PET - LIP Coimbra
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PET - LIP Coimbra
Instrumentação em Imagiologia Médica Módulo 4. Imagiologia com radioisótopos Parte II. Tomografia com emissão de positrões (PET – Positron Emission Tomography) Professor Vitaly Chepel, Departamento de Física, Universidade de Coimbra [email protected] Ano lectivo 2012-2013 Imagiologia com Raios-X e com Radioisótopos 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 2 Imagem com radioisótopos: o princípio 1. Injecção de uma substância marcada com um isótopo radioactivo emissor de raios gama (também pode ser introduzido por inalação) 3D image 2D image Detector γ γ 2. A substância é absorvida e distribuise no corpo consoante a sua função fisiológica γ Scintigraphy SPECT 3. A distribução é medida com um ou vários detectores de raios gama γ1 3D image γ2 PET 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 3 Física de positrões 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 4 O positrão O positrão é antipartícula do electrão me + = me − = 511 keV/c 2 (positrão = anti-electrão) qe + = − qe − = + e e+ e e- ao encontrarem-se aniquilam dando origem a outras partículas Aniquilação Como electrão e positrão são as partículas mais leves entre todas as partículas (com excepção dos neutrinos), a aniquilação destes só pode resultar em criação de fotões (m=0) e+ + e− → γ + γ - dominante e+ + e− → γ + γ + γ - possível mas com uma probabilidade muito reduzida e+ + e− → γ 2012-2013 IIM 2013-2014 - proibido pela conservação do momento linear V. Chepel 5 A cinemática da aniquilação e +e →γ +γ + − me c 2 + me c 2 = Eγ 1 + Eγ 2 p e + + p e − = p γ 1 + p γ 2 e− No referencial do centro de massa p e+ + p e− = 0 p γ 1 = −p γ 2 γ Momento linear de um fotão (m =0)* p = E / c Eγ 1 = Eγ 2 = me c 2 = 511 keV E 2 = mc 2 + ( pc ) 2 2012-2013 IIM 2013-2014 Para o processo e + e → γ o momento linear do fotão no referencial do centro de massa seria =0 o que é impossível para uma onda da luz (fotão) + *) A relação relativista entre a energia, a massa e o momento linear de uma partícula ( ) e γ + 2 V. Chepel − 6 A origem dos positrões Origem – decaimento β+: Por exemplo: C → 115B + e + + ν 11 6 18 9 F → 188O + e + + ν (processo elementar p → n + e + +ν ) O espectro de energia dos positrões Emax (tipicamente ~1MeV) Ee+ 0 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 7 Comportamento do positrão num meio Positrão é emitido num decaimento radioactivo (decaimento β+) com a energia cinética inicial de Ee ~1 MeV Ao colidir com os átomos do meio, o positrão perde a energia ao ionizar e/ou excitar estes até atingir a energia Ee < Eex ~ 1 eV Continua transferir a energia aos átomos, agora somente em colisões elásticas, até atingir equilíbrio térmico com o meio Ee ~ kT ≈ 0.025 eV (termalização do positrão) Um positrão termalizado forma com um electrão do meio um sistema ligado, semelhante a um átomo – o positrónio (e+e-) Ao passar um curto intervalo do tempo (o tempo de vida do positrónio é de ordem de ~10-10 s), o positrão e o electrão aniquilam e dão origem a dois fotões, com a energia de 511 keV cada um, que se afastam nos sentidos opostos. ν e+ decaimento β+ 2012-2013 IIM 2013-2014 e- e+ γ γ travagem do positrão no meio ionização do mesmo V. Chepel e+ formação do positrónio aniquilação 8 Os Radioisótopos 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 9 Radioisótopos para PET <R> em água Os mais usados (mm) 1.7 2.0 2.7 1.4 1.4 Isótopos de elevada afinidade biológica (não existem isótopos semelhantes em SPECT) 2.8 Exemplos de fármacos: Exemplos de decaimento: C → 115B + e + + ν FDG – 18F-fluoro-deoxyglucose 11 6 18 9 F → 188O + e + +ν 11CO, 11CO 2 (processo elementar p → n + e + ν ) + 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 10 Produção dos radioisótopos para PET o tempo de vida é muito curto têm