o caso igor gouzenko

Transcrição

o caso igor gouzenko
BHtoi,*iOKW.T*i.Z/Lllit.L
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES
UM CASO CONCRETO
O CASO IGOR GOUZENKO
1966
LIO
BR /Wjft'o X<V O. T7H\ T-lU, p. 1
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
SERVIÇO NACIONAL
DE INFORMAÇÕES
UM CASO CONCRETO
O CASO IGOR GOUZENKO
1966
L10
BfiMlsfíiO Xq-O-TW. 2./l*,p.3
O presente documento ê fruto de um minucioso
estudo
dos autos da Investigação e do Julgamento do rumoroso Caso Gouzen
kO| acontecido no Canadá, em 19^5*
Conquanto ocorrido há mais de vinte anos, traz em si,
por tratar-se de um caso concreto, ensinamentos de grande lnterêg
se.
Os documentos originais, publicados pelo governo canadense e aqui resumidos para difusSo mais ampla, encontram-se
na
seçSo Comunismo Internacional da agência central do SNI, no
Rio
2
de Janeiro, edifício do Ministério da Fazenda, 13 andar.
(Cópias destinadas ao uso interno na Comunidade de
InformaçOes)•
5A hHj tio X1-0. Tfíi. 2/M, p-4j
I - CONFIGURAÇÃO GERAL DO CASO
1.
PRELIMINARES
Foi Igor Gouzenko quem revelou a existência, no Canadá*, de uma vasta conspiração visando a obter informaçGes oficiais
secretas,
Gouzenko, enviado ao Canadá em junho de 19^3» c°n ° t£
tulo oficial de "empregado civil" da Embaixada Soviética em Ottawa, era oriptograflsta do quadro de pessoal do adido militar, Coronel Zabotln.
Na noite de 5 de setembro de 19^5» Gouzenko deixou
a
embaixada conduzindo certoroí.r;erf?de documentos de sua seção, inclusive telegramas enviados porá Kosoott, e outros, de lá recebidos, que êle havia cifrado ov-. âecifredo, bem como outros documentos produzidos por funcionários russos da embaixada ou por outras
pessoas que viviam no Canadá. Depois de proceder como fica detalhado no final deste relatório, Gouzenko contou sua história
à
Real Polícia Montada do Canadá que a transmitiu ao governo canadense.
Foi êle, sem dúvida, uma testemunha das mais informativas, revelando a existência de uma organização conspiratória no
Canadá e em outros países* Ele não apenas nos revelou os nomes e
pseudônimos dos organizadores, os nomes de muitos dos canadenses
que caíram "na rede" (para empregar a expressão usada nos documen.
tos) e que atuaram aqui como agentes, mas também muitos detalhes
sobre a montagem da organização, bem como seus objetivos e métodos, aqui e por toda parte.
Não podem restar dúvidas s6bre o fato de que estes esforços, muitas vezes bem sucedidos, para obter informaçffes secretas e confidenciais, não podem ser classificados como casuais
ou
isolados. Não representam apenas a ação de super-zeloses funcion£
&«. fiti, AíO *<\- 0. TPtí. Z / l i , p 5
2.
rios soviéticos, ansiosos por Informar seu próprio governo, A mon.
tagem dessa organização no Canadá é o resultado de longa preparação por parte de pessoas treinadas e experimentadas, que para cá
vieram com o objetivo de conduzir atividades de espionagem e empregaram todos os recursos disponíveis, com ou sem corrupção, para cumprir essa tarefa.
Multas dessas pessoas foram, sem dúvida,
altamente
treinadas em métodos de organização de espionagem, quinta coluna
e técnicas de "promoção" política e psicológica.
0 próprio Gouzenko semente velo para Ottawa depois de
passar pelo treinamento que seus superiores consideravam essencial para o trabalho que deveria executar. Aos 16 anos era
membro
do "Komsomol" ou Liga da Juventude Comunista, movimento cuja fina.
lidade é a preparação dos futuros membros do Partido Comunista e
é por este controlado. Recebeu, Inicialmente, instrução sobre oódigos e cifras em uma escola secreta, sendo seu ingresso nessa ej3
cola precedido por uma investigação completa de sua vida,
pela
N.K.V.D. (Polícia Política Secreta). Posteriormente, foi transferido para a Divisão de Informaçães do Exército Vermelho, em Moscou, onde permaneceu ura ano. Durante esse ano, no curso de
seu
trabalho, tomou conhecimento de vários relatórios e telegramas re,
metidos ou recebidos de diversos países, tratando de assuntos semelhantes aos que agora revelava no Canadá.
aum
Gouzenko nos descreveu o extremo sigilo com que as op£
raçães de espionagem eram conduzidas. Ele tinha seu escritório na
seção de códigos secretos, localizada no 2- andar da
embaixada.
2
Trabalhava na sala 12, uma das oito salas do 2 andar, numa
ala
do edifício cuja entrada era protegida por uma porta dupla de aço
e cujas Janelas tinham barras de ferro e perslanas de aço, que à
noite eram fechadas hermèticamente. Em sua sala havia um cofre on,
de eram guardados diversos documentos importantes das Informações
BtMifiitxl-o-
Tfh.ZJy^^.Ç,
3.
Militares. Os cádigos que Gouzenko usava para cifrar e
decifrar
mensagens eram guardados numa pasta fechada, entregue, todas
es
noites, a um certo Aleksashkln; nessa mesma pasta eram também colocados os telegramas que chegavam de Moscou e os que para lá eram
expedidos. No cofre guardavam-se os arquivos dos agentes, o diário secreto do Cel. Zabotln e outros dooumentos do Serviço de Informações Militares. De tempos em tempos, alguns desses documentos eram destruídos num inclnerador existente na sala 1*K Os crl£
tograflstas das várias seções da Missffo Soviética em Ottawa trabalhavam em salas dessa ala do edifício. As seções eram
cinco:
a da NKVD, a da embaixada propriamente dita, a SeçSo Política, a
Comerolal e a Militar. A SeçSo da NKVD enviava suas mensagens para o QG da NKVD em Moscou. As mensagens do embaixador e seu pessoal eram enviadas ao Comissário dos Assuntos Estrangeiros. A SeçSo Política ligava-se diretamente ao Comitê Central do PCUS.
A
SeçSo Comercial, chefiada pelo adido comercial Krotov,
enviava
suas mensagens para o Comissariado do Comércio Exterior, e a SeçSo Militar, dirigida pelo Cel#Zabotln, adido militar em Ottawa,
comunicava-se com o diretor de Informações Militares, em Moscou.
Cada criptograflsta operava independentemente e usava códigos par,
ticulares, inteiramente desconhecidos pelos demais.
Este extremo sigilo que presidia as relaçOes entre as
diversas seções de espionagem da MlssSo era também presente e levado a sério pelos russos, em suas relações com seus agentes
e
por estes, em seus contactos imítuos. "Queime depois de ler" era a
recomendação normal dada por Zabotln e seus auxillares nas lnstru,
ções por escrito dadas aos agentes. 0 encontro de agentes, à noite, em esquinas e dentro de automóveis, e o uso de pseudônimos e
agentes intermediários indicam o sigilo com que as
operações
eram conduzidas.
Os pseudônimos nSo eram usados apenas pelos chefes do
sistema de espionagem e seus auxillares russos e agentes. Assim,
o Canadá era multas vezes mencionado como "Sesovia"; a Embaixada
Soviética como "metrô"; a NKVD como "0 Vizinho"3 passaportes como
BK/ftlj AlOXq-0.77H'.z/M,pí
*K
"sapatos"; o Partido Comunista do Canadá ou de outras nações, exceto o da Rlíssia, como "A Corporação", os membros do partido como
"Incorporados"} qualquer esconderijo como "dubok"; uma
"frente"
legal para atividades ilegais era um "telhado"J e a
organlzaçSo
de espionagem militar tinha o pseudônimo "Glsel". 0 Coronel
Zabotln era "Grant".
Os recursos em dinheiro empregados pelo Cel. Zabotln pa,
ra financiar suas operações eram enviados de Moscou e o telegrama abaixo, passado por ele, deixa claro oomo era Importante que o
recebimento dessas Importâncias fosse disfarçado:
"Ao Diretor
Embora V. nos esteja enviando as Importâncias
em
dinheiro através da embaixada (metrô), somos obrigados
a receber em bancos. Deste modo, o sigilo fica prejudi.
cado. Poderia mandar-nos dólares canadenses pelo Correio? Isso asseguraria completo sigilo para as
somas
operacionais. No momento, as importâncias que V. está
remetendo nSo estão chamando atençSo, Já" que
estamos
executando obras de reparaçSo, comprando um oarro, há
gente chegando, etc. No futuro, no entanto, isso passa.
rá a chamar atençffo.
"Grant"
11.9.^5
Em outras palavras, conslderava-se que as grandes despesas feitas pelo Cel Zabotln
Em várias instruções a agentes encontramos o seguintes
"...Peço-lhe que instrua cada homem separadamente em
assuntos relativos conspiração em nosso trabalho..."
"...Todo material e documentos passados por
Bacon,
Bazley e Badeau, deverSo ser assinados por seus ape-
SKAtyfUC? XT-0.7YH'.z/ll,p'8
lidos como ficou estabelecido acima»••"
"...Qualquer encontro com Bacon, Bazley e Badeau nffo
deverá ter lugar dentro de casa e sim na rua e, além
disso, Isoladamente, com cada um, uma vez por mês..»"
"...0 material será recebido deles no mesmo dia em que
Vs me encontrarífo à noite. 0 material nSo deverá permanecer de posse Vs por uma noite sequer..."
"...Suas esposas nSo devem saber que Vs trabalham com
eles ou que mantêm encontros..."
"...Advirtam-nos para que se acautelem..."
Gouzenko revelou-nos também que na residência do
CeL
Zabotln havia um completo equipamento para fotografar documentos
a serem enviados para Moscou.
Gouzenko chegou ao Canadá em Junho de 19^3» Juntamente
com o Cel. Zabotin, que tinha o título oficial de Adido
Militar.
Com eles veio o major Romanov, Secretário de Zabotin. Zabotin nSo
veio iniciar uma organização de espionagem, mas continuar e ampli
ar o trabalho de seus predecessores.
Mesmo antes de 192*1- Já havia uma organização no Canadá, dirigida e orientada pela Rússia e operando com simpatizantes
comunistas. Os dois membros mais ativos dessa organização
eram
Pred Rose, nascido na Polônia, e Sam Carr, nascido em Tornachpol,
na Ucrânia. Os nomes de nascimento de Rose e Carr eram Rosenberg
e Cohen respectivamente. Sam Carr (Cohen) que falava russo perfei
tamente, cursou o Instituto Lenin, cujo currículo incluía assuntos políticos e matérias práticas, tais como a organlzaçSo de movimentos políticos, instigaçSo e fomento de greves com objetivos
políticos, métodos de sabotagem, espionagem e lutas de barricadaj
os alunos recebiam sélida instrução como agentes consplradores.
