OREVISTA N.º 17 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEmBRO 2013

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OREVISTA N.º 17 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEmBRO 2013
O DESEMBAR UE
REVISTA N.º 17 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · novembro 2013
índice
ficha técnica
Editorial
Em jeito de balanço antecipado
3
Cartas ao Director
Carta e Poemas de Júlio Vaz Gomes
4
Dia do Fuzileiro
O Dia do Fuzileiro – 6 de Julho de 2013
5
Contos & Narrativas
Operação “Crocodilo” foi há 15 Anos
11
Estórias por Contar da então Província Ultramarina da Guiné… A Retirada
14
Eventos
Associação dos Veteranos e Combatentes do Oeste (AVECO)
8.º Aniversário do seu Monumento
Combatentes da Guerra do Ultramar
Homenagem da Delegação da AVECO de Santa Catarina – Caldas da Rainha
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16
Crónicas
Crónicas de Outros Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa
Tumaná, DFE N.º 12 – Guiné 1971 – Dormindo com o Inimigo
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Opinião
Saudades do Mar
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Corpo de Fuzileiros
Fuzileiros retomam treino com os Ingleses
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Homenagem ao Almirante Roboredo e Silva
26
Homenagens
Frederico José de Almeida Bóia – “Bébé”
José Armando Pacheco Ribeiro
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27
Convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 10 – Moçambique 1974/75
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4 – Guiné 1973/74
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 2 – Angola 1965/1967
34.º Aniversário da UDM – A Tradição… cumpre-se
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1970/71
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32
34
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Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas
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Delegação do Algarve
Delegação de Juromenha/Elvas
Delegação de Vila Nova de Gaia
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Cadetes do Mar
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros
Participação na Inauguração do Navio da Marinha Mercante “Funchal”
Cadete Ricardo – Despedida da UCMF
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Notícias
1.º CFORN FZ 1992
Comandante Almeida Viegas – Homenagem de um Grupo de Amigos
A nossa “Casa” com mais conforto e mais qualidade
Presidente da Direcção da AFZ, Lhano Preto... surpreendido no dia do seu aniversário
Presidente da Câmara Municipal do Barreiro na AFZ
Obituário
Diversos
Director
Lhano Preto
Directores Adjuntos
Cardoso Moniz e Marques Pinto
Editor Principal
Marques Pinto
Colaborações
Delegações da AFZ,
LP, MP, CM, Ribeiro Ramos,
Miranda Neto, CMP, CCFZ, EFZ, BFZ,
Paulo Gomes da Silva e José Horta
Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro
Gonçalves, Mário Manso e Lema Santos
Fotografia de Capa: Lema Santos
Delegações
Edição e Redacção
Direcção da Associação de Fuzileiros
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Divisões
Propriedade
Associação de Fuzileiros
Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.
2830-356 Barreiro
Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461
email: [email protected]
www.associacaofuzileiros.pt
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Cultura & Memória
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 3 – Guiné 1969/71
A Última Viagem da F481 – Fragata “Comandante Hermenegildo Capelo”
A Solidariedade nas Matas, no Sofrimento e na Amizade
Guiné 1970/71 - Breve Nota sobre o DFE N.º 12 O DFE 12 esteve lá, em Cumbamory – Operações «Catanada» e «Cocha» Publicação Periódica da
Associação de Fuzileiros
Revista n.º 17 • Novembro 2013
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Coordenação gráfica
e paginação electrónica
Manuel Lema Santos
[email protected]
Impressão e acabamento
GMT – A. Gráficos, Lda.
Rua Sebastião e SIlva, n.º 79, Piso O
Massamá – 2745-838 Queluz
Tel.: 214 382 960
Email: [email protected]
Tiragem
2.000 exemplares
50
50
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Exceptuando-se os artigos assinalados e da
responsabilidade dos respectivos autores,
a redacção desta revista não está adaptada
às regras de novo acordo ortográfico
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
editorial
Em jeito de balanço antecipado
Francisco Lhano Preto
E
star numa direcção de uma associação sem fins lucrativos é sem dúvida um acto de altruísmo e de dádiva. Lembro-me das palavras do Comandante Mateus que muitas vezes afirmava: “é mais difícil dirigir a Associação de Fuzileiros do que comandar uma
grande unidade de fuzileiros ou o Corpo de Fuzileiros”. Eu afirmarei que é preciso mais calma e paciência, até porque muitos
sócios ultrapassaram com êxito os sessenta, os setenta e até os oitenta e estes são mais sabedores, mais experientes e, por vezes,
mais exigentes. “Até porque no tempo deles era tudo diferente”, palavras que certamente também profiro, uma vez que já me incluo
no primeiro grupo.
Também são os “cocuanas” (os mais velhos) quem mais precisa e a quem devemos apoiar, pois foram eles que ajudaram a construir
o actual Corpo de Fuzileiros e a nossa Associação e hoje são, por vezes, alguns deles, um pouco esquecidos. Eu tive o privilégio de ter
estado em alguns encontros com alguns deles e afirmo-vos que, no final, regressamos sempre mais fortes e com a sensação do dever
cumprido. A Associação tem estado com muitos e tem o dever de estar com todos.
Comecei por este pequeno intróito apenas para afirmar que a nossa Associação é bem mais do que o que muitos pensam e, só para
que não restem dúvidas, começo por vos falar das três Divisões já implementadas nos últimos anos, pouco conhecidas, mas que são
de uma mais-valia incalculável. Começo pela Divisão dos Associados, incógnita para muitos, mas que se tornou fundamental para que
haja estreita ligação e vitalidade efectiva entre os sócios e a Associação. Esta é, por vezes, a única forma de sabermos, o que se passa
com os nossos.
Também a Divisão Cultural e de Memória, porventura também menos conhecida, é a estrutura que incentiva e apoia a realização de
eventos de registo histórico e culturais de que é exemplo recentemente o lançamento do DVD “Fuzileiros - Quatro Séculos de História”
a que se seguiu um espectáculo de grande nível que se intitulou “Poesia Cantada-Trilogia Poética”. O descerramento do alto-relevo “O
Fuzileiro”, com a presença do Almirante CEMA foi acontecimento assinalável.
Por último, cito a Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas, talvez a mais conhecida, destacando-se todas as provas
desportivas realizadas, que sempre exigem grande capacidade de organização e de trabalho, todas aliás plasmadas na nossa revista
“O Desembarque”.
Não se pretende fazer aqui o balanço do que foi realizado já que isso será feito minuciosamente depois do fim do mandato quando também da apresentação das contas na Assembleia-Geral. O objectivo foi dar apenas umas pinceladas daquilo que a muitos lhes “passa
ao lado”. Neste jeito de balanço quero aludir que foi durante este mandato que as nossas Delegações se projectaram dentro das suas
áreas de influência, graças ao esforço e dinamismo das suas direcções.
Também sinto que é obrigação relembrar a sucessiva melhoria da nossa revista “O Desembarque” que tem projectado de forma
exponencial o nome dos Fuzileiros e da nossa Associação. Provavelmente, a maior parte dos nossos sócios, não se apercebe bem do
trabalho que está por detrás de “O Desembarque”. Pela ressonância que me vem chegando penso, porém, que a revista é o meio de
comunicação de maior interesse para os sócios. Será para muitos, ainda, a única forma de saberem uns dos outros e de conhecerem e
partilharem da intensa actividade da Associação Nacional, das Delegações e do Corpo de Fuzileiros. “O Desembarque” tem tido maior
número de páginas e muito maior qualidade e vai, certamente, estabilizar. Neste caso, asseguro-vos, que apesar do que já foi feito,
ainda há pouco discutimos o que devemos fazer para a melhorar.
Não poderia esquecer a unidade dos Cadetes do Mar Fuzileiros. Para além do vem descrito na nossa revista, sobre as suas actividades
e a projecção que já tiveram, parece-me poder garantir-se que esta iniciativa se projectará em muitos jovens e pelas Escolas e por
Portugal e, porque não afirmar, por onde os nossos Cadetes do Mar passarem.
Estivemos no “10 de Junho” em Lisboa e em Elvas, como estivemos em muitas outras cerimónias impossíveis de enumerar. Nestas,
não poderei deixar de mencionar o último “Jantar das Boinas” e a cerimónia da sua imposição, realizada no dia 28 do Outubro na nossa
Escola de Fuzileiros. Este acto foi certamente de grande significado para todos os nossos associados, já que os cinco cadetes e os vinte
e quatro grumetes que receberam a boina azul ferrete representam a nossa continuidade, cabendo ainda felicitar os seis cabos e os
sete marinheiros que concluíram o Curso de Formação de Sargentos com êxito.
A Associação projectou-se, é hoje mais forte mais unida e mais coesa, a despeito de algum exemplo menor, fruto do trabalho de muitos
e do seu particular empenho.
Iniciámos já contactos com outras Associações similares como é o caso da Grécia e de Espanha para podermos interagir aprendendo
e transmitindo, também, conhecimento.
No que respeita a obras realizadas, penso que foram amplamente divulgadas quer no nosso site quer na nossa revista e apenas relembro a reconstrução da nossa sede e as obras no snack-bar.
A Associação é de todos nós e será aquilo que queiramos que seja, pelo que esperamos que a nova Direcção possa contar com o empenho e com o idealismo de muitos mais.
“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”
Lhano Preto
Presidente da Direcção
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cartas ao director
Nota da Redacção (Marques Pinto):
Era nossa obrigação termos respondido, de forma personalizada, a esta carta do nosso Camarada Júlio Vaz Gomes. As férias de uns e de outros e os seus outros afazeres – destes
voluntários que se propuseram levar “O Desembarque” a todos os nossos sócios – impediu-nos de cumprir esta obrigação. Estamos agora a fazê-lo e publicamente. De facto, não é tarefa
fácil “construir” esta revista com a qualidade que pensamos ter.
Gostaríamos de aproveitar a experiência do nosso Camarada Vaz Gomes e ficaríamos gratos se, como “sobrevivente que ainda gosta de escrever cartas à mão” nos ajudasse nesta
“ciclópica” tarefa, remetendo-nos os seus artigos e os seus poemas, mesmo escritos à mão, tornando-se colaborador permanente de “O Desembarque” e figurando como tal na nossa
“Ficha Técnica”, já que a sua experiência de vida, quiçá, a sua sabedoria, terão muitas estórias de vida que poderão contribuir para fazer a História.
Publicamos a sua carta, em texto por nós formatado, e a respectiva digitalização do original .
Caldas da Rainha,18/6/2013
Júlio Vaz Gomes
Rua Fonte do Pinheiro, 79 – 2.º
2500-203 Caldas da Rainha
Director de “O Desembarque”
Associação de Fuzileiros – Barreiro
Exm.º Senhor:
Sou um dos poucos sobreviventes que ainda gosta de escrever
cartas à mão, como nos bons velhos tempos das Comissões no
Ultramar.
Quero agradecer a publicação dos meus versos na revista n.º 12
e tomo a liberdade de lhe enviar mais dois.
Por voltas de 1979 fui colaborador assíduo num Boletim de uma
Associação na África do Sul e aprendi imenso com essa experiên­
cia, desde logo o trabalho envolvido na sua feitura e, depois, a
distribuição aos sócios, tarefas ciclópicas. A partir daí passei
a respeitar mais todos quantos se dedicam à árdua missão de
“construir” uma publicação literária.
Nos diversos convívios dos Fuzileiros é frequente falar-se da nossa revista, “O Desembarque”, farol que ilumina o nosso passado
comum e nos elucida sobre o presente, fomentando a amizade e a
camaradagem. E todos sem exceção exaltam os seus predicados.
Queira aceitar os meus cumprimentos.
(Ass.) Júlio Vaz Gomes
Preitos e homenagens não os queremos,
deixem-nos apenas recordar o passado,
navegar na mansidão dos dias difícies,
neste torrão de terra esboroado.
Partidos em dois, em cem, em mil,
eis-me aqui parcialmente disperso,
na Europa e em África ao mesmo tempo.
Por esse mundo além me vejo,
por vezes nem sei onde estou,
se parti, se fiquei, se vou.
Forjada nos melhores e piores momentos,
a camaradagem doce, tenaz amizade,
fomentada por convívios e abraços,
aumenta com o tempo, com a idade.
Corto as amarras do frio e parto
à procura de paragens austrais;
calor, eu quero mais, quero mais!...
Oiço o leão que se evadiu de mim
na savana perigoso, densa,
caça suspiros no capim,
imponente, real, devorador.
Bafo de saudade, sangue, suor vertido,
povoámos a terra quente com suspiros;
lá, ganhámos as primeiras rugas,
disparámos os primeiros tiros.
Os nossos irmãos caídos, esses sim,
jamais poderão ser esquecidos...
Para nós bastou-nos a sorte do regresso,
jovens, em avós agora convertidos.
10/06/2013
4
Dispersão
Rija Gente
Filhos dilectos da mesma Pátria-mãe,
fomos por nossa livre vontade
e outra vez partiríamos, contentes,
se para tanto houvesse necessidade.
À noite, quando me deito,
ainda adormeço com o som distante
do batuque ronronante:
tum-ta-tum... tum-ta-tum,
lascivo, arrebatador.
E o calor tropical entra no meu ego disperso,
partido em dois, em cem, em mil
e dilata o topo dos meus sonhos,
feitos de areias brancas,
azuis, quando a maré sobe.
2/06/1997
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dia do fuzileiro
O Dia do Fuzileiro
6 de Julho de 2013
D
ebaixo de uma temperatura tórrida de cerca de 42 graus
centígrados comemorámos mais um dia do Fuzileiro, este,
o de 2013.
Mais um ano se passou sobre o desfolhar dos dias das nossas
vidas no decurso do qual alguns, infelizmente, se ficaram pelo
caminho e por estes me inclino, prestando-lhes as minhas homenagens.
Um dia destes, lá nos encontraremos juntos, sempre juntos, protegendo-nos mutuamente como os fuzileiros sabem fazer, onde
a Providência quiser.
Numa organização que eu preferiria verdadeiramente conjunta,
do Corpo de Fuzileiros e da Associação Nacional de Fuzileiros,
desenhou-se o programa que havia sido estabelecido, muito
mais pelas instâncias castrenses do que por nós, a Instituição
civilista.
A partir das 8h30 desenvolveu-se a concentração na Escola de
Fuzileiros.
Os participantes foram chegando nos seus automóveis ou de autocarro, provenientes de todo o País, do Norte ao Algarve e das
raias de Espanha ao Mar.
