A históriA do Polo Petroquímico do GrAnde ABc e dA APolo

Transcrição

A históriA do Polo Petroquímico do GrAnde ABc e dA APolo
A história do Polo
Petroquímico do Grande
ABC e da Apolo
Maria Cláudia Aravecchia Klein
1
1. Um pouco sobre os polos petroquímicos
2
3
direção geral
Associação das Indústrias do
Polo Petroquímico do Grande
ABC (Apolo)
Diretor executivo
Luis Roberto Almudi
Gerente DE COMUNICAÇÂO
E RELACIONAMENTO COM a
A história do Polo
Petroquímico do Grande
ABC e da Apolo
COMUNIDADE
Ana Claudia Marques Govatto
Comunicação Corporativa
Tassia Nascimento Rodrigues
Projeto editorial
Clube Editorial
Textos e edição
Maria Cláudia Aravecchia Klein
Maria Cláudia Aravecchia Klein
(MTB 34.447 SP)
Reportagens e pesquisa
Cris Negrão
Revisão
Sérgio Kakitani
Projeto gráfico
Just Layout
Direção de arte
Danieli Campos
Fotos
Mika
Maria Cláudia Aravecchia Klein
Fotos de Acervo: Braskem;
Alfredo Paes Barreto; Conselho
Regional de Química 4ª Região;
Museu de Santo André Dr.
Octaviano Armando Gaiarsa
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Klein, Maria Cláudia Aravecchia
A história do Polo Petroquímico do Grande ABC e da Apolo/Maria
Cláudia Aravecchia Klein. -Santo André, SP : Clube Editorial, 2011
ISBN 978-85-65298-00-1
Este livro é uma homenagem aos
profissionais de hoje e de ontem
das empresas do Polo Petroquímico
do Grande ABC e aos membros da
comunidade, que contribuíram para
que a Apolo se tornasse uma
associação forte e participativa.
4
1ª Edição
São Paulo
Clube Editorial
2011
1. Polo Petroquímico do Grande ABC e da ApoloSão Paulo (Estado) - História I. Título
11-14337
CDD-338.47661804
Índices para catálogo sistemático:
1. Polo Petroquímico do Grande ABC e da Apolo :
São Paulo : Estado : História 338.47661804
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Sumário
Introdução
9
Capítulo 1
Um pouco sobre os
polos petroquímicos
13
Capítulo 2
19
A história do Polo
Petroquímico do Grande ABC
Capítulo 3
A criação do
“Grupo de Sinergia”
42
Capítulo 4
As pessoas é que
fazem a diferença
69
Capítulo 5
Consolidação do
setor petroquímico
no período 1990 - 2011
86
Capítulo 6
100
A Apolo vive um novo tempo
6
Agradecimentos
116
Referências
bibliográficas
117
7
Tudo o que se vê e se toca
Pneus, peças, acessórios internos dos carros, embalagens de cosméticos, componentes
para computadores e celulares, fibras para tecidos e uma infinidade de materiais é
gerada a partir da transformação dos produtos petroquímicos.
Quando o arquiteto e designer americano Richard Buckminster Fuller criou o conceito
de “sinergia”, queria transpor para os seus projetos a ideia de que o comportamento
da totalidade dos sistemas não pode ser prognosticado com base no comportamento
de suas partes separadas. Basicamente, o que ele queria dizer é que o todo é maior do
que a soma das partes.
Durante meses, mergulhamos na história da Apolo - Associação das Indústrias do Polo
Petroquímico do Grande ABC, localizada entre os municípios de Santo André e Mauá,
no estado de São Paulo. Embora a importância econômica seja altamente relevante, o
capital humano, sem dúvida, é o principal destaque desta trajetória. Esta edição reúne
depoimentos de profissionais que, por competência, amor e dedicação, sentem orgulho
pelo dever cumprido em vários momentos de sua vida profissional.
Um envolvimento que foi muito além da gestão, sendo marcado essencialmente por
ações focadas em generosidade.
Uma passagem pelos principais acontecimentos históricos relacionados ao
desenvolvimento da indústria petroquímica também mostra o poder crescente que
os produtos petroquímicos passaram a ter sobre a vida do homem logo após a
Segunda Guerra Mundial. Com preços mais acessíveis, e mais versáteis e funcionais
do que os concorrentes – como vidros, papéis, metais, cerâmicas e fibras naturais –,
estes produtos passaram a ser objeto de consumo de massa e indispensáveis à vida
contemporânea.
A história do Polo Petroquímico do Grande ABC conta com personagens marcantes e
corajosos, que empreenderam, praticamente durante a vida toda, em uma atividade
pioneira para o país: a da industrialização dos derivados de petróleo e de outras fontes
de energia.
Ética, cidadania, qualidade, satisfação de colaboradores, integração com comunidade
e modelos de gestão de negócios levados para prefeituras municipais exemplificam
um pouco da atuação da Apolo. Tendo a preocupação inicial de conquistar redução de
custos para as empresas do Polo Petroquímico do ABC, a sinergia ocorreu pela troca
mútua de experiências, amplificando o valor de tudo o que foi realizado em conjunto,
ou seja, foi vivenciada intensamente e cresce proporcionalmente ao aumento da
reciprocidade, do respeito e da confiança que a comunidade passou a ter na associação.
Introdução
8
9
História e olhares para o futuro
A Associação das Indústrias do Polo
outros setores da economia brasileira
Petroquímico do Grande ABC, a Apolo,
além do petroquímico. Esse será o
A descoberta de oportunidades, a
é decorrente da existência do Polo, que
alicerce do nosso trabalho. Almejamos,
afirmação de determinadas crenças e a
está situado em uma região onde há
por exemplo, que nossos prestadores de
reinvenção com manutenção da essência
um desenvolvimento econômico muito
serviços venham a ser novos associados,
nos motivam a recriar o nosso papel
forte. Ou seja, a razão principal da sua
aumentando a cadeia e dando origem ao
como associação. A Apolo, razão de
existência é tratar de assuntos comuns,
que virá a ser um verdadeiro “comitê de
orgulho para os personagens deste livro,
relativos ao cotidiano das indústrias
fomento”.
inicia uma fase repleta de novos desafios,
criando um sistema de gestão inovador e
localizadas na região do Grande ABC,
de forma integrada. A vida da Apolo
O Polo está perfeitamente alinhado
corajoso, que vai render novos episódios
depende das empresas.
aos avanços do setor e tem um papel
para essa história. Mas este é um assunto
importante em virtude da localização,
para ser debatido no próximo volume!
Por isso, estamos no momento de
dos investimentos que obteve em
criação de uma nova identidade para
modernização, da sua consolidação e,
a associação. A história da Apolo nos
consequentemente, da competitividade.
inspira nesta tarefa, não só ao nos levar
Por isso, nossa atuação, assim como a da
a seguir o modelo de associativismo
associação, será mais estratégica. O foco
dos outros polos brasileiros, mas a criar
não será mais operacional.
um novo modelo de gestão, baseado
principalmente em “fomento”.
Vamos dar continuidade ao trabalho
realizado junto às comunidades e
Fizemos um benchmarking, ou seja,
estaremos mais próximos aos órgãos
estudamos cautelosamente os outros
de classe e ao poder público. Porém,
polos, analisando as melhores práticas
nossa pauta central é intensificar a
a fim de reposicionar a Apolo, com
discussão sobre o nosso excelente
foco na promoção de desenvolvimento
potencial de crescimento, afinal,
para todos os envolvidos: indústrias,
estaremos interligados aos grandes
mercado, população e órgãos públicos.
complexos cariocas, vamos equacionar
A partir de agora, a Apolo passa a ter
o fornecimento de água e nossa central
um modelo nacional, mais estruturado
de petroquímicos básicos busca, ainda,
e fortalecido, abrangendo também
autonomia em geração de energia.
Henrique Leopoldo Schulz
Presidente da Apolo e Diretor Industrial da Unidade de Petroquímicos Básicos da Braskem - UNIB Sudeste
Com 38 anos de carreira, o engenheiro mecânico gaúcho Henrique Leopoldo Schulz
começou na Petrobras, na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em 1977. Na indústria
petroquímica, mais especificamente, sua trajetória começou na Bahia, durante a
construção do Polo Petroquímico de Camaçari, onde acompanhou desde a montagem
até o primeiro ano de operação pós-partida “da sua” central petroquímica. Depois,
retornou para a região Sul, para participar da implantação do Polo de Triunfo, no
qual permaneceu até 2009, transferindo-se, em seguida, para a Copesul, em Triunfo.
Posteriormente, em 2010, trabalhou na incorporação da Quattor pela Braskem, no
Polo Petroquímico do Grande ABC. Hoje, Schulz é diretor industrial da Unidade de
Petroquímicos Básicos da Braskem- UNIB Sudeste e presidente da Apolo.
Palavra do presidente
10
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O alvo principal de um polo
petroquímico deve ser o de
trazer reais benefícios ao
país e ao consumidor
Carlos Eduardo Paes Barreto,
‘in memoriam’. Em 1967, ele foi
convidado por Alberto Soares de
Sampaio para construir o primeiro
polo petroquímico do país.
1. Um pouco sobre os polos petroquímicos
12
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O que é um polo petroquímico?
Hoje, os principais polos petroquímicos, integrados às empresas de primeira geração,
são: Polo Petroquímico do Grande ABC (SP), Polo de Camaçari (BA), Polo de Triunfo
Tubulações, caldeiras, torres, tanques e turbinas em pleno funcionamento, durante dia
(RS) e Polo de Duque de Caxias (RJ). Outros novos complexos petroquímicos vêm sendo
e noite, sem parar. O polo é composto por um conjunto de empresas, que, em uma
incorporados aos poucos: o Comperj, em Itaboraí (RJ), cujo início de operação está
mesma localização geográfica, formam uma cadeia petroquímica. Basicamente,
previsto para 2014; o Complexo Gás-Químico Rio Polímeros - Riopol, em Duque de
essas indústrias usam petróleo, gás natural ou seus derivados como matéria-prima.
Caxias (RJ); e o Complexo Industrial Petroquímico de Suape, em Ipojuca (PE).
Com o objetivo de aproveitar as sinergias logísticas, de infraestrutura e de
O Polo Petroquímico de Camaçari ou Polo Industrial de Camaçari, como
integração operacional, e com isso minimizar os custos, na maioria dos países a
é conhecido atualmente, fica localizado na região metropolitana de Salvador,
indústria petroquímica se organiza em polos industriais. Por conta dos altos aportes
a 50 km da capital baiana, no município de Camaçari. Desde o início das atividades
financeiros, a criação de um polo exige estudos técnicos e econômicos detalhados
em 1978, além de abrigar indústrias químicas e petroquímicas, o polo conta com
minuciosamente.
a participação de mais de 90 empresas de diferentes setores, como automotivo,
celulose, têxtil, metalúrgico e alimentício. Parte desse grupo, cerca de 60 indústrias,
Um pouco sobre a formação dos polos brasileiros
integra o Cofic - Comitê de Fomento Industrial de Camaçari. Sua importância
econômica pode ser medida pela grandeza de seus números. Soma um investimento
Com a criação do Grupo Executivo da Indústria Química (Geiquim), em 1964,
global superior a 16 bilhões de dólares. A maioria das empresas está interligada por
começa a se desenvolver a indústria petroquímica no Brasil, com o estabelecimento
dutovias à Unidade de Insumos Básicos da Braskem (antiga Copene).
de orientações e diretrizes para o desenvolvimento dos polos petroquímicos,
principalmente aquelas relacionadas aos investimentos a serem conduzidos pela
iniciativa privada. Entre as décadas de 1970 e 1980, em virtude do programa de
substituição de importações, pesados investimentos resultaram na criação dos três
principais polos petroquímicos: em Mauá e Santo André (São Paulo), Camaçari (Bahia) e
Triunfo (Rio Grande do Sul).
As empresas e os polos petroquímicos foram baseados em um modelo societário
Pontos fortes de cada um dos polos brasileiros:
engenhoso, denominado tripartite (o mesmo das famosas joint-ventures). O controle
era compartilhado, em proporções iguais, pela Petroquisa (subsidiária da Petrobras),
1972
1978
1982
2005
2014
Polo Petroquímico
do Grande ABC
Polo Petroquímico
de Camaçari
Polo Petroquímico
de Triunfo
Localizado entre os
Localizado no município
Localizado no
Complexo
Petroquímico do Rio
de Janeiro (Comperj)
municípios de Santo
de Camaçari, na região
município de Triunfo,
Complexo
gás-químico
integrado de Duque
de Caxias
por um ou mais sócios privados nacionais e por capital privado estrangeiro (que,
normalmente, aportava a tecnologia). Desta forma, garantia-se, simultaneamente,
o controle nacional e privado e o suporte tecnológico indispensável aos novos
empreendimentos.
Um adeus ao carvão
metropolitana de
no estado do Rio
Salvador, o Polo tem sua
Grande do Sul, esse
do Grande ABC
posição descentralizada,
Polo tem a tecnologia
possui um excelente
estando próximo
mais moderna, além
e a Union Carbide iniciaram a fabricação de isopropanol (a partir do propileno contido
posicionamento
à regiões em
da forte integração
estratégico por estar
desenvolvimento (Norte
com a rota do álcool
em gás de refinaria) e glicol. Porém, um ritmo mais acelerado de desenvolvimento
próximo das maiores
e Nordeste)
A indústria petroquímica surgiu nos Estados Unidos, em 1920, quando a Standard Oil
só foi ocorrer durante a Segunda Guerra Mundial, com a alta demanda por produtos
estratégicos (como tolueno e glicerina) para a fabricação de explosivos.
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André e Mauá, o
Polo Petroquímico
refinarias do país e
da maior parcela do
Vai representar a rota
Localizado em Duque
de produção mais
de Caxias, no estado
econômica, uma vez
do Rio de Janeiro, o
que usa gás natural
Riopol é o primeiro
como matéria-prima.
empreendimento gás-
O elo com o polo
- químico do Brasil
paulista vai reposicionar
a região Sudeste no
mercado nacional de
petroquímicos
mercado consumidor
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Quem faz parte de um polo?
A instalação de um polo constitui-se de uma única central geradora de produtos básicos
ou de primeira geração, também denominada “centro de matérias-primas” ou “fábrica
das fábricas”. Além desta, há empresas de segunda geração (produtos derivados) e
as indústrias de terceira geração (produtos finais), cujas fábricas também podem estar
localizadas em regiões mais distantes.
Os produtos de primeira geração são resultantes da primeira transformação de
correntes petrolíferas (nafta, gás natural etc.) por processos químicos (craqueamento
a vapor, pirólise ou reforma catalítica). Os principais produtos primários ou básicos são
as olefinas (etileno ou eteno e propileno) e os aromáticos (benzeno, tolueno e xilenos).
Secundariamente, são produzidos ainda solventes e combustíveis.
A segunda geração é formada por empresas produtoras de resinas termoplásticas
(polietilenos e polipropilenos) e de intermediários -– produtos resultantes do
processamento dos produtos primários, como acetato de vinila, TDI, óxido de propeno,
fenol, caprolactama, acrilonitrila, óxido de eteno, estireno e ácido acrílico. Os produtos
intermediários são transformados em produtos finais petroquímicos, como PVC,
poliestireno, ABS, resinas termoestáveis, polímeros para fibras sintéticas, elastômeros,
O Polo Petroquímico de Triunfo ou Polo Petroquímico do Sul iniciou suas atividades
poliuretanas, bases para detergentes sintéticos, tintas e vernizes.
em 1982, no extremo sul do Brasil, a 52 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande
As empresas de terceira geração ou de transformação fornecem embalagens, peças
do Sul. Situa-se numa área verde de 3.600 hectares, contígua ao rio Caí, perto da sua
e utensílios para os segmentos de alimentação, construção civil, elétrico, eletrônico,
desembocadura no rio Jacuí, que por sua vez desagua no Lago Guaíba. A implantação
do Polo Petroquímico do Sul consumiu investimentos de 1,327 bilhão de dólares,
aplicados na instalação das primeiras indústrias, na infraestrutura básica e na estação
de tratamento de efluentes. Nos anos seguintes, novas empresas foram instaladas.
No final dos anos 1990, um montante de 1,4 bilhão de dólares foram investidos na
automotivo, entre outros. Considerando a diversidade de aplicações dos produtos
petroquímicos, que estão inseridos praticamente em tudo, inclusive em artigos de
higiene pessoal e limpeza, o grande poder multiplicador dessa indústria é, sem dúvida,
seu diferencial econômico.
duplicação da capacidade produtiva do complexo industrial.
O complexo gás-químico integrado de Duque de Caxias, conhecido por Riopol, é o
Exploração
Refino
1 ª Geração
2 ª Geração
3 ª Geração
mais recente empreendimento de petroquímicos básicos no Brasil. Com investimentos
de 1,2 bilhão de dólares, em operação comercial desde o início de 2006, o complexo é
o primeiro polo gás-químico do país (o maior da América Latina) e o segundo produtor
de polietilenos do Brasil. A fabricação de resinas, com base nas frações etano e
propano do gás natural, apresenta vantagens em relação à nafta pela maior eficiência
de conversão, embora não permita a produção de aromáticos e outros subprodutos.
16
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Meu pai criou a
Petroquímica União!
Alfredo Paes Barreto,
filho de Carlos Eduardo Paes
Barreto, trabalhou com o pai
na Petroquímica União.
2. A história do Polo Petroquímico do Grande ABC
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19
“Anos dourados”: quando tudo começou
“50 anos em 5”. Tal postura fez com que a penetração do capital estrangeiro
ocorresse de forma maciça, ocupando os ramos da indústria pesada, principalmente a
Os efeitos da prosperidade econômica do pós-guerra, que impulsionou as potências
automobilística, a hidrelétrica e a petroquímica. A criação de Brasília e a abertura de
EUA e URSS, também influenciaram as transformações que marcaram os anos 1950
estradas também foram acontecimentos marcantes e fundamentais para as articulações
no Brasil. As paisagens nos grandes centros urbanos incorporavam modernidades,
que já se moviam para a criação de um complexo petroquímico nacional,
principalmente na construção de prédios e casas com traços mais leves, como o clássico
a Petroquímica União, em São Paulo.
edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer, que se tornou um marco na arquitetura
de São Paulo.
Proximidade com o mercado consumidor
Este mesmo espírito também estava presente dentro das casas. O estilo modernista da
escola Bauhaus, por exemplo, trazia móveis com um design voltado à funcionalidade e
O Polo Petroquímico do Grande ABC começou a ser constituído no dia 18 de
ao futuro. E com o fim da escassez dos cosméticos no pós-guerra, as mulheres, inspiradas
dezembro de 1954 – um ano após o distrito de Mauá, antes pertencente a Santo
principalmente pelas musas do cinema – Grace Kelly, Rita Hayworth, Brigitte Bardot e
André, ser elevado, oficialmente, à condição de município –, com a inauguração da
Marilyn Monroe – alavancavam os lançamentos da indústria da beleza e de roupas.
empresa privada Refinaria e Exploração de Petróleo União S/A (Refinaria União, que
depois passou a ser chamada de Refinaria de Capuava).
A consolidação da chamada sociedade de massa e de consumo, com a criação do
crediário pelos grandes magazines, impulsionou também os investimentos em veículos
A refinaria foi resultado de uma concorrência aberta pelo Conselho Nacional de
de comunicação. Dono dos Diários Associados, um conglomerado de jornais e revistas,
Petróleo (CNP) ainda no governo Dutra, que não era partidário ao monopólio estatal.
Assis Chateaubriand foi responsável pela chegada da televisão ao país, inaugurando,
Foi instaurada, então, a concessão de uma refinaria de 20 mil barris/dia em São Paulo,
logo no início da década, a TV Tupi, primeira emissora brasileira.
estado com maior potencial consumidor de derivados. O capital inicial da Refinaria
Alberto Soares de
Sampaio: o empresário
visionário que investiu na
Refinaria de Capuava e na
Petroquímica União
Em 1951, a eleição presidencial trouxe de volta ao Catete um velho conhecido do
povo: Getúlio Vargas. Dando continuidade ao desenvolvimento econômico implantado
por seu antecessor, Eurico Gaspar Dutra, Vargas deu ênfase à resoluções políticas
Autor do livro “Refinaria de Capuava, 50 Anos,
mão de obra especializada, sendo que a maioria
nacionalistas importantes, como a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento
A Matrix do Polo Petroquímico do ABC” o
dos empregados desembarcou da Europa, acabou
Econômico e Social (BNDES), do salário mínimo e a aprovação da lei de monopólio
jornalista e memorialista Ademir Medici conta
gerando emprego na região. Embora mais de
do petróleo brasileiro, levando à criação da Petrobras em 1953. O slogan utilizado
que a escolha da região para a construção da
70% das instalações da PQU estivessem em Mauá,
pelo programa do monopólio estatal de exploração, produção, refino e transporte de
Refinaria União foi estrategicamente pensada,
fato que gerou bastante polêmica e até ação
petróleo e seus derivados era: “O petróleo é nosso”.
principalmente por ficar no meio do caminho,
judicial entre as duas prefeituras sobre o destino
entre o litoral e a capital. “Era um espaço ermo,
da arrecadação de impostos, em 1972, quando a
Graças à uma ação pioneira da Petrobras – que começou a produção de etileno e
onde não havia uma sociedade organizada,
Petroquímica começou a operar, o Polo passou a
propileno, inicialmente a partir de gases residuais da Refinaria de Cubatão e, em
existindo apenas uma parada de trem, que é a
ter também um papel muito importante para Santo
seguida, a partir de uma unidade de pirólise de nafta –, foi possível a criação da
estação de Capuava. Portanto, não havia nada no
André. No início, muitos diretores da primeira
primeira indústria petroquímica brasileira, a Fábrica de Fertilizantes de Cubatão
entorno, muito menos comunidade. A instalação
refinaria de São Paulo migraram para a primeira
(Fafer). Com a aprovação do Conselho Nacional de Petróleo (CNP), a fábrica de
da refinaria e depois do Polo, com a criação da
petroquímica brasileira. O Carlos Eduardo Paes
fertilizantes, partindo dos gases de cracking, iniciou a produção de nitrocálcio,
Petroquímica União, foi extremamente importante
Barreto, que entrevistei em 1995, foi o presidente
amônia, entre outros produtos.
para a descentralização econômica de Mauá e
da nova empresa e levou vários profissionais com
Santo André. Mauá, até então, vivia da indústria
ele, como o Hans Westphalen e o Fernando José
ceramista, e o novo complexo, mesmo exigindo
Clark Xavier Soares”.
Com o suicídio de Vargas, em agosto de 1954, o Brasil acompanha a ascensão de
Juscelino Kubitschek, cujo plano desenvolvimentista prometia fazer o país avançar
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petroquímicas no entorno da refinaria para a produção de borracha sintética, fibras
União, cerca de 600 milhões de cruzeiros, era composto de ações preferenciais de
sintéticas, plásticos e solventes.
Alberto Soares Sampaio e do banqueiro Walther Moreira Salles.
Durante o ano de 1955, após algumas modificações estruturais e o aperfeiçoamento
Fábrica de fábricas
da operação, a capacidade de refino passou a ser de 31 mil barris/dia. Além da
produção de propano, butano, gasolina, óleo combustível e gás combustível,
Em 1967, quando a importação anual de produtos petroquímicos semiacabados e
havia uma linha de subprodutos que permitiriam a instalação de novas indústrias
acabados custava ao país, em termos de dispêndio de divisas, cerca de 380 milhões
de dólares, Alberto Soares Sampaio alavancava outro negócio, a Petroquímica União.