que ser produzidos no sítio um ciclotrão faz parte inerente de uma instalação de PET acelera protões ou deutrões até a energia ~15 MeV a 20 MeV os isótopos radioactivos são produzidos em resultado de uma reacção nuclear p + 147N →116C + 24He 2 1 H + 147N →158O + n p + 157N →158O + n p + 168O→137N + 24He p + 188O→189F + n = radioactivo 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 11 Ciclotrão (cyclotron) Campo magnético: obriga as partículas a moverem-se numa trajectória circular r F r B r v r r r F = qv × B Força de Lorentz Campo eléctrico acelera as partículas cada vez que passam de um semicírculo ao outro r r F = qE 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel r E r F 12 Geometria típica LOR – line of response γ1 3D image γ2 PET Detecção de ambos os fotões dois pontos definida uma recta – a linha de resposta (LOR) A partir de um grande número de linhas de resposta a imagem pode ser reconstruída Os fotões gama provenientes de aniquilação do mesmo positrão produzem sinais coincidentes no tempo usar coincidências para garantir que os dois fotões detectados são correlacionados 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 14 LORs distribuição do isótopo γ1 3D image γ2 PET Cada fonte pontual produz uma distribuição específica de linhas de respostas Tarefa – a partir de um conjunto de LORs reconstruir a distribuição do radioisótopo no corpo Realiza-se usando um algoritmo chamado backprojection (semelhante ao usado em TAC) 2011-2012 IIM 2013-2014 V. Chepel 15 Configurações A mais comum PET em 2D PET em 3D Coincidências aceitas Septa (colimador) Maior eficiência O paralaxo é mais crítico Reconstrução mais difícil 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 16 A máquina 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 17 Três tipos de acontecimentos n1 n2 ni – taxa de contagens ∆τ - resolução em tempo sinal ruído Taxa de coincidências = T + S + R True – coincidências verdadeiras – é o nosso sinal Scatter – os dois sinais coincidem no tempo mas a energia de um (ou ambos) dos fotões tem energia inferior de 511 keV melhorar a resolução em energia para reduzir Scatter Random – coincidências fortuítas, os dois fotões detectadas são provenientes de dois decaimentos β+ diferentes Taxa dos randoms R = 2∆τ × n1n2 2012-2013 IIM 2013-2014 melhorar a resolução em tempo ∆τ para reduzir R V. Chepel 18 Scatter no corpo 10 Compton scattering photoelectric absorption Water Mu Pair production 2 cm /g 1 0.1 0.01 0.001 0.01 511 keV 0.1 1 10 Gamma ray energy, MeV a probabilidade de interacção para os fotões de 511 keV no corpo é de ~50% a 90% a probabilidade de Compton no corpo ~1000 maior do que a da absorção por efeito fotoeléctrico 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 19 Dispersão Compton no corpo (simulação Monte Carlo, 20cm de água, uma fonte pontual no centro) GEANT4 simulation Efeito da dispersão de fotões gama no corpo para a qualidade da imagem: UTAH phantom Activity = 1 H2O or vacuum Activity = 2 Activity = 0 Vacuum Filled with water Simulação com GEANT4 + Reconstrução em Matlab Dispersão no corpo e no detector Dispersão Compton No detector ~50% das gamas incidentes Detector: Z e ρ grandes No corpo Até 90% das gamas emitidas Corpo: Z e ρ ~H2O Compton in the detector (liquid xenon) γ 10 cm GEANT4 simulation Acontecimentos que envolvem dispersão Compton no detector estragam a imagem: Só fotoeléctrico Compton + fotoeléctrico Deitar fora: melhor imagem, pior eficiência Tentar usar: piora a imagem, mas melhora a eficiência Detecção, block detector 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 25 Block detector x y x, y, E um crystal (BGO, LSO ou GSO) de 32x32 mm2 (ou 52x52 mm2) com cortes a espessura do cristal e de 20 mm a 30 mm 64 (8x8) elementos por detector: 4x4 mm2 ou 6.5x6.5 mm2 cada um a forma dos cortes é optimizada para