço de fluxos”. “Belleville foi, como para muitos imigrantes ao longo de sua história, meu portão de entrada para Paris, em 1962. Como um exilado político de 20 anos de idade, sem muito a perder exceto meus ideais revolucionários, fui acolhido por um trabalhador espanhol da construção civil, um líder sindical anarquista, que me apresentou à tradição do lugar. Nove anos depois, desta vez como sociólogo, eu ainda andava em Belleville, trabalhando com comitês de trabalhadores imigrantes e estudando movimentos sociais contra a renovação urbana: as lutas que rotulei como La Cité du Peuple, relatadas em meu primeiro livro. Mais de 30 anos depois de nosso primeiro encontro, ambos Belleville e eu tínhamos mudado. Mas Belleville ainda é um lugar, enquanto eu temo que eu pareça mais com um fluxo...” [castells: 1996, pp. 453-54]. Este é, provavelmente, o único lugar na trilogia inteira em que Castells se engaja em uma reflexão pessoal; e é uma passagem que eu nunca esqueci, após ler pela primeira vez seis ou sete anos atrás. O que significa “perder os ideais revolucionários” e sentir a experiência de lugares se dissolvendo em espaços de fluxos? Vamos explorar este conceito: os espaços de fluxos. Castells define espaço como “suporte material das práticas sociais de tempo compartilhado”. Um espaço “conecta práticas que fór um on -lin e cidades são muitos. As pesquisas indicam que ao menos uma parte desse cenário irá acontecer”, conclui. Ainda no dia 17 de abril, Juliana Garcia Sales traz para o fórum on-line uma entrevista com Hernani Dimantas, publicada originalmente no site Imprensa Web. A matéria destaca a formação de Dimantas, analista de mercado pós-graduado em marketing pela Fundação Getúlio Vargas, e sua postura contrária a conceitos consagrados do marketing e da publicidade. “Hernani Dimantas procurou aplicar suas crenças no novo mundo que surgia com a revolução digital. Listas e chats da web acostumaram-se a ouvir suas colocações francas, pertinentes e perspicazes. Quem não concordou, na certa, pelo menos ouviu sua voz. E é isso que sua atuação e e-zine www.marketinghacker.com. br procuram fazer. Falar diretamente com os mercados com a voz visceral da honestida18 são simultâneas no tempo” [castells: 1996, p. 441]. Antes da emergência das redes de comunicações, a coordenação das práticas no tempo sempre dependeu da ocupação de espaços compartilhados e, portanto, de espaços geográficos específicos. Os espaços de fluxos emergem quando atores sociais em locais distantes são conectados pela informação fluindo instantaneamente através de redes eletrônicas. Como observa Felix Stalder em seu estudo sobre o trabalho de Castells, “fazer parte do espaço de fluxos significa fazer parte de um contexto cuja lógica funcional é baseada na interação em tempo real, não importando em quais lugares seus elementos constitutivos estão localizados” [stalder: 2006, p. 147]. Os mercados financeiros globais são o exemplo paradigmático. No espaço de fluxos, cada lugar é significativo apenas por sua capacidade de permitir a transferência de informação. O ponto forte da compreensão de Castells sobre sociedade em rede é a percepção de que o espaço de fluxos é necessariamente construído e embutido na arquitetura das cidades. Isso não é apenas verdade na medida em que as mais complexas trocas virtuais requerem a infra-estrutura técnica de alto nível das assim chamadas “cidades globais”. Além desta estrutura, as elites financeiras, corporativas e governamentais mundiais constroem ambientes cosmopolitas que incluem aeroportos, distritos de negócios centrais, universidades de alto nível, complexos de lazer e comunidades fechadas. Todos estes emprestam uma consistência cultural ao seu foco principal que é informação. “Tornar-se um fluxo” é, portanto, deixar locais específicos para trás e unir-se a uma circula- conexõ es cr ít ic as de de quem convive 14 horas por dia de olho na ‘escotilha virtual’, como gosta de definir. Mas o Marketing Hacker não se resume à e-zine distribuída para 400 pessoas. Desenvolve também um blog, sendo um dos pioneiros na web brasileira na disseminação e utilização da ferramenta, classificada por Hernani como ‘novo trombone do oceano digital’. Assim ele é apresentado pela entrevistadora Fernanda Riberti. A entrevista está disponível em http://www.imprensaweb.com.br/index.php?display=ENTREVISTA&id=00005. Nos dois posts seguintes, Juliana Garcia Sales disponibiliza outras entrevista com Hernani Dimantas, a primeira feita por Nemo Nox, do site http://www.burburinho.com, que versa sobre a curiosa simbiose promovida entre marketing e cultura hacker. Na entrevista, ele explica que Marketing Hacker é uma forma diferente de encarar a relação entre tecnologia, trabalho e negócios: “O Marketing Hacker pretende mostrar fór um on -lin e 19 conexõ es cr ít ic as ção através de locais permutáveis, que se parecem entre si, e que são estruturados de forma a facilitar o acesso aos fluxos de informação. Isso significa, é claro, que a imensa maioria dos lugares – e até as ruas de uma vizinhança como Belleville – é excluída do espaço de fluxos. A capa do livro de Felix Stalder expressa isto de forma precisa, ao representar a trama da rede de comunicações como uma cerca de correntes interligadas que amarra um mundo social, apesar de excluir muitos outros. A lógica binária da inclusão/exclusão, da presença/ausência na rede de comunicações, é característica da era da informação. Mas Stalder também enfatiza os processos culturais e econômicos do que ele chama conexões “perversas” à rede, “por meio das quais regiões e pessoas que são sistematicamente excluídas da sociedade de redes entram nela novamente”. Com efeito, esse tipo de inclusão é “perverso” apenas em relação às próprias normas de aceitação e legitimação que reforçam a exclusão inicial; e, desse modo, meramente revela a perversidade do sistema inteiro. Os dois principais exemplos são o crime organizado e o fundamentalismo religioso. Ambos florescem em favelas, fábricas abandonadas e regiões isoladas do interior do país, e, a partir daí, irrompem agressivamente dentro dos espaços privilegiados que Stalder denomina “uma sociedade global hiperconectada que desconecta estruturalmente e desvaloriza regiões e populações inteiras, não apenas economicamente, mas, talvez até de forma mais importante, culturalmente” [stalder: 2006, p. 98]. A questão da exclusão, e talvez até mais, da inclusão perversa, me leva de volta ao nosso problema inicial: os obstáculos que surgem entre fór um on -lin e que a tecnologia tem favorecido um pensamento libertário e provocado um processo de mutação nos mercados. Este pensamento começou nas universidades norte-americanas e se identifica com a chamada cultura hacker”. Entendendo a internet como um meio lógico de distribuição de idéias e de produção colaborativa, os hackers romperam os velhos paradigmas da era industrial. “Neste cenário em mutação, percebi que o mundo dos negócios não ficou incólume a estas mudanças. As pessoas em rede estavam fazendo a diferença. A análise de como a sociedade tende a se rearranjar num modelo caótico, interativo e colaborativo é o objeto do marketing hacker”, explica Hernani. Ao longo da matéria, ele fala sobre migração de poder das empresas para as pessoas comuns, direitos autorais na era do compartilhamento de arquivos e sobre o Manifesto Cluetrain, que defende que “os mercados são conversações”: “Falar é barato, e o silêncio é fatal. A no20 produtores de mídia ativista e “a democratização da informação para a sociedade”. Até que ponto as próprias mídias digitais em si tornamse tamanho obstáculo? Ou, sendo mais preciso: as imagens ativistas da cultura das novas mídias representam uma versão menor, domesticada da inclusão “perversa”, recodificando a experiência de fluxo da interação corporificada em informação digital, cuja presença não-corporificada dentro do espaço abstrato de fluxos serve apenas para “popularizar” e, portanto, legitimar a cultura das elites? A pergunta deve ser considerada seriamente por todos aqueles que se preocupam com a produção de mídia alternativa, ou com projetos artísticos orientados para o que Suely Rolnik chama de “vida pública”. Mas isso significa olhar para a totalidade da complexidade política das situações sociais contemporâneas. Aqui posso oferecer minha própria anedota. Recentemente estive na Dinamarca, colaborando com a parada EuroMayday. Este evento tenta mobilizar os assim chamados “trabalhadores precários”, montando protestos carnavalescos de rua que dramatizam as condições do trabalho de curta duração em uma economia altamente flexível. Eu queria contribuir de alguma maneira ao evento EuroMayday, e também descobrir mais sobre as condições políticas na Dinamarca, um país moderno e próspero onde o racismo explícito da extrema direita do Partido do Povo Dinamarquês está crescendo. Nossa demonstração foi um evento colorido com as doses certas de rebeldia e agressão, juntando anarquistas locais, artistas e produtores independentes de mídia. Entretanto, conexõ es cr ít ic as vidade que o Manifesto Cluetrain traz para a comunicação é muito bem expressada por Eric Raymond, presidente da Open Sources Initiative: ‘O Cluetrain está para o marketing e para as comunicações assim como o movimento dos códigos abertos está para o desenvolvimento de software – anárquico, bagunçado, rude e infinitamente mais poderoso do que estas besteiras que se transformaram em sabedoria convencional’. É isso que estamos vendo acontecer. Na internet qualquer pessoa pode ser um publisher. Pessoas estão conseguindo mostrar as suas opiniões de maneira leve e solta, muito distante dos caminhos impostos pela comunicação tradicional. E, de certa forma, essa voz pode ser conquistada por um custo muito baixo. Falar é barato. As ferramentas estão disponíveis para o nosso bel prazer. O silêncio é fatal. Como disse o Chacrinha, ‘quem não se comunica, se trombica’. Se você quer aparecer na rede deve falar”, sentencia Dimantas. fór um on -lin e 21 conexõ es cr ít ic as manteve-se bem pequena (provavelmente umas 500 pessoas) e pareceu estar focada em torno de um grupo de identidade facilmente previsível – nada parecido com o enorme movimento que tinha acabado de se desvelar na França a respeito dos exatos mesmos temas. Alguns dias depois, eu fiz essas observações a um dos organizadores, perguntando como seria possível, na situação dinamarquesa, trazer mais pessoas para o fluxo. Ele respondeu com uma discussão intrincada sobre o lugar na sociedade de hoje daqueles que, desde os anos 1960, tentaram representar as lutas de minorias e da contracultura, e que fizeram dessas representações a base de seu poder cultural. Ele explicou como a direita populista ultrajou essas figuras, chamando-os de “hippies halal ” (de forma a associá-los diretamente aos estrangeiros muçulmanos que eles gostariam de banir da Dinamarca) e desdenhando deles como “juízes do gosto” (de forma a sugerir seu poder indevido sobre as escolhas culturais “politicamente corretas” impingidas pelo aparato estatal). Claramente, meu amigo dinamarquês estava preocupado com os sucessos da direita populista e com a fragilidade relativa de nossa posição esquerdista-autonôma. Ele me encorajou a ler um artigo do antropólogo e analista de sistemas mundiais Jonathan Friedman sob o título sombrio “Champagne Liberals and the New ‘Dangerous classes’ ” [Liberais do champanhe e as novas “classes perigosas”]. Friedman vai diretamente ao âmago do paradoxo enfrentado pelo produtor de mídia ativista. Ele descreve um mundo de Estados-nações se fragmentando no seu próprio núcleo em uma diáspora transnacional fór um on -lin e O aluno Filipe Negrão posta, em 19 de abril, o link do site do Medialabmadrid – o mesmo que participou da concepção do Wikimap de Madri (www.wikimap.es) –, do qual Karin Ohlenschläger é co-diretora: http://www.medialabmadrid.org/medialab. No post seguinte, o estudante chama a atenção para apresentação de Ohlenschläger em debate sobre arte eletrônica na edição de 2004 da feira internacional de arte de Atenas (Art Athina) sobre a obra/jogo The Making of Balkan Wars: The Game (http://www. balkanwars.org). No texto de 2004, reproduzido no portal do grupo Personal Cinema, Karin Ohlenschläger trata da instalação virtual interativa “The Making of Balkan Wars: The Game”, desenvolvida em parceria entre o Personal Cinema e o Medialabmadrid na Espanha, depois da instituição ter tomado contato com o trabalho do coletivo grego na ARCO de 2004, que 22 sob as pressões do capitalismo globalizado. Essa fragmentação é marcada, nos extremos da pirâmide social, por dois fenômenos político-culturais opostos. O primeiro é um processo de “indigenização” pelo qual pessoas desencantadas com as promessas não-cumpridas da modernidade e progresso escolhem, ao invés disso, identificarem-se numa base subnacional e fundamentalmente territorial, seja como grupos marginais ou primitivos rebelados contra o Estado, ou, de forma oposta, como nacionalistas extremos, como o Partido do Povo Dinamarquês. O segundo, processo literalmente oposto, diz respeito à formação do que Friedman chama de uma “cultura cosmopolita híbrida” que celebra a diferença e a alteridade como parte e parcela de uma mobilidade transnacional, proporcionando, por meio disso, um tipo de cobertura cultural para as realidades funcionais de uma administração transnacional ou imperial que necessita reconhecer e explorar as diferenças culturais dentro de suas populações ao redor do mundo. Friedman explica como os cosmopolitas híbridos ganharam prestígio e posição social explorando o que ele chama de “barril de carne de porco global”, ou, em outras palavras, fundos públicos que são desviados para a cultura cosmopolita das elites. Ele enfatiza o aspecto de carreira desta trajetória: “Uma pessoa com tal carreira é muito ligada aos seus equivalentes no sistema. A representatividade se torna menos importante do que a posição em si. E a posição pode tomar uma nova postura moral. O cosmopolita é promovido a um outro tipo de legitimidade. É cada vez mais associado a uma série de agendas que podem contradizer as do Estado-nação” [friedman]. conexõ es cr ít ic as teve um programa dedicado à Grécia. “Reconheço a importância relativa e o objetivo funcional deste tipo de programa nacional, que nos permite adquirir um notável conhecimento de uma situação artística local”, elogia a curadora, apontando como sintoma do mundo da arte midiática a descoberta em uma feira como a ARCO do nomadismo vivenciado pelos artistas do mundo todo: “Os problemas de formação, produção e exibição compelem muitos artistas a estarem continuamente em movimento e a se ajustar a uma forma de nomadismo urbano nesta ‘vila global’ mcluhanesca; a viverem conectados com amigos e colaboradores em todas as partes do globo via internet e a se sentirem em casa em qualquer cidade do planeta”. O grupo Personal Cinema, original de Atenas, é um exemplo desta nova pluralidade estrutural e funcional, segundo Ohlenschläger: mais de 50 artistas de 17 países diferen- fór um on -lin e 23 conexõ es cr ít ic as Esta crítica, vindo de uma perspectiva esquerdista radical, reivindica que a celebração do multiculturalismo e de identidades híbridas represente uma ideologia de globalização, às custas de populações limitadas ao território que tendem a se rebelar cada vez mais contra esta posição cosmopolita. Pode-se facilmente ver que, se isso fosse verdade, os produtores de mídia ativista, que utilizam as próprias ferramentas do espaço de fluxos e que recebem apoio das elites para fazerem isso, seriam um exemplo excelente do cosmopolitanismo híbrido. Seríamos nós, de verdade, os “champagne liberals” de uma cultura globalizante privilegiada, desfrutando de uma vista aérea e estetizada do caos colorido que explode violentamente nas ruas das cidades contemporâneas? Eu penso que este é exatamente o perigo que o trabalho politizado em novas mídias deve enfrentar. É o maior obstáculo no caminho da “democratização da informação para a sociedade”. Ou, para dizer de outra forma, este é o ponto onde nós sentimos o paradoxo da cerca da rede de comunicações, da emancipação pessoal dentro da opressão sistêmica, a estrutura básica da inclusão/exclusão. A imagem híbrida pode ser a própria imagem de uma identidade cindida – a imagem de uma alienação estetizada. Houve uso maciço de tais imagens, uma cooptação quase total das tentativas de representar os movimentos de minorias e de contracultura dos anos 1960 e 1970. Contra isso, os produtores de mídia ativista podem reagir com as táticas da violência simbólica, enfatizando a perversidade do sistema, como um grupo anônimo de ativistas em Los Angeles fez quando eles usaram a internet para distribuir paródias de fór um on -lin e tes tomaram parte no projeto. O cenário expositivo virtual e ubíquo de The Making of Balkan Wars: The Game não requer um espaço físico para ser apresentado. “O ambiente que eles criaram é um espaço virtual que cada visitante pode adentrar e habitar ou apenas passar por ele e contemplar ou interagir com os diferentes elementos visuais, sonoros, gráficos e textuais de seu próprio terminal”, explica. “A ênfase deste tipo de projeto não é no aspecto ligado ao objeto de arte, mas nos aspectos conceituais e processuais da arte. É uma arte que nos conduz na direção de novas áreas de pensamento e experiência pelos meios de um jogo”. Para ela, o projeto The Making of Balkan Wars: The Game recupera a essência do jogo como ferramenta para aquisição de experiência e de livre pensamento, conforme formulação de Marcuse ou Debord, e recupera ainda a característica do jogo como ferramenta de comunicação para explorar a complexidade do 24 comerciais do i-Pod da Apple, mostrando silhuetas de soldados iraquianos. Ou eles podem literalmente adotar um disfarce corporativo e entrar na arena das elites para expor e simbolizar a violência da globalização neoliberal, como fez recentemente o Yes Men [dupla de ativistas formada pelos famosos pranksters Mike Bonanno e Andy Bichlbaum] numa conferência corporativa sobre gerenciamento de risco, quando eles revelaram os segredos que empresas como Dow mantêm escondidos. Essas são as táticas do disfarce, as formas de operações bem-sucedidas dentro de uma identidade cindida, que os ativistas aprenderam com os produtores culturais híbridos mais eficazes – ou seja, os Zapatistas no México e seus patrocinadores ao redor do mundo. A distribuição gratuita deste tipo de trabalho é uma forma de manter a idéia de que é endereçado a todos, que é aberto ao uso de todos. E é verdade, distribuição gratuita é essencial, é a única forma de abrir uma discussão mais ampla sobre as demandas democráticas básicas por liberdade, igualdade e uma redistribuição justa de recursos sociais. O projeto Creative Commons marcou um esforço para transformar essas táticas em estratégia, estendendo os princípios de software livre para a produção cultural. Mas eu acho que as estratégias devem ir adiante agora. Quando a cerca da rede de comunicações é escalada por grupos criminais organizados, fundamentalistas religiosos de todos os tipos, e ainda de forma mais perigosa, nacionalistas de extrema direita reagindo contra fundamentalistas e organizações criminosas, chegou a hora de se engajar em uma discussão muito mais profunda sobre a ordem conexõ es cr ít ic as mundo atual. “As regras deste jogo lidam com problemas de coexistência entre pessoas de culturas, crenças e ideologias diversas. É um jogo que permite ao usuário colocar-se, virtualmente, no lugar do outro, (...) no epicentro de um conflito global”. No dia 22 de abril de 2006, Elaine Brisque disponibiliza no fórum a informação de que o DVD OP_ERA: uma jornada através de dimensões paralelas e experimentos multisensoriais está disponível no Centro Universitário Senac – Unidade Lapa Scipião. Este DVD mostra o conceito do projeto OP_ERA por meio das palavras de Rejane Cantoni e Daniela Kutschat, além de imagens da interatividade do usuário no ambiente proposto. Elaine contribui para a pesquisa sobre o trabalho de Daniela e Rejane basicamente pelo seu interesse no estudo de interfaces homem-computador e pelas dinâmicas de experimentação sensorial que seus trabalhos sugerem. fór um on -lin e 25 conexõ es cr ít ic as social contemporânea e suas possíveis transformações. Agora, mais do que nunca, a pergunta é como mudar o próprio sistema de inclusão/exclusão que atualmente prevalece. Eu não digo que seja necessário abandonar as táticas híbridas do disfarce, que até agora forneceram as únicas oportunidades reais para o debate político sobre o curso da globalização neoliberal. Mas, conforme eventos violentos recentes têm mostrado ao redor do mundo – nos Estados Unidos com o 11 de Setembro; na Espanha com as explosões de 11 de Março; na França com os tumultos da banlieue e agora aqui em São Paulo [referência aos ataques orquestrados pelo PCC em maio de 2006 na cidade] –, se quisermos manter o espaço de uma sociedade democrática, precisaremos achar interpretações politicamente eficazes das “imagens de fogo” que marcam cada momento da “inclusão perversa” dentro da sociedade de informação [cf. meu texto “Images of Fire: The Banlieue Riots and the Unanswered Questions of the Welfare State”, em www.u-tangente.org, na seção “Meteors”]. O próprio espaço de fluxos está agora totalmente corporificado, ocupado de uma forma ou de outra pelas populações mundiais. Sua crise está totalmente aberta. fór um on -lin e Marcelo Amorim traz para o fórum em 26 de abril de 2006 nova referência a Brian Holmes, desta vez na forma de um artigo intitulado “Liar’s Poker – Representation of Politics/Politics of Representation”, sem referência de fonte, sobre blefes no jogo da arte. Nesse longo ensaio a respeito dos limites da representação estética para a conquista de efetividade política nas práticas artísticas, Brian Holmes defende que “sempre que as pessoas falam sobre política em uma moldura artística, elas estão mentindo”. A farsa está na seguinte equação: em um período em que a relação com a política é um dos mais legítimos argumentos para justificar a própria existência da arte, o tecido de mentiras que envolve a presença de uma obra em um museu é tamanho que já não se sabe se é o artista quem blefa ou se é o público ou a instituição que desconhecem a realidade política. Porque ambos não podem coexistir [um artista engajado em um 26 interfac e s e x pa n d i da s : conexõe s c r í t i c a s Lucas Bambozzi co n t e x to movimento social e a conivência da instituição que o acolhe], segundo Holmes. “É fácil para artistas prestarem atenção às injunções entre museu, revistas e mercado, que basicamente dizem o seguinte: ‘Retrate a política para mim’. Faça uma fotografia ou uma escultura relacionada à política, represente o conflito político, como na instalação de Thomas Hirschhorn Wirtschaftslandschaft Davos, mostrada no Kunsthaus Zürich quando Hirschhorn ganhou o prêmio Young Swiss Art em 2001. (...) como a antiglobalização tem sido um assunto quente, representá-la é uma maneira perfeita de se tornar popular em um museu”, explica. “Como funciona o trabalho que retrata a política, quando associado a um nome adequado e exibido dentro da moldura contemplativa da instituição de arte? Invariavelmente ele produz enunciados como estes: ‘Eu represento as pessoas’, ou ‘Eu represento um movimento social’, ou ‘Eu represento os excluídos’ – que são as 27 fór um on -lin e Um dos elementos que movem o cenário atual das chamadas artes das “novas mídias” é seu suposto teor político, que, por vezes, lhe empresta funcionalidade e acentua suas possibilidades de funcionamento em rede, aproximando esta arte de pensamentos de compartilhamento, descentralização e atuação coletiva. Assim, as artes das novas mídias cresceram com as diversas formas de ativismo, mas esses elementos – o político e o artístico – nem sempre se unem de forma a produzir relevância em ambos os campos. As categorizações da arte em função de determinadas especificidades técnicas, como net-art, novas mídias, mobile-art ou arte tecnológica, muitas vezes levam à criação de nichos isolados, deslocados de suas possibilidades de interoperabilidade com o contexto social, político ou econômico que viabiliza essas manifestações. As mídias atuais se prestam à mediação entre realidades distintas, em sistemas bastante amplos, não necessariamente caracterizados pela alta tecnologia, mas que envolvem sistemas ubíquos, de penetração em vários ambientes e camadas sociais. Observamos a emergência do que conexõ es cr ít ic as vem sendo chamado de pervasive systems [sistemas pervasivos] – sistemas computacionais embutidos no dia-a-dia, ambientes de trabalho e espaços transitórios, que nem sempre sabemos a que se prestam – a nos facilitar serviços ou a nos constranger. Torna-se pertinente falar de práticas culturais abrangentes, dentro das quais se inclui a arte, que se deixem afetar pelo contexto em sua diversidade de nuances. Que contexto? Que soluções existem para as formas cada vez mais sofisticadas de cooptação? Em cidades como São Paulo, Johanesburgo ou Lima observa-se uma diminuição crescente dos espaços públicos onde poderiam se estabelecer experiências de troca e compartilhamento. Erguem-se muros e grades, fecham-se os portões dos parques, os vidros dos carros e se convive constantemente com o medo de encontros efetivos e o receio de que o relacionamento com “o outro” (quando não é explicitamente de risco, violento ou mesmo fatal) seja mais uma forma de drenagem da energia vital a ser dispensada no cotidiano. Protegemo-nos dos estranhos, que supostamente nos exaurem. Nessas cidades, criam-se bolhas protetoras (imunes à da esfera pública), ambientes selados e blindados. Protegemonos da realidade dita “crua”, da vida pública. A vida na cidade é uma experiência de ambivalências e se constitui, ao mesmo tempo, de atração e repulsa. Em outras cidades – nas européias, por exemplo –, outros fenômenos ocorrem para contribuir com formas de segregação de proporções similares. Richard Sennet descreve o “medo do toque” (fear of touching) como uma espécie de pânico, uma fór um on -lin e mentiras clássicas da democracia representativa, quando está a serviço de ocultar interesses privados”. Holmes cita como exemplos as Documentas 10 (1997) e 11 (2002) e os bastidores de legitimação institucional por trás de escolhas políticas de curadores e temáticas das duas mostras. No mesmo dia a estudante Lais Cerullo reproduz no fórum matéria publicada no caderno Link, O Estado de S. Paulo, do jornalista André Mascarenhas, a respeito da dupla Cantoni-Kutschat: “Dupla mostra arte digital nos EUA – Pesquisadoras que desenvolvem o projeto OP_ERA desde 1999 ganham bolsa para expor na Universidade da Califórnia”. A reportagem trata da uma bolsa-exibição do Beall Center for Art Technology, oferecida pela Universidade da Califórnia, nos EUA, que as duas artistas receberam em 2005 para desenvolver a sexta etapa do projeto OP_ERA, intitulado Sonic Dimension. “Cantoni gosta 28 síndrome observada em muitas cidades européias [sennet: 1994, pp. 212251]. Na Alemanha, difundiu-se, na educação elementar, o respeito a 80 centímetros de distância, que supostamente separam a privacidade de cada um. Estas descrições, apesar de um tanto generalizadas, encontram um paralelo no que Zygmunt Bauman denomina de “mixophobia”, quando explica a existência de uma condição elementar em homens e mulheres nascidos e criados num mundo desreguladamente individualizado e fluido, resultado de mudanças aceleradas e difusas. O medo de se misturar (com o estrangeiro, o estranho), que se opõe ao ideal de “mixophilia”, é uma manifestação de forças voltadas a constituir pequenas ilhas de semelhanças e mesmices, inundadas por um mar de variedades e diferenças [bauman: 2003, p.31]. Em ambos os casos, a questão cultural cede espaço para que se acredite que o ambiente hostil coincide com o espaço público. A emergência de um espaço virtual comum (que procuro não chamar de ciberespaço para evitar referências a qualquer ciberutopia), com certas características públicas, tornou-se o ambiente no qual se guarda uma distância segura dos medos e fobias. O trabalho em rede vem, de fato, sendo visto como solução para o compartilhamento de atividades e encontros em substituição aos desenvolvidos em espaços tipicamente