O projeto do que viria a ser o maior complexo petroquímico da América Latina foi
resultado da união dos empreendedores Phillips Petroleum, Grupo Ultra, Refinaria
União (Soares Sampaio) e Grupo Moreira Salles.
Alguns fatores contribuíram para alavancar o novo negócio. Como a Refinaria de
Capuava estava estrategicamente localizada entre os municípios de Santo André e
Mauá, e o estado de São Paulo era o centro de consumo de produtos petroquímicos
finais, que, à época, eram absorvidos por cerca de 2.400 indústrias de ponta, as obras
seriam realizadas em um terreno adjacente à Refinaria União. A localização favorecia
também o transporte por dutos tanto da nafta quanto dos derivados de petróleo, que
deveriam retornar à Petrobras a fim de serem incorporados aos combustíveis. Outro
fator importante, embora de caráter preocupante e ameaçador na época, foi a saída
da Phillips Petroleum do projeto, fato que levou o Grupo Soares Sampaio a procurar a
Petrobras para ser sócia do empreendimento.
Mas, como a Petrobras estava impedida de se associar minoritariamente ao projeto,
a Petroquisa foi criada pelo Decreto n°61.981 de 28 de dezembro de 1967, com o
objetivo principal de permitir que a Petrobras pudesse associar-se à Petroquímica União
como sócia minoritária. Além disso, a medida assegurava o abastecimento de nafta
para a PQU por três refinarias em São Paulo (Cubatão, Capuava e Paulínia). Ao longo
de sua existência, a Petroquisa participou de mais de 30 empresas petroquímicas,
além de suprir as necessidades das três “centrais” principais do país: PQU; Copene
(Companhia Petroquímica do Nordeste), fundada em 1972; e Copesul (Companhia
Petroquímica do Sul), criada em 1976.
Enquanto a Apollo 11, comandada por Neil Armstrong, chegava à lua, em 1969, o
Brasil entrava no período denominado como “milagre econômico brasileiro”, que
durou até 1973, com um crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) que chegou
à marca de 14%. Quando o Brasil comemorava o tricampeonato na Copa do Mundo
de 1970, o Grande ABC era considerado estratégico para a economia do país, não
só por ter um polo petroquímico de desenvolvimento inteiramente integrado, mas
também pela evolução de outros setores, como o automobilístico e o metalúrgico.
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consumidor. A PQU produziria toda a
de imigrantes e migrantes à procura de
gama de olefinas (etileno, propileno,
emprego e de estabilidade econômica.
butadieno) e de aromáticos (benzeno,
Contrariando o senso comum, o engenheiro industrial Hans Libert Westphalen, filho
tolueno e paraxilenos).
de alemães naturais de Hamburgo, é um autêntico cidadão soteropolitano, nascido
Por ser a primeira central de
na tradicional Salvador. O grande idealizador da sigla PQU recorda, com lucidez,
petroquímicos básicos do Brasil, a
A fábrica entrou em operação com
quando o “empreendedor atirado” Alberto Soares Sampaio, que já havia construído
Petroquímica União, com um custo de
capacidade de 187 mil/t/ano de etileno.
a Refinaria União, decidiu acompanhar o crescimento da indústria petroquímica
instalações na faixa de 188 milhões
Sua inauguração contou com a presença
mundial, investindo na Petroquímica União.
de dólares, foi concebida para
do presidente Emílio Garrastazu Médici,
oferecer preços mais competitivos ao
em 15 de junho de 1972, em uma
Composição acionária original da PQU:
Carlos Eduardo
Paes Barreto assina
contrato social da
PQU, no escritório
da Refinaria União,
em 16 de maio
de 1967
Testemunha ocular da história
Fato que atraiu um grande contingente
Soares Sampaio
20%
Moreira Salles
20%
Ultra
20%
Phillips Petroleum
40%
solenidade para mais de 800 convidados.
Seu primeiro presidente foi Carlos
Eduardo Paes Barreto, que permaneceu
Minha história começou na construção da Refinaria de Capuava. Ao saber,
por amigos, que a refinaria estava em construção, fiz uma visita. Era um
projeto grandioso se comparado com o de outras indústrias. Um negócio
à frente da Petroquímica União por cerca
impressionante! Para comandar o novo empreendimento, o doutor Alberto
de cinco anos.
convidou um homem de muita energia, o Carlos Eduardo Paes Barreto, que
foi quem me contratou, encaminhando-me para um curso de refinação de
A distribuição da produção da PQU era
petróleo, conduzido pelo Conselho Nacional do Petróleo, no Rio de Janeiro.
quase inteiramente feita por dutos, que
O trabalho foi desafiador, porque a refinaria tinha riscos, tecnologias
cobriam um raio de 20 quilômetros.
próprias e uma miscigenação de técnicos provindos de diferentes países
Havia apenas duas exceções: o butadieno
europeus, o que acabou criando uma cultura própria. E, quando a refinaria
era transportado por caminhões-tanque
estava prestes a ser vendida para a Petrobras, surgiu outra ideia mais
para a fábrica de borracha sintética
desafiadora ainda, a do polo petroquímico. Fui emprestado à PQU em 1968,
da Petrobras (Fabor), em Caxias (RJ);
quando começamos a planejar as áreas e os espaços necessários para as
e parte do etileno, que era distribuído
instalações. Além disso, nos deparamos com o abastecimento deficiente
por etilenoduto para a Cia. Brasileira de
de água, sendo que parte dela já era fornecida pela refinaria. Tudo para
Estireno e para a Union Carbide, ambas
assegurar o crescimento da área petroquímica”,
relata Hans Libert Westphalen.
em Cubatão (SP).
O cenário petroquímico de São Paulo
Como o governo francês aprovou o consórcio de bancos, liderado pelo Banque
muda completamente após a instalação
Worms, que financiaria o projeto de engenharia, a compra, a inspeção e a expedição
da PQU. Várias indústrias passaram a
de materiais e equipamentos, Hans ficou quase dois anos entre Paris e EUA. “Pude
não mais depender da importação de
acompanhar de perto o trabalho da empresa contratada para essa gestão, a
matéria-prima e, na década de 1970,
americana Lummus, que tinha uma filial na França. Logo depois, voltei ao Brasil para
foram instaladas outras empresas nas
supervisionar a montagem, já que conhecia bem os detalhes do projeto”, conta
proximidades: Poliolefinas; Brasivil; Cia.
Hans, que, mais tarde, ocupou o cargo de diretor técnico da PQU e esteve presente
Paulista de Monômeros (Copamo); Cia.
em momentos importantes, como a visita do presidente Costa e Silva, em 1969, que
Brasileira de Tetrâmero, do grupo União
descerrou uma placa assinalando o início das obras. Um pouco antes de aposentar-
de Indústrias Petroquímicas (Unipar);
-se, Hans chegou ao cargo de superintendente da PQU.
Oxiteno e Polibrasil, a primeira fábrica de
polipropileno brasileira.
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Sábado, 12 de abril de 1969
“O petróleo ultrapassou sua função inicial, puramente energética para, por
O “Diário do Grande ABC”, jornal diário da região, traz na capa a seguinte manchete
intermédio dos seus derivados, atingir definitivamente a vida do homem moderno”,
em destaque:
discursou François de Laboulaye, então embaixador francês no Brasil, integrante da
comitiva presidencial, que acompanhou Costa e Silva na solenidade.
“Costa e Silva inicia as obras da Petroquímica União”
“Arthur da Costa e Silva se dirigiu para o obelisco, ao lado do qual estava armado
De acordo com o texto do jornal: “Com o novo empreendimento, o Ministro
o palanque, onde descerrou a placa comemorativa do início das obras da nova
da Fazenda, Delfim Neto, previa o que iria significar a indústria petroquímica,
importante indústria brasileira que receberá subvenção da iniciativa
dizendo que ela iria provocar o maior surto de investimentos e empregos em toda
pública e da iniciativa privada”.
a década seguinte. Segundo o ministro, a PQU proporcionaria aos cofres nacionais,
Costa e Silva
descerrou a pedra
inaugural do
início das obras.
Em 1972, foi a
vez do presidente
da república
Garrastazu Médici
participar da
solenidade de
inauguração
anualmente, a economia de cerca de 40 milhões de dólares em divisas. Ele chegou a
dizer a seguinte frase: ‘A esperada e cantada Petroquímica’”.
Dizeres da placa de inauguração: Petroquímica União, marco de uma nova era de
desenvolvimento da indústria petroquímica brasileira.
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Marcas de um trabalho pioneiro
Articulando a segunda geração do Polo
Por conta de sua natureza não renovável, as nações produtoras de petróleo
De Birigui, interior de São Paulo, o engenheiro Fernando José
começaram a regular o escoamento da produção petrolífera. Em 1973, em protesto
Clark Xavier Soares, recém-formado, só pensava em trabalhar com concreto e nem
pelo apoio prestado pelos Estados Unidos a Israel durante a Guerra do Yom Kippur,
imaginava onde ficava Capuava ou muito menos o que fazia ao certo uma refinaria.
a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) deciciu aumentar o
preço do petróleo em mais de 300%. A economia mundial entrou em recessão. Em
A entrevista de emprego na construtora do doutor Dácio de Moraes começou no
contrapartida, o Brasil, incentivado pela recém-descoberta de petróleo no Campo de
escritório, no centro de São Paulo, no edifício da CBI, no Anhangabaú, e terminou
Garoupa, na bacia de Campos (RJ), em 1974, e pelo excedente de produção, iniciou
em Santo André, onde Fernando começou a trabalhar no mesmo dia. O projeto da
um plano de prospecção de novos pontos de exploração. Ao final do mesmo ano,
Refinaria União ainda estava na fase de terraplenagem.
as reservas haviam aumentado para 1,445 bilhões de barris e a produção estava em
182.064 b/dia. Neste mesmo ano, a Refinaria de Capuava foi incorporada à Petrobras.
Ainda em 1953, ele conheceu Paes Barreto, que, logo após a conclusão das obras, o
convidou para continuar na parte operacional da refinaria. Entre 1957 e 1958, Fernando
Porém, a política de investimentos mantida pelo governo Geisel e o aumento da dívida
fez o curso de refinação no Rio. “Em 1960, fui designado para ser diretor da Indústria
externa e da taxa de juros resultaram em uma crise de liquidez. A economia se retraiu,
Brasileira de Enxofre, que seria instalada no próprio terreno da Recap. A indústria recebia
a inflação voltou a crescer e se desencadeava uma campanha de racionamento de
o gás leve, que era rico em ácido sulfídrico para, então, recuperar o enxofre. Foi a
combustíveis. Com o objetivo de ampliar as fontes alternativas de energia para fazer
primeira contribuição da refinaria para o meio ambiente. Fiquei lá até 1964. Nessa fase,
frente à esta conjuntura desfavorável, surge no cenário nacional o Programa Nacional
a Refinaria União lutava para não ser encampada pela Petrobras, e uma das promessas
de Álcool - Pró-Álcool.
do Grupo Soares de Sampaio era o de viabilizar uma indústria petroquímica.
Depois de tentativas frustradas de negociações com a Union Carbide e com a Phillips
Petroleum americana, começaram os primeiros estudos de viabilidade da petroquímica
e do que seria produzido, como polietileno, polipropileno, borracha e tetrâmero. O
estudo, realizado junto com os americanos, foi todo baseado na possibilidade de se
obter nafta de petróleo para matéria-prima, que seria então desdobrada em diversas
cargas para outras unidades.
Com o fornecimento de nafta pela Petrobras, simultaneamente começamos a articular
a segunda geração do Polo. Criamos a Poliolefinas, que seguia o sistema de sociedade
Constituição do Polo Petroquímico em 1975
tripartite, com capital dos seguintes grupos: Petroquisa (estatal), Unipar (privado),
National Distillers (multinacional detentora do know-how de produção) e Banco Mundial.
A empresa seria a principal compradora de polietileno de baixa densidade, cerca de
Empresas localizadas
em Capuava:
Petroquímica União, UQL - Unipar Química
Ltda., Poliolefinas, Recap, Oxiteno, Atlas,
Polibrasil e Capuava Carbonos Industriais
Ltda..
Fábricas localizadas
fora de Capuava:
União Carbide do Brasil e Companhia
Brasileira de Estireno (CBE), ambas em
Cubatão; e Eletrocloro e Copamo, do
grupo Solvay, localizadas na Vila Elclor,
em área pertencente ao município de
Santo André, entre Rio Grande da Serra
e Paranapiacaba.
100 mil t/ano. Um empenho audacioso do Paes Barreto era o de rastrear indústrias e
empresários interessados em formar essas companhias da cadeia petroquímica.
Em 1973, tornei-me superintendente da Poliolefinas, onde permaneci até 1978.
Depois, gerenciei o projeto e a construção da empresa no complexo petroquímico
de Triunfo e, de 1988 até 1992, assumi a construção da nova fábrica no polo de
Camaçari, permanecendo até ela entrar em operação. Fiquei mais um ano e, em 1993,
eu me aposentei”, declara Fernando.
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Carlos Eduardo Paes Barreto
Filho de Alfredo Marinho Paes Barreto e
Angelina do Couto, Carlos Eduardo Paes
Barreto, que nasceu no Rio de Janeiro, em
abril de 1920, é um dos personagens mais
importantes da história das indústrias
de refino de petróleo e petroquímica
do Brasil. Depois de iniciar sua carreira
na Esso (Cia. Brasileira de Petróleo),
foi contratado pelo Conselho Nacional
de Petróleo (CNP) para acompanhar o
trabalho da Yacimientos Petroliferos
Fiscales (YPF), empresa estatal de
petróleo da Argentina, onde acompanhou
as várias etapas de exploração,
transporte, refinação e distribuição de
dos preços – o levou a pedir demissão
assim que a Refinaria foi incorporada à
Petrobras. Essa decisão encerrava a sua
carreira de oito anos e meio no serviço
público, já que era contratado pelo CNP.
petróleo. Em 1947, Paes Barreto mudou-
A Esso tentou recontratá-lo, porém,
-se, junto com um time de peso e que
o telefonema de um velho amigo, o
também fez história – Roque Consani
advogado Santiago Dantas, iria mudar
Perrone, Derek Herbert Lowell Parker,
o destino de Paes Barreto. Convicto
Edgard Azevedo Moreira e Petrônio Arêa
de suas ideias em favor do liberalismo
Leão –, para Nova Jersey, nos Estados
econômico, ele aceitou de prontidão o
Unidos, para estruturar e acompanhar
convite de Alberto Soares de Sampaio
o desenvolvimento do projeto de uma
e Walther Moreira Salles para dirigir o
refinaria brasileira, que seria instalada
final da construção e iniciar a operação
em Mataripe, na Bahia. Empreendimento
da Refinaria União, situada em Capuava,
pioneiro e que contou com o apoio do
então distrito de Santo André (SP).
ex-presidente Eurico Gaspar Dutra. A
Apesar de o salário da Esso ser um pouco
primeira refinaria moderna de petróleo
melhor, Paes Barreto ficou muito mais
do Brasil levou 40 meses para ser
atraído pela proposta da refinaria.
concluída. De volta ao Brasil, Paes Barreto
foi superintendente da Refinaria de
Mataripe até 1953. Porém, sua posição
contrária ao monopólio do petróleo –
principalmente pela crença de que a falta
de concorrência desestimula a busca pelo
incremento da qualidade e a redução
Em 1967, convidado novamente pelo Dr.
Alberto Soares de Sampaio, Paes Barreto
assumiu mais um desafio: construir o
primeiro polo petroquímico do país,
cuja locomotiva seria a Petroquímica
União (PQU), na qual ficou no cargo
de presidente até 1973. Abandonou a
empresa pelos mesmos motivos que,
20 anos antes, o levaram a se desligar
de Mataripe. Ele deixou a PQU quando
a Petroquisa (Petrobras Química S.A.)
assumiu o controle acionário da empresa.
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Filho de peixe, peixinho é
A concessão dada ao Grupo Soares de Sampaio pelo governo federal estipulava uma
data limite para o término da construção da refinaria. A obra ainda estava em fase
“Nasci em Buenos Aires por um acaso, meus pais não conseguiram regressar ao Brasil
embrionária e com problemas técnicos, porém, tinha data certa para ficar pronta e
em tempo”, brinca Alfredo Paes Barreto, filho de Carlos Eduardo Paes Barreto. “Meu
para começar a produzir sob pena de perder a concessão. Meu pai aceitou o desafio
pai foi mandado, em 1945, à Argentina para fazer um estágio e especializar-se em
acreditando que, se tivesse sucesso, poderia ter um futuro muito interessante pela
refinação de petróleo. Na época não havia nenhuma refinaria no Brasil, mas os campos
frente. Então, mudou de mala e cuia para São Paulo e terminou a refinaria poucos
petrolíferos na Bahia já tinham sido descobertos. Papai insistiu junto ao general João
meses antes do prazo final.
Carlos Barreto, presidente do Conselho Nacional de Petróleo, de que o Brasil deveria
parar de importar gasolina e começar a refinar o seu próprio petróleo”.
Sua permanência na Refinaria União foi de 1944 até 1974, quando ela foi vendida
para a Petrobras. Nesse meio tempo, em 1969, começou a construção da Petroquímica
Nascida no Rio de Janeiro e filha de pai português e mãe brasileira, não foi difícil
União. Deixe-me fazer uma correção histórica: Papai não foi para a Petroquímica
para a mãe de Alfredo, Clotilde Fonseca de Paes Barreto, acompanhar o marido na
União, não foi convidado para trabalhar lá. Ele criou a Petroquímica União!.
nova empreitada. Foi em Buenos Aires, que, no dia 25 de setembro, nasceu Alfredo
Paes Barreto, o primeiro filho do clã e com quem, anos depois, o próprio Paes Barreto
A criação oficial da empresa petroquímica foi do dr. Alberto Soares de Sampaio,
dividiu experiências e projetos na Petroquímica União.
que era o presidente da Refinaria União. Mas, meu pai foi até o dr. Alberto e disse:
– ‘O Brasil precisa entrar na era da petroquímica. Isso se faz necessário porque
“Assim que voltou ao Brasil, meu pai foi incumbido para acompanhar a construção
nós estamos a reboque do mundo e não podemos ficar’.
da Refinaria de Mataripe. E como ele tinha posições políticas e ideais muito fortes
– ‘Grande ideia’!, respondeu Dr. Alberto.
e arraigados, acabou deixando a refinaria antes de sua primeira ampliação. Ele foi
incumbido de construir a primeira refinaria, que produziu perfeitamente dentro do que
Essa conversa aconteceu em agosto de 1964, quando papai era diretor industrial e
foi planejado. O problema foi a monopolização do petróleo. Papai nunca foi contra
superintendente da Refinaria União, em Capuava. A ideia era construir uma petroquímica
a Petrobras como muitas pessoas podem imaginar, mas ele era totalmente contra o
central, que produzisse olefinas e aromáticos, obedecendo a uma série de requisitos para
monopólio estatal de petróleo. Ele era um defensor ferrenho da livre iniciativa e da livre
que ela existisse como empresa sustentável e econômica”.
concorrência, por acreditar que o consumidor precisava de um produto de qualidade e
barato. Ele achava que o monopólio era contra essas convicções”, exalta Alfredo.
Minha passagem pela PQU
A segunda refinaria
“Meu primeiro emprego foi aos quinze anos de idade, na Setal Engenharia. A empresa
ganhadora da concorrência para a obra da PQU. Eu sempre fui um entusiasta da
“Como papai ficou muito conhecido por ter construído a primeira refinaria do país,
ideia da Petroquímica União e do polo de São Paulo. Aos vinte e dois anos de idade,
todo mundo que gravitava nesse segmento econômico sabia quem era o Paes Barreto.
empolguei-me com o mercado financeiro, mas logo constatei que não era a minha
Meu pai e o Alberto Soares de Sampaio tinham como amigo comum o ex-ministro das
praia. Um dia meu pai me chamou no escritório da PQU, ainda no comecinho, e disse
Relações Exteriores e da Fazenda no governo de João Goulart, Santiago Dantas. Ao
que gostaria muito que eu fosse trabalhar com ele. Diretamente com ele. Papai sempre
saber sobre as especulações da construção de uma nova refinaria no estado de São
foi o meu maior amigo e meu maior ídolo. E eu fiquei prazerosamente preocupado,
Paulo, ele indicou meu pai, que estava prestes a ingressar novamente na Esso, por
pois era muito jovem e teria que interagir com grandes empresários. Apesar de feliz,
onde ele já havia passado. Meu pai foi interrompido por um telefonema no exame
eu estava preocupado. Mas ele confiou em mim. Fiquei na Petroquímica União até o
médico admissional. Ele saiu de lá e foi encontrar o Santiago, o dr. Alberto e o dr.
dia em que ela passou ao controle acionário da Petroquisa. Fui demitido pelo meu pai,
Moreira Salles para conversar sobre a construção da Refinaria União. O convite para
que saiu no mesmo dia. Depois, ainda trabalhamos juntos na construção civil.”
dirigir o final da obra e a montagem da refinaria foi aceito.
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“A fase de transpiração das plantas de várias indústrias químicas”
“A equipe montada por meu pai desde Mataripe era de alta qualidade e
acompanhou-o na Refinaria União e na Petroquímica União. Quanto à equipe técnica,
tínhamos, em São Paulo, profissionais do mais alto gabarito como Hans Westphalen,
Fernando José Clark Xavier Soares, Ivon de Castro Gonçalves e uma porção de outros.
Sem eles, aquilo não teria sido erguido. E claro que vieram para o Brasil especialistas
da empresa Lummus Company, que eram detentores do conhecimento técnico.
O primeiro nome da Petroquímica União foi Quimpetrol Ltda. Essa central era uma
associação entre a Refinaria União, o grupo Ultra e a Phillips Petroleum, grande
empresa petroquímica de produtos semiacabados com várias plantas pelo mundo.
Como a intenção primordial da Quimpetrol era a substituição das importações de
produtos petroquímicos pela produção nacional, a Phillips percebeu que iria perder
um vasto campo de venda de seus produtos. Por isso, desistiu de permanecer com a
sua participação no capital social da Quimpetrol. Nesse momento, já que não poderia
contar com a colaboração dessa importante companhia petroquímica, a solução
encontrada por meu pai foi associar a Refinaria União ao banco Moreira Salles, ao
grupo Ultra e ao grupo Monteiro Aranha. Para resolver o problema de fornecimento de
nafta foi criada a Petroquisa, que se juntou a esses grupos nacionais dando início
à Petroquímica União.”
Alfredo ainda visitou o Polo de Capuava algumas vezes, mesmo depois da morte de
seu pai e fala sobre ele com a propriedade de quem viu tudo ser criado:
“No dia em que descerraram a placa que inaugurava o início das obras, em 11 de
abril de 1969, o presidente da República, o marechal Arthur da Costa e Silva, esteve
presente ao local. Esse foi um fato inédito no governo militar, um presidente sair de
seu lugar de comando para ir a uma inauguração de uma obra, no meio do nada,
almoçando, inclusive, em um barracão provisório de madeira. Eu estava presente
neste dia. Foi espetacular! Todas as autoridades prestigiando um ‘marco de pedra’
implantado no centro de uma clareira aberta no meio de uma densa plantação de
eucaliptos. Isso não existia, então veja a importância dessa central na época para o
governo e para o Brasil.”
Hoje, aposentado, Alfredo Paes Barreto, filho de Carlos Eduardo Paes Barreto, mora
em uma praia no sul da Bahia.