Fase Inicial da Rede de InformacSes Militares
0 Major Sokolov, ao chegar a Ottawa, em 19^2, começou
a reformar a organlzaçSo primitiva existente, orientado por "Moli,
BR /HÜy Aí O X1 • O • mi. 2 / l i , J>.1
er", que foi identificado como sendo um certo Mikhallov, funcionário do Consulado Soviético em Nova York, e que velo ao
Canadá
com essa finalidade. 0 Major Sokolov, cujo pseudônimo era T3avle"
velo para o Canadá antes da crlaçSo da MlssSo Diplomática Sovlét^,
ca, ostensivamente como inspetor ou observador do trabalho das f£
bricas canadenses, em conexSo com o Programa Canadense de Auxílio
à URSS.
Até onde as provas e testemunhas revelaram, o
cabeça
do serviço de espionagem militar no Canadá, depois da chegada do
Ministro Soviético, era Sergei N. Kondrlavtzev cuja funçSo oficial era l 2 Secretário da legaçSo (depois embaixada). Desde a vinda
deste último, até a chegada de Zabotin como adido militar, Sokolov
apresentava seus relatórios e recebia InstruçSes de Kondrlavtzev,
Em junho de 19^3» Kondrlavtzev transferiu Sokolov e a organlzaçSo
de espionagem para Zabotin.
Os fatos básicos a respeito do grupo de Sokolov consta,
vam de anotações feitas pelo préprio Cel« Zabotln, quando assumiu
a organlzaçSo de Sokolov, em junho de 19^3»
As informações que Zabotin obteve de Sokolov foram ano.
tadas por êle, Zabotin, em seu caderno de notas e eram acrescidas
de outras, de tempos em tempos. As páginas referentes à organlzaçSo de Sokolov foram arrancadas do caderno de notas e dadas
a
Gouzenko para que este as destruísse no incinerador.
Essas notas revelaram a seguinte organlzaçSo do
de Sokolov:
grupo
1. Fred ou Debour (Fred Rose) a quem eram subordinados
diretamente:
(a) Gray (H.S. Gerson)
(b) Green (nSo identificado)
(c) 0 Professor (Raymond Boyer)
g* AW, tio X1-0. T^'.2.|ii, p- iO
Os contatos de Rose eram:
1. Preda (Freda Slnton)
2. Galya (nffo Identificado)
2. Grupo auxiliar:
(a) Glnl (não Identificado)
(b) Golia
3. 0 segundo grupo (OTTAWA-TOR0NT0)
(a) Frank ou Sam (Sam Carr)
(b) Pôster (J.S. Bennlng)
(c) Ernst (Erik Adams)
(d) Pollaud ÍF.W. POllaud)
(e) Sureusen (não Identificado)
if. Intermediários russos:
(a) Sra Sokolov (Contaoto entre Sokolove KandrJfív-taav,
provavelmente necessário porque Sokolov, a esse
tempo, residia em Montreal).
(b) Martin (Zheveinov)
(c) "0 Economista" (Krotov)
Chegando a Ottawa, o Cel*Zabotln Iniciou a expansffo da
organização, processo que continuou até sua partida para Moscou,
em dezembro de 19^5»
Zabotln dirigia as operaçBes de sua residência,
em
Ottawa, e tinha sob suas ordens um nilmero considerável de russos,
onde se incluíam os seguintes:
NOME
Ten.Cel. Motlnov
MaJ. Rogov
Krotov
Major Sokolov
CARGO OFICIAL
PSEUDÔNIMO
Assistente do Adido Militar
Assistente do Adido Militar
Consultor Comercial
Assistente do Consultor Co*
mercial
- Sergei Kondriavtzev 12 Secretário da Embaixada
Samont
Brent
0 Economista
Davle
Leon
BR Wjtio
Kt\-O.Tfti.tJ\^r>il
8.
NOME
Ten.Angelov
Zheveinov
Ma j. Romanov
Ten. Levin
Cap.Galkin
Ten. Gouseev
Ten.Lavreutier
Cap.Gourshkov
Igor Gouzenko
CARGO OFICIAL
Assistente do Adido Militar
Correspondente da Agência
Tass
Secretário do Adido Militar
Intérprete
Porteiro
Porteiro
Motorista
Motorista
Criptografista
PSEUDÔNIMO
Baxter
Martin
Runy
Henry
— - —
Chester
Klark
Esta organizaçSo, por ser aquela em que Gouzenko servia como criptografista, foi a única, de todo o sistema de espionagem, que pudemos investigar detalhadamente, pois Gouzenko apenas tinha acesso aos seus documentos, na sua seção da embaixada.
2.
ORGANIZAÇÕES SECRETAS E PARALELAS
Parece, entretanto, que vários sistemas secretos paralelos, ou rodes, existiam no Canadá, sob a direção de membros da
embaixada soviética, inteiramente distintas da de Zabotln (Serviço de InfdrmaçBes do Exército Vermelho); e que esses sistemas paralelos tinham - e ainda podem ter - seus agentes próprios operan,
do no Canadá.
Este método de manter várias redes distintas apresenta
vantagens evidentes, do ponto de vista da segurança dos que operam, Já que cada um dos dirigentes russos conhecia apenas os nomes dos agentes canadenses de sua própria rede. Isso tinha como ob
Jetivo dificultar qualquer investigaçSo por parte das autoridades
canadenses.
BRAHjRio A«l.o.Tfr/.l/u,^L7i
9.
Gouzenko relatou-nos o seguinte:
"Eles (o sovêrno soviético) estão tentanto
Instalar
uma quinta coluna no Canadá. 0 que transpirou 6 apenas uma pequena parte de tudo que realmente existe aqui. Os senhores podem ter
descoberto quinze pessoas, porém permanece ainda uma situação perigosa no Canadá, porque existem outras organlzaçBes e outras pe£
soas trabalhando sob as ordens de cada embaixada, de cada cônsul,
onfle quer que ha.1a um consulado. É como uma porção de
círculos.
Há sistemas paralelos de espiBes ou agentes... 0 último telegrama solicitava InformaçBes sobre a mobilização de recursos no Cana.
dá. Eles queriam saber tudo a esse respeito. Queriam conhecer os
recursos naturais que o Canadá poderia mobilizar, em caso de gue£
ra, tais como carvão, petróleo, metais raros etc."
Gouzenko revelou que havia, em Moscou, uma comissão de
5 membros que preparava os funcionários a serem enviados ao exterior. Essa comissão era formada por representantes das seguintes
entidades: N.K.V.D., Serviço de InformaçBes Militar, Serviço Naval, Serviço Comercial e Serviço Diplomático.
Gouzenko disse textualmente:
"...cada um dôles envia seus próprios elementos e esforça-se para enviar o maior número e assim procede cada um
dos
representantes..."
0 Governo canadense esforçou-se por obter de Gouzenko
todas as InformaçBes que este pudesse fornecer, a respeito dos "v£
rios círculos" ou "sistemas paralelos". Ele acha que as relaçBes
que forneceu contêm os nomes ou pseudônimos de todos os integrantes da organização do Cel. Zabotin. Essa era a única
organização
que êle pessoalmente conhecia. Mas pelo trabalho que fazia, pelo
que viu e ouviu no curso de seu trabalho, pBde dar outras informa.
çBes e, a nosso pedido, também transmitiu suas deduçBes e conclu.sBes sobre esses fatos, à luz do seu próprio conhecimento dos mé-
BC W^iOXI-O.TAi.z/il^ 13
10.
todos soviéticos.
O Sistema Militar Paralelo
Diz Gouzenko:
"Pelo teor das conversas entre Sokolov e Zabotin, pareceu-me que eles suspeitavam que existisse um sistema de informa.
çOes militares paralelo, isto é, paralelo à organlzaçSo de Zabotin. A mesma coisa ocorria nos Estados Unidos, de acordo com
um
telegrama que vi. 0 chefe do Bureau Técnico dirige uma organlzaçSo paralela; a espionagem militar tem outro sistema."
0 sistema paralelo era visivelmente dirigido também pe.
Io Serviço de InformaçOes Militares em Moscou, mas nSo através de
Zabotin. Gouzenko disse ainda que foi por acidente que
Zabotin
descobriu a existência do sistema paralelo no Canadá, muito embora êle préprlo e seus comparsas estivessem bem cientes de outras
redes paralelas, inclusive a da N.K.V.D. dirigida por Parlov (2fi
Secretário da Embaixada Soviética em Ottawa), de quem trataremos
abaixo.
Houve ainda outro caso, quando dois funcionários do E£
critério Comercial foram ao Registro de Patentes solicitar lnformaçCes sobre a InvençSo secreta do radar. Eles falavam mal o inglês e, em vista disso, os funcionários do Registro pensaram que
se tratasse de agentes alemães e chamaram a polícia. Os dois foram presos, examinados e em seguida soltos.
- Pergunta: Quem foi ao Registro de Patentes?
~
- Resposta: Dois funcionários da SeçSo do Adido Comercial.
- Pergunta: Com que objetivo foram lá?
- Resposta: Fazer perguntas sobre a InvençSo do radar e, como o
assunto era secreto, tornaram-se suspeitos*
Foram presos, mas, em seguida, postos em liberdade. Na,
turalmente, o fato chegou ao conhecimento de Sokolov e este ine-
B* M, KO XI• o'. T*i. z/lL, f>. lA
11.
d l a t a m e n t e o c o n t o u a Zabotln» q u e f i c o u i r r i t a d í s s i m o e
passou
um extenso telegrama para Moscou. Disse, no telegrama, que "o vizinho" (a N.K.V.D.) n5o devia usar tais métodos, que isso
era
"oolsa de desordeiros". Relatou o ocorrido e disse que se tratava
de gente da N.K.V.D., gente de Parlov, Eram Matreniohev e Zhucov.
- Pergunta: Matrenichev é mencionado no instrumento de prova n 9
15t mas Zhucov nflo.
- Resposta: Acho que nSo mencionei Zhuoov.
- Pergunta: Você mencionou, mas êle nffo consta daquele instrumen,
to.
- Resposta: NSo, porque se trata do escritório do Adido
Comercial e lá* há cinqüenta ou mais pessoas. NSo poderia
mencionar todas. Apenas falei de algumas. Essas disseram que um trabalho assim negligente atrairia
a
atençSo das autoridades canadenses sobre o Adido Militar, porém tíSo suspeitariam de Parlov ou
outro
qualquer. Assim êle (Zabotln) propôs que se suspen
dessem tais métodos que, como já disse, classificou
do "coisa de desordeiros".
A seguir houve uma troca de telegramas entre Zabotln e
o "Diretor" (Chefe do Serviço de Informações Militares) em
Moscou, dos quais Zabotln percebeu que havia em operaçflo no
Canadá
uma rede paralela à sua, e que também era dirigida pelo Serviço de
InformaçSes Militares em Mosoou.
Houve vários outros exemplos de atrito entre os sistemas paralelos e, mais particularmente, entre a rede de Parlov e a
do Cel" Zabotln. Gouzenko declarou que tais casos de atrito - multas vezes nascidos do fato de ambas as redes desenvolverem esforços para usar o mesmo agente - eram também comuns em outros países, como êle próprio verificara durante o ano que passou na sede
do Serviço de InformaçCes do Exército Vermelho em Moscou.
BRMljftiQ X^0-Tftí.Z/iL,p.l5
12.
