Druida: Etimologia

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Druida: Etimologia
Templo de Avalon - Caer Siddi
Druida: Etimologia
Templo de Avalon - Caer Siddi : Registros de Belloṷesus
Publicada por Rowena em 11/1/2013
Antes de mais nada, é preciso salientar que esse termo, druida, sofreu uma dura provação. Ainda
que a palavra seja muito antiga, as formas modernas, druide em francês, druid em inglês, derwydd
em galês e drouiz em bretão são todas reconstruções cultas que não datam de antes do fim do séc.
XVIII.
A palavra popular, resultante da evolução lógica da língua, é draoi em gaélico moderno, que
significa “bruxo, feiticeiro” e dryw, “(pequeno) rei”, em galês contemporâneo, tendo se perdido o
termo no bretão. Essas reconstruções cultas foram realizadas sobre o termo mais antigo atestado, o
utilizado por Caesar, que se latiniza como druis (genitivo druidis), a que corresponde estreitamente o
irlandês antigo "drui".
Essas observações são de importância, pois constituem a prova de que o druidismo (e portanto os
druidas), haviam desaparecido da memória popular como instituição religiosa e isso há séculos.
Somente a Irlanda e o País de Gales conservaram uma vaga recordação que revela, por outro lado,
uma depreciação formal. É altamente significativo que a evolução semântica do irlandês antigo drui
tenha levado ao sentido de “bruxo”. Deve-se relacioná-lo com a perda de prestígio que ocorreu na
Irlanda, na época da cristianização, em relação aos druidas, degradados à classe de mágicos de
segunda categoria, em benefício dos fili (poetas), que encontraram (ou conservaram) seu lugar no
seio da sociedade hiberno-cristã. Assim, é impossível descobrir, como querem alguns estudiosos,
cheios sem dúvida de boas intenções, uma menção qualquer dos druidas num relato ou num canto
da tradição popular, especialmente na Pequena Bretanha. Essa tentativa remete ao mais puro
delírio celtomaníaco.
Dito isso, não está vedado levantar algumas questões sobre o significado da palavra “druida”. Já há
alguns séculos adotou-se, sem reflexão, a etimologia que oferece Plinius, o Velho (Gaius Plinius
Secundus, séc. I E. C.). Numa passagem célebre da Naturalis Historia, “História Natural”, em que se
fala da veneração dos druidas pelo visco e pela árvore em que cresce (no caso, o carvalho), ele
aduz: “Não realizarão nenhum rito sem a presença de um ramo dessa árvore, ao ponto que
PARECE POSSÍVEL que os druidas derivem seu nome do grego”. Concluiu-se que a palavra druida
provinha do grego drus, “carvalho”, e essa explicação ainda pode ser encontrada em autores sérios
da atualidade. Plinius é o único autor clássico a dar essa explicação. Todos os demais que a
mencionam são posteriores a ele e é Plinius a sua fonte.
Trata-se de uma etimologia analógica, construída sobre uma simples semelhança e consolidada
pelo papel efetivo do carvalho na religião druídica da Gália (pois na Irlanda não era o carvalho a
árvore mais venerada). Os autores gregos e latinos fizeram uso abundante desse tipo de etimologia,
como também os autores da Idade Média, como Isidoro de Sevilha, aquele que explicava que
cadaver significa “CAro DAta VERmis”, “carne dada aos vermes”.
Quanto às inumeráveis etimologias populares, são todas desse mesmo gênero e estabelecem às
vezes uma relação sutil que a linguística pura tende a eliminar. A “cabala fonética” é uma realidade
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e é sempre necessário desconfiar do que se esconde por trás de um arrazoado em aparência
aberrante.
Mas, nesse caso, a relação entre a palavra druida e o grego drus é inexistente. Por outro lado, qual
razão teriam os druidas gauleses para nomear-se com uma palavra grega? De acordo com toda a
lógica, seu nome deveria ser de origem celta. Ora, “carvalho” se diz deruo em gaulês (é uma das
não tantas palavras gaulesas de que estamos seguros), daur em gaélico, derw em galês, derv
(coletivo, dervenn no singular) em bretão. É muito difícil vincular com essas palavras o termo
“druida” em suas diversas formas.
Além disso, o texto de Plinius é bastante confuso. O Naturalista nos diz expressamente que a
origem seria a palavra grega drus: os druidas derivam seu nome do grego, isso é tudo. Foram os
comentaristas posteriores aqueles que de fato se decidiram por essa etimologia e veremos que, no
fundo, e contrariamente ao que se pensa, Plinius não está muito longe da verdade. Ainda que não
pelos motivos apontados.
Se nos referirmos à forma dada por Caesar, druides, a qual supõe um singular druis no nominativo,
e também à forma irlandesa antiga druid, a palavra só pode remontar a um céltico antigo *druwides,
que se pode decompor em dru-, prefixo aumentativo com sentido superlativo (que se encontra no
adjetivo francês dru) e em wid, termo aparentado com a raiz indo-européia do latim uidere, “ver”, e
do grego idein, igualmente “ver” e “saber”. O sentido, portanto, é perfeitamente claro: os druidas são
os “muito videntes” e os “muito sábios”, o que parece de conformidade com as diversas funções que
lhes estavam atribuídas.
Ora, os conhecidos escólios que se encontram no manuscrito da Pharsalia (“A Guerra Civil”) de
Lucanus (Marcus Annaeus Lucanus, séc. I a. E. C.) são de grande valor, pois nos trazem
informações úteis a respeito dos gauleses e de seus costumes e aportam uma indicação que
corrobora o dizer de Plinius: aos druidas “se lhes dá tal nome porque habitam nos bosques
distantes”.