A recebê-los elementos do Corpo e da Escola de Fuzileiros e outros, da Associação Nacional de Fuzileiros, com especial destaque para um dos seus directores, o Couto e para o presidente do
Conselho Fiscal, o Lopes Leal, para além de outros de inegável
mérito.
Como já noutra altura escrevi “a “Família” juntou-se na “Escola
Mãe” para um dia de confraternização, camaradagem e espírito
de união, onde ficaram plasmadas, também, muita nostalgia de
tempos que já vão e essa inexorável inevitabilidade tão nossa,
que só é possível exprimir-se pela palavra saudade, esse misto
de tristeza, alegria e conforto pelo que já se viveu, pelo se aprendeu e pelo que se ensinou”.
Como sempre, tudo decorreu com irrepreensível disciplina e respeito, princípios que os Fuzileiros apreenderam e compreenderam na sua Escola, pese embora o calor abrasador que se fez
sentir e o tempo de espera – com Senhoras, Crianças e Idosos,
alguns sentindo-se muito incomodados, e ansiosos de se instalarem no recinto ensombrado, este ano muitíssimo melhorado,
mérito para a EFZ – no qual não tiveram autorização de entrar
(a ronda não deixava!) minimizando os efeitos dos 42 graus, à
sombra. Esta gente teve de esperar pelas personalidades que
assistiam ao lançamento de um livro na Sala Museu do Fuzileiro
onde, como se sabe, não cabem mais de 40 pessoas quando cá
fora, ao sol, esperavam cerca de seis centenas.
Embora pessoalmente tivesse procurado solução para o problema, não logrei a possibilidade de tomar qualquer decisão face à
hierarquia militar que, no local, carecia de capacidade de decisão. Os competentes decisores estariam concentrados na Sala
Museu, no lançamento de um livro.
Já tive oportunidade de expressar a minha opinião quanto às
organizações conjuntas e, designadamente, no que concerne à
organização conjunta do Dia do Fuzileiro, registada em acta da
Direcção Nacional.
Como se sabe, antes de 2009, o dia em que os fuzileiros se
juntavam, na sua Escola, em almoço de confraternização,
era designado por “Encontro dos Fuzileiros” sendo quase
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dia do fuzileiro
parte, com “patamares” equiparados ao nível dos comandos das
organizações conjuntas.
Mas pesado e passado que foi “o pesadelo dos 42 graus centígrados”, tudo não correu o melhor possível mas, apesar de tudo,
terá corrido muito bem.
Como já anteriormente afirmei, tudo decorreu “com irrepreensível disciplina, cortesia e respeito, embora com total à-vontade
entre todos – mais graduados e menos graduados, mais importantes e menos importantes, Senhoras e Homens – e maior democraticidade, onde as diferenças se esbateram quase completamente e a igualdade do que no fundo somos emergiu e teve o
condão de nos aproximar mais ainda.
exclusivamente organizado pela Associação, com a colaboração,
sempre indispensável, da Escola de Fuzileiros.
Nos últimos anos utilizou-se um modelo do “Dia do Fuzileiro”
que, em minha opinião, se vai esgotando com a assunção crescente do Corpo de Fuzileiros (leia-se EFZ) na organização do
evento.
A AFZ só aparentemente partilha a organização restando-lhe,
quase exclusivamente, o trabalho e a responsabilidade das
inscrições e das vendas de bilhetes – sem que tenha qualquer
benefício monetário ou outro, embora se vá propalando que
usufrui de significativos lucros – sendo que, na prática, tudo é
comandado e decidido pela Escola de Fuzileiros, não havendo,
de facto, um “comando de organização comum”. E porque,
nos fuzileiros, “ninguém deve ficar para trás” para que exista
organização conjunta, é necessário que haja comando
conjunto. Todos teremos aprendido isto, nas teorias da
organização, nos manuais da psicossociologia das organizações,
nas instituições militares e, por fim, na própria vida.
E não é isto que vem acontecendo na “organização conjunta”
do Dia do Fuzileiro. Porventura, porque estamos em patamares
diferentes…
Assim sendo, quando alguma coisa corre mal, v.g., a torreira e as
filas a que as pessoas estiveram sujeitas, as críticas dos nossos
Sócios – e já são mais de 2.300 – despejam-se sobre a sua
Direcção, de tal ordem que este ano esta sentiu a necessidade
de publicar um esclarecimento. Para se constatar como isto foi
sentido por alguns, sócios e convidados, peço vénia – e para
isso estou autorizado – para citar um desabafo de um amigo e
camarada nosso, a respeito da fotografia de capa da próxima
edição da revista “O Desembarque”. Escrevia-me ele assim:
Os Fuzileiros são isto mesmo. E quando alguns de nós se enganam no caminho – pode sempre acontecer – um dia, quando
disso nos dermos nota, devemos tomar rumo mais certo. Isto faz
parte do ADN da grande maioria de nós e mais ainda daqueles
que, na guerra ou em perigosas missões de paz, já ouviram tiros
de verdade.
O programa das solenidades cumpriu-se.
Para além da pista de lodo que tem sempre a vantagem de
mostrar aos mais jovens que os mais antigos ainda se lembram
dos lamaçais do Rio Coina, porque aprenderam a tratá-los por tu
– e após a Missa, marcou a cerimónia militar e de homenagem,
com guarda de honra, estandartes e fanfarra e deposição de
coroa de flores no Monumento, pelo Comandante do Corpo de
Fuzileiros e pelo Presidente da Direcção da Associação Nacional
de Fuzileiros.
Também aqui, nesta cerimónia, a nossa Associação Nacional e
os seus Veteranos – sempre irrepreensivelmente “comandados”
pelo membro do nosso Conselho de Veteranos, SARG José Talhadas – marcou presença dando cor e dignidade, como o SMOR
José Parreira e os Presidentes das nossas Delegações, ostentando o guião da Associação Nacional e os das Delegações.
Marcaram discurso o Presidente da Direcção da AFZ e o Contra-Almirante Comandante do CFZ, cujas palavras, em representação das duas instituições, se dão à estampa.
A visita à Sala Museu do Fuzileiro, o lançamento do livro
“Fuzileiros Especiais Prontos para o Combate – o DFE 2 – Angola
– 1973/75”, do ex-2Ten. Vasconcelos Raposo; a homenagem
póstuma ao SAJ FZE João Sardinha, com descerramento de placa
toponímica e outra homenagem (que nos calou muito fundo) ao
SMOR Ludgero Santos Silva, o “Piçarra”, membro do nosso
Conselho de Veteranos e um dos quatro elementos (apenas dois
ainda vivos) que foram ao Reino Unido, em 1960, tirar o Curso
dos Royal Marines e de lá trouxeram a boina verde – tudo isto se
A foto “foi capturada no Dia do Fuzileiro com sérias dificuldades
porque, para o conseguir, tive de invadir o arruamento do desfile
e o sargento que estava de serviço disse-me que não podia estar
ali e tinha de recuar para cima do passeio. Naturalmente que
obedeci, até porque ele próprio estava a cumprir ordens e não
tinha condições nem informação adequada para distinguir quem
estava como simples participante ou em missão de colaboração.
Utilizar o étimo trabalhar parece-me excessivo.
Tirei apenas 4 fotos e fui arrumar a máquina no carro de onde
não mais a tirei”.
As hierarquias demasiadamente rígidas – e sabemos da delicadeza de “controlar” seiscentas pessoas em dia de festa (no caso
em apreço seriam mais os controladores do que os controlados)
e, para mais, dentro de uma Instituição Militar ou numa Prisão
– têm estes inconvenientes que só se resolvem, e apenas em
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dia do fuzileiro
cumpriu com paciência, quiçá, com alguma impaciência, porque
o calor era muito e o almoço chegou tarde.
Cumpre-me referenciar o trabalho da equipa coordenada
pelo Secretário-Geral, da AFZ SARG Mário Quintas Gonçalves,
“secretariado” pela já conhecida Ana, cada vez melhor secretária,
e coadjuvado pelo membro da direcção José Pinto e todos
quantos, ligados mais directamente à Associação de Fuzileiros,
designadamente, os “fotógrafos”, todos amadores, deram e se
deram a esta causa, o melhor que puderam e souberam, sem
qualquer poder de decisão.
Mas, também temos de destacar aqui, o esforço dos Comandos
do Corpo e da Escola de Fuzileiros mas, sobretudo, do pessoal
que deu execução ao evento, Oficiais, Sargentos e Praças, sem
esquecer o indispensável pessoal da taifa que bem serviu.
No final, cortou-se o Bolo que representa mais um ano de Camaradagem e Amizade e tocaram-se os copos em sinal do desejo
de saúde e de vida para todos os Fuzileiros, para os que já serviram e para os que ainda servem ou hão-de servir Portugal.
Marques Pinto
Sóc. Orig. n.º 221
Nota do autor:
As opiniões aqui expressas, embora já o tenham sido em reunião da Direcção Nacional e estejam registadas em acta, apenas vinculam o autor e não a AFZ, até porque este órgão executivo
está em fim de mandato e, portanto, caberá a quem nos suceder decidir pela continuação
do modelo do “Dia do Fuzileiro”, modificá-lo, ou negociar modelo equivalente ao actual com
outra metodologia de execução e, porventura, um efectivo “comando conjunto”.
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dia do fuzileiro
Discurso do Presidente da Direcção
da Associação Nacional de Fuzileiros
Lhano Preto
Exm.º Senhor, Almirante Comandante do Corpo de Fuzileiros;
É sempre com imenso orgulho que a Associação de Fuzileiros se junta ao Corpo de Fuzileiros para podermos reunir nesta nossa Escola, toda a família Fuzileira.
Mui Ilustres almirantes (querendo aqui realçar, a presença do Almirante Vieira Matias,
mandatário dos actuais Corpos Sociais da Associação de Fuzileiros); Ilustres Camaradas;
Sócios da Associação de Fuzileiros;
Minhas senhoras e Meus Senhores
Agradeço desde já a presença de todos, pois todos damos lustre e dignidade a este fabuloso encontro de Fuzileiros, espalhados por
Portugal e pelo Mundo.
Sendo hoje um dia festivo, de encontro, de amizade, seria lógico falar da História dos 392 anos de existência dos Fuzileiros, como
sempre se costuma fazer nestas ocasiões; relembrar os nossos mortos, e quem não se lembra dos que estiveram connosco em
combate e deram a vida pela pátria? Eu ainda hoje relembro muitas vezes o Salgueiro, Marinheiro completo, amigo do seu amigo,
Homem de carácter. Mas há imensos potenciais Salgueiros neste Corpo de Fuzileiros, e é por essa razão, que hoje prefiro falar do
presente, de nós, das missões actuais e do passado recente.
Em primeiro lugar, quero manifestar-vos, que foi com enorme júbilo e muita emoção que soube da possível presença nesta Escola do
nosso Presidente do Conselho de Veteranos, Comandante Alpoim Calvão. Não foi possível atendendo à elevada temperatura que se faz
sentir, pelo que lhe desejamos vivamente que a sua recuperação total seja um êxito e breve. Sendo o nosso Grande Cocuana, é também
para nós um símbolo, de coragem, lealdade e espírito de sacrifício, qualidades tão ensinadas nesta “Escola de Valores”. Não sou eu
que nas poucas palavras que vou proferir, quero ilustrar quem foi este herói dos nossos dias, pois a descrevê-lo está o livro “HONRA E
DEVER” – “Uma quase biografia”, obra de Rui Hortelão e dos nossos camaradas Sanches Baena e Melo e Sousa.
Mas hoje, não deveremos esquecer os que connosco vivem o dia-a-dia. E aqui quero dizer, os nossos sócios, muitos também cocuanas,
todos eles foram grandes combatentes e se alguns nunca entraram em acção foi porque, tal, não lhes foi exigido. Contudo eles sempre
dizem como qualquer Fuzileiro de hoje e do passado a palavra “presente”. A todos os Fuzileiros que neste momento se encontram
doentes quero deixar um desejo de franca recuperação, não esquecendo aqui o nosso Vice-Presidente Cardoso Moniz que hoje está a
realizar uma operação.
Também queremos referir que acompanhámos sempre e continuaremos a seguir, com muito orgulho, carinho e dedicação as acções
dos nossos Fuzileiros, quer elas sejam na Bósnia, no Congo, no Afeganistão, em Timor, em Moçambique, em Angola, na Guiné, em Cabo
Verde, no combate à pirataria, no corno de África ou em Portugal.
Para nós, que nos revemos em cada fuzileiro de hoje estas missões mencionadas, não são mais importantes umas que outras, já que
qualquer missão para um Fuzileiro é sempre para cumprir, na íntegra e com dignidade. Não há missões mais importantes ou mais
nobres que outras, há missões para cumprir. Um desfile ou até uma guarda é tão importante como uma missão de combate, pois
esta não é mais que uma acção defensiva. Orgulhamo-nos de vós sobretudo quando, e é quase sempre, se apresentam com garbo e
dignidade. Os cocuanas revêem-se nestes.
Quero manifestar-vos, que cada dia que passa temos o conceito de associativismo cada vez mais inculcado na Associação de Fuzileiros,
crendo que somos cada vez mais coesos e unidos (havendo excepções só para confirmarem a regra) e, por conseguinte, mais capazes
de apoiar e melhor, os que passaram pelas cadeiras desta Escola e que hoje precisem de nós, muitas vezes apenas de um abraço ou
de uma palavra amiga.
Às nossas Delegações que tão bem nos representam nas suas áreas, também lhe quero manifestar que é com o seu bem-fazer e a sua
boa representação geográfica que dignificam o nome dos Fuzileiros. A todas as equipas dirigidas pelo Licínio, pelo Medeiros ou pelo
Mendes transmito os nossos incentivos e o nosso muito obrigado.
Por último, não posso deixar de agradecer o esforço de todos quantos estiveram empenhados para que este acontecimento tivesse
lugar, com especial destaque ao Comandante do Corpo de Fuzileiros, ao comando da Escola de Fuzileiros e à equipa da Associação que
se têm empenhado e desdobrado para que tudo corra pelo melhor.
Com um abraço para todos os presentes e para os muitos que gostariam de estar connosco, e que, por uma ou outra circunstância, a
inexorável inevitabilidade da vida não lho consentiu… grito:
Vivam os Fuzileiros
Viva Portugal
Disse.
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dia do fuzileiro
Discurso do Comandante do
Corpo de Fuzileiros,
CALM Cortes Picciochi
Fuzileiros!