O resultado da lrrltaçSo de Zabotln contra Parlov,
e
de seus telegramas para Moscou, relativamente ao Incidente descri,,
to acima, foi o recebimento de lnstruçô*es, por Zabotln e Parlov,
do QG do Serviço de Informações Militares da N.K.V.D., respectiva,
mente para que as disputas cessassem e que nSo se repetissem
as
rixas entre as várias organizaçSes paralelas operando no Canadá.
0 Sistema da N.K.V.D.
Poucas dúvidas pode haver sobre o fato de que
a
N.K.V.D., antiga O.G.P.U. (a polícia política secreta da UnlSo So.
vlática), dispSe de poderosa organização no Canadá. Nos documentos trocados entre Zabotln e "0 Diretor" do Serviço de
Informações Militares em Moscou que foram exibidosi a N.K.V.D. ê mencionada pelo seu pseudônimo, "0 Vizinho".
Num telegrama enviado a Moscou por Zabotln ("Grant") ,
em 9 de agosto de 19^5• êle manifestou receio sobre o emprego de
um certo Norman Veall como agente. Diz o telegrama:
"...NSo se exclui a possibilidade de êle Já haver rompido com a N.K.V.D. Considero necessário avisar a N.K.V.D, ("vizj^
nho")..."
No dia 22 do mesmo mês "0 Diretor" respondeu:
"Para "Grant"
1 Re: seu 2^3
Nffo possuímos dados comprometedores contra Veall, entretanto o fato de levar consigo uma carta de recomendação de um
membro do Partido preso na Inglaterra (que nSo teve o cuidado de
destruir) nos obriga a recusar qualquer contacto com êle, principalmente porque Já ê conhecido oomo "Vermelho".
A N.K.V.D. (0 Vizinho), por certo, deve conhecê-lo, C&
so contrário, informe-a da mudança de minhas ordens.
Mfaij/vo x^.o.mi.^ln^.iÇ}
13.
Avise Alek de que nSo deve conversar com ele, qualquer
assunto relativo ao nosso trabalho."
Em outro documento foi encontrada a seguinte nota:
"Fred - Chefe do PC do Canadá. Trabalha para a NJC.V.D.
desde 192**."
Em outro telegrama enviado a Moscou pelo Cel«
encontramos, com referência a certo agente, o seguinte:
Zabotln
"Penso quo ê melhor descartar-se dele ou entregá-lo
à
N.K.V.D."
A este telegrama "0 Diretor" respondeu que seria prefe_
rfvel aguardar. Talvez o agente pudesse mostrar-se útil à orge.nlzaçSo de Zabotln. Mas, posteriormente, Zabotln recebeu InstruçCes
para tratar da transferência com a N.K.V.D.
Zabotln, em Ottawa, utilizava San Carr e Fred Rose em
sua rede de espionagem militar. Pavlov pretendeu usar Sam Carr em
sua rede N.K.V.D. Mas, Moscou foi incisivo: - "NSo toque em
San
Carr".
Quando Moscou consultou Zabotln, se conhecia um certo
"Norman", êle respondeu que nSo. Posteriormente, êle e Motinov de,s
cobriram o homem e falaram a Pavlov sobre o assunto. Pavlov respondeu: "Deixem Norman de lado, êle trabalha para n<5s«"
Zabotln
telegrafou entSo para Moscou: "O Normam sobre quem me pediram informaçCes, deve ser Norman Fred e a N.K.V.D. Já* trabalha com êle"
Moscou nSo respondeu a este telegrama.
A despeito das declarações de Gouzenko e dos documentos que apresentou haverem provado a existência da N.K.V.D.
no
Canadá, nSo se pôde medir a extensSo de sua InflltraçSo, nem iden.
tlficar seus membros e agentes canadenses, Temos, no entanto pro-
^R Wy«ío XI-O. THl-l/U, p. 1>
lfc.
vas suficientes para mostrar que a organização é paralela à rede
de espionagem militar, mas inteiramente independente dela. Gouzenko disse, em suas declarações, que a rede da N.K.V.D. era mais
extensa do que a do Cel« Zabotin, que operava no Canadá* há
mais
tempo e que tinha muitos agentes entre os membros da Embaixada So.
vlética e era dirigida por Pavlov.
Pedimos a Gouzenko que explicasse o significado da sigla N.K.V.D,
- Pergunta i 0 que é N.K.V.D.?
- Resposta: E o Ministério de Assuntos do Interior 5 anteriormen.
te era o O.G.P.U.
- Perguntai 2 o Ministério ou apenas uma seçSo dele?
- Resposta: Nâ"o. E o próprio Ministério. Está presente em todas
as instituições, em qualquer regimento do Exército
Vermelho e em todas as escolas. Os chefes daN.K.V,D.
têm o que chamam de um gabinete secreto.
- Pergunta; Trata-se de uma polícia secreta?
- Resposta: Sim, é uma polícia... Cada instituição, escola, us^,
na, fábrica, o Exército Vermelho e qualquer departa.
mento governamental tem um representante da N.K.VJD.
em sua organlzaçSo. Esse representante dispffe sempre de uma sala secreta, onde trabalha. Conta
com
agentes entre os operários, entre os estudantes
e
entre os funcionários das repartlçGes
governamentais.
A seguir, as declaraçBes de Gouzenko confirmam e
ampliam o que Já descrevera relativamente a "organizações
paralelas", seu controle diretamente de Moscou e o cuidado que
tinham
no emprego dos agentes.
0 Sistema Naval de Informacges
0 Sistema Naval de Informaç&es estava sendo organizado
em 19MK Até entSo, utilizava engenheiros navais em funçCes
nas
ÊR/ty*ÍOXV° T*Í.Z/U,fcAÍ
15.
seçfles dos adidos comerciais. Estes obtlnham lnformaçffes nos esta.
lelros navais, utilizando-se das facilidades proporcionadas pelo
Acordo de Auxílio Mútuo, que o Canadá mantinha com a Rússia.
0 Sistema Político
Gouzenko declara em seu depoimento que o chefe da Organização Política Secreta, na embaixada, era Goussarov,
tinha
sido assistente de Malenkov, chefe da SeçSo do Exterior do
PCUS
em Moscou, e que êle (Gouzenko) vira Goussarov trabalhando nos escritórios do Comissariado Central em 19^2. Goussarov veio para o
Canadá* como 2 S Secretário, em 19*14. Relativamente a êle,
disse
ainda Gouzenko:
"Oficialmente fazia-se supor que, antes de vir para o
Canadá em missSo diplomática, trabelhaVa era um Instituto
Têxtil
fi
em Moscou. Li isso numa ravista cana^enao, Ele á apenas 2 Secretário, porém, sua autr-^idade está* ao nívol de embaixador. Mantém
oontacto direto com o Comitê Central do PCUS. Funciona na Embaixa
da, como organizador de partidos*
Havia também Fatonya. Oficigiirentej um dos
porteiros
da embaixada. Para surpresa minha3 owaíta solte em que tive
que
voltar à embaixada por ordem ãe Zabotln, encontrei Patonya trabalhando em minha sala Juntamente com Goussarov. Ninguém sabia que
tinha ingresso na ala secreta."
Gouzenko declarou que Goussarov era o chefe de um grupo de membros do PCUS na embaixada, encarregado de supervisionar
a ortodoxia política do pessoal. 0 pseudônimo do grupo era "Slnd^
cato", Gouzenko, em ligaçSo com Pavlov, porén
independentemente
dele, executava sua tarefa.
Disse ainda Gouzenko que tinha raz8es para
acreditar
que, além disso, Goussarov tinha mlssã*o de transmitir aos chefes
do PC oanadense as diretivas políticas de seus superiores em Mog,
èRMi,(UoK<\-o.TM. 2/u.p.n
16.
cou. Essas diretivas nSo Incluíam apenas orlentaçSo política geral, mas também InstruçCes relativas a técnicas de operações. Exemplos disso foram as InstruçCes para assumir o controle de orga.
nlzaçOes como a AssoclaçSo Canadense dos Trabalhadores Científicos; ocupar poslçGes Importantes nas reunlCes trabalhistas; quando necessário, dar a certos comunistas canadenses InstruçCes para
adotarem temporariamente uma linha antl-comunista; colocar
membros do partido no controle dos movimentos da Juventude; conselhos Internacionais de amizade, etc»,enfim, tudo que pudesse ser
Interesse do ponto de vista da propaganda. Essa organização, segundo Gouzenko, controlava também o que êle chamou de "sistema de
InformaçCes do Comlntern:l; aparentemente esse último nSo fazia es,
plonagem. Sua missão era obter» e transmitir para Moscou,
dados
biográficos e outros, sobre comunistas canadenses e
simpatizantes. Os "dossiês" assim obtidos eram usados para confronto com 1&
formaçCes de outras redes, sobre agentes que queriam empregar.
Devemos declarar que nenhum documento russo em
poder
do governo canadense corrobora esta parte das declaraçCes de Gouzenko, sobre a transmissão de diretrizes políticas. Deve-se
ter
em mente, no entanto, que este tipo de documentos, na
verdade,
por sua natureza, nSo deveriam ser preparados pelos agentes da e£
plonagem militar. Estamos relatando o testemunho de Gouzenko nesse assunto, levando em conta seu conhecimento, ou melhor, sua opi
nlSo bem Informada de membro de uma das seçCes secretas da Embaixada Soviética.
 primeira vista, foi difícil para as autoridades acr«e
ditar que chefes de qualquer partido político oanadense recebessem InstruçCes relativamente a suas atividades, de agentes de uma
potência estrangeira. No entanto, homens como Prank Carr e
Pred
Rose, que trabalhavam como esplCes contra o Canadá, poderiam perfeitamente fazê-lo.
Gouzenko, em declaração escrita de 10 de outubro
de
19*1-5i resumindo o que havia dito à polícia canadense em setembro,
disse o que se segue:
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1?.
- "Em toda a parte sabe-se que os partidos comunistas
das naçSes democráticas há muito tempo transformaram-se de partidos políticos em agências do governo soviético, numa quinta coluna, passaram a constituir-se em instrumentos, nas mSos do governo
soviético, para criar agitaçSo, provocações, etc» '
A atitude do pessoal da Embaixada Soviética para
com
os membros do PC canadense é bem expressa pela palavra
russa
"NASH", usada pelo Cel. Zabotin em seus apontamentos, para designá-los. "NASH" literalmente traduzido significa "nosso" ou nêle é
nosso".
3.
LIGAÇÕES INTERNACIONAIS DA REDE DE ZABOTIN
Uma rede de espionagem como a do Cel» Zabotin, pela natureza do trabalho que executava, teria forçosamente que envolve£
-se, ou melhor, ter ligaçô"es com o exterior. 0 relatório apresenta vários exemplos, colhidos através de correspondência
trocada
por Zabotin com Moscou, e também de seus arquivos secretos.
Um dos exemplos trata de um certo Dr. Alan Nunn
May,
cientista nuclear inglês, n serviço dos comunistas. 0 Dr.
Alan
(Alek) que trabalhava no Canadá em pesquisas relativas a urânio,
deveria regressar a Londres. De grande interesse s5o os detalhes
das comblnaçBes para o encontro de Alek, em Londres, com
outro
agente. Os mínimos detalhes para esse encontro, tais como local,
hora, senha e contra-senha, até o Jornal que cada um teria debaixo do braço e o Início da conversa que teriam, tudo foi planejado
em Moscou.