urbanos, consumidores de tempo e energia vital. É um modelo de ambiente supostamente protegido (para não dizer “controlado”, termo que geraria questões que não cabem aqui), onde se expandem ideais de produtividade e acessibilidade à informação. conexõ es cr ít ic as de definí-lo como uma ‘ferramenta de experimentação multisensorial de conceitos de espaço’. A idéia, explica, é investigar as questões relativas ao corpo e ao espaço colocadas pela física e pela arte. ‘A física fala da existência de mais de 11 dimensões. Então, já que sozinhos só conseguimos ir até a terceira, porque não pegar o espectador e jogá-lo na quarta dimensão, por exemplo? É um pouco esse o barato do projeto’, completa. (...) A cada nova versão, Kutschat e Cantoni procuram discutir diferentes aspectos relativos a modelos científicos e artísticos de espaço. ‘Agora nós estamos atrás de discutir a dimensão sonora do experimento’, explica Cantoni. A idéia, segundo a artista, é pensar como um cego perceberia a passagem de uma dimensão a outra, uma vez que, nas instalações anteriores, o elemento visual era ainda determinante. Inédita no Brasil, a obra será, de acordo com a dupla, uma espécie de instrumento musical virtual”. fór um on -lin e 29 conexõ es cr ít ic as Mas as redes também produzem seus efeitos colaterais. Não se trata de questionar sua estrutura e potencial. O discurso de compartilhamento e construção coletiva “deslocalizada” (everyone, everywhere) tem suas verdades e encantos. É adotado largamente por libertários e ativistas como modelo que proporciona a troca e instrumentaliza as criações antes periféricas. Trata-se de um discurso pró-democratização dos meios de construção e acesso à informação que vem, por exemplo, delineando todo o perfil de atuação do governo brasileiro e suas políticas digitais como modelo de pensamento aberto (uma pena que os que o praticam nem sempre tenham o pensamento tão aberto quanto o modelo que pregam). Recentemente, porém, vimos surgir um pensamento crítico que aponta as redes como fator de alienação com relação à participação efetiva na construção da vida pública. Uma vez nas mãos e no discurso das corporações que as viabilizam tecnicamente (operadoras de telefonia, fabricantes de software e dispositivos de comunicação), delineia-se uma estrutura exploratória de trabalho imaterial sem medidas. A vida é trabalho contínuo, não existe mais tempo “morto” para a reflexão ou para caminhar em modo off-line. O trabalhador típico das redes tornouse parte dos nós e pontos de decisão que constituem as estratégias de uma empresa, o que, em alguns casos, equivale a um colaborador em tempo integral ou em constante estado de alerta. Nas palavras de Trebor Scholz, “a insidiosa penetração da internet em todos os poros de nossa vida constitui uma perspectiva de difícil aceitação, uma vez que, num contexto mais eufórico, as redes eram apontadas como instrumental fór um on -lin e No post seguinte, também do dia 26 de abril, Elaine Brisque sugere a leitura de um artigo de Arlindo Machado, que traz menções à obra de Daniela Kutschat e Rejane Cantoni, fornecendo o link: www.bb.com.br/appbb/portal/hs/exp4d/Apresentacao.jsp. “No texto temos como situar a produção destas artistas no contexto estético cultural”, avisa a estudante. Um histórico das poéticas tecnológicas no Brasil, escrito por ocasião da mostra “>=4D”, que ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, o texto de Arlindo Machado se detém especialmente nos trabalhos dos artistas participantes da curadoria: “O leque de experiências, temáticas e meios invocados é amplo. Abrange a performance ao vivo com interfaces telemáticas por Bia Medeiros e seu grupo; a conjugação de tele-robótica e vida artificial por Diana Domingues; as experiências com inteligência artificial por Chico Marinho; a construção de ambiente imersivo interativo, habitável por avatares, por 30 conexõ es cr ít ic as com poder de fogo descentralizado e acessível, possibilidades sugestivas para as multidões que dão corpo ao atual ‘império’”. As práticas em rede atualmente se difundem e se sustentam muito em torno de tecnologias pervasivas. A presença dos discursos corporativos nesse âmbito são mais evidentes, dando lugar a novas contradições, apoiadas em pares já conhecidos (com nuances dialéticas), como a intimidade e a privacidade, “mixophobia” e “mixophilia”, representação e mediação, realidade fabricada e realidade social, consumo (inclusão) e exclusão tecnológica, cooptação e dissidência, acomodação e resistência. 1 . f o r m a s d e “ o c u pa ç ã o ” c o nduzidas pel as co r p o r a ç õ e s o u p e l a i n d ú s tria cultural Gilbertto Prado; a exploração de sensações corporais através de interfaces estimuláveis por Luísa Paraguai Donati; a criação de padrões e simetrias matemáticas por Lygia Sabóia; o projeto Tracajá.net de mestiçagem de meios, trajetos e realidades por Maria Luiza Fragoso; a construção de mundos com diferentes dimensões matemáticas por Rejane Cantoni e Daniela Kutschat; a hibridização de imagens por Sílvio Zamboni; o isomorfismo entre texturas sonoras e formas visuais por Suzete Venturelli; a imersão estereoscópica em universos audiovisuais interativos por Tania Fraga”. Em post do dia 28 de abril de 2006, o estudante Marcelo Amorim reproduz artigo de Brian Holmes publicado no site da Université Tangente (http://ut.yt.t0.or.at/site/index. html) que trata de Andy Warhol, Takashi Murakami, Luther Blisset e de como as subculturas são cooptadas pela indústria cultural. 31 fór um on -lin e Entre essas formas dicotômicas que nos prendem e nos confinam em problemas superficiais, há lacunas, buracos, frestas para a circulação de pensamentos, ações e ideologias. Meu argumento é que, no espaço entre esses pares, existem possibilidades que, muitas vezes, não são ocupadas por artistas ou ativistas, e sim pelas corporações. No espaço virtual, que substitui formas de contato em que a mediação é menos aparente, é muito mais efetiva a criação de mundos baseados na semiótica capitalista (Lazaratto). Nesses modelos de comunicação mediada pela lógica das grandes corporações – as redes, os sistemas de telefonia sem fio, o ciberespaço –, as experiências de construção coletiva da vida pública se tornam menos possíveis ou, então, mais facilmente moldáveis pela lógica de slogans como: “Solutions for a Small World” [Soluções para um mundo conexõ es cr ít ic as pequeno] (IBM), “Connecting People” [Conectando pessoas] (Nokia), “Viver sem fronteiras” (TIM). Formam-se bolhas protetoras, não-permeáveis, que separam a experiência individual do espaço público. Entre as frestas, antes possíveis para trocas efetivas, crescem essas bolhas. Por exemplo, no momento em que teóricos predizem os efeitos colaterais das redes e do excesso de mediação nas comunicações, a publicidade lança “manifestos” pelo uso da tecnologia móvel de forma consciente, “antivelocidade”. Chega a lembrar um texto brilhante de Milton Santos (1926-2001) que previa que, no fenômeno dos deslocamentos entre centro/periferia e periferia/centro, observado de forma especial nos países pobres, figuraria a lógica dos “homens lentos”, necessários para quebrar a da rapidez de discurso dos “homens-rápidos” [santos: 1996, p. 268]. Está implícito no discurso do autor um propósito de valorização da comunicação – e não apenas da informação – que se apóia também em idéias como “emoção” como um antídoto para a globalização perversa. Pois é exatamente nesta fresta que o comercial da TIM opera hoje. No campo cultural, vale lembrar o quanto a produção cultural também se exerce de modo exploratório – e isso, de certo modo, atesta a precariedade do mundo da arte. Algumas frases que se mostram pertinentes a esse contexto: “Através de jogos de azar, lava-se dinheiro. Através da cultura, muitas vezes, procura-se lavar consciências.” (André Martinez); “Ou é marketing ou é cultural.” (Danilo Santos de Miranda). O que quero ressaltar aqui é o quanto o pensamento corporativo fór um on -lin e O artigo inicia tratando da quebra de fronteiras entre arte e subculturas comerciais na trajetória do artista japonês Takashi Murakami, que além de realizar trabalhos digitais de papel de parede é o idealizador de exposições-manifesto, que pretendem “definir uma nova arte japonesa”, como ocorreu em “Coloring Book”, em 2002, na Fundação Cartier em Paris, uma mostra que apresentou obras de artistas que se apropriam da linguagem dos mangás, além de brinquedos diversos, de mascotes a cartões de Pokemon. Também em Paris, o Palais de Tokyo quer borrar esta distinção exibindo arte, design, moda etc. sob o mote da “arte relacional”, afirma Holmes, uma vez que a instituição busca propiciar experiências de uso e participação. “Este é um legado da arte relacional, que propunha que o objeto artístico fosse um catalisador das formações subjetivas. O discurso da arte relacional funcionou perfeitamente na cena francesa dos anos 1990. Ele adquiriu um 32 vem inserindo ideologias (antes com acento “subversivo”) no âmbito das tecnologias. A inexistência de exercício da vida pública em uma cidade como São Paulo é ocupada por slogans, por marketing. É um vazio temporário que vai sendo suprido por estratégias de consumo. O que poderia ser utilizado como mobilização se torna publicidade do potencial dessas ferramentas. É o que se passa com o conceito de privacidade, por exemplo: o acesso à intimidade alheia há muito já substitui a idéia de proximidade, de compartilhamento. Outro exemplo é um comercial da Coca-Cola que utiliza a idéia de flash-mob (ver Flash mob: uma nova fissura na sociedade do espetáculo, em http://www.novae.inf.br/centrodaterra/nova_fissura.htm). Por isso, os slogans funcionam tão bem na trama urbana, na qual as relações são mesmo difíceis. Esses discursos prometem que, por meio deles, haverá uma participação maior no espaço “lá de fora”. São realidades fabricadas a partir de artifícios representacionais, baseados em estereótipos e essencialidades que alisam, tornam inócuas as diferenças, e cômodas as asperezas e nuances do que quer que estejamos chamando de realidade. Este tipo de constatação virou lugar-comum, está em todo lugar: “... os gestos e as palavras dos movimentos de contestação já foram absorvidos pela mídia e, portanto, pelo imaginário popular. Ou seja, já não produzem mais os efeitos almejados. Desgastados pela mídia, tornaram-se peças da sociedade do espetáculo, marionetes em um mundo no qual a imagem prevalece sobre o real” (Rodrigo Gurgel, em http://www.novae. inf.br/rodrigo_gurgel/index.htm). Caberia aos artistas enfrentar esse contexto. conexõ es cr ít ic as toque de exotismo e um maior potencial de distribuição com a adição do significante ‘Tokyo’, que conotava estilos de vida nomádicos e enigmas de sentido em um mundo multicultural”, escreve Holmes. Em ambos os casos, há uma reinvindicação de herança de Andy Warhol, tanto na forma do artista que produz pinturas kitsch em larga escala com ajuda de assistentes, produzindo “tendências”, quanto na proposta experimental de um espaço de arte (a la Factory). Ele segue argumentando que a funcionalização de estilo subcultural dá vazão a um regime de produção semiótica, inseparável de um modo de controle imperial. “Como escapar a este paradigma? No decurso dos anos 1990, movimentos de rebelião cultural começaram a se constituir sem assinaturas identificáveis, por meio da troca divertida de nomes múltiplos, que se tornaram ‘fantasmas coletivos’ abertos à apro- fór um on -lin e 33 conexõ es cr ít ic as fór um on -lin e 2. e x p e r i ê n c i a s e s pa r s a s d e net-ativismo no br a s i l Num país que urge por soluções e enfrentamentos, que se orgulha de ser a maior comunidade de social networking do mundo (cerca de 800 mil usuários, mais da metade do Orkut em 2004), impressiona o fato de, mesmo tendo uma das maiores discrepâncias de distribuição de renda, mais da metade de sua população (80 milhões de habitantes) possuir telefone celular. Que tipo de uso da rede se faz no sentido de articulação política? Que tipo de projeto de ativismo midiático surgiu nesse contexto? Em termos quantitativos, existem muito poucos exemplos. O netativismo no Brasil toma emprestadas questões que não são imediatamente suas: proteção aos animais, jammings do tipo TV turn off, protestos contra a Nike, contra os alimentos altamente calóricos e gordurosos... O que existe de efetivo, em termos de net-ativismo, que reflete os absurdos locais? Como metodologia de observação, venho utilizando uma forma expandida do termo “interface” para me referir a trabalhos que operam de forma a preencher as lacunas entre os pares dicotômicos referidos acima. Mais do que uma metáfora, “interface” aqui pode ser um modelo, um dispositivo, um sistema que se infiltra (de forma transparente) em situações reais, produzindo conexões no ambiente social público, permitindo o fluxo crítico de questões que permeiam um determinado contexto. Esse tipo de interface faria vir à tona formas de conscientipriação ilimitada. Em outras ocasiões, descrevi o potencial subversivo desta tendência cultural, cujo mais famoso avatar é o ubíquo Luther Blissett. Tais práticas de des-identificação coletiva apontam campos mais amplos de experimentação cultural, (...) mas o atual desenvolvimento do mercado mundial de arte, baseado em seu próprio star system, deixa pouco espaço para explorar invenções deste tipo nos museus. A assinatura do artista ainda atua como um mecanismo de fechamento, de copyright. (...) Apenas quando artistas finalmente abandonarem estes espaços fechados – transbordando seus limites por meio de práticas de circulação ilimitada – um novo sol vai se erguer sobre o mundo da arte, que a escura estrela de Warhol ainda domina hoje”, conclui, sombrio, Holmes. 34 zação, instrumentalizando o público/usuário de forma a integrá-lo no espaço urbano, tendo em vista as responsabilidades de construção de vida pública. Observo a criação de mecanismos por parte de determinados projetos que produzem conexões entre artista, público e a suposta responsabilidade de criação de espaços compartilháveis (a tal vida pública) por meio do que pode ser chamado de interfaces sociais baseadas na realidade (reality-based-interfaces). É uma expansão do termo “interfaces”, uma relativização de sua carga tecnicista. “Reality-based-interfaces” seriam, então, sistemas que envolvem diferentes tecnologias: a interface pode ser a web, as redes, uma intervenção pública, uma instalação interativa, um outdoor modificado, uma série de ferramentas de comunicação usadas para propósitos específicos. Sempre híbridas, as interfaces baseadas na realidade conectam situações e indivíduos, como dispositivos que viabilizam perspectivas de fluxo, permitindo trocas para além de funções técnicas. Não está em questão, neste modelo, um postulado típico das mídias interativas que aponta a interface como conteúdo, como mensagem. A interface preenche a lacuna, mina os dualismos improdutivos, ocupa o lugar do discurso como ação física, opera como ponte. Não sendo conteúdo, é uma proposta de mediação mínima, de eliminação de obstáculos. São veículos intersticiais, “fronteiras compartilhadas”, conforme definido por Julio Plaza [plaza: 1986, p. 195]. Que projetos operam a partir desse modelo? Não incluo meu proje- conexõ es cr ít ic as f ó r u m o n - l ine fór um on -lin e Fórum aberto ao público para pesquisa e discussão sobre os temas do Conexões Tecnológicas, realizado em 26 de maio de 2006 no Centro Universitário Senac – Unidade Lapa Scipião: http://www.canalcontemporaneo.art.br/forum. O fórum on-line foi mediado pelo Leandro de Paula e pela Patrícia Canetti e contou com a atuação da jornalista Juliana Monachesi, realizando entrevistas e a cobertura do fórum presencial. m i n i - e n t r e vistas com os palestrantes Artistas manejam o tempo como um volume programável (entrevista com Karin Ohlenschläger) 1. O que o advento da internet modificou na sua vida pessoal e profissional? 35 conexõ es cr ít ic as to meta4walls entre os que esboçaram alguma ação nesse sentido, pois não foi criado para o contexto brasileiro, ou seja, não é representativo das questões geradas aqui, e sim de meu envolvimento pessoal com o cenário de controle e vigilância que observei na Inglaterra entre 2000 e 2002. Houve projetos “heróicos”, como os Autolabs, laboratórios de mídia tática criados a partir de uma rede de produtores de mídia independente que realizaram oficinas entre janeiro e junho de 2004 na Zona Leste de São Paulo (os Autolabs foram geridos pelo Grupo Mídia Tática, que tanto prometia em termos de modelo colaborativo e ruiu exatamente por não se entender diante das possibilidades de expansão e visibilidade internacional. Ou seja, rendeu-se à vaidade dos comuns, dos artistas, das pequenas ambições que assolam a todos nós). Mas as ações midiáticas, realizadas exclusivamente por meio das redes digitais, nem sempre se sobressaem como atividade mais relevante na maioria dos projetos. Talvez seja por isso que alguns críticos, como Juliana Monachesi, apontam o Canal Contemporâneo como “o exemplo brasileiro mais contundente de art-net-ativismo”, segundo seu depoimento no site. O Canal Contemporâneo é uma comunidade digital de arte contemporânea brasileira que faz circular informação e reflexão sobre arte. Sua atuação tem caráter bastante ativista, especialmente na esfera das políticas públicas culturais (foi protagonista de ações como a que reverteu a implantação do museu Guggenheim no Rio de Janeiro e conduziu o fór um on -lin e Profissionalmente mudou muito: o livre acesso e a circulação da informação que antes requeria meses de trabalho, deslocamentos e viagens, eu o posso realizar agora em questão de segundos ou horas. Também facilitou muito o trabalho à distância, as colaborações e os modos e alcances da comunicação e participação em projetos. Pessoalmente tanto mudou que estou vivendo com um pé na rede e com o outro em terra, quero dizer, muitas vezes estou fisicamente presente, mas virtualmente ausente e com a mente em outros lugares. Isto é maravilhoso no sentido em que amplia nosso campo de ação, ainda que às vezes também possa ser desgarrador. 2. Em que termos a “democracia digital” pode ser considerada uma realidade? A democracia digital segue sendo um assunto pendente. Só poderá existir se desaparecer a brecha digital e a desigualdade de acesso à informação e à educação. Segundo os 36 recente abaixo-assinado contra a censura de uma obra de Márcia X no Centro Cultural Banco do Brasil, também no Rio). Recentemente, circulou na web o projeto Calhau, desenvolvido por Giselle Beiguelman e Facundo Guerra, que reverte a lógica da publicidade a favor de projetos autorais, poéticos, ou seja, que não vendem um produto ou fazem mera promoção comercial (ao menos de forma tão explícita, nos moldes dos banners mais conhecidos). Nas palavras dos criadores: “Calhau é fragmentário e aderente ao sistema que corrompe. Corre o risco de não ser visto. Responde assim à lógica da web, confundindo os espaços da arte, do entretenimento, da propaganda, da informação, do convívio e do consumo”. O projeto Boombanner, do mineiro Fred Paulino (http://www. boombanner.net), trilhou caminhos similares ao clonar sites “famosos” – como o do New York Times, BBC, Le Monde, Aljazeera – inserindo, na home page destes sites, um banner do tipo “nada a ver” com o conteúdo esperado nesses veículos on-line. Como mencionou Steve Dietz, a rede em si é bem mais interessante do que a arte na rede. O texto do curador que evidencia a frase é desenganador: importa o contexto a que se refere a obra, pouco importam se existem grandes artistas de net-arte, assim como pouco importam suas denominações (se web-arte ou net-arte) ou a nacionalidade do trabalho ou artista, pois esses atributos fazem sentido principalmente em termos de estratégias. Importa observar o que a rede tem permitido acontecer, seja em arte, ativismo ou conexões sociais. Fora do Brasil, seria interes- conexõ es cr ít ic as últimos dados da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI) de Túnez, “15% da população mundial, residente nos chamados países do Norte, controla mais de 85% de todos os recursos em telecomunicações. Em relação à conectividade, apenas um país, Estados Unidos, controla 50% de todos os servidores de internet”. Resta-nos muito trabalho pela frente, já que a rede tem um enorme potencial para a transformação das práticas sociais de base. 3. Como a arte foi afetada pela “revolução digital”? Na era da informática e das telecomunicações, as novas práticas artísticas encontram possibilidades de expressão e experimentação sem precedentes. Não se trata apenas da incorporação de novas ferramentas, mas de trabalhar com novos conceitos, linguagens e dinâmicas relacionadas com a construção social da realidade. fór um on -lin e 37 conexõ es cr ít ic as sante projetos que mimetizam estratégias típicas da rede, que, de forma enfática, se posicionam como ações que afetam tanto o sistema da arte quanto o contexto político a que se refere. Falo de projetos como Technologies to the People (http://www.irational.org/tttp/TTTP), do espanhol Daniel García Andújar; Mejor Vida Corp (http://www.irational.org/mvc/ english.html) e Mejor Vida Biotech (http://www.mvcbiotec.org), da mexicana Minerva Cuevas. Estes têm criado ocorrências midiáticas bastante sugestivas ao produzir eventos que lidam diretamente com esta fricção ou com a emergência de interfaces estéticas que fazem uma ponte entre o mundo real e o virtual. Sempre redirecionando a navegação do usuário para links externos, estes trabalhos produzem a sensação de que aquilo que acontece em sessões on-line não é dissociado daquilo que acontece na vida “real”. Em experiências como as do grupo inglês The Blast Theory, há uma sugestão interessante para se pensar algumas formas de interfaces híbridas (eles preferem chamar de mixed reality) nos “jogos” Can You See Me Now? (2001) ou Uncle Roy All Around You (2003). Personagens reais recebem informações via celular, GPS e aparelhos portáteis, cumprindo tarefas que envolvem complexas trocas de informação entre usuários on-line e outros que estão pelas ruas, configurando assim um ambiente no qual deve existir um sincronismo de situações em espaços virtuais e reais. Mas ali não há maiores intenções de se promoverem as conexões de que falo aqui. Conectar simplesmente o espaço virtual e o real produz conexões críticas? fór um on -lin e Muitos dos atuais projetos artísticos são efêmeros e intangíveis. Não se materializam sobre tela, pedra ou metal, uma vez que se visualizam em suportes como vídeo, multimídia e outros dispositivos interativos. Os artistas plantam mundos fluídos e mutáveis; constroem com ondas e partículas, com algoritmos de crescimento ou com códigos genéticos. Trabalham com entidades híbridas e evolutivas. Concebem suas obras para espaços dinâmicos e imersivos. Manejam o tempo como um volume programável com distintas densidades. Conectam e relacionam diversos planos da realidade, abarcando desde as escalas nanométricas da bioengenharia até as macroestruturas tecnoeconômicas das atuais dinâmicas globais. Hoje em dia, a arte explora as estruturas caóticas ou os sistemas complexos. O artista participa na concepção de novos modelos que conectam os processos locais de convivência com as dinâmicas globais da comunicação. 38 Vagamundo (http://www.ambriente.com/cart/index.html), de Ricardo Zuñiga (Guatemala/usa), é um game que reflete as dificuldades e preconceitos sofridos por imigrantes latino-americanos vivendo em Nova Iorque. O usuário deve se esforçar para conseguir trabalho ilegal e ser socialmente incluído na cadeia produtiva. É um projeto de um artista-ativista que viu nesse formato uma forma de expressar a visão de sua própria condição, e para o qual ele desenvolveu formas de se lançar na trama urbana da cidade. Iniciei este texto problematizando o espaço público, tentando enxergar que tipo de dispositivos poderia operar no sentido de promover uma maior aproximação com a realidade social, ou melhor: que tipo de dispositivo pode ajudar a perfurar as bolhas que separam o sujeito de sua experiência de vida pública? Não seria qualquer projeto que interessaria. A maioria lida com formas de representação da realidade e não funciona como pontes para maiores trocas. Quais seriam as perspectivas e desafios de um ativismo atualizado em relação às redes móveis, baseado em sistemas locativos e imerso na trama da cidade e de sua realidade social? O trabalho de Antoni Abad fornece um exemplo de intervenção artística em espaços públicos por meio do uso de tecnologias móveis e pervasivas. Abad vem produzindo desde 2004 uma série de projetos utilizando telefonia móvel e a web de forma a criar uma rede híbrida que tem por objetivo conferir poder a minorias ou grupos marginais, tais como motoristas de táxi na Cidade do México, ciganos em León e Lérida conexõ es cr ít ic as 4. A informação ganhou outro significado no contexto da cultura digital? A informação é a matéria-prima da cultura digital. Não é a quantidade de informação, mas antes a qualidade dela que nos nutre e que aporta crescimento e riqueza intelectual, emocional e material. É importante que aprendamos a utilizá-la, processá-la e transformá-la em alimento e conhecimento. É importante humanizar a conectividade, deslocar ou ampliar seu desenvolvimento desde o entorno mercantil até os âmbitos social e cultural. 5. Quais os três sites que você não passa um dia sem visitar? www.google.com, www.wikipedia.org e, por questões de trabalho, www.medialabmadrid. org. fór um on -lin e 39 conexõ es cr ít ic as [cidades espanholas], prostitutas em Madri, deficientes em Barcelona e jovens motoboys em São Paulo (trabalho ainda a ser produzido). O artista tira partido da telefonia móvel de última geração, que permite que conteúdo multimídia seja publicado imediatamente na internet através de redes de transmissão de dados GPRS e UMTS. Méritos: a distribuição de celulares e conexão sem fio à internet sobre uma arquitetura de modelo “muitos-para-muitos”, que, em troca, molda o uso da tecnologia [bambozzi, 2006]. Num contexto em que a vontade de comunicação é substituída pela capacidade de conexão técnica entre esferas privadas, num processo contínuo de substituição das relações pela promessa de conectividade a qualquer hora e em qualquer lugar, como poderia acontecer uma mediação que não se interponha ou crie obstáculos para as trocas efetivas entre as pessoas? Por exemplo, a conectividade entre celular e celular configuraria algo como bolhas isoladas, que sequer se friccionam. Como discernir experiências de imersão no espaço público das representações de realidade e seus arremedos atuais? Atualmente, alguns trabalhos que emergem do cenário das novas mídias apontam para questões dessa ordem, no sentido de que tornam a mediação transparente, minimamente permeável e expandem efetivamente o termo “interface” para um modelo que viabiliza a comunicação e proporciona pontos de contato entre “realidades” que, de outra forma, não se cruzariam. Distanciando-se dos modelos das redes cognitivas utópicas ou se negando a alimentar a economia baseada no consumo fór um on -lin e A ciência é copyleft avant la lettre (entrevista com André Lemos) 1. Em poucas palavras, o que o advento da internet modificou na sua vida pessoal e profissional? Modificou completamente, desde a minha prática profissional como professor e pesquisador de Universidade, como enquanto usuário comum. Acho mesmo que na minha profissão estamos saindo da Idade Média agora. O ideal de todo trabalho científico é a circulação do conhecimento, a citação múltipla e cruzada, as influências de teorias, métodos, visões... A ciência é copyleft avant la lettre. A internet potencializa o que é próprio do fazer científico: circulação de obras, pesquisadores, alunos, circulação de informações as mais diversas, acesso planetário a livros, papers, filmes, fotos, áudio... Em um país 40 conexõ es cr ít ic as de máquinas, o modelo de “interface baseada na realidade”, previsto por esses trabalhos, estaria mais próximo de experiências de potencialização do pensamento crítico, do uso de dispositivos, de maneira a sugerir enfrentamentos diante de novas formas de alienação que surgem embebidas nesses sistemas. O que é intersticial ou liminar pode ser uma instância temporária. Assim são as “interfaces baseadas na realidade” como modelos que tendem a ser promíscuos e se reproduzir, sendo substituídos por dispositivos normalizados que se tornam inócuos em relevar “realidades” sociais e suas urgências. Se a ênfase recai na tecnologia e não nas relações que ela media, a tendência a celebrar revoluções de novas mídias começa a parecer uma afirmação utópica do hype de mercado. Colocar a ênfase na disseminação cultural de conceitos de novas mídias pode levar à criação de máquinas sociais de eventos, aparatos de dominação cultural. 