É importante assinalar que a passagem da Pharsalia em que se exercita o talento do escoliasta é
concernente a um grande bosque perto de Marselha, onde os druidas oficiavam ao ar livre em
santuários que eram nemeta (nemeton, no singular), isto é, clareiras sagradas. Também se deve
destacar que não há alusão a carvalhos, mas a árvores em geral. e na realidade é isso o que nos
diz Plinius, o Velho.
Isso desemboca numa constatação curiosa: existe nas línguas célticas uma vinculação inegável
entre a palavra que significa ciência e a que significa árvore, em gaulês uidus (cuja raiz dará coed
em galês e bretão). Trata-se de uma simples homonímia? Será mais uma vez a “cabala fonética”?
Os celtistas falam unicamente de homonímia. Mas então como explicar essa mesma ambigüidade
em outras tradições indo-européias, em particular a propósito do Odin germânico? Odin-Wotan
(Woden em saxão) remonta a um antigo Wóthanaz, atestado por Tacitus, e os germanistas
enxergam aí a raiz wut-, que significa “furor sagrado”, portanto, “ciência total”, o que bem se concilia
com o caráter atribuído ao Odin das sagas nórdicas, convertido voluntariamente em caolho para
tornar-se magicamente vidente e senhor das runas, isto é, as letras mágicas gravadas em pedaços
de madeira, do mesmo modo que os fili irlandeses gravavam seus encantamentos em ramos,
especialmente de aveleira e de teixo. Pois a raiz wut- apresenta um parentesco muito surpreendente
com o nome germânico da madeira, reconhecível no inglês wood.
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Por outro lado, um dos poemas da Edda escandinava descreve Odin pendente de uma árvore (ritual
xamânico que voltaremos a encontrar na Irlanda pagã) e libertando-se pela força das runas que
invoca. Wotan-Odin é o deus do saber, o deus-mago por excelência, o que nos leva a pensar em
Gwyddion, filho da deusa Don, herói do Quarto Ramo do Mabinogion galês.
O nome de Gwyddion remonta a uma raiz gwid-, que significa “ciência” (gwiziek, “sábio” em bretão)
e pode também ser proveniente do uidus gaulês, no sentido de “árvore”. Se Odin-wotan e Gwyddion
estão, por sua vez, ligados às idéias de “ciência” e “árvore”, sendo como são verdadeiros
deuses-magos, não é inverossímil supor que o nome dos druidas possa ter essa mesma
ambivalência. As relações entre a ciência, sobretudo a ciência religiosa e mágica, e as árvores nada
têm que nos possa espantar. O mito primordial da Árvore do Conhecimento impregna as tradições
do todos os povos. E, se os druidas eram os “muito sábios”, eram também os “homens da árvore”,
aqueles que oficiavam e ensinavam nas clareiras sagradas, no meio dos bosques.
Pensemos nas atividades características de um “druida típico”. O primeiro tópico será sempre a
colheita do visco, idéia derivada de um cerimonial perdido nos textos, mas que se pode reconstruir
mediante a descrição de Plinius: “Os druidas consideram como mais sagrado o visco e a árvore em
que este cresce, supondo-se sempre que essa árvore seja um carvalho. (...) Sua colheita
efetuava-se no sexto dia da lua nova... porque a lua já tem uma força considerável sem estar,
contudo, no ponto médio de seu percurso” (Naturalis Historia, “História Natural”, XVI). Desse modo,
a colheita do visco nada tem a ver com o solstício de inverno, nem com a festa do Natal.
Desenrolava-se em condições muito precisas: o druida corta ele mesmo o visco com uma foice de
ouro. O visco é recolhido num pano branco e o druida veste-se com um traje da mesma cor. O
branco é a cor sacerdotal por excelência. Assim, essa colheita é de responsabilidade de um iniciado
do mais alto grau. O uso que farão do visco é outro problema. E também o ouro não é resistente o
bastante para ser usado em instrumentos de corte. O mais provável é que se tratasse de uma foice
de bronze ou de ferro recoberto com uma capa de ouro. De qualquer modo, o simbolismo lunissolar
é perceptível: o ouro é a imagem do sol, a foice é o crescente da lua.
Voltando à cerimônia, Plinius acrescenta que, depois da colheita do visco, celebrava-se um sacrifício
de touros brancos, muito jovens, uma vez que “seus chifres eram amarrados pela primeira vez” (op.
cit., XVI, 249). Sabe-se, graças a outra fonte, que o sacrifício de touros era um rito de entronização
real. Isso pareceria indicar que a colheita do visco não era um ritual isolado, mas parte de um
conjunto de ritos cuja sequência e finalidade são desconhecidas atualmente.
A peculiaridade desse costume deve ter contribuído para sua fama entre gregos e latinos, levando a
que, na época, fosse destacado em detrimento dos demais ritos.
RESUMO DO ARGUMENTO: dru- (muito), wid- (ver, saber), ligado à raiz de uidus (árvore). O
elemento "carvalho" não está em dru-, mas em wid, que se liga genericamente à idéia de árvore.
Nem poderia ser de outra forma, pois a denominação dos druidas era a mesma em todo o mundo
celta, mas o carvalho não era considerado igualmente sagrado em todos os lugares (na Irlanda
eram mais importantes a aveleira, o teixo, a sorveira e o espinheiro). As árvores, porém, eram
universalmente reverenciadas. Daí a associação do nome druida com as árvores, não com o
carvalho exclusivamente.
Bellovesos /|
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Assim, considera-te recepcionado, com meus votos de encontrares aqui algo que desperte teu
interesse ou, na pior das hipóteses, não te entedie.
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