0 encontro que o Dr.AIan N.May,deveria ter,em Londres,
com um agente secreto soviético havia sido planejado por Zabotin
e seria realizado como se segue:
- num determinado dia de outubro?
- hora: 23 horas;
- na rua do Museu Britânico e em frente a ele;
Bi, Af»/W0X1-0-rrti'-2/lL,fe.2l
18.
-
sinal de ldentlflcaçSo do Dr. Alan: um Jornal debaixo do braço
esquerdo;
- senha: lembrança de Mlkel.
Esses detalhes foram enviados a Moscou, que, logo a s£
guir, tendo discordado, enviou novas instruções mais preciosas:
- no mesmo dia anteriormente combinado;
- hora: 20 he (23 hs estaria multo eécuro)
- locais em frente ao Museu Britânico em Londres, na rua
Great
Russel, do lado oposto ao Museu. Alek (Dr. Alan) vem an,
dando da rua Tottenham; nosso contato, do lado oposto,
Isto é, da rua South-hamptonj
- ldentlflcaçSo: Alek terá* debaixo do braço esquerdo o
Jornal
K
"Times , o nosso contato terá na mSo esquerda a
revista "Magazine Post";
- senha: nosso contato dirá*: "Qual o caminho mais curto para
o
Rio?"
- Alek responderá "Venha comigo, estou Indo para láV! Antes de
Iniciar a conversa dirá: "Lembranças de MlkelT
Tais comblnaçCes foram feitas por telegrama.
exibiu os originais.
Gouzenko
Há outros casos que revelam o extremo cuidado adotado
por Moscou relativamente aos contactos entre agentes de diferentes países. 0 mesmo se observa com relaçSo a agentes que se trang,
ferem de um para outro país (consultas, troca de informaçSes etc).
íf.
0 COMINTERN
Gouzenko declarou que a "Internacional Comunista"
ou
"Comlntern", cuja dissolução foi anunciada à imprensa internacional em 15 de maio e 10 de Junho de 19^3» continua a existir e fun,
cionar secretamente.
BfcAf>,*toxi-o.rfti'2./ll,j>.l2
19.
Os documentos trazidos por Gouzenko corroboram seu depoimento. Na ficha de registro de Sam Carr, com anotaçCes a
seu
respeito, feitas em 19^5» consta o seguinte: "dados
biográficos
detalhados disponíveis no Comlntern". Segundo os russos, o Comlntern havia sido extinto em 19^3...
Deflnlç5o do Comlntern por Gouzenko:
"A Internacional Comunista ou Comlntern é a sede do es.
tado-malor que dirige as atividades dos partidos comunistas em to.
do o mundo."
Gouzenko, em seu depoimento, revela outras atividades
do Comlntern, além dessa. Uma delas, diretamente relacionada com
espionagem como seja a atuação, através de seus agentes, no Canadá* e alhures, para a obtençSo de documentos (passaportes e
outros) falsos para o Ingresso e permanência nesses países.
Outra atividade do Comlntern era a de controlar o
crutamento de agentes n5o russos. Nenhum agente podia ser
re-
empre-
gado sem ser antes detalhadamente Investigado pelo Comlntern.
5.
MfiTODOS DE ALICIAMENTO DE AGENTES
Uma das principais tarefas de Zabotln quando
Iniciou
suas atividades, foi aliciar pessoas dispostas a fornecer Informa.
çSes secretas. A crença, ou simpatia, ou certa receptividade
Ideologia comunista, era requisito essencial à pessoa a ser
à
ali-
ciada. A engenhosldade revelada pelos métodos empregados para con,
seguir prováveis agentes, mostra que o sistema visava a cobrir-se
face a todas as eventualidades. Isso fica perfeitamente claro pela maneira com que as pessoas que estavam em posiç5es tais
que
pudessem fornecer lnformaçSes secretas, ou que pudessem ser
usa-
das como "contactos:' e que, além disso, tivessem fraquezas que pu.
dessem ser exploradas, eram estudadas e selecionadas. Os
variavam conforme a pessoa.
métodos
e& tó,fJo x^o-m-zjii,p-t3
20.
A primeira pagina do "dossler" de cada agente canadense continha: sobrenome, nome, pseudônimo, data de ingresso na rede, endereço profissional, residência, local de trabalho e cargo,
condiçSes financeiras e dados biográficos.
Era de maior importância que a ideologia do agente em
perspectiva ficasse claramente estabelecida e que suas
Inclinações naturais fossem completamente investigadas a fim de que o mo.
do de aproximação e o método de persuasSo pudessem variar de acôr
do.
P.C. - Principal, Fonte de Recrutamento
Ficou claro, desde o início do inquérito, e foi amplamente demonstrado pelas provas obtidas, que o Movimento Comunista
foi a principal fonte de recrutamento de agentes para a rede
de
espionagem. Em todos os casos, exceto um, os agentes
canadenses
da rede de espionagem do Cel. Zabotin pertenciam ao PC, ou
eram
simpatizantes. A exceçSo foi Emma Wolkin, cuja motivação foi simpatia pelo regime soviético, baseada, segundo ela, no que leu
a
respeito.
0 Cel. Zabotin 3a encontrou em funcionamento em Montreal, Ottawa e Toronto numerosos "grupos de estudo" em que as técnicas e a filosofia comunistas eram lidas e discutidas, e
onde
os escritos de Marx, Engels e Lenin eram divulgados. Esses grupos
eram disfarçados em reuniões sociais, musicais e para estudos de
assuntos políticos e econômicos. Nessas reuniões,
coletavam-se
donativos e o dinheiro assim obtido era empregado em finalidades
diversas, Inclusive "assistência" aos chefes do Partido Comunista
e compra de literatura comunista* Esses grupos eram "células" ,j>
centro de recrutamento de agentes, servindo também para o desenvolvimento da dlsposiçSo de espírito para prestar serviços, & IfntT
So Soviética.
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22.
apenas para fins de propaganda»
Outros Métodos de Aliciamento
A grande maioria dos agentes era recrutada nas células
conunlstas, nas, outros métodos, de natureza diversa eran também
postos en prática pelos russos con o objetivo de anpliar sua rede
de espionagem e quinta coluna.
a) Contatos Sociais
Qualquer pessoa que ocupasse posiçSo importante
nos
quadros oficiais canadenses e tivesse contato con nenbros da Embaixada, por força de sua atividade funcional, passava, desde logo, a ser considerada possível fonte de lnfomaçSes, e até
nesmo
agente en potencial, como comprovam documentos em nosso poder. A^
guns desses documentos referem-se a dois funcionários do governo,
que passaram a ter sua vida minuciosamente pesquisada, foram fichados, receberam inclusive pseudônimos e volumosa correspondência sobre eles foi trocada de Zabotin e Rogov para Moscou e vlce-versa. Os itens das pesquisas incluíam, além da posiçflo ocupada
atualmente, possibilidade de acesso a informaçSes secretas, outras particularidades tais como tendências políticas e até gosto
pessoal, tipo de divertimento preferido etc. Essas pessoas provaram, no curso das investigações, que tiveram, por força das funçô*es que exerciam, apenas contatos puramente sociais com os russos.
b) Uçranianos e Poloneses
"A exemplo dos alemães que, no curso da guerra e mesmo
antes, exploraram, nos países que pretendiam conquistar, as "nino.
rias" alenSs e até nesmo descendentes de alenSes aí
residentes,
os russos tanbén se esforçaram por "trabalhar" cidadffos uçranianos e poloneses residentes no Canadá'." Essa a oplni5o de Gouzeriko.
** AtyAio XV 0. r/W.l/U^iQ
23.
NSo há elementos de prova que corroborem essa opinlüo,
porém é sabido que todos os consulados russos» e a própria embaixada, passaram a registrar os poloneses residentes no Canadá
e
originários da reglSo da Polônia ocupada pelos russos, Isto
foi
Inclusive comunicado ao Ministério das Relaç6*es Exteriores pelas
autoridades diplomáticas russas no Canadá em meados de 19^5» P o "
ram também registrados os ucranlanos. Alguns Jornais, particular»
mente os editados em russo ou ucraniano, publicaram editais convocando os poloneses e ucranlanos que nSo tivessem adquirido a c^
dadanla canadense, a que se apresentassem.
6.
MOTIVAÇSO DOS AGENTES
Talvez o aspecto mais surpreendente em todo este assun
to de espionagem e quinta coluna seja o incrível sucesso que
os
agentes soviéticos tiveram em encontrar canadenses dispostos
a
trair sua pátria e fornecer a uma potência estrangeira
lnfornaç8es secretas, às quais tinham acesso no curso de seu trabalho, a
despeito do Juramento feito de lealdade e sigilo.
Muitos dos canadenses Implicados nesta rede de espiona,
gem sflo pessoas de elevado grau de educaçflo e que eram tidas em
alta conta por sua capacidade e inteligência»
Assim:
Raymond Boyer. membro da Universidade Mc Gill e apreciado colaborador do Conselho Nacional de Pesquisas. Cientista ai
tamente considerado e de reputaç5o mundial em química. Homem rico
e independente;
Erlc Adams. graduado pela Universidade Mc Gill
genharia e em administração de empresas pela Universidade
vard, ocupou cargo Importante no Banco de Desenvolvimento
trial e havia anteriormente ocupado vários cargos de alta
sabilidade, revelando sempre grande capacidade;
em ende HarIndusrespon-
3)c/Wy*.'<o xro.T/H.2./n,p.2>
2í».
w
Israel Halperln. professor de matemática na
Queen*a
Unlverslty"e major da Diretoria de Artilharia onde participou de
Importantes pesquisas;
Durnford Smlth e Edward Mazerall. formados pelas
Uni-
versidades Mc Glll e New Brunswick respectivamente, membros altamente conceituados do Conselho Nacional de Pesquisas;
Davld Gordon Lu.nan. emprestado pelo Exército à
Junta
de Informações e mais tarde ao SNI canadense onde era o encarrega,
do da SeçSo das Forças Armadas;
Davld Shugar. graduado em Física na Universidade
Mo-
Glll, funcionário em uma empresa produtora de radar e outros equj,,
pamentos científicos. Pertenceu à Marinha, como oficial, na Diretoria de Suprimentos Elétricos.
Além dessas, outras pessoas de elevado gabarito
inte-
lectual, inclusive oficiais das forças armadas, completam a lista.
Conhecer a motivação que levou tais pessoas a participarem de uma rede de espionagem a favor de uma potência
estran-
geira, parece de grande importância.
a) Dinheiro
NSo há provas de que o Incentivo monetário tenha
sido
a motlvaç5o original dos canadenses envolvidos em espionagem n fa,
vor dos soviéticos, 0 que se conclui, seguramente, através
provas e dos testemunhos dos próprios agentes, é que sua
ção original foi a Ideologia política simpática aos
das
motiva-
comunistas,
somada ao condicionamento psicológico adquirido na frequênoia aos
"grupos de estudo", a que quase invariavelmente pertenceram. Houve pagamentos em dinheiro a agentes canadenses, e a recompensa mo.
netárla representou o seu papel no desenvolvimento da
conspira-
ção. Mas em nenhum caso foi a motlvaçSo principal. Aliás,
ficou
8R /HtJ, Riü XI-O.Tfti.Z/U, p.lí
25.
provado que os soviéticos sempre tiveram o cuidado de evitar qual
quer referência a dinheiro, particularmente nos primeiros contatos com os agentes.