3 . p c c * , a r e a l i dad e a i n da mais crua como o Brasil, onde não temos nem livrarias nem bibliotecas equipadas, a internet é uma dádiva e modificou completamente não o fazer ciência em sua essência, pelo menos não totalmente, mas o acesso à produção científica e a pesquisadores ao redor do mundo. 2. Em que termos a “democracia digital” pode ser considerada uma realidade, na sua opinião? A democracia não é uma realidade nem fora da internet. Ela é um conceito normativo, algo que buscamos como um ideal, como o Bem, a Verdade, o Belo, a Liberdade. A democracia não existe em sua plenitude, mas em sua imperfeição do real, na nossa construção atual. Na internet ainda não há evidências de que possamos falar de uma democracia virtual. Várias experiências falharam ao redor do mundo. Mas temos potências micropolíticas muito interessantes. Evidentemente a internet potencializa a troca informativa, 41 fór um on -lin e Falamos de mercado, falamos de estratégias “táticas” de corporações, falamos de arte. Mas nada disso responde a um anseio anterior, íntimo: Como fazer política a partir da cultura? Como fazer cultura a partir da política? Gostaria mesmo de acreditar no mídia-ativismo como um “movimento”, como propôs Brian Holmes nas vezes em que esteve aqui, sempre tentando amarrar estas pontas soltas das ações com algum poder de transformação. conexõ es cr ít ic as Entretanto, a “realidade social” se apresenta de forma dura e implacável, especialmente numa cidade como São Paulo. Aqui acompanhamos a impotência da arte diante de muitos acontecimentos, como as reintegrações de posse executadas com o auxílio da polícia; as decisões bizarras dos governantes e o poderio de cooptação das corporações. O espetáculo midiático desfilado pelo PCC assombrou todo e qualquer artista, mídia-ativista ou net-artista. A perspicácia do uso das tecnologias móveis reverbera agora não mais como discurso, e sim como ativismo extremo. A estratégia do bloqueio aos transportes de massa teve um impacto jamais visto. O poder de swarm (efeito enxame) ridicularizou ainda mais os modelos de flash-mobs que foram aqui ensaiados. A sociedade mal se organiza em rede de forma compartilhada. Os 800 mil usuários do Orkut não operam de forma a alimentar as esperanças de que a conectividade possa gerar comunidades atuantes e arranhem o poder biopolítico dos “impérios” invisíveis que atuam sobre nós. Conforme sugerido por Giselle Beiguelman [cf. Fórum on-line Conexões Tecnológicas – www.canalcontemporaneo.art.br/forum]: “que pensemos na amplitude desses fenômenos não só do ponto de vista das frestas e dos circuitos sociais alternativos, mas também pelo ângulo da microfísica do poder e de suas estratégias”. Isso nos lembra que o uso das tecnologias de comunicação por parte do PCC não é exatamente uma novidade nas ações midiáticas. Vimos como os índios Chiapas se organizaram e os movimentos de Seattle, Praga e Gênova. Vemos formas de resistência todos os dias. Mas as comparações não se equiparam mui- fór um on -lin e o contato entre pessoas, a formação de agrupamentos ou comunidades, mas não há necessariamente engajamento político, troca de informações visando uma comunicação plena para além da troca informativa mais imediata ou hedonista. Esta comunicação plena (ideal, improvável e normativa também), só se daria pela razão exercitada em busca de um consenso sobre o bem comum. Isso não existe nem na internet, nem fora dela. Devemos buscar, efetivamente, formas de dinamizar o debate público e não apenas o voto on-line, seja pela internet, por celulares ou por terminais. 3. Como a arte foi afetada pela “revolução digital”? Desde as décadas de 1960 e 70 os artistas têm se interessado pela fusão arte-telecomunicação e, com o surgimento da informática, houve uma radicalização dessa fusão. Formas artísticas novas surgem com as tecnologias digitais, como a arte robótica, a web 42 conexõ es cr ít ic as to bem. Os efeitos colaterais se evidenciam de forma diferente. Se Orson Welles foi o primeiro a entender o poder de uso estratégico das mídias (com Guerra dos mundos, 1938) hoje quem nos ensina não são mais os ditos artistas. Os ditadores, os terroristas, a publicidade, as corporações (as novas formas de guerra). Quem nos ensina hoje? Será com essa turma que teremos que aprender estratégias mais complexas? Segundo Lucio Agra [www.canalcontemporaneo.art.br/forum]: “A midialização do evento permitiu a audiência recorde de programas-parasita, hospedeiros do miserê, do gênero ‘Cidade Alerta’. O ‘plantão’ não saiu do ar...”. Normalização? “Vivemos numa sociedade cínica” (Cláudio Lembo). Isso não é uma frase de um ativista, e sim do então governador de São Paulo (em 2006). Mais uma inversão de posições? ou net-arte, a arte em espaços virtuais... Assim como formas canônicas, como a música, a dança, o teatro, a pintura. O mais importante, ao meu ver, é a possibilidade de ampliação, tanto dos formatos, como daqueles que podem hoje se apropriar das tecnologias de comunicação e informação para produzir arte. Os três pilares da cibercultura – liberação da emissão, conexão generalizada por redes telemáticas e reconfiguração de formatos midiáticos e instituições sociais – possibilitam novas formas de apropriação resultando em uma maior possibilidade de construção e fruição coletiva de obras. Estamos vendo isso em trabalhos colaborativos em rede, em formas de escrita em celulares e em blogs, em produção de fotos, vídeos e filmes... As novas tecnologias democratizam o acesso aos meios de produção e fruição artística. 4. A informação ganhou outro significado no contexto da cultura digital? 43 fór um on -lin e [*N.E.: O PCC – Primeiro Comando da Capital – é uma facção criminosa, comandada por presos e foragidos no Brasil. Desde 2001 organizou diversas rebeliões em presídios, utilizando uma ampla estrutura de comunicação, por meio de telefones celulares e centrais telefônicas clandestinas. As ações do PCC se intensificaram em 2006, com ataques a forças de segurança, agências bancárias e ônibus públicos, estabelecendo um clima de tensão e histeria em diversas cidades brasileiras.] software l i v r e e glob aliz a ç ã o c o n t r a -h e g e m ô n i c a André Lemos Gostaria de lançar algumas questões sobre o desenvolvimento de softwares livres e as formas de apropriação cultural da atual cibercultura. Para tanto, vamos discutir a dinâmica do que estamos chamando de cibercultura, as formas de desenvolvimento dos softwares livres e do copyleft, e terminar com uma análise sobre a atualidade dos princípios da cibercultura. O exemplo do FOSS se enquadra em uma perspectiva maior da cibercultura. Mostraremos, a seguir, três princípios que podem nos ajudar a entender melhor a emergente cultura eletrônica mundial. 1. p r i n c í p i o s da c i b e r c u lt u r a fór um on -lin e Na cibercultura, a máxima é “a informação quer ser livre”, “distribua, re-utilize, misture conteúdo”, “crie, edite e divulgue informações”. Essa atitude criou a microinformática nos anos 1970, o movimento de ficção cyberpunk nos anos 1980 e os cyberpunks reais (hackers, crackers, coders, geeks...). Hoje, nesse começo de século 21, surgem podcasts, blogs, sistemas peer to peer e softwares livres. Esses exemplos podem ser traduzidos pelas três leis da cibercultura: emissão, conexão e reconfiguração. Informação, como diz Gregory Bateson, da escola de Palo Alto, é a “diferença que faz uma diferença”. Informar é sempre dar nova forma a algo (in-formare). Assim, na era da liberação da emissão, da circulação em rede e da reconfiguração da indústria cultural massiva, o que estamos vendo é um novo valor da informação como circulação, agregação de criatividade e colaboração. Estamos vendo isso nos blogs, nos sistemas p2p, no movimento dos softwares livres, nos podcasts, nas diversas formas da arte eletrônica contemporânea. Informação hoje é mais do que in-formare. Trata-se de de-formare, pela criação, pela extinção do valor da cópia, pela apropriação e pela circulação. 5. Quais os três sites que você não passa um dia sem visitar? O Google, o meu blog Carnet de Notes (já que escrevo quase que diariamente) e o sites de informação nas áreas de tecnologia como o NYT, BBC, The Guardian, Wired, Libé, entre outros. 44 Informação e lixo hoje são coisas muito próximas (entrevista com Lucas Bambozzi) 1. Em poucas palavras, o que o advento da internet modificou na sua vida pessoal e profissional? Modificou drasticamente. Tanto para lados positivos quanto negativos. Não conseguiria viver do meu trabalho sem o acesso às redes. O negativo é que trabalho muito mais, sem ver necessariamente algo se concretizando, me esvaindo pelos buracos da rede. E mais recentemente observo a grande diferença entre ter acesso [em ações voluntárias] e estar conectado em tempo integral [em que há uma pressão para que se responda de forma não-voluntária a demandas externas]. 2. Em que termos a “democracia digital” pode ser considerada uma realidade? 45 conexõ es cr ít ic as A primeira lei é a liberação da emissão. Aqui o “faça você mesmo” significa “produza e distribua informação”. As diversas manifestações da cultura eletrônica mostram que o que está em jogo, com a circulação planetária de informação, é a emergência de vozes e discursos sem a necessidade de passar por “editores”. A máxima é “produza informação”. Exemplos não faltam: chats, Orkut, MSN, blogs, fotologs, vlogs, podcasts, peer to peer (p2p), softwares livres... A segunda lei é o princípio de conexão. Não basta produzir sem circular. A máxima punk torna-se, aqui, “compartilhe, misture (remix), colabore, distribua informação”. É o “tudo em rede”; a conexão generalizada (internet, wi-fi, RFID, bluetooth, celulares) em todos os lugares (ubiqüidade) de homens, máquinas e objetos entre si. Todos os produtos da era da informação são, ao mesmo tempo, liberação da emissão, difusão em rede e reconfiguração da cultura. Esta é a terceira lei: reconfiguração de práticas sociais, instituições e modalidades midiáticas. Aqui o mote punk atualiza-se em: “dê sua parcela para modificar a cultura vigente”. Essa modificação não é aniquilação, nem simples substituição, e sim reorganização e convivência de formatos midiáticos: jornal on-line e impresso, espaço urbano e redes, podcast e rádio, TV e web, amigos de bar e de MSN. A emissão generalizada (1a lei), distribuída em rede (2a lei), cria novos formatos e modifica outros, alterando a cultura – novas formas de consumo de bens culturais, novas formatos de produção de bens simbó- fór um on -lin e em i ta , d i s t r i b ua . . . m o d i f i q u e! conexõ es cr ít ic as licos, novas visões sobre propriedade e autoria, personalização e massificação. Alguns exemplos atuais: Podcasts – Com os podcasts, fazem-se e distribuem-se emissões sonoras. Estas duas ações (fazer e distribuir) vão reconfigurar a mídia rádio. O fenômeno mundial de emissões sonoras, conhecido como podcast, surge no final de 2004, e seu nome é um neologismo dos termos “iPod” (tocador de MP3, da Apple) e “broadcasting” (transmissão). Estima-se que há mais de seis milhões de usuários no mundo (http://www.reuters.com/ newsArticle.jhtml?type=internetNews&storyID=8761417). Com um computador doméstico e softwares gratuitos de edição de som e publicação, você faz sua emissão e a difunde pela internet. Usuários comuns e gigantes da indústria cultural (BBC, por exemplo) produzem diariamente diversos tipos de emissão sob esse novo formato (news, talk shows, guias de museus, leituras de livros clássicos...). Com os podcasts, vemos a herança punk em ação: 1. liberação da emissão (qualquer pessoa pode produzir uma emissão sonora); 2. princípio de conexão (distribuição livre por indexação de sites na rede – RSS); 3. reconfiguração dos formatos de emissão de conteúdos sonoros (rádio massiva, podcasts, audioblogs). Blogs – Com os blogs, outro fenômeno mundial, as mesmas leis estão em jogo. A máxima é: “produza e distribua, você mesmo, textos, sons, vídeos, fotos”. Blogs são formas de publicação na internet em que qualquer pessoa pode facilmente dispor e começar a emitir, seja seu diário pessoal, sejam informações jornalísticas ou emissões de áudio (audioblogs), vídeos (vlogs) ou fotos (fotolog). Os blogs podem ainda funcionar em fór um on -lin e Há uma falsa idéia de acesso a meios digitais de informação. Por mais que tenham se expandido, ainda há massas totalmente alheias a esse contexto. 3. Como a arte foi afetada pela “revolução digital”? Acho que a arte que me interessa é afetada sempre pelo contexto à nossa volta. Prefiro ver essa chamada revolução digital como uma série de impactos que se produzem localmente, em contextos distintos, produzindo questões e embates igualmente distintos. Quando um artista acerta sua mira para pontos de conflito [entre o contexto tecnológico-digital e a subjetividade, por exemplo], direcionando nossa atenção para a produção simbólica ligada a determinadas urgências, isso geralmente produz interesse e nos afeta. 4. A informação ganhou outro significado no contexto da cultura digital? 46 comunidades nas quais usuários/leitores comentam e adicionam novas informações. Aparece claramente a liberação do pólo da emissão (qualquer um pode fazer seu blog), o princípio em rede (blogs estão em rede e fazem referência a outros blogs) e a reconfiguração: novos formatos de diários, de publicações jornalísticas, de emissões sonoras e imagéticas etc. Um exemplo interessante é a Wikipédia (http://www.wikipedia. org), uma enciclopédia “faça você mesmo”, atualizada constantemente por qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo. Hoje, há a criação de um novo blog a cada segundo. A “blogosfera” dobra a cada seis meses, contando, segundo estatísticas, mais de 60 milhões de publicações. A liberação do pólo da emissão, o princípio em rede e a conexão têm servido como instrumentos para que vozes autênticas surjam, criando um contraponto à mídia clássica e à censura política. Os recentes problemas de corrupção no governo brasileiro encontram, nos blogs, um instrumento de informação fora do esquema das mídias de massa: cidadão comum para cidadão comum. Formam-se o que alguns chamam de citizen media: mídias do cidadão (http://www. cyberjournalist.net/citizen_media_monitor). Redes p2p e softwares livres – O sistema de compartilhamento de arquivos, conhecido como redes peer to peer (p2p), como os atuais Kazaa, Limeware ou Gnutella, possibilita a troca mundial de arquivos de diversos formatos. A máxima punk transforma-se em “o que eu tenho, compartilho”, legalmente ou independente de direitos ou propriedades. Os sistemas p2p vão reconfigurar as indústrias fonográfica e cinemato- conexõ es cr ít ic as Acho que sim. Passou a ser mais descartável, menos acreditada [não que antes fosse mais fidedigna]. O fluxo de notícias via RSS ou os blogs vem produzindo um outro tipo de leitor. Por outro lado, informação e lixo hoje são duas coisas muito próximas. Tanto os filtros subjetivos [nós mesmos] como os spam-blockers têm dificuldade em distinguir uma coisa da outra. 5. Quais os três sites que você não passa um dia sem visitar? Não diria que acesso diariamente, pois depende das urgências ou procuras de cada dia. A maior parte das informações que me interessam chega várias vezes ao dia por e-mail e não via browser, como as listas Nettime, Crumb New Media Curating, Coro, Rhizome, Digitofagia, Vjbr, Canal Contemporâneo, e-flux etc. Diria que, além desses, freqüento muito: http://www.we-make-money-not-art.com [blog fór um on -lin e 47 conexõ es cr ít ic as gráfica, além de questionar noções como propriedade e direito de autor. Vejam, por exemplo, o sistema de venda de música iTunes, da Apple, ou o surgimento de licenças como GNU (softwares livres) ou Creative Commons (http://creativecommons.org/worldwide/br), mostrando possibilidades de criação de novos acordos de distribuição, venda, uso e cópia. No caso dos softwares de código aberto, como veremos em detalhes, emerge um novo formato de criação e de compartilhamento de inteligência no desenvolvimento de programas de computadores. Trata-se de recombinações de linhas de códigos de forma aberta, livre e criativa, construindo um dos mais interessantes fenômenos da cibercultura. O lema aqui passa a ser “faça você mesmo os seus programas, colabore, compartilhe e modifique códigos de forma a quebrar a hegemonia dos softwares proprietários”. Os três princípios estão em marcha: liberação da emissão (qualquer um pode modificar o programa), conexão (redes de colaboradores pelo mundo) e reconfiguração da indústria do software proprietário. A liberação da emissão e o princípio em rede estão reconfigurando a indústria proprietária, reforçando a cultura do compartilhamento. 2. s o f t wa r e s l i v r e s e c o o p e ração mundial fór um on -lin e O Brasil tem sido reconhecido com um dos países em desenvolvimento que mais tem realizado esforços governamentais para a adoção dos chamados softwares livres, tanto na sua administração direta, quanto em de uma garota belga que compila informações sobre arte e tecnologia]; http://www. google.com [difícil de assumir algo tão óbvio]; e o raio de algum site de Internet Banking! Em breve teremos intensos infomovimentos de arte (entrevista com João Antônio Zuffo) 1. Em poucas palavras, o que o advento da internet modificou na sua vida pessoal e profissional? A revolução da internet, na minha opinião, está apenas no início. A quantidade de informação disponível tornou obsoletas todas as enciclopédias impressas e a própria Wikipedia não consegue acompanhar o ritmo. É claro que é necessário selecionar a informação e verificar o rigor e a precisão de sua fonte, porém, hoje, gasto pelo menos duas horas 48 projetos de inclusão digital com os telecentros. Eles utilizam programas de fonte aberta como uma forma de lutar contra o gasto de milhares de dólares com o pagamento de direito de utilização de softwares proprietários. A adoção de softwares livres tem sido um dos debates mais importantes da atual cibercultura no Brasil e no mundo. Ele coloca em questão o monopólio de firmas produtoras de softwares, que não oferecem ao usuário o direito de aceder ao código, e reforça a cultura do compartilhamento, que chamaremos aqui de cultura copyleft, que tem sido uma das principais esperanças da sociedade da informação e das redes telemáticas. Copyleft é uma cultura de colaboração que tem sido potencializada pelo ciberespaço. O surgimento de formas de colaboração em rede é fundamental para compreender a migração de sistemas proprietários em direção aos sistemas baseados em colaborações comunitárias ao redor do mundo, os softwares de código aberto. Em segundo lugar, mostraremos as principais características destes softwares para, por fim, compreender as ações e estratégias do governo brasileiro na questão da adoção dos softwares livres. Para entender a revolução dos softwares de fonte aberta devemos, em primeiro lugar, compreender a cultura do compartilhamento que está em marcha nas redes informáticas. As novas tecnologias de comunicação e informação têm potencializado o compartilhamento, a distribuição, a cooperação e a apropriação dos bens simbólicos. A cibercultura está pondo em sinergia processos de cooperação, de troca e de modificação cria- conexõ es cr ít ic as diárias na busca de informações e não consigo acompanhar e ler todos os meus e-mails. Sem dúvida, a vida pessoal e profissional é profundamente afetada, grande parte do meu trabalho, atualmente, é feito em casa, coisa impensável 30 anos atrás. 2. Em que termos a “democracia digital” pode ser considerada uma realidade, na sua opinião? A democracia digital ainda não é realidade hoje, mas sem dúvida será em pouco tempo, não só pela queda de custo dos computadores de mesa e de comunicação em faixa larga, mas também no sentido de que o computador pessoal tornar-se-á tão indispensável às pessoas como o telefone celular. 3. Como a arte foi afetada pela “revolução digital”? A revolução nas comunicações, sem dúvida, está afetando profundamente o conceito de arte, embora isto ainda não seja percebido pela maioria das pessoas. Muitos artistas fór um on -lin e 49 conexõ es cr ít ic as tiva de obras, dada as características da tecnologia digital em rede. Esses processos ganharam o nome genérico de copyleft, em oposição à lógica proprietária do copyright que dominou a dinâmica sociocultural das mídias de massa. A hipótese aqui é simples: o que vem sendo chamado de copyleft é o que estrutura qualquer dinâmica identitária e cultural: a troca, as influências mútuas, a cooperação. Barrar esse processo significaria frear o desenvolvimento e o progresso do conhecimento humano. A batalha atual para adoção de softwares livres (ou de código aberto) tem, no fundo, esse debate como mobilizador. Não é preciso retornar à história da internet. Muitos já descreveram a origem militar, científica e universitária da grande rede. Vamos ressaltar aqui o caráter de ambiência da comunicação, e, em conseqüência, de vetor comunitário. Devemos pensar menos no ciberespaço como uma nova mídia – tal qual as mídias de massa (jornais, rádio, TV…) – e mais como um ambiente midiático, como uma incubadora midiática em que formas comunicativas surgem a cada dia (chats, ICQ, fóruns, email, blogs, web etc.). Como rede, o ciberespaço é aberto a priori, tendo sua forma determinada pelo tempo, pela dinâmica social e pela constituição complexa dos nós das redes. A rede não é aqui um dispositivo fechado, e sim um lugar de passagem e de contato, crescendo em valor de acordo com o crescimento do número de seus utilizadores. Da cultura de massa centralizadora, massiva e fechada, com o ciberespaço, vemos a expansão de uma cultura copyleft, personalizada, colaborativa e aberta [musso: 1997]. fór um on -lin e antes completamente desconhecidos estão começando a expor suas obras de arte em seus blogs pessoais, provocando uma interatividade em nível planetário, até agora inédita. Sem dúvida, em breve teremos intensos infomovimentos de arte. 4. A informação ganhou outro significado no contexto da cultura digital? A informação em larga escala, só limitada pela capacidade de nosso cérebro em absorvêla, está, sem dúvida, revolucionando toda a convivência social, inclusive nossos costumes políticos, embora represente também uma enorme ameaça à privacidade. 5. Quais os três sites que você não passa um dia sem visitar? A variedade de sites que acesso é muito grande e não existem sites específicos que visito diariamente, a não ser, obviamente, o Google e correlatos, como caminho de acesso intermediário a outros sites. 50 Como meio, a internet problematiza a forma midiática massiva de divulgação cultural. Ela é o foco de irradiação de informação, conhecimento e troca de mensagens entre pessoas ao redor do mundo, abrindo o pólo da emissão. Trata-se efetivamente da emergência de uma liberação do pólo da emissão (a emissão no ciberespaço não é controlada centralmente, todos podem emitir), e é essa liberação que, em nossa hipótese, vai marcar a cultura da rede contemporânea em suas mais diversas manifestações: chats, jogos on-line, fotologs, weblogs, Wikipédia, peer to peer para troca de músicas, filmes, fotos, textos, software livre (GNULinux). A cibercultura contemporânea é fruto de influências mútuas, de trabalho cooperativo, de criação e de livre circulação de informação por meio dos novos dispositivos eletrônicos e telemáticos. Isso tem acontecido desde o surgimento da microinformática até o atual estágio da internet. Não é por acaso que o processo de “napsterização” está irritando tanto a indústria cultural (da música e dos filmes). Trata-se da emergência de novas formas de consumo cultural que estão em circulação virótica na cultura das redes, a ponto de autores como Lessing falarem de uma “free culture” [lessing: 2004]. A cultura de massa marcou a esfera e a opinião públicas dos séculos 18 ao 20. Adorno [Adorno; Horkheimer, 1974] mostrou bem como a cultura de massa se configura como uma “indústria cultural”, distribuindo os diversos produtos culturais de forma padronizada, em série, homogeneamente acessível, protegidos pela propriedade intelectual, como obra conexõ es cr ít ic as Somos links que se relacionam com outros links fór um on -lin e (entrevista com Hernani Dimantas) 1. Em poucas palavras, o que o advento da internet modificou na sua vida pessoal e profissional? O maior impacto veio com a banda larga que modificou a relação de acesso à informação. Com o acesso discado o computador dava a impressão de mediar as informações, pois se conectava e se desconectava na medida das necessidades. Com a banda larga o computador passou a mediar as conversas em rede. 2. Em que termos a “democracia digital” pode ser considerada uma realidade? Não gosto do termo democracia digital. Acho mais pertinente tratarmos da descentralização do poder catalisada pela conexão. Acredito que muitas vozes podem se elevar e 51 conexõ es cr ít ic as inviolável (diga-se: cópia e circulação não autorizadas). Esta emissão, controlada e proprietária, reduz a uma minoria as vozes de emissão da informação e homogeneíza a recepção das massas. As mídias de massa controlam a emissão. A divulgação cultural, com raras exceções, fica nas mãos daqueles que controlam os meios de comunicação, fonte de poder político, de prestígio e de influência sobre o que é ou não dito às massas. Esta estrutura “massiva” está presente neste começo de século 21, embora uma forma nova de criação, armazenagem e distribuição da informação, com o poder de estender como nunca visto o poder de emissão do cidadão comum, tenha aparecido e se popularizado das décadas de 1970 a 1990 do século passado. Esta é a nova cultura das redes telemáticas, a cultura copyleft. Essa cultura copyleft coloca em xeque vários princípios da cultura copyright (de massa) do século 20. Não estamos falando em substituição, já que ambas as formas de produção e consumo midiáticos vão existir, e sim da emergência de um princípio em rede que está colocando sinergias em contato, incentivando a troca e a apropriação criativa da informação. A cibercultura estaria na transição de uma lógica da acumulação individualista, proprietária e privada, para uma outra que incentiva a despesa improdutiva, as trocas, a cooperação, a circulação de objetos e informações. Esse é o princípio emergente da cultura contemporânea. Atualmente, um dos maiores emblemas da cibercultura é o movimento dos desenvolvedores de softwares livres [silveira, cassino: 2003] fór um on -lin e que essas diversas vozes podem impactar o agenciamento coletivo e, assim, influenciar a microfísica do poder. 3. Como a arte foi afetada pela “revolução digital”? Uma sociedade em rede é caracterizada por um rizoma do conhecimento. Somos links que se relacionam com outros links. A arte, nesse sentido, tende a absorver a cultura do remix, do copyleft, em que a autoria é apenas uma referência de uma rede de produção. 