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Alguns fatos marcantes da década de 1980
Em plena operação, os três principais polos petroquímicos brasileiros (São Paulo,
Camaçari e Triunfo) já eram capazes de atender a demanda interna por produtos
Foram 21 anos de regime militar. A Nova República nascia em março de 1985, com
petroquímicos tradicionais e ainda exportar para várias partes do mundo. Foi criado
o presidente José Sarney, que assumia o cargo em virtude da morte de Tancredo
um programa emergencial, com a adoção – pela Petrobras, centrais petroquímicas,
Neves, eleito pelo colégio eleitoral, em eleições indiretas, batendo Paulo Maluf. O
empresas de segunda geração e indústrias de transformação – de preços marginais
novo governo tomou algumas medidas de austeridade monetária e fiscal, como o
de exportação ao longo da cadeia. Em pouco tempo, a petroquímica brasileira já
congelamento de preços, com o objetivo de reduzir a inflação. Além disso, havia uma
exportava 40% de sua produção.
recente queda no preço internacional do petróleo, cujo ponto crítico foi o ano de
1986, no qual os preços caíram abaixo do patamar de US$ 10 o barril.
Em fevereiro de 1986, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) encaminharia
ao então ministro da fazenda, Dilson Funaro, uma proposição de investimentos para os
Nos anos 1980, entre os sonhos de consumo estava o Escort XR3, da Ford, e o Gol
próximos dez anos, que variava de 3,4 a 5,2 bilhões de dólares. Primeiramente, a intenção
GTi, da Volkswagen. Cobiçados, eles tinham o design e os opcionais mais atrativos.
era duplicar o Polo de Camaçari, e, em um segundo momento, fazer o mesmo com o
Entre as moedas, o barão foi a mais marcante da década. A nota retratava o Barão do
Polo do Sul. Para alavancar a preferência pela primeira expansão, foi realizado na Bahia,
Rio Branco e valia mil cruzeiros (o símbolo era Cr$). Com a entrada do cruzado (Cz$)
no mesmo ano, o 1º Seminário Nacional de Comércio Exterior de Produtos Químicos
para combater a inflação e aumentar o poder de consumo da população, em 1986, o
e Petroquímicos. Este evento apresentou também uma nova proposta. Com as novas
barão perdeu três zeros e passou a valer menos. Nesse período, milhares de pessoas
reservas de gás natural descobertas na bacia de Campos, era possível criar uma nova rota
passaram a vigiar os preços no comércio e a denunciar as remarcações feitas. Eram os
de processo via gás, com a criação de um novo polo petroquímico, o Complexo da PoliRio,
“fiscais do Sarney”. Três anos mais tarde, o barão saía definitivamente de circulação,
que não se concretizou. Porém, este projeto foi o embrião da Rio Polímeros (Riopol).
substituído pelo cruzado novo (NCz$).
Em 1989, o “Diário do Grande ABC”, jornal diário da região, publicou uma série de
Mesmo com a crise se refletindo também no futebol, afinal, perdemos as Copas
reportagens sobre o desenvolvimento do Polo Petroquímico de Capuava. A jornalista
de 1982 e 1986, outras modalidades esportivas conquistavam os brasileiros.
Elianete Simões, pautada por um questionário padrão enviado às empresas, apresentou
No vôlei, todos vibravam com o saque Jornada nas Estrelas, criado pelo jogador
um perfil de cada uma delas. Baseada nessas informações, Elianete produziu as seguintes
Bernard. Também era comum o telespectador brasileiro aguardar ansioso, durante a
matérias: “Petroquímica gera a principal receita de Santo André e Mauá” (Diário do
madrugada, as transmissões das lutas célebres do boxeador Mike Tyson, que estava
Grande ABC, 6 de agosto de 1989) e “Vários grupos dividem o controle de Capuava”
no auge de sua carreira. E, aos domingos, assistir ao piloto brasileiro Nelson Piquet
(Diário do Grande ABC, 20 de agosto de 1989).
em suas belas performances na Fórmula 1, que, no final da década, passou a dividir
a atenção da torcida com outro piloto brasileiro, Ayrton Senna, que conquistou seu
“Formado por 13 indústrias concentradas num raio aproximado de 10 quilômetros entre
primeiro título mundial em 1988, pela equipe McLaren.
Santo André e Mauá, o Polo Petroquímico de Capuava congrega a fatia mais significativa
da produção paulista, a mais antiga do país e distribuída também por São José dos
Com a criação do Conselho Nacional de Meio Ambiente, a ecologia entra na pauta das
Campos, Paulínia e Cubatão. Apesar de sua representatividade na produção paulista e
empresas petrolíferas e o Brasil se destaca no cenário internacional graças à Petrobras, que
nacional, Capuava tem hoje tanto a produção como o faturamento superado pelos polos
passa a ter toda a sua gasolina isenta de chumbo tetraetila – composto altamente tóxico e
mais novos e modernos – Camaçari, na Bahia, e Triunfo, no Rio Grande do Sul. Dados
que inviabilizava o uso de conversores catalíticos nos veículos, por causa da deterioração.
fornecidos pela PQU relativos a 1987 indicam que o polo paulista, no qual Capuava
possui a maior participação, responde por 29% da produção nacional de petroquímicos
Em 1989, foi criado também o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
básicos, ficando Triunfo com 32% e Camaçari com 39%. Nas exportações, o polo
Naturais Renováveis (Ibama), para conduzir a política nacional do meio ambiente, e
paulista tem participação de 16% contra 39% de Camaçari e 45% de Triunfo.
do Fundo Nacional de Meio Ambiente, que se destinava a financiar projetos de uso
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sustentável a partir de recursos naturais. O fundo também previa verbas para melhorar
Em vendas internas São Paulo ganha de Triunfo (36% contra 24%), mas perde para
ou recuperar a qualidade ambiental.
Camaçari, com 40%”, assinalou a jornalista.
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Futebol, provas de café e uma “vida”
na indústria petroquímica
Na época, a Union Carbide apresentou ao Grupo Executivo da Indústria Química
(Geiquim), um projeto de produção de etileno a partir da nafta, no qual as fornalhas
de craqueamento não eram as tradicionais. “As fornalhas Wulf eram uma novidade.
Nívio Roque nasceu na cidade de Santos, litoral de São Paulo, no dia nove de
Diferentemente das tradicionais, elas pirolisavam nafta dando, como produtos,
outubro de 1940. Na infância, tinha o sonho de ser jogador de futebol. “Eu jogava
apenas etileno e acetileno”. Infelizmente, o conjunto grandioso dessas novas
razoavelmente bem. Cheguei a ser treinado pelo Filipo Nuñes, na Portuguesa
instalações não funcionou. E a Carbide, a maior produtora mundial de etileno
Santista”, referindo-se à Associação Atlética Portuguesa da cidade de Santos. Sem
na época, fracassou na sua “inovação tecnológia” e na tentativa de contornar o
muito estímulo da família, afinal, seu pai, condutor de bonde, queria um futuro melhor
impedimento legal de vender gasolina e GLP. A descontinuidade da unidade Wulf
para o filho, Nívio só tinha permissão para treinar futebol após cumprir seus deveres.
obrigou a Carbide a recorrer, mais tarde, à Petroquímica União, que mantinha uma
“Meu padrinho era o grande incentivador. Porém, os meus pais só me deixavam jogar
reserva de 80 a 90 mil toneladas de etileno.
futebol no tempo ocioso. E como eu trabalhava das 8h às 18h e estudava das 19h30
às 23h, só sobravam os finais de semana. Minha carreira encerrou ali. Ainda bem.
Em 1969, já no cargo de supervisor e sem visualizar futuro para a unidade, Nívio
Naquela época eu tinha a idade do Pelé e qualquer jogador perto dele era um ‘perna
resolveu subir a serra e seguir rumo à cidade de Santo André, no Grande ABC.
de pau’. Meu pai fez a coisa certa!”, concorda Nívio.
“Meu destino era a Rhodia, indústria têxtil, porém, assim que cheguei lá, alguém
mencionou que uma indústria petroquímica seria construída ali perto, com
Depois de aprender a classificar cafés, tornando-se provador de café, onde permaneceu
tecnologia semelhante à Wulf. Quando passei em frente às antigas instalações da
até 1963, Nívio ingressou no curso de Economia, na Faculdade São Leopoldo, em
Petroquímica União, onde tentei preencher uma ficha de inscrição, sem sucesso,
Santos.“Pedi a um amigo para que me avisasse se tivesse concurso na empresa na
avistei uma placa com os dizeres: Fábrica de polietileno. ‘Opa, esse negócio
qual ele trabalhava, a Union Carbide do Brasil. Ele avisou. Eu prestei e passei. Saí da
eu conheço bem!’ Entrei no canteiro de obras para descobrir como eu poderia
empresa de café e fui para a empresa petroquímica, mas eu não tinha ideia do que
conseguir uma vaga naquela empresa, a Poliolefinas S.A., que, após o programa de
era uma indústria petroquímica, afinal, tinha 23 anos de idade. Quando cheguei lá,
privatizações da década de 1990, foi incorporada pelo Grupo Odebrecht, passando
em 1963, fiquei na função de aprendiz de operador. Mais tarde, atuei nas áreas de
a se chamar Polietilenos União. Depois de um processo demorado de contratação,
purificação de gases e polietileno”.
fui chamado e comecei, em 1971, como supervisor de turno, cargo ocupado
por mais cinco anos”, conta Nívio, que, nesse meio tempo, foi para a Bélgica se
Nívio Roque, um
dos precursores do
Grupo de Sinergia
do Polo
aprofundar na tecnologia da National Distillers. Anos mais tarde, ele foi promovido
a supervisor e a gerente de produção, quando foi encarregado de participar do
projeto em Camaçari, com a construção da unidade do Nordeste, a Politeno S.A.,
que produziria polietileno de baixa densidade, onde permanceu até 1992. Ao
retornar para São Paulo, Nívio assumiu a gerência geral da OPP Polietilenos, cargo
no qual permaneceu até 1999, quando foi chamado para trabalhar na prefeitura de
Santo André. “Como eu era economista e administrador, fui convidado para atuar
como executivo na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Emprego, ao lado
do ex-prefeito Celso Daniel e do secretário Nelson Tadeu. Fiquei na prefeitura até o
ano 2000, quando retornei, a pedido do Roberto Bischoff, para ser diretor industrial
da Unipar”, conta Nívio. Quando foi criada a Quattor, em 2006, que incorporou
a PQU Petroquímica União, a Unipar Divisão Química, a Polietilenos, a Riopol e a
Suzano Petroquímica, Nívio assumiu a direção industrial das fábricas de polietileno
em Cubatão e Mauá (SP) e no Rio de Janeiro. Entre 2009 e 2010, ele fecha a
carreira com chave de ouro, cuidando das fábricas de polipropileno em Mauá (SP),
Duque de Caxias (RJ) e Camaçari (BA).
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A privatização nos anos de 1990
O governo de Fernando Collor de Mello foi marcado por uma acentuada queda de
preços dos produtos petroquímicos no Brasil, que ocorreu por causa de uma brusca
redução de barreiras aduaneiras. O sistema tripartite também estava com os dias
contados, com a privatização dos ativos da Petroquisa, que ficou totalmente alienada
das empresas de segunda geração e limitada a manter uma participação minoritária de,
no máximo, 15% nas centrais de matéria-prima. Os vários sócios privados (nacionais e
estrangeiros) passaram a ter o controle pulverizado dos negócios, o que provocou um
forte conflito de interesses e entraves, principalmente em relação aos reajustes da nafta,
mantidos pelo monopólio da Petrobras. O resultado disso foi o comprometimento da
capacidade produtiva e a inibição da realização de grandes investimentos.
O ano de 1992 é marcado pelo impeachment do presidente Fernando
Collor, que renuncia ao mandato. Começa o governo Itamar Franco, que é
sucedido, em 1995, por Fernando Henrique Cardoso, iniciando seu primeiro mandato
na presidência da República, enquanto Mário Covas assumia o governo do Estado
de São Paulo. No ano seguinte, impulsionadas pelo PND (Programa Nacional de
Desestatização), que implantou a privatização das companhias petroquímicas, e
pela globalização, começam a surgir alianças estratégicas entre empresas estatais e
privadas. De acordo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico),
entre 1990 e 1997, 26 estatais do setor foram vendidas. Seguindo o modelo das
empresas mais competitivas, em 1994, a PQU deixou de ser estatal. Dois anos depois,
ela já conseguia reverter um prejuízo de R$ 32 milhões.
Nessa época já começou a ficar mais difícil saber quem era quem na petroquímica
nacional. Foram muitas as combinações acionárias. A Odebrecht, por exemplo,
adquiriu o controle acionário das empresas das quais era acionista e passou de
investidora a líder de negócios no setor. A fusão da Poliolefinas e da PPH, por
exemplo, deu origem à OPP Petroquímica, que controlava quatro fábricas localizadas
nos três polos petroquímicos, além de uma quinta unidade em Itatiba, interior do
estado de São Paulo.
Em 1998, é instituída a Agência Nacional do Petróleo (ANP), com amplas atribuições de
regulação, contratação e fiscalização nas atividades no setor de petróleo e gás natural.
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Em torno do Polo
moram 80 mil pessoas.
É praticamente
uma cidade!”
Luiz Shizuo Harayashiki,
químico, com especialização
em Qualidade e Produtividade,
trabalhou por 34 anos na Oxiteno.
3. A criação do Grupo de Sinergia
42
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“– Barlem! Por que tu não tentas montar um grupo para troca de experiências, para
em desempenho operacional, visando transformar os excedentes de óleo combustível
conseguir preços menores nos contratos? Monta o grupo. Toca esse negócio, Barlem!
em derivados mais nobres. “Nesse período, no início da década de 1980, o Brasil
Faz acontecer!”
vivia uma crise na qual não tínhamos condições de importar prestação de serviços e
tecnologia. Criamos, então, um grupo na refinaria, que efetuou um trabalho sinérgico
Logo após uma reunião dos representantes das empresas do Polo Petroquímico de
para alavancar o desempenho da unidade na disputa do mercado de derivados. Sem
Capuava, que debatiam sobre o que poderia ser feito para aumentar a competitividade
dúvida, essa experiência contribuiu para o meu engajamento no Grupo de Sinergia do
do polo, foi com essa frase que Pedro Wongtschowski, um dos diretores executivos
Polo Petroquímico do Grande ABC”, relata Barlem.
do grupo na época, incentivou César Barlem a se tornar o responsável por criar uma
espécie de cooperativa petroquímica.
“Logo depois do meu regresso à São Paulo, o Barlem me visitou na fábrica e conversamos
Era uma deliberação informal, que partiu do Conselho de Administração da
a respeito do pedido que ele havia recebido por parte da diretoria da PQU, sobre a missão
Petroquímica União, porém decisiva, pois o setor passava por um momento econômico
de tentar congregar as empresas do Polo. Eu contei sobre um modelinho embrionário
instável, com a queda dos preços dos produtos químicos e petroquímicos. Além
implantado na Unipar e na OPP, em 1993, principalmente na contratação de transporte
disso, o formato cooperativo iria contribuir para estimular a superação das barreiras
coletivo para os funcionários. Imediatamente, ele aprovou e a PQU aderiu. Nesse momento,
corporativas e integrar os interesses de empresas que tinham muito mais que a
começamos a debater as potencialidades da ação conjunta e procuramos o Fragale, diretor
vizinhança física como afinidade. Elas possuíam interatividade produtiva. O processo
da Solvay. Mas percebíamos que dentro das próprias organizações havia uma barreira que
começava na Petroquímica União, a central de matéria-prima, que distribuía os
vinha dos acionistas. A mentalidade tacanha de alguns ameaçou o projeto. A integração
insumos para empresas satélites de segunda geração,
só aconteceu por causa da privatização do setor petroquímico e, mesmo assim, foi preciso
que, por sua vez, abasteciam as indústrias de terceira
convencer os acionistas de que seria realmente benéfico para todas as empresas, separadas
geração, fechando essa verdadeira roda econômica.
pelas diferenças culturais existentes e pelo isolamento administrativo. Isso só foi possível
Começamos, então, o trabalho de criar
com os números, que indicaram, logo no início, os ganhos resultantes da reestruturação das
oportunidades, que nos levariam a obter
Segundo Nívio Roque, em 1995, com a abertura de
rotas, do menor consumo de combustível, da ocupação total dos assentos dos ônibus e da
ganhos no curto prazo, com ações integradas
mercado favorecida pelo governo Collor, para não
satisfação dos usuários, que passaram a contar com um fluxo maior de veículos. Melhorou
entre as empresas”, lembra César Barlem,
morrer na praia, o polo paulista precisava tornar-se
para o colaborador, melhorou para a empresa e o custo baixou muito. Então, nós pensamos:
engenheiro químico gaúcho, que na época,
mais competitivo. “Eu lembro que chegou um navio
‘Puxa vida, esse é o caminho!’”, conta Nívio.
em 1996, já aposentado, era diretor industrial
da Rússia carregado de polietileno que, na época,
da PQU. “Para formar a primeira aliança,
custava 500 dólares. Esse era o preço que a gente
procurei o Nívio Roque, da Polietilenos União,
pagava pela matéria-prima aqui na PQU. E depois
“A nossa missão era ‘obter ganhos no curto prazo, explorando as oportunidades de
e o Rogério Fragale, da Solvay. Entramos em
tinha que processar e somar todos os custos variáveis
integração nas áreas de serviços’. Num primeiro momento, e a partir da reestruturação
contato com as outras indústrias e começamos
e fixos para calcular o valor do produto. Então, ficaria
do relacionamento com os fornecedores – pois criamos um modelo de contratação
a nos reunir no intuito de listar todos os
no mínimo quase o dobro do produto russo. Como
unificado, porém, que respeitava as características e necessidades individuais de cada
serviços e produtos que contratávamos de
a gente ia fazer? A gente ia morrer. Precisávamos
empresa –, começamos a estender o trabalho para outros contratos administrativos e
terceiros. Como tínhamos muita coisa em
nos unir e fazer alguma coisa para o polo ficar mais
de produção, como alimentação, copiadoras e atividades de manutenção, por exemplo.
comum, a ideia foi contratar em conjunto.
competitivo”, conta Nívio.
Outro aspecto muito interessante é que apesar de as empresas serem vizinhas, havia
uma troca muito pequena de informações, nós nos conhecíamos pouco. Por isso,
Dessa forma, teríamos mais poder de
barganha, preços melhores e qualidade no
De certa forma, quando trabalhou na Petrobras,
criamos uma espécie de código de conduta, com normas e padrões a serem seguidos,
atendimento, pois um mesmo fornecedor
mais especificamente na Refinaria Alberto Pasqualini,
da contratação até a análise do serviço. Vale ressaltar também que ao transpor para os
atenderia o grupo todo. Foi assim que nasceu
em Canoas, Rio Grande do Sul, Barlem participou
fornecedores o princípio de ganho de escala, eles passaram a ter maior rentabilidade
o ‘Grupo de Sinergia’”,
de um programa chamado de “fundo de barril”,
pela quantidade e mais eficiência no atendimento”, explica Barlem, que ficou durante
onde coordenou um grupo de trabalho com foco
os dois primeiros anos na presidência do grupo.“Eu contei com o apoio e a contribuição
destaca Barlem.
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Muito antes do
Grupo de Sinergia,
as empresas
sempre atuavam de
forma integrada,
principalmente no
Plano de Auxílio
Mútuo (PAM)
irrestrita do Fragale e do Nívio. Os dois são muito bons, muito competentes e
abraçaram a causa para realmente fazer acontecer. Com certeza, se não fosse a postura
forte e decisiva deles em alguns momentos, talvez nós não tivéssemos conseguido
alcançar o resultado no prazo estipulado”, completa Barlem.
Em pouco tempo, os três mobilizaram e reuniram cerca de 90 executivos do conjunto
de empresas fisicamente próximas – Petroquímica União, Cabot, OPP, Polibrasil,
Oxiteno, Unipar, Air Liquide, Chevron, White Martins e Recap –, formando as equipes
temáticas de trabalho ou subgrupos, que se reuniam uma vez por mês no Grupo
de Sinergia. O principal interesse era monitorar as ações e buscar os resultados
planejados. “Os contratos respeitavam as características individuais de cada empresa,
verificávamos se o fornecedor estava cumprindo a legislação trabalhista e de saúde
ocupacional dos seus funcionários, enfim, para ser prestador de serviços do Polo era
preciso seguir uma série de diretrizes”, conta Barlem.
O primeiro subgrupo criado, ainda em 1996, foi o de Serviços Administrativos, com o
objetivo de identificar os serviços comuns que pudessem, por meio da unificação do
fornecedor, oferecer ganhos em escala e obter a otimização dos custos das empresas.
Depois, vieram os seguintes subgrupos: Manutenção, PAM (Plano de Auxílio Mútuo),
Comunicação, Atuação Responsável (segurança e meio ambiente), Saúde (medicina do
trabalho), Energia (energia elétrica), Segurança Patrimonial e Utilidades.
Apesar de cada empresa instalada no Polo Petroquímico do Grande ABC ter os
Já ao longo do curso de engenharia química, César Barlem começou
próprios sistemas de manutenção e promoção de SSMA (Saúde, Segurança e Meio
a trabalhar na Refinaria da Petrobras, em Canoas, no Rio Grande
Ambiente), a busca pela excelência em segurança impulsionou a Petroquímica e mais
do Sul, em 1968. Logo após a formatura, ele prestou o concurso
nove empresas a se juntarem para criar, em 1973, o PAM (Plano de Auxílio Mútuo).
para ser engenheiro da Petrobras e passou. “Voltei para a Refap
como engenheiro, mas depois fui para um grupo que era ligado à
Em 1984, a ajuda mútua foi estruturada e recebeu o compromisso formal das
otimização das refinarias. O projeto chamava-se ‘Fundo de Barril’, ou
indústrias, que passaram a atuar de forma unificada. Liderado também pelo Corpo de
seja, é pegar as partes mais pesadas do petróleo e transformar em
Bombeiros, o grupo tinha como missão atuar em conjunto no controle das situações
produtos nobres, esse foi o nosso objetivo. Depois disso fui trabalhar
de emergência, garantindo que o incidente não acarretasse problemas ou riscos à
como superintendente na usina de xisto que a Petrobras tem em
comunidade. Intercâmbio de experiências, padronização de equipamentos, realização
São Mateus do Sul, no Paraná. Lá nós continuamos um trabalho
de simulados de controle de emergência e treinamento de brigadistas, por exemplo,
de desenvolvimento tecnológico do xisto e demos uma reforçada
são algumas das ações integradas e adotadas pelo PAM até a atualidade.
importante nos avanços tecnológicos de refino. Anos mais tarde, me
aposentei como superintendente e fui atuar como consultor, quando
César Barlem
recebi o convite para vir para São Paulo trabalhar como diretor
industrial na PQU”, relata Barlem.