Há um exemplo que merece menção. Trata-se do caso
do
Dr. Alan Nunn May, cientista britânico que revelou aos russos lnformaçCes secretas relativas à bomba atômica. Em seu documento erj
contrado na Embaixada Soviética em Ottawa, aparece o registro da
Importância de 700 dólares paga a May, e êle próprio, em seu depoimento feito em Londres, confessa ter recebido dinheiro"em uma
garrafa de Whisky". Como se vê, os "Incentivos" em dinheiro também tiveram sua presença, parecendo agir como reforço ao "suporte
Ideológico" e ao "condicionamento psicológico" preexistentes*
b) MotlvacSo Ideológica
Ficou provado que, na grande maioria dos casos, a motivaçSo foi obtida através do cursos de desenvolvimento pslcológi
co, ministrados na seçSo secreta do Partido
Trabalhista-Progres.
sista (PC Canadense). Os elementos aí preparados divulgava»,
ou
melhor, empregavam sua técnica nas células ou "grupos de estudo"
espalhados por toda a parte. Nessas células, os futuros possíveis
agentes eram preparados e observados antes de serem abordados. A
abordagem, isto é, o convite formal para participar da rede, só
tinha lugar quando o candidato visado estivesse suficientemente
maduro. A técnica era perfeita. Um detalhe interessante
dessa
técnica é que um certo tipo de membros do PC era levado a manter
em segredo sua flllacSo oartldórla. Esses elementos eram, por motivos óbvios, os destinados ao aliciamento como agentes e a ocupa.
rem cargos influentes nos sindicatos, organizações
estudantis,
nas repartições piiblicas etc. Parece, no entanto, que havia
outro objetivo para manter em segredo a condlçSo de filiada ao partido de certas categorias de pessoas» Essas pessoas, particularmente as mais Jovens, habituavam-se assim a viver numa atmosfera
de consplraçSo. 0 efeito de viver constantemente em reunlSes secretas, manter relaçCes secretas, ter objetivos secretos, planos
BRANCO
xq.o.-rm.x/i^p.^
26.
seoretos, espeolalmente s6bre pessoas Jovens, pode ser
facilmente
avaliado. A técnica parece Imaginada para desenvolver a psicologia
da dupla vida e de duplos critérios, tão necessários ao tipo de at^
vidade para a qual estavam sendo preparados.
A Julgar por muitas provas e depoimentos, o filiado secreto era induzido a nunca revelar, fora dos grupos de estudo ou c£
lulas, sua posição política com franqueza e honestidade, e era leva.
do a crer que franqueza e honestidade, nesses assuntos, representavam perigosa indiscreção e ameaça potencial à organização toda.
Assim, num trecho do relat<5rio feito pelo Cap. Lunan(ofi,
ciai canadense envolvido na rede de espionagem) ao Ten. Cel. Logov
(assistente do Adido Militar Zabotin), referindo-se ao "grupo
de
estudos" ao qual pertenciam D. Smith, Halperin e Mazerall ( outros
canadenses implicados), consta o seguinte:
"... eles já sentem a necessidade de
manter alto
grau de segurança e de cercar suas reuniBes com precauções fora do
comum, já que não têm filiação partidária. Um dos dois deles
até
já se opuseram à admissão de novos membros ao grupo, alegando
que
isso constituiria perigo à sua segurança ..."
Esse relato foi feito ao tempo em que nenhum membro desse "grupo de estudo" estava ligado a qualquer atividade de espionagem,
Há provas de que Moscou recomendava essa atmosfera
de
conspiração e sigilo aos membros secretos do Labour Progressive Par.
ty (Partido Trabalhista Progressista, o partido comunista canadenseX
Já que discutir política, corresponder-se, reunir-se cons
tltuem, em si mesmo, atividades perfeitamente legais, e representam
alguns dos direitos mais caros aos cidadãos de um país democrático,
tal atmosfera de sigilo e preocupação de segurança pareoem tor
o
objetivo de desintegrar gradualmente os conceitos sobre princípios
éticos normais como sejam a franqueza, a honestidade, a integridade e o respeito aos compromissos.
BKIW,&O
x^-o-T-fti.i/i.i.K.30
27.
Parece que essa técnloa conduziu pessoas como o
Cap,
Lunan e outras, a um estado de espírito tal que as levou à lnobser.
vôncla das obrigaçCes morais que assumiram, por força de suas funçCes páblloas,
Da leitura das provas e documentos como um todo, ohega-se à conclusão de que essa técnica parece imaginada para afetar gra.
dual e Inconscientemente a atitude dos filiados seoretos com rela.
ção ao Canadá", sua pátria.
Em muitos casos, oertas pessoas começaram suas llgaçCes
oom os oomunlstas porque já tinham idéias próprias relativamente a
reformas da sociedade canadense, Mas, em deoorrênoia do prolongado hábito de oonspiraçfio e das condiçães de sigilo em que trabalhavam, fioavam Isoladas da grande massa do povo canadense.
Já que a freqüência a asses grupos de estudos conseguiu
minar gradualmente a lealdade de muitos jovens canadenses à sua pré
pria pátria, é necessário esclarecer melhor os assuntos que ali eram estudados,
0 currículo incluía Filosofia e Política e os estudos eram aprofundados. Os assuntos eram cuidadosamente selecionados para desenvolver uma atitude essencialmente crítica oom relação
às
sociedades democráticas ooldentais. Isso não visava, no
entanto,
a promover reformas sociais onde se fizessem necessárias, mas apenas enfraquecer a lealdade dos membros do grupo para com a sociedade a que pertenciam. Ao lado disso, desenvolvia-se uma doutrinação
intensiva, visando a obter aceitação, sem crítica, da propaganda
de
um estado estrangeiro.
Verificou-se que vários membros desses grupos de estudo,
que tinham dúvidas sobre se a sociedade oanadense era de fato democrática, e até julgavam que não o era suficientemente, foram leva»
dos a transferir sua lealdade para uma nação estrangeira, aparentemente sem investigar se essa nação, em seu atual estágio, era mais
ou menos democrática do que o Canadá,
?R.AN,f2.iO XVO.T*H.z/l^(p 3i.
28.
O lntemacionallsmo foi também explorado em tais grupos
de estudo. Ao fim de certo tempo, através da propaganda, o interna
cionalismo era afinal confundido com os interesses nacionais da Rús.
sia soviética,
A "lealdade do partido", pela•doutrinaçffo intensiva, era
levada a sobrepor-se à lealdade à pátria,
0 Professor Boyer, em seu depoimento, declarou que forng
ceu informaçCes a Fred Rose, acreditando que assim estava promovendo colaboraçSo científica internacional, Nunca, no entanto,
procurou informar-se das atividades de organizações oficiais que promo
viam trocas de InformaçCes com a UniSo Soviética, nem do grau de re.
ciprocldade e de equilíbrio obtido nessas trocas de informaçCes of^
ciais. Sua maneira de encarar a questSo relativa às trocas de informaçCes oientíflcas, parece-nos, assim, multo aleatória e mesmo an
ticlentíflca, além de presunçosa e antidemocrática, pois êle se a£
rogava o direito de decidir sCbre um assunto que, afinal, tinha repercussCes que afetavam todo o povo do Canadá", do Reino Unido e dos
E,U,A, Seu procedimento envolveu também quebra de Juramento,
NSo
vemos, no entanto, razCes para duvidar da sinceridade de seus intu^
tos, como êle próprio diz, Essa sinceridade havia sido pervertida
por um agente refinado e sem escrúpulos,
0 caso de Edward Mazerall foi Idêntico,
0 desejo de
senvolver a colaboraçSo científica internacional estava contido
de.
no
complexo de emoçCes desenvolvido com sucesso, nos grupos de estudo,
pelos agentes que o envolveram na rede de espionagem.
Em seu
de-
poimento, que na parte referente à sua motlvaçSo nos pareceu franco
e sincero, há o seguinte trecho:
• - Resposta:
de fornecer InformaçCes,
Ao mesmo tempo, nSo me agradava a Idéia
Também n5o tinha idéia de estar transmiti^
do InformaçCes ao governo soviético,
Tudo se passava como se
nó*s,
olentlstas, estivéssemos coletando informaçCes científicas, e
mul-
tas vezes perguntei se poderíamos contar com a reciprocidade das in,
formaçCes,
BR/w,Rio xq-o.-r/H'.Z/n,t>.$2»
29.
- Pergunta:
Constatou essa reciprocidade
- Resposta»
NSo,
alguma
vez?
- Pergunta»
formação dada pela Rtlssia?
- Resposta»
Chegou ao seu conhecimento qualquer In,
Poucas vezes• "
Outro objetivo que se procurava atingir através dos gru
pos de estado era lnoulcar gradatlvamente nos filiados secretos do
PC o há*bito da completa obediência aos altos chefes da
hierarquia
do partido. Essa obediência era obtida pela constante ênfase dada,
nos cursos de doutrlnaçSo, â Importância da organizaçSo como tal e,
pelo desenvolvimento gradual, na mente dos novos aderentes ou slmpa
tlzantes, de um poderoso senso de "lealdade ao partido"« Essa "leal
dade ao partido" aos pouoos vai substituindo, na mente do filiado,
a lealdade que antes era dedicada a certos princípios defendidos pe
Io programa partidário.
Devido â rígida organização hierárquica em que se baseia
o partido comunista, o conceito de "lealdade ao partido" significa,
na prática, total obediência aos elementos que ocupam posiçSes elevadas na hierarquia.
A doutrlnaçSo levada a efeito nos grupos de estudo,
ê
aparentemente destinada n3o apenas a inculcar um alto grau de "leal
dade ao partido" e "obediência ao partido" mas também para instllar, na mente do filiado, a idéia de que a lealdade e obediência à
liderança da organlzaçffo, deve sobrepor-se a lealdade à pátria, levando-se a desprezar seus juramentos de fidelidade e sigilo e destruindo, afinal, sua Integridade de cldadSo,
Em muitos casos, a prolongada fillaç5o ao partido parece
ter produzido um alto grau de disciplina e induziu a hábitos de obe,
diêncla cega e sem discussões às ordens e à política do partido.Uma
vez desenvolvidos, esses hábitos tornaram fácil a tarefa dos agentes de aliciamento.
6R M, /Uo n- o • rui • z/U, |>.33
30.