Bem-vindos à vossa Escola. Bem-vindos a mais um Dia do Fuzileiro.
Fuzileiros, familiares, amigos, neste encontro anual que se quer de convívio e de sã
camaradagem. O Corpo de Fuzileiros e a Associação de Fuzileiros unem esforços e procuram trazer o maior número de homens que nesta escola ganharam a sua boina a
passearem-se sob a sombra das mesmas copas que, tal como hoje, noutros tempos lhes
deram abrigo. Há um ano, com alguma chuva, neste ano, com uma temperatura mais adequada à época do ano, mas sempre aqui, na
Escola de Fuzileiros.
Em 2009 enterrámos a semente, em 2010 regámos, em 2011 cresceram as raízes e em 2012 vimos brotar da terra as primeiras
ramagens.
Com o tronco a ganhar força e as primeiras flores a desabrochar, sentimos que aquela semente cumpriu a sua missão, resistiu ao calor
e à geada, suportou o vento agreste e o dilúvio. Daqui para a frente, apenas precisa de rega, de poda e da apanha da fruta. Em troca,
teremos sombra, alimento e abrigo. Cinco anos a mostrar do que somos capazes.
O Dia do Fuzileiro será aquilo que os fuzileiros quiserem, para o que manteremos a porta aberta à crítica e à sugestão, sem medo de
corrigir num ano e voltar a corrigir no outro. No final de cada evento guardamos a análise pormenorizada, e passados 9 meses ela será
o ponto de partida para o que se segue.
Certo que a festa será sempre neste local, e o desiderato a confraternização “inter-geracional”. Daqui não abdicamos. Ninguém pensaria em comemorar o Dia do Fuzileiro fora da Escola e aquilo que levou à sua criação mantém-se inabalável.
Teremos, nos últimos 3 anos, conseguido fixar a data no primeiro sábado do mês de julho e, desta forma, facilitar o planeamento a
longo prazo de cada um. Melhorámos a divulgação e as atividades que preenchem o dia, a par daquelas que nunca poderão faltar: a cerimónia religiosa e a homenagem junto ao Monumento. No início, tivemos uma formatura com todas as unidades presentes e um bloco
motorizado, com demonstração de capacidades que incluía um helicóptero, algo fora do alcance nos nossos dias. Mas não baixámos os
braços perante as dificuldades e o que aqui encontrais hoje é o resultado do nosso esforço e a manifestação da vontade de continuar.
Depois de amanhã, em Cabul, o punhado de fuzileiros ali em missão irá comemorar este dia, juntando-se a todos, ainda que em
diferido. E ao largo da Somália, nos Açores, nas águas do Continente, na cooperação técnico-militar, em cargos no estrangeiro dos
Estados Unidos a Timor e nos postos onde, neste preciso momento, prestam o seu serviço garantindo que outros como nós possamos
descansar, há fuzileiros com quem compartilhamos este espírito corporativo.
Ter um tema – As novas Missões – não é mais do que encontrar um mote que nos ajuda a inovar cada ano, um estímulo no sentido de
adicionar algum atrativo complementar ao convívio.
Não foi fácil chegar à designação deste tema, sabíamos o que queríamos, mas a sua definição não foi pacífica. E foi necessário impor a
lei do mais forte, determinar e mandar publicar. Se houve o ano dos veteranos, desta vez quisemos dar o palco aos mais novos, deixá-los mostrar aos menos novos que se hoje as missões têm configurações bem distintas, são os mesmos aqueles que as cumprem.
Fuzileiros!
Hoje, como dantes, a ameaça é imprevisível. Deixámos de ver o inimigo, que se vai atualizando em táticas e procedimentos e que
dispõe de igual tecnologia e equipamentos. Enfrentamos um inimigo movido por crenças e princípios que não aceitamos como bons,
mas a quem reconhecemos uma determinação inquestionável, capaz dos atos mais atrozes sem olhar a meios. Contrapomos com o
que terá de ser uma inquebrantável fé na defesa daquilo que temos por mais justo à condição humana.
Ficou nos filmes de capa e espada a fidalguia da cavalaria, a guerra das trincheiras acabou há 100 anos e a formalidade da declaração
de guerra perdeu sentido com a assimetria dos conflitos. A imprevisibilidade dos mesmos e a facilidade de acesso aos mais sofisticados
sistemas de armas e de comunicações impõem a existência de forças altamente preparadas, flexíveis, prontas, equipadas, moralizadas
e em constante processo de atualização.
Foi nesta esteira que os fuzileiros evoluíram ao longo dos tempos, de quase 4 séculos, como nos orgulhamos de proclamar. O último
marco histórico foi o fim da guerra de África, e é daí para cá que hoje queremos falar.
Sócio da AFZ
Participa, colabora e mantém as tuas quotas em dia.
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Bósnia, Timor, Zaire, Afeganistão, Somália
– onde e sempre que necessário. É deste
período de 40 anos que hoje pretendemos
dar conta. Criámos os primeiros fuzileiros
da Guiné (1991), Angola (1993), Moçambique (1994), Cabo Verde (1995) e Timor
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dia do fuzileiro
(2010), continuamos intrinsecamente ligados à História daqueles países que falam na nossa língua. Os fuzileiros sentem que têm
motivos de sobra para serem olhados com respeito e orgulho.
Historicamente, os fuzileiros continuam a responder em operações anfíbias, proteção de força e operações especiais, mas nas tais
“novas missões” adotaram-se novas designações, falamos de algo mais do que golpes de mão, emboscadas e patrulhas. Hoje temos
missões de evacuação de não combatentes, e lá foram fuzileiros ao Congo (1997) e à Guiné-Bissau (1998). Missões de apoio à paz,
e estiveram fuzileiros na Bósnia (2000), em Timor-Leste (2000 a 2004) e no Congo (2006). Fuzileiros embarcados em missões de
combate à imigração ilegal nas operações Hera ao largo do Senegal (2006 e 2007) e no combate à pirataria nas operações Atalanta
e Ocean Shield nos mares da Somália (2009 a 2013). Estamos, desde 2008, no Afeganistão. Em missões no âmbito da cooperação
com agências de segurança colaborámos na apreensão, no total, de 30 toneladas de estupefacientes (14 operações, desde 2006).
Mantemos missões na cooperação técnico-militar nos países que falam português e cooperamos com a proteção civil.
E continuamos, ainda que com outras designações, a ser chamados a contribuir com os nossos meios, humanos e materiais, fruto das
capacidades que nos são reconhecidas, para acudir em missões de assistência humanitária, como na assistência às cheias do rio Save,
em Moçambique (2000) ou ao aluvião da Madeira (2010).
Sob a capa da NATO, da ONU ou da EU, mas sempre, sempre, com a Bandeira de Portugal no ombro do camuflado e o símbolo de
fuzileiro no peito. Com uma amplitude térmica entre os 20 graus negativos e os 40 positivos, debaixo de neve ou de uma tempestade
de areia, atolados na lama ou debaixo do bote virado na rebentação, projetados em imersão no silêncio insidioso do submarino ou caído
dos céus numa abordagem rápida a um navio suspeito, os fuzileiros mantêm-se na linha da frente como corpo de tropas especiais, e
se internamente somos comedidos no seu reconhecimento, sobram elogios lá de fora de quem tem o privilégio de comandar homens
destes.
Estes são os fuzileiros que queremos dar a conhecer a quem se afastou há mais tempo do serviço ativo. Para tanto organizámos uma
exposição alusiva ao mais recente período de 40 anos e temos por aqui espalhados quem poderá contar as suas epopeias nestas
missões. Posso garantir-vos que há conversa até ao fim do dia.
Hoje, vamos vivendo tempos menos bons, um momento onde se impõe prudência, ponderação e espírito de entreajuda. Nunca houve
problemas em singrar por novos rumos, desde que se conheça o porto de chegada. A pressão é grande e o tempo urge. Estamos
preparados, prontos para arregaçar as mangas, mas conscientes de que os valores por que nos regemos são intocáveis.
A Marinha atravessa um período de apertadíssimos constrangimentos com metas e prazos sem margem de manobra e vai afirmando
que se esgota no seu produto operacional, com significativa diminuição no investimento na manutenção e no treino, com as nefastas
consequências que daí se conhecem.
Quando se vai propalando que os recursos humanos são o nosso bem mais precioso, deixámos para trás 2 anos sem incorporações,
sem capacidade de regenerar. Atualmente, decorrem dois cursos de fuzileiros, um com 30 outro com 60 jovens. Números irrisórios
perante aqueles que nos vão deixando, mas que consideramos uma lufada de ar fresco após o deserto. Também na área do material
vamos vivendo à custa do que temos, procurando ao máximo a sua rentabilização.
Mas acreditamos que conseguiremos salvaguardar a nossa identidade e que deixaremos um legado de esperança para a geração que
se segue.
O Corpo de Fuzileiros e a Associação de Fuzileiros continuarão, a par, nesta missão de unir, apoiar cada fuzileiro. E os tempos clamam
por sinergias, para as quais nada mais se requere do que vontade. Com um interesse comum, com querer e determinação, temos
conseguido, permitam-me, com sucesso, cumprir este desiderato. Um punhado de homens em Gaia, na Juromenha e em Albufeira
desdobram-se em actividades junto das populações locais mostrando o espírito de união e de solidariedade dos fuzileiros, das quais
posso, pessoalmente, dar conta.
Aqui e ali, cada um com o que pode, vamos conseguindo afirmar a nossa identidade. Aquando das comemorações do Dia do Corpo de
Fuzileiros, numa maratona de 24 horas a correr, percorremos uma distância igual à que separa Lisboa de Berlim e recolhemos 700 Kg
de alimentos para o Banco Alimentar. Sem publicidade, sem divulgação, apelando ao que
de melhor temos, sabendo-nos recompensados com o conforto dos mais carenciados.
Recusaremos o discurso derrotista e miserabilista, da mesma forma que estaremos firmes na defesa do que temos por mais importante para os fuzileiros. E aqui, todos são
importantes, e a uma voz cá estaremos a honrar os antepassados.
E continuamos com desafios para o futuro. Não desisti de juntar ao Dia do Fuzileiro uma
cerimónia de imposição de boinas, não desisti de ver o número de participantes nesta
festa a crescer em exponencial. Não sou dos que desistem facilmente.
Vamos continuar a festa, com mais uma homenagem a um fuzileiro que lutou pela Pátria,
apoiando uma nova obra literária, visitando a exposição de material recolhido da participação dos fuzileiros nas designadas novas missões.
Em torno de uma mesa, com uma febra, uma sardinha e uma cerveja partilharemos
histórias e manteremos vivo o espírito do Dia do Fuzileiro. Alguns já de cabeça esbranquiçada, outros, no vigor das suas capacidades físicas, outros, a lutarem para ganharem
a sua boina onde também aqui vão absorvendo um pouco do que é ser fuzileiro.
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contos&narrativas
Operação “Crocodilo”
foi há 15 anos
Jorge Moreira Silva
D
e todas as missões em que tive o privilégio de servir ao lado
dos nossos bravos Fuzileiros, nenhuma me deu mais orgulho
do que a operação de resgate conduzida pela nossa Marinha
em 1998, durante a guerra civil na Guiné-Bissau, a memorável
Operação “Crocodilo”, sobre a qual se completaram 15 redondos
anos no passado dia 24 de julho.
de refugiados, uma ação heroica que, apesar de ter sido levada a
cabo por um navio mercante, não pode deixar de orgulhar qualquer marinheiro português.
Quando, no dia 7 de junho daquele ano, chegou a Portugal a notícia de um levantamento militar naquela nossa antiga província,
onde, até à data, não se tinham registado lutas fratricidas, o sentimento geral foi, inicialmente, de incredulidade. Mas cedo o ceticismo deu lugar ao choque, assim que começaram a ser conhecidos os contornos da tragédia humana causada pelos combates.
Naturalmente, a primeira preocupação do governo português foi
a de pôr a salvo os cidadãos nacionais que estavam em território
guineense.
Com o aeroporto de Bissau em poder dos rebeldes, a única alternativa segura para evacuação era a via marítima. Correspondendo ao solicitado, tratou a Marinha de aprontar, em quarenta e oito
horas (!), uma força naval de resgate, comandada pelo capitão-de-mar e guerra Melo Gomes e constituída pela fragata “Vasco
da Gama”, as corvetas “João Coutinho” e “Honório Barreto”, o
reabastecedor “Bérrio”, um destacamento de helicópteros embarcado, uma equipa de mergulhadores, uma equipa do Destacamento de Ações Especiais (DAE) e dois pelotões de fuzileiros
apoiados pelo respetivo grupo de botes. Na ocasião, a Força
Aérea colocou, também, em prevenção uma aeronave Hercules
C-130, que seguiu, na altura, para Cabo Verde, juntamente com
o comandante da força conjunta, coronel PILAV Luís Araújo, e o
seu estado-maior.
Os navios largaram do Alfeite a 11 de junho. Seguiam a bordo
cinco centenas de homens arrancados, com curtíssimo pré-aviso,
àquilo que fora a risonha perspetiva de um longo fim-de-semana
na companhia das respetivas famílias.
Nesse mesmo dia o cargueiro “Ponta de Sagres”, que se encontrava no teatro de operações, procedera, em Bissau – cercada
pelas forças rebeldes –, à evacuação de mais de dois milhares
Bote com refugiados
A “Vasco da Gama” entrou em águas territoriais da Guiné-Bissau
no dia 15. As duas corvetas chegariam na manhã seguinte.
Face à falta de diretivas claras por parte do poder político, o
comandante da força conjunta e o comandante da componente
naval decidiram, de comum acordo, fazer os navios seguir para
Bissau, sob pena de estes se terem mantido, indefinidamente,
numa infrutífera patrulha da foz do Geba.
Os combates estavam no auge, com a capital a ser continuamente bombardeada pelas forças sitiantes. Não é fácil descrever a
angústia que é subir um rio traiçoeiro cujo leito instável tinha sido
sondado pela última vez vinte e cinco anos antes (!), sempre mantendo uma apertada vigilância sobre a margem norte, de onde
se erguiam várias colunas de fumo e onde o som dos tiros das
explosões se ouvia cada vez mais perto.
Para piorar a situação, ouvia-se, na estação de rádio governamental, que uma força naval portuguesa tinha chegado para
ajudar as forças do governo. Para o autor destas linhas havia a
emoção adicional de rever a terra onde nascera e onde o seu pai
cumprira, entre 1962 e 1974, três comissões de serviço, integrado, respetivamente, no destacamento de Fuzileiros Especiais n.º
2 e nas Companhias de Fuzileiros n.º 10 e n.º 2.