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De acordo com a publicação corporativa “Petroquímica em União”, edição de maio de
Os resultados não demoraram a aparecer e novos serviços acabaram
incorporados. Um balanço de Vanderlei Retondo, executivo da Unipar
e titular do subgrupo de serviços administrativos, em 2000, sobre os
três anos do subgrupo que comandava era autoexplicativo. “A partir da
reestruturação das relações com fornecedores, os setores de alimentação,
transporte administrativo, limpeza, jardinagem, copiadoras, segurança
1998, sob comando da iniciativa privada, a “Fábrica de fábricas” vivia um momento
muito importante da sua história. “Ao contrário dos tempos de estatal – quando a
economia era fechada, os preços controlados pelo Conselho Interministerial de Preços
(CIP) e não havia uma política contínua de investimentos – o novo figurino pedia
empresas competitivas, com estruturas ágeis e enxutas, funcionários preparados,
diminuição de custos, redirecionamento dos negócios etc.”
patrimonial, transporte de turno e assistência médica apresentaram
redução de custo de R$ 12,3 milhões em relação ao último período
A PQU conseguia reverter um prejuízo de R$ 32 milhões, em 1996, para um lucro
de 12 meses em que prevalecia o individualismo.
de R$ 15 milhões em 1997, inclusive com aumento de faturamento, redução do
endividamento e remuneração dos acionistas. Entre 1996 e 1998, a PQU investiu cerca
de US$ 260 milhões para tornar-se mais moderna e eficiente, com o aperfeiçoamento
dos processos de fabricação e a simplificação dos métodos de trabalho.
“Na busca de redução de custos em comum, não existe
concorrência e sim inteligência”
Essa frase era empregada pelos integrantes para resumir a operação conjunta do
Grupo de Sinergia
“Além de reduzir os custos, tínhamos como objetivo consolidar uma posição mais
representativa e forte do Polo perante a comunidade e a região do Grande ABC”,
conta Nívio Roque sobre a dispersão que existia entre as empresas antes da criação
do grupo, afinal, até poucos anos antes elas eram de propriedade do Estado, que por
meio da Petroquisa, subsidiária da Petrobras, mantinha o controle majoritário da PQU e
participava minoritariamente da Poliolefinas (que virou OPP Polietilenos) e da Oxiteno.
“Não ganhamos apenas na racionalidade de recursos financeiros, passamos a ter um
posicionamento mais participativo também junto aos órgãos públicos, prefeituras e
governos estadual e federal. Na verdade, tudo foi feito para obtermos um aumento
de competitividade frente as outras regiões do país, visto que a cada ano perdíamos
em participação no mercado. Na época, enfrentávamos um gargalo de produção da
PQU. Este era um componente limitador da expansão da produção de várias empresas
do polo. Por isso, a união de forças contribuiu para tornar mais intensa a luta pelo
aumento de produção da PQU, de 500 mil para 700 mil toneladas/ano de eteno, do
qual derivava a multiplicidade de subprodutos da cadeia produtiva”, esclarece Nívio,
que na ocasião ocupava a posição de superintendente da OPP Polietilenos, cuja fábrica
também almejava dobrar sua capacidade de produção com a expansão.
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Redução de despesas registradas pelo
Polo Petroquímico do Grande ABC depois
da criação do Grupo de Sinergia:
Notícias
Serviço
“A importância econômica do Polo de Capuava, até recentemente
relegado ao quarto de despejo das organizações político-administrativas
da região, vai muito além da visibilidade tributária que começa a ser
Queda nas despesas
Transporte
20%
Segurança
22,5%
Cópias xerográficas
40%
Assistência médica
36%
propagandeada. Mais que os 66% que os petroquímicos representam
de forma direta para as receitas de ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) de Mauá e 36% de Santo André, o grupo de
empreendimentos que produz petroquímicos na divisa dos dois municípios
Ilustração de Girotto
sintetiza a nomeação
de Nívio Roque como
assistente técnico
da Secretária de
Desenvolvimento
Econômico e Emprego
de Santo André
pode significar, com novos aportes de produção, o surgimento de novas
empresas de terceira geração, responsáveis por produtos acabados. Em
resumo: tão relevante quanto os recursos tributários diretos e indiretos
que proporciona, a revitalização do Polo de Capuava implementaria
investimentos e empregos em novas unidades industriais”.
Daniel Lima, editor. Trecho de matéria publicada na Revista Livre Mercado, abril de 1998
Por dentro dos fatos
Emprestando experiência
Hoje no comando do site Capital Social, o jornalista Daniel Lima, natural de
O “Grupo de Sinergia” foi um dos mais bem-sucedidos projetos envolvendo
Guararapes, interior do estado de São Paulo, quando estava na edição e direção
empresas congêneres de que se tem notícia no Brasil, servindo, inclusive, de modelo
da revista Livre Mercado, onde permaneceu por 18 anos, acompanhou de perto o
para outros conglomerados industriais. No ano 2000, o Polo Automotivo do Paraná
desenvolvimento do Polo Petroquímico do Grande ABC. “A primeira conexão que
e o Polo Petroquímico de Camaçari, por exemplo, estavam copiando o plano de
tive com o Polo foi no início da década de 1990, logo no começo da revista “Livre
assistência médica, que contemplava a uniformidade contratual e a qualidade no
Mercado”, quando fizemos uma matéria sobre a questão da água de reúso. Porém,
atendimento. No mesmo ano, Nívio Roque, que já integrava o departamento da
pessoalmente, tive a oportunidade de visitar a OPP Polietilenos para uma entrevista
Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Emprego da Prefeitura de Santo André,
com o Nívio Roque e uma visita às instalações da fábrica. A matéria foi tão positiva
junto com o secretário Nelson Tadeu Pereira, começou o Grupo de Sinergia da
que acabou rendendo uma indicação e a primeira colocação da empresa, em 1998,
Avenida Industrial. Apoiada pelo então prefeito Celso Daniel, que sempre enxergou o
no Prêmio Desempenho Empresarial, criado pela revista como forma de reconhecer os
Polo como uma mola propulsora para o desenvolvimento da cidade de Santo André,
grupos corporativos de destaque da região. O Nívio Roque é uma pessoa maravilhosa,
a ideia era repetir o modelo embrionário de cooperativismo criado pelo polo, visando
comprometido com o que faz e foi uma espécie de ‘face’ da responsabilidade social
diminuir custos fixos na contratação dos prestadores de serviços para obter melhores
do Polo Petroquímico. Esse período foi muito fértil do ponto de vista institucional no
condições de compras, propiciar a troca de experiências e fomentar negócios entre as
Grande ABC; nós tínhamos o Celso Daniel como grande dirigente público, o Polo
empresas participantes.
efervescente, a união operacional das empresas e havia toda uma massa crítica.
Foi uma fase promissora. Além disso, gosto sempre de reiterar que o Polo, além de
Em 2004, as contratações e compras em comum pelo Grupo de Sinergia do Polo
arrecadar valores bastante representativos de ICMS para Santo André e Mauá, sempre
Petroquímico do Grande ABC atingiam todas as áreas de atuação trabalhadas pelos
demonstrou muito mais interesse e responsabilidade em relação à sociedade do que
subgrupos e geravam uma economia de mais de R$ 24 milhões.
outros setores da nossa economia”, conta Daniel Lima.
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“Meu contato com o Polo começou um pouco antes, quando eu ainda estava na
mesmos serviços: copiadoras, vigilância, limpeza, contabilidade, jardinagem, plano
Rhodia, como diretor industrial. Nós tínhamos um programa chamado ‘Santo André:
de saúde etc. Foi criado também o Eixo-Tamanduateí, encabeçado por uma grande
Primeira Opção’, no qual a grande empresa se comprometia em contratar serviços e
empresa, a Firestone, que tinha o papel de ser a madrinha do grupo, alavancando
comprar alguns produtos de fornecedores regionais. Na ocasião, conseguimos fazer
as vantagens de compra e contratações para as filiadas de menor porte. “Um grupo
com que alguns fornecedores estabelecessem até filiais aqui.
de sinergia quando bem administrado e alinhado com o poder público, as empresas,
as entidades e as universidades, conta com inúmeras vantagens no processo de
Com o apoio da prefeitura de Santo André e o meu ingresso na Secretaria de
integração não só industrial, mas social. A interação com a sociedade como um todo é
Desenvolvimento Econômico, frequentemente éramos convidados para participar das
fundamental!”, comenta Nelson Tadeu.
reuniões do Grupo de Sinergia. Os encontros funcionavam principalmente para que as
empresas buscassem o nosso apoio, apresentando as demandas e os problemas. Uma
Segundo Nelson Tadeu, no caso da liberação da expansão do Polo, um assessor
das demandas mais críticas na época, sem dúvida, era a de uma lei vigente no estado
do governo do estado de São Paulo acompanhava as reuniões da Agência de
de São Paulo que proibia a expansão do Polo Petroquímico”, conta Nelson Tadeu
Desenvolvimento Econômico e do Consórcio Intermunicipal, atuando como
Pereira, hoje assessor do presidente da Associação Comercial e Industrial de Santo
interlocutor. “Quando eu estava na prefeitura, lembro que o projeto incluía também
André - Acisa. A lei ambiental 1817, promulgada em 1978, impedia que alguns setores
uma ideia de co-geração de energia elétrica com a Rolls-Royce. Infelizmente, como
industriais, como indústrias petroquímicas e de celulose e papel, fossem expandidos.
temos os entraves de tempos diferenciados do poder público e da iniciativa privada,
Isso era extremamente prejudicial, pois com o tempo as fábricas ficariam obsoletas e,
com as mudanças nas multinacionais, as prioridades passaram a ser outras e o
consequentemente, o Polo ficaria deficitário”.
investimento regional foi deixado de lado”, conta.
“Qual a origem de um grupo de sinergia? Muita gente costuma questionar se
Século XXI
realmente vai dar certo o fato de empresas concorrentes sentarem-se na mesma
mesa para tratar de assuntos de sinergia. Porém, se você começar pela área de
No final de agosto de 2000, foi anunciado o início das obras do Polo Gás-Químico,
serviços, como foi o caso do Polo, que começou com transporte, jardinagem, limpeza
projeto que estava há mais de 30 anos no papel e, finalmente, transformaria
e restaurante, quanto mais gente comprar o mesmo serviço, maior será o desconto
Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, na sede do maior complexo do gênero na
e as vantagens. No início, as empresas estavam receosas de que ao unificar o
América Latina. Essa cadeia industrial utilizaria apenas o gás natural de refinaria,
transporte dos colaboradores das empresas, poderia haver mais troca de informações
transformando-o em polietileno.
sobre salários e com o sindicato, como se isso já não ocorresse. Na verdade, o que
acontecia antes das negociações é que os custos eram maiores e, muitas vezes,
Em 2001, enquanto o mundo assistia ao fim trágico das torres gêmeas em Nova
os ônibus trafegavam com assentos vazios. É um processo de adquirir confiança.
Iorque, nos EUA, o Brasil comemorava o terceiro título consecutivo conquistado pelo
Falam muito que o brasileito é cooperativo, mas é o contrário. Tudo o que você quer
tenista Gustavo Kuerten em Roland Garros. No ano de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva
fazer de maneira conjunta, o outro acha que você quer tirar vantagem. E quando
iniciou seu primeiro mandato na presidência da República, e Geraldo Alckmin assumiu
você tem um grupo de sinergia, você repassa as vantagens para os demais. Com a
o governo do estado de São Paulo.
averiguação dos primeiros resultados, principalmente de ganhos financeiros, ou seja,
da redução de custos na contratação, os serviços começaram a englobar também
Vulnerável economicamente, principalmente em comparação à capacidade produtiva
as áreas de manutenção e as ‘paradas programadas’, que passaram a ser realizadas
das centrais de matérias-primas petroquímicas de Camaçari e Triunfo, o Polo de São
simultaneamente em algumas das empresas do Polo. Com a demanda maior, as
Paulo começava o século XXI em clima de tensão. Com escala de produção menor
empresas prestadoras de serviços acabaram se capacitando ainda mais”, conta Nelson.
e preços mais altos, nem a suposta vantagem logística de estar localizado próximo
ao maior mercado consumidor de plásticos e de subprodutos petroquímicos do
54
Na prefeitura de Santo André, Nelson Tadeu participou da criação de outros grupos
Brasil livrou o Polo de perder mercados para as concorrentes. Mesmo com os custos
de sinergia, como o Grupo de Sinergia da Avenida Industrial, que reunia empresas
adicionais de frete, muitas vezes era mais barato trazer produtos intermediários do
metalúrgicas e de outros setores localizadas na mesma região, que contratavam os
Sul do que comprar resinas na região, por exemplo.
55
O estatuto começa a ser redigido
A Associação das Indústrias do Polo Petroquímico do Grande ABC, Apolo, só
Arnaldo Joaquim Ferreira Júnior, natural de Santos, litoral paulista, ex-gerente
foi criada juridicamente quando a parte burocrática foi formalizada. Foi uma
industrial da Oxiteno, era integrante do grupo de Comunicação da Apolo. Atualmente,
consequência natural. Na ocasião se fixaram os conceitos que fundamentariam
ele mora com a família em Taubaté, no interior do estado de São Paulo. Formado em
a evolução do grupo e que ainda permanecem, inabaláveis, até hoje. “A gente
Química, ele começou sua carreira em Cubatão, como operador de plantas industriais,
soube que tinha chegado a hora de estruturar o negócio, quando sentimos que
depois, foi progredindo, como normalmente acontecia na indústria petroquímica,
ainda faltava uma imagem de integração das empresas com a comunidade e o
como gosta de frisar. “De operador, passei a supervisor, chefe de turno, gerente de
poder público, principalmente porque já havia a necessidade de expansão da PQU.
produção e gerente industrial. Isso em Cubatão, onde fiquei de 1970 até 1987, em
Munidos de informações que comprovavam a força da indústria petroquímica como
uma unidade que passou a pertencer ao Grupo Ultra”, relata.
uma das maiores fontes tributárias de ICMS de Mauá e Santo André, fomos até a
Camâra dos Deputados do Estado de São Paulo. Para nossa surpresa, muitos políticos
Já como gerente da fábrica, Arnaldo foi transferido para uma unidade industrial do
desconheciam não só a proporção de tributos que ajudavam a salvar os cofres
grupo em Camaçari, na Bahia, onde permaneceu por quase três anos. Quando já
municipais, mas também o poder econômico do setor para o estado, que na época
era gerente da fábrica, foi transferido para o interior de São Paulo, para a cidade de
contava com cinco refinarias. Os vereadores das duas cidades, então, só conheciam
Tremembé e, em seguida, para a planta da Oxiteno em Mauá, onde ficou por seis
a ‘tocha’. Era assim que se referiam ao flare. Estava na hora de oficializar o nosso
anos, até aposentar-se.
trabalho. Se fôssemos uma entidade, teríamos mais autonomia”, conta Nívio, que se
comprometeu a levar o advogado da Unipar para redigir o estatuto.
Foi então que falei com o Ciro, advogado da Unipar. Às
“Quando eu cheguei, o Grupo de Sinergia já existia, então comecei a participar das
cinco da tarde daquele mesmo dia, nos reunimos, eu, ele
reuniões como representante da Oxiteno. Passados uns seis meses, foi feita uma troca na
e o Arnaldo, para redigir o estatuto. Depois de pronto,
coordenação do grupo e me pediram para coordená-lo e eu fiz isso durante um período.
registramos. Com a criação da Apolo, a cara do Grupo de
E foi aí que nós montamos a Apolo. No início, o Grupo de Sinergia tinha o objetivo de
Sinergia começou a mudar. Deixou de ter aquele peso que
reduzir custos. Nesse aspecto, foi feita uma série de ações, principalmente na área de
ele tinha, o da embocadura econômica”, conta Nívio.
assistência médica, odontológica, fornecimento de refeições e mais alguns itens de
manutenção mais triviais, que acabaram demonstrando as vantagens financeiras. A
formatação de grupo em associação foi impulsionada por dois fatores fundamentais.
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“Acho que têm situações diferentes. No início nós tínhamos uma pressão desesperada
Na época do apagão, no governo Fernando Henrique, todas as empresas tiveram que
para alavancar resultados e, com o correr dos anos, as empresas começaram a melhorar
fazer uma redução no consumo de energia elétrica. Dessa forma, o grupo teve uma
os seus resultados e pensavam: ‘Bom, agora nós temos que ampliar as nossas fábricas’.
participação importante e recomendou que fosse feito um pleito para que a redução
Ao mesmo tempo, ficava mais pujante a questão de desenvolver uma relação mais
ocorresse em cadeia, pois muitas empresas geravam excedente de energia, enquanto
forte com a comunidade do entorno. Já no Grupo de Sinergia, nós criamos um Conselho
outras, não. A ideia era que uma cedesse à outra suas reduções, de forma que no
Comunitário Consultivo (CCC), que deu uma contribuição fantástica, ainda mais pela
final ela fosse feita pelo bloco e não individualmente. A razão disso é que o Polo é
rotatividade de participantes. Então, eles faziam avaliação de desempenho das nossas
praticamente todo interligado, ou seja, se uma fábrica para, começa o efeito dominó,
empresas, naquilo que impactava de alguma forma a vida deles e, a partir daí, as
principalmente por parte da Petroquímica União. Por gerar excedente de energia,
informações serviam de subsídio para a gente alavancar algum tipo de atividade interna
ela acabou emprestando energia para outras empresas de forma que não houvesse a
ou externa. Com o tempo foi surgindo uma necessidade cada vez maior de integração
necessidade de elas pararem. Fomos o primeiro grupo industrial a ser reconhecido como
com a comunidade e de se ampliar as instalações. Havia muita restrição em relação à
cadeia e isso impediu que houvesse prejuízos maiores por conta da paralisação das
ampliação das empresas do Polo”, lembra César Barlem.
empresas. Isso foi um fato importante”, conta Arnaldo.
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De acordo com Arnaldo, o segundo fato foi o trabalho conjunto pela derrubada da lei.
Curiosidade: O que é o flare?
“O Polo de Capuava era um polo pequeno, precisava aumentar sua capacidade, mas
existia o entrave da legislação ambiental vigente, que impedia o crescimento. Então,
nós tivemos uma participação importante nisso para que houvesse uma revisão nas leis
Marca registrada da Petroquímica União, a tocha permanentemente
para que o Polo pudesse crescer. Fizemos, inclusive, campanhas de aproximação com
acesa é chamada de flare.
a comunidade por meio de um grupo que nós criamos, que se chamava subgrupo de
Esse sistema de segurança dos equipamentos, que hoje está
Comunicação. Até por sua origem e sua complexidade, o Polo não tinha praticamente
instalado na unidade de petroquímicos básicos da Braskem, é
interação nenhuma com a comunidade, o que mudou com a criação desse grupo.
dotado de queimadores na ponta, que garantem a queima de
Elaboramos uma série de eventos e visitas programadas e fizemos uma publicação
qualquer gás antes que este atinja a atmosfera. Em 2008, graças
na qual explicávamos o que era o Polo, o que fazíamos lá dentro, o que se fabricava,
a um investimento de cerca de R$ 30 milhões, a PQU instalou o
quais eram os riscos.Tudo com o objetivo de fazer a população entender o que era
primeiro flare enclausurado do Brasil. Por contar com tecnologia de
aquele ‘bicho estranho’”, lembra.
queima mais eficiente, seguindo os mais rígidos padrões ambientais
do setor, associada à concepção de enclausuramento da chama, o
“A petroquímica, assim como a química, é uma área muito complexa. Ao abrirmos as
novo flare permite maior conforto visual e auditivo à comunidade.
portas das fábricas, a adesão foi imediata, afinal, as pessoas têm curiosidade sobre
os processos industriais. E na batalha para as mudanças, era importante contar com
o apoio da comunidade. Na época, a produção do Polo, que normalmente se mede
em eteno, estava em 500 mil toneladas, enquanto Camaçari já produzia 1 milhão
e 200 mil toneladas. Tínhamos um mercado consumidor muito próximo, porém,
enfrentávamos as desvantagens em termos de capacidade, o que acarretava em custos
maiores. Esses são os fatos mais relevantes, que impulsionaram a criação da Apolo.
Nós fazíamos uma parceria muito boa no Polo e o engajamento de pessoas, como o
Nívio Roque, o César Barlem e o Wilson Matsumoto, diretor-superintendente da PQU,
foi essencial para fazer as coisas realmente acontecerem.
O Polo, na região, principalmente em Santo André e Mauá, é
responsável por mais de um terço da arrecadação dos municípios.
Logo, a sua importância econômica e social é muito grande.
Sendo constituído por indústrias de capital intensivo, ele
não gera tanto emprego direto, mas gera muitos empregos
indiretamente, principalmente entre os prestadores de serviços,
como nas empresas contratadas para manutenção”, comenta
Arnaldo e conclui: “O objetivo era ter uma relação clara,
transparente e responsável com as pessoas da comunidade”.
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Uma só voz
Somente em 2004, com a formação da Apolo, o Polo Petroquímico passou a ter uma
imagem mais forte. “Por vezes ocorria algum tipo de problema nas empresas ou um
mau entendimento do processo industrial por parte da comunidade, e na medida em
que se criou a Apolo, ela passou a ser uma organização que respondia por todos.
É importante destacar esse aspecto defensivo. Mas, por outro lado, ficamos mais
ofensivos, trabalhando com afinco, por exemplo, as questões ligadas à legislação,
Constituído em
setembro de
2000, o Conselho
Comunitário
Consultivo tem a
função de integrar
membros da
comunidade com as
empresas do Polo
que impossibilitavam o nosso crescimento na época. Dando continuidade aos projetos
iniciados no Grupo de Sinergia, também intensificamos os programas voltados às
crianças e aos jovens das comunidades do entorno, principalmente em relação à
educação ambiental nas escolas. E passamos a receber a população em visitas guiadas
nas instalações das fábricas”, comenta Barlem.
Conselho Comunitário Consultivo
Cheiro forte
Um sinergismo ainda maior entre as indústrias, a comunidade
e o poder público
“Certa ocasião, tivemos um evento interessante. Por alguma razão, um cheiro
muito forte tomou conta do bairro de Capuava, em Mauá, na divisa com a parte
O Conselho Comunitário Consultivo (CCC) do Polo Petroquímico do Grande ABC
baixa da área da Petroquímica União. Como levávamos a má fama por qualquer
foi constituído em setembro de 2000, por meio de um protocolo específico, com a
odor, estouro ou problema, a imprensa imediatamente foi acionada. A equipe de
função de integrar diferentes públicos para o acompanhamento das questões ligadas
jornalismo do SPTV, da Rede Globo, veio apurar o caso. Antes da reportagem ir
à indústria petroquímica atuante na região. Dessa forma, membros das comunidades
ao ar, fui previamente entrevistado e expliquei sobre a origem do mau cheiro, que
situadas no entorno das fábricas e representantes de associações de bairro, grupos
vinha do lado oposto da fábrica. O gerente regional da Cetesb, que sempre nos
ambientalistas e formadores de opinião de diversos setores foram convidados para fazer
supervisionou de forma rigorosa, com base no atendimento aos padrões técnicos,
parte do CCC.
também foi entrevistado. O repórter quis ouvir a população e as pessoas foram
tão favoráveis à PQU e às empresas do Polo, inclusive destacando as nossas ações
O CCC é uma das práticas gerenciais do Programa de Atuação Responsável ®, lançado
positivas, que o jornalista desistiu da minha entrevista. Isso só veio a provar que
em 1992 e coordenado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O
estávamos no caminho certo sobre o esclarecimento e a interação com a sociedade.
programa é uma releitura do Responsible Care Program ®, criado no Canadá e implantado
Teve ainda um outro fato marcante, quando uma senhora virou e me disse,
em vários países desde 1985. O primeiro grupo formado pelo Polo era composto por
categórica: – Nós não queremos que vocês sejam inquilinos, queremos que vocês
30 representantes da sociedade civil – moradores dos bairros do entorno das fábricas e
sejam nossos vizinhos.
conselheiros das áreas de educação, meio ambiente, saúde e segurança.