Parece ser um princípio estabelecido, pelo menos nas se,
çCes secretas do partido, que a desobediência significa desligamento ou expulsSo automáticas. Este princípio, por certo, destina-se
a induzir à obediência os filiados que, de outro modo, poderiam hesitar,
E, deste modo, os chefes da quinta coluna
solucionaram
o que poderia ser, à primeira vista, o seu problema mais difícil a motivação de canadenses bem situados, para participarem de uma rê
de de espionagem contra o Canada' - por meio de um vasto sistema de
propaganda levada a efeito principalmente nos já mencionados grupos de estudo,
Esses grupos forneceram a base - constituída de canaden
ses emocional, mental e moralmente "preparados" - de onde os soviéticos puderam recrutar para suas redes, aqueles mais "desenvolvidos"
Uma vantagem adicionai que o sistema oferecia aos prlnol,,
pais organizadores das redes era um surpreendente grau de segurança. Concentrando a procura de agentes nos filiados pertencentes às
seçCes secretas do partido, os organizadores podiam sentir-se oonfiantes - aparentemente por razSes baseadas na sua experiência
de
mais de onze anos no Canadá - em que, mesmo no caso do simpatizante ou do filiado recusar-se ao engajamento em atividades tSo claramente ilegais e que significavam traição ao país, jamais houve
um
caso de denúncia às autoridades,
fi muito significativo que nenhum dos muitos canadenses ,
membros ou adeptos do partido comunista, que foram abordados por d^
rigentes para empenhar-se na prática de espionagem a favor da UniSo
Soviética, denunciasse tais contatos às agências, departamentos ou
forças armadas a que pertenciam,
Nem mesmo os que nos descreveram, em seus depoimentos,as
hesltaçSes e lutas de consciência que tiveram antes de concordarem
em atuar como esplCes contra o Canadá, deixaram entrever que tivessem sequer considerado o ilnico procedimento leal ou legal, isto é,
revelar às autoridades a solicitação criminosa que tinham recebido.
&fc PM,ft'"0)(q.O.T*í.2-Jl^ ..y,
31.
Sste fato ilustra multo bem a eficiência dos grupos de e£
tudo coraunistas em induzir e motivar seus participantes a agir con,
tra o próprio país»
Os depoimentos que lemos mostrem que em cada estágio de
desenvolvimento o simpatizante ou aderente é mantido na ignorância
das outras ramificações e também dos objetivos da organização a que
concordou em ligar-se através de uma de suas raralflcaç&es.
Na verdade, evidenciou-se nos depoimentos que â maioria
dos adeptos recrutados para os grupos de estudo, n5o se dizia
que
tais grupos eram, na realidade, células ov. unidades do Partido Comunista, Assim, Ilazerall em seu depoimento declarou que a princípio fdra convidado por um amigo a participar de um grupo para discussões informais e que, por muito tempo n£o se apercebeu que
tal
grupo era uma célula comunista secreta, e tbora mais tarde se tlves.
se certificado disso*
Depois de algum tempo de particlpaçffo em grupos de estudo comuns, os mais "desenvolvidos" e os mais aptos e suficientemente "estudados" eram convidados a participar de grupos menores, Ne£
ses grupos menores eram preparados os chefes de grupo, a seguir designados para dirigir outros grupos,
A extensSo da seçSo secreta do Partido Comunista onnce é
dada a conhecer aos membros recentes dos grupos secretos que apenas
oonhecem os quatro ou cinco outros membros de seu próprio grupo. Os
chefes destes grupos, que freqüentavam reunlffes secretas de
cinco
ou seis chefes iguais a eles, eram conhecidos somente pelo preslden,
te secreto dessas reuniBes,
Entretanto, depois de certo tempo, os filiados secretos
chegavam a conhecer muitos outros, através da participação conjunta
em várias organlzr.oÇes de frente, embora nffo conseguissem saber
a
extensífo de seu desenvolvimento, a menos que designados a trabalhar
com eles pelos dirigentes do partido.
BR/tyftio ^•0.T*i.z/H,p.55
32.
Os filiados secretos n5o preenchiam qualquer formulário
de admissffo ou declaração,nem recebiam cartífes de Identidade de filiado, Este sistema relativamente frouxo obviamente ajuda a manter
o segredo da organização, Mas ajuda também sua expansSo de vez que
a cada estágio de seu "desenvolvimento" o filiado sente-se
ainda
politicamente Independente e apenas um auxiliar nas atividades gerais do movimento, sem dar, em qualquer tempo, o que poderia seroqg}
siderado um passo que o vinculasse definitivamente
e ratificasse
sua fillaçSo, Esta técnica permitia aos cursos de desenvolvimento
prosseguirem e produzirem, gradualmente, seu efeito sobre o filiado ou simpatizante sem despertar em sua mente qualquer resistência
desnecessária•
Aparentemente^ em cada estágio de desenvolvimento, o filiado é cuidadosamente mantido na. Ignorância das tarefas que
lhe
serffo atribuídas quando estiver adequadamente desenvolvido.
Até* mesmo filiados secretos relativamente graduados
e
'desenvolvidos" sa*o mantidos na ignorância da natureza e da existên,
cia da atividades ilegais contra o Canadá conduzidas pela seçSo da
organização a que pertencem»
Muitas pessoas ativamente engajpdas em tais
atividades
Ilegais sSo levadas a crer na excepcionalidade de suas atividades e
sa*o mantidas sen saber até* que ponto foram levadas pelos dirigentes
do partido. Por causa do "princípio da liderança", Isto é, o princípio estabelecido de obediência às altas autoridades, tal ignorância entre membros da organização não prejudica sua eficiência
nas
atividades de quinta coluna.
Por exemplo, Lunan, que recebeu a tarefa de organizar um
grupo de agentes de espionagem, estava convencido de que as únicas
pessoas engajadas nessa atividade ilegal eram êle, os três cientistas canadenses cujas atividades de espionagem controlava e Hogov,
da embaixada soviética.
Em seu depoimento, quando se referia
a
sua motivação que, segundo êle, era Ideológica, dissei
"Desejo também declarar que não tinha idéia do aloajj
BRAfjjfcio xV0.-roi-2./li.,p.56
33.
ce nem d? extensão deste trabalho. Piquei abismado quando isso
foi revelado durante o meu interrogatório. Nunca imaginei oue
fosse mais que um membro de um pequeno grupo de cinco."
me
eu
Não estou dizendo isso per.?. e:xusar-me, porém eu estava
procurando ajustar-me com oa meus ideais sen saber exatamente a po»
sição em que me encontrava•*
Outros participantes ativos da trama também
declararan
que não tinham conhecimento da extensão da organização de espionagem na qual haviam concordado engajar-se.
Aparentemente, apenas a elementos de topo no hierarquia
partidária, como C; rr, o organizador nacional do Labour-Progressive
íarty (PC) e Rose, organizador da seção de Quebec, era dado conhecer o verdadeiro alcance, a natureza e os objetivos da organização
que dirigiam.
Cora rel?ção à atração Inicial que levou os depoentes cana
denses a participarem dos cursos de "desenvolvimento" ou grupos de
estudo é difícil chegar-se a uma conclusão correta. 0 motivo natu
ralmente variava para cada pessoa, Ha alguns casos, tiveram efeito
extraordinário os conceitos metafísicos altamente
sistematizados,
usados pelo PC en sua propaganda dirigida a um certo tipo de "intelectuais" e estudantes.
Vários depoimentos deixaram claro que
motivos raciais
também tiveram seu papel em atrair pessoas para as redes de espiona^
gem soviética. Assim, o anti-semitismo atraiu muitos adeptos de origem Judaica. Muitos judeus canadenses entraram para a organização convencidos que iriam combater o anti-semitismo da Alemanha de
Hitler.
i£m muitos casos, o desejo de f zer amizade e o g6sto por
debates Intelectuais foi o motivo inicial da adesSo aos grupos de
estudo. Porém, na grande maioria dos casos, o elemento mais Importante da atração inicial parece ter sido a propaganda orientada pelos conunlstas, girando em torno de reformas sociais, A
prática
8ft/W,A«0Jft.0.TfH.l/'u,i>.J>
de conduzir a propaganda em torno de reformas que interessam e ume
grande camada d populaçffo serviu* obviamente, a dois objetivos dos
líderes da quinta coluna comunista*
2m primeiro lugar, associando, na mente do maior
número
possível de pessoas, a propaganda n-clonal a. propaganda de um
país
estrangeiro, esta última teve boa penetrando.
Segundo,© propaganda em torno de reformas internas teve,
sem dúvida, um grande papel como meio de aliciamento para os grupos
de estudos*
Assim, wa grande número de jovens canadenses,
rios públicos
funcloná*-
e outros, que desejavam dedlccr-se a causas que con-
sideravam Justas, foram induzidos a participar dos grupos de estxido
do PC, Foram persuadidos a manter em segredo sua participaçSo,
conduzidos, passo a passo, através dos engenhosos cursos de
e
desen-
volvimento psicológico, até que, sob a influência de líderes sofisticados e inescrupulosos, foram convencidos a engajar-se em etlvida
des ilegais contra a segurança e oo interesses de sua própria socie,
onde,
0 que houve, essencialmente, foi a transplantado de u n
técnica consplratéria - concebida com c. finalidade de, em países me
nos prósperos, promover a luta contra e tirania - para uma sociedade denocrá*tiea, para a qual é singularmente imprópria.
II - IGOR
G0U2ENK0
Como J?* dissemos, a testemunha I:;or Gouzenko, chegou ao
QemÃâ em Junho de 19^3, para servir como crlptografista Junto
ao
adido militar, coronel Zabotlh, que aqui chegou ao mesmo tempo,
0
serviço de Gouzenko era decifrar mensagens vindas de Moscou e
cifrar as mensagens de Zabotin, para transmiti-las, Gouzenko tinha,
também, a seus cuidados, um cofre, na sala em que trabalhava,
no
qual eram guardados documentos do adido militar e de seus auxiliares,
Tinha, também, o dever de queimar, periodicamente, os
papéis
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to os membros da embaixada russa desenvolviam atividades ' subterrâneas contra o Canadá".
Disse ainda que,na embaixada, o fato de a UnlSo Soviética estar se preparando para uma terceira guerra mundial era livremente comentado, Havia duas correntes de Idéias, a esse respeito.
Os que nSo eram multo firmemente ligados ao partido comunista
temiam uma nova guerra, enquanto os mais fervorosos realmente a desejavam porque consideravam a guerra parte do processo que, resultando numa sublevaçSo geral de todo o mundo, levaria à ImplantaçSo do
comunismo.
Perguntado sébre qual era o Inimigo considerado nessas
conversas, êle disse que era o Capitalismo que ainda existia e tinha que ser destruído, Gouzenko disse, além disso, que a abollçgo
do Comlntern tinha sido tapeação; que o trabalho do Conlntern, antes apenas controlado pela Rússia em virtude da preponderância
do
número de representantes russos, era agora dirigido exclusivamente
pelo Comitê Central do PCUS.
Reproduzimos este depoimento sem comentários, dizendo apenas que nSo vemos razCes para duvidar que Gouzenko relatou
de fato ouviu e que considera sérias as coisas que ouviu,
o que
Êle
o
disse e nés acreditamos,
No dia 10 de outubro de 19^5» prestou um depoimento formal e, com base nesse depoimento, nés o interrogamos,
A seguir,
o
depoimento:
"Eu, Igor Gouzenko, desejo fazer o seguinte depoimento, de livre e espontânea vontade:
Tendo chegado ao Canada há dois anos, fiquei surpreendido, desde os primeiros dias, pela completa liberdade
individual que existe no Canada" e que é inteiramente 1nexistente na Rússia, A falsa Idéia sobre os países democráticos, propagada na Rússia, foi dissipada, à medida
que os dias passavam, pois nenhuma propaganda mentirosa
pode resistir à evidência dos fatos.