À chegada das corvetas, o Comandante Melo Gomes, embarcado na “Vasco da Gama” – que passara a noite fundeada fora do
alcance da artilharia rebelde –, deu ordem para a força fundear
em frente ao cais de Bissau, onde uma multidão de refugiados
em pânico, debaixo da mira das armas de tropas senegalesas e
da Guiné-Conakri (pró-governamentais), aguardava desesperadamente a evacuação. Prontamente foram postos na água os botes
dos fuzileiros e as embarcações semirrígidas dos navios, que logo
se dirigiram para o cais.
Combates em terra
Montado o necessário perímetro de segurança, as carreiras foram
iniciadas sem mais perda de tempo. Durante toda a tarde, as
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contos&narrativas
Entregues os refugiados à proteção das autoridades cabo-verdianas e embarcado algum material de apoio humanitário para
distribuição ao carenciado povo guineense, a “Vasco da Gama”
e a “Honório Barreto” regressaram, no mesmo dia, ao teatro de
operações.
A “João Coutinho” e o “Bérrio” regressariam no dia seguinte.
Nas semanas que se seguiram, os navios desdobraram-se em
ações de evacuação e de entrega de alimentos às populações
isoladas pela guerra. Após uma tentativa gorada de recolha de
refugiados em Bissau, devido ao facto de a zona do cais e águas
circundantes estarem debaixo de fogo, as corvetas foram distribuir ajuda humanitária a Bolama e a Bubaque, no arquipélago dos
Bijagós. Posteriormente seriam feitas novas recolhas de refugiados, em Varela, Ponta do Biombo, Rápidos do Saltinho e, de novo,
em Bissau, onde a “João Coutinho” chegou a atracar (altura em
que foi colhida a célebre imagem do fuzileiro com o bebé ao colo).
Lancha senegalesa navegando entre os navios da força
embarcações e um helicóptero, num contínuo vai-vem, levaram
para bordo dos navios várias centenas de refugiados, muitos deles
profundamente perturbados pela terrível experiência por que
tinham acabado de passar e alguns perguntando se ali estavam
a salvo da morteirada, o que, infelizmente, não era verdade. Tudo
decorreu, no entanto, sem incidentes, apesar de se ter registado
a queda – acidental ou não! – de alguns projéteis entre os navios
da força.
E as coisas poderiam ter corrido muito mal, sobretudo quando
uma lancha senegalesa largou do cais e se pôs a passear entre
a fragata e as corvetas, esperando, talvez, que os rebeldes
dirigissem para aí o seu fogo e levassem a devida resposta. Só
depois de alguns avisos mais sérios este indesejado “convidado”
se dispôs a regressar à respetiva procedência.
Helicóptero Lynx carregando material de ajuda humanitária
para distribuição à população guineense
No total, foram recolhidas mais de 1200 pessoas, a somar às
mais de duas mil que tinham sido retiradas do local pelo “Ponta
de Sagres”.
Durante todo este período, a força esteve acompanhada por dois
navios de guerra franceses (que nestas questões nunca deixam
os seus créditos por mãos alheias), o navio anfíbio “Foudre” e a
fragata “Drougou”, com os quais foram mantidas comunicações
e troca de informação (naturalmente salvaguardando alguns
Refugiados a bordo de uma corveta
Após o pôr-do-sol, com o cais praticamente vazio e os navios a
abarrotar de refugiados, o comandante da força deu ordem de
suspender e descer o rio, não sem antes ter deixado em terra
o Pelotão de Reconhecimento (PELREC) a montar segurança
na embaixada portuguesa (o embaixador recusara-se a deixar
a cidade), tendo este ali permanecido durante cerca de uma
semana, até ser rendido por elementos do Grupo de Operações
Especiais (GOE) da PSP.
Na foz do Geba, a força encontrou já o “Bérrio”, que, durante o
trânsito para a cidade da Praia, reabasteceu de água e combustível
a fragata e as duas corvetas.
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Piroga passando à popa de um dos botes (arquipélago dos Bijagós)
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contos&narrativas
aspetos mais delicados de interesse estritamente nacional). É
de referir, no entanto, que estes, ao contrário dos portugueses,
nunca conseguiram estabelecer uma ligação efetiva com as
forças rebeldes, tendo, inclusive, duas das suas lanchas de
desembarque sido recebidas a tiro na Ponta do Biombo, onde
a força naval portuguesa conseguiu efetuar um resgate bem
sucedido.
E a verdade é que as linhas de comunicação abertas entre os beligerantes vieram a revelar-se fundamentais para as conversações
de cessar-fogo que, pouco tempo depois, se seguiriam (desta vez
com a presença da fragata “Corte Real”).
Também neste capítulo, o contributo português foi devidamente
apreciado e prestigiou o nosso País na cena internacional, apesar
do desdém de alguns comentadores mal-intencionados que, do
conforto dos seus gabinetes com ar condicionado, se dedicam,
sistematicamente, a “deitar abaixo” tudo o que diz respeito à
Instituição Militar.
No dia 24 de julho, após uma missão cumprida com pleno sucesso, a força naval fez a sua entrada triunfal na barra de Lisboa,
dando-se oficialmente por concluída a Operação “Crocodilo”,
uma missão inesquecível que trouxe bom nome a Portugal e às
Forças Armadas Portuguesas.
Salvaram-se vidas, socorreram-se populações carenciadas e
deu-se um contributo decisivo para a Paz.
Com grande felicidade de todos os que nela participaram, não
se matou nem se morreu, apesar das tentativas de envolvimento
que, em várias ocasiões, geraram momentos de grande tensão. E
os nossos fuzileiros tiveram nela um papel de destaque.
Notas:
Oficiais da corveta “Honório Barreto”, fundeada ao largo de Bubaque
(arquipélago dos Bijagós)
Notar as mangueiras em carga estendidas sobre o convés, destinadas não só a fazer face a
um eventual incêndio como também – e sobretudo! – a arrefecer periodicamente o convés
sobre o paiol de munições de 100 mm, de onde, de vez em quando, sob os implacáveis raios
do sol tropical, se chegava a levantar algum fumo.
Só foi pena não ter sido dado a este grande feito o mérito e o
destaque que merecia.
… Resta o orgulho de ter sido parte dele e de o ter feito em boa
companhia.
Jorge Moreira Silva
(CFR)
Sócio n.º 1741
Este artigo, tendo sido redigido com toda a honestidade, baseia-se exclusivamente nas memórias pessoais do seu autor, não devendo, portanto, ser considerado um relato oficial
dos acontecimentos descritos.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
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contos&narrativas
Estórias por Contar
da então Província Ultramarina da Guiné…
A Retirada
José Horta
Para trás, dois destacamentos de fuzileiros especiais, garantiram que esta derradeira evacuação se processasse em
perfeita segurança, sem atritos nem convulsões. A presença discreta e eficaz daquelas duas unidades de Marinha nunca
foi exaltada, nem sequer revelada, antes
ignorada e até, talvez, ostensivamente
ostracizada… Vá lá saber-se porquê.
Parece que se perdeu muito material,
registos de comunicações, relatórios de
operações e SITREP’s… nunca foram
“desencaixotados”, isto no caso de terem
chegado ao destino…
Não foram fáceis os últimos momentos vividos em Bissau naquela ocasião. A Guiné
fervilhava com a “libertação” e com a retirada dos portugueses. O ambiente era muito tenso, de grande melindre emocional e,
até físico. Era, para esses povos africanos,
o estertor do colonialismo... O momento da
“Libertação”. O seu grito de Vitória!
Patrulha do DFE 1, no rio Cacheu
D
e um recanto da minha desgastada memória ocorrem-me,
fugazes, pequenos trechos que a bruma do tempo não dissipou de todo.
Estávamos então no ano de 1974. O mês de Setembro tinha dado
ao mundo a convivência de mais um pequeno País, enquanto o
Império nacional soçobrava e a metrópole, que ainda somos, voltava, irre­mediavelmente, às velhas fronteiras do território europeu.
A margem para cometer erros (de carácter político ou estratégicos) era mais que exígua. Conjugar tudo isto com a afirmação
do respeito pela nossa força, a contenção de ímpetos, quer dos
nossos, quer da outra parte, mesmo no momento da retirada, não
foi tarefa fácil e só a coragem e o bom senso, das nossas forças,
naquela hora, permitiu uma retirada incólume e a contento.
Na minha mente visualizo, ainda, a ré do velho paquete Índia, ou
Pátria – já não sei ao certo – que levava do território africano,
mar fora, as últimas unidades do exército colonial. O Governador
da Província (como então lhe chamavam) tinha partido poucas
horas antes, a bordo do último avião de carreira que fez “escala”
no território.
O final da estação das chuvas que se avizinhava naqueles dias
de Outubro meão veio encerrar mais um ciclo da História de Portugal em África. Os 11 anos de luta renhida e incessante, onde
dezenas de portugueses derramaram o suor, o sangue e mesmo
a própria vida, tiveram um epílogo que foi digno e meritório, pela
forma como os últimos militares nacionais se comportaram. Pela
sua inteligência, pelo seu bom senso e pela sua firmeza e coragem, Portugal despediu-se, honrosamente, desse território… Até
Chegada a Ganturé (Cacheu)
Aspecto das instalações da Marinha em Bissau, num dia de tempestade
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contos&narrativas
mesmo pela forma
como tratou e co-habitou, com o
ex-IN. Pela ajuda
prestada, pela colaboração e pelo
legado que deixou…
No alvor do dia
15 de outubro de
1974, os destacamentos de fuzileiros especiais n.º 4
e n.º 5, totalmente
desprotegidos e
desapoiados, embarcaram numa
LDG, atracada na
ponte cais de BisEu, no cais de Cafine, na baixa mar
sau, para posterior
transbordo para o
NRP S. Gabriel, que os aguardava ao largo, a distância recomendável.
Passaram, entretanto, cerca de, 39 anos sobre estes eventos. Recordo com emoção e algum gáudio, o que se passou, então, no
momento de deixar o território, na altura do embarque.
O DFE 5 era comandado pelo tenente Lopes Fernandes e tinha
como imediato o saudoso Albano que, também, já nos deixou,
sendo eu, José Horta, o 3.º oficial e a pessoa que assina esta
crónica. O 4.º oficial era o Antas de Barros, também, falecido há
alguns anos, num estúpido acidente de moto. A acção destes
dois destacamentos era coordenado por outros dois oficiais mais
antigos: o Com. Carreiro e Silva e o Com. Malheiro.
Após embarcarem os sargentos e as praças, ficaram no cais os
10 oficiais que, displicentemente, se entreolhavam. Qualquer um
deles alimentava a ténue esperança de ter a honra de ser o último
a embarcar.
Consciente do meu lugar na hierarquia, tomei logo a iniciativa,
realista, de ser o 1.º oficial que embarcou, logo seguido e com relutância crescente, pelos outros camaradas que, inevitavelmente
e entretanto, iam ficando para últimos. Restaram, por fim, no cais
cinzento e escurecido, matizado pelo clarear da manhã, dois senhores que, após breve acerto de antiguidades, lá se resolveram
sobre quem teria a honra de ser o último português e militar, a
deixar o solo dessa ex-PU africana e que o Império português, na
Terra, legou às outras nações, para a posteridade.
Ah vã glória… não sei se mais alguém se deu conta mas, o meu
registo visual captou a cena de um humilde Grumete manobra a
soltar, com simplicidade e determinação, a amarra que prendia a
velha Lancha ao cais…
Foi ele o militar de Portugal, o último a deixar, de facto, a terra
da Guiné.
O DFE 4 era comandado pelo tenente Menezes, entretanto,
falecido. O imediato era o Corte Real e os 3.º e 4.º oficiais eram,
respectivamente, o Barros da Cunha e o Capela.
José Horta
Sóc. Orig. n.º 485
2TEN FZE/RN
INFORMAÇÃO
Snack-Bar/Salão polivalente
e de refeições
Informamos os nossos Associados que o Snack- Bar da AFZ da
nossa Sede Social está em pleno funcionamento após obras de
conservação/manutenção.
Daqui os exortamos a que frequentem a nossa/Vossa Sede e
o Bar e o Salão polivalente e de refeições e a que, os Camaradas organizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem
sempre a AFZ e/ou o respectivo concessionário do Snack-Bar,
porque encontrarão, por certo, condições de relação qualidade/preço muito favoráveis, para além de um ambiente agradável e muito propício à realização de eventos desta natureza, em
que as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade, as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem
revelar em toda a sua plenitude.
Sugerimos que as marcações de pequenos eventos ou os almoços/convívios sejam, em princípio, marcados com a intervenção
do Secretariado Nacional da AFZ (email: [email protected],
tel.: 212 060 079; telem.: 927 979 461) por razões que têm a
ver com a programação dos eventos da iniciativa da Direcção.
O Concessionário, cujo novo telefone é o 210 853 030, tem instruções para dar conhecimento à Direcção de todos os eventos
e/ou convívios que venham a ocorrer na Sede Nacional, antes de
se comprometer na sua realização.
Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.
A Direcção Nacional da AFZ
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15
eventos
A
representação da AFZ chegou à Lourinhã pelas 9h20 de 25 de Agosto
de 2013. A cerimónia teve início às
9h30, no largo da Câmara Municipal, onde
se encontra o monumento aos combatentes, no centro da cidade. Os Guiões formaram em redor do monumento.
Associação dos Veteranos e
Combatentes do Oeste (AVECO)
8.º Aniversário do seu Monumento
O Presidente da AVECO, 1TEN (R) Américo
Remédio discursou, dando as boas vindas
aos presentes. Seguidamente discursou
o Vice-Presidente da Câmara Municipal
da Lourinhã. No final dos discursos foram
lidos todos os nomes dos combatentes,
da Lourinhã e arredores, falecidos nas ex-Províncias Ultramarinas. Estiveram presentes várias entidades: Presidentes de
Juntas de Freguesia da região, Presidente
da Assembleia-Geral da AVECO, Joaquim
Duarte Carvalho, e o Presidente do Concelho Fiscal da AVECO, Joaquim Domingos,
estes últimos originários dos fuzileiros.