4. A informação ganhou outro significado no contexto da cultura digital? No contexto da cibercultura, as tecnologias da informação e comunicação entram no pensamento humano da mesma forma que as ciências entraram no contexto do modernismo. Apontar para a informação passou a ser uma característica de uma sociedade 52 e a idéia do copyleft, como vimos. O que há de importante nesses movimentos não são tanto as possibilidades técnicas, e sim as formas de trabalho cooperativo que daí surgem. Mais ainda, trata-se de buscar adicioná-los, modificá-los, sem a lógica proprietária, sem a dinâmica da acumulação e do segredo. Talvez vejamos aqui algo que seja inverso à lógica do capital e da acumulação econômica, que seja mais próximo da despesa improdutiva, do excesso e dos momentos efervescentes que dão vida a um corpo social [bataille: 1967]. A garantia da abertura de processos fechados e proprietários pode enriquecer aquilo que temos de mais importante: a nossa inteligência e os nossos capitais cultural, social e intelectual. Como mostra Lev Manovich, ao caracterizar as novas mídias, se, na era industrial, a cultura era massiva, na qual “cada um deveria aproveitar os mesmos bens – e compartilhar as mesmas crenças”, na era da cibercultura pós-industrial, podemos pensar que “cada cidadão pode construir seu próprio estilo de vida adaptado e ‘selecionar’ sua ideologia entre um vasto (mas não infinito) número de opções (…). A lógica da tecnologia de novas mídias reflete esta nova lógica social” [manovich: 2001, p. 42]. Copyleft, Copyright e FOSS – Em breves palavras, podemos dizer que o copyleft subverte combinações do copyright. Copyright é um modelo de lei de direito autoral, estabelecido pela primeira lei do gênero, sancionada na Inglaterra em 1710. Nas jurisdições uniformizadas pelo tratado internacional de Berna, em 1988, do qual o Brasil é signatário, estas leis geram, para o autor, a liberdade de decidir sobre o usufruto e a disponi- conexõ es cr ít ic as hiperconectada. A cibercultura rompe com a metafísica padrão, liberando – além do conhecimento – as noções de tempo, espaço e do ser. 5. Quais os três sites que você não passa um dia sem visitar? http://www.google.com, http://www.novae.inf.br, http://www.bloglines.com. fór um on -lin e CONEXÕES CRÍTICAS – SELEÇÕES DE POSTS Interfaces expandidas: conexões críticas, Lucas Bambozzi Giselle Beiguelman Enviada: Ter Mai 16, 2006 8:35 pm Assunto: A caosmose do PCC [Cf. Nota do editor na p. 43] Depois de ler o resumo de sua palestra [bastante estimulante] e ser intoxicada, à distân53 conexõ es cr ít ic as bilidade da sua obra, além de outros direitos que vigem na ausência de contrato particular para este fim, implicando obrigações correspondentes para quem dele usufrui. Em outras palavras, na linguagem hacker, poderia-se dizer que o copyleft é um hacking do copyright. Um modelo para contratos de adesão que busca corrigir falhas sociais no direito autoral padrão, sem quebrá-lo na tentativa, modelo do qual resultam as quatro liberdades, como eixo, e os 13 artigos, como corpo da GPL (General Public License). Softwares, códigos – Os chamados softwares livres são programas de computador que têm como base uma licença que permite a modificação dos seus códigos-fonte. Por oposição, o software proprietário permite apenas que você tenha uma licença de uso, sem poder conhecer ou modificar nada em seus códigos. O código-fonte é uma seqüência de instruções escritas em uma linguagem de programação que é depois traduzida em linguagem-máquina, sendo executada por computadores. Podemos classificar os softwares em programas proprietários (compramos uma licença de uso), gratuitos (freeware), compartilhados (shareware) e livres (free software). Os softwares livres podem ser utilizados, modificados em seus códigos-fonte e copiados, desde que mantidos sob o mesmo regime. O que permitiu o surgimento dos softwares livres foi a invenção de uma licença de utilização do código-fonte em 1989. Nesse ano, Richard Stallman cria a GPL e a Free Software Foundation (http://www.fsf.org), e escreve o primeiro projeto de software livre: o GNU (acrônimo de “GNU is not Unix”). A criação foi motivada pela proibição da AT&T de utiliza- fór um on -lin e cia, pela TV e pela web, com as imagens de São Paulo depois da ação do PCC, fico me perguntando se interfaces sociais baseadas na realidade (reality-based-interfaces) estão emergindo nas supostas frestas que críticos, artistas e ativistas pretendem ocupar e às vezes de fato ocupam, ou se estão emergindo nas cicatrizes abertas de nossos processos de interação social mais brutais. O que mais me impressionou, nessa ação do PCC, foi a capacidade de incorporar pressupostos críticos sofisticados, como a idéia de espaços sem paredes e ação virótica. Por outro lado, me impressionou também, o cenário Guerra dos mundos de Orson Welles, que colocou uma cidade inteira (e inclusive um país, no caso os EUA) em pânico, ao fazer um uso radical da mídia (o rádio) levando-a ao limite de suas potencialidades. Repito: estou acompanhando tudo de muito longe e pode ser que o que li sobre a força da boataria na 54 ção livre do sistema Unix. Esta licença não permite a apropriação privada dos trabalhos coletivos realizados, dando a todos a possibilidade de transformar e livremente distribuir essas modificações. A partir daí, milhares de comunidades ao redor do mundo começaram a desenvolver o que veio a ser chamado de softwares livres, como o Linux (sistema operacional criado pelo finlandês Linus Torwalds, em 1991), o Debian (uma distribuição do GNU/Linux que define o conjunto de ferramentas e a organização geral do sistema operacional como um todo). Existem outras distribuições, como o Red Hat, Suse, Conectiva, Slackwares etc. No Brasil, essas comunidades começam a ganhar visibilidade a partir do Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, em 2000. As reações dos gigantes do software proprietário (cujo símbolo maior é a Microsoft) têm sido ferozes e planetárias, sendo que uma das tentativas mundiais é a de patentear os softwares, como nos EUA, onde a Microsoft pateteou os “dois cliques no mouse”, e, a Amazon.com, a “compra em um clique”. A comunidade européia, por exemplo, hesita em adotar essa medida. Se aprovado mundialmente, ela irá, com certeza, limitar a criatividade e a liberdade de uso das obras humanas intangíveis. Isso seria similar a patentear as letras do alfabeto: imaginem o que seria do desenvolvimento futuro da literatura! Código-fonte – Revolucionando muitas atividades sociais e econômicas, a internet modificou profundamente os negócios relacionados com valores intangíveis das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs), como softwares, conteúdos digitais etc. Particularmente, ela conexõ es cr ít ic as web e por SMS seja exagerada. Mas ela é midiaticamente um dado. Vou estar um tanto desconectada nos próximos dias, em um lugar muito isolado. Este post, por isso, não é exatamente uma proposta de discussão, mas uma sugestão para que pensemos na amplitude desses fenômenos não só dos pontos de vista das frestas e dos circuitos sociais alternativos, mas também pelo ângulo da microfísica do poder e de suas estratégias. fór um on -lin e Lucio Agra Enviada: Qua Mai 17, 2006 11:58 am Sem muita pretensão, respondendo à Giselle, pensando alto mesmo: acho que de todos esses aspectos que você mencionou eu ficaria com a expansão virótica da informação. 55 conexõ es cr ít ic as criou novos modelos de negócios e novas modalidades de produção, de distribuição e de empreendedorismo para os softwares, assim como diferentes maneiras de combiná-los. Os modelos novos de desenvolvimento e licença, conhecidos coletivamente como software de fonte aberta/livre (ou FOSS, para Free/Open Software Source), emergiram e mostraram seu valor. Isso se dá devido à exploração da descentralização e da cultura copyleft da qual falávamos. Podemos dizer que o código-fonte é uma expressão humana de um trabalho intelectual. Esta produção passa a funcionar como um template, um molde para empacotar e distribuir produtos não tangíveis (softwares). Por exemplo, antes das máquinas de escrever, os manuscritos seriam códigos-fonte para publicações literárias. Depois delas, as linguagens de programação de alto nível (a versão em que um programa é escrito originalmente por um ser humano) passaram a ser códigos-fonte de um programa. A tradução automática (compilação) de uma linguagemmáquina para uma plataforma de hardware é o seu código de objeto. O código de objeto é realmente o que funciona em um computador. Livre, como discurso – A “revolução do downsize” afetou a economia das TICs sob vários e importantes aspectos. Ela permitiu que os negócios de software e hardware se separassem, motivados pelas novas avaliações de risco de uma perseguição judicial de antitruste implantado pelo governo dos EUA contra a IBM (por suas práticas monopolistas e predatórias em aluguéis de hardware, em licenças do software e em contratos, ou seja, o modelo monolítico prevalente). Para florescer independentemente, fór um on -lin e Ele, aliás, é fundamental em qualquer circunstância de confinamento e, se formos reparar bem, veremos que é usado desde muito tempo antes do aparecimento de tecnologias da informação. Estas, por sua vez, forjadas em contextos de máquina de guerra derivam seus procedimentos dessa genealogia. Acho, por outro lado – e por isso seu depoimento à distância é tão importante – que a maior vitória nesse caso é da midialização do evento porque isso permitiu a audiência recorde de programas-parasita, hospedeiros do miserê, do gênero Cidade alerta. O “plantão” não saiu do ar... leandrops Enviada: Qua Mai 17, 2006 2:52 pm 56 os negócios de produção e de licenciamento de softwares distribuíveis tiveram que desenvolver seus próprios modelos. Assim, uma década antes do potencial para inter-redes e para a interconectividade amadurecer em um jogo rico e diverso, criando padrões universais alcançados hoje pela internet (com a inclusão do protocolo HTTP nos anos 1990), um conjunto de modelos centralizadores foi escolhido pelo mercado. Por falta de uma palavra melhor, e para ser contrastado com softwares livres (FOSS), este conjunto de produção e licenças foi chamado de modelo proprietário. Ele se articula na premissa de que as empresas de software devem tratar o código-fonte como um segredo de negócio, sendo assim uma propriedade guardada, como a receita para a Coca-Cola. Por que FOSS? Por que fonte aberta? – O FOSS busca tratar o códigofonte como uma linguagem, como base de um conhecimento humano aberto e livre, tal qual o discurso. Podemos então formular a pergunta óbvia: por que instituir o modelo de código de fonte aberta? Se a compilação do código de objeto for automática e o código-fonte for livremente disponível, ele estará fora das licenças do usuário para cópias individuais como fonte de rendimento para uma empresa de software. Como podem os programadores ganhar a vida ou o patrão pagar os salários desta maneira? Como sobreviverá uma empresa se o seu trabalho intelectual for tratado como commons (bem público), conseqüentemente disponível a todos os concorrentes? As licenças de FOSS não colocam o código em domínio público. Seus autores ainda controlam o uso de seus trabalhos, mas não por meio do conexõ es cr ít ic as Assunto: resistência ou referência? Sem deixar de citar a histeria causada pela rádio-transmissão de Guerra dos mundos em outubro de 1938, Priscila Arantes aborda, em Poéticas da resistência, algumas das estratégias encontradas pela arte para comentar e, em último caso, intervir nos mecanismos de comunicação de massa. O paralelo entre estas formas de resistência e o estabelecimento de novas mídias digitais parece, então, inevitável: ao por em xeque as noções de partilha de conhecimento por reconfigurar o trânsito das informações, a sociedade em rede ensaia identidades mais predispostas ao questionamento. Lançando mão do termo citado por Giselle Beiguelman, a “ação virótica” da informação encontraria na rede mais um veículo acrítico de disseminação ou um elemento diluidor pela sua múltipla oferta de referências? fór um on -lin e 57 conexõ es cr ít ic as controle do acesso às cópias individuais do código-objeto, instaladas nos computadores ao redor do mundo. Em vez da competição e da privacidade no mercado, as licenças de FOSS fazem um desvio da visão proprietária, apontando para um controle pela cooperação. O FOSS distingue o direito de acesso do direito de “re-uso” (para fazer trabalhos derivados dele) e a autoria da propriedade do código. Primeiro, devemos entender por que o código-fonte do software foi fechado. Isso aconteceu somente quando o seu negócio desmembrouo dos hardwares, nos anos 1980. Em segundo lugar, por que a maioria do desenvolvimento de softwares é in-house. Nestes casos, a dicotomia proprietário-FOSS não necessita ser aplicada, já que não há qualquer distribuição do software, qualquer licença geral do usuário. In-house, como o código de fonte, deve ser tratado e se transforma em uma questão confidencial entre o programador e quem o contrata para escrever o software, respondendo à empresa que o pagará e usará o software. Os programadores podem assinar os contratos in-house que quiserem, sendo eles FOSS, no ciberespaço ou não. O que faz um software de mercado, ajustado para a distribuição, é, basicamente, a escala da demanda. Alguns projetos podem construir a demanda pelo marketing, criando necessidades novas (como as versões “demo”, por exemplo), mas a maioria dos tipos de software tem a demanda escalonada pelo nicho que ele pode ocupar no “ecossistema” de valores intangíveis das TICs. Os softwares se tornam sempre mais modulares, imbricados, complexos, interdependentes e empacotados fór um on -lin e Ricardo Rosas Enviada: Qui Mai 18, 2006 11:17 am Interessante lembrar, em relação ao comentário da Giselle, por exemplo, um fato noticiado a não menos de um mês no Jornal da Tarde sobre o boom de uso de chips de celular roubados nas cadeias de São Paulo. Coincidiu um pouco com a pesquisa que estou fazendo sobre gambiarras e, cada vez mais, é constatável o fato de que vivemos uma abundância de tecnologias variadas, uma espécie de convergência cíbrida, que configuraria o que tenho chamado de “cultura do plug”, em que a versatilidade se dá em tecnologias recombinantes, permitindo arranjos e improvisações as mais diversas, desde os aparelhos móveis até as mixagens low com high-tech ou analógico com digital. Por outro lado, também estes dispositivos, como ressalta o Lucas, acabam (sem julga58 por padrões. Assim, uma boa razão para que os mercados escolhessem o modelo proprietário, em um estágio adiantado de independência do negócio do software, pode ter sido sua capacidade de transformar efeitos técnicos e semiológicos em econômicos, em direção ao monopolismo. Enquanto um desktop de larga base e processos padrões emergia do mercado de OS (com o Windows), a internet estava sendo construída em padrões abertos e livres, pela meritocracia, pela colaboração e pelo consenso. Os softwares de hoje são trabalhos complexos, requerendo muitos programadores para construí-los. Para competir com sucesso com os equivalentes proprietários, um projeto de FOSS tem que encontrar uma maneira de compensar a falta do rendimento proveniente das licenças do usuário. Essa maneira é a colaboração aberta, e a chave do seu sucesso, a motivação. Os milhares de codificadores se recusam a ser vítimas passivas do fechamento do vendedor (basta ler um acordo de licença proprietário do Extremidade-Usuário, o EULA, para entender o que é isso). Basicamente, um projeto de FOSS requer uma licença livre, padrões abertos e uma comunidade de colaboradores. Mas compreender como a colaboração rende contrapesos positivos para o desenvolvimento do software, do empreendedor e dos consumidores é uma tarefa complexa [weber, 2004]. A maioria dos projetos que adquiriam um sucesso global – como o GNU, o Linux, o BSD, o Apache e o Sendmail (líderes de mercado globais, respectivamente, de servidores, correio e web), o Mozilla, o PHP, o MySQL, conexõ es cr ít ic as mentos morais), por se tornar interfaces que possibilitam a crítica, para o bem ou para o mal. As revoltas interconectadas nas cadeias seriam apenas mais um sintoma do que ainda está por vir. fór um on -lin e Marcus Bastos Enviada: Qui Mai 18, 2006 8:05 pm Perguntas: não dá para generalizar esse tipo de estratégia virótica de segunda (que aparece tanto na ação do PCC, quanto na forma como os boatos foram expandindo na velocidade dos torpedos e scraps)? Não é um tipo de ação que já se tornou um dado da cultura contemporânea? Não dá para relacionar (também sem julgamento moral) com a forma como foram organizadas as manifestações contra o FMI em Seattle e Praga? Ou 59 conexõ es cr ít ic as o KDE, o Debian etc.– tiveram, cada um, que desenvolver estratégias ad hoc para enfrentar desafios de natureza distintas, indo de um pequeno número de grupos de voluntários às cooperativas globais, com administração complexa, trabalhadores pagos e grandes corporações contribuintes. Para as grandes corporações contribuintes ou para as pequenas lojas independentes de TIC, o payoff é medido pela demanda por serviços e suporte em um mercado verdadeiramente livre, em que a competência esteja regulada pela abertura. (A IBM terminou o ano de 2004 com uma reserva estimada, em ordens de serviço, de US$ 116 bilhões. Só a parte de serviços relacionados ao Linux rendeu, sozinha, duas vezes o valor em licenças do seu próprio – e o maior do mundo – portfólio de patente de TIC. IBM 4Q04 quartely earnings, disponível em: http://www.ibm.com/investor/4q04/4q04earnings. phtml). Para os governos, entretanto, a linha inferior é política. As razões para preferir FOSS para conduzir suas ações, sempre mais dependentes de tic, incluem autonomia tecnológica; soberania para assegurar a transparência; libertação do fechamento (lock-ins) do vendedor; e a independência dos padrões e dos formatos fechados ou proprietários. Sinteticamente, podemos utilizar esses programas desde que: nenhuma restrição à distribuição gratuita de todo ou de partes do programa seja imposta; o código-fonte do programa esteja disponível; o programa possa aceitar modificações e distribuição; a licença exija que o código modificado não seja distribuído se ele tiver um nome diferente do original; nenhuma discriminação de grupos ou pessoas seja autorizada; fór um on -lin e com o embate entre high-tech e low-tech na luta entre governo americano e Chiapas? Ou com a onda dos flash mobs? Claro que são exemplos de natureza e calibre diferentes, mas parece que tem elementos comuns em todos, como o fator surpresa (em maior ou menor escala a cada caso), a velocidade com que começam e terminam, o papel que redes (de computador, celulares, etc) desempenham na organização desses acontecimentos e a forma como vem à tona um fluxo sem centro e à margem, que desestabiliza algum tipo de ordem estabelecida. Canal Enviada: Sex Mai 19, 2006 9:06 am “A criação de um mundo à parte é um rompimento – ainda que momentâneo – com a 60 nenhuma restrição de uso seja imposta; os direitos ligados ao programa sejam aplicados a todos que o distribuíram; a licença não seja específica a um único programa; a licença ligada a um software não possa restringir as características de outros softwares coligados; e a licença seja tecnologicamente neutra [noisette, 2004]. As comunidades de desenvolvedores de softwares livres fazem com que as modificações sejam mais rápidas, mais confiáveis e seguras. Isso se deve ao grande número de pessoas trabalhando ao redor do mundo para desenvolver melhorias nos programas. Eles estão livres das pressões das empresas, das estratégias de marketing, que só apresentam novas versões de ano em ano, além, é claro, do limite de programadores envolvidos com um determinado produto. Esta comunidade de desenvolvedores está estimada em mais de 100 mil (programadores e projetistas), com a maioria trabalhando voluntariamente em um ou mais projetos. Podemos dizer que atualmente há mais de 10 milhões de usuários de sistemas operacionais e aplicativos distribuídos como FOSS. A melhoria da qualidade e o grande número de desenvolvedores têm feito os países adotarem a migração para softwares livres, como é o caso do Brasil. Relatórios da comissão européia (Free Software/Open Source: Information Society Opportunities for Europe?, em http://eu.conecta.it) e do governo americano (PITAC’s Panel on Open Source Software for High End Computing, em http://www.itrd.gov) recomendam a ampliação do uso de software livre e o financiamento pelo governo, direta ou indiretamente, do desenvolvimento de sistemas baseados em software livre. conexõ es cr ít ic as ordem. Não se trata apenas de um ato de contestação, pois os gestos e as palavras dos movimentos de contestação já foram absorvidos pela mídia e, portanto, pelo imaginário popular. Ou seja, já não produzem mais os efeitos almejados. Desgastados pela mídia, tornaram-se peças da sociedade do espetáculo, marionetes em um mundo no qual a imagem prevalece sobre o real”. Leia o texto sobre o impacto social de ações como as dos flash mobs no sítio NovaE: http://www.novae.inf.br/centrodaterra/nova_fissura.htm. fór um on -lin e Lucio Agra Enviada: Sáb Mai 20, 2006 2:11 pm Assunto: Velocidade 61 conexõ es cr ít ic as A difusão do uso dos FOSS no Brasil pode trazer conseqüências importantes, tanto no que concerne à inclusão social, quanto aos fatores econômicos e políticos. Podemos apontar algumas dessas conseqüências, como a possibilidade de criação de uma massa crítica para a produção de FOSS. A adoção de FOSS em países como o Brasil pode criar condições para o estabelecimento de uma competência nacional nesse domínio, trazendo benefícios sociais, culturais e econômicos. O governo brasileiro tem a ambição de migrar 80% dos postos de trabalho nas instituições do governo de Windows para Linux nos próximos anos para economizar em pagamentos de licenças e estimular a indústria de informática nacional. Alguns políticos têm denunciado o FOSS como um jogo de criança, uma experiência romântica de lunáticos ou como a última ameaça comunista ao capitalismo. FOSS é uma opção ideológica, já que é uma escolha que visa uma evolução mais socialmente equilibrada das TICs e da sociedade de informação no Brasil. Mas também é um ajuste de modelos para o atual mercado de software em meio à cultura copyleft. O modelo proprietário, o melhor que o mercado poderia escolher antes da experiência colaborativa da internet, perde eficiência com a revolução que a internet desencadeia [thomson, 2004]. Além disso, envelhecendo, os monopólios tendem a procurar, de forma abusiva, pela fonte da juventude. O exemplo do Brasil vem de uma política de TIC que tem optado pela escolha de FOSS, com ações que visam migrações dos sistemas pro- fór um on -lin e Algumas das características que o Marcus elencou, tais como “surpresa”, “velocidade” e outras, me fizeram lembrar de procedimentos caros à vanguarda futurista do início do século. Ao cabo da primeira e segunda guerras mundiais, o mundo poluído que produzimos tornou-se tão evidente que a aceleração vanguardista parecia mais do que indesejável. Por outro lado, algumas de suas categorias mais prezadas foram reconduzidas à cena cotidiana. Apesar de se ter dito que a poesia era impossível depois de Auschwitz, a humanidade desejou acelerar-se novamente e fez crescer, a partir de extensões cerebrais, o movimento nesta direção. Marcus Bastos Enviada: Dom Mai 21, 2006 11:28 pm 62 prietários e de projetos de inclusão digital, cada um deles enfrentando diferentes desafios e obstáculos. Note-se que, onde FOSS serve como paradigma, o Ministro da Cultura do Brasil – o compositor e músico Gilberto Gil – é ativista. Ele foi um dos primeiros artistas (reconhecidos no mundo) a liberar uma canção sob a licença Creative Commons (qualquer trabalho intelectual que se expresse sob formato digital pode ter uma licença CC, em que o criador pode atribuir graus de liberdade que a licença reserva – sem custos ou advogados – aos usuários e ao autor, a respeito de seu trabalho licenciado). No último Fórum Mundial Social, em Porto Alegre, ele se declarou um hacker, fazendo alusão à filosofia hacker de liberdade de informação e apropriação criativa das tecnologias digitais. Uma outra personalidade que começou a se envolver com o FOSS foi um executivo importante, o CEO da SUN Microsystems, Jonathan Schwartz [schwartz: 2005], que recentemente escreveu, em seu blog pessoal (e em português), uma mensagem de elogio e de sustentação ao presidente Lula por sua política de TIC, pela escolha do FOSS e por suas iniciativas de inclusão digital. Os projetos de inclusão digital com FOSS são particularmente vantajosos já que, além de não haver custo algum de licenciamento de software, não há também qualquer custo ou penalidade para migração de um sistema constituído no legado dos sistemas fechados (locked-ins). Parece não ser muito inteligente nos apegarmos a uma abordagem simplória e legalista, sustentada por uma luta radical de construção e conexõ es cr ít ic as Assunto: vanguardas O comentário do Lucio é bastante instigante. Lembram como alguns críticos das vanguardas apontam seu caráter militarista? Tem uma síntese, no texto bastante conhecido de Affonso Romano Sant’Anna, “Aspectos psico-sociais e antropológicos da vanguarda”, de que cito um trecho: “... a vanguarda vive num estado de contradição e paroxismos, o que em si não é mal, ao contrário, mas que não deve ser escamoteado. Vanguarda não é um monobloco. E constatar isso é começar a vê-la melhor. Por exemplo, tanto a vanguarda quanto a neovanguarda alimentam ao mesmo tempo o racionalismo e o irracionalismo. Ao mesmo tempo em que alguns movimentos falam de ‘geometria’, ‘ordem’ e ‘construção’, outros falam de ‘destruição’, ‘caos’ e ‘niilismo’. Assim, ao espírito industrial, formal, limpo e frio da Bauhaus se contrapõe o Surrealismo, desencadeando forças do inscons- fór um on -lin e 63 conexõ es cr ít ic as reforço esotérico da propriedade intelectual. Parece apropriado para o Brasil – e para outras nações parceiras com visões similares – agir em colaboração para oferecer alternativas ao modelo proprietário. Se conservarmos a potência e incentivarmos as novas modalidades de FOSS no país, isso já será um grande passo para a constituição de uma sociedade da informação mais justa e democrática. fór um on -lin e ciente. Quer atenda ao pólo da razão ou da emoção, quer se confunda com estereótipos apolíneos e dionisíacos, a vanguarda exibe a pulsão erótica violenta de seu criador. Sob a racionalidade da máquina, estão os nervos, a bílis, as fezes e os orgasmos de seus inventores. Nessa linha de extremismos é que a vanguarda se caracteriza, num plano político, pela opção ora pela esquerda, ora pela direita. Vanguarda é tanto um Maiakovski revolucionário, comunista, russo, quanto um Marinetti, italiano, fascista, apoiando Mussolini”. Discutir a articulação entre a vanguarda e a prática política de seus artistas corre o risco de incorrer em simplificação, mas parece bastante pertinente para os temas que estamos discutindo. Será que inverter o olhar é útil para entender como a linguagem faz política? Aí fico pensando se não seria então um bom momento para desacelerar, regredir, contemplar. 