Durante dois anos no Canadá, tive a prova do que um
povo livre é capaz de fazer, 0 que o povo canadense já"
BK /)H (tio K<\ • o - m i . z/u, p.^0
3?.
conquistou e vem conquistando sob condlçCes de completa
liberdade, ° povo russo, nas condlçCes Impostas pelo regime soviético de vlolênola e supressão de toda a liberdade, nSo poderá conquistar, mesmo ao custo de tremendos
sacrifícios, sangue e lágrimas.
As últimas elelçCes que tiveram lugar, recenteaente,
no Canadá, surpreenderam-me particularmente.
Comparado
com elas, o sistema de elelçCes na Rússia me parece
um
arremedo da concepção de elelçCes livres.
Por exemplo,o fato de nas elelçCes na União SovlátJ^
ca haver apenas um candidato, o que elimina a possibilidade de escolha, fala por si só*.
Ao mesmo tempo que procura criar uma falsa Imagem da
vida nessas condlçCes, o governo soviético toma precauções para evitar que o mundo democrático conheça as condlçCes de vida na Rússia, Os fatos a respeito da brutal
supressão da liberdade de expressão, a zombaria
pelos
reais sentimentos religiosos do povo, não devem
chegar
aos países democráticos.
Tendo ImpCsto ao povo o regime comunista, o governo
da União Soviética proclama que o povo russo tem uma oon
cepção particular de liberdade e democracia,
diferente
da que existe no povo dos países democráticos. Isto
é
mentira. 0 povo russo tem as mesmas Idéias sobre liberdade do que qualquer outro povo do mundo, No
entanto,
não pode realizar seus sonhos de liberdade e democracia
devido ao temor e às persegulçCes,
Enquanto se apresenta, publicamente, em conferências
Internacionais, com teses sobre paz e segurança, o govêz
no soviético está ao mesmo tempo se preparando para
a
terceira Guerra Mundial,
Para atingir esse objetivo, o governo soviético está
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38.
criando nos países democráticos, Inclusive o Canadá", uma
quinta coluna, da qual fazem parte, também, os represen.
tantes diplomáticos soviéticos.
A notícia da dissolução do "Comintern" foi, provàve^
mente, a maior farsa dos últimos tempos. Semente o nome
foi liquidado, com a finalidade de tranqüilizar a
opinião pública dos países democráticos.
Na verdade, o "Comintern1' existe e continua seu trabalho, pois os líderes soviéticos Jamais renunciaram a
idéia do estabelecimento da ditadura oomunlsta mundial.
Considerando que, no mínimo,esta aventura custará ai
guns mllhSes de vidas russas, os comunistas estSo implan
tando o édio no povo soviético, contra tudo quanto ê estrangeiro,
Para muitos soviéticos, aqui no estrangeiro,está cia
ro que o Partido Comunista nos países democráticos trans
formou-se. há multo tempof de partido político em , rede
do governo soviético, numa quinta coluna nestes
passes
para fazer a guerra, num Instrumento nas mSos daquele go
vêrno para criar um ollma de agitação artificial de provocação, etc.,etc.
Por meio de numerosos agitadores partidários, o governo soviético instiga o povo russo, de todos os modos
possíveis, contra os povos dos países dumocráticos, proparando o turrono para a terceiro Guerra Mundial.
Durante minha permanência no Canadá, vi como numerosos canadenses e o seu governo desejam sinceramente auxiliar o povo soviético; enviam suprimentos à UniSo Soviética, recolhem dinheiro para o bem-estar daquele povo,
sacrificando a vida de seus filhos, na travessia do Ocea
no, para a entrega de tais abastecimentos e, em vez de
gratidão pelo auxílio recebido, o governo soviético está
praticando a espionagem no Canadá,preparando-se para dar
BRW/ftio
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59.
uma punhalada nas costas deste país, tudo Isso sem o conhecimento do povo russo.
Convencido que esta política de dupla-face do governo soviético para com os países democráticos não está de
acordo com os Interesses do povo russo e pô"e em perigo a
segurança da civilização, decidi escapar do regime sovié
tico e anunciar publicamente minha decisão.
Estou satisfeito por ter encontrado em mim forças In
ternas para tomar esta medida e avisar o Canadá e outros
países democráticos sobre o perigo que paira s<5bre eles,
Ass.) Gouzonko
LI a tradução do meu depoimento original em russo, e
a considero exata.
10 de outubro de 19^5.
Ass.) Gouzenko"
Foi sob a Influência de tais consideraçCes que Gouzenko
decidiu, finalmente, abandonar o serviço soviético, levando consigo documentos que provariam o tipo de atividade executada sob a orl^
entação da Embaixada Soviética.
Durante as últimas semanas, antes de sua fuga da eQbaixa,
da, a 5 de setembro de 19^5• selecionou certo número de documentos
que havia deixado em seus respectivos arquivos, com as extremidades
ou cantos dobrados, a fim de apanhá-los rapidamente a qualquer momento. A 5 de setembro deixou a embaixada, com os documentos,apro
xlmadamente às 8,00 horas»
A primeira coisa que fêz foi ir, imediatamente, a um dos
Jornais diários publicados na cidade, com a intenção de pedir a publicação de sua decisão e as razSes da mesma, No jornal, a pessoa
oom quem falou negou-se a atendê-lo. Ao deixar o Jornal, seguiu pa.
U HH,tiox<*• o. Trtí. Zjli,j>M
40.
ra o apartamento onde residia, e na manhã seguinte, 6 de setembro,
êlef sua esposa e filho, deixaram o apartamento, ficando na rua até
6 ou 7 horas da noite.
Durante o dia, fêz numerosas chamadas telefônicas
para
vários departamentos oficiais e telefonou novamente para o jornal.
Nesse dia, n5o foi levado a sério por ninguém,
Voltando ao seu apartamento, começou a ficar apreensivo
quanto à sua segurança pessoal, de sua esposa e filho. Diz Gouzenko que tSo logo chegou ao seu apartamento - o de número k - verifi.
oou que dois homens, postados no lado oposto da rua, pareciam mantê-lo sob vigilância. Logo em seguida, alguém bateu à porta e chamou o seu nome, Apesar de nSo haver atendido, sua presença no apar
tamento foi denunciada pelo barulho provocado por seu filho, ao cor
rer pelo quarto. Declara ter reconhecido a voz da pessoa na porta,
pois tratava-se da do Subtenente Laurentiev, um dos motoristas
do
adido militar.
Gouzeriko, logo depois disso, saiu pela porta dos fundos
e tocou no apartamento vizinho, o de número 5» ocupado por um suboflcial da "R.C.A.F.• perguntando se este e sua esposa concordariam
em ficar com seu filho durante a noite. 0 Suboflcial e sua esposa
prestaram depoimento perante nó"s, confirmando tudo.
Declarou o Suboflcial:
"Minha família e eu estávamos em nossa sacada, cerca
das 7 horas da noite, entre 7 e 7t30 horas, quando o Sr.
Gouzenko chegou a sua sacada e perguntou se podia falar
comigo. Eu disse que sim, desde que tivesse alguma coisa a dizer 5 perguntou-me Ôle se minha esposa e eu podía.
mos cuidar de seu filhinho caso alguma coisa acontecesse
a êle e a sua esposa. EntSo, sugeri que entrássemos; as,
sim, entramos em nosso apartamento, e enquanto estive lá,
declarou que os russos estavam procurando matá-lo bem co
mo à sua esposa e que gostaria de ter certeza de que ai,
guém cuidaria de seu filhinho se alguma coisa lhes aoon-
PR fyi,tio xq-o.Trti.i/n, oMh
tecesse»
Assim, depois de pequena conferência, minha esposa e
eu decidimos cuidar dôle, porque nffo gostaríamos de vê-lo floar sem ninguém para tomar conta dele, se
alguma
coisa lhes acontecesse.
Saindo pela porta dos fundos do apartamento do Suboflcial da R.C.A.F., ambos viram um homem andando no beco nos fundos do edifício de apartamentos. Como resultado deste
incidente,
Gouzenko ficou apreensivo e perguntou ao Suboflolal se êle, Gouzenko, e sua esposa também podiam floar com eles; estes
concordaram
com Isto. Nesta emergência a esposa do ocupante do outro apartamen,
to, o de niímero 6, no mesmo andar, apareceu, e ouvindo a
estéria,
conoordou em ficar oom toda a família Gouzenko, à noite, pois que
estava sé em seu apartamento. Logo depois disso, o Suboflcial da
R.C.A.F., por sua própria Iniciativa, pegou sua bicicleta e foi bus.
car ajuda policial. A senhora que acolheu os Gouzenkos,também foi
ohamada oomo testemunha, e lemos o seu depoimento sobre o caso
e
sobre os últimos acontecimentos da noite, ástes líltlmos coontecimentos, também foram descritos pelas autoridades policiais que entraram subseqüentemente em cena, e podem ser resumidos como se segue:
Como resultado do pedido de socorro à políoia municipal,
dois policiais, Walsh e MoCulloch, foram enviados, num oarro de ron.
da, ao apartamento, e lá chegaram pouco depois das 7 horas. Entrevistaram Gouzenko no apartamento 6 e este lhes afirmou que era mem.
bro da Embaixada Russa e possuía Informações de grande valor
para
o Canadá. Disse aos agentes policiais que acreditava estar
sendo
seguido e queria proteção. Foram feitos preparativos de modo
que
os agentes policiais pudessem manter o apartamento em observaçSo e,
se sua presença se tornasse neoessária, a luz do banheiro do aparta
mento 6 deveria ser acesa. Caso oontrário, deveria ficar apagada.
Entre 11,30 e meia-noite, quatro homens ohegaram ao edifício e se dirigiram ao apartamento de Gouzenko, o deraímerok,
em
ouja porta bateram. 0 Suboflcial ocupante do apartamento numero 5»
BH AH,fiio Xqo.Trt.l/n^MS
pensando que a polícia estivesse voltando, abriu a porta. Os homens, no corredor, perguntaram se êle sabia onde Gouzenko
estava,
porém êle respondeu que nffo. EntSo, continuaram a bater na porta,
mas, como não obtivessem resposta, desceram as escadas como
quem
vai sair» No entanto, voltaram silenciosamente e bateram novamente,
logo a seguir arrombaram a porta e entraram, 0 Suboflolal, que neg,
se Intervalo havia rentrado em seu apartamento, pede ouvir a operaç5o.