De realçar, ainda, a presença do CALM
Tavares de Almeida, Assessor do 1.º Ministro e do GEN Paraquedista Avelar de
Sousa. Houve uma sessão de fotografias,
os guiões e os convidados deslocaram-se à Igreja, onde se realizou uma missa,
em homenagem aos Combatentes falecidos, após o que a comitiva se deslocou
ao cemitério, prestando mais uma vez, no
espaço reservado aos Combatentes, uma
pequena homenagem, com deposição de
uma coroa de flores.
Terminadas as cerimónias cerca das
13h30, os convidados deslocaram-se para
o restaurante, para o tradicional almoço/
convívio que proporcionou um ambiente
descontraído e saudável.No final foram
distribuídos diplomas de presença e partiuse o bolo comemorativo do 8.º aniversário
da edificação do monumento.
Combatentes da Guerra do Ultramar
Homenagem da Delegação da AVECO
de Santa Catarina – Caldas da Rainha
A
convite dos nossos Camaradas,
Américo Remédio e Avelino Paulo, Presidentes, respectivamente,
da AVECO (Associação dos Veteranos e
Combatentes do Oeste) e da sua Delegação de Santa Catarina – Caldas da Rainha, a Associação Nacional de Fuzileiros
fez-se representar, no passado dia 7 de
Julho, nas cerimónias de homenagem
aos Combatentes da Guerra do Ultramar
que tiveram lugar naquela freguesia e
16
junto ao respectivo Monumento, oportunamente erigido.
Com um programa cheio e bem delineado, as comemorações tiverem início logo
às 9h00 com a concentração dos antigos
Combatentes, famílias e amigos, no Largo
da Igreja e a chegada das Entidades Oficiais e Convidados e das delegações das
Associações, de Fuzileiros, de Comandos
(Almada) e de Paraquedistas.
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
eventos
Presentes outras representações de várias
associações, designadamente, da Associação de Deficientes das Forças Armadas, e
da Liga dos Combatentes fazendo-se, também, representar a Escola de Sargentos do
Exército.
Seguidamente fez-se uma romagem ao
Cemitério acompanhada pela Banda Filarmónica de Santa Catarina e, pelas 11h00
houve Missa concelebrada pelos reveren-
dos: antigo Capelão, CFR Padre Nazaré e
pelo Pároco, Padre Luís Pedro, em memória dos combatentes já falecidos.
Teve lugar o inevitável almoço/convívio no
restaurante “Casal Frade”, em Mata de
Porto Mouro.
Cerca do meio-dia ocorreu uma marcha
(que o nosso Guião nacional integrou)
no Largo da Igreja ao som da Banda
Filarmónica, seguida de honras militares,
em frente do Monumento, prestadas por
militares do Quartel do Exército das Caldas
da Rainha.
A Delegação da Associação de Fuzileiros
constituída por quatro Sócios Originários e
Veteranos foi coordenada pelo seu Sócio
de Mérito, n.º 158, Dr. José dos Santos
Sequeira que depositou uma coroa de flores, junto ao monumento.
“O Desembarque” – Revista n.º 18
Caros Camaradas e Amigos:
A nossa revista “O Desembarque” (Edição n.º 18) – após editada e enviada a n.º 17 (Novembro 2013) – já começou a ser projectada. A sua publicação prevê-se para princípios de Março de 2014.
Nesta data, existem já em carteira alguns conteúdos que não lograram espaço para se publicarem na edição n.º 17, pese embora
esta conter 52 páginas.
Solicitamos a todos os Sócios que nos enviem os textos que entendam merecer publicação e as correspondentes fotografias,
colaborando assim na revista que é dos Sócios e, sobretudo, para os Sócios.
Solicitamos ainda aos nossos colaboradores permanentes (vidé Ficha Técnica) o favor de se anteciparem com a qualidade dos
seus escritos.
Os textos devem ser remetidos via correio electrónico, em documento “Word” (não digitalizados) e as fotos (se necessário, com
indicação de legendas à parte) deverão possuir qualidade gráfica e não devem ser integradas nos textos.
Os artigos (Cartas ao Director, Notícias, Crónicas, Lendas E Narrativas, Opinião, Cultura E Memória, Pequenas Histórias, Poesia,
etc.) serão publicados se a Direcção da AFZ e a Redacção de “O Desembarque” considerarem que têm qualidade suficiente para
o nível da revista que se pretende manter e se estiverem de acordo com a sua linha editorial, sem prejuízo de os textos poderem
ser revistos e adaptados, se os respectivos autores, expressamente, não se opuserem, quando da remessa dos seus escritos.
No caso de, na Redacção, se acumularem trabalhos que
ultrapassem a dimensão prevista para a revista “O Desembarque” (em princípio, 48/52 páginas), os artigos
publicar-se-ão pela ordem de entrada ou dos registos dos
acontecimentos, designadamente, no caso de relatos de
convívios ou encontros.
A Direcção da AFZ e a Redacção da revista “O Desembarque” agradecem a colaboração de todos e, sobretudo,
das Divisões e Delegações, no sentido de se conseguir um
órgão de comunicação de qualidade e prestígio, mas que
retrate a AFZ nas suas transversais dimensões sociais e
culturais.
Com os melhores cumprimentos e a expressão da nossa mais
firme camaradagem.
A Redacção de “O Desembarque”
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17
crónicas
Crónicas de Outros Tempos
Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo) – Lisboa
Marques Pinto
Evacuação de Família ameaçada de
morte pelo “Esquadrão Chipenda”
É
esta a quinta crónica que dou à estampa na revista
“O Desembarque”, não a tendo publicado na anterior edição
por manifesta falta de espaço e, neste caso, quem partiu e
repartiu não ficou, de facto, com a melhor parte…
Para melhor compreensão da história e do fenómeno que constituiu esta ponte aérea – por alguns já considerada a maior do
Mundo, coordenada e executada, exclusivamente, por civis –
aconselho aos nossos leitores a consulta das edições números
12, 13, 14 e 15 de “O Desembarque”, de Outubro de 2011 a
Março de 2013.
Enquadramento
O “Esquadrão Chipenda” foi constituído após a cimeira de Nacuru
com base numa facção dissidente do MPLA (a chamada “Revolta
do Leste”) a qual, tendo como líder Daniel Chipenda, aderiu ao
FNLA (liderado por Holden Roberto) assumindo, porém, o estatuto
de movimento autónomo, em coligação política com o FNLA e por
este apoiado logistica e militarmente.
Foi assim que o “Esquadrão Chipenda” recebeu material de guerra, viaturas e até pessoal do Congo Kinshasa (Holden Roberto era
cunhado de Mobutu, Presidente da República do Zaire).
Tendo obtido acordo tácito com a UNITA, movimento que então
dominava o Planalto Central de Angola e, nomeadamente, as
cidades de Nova Lisboa (Huambo), Silva Porto (Bié) e Serpa Pinto
(Menongue) estabeleceu-se o “Esquadrão Chipenda”, com uma
força de cerca de 100 homens, em Nova Lisboa integrando, para
além de alguns mercenários provenientes do Congo Kinshasa,
outros tantos oportunistas angolanos e portugueses, recrutados
à pressa.
A cidade de Nova Lisboa, em Agosto/
/Setembro de 1975 apresentava, pois, o
seguinte quadro de forças:
A Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA), quase inexistente, pactuava também com a UNITA e com o “Esquadrão”;
As Forças Armadas Portuguesas (FAP), exclusivamente do Exército, já não controlavam minimamente os Movimentos, ditos de
libertação, instalados na cidade, limitando-se a protegerem-se
nos seus aquartelamentos (Zona Militar Centro/Regimento de Infantaria) e a darem a protecção possível à Comissão de Repatriamento da Comissão Nacional de Apoio aos Desalojados (CNAD)
instalada no edifício do ex-Distrito de Recrutamento e Mobilização
e nas instalações velhas do aeroporto de Nova Lisboa, incluindo
hangares, de onde haviam sido retiradas as pequenas aeronaves
pertencentes ao Aeroclube do Huambo, já que o edifício principal
do aeroporto estava totalmente ocupado por forças da UNITA.
A Ponte Aérea Nova Lisboa/Lisboa tem início a 11 de Agosto de
1975 com quatro aviões: dois destinados a “adidos” (funcionários
públicos) e dois para “desalojados” (pessoas não ligadas, profissionalmente, à Administração Pública Portuguesa, dita colonial).
Então, ainda se pensava que era possível distinguir funcionários
públicos/desalojados de desalojados/não funcionários públicos,
vindo-se a verificar, poucos dias depois, ser esta distinção um
símbolo de impossibilidade, uma utopia de quem, por verdadeira
falta de compreensão da inexorável inevitabilidade, ainda estava
convencido de que poderia controlar alguma coisa.
A “Comissão de Adidos” – viviam-se os tempos das “comissões”
– que um encarregado do Governo do Distrito do Huambo, de
duvidosa competência e responsabilidade (o poder já estava
na rua) pretendia, ainda, conseguir controlar, extinguiu-se por
“morte natural”, desaparecendo o tal Encarregado do Governo,
da vida activa da ponte aéra, subsistindo apenas uma única
Comissão de Repatriamento (a CNAD)
que este escriba ia – vá-se lá saber
como – coordenando.
A União Nacional para a Independência
Total de Angola (UNITA) de Jonas Malheiro Savimbi, largamente maioritária
e com adesão popular dominava, quase
totalmente;
O “Esquadrão Chipenda”, de Chipenda, dissidente do MPLA/Neto, em fase
de instalação, constituía um pequeno
grupo militar, bem armado, mas com
dificuldade de adesão das populações;
O Movimento Popular de Libertação de
Angola (MPLA), vencido que foi pela
UNITA em princípios de Junho/75, em
duros recontros na cidade, estava “instalado”, com cerca de 200 militares e
civis, no Regimento de Infantaria de
Nova Lisboa, sob custódia das Forças
Armadas Portuguesas (FAP) única possibilidade de essas pessoas não serem
exterminadas pelas forças da UNITA e
do “Esquadrão Chipenda”;
18
Capa do livro de Fernando Dacosta
Nesta altura, o Coordenador da
Comissão de Repatriamento da CNAD,
eu próprio, apenas tinha “competência”,
não se sabe dada por quem, para
evacuar “não funcionários” – situação
ridiculamente inconcebível, tratandose de pequena minoria em contraponto
com uma cidade de cerca de 60.000
habitantes que dobrou, em pouco mais
de uma semana, a sua população com
os refugiados que iam constantemente
chegando – já que dos funcionários
tratava a tal “Comissão de Adidos”
“liderada” pelo dito Encarregado do
Governo, cujo nome não refiro, por
respeito a quem já não está entre nós e
que “exigia” utilizar metade dos aviões
que tocasse o Aeroporto do Huambo,
para evacuar funcionários públicos, a
maioria também refugiados do centro/
Sul de Angola, mas também de outros
locais do Centro/Leste.
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crónicas
A estória
Trata-se do drama de um Funcionário Público nascido em Angola
e conotado (vá lá saber-se se bem ou mal) com o “Governo
Provisório” de Angola, presidido pelo Alto-Comissário, ContraAlmirante Rosa Coutinho – como se sabe e já está amplamente
documentado, o carrasco da desgraça angolana e da sua
população (vidé a obra de investigação, «Segredos da Descolonização de Angola
– Toda a verdade sobre o maior tabu da presença portuguesa em África – de
Alexandra Marques – da “D. Quixote” – 1.ª edição, Maio de 2013) – que, após
a dissolução deste Governo e a tomada de posse do “Governo de
Transição” (já integrado por elementos dos três movimento de
libertação – MPLA, UNITA e FNLA) regressa a Nova Lisboa, onde
reside.
O Rodrigues – nome porque passarei a identificá-lo – homem de
cerca de 46 anos, era casado, tinha três filhos e a sogra, viúva,
a seu cargo e habitava uma vivenda, num dos melhores bairros
da cidade, o Bairro do Liceu, situada muito próximo da casa onde
eu próprio vivia. Tínhamos, como será fácil de perceber, algumas
relações de vizinhança.
Os filhos mais jovens que vibravam com a onda revolucionária
teriam exibindo bandeira do MPLA, uma ou mais vezes, vá se
lá saber ao certo, na fachada da casa, o que teria identificado
“publicamente” a família com este Movimento, numa cidade dominada por movimentos rivais (UNITA e “Esquadrão Chipenda”
representando este, também, os “interesses” da FNLA, em Nova
Lisboa).
Tendo-me constado que a família teria sofrido ameaças, passei
por sua casa, na tarde de 11 de Agosto de 1975, para saber concretamente, como estavam e se precisavam de alguma coisa,
apreensivo, desde logo, por me haverem falado na exibição das
bandeiras do MPLA.
A vida e os acontecimentos, alucinantemente velozes, numa Angola quase balcanizada e numa cidade onde o poder pisava a rua,
tinham contribuído para que eu detivesse algum poder de facto:
o dos embarques nos aviões cuja Ponte Aérea coordenava, como
podia, numa cidade de interior, quase sitiada, sem porto de mar e
já sem aviões comerciais.
Para os cerca de 140 mil habitantes e refugiados era claro que o
único meio de fuga era o ar, à excepção de uma ou outra coluna
auto que se constituía, já com muita dificuldade em conseguir
os indispensáveis combustíveis. A capacidade de organização
dos portugueses, donde brotava sempre um líder natural foi/é
verdadeiramente notável consubstanciada, aliás, na constatação
histórica de que somos excelentes para o improviso mas menos
dotados para o planeamento eficaz.
© Alfredo Cunha
O autor no seu modesto gabinete de trabalho
Este Funcionário Público viu-se, de repente “entregue a si próprio” numa cidade onde a lei era a força de movimentos armados
hostis ao MPLA com o qual, porventura, o seu idealismo e a juventude dos filhos o haviam conotado.
No decurso desta visita, o Coordenador da Comissão, que subscreve esta crónica e a sua então Mulher, que o acompanhava,
confrontam-se com uma família extraordinariamente tensa, cheia
de medo físico (porque não dizê-lo) e com mais do que suficiente
justificação.
Existiam, de facto, soube-o então, alguns sinais preocupantes.
Para além de viaturas carregadas de guerrilheiros armados, da
UNITA e do “Esquadrão Chipenda”, em movimentos aparentemente anárquicos que passavam com alguma frequência, diante
da vivenda do Engenheiro Rodrigues, uma delas encontrara o seu
filho mais novo, brincando na rua e um dos guerrilheiros perguntara-lhe pelo mais velho, descrevendo-o. O miúdo terá respondido que conhecia alguém que correspondia à descrição e que,
segundo a criança, moraria no Bairro “lá para trás”. A apreensão
do Pai justificava-se, também, por saber que o seu filho, o mais
velho dos rapazes, teria alguma actividade ligada ao MPLA, distribuindo “papéis de propaganda”. Acresce, ainda, que teria recebido telefonemas, de fonte identificada, referenciando a actividade
do rapaz e recomendando a saída da família de casa.