que a luz seja partilhada entre os PMTs as coordenadas determinam-se pela partilha da luz entre os fotomultiplicadores 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 26 Block detector – partilha da luz (simulação) a forma dos cortes é optimizada para que uma cintilação num dado elemento produzisse uma combinação única de sinais em 4 fotomultiplicadores a parte inferior do cristal faz papel da guia de luz (compare com câmara de Anger) 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 27 Comparação de cristais cintiladores aaa bbb NAI – NaI:Tl (sodium iodine) BGO – Bi4Ge3O12 (bismuth ortho-germanate) GSO – Gd2SiO5:Ce (gadolinium ortho-silicate) LSO – Lu2SiO5:Ce (lutetium ortho-silicate) 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel os mais usados o melhor mas patenteado pelo Siemens/CTI 28 BGO versus NaI(Tl) Compton Photoelectric absorption Pair production Mu NaI 2 Attenuation coefficient, cm /g 1.E+03 1.E+02 Photofraction ≈19% 1.E+01 1.E+00 1.E-01 A probabilidade de ambos os fotões interagirem por efeito fotoeléctrico é ≈ 0.192 ≈ 0.036 1.E-02 1.E-03 1.E-02 1.E-01 1.E+00 1.E+01 Gamma ray energy, MeV 2 Attenuation coefficient, cm /g 1 .E + 0 3 A probabilidade de ambos os fotões interagirem por efeito fotoeléctrico é ≈ 0.392 ≈ 0.15 BGO 1 .E + 0 2 C o m p to n P h o to e le c tric a b s o rp tio n P a ir p ro d u c tio n MU Photofraction ≈39% 1 .E + 0 1 1 .E + 0 0 1 .E -0 1 1 .E -0 2 1 .E -0 3 1 .E -0 2 1 .E -0 1 1 .E + 0 0 1 .E + 0 1 G a m m a ra y e n e rg y, M e V 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 29 Limitações para a resolução espacial R = R + Rβ range + R 2 det 2 Resolução do detector 2 não colineridade +R 2 paralaxe Desvio de 180º entre os fotões* Percurso do positrão no meio* Erro de paralaxe *Relacionado com a física do processo Lembra-se ν decaimento β+ 2012-2013 IIM 2013-2014 e+ e- e+ γ γ travagem do positrão no meio ionização do mesmo V. Chepel e+ formação do positrónio aniquilação 30 Limitações de natureza física 1) Percurso máximo do positrão: O positrão afasta-se a uma distância de R ~1.5 mm a 3 mm (depende da energia) da sua fonte antes de se aniquilar com um electrão do meio 2) Não colinearidade das trajectórias dos fotões: O ângulo entre os dois fotões é igual a 180º apenas se o positrão e o electrão estiverem em repouso no momento de aniquilação (ou no referencial do centro de massa). O movimento térmico desses (com a energia ~kT ≈ 0.025 eV) resulta em que o ângulo pode ser ligeiramente diferente com uma distribuição aproximadamente gaussiana 180º ± 0.25º FWHM ≈ ∆θ ×D/4 ≈ 0.0022 ×D/4 (cm) para um anel de D=100 cm de diâmetro, FWHM≈ ≈ 2.2 mm 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 31 O erro de paralaxe A resolução piora quando se afasta do centro do anel resolução Terminologia: Parallax error, Radial elongation Sem correcção do paralaxe só a parte central do anel pode ser utilizada sem que haja degradação da qualidade da imagem 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 32 Erros de paralaxe: solução A solução é medir a profundidade no cristal a que ocorreu a interacção – medir DOI (depth-of-interaction) z 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 33 DOI – algumas soluções os cristais são “vistos” de dois lados – por fotomultiplicador(es) de um lado e por fotodíodos do outro devido a atenuação da luz nos cristais, é possível estimar a profundidade pelo razão APMT/Aphd o cintilador é composto por dois cristais com os tempos de cintilação diferentes os “meios-cristais” são identificados pela forma do sinal 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 34 Detectores: características importantes boa eficiência para absorção de fotões gama de 511 keV ρ e Z elevados alta probabilidade de absorção fotoeléctrica Z elevado boa resolução espacial em 2D boa resolução em energia (para reduzir a