Foi uma expressão inesquecível. Imediatamente passamos a ter um programa
O principal objetivo do CCC era e ainda é o de estreitar o relacionamento com as
de pronta-resposta, com email e telefone dedicados exclusivamente para o
comunidades para a discussão de assuntos de interesse mútuo, relativos à segurança,
atendimento da comunidade. Quando éramos notificados, alguém da área de
saúde e meio ambiente. Para conhecer melhor a realidade diária do polo, os membros
SSMA visitava o local para averiguar o ocorrido”, sinaliza Barlem.
do CCC realizaram visitas às fábricas, nas quais receberam informações sobre o
processo produtivo, os equipamentos, as ações voltadas ao meio ambiente, a saúde e
a segurança pessoal e patrimonial.
62
A criação da Apolo
gerou ações focadas
na comunidade,
que passou a visitar
as instalações das
fábricas
63
Representatividade política. A vinda do Lula em 2004
“Participei disso, eu era um abelhudo de primeira (risos). Com a morte do prefeito
de Santo André, o Celso Daniel, que coordenou o grupo de trabalho petroquímico
da Câmara Regional e era uma das lideranças públicas que melhor compreendiam
a importância socioeconômica da competitividade do Polo, a questão da expansão
recuou novamente. Eu tinha recém-retornado para a petroquímica e estava
inaugurando uma unidade em Paulínia, com a presença do ex-presidente da República,
Luíz Inácio Lula da Silva.
Eu aproveitei e comentei sobre a possibilidade de ele ir até o Polo, afinal, a expansão
precisava sair do papel. Com a vinda do Lula, a aprovação por parte do governo do
estado e a visita da Dilma Roussef, então ministra de Minas e Energia, a realização da
expansão passou a estar mais próxima. “Decidiram trazer a ministra de helicóptero
Com a união das
empresas, o Polo
passou a ter um
programa de
pronta-resposta e
contou com o apoio
da população,
até mesmo com
o depoimento
defensivo de
munícipes em
reportagens
com um voo panorâmico sobre as indústrias. E ficou a preocupação: ‘Isso é bom
ou ruim?’ Eu disse: ‘Não, gente, a gente tem de ser transparente, nós não estamos
querendo o negócio? Se for ruim ela vai falar e acabou’. O helicóptero pegou a
ministra em Congonhas, sobrevoando toda a extensão do Polo, descendo na PQU e,
Em relação às questões ambientais, tivemos momentos marcantes na
de carro, foi até a fábrica de polietileno. E eu a recepcionei na escada para levá-la até
história do Polo, como o consumo de óleo com redução de enxofre, que
a sala de reuniões. No caminho, perguntei: ‘ministra, o que a senhora achou do Polo?’
começou em 1976, e a briga contra balões, iniciada pela Recap em 1961. E
Ela respondeu: ‘Eu fiquei entusiasmada. Nunca vi tanto verde dentro de uma fábrica’.
para a expansão, por exemplo, nos comprometemos a trazer equipamentos
Pensei comigo: Deu certo!
caríssimos e altamente seguros. No Grupo de Sinergia, passamos a discutir
também soluções para o descarte de lixo, ou seja, até essa questão de
gerar economia e reduzir custos influenciou na consciência ambiental.
Depois começou a coleta seletiva de plástico e papel, com a adoção da
Apae de Mauá como entidade beneficiada”, conta Nívio.
O “Diário do Grande ABC”, de 19 de dezembro de 2004, estampava a manchete
“Polo implanta união estratégica”, na qual anunciava a reunião de oito empresas do
setor petroquímico da região do Grande ABC em uma associação, com o objetivo de
ter mais autonomia na negociação de questões políticas ou econômicas.
O Grupo de Sinergia tinha evoluído e precisava de uma nova estratégia de atuação
para resolver pendências políticas, administrativas e jurídicas relacionadas ao Polo.
Em sete anos de atuação, o grupo comemorava uma economia de R$ 32 milhões,
resultado da racionalização nas contratações e nas compras de materiais e produtos
comuns entre as associadas.
64
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A visita de Dilma
Roussef, então ministra
de Minas e Energia, foi
crucial para a realização
da expansão do Polo
E lá na reunião ela falou que ficou impressionada com o que ela viu de verde. E se
você observar, realmente o Polo tem muito verde. Isso tudo nos ajudou e o apoio da
ministra foi fundamental”, conta Nívio.
Com a visita do ex-presidente Lula, em setembro de 2004, o investimento previsto
pelas empresas para a expansão do Polo estava em US$ 500 milhões, divididos entre a
Petrobras/Refinaria de Capuava (US$ 197 milhões), a Petroquímica União – PQU (US$
160 milhões), a Polietilenos União (US$ 140 milhões) e US$ 200 milhões da Rolls-Royce
para a construção de uma unidade de co-geração de energia. Porém, este último não
chegou a acontecer. Infelizmente, o projeto, iniciado pela Rolls-Royce, que iria permitir
a construção de uma usina termelétrica com capacidade para gerar 500 toneladas/hora
de vapor e de 240 megawatts de energia elétrica, não chegou a sair do papel.
A PQU obtinha 60% de nafta da Refinaria do Vale do Paraíba (Revap) e os 40%
restantes da Refinaria de Paulínia (Replan), pois a produção da vizinha Recap
era limitada e utilizada internamente em processos próprios. Com a expansão, a
Petroquímica União passou a produzir 700 mil toneladas, ou seja, aumentou em
40% a produção.
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A ética nos relacionamentos,
o espírito de comunidade e os
valores humanos já se mostravam
presentes no Grupo de Sinergia e
tornaram-se mais intensos com
a criação da Apolo. A gente fazia
aquilo com muito amor, era muito
gratificante fazer esse trabalho”
Marina Galvão,
ex-assessora de marketing
da Polietilenos União.
4. As pessoas é que fazem a diferença
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A ocupação dos terrenos do entorno do Polo ocorreu principalmente por causa dos
primeiros funcionários das empresas, que começaram a construir suas casas em
volta. Diferentemente dos outros complexos industriais do setor, cujo planejamento
urbano das cidades nas quais estão instalados proibia a construção de moradias nas
imediações, no Grande ABC casas e edificações foram construídas bem próximas ao
Na verdade, a demanda veio também dos jornalistas,
Polo. Então, que culpa tem a indústria? A indústria já estava instalada quando
que ficavam confusos quando precisavam fazer uma
a população ali se fixou.
matéria sobre o Polo, recorrendo, na maioria das vezes,
à própria PQU, quando o assunto envolvia Santo André,
Portanto, a necessidade de se criar um diálogo com a comunidade – atendendo a um
e à Petrobras, quando a pauta estava relacionada a
dos pontos do programa de Atuação Responsável – e a sensibilidade de seus dirigentes
Mauá. Isso era comum, pois eles desconheciam sobre a
fez com que o antigo Grupo de Sinergia, e hoje a Apolo, mergulhasse em ações
cadeia petroquímica e as outras empresas existentes.
sociais de auxílio e esclarecimentos à população residente no raio de 2 km do entorno.
A nossa primeira missão foi criar uma imagem
Cuidar de quem está logo ali, do outro lado da rua, tornou-se meta prioritária, e abrir
institucional para o Polo Petroquímico. Além disso,
as portas das empresas, mostrar-se para a população, faria toda a diferença dali para
nosso objetivo era fazer com que as próprias empresas
frente. Como faz até hoje.
trabalhassem algumas mensagens básicas baseadas em
uma única metodologia. O subgrupo foi formado por
Pensando em uma maneira eficiente de se aproximar da comunidade e de criar
profissionais que já atuavam nos departamentos de
uma imagem positiva para o Polo Petroquímico de Capuava, surge, em 2001, o
comunicação das empresas participantes. Reuníamo-
subgrupo de Comunicação. Esta equipe passou a gerenciar e desenvolver debates
-nos mensalmente para levantar as informações e
entre as empresas do Polo, a comunidade e a imprensa, principalmente por meio de
traçar um planejamento estratégico. Criamos o logotipo
visitas assistidas, que foram denominadas de “Portas abertas”, além de informativos
e alguns programas, que culminaram em resultados
impressos, ações sociais e a criação de um site. O subgrupo foi o grande responsável
extremamente positivos, contribuindo, por exemplo,
pela mudança positiva da imagem do Polo, vencendo a popularidade negativa que
para a derrubada da lei ambiental de 1978, que impedia
o acompanhava desde o início. O mistério por trás dos muros estava com os dias
a nossa ampliação. Fizemos um balanço do Polo, com
contados e a comunidade receosa passaria a dar nome e sobrenome àquelas fábricas.
o levantamento de informações importantes, como o
número de funcionários, valor de impostos gerados
Químico industrial, com especialização em Comunicação Estratégica, Édison Carlos,
pelas empresas associadas para os dois municípios,
hoje presidente executivo do Instituto Trata Brasil, foi o primeiro coordenador de
quantificando o ICMS arrecadado (66% de Mauá e 34%
Comunicação da Apolo. Com passagens pelas empresas Tintas Coral e Aquatech,
de Santo André), e consolidamos, dessa forma, dados e
onde atuou na área de tratamento de água, Édison estava à frente da gerência de
informações muito relevantes e de caráter político-
Comunicação da Solvay quando se deparou com a necessidade de retratar melhor
-econômico. Ao apresentar esses índices às prefeituras
a imagem do Polo Petroquímico perante imprensa e sociedade, criando o subgrupo
e aos vereadores, todos ficaram engajados e começaram
de Comunicação.
a movimentar articulações com o governador do estado
de São Paulo, o Geraldo Alckmin, e junto a alguns
deputados estaduais e federais. Mostramos também
que o Polo, que havia sido o primeiro do Brasil, era o
menor, visto que os dois criados posteriormente, na
Bahia e no Rio Grande do Sul, viabilizavam a expansão
das suas indústrias, o que afugentava os investimentos
no estado de São Paulo”, conta Édison Carlos.
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71
Segundo Édison, perante os argumentos apresentados, o governador entendeu e
O incansável combate aos balões
derrubou a lei num prazo muito rápido. “Concomitante à busca do apoio do governo
federal, que veio logo em seguida, o grupo alavancou uma nova campanha contra
a prática de soltar balões, com o tema ‘Não solte balões’ e o slogan ‘Soltar balão é
“...e olha, os balões caíam acesos. Mas nunca houve um problema
crime’, que se tornou um marco na redução de incidentes ocasionados pela queda
sério justamente porque estávamos de olho, eram pegos na hora.
de balões nas indústrias, principalmente no período das festas juninas. Com a
Um avisava o outro e chamava o grupo de bombeiros da refinaria”
conscientização das crianças e dos adolescentes em cerca de 40 escolas, registrou-se
O objetivo da
campanha, criada
em 1999, era o
de conscientizar,
principalmente
crianças e
adolescentes
uma redução drástica no número de balões recuperados”, fala Édison Carlos.
Fernando José Clark Xavier Soares
ex-superintendente da Refinaria de Capuava
Soltar Balão é Crime
Bonitos e encantadores aos olhos do público, os balões são uma preocupação para as
empresas que formam o Polo Petroquímico desde a década de 1950, quando existia
Em 13 de fevereiro de 1998, de acordo com o artigo 42, da lei n.º 9.605, ficou
apenas a Refinaria União no local. O perigo é real e constante e, em épocas como
estabelecido que “fabricar, vender, transportar ou soltar balões no Brasil”
as festas juninas e a Copa do Mundo, aumenta bastante. Antigamente, no início da
é crime ambiental que prevê pena de três anos de detenção ou multa.
Refinaria União, cerca de 20 funcionários eram contratados, por três meses, só para
ficar de olho no céu e evitar que algum balão caísse nas empresas.
Como as melhores armas são a conscientização e a informação, o Polo deu o pontapé
inicial em suas campanhas falando sobre o perigo dos balões, em 1999, quando o Grupo
de Sinergia lançou a campanha “Balão é fogo”. Ações como teatro nas escolas, peças
publicitárias e cartilhas educativas davam o tom da campanha, que atingia crianças e
adolescentes, de 5ª a 8ª séries (ensino fundamental), das escolas estaduais da região.
Nos primeiros anos de campanha, as turmas eram divididas por série e o teatro
era apresentado no pátio. Era uma espécie de talk teen, seguindo o formato dos
programas jovens de televisão em que o público participa fazendo perguntas. Mas
sempre com o objetivo de falar sobre os riscos da prática de soltar balão. As crianças
sempre ganhavam um brinde, como um binóculo, para incentivá-las a olhar para o
céu, em alerta. Era um dia diferente para as crianças e a ideia era motivá-las a praticar
outras atividades, como reciclagem, origami, garrafas PET e desviar o foco dos balões.
No mês de junho de 2007, a revista “Veja SP”, da Editora Abril, publicou uma
matéria na qual destacava o importante papel das empresas do Polo no combate aos
balões: “Preocupadas com o constante risco de incêndios, as catorze empresas do Polo
Petroquímico do Grande ABC, no limite de Santo André com Mauá, mantêm um esquadrão
de sentinelas. Munidos de binóculo, quarenta vigilantes ficam de olho no céu. Quando um
balão é avistado, comunicam-se entre si até terem certeza de onde ele vai cair”.
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Os números caíram
E a força das ações de conscientização crescia ano a ano. Em 2002, as indústrias do
Polo comemoraram a redução de cerca de 80% no índice de quedas de balões nas
empresas no mês de junho, em relação ao mesmo período do ano anterior. Em 2001,
caíram 113 balões nas indústrias, em 2002, foram apenas 22.
Criada em 2005, a
campanha “Soltar
balão é crime!”
mobilizou um
público estimado
de 29 mil pessoas
Em 2009, desenho, redação e trabalho de pesquisa foram as três categorias que
fizeram parte da terceira edição do concurso, realizado pela Apolo em parceria com
o Corpo de Bombeiros, em 34 escolas da rede pública de Santo André, Mauá, Rio
Grande da Serra e Parque São Rafael, em São Paulo. O tema do concurso”Consciência
e Preservação” era “Soltar balão combina com preservação?” A iniciativa mobilizou 30
mil alunos e resultou em 1.917 trabalhos desenvolvidos por estudantes.
Campanhas que fizeram história:
Balão é Fogo (2002)
Para reforçar a campanha “Balão é Fogo”, em 2002, foram utilizados
busdoor e outdoor em pontos estratégicos da região, além da veiculação
de anúncios no “Diário do Grande ABC” e em painéis eletrônicos pelas
principais vias de Santo André e Mauá
Balão Não! A Vida em Suas Mãos (2004)
No dia 8 de maio de 2004, a Apolo lança a campanha “Balão Não!”, no
combate ao crescente índice de quedas de balões no entorno das empresas
petroquímicas, situadas entre Santo André, Mauá e Rio Grande da Serra
Soltar Balão é Crime (2005)
Em 2005, a campanha “Soltar Balão é Crime”, idealizada por dez empresas
do Polo Petroquímico de Capuava, realiza apresentações exclusivas voltadas
aos adolescentes de 40 escolas públicas da região do Grande ABC. Vinte e
sete mil alunos são conscientizados dos perigos de um balão
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Meio Ambiente
As mulheres: o sexo forte
Luiz Shizuo Harayashiki nasceu em Santo André, em 1956, filho de japoneses; o pai
“Quando entrei na Polietilenos União, em 2001,
era de Nagasaki e a mãe de Hiroshima. Ambos vieram para o Brasil na década de
após trabalhar na Politeno por 14 anos, em
1930. Formado em Química, com especialização em Qualidade e Produtividade, além
Camaçari, ainda não conhecia todas as empresas
de Gestão Ambiental, ele começou a trabalhar como estagiário na Oxiteno, em março
que faziam parte do Polo de Capuava e só tive
de 1974, aos 17 anos de idade. Aposentou-se na mesma empresa, 34 anos mais
contato com o Grupo de Sinergia um ano mais
tarde, tendo participado da implantação de unidades nos polos de Camaçari e Triunfo.
tarde. Lembro como se fosse ontem, quando eu
Atualmente ele dá aulas no Senac São Paulo e presta consultoria de meio ambiente,
e o Édison Carlos visitamos as 14 empresas mais
saúde, segurança e qualidade para empresas do interior do estado.
próximas, com o objetivo de fortalecer o grupo,
ampliando sua atuação e aumentando o número
Shizuo ingressou no Grupo de Sinergia, ou melhor, no subgrupo de Meio Ambiente,
de associadas”, começa a relatar a história
que foi incorporado ao grupo de Comunicação. “Tudo isso aconteceu devido à
Marina Galvão, que na época era assessora de
crise econômica ocasionada pelo governo Collor. E, simultaneamente à busca pela
marketing da Polietilenos União.
redução de custos, tínhamos um grupo paralelo que debatia o ‘Atuação Responsável’.
Precisávamos trocar informações sobre o que cada empresa estava fazendo para seguir
Começou ali o namoro da publicitária e
o novo código de ética proposto pela Abiquim, afinal, todas teriam que cumprir as
relações públicas, Marina, com a Apolo, cuja
mesmas diretrizes. E uma das práticas propostas era ‘como a empresa estabelecia um
constituição aconteceu logo em seguida. Ela, que foi uma das primeiras mulheres a
diálogo com a comunidade’.
atuar no grupo, vivenciou intensamente vários momentos importantes da história da
Marina Galvão em
comemoração pela
arrecadação de
brinquedos para
doação e na entrega
de diplomas de mais
uma turma do Núcleo
de Apoio à Natação
Adaptada
de Santo André,
Nanasa; projeto
apoiado pela Apolo
associação, principalmente quando assumiu a coordenação da Comunicação, com a
Um colega nosso, o Dilermando Nogueira, participava da coordenação desse projeto
saída do Édison Carlos. “Criou-se uma Comunicação pró-ativa, a fim de intensificar as
dentro da PQU, e eu, dentro da Oxiteno. Aí começamos a nos reunir para falar desse
campanhas publicitárias e o trabalho da assessoria de imprensa, o que garantiu uma
assunto e montamos o grupo do ‘Atuação Responsável’, um grupo técnico. Depois,
maior exposição na mídia. E, sem dúvida, o ‘Polo dá Vida’ figurou entre as ações e
tivemos que criar um comitê executivo, formado pelos diretores das empresas do Polo, e a
vivências mais emocionantes. Sempre alguém da nossa equipe estava presente para
gente passou a fazer parte do subgrupo de Comunicação. O objetivo era criar um vínculo,
acompanhar de perto os atendimentos. Clínicos gerais e especialistas em cardiologia
um casamento eterno, desmistificando a ideia preconcebida e negativa da petroquímica.
e oftalmologia, por exemplo, atendiam uma fila enorme de pessoas durante o dia
Mas o nosso maior temor era que a reação da população fosse: ‘vocês ficaram 30 anos
inteiro”, conta ela.
sem falar com a gente e agora querem falar, então, é sinal de que querem alguma
coisa em troca’. E não era. Começamos aos poucos, aproveitamos o interesse de uma
Tirar dúvidas jurídicas sobre aquisição da casa própria ou sobre a aposentadoria, cortar
comunidade próxima, que queria conhecer o Polo, e abrimos a porta para os interessados.
cabelo, preparar o currículo, consultar o dentista, medir a taxa de colesterol e passar
Dessas visitas, algumas pessoas foram selecionadas e criamos o Conselho Comunitário
no cardiologista, tudo isso em um único dia e em um mesmo lugar. O “Polo dá Vida”,
Consultivo (CCC), estabelecendo um cronograma de reuniões e uma pauta de assuntos;
cuja primeira edição aconteceu em 2002, oferecia, gratuitamente, cerca de 20 serviços
e o pilar desses encontros eram a saúde, a segurança e o meio ambiente.
diferentes, entre atendimentos médicos, exames, recreação infantil, cursos, palestras,
oficinas, orientação nutricional e corte de cabelos.
Se nós estávamos programando uma parada – o Polo Petroquímico para hoje a
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cada seis anos, antigamente era a cada dois – a gente já comunicava à população,
O evento trouxe vida e esperança a muitas pessoas da comunidade vizinha. A ação
distribuía panfletos, dava palestras e alguém da manutenção dava explicações técnicas,
social foi criada para levar serviços gratuitos à população do entorno, nas cinco regiões
principalmente a respeito do flare. Diversos diretores participavam desses encontros e
ligadas ao Polo Petroquímico: Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá, Santo André
faziam parte do CCC”, conclui Shizuo.
e Parque São Rafael, em São Paulo.
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O total de pessoas beneficiadas no primeiro semestre de 2008, último ano do projeto,
Embora fosse predominante a existência de preocupações, a vila Maçarico, como a
foi de 25 mil. Os atendimentos receberam reforços de testes de colesterol, glicemia
região era chamada, em tom pejorativo, na década de 1980, passou a ser encarada
e pressão arterial e, de posse dos exames, os pacientes eram encaminhados ao
de forma mais otimista, que atribuía ao Polo uma atuação com responsabilidade
cardiologista. Além disso, cabeleireiro, pediatria, orientação de câncer bucal, orientação
elevada em relação à segurança e à capacitação na preservação do meio ambiente e
de câncer de mama, gestação na adolescência, uma palestra sobre nutrição, peso ideal
da qualidade de vida da população. De 1992, quando o “Atuação Responsável” foi
e como se alimentar bem gastando pouco completaram a maratona do bem.
criado pela Abiquim, até 2007, as empresas do Polo tinham investido R$ 300 milhões
em projetos de controle ambiental.
“A Apolo deu certo, pois sempre teve uma filosofia muito transparente e sabia que
não estava sozinha no mundo. O Polo estava rodeado de pessoas e as pessoas cobram.
“Para mim, quando eu passo lá no Polo, eu acho aquilo um espetáculo, parece uma
Hoje, a população sabe um pouco mais sobre o que acontece por trás dos muros. Por
cidade do futuro. Ele impressiona. Eu acho que deve ser muito importante para as
isso que é preciso estar junto, afinal, a população está carente e precisa das empresas.
famílias dali, deve gerar muita renda para os municípios e para a região do Grande
E as empresas precisam da população”, conclui Marina.
ABC, e empregos também”, depoimento de um representante de uma das associações
de moradores participantes do estudo.
Uma via de mão dupla
Entre abril e maio de 2004, o Inpes, Instituto de Pesquisas do IMES, atual Universidade
O Polo também dá esperança
Municipal de São Caetano do Sul (USCS), realizou um segundo levantamento, com
entrevistas qualitativas com representantes das escolas, associações de moradores de
bairros, jornalistas, políticos, membros da Defesa Civil e de associações comerciais,
sobre a imagem do Polo Petroquímico do Grande ABC.