Na altura verifiquei (verificámos) que a Mulher do Rodrigues assustava-se por tudo e por nada, até com o simples bater de uma
porta. Os filhos e a sogra revelavam também, muita apreensão,
quase pânico. O Engenheiro, com os seus cabelos grisalhos, de
porte imponente, mal disfarçava (para quem bem o conhecia) a
sua preocupante apreensão.
Estávamos, sem dúvida, na presença de uma família tomada de
medo e desprotegida. Já não havia quem, por Portugal, a pudesse
proteger.
Eu tinha os primeiros aviões, na placa, às 21 horas e precisava de
estar no aeroporto com antecedência.
Do que se tratava era dos primeiros embarques de desalojados
nos aviões da Ponte Aérea.
“Moveram montanhas, vencendo provas espantosas de coragem e engenho”
A minha então Mulher – que embarcaria nos primeiros aviões – já
que o exercício das minhas funções de voluntário não permitiriam preocupações com a segurança da família – exercia sobre
mim grande pressão para que o Rodrigues e a família fossem
evacuados para Portugal, também, nos primeiros aviões. Eu tentava explicar-lhes que apenas coordenava (então) os embarques
nos aviões destinados a “não funcionários públicos” e que, nessa
noite chegariam, também, dois aviões destinados a funcionários
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crónicas
Agastado e em tensão – tensão que se respirava, aliás, em todo o
ambiente – digo, já em tom alto:
© Alfredo Cunha
– Onde é que está um telefone?
Os telefones como quaisquer meios de comunicação (é óbvio que
não havia telemóveis) já funcionavam pessimamente.
O Rodrigues indica-me o telefone, em cima de um móvel da sala,
aproximo-me com um misto de raiva e apreensão, e disco-o bruscamente. Momentos depois atendem:
– Está? Intendente? Sou eu, o Marques Pinto. É para lhe dizer que
estou em casa do Engenheiro Rodrigues.
...
– Sim, desse mesmo… – e que esta gente está em pânico. Sente-se ameaçada e há claros sinais disso, sendo prudente fazê-los
embarcar hoje.
“A sua cólera foi a sua força.
Passado o choque inicial, imergiram no país, mudando-o profundamente.”
(adidos) cujos embarques, eram da competência do Encarregado do Governo, o tal “competente” Intendente de Distrito. Este
Senhor, com quem eu nunca simpatizei particularmente, ainda
pensava que mandava alguma coisa e não discernia a sua dramática ilusão.
O Rodrigues e a família mantinham-se na expectativa enquanto
a então minha Mulher insistia em que eu deveria fazer alguma
coisa.
Após a Esposa do Engenheiro ter dado um salto da cadeira onde
estava sentada apenas porque um dos filhos bateu uma porta
com um pouco mais de violência, a minha então Mulher disparou
(passemos ao discurso directo):
– Se acontece alguma coisa a esta gente vais sentir remorsos a
vida inteira.
…
– Mas já não te disse que este problema não é meu mas, exclusivamente, do Encarregado do Governo? E o Engenheiro é senhor
de pegar no telefone e de lhe colocar o problema.
A minha então Mulher, com o seu ar imperturbável e a sua ponta de misticismo parecia pressentir alguma coisa de grave, a tal
ponto que me interpela com particular agressividade:
– Não fazes nada porque não queres. É o teu feitio...com o teu
orgulho não pedes nada a ninguém. Pensas que endireitas o Mundo e que – mesmo numa situação destas – tudo tem de ser feito
com irrepreensível honestidade e dentro das normas. Mas onde
estão a acção, as normas e a honestidade dos outros? Se eles
morrerem, a culpa é tua.
...
– O quê? Não tem lugares nos aviões dos “adidos”? ... Mas o
problema é seu, não é meu. O Engenheiro é funcionário público. A
decisão nesta situação de emergência é sua.
...
– Como ? Não estou a ouvi-lo bem. Diga. Sim .......Já percebi...
Quer dizer, o Senhor não pode retirar ninguém dos seus aviões,
especificamente destinados a funcionários e eu posso retirar desalojados dos meus, cujo numero é 50.000 vezes maior, para meter funcionários e resolver este problema que é seu?!
...
– Então, o Senhor não pode fazer nada! O Senhor que é o Encarregado do Governo e que detém a responsabilidade de evacuar os
funcionários públicos?!
– Sabe porque que é que o Senhor não pode fazer nada? Porque
a sua capacidade de decisão é zero!
...
– O quê? Gostaria de ver a minha no seu lugar? O Senhor é um
badamerda. Com licença.
Atiro com o telefone para o descanso, com força e digo:
– Vou ao aeroporto, num instante e já volto.
Saio porta fora, meto-me na viatura e arranco com velocidade
fazendo chiar os pneus. Dirijo-me ao aeroporto, entro nos hangares (onde está instalada a área de controlo de embarques da Comissão de Repatriamento) e dirijo-me a um dos meus caríssimos
colaboradores, o Coordenador-Adjunto, Carlos Diniz:
– Como é que estão os dois voos para desalojados?
- Estão ambos cheios, Doutor, e as guias de desembaraço distribuídas pelas pessoas.
- E não temos mais aviões hoje?
– Só existem os aviões para os funcionários públicos adidos.
– Ó Carlos tenha paciência, guarde-me seis lugares no nosso próximo voo. Mas garantidos. É que temos de evacuar uma família
ameaçada que o Intendente não assume evacuar. Se se mantém
em casa hoje, amanhã pode “não estar cá”. Podem matá-los todos.
– Ok, Doutor esteja descansado que os lugares ficam guardados,
na minha mão.
Imagem do livro “Os Retornados mudaram Portugal”, cedida pelo ANTT
20
– A que horas sai esse segundo avião?
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crónicas
– Temos indicação de que estará na pista dentro de uma hora.
Este primeiro vai arrancar dentro de 45 minutos.
-–Ok, Carlos. Olhe-me cá por isto. Eu vou num instante buscar
as pessoas porque elas próprias até têm receio de vir sozinhas
para o aeroporto. Se faltar alguém ao embarque vão hoje mesmo.
Caso contrário ficam aqui mais protegidas e entram nas primeiras
vagas.
No interior, o caos! Tudo destruído! A tiro!
Dirijo-me a minha casa, próxima e no mesmo bairro e, junto ao
passeio de um terreno apenas talhonado mas ainda não construído, vislumbro uma criança negra, de três ou quatro anos, sentada
no chão, a brincar com um tubo grosso de cabedal claro que me
pareceu o invólucro de uma mira telescópica de carabina de caça!
Saio do hangar, meto-me no jeep e regresso à vivenda do Engenheiro Rodrigues. Entro na sala onde o ambiente se mantém
carregado, se possível ainda de maior tensão, e digo com atitude
determinada:
Paro o carro e dirijo-me à criança.
– Vamos embora para o aeroporto. Logo que tenhamos vagas em
qualquer avião embarcam.
– Não sei.
O Engenheiro Rodrigues e a família metem (atafulham, positivamente) em duas ou três malas “umas coisas”, não sabendo bem
o quê tal eram a precipitação e o pânico, e quinze minutos depois
estávamos todos, oito pessoas e as malas, também atafulhados,
no jeep, rumando ao aeroporto. A noite já se tinha cerrado e o
percurso foi feito por caminhos secundários, autênticas picadas,
uma vez que os Movimentos de “Libertação” tinham estabelecido
controlos nos principais acessos ao aeroporto.
No hangar do aeroporto passaram estas pessoas duas noites e
dois dias, aguardando as primeiras vagas num avião após o que
lá fugiu aquela família para Portugal, com meia dúzia de tarecos
nas malas de mão, deixando a casa posta (e bem posta).
Dias depois, à tarde – eu permanecia no aeroporto quase a noite
inteira já que os aviões só aterravam após o pôr-do-sol e com
ocultação de luzes – passo pela vivenda do Rodrigues, a caminho
de minha casa. As portas estavam abertas e as janelas já batiam
ao vento. Reparando melhor verifico que a fachada está crivada
de balas.
Era um miúdo bonito, gordinho, inocente, de olhos expressivos.
– Olha lá, filho, estás a brincar com quê?!
– Mostra cá isso.
Pego no tubo e verifico que tem conteúdo. Está pesado. Abro-o
e constato – pensava eu – tratar-se de uma potente lente de um
microscópio!
– Tu dás-me isto?
Resposta da criança:
– Dou.
Dou-lhe um beijo e meto-me na viatura com a lente.
De facto, tratava-se nem mais nem menos de que um importante
instrumento de trabalho (refratómetro portátil) cuja história seria
despiciendo contar, que eu trouxe para Portugal e cá entreguei ao
Engenheiro Rodrigues – único espólio que, porventura terá conseguido recuperar da sua residência em Angola!
Marques Pinto
Sóc. Orig. n.º 221
© Alfredo Cunha
“Chegaram (cerca de 800 mil pessoas) em barcos e aviões, em
caudais de desespero e desamparo.”
Rosa Coutinho com Jonas Savimbi no encontro do Luso em18 de Dezembro de 1974
(foto da obra de Alexandra Marques)
Nota do Autor: Não possuo fotos desta Ponte Aérea nem existem arquivos de televisão ou de jornais, que eu saiba, pela simples razão de que nunca vi que algum jornalista demandasse Nova
Lisboa (o Huambo). E se lá tivesse ido alguém da comunicação social teria necessariamente de contactar comigo porque eu estava presente à chegada de todos os aviões da
ponte aérea e já não havia outros. O que havia era miséria e a ansiedade de fugir.
De Luanda ainda existe “alguma coisa”, porque era a Capital. Do Huambo, cidade sitiada, zero. Possuo porém alguns documentos – alguns comprometedores – que porventura
um dia se publicarão. As fotos (à excepção das do autor) são retiradas da net e quando têm autores referenciados, estes são citados.
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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crónicas
A
s grandes pequenas estórias de uma
guerra acontecem, a maior parte
das vezes, por acaso. O imprevisto
ultrapassa, muitas vezes, o planeamento rigoroso antecipado e, mesmo toda a
montagem de segurança que era o apanágio dos treinos constantes e contínuos que
as unidades de forças especiais, como os
fuzileiros, procuravam seguir à risca.
E, assim, por vezes, sem querer, chegávamos mesmo a dormir com o inimigo.
O termo pode parecer exagerado. É, neste
caso, uma metáfora.
Tumaná
DFE N.º 12 - Guiné 1971
Dormindo com o Inimigo
perfeitamente implantados na península,
mas cujas informações militares desconheciam a quantidade e os lugares eventuais de apoio.
Na realidade, não pernoitamos na mesma
camarata, mas estacionamos, ao começo
da noite, numa orla de uma floresta muito
densa onde, a cerca de 50 metros, havia
uma unidade do PAIGC.
Havia, aliás, pouca população, pois em
algumas povoações referenciadas nas
antigas cartas militares - e, por onde passamos – não havia sinais recentes de estarem ocupadas.
Sem que uns e outros dessem por isso.
Assim, ao cair da noite, estacionamos ao
longo de um palmeiral, cuja retaguarda
estava protegida por floresta cerrada e na
nossa frente, uma antiga área de cultivo
de arroz, havia larga visibilidade.
Assim aconteceu com a minha unidade.
O ano de 1971 já ia longo.
O DFE estava colocado em Porto Gole,
por imposição unilateral do Comandante-Chefe, em condições deficientíssimas, e
realizávamos operações helitransportadas, com reembarques em lanchas, em
zonas onde as forças portuguesas tinham,
há anos, abandonado os aquartelamentos,
no sul do Rio Geba e no rio Corubal, perto da confluência com aquele, nomeadamente, nas áreas das Pontas do Inglês e
de GãJoão e na Península de GãPará.
Mas, vamos à estória.
Andávamos há dois dias em nomadização
numa zona que bordejava a península de
GãPará, numa operação iniciada pelo Destacamento, a que se juntou, mais tarde,
uma unidade de paraquedistas, ambas as
unidades sob o comando de um Tenente-Coronel, comandante do Batalhão daquele corpo especial, então integrado na
Força Aérea.
Actuávamos, todavia, isoladamente, e em
lugares distantes.
No segundo dia na nossa actividade operacional, com todas as cautelas, assim
que se aproximou o fim da tarde, movimentamo-nos em círculos, para despistar
os guerrilheiros, que sabíamos estarem,
Procedimentos de segurança, estabelecidos, depois, os serviços de vigilância.
Cansados, os que não ficaram de serviço,
caíram, de imediato, nos braços de Morfeu.
Horas depois, uma das praças acordou-me a informar-me que tinha visto umas
pequenas “luzinhas” no outro lado do palmeiral.
Levantei-me e não consegui enxergar “as
luzes”.
– Mas eu vi”, afirmou a praça, “agora desapareceram”.
Capturamos uma Simonov, que penso que
seria a da sentinela, que encontramos no
início.
Fizemos uma busca rápida, no meio do
combate.
Com os tiros e rebentamentos, foram destruídas muitas camas e tabancas, mas os
guerrilheiros fugiram, ordenadamente, em
poucos segundos, não deixando qualquer
ferido ou morto no terreno.
Ao nascer do sol, todos já estavam prontos.
Como nos dizia a experiência, sabíamos
que poderiam retaliar, por isso atravessamos, em corrida rápida, este hospital-acampamento. E fomos emboscar no
lado contrário de onde tínhamos entrado.
Vim a saber que outros também tinham
visto as “luzinhas”, que admitiram serem
“pirilampos”.
Recuperamos o máximo de material em
medicamentos e informámos o Comandante Operacional do sucedido.
Com ordem de avançar do Comandante,
encabecei um grupo, que, com cautelas,
se dirigiu para a zona referenciada.
No final da operação, penso que nesse
mesmo dia, juntámo-nos aos paraquedistas para reembarcar na mesma Lancha de
Desembarque Grande.
– Está bem. Logo que amanheça, falo com
o Comandante e vamos ao local, disse eu.
Cinquenta, setenta metros, andados, qual
não é o nosso espanto, deparamos com
um guerrilheiro, ainda a dormir, que, ao
acordar, agarrou numa arma, que estava
ao seu lado, uma Simonov, e se enfiou
para dentro da mata cerrada, dando um
tiro.