Nesse meio tempo, a polícia foi chamada. A porta na*o es,
tava perfeitamente fechada, os dois polloiais entraram e encontraram as luzes acesas e os quatro homens revistando o apartamento. Um
dêles# que se apresentou como Vltall Pavlov, Segundo Secretário
e
o Cônsul propriamente dito e chefe da NKVD no Canadá, estava no quar
to de vestir. Outro, em uniforme, ldentifioou-se como o Ten.Cel.Rg.
gov, assistente do adido aeronáutico, encontrava-se diante de um ar
mário, no quarto contíguo à sala em que os policiais penetraram»
Walsh perguntou-lhes o que estavam fazendo. Pavlov, que
era quem falava, disse que eles eram russos e estavam procurando a^
guns papéis pertencentes à Embaixada Russa, e que o proprietário do
apartamento se encontrava em Toronto o que eles tinham permlssSo pa.
ra entrar no apartamento e apanhar o que quisessem. Walsh observou
que isso era engraçado, pois, se tinham permlssSo, porque arrombaram a porta para entrar e pegou do oh5o os grampos da feohadura e
disse: "Isto n5o pareoe ter sido feito com uma chave. Vocês devem
ter usado muita força para entarr e as marcas na porta nSo foram fei,
tas com os dedos." 0 polloial MoCulloch deolarou que Pavlov disse
que haviam "perdido a chave, mas que havia ali algumas coisas
que
eles precisavam apanhar".
A seguir, Pavlov disse que o local era propriedade russa
e que eles podiam fazer o que quisessem. Rogov disse que os polloiais os haviam Insultado e Pavlov lhes ordenou que se retirassem,
mas eles se recusaram a sair até aue o inspetor chegasse. Walsh so
licitou as carteiras de identidade e os identifioou como se seguet
VITALI G. PAVLOV, 22 Secretário, Embaixada da URSS, Rua
VKAHjfio <1-0-Tfrí.i/u,».H6
Charlotte, n 9 285;
Tenente ANGELOV, membro do Estado-Malor do Adido Militar;
Ten.Cel. ROGOV, Adido Militar, FÔrça Aárea Russa;
ALEXANDRE FARAFONTOV.
0 último mencionado 6 um dos ©rlptografistas da embaixada, utilizados por Pavlov em suas comunicaçBes com Moscou,
Finalmente, o Inspetor chegou e tomou conhecimento da si.
tuaçSo.
Solicitou aos membros da embaixada que aguardassem
enquanto saía para fazer uma investigação, mr.s eles se retiraram durante sua ausência» A polícia nSo tentou mantê-los no apartamento.
Pavlov retirou do bolso uma chave oomum, e procurou tran
oar a porta, nffo há dúvida alguma de que a fechadura estava Inútil^
zada. tfalsh e MoCulloch, bem oomo o Suboficial da R.C.A.F., oonfi£
maram que a porta do apartamento número k estava fechada e em boas
condiçffes quando anteriormente examinada pelos mesmos.
MoCullooh,
ao chegar com Walsh pela primeira vez, enoontrou o Suboficial
da
R.C.A.F. no topo da escada e, quando perguntou por Gouzenko, foram
Introduzidos no apartamento 6 e o de número k foi indicado oomo sen,
do o do russo. Antes de dirigir-se ao apartamento número 6,
McCulloch,. experimentou a porta do número 4.
Gouzenko, sua esposa e filho, floaram no apartamento número 6 o resto da noite, sob os cuidados da polícia da cidade. Mais
tarde, surgiu outro visitante no apartamento número k, mas rotirou-se, sem incidentes.
Na manha' de 7 de setembro, Gouzenko foi levado ao gablne,
te da Real Polícia Montada do Canadá, onde apresentou seus docunen
tos, oontou sua estaria e pediu para ser mantido sob custódia, pois
temia por sua segurança, de sua esposa e de seu filho.
Em 8 de setembro de 19^5» o Ministério das Relaçffes Exte,
&K 4*, *io XI - O. Tfti. l / u , p.lft
44.
rlores recebeu da Embaixada Soviética em Ottawa
7 de setembro, ouja traduçffo é a seguinte:
uma nota,datada de
"A Embaixada da U,R,S.S# no Canadá
apresenta seus
cumprimentos e tem a honra de informar ao Ministério das
RelaçBes Exteriores, o seguinte:
!,
Um funcionário da Embaixada, IGOR SERGEIEVITCH GOUZENKO, residente na rua Sommerset, n 2 511, deixou de com
parecer ao trabalho no dia 6 de setembro, à
hora normal. •
Com a finalidade de esclarecer os motivos da falta de
Gouzenko ao trabalho, o Cônsul V.G. Pavlov e dois outros
funcionários da embaixada visitaram seu apartamento
às
11,30 de 6 de setembro.
Quando o Sr. Pavlov bateu à porta do apartamento de
Gouzenko, ninguém respondeu. Depois disso, o apartamento foi aberto pelo funcionário da Embaixada, acima mencl
onado, com a chave duplicata de Gouzenko. Foi constatado que nem Gouzenko, nem sua esposa Svetllana
Borsovna
Gouzenko, nem seu filho André1 SG encontravam no apartamento .
Posteriormente, verificou-se que Gouzenko havia roubado dinheiro pertencente à embaixada e se escondera com
sua família.
Quando o Cônsul Pavlov e outros dois funcionários da
embaixada estiveram no apartamento de Gouzenko, i.e., aproximadamente 11,30 da noite, o policial Walsh, da Pol£
cia da Cidade de Ottawa, apareceu com outro policial
e
procuraram, de maneira rude, deter os funcionários dlplo
mátlcos da Embaixada, apesar das explicações apresentadas pelo Cônsul Pavlov e da apresentação de suas creden,
ciais.
Em oonseqflência dos protestos apresentados pelo
Sr.
Pavlov, Walsh chamou o Inspetor MaoDonald, da Polícia da
BRfyfco jrç.o. ini.2/u,pM
Cidade, que compareceu ao apartamento de Gouzenko em quln
ze minutos, e também de maneira rude, exigiu que o Cônsul V.G. Pavlov e os outros dois colegas da Embaixada o
acompanhassem ao Distrito Policial, recusando-se a reconhecer a Identidade diplomática apresentada pelo Cônsul
Pavlov,
Apés a reousa do Sr, V.G, Pavlov em Ir ao
Distrito
Poliolal, o Sr, MacDonald foi-se embora, deixando um policial no apartamento de Gouzenko, com os
funcionários
da Embaixada, Teve a pretensa finalidade de descobrir
quem havia notificado a polícia sobre a entrada forçada
no apartamento de Gouzenko,
0 Cônsul V,G, Pavlov e os dois funcionários da Embai.
xada, depois de aguardarem durante 15 minutos a volta do
Sr, MacDonald, partiram, tranoando o apartamento de Gouzenko,
A Embaixada da U.R.S.S, solicita ao Ministério
das
RelaçSes Exteriores que adote medidas urgentes para
a
procura e prisSo de Gouzenko e sua deportaçSo como crlm^
noso comum, por roubo de dinheiro pertencente à Embaixada,
Alén disso, a Embaixada chama a atençSo do Ministério das Relações Exteriores sobre o rude tratamento dado
aos funcionários diplomáticos da Embaixada, pelo
policial Walsh e o Inspetor MacDonald, da Polícia da Cidade,
e expressa a sua confiança em que esse Ministério invés,
tlgará o Incidente e fará os culpados responderem
por
seus atos,
A Embaixada solicita ao Ministério ser informada sobre as medidas adotadas no caso acima citado,
Ottawa, 7 Ste, 19^5."
fi digna de nota a referência feita a Gouzenko como criminoso comum, Estamos convencidos de que a idéia sobre o roubo de
BK W, W° Xa!• o. Jfh. l/li,p.lfl
46.
dinheiro surgiu posteriormente,
mos, nega o roubo,
Gouzenko, cujo testemunho
aceita-
Ba nota datada de 14 de setembro de 19^5, da embaixada
russa ao Ministério das Relaçffes Exteriores, oonsta o seguinte»
"Confirmando sua Nota n 2 35, de 7 de setembro, sobre
o fato de Gouzenko ter roubado fundos públicos, a embaixada, após receber Instruções do governo da U.R,S,S,,rei
terá o seu pedido ao governo do Canadá, para a prlsSo de
Gouzenko e sua esposa e, sem julgamento, sua entrega
à
Embaixada para deportaçSo para a UniSo Soviética.
0 governo soviético espera que o governo
atenda seu pedido,"
do
Canadá
Faltou somente acrescentar que Pavlov reconheceu o estra
go praticado na porta e fechadura do apartamento número 4 e pagara
ao proprietário do mesmo, por asse motivo, cinco délares. Posteriormente, apesar de o Ministério das BelaçBes Exteriores ter solicitado à embaixada soviética detalhes sobre o dinheiro roubado, nunca
obteve resposta. Acreditamos que tais circunstâncias eliminam
a
Idéia de roubo,
Podemos acrescentar que os depoimentos das
testemunhas
que ouvimos, com relaçSo aos acontecimentos de 6 e 7 de setembropqj
provam perfeitamente o de Gouzenko,
Parece Interessante, a esta altura, ampliar o que foi d^
to sabre a estéria de Gouzenko, Nasceu na Rússia em 1919» Recebeu
instruçSo primária e secundária, e posteriormente Ingressou na Escò,
Ia de Engenharia de Moscou, mas, apés dois meses, foi enviado a uma
escola especial dirigida pelo Estado-Malor do Exército
Vermelho,
Gouzenko nunca se tornou membro do Partido Comunista, mas pertenceu
ao Komsomol ou Juventude Comunista quando tinha 17 anos. De acordo com suas Informações, nSo era comum, em tempo de paz, aceitarem
pessoal do Komsomol nesta Academia, mas durante a guerra, devido à
falta de candidatos em condlçBes, decidiram admiti-los.
Brt/wi,Aio m-o. T T ^ M / Ü O . Ç O
Foi nesta escola que aprendeu os códigos secretos
que
usou posteriormente• Dali foi enviado à DivlsSo Geral de Informações do Exército Vermelho, em Moscou, e em seguida, em maio de 19^2,
para a frente de combate, onde permaneceu aproximadamente um
ano.
Em fins de 19^2, as autoridades soviéticas decidiram enviar Gouzenko ao estrangeiro, mas ainda nSfo sabiam para que país. Sua documen.
taçSo levou aproximadamente seis meses para ser completada e Incluía
uma cuidadosa Investigação sobre sua vida pela NKVD - a Polícia Se.
creta Russa. A fase final dessa investlgcçffo sabre funcionários so,
viétlcos a serem enviados ao estrangeiro, consistia na
aprovaçSo
pelo Chefe dp Departamento dos Assuntos Estrangeiros do Comitê Executivo Central do Partido Comunista, ou por um de seus assistentes,
Nô caso de Gouzenko, foi aprovado por certo Goussarov, posteriormen,
te um dos secretários da embaixada em Ottawa. Foi assinalado
que
Goussarov era o representante do Partido Comunista na embaixada soviética em Ottawa, e que as comunlcaçRes entre êle e Moscou
eram
feitas por melo de código secreto, também, Independente do Embaixador. Certo Patonya era o crlptograflsta particular de Goussarov.
Gouzenko afirma que todas as pessoas de sua categoria,pe,
Io menos as enviadas ao exterior, recoblau uma "lenda" oom a finali,
dade de ocultar o fato de estarem trabalhando em serviços de InformaçSes.
Essa "lenda" é uma biografia fictícia; a pessoa que
a
possui é obrigada a sabê-la de memória• Por este processo, as investigações feitas en Moscou, por representantes das potências estrangeiras, quanto aos antecedentes de tais pessoas, seriam inúteis.
Todos os documentos feitos para serem utilizados no exterior
por
tais pessoas, sfto baseados nessa lenda.

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