“A gente ganhava para ajudar as pessoas”
“No último ano da campanha, em 2008, nós levamos 27 mil crianças para o Teatro
Municipal de Santo André e quem apresentou a peça foi a famosa trupe Os Doutores da
O primeiro trabalho foi realizado entre setembro e outubro de 2002. O objetivo era
Alegria”, conta Marilena Leonel de Sousa, organizadora dos eventos mais marcantes da
levantar informações sobre a percepção, a imagem e a visibilidade do Polo, além
Apolo. “Essa ação envolveu muita gente nos bastidores. Durante um mês, chegávamos
de analisar os resultados das ações implantadas. De acordo com as considerações
com dez, doze ônibus no Teatro, com a incumbência de garantir a segurança dos alunos
finais apresentadas na segunda edição, houve um avanço favorável na opinião dos
e o lanche de todos, afinal, muitos dependiam da merenda escolar para se alimentar e,
entrevistados sobre a atuação das empresas. Ações como o “Portas Abertas”, cujo
com os passeios, acabavam perdendo o horário de refeição na escola”, diz ela.
objetivo era o de minimizar o sentimento de insegurança ou medo, mostravam
que a associação estava no caminho certo ao procurar estreitar cada vez mais o
relacionamento com a comunidade. A arrecadação de impostos e a geração de
A simpática e falante Marilena, especialista em organizar formaturas e eventos sociais,
empregos também foram apontados como sendo os principais motivos que, para
foi responsável pela realização de eventos marcantes e emocionantes da Apolo: “Os
alguns formadores de opinião, transformaram o Polo em ator principal na cadeia
trabalhos começaram ainda com o Grupo de Sinergia, em 2004, quando fui convidada
industrial do Grande ABC. As empresas também eram vistas como mantenedoras
para contribuir nos projetos do Polo nas ações voltadas à comunidade”. Daí em
de bons salários, compatíveis com a alta qualificação da mão de obra.
diante, Marilena passou a comandar cerca de 80 funcionários e exigia que todos
fossem comprometidos. A logística contava com cinco vans para transporte de pessoal,
Segundo a pesquisa, essa percepção de bons salários, benefícios e a proximidade
alimentação e material.
com o local de trabalho, aliados a uma postura mais humanista das empresas,
pareciam alimentar o sonho dos moradores de um dia vir a trabalhar ou ver os seus
“Particularmente, eu gostava de fazer o ‘Polo dá Vida’, pois era o mais gratificante.
filhos nas indústrias.
A gente sempre trabalhava com aquela comunidade mais carente, cujas famílias
tinham um número maior de crianças, que precisavam de tudo um pouco. As pessoas
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entravam cedo nas escolas e passavam o dia à espera do atendimento”, desabafa
ela, que acompanhou de perto histórias marcantes. “Teve o caso de um senhor de
idade, morador do Parque São Rafael: Eu cheguei à escola e o vi chorando na fila.
Fiquei preocupada e fui saber o que estava acontecendo. Ele estava emocionado
porque iria passar pela primeira vez por um cardiologista; fazia anos que ele procurava
essa especialidade na rede pública de saúde, sem sucesso. Depois, algumas pessoas
começaram a acompanhar os médicos. A cada ‘Polo dá Vida’ queriam saber quando e
onde seria o próximo para poderem voltar e dar continuidade ao tratamento”, salienta.
Novas perspectivas
O ano era 2005. Deveria ter sido um “Polo dá Vida” como outro qualquer,
mas para a assistente social Eliana Alves da Silva, hoje com 48 anos de idade,
não foi tão simples assim. Diagnosticada em 2003, aos 40 anos, com estenose
na válvula mitral, Eliana, divorciada e mãe de um casal de filhos, cruzou seu
caminho com o cardiologista Tito Erwin Landivar Hurtado e esse encontro
mudou os rumos da sua trajetória.
Aula de cidadania
Um curso de natação que vai muito além de aprender a nadar. Um grupo de
profissionais altruístas,que fazem a diferença na vida de crianças e adultos
portadores de necessidades especiais. Assim é o Nanasa – Núcleo de Apoio a Natação
Adaptada de Santo André – inaugurado em oito de junho de 2002 e que, desde
então, passou a oferecer mais cuidado e atenção às pessoas especiais por meio de
“Na época do diagnóstico, o médico havia me dito que a estenose é um
atividades que desenvolvem novas habilidades e, principalmente, elevam a qualidade
fechamento da válvula e, com o tempo, só um transplante de coração
de vida.
resolveria a situação. Foi quando eu fui ao “Polo dá Vida” e conheci o médico
que estava de plantão no local”, conta Eliana.
Tudo começou em 2000, quando um grupo de pais e alunos de Santo André se juntou
“Entreguei meus exames e perguntei se havia outra saída. Ele respondeu que sim,
e formou a Acide – Associação pela Cidadania das Pessoas com Deficiência –, com
que conhecia uma equipe, em São Paulo, especializada em cirurgias de válvulas
o objetivo de dar mais qualidade a este programa de natação e buscar recursos para
por meio da veia aorta”. O cardiologista contratado pelo “Polo dá Vida” então
novas atividades. De lá para cá, muitas empresas somaram esforços e recursos para
encaminhou Eliana ao Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, e, sem
que o Nanasa crescesse, como o programa “Natação Adaptada”, coordenado pelo
nenhum custo, em 2005, a cirurgia de correção da válvula mitral foi realizada.
professor de educação física da prefeitura de Santo André, Ivan Teixeira Cardoso:
Desde junho de 2002
até dezembro de
2010, 870 pessoas
com deficiência
aprenderam a nadar
“O médico anterior havia me dado três opções: uma válvula de plástico com
duração de cinco anos, uma válvula de animal com duração média de cinco
a dez anos ou uma válvula de metal, que duraria um pouco mais, mas, em
compensação, eu teria que tomar remédio contra a rejeição pelo resto da vida.
Se eu tivesse passado pelo transplante, pelo menos de dez em dez anos, eu
teria que trocar uma válvula por outra. Com a cirurgia interna por meio do
“Durante muitos anos, o principal patrocinador do projeto ‘Natação Adaptada’ foi a
Apolo. A parceria começou em 2001, quando nós procuramos a Petroquímica União
com uma proposta de patrocínio para o evento que comemoraria o ‘Dia da Pessoa com
Deficiência’. A intenção era de que este evento desencadeasse uma longa e produtiva
cateter, o sangue passou a circular corretamente e deixaram a minha válvula no
parceria e foi o que de fato aconteceu. A empresa aceitou a proposta e, nessa mesma
lugar. Faço exames anuais e ela continua firme e forte”.
época, entrou também a Polietilenos União e a Solvay contribuindo com os recursos
necessários. Depois disso, a discussão sobre o patrocínio foi para dentro do Grupo de
Sinergia e então eles decidiram nos patrocinar a partir de 2002.
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A parceria foi evoluindo até que entrou a Apolo como associação, o que facilitou o
Circuito Aventura
recebimento dos recursos. Foram nove fases de patrocínio, sendo a primeira de abril de
2002 a março de 2003. O envolvimento da Apolo com o projeto durou até dezembro de
Criado em 1999, o 1º Circuito Aventura foi promovido pela Prefeitura de Santo André,
2010, mas algumas empresas do Polo continuam a patrocinar o programa graças às leis
com o apoio das empresas do Polo Petroquímico. O evento atendia a comunidade e
de incentivo fiscal do governo estadual e federal. Atualmente, a Braskem, a Oxiteno e a
os alunos portadores de deficiência do Programa de Educação Física Adaptada, cujo
Cabot são nossas parceiras por meio da lei de incentivo ao esporte”, explica Ivan.
enfoque era “O Esporte ao Alcance de Todos”, desenvolvido pelo Departamento
de Esportes da Prefeitura de Santo André. As atividades “radicais” aconteciam em
Anualmente, o Nanasa atende cerca de 240 alunos, que se inscrevem e aguardam
parques públicos da cidade, englobando modalidades como tirolesa, rapel e parede
em uma lista de espera que chega a ter mais de 500 nomes. A partir dos dois anos
de escalada. Em 2007, mais de 700 pessoas, sendo 150 portadores de necessidades
de idade, o programa abriga diferentes faixas etárias para um curso de natação.
especiais, entre crianças e adultos, participaram do VIII Circuito Aventura, no Parque
Desde junho de 2002 até dezembro de 2010, 870 pessoas com deficiência receberam
Jaçatuba, em Santo André.
certificado de conclusão de curso, ou seja, aprenderam a nadar.
Cinema para todos
Em abril de 2010, a Apolo promoveu, em parceria com a Prefeitura de Bertioga, um
passeio à praia da Enseada, no qual 93 formandos participaram do “Nautamar”. Dias
O “Cinema na Praça” foi um projeto itinerante, que começou em 2003, nas cidades de
depois, houve também o primeiro mergulho no mar para oito alunos do programa,
Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Mauá, Santo André, e no bairro paulistano de São
realizado em Ilhabela.
Rafael. A Apolo levava o cinema na “boléia” de um caminhão e transformava uma praça
das cidades participantes em sala de cinema a céu aberto. A ideia também era prestigiar
Com duração de seis meses a dois anos, o foco não é a competição e sim o resgate da
os diretores nacionais, por isso filmes como “Deus é Brasileiro” e “Cristina quer Casar”
cidadania dessas pessoas, a busca de autonomia e a melhora da autoestima do aluno
foram algumas das obras escolhidas. Para a população, carente de cultura, foi uma
e da família. No período em que ele passa pelo programa, o time do Nanasa mostra
experiência diferente e interessante. Em Santo André, o público chegou a 450 pessoas.
as possibilidades, tenta estimular a força de vontade e procura fazer com que eles se
Já na praça da Bíblia, no centro de Ribeirão Pires, foram cerca de 750 espectadores.
sintam encorajados a frequentar uma escola, um trabalho e atividades de lazer.
O “Cinema na Praça” acabou sendo substituído pela segunda edição anual do
“Polo dá Vida”.
“O peso e a importância da Apolo sempre mostraram que o nosso programa é sério,
tem um cunho social e está longe de ser político-partidário. O patrocínio foi muito
importante para o nosso crescimento”, conta Ivan, emocionado.
Festival de Pipas
Com a exibição de
filmes nacionais em
praças públicas, a
Apolo introduziu o
cinema no cotidiano
da comunidade
Mas não é só na água que se diverte a criançada. O ar também marcou presença de
forma lúdica. No dia 3 de setembro de 2006, foi realizado o Festival de Pipas do Nanasa,
que faz parte do Programa de Educação Física Adaptada da Prefeitura de Santo André.
O programa visa estimular, além da brincadeira saudável de empinar pipas, o uso
dos espaços públicos da cidade pela população. Colorida e divertida, a brincadeira é
extremamente barata e estimula corpo e mente. Os ensinamentos do Nanasa incluíam
conceitos de segurança, com a indicação dos locais adequados para se soltar as pipas,
além de alertar sobre a proibição do uso do “cerol”. Em paralelo, também foram
realizados piqueniques, caminhadas e apresentação de fantoches.
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Conscientização começa na escola
Para comemorar o Dia do Meio Ambiente, em 5 de junho, a Apolo e suas associadas,
sempre preocupadas com o tema, realizava, junto às escolas da região, uma campanha
que misturava duas preocupações: o meio ambiente e os balões. As mesmas 40 escolas
trabalhadas na campanha do balão retomavam a campanha “Não Soltar Balão”,
mas agora com foco no meio ambiente. Era um concurso entre as escolas, dividido
por categorias, e os ganhadores levavam para casa um notebook. As turmas eram
divididas por idade e exerciam tarefas diferentes. Os pequenos do ensino fundamental
concorriam com desenhos em cartolinas. Já os alunos de 5ª a 8ª participavam com
redações sobre o tema, e a turma do ensino médio desenvolvia um projeto de
pesquisa. Nesses moldes, a campanha aconteceu de 2005 a 2009.
Além disso, neste mesmo ano aconteceu o “Seminário do Meio Ambiente 2004”,
realizado no dia 23 de junho, no Teatro Municipal de Mauá, com a participação da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente, entidades como Cetesb e EMAE (Empresa
Metropolitana de Águas e Energia), além de executivos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Alto Tietê e da ANA (Associação Nacional de Águas). O tema do
encontro foi “A Preservação Ambiental – Condição Básica para a Sustentabilidade
do Grande ABC”.
Durante o seminário, foi lançada a exposição fotográfica “De olho no meio”, que
seguiu depois para o 4º Festival de Inverno de Paranapiacaba e por circuito itinerante
por todas as empresas do Polo. A cada ano, as ações ficavam mais criativas. Para
comemorar o Dia Internacional do Meio Ambiente, em 2005, a Apolo promoveu
ações em parques de Santo André e Mauá, com uma revoada de seis mil bexigas
biodegradáveis e distribuição de saquinhos, ambos com sementes de Flamboyant-mirim (árvore que mede de 1,5 m a 2 m quando adulta). Com o estouro das bexigas,
as sementes caíam e germinavam.
A engenheira química Izabel Galvão, especializada em Marketing e Responsabilidade
Social, também fez história no Polo Petroquímico do Grande ABC e na Apolo. Entrou
como estagiária na área de produção na Petroquímica União, em 1981, passando pela
área comercial e terminando na área de comunicação da empresa. “Além das ações
conduzidas pela Apolo, quando a PQU fez 30 anos fizemos inúmeras comemorações,
sendo a principal um concerto, gratuito, com o músico Arthur Moreira Lima e a
Orquestra Sinfônica de Santo André. Além disso, organizamos uma exposição com fotos
históricas na prefeitura de Santo André, que foi um sucesso perante o público”, conta.
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“São Paulo é o
berço da
petroquímica
brasileira”
Otto Vicente Perrone,
ex-conselheiro da
Petroquímica União e
da Oxiteno.
5. Consolidação do setor petroquímico no período 1990 - 2011
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De acordo com Otto Vicente Perrone – um dos papas da petroquímica no Brasil,
que esteve, por exemplo, na direção da Poliolefinas e no conselho das empresas
Petroquímica União e Oxiteno, os três complexos petroquímicos instalados no Brasil
(São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul) se caracterizavam, no período entre 1965 e
1990, pela multiplicidade de empresas atuantes. “As empresas de segunda geração
eram normalmente ‘joint-ventures’ entre a Petroquisa, grupos nacionais privados
e companhias multinacionais. Nessas associações, denominadas tripartites, por
orientação da Petroquisa, a maioria do capital era nacional e privado e a participação
da Petroquisa nunca era majoritária. A gestão das empresas era compartilhada e
regida por um ‘Acordo Entre Acionistas’. Esse esquema durou até 1991, quando o
governo instituiu o Programa Nacional de Privatização, pelo qual a Petroquisa vendeu,
em leilões promovidos pelo BNDES, mais de 70% das suas participações em todas as
companhias petroquímicas”, explica.
Após duas tentativas infrutíferas, o Banco Central conseguiu vender, em 25 de julho
De acordo com o seu relato, até 1996, a Petroquisa vendeu suas participações em
de 2001, os ativos petroquímicos da Conepar para um consórcio formado pelos grupos
27 empresas, no valor total, à época, de US$ 3,7 bilhões. Na Copene, que já era de
Odebrecht e Mariani. No ano seguinte, em 16 de agosto de 2002, os acionistas da
controle privado, a Petroquisa reduziu sua participação de 48% para 15,4% do capital
Copene, reunidos em Assembleia Geral Extraordinária, aprovaram a incorporação dos
votante. Nas outras centrais, PQU e Copesul, que eram estatais, a Petroquisa reduziu
ativos químicos e petroquímicos dos grupos Odebrecht e Mariani e a alteração do nome
suas participações para 17,48% e 15% respectivamente. Na maioria das empresas de
da Companhia para Braskem S.A..
segunda geração, a Petroquisa alienou a totalidade de suas participações. Esse fato
marcou o início da consolidação e da integração do setor petroquímico brasileiro.
A seguir, em 2007, a Petrobras, após adquirir a Ipiranga Petroquímica e a Suzano
Petroquímica, fez um acordo com a Unipar criando a Quattor, empresa na qual foram
Quando a Petroquisa vendeu, em leilão, suas participações petroquímicas, os
incorporados ativos da Unipar e da Petroquisa.
grandes compradores foram os sócios privados nacionais, pois o “Acordo entre
Acionistas” previa o direito de preferência na alienação de ações. Assim, o processo de
Assim, por um momento, Braskem e Quattor foram os principais atores no cenário
“desestatização” mudou o caráter da indústria petroquímica brasileira, cuja liderança
petroquímico brasileiro. A concentração no setor petroquímico aumentou ainda mais
passou da Petroquisa para os sócios privados nacionais.
em 2010, quando a Petrobras e a Odebrecht fizeram um acordo pelo qual a Petroquisa
elevou sua participação na Braskem para cerca de 30% do capital votante, pela
Outro episódio importante, salientado por Perrone, nesse movimento de agregação de
incorporação de ativos oriundos dos Polos do Rio Grande do Sul e de São Paulo.
empresas foi o leilão da Conepar, como ele conta a seguir:
Finalmente, ainda em 2010, a Braskem anunciou a aquisição do controle acionário da
“Por ocasião do leilão das ações da Petroquisa na Copene, em 1995, o grande comprador foi
Quattor, em operação conjunta com a Petrobras. Desse modo, a Braskem se tornou a
a Norquisa, que assim se tornou o sócio controlador da central do Polo Petroquímico da Bahia.
maior empresa petroquímica brasileira, com cerca de 26 unidades fabris, dispersas no
território nacional, com capacidade de produção de eteno de 3,8 milhões de toneladas
Ora, a Norquisa era controlada por grupos privados nacionais e, no final dos anos 90, o seu
anuais e de aproximadamente 5,5 milhões de toneladas de resinas plásticas”, sintetiza.
comando estava concentrado nas mãos de cinco grupos: Econômico, Mariani, Odebrecht,
Suzano e Ultra. Ocorreu que o Banco Econômico, o maior acionista da Norquisa e
Para ele, São Paulo é o berço da petroquímica brasileira. “Com relação aos outros polos,
indiretamente da Copene, entrou em crise financeira e sofreu intervenção do Banco Central.
embora a capacidade da central de São Paulo seja menor, está localizada no centro do
Este, buscando uma recuperação, decidiu alienar os ativos do Banco Econômico no Polo da
mercado consumidor de petroquímicos finais”, finaliza Perrone.
Bahia, que estavam concentrados em uma holding denominada Conepar.
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Panorama geral do setor
Hoje a indústria química como um todo ocupa a sétima posição no ranking
mundial, mas, considerando a diversidade de produtos e a complexidade da
cadeia produtiva do setor químico no Brasil e no mundo, é uma missão “quase
impossível” dimensionar exatamente a participação da petroquímica no
faturamento total desse bolo.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química, a Abiquim, uma forma
de reunir informações mais consistentes é centralizar em petroquímicos básicos
+ resinas termoplásticas + elastômeros. Nesse caso, em 2010, o faturamento de
petroquímicos básicos alcançou US$ 10,6 bilhões, e o de resinas termoplásticas
US$ 10,7 bilhões e o de elastômeros US$ 1,5 bilhão.
Em 2010, foram importadas 2,8 milhões de toneladas de petroquímicos básicos,
sem incluir resinas termoplásticas e elastômeros. As exportações desses
produtos somaram 2,3 milhões de toneladas. A indústria química, como um
todo (base 2009), responde por 10,11% do PIB industrial (é o quarto maior setor
em contribuição) e por 2,4% do PIB nacional (base 2010).
Segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho
da prefeitura de Santo André, a cidade conta com 2.249 indústrias, sendo 64 do
setor químico/petroquímico (ano base 2010). Até outubro de 2011, a prefeitura
recebeu do estado de São Paulo, em média, R$ 25 milhões por mês provenientes do
ICMS. Calcula-se que até dezembro esse número alcance R$ 310 milhões.
Representatividade na cadeia produtiva
de transformação de plásticos
De acordo com levantamentos de dados realizados pela Associação Brasileira da
Indústria do Plástico, a Abiplast, o Polo Petroquímico do Grande ABC abriga quase
500 estabelecimentos transformadores de material plástico, empregando, somente
na região do Grande ABC, 16 mil pessoas especificamente nesse setor.
Os grandes consumidores de matérias-primas são as indústrias fabricantes de
embalagens para indústrias alimentícias, peças e produtos de uso na construção civil
e utilidades domésticas. De acordo com o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz
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Coelho, os custos de matéria-prima, no Brasil, são cerca de 35% mais altos do que no
Na opinião de Lucci, o futuro da indústria petroquímica, em especial do Polo, será
mercado internacional, o que reduz a competitividade da indústria transformadora de
de muitos percalços, pois são indústrias de capital intensivo e maturidade de projeto
material plástico, que agrega valor e gera emprego. “O grande desafio é o ajuste dos
de longo prazo. “São negócios com elevada competitividade internacional e, portanto,
preços a uma realidade internacional e de cadeia. No Brasil, há um grande potencial
sujeitos ao cenário econômico mundial com todas as suas oscilações. O desafio do setor
de crescimento para o setor de transformados plásticos, considerando que o consumo
em tempos de sustentabilidade será permanecer crescendo, proporcionando resultados
per capita é de 32kg/hab, enquanto nos países desenvolvidos o consumo per capita
positivos à sociedade, ao país, aos acionistas, aos clientes e aos fornecedores, de
gira em torno de 100kg/hab. O mercado consumidor brasileiro cresce e demandará
forma sustentável e em equilíbrio com o meio ambiente. Para evoluir na produção e
produtos cada vez mais elaborados e embalados. Um nicho em expansão frequente é
vencer os entraves da expansão, o Polo deve agir diversificando as linhas de produtos,
a exportação de commodities agrícolas, que cria oportunidades de agregar valor em
principalmente com a visão no ‘Cliente do Cliente’, além de agregar mais valor aos
seus produtos, com o investimento em embalagens especiais. Além disso, com o pré-
atuais produtos de forma direta ou por meio de serviços associados. O Brasil é um dos
sal, o Brasil se tornou um importante player global produtor de petróleo e, portanto,
poucos países com o grande privilégio de possuir uma abrangente e diversificada matriz
terá uma grande oportunidade de processar derivados internamente e agregar valor ao
energética. O nosso problema está na forma como o governo gerencia o hoje, o médio
petroquímico”, finaliza.
e o longo prazo neste assunto. O principal está no planejamento e na política de uso e
distribuição da matriz atual e futura. Dificilmente deixaremos de usar o petróleo, mas
precisamos usá-lo de forma mais racional e deixando de ser encarado como única fonte
Tendências para os próximos anos
de energia. Além disso, o problema não está no uso do plástico, e sim na forma como
ele é aplicado. Quando usamos recursos de forma não planejada, ocorre o que estamos
vendo: desperdício e impacto ambiental”, explica.
Para o engenheiro Régis Maia
Lucci, que foi diretor industrial da
Segundo Valter Moura, presidente do
Para Moura, a maior contribuição é a geração de
Braskem Polietileno, para um país
“A descoberta do pré-sal é um importante
conselho da Agência de Desenvolvimento
empregos e de renda. “Como a mão de obra que o Polo
ser forte é vital e indispensável que
marco para o país. Porém, o segredo
do Grande ABC, a presença do Polo
emprega é extremamente qualificada, a remuneração
ele tenha uma indústria de base
do crescimento estará na sabedoria em
Petroquímico na região, além de
reflete em vários outros setores da economia local. É
forte. “No Brasil, todos os polos
explorá-lo. Sabemos que a riqueza se dá
representar a diversificação da nossa
possível afirmar também que o Polo diversifica a produção
estão distribuídos geograficamente
quando ocorre agregação de valor em
economia, diz respeito às sete cidades.
industrial, enriquecendo a cadeia produtiva local. Para o
de forma adequada, equilibrando o
commodities, portanto, o governo não
“Santo André e Mauá, diretamente, pelo
setor público, o Polo é extremamente importante, pois
mercado com a melhor disponibilidade
pode fazer o mau uso do pré-sal, como
fato de as empresas estarem sediadas lá.
representa grande parte da receita de ICMS, permitindo o
de matéria-prima. A união das
moeda econômica internacional, sem
Isso gera para ambas as cidades receita
retorno em investimentos e infraestrutura urbana. Também
empresas, que compõem um polo,
nenhum processamento. Alguns desafios
do ICMS. São Bernardo e São Caetano
não podemos deixar de mencionar a importância social
em ações políticas e sociais é de suma
já surgem com ele: explorá-lo de forma
se beneficiam, entre outros fatores, pela
que as empresas do Polo, isoladamente ou em conjunto,
importância, uma vez que por se
econômica e sustentável, fazer com que
maior oferta de plásticos para a indústria
representam na medida em que desenvolvem projetos
encontrarem geograficamente juntas
as refinarias tenham capacidade em
automotiva. Diadema se beneficia na
de educação ambiental e de desenvolvimento de ações
compartilham recursos e utilizam o
processá-lo e transportá-lo mantendo
medida em que abriga grande parte das
sociais, incorporando a noção de que as empresas têm
mesmo ambiente social”, fala ele, que
as premissas de conservação ambiental
indústrias de transformação de plástico
efetivamente responsabilidade social”, fala.
foi também vice-presidente da Apolo
e sustentabilidade, e a responsabilidade
e de cosméticos, cuja matéria-prima se
em 2008.
com a formação de mão de obra
origina das indústrias do Polo. As demais
especializada para toda a cadeia”, orienta
cidades ganham pela expansão geral da
Lucci, que atualmente é professor do
economia que o Polo representa”, explica.