Corremos, de imediato, na sua direcção, e
qual não é o nosso espanto, entre tiros e
rebentamentos, deparámos com um grande hospital de campanha, com uma mesa
operatória, onde ainda se via sangue e
uma garrafa de soro, pendurada num gancho de tipo hospitalar.
22
Olhei, no meio da confusão de movimentos que se estavam a dar naquele espaço,
e reparei que havia beliches em ferro e
muito material médico e medicamentos.
Eles tinham capturado uma jovem, que
indicou ser enfermeira e que pertencia
àquele hospital.
Que ficamos a saber que se chamava de
Tumaná.
Dormíramos com inimigo, pacatamente e
em paz, sem que qualquer dos beligerantes tivesse obstado à presença.
Paz essa que só durou até de madrugada.
Serafim Lobato
Sóc. Orig. n.º 1792
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
opinião
Saudades do Mar
“Quando chegar a hora decisiva, procurem-me nas dunas,
dividido entre o mar e a terra”
António Ribeiro Ramos
Miguel Torga
Nas dunas, onde “se alonga e se prolonga, a longa voz do mar”
Afonso Lopes Vieira
Ao Fuzileiro, tanto lhe “quer a espuma como a folhagem”
Miguel Torga
É “Marinheiro e Soldado na terra”
Pacheco de Amorim
Vive a aventura de ter “o mar inteiro”… “e a terra universal”
Miguel Torga
H
á ainda os que ostentam asas no uniforme (onde se incluem
os fuzileiros que também são paraquedistas) e não são raros
os ombros onde os cordões encarnados se combinam com
os cordões azuis dos mergulhadores da Armada. Quereis quadro
mais completo?
Mas são acima de tudo marinheiros de elite que transportam consigo, em todas as circunstâncias, o simbolismo característico do
seu ramo de origem. A Marinha. E de entre os símbolos, destaca-se um que tem dimensão universal, porque é comum a todos os
marinheiros do mundo. A âncora.
Não sei se é o destino ou a vocação que nos transforma em marinheiros. Certamente que são ambos. Mas para nós, portugueses,
há mais uma razão para isso. É a nossa herança histórica, que nos
encanta, e que ainda nos corre nas veias. O oceano espera-nos!
E, atrever-me-ia a dizer até que precisa de nós. Basta pensarmos
na grandeza da nossa Zona Económica Exclusiva. Essa vastidão do
oceano da qual podemos dispor, mas que também exige de nós.
Musa inspiradora da beleza de inúmeras realizações artísticas,
o mar mistura-se com os sentimentos humanos com uma intensidade admirável. No mar, tudo se aviva e muito se remoça. É a
saudade da família querida e dos amigos que ficaram em terra,
que nos invadem as profundezas da alma, que nos comovem e
que nos despertam uma vontade incontrolável de reconciliação
para que façamos melhor da próxima vez.
Essa profunda saudade, palavra que não tem tradução fiel na língua inglesa, porque existe apenas em português e em galego é o
presente no mar.
Não são raras as manifestações artísticas que falam da partida
dos marinheiros. Encontrei em Norfolk, nos Estados Unidos, num
pequeno jardim, uma escultura que representa um jovem marinheiro que tem abraçados a si uma mulher e uma criança. E em
Goteburgo, na Suécia encontramos o célebre monumento à “Mulher do Marinheiro”. No cimo de uma coluna alta vê-se uma figura feminina que está só, de pé, a olhar para o mar, com o vento
a afagar-lhe as roupas e o cabelo. E há muitas outras manifestações congéneres, que nos recordam que há pessoas na vida dos
marinheiros que, não sendo a Marinha, têm tudo a ver com ela.
Diz-nos Pinto de Carvalho (Tinop), na sua obra intitulada “História
do Fado” (p.42) escrita em 1903, que “Das suas notas mestras e
lentas, de uma gravidade de legenda, de uma suavidade tépida,
parece emanar uma estranha emoção, impregnada a um tempo,
de melancolia e de amor, de bonito sofrimento e de moribundo
sorriso. O fado nasceu a bordo, aos ritmos infinitos do mar, nas
convulsões dessa alma do mundo, na embriaguez murmurante
dessa eternidade da água”. E na mesma singradura seguem
Oliveira Martins (séc. XIX) e Luís Augusto Palmeirim (séc. XIX).
Mas há também a emoção indescritível da alegria do reencontro.
O encantamento do regresso depois da missão cumprida. O renascimento dos sentimentos nas suas formas mais nobres e mais
sublimes.
Muitos poetas, que embarcaram ou que usaram o botão de âncora, encontraram no mar a condição embrionária da sua própria
imortalidade. Estão entre eles Camões e Bocage.
O mar é também uma escola de coragem. Um convite indiscreto
ao moral elevado. Um apelo constante à antecipação sobre os
acontecimentos e à avaliação correcta das circunstâncias. Com
pouca coragem não se consegue andar embarcado. Sem ânimo,
sem um temperamento alegre e expedito, sem camaradagem, as
equipas não funcionam. Sem conhecimento adequado, experiência e treino, o mar não perdoa.
O mar tanto engrandece como reduz. Porque tende a colocar
qualquer ser humano entregue a si próprio e na sua verdadeira
dimensão. A bordo, com o tempo, tudo transparece e se manifesta.
Tal como é.
Também no mar se encontram resquícios de uma História viva,
que pode unir sentimentos intemporais e aproximar gerações.
Lembro-me, que quando certa noite naveguei perto dos Penedos
de S. Paulo recordei vivamente todo o envolvimento da aventura
de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral que ali teve um episódio
de grande intensidade humana, ao ponto de sentir uma necessidade irreprimível de a contar aos estrangeiros que me rodeavam,
e que acabaram por me ouvir contagiados pelo meu entusiasmo.
E o mar está carregado de História viva. Dizia a mitologia grega
que o Sol percorria o seu arco diurno sobre um carro puxado por
cavalos supostamente conduzidos por Apolo. Os cavalos porém
não tinham rédeas e por isso galopavam livremente sem que Apolo os pudesse deter. Porque até mesmo os deuses, nada podiam
fazer contra a passagem do tempo. E apesar do curso evolutivo
e incontrolável dos tempos o mar mantém-se. “O Sol nasce hoje
sobre o mar, tal como aconteceu no primeiro dia da Criação”,
dizia-se na divulgação de uma conceituada “Nautical Academy”
norte americana. Porque o mar continua ainda a ser o mesmo. O
mar é eterno.
Se há imagem da esfera celeste que ao ser humano desperte
todo o seu fulgor contemplativo, pela visão da extraordinária beleza e grandiosidade do universo, é ainda no mar que ela pode
encontrar-se. Os astros são familiares aos navegantes. Assim
como os elementos da própria natureza, que se tornam próximos
e previsíveis. E mais tarde, quando os marinheiros se reencontram, recordam por vezes coisas que os fizeram sofrer na altura,
com uma alegria anacrónica, à mistura com uma visão do mundo
que eles bem conhecem e compreendem. O mar une muito mais
do que separa!
Saudades do mar? Claro que sim! Sentem-nas misteriosamente
todos aqueles que viveram a aventura de o terem alguma vez
conhecido.
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António Ribeiro Ramos
Sóc. Efect. n.º 1053
(Comt. MM)
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corpo de fuzileiros
Fuzileiros retomam
treino com os Ingleses
NOTA: Este texto foi escrito segundo o novo acordo ortográfico
1. Efetuar um intercâmbio com os Royal Marines,
desembarcando taticamente a nossa força com recurso aos
meios de superfície orgânicos de um navio anfíbio;
2. Averiguar as capacidades de bordo para projeção de
força e a sua interoperabilidade com os nossos meios, bem
como a doutrina utilizada no seu emprego.
Embarque da FFZ a bordo do HMS Bulwark
(Foto da autoria do 2SAR FZ Costa, Audiovisuais CCF)
P
or ocasião da passagem da UK’s Response Force Task Group
(RFTG) COUGAR 13(1) em águas nacionais e no quadro das
missões atribuídas ao Comando do Corpo de Fuzileiros (CCF)
para o treino e aprontamento da capacidade de projeção de força
da nossa Marinha, realizou-se na Península de Tróia, no dia 22 de
agosto de 2013, um exercício combinado com a participação de
uma força de Fuzileiros (FFZ) e o navio-chefe daquela força-tarefa
inglesa, o H.M.S. Bulwark (Landing Platform Dock – LPD), após
este ter efetuado uma breve visita ao porto de Lisboa.
O dia começou bem cedo com o deslocamento da FFZ da
Base Naval do Alfeite para o H.M.S. Bulwark que se encontrava atracado na Doca do Jardim do Tabaco, em Lisboa. Depois
de concluídas as apresentações formais e dos contactos inicialmente estabelecidos, a FFZ recebeu um briefing por parte
de elementos do 4 Assault Squadron Royal Marines embarcados, que viriam a coordenar o desembarque da força com o
recurso a meios orgânicos do próprio navio. Este briefing teve
como finalidade efetuar uma apresentação geral do navio –
características e emprego operacional, bem como uma abordagem à doutrina de operações anfíbias e uma descrição dos
meios utilizados pelos Royal Marines em desembarques anfíbios.
A FFZ, constituída por 1 Pelotão da Companhia de Fuzileiros n.º 21
comandada pelo Subtenente Fuzileiro Mártires Paixão, contou,
ainda, com a participação de observadores de outras unidades
do Corpo de Fuzileiros e do Centro de Gestão e Análise de Dados
Operacionais (CADOP) da Marinha, sob a coordenação do 1.º TEN
FZ Ferreira Vilaça.
Procurou-se com este exercício atingir os seguintes objetivos:
Embarque da FFZ nas lanchas MK5
(Foto da autoria do 1SAR FZ Lopes, CADOP)
Ensaio para o desembarque efetuado no convés do HMS Bulwark
(Foto da autoria do 1SAR FZ Lopes, CADOP)
Após concluído o briefing e já com a força a navegar, teve lugar
uma visita guiada ao navio com especial relevância ao centro de
operações e à ponte; seguiu-se um ensaio onde se aproveitou,
também, para conhecer e treinar os procedimentos preliminares
a bordo antes de realizar a operação, nomeadamente a sequência
para armar e o método de embarque nas lanchas, de acordo com
os espaços existentes, a localização dos meios e as normas em
vigor naquela classe de navios para este tipo de operações.
Imediatamente após o almoço, oferecido a bordo, deu-se início
ao desembarque da força com a sua projeção em duas lanchas
LCVP MK5; a partir de uma posição a sul de Sesimbra, as lanchas
largaram o navio e deram início ao movimento navio-terra em
formação tática e a uma velocidade considerável para este tipo de
meios (Vel. máx de 20 kts) estando, trinta minutos mais tarde, a
desembarcar numa praia a 500 jj a norte de PANTROIA, já dentro
do rio Sado.
(1) A RFTG COUGAR 13 é uma força naval inglesa constituída por 4 navios da Royal Navy (RN) sob comando do Commodore Paddy McAlpine, o Comando da 3 Commando Brigade Royal Marines
exercido pelo Brigadier Stuart Birrell, elementos da Naval Air Squadron e 6 navios da Royal Fleet Auxiliary. Este tipo de força-tarefa, ativada anualmente, decorre das orientações emanadas
na 2010 Strategic Defence and Security Review e tem como objetivo a projeção de força em áreas estratégicas de interesse nacional longe do território inglês, garantindo uma forte presença
naval nesses locais e a condução de intercâmbios com forças aliadas.
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corpo de fuzileiros
Despedida do comandante do Grupo de Lanchas inglês ao CALM CCF
(Foto da autoria 2SAR FZ Costa, Audiovisuais CCF)
Aguardava a chegada da força na praia um binómio de Royal Marines que efetuou a respetiva marcação do local e garantiu a segurança física ao desembarque, bem como uma equipa de saúde
da Base de Fuzileiros para assistência médico-sanitária, no caso
de ser necessário.
Assistiu ainda ao desembarque, SEXA o comandante do Corpo
de Fuzileiros, CALM Cortes Picciochi, acompanhado pelo CEM do
CCF e pelo comandante do BF2; no final da ação, o CALM CCF
agradeceu ao comandante do Grupo de Lanchas inglês a oportunidade deste intercâmbio, trocando-se ainda umas breves lembranças para registar este evento.
Apesar do exercício ter sido relativamente curto e conduzido a
um escalão relativamente baixo (ao nível de Pelotão), ainda
assim constituiu uma excelente oportunidade de treino para o
Batalhão de Fuzileiros n.º 2, considerando sobretudo os meios
de projeção envolvidos – que raramente temos contacto, mas
também devido ao conhecimento e à experiência da força que
connosco trabalhou. Recordando que a recriação dos Fuzileiros,
em 1961, tem na sua génese o modelo inglês dos Royal Marines,
as oportunidades de formação, treino e intercâmbios com esta
força resultará sempre num acréscimo das nossas valências,
necessárias para o emprego nos mais desafiantes teatros de
operações da atualidade.
A inexistência, hoje, de meios navais na nossa Marinha, específicos para embarcar e projetar o Batalhão Ligeiro de Desembarque
em qualquer parte do espaço estratégico de interesse nacional,
não deverá comprometer o nível de ambição previsto no conceito
estratégico militar e que é materializado pelo atual sistema de
forças nacional; o recurso a meios de países aliados, como os
ingleses, entre outros, são a melhor forma de mantermos esse
nível de ambição até podermos, um dia, assegurar autonomamente essa capacidade, uma vez que essa constitui um requisito
importante para se garantir a soberania nacional – até lá, a prioridade deverá recair na partilha do conhecimento, na aquisição de
experiências e na participação em operações reais, bem como na
interoperabilidade com forças congéneres, cujo exemplo do treino
agora efetuado, assim bem ilustra.
Batalhão de Fuzileiros n.º2, 23 de agosto de 2013
Fotografia de grupo no final da ação, antes do regresso das lanchas ao navio HMS Bulwark
(Foto da autoria do CAB FZ Júnior, EM do BF2)
Nota da Redacção: Este artigo resulta da colaboração e da cortesia do Corpo de Fuzileiros.
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corpo de fuzileiros
Homenagem ao Almirante Roboredo e Silva
N
um tempo em que é necessário redescobrir as raízes da
nossa história, urge olharmos para a nossa instituição e sabermos quem são os responsáveis pela sua origem.