contribuição do scatter no corpo) boa resolução em tempo (para reduzir coincidências fortuitas - randoms) resolução em profundidade (para reduzir o erro de paralaxe, crítico para 3D PET) capacidade de taxas de contagem elevadas preço 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 35 Detectores: características típicas eficiência de detecção para 511 keV ≈0.9 (BGO), ≈0.8 em coincidência (sem contar com o ângulo sólido) probabilidade de absorção fotoeléctrica: ≈0.4 (BGO), ≈0.16 em coincidência resolução espacial em 2D: ≈ 3 a 5 mm (em sistemas pequenos até ≈2 mm) resolução em energia: ≈10% resolução temporal em coincidências ≈3 a 5 ns (BGO), até 0.5 ns (LSO) resolução em profundidade ≈5 a 10 mm (em sistemas pequenos até ≈2 mm) taxa de contagem máxima ~105 s-1cm-2 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 36 Exemplos 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 37 Imagens PET: Exemplos aaa bbb 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 38 Exemplo de aplicação em neurologia FDG 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 39 PET + CT aaa bbb Siemens/CTI 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 40 Desenvolvimentos 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 41 “Micro-PET” Pequenos fotodiódos em vez de fotomultiplicadores para pequenos animais e mamografia cristais e fotosensóres discretos (um cristal um fotodíodo) resolução espacial ≥ ao tamanho de um elemento, i.e. ≈2 mm 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 43 “Micro-PET” aternativa aos fotodíodos – um fotomultiplicador sensível à posição 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 44 PEM – PET mammography breast exam detectors Clear-PEM concept (CristalCLEAR Collaboration: CERN, LIP-Lisboa e.a.) axilla exam IIM 2013-2014 V. Chepel detectors 45 Clear-PEM detector 6,144 cristais LYSO(Ce) 2x2x20 mm3 384 APDs (Avalanche Photo Diode) x 32 pixeis cada cada APD lê 32 cristais Os cristais são lidos dos dois lados DOI, parallax error reduced IIM 2013-2014 V. Chepel 46 TOF (time-of-flight) – tempo de vôo L γ1 D1 x1 = ct1 D1 t1 t2 D2 ∆t = t2-t1 t t (mede-se) 1 Resolução: σ x = cσ ∆t 2 2012-2013 IIM 2013-2014 γ2 D2 x2 = ct2 x2 − x1 = c∆t x2 + x1 = L L c∆t x = 2 2+ 2 L c∆t x1 = − 2 2 Objecto = 60 cm ∆ t = 0 a 2 ns ~1 ns 15 cm - realista ~100 ps 1.5 cm - possível ~10 ps 1.5 mm - um sonho V. Chepel 47 Linhas de coincidência sem e com TOF Linhas de resposta: aaa bbb Sem TOF Com TOF Uma fonte pontual Duas fontes 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 48 TOF PET Em princípio, a linha de coincidência e o tempo de vôo determinam unicamente a localização do ponto em que ocorreu a aniquilação, sem necessidade de recorrer à reconstrução (“true TOF PET”) Para que isso fosse viável, a resolução em tempo devia ser de ordem de ~10 ps, o que neste momento não é possível Alternativamente, a informação sobre o tempo de vôo pode ajudar diminuir substancialmente o ruído na imagem, limitando a região a que contribui uma dada coincidência (“TOF Assisted PET”) Com o TOF, o “ganho” é tanto maior quanto maior for o objecto. Em geral, a qualidade da imagem piora com o tamanho do paciente por causa da dispersão. 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 49 Sinograma Backprojection LOR d 2520 Outros objectos pontuais 15 10 5 d, cm y 0 -5 -10 -15 θ -20 d x -25 0 20 40 60 80 100 theta θ 120 140 160 180 Temos bitmap-sinograma (d, θ ), precisamos bitmap-imagem (x, y) Projection (LORs): um par de (d, θ ) corresponde a um conjunto de (x, y) Backprojection: percorremos todo o espaço de (d, θ ) e adicionamos +1 a todas as células da bitmap (x, y) correspondentes a um dado par (d, θ ) 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 51 Sinograma Backprojection phantom Imagem reconstruida sinograma 2012-2013 IIM 2013-2014 V. Chepel 52 FIM IIM 2012-2013