Curso Gestão da Produção da Faculdade
Oswaldo Cruz.
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Sobre o papel da Apolo, de acordo com Moura, a associação encarna a
A falta de mão de obra qualificada
responsabilidade social das empresas do Polo. O funcionamento da entidade é vital
para a identidade do setor como ator social no cenário do Grande ABC. “Mantemos
Cerca de 900 empresas pertencem à cadeia química da região do Grande ABC. “Vai
uma parceria antiga com o Polo, desde 1998. Anteriormente, a Apolo era representada
desde a petroquímica até a fabricação de velas, tintas, farmacêuticos, plásticos, resinas
neste contexto pelo Grupo de Sinergia, que, apesar de não ter uma personalidade
e explosivos. Depois da aquisição de algumas empresas pela Braskem, o Polo está
jurídica como é a Apolo hoje, já trabalhava de maneira a buscar soluções conjuntas que
com umas seis ou oito empresas no máximo. No Polo Petroquímico são gerados 2.500
beneficiavam todas as empresas do grupo”, ressalta.
empregos diretos e a mesma quantidade de empregos indiretos”, conta Paulo Lage,
presidente do Sindicato dos Químicos do ABC.
Para Carlos Leopoldo, coordenador de Recursos Humanos da Oxiteno, se o Polo, que
completa 40 anos em 2012, não estivesse na região metropolitana de São Paulo,
talvez boa parte das indústrias de pneus localizadas entre Santo André e Mauá ou das
fábricas de cosméticos de Diadema não existiriam. E, provavelmente, estariam sediadas
Particularmente, Lage tem algumas
próximas aos outros complexos petroquímicos.
preocupações em relação ao panorama
geral e futuro da indústria química e
petroquímica. “Estamos na iminência de
ter um dos maiores polos petroquímicos
da América no Rio de Janeiro, o Comperj,
Segundo o administrador de empresas,
que vai entrar em operação daqui alguns
o mercado não teria os preços
anos, e pode ser que tenha outro em
praticados hoje se as empresas não
Pernambuco. O nosso polo é o mais
estivessem na região Sudeste, pois, no
próximo do mercado consumidor, as
mínimo, teria-se os custos de frete, o
principais indústrias estão aqui, porém,
que iria encarecer os produtos. “Embora
ele é o que menos tem capacidade de
os outros polos estejam em locais de
“Para ser mais do que somos, temos
produção. Em virtude disso, estamos em
fácil escoamento para outros países, o
que continuar fortalecendo a nossa
debate constante com o setor empresarial
de São Paulo é o mais estratégico por
imagem como um Polo estratégico
e com a Abiquim para que seja criado um
estar no berço do mercado consumidor
para a riqueza da região, do estado e
investimento em qualificação profissional.
interno. Porém, estar aqui não é nada
do país, para conseguir cotas maiores
O país está crescendo e a rotatividade de
barato. A matéria-prima é mais cara,
de petróleo, de nafta e viabilizar
trabalhadores no setor, que não existia
assim como a mão de obra, e não temos
o crescimento da produção das
antes, já começou a acontecer. Eles estão
os incentivos fiscais similares aos dos
fábricas que temos, afinal, existe a
em busca de oportunidades melhores
outros polos, o que aumenta os nossos
desvantagem também de não ter mais
e estão se desligando dessa área. E
custos ainda mais”, conta.
espaço físico para novas empresas
não existem pessoas qualificadas para
instalaram-se aqui. Por isso, é essencial
repor essa mão de obra. Na indústria
que a representatividade da Apolo,
petroquímica esse problema é gritante
cujo sucesso se comprovou desde 2004,
porque o trabalhador precisa ser altamente
volte com força total nos próximos
qualificado e você não treina uma pessoa
anos”, enfatiza Carlos Leopoldo.
da noite para o dia. O treinamento de um
operador petroquímico demora quase dois
anos”, alerta Paulo.
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Gilfranque acompanhou de perto todas as fusões e mudanças do Polo. Prestou
concursos e começou na Refinaria de Capuava e, em 1999, foi para a Polibrasil, que
virou Suzano Petroquímica, Nova Petroquímica, Quattor e, finalmente, Braskem.
“Tivemos um período muito difícil na Apolo. No período da Quattor, por uma
questão de política da empresa, não havia uma definição clara, um posicionamento
forte em relação à associação. Foi uma época muito conturbada, muito afetada e
nos deparamos com uma crise em 2008, quando a Apolo quase acabou. Tivemos
algumas baixas e os recursos financeiros minguaram, afetando diretamente nas ações
com a comunidade, que foram reduzidas. Procuramos fazer campanhas menores
e mais efetivas, como o concurso de meio ambiente com as escolas do entorno. E
reestruturamos o nosso relacionamento com o Nanasa, ajudando-os a redesenhar a
Conselheiro
da Apolo, o
engenheiro
químico Gilfranque
da Silva Leite é
gerente de fábrica
da PP4 da Braskem
participação da prefeitura de Santo André quanto ao modelo de financiamento de
longo prazo do projeto. Eles eram dependentes de um aporte direto da associação de
80%, então nós os instruímos para buscar outras fontes, pesquisar outros recursos e
leis de incentivo.
A Quattor fazia parte da Apolo, mas houve uma redução forte de cotas. Nós tínhamos
Polietilenos, PQU, Polibrasil e Unipar participando da associação e, com a fusão,
essas quatro empresas viraram uma só; isso nos enfraqueceu financeiramente. Com
a chegada da Braskem, um dos meus objetivos era levantar a bandeira da Apolo.
O Lucélio de Morais, gerente de Relações Institucionais Braskem Sudeste, foi o
grande apoiador nesse momento. Em uma ocasião, teve uma reunião com o Marcelo
Lira, que é o vice-presidente de Comunicação e Relacionamento Institucional da
Braskem, e conseguimos um ‘espaço’ para eu mostrar um slide, uma foto aérea
do Polo: ‘esse é o Polo Petroquímico do Grande ABC; aqui nessa região moram
45 mil pessoas, nessa outra mais 30 mil. Apresentei todos os dados e problemas
Recuar para sobreviver
existentes, mostrando a necessidade de ter uma associação como a Apolo para
fortalecer o relacionamento com a comunidade. Outras pessoas foram imediatamente
“Se a química está causando esse problema, há de não causar, tem que
convocadas para a apresentação e a Braskem começou a entender, cada vez mais, a
se dar um jeito de resolver essa poluição!”
complexidade da região e a relevância de ter a Apolo como associação representativa.
Na época, o presidente da Braskem, o Bernardo Gradim, visitou o nosso site, viu a
O raciocínio do menino de nome incomum, Gilfranque, era simples. Por causa de uma
situação de perto e determinou uma participação maior da empresa na Apolo, para
reportagem sobre a poluição ser a causadora de problemas genéticos nas crianças
que a associação pudesse voltar a ocupar os espaços, que não deveriam ter sido
nascidas em Cubatão, na Baixada Santista, ele começou um debate com sua tia,
desocupados nunca.
que na época era professora de Química. “Perguntei: ‘Tia, como é esse negócio?’.
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E ela disse: ‘Isso é um resultado do trabalho das indústrias químicas com práticas
A Braskem colocou peso e representação dentro da Apolo: o presidente é o Henrique
inadequadas’. Foi assim que decidi qual carreira iria seguir”, conta o engenheiro
Leopoldo Schulz (diretor da Unib); Emílio (diretor de Polietilenos), eu e o Lucélio de
químico Gilfranque da Silva Leite, gerente de fábrica da PP4 da Braskem.
Morais continuamos no conselho”, completa Gilfranque.
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De acordo com ele, antes da fusão, a Braskem tinha posições industriais no Sul do país
Só que quando é jogado no rio, por conta de uma coleta inexistente ou deficiente, o
(RS) e no Nordeste (Bahia e Alagoas), com uma grande capacidade de produção nesses
plástico flutua e ganha o status de grande vilão ambiental. Essa imagem personifica a
dois polos, que estão longe dos principais mercados consumidores (RJ, SP e MG). Por
poluição como se a sacolinha fosse a causadora de todos os problemas. Dessa forma,
outro lado, a Quattor tinha esse ativo cravado no meio da Grande São Paulo e iniciado
se esquecem de atacar a causa do problema, que é a coleta inadequada ou inexistente
o Riopol (com base gás), em Duque de Caxias. A rentabilidade e a lucratividade da
e a falta de educação da população”, conta Gilfranque.
operação de polietileno naquele cracker é muitíssimo maior do que a lucratividade de
qualquer outro site que a Braskem tinha antes. No site do ABC, depois de anunciado,
“Vivenciamos um momento importante do setor no país, trata-se de um
em 2010, o investimento de R$ 360 milhões para a conclusão dos projetos de expansão
amadurecimento, uma ruptura. E muitas mudanças estão por vir, com as novas
da produção de eteno e polietilenos, a unidade terá maior capacidade de produção
matérias-primas, como o biodiesel e o etanol. Quando o preço do petróleo cresce,
individual e também de ter um portfólio de produtos mais amplo da empresa. “Temos
algumas rotas que não eram economicamente viáveis passam a ser. Do outro lado,
um cracker de carga mista (parte base gás e outra parte base nafta) então, estamos
temos a sociedade que exige cada vez mais produtos ‘eco-friendly’, embora a
mais competitivos, além disso, a planta de polietileno é a mais moderna de toda a
maioria deles tenha uma produção menos eficiente do ponto de vista ambiental em
Braskem. Todas as questões logísticas, de integração com o cliente e proximidade com
comparação aos derivados do petróleo, por exemplo.
os complexos cariocas, nos torna extremante estratégicos”, explica.
O consumo de petróleo está diminuindo no mundo por conta das crises e o preço está
Para Gilfranque, o Polo não tem como expandir em área física, porém, o caminho o
subindo. Isso nunca aconteceu. A regra sempre foi: consumo cai, preço cai. Consumo
leva a tornar-se cada vez mais eficiente energeticamente, do ponto de vista ambiental,
aumenta, preço aumenta. E agora o consumo cai e o preço sobe, o que indica que o
e fazer cada vez mais produtos que atendam de maneira mais “Taylor Made” (projeto
problema é estrutural. A representatividade do Brasil no setor muda com o pré-sal,
sob medida) o consumo da região onde está instalado. O diferencial é que o Polo terá
pois deixamos de ser um país de 13 bi de reserva extraível para 30 bi. Só que muito
grande sinergia com o Polo do Rio de Janeiro. “Com a integração da Reduc, do Riopol e
maior do que o nosso pré-sal é a faixa do Orinoco, na Venezuela. Tem 1,2 trilhões de
do Comperj, teremos um complexo gigantesco, que será o maior polo do Brasil. Como a
barris de petróleo em Orinoco. É quase todo o petróleo que tem no mundo hoje. Mas
base de geração de produto lá vai ser base gás, mais competitiva por ser mais barata que
não é do tipo extraível, ninguém sabe o quanto vai conseguir tirar. Na faixa do Tar
base nafta, nossa previsão é a de fazer mais especialidades aqui, e no Rio eles vão fazer
Sands, Canadá, tem mais 1,2 trilhões de barris. O petróleo não vai acabar como muita
commodities em grandes volumes. Acho que esse é o caminho para esse Polo, uma saída
gente fala. O combustível fóssil e o biocombustível, produzido a partir de alternativas
totalmente estratégica”, comenta.
energéticas renováveis, vão conviver juntos, ainda, por muitas e muitas gerações”,
orienta Gilfranque.
O estigma da sacolinha plástica
Em relação à cadeia de plásticos, segunda e terceira geração, o consumo tem subido
sempre. Conforme a vida fica mais sofisticada, o consumo de derivados petroquímicos
“Quando falam da sacolinha plástica, não estão falando dela. Isso é um ataque, uma
aumenta. O setor petroquímico se beneficia muito dessa melhora econômica, do
crítica à toda cadeia petroquímica. Nas décadas de 1950 e 1960, o plástico era a
aumento de recursos das classes sociais emergentes. Segundo Gilfranque, cada
salvação da humanidade. O benefício que ele trouxe à vida cotidiana foi gigantesco.
americano consome o equivalente a 900 barris de petróleo por ano. O chinês, 5%
Alimentos passaram a ser embalados em embalagens plásticas, o que aumentou a vida
disso. O brasileiro consome dez vezes menos em comparação ao índice de consumo
útil de vários produtos. Houve a substituição da caixa de madeira por caixa de plástico,
chinês, ou seja, tem muito espaço para o aumento de consumo de derivados. Em
diminuindo a perda no transporte. Na indústria automobilística, ocorreu a redução
2010, o brasileiro consumiu 4,9 milhões de toneladas de resinas.
no peso dos veículos por conta da substituição do metal pelo plástico, sem falar na
98
quantidade de energia que passamos a economizar e a menor geração de poluentes.
Com a inserção no mercado consumidor de aproximadamente 20 milhões de
Alguns utensílios só existem porque são feitos de plástico. A vida moderna não seria
habitantes nos próximos anos e os grandes eventos ‘“Olimpíadas 2016” e “Copa do
possível sem o plástico.
Mundo 2014”, a demanda por petroquímicos vai crescer no Brasil.
99
Hoje, queremos levar a Apolo
adiante, fortalecendo a relação
com a população de forma
mais profissional e criando
oportunidades junto às prefeituras,
polícia militar, escolas e hospitais
Luis Roberto Almudi,
administrador de empresas,
diretor executivo da Apolo.
6. A Apolo vive um novo tempo
100
101
A preocupação inicial da Apolo como associação, cujo foco era unir forças para
Os objetivos da Apolo
conquistar redução de custos para as empresas do Polo Petroquímico do ABC – herança
do Grupo de Sinergia–, foi ampliada. A negociação com os fornecedores, iniciada
Toda empresa ou associação que tem claramente definidos os seus objetivos transmite
na década de 1990, foi apenas o primeiro passo de um trabalho muito maior, mais
organização, vontade de progredir e busca constantemente benefícios para todos que
abrangente e enriquecedor.
estão a sua volta. Pensando assim, a Apolo definiu metas a médio e longo prazo e
objetivos que norteiam seu trabalho desde sua criação. São eles:
Surgiu, então, a necessidade de começar um diálogo com a comunidade e mostrar- se, por inteira, para quem foi se achegando ao seu lado, afinal, a indústria chegou
Buscar excelência nas práticas corporativas de saúde, segurança e meio ambiente (SSMA);
primeiro. Era preciso ouvi-los e era preciso que ouvissem o Polo. E esse vínculo foi
Assegurar o relacionamento entre as associadas e a comunidade, contribuindo com criado por meio de uma aproximação pessoal dos colaboradores das empresas com os
melhorias sociais que promovam condições dignas de vida;
moradores, da troca de informações claras e objetivas e, principalmente, pelas ações
Engajar os stakeholders nas ações propostas;
sociais e ambientais, que visavam ajudar diretamente a comunidade do entorno.
Fortalecer a representatividade perante órgãos governamentais e agências de
Para ganhar força, era necessário criar regras e segui-las. Era preciso apresentar um
desenvolvimento;
posicionamento para as empresas associadas e para a sociedade. Essas leis internas
Estreitar o relacionamento com entidades do setor;
guiariam as decisões e os caminhos a serem traçados, as ações que ditariam os
Reforçar a identidade corporativa da associação;
relacionamentos da Apolo dali para frente.
Propor medidas que viabilizem o crescimento sustentável das associadas.
Buscando o melhor para as empresas associadas, para a indústria petroquímica e para a
comunidade, a Apolo segue e aplica uma proposta de trabalho que define quem ela é,
o que faz e para quem. Esses são os pontos fundamentais para o crescimento do Polo
Petroquímico do Grande ABC e da Apolo, para o amadurecimento das relações e para o
Gestão atual
bem estar da sociedade. Conheça um pouco mais sobre essa filosofia:
Formado em Administração de Empresas, com habilitação em Comércio Exterior,
Luis Roberto Almudi sempre trabalhou na área de suprimentos. Sua trajetória inclui
passagens pela Brasinca, Schüller, pela qual passou alguns anos nos Estados Unidos,
Luis Roberto Almudi
tem a missão
de fortalecer a
imagem da Apolo
General Motors e Delphi. Depois de 11 anos no Grupo GM, como gerente de compras
Missão:
Valores:
Proporcionar condições favoráveis
A Apolo como entidade que representa as
para que as indústrias associadas
principais indústrias do setor petroquímico
Em 2007, Almudi recebeu o convite da Petroquímica União para fazer uma
respondam ativamente às exigências
nacional tem como principais valores:
reestruturação na área de compras, devido à mudança para Companhia Petroquímica
competitivas do cenário petroquímico,
bem como às demandas sociais,
ambientais e econômicas.
Atuação responsável por meio de
do Sudeste, que antes mesmo de ser incorporada deu vez à Quattor. “Em 2010, com a
segurança, saúde e meio ambiente;
chegada da Braskem, houve uma reestruturação e eles me convidaram para continuar
Respeito e valorização da vida;
Visão:
Integrar empresas, comunidade e órgãos governamentais
visando contribuir para a alta performance empresarial
com desenvolvimento sustentável e, assim, obter
reconhecimento regional e nacional.
e suprimentos, foi para a Mangels, onde permaneceu por dois anos e meio.
na organização por meio da Apolo. Isso se consagra como um verdadeiro desafio na
minha carreira”, conta Almudi.
Atuação ética;
Gestão transparente;
Relacionamento de longo prazo.
À frente da associação, Almudi estruturou uma equipe interna, que conta com o apoio
de assessorias externas. “Hoje, nós profissionalizamos a Apolo e temos equipes de
Comunicação, Contabilidade e Jurídica. A minha atribuição é mais estratégica, o que
inclui negociações, estreitar relações com o poder público e privado, garantir uma boa
gestão do pessoal e da estrutura, além, claro, da prospecção de novas associadas”.
102
103
De acordo com Almudi, infelizmente por conta da filosofia adotada pela Quattor,
A retomada de algumas ações
a associação teve suas principais ações paralisadas de 2006 até 2010. “Desde o
início, os profissionais envolvidos com a Apolo faziam de sua participação parte da
Quando assumiu, Almudi decidiu abortar algumas ações do passado para fazer uma
sua realização pessoal; o engajamento era voluntário e comprometido, embora eles
revisão das práticas de gestão, o que incluiu desde a revisão da participação da Apolo
tivessem pouco tempo de dedicação exclusiva, afinal, tinham metas a cumprir. Com
nos simulados até a doação de equipamentos para entidades assistenciais. Porém,
o passar dos anos, as corporações ficaram ainda mais exigentes e, com as fusões, a
uma das ações mais bem quistas e vivenciadas pela comunidade, sem dúvida, era o
Apolo ficou de lado. Com a chegada da Braskem, isso mudou. “A Braskem leva muito a
“Polo dá Vida”. Como esse projeto requer muitos recursos, muita gente envolvida e
sério, principalmente o relacionamento com a comunidade; a empresa investe forte e tem
muito tempo de organização, a nova diretoria resolveu terceirizar o evento. “O ‘Diário
uma filosofia de ser atuante na região onde está instalada. Quando eles chegaram e viram
do Grande ABC’ ,coincidentemente, tinha um programa chamado DGABC nos bairros,
a situação da Apolo, decidiram contratar um executivo da empresa, que se dedicaria
que já tem uma estrutura toda montada, profissionais contratados, know-how e segue,
integralmente à associação. A minha única atribuição é cuidar da Apolo. Estamos em
praticamente, o mesmo formato do “Polo dá Vida”. Então, ao invés de retomar e
um momento muito importante de profissionalização, de investimento em estrutura
recomeçar do zero, analisamos as vantagens de apoiar o projeto do jornal, que já estava
e planejamento. Então, o meu principal desafio aqui é não só revitalizar, mas recriar a
em andamento, com aporte financeiro. Nosso apoio começou em outubro de 2011”,
Apolo”, completa Almudi.
conta Almudi.
Sediado em escolas da rede pública nas comunidades próximas ao Polo Petroquímico
Cecília Oliveira,
Karina Ribeiro e
Tassia Rodrigues
fazem parte da nova
equipe da Apolo
do Grande ABC, o programa “DGABC nos bairros” leva serviços gratuitos de apoio
às famílias nas áreas de cidadania (orientação jurídica, emissão de documentos e
palestras), saúde (atendimento médico e odontológico) e oficinas culturais.
Para 2012, a Apolo pretender colocar em prática um plano de capacitação e
qualificação de mão de obra na região. “Isso foi um pedido de uma das associadas, ou
seja, uma necessidade de buscar, treinar e qualificar mão de obra local, aumentando
também o número de postos de trabalho para moradores da região. Estamos
tentando uma parceria com o Senai para formatar o projeto, que ainda está em fase
embrionária”, comenta.
Para Almudi, fisicamente, o Polo não tem como expandir. “Pelo contrário, sofre pressão
da comunidade, fato semelhante ao que acontece com o aeroporto de Congonhas.
Porém, nós temos alguns pontos e localizações, pertencentes às empresas, nos quais,
futuramente, queremos criar um cinturão verde a exemplo do que acontece em Triunfo,
no Rio Grande do Sul. Por outro lado, a importância, a relevância do Polo de Capuava,
pela localização privilegiada do Grande ABC, fala por si só. Aqui, nós temos centenas
“Vamos priorizar o fortalecimento da Apolo por meio da sua reestruturação, de uma
de empresas estabelecidas na região, abastecemos toda a cadeia, então, a importância
filosofia nova, de uma administração mais agressiva no sentido de buscar mais desafios
começa pela localização: estar no ABC. Os outros polos vão crescer, mas ainda vai levar
e nos aproximarmos cada vez mais da comunidade. Parte do sucesso da Apolo no
um tempo para chegarem ao patamar de importância que o nosso polo tem em relação
passado se deve muito ao assistencialismo, que envolvia doações e solidariedade. É dai
às indústrias locais”, conclui o diretor executivo da Apolo.
que vem o reconhecimento por parte da comunidade. Hoje, queremos levar a Apolo
adiante, fortalecendo a relação com a população de forma mais profissional e criando
oportunidades junto às prefeituras, polícia militar, escolas e hospitais”, salienta.