64 multidã o h i p e r l i n k ada : resistên c i a e d e s c e n t r a l i z a ç ã o Hernani Dimantas Marcus Bastos Enviada: Dom Mai 21, 2006 11:29 pm Assunto: Mudando de Assunto (para falar sobre a mesma coisa) Algumas das coisas que o Lucio formula me fazem lembrar da relação entre acontecimentos recentes como os óbvios 11 de Setembro e os ataques do PCC e um sentido mais amplo de termos como “performance” e “espetáculo”. Outra conexão? leandrops Enviada: Ter Mai 23, 2006 11:38 am Assunto: O xyz de Luther Blissett O “projeto” Luther Blissett é um dos melhores exemplos de net-ativismo, agindo na in65 fór um on -lin e A sociedade em rede convive como o assincronismo, o tempo e o espaço são desmontados pelas complexidades da própria rede, uma ruptura da metafísica padrão, como propõe David Weinberger, em The Web Methaphysics [A metafísica da web]: “Nossa metafísica cultural está baseada na divisão do mundo em discretos objetos. Esse processo de divisão raramente é consciente. Acontece através da linguagem, a qual é elaborada pelos poetas de vários tipos, incluindo cientistas, políticos, marketeiros e adolescentes revoltados. (...) O modelo de containeres, como muitos de nós suspeitamos, é inadequado. Ele simplifica demais as experiências”. Sistemas complexos provocam a distensão dos momentos. É deveras reducionista fazer um recorte do ciberespaço considerando-o um veículo de mídia de massa. Ou de entretenimento. Não é essa a idéia. A crescente virtualização da sociedade pós-moderna tem trazido algumas novas possibilidades para a humanidade. Conceitos como o de cidadania se tornam ineficazes quando analisados à luz do caos da sociedade em rede. “Linkania” é termo do futuro. Cidadania, na essência, está vinculada (linkada?) a direitos e deveres. E, em vez de falarmos e exercemos plenamente isso – discutir, ensinar, propagar –, falamos na vaga termi- conexõ es cr ít ic as nologia da cidadania [estraviz]. Linkania é a cidadania sem cidades, ou seja, a humanidade tende a coexistir numa sociedade em rede. Linkania tem a ver com as pessoas. Digo “pessoas” da forma mais abrangente, pois estamos experimentando, nesse ambiente digital, percepções que não faziam parte da nossa metafísica padrão. A cultura cibernética tende a privilegiar as relações entre as pessoas, promove o link, a inter-relação. Penso no ciberespaço como um novo lugar, muito embora a fronteira eletrônica extrapole a noção de lugar geográfico. Lugar ou não-lugar, não faz diferença. E, nesse contexto, o lugar passa a ser definido como uma interface cultural que tem, no link, a expressão do inter-relacionamento de pessoas e grupos, do tempo e do espaço [manovich: 2001; weinberger: 2002]. Lugar, assim, é um novo ambiente de relações, de links entre coisas. Mas por que discutir o lugar? Para analisar a resistência digital, a organização cibernética de luta pela liberdade ou a infoguerra, o ciberterrorismo, as bombas de Londres, os cliques fumegantes nas periferias informacionais devemos, primeiro, compreender como este caos interfere na concepção da sociedade, como se formam os links e como eles se transformam em redes [antoun: 2004; barabási: 2003]. A internet é uma metáfora daquilo que entendemos como uma sociedade em rede hiperconectada. Ela não existe per se. Existem muitas internets. Por exemplo, os bancos a utilizam para interagir com seus clientes; as rádios reverberam o jabá on-line; UOL, AOL, Terra disponibilizam o último suspiro da mídia de massa; os blogs nos mostram a diversidade fór um on -lin e terseção entre tecnologia, teoria crítica, arte e política radical. Personagem fictício, criado por italianos, tornou-se um mito ao abordar de forma teórica e prática o caráter fictício da informação e o poder virótico dos movimentos sociais midiaticamente estruturados. Em “O xyz do net-ativismo”, Luther Blisset comenta o “ataque na rede”, posto em prática por trabalhos como o Electronic Disturbance Theater e LB/a.f.r.i.k.a. gruppe: “Qual é o risco de ameaçar e provocar a mídia com simulações? Como controlar os feedbacks e reações violentas? Como evitar ser cooptado ou desencadear um pânico moral? De acordo com Stefan Wray, os ativistas devem se dar conta de que a política é um teatro e que devem aprender a atuar: “estamos manipulando a esfera midiática, estamos criando o hype (tendência), estamos fazendo congestionamento cultural (culture jamming), estamos simulando ameaças e ação [...] somos atores! Isto é teatro 66 das vozes etc. Grande parte desses sistemas atua na manutenção das forças e na perpetuação do poder do capital globalizado, ou seja, aquilo que chamamos mainstream, operado dentro da lógica do capitalismo imperial. No entanto, há uma pequena porção da internet que se descola dessa lógica, constituindo um ambiente de compartilhamento de informações e catalisação do conhecimento. Nesse sentido, percebemos que uma poderosa conversação global começou. Por meio da internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como resultado direto, mercados estão ficando mais espertos [levine; locke; searls; weinberger: 1999]. Internet são redes de links. Computadores são ferramentas. Interessante observar que o poder do império necessita desta hiperconexão. É o império que faz a conexão de placas e cabos. É o império que mantém a infra-estrutura física. Pois, pela necessidade de enfrentar a escassez do capitalismo, o sistema procura aumentar a velocidade e a eficiência das suas relações, ou melhor, os bancos precisam cada vez mais da rede para sobreviver, assim como os conglomerados de comunicação. Esse sistema é paradoxal e provoca a sua própria contradição. Cria espaço para catalisar a liberdade. De um lado, o império, com seus armamentos atualizados pelos milionários investimentos e pelo poder da indústria bélica americana. Uma produção em massa de destruição, alavancada pelos detentores do poder imperial. Afinal, investimento militar é objeto de geração de renda e não importa aos crápulas se o resultado final é conhecido. Morte, genocídio e conexõ es cr ít ic as político!”. Conheça o projeto Luther Blisset: http://www.lutherblissett.net. Leia o texto traduzido por Ricardo Rosas no sítio rizoma.net: http://www.novae.inf.br/centrodaterra/ nova_fissura.htm. fór um on -lin e c o n e x õ e s c rític as – c o b e rt u r a das palestras presen ciais Táticas e estratégias do produtor de mídia ativista Brian Holmes foi quem abriu a mesa da tarde no Conexões Tecnológicas, tratando de ativismo urbano e midiático. Tendo participado ele próprio ativamente destes movimentos desde o início dos anos 1990, o crítico de arte e ensaísta americano, residente em Paris, relatou algumas de suas experiências, mostrando fotografias tiradas no calor 67 conexõ es cr ít ic as desespero. Mas para que pensar nisso? O poder da grana se revela no curto prazo. E como disse Keynes: “No longo prazo, estaremos todos mortos”. Assim, a ética protestante põe fim à culpa. O trabalho e o dinheiro enobrecem o homem. E a morte será democratizada no futuro. No entanto, essa guerra (ou guerras – mais de 2 mil conflitos acontecem, nesse momento, em todo o mundo) não é romântica. Negri e Hardt constatam que “uma lição difícil que os líderes dos Estados Unidos e das nações aliadas parecem ter aprendido relutantemente após o 11 de Setembro, por exemplo, é que o inimigo que eles desafiam não é uma única nação-estado soberana, pelo contrário, é uma rede. O inimigo, em outras palavras, tem uma nova forma. De fato, isso se tornou uma condição geral na era dos conflitos assimétricos em que o inimigo e ameaças ao poder imperial tendem a aparecer como redes distribuídas e não como uma estrutura centralizada e soberana”. Por outro lado, temos uma multidão que se alimenta das contradições do império e encontra, na rede, um ambiente propício para expressar a sua potência. A multidão hiperconectada só se faz possível quando entendemos a ruptura dos containeres que estabelecem o ser como um sujeito múltiplo e engajado ou como seres multifacetados, capazes de viver várias vidas numa só. Experimentamos as nossas singularidades (e nossas esquizofrenias). Há uma multidão dentro de cada pessoa. A linkania faz as ligações para a auto-organização. Linkania é imanente. Compartilhar interesses faz com que as pessoas se aproximem, se juntem. Esta é a lógica da linkania. fór um on -lin e da hora. Holmes afirmou que o street actvism surgiu como conseqüência da exclusão e desconexão de grande parte da população mundial da economia e da cultura contemporâneas. “O ativismo se expandiu com os movimentos antiglobalização e o advento da internet, porém, a experiência da conexão começou a colocar seus próprios problemas: por exemplo, o paradoxo enfrentado pelos activist media producers diante de, por um lado, os protestos na rua, e, de outro lado, a experiência individual de circulação na rede”, afirmou. Em outras palavras, se a promessa democrática permanece irrealizada, apesar do fator de emancipação da rede, em que é possível travar um debate coletivo e produzir sentido assim como os movimentos sociais produzem sentido em sua ação, o ativista deve ser capaz de produzir um discurso claro sobre o novo contexto. “Uma interpretação com68 A experiência da linkania tem ação descentralizadora, possibilita o link ou o relacionamento entre as multidões, influenciando a descentralização e a fragmentação do poder. Essa multidão emerge das relações entre pessoas e dialoga com a máquina do poder soberano. Numa sociedade em rede, as pessoas se interconectam, conversam e se reconhecem, rompendo, assim, as hierarquias de valores que separam aqueles que alimentam o poder imperial daqueles que agem em multidão. Os partidos políticos, o terrorismo e alguns grupos táticos se valem das redes para atuarem nos intermeios da sociedade. No entanto, essas organizações tendem ao enfrentamento direto com o poder imperial. Esse tipo de ação prioriza a guerra e, dessa maneira, incita a sociedade de controle, pois o estado de guerra fomenta o sistema de exceção. Sem guerra, não haveria necessidade de investimentos em armas, em tecnologias de vigilância e controle. O efeito “grande irmão” só pode ser explicado pela necessidade do poder de se manter. Assim, a sociedade do controle apenas serve ao poder. Entretanto, o poder não tem cara. Não é governo. Poder é poder, pelo simples fato de existir como um espectro, um fantasma, na máquina humana. O poder extrapola as fronteiras do ser. A resistência digital, por outro lado, não necessariamente se opõe ao inimigo comum, isto é, àquele que se forma pela contradição do sistema capitalista. É possível recriar a existência por meio do diálogo, da apropriação e ocupação de espaços vazios de poder. O espaço informacional, pela sua própria característica pós-geográfica, permite a formação de comunidades virtu- conexõ es cr ít ic as plexa deste novo teatro da luta caracteriza o ativismo midiático”, defende. A expressão “teatro da luta” foi utilizada por Brian Holmes ao mostrar imagens da Mask Factory, projeto de produção em massa de máscaras na Cúpula da FTAA (Free Trade Area of the Americas) de Quebec, em 2001. No telão que projetava a apresentação, a URL: http://www. u-tangente.org Holmes propôs então uma diferenciação entre os conceitos de “espaço” e de “space of flow” (espaço de fluxo) enquanto que o espaço, para Castells, é o suporte material das práticas sociais de tempo compartilhado, o “space of flow”, segundo Felix Stalder, é a interação em tempo real independente do espaço em que esta se dá. “Flow”, para Holmes, pressupõe a perda do ego, uma experiência completa por si só, que não precisa ter outras conseqüências além dela mesma. A experiência dos movimentos sociais seria tão diferente desta? Não para Brian Holmes: “Ao mesmo tempo em que têm fór um on -lin e 69 conexõ es cr ít ic as ais interconectadas. Estas comunidades são ocupadas pelas pessoas que transitam aleatoriamente no ciberespaço. Mas a liberdade também é uma forma de nomadismo. A liberdade também é nômade. Aliás, Deleuze define o nomadismo como um modelo de resistência ao poder [deleuze; guattari: 2004]. A máquina de guerra é uma forma de dominação, mas também um modo de as multidões se auto-organizarem para a ação. A revolução digital é possível quando a multidão enfrenta os atores imperiais numa intervenção direta na microfísica do poder. Esta intervenção é realizada pelo diálogo que se vale da troca e da reapropriação de idéias como agentes de transformação. Como uma máquina de guerra, as multidões conquistam seu território, apropriando-se da tecnologia e ocupando os espaços informacionais. Elas “organizam o caos” das redes hiperconectadas. Esta ação se torna maquínica quando engajada no processo de agenciamento coletivo. No plano da imanência, essa multidão é a única alternativa contra o poder instalado. Assim, entendemos o poder nômade como modelo agregador do império. Como, então, entender esse mesmo nomadismo como forma de resistência e revolução? Esse contrapoder exige o engajamento maquínico. Aliás, a própria rede só acontece quando as pessoas que perambulam no entorno se engajam em um projeto comum. Entendemos “projeto” como expressão do trabalho imaterial. Dessa forma, as pessoas, juntas, tornam-se multidão. Essa multidão hiperconectada emerge da conexão e da colaboração entre pessoas [dimantas: 2004]. fór um on -lin e por objetivo mudar algo na realidade, elas também se bastam como forma expressiva”. Mas como utilizar e facilitar o acesso ao fluxo de informações em um contexto de conexão tecnológica perversa de pessoas que sabem como fazer sua mensagem chegar à mídia (crime organizado, fundamentalismo religioso)? “Será que as imagens de ativismo da cultura das novas mídias representam uma versão menor e domesticada desta inclusão perversa?”, perguntou-se Holmes, citando como exemplo os eventos recentes de ataques orquestrados pelo PCC na cidade de São Paulo, a que o crítico se referiu como “the PCC week”. Interfaces expandidas: conexões críticas Interfaces baseadas na realidade (reality-based interfaces) foram o assunto da fala de 70 E, nesse ponto, a revolução do software livre faz a diferença, pois pressupõe a possibilidade de acesso ao código-fonte para modificar, diminuir, acrescentar ou fazer o que se bem entender. É a ponta do iceberg de uma sociedade colaborativa. O software livre está, cada vez mais, penetrando nas decisões da sociedade da informação. O Linux é a resposta da multidão. Ele foi criado com a colaboração de pessoas comuns e envolveu centenas de programadores espalhados pelo mundo. É subversivo porque transforma a estrutura imposta pela Revolução Industrial, e é o primeiro produto idealizado e concebido pela multidão hiperconectada. Foi construído num outro paradigma: a colaboração vem a substituir o capital [raymond: 2001]. Colaboração é a novidade da sociedade da informação. Com as tecnologias da comunicação e da interação, as redes passam a facilitar a convivência em tempo real à distância. Provocam e potencializam a conversação e reconduzem a comunicação para uma lógica de sistemas organizacionais capazes de reunir indivíduos e instituições de forma descentralizada e participativa. O capitalismo, apesar de dominante, não consegue mais sustentar a lógica da acumulação e do trabalho. Seus principais alicerces – a economia, o paradigma da ética burocrática e a cultura de massas – estão em crise. A crise é um indício de que uma nova ordem, uma reestruturação, é necessária e urgente. Marx escreveu sua crítica em O capital num momento em que a sociedade industrial estava aflorando, mas não se apresentava, ainda, como o paradigma dominante. O século 21 exige, portanto, modificações estruturais no poder conexõ es cr ít ic as Lucas Bambozzi. A expressão cunhada pelo artista e professor do Centro Universitário Senac pareceu ecoar as mesmas preocupações externadas anteriormente por Brian Holmes. Diante de inquietações como o suposto teor político da arte em novas mídias – “Estas práticas artísticas cresceram junto com o ativismo, mas não necessariamente caminharam junto com ele” –, a ambigüidade dos sistemas pervasivos – “Prestam-se a nos oferecer serviços ou a nos constranger?” – e a diminuição crescente do espaço público, Bambozzi analisou em paralelo a experiência da cidade e suas ambivalências e a experiência do espaço comum da rede (que, afirmou, prefere não denominar “ciberespaço” para evitar a relação com “ciber-utopias”). “As estratégias das corporações muitas vezes se adiantam às estratégias ativistas e artís- fór um on -lin e 71 conexõ es cr ít ic as para atender à nascente sociedade informacional. É nesse cenário que as redes sociais adquirem importância. A tecnologia catalisa a inteligência das pessoas. A revolução das tecnologias da informação atua remodelando as bases materiais da sociedade e induzindo a emergência de agenciamentos colaborativos como base de sustentação da sociedade. Não podemos atribuir essas mudanças apenas à tecnologia. A internet possibilita o florescimento de novos movimentos sociais e culturais em rede, a organização da sociedade civil em novas formas de gestão e o retorno às redes humanas depois de anos de domínio das redes de máquinas e da burocracia. No limite da ruptura dos paradigmas, a colaboração aparece como um potencializador das energias produtivas. A sociedade está se tornando mais aberta, mais colaborativa. O software livre é o caso mais conhecido e de maior impacto desta resistência digital. Representa uma nova dinâmica que demonstra a produção de conhecimento livre como alternativa economicamente viável e sustentável. O código aberto está trazendo para a inovação o que a linha de montagem trouxe para a produção em massa. Estamos chegando a uma era em que a colaboração substituirá a corporação. É a opção pela descentralização do poder, catalisado pelas conversações de uma sociedade em rede. As pessoas não querem mais ser telespectadoras. Elas têm a possibilidade de interagir com as comunidades na internet e, assim, protagonizar as próprias existências, buscando, na comunidade digital, os fór um on -lin e ticas”. O que os flash mobs produziram de pior, segundo ele, foram coisas como a propaganda da Coca-Cola em que uma espécie de mobilização via celular nas ruas de Praga resulta num gigante símbolo da bebida formado pela multidão reunida em uma praça. “Que tipo de projeto de ativismo midiático surgiu no contexto brasileiro? Mobilizações para proteção de animais, contra o fast-food ou de TV turn-off, a la Adbusters, ou seja, questões que não são propriamente nossas”, afirmou. Essa importação de bandeiras ativistas exteriores ao nosso contexto, ou ainda essa contradição entre contexto e conteúdo, seria uma demonstração da faceta pouco crítica do ativismo brasileiro. Interfaces críticas seriam, então, aquelas que propusessem instrumentalizar o público de forma a integrá-lo no espaço urbano, esta sim uma questão “nossa”. 72 interesses comuns. Uma alternativa para o crescimento colaborativo. E, nesse sentido, estamos num processo de progressão jamais visto, já que qualquer pessoa tem a possibilidade de publicar na rede, seja em forma de e-mail, artigos, blogs, músicas ou imagem. A internet é um meio multimídia que oferece inúmeras formas de expressão. A cultura cibernética nada mais é do que uma compilação desta diversidade. Está em curso um processo silencioso, uma revolução que não será televisionada e que provocará mudanças profundas na sociedade. conexõ es cr ít ic as É aí que entra a idéia de uma reality-based interface: um ativismo feito com ferramentas de comunicação diversas e, em geral, com mediação mínima, como no caso do projeto de Autolabs na Zona Leste, do grupo Mídia Tática. Bambozzi também citou como exemplos o projeto Calhau, de Giselle Beiguelman, o projeto Cubo, as mobilizações capitaneadas pelo Canal Contemporâneo e o projeto de Antoni Abad com grupos de ciganos, taxistas, deficientes físicos etc., “uma potencialização de comunidades, por meio da distribuição de celulares com possibilidade de upload rápido de fotos para um website”, explicou. [segue na página 77 ] fór um on -lin e 73 p e s q u i s a , formação e merc ado reúne textos de pesquisadores e artistas que colocam em cena discussões a respeito do mercado, da pesquisa e da formação na área de arte e tecnologia. Pesquisa artística com interfaces emergentes, laboratórios e desenvolvimento em sistemas computacionais integrados e convergência tecnológica, são alguns dos temas tratados. Inclui, ainda, os Debates: conexões tecnológicas que reúne os debates referentes à mesa da parte da manhã do Fórum Conexões Tecnológicas. medial a b m ad r i d : da p e s q u i s a b á s i c a ao impac to c u lt u r a l Karin Ohlenschläger Software livre e globalização contra-hegemônica André Lemos tratou em sua palestra no Conexões Tecnológicas de três leis da cibercultura: emissão, conexão e reconfiguração. Para ele, estas três máximas explicitam os comportamentos sociais associados à cultura digital. Usando como exemplos chats, blogs, podcasts, redes peer to peer (p2p) e softwares livres, o professor e pesquisador do Centro Ciberpesquisa da Universidade Federal da Bahia mostrou que, neste contexto, a emissão é livre e indiscriminada; a conexão e a ubiqüidade são condições que caminham em paralelo à emissão: “Não basta produzir sem circular. A máxima punk ‘compartilhe, misture (remix), colabore, distribua informação’ retorna aqui”; e a reconfiguração é o resultado das duas primeiras leis: “Aqui o mote punk atualiza-se em: ‘dê sua parcela para modificar a cultura vigente’. Essa modificação não é aniquilação, nem simples substituição, mas 77 fór um on -lin e Se fôssemos aceitar a teoria do físico norte americano, William Day, que movimento gera espaço e estrutura, chegaríamos a uma explicação plausível de como Medialabmadrid se desenvolveu. No início de 2002, o Medialabmadrid iniciou seu primeiro programa. Este foi estabelecido como um pequeno laboratório aberto para a produção, pesquisa, ensino e difusão da arte e ciência relacionadas a novas tecnologias de informática e telecomunicações. No princípio, o que hoje é um dos mais dinâmicos espaços transdisciplinares em Madri constituía-se de apenas um corredor estreito ocupando 50 m2 e uma dúzia de computadores. Desde então, o Medialabmadrid tornou-se um catalisador de idéias, projetos e pessoas com uma missão tanto local quanto internacional. A atual estrutura modular e aberta de suas atividades às vezes é limitada aos 300 m2 da área de recursos e produção, enquanto outras vezes seu programa de exposições ocupa mais de 3.000 m2, situados na asa norte do Centro Cultural Conde Duque, um barracão restaurado do século 17, que foi transformado em uma das maiores áreas expositivas pertencente à Prefeitura de Madri. Um dos principais objetivos deste centro, criado há apenas quatro pesqu isa, formação e mer c ado anos, é explorar as complexas relações entre os sistemas biológico, social, tecnológico e cultural. A cada ano, mostras e exposições como Fluid Dynamics, Banquete_Metabolism and Commmunication e, em sua segunda edição, Banquete_Communication in Evolution reuniram em Madri cientistas como Roger Bartra, Fritjov Capra, Lynn Margulis, Otto Rössler, Dorion Sagan, Vandana Shiva e Ingrid Volkmer, e artistas como Marcelí Antúnez, Ricardo Dominguez, Perter Fend, Daniel García Andújar, Golan Lewin e Zachary Liebermann, Cesar Martinez, Neokinok TV, Platonic, Ken Rinaldo, Christa Sommerer e Laurent Mignonneau, entre muitos outros. Essas grandes exposições podem ser entendidas apenas dentro da dinâmica diária dos encontros, workshops, debates e conversas que contribuem para criar um ambiente adequado para a pesquisa e produção de projetos do Medialabmadrid. De forma geral, o dinamismo do projeto levou-o a sua perspectiva transdisciplinar. Isso permite uma abordagem mais fluida e leve que permite catalisar as substâncias informacionais que estão flutuando nas margens dos campos convencionais de conhecimento; nas áreas de incertezas e desequilíbrio onde as coisas acontecem como descreve Ilya Prigogine. Tratar esta abordagem como meramente mais um rótulo é destruir seu potencial de refletir um estado complexo emergente que não pode ser explicado como apenas a soma de suas partes. A prática da transdisciplinaridade requer, entre outras coisas, observação da arte e da ciência de fora de suas fronteiras convencionais. fór um on -lin e reorganização e convivência de formatos midiáticos: jornal on-line e impresso, espaço urbano e redes, podcast e rádio, TV e web, amigos de bar e de MSN”. O próprio movimento de colaboradores de software livre se inscreve nestas leis, segundo André Lemos, uma vez que a emissão e liberação de código fonte em rede, posta para circular, gera uma reconfiguração cultural. “A ‘cultura copyleft’ é uma cultura da colaboração que tem sido potencializada pelo ciberespaço. O surgimento de formas de colaboração em rede é fundamental para compreender a migração de sistemas proprietários em direção aos sistemas baseados em colaborações comunitárias ao redor do mundo, os softwares de código aberto”, afirmou. “A hipótese aqui é simples. O que vem sendo chamado de copyleft é o que estrutura qualquer dinâmica identitária e cultural: a troca, as influências mútuas, a cooperação. Barrar esse processo significaria frear o desenvol78 Este deslocamento permite a exploração de novas interconexões entre imagens e linguagens diferentes, e o compartilhamento de processos de criação e pensamento. Não é apenas uma questão de traçar, extrapolar ou incorporar elementos e conceitos de outros campos. O objetivo é gerar interferências produtivas entre criadores e pesquisadores em campos diferentes, ou seja, entre pessoas. Isso tudo exige espaços para meditação cultural, para circulação de experiências e conhecimento. É necessário transformar, conectar ou deslocar o espaço criativo – seja o laboratório, ateliê ou estúdio – para o espaço social de comunicação, o museu, a mídia, a rua e a vida. pesqu isa, formação e mer c ado vimento e o progresso do conhecimento humano. A batalha atual para adoção de softwares livre (ou de código aberto) tem no fundo esse debate como mobilizador”. fór um on -lin e Multidão hiperlinkada: resistência e descentralização Hernani Dimantas apresentou em sua palestra no fórum os projetos Metáfora e Metareciclagem, cuja inspiração é a cultura hacker e o conhecimento livre. Mais do que projetos de um grupo, ambos se formaram mais como movimentos que foram agregando (e reciclando) participantes. As ações de recuperar computadores descartados pela sociedade e capacitar comunidades a utilizá-los são, para Dimantas, uma espécie de mídia tática que se desenvolve no engajamento, na imersão e na atitude de hackear estruturas que governam nas mídias e no sistema. 