104
105
A rede de relacionamentos
PSS - Programa de Sustentabilidade Socioambiental
Valorizar a convivência para o benefício de todos, ter atitudes positivas e um genuíno
Para nutrir a cultura do que foi construído até agora entre as novas gerações, e
interesse pelas pessoas, com respeito, solidariedade e reciprocidade. Sem dúvida,
mobilizar a população (cerca de 54 mil moradores dos bairros próximos), a Apolo, em
esses foram alguns dos pilares que nortearam a criação da rede de relacionamentos
prol das suas metas e objetivos, traçou um conjunto de ações que concretiza a gestão
da Apolo. Ao longo dos anos, a associação conseguiu criar uma via de mão dupla,
sustentável da associação, implementando intervenções que visam gerar resultados
que permite cultivar e ampliar a rede de pessoas com as quais estabelece um vínculo
positivos às partes envolvidas.
participativo e atuante.
Como parte de um ecossistema pelo qual é corresponsável, a Apolo convoca os
diferentes públicos de interesse (stakeholders) a incorporar sua essência do conceito
de sustentabilidade. Os principais programas são realizados até dois quilômetros do
entorno do Polo, nas seguintes comunidades: Jardim Sônia Maria e Jardim Silvia Maria,
ambas em Mauá; Parque Capuava, Jardim Santo Alberto e Jardim Itapuã, em Santo
André; e parte do Parque São Rafael, em São Paulo.
“O Nudec foi o principal acontecimento de 2010, principalmente para a população”
Associadas
Oxicap
Comunidade
Escolas
Moradores
do entorno
(raio de 2 km)
Braskem
Conselho
Comunitário
Consultivo
(CCC)
Nudec
Conseg
Instituições
de Ensino
Públicas e
Privadas
Saúde
Órgãos
Ambientais
Órgãos
Governamentais
e Não
Governamentais
Secretarias
Municipais
de Saúde
Cetesb
Governos
Postos
de Saúde
Secretaria
Agência de
de Meio
Desenvolvimento
Ambiente de do Grande ABC
Santo André
Abiquim
Defesa Civil
Secretaria
de Meio
Ambiente
de Mauá
Quinze anos depois de o Grupo de Sinergia ter iniciado o trabalho que hoje a Apolo
realiza, muita coisa mudou. O diálogo com a comunidade foi ampliado por meio
do Conselho Comunitário Consultivo (CCC) e do Núcleo de Defesa Civil (Nudec).
E as associadas estão cada vez mais empenhadas na solidificação de projetos de
SSMA com as escolas, os moradores, os órgãos de saúde e meio ambiente, órgãos
governamentais e não governamentais. É um grande movimento das empresas e das
entidades públicas visando o bem estar e a segurança da comunidade que divide
espaço com as empresas.
Quando Almudi assumiu a Apolo, em 2010, fortes chuvas causaram alagamentos
e deslizamentos na cidade de Mauá. Muitas pessoas morreram e muitas ficaram
desabrigadas: “A prefeitura veio até nós e solicitou um galpão para que pudessem
Polícia Militar
abrigar as vítimas das enchentes. E a Apolo manteve, por bastante tempo, a
Bombeiros
contribuição monetária/financeira para a locação dos galpões”, conta ele.
Bióleo
Bio-Rio
Meses depois, em conversa com a prefeitura para saber o que estavam fazendo para
se prevenir para as próximas chuvas, surgiu a ideia: a necessidade de criar vários
Nudecs, para que a própria população pudesse se antecipar aos problemas ocorridos
no passado. Para isso foi necessário treinar a comunidade. E a Apolo fez isso devido
à experiência das empresas do Polo. “Estivemos bastante envolvidos com a criação do
Nudec de Mauá especificamente”, explica Almudi.
106
107
Mas, o que essa sigla tem modificado na vida da comunidade que reside nas
Os treinamentos
proximidades do Polo? Os Nudecs são Núcleos de Defesa Civil, formados nas
comunidades – em bairros, vilas, escolas, igrejas, associações de moradores – que
São muitos os temas que envolvem a segurança e a saúde das pessoas e, para isso,
têm como meta planejar, promover e coordenar atividades de defesa, trabalhando em
informação é fundamental. “A sociedade civil é estimulada a conhecer, a discutir e a
diferentes fases: preparação, prevenção, resposta e reconstrução. “São compostos por
refletir temas que a habilitem a adotar atitudes proativas que visem e garantam mais
pessoas da comunidade que, por meio de ações voluntárias, se organizam na busca de
segurança e qualidade de vida à toda população”, diz o Tenente Mansur.
mais qualidade de vida e de autoproteção”, explica o Ten. Res. PM Luiz Manssur Filho,
coordenador de atividade do Departamento de Defesa Civil de Santo André.
Alagamentos, enchentes, inundações, deslizamentos, raios, incêndios e riscos
químicos estão na pauta dos treinamentos e das palestras realizadas para os
Funcionam como centros de reuniões e debates entre a Comdec (Coordenadoria
participantes. Além disso, outros temas abordados são: riscos urbanos e domésticos
Municipal de Defesa Civil) e as comunidades locais. A instalação do Núcleo, iniciada
como quedas, queimaduras e cortes; choque elétrico; prevenção de intoxicação por
em 2001, foi importante em áreas de risco para organizar e preparar a comunidade
cosméticos ou medicamentos; segurança com botijão de gás e como proceder em
local. Esse é o trabalho que está sendo feito agora nos Nudecs de Mauá e Santo
casos de vazamentos com e sem fogo; noções de primeiros socorros; saúde pública
André. Mas a Defesa Civil não age sozinha: um planejamento mensal envolve outras
(cidade saudável, doenças relacionadas com água, componentes químicos, doenças
áreas da prefeitura de Santo André e de instituições como o Corpo de Bombeiros, o
relacionadas com coliformes fecais e com lixo); controle de vetores; a importância de
Samu e a Polícia Militar.
organizar a comunidade para formar um Nudec; características de liderança; como
conduzir reuniões e saneamento ambiental integrado.
As entidades planejam, promovem e coordenam atividades de defesa civil, com olhos
que avaliam os riscos de desastres e as vulnerabilidades dos cenários, principalmente
cujas áreas e situações de riscos são identificadas. Além disso, promovem medidas
Equipe preparada
preventivas estruturais e não estruturais para reduzir os riscos, elaboram planos
de contingência e de operações e realizam exercícios simulados. Realizam também
A criação do 1º Nudec de Mauá, que
uma série de treinamentos de voluntários e de equipes técnicas para atuarem em
partiu de uma iniciativa da Apolo,
circunstâncias de desastres e na articulação com órgãos de monitorização, alerta e
colabora fortemente para que o núcleo
alarme, com o objetivo de otimizar a previsão de problemas.
seja um instrumento de prevenção de
acidentes e proteção das pessoas e
O papel da Apolo tem sido o de fazer a interação da Defesa Civil com a comunidade,
dos patrimônios públicos e privados.
por meio de um planejamento participativo e construção coletiva, facilitando o acesso
Formado em setembro de 2011,
da comunidade às ações, melhorando a convivência com o meio ambiente local e
o núcleo de Mauá já conta com a
ampliando os espaços de discussão.
participação de 53 voluntários, que
cuidam de 159 ruas, totalizando uma
108
E os resultados não poderiam ser melhores: “O envolvimento da população foi ótimo.
população de 54 mil moradores dos
Eles aceitam bem a ideia, participam ativamente. A única intenção, em tudo que a gente
Jardins Sônia e Silvia Maria, bairros
da Secretaria de Educação de Mauá, o
faz, é levar à comunidade o nosso conhecimento adquirido na indústria, seja em meio
muito próximos às empresas do Polo.
quarto encontro de capacitação, que
ambiente, saúde ou segurança”, explica o diretor executivo da Apolo. “A população
O trabalho é voluntário e solidário, sem
tratou sobre tipos e usos de extintores.
aceita bem isso, se engaja nas ações e gosta”, completa.
caráter partidário e político. A intenção
Esse último encontro contou com a
do grupo é, exclusivamente, orientar e
participação de profissionais de SSMA
capacitar as pessoas para que saibam se
(Saúde, Segurança e Meio Ambiente)
prevenir e agir em situações de risco.
das associadas. Para finalizar o evento
Em 17 de setembro, aconteceu, na sede
em grande estilo, o Coral da Oxiteno e
Entrega de diplomas
aos 58 voluntários,
que vão atuar nos
Nudecs regionais de
Mauá e Santo André
109
do Grupo Raio de Sol, composto por senhoras do Jardim Sônia Maria e Jardim Silvia
“A mentalidade e o conhecimento que existem dentro das empresas petroquímicas,
Maria, fizeram uma belíssima apresentação, antes da entrega dos diplomas aos 58
por mais simples que pareçam, são levados para fora dos muros e, neste caso, para
voluntários, que vão atuar nos Nudecs regionais de Mauá e Santo André.
os professores, que ficam treinados e de olho nos detalhes da segurança, seja em
sinalizações, seja em extintores de incêndio”, relata Almudi.
A Defesa Civil no mundo
O selo de qualidade
O conceito de “defesa civil” é mundial e as primeiras
No estado de São Paulo, a Defesa Civil surgiu em 1976,
ações nesse sentido foram realizadas nos países
após os resultados desastrosos decorrentes das intensas
atingidos pela Segunda Guerra Mundial. O primeiro país
chuvas ocorridas em Caraguatatuba (1967) e dos
a preocupar-se com a segurança de sua população foi
incêndios dos edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974).
a Inglaterra, que após os ataques sofridos entre 1940
Todos os acidentes resultaram em muitas mortes devido
e 1941 – foram lançadas milhares de bombas sobre
à falta de coordenação rápida dos órgãos públicos e da
as principais cidades e centros industriais ingleses –
integração com a comunidade.
instituiu a Civil Defense (Defesa Civil).
E para incentivar as boas práticas aprendidas e implementadas pelas escolas, tornando-as
mais seguras, está sendo criado o Selo Apolo de Qualidade: “Ele certificará a escola que
conseguir passar pelas fases de implementação do SMS, chegando a um nível de excelência
em segurança aprovado pelas empresas do Polo”, conta Almudi. Será um reconhecimento
por parte da Apolo, tornando essa escola referência para as outras da região.
A construção de um relacionamento
“O trabalho com as escolas não é ensinar diretamente as crianças, e sim compartilhar os
mesmos procedimentos utilizados dentro da indústria nas escolas. Deixar a equipe com
um olhar treinado para os detalhes: a escada tem de ter corrimão, os carros precisam
Apolo: levando segurança e conscientização às escolas
ser estacionados de ré, sinalização, os acidentes que acontecem dentro das escolas
são registrados e discutidos com as crianças”, fala Almudi. E dentro da escola os pais
Um forte trabalho de conscientização em relação à segurança nas escolas da região
também são envolvidos até para poderem entender e aceitar aquilo que os filhos
do Polo Petroquímico do Grande ABC é realizado pela Apolo. Com a coordenação e
estão aprendendo. É um processo lento, pois lida-se com mudança de mentalidade
empenho da Fundação Bio-Rio, braço da Universidade Federal do Rio de Janeiro que
coletiva e com os hábitos de uma comunidade inteira.
detém conhecimento em relação à segurança e relacionamento com comunidades,
Treinamento para
professoras na
escola E.E. Manoel
Cação, em Mauá
o trabalho é realizado principalmente junto aos professores, que multiplicam as
A partir dai, constrói-se uma rede com moradores, escolas e pelos postos de saúde.
informações aos alunos. O projeto beneficia 15 mil pessoas.
São eles o termômetro que mede o bem estar da população. Se um problema
acontecer dentro da indústria, vai refletir no aumento de atendimentos médicos, no
envolvimento dos agentes de saúde que visitam as residências etc.
Para atuar junto à comunidade, a indústria precisa estar próxima da Defesa Civil. Ao
longo de 2011, a Apolo fez um trabalho de formação e capacitação dos monitores
da comunidade, levando-os a serem voluntários da Defesa Civil. Com a oficialização
dos Nudecs pelas defesas de Santo André e de Mauá, os simulados de treinamentos
passaram a ser coordenados pelo poder público.
110
111
Bióleo: o programa que ajuda a comunidade
e o meio ambiente
O programa Bióleo foi criado pelo Instituto Bióleo de Desenvolvimento Sustentável, pioneiro
na empreitada. Paralelo à criação do programa, nascia, em 2005, o PNPB – Programa
Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, o que daria a garantia da destinação final do óleo
Dos três pilares que formam o Programa de SSMA da Apolo – saúde, segurança e meio
de fritura residual.
ambiente – o mais importante foi, por muito tempo, a segurança. Hoje isso começa a
mudar. Sem nunca abrir mão desse pilar básico, o quadro do SMS começa a ser ampliado
O maior problema é o grande descarte domiciliar, agravado por uma conta comum
pela Apolo e suas associadas: “Recentemente, contratamos outro programa com o
aos grandes centros: quanto menor a classe social, maior é o consumo e também o
Instituto Bióleo, que está atuando única e exclusivamente na área de meio ambiente,
seu descarte, em residências de difícil acesso. Todos estes fatores tornam esta coleta
reciclando óleo de cozinha para a produção de biodiesel”, explica o diretor da Apolo.
economicamente inviável.
Nada de jogar óleo de cozinha pelo ralo e nada de fazer sabão, que também é
Para motivar a população no engajamento ao programa, foi desenvolvida uma
prejudicial ao meio ambiente por causa da soda cáustica. A partir de agora, o destino
‘logística reversa social’, que consiste em contribuir com as associações de bairro
desse resíduo, tão utilizado pela população, será produzir biodiesel, uma forma mais
que cuidam de meninos de rua, de idosos, de doentes com câncer e portadores de
limpa de energia (substituta do óleo mineral) e, consequentemente, gerar renda para
deficiência física. Essas associações, desde que sejam reconhecidas e respeitadas
as instituições beneficentes dos bairros atendidos.
em suas comunidades, se tornam pontos de coleta desse resíduo, proveniente da
vizinhança. É uma forma de reconhecimento, ajudando com a doação do óleo que
“Da mesma forma que o BioRio vai às escolas e educa professores na área de segurança,
será vendido pela instituição às fabricantes de biodiesel.
o Bióleo vai à comunidade para criar pontos de coleta de óleo de cozinha, educando
a população e informando que jogar óleo de cozinha no ralo ou na pia da cozinha é
prejudicial ao meio ambiente. O desafio é conscientizar o pessoal de que isso não deve
Instituto e Apolo juntos
ser feito”, continua Almudi.
O programa “Apolo-Bióleo” teve início em outubro de 2011 e vai percorrer todos
As crianças são peça-chave em qualquer projeto de conscientização. Elas aprendem
os bairros do entorno. Já existem associações parceiras nos bairros Jardim Sônia,
rapidamente e disseminam, principalmente entre suas famílias, todas as informações
em Mauá, e Jardim São Rafael, em São Paulo. Como o programa foi implementado
passadas. Assim, por meio de palestras de educação ambiental em escolas, com fotos e
recentemente, o Instituto ainda está fazendo o levantamento das instituições.
outros meios, a equipe do instituto mostra aos pequenos as consequências do impacto
ambiental provocado pelo descarte inadequado do óleo de cozinha usado.
“Além disso, escolhemos aquelas instituições que fazem parte do programa ‘Viva Leite’,
do governo de São Paulo. Hoje, para o projeto Apolo, estamos fazendo parceria com
Aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de óleo doméstico – incluindo aqui
uma empresa chamada Ecosanta, localizada em Mauá, por uma questão de logística”,
bares, restaurantes e cozinhas industriais – são descartadas de forma errada em
diz a coordenadora do programa.
pias e ralos, entupindo as redes de esgoto e, consequentemente, contaminando
a água. Deste número, 70% provêm de residências, e os 30% restantes de
“A parceria com a Apolo é uma excelente oportunidade para o nosso programa
estabelecimentos comerciais. Com uma diferença: já existe no mercado um nicho,
trabalhar com um número maior de cidadãos, pois serão três municípios da Grande São
um grupo de empresas coletoras deste óleo descartado pelos restaurantes, de forma
Paulo sendo orientados conjuntamente. Além de ter comprovada a credibilidade e a
economicamente viável. O mesmo não acontece em relação às residências.
seriedade do nosso trabalho. E ter o apoio da Apolo para levar essas informações para
um grande número de pessoas, orientando-as sobre as consequências de seus atos, faz
A intenção inicial com o programa Bióleo era dar um destino adequado para os
uma grande diferença”, conclui.
resíduos. Após muitas pesquisas, optou-se por trabalhar com a destinação mais correta e
apropriada para o óleo de cozinha, por ser um resíduo diferenciado dos outros e por não
existir um mercado informal organizado (sucateiros), como há para os outros resíduos.
112
113
Em apenas três anos de funcionamento, os números do projeto Bióleo impressionam:
A palavra de uma associada
são 50 mil pessoas beneficiadas e mais de 200 instituições parceiras que geram renda
para financiar seus projetos sociais e para a compra de matéria-prima para a produção
Membro do conselho da Apolo, o engenheiro Alessandro Ferezin dos Santos,
de artesanato e compra de medicamentos, óculos, entre outros produtos. Mais de 100
coordenador de eficiência (Nível Brasil) da Air Liquide (Oxicap), onde está há 13 anos,
mil litros de óleo já foram coletados, deixando de causar um maior impacto ambiental.
acompanha de perto cada uma das ações da associação. “Desde que eu iniciei na
“Cada litro de óleo de cozinha residual contamina 20 mil litros de água, ou seja, mais de
Apolo pude vivenciar diferentes períodos, entre os quais o mais difícil, que foi quando
20 milhões de litros de água deixaram de ser contaminados, sem falar na diminuição do
a Quattor assumiu. Ela não deu ou não pode dar grande importância para a Apolo,
custo de manutenção de redes de esgotos que entopem por causa desse resíduo”, explica.
tanto que houve uma redução no número de conselheiros e de cotas. Com isso, veio
um declínio muito grande do potencial da associação. Perdemos potencial político
frente aos órgãos públicos e ficamos muito enfraquecidos financeiramente por redução
Concurso “Meio ambiente”
de aporte de todas as empresas. Esse período foi de 2009 a 2010, um ano e meio
praticamente sem forças e atuação mínima. Com a chegada da Braskem, visualizamos a
O concurso “Meio ambiente”, projeto que já existia desde 2002, volta com força
retomada da Apolo, tomando como modelo o Cofic, de Camaçari”, conta Alessandro.
total em 2012 para incentivar as escolas da rede pública de ensino, localizadas nas
proximidades do Polo Petroquímico do Grande ABC, na conscientização de seus alunos
Para ele, o Polo tem um futuro promissor. “Não sou diretamente ligado às empresas
sobre a importância do debate de temas ambientais. Os alunos são orientados e
de primeira geração, mas o que eu sei é que a Braskem, por exemplo, é preocupada
estimulados a desenhar e a escrever sobre assuntos relacionados ao meio ambiente.
em produzir seguindo o conceito ‘verde’, produtos mais ecológicos. Então, teremos
Alessandro Ferezin
dos Santos é
coordenador de
eficiência (Nível
Brasil) da Air
Liquide (Oxicap)
uma central caminhando para se manter forte e consolidada no mercado por meio de
Em tempos de preocupação com os escassos recursos naturais do planeta e com fontes
outras alternativas energéticas. Obviamente não somos os maiores, mas em termos
poluidoras, as crianças são um instrumento de disseminação de informações. Elas aprendem,
de importância, localização e logística, nos fazemos importantes. O mercado de São
cobram e ensinam suas famílias a ter uma postura mais sustentável diante do mundo.
Paulo é o maior consumidor, você tem a facilidade de estar conectado e muito próximo
ao porto de Santos, por onde você consegue escoar a produção e receber produtos e
O concurso é dividido em três categorias (1º ao 4º e do 5º ao 9º ano do ensino
equipamentos”, opina.
fundamental e do 1º ao 3º ano do ensino médio). Os três primeiros colocados de cada
categoria são premiados.
Em relação às mudanças na Apolo, Alessandro acredita que a associação conquistou
uma posição tão importante frente à comunidade que uma não existe mais sem a
outra. “As pessoas que estão ali sabem que as empresas estão preocupadas em fazer o
Vantagens de fazer parte da associação
melhor e nos valorizam muito por isso e vice-versa”, comenta Alessandro.
Atuação integrada;
Fortalecimento da reputação;
Hoje, empresas de todos os setores da economia, incluindo
O futuro da associação caminha para retomar os ideais
Centralização de alto poder de influência;
as empresas fornecedoras do Polo, podem se tornar
que criaram a Apolo no passado: a negociação para reduzir
Sólidas relações de confiança com comunidade, escolas, poder público, imprensa,
associadas da Apolo. A Apolo é o espelho e a voz das
custos, a união das forças das empresas para transformar
órgãos ambientais, governamentais e não governamentais;
empresas perante a sociedade e a imprensa. Essa voz
os negócios e o estreitamento do relacionamento com a
Comprometimento com a preservação ambiental e o desenvolvimento social;
é um filtro intermediário que cuida dos interesses das
comunidade, aproximando cada vez mais a população.
Geração de resultados financeiros satisfatórios.
empresas e da comunidade, conciliando a convivência. É
Hoje, qualquer empresa dos mais diferentes setores da
a Apolo quem representa as associadas perante os órgãos
economia, mesmo não pertencente ao Polo Petroquímico
públicos, defendendo seus interesses e servindo de base de
do Grande ABC, pode se associar à Apolo.
negociação, ou seja, ganhando força.
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115
Agradecimentos
Referências bibliográficas
ALZER, Luiz André e CLAUDINO, Mariana Costa. Almanaque dos Anos 80. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
Além de expressar sinceros
biocombustível (IBP)
BARRETO, Carlos Eduardo Paes. A Saga do Petróleo Brasileiro. “A farra do boi”. São Paulo: Nobel, 2001.
agradecimentos aos entrevistados, que
Izabel Christina Galvão
BONES, Elmar e LAGRANHA, Sérgio. A Petroquímica faz história. Porto Alegre: JÁ Editores, 2008.
nos receberam com muito carinho,
Ivan Teixeira Cardoso
BUENO, Eduardo. Brasil: Uma história. A incrível saga de um páis. São Paulo: Ática, 2003.
atendendo às nossas exaustivas
José Ricardo Roriz Coelho
DIAS, José Luciano de Mattos e QUAGLINO, Maria Ana. A questão do petróleo no Brasil: uma história da Petrobras.
solicitações, a coordenação deste livro
Luiz Manssur Filho (Tenente)
Rio de Janeiro: CPDOC: Petrobras, 1993.
gostaria de expressar o imenso orgulho
Luiz Shizuo Harayashiki
GAIARSA, Octaviano Armando. Santo André ontem, hoje e amanhã. Santo André: P.M.S.A.,1991.
por registrar parte de depoimentos
Marilena Leonel de Sousa
MEDICI, Ademir. Migração, urbanismo e cidadania: A história de Santo André contada por seus personagens. Santo André: P.M.S.A.
e fotografias tão importantes para a
Marina Galvão
MEDICI, Ademir. Refinaria de Capuava: 50 anos. A Matrix do Polo Petroquímico do ABC. São Paulo: Recap, 2005.
história da Apolo, do Polo Petroquímico
Museu de Santo André Dr. Octaviano
OLIVEIRA, Adary. O Polo Petroquímico de Camaçari. Industrialização, crescimento econômico e desenvolvimento regional.
do Grande ABC e do Brasil. Pedimos
Armando Gaiarsa
Salvador: P555 Edições, 2006.
desculpas, caso tenhamos, por falta
Nelson Tadeu Pereira
PERRONE, Otto Vicente. A Indústria Petroquímica no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Petróleo,
de espaço, omitido fatos, citações e
Nívio Roque
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personalidades.
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Otto Vicente Perrone
Vários autores. Perfil: Polo Petroquímico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Intermédio, 1978.
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