79 l aborató r i o d e s i s t e m a s i n t e g r á v e i s João Antonio Zuffo fór um on -lin e O Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) foi fundado em 1975, na Universidade de São Paulo (USP), e tem suas atividades de pesquisa e desenvolvimento centradas em sistemas computacionais integrados. O Laboratório é tido como um pioneiro em muitas áreas de pesquisa e está ligado à Escola Politécnica. Entre os membros, há 22 professores da Universidade de São Paulo, 43 pesquisadores e membros da equipe do laboratório, 196 estudantes de pós-graduação, 105 de graduação e diversos colaboradores externos permanentes. O LSI possui três divisões principais: a Divisão de Sistemas de Computação Digital, a Divisão de Metodologias de Design de Sistemas (VLSI) e a Divisão de Microsistemas Integrados. A primeira tem cerca de 500 microcomputadores e estações de trabalho. O Núcleo de Realidade Virtual tem como foco de suas pesquisas os sistemas computacionais de alto desempenho para visualização, simulação e interação. Grande parte dos sistemas utilizados pelo núcleo foi desenvolvida internamente, gerando uma equipe com alto conhecimento em produção e utilização das mais modernas tecnologias de realidade virtual. Dentre as principais pesquisas do núcleo, a que mais se destaca é o pioneirismo na produção de aglomerados de computadores (clusters) para a síntese de imagens gráficas de alta qualidade para ambientes “Dada a característica rizomática da rede, não dá para ter muita autoria, as coisas são emergentes. Eu gosto de usar a palavra linkania ao invés de cidadania, que tem mais a ver com cidade. Nós somos links ligados a outros links. A hiper-conexão não faz muito sentido se não pensarmos em comunidade, ou em multidão, para usar o conceito de Negri. Nós somos a rede”, afirmou. O pesquisador em cibercultura aposta no conceito de “multidão” como uma forma diferente de pensar o que seja a rede, mas fez uma diferenciação entre o conceito de Negri, para quem esta é uma idéia marxista de multidão como classe, e aquele utilizado por Elias Canetti, para quem multidão não pode crescer, senão vira poder. Hernani prefere a visão de Hakim Bey, daqueles movimentos coletivos que acontecem como fenômeno temporal (as zonas autônomas temporárias). “Acaba porque tem que acabar. Vejo a cola80 imersivos. O Núcleo também abriga a Caverna Digital, uma infra-estrutura importante para as pesquisas em múltiplas projeções e ambientes imersivos. O sistema deu ao núcleo pioneirismo em diversas frentes de pesquisa e reconhecimento internacional. Atualmente, o núcleo conta com uma equipe que trabalha na otimização de aglomerados de computadores convencionais e no desenvolvimento de aplicativos para visualização de estruturas de dados complexas 3D em tempo real. Sistemas de multi-projeção imersivos são complexos ambientes que se tornam ainda mais sofisticados com a utilização de aglomerados de computadores. Um exemplo prático da aplicação dos clusters é o projeto “Asa Delta – Passeio virtual pelo Rio de Janeiro”. A partir de uma asa delta, o usuário pode fazer um passeio virtual aéreo pela cidade do Rio de Janeiro, visitando os pontos turísticos mais tradicionais. Para completar a sensação de imersão – proporcionada por um sistema de visualização 3D do tipo HMD (helmet-mounted display), o usuário ainda conta com música ambiente, além de sons dispostos geograficamente como sobre o sambódromo e o Maracanã. Atualmente o sistema está sendo importado para a Caverna Digital. A Caverna Digital começou a ser construída em 2000, com financiamento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), e foi inaugurada em abril de 2001. Muito além das projeções imersivas em três dimensões possibilitada pelas cinco telas de 3x3 m que a formam, a Caverna Digital também pode receber interfaces que estimulem o som e o tato, pesqu isa, formação e mer c ado boração como algo que tem um ápice e depois uma queda, uma perda de potência, o que é necessariamente bom, porque a revolução digital está nos agenciamentos. Enquanto a gente está na potência, como multidão, a coisa acontece. Depois muda”. Falando a partir da obra Massa e poder, de Canetti, Dimantas afirmou que a sociedade da colaboração não pressupõe projetos em que as pessoas se engajam ad eternum: “As coisas são dinâmicas e as colaborações têm efeitos dinâmicos”. Ele vê forças de resistência e transformação nesta nova dinâmica cultural. “A rede modifica conceitos, provoca alterações da metafísica padrão. Não é possível pensar em tempo e espaço da mesma forma. O tempo é assincrônico e o espaço é a conexão”. Deste modo, o ser também está se modificando. “A gente pode ser muitos ao mesmo tempo, vide os nicknames na internet. A multidão passa a estar dentro da gente também”, concluiu. fór um on -lin e 81 pesqu isa, formação e mer c ado como caixas de som estéreo e equipamentos de force feedback: por isso é um sistema de realidade virtual que possibilita alto envolvimento do usuário. Esse dispositivo, o único da América Latina, é usado para desenvolver facilidades nas interações homem-computador que logo estarão disponíveis a todos os brasileiros. As indústrias nacionais de aeronáutica, automotiva e de óleo e gás já começam a se beneficiar dessa tecnologia. Isso porque os custos com a produção digital são muito inferiores aos protótipos reais e tem a versatilidade de alterações em qualquer fase do projeto. Para gerar todos esses mundos virtuais, 24 computadores, os chamados aglomerados (clusters) trabalham em conjunto, produzindo um desempenho equivalente ao das supermáquinas gráficas utilizadas nas Caves dos grandes centros de pesquisa do mundo. E com custos muito inferiores. fór um on -lin e c o n e x õ e s c r ític as – cobertura d o debate presencial A professora do Centro Universitário Senac Lucia Leão iniciou o debate da tarde do fórum Conexões Tecnológicas perguntando a Brian Holmes sobre a confluência em certos projetos entre terra e fluxo; projetos que têm características dos dois movimentos não seriam possíveis também? Ele concordou: “Os zapatistas fizeram algo incrível ao mostrar outra forma de participar. Precisamos de mais reciclagem, que também significa circular de novo, com novas pessoas, com novas idéias”. Remetando à fala de Lucas Bambozzi e à constatação de que o uso intensificado da internet não se traduz em expressão net-ativista, Giselle Beiguelman perguntou se esta insipiência não estaria ligada ao conformismo político no Brasil. A debatedora convidada do Conexões Tecnológicas e professora da PUC-SP relembrou o caso de um artista mexicano que faz in82 pesquisa e p ro d u ç ã o e m i n t e r fac e s emergen t e s : p ro j e to o p _ e r a Daniela Kutschat Hanns e Rejane Cantoni tervenções em jornais, fazendo seções inteiras saírem ilegíveis em uma determinada edição, que sempre provoca celeuma – leitores telefonando para o jornal indignados etc. – mas, quando realizou a ação em uma cidade brasileira, não chamou nenhuma atenção. “Ninguém no Brasil reclamou; este é um índice do nosso conformismo”, afirmou Giselle Beiguelman. Ela fez ainda outra pergunta, em relação ao fato de as corporações incorporarem slogans ativistas: “Não é sintomático que o fenômeno contra-midiático dos podcasts traga embutido no nome a marca do produto da Apple [o iPod]?”, questionou. “A gente fala em mídia alternativa ao mesmo tempo em que faz propaganda da empresa de tecnologia?” Bambozzi respondeu que o conformismo bem apontado por ela pode ser considerado herança do período de opressão vivido no Brasil durante 30 anos. “O resultado criativo demora mais a aflorar”, afirmou. Mas o artista lembrou, a título de comparação (um 83 fór um on -lin e OP_ERA é uma ferramenta de experimentação multisensorial de conceitos de espaço. Desenhada como um conjunto de projetos conceituais e de experimentos, a implementação de OP_ERA compreende a pesquisa e o desenvolvimento de: (1) modelos científicos e artísticos de espaço; (2) interfaces humano-máquina (hardware e software), por meio das quais o agente humano e o artificial (máquina) estão interconectados simbioticamente; (3) formas alternativas de percepção e de cognição espacial por intermédio da experimentação multisensorial de modelos conceituais de espaço. OP_ERA é um projeto em processo desenvolvido desde 1999. Em seu estado atual, é composto de dois projetos de pesquisa (o evento Interatividades: ciclo arte, ciência e tecnologia e os experimentos Máquinas de ver 1 e 2) e de sete implementações físicas (OP_ERA: Haptics for the 5th Dimension; OP_ERA: Sonic Dimension; OP_ERA: Hyperviews; OP_ERA: Haptic Wall; OP_ERA: Haptic Interface; OP_ERA: A Journey e OP_ERA). Comissionado principalmente por investimento próprio e por prêmios e bolsas de auxílio à pesquisa, a sustentabilidade do projeto se deve a: pesqu isa, formação e mer c ado 1. investimento das artistas (o que geralmente significa colocar dinheiro próprio); 2. elaboração de projetos de pesquisa (o que normalmente implica formatar e adequar idéias para solicitar bolsas e auxílio às raras fundações e agências que possuem programas de fomento dedicados à área); 3. submissão de projetos e/ou recebimento de convites para participar de exposições comissionadas; 4. criação de vínculos de pesquisa com a indústria tecnológica; 5. recebimento de prêmios em dinheiro de instituições culturais dedicadas à produção e à pesquisa em mídias digitais (OP_ERA recebeu quatro prêmios de arte e tecnologia: em 2002, Transmídia, do Itaú Cultural; em 2003, o 4º Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia; em 2005, os prêmios de exibição do Beall Center for Arts and Technology e o TRANSITIO_MX, 1º Festival Internacional de Artes Eletrónicas y Vídeo do México). O modus de produção e de distribuição do projeto estão (é claro) diretamente conectados a esse modelo financeiro. Os processos de produção de OP_ERA, por exemplo, são esporádicos, customizados e independentes. As implementações físicas são: site e time specific, com equipe de produção flutuante. Obras e interfaces não são desenvolvidas dentro de instituições, nem em laboratórios ou em centros de pesquisa e de produção. Processos de distribuição, por sua vez, ocorrem em ambientes e meios pouco tradicionais. Como não existe mecenato ou lucro, seus de- fór um on -lin e tanto paradoxal), os estudos de Suely Rolnik sobre net-ativismo no Leste Europeu, onde a prática é amplamente difundida. O ilustre artista conceitual francês Fred Forest, que acabara de inaugurar, dias antes, uma exposição individual no Paço das Artes, foi prestigiar o fórum na parte da tarde e pediu a palavra para tecer algumas considerações sobre a experiência da internet e sobre temas levantadas nas palestras. “É verdade que a net nos permite conhecer outros e nos reconhecer, mas estou atônito em relação ao net-ativismo de que vocês falam. Qual a minha legitimidade em agir pelos outros? Não estaria eu mesmo fechado em uma ideologia? Não seria necessário em relação às clivagens entre esquerda e direita fazer emergir uma ideologia tão nova quanto é a internet para a sociedade?”, perguntou à mesa. Brian Holmes disse, em relação a inventar outra ideologia, que falta uma ética da rede: 84 rivados (idéias, projetos e obras) jamais foram apresentados ou comercializados no circuito comercial das artes. Isto é, toda a distribuição do projeto é realizada em circuito alternativo – academia, congressos, feiras tecnológicas, museus, instituições culturais – e em publicações de artigos em livros, catálogos, revistas especializadas, DVDs e web. pesqu isa, formação e mer c ado “Precisamos de uma nova organização na net que consiga ser mais rápida do que as corporações. Quem usou primeiro a agilidade da internet foram as corporações, seguidas pelos ativistas e depois pelos fundamentalistas. Espero que a direita não os siga. Nós precisamos criar formas de desacelerar as corporações. Uma ética, uma política e uma cultura da sociedade em rede estão ainda para ser inventadas”. Em resposta à palavra “representação”, Hernani Dimantas devolveu a palavra “descentralização”: “Os movimentos mais fortes de ativismo estão acontecendo na periferia, mas a periferia não tem tecnologia”. O debatedor convidado Marcus Bastos, professor da PUC-SP, perguntou se o espectro da busca pelo net-ativismo não poderia ser um pouco alargado, para incluir a net-arte, por exemplo. Não aumentariam os exemplos? Não daria uma resposta mais otimista à ques- fór um on -lin e 85 converg ê n c i a t e c n o l ó g i c a Jonas de Oliveira Junior fór um on -lin e Gostaria de discutir a convergência tecnológica e explicar de que maneira as empresas de telecomunicações estão interessadas neste processo. Há 10 anos, graças à revolução propiciada pelo trabalho e dinamismo do ministro Sergio Motta a frente do Ministério das Comunicações, o Brasil passou por uma enorme reestruturação no setor de telecomunicações e hoje nós temos uma infra-estrutura bastante robusta e disseminada que pode ser colocada a serviço da sociedade, não só para serviços básicos. E a principal novidade que deve surgir nos próximos meses é o chamado serviço de IPTV, sigla que vem de IP (Internet Protocol), que é a tecnologia utilizada na internet, e televisão. Quando essas duas tecnologias se associam suportadas pela plataforma do serviço telefônico, abre-se a possibilidade de disseminação, de criação de um novo serviço, cujas possibilidades ainda estão sendo exploradas. Existe um modelo atual, com os vários segmentos de telecomunicações, com plataformas completamente independentes: a de radiodifusão, de TV – já em fase de digitalização. Existem também a das empresas de TV por assinatura, basicamente TV a cabo e as de telefonia, fixa ou móvel. E, em curto prazo, o que vai existir? Um mundo convergente em termos tecnológicos, em que as três ou mais plataformas passam a compartilhar o mesmo substrato tecnológico. tão do conformismo político levantado por Giselle Beiguelman? A postura de Bambozzi se manteve: “O potencial de uso das redes foi super-estimado”. Ricardo Rosas, mais um debatedor convidado do Conexões Tecnológicas chamou a atenção para o fato de que estratégias que contestam a navegabilidade também podem ser consideradas uma forma de ativismo na rede. “O net-ativismo não é apenas mobilização social. É um conceito”. A mediadora da mesa aproveitou a deixa das últimas intervenções para ironizar: “O net-ativismo da classe média brasileira são as comunidades do Orkut”, arrancando risos da platéia. Brian Holmes foi mais firme na questão levantada por Bastos e Rosas: “Ou o ativismo interfere politicamente ou ele não é nada. Ou é qualquer coisa”. A discussão centro/periferia retornou em pergunta do jornalista Guilherme Kujawski, 86 A telefonia via rede de TV a cabo já é uma realidade. A transmissão de TV via rede de telefonia será viável em curto prazo. E com a introdução do sistema de TV digital, prevista para o próximo ano, também o setor de radiodifusão se integrará nessa evolução tecnológica. Essa convergência traz benefícios para a sociedade, para os agentes econômicos envolvidos e para o setor público. Abre-se um espaço para o governo de divulgação de serviços públicos. Disseminados pela idéia de que hoje já existe um bom exemplo de serviço público prestado de maneira totalmente eletrônica, que é o programa do imposto de renda. Talvez não seja um exemplo muito simpático, mas existem inúmeros serviços públicos que podem perfeitamente ser prestados por meio dessas novas plataformas. Um ponto importante é a base. A radiodifusão tem um alcance enorme e atinge 100% dos cidadãos. Mas, entre os serviços diferenciados, como o de TV por assinatura, a base é muito pequena. Estima-se que existam hoje 4 milhões de assinantes de TV por assinatura no país. O sistema de telecomunicações, se somarmos a rede fixa e móvel, atinge 130 milhões de terminais. Assim que a infra-estrutura de telecomunicações passar a ser utilizada, aumentarão os investimentos na produção de conteúdos, incentivados por sua capacidade. É um serviço comercial? Sim, não há dúvida, mas é um serviço em que todos os participantes da cadeia de valor serão beneficiados. A indústria produz equipamentos e softwares. Os produtores de conteúdo, sejam eles tradicionais ou independentes, se somará a aqueles pesqu isa, formação e mer c ado que relembrou o manifesto do antropólogo Hermano Vianna por ocasião do lançamento do programa Central da periferia, na Globo [o texto foi publicado em abril como um anúncio de página inteira em diversos jornais brasileiros]: “Como acabar com este loop cibernético perverso?”, perguntou o debatedor. Holmes: “Acesso livre para todos e mais esforços de desenvolvimento”. fór um on -lin e p e s q u i s a , f ormação e merc ado – seleção de posts leandrops Enviada: Qua Mai 17, 2006 9:58 pm Assunto: Jonas Oliveira, Telefonica De que forma o fortalecimento das novas mídias concorre com os paradigmas da comu87 pesqu isa, formação e mer c ado que certamente surgirão em função dessa oportunidade e todo aquele aparato de prestação de serviço que geralmente vem associado a uma inovação dessas. Serviço de atendimento, ou mesmo vendas interativas, e assistência técnica terão que se adaptar, pois uma mídia completamente diferente, pode causar impacto inclusive na área de publicidade. Vale lembrar que empresas de telecomunicação operam em rede, e essas empresas têm uma característica única, peculiar. Então, não se trata de um serviço elitista. O Brasil é um país em desenvolvimento, com renda muito mal distribuída. Portanto existe sempre uma parcela da população que, mesmo assim, não tem acesso a esse serviço, mas há soluções, como locais de uso público, postos de serviços, locais de uso comunitário, mecanismos explícitos de subsídio. fór um on -lin e nicação vigente? A criação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (http://sbtvd.cpqd. com.br) demonstra a urgência em se pensar uma dimensão política para a revolução tecnológica da TV digital, que torna evidente a convergência de conceitos como os de computação, imagens digitais e internet. Num mercado com 100 milhões de televisores, a disputa entre modelos de difusão (analógica x digital) vem promovendo debates entre as principais operadoras de telecomunicação do país. leandrops Enviada: Qui Mai 18, 2006 11:43 am Assunto: O Minc e as políticas do digital “A criação de novo marco regulatório para o audiovisual e para a comunicação social 88 deb ates: c o n e x õ e s t e c n o l ó g i c a s brasileira envolve aspectos políticos, econômicos e culturais que antecedem, perpassam e acompanham a implantação da TV digital. Trata-se de um debate público necessário, cujos resultados são fundamentais para a cultura e a democracia brasileiras e para a consolidação do país como grande produtor de conteúdos na era das convergências e da economia digital”. Leia o texto completo de Gilberto Gil e Orlando Senna no sítio NovaE: http://www.novae.inf.br/pensadores/conteudo_importa.htm. leandrops Enviada: Ter Mai 23, 2006 12:32 am Assunto: Citando Juliana Monachesi Citação: A mídia impressa em geral sofre outra grande crise em relação à transição para 89 fór um on -lin e priscila arantes – Obrigada aos palestrantes. Com as falas, muito instigantes, foi possível perceber onde há realmente a interface entre a pesquisa artística e o desenvolvimento tecnológico e científico, que era o objetivo dessa mesa. Vou abrir agora para os debatedores e a platéia. daniela bousso – Só para esquentar o debate, vou trazer algumas questões que Karin [Ohlenschläger] e eu discutimos anteriormente. Uma das questões que levantamos é a de que, com este tipo de pesquisa mais vinculada à ciência, muda o conceito de representação estética que conhecemos tradicionalmente. Questionamos, então, como é que nós – teóricos, críticos e o próprio mercado – nos relacionaríamos com esse tipo de obra daqui para frente, uma vez que essas obras perderam aquela dimensão estética que tinham até a modernidade e a pós-modernidade? Como vamos lidar com ela? Torná-la estética? Ela não é estética ou carece de uma nova forma de leitura? Eu gostaria de lembrar aqui que a Priscila Arantes desenvolve, no seu trabalho teórico, a questão da “interestética”. Quem diz o que é arte não somos nós, críticos, mas sim os artistas. Esta é uma premissa básica para relacionamento saudável e para a abertura de canais entre o artista e o crítico, não é verdade? karin ohlenschläger – Por um lado, esse tipo de arte que vimos aqui – por exemplo, o projeto bem interessante de Daniela [Kutschat] e Reja- pesqu isa, formação e mer c ado ne [Cantoni] – eu relacionaria mais com as artes performáticas, porque ele cria e estabelece um ambiente, uma estrutura, e convida o usuário, o visitante, a explorar, interagir e contribuir para o projeto como um todo. Como? Participando do próprio projeto. Nós sabemos disso pela tradição da arte dos anos 1950, 60 e 70, só que agora a diferença é que esse tipo de instalação procura fazer com que o usuário vivencie o que o ambiente virtual, ou mundo virtual, significa. Porque ele não é abstrato, faz parte de nossa experiência diária. Temos um pé no chão e um ouvido na rede, então, como reorientar a nossa estrutura de percepção, ou seja, como reorientar a nossa concepção de mundo, entrar em contato e vivenciar essa nova constelação? Esse tipo de instalação é muito importante, pois oferece, por um lado, a experiência e, por outro, o conhecimento. Se você passa pela experiência sem uma reorientação, é muito difícil adquirir conhecimento sobre esse tipo de projeto. Com relação ao conceito científico, costumamos ressaltar apenas a matemática ou a física, só que atualmente os trabalhos estão muito relacionados à biologia, sociologia, antropologia, e há muitos artistas trabalhando nessa área, em diálogo com cientistas que estão explorando os novos limites da experiência e do conhecimento. Na minha opinião, o artista, e não apenas os cientistas ou o mercado, tem hoje o papel de produzir experiências e conhecimento que não sejam só uma experiência estética, mas que também lidem com o movimento físico e a percepção. priscila arantes – Quanto à discussão sobre a estética que você levantou, fór um on -lin e o jornalismo on-line: a “competição” com os blogs; além de produzir conteúdo específico para suas versões on-line, acho que os jornais precisam começar a pensar também em uma forma de abarcar a natureza da notícia on-line, que é horizontal, distribuída e mais democrática, vocês não acham? (Citação de Juliana Monachesi no Pré-Fórum On-line dos alunos do Centro Universitário Senac). A tendência convergente das mídias digitais aponta para a criação de novas redes de informação, mas também para o fortalecimento de organismos já estabelecidos, que se adaptam aos novos meios. Quem poderia citar exemplos de sites que pratiquem um jornalismo próximo ao que Juliana Monachesi sugere, “horizontal, distribuído e mais democrático?”. 90 serei rápida. Creio que, primeiro, existe a estética tradicional, ligada à forma do objeto. É um conceito que, tradicionalmente está relacionado à idéia do belo, como algo que representa a forma ideal e perfeita, única e fixa. Este conceito tradicional de estética também revela a idéia de uma atitude contemplativa do sujeito em relação ao objeto único. Na atualidade, com as mídias do tempo, cinema, vídeo e mais recentemente as tecnologias informacionais, a idéia de uma “forma”, fixa, imutável se rompe. Daí o termo “interestética”: uma estética da interface que prevê uma troca de informação humano-máquina. Em projetos tais como os de Daniela e Rejane não se trata de observar um objeto que tem forma fixa e imutável, mas de um projeto que pressupõe um fluxo de informação, uma relação, uma conexão, uma interface homem/obra. Por outro lado, pensar em “interestética” significa também em pensar em conexão, em fluxo e interface de áreas distintas, tais como a área da arte e da ciência. Não que o interfaceamento entre estas áreas seja recente. Basta lembrar dos trabalhos de Leonardo da Vinci e toda a produção desenvolvida no Renascimento baseada na perspectiva e no desenvolvimento de dispositivos ópticos. A relação entre arte-ciência é muito antiga; o que mudou é que atualmente trabalha-se com fluxos de informação, com programas, com algoritmos. romero tori – A arte e a ciência – cuja relação, como bem colocou a Priscila, vem desde as suas origens –, em algum momento, começaram a ir por caminhos diferentes, mas, agora, percebe-se a necessidade desse reencontro, que está acontecendo nos trabalhos que foram aqui expostos, muitos até com efeitos econômicos bastante visíveis. Fica a dúvida se as empresas pesqu isa, formação e mer c ado Laís Cerullo Enviada: Sex Mai 26, 2006 12:52 pm Assunto: Re: Citando Juliana Monachesi Alguns jornais estão disponibilizando espaços para os leitores, como por exemplo o jornal Estadão – agência de notícias (www.estadao.com.br). Com o crescimento dos blogs, alguns jornalistas criaram os seus: http://noblat1.estadao.com.br/noblat/index. html, blog do Noblat, e http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br, blog do Josias. Os jornais também estão criando seus próprios blogs, por exemplo o jornal inglês The Guardian (http://commentisfree.guardian.co.uk/index.html) e o também inglês Telegraph (http:// blogs.telegraph.co.uk). Com esse canal, a interação entre leitor x jornalista e leitor x leitor se estreitaram e criaram novas formas de gerar conteúdo. fór um on -lin e 91 pesqu isa, formação e mer c ado que comercializam tecnologia são de tecnologia ou de design, pois os equipamentos têm basicamente as mesmas funcionalidades, mas todo mundo os quer com um determinado design, uma determinada marca. A criatividade brasileira e seus artistas já são bem reconhecidos no mundo inteiro e, como o professor [João Antonio] Zuffo mostrou, também desenvolvemos tecnologia. Temos, portanto, inserção internacional também na área tecnológica. Então, eu noto uma boa perspectiva para o país, e isso entra na questão das políticas públicas, de vários paradigmas que precisam ser repensados aqui no Brasil. Nosso grande potencial não está só na exploração do petróleo, está também na exploração dessa junção multicultural própria do país, com suas diversas culturas – da arte, da ciência, da tecnologia – nessa facilidade que o brasileiro tem de inovar, de criar. Já foram citados vários exemplos da nossa ousadia – a questão do imposto de renda, da urna eletrônica etc. Então, eu queria que a mesa discutisse um pouco essa questão do método científico e do método criativo: o que um teria a aprender com o outro, como unir ousadia sem amarras com um ceticismo metódico e chegar a algo que realmente inove, para mostrar ao mundo que o Brasil tem muito a contribuir nessa área que permeia a arte e a tecnologia? joão antonio zuffo – O cientista tem sua criatividade limitada pelo rigor científico. Dessa forma, ele perde muito da liberdade criativa. Já o artista, não, ele entende essa preocupação e é capaz de criar e achar novos caminhos científicos que, antes, o rigor científico havia limitado. Isso ocorre freqüentemente, tanto que descobertas acabam não sendo fór um on -lin e leandrops Enviada: Sex Mai 26, 2006 6:51 pm Olá, Laís, este crescimento dos blogs dentro de grandes portais de informação parece, além de uma adaptação lógica à necessidade de atualização, uma resposta ao rigor de pauta sobre o qual se estruturam os negócios das redes de notícia. O velho jornalista formador de opinião é uma idéia deslocada no atual cenário em que faculdades formatam profissionais pro boicote da edição. O blog surge nesse contexto como uma espécie de reserva moral da liberdade de opinião. É um espaço em que o jornalismo pode ser exercido mais isento da idéia mais-ou-menos absurda de imparcialidade. Acredito que os sítios de notícia tendem a se tornar grandes portais de blogs, através dos quais se desenrolem assuntos específicos – política, cultura, 92 feitas exatamente porque o rigor científico limita a criatividade. Gostaria de chamar a atenção para um ponto: esta chance de se expor uma programação gráfica, associada à ciência abre novas oportunidades de se desenvolver a aplicação científica, devido à ausência das amarras existentes nas ciências. daniela kutschat – Muito complexo isso tudo, não? O fato é que nós todos, espero que a Telefonica também, estamos dispostos a trabalhar juntos de alguma forma. Mas os métodos artísticos também têm rigor – isso eu gostaria de deixar bastante claro –, mas é outro tipo de rigor, e, como disse Beuys, a ciência da arte é a liberdade. Isso realmente é um fato. No entanto, existem metodologias que são empregadas na arte, e qualquer artista as utiliza, embora não as venda tão bem quanto a ciência. Utilizamos os geométricos, intuitivos geométricos, fenomenológicos, campos lógicos, campos perceptivos, ou seja, campos de investigação que exigem rigor lógico, tanto quanto a investigação artística. A grande questão agora é como fazer com que haja uma política pública para essa área de inovação. Há, por exemplo, agências de fomento acadêmico, algumas iniciativas, mas não existe, de fato, uma política pública que fomente esse campo de investigação, que é nebuloso, por ser híbrido. Portanto, se você se vale do rigor tecnológico da área das ciências puras, que é diferente do das ciências humanas, quem vai avaliar isso? Teria que haver uma comissão, pessoas, como nós, que tivessem interesse em discutir isso. Este é o primeiro ponto. Não existe um modelo rígido, fechado. Segundo, eu gostaria de ressaltar que, de fato, não perce- pesqu isa, formação e mer c ado tecnologia, sob a real assinatura de alguém, a quem se possa responder, com quem se possa dialogar, gerando opinião através de debate, e não somente a partir da insígnia do veículo... Assim, possivelmente, teremos veículos mais capacitados a pensar a realidade ao invés de meramente filtrá-la. Dê uma olhada nessa interessante leitura sobre os mandos e desmandos da revista Veja no sítio novae: http://novae.inf.br/pensadores/veja_invencoes_elite.htm. fór um on -lin e OP_ERA , Daniela Kutschat Hanns e Rejane Cantoni Nani Brisque Enviada: Qua Mai 17, 2006 7:20 pm Assunto: interfaces emergentes: OP_ERA 93 pesqu isa, formação e mer c ado bo no Brasil uma política cultural que estimule isso. O que existe é uma política tributária, por isso o artista tem que bater na porta das empresas e dizer: “Olha, você pode deduzir X, Y, Z do seu imposto me fomentando”. Isso não é política cultural. Esta é uma questão que o Romero abordou: qual segmento nós representamos, que novo segmento emergente é este em que os cientistas têm que estar junto com as empresas de tecnologia e com a comunidade “criativa”, que não são só os artistas, mas também os inventores? É um problema importante, tem que existir fomento, tanto público quanto privado. Agora, afirmar que dedução de imposto é política pública, cultural e de incentivo, eu questiono. daniela bousso – Concordo com você, pois as políticas públicas, de forma geral, resistem muito ao que é inovador. Esse é um ponto fundamental, mas eu me pergunto como é que as políticas públicas poderiam ser mais estimuladas. Se observarmos o resultado do ponto de vista de estímulo às artes que elas têm dedicado ao novo, podemos dizer que elas se pautam um pouco assim: a arte mais convencional tem um certo escoamento no mercado de arte, mas isso não é suficiente para que haja uma política pública para as artes visuais de verdade. Esse mercado de arte das galerias, que é tão incipiente, não gira uma economia capaz de motivar as políticas públicas, não é? Então eu sugiro que nós comecemos a pensar no mercado de uma forma mais ampla, quer dizer, que a nossa noção de mercado extrapole um pouco a galeria, a idéia de que é nela que o artista tem que vender a obra, e precisamos começar a pensar um pouco em como podemos constituir, fór um on -lin e Creio que a exploração de artifícios para a interatividade homem-máquina passa inevitavelmente pelas possibilidades técnicas disponíveis no entorno. Creio que associar dispositivos eletrônicos, mecânicos e físicos é imprescindível. Estamos no momento de explorar meios para viabilizar uma proposta, não podemos censurar sua forma. Não é hora. Creio que os dispositivos não-naturais devem fazer parte de um conjunto de elementos para poder ser abstraído. Talvez estes elementos possam criar uma harmonia para que a relação do conjunto seja cada vez mais completa, cada vez mais imersiva. Creio que dinâmicas maiores deverão ser exploradas na evolução dos processos e isso haverá de considerar o desenho do espaço, ângulo de projeção, temperatura do ambiente, áudio, tempo de imersão, disponibilidade do usuário, aparatos eletrônicos, sensores, texturas, cheiros, entre outras questões pertinentes ao design. 94 de fato, um mercado que se transforme, inclusive, em economia. Eu acho que, no bojo dessas questões, há sempre a econômica, que não se resume em nos mobilizarmos ou não. Assim, eu sugeriria o primeiro ponto de discussão para as empresas, aproveitando aqui a presença da Telefonica. A Rejane [Cantoni] diz sempre: “A produção artística de hoje é o eletrodoméstico de amanhã”. Então, há essa necessidade de ampliar a atitude do mercado de modo que este passe a incorporar o artista que pesquisa no campo da invenção, seja na área da realidade virtual, seja na das telecomunicações, da internet móvel, da fotografia, enfim, do design, pois se trata da mesma coisa. Eu, por exemplo, trabalho dentro de uma instância de política pública e devo dizer a vocês que o Paço das Artes é chamado de “xiita”, porque um dos campos que estimulamos, um dos braços ao qual damos apoio, é o da arte-tecnologia. Então, está bem, somos xiitas, e daí? Essa é a questão que coloco. É verdade que as políticas públicas existem mesmo, mas é verdade também que a instância de organização e de mobilização das políticas públicas está na economia e, antes da economia, na nossa capacidade de organização. patrícia canetti – Queria pegar o gancho de produção, de mercado e de escoamento de produção e fazer uma pergunta para a Karin – porque foi dito aqui que a colocação desse novo produto, a IPTV, já está acontecendo na Espanha – e gostaria de estender a questão também à Daniela Bousso e ao Eduardo Brandão: em que momento as instituições, que são as fomentadoras da produção de conteúdo, vamos chamar assim, da pesqu isa, formação e mer c ado Atualmente não conheço os dispositivos que foram utilizados no projeto OP_ERA, só sei que envolvia uma série de dinâmicas de programação em tempo real, o que possibilitava ao usuário “interferir” nas imagens e no som na dimensão no qual estava imerso. O equipamento em si eu desconheço, suponho que seja como um mouse, ou um sensor que ativa estas conexões. Um óculos em alguns momentos era utilizado. fór um on -lin e leandrops Enviada: Qua Mai 17, 2006 11:25 pm Assunto: entrevista na nyarts De acordo com as teorias físicas, vivemos num mundo tridimensional. Mas o que o trabalho de Rejane Cantoni e Daniela Kutschat acaba por demonstrar é que há mais 95 pesqu isa, formação e mer c ado “arte e tecnologia”, vão deixar de ser “espaços físicos”, de estar “fisicamente” no mundo? Quando é que esse conteúdo vai entrar em rede, em IPTV, e as instituições vão assumir esta outra forma, e, assim, deixar de existir como salas expositivas? karin ohlenschläger – Acho que precisamos considerar que as instituições são feitas por pessoas, indivíduos; portanto, é importante manter e aprofundar o diálogo entre as pessoas, esse é o ponto de partida. Não confio, não acredito mais nos argumentos: “ah, porque os políticos, porque as instituições, porque o mercado...”. É necessário falar sobre pessoas, creio que é muito mais fácil. Eu poderia explicar, nesse contexto, as nossas atividades e o tipo de estratégias que desenvolvemos para entrar em um centro cultural que, até então, era muito conservador. Houve muitas mudanças nos últimos quatro anos, porque muitos dos jovens entraram e as coisas mudaram, ficaram mais dinâmicas, até mesmo os políticos mudaram porque viram que estava acontecendo algo importante para os jovens e para as pessoas em geral. Nós temos muito público, muitas discussões, muitos encontros, e o tipo de mostras e atividades que propomos, por um lado, têm o formato de oficinas, em que podemos usar softwares e aplicar tecnologia em novos eventos e processos. Por outro lado, quando organizamos mostras, procuramos não enfatizar apenas novas tecnologias, porque não estou interessada na tecnologia em si, e sim nos conceitos que estão por trás da nova tecnologia. Tentei explicar na minha palestra que fizemos mostras que lidavam fór um on -lin e dimensões do que nossos dedos podem contar. Construído como uma ferramenta multisensorial de experimentação do conceito de espaço, OP_ERA é uma espécie de instalação imersiva que, através da sincronia de feixes de luz, simula a revelação de uma nova dimensão. Leia a íntegra da entrevista de Roberta Alvarenga com as artistas no sítio da NY Arts: http://nyartsmagazine.com/index.php?option=com_content&task=view&id=3461&Ite mid=211. p e s q u i s a , f o rmação e merc ado – c o b e rt u r a das palestras presenciais A idéia da primeira mesa do fórum Conexões Tecnológicas era aproximar as discussões 96 com as complexidades e com as estruturas não-lineares presentes na física, na matemática, na pintura, fotografia, cinema e, com isso, as mídias tradicionais puderam se vincular com as novas, mas a ênfase está no conceito, por isso escolhemos esta estratégia de integração da arte tradicional com a nova, e muitas obras em novas mídias estão diretamente conectadas com o que aconteceu em meados do século passado. Queremos mostrar exatamente esse tipo de conexão, essa evolução. O suporte não é tão importante quanto o conceito. Por exemplo, tivemos uma mostra sobre metabolismo em comunicação, ou biologia e telecomunicações, e também falamos sobre as questões mais amplas relacionadas à arte e à vida: como foi a sua evolução ao longo do século 20, e o que acontece no organismo, nessas estruturas abertas de interação e com essas novas instalações multimídias de massa. Procuramos sempre trabalhar com um conceito que seja mais do que um instrumento. Esse é o tipo de estratégia que precisamos para conectar as artes em novas mídias com as tradicionais. Para mim, é fundamental falar sobre arte – a arte contemporânea, a arte do século 21 – e reconhecer que ela está evoluindo, assim como todas as outras experiências e expressões do conhecimento humano. Gosto, se possível, de participar dessa evolução, por isso conseguimos realizar tudo o que temos realizado. Começamos num espaço bastante limitado, com quatro pessoas, e fomos crescendo, amadurecendo e percebendo também que a necessidade das pessoas não era somente ter acesso às máquinas. Porque no Medialab as pessoas podem produzir, as máquinas estão lá disponíveis, mas pesqu isa, formação e mer c ado que dizem respeito à produção cultural/artística às discussões de mercado/produção tecnológica. Conforme explicou a mediadora desta mesa, Priscila Arantes, ao fórum do Canal: “O universo artístico/experimental tem produzido não somente tecnologia – muitos artistas produzem interfaces inovadoras, desenvolvem softwares, etc. – como também tem se utilizado das mesmas tecnologias que estão presentes no mercado. Veja, por exemplo, trabalhos com wireless, eventos como o Motomix etc. Ou seja, tem havido cada vez mais uma aproximação, ou melhor, uma contaminação destas áreas: produção artísticaexperimental/mercado. Veja, também, o projeto Calhau da Giselle Beiguelman, que de certa forma coloca isto em discussão ao dispor trabalhos em banners publicitários. Por outro lado, ainda há uma dificuldade muito grande de aceitação por parte das galerias fór um on -lin e 97 pesqu isa, formação e mer c ado elas não vão lá só por causa delas, elas precisam estar em contato com pessoas que estejam numa situação semelhante, que compartilhem as mesmas preocupações, questões e problemas vinculados à nossa sociedade digital em qualquer que seja o contexto. Então, é importante esta oportunidade de diálogo mais aberto, de troca. É importante haver um ambiente, uma atmosfera que promova isso. Para tanto, você não precisa de uma infra-estrutura muito grande, nem que as políticas mudem, é só ter um espaço, tentar preenchê-lo com a energia das pessoas, das idéias. Para mim, é assim que as coisas funcionam, é dessa forma que elas vão crescendo, de baixo para cima, e não de cima para baixo, de uma forma fechada. Bom, espero ter respondido a sua pergunta. ana tomé – Eu trabalho também para uma organização espanhola, a Agência Espanhola de Cooperação Internacional. Gostei muito da fala da Karin porque a gente comete um erro quando coloca mais ênfase nos instrumentos do que nas idéias. Na minha opinião, um dos aspectos mais importantes do Medialabmadri é o de criar um ponto em que diversos interesses possam se misturar e produzir diferentes idéias, ou as mesmas idéias sob outras perspectivas. Foi importante você mencionar que as instituições políticas, não somente empresas e as virtuais, são feitas por pessoas, integradas por pessoas. Por isso, é fundamental trabalhar para encontrar uma linguagem comum e que permita projetos comuns. Às vezes, temos esse problema de encontrar a linguagem que acerte os diferentes interesses, backgrounds e oportunidades para desenvolver o fór um on -lin e de trabalhos de arte e tecnologia... Será que seria o caso de se pensar em galerias ou em ‘bancos de projetos’?”. A idéia da mesa era incentivar o debate acerca destas novas searas da produção artística tecnológica que se mistura cada vez mais com o mundo do mercado/tecnologia e tentar perceber, a partir destas características, quais os novos circuitos que ela demanda: que acervos, galerias, banco de projetos, banco de dados, museus virtuais etc. Neste tópico de discussão, vamos apresentar resumos das palestras que aconteceram no fórum presencial do dia 26 de maio pela manhã e, com a participação dos membros deste fórum on-line, vamos ver se levamos adiante alguns temas e, sobretudo, vamos ver se destrinchamos o abismo que se viu entre a “fala da instituição”, a “fala do mercado”, a “fala da academia” e a “fala do artista”. 98 trabalho. Daí a importância, na perspectiva dos projetos futuros, da ênfase que ela deu ao conceito mais do que às mídias, porque isso evolui, ora é uma coisa, ora é outra. giselle beiguelman – Eu queria, sem discordar da questão do conceito, colocar algo que, muito provavelmente, esteja em um dos vértices das nossas incompatibilidades ou dificuldades de entender como é o mercado, seja ele de arte, seja de telecomunicação propriamente dito. A relevância para nós – e espero que a apresentação da Rejane e da Daniela tenha sido suficientemente esclarecedora nesse sentido – está no conceito inserido na própria tecnologia que vem sendo desenvolvida. A grande dificuldade de diálogo que temos com grande parte das instituições culturais e com as agências de pesquisas é no sentido de evidenciar o quanto a nossa estética está vinculada a um algoritmo que pode ser entregue em um mero disquete, que não necessariamente demanda um HD de não sei quantos gigas. O que é muito difícil e assustador é que essa falsa ou velha idéia da representação colide com o tipo de programação estética com a qual nós estamos envolvidos de ponta a ponta. De modo que o conceito não só aí é uma idéia, ou um ponto de partida teórico, como também é, em si, uma experiência pragmática, e a invisibilidade desse processo, do tipo de criação que desenvolvemos, e a importância que ele ocupa no nosso trabalho talvez seja um dos nossos pontos de maior fricção com as instituições com as quais nós nos relacionamos. Sem discordar que o conceito, óbvio, é importante, para nós ele não é só composto pelas idéias, como também pelos princípios temáticos e pesqu isa, formação e mer c ado Da pesquisa básica ao impacto cultural Karin Ohlenschläger, co-diretora do Medialabmadrid e curadora de arte contemporânea e novas tecnologias, falou sobre as interconexões entre arte, ciência e novas formas de conhecimento. Começou citando Foucault, segundo quem o mundo não é mais experimentado como um estado, mas como uma rede. Para Karin, a resistência ao olhar transdisciplinar é datada e contrária ao conhecimento no contexto atual. “Arte e ciência são inseparáveis do contexto político e econômico que lhes dá vida, e mudam a forma como nos relacionamos com o mundo, porque tornam visível o invisível”, afirmou. Como se não bastasse a resistência ao conhecimento transdisciplinar, ainda estamos presos a estereótipos consolidados no século 18 sobre ciência e arte: a primeira seria fór um on -lin e 99 pesqu isa, formação e mer c ado teóricos orientadores do trabalho. Os conceitos estão nas opções tecnológicas, de programação, no tipo de equipamento utilizado, e essa consciência de ambas as partes facilitaria enormemente o nosso trabalho com as instituições que gostaríamos que nos recebessem. Não por acaso, o nosso grau de isolamento é sintomático, não só no Brasil. É visível e notória a necessidade de um museu especializado em mídia – como ZKM, Medialab ou MECAD – e de que transitemos o tempo todo em exposições especialmente devotadas à criação com mídias digitais. De modo que há um problema, no nosso ângulo de visão, de participação, assim como de recepção e crítica do nosso trabalho, que acaba demandando um circuito paralelo e fechado que cria essa bola de neve, da qual nós queremos sair, mas, ao mesmo tempo, não podemos. É preciso termos consciência de algumas estratégias de defesa que desenvolvemos no processo e de quanto, talvez, elas estejam se tornando um ovo da serpente contra nós mesmos. Acabamos dependendo de circuitos extremamente especializados, com os quais temos dificuldade de dialogar, e aí se somam a nossa dificuldade de mercado e a outra que nós criamos nesse processo, não é? rejane cantoni – Claro que é feito por pessoas e é claro que o conceito permeia esta pesquisa, tanto que, no Brasil e fora dele, boa parte das pessoas que estão trabalhando com arte e tecnologia é composta ou por professores universitários ou por quem tem uma formação altíssima, são doutores etc., esse é o nosso caso. Aqui todos nós trabalhamos na universidade, onde as idéias estão circulando, e estamos dividindo nossas idéias fór um on -lin e “objetiva”, a segunda, “subjetiva, fruto de alguma forma de inspiração divina”. Segundo a curadora, “hoje sabemos que não é a natureza que nós olhamos e sim a natureza vista a partir de nossa forma cognitiva de olhar”. Karin Ohlenschläger citou a diferenciação que Manuel Castells faz entre “flow” e “places” [tema que voltaria à tona na palestra de Brian Holmes] e defendeu que o papel dos artistas é transformar a dinâmica destes dois espaços. “A referência hoje não é mais a superfície do mundo, mas sua estrutura. O tempo é a matéria-prima dos artistas no século 21”, afirmou. Ao final de sua fala, descreveu o funcionamento do Medialabmadrid. “O que uma instituição pública pode fazer para contribuir com esse novo contexto? Dando espaço para a reflexão e a pesquisa. Esta é uma missão básica para todos os sistemas democráticos”. 100 com outras pessoas, mas a universidade não financia o nosso projeto. Não há dinheiro. Não há laboratórios. Custa muito caro o que nós fazemos. Pontos de encontro nós temos. O que nos falta mesmo é investimento para o desenvolvimento da tecnologia, porque, como já se falou, a ciência conta com laboratórios, nós não. Como vamos testar nossas idéias? De que adianta pensarmos em coisas, se não podemos testá-las? Parte do processo de fazer é um processo de aprendizado, nós sabemos disso. Fazendo se aprende, isso é vital. Outra coisa, eu entendo que exposições de arte e tecnologia não apresentem trabalhos de ponta nessa área porque custam caro, a manutenção é difícil, os artistas, cujos trabalhos envolvem arte e tecnologia, estão montando pela primeira vez os seus laboratórios. Os nossos laboratórios são portáteis e têm que funcionar, diferente da ciência, na qual as coisas não precisam funcionar porque uma hipótese pode também não ser válida, pois ela já é entendida como um caminho. É importante se eu testar uma idéia e chegar à conclusão de que ela não é válida, e mesmo se não me apontou caminhos, isso também é entendido como conhecimento. Mas, em exposições de arte e tecnologia, nossas máquinas têm que funcionar, elas não são liquidificadores ainda. Trabalhamos com milhões de hipóteses na cabeça e, para viabilizálas, alguém vai ter que comprar a nossa briga, não adiantam os discursos de que nós temos media labs, porque não temos. O MIT é um cenário muito pragmático. Por que toda a cultura está associada, de repente, a uma relação anglo-saxônica? Como você falou, não é à toa. Porque, no MIT, estou automaticamente conectada com as pesquisas de ponta de pesqu isa, formação e mer c ado Convergência e oferta de serviços de telecomunicações Jonas de Oliveira Junior, um dos diretores da Telefonica Brasil, falou sobre convergência tecnológica, mais especificamente sobre um novo serviço de telecomunicação: a IPTV (televisão via plataforma de serviço telefônico), que – apresentada em tom de panacéia – vai propiciar um número ilimitado de canais. “A massificação deste serviço vai produzir mudanças culturais e alterar nossos hábitos: vamos trocar a locadora de vídeo – espécie em extinção – pela programação de gravação digital. E vai impactar áreas como a publicidade, que vai precisar se adaptar, como a de políticas públicas do governo, uma vez que serviços públicos poderão ser oferecidos por meio da IPTV, eliminando problemas crônicos como as filas do INSS”, profetizou. fór um on -lin e 101 pesqu isa, formação e mer c ado ciência e tecnologia, não existe separação e sim investimento maciço da IBM, Hewlett Packard. O MIT, por exemplo, tem uma publicação anual com as fotos dos alunos que foram patrocinados pelas maiores empresas do mundo. Então, ou trabalhamos neste cenário ou vamos escrever livros (que também é importante), contudo, é fundamental a gente encarar o problema: no Brasil, precisamos ter acesso aos meios, precisamos trabalhar, e a ciência também precisa. joão antonio zuffo – Agora chegou a minha vez de discordar de que a ciência não funciona. Você já imaginou se uma estação espacial ou uma usina atômica não funcionasse? rejane cantoni – Nós precisamos de verbas. Não foi isso o que eu falei. joão antonio zuffo – Mas, de qualquer forma, quero voltar, inclusive, ao assunto do rigor, ao Galileu Galilei que foi citado aqui. Galileu Galilei, se tivesse rigor científico, nunca teria bolado máquinas voadoras, máquinas submarinas, que estavam 400 anos à frente. O Newton, por exemplo, nunca fez isso, nem Kepler. Foi exatamente o espírito artístico do Galileu que quebrou as amarras do rigor científico de sua época. Eu falei na falta do rigor científico, porque ele amarra os cientistas na época em que estão, enquanto o artista pode dar vôos muito mais altos. Esse é o aspecto, eu não quis entrar em detalhes, se bem que não conheço o rigor artístico. Mas, sem dúvida alguma, o rigor científico, eu diria, amarra a criatividade do cientista. Estas amarras que temos na ciência não existem, por exemplo, na arte. Nunca poderia falar, como cientista, sobre dimensões lineares como vocês falam, pois seria considerado “um fór um on -lin e Academia e desenvolvimento tecnológico: LSI-USP O coordenador-geral do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Universidade de São Paulo, João Antônio Zuffo, fez uma apresentação sobre o LSI, um laboratório de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de ponta, um dos mais importantes da América Latina. Tratou das principais linhas de pesquisa que o LSI abriga, como o desenvolvimento de super-computadores escalados/paralelos (clusters) dentro da Divisão de Sistemas Digitais. Destacou também as Divisões de Chips e de Microsistemas. Zuffo mostrou imagens do aparato necessário para criar o cluster gráfico, que funde imagens em tempo real dentro da caverna digital (é a única cave desenvolvida até hoje no Brasil); apresentou a aplicação de um dos projetos do LSI, de tele-medicina, desenvolvido a partir da constatação do alto índice de crianças com câncer em Rondônia e, finalmente, 102 chutão”, entende? Vocês têm um grau de liberdade em termos de ciência muito maior do que eu tenho, quando falo como cientista. Agora, o Galileu tinha essa arte, ele fugia da ciência. daniela kutschat – Vou falar agora da perspectiva do indivíduo: eu, vocês, os artistas mais jovens do que nós. Quando a gente faz pesquisa, como eu já disse, ela pode não ser financiada ou ser financiada apenas parcialmente pela universidade na qual trabalhamos. Lemos, estudamos e sabemos que têm outras tecnologias disponíveis, daí temos que bater na porta do detentor da tecnologia e dizer: “Escuta, sabemos que vocês têm uma coisa muito bacana, será que poderíamos usar essa coisa muito bacana para fazer uma outra coisa bacana?”. Esta é a nossa realidade. Tudo que vem do meio não nos interessa, porque não é a nossa instância, até hoje estamos trabalhando nesse nível, porque é assim, toda vez que terminamos o projeto, acabamos na estaca zero e, financeiramente, até no menos um. Temos um projeto que foi viabilizado assim: tínhamos as idéias e sabíamos o que éramos capazes de desenvolver, mas não tínhamos o dinheiro, e sim um parceiro, uma pequena empresa que possuía um determinado sistema do qual precisávamos. Então pedimos, porque essa é a nossa realidade: “Nós precisamos alugar o seu equipamento, ou nós gostaríamos de comprá-lo”. Ele sorriu e disse: “Olha, custa X”. Ficamos calados durante dois meses. O projeto foi progredindo e desejávamos uma tecnologia melhor, não queríamos fazer de novo o que já havíamos feito em 2001, que é juntar fios. Sabíamos que existia o negócio, queríamos reutilizá-lo de alguma ou- pesqu isa, formação e mer c ado abordou a questão da TV de alta definição em IP. “A geração de conteúdo vira o elemento mais importante neste sistema, porque vai acontecer uma inversão: inúmeros canais sem conteúdo de qualidade para preenchê-los”, sentenciou. fór um on -lin e Interfaces emergentes: projeto OP_ERA As artistas e pesquisadoras Daniela Kutschat e Rejane Cantoni apresentaram o projeto OP_ERA em todas as suas etapas de desenvolvimento e as diferentes configurações que o projeto já teve para apresentação pública, frisando a carência no contexto brasileiro de investimento em projetos deste tipo. Desde 1999 as artistas já criaram sete implementações da ferramenta de experimentação multisensorial OP_ERA, e na maior parte delas, precisaram investir recursos próprios para levar o projeto adiante. Com um texto 103 pesqu isa, formação e mer c ado tra forma e acrescentar coisas a ele. Depois de dois meses, dissemos: “Olha, a gente não pode adquirir, será que é possível alugar?”. E ele respondeu: “Esse equipamento não se aluga, isso aqui se adquire, porque isso aqui segura trem”. Então eu disse: “Ok, mas a gente precisa dele”. E ele: “Eu cedo, empresto para vocês, adianta?”. Assim começou uma relação de parceria. É esse o nosso contexto, não existe nada além disso. Ou seja, é uma luta diária. Por mais que você seja premiado, ganhe dinheiro no fim das contas, tem que começar sempre do zero. E isso é muito desgastante. platéia – Eu gostaria de perguntar, já que a mesa está tratando de desenvolvimento tecnológico de mercado, sobre a questão de criação de público. Como é que os artistas, as instituições públicas – no caso, a USP – e o mercado enxergam isso? Por que a Telemar tem um centro cultural de ponta no Rio de Janeiro e a Telefonica, que tem um público tão grande em São Paulo, consumidor de telecomunicação, ainda não nos premiou com alguma coisa desse nível? jonas de oliveira – Deixe-me ver se entendi a pergunta. Você se refere a um centro físico, um espaço? Claro que a iniciativa da Telemar deve ser elogiada, mas a Telefonica fez uma outra opção. Ela entende que São Paulo já tem esse espaço físico e nós não teríamos muito a acrescentar nesse sentido, porque tanto a capital quanto as cidades do interior já dispõem de espaços físicos razoáveis, compatíveis com as suas demandas. Portanto, vamos investir em outros segmentos, em que talvez a população, a sociedade, esteja mais carente. O grande foco da Telefonica nem é propriamente a arte, e sim a fór um on -lin e pronto e ironicamente didático, Daniela e Rejane fizeram sua palestra em forma de jogral, uma performance pungente sobre a incomunicabilidade entre arte, instituição, academia e mercado. p e s q u i s a , p rodução e merc ado – c o b e rt u r a d o deb ate presencial A primeira intervenção ao final das quatro palestras da manhã do Conexões Tecnológicas foi da debatedora Daniela Bousso, curadora e diretora do Paço das Artes, que perguntou à Karin Ohlenschläger se não seria hora de trabalhar a “interestética” ao tratar de formas de arte na intersecção com a ciência, em lugar de falar ainda de “objetos estéticos”. A co-diretora do Medialabmadrid respondeu que este tipo de arte, para ela, seria mais 104 educação. Todos os programas, sejam realizados diretamente pela da empresa, sejam da Fundação Telefonica, são mais voltados para a área da educação. Desenvolvemos, é claro, algumas atividades em arte, infelizmente não em arte de vanguarda; as pessoas que trabalham para nós, nessa área, são realmente mais conservadoras. Nós ainda estamos no centenário do Mozart, mas investimos sim, seja por meio de investimentos incentivados pela Lei Rouanet, por exemplo, seja por meio de investimento direto da empresa, só que nosso foco é um pouco diferente, ele está na educação. E, para os eventos de artes plásticas ou, principalmente, de música, entendemos que São Paulo já dispõe de espaços e não acrescentaria muito mais a criação de um específico. rejane cantoni – Creio que há público interessado: uma exposição realizada no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília em 2004, que tinha como tema “Expressão, Arte e Tecnologia”, contou com 900 pessoas por dia. O Itaú Cultural, num evento de Arte e Tecnologia, recebe de 1.500 a 2.000 pessoas diariamente. Então, público existe. daniela bousso – Na hiPer, em Porto Alegre, foram 95 mil pessoas em dois meses e meio. platéia – Gostaria de fazer uma pergunta ao professor Zuffo. Professor, eu li recentemente uma obra que se chama Crescimento sem emprego. Consta que o desenvolvimento tecnológico, embora alguns discordem, trouxe uma mudança em relação ao trabalho. Há uma redução nos empregos, a Volkswagen está demitindo na Alemanha e no Brasil. Nos Estados Unidos, a força de trabalho é regulada pelo sistema prisional, 13 pesqu isa, formação e mer c ado bem nomeado como performática porque “cria estrutura e ambiente e convida o interator a participar”. A diferença em relação à performance art tradicional, em sua opinião, é que “este tipo de instalação [referindo-se ao projeto OP_ERA] possibilita experimentar o que é a realidade virtual e como reorientar a estrutura perceptiva e o entendimento de mundo”. São trabalhos que coadunam experiência e conhecimento. “Eu não apontaria apenas a intersecção com as ciências exatas. A sociologia também está sendo explorada pelos artistas. Produzir conhecimento é o papel do artista”, afirmou Karin. O debatedor Romero Tori, professor do Centro Universitário Senac, falou da necessidade de um reencontro entre arte e ciência e perguntou ao professor Zuffo como o método científico e o método criativo podem interferir um no outro. Comentário de Zuffo: “O cientista tem sua criatividade limitada no sentido do rigor científico”. Ao que Daniela fór um on -lin e 105 pesqu isa, formação e mer c ado milhões de pessoas, segundo estimativas, passarão por este setor nesse ano. Portanto, há efetivamente um crescimento da economia, da riqueza humana, mas o que vai acontecer com o trabalho? joão antonio zuffo – O trabalho não vai desaparecer, acredito que, exatamente porque as tecnologias vão entrar em decadência, elas perderão a importância que têm hoje. Basta dizer que o movimento de vocês é o movimento inicial. Vejo isso nos meus livros, eu acho que simplesmente a tecnologia tende a uma curva evolutiva. A ciência, não. A ciência é teórica – a física, a matemática – e, sem dúvida, vai se desenvolver, assim como a espiritualidade, mas vamos passar períodos muito difíceis de adaptação. Eu estou, inclusive, escrevendo um novo livro, no qual, é claro, achei interessante por flagrantes de futuro. São pequenas historinhas que mostram como seria o futuro – a vida em família, o relacionamento social – daqui a 30 anos. Acredito que essa transição vai ser muito dolorosa, como foi a do período agropastoril para o industrial – tivemos guerras mundiais, revoluções – e realmente vai mudar todo o relacionamento social nos próximos 30, 40 anos. Essa mudança será muito rápida, a outra levou 400 anos. A perspectiva me assusta um pouco, porque não dá para prever como será o futuro. Eu estava citando como a imagem vai mudar completamente o mercado de telefonia celular e, inclusive, o das TVs. Você vai ter, sem dúvida, TV, som e IP de forma ilimitada, e as pessoas vão adquirir os seus próprios canais de TV. Em 15, 20 anos, cada um, independentemente, poderá ter um canal de TV. O crescimento da facilidade de acesso à banda e a necessidade de criar conteúdo talvez propiciem um fór um on -lin e Kutschat respondeu: “Os métodos artísticos também têm rigor, também se empregam metodologias no trabalho de arte, mas talvez seja de fato a ciência da liberdade. O problema é como fazer política pública para o campo da criação, para fomentar também este campo de investigação”. Aí se deu o momento alto e mais memorável do debate, quando Daniela Kutschat emendou: “No Brasil o artista precisa ir bater na porta do patrocinador oferecendo incentivo fiscal. Isso, para mim, não é política cultural, é política tributária”. Daniela Bousso fez nova intervenção, sobre a resistência das políticas públicas à inovação, provocando os integrantes da mesa ao apontar o equívoco em não investir em arte: “A criação artística hoje é o eletrodoméstico de amanhã, como costuma dizer a Rejane”, afirmou Daniela Bousso. 106 grande mercado de trabalho no futuro. Na minha opinião, isso é uma vantagem para o Brasil, porque somos naturalmente criativos. lucas bambozzi – O custo no Brasil é um dos mais altos do mundo e o trabalho braçal, um dos mais mal pagos. É a mesma coisa com a perspectiva de que cada um terá um canal, que vem sendo pregada desde o final dos anos 1970 com a difusão dos canais a cabo. joão antonio zuffo – Veja, o problema é outro. No caso da TV a cabo, você tem um número limitado de banda passante dentro do canal, mas, teoricamente, com a fibra ótica, que é do tamanho de um fio de cabelo, poder-se-ia ter um canal para cada fio dentro da terra. Nessa área, os problemas caminham em dois sentidos: de um lado, as bandas passantes estão cada vez maiores, de outro, está se desenvolvendo tecnologias e algoritmos, conseguindo-se concentrar cada vez mais informação. Tanto que, por exemplo, existe o sistema de TV digital da Europa, o WebPac2 tem uma capacidade de compressão, já o WebPac4, tirando algumas redundâncias, consegue uma compressão muito maior. Então, é um problema dizer para onde vai, digamos, a relação social do futuro, ela tanto pode virar uma sociedade de castas quanto entrar em uma idade de ouro. A verdade é que ela vai mudar e esta mudança será dolorosa. Em uma primeira etapa, dentro de 20 anos, talvez o dinheiro seja eliminado para as classes mais pobres. Haverá cupons de compra ou distribuição gratuita de coisas, ou seja, não terá mais sentido o dinheiro circular entre as pessoas mais simples. Ele vai ser mantido pelas classes dominantes ou pelos que detêm o poder. Agora, quanto tempo isso vai pesqu isa, formação e mer c ado Patricia Canetti fez uma pergunta a Karin Ohlenschläger sobre o escoamento da produção em arte digital: “Em que momento instituições que produzem conteúdo vão se voltar para a rede; deixar de existir apenas como salas expositivas e adentrar outro modelo, como o da IPTV, por exemplo?”. “Instituições são feitas de pessoas e é importante falar sempre deste ponto de vista”, respondeu a curadora. Ela contou que o Medialabmadrid era, até quatro anos atrás, um centro cultural conservador que foi se transformando ao longo do tempo por meio de uma série de atividades propostas. “Não procuramos enfatizar novas tecnologias, porque estamos interessados nos conteúdos, nos conceitos, então as atividades são uma proposta de conversar com outras pessoas sobre a sociedade digital”. A debatedora Giselle Beiguelman, artista e professora da PUC-SP, rebateu a afirmação de fór um on -lin e 107 pesqu isa, formação e mer c ado se manter, eu não sei, como não sei quando vai haver uma revolução no país, mas, realmente, teremos transições sociais tão violentas quanto as que estão acontecendo agora com a informação, o que vai surgir depois disso, eu não sei. Pode tender para um lado ou para o outro. Pode ser que haja um total desprezo pelas classes trabalhadoras, um estado de semiescravidão. Realmente, são várias as possibilidades para o futuro, tudo depende de agirmos agora e termos consciência do que vem por aí. juliana monachesi – Voltando para essas questões todas de ética que discutiremos mais tarde, queria retomar a questão do mercado de arte e aproveitar a presença do Eduardo Brandão aqui como debatedor para perguntar a ele, até pensando no fato da Galeria Vermelho ter aberto um precedente ao pensar em como é que se comercializa fotografia, vídeo etc. – afinal, a galeria tem um papel importante no sentido de mostrar que isso é uma questão de ponta –, queria perguntar se você tem algumas idéias a respeito de como comercializar trabalhos como o OP_ERA, obras em novas tecnologias, de forma que cheguem ao mercado. rachel rosalen – E eu queria fazer uma pergunta para o Jonas, da Telefonica. Para mim, não ficou muito clara a separação entre cultura e educação. Um projeto cultural no qual uma empresa como a Telefonica, por exemplo, resolve investir, montando um laboratório de mídia e de pesquisa, leva os alunos a trabalharem lá dentro, a fazerem uma pesquisa séria. Na minha opinião, isso é um projeto de educação, não só um projeto cultural. priscila arantes – Eduardo Brandão, você pode responder à provocação da Juliana (risos). fór um on -lin e Karin: “Talvez a incompatibilidade com os mercados, o de arte ou o de tecnologia, seja decorrência da falta de entendimento de que o conceito está dentro da tecnologia que está sendo desenvolvida”. O mercado teria dificuldade em entender, por exemplo, que a criação artística pode estar vinculada a um algoritmo que cabe dentro de um simples disquete. “No tipo de criação que desenvolvemos, os conceitos estão nas escolhas tecnológicas que fazemos. E o grau de isolamento da produção em novas mídias é sintomático: é notória a demanda de um circuito fechado e paralelo, é notório que seja necessário um museu específico ou um medialab. É preciso ter consciência das estratégias de defesa que nós mesmos desenvolvemos. Nós dependemos de circuitos ultra-especializados, ou seja, a dificuldade de inserção no mercado é fruto de uma situação que nós criamos”, afirmou Giselle Beiguelman. 108 eduardo brandão – Não é bem uma provocação. Esse assunto é muito delicado. Quando se faz uma exposição em galeria, também se pensa se ela é uma exposição de tecnologia ou de arte. Normalmente, os vídeos entram dentro de uma curadoria e, até agora, percebi que é o mais caro, porque você tem que comprar um monitor de vídeo, computador, projetor, e ainda há a venda de fotografia, pintura, escultura. Agora, a grande batalha, por menor que seja, é continuar colocando vídeos junto à gravura e à fotografia, e não deixar de expor a obra porque é uma tecnologia muitas vezes difícil de pagar. O grande investimento da galeria está em manter um site atualizado. Parece incrível, não é? É caro. Cometemos vários erros. O aprendizado é caríssimo e parece um absurdo, dentro dessa conversa toda aqui. Enquanto falávamos, fiquei pensando: como manter um site atualizado se, para isso, você deve gastar todo o dinheiro que ganha? É impressionante. É um investimento. Manter a informação do que se tem, em termos de pensamento, sobre a obra do artista, é o investimento maior da galeria. Portanto, é um momento delicado para essas artes coexistirem, mas ainda o que mantém a gente mostrando para o público essa experiência é a venda da outra arte. É isso o que acontece. priscila arantes – Obrigada! Jonas, você gostaria de responder à questão da Rachel? jonas de oliveira – Rachel, se dei a impressão de que cultura e educação são duas coisas separadas, não era esta absolutamente a minha intenção. Eu queria então reparar a frase. Damos apoio à educação formal da esco- pesqu isa, formação e mer c ado Rejane Cantoni voltou a chamar a atenção para as dificuldades com o projeto OP_ERA: “O que nos falta é dinheiro, é investimento em tecnologia, porque parte do processo de fazer este tipo de trabalho é testar. As mostras de arte/tecnologia não exibem trabalhos de ponta porque muitas vezes a exposição significa para o artista a montagem de seu primeiro laboratório”. A perversão apontada pela artista é que nas exposições de arte/tecnologia, cobra-se que as máquinas funcionem, ao contrário da ciência, em que uma idéia não precisa necessariamente dar certo. “Quando uma experiência em ciência dá errado, isso também é considerado produção de conhecimento, na arte não é assim”, desabafou. E, em sendo assim, se os artistas não têm acesso aos meios para trabalhar e testar e errar, os trabalhos são inviabilizados. fór um on -lin e 109 pesqu isa, formação e mer c ado la pública, colocando à disposição das pessoas meios e instrumentos de conectividade ou de conteúdo, dos quais elas, por uma série de motivos, não dispõem. Temos projetos muito importantes na área de conteúdo educacional, apoiando os professores e os alunos da escola pública. priscila arantes – Ela perguntou por que não colocar um centro de mídia nessas escolas públicas para incentivar a produção. jonas de oliveira – Você tocou num ponto que eu não tinha pensado em antecipar aqui, mas este é exatamente um dos próximos projetos em que estaremos envolvidos: exatamente um laboratório. Num primeiro momento, seria um laboratório de mídia que serviria como demonstração e como célula, que pudesse ser, depois, replicada, principalmente na rede de ensino público. Nós ainda estamos construindo esse projeto. rachel rosalen – Mas é um projeto que contempla, por exemplo, as pesquisas de artistas – como os projetos de OP_ERA – ou ele aproveita a tecnologia da Telefonica de maneira a criar um mercado? Ou seja, quem que está envolvido nesse projeto? Como é que isso está sendo pensado? jonas de oliveira – Ele é público, já que as propostas que chegam são muito interessantes, porém um pouco avançadas. Talvez o laboratório vá, num primeiro momento, contemplar propostas um pouco mais convencionais de criação de mídia, digamos. priscila arantes – Eu vou passar a palavra a Wilma e em seguida precisamos encerrar os debates. wilma motta – Olha, eu quero só trazer aqui uma palavra de ânimo (risos), porque creio que a realidade é sempre muito perversa. Aqui, no fór um on -lin e Zuffo rebateu: “Mas a ciência também tem que funcionar. Imagine se algo não funciona em uma base aérea”. Algumas pessoas da platéia responderam quase em coro: “Mas a ciência tem os laboratórios...”. Zuffo complementou dizendo que o contexto científico goza de uma liberdade muito reduzida: “Eu seria considerado um chutão se falasse da quarta dimensão como vocês falam [referindo-se a uma das implementações de OP_ERA que as artistas haviam apresentado]”. 110 111 pesqu isa, formação e mer c ado Brasil, se pensarmos como a realidade social é dramática, nós estamos numa instância privilegiada. Uma palavra de ânimo: sinto que, pelo caminho percorrido durante essas seis edições, o Instituto Sergio Motta e o Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia estão, gradativamente, conquistando espaço e se tornando uma referência. Aquilo que nos abriu as portas foi a imagem do Sergio e o desejo de perpetuar sua memória, mas hoje, as realizações do Prêmio têm a capacidade de agregar pessoas sérias, com desejo de realizar. Hoje estamos aqui realizando concretamente esse objetivo, com tantas pessoas participando e se debruçando nesta discussão. Tem uma equação aí, a presença da Telefonica, da Universidade, do público, dos nossos convidados estrangeiros é um resultado muito importante que, a partir desse fórum, se multiplicará e poderá gerar uma mudança efetiva na cultura do empresariado brasileiro. Como faço a parte institucional do Prêmio, fiquei, a cada ano, abrindo portas e entendendo que é necessário investir na cultura, na responsabilidade social, mas também é fundamental investir numa produção que, não sei se posso dizer, de vanguarda e que sempre é penalizada. Quem abre a porta arca com a responsabilidade daquilo em que acredita. Penso que estamos todos aqui acreditando que é possível abrir cada vez mais espaço. r e f e r ê n c i as realizad o r e s e pa rt i c i pa n t e s Conexões Tecnológicas é um projeto que foca a revolução digital, propondo aprofundar discussões em torno da inovação tecnológica, da produção cultural e da democratização da informação. Buscando um ambiente fértil para a troca de idéias, realiza um encontro com palestrantes e debatedores de diferentes áreas e utiliza a internet como um espaço experimental para pesquisa e discussão on-line – um espaço informacional coletivo. O formato inovador agregou parceiros de diferentes perfis, que atuaram ativamente para concretização do projeto. Conexões Tecnológicas foi concebido por Patrícia Canetti, Priscila Arantes e Renata Motta. O projeto é uma realização do Instituto Sergio Motta | Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia, Centro Universitário Senac, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo. Contou ainda com o patrocínio da Telefonica, o apoio do Ministério da Cultura e o apoio digital do Canal Contemporâneo. pa l e s t r a n t e s d o f ó r u m p r e sencial André Lemos Brian Holmes Daniela Kutschat Hanns Hernani Dimantas João Antonio Zuffo Jonas de Oliveira Junior Karin Ohlenschläger Lucas Bambozzi Rejane Cantoni d e b at e d o r e s d o f ó r u m p r e s encial Além dos palestrantes, como forma de incrementar o debate, o Fórum Presencial contou com a contribuição de profissionais de diferentes perfis e áreas. Daniela Bousso (Paço das Artes) Eduardo Brandão (Galeria Vermelho) Giselle Beiguelman (PUC-SP) 115 r efer ên cias Guilherme Kujawski (Itaú Cultural) Lucia Leão (Centro Universitário Senac, PUC-SP) Lucio Agra (Centro Universitário Senac) Marcus Bastos (PUC-SP) Ricardo Rosas (escritor e midiativista) Romero Tori (Centro Universitário Senac, USP) canal contemporâneo ww w. c a n a l c o n t e m p o r a n e o. art.br/forum Os debates na internet, iniciados 45 dias antes do início do fórum presencial, tiveram como objetivo promover o efetivo debate em torno dos grandes temas que fazem parte do projeto – Políticas Tecnológicas, Cultura Digital e Comunicação Digital. Estas discussões serviram, não somente de apoio e subsídio para o fórum presencial, como também para todos aqueles interessados em acompanhar o fórum via internet. O fórum on-line foi coordenado por Leandro de Paula e Patrícia Canetti, contou com acompanhamento da jornalista Juliana Monachesi que publicou no Canal Contemporâneo, entrevistas, cobertura das palestras e dos debates e, posteriormente, trabalhou na edição desta publicação. ce n t ro u n i v e r s i t á r i o s e n ac Contribuir para novos cenários de cultura e trabalho, aliando teoria e prática e integrando professores e alunos com teóricos e profissionais do mercado, é a maneira de atuar que o Centro Universitário Senac acredita para expandir o conhecimento e a educação no país. Dentro desse escopo, o projeto contou com os professores do corpo docente do curso de pós-graduação em Mídias Interativas contribuindo junto com os outros palestrantes para o aprofundamento dos temas e projeção de novas formas e rumos da comunicação, cultura e tecnologia na contemporaneidade. Participaram também alunos dos cursos de graduação e pós-graduação na preparação do Fórum on-line e na Mostra que acompanhou o evento. Senac São Paulo Superintendente Universitário de Desenvolvimento : Luiz Carlos Dourado Gerente de Desenvolvimento: Lucila Mara Sbrana Sciotti Coordenadora da Área de Design: Luciana Bon Duarte Fantini 116 a l u n o s pa rt i c i pa n t e s | p e s quisadores do fórum on-line Elaine Cristina Brisque (Tecnologia em Design de Multimídia) Fabíola Neves da Costa (Bacharelado em Design Gráfico) Filipe Negrão (Pós-graduação em Mídias Interativas) Juliana Garcia Sales (Pós-graduação em Mídias Interativas) Lais Cerullo (Pós-graduação em Mídias Interativas) Marcelo Amorim (Pós-graduação em Mídias Interativas) mostra conexões Durante os debates presenciais realizados no Centro Universitário Senac – Unidade Lapa Scipião, foram disponibilizados terminais com acesso a obras on-line de artistas participantes do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia e de alunos do Centro Universitário Senac. pr ê m i o s e r g i o m ot ta d e a rt e e tecnologia Álvaro Andrade – Ciclope.art.br Andrei Rubina – Labirinto Zero Bossanove – Chez si moi Elaine Tedesco – Sobreposições urbanas Fernando Velásquez – O colecionador de espíritos Gilbertto Prado – Desertesejo Guto Nóbrega – Parla 117 r efer ên cias Centro Universitário Senac Reitor: Rogério Massaro Suriani Diretora de Pós-graduação e Pesquisa: Flávia Feitosa Santana Diretor de Graduação: Eduardo Mazzaferro Ehlers Gerente – Unidade Lapa Scipião: Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Coordenador Pós-graduação lato sensu – Unidade Lapa Scipião: Gley Fabiano Cardoso Xavier Coordenadora do Curso Mídias Interativas: Priscila Arantes Coordenadores da Graduação em Design: Alécio Rossi, Eleni Paparounis e Maria Sílvia Queiroga Reis Docentes: Daniela Kutschat, Lucas Bambozzi, Lucio Agra, Lucia Leão, Priscila Arantes e Romero Tori r efer ên cias João Francisco Mariano – PARalelo Jorge Carvalho – notfound404 Lali Krotoszynski – Bodyweave 1.0 Leonardo Cavazzana – ars longa, vita brevis Lincoln Carvalho – REFLORESTAR Luisa Paraguai Donati – Intervalo Luiza Helena Guimarães – Entangled net Martha Carrer Cruz Gabriel – moZaico de voSes Paulo de Tarso Aquarone – Poemas interativos alfabéticos e gráficos Rachel Rosalen – CORPUS URBANUS Ricardo Cristofaro – O colecionador Ricardo Hage de Matos – Teletransport art at teletransport.org Silvia Prado dos Anjos – Nylaia (feels fine) Simone Michelin – Lilliput Stéphane Malysse – OPUS CORPUS Tecka Mattoso e Spetto – Mata digital Thelmo Cristovam – v(g)erme radio Thiago José Coser – Plantação de maçãs Tina Velho – De todos os dias Valéria de Faria Cristofaro – Possíveis mentiras Vera Bighetti – Projeto gr@fite Yara Rondon Guasque Araújo – Telefagia, esquizolinguagens e libidoeconomia ce n t ro u n i v e r s i t á r i o s e n ac Fernando Fabrini – Inter imperativo Juliana G. Sales – Dona Jouleana no hipertexto Marcelo Amorim – Colorless Simone Jablkowicz – Typetrip Thais Stoklos – Hiperpoesia 118 notas so b r e o s au to r e s andré lemos Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, doutor em Sociologia pela Sorbonne e diretor do Centro Internacional de Estudos Avançados e Pesquisa em Cibercultura, Lemos é autor dos livros Cultura das redes (Edufba, 2002), Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea (Sulina, 2002, 2004), entre outros. É membro do International Advisory Board do prêmio Ars Electronica para a área de comunidades digitais. brian holmes Crítico de arte, ensaísta e tradutor, Brian Holmes vive em Paris e se dedica ao estudo dos cruzamentos entre arte, economia, política e movimentos sociais, particularmente ao mapeamento do capitalismo contemporâneo. Desde o Carnaval contra o capitalismo (1999), Holmes tem tomado parte e escrito sobre inúmeras manifestações contra a globalização corporativa do mundo. É doutor pela Universidade de Berkeley (Califórnia) e autor do livro La Personnalité Flexible: Pour une Nouvelle Critique de la Culture. da n i e l a k u t s c h at h a n n s Artista e pesquisadora de mídias e tecnologias digitais. Artista em Residência no Centre for Advanced Inquiry in Interactive Arts (CaiiA-STAR) em 1998, doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 2002, é professora dos cursos de pós-graduação stricto e lato sensu e da graduação em Design do Centro Universitário Senac. h e r n a n i di m a n ta s Tendo se dedicado desde 1997 ao estudo, debate e construção de projetos colaborativos, Dimantas é autor do livro Marketing hacker - a revolução dos mercados (2003) e co-autor de Software livre e inclusão digital (2003) e DiY Survival – There Is No Subculture Only Subversion (http://c6.org/). Fundou, juntamente com Felipe Fonseca, o projeto Meta:Fora, que derivou para outros projetos, como MetaReciclagem (www.metareciclagem.com.br). 119 r efer ên cias jo ã o a n to n i o z u f f o Professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Em 1975, fundou o Laboratório de Sistemas Integráveis, do qual é coordenador-geral. Autor de 19 livros, dentre eles, A sociedade e a economia no novo milênio, tema de uma série de livros recém-publicados, abordando as transformações em que a sociedade está mergulhada em função do desenvolvimento das tecnologias da informação. jo n a s d e o l i v e i r a j u n i o r Vice-presidente de assuntos regulatórios do grupo Telefonica. ka r i n o h l e n s c h l ä g e r Crítica de arte e curadora em arte contemporânea e novas tecnologias, Karin Ohlenschläger é co-diretora do Medialabmadrid desde 2002. Dirigiu o Cibervision – Festival Internacional de Arte, Ciencia y Tecnología no Centro Cultural Conde Duque (2002), The Chips: Circuitos Emergentes de la Cultura Digital Competition no European Institute of Design em Madri (2001), Cibervisión99 – Muestra Internacional de Arte, Ciencia y Nuevas Tecnologías, no Rey Juan Carlos University em Madri (1999), entre outros. lu c a s b a m b o z z i Artista e professor da pós-graduação lato sensu em Criação de Imagens e Sons em Meios Eletrônicos do Centro Universitário Senac, Bambozzi desenvolve desde o final dos anos 1980 pesquisas em linguagem audiovisual. Entre 2004 e 2006 participou como curador em eventos como SonarSound, Digitofagia, Nokiatrends e Motomix Art. Em 2005 foi homenageado no 20º Videoformes (França) com uma retrospectiva completa de suas obras em vídeo. Atua em vários coletivos de intervenção e performances de live-images. Integra a pesquisa Estéticas tecnológicas – Estéticas emergentes, desenvolvida em um grupo no Centro Universitário Senac com Christine Mello, Lúcio Agra, Nancy Betts e Priscila Arantes. pat r í c i a c a n e t t i ( o r g . ) Artista e criadora da comunidade digital Canal Contemporâneo. 120 Pesquisadora, crítica e curadora na área de arte e tecnologia, professora doutora no Centro Universitário Senac e PUC-SP. r e j a n e c a n to n i Artista e pesquisadora de sistemas de informação. Doutora e mestre pelo Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP; mestre em Visualização e Comunicação Infográficas pelo Programa de Études Supérieures des Systèmes d’Information da Universidade de Genebra, Suíça; e professora do Departamento de Ciências da Computação da PUC-SP. r e n ata m ot ta ( o r g . ) Coordenadora geral do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia e professora mestre na Escola da Cidade. 121 r efer ên cias pr i s c i l a a r a n t e s ( o r g . ) referênc i a s b i b l i o g r á f i c a s b o d i e s a n d f l ow s – t á t i c a s e estratégias d o p ro d u to r d e m í d i a at i v i sta, brian holmes CASTELLS, M. The rise of the network society. Oxford: Blackwell, 1996. v. 1. FRIEDMAN, Jonathan. “Champagne liberals and the new ‘dangerous classes’”. Disponível em: http://uit.no/getfile.php?PageId=5468& FileId=11. Uma versão um pouco diferente do texto foi publicada como “Globalization, disintegration, re-organization: The transformations of violence”. In: J. Friedman (ed.), Globalization, the state, and violence. Walnut Creek: AltaMira Press, 2003. STALDER, Felix. Manuel Castells: The theory of the network society. Cambridge: Polity, 2006. TURNER, Victor. “Liminal to liminoid in play, flow, ritual”. In: From Ritual to Theater. New York: PAJ Publications, 1982. in t e r fac e s e x pa n d i da s : c o n exões crític a, luc as bambozzi BAMBOZZI, Lucas. Art and public spaces, a critical practice. Tese de Mphil (Master of Philosophy), submetida à Universidade de Plymouth, 2006. BAUMAN, Zygmunt. City of fears, City of hopes. London, Goldsmiths College/University of London, 2003. FOSTER, Hal. The return of the real: the Avant-Garde at the end of the century. Massachussets: MIT Press, 1996. HOLMES, Brian. Meshworks and resistance (2002). Disponível em: http:// pzwart.wdka.hro.nl/mdr/pubsfolder/bhflowmaps. PLAZA, Julio. Videografia em videotexto. São Paulo: Hucitec, 1986, p.195. ROLNIK, Suely. 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Disponível em: http:// www.hyperorg.com/misc/metaphysics/index.html. conexões tecnológic a s Conexões Tecnológicas integrou a programação do 6º Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia e foi formatado por meio do estabelecimento de um conjunto de ações – debates on-line (fórum de discussões na internet, cf. www. canalcontemporaneo.art.br/forum), fórum de debates (palestras e debates) e publicação – que tiveram o objetivo de discutir o impacto e as transformações que a sociedade e o ser humano vêm sofrendo em contato com o quadro de invenções e desenvolvimento tecnológico-informacional em seus mais diferentes aspectos. Trazendo nomes do cenário nacional e internacional, o projeto pretendeu promover o efetivo encontro entre cientistas, técnicos, setor empresarial e, principalmente, entre artistas já que são exatamente estes últimos que parecem desenhar novas perspectivas para o futuro, questionando com maior facilidade os vícios de velhos padrões na construção de novos paradigmas. Patrocínio Apoio Digital Membros Corporativos Realização instituto sergio mot ta O Instituto Sergio Motta é um tributo a uma personalidade brasileira que apoiou significativamente a cultura no país e, no período em que esteve à frente do Ministério das Comunicações (1994-1998), teve papel fundamental no processo de modernização das telecomunicações brasileiras. O Instituto foi criado em 2000, como um centro de investigações e de debates, principalmente sobre os desafios do desenvolvimento brasileiro. O Instituto dedica grande parcela de seus esforços a estimular políticas e mecanismos de inclusão social e promoção da cidadania. Apóia também manifestações de cultura e arte, em sua diversidade de formas e suportes, notadamente as que busquem identificar nossa identidade nacional. Nesse referencial, o Prêmio Sergio Motta de Arte Tecnologia – principal ação do Instituto na área da cultura – visa promover a produção artística emergente, democratizando o acesso e a participação à produção cultural contemporânea no Brasil. prêmio sergio mot ta de arte e tecnologia O Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia foi criado em 2000 com o objetivo de apoiar a criação artística em novas mídias. Diversas áreas da criação artística e teórica têm sido contempladas: artes visuais, música, literatura, dança, performance, artes interativas, arte e ciência e pesquisas teóricas. A partir de 2005, o Prêmio tornou-se uma ação bienal. Paralelamente a sua principal ação de fomento da produção artística, o novo calendário prevê a ampliação de ações de reflexão e difusão no campo da cultura digital, com a realização de palestras, fóruns, oficinas, publicações e exposições. Assim, nos anos ímpares passa a ser realizada a premiação propriamente dita e nos anos pares, são realizadas essas ações complementares, entre elas os projetos Conexões Tecnológicas e Territórios Recombinantes. www.premiosergiomotta.org.br Esta publicação foi composta nas fontes Bliss e Proforma e impressa em maio de 2007 pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo sobre papel offset 90g/m2.