Desembarcamos aos pés dum personagem a quem podemos
chamar, de pleno direito, Pai dos atuais Fuzileiros: Alm Roboredo
e Silva.
Neste contexto e com um sentido de profunda gratidão, o Corpo
de Fuzileiros voltou a celebrar uma missa em sua memória, no dia
16 de setembro, data do seu falecimento.
Assim se procedeu este ano.
E na Capela da Base de Fuzileiros, às 11h30m, encontrámo-nos,
elementos de todas as unidades, para a merecida homenagem.
Celebrámos a eucaristia por intenção do Alm Roboredo e Silva e
não podemos deixar de referir todos aqueles que se lhe seguiram
para a eternidade e que fizeram igualmente parte deste nosso
património.
Capelão Licínio Silva
Sócio n.º 1403
ESCLARECIMENTO DA DIRECÇÃO
Dia do Fuzileiro
6 de Julho de 2013
A Direcção da Associação de Fuzileiros presta os seguintes esclarecimentos aos seus Associados, relactivamente ao “Dia do
Fuzileiro”, que teve lugar no passado dia 6 de Julho de 2013:
1. A AFZ não beneficiou de qualquer verba cobrada aos Sócios
(bilhetes) tendo entregado a sua totalidade (4.880 €) à Escola de Fuzileiros.
2. Bilhetes vendidos pela AFZ:
– Adultos: 476 = 4.760 €;
– Criança: 24 =120 €;
Total de bilhetes vendidos: 500 = 4.880 €
– Adultos: 120 = 1.220 €;
– Crianças: 9 = 45 €;
Total de Bilhetes vendidos: 129 = 1.265 €
8. A AFZ teve em serviço 10 sócios (com bilhetes oferecidos
pela EFZ).
A refeição foi constituída por sardinhas assadas e (+) febras.
(Não ou como alguns entenderam ou foram informados).
Este esclarecimento era devido porque sócios houve que
se convenceram que a Associação de Fuzileiros ganhou dinheiro com a venda das refeições.
4. Total de pessoas com bilhetes comprados (à Associação de
Fuzileiros e à EFF/BFZ): 629
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6. Donde se conclui que estiveram de serviço ou foram convocados pelos CFZ/EFZ/BFZ: 467 militares/civis.
7. A EFZ convidou 5 pessoas (oferecendo os bilhetes).
3. Bilhetes vendidos pela EFZ:
5. Total de presenças: 1.096
Não é verdade: a totalidade das verbas foi entregue à Escola de Fuzileiros.
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homenagens
Frederico José
de Almeida Bóia
“Bébé”
22/09/1948 - 2/08/2013
tivestes a coragem de percorrer cerca de 400 quilómetros, para
cada lado, para nos dares o prazer de estarmos juntos no nosso,
para ti, o último encontro físico.
Frederico José de Almeida Boia “Bebé” – Sóc. Orig. n.º 643
F
aleceu em Trancoso, no dia 2 de Agosto de 2013, onde nasceu em 22/9/1948, Frederico José de Almeida Bóia (Sócio
nº 643) para os amigos o “Bébé”.
Na edição n.º 15 da revista “O Desembarque” (Março de 2013),
integrando um texto por ocasião do almoço/convívio do 45.º aniversário do nosso Destacamento, comemorado em 3 de Novembro de 2012, fiz menção à tua situação e à tua “Alma de Fuzileiro”.
Continuaremos a comemorar os nossos aniversários sempre com
a tua “presença” no coração e para ti, caro Camarada e bom amigo vai, onde quer que estejas, o prazer do nosso último encontro.
Apesar de teres estado ausente, em Inglaterra, nunca te esqueceste
de todos nós (DFE 12) e, logo que pudeste regressar à tua terra
natal (em Setembro de 2012), mesmo com a tua incapacidade
física, entregaste-nos o melhor das tuas relações humanas e
Presto-te, pois, as minhas/nossas homenagens, transmito mais
uma vez o meu pesar à Família Bóia, em meu nome pessoal e do
pessoal do DFE 12 – Guiné – 1967/69 e relembro os momentos
que junto convivemos, com as nossas famílias, tanto em Inglaterra como em Portugal já que todos os anos vinhas, em Novembro,
ao País para celebrarmos juntos mais um aniversário do Destacamento.
Ficámos mais pobres com a tua partida, mas nunca te esqueceremos.
Estarás sempre no meu coração, no da minha família e no da
“Família do DFE 12”.
E registarei também para sempre quando, em momentos de boa
harmonia, me chamavas “Pingão”…
O DFE 12 – Guiné – 1967/69 ter-te-á em memória.
Descansa em Paz, grande amigo e camarada.
Manuel Ramos (o ”Porto”)
Sóc. Orig. n.º 90
Notas da Redacção:
1. Texto revisto e arranjado.
2. A Direcção da AFZ e da revista “O Desembarque” e do “site” apresentam as suas condolências à família enlutada e lamentam não terem tido conhecimento, atempado, da infeliz
ocorrência para se cumprir a habitual representação.
José Armando Pacheco Ribeiro
06/08/1953 – 13/10/2013
1. O Militar
Conhecemo-nos em Setembro/Outubro de
1971. Fez agora 42 anos! O Zé Armando
era o grumete 71/70, nomeado para integrar o DFE 10 que seguiria para Angola
sob meu comando. Tinha então 18 anos,
acabados de fazer.
A sua postura de adolescente, bem disposto, traquina, um pouco buliçoso, chegando
à turbulência, por vezes irreverente, fez
captar a minha simpatia. Porquê? Fazia-me reviver a minha juventude e adolescência despreocupadas. Contrastava com
as inquietações que então me assaltavam.
Para o Zé Armando, na sua maneira de
ser, dava a entender que a vida era para
ser vivida com alegria, com exuberância,
não pondo em causa os direitos dos seus
semelhantes. Nunca, mas nunca deixou
de assumir as suas responsabilidades
no que quer que fosse. Desde a primeira
hora, sempre disponível e voluntário, estava ali para colaborar e… para se divertir.
Embarcamos no Vera Cruz (transporte de
tropas) e desembarcamos no Lobito.
A viagem a bordo não deixou recordações
Excepto o facto de o Comando Naval de
Angola, em Luanda, ignorar a nossa presença no navio.
A viagem de comboio, nos CFB (Caminhos
de Ferro de Benguela), durante 4 dias, até
Teixeira de Sousa, foi um sucedâneo de
peripécias. O comboio parava em todas
as estações e apeadeiros. Em todas as
paragens havia granel com os “factores”
(chefes de estação) ou com os cantineiros
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Quando jovem....
estabelecidos à beira da linha. Foram 4
dias de exuberância em que o Zé Armando
se manifestou em pleno com as suas diabruras. Divertia-se e todos nos divertimos.
27
homenagens
Chegados ao Chilombo, depois de 400
km em coluna de viaturas, os mais jovens
mantinham a boa disposição com que
embarcaram.Recordo com saudade a disponibilidade de todos para colaborarem.
Aquele DFE10 foi uma unidade exemplar.
Depois de termos sido atacados poucos
dias depois de chegarmos, passamos a
patrulhar as matas circundantes, sempre
em viaturas. O Zé Armando estava permanentemente pronto, para acompanhar
quem saía do quartel. Depois que fez o
“exigente” curso de “Moço da Botica”
mais legitimidade passou a ter para ir a
todas.
Em meados de 1972, deixou de haver
vestígios da presença de guerrilheiros em
todo o Saliente do Cazombo. Para todos
nós a guerra em Angola tinha acabado
sem que tal fosse anunciado e comemorado. No fim do ano (1972) deixei o comando
do DFE10 e do Dispositivo de Defesa Fluvial do Zambeze por ter sido promovido.
2. O Civil
Decorria o ano de 1986 quando decidi
comprar uma casa de férias no Algarve.
Bati toda a costa (barlavento e sotavento)
até me decidir por Lagos. Em conversa
com o Comte. Clemente, ex-Sargento
enfermeiro no DFE10, aconselhou-me
a recorrer ao apoio do Zé Lagos, como
o Zé Armando também era tratado. Fui
procurá-lo.
Encontrei um homem maduro, completamente diferente do adolescente que
conhecera. Trabalhador como sempre,
muito responsável, fizera sociedade com
seu pai que tinha uma firma para distribuição e comercialização de águas e vinhos
de mesa.
O “adolescente” que estivera comigo
em Angola havia-se transformado num
homem de carácter, sério, honrado,
conhecedor do negócio que abraçara.
Então tudo lhe corria bem. Dispunha de
uma frota de veículos pesados e ligeiros
O Zé... brindando
28
para a entrega de águas e vinhos em todo
o Algarve.
Não tinha mãos a medir. No Verão, a procura era tão grande que, por vezes, tornava-se difícil satisfazê-la.
Seguiram-se os anos de viragem. As grandes superfícies “descobriram” o Algarve,
esmagando por completo os pequenos e
médios comerciantes e retalhistas instalados.
Apesar das preocupações decorrentes
da sua actividade profissional, colaborou
com o Sortelha Martins na dinamização do
Clube Escola Amizade e noutras actividades ligados à sua paixão: a Marinha e os
Fuzileiros.
Relativamente ao negócio, de quando
em vez pedia-me estudos de viabilidade
económica que o levavam ao desânimo.
Para ele o seu negócio ia de mal a pior.
Para se manter no mercado recorria a
águas e vinhos desconhecidos do grande
público. Mesmo assim as margens
praticadas não chegavam para cobrir os
encargos decorrentes da distribuição.
Apesar da calamidade, nunca o encontrei
com o moral em baixo. Sempre manteve a
esperança de melhores dias que… jamais
chegaram.
No início de 1999, estava eu no meu gabinete na Casa da Moeda, telefonou-me a
pedir que fosse almoçar consigo mais uns
amigos comuns. Estavam à minha espera
num tasco por trás da Avenida de Roma.
Lá fui. Para minha surpresa, além do Zé
Armando, estavam o Zé Lopes (bota da
tropa), o Comte Casals Braga, o Abílio, o
Pronto dos Santos e mais uns quatro ou
cinco. O almoço foi animado. Correu muito
bem. A sobremesa é que foi “indigesta”.
Só então se abriram. Pretendiam que eu,
que no entender de alguns tinha traquejo
na organização e gestão de empresas,
assumisse a responsabilidade de activar
a Associação de Fuzileiros cuja escritura
de constituição fora celebrada em 1977 e
nunca fora activada.
Senti-me muito honrado com a deferência, mas não podia assumir tal responsabilidade. Porquê?! Além dos afazeres normais como Director Comercial na INCM,
com um volume de facturação a rondar
os 17 milhões de contos, estava a acompanhar o arranque do colégio “Cachabiu”
em Cascais e do St. George’s School em
S. João do Estoril, de cada um dos quais
seria sócio-gerente.
Passadas algumas semanas, o Manuel
Prontos dos Santos telefonou a convidarme para jantar no Linhó! Lá fui. Não
posso precisar se o Zé Armando estava.
Aí, depois de muito instado, pedi que não
me pressionassem e eu assumiria activar
a Associação de Fuzileiros, sem pressas
ao ritmo possível.
A burocracia que já era monstruosa, foi
ultrapassada com tenacidade e com o
apoio constante dos Zés (Lopes e Armando). Passamos a reunirmo-nos com
frequência, até decidirmos convocar uma
Assembleia Geral Instaladora. Entre nós já
tínhamos deliberado que a Sede seria no
Barreiro. Apoiou-nos o Moura Lopes que
cedeu uma loja na Rua D. João de Castro,
sua propriedade, para fixarmos a nossa
sede.
Ao Zé Armando e Zé Lopes (ambos falecidos) estamos devedores desta aventura,
que tem sido a nossa Associação, da qual
nos orgulhamos e na qual nos sentimos
irmanados.
Obrigado Zé. Jamais te esqueceremos.
Continuarás a ser o Sócio n.º 30, número
de ordem por ti escolhido. É a nossa homenagem perene.
Estás connosco.
José Cardoso Moniz
Sóc. Orig. n.º 36
Co-fundador da AFZ
Últimas homenagens
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Destacamento de Fuzileiros
Especiais N.º 10
Moçambique 1974/75
11 de Maio de 2013
O VALM Vargas de Matos e o seu antigo ordenança num
brinde especial
O senhor Almirante Vargas de Matos teve,
mais uma vez, o ensejo de se dirigir aos
seus homens para os saudar bem como
às famílias ali presentes “avós, pais e
netos” e lembrar com saudade os que já
partiram, formulando o desejo de que nos
continuemos a reunir anualmente.
Tudo faremos para cumprir este seu
desejo ou, melhor dizendo, esta ordem.
Foi já anotado na agenda o dia 10 de Maio
de 2014 como a data prevista para mais
uma jornada.
O VALM Vargas de Matos com o Sargento mais antigo e o Grumete mais moderno na cerimónia do corte do bolo
E
scaroupim, por terras de Salvaterra,
foi o cenário escolhido para o encontro deste ano. E diga-se; bem escolhido porque o cenário, junto ao nosso rio
Tejo, é magnífico e as águas barrentas
como o estavam naquele dia, trouxeram à
memória de todos a povoação do Magoé
Velho, banhada pelo rio Zambeze, largo e
turvo, em tempo de chuvas tropicais.
Pedido/Recomendação
da Direcção
Como é sabido, foi no Magoé, local agora recoberto pelas águas da barragem de
Cahora Bassa, que o Destacamento passou os 4 meses mais significativos da sua
comissão em terras de Moçambique.
O almoço decorreu animado no Restaurante “Escaroupim” que escolheu para
seu nome o da terra que o viu nascer. Serviço fluente e atencioso sendo a qualidade
do repasto de muito bom nível a fazer jus à
fama da gastronomia Ribatejana.
A Direcção Nacional da AFZ solicita a
todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (email) o favor de os
remeterem ao Secretariado Nacional
([email protected]) para facilitar
as comunicações/informações que se
pretende assumam a natureza de constantes e permanentes.
Será o quadragésimo aniversário da
partida para terras africanas e alguém
alvitrou a hipótese de o programa vir a
incluir uma romagem à casa mãe dos
fuzileiros. Concordamos e tudo faremos
para que isso seja conseguido.
Um agradecimento pela sempre pronta
disponibilidade do João Ferreira, o “Benavente” que, exemplarmente, mais uma
vez, deu o seu contributo organizativo na
parte relacionada com o almoço.
Depois do bolo comemorativo e do
champanhe foi dada ordem de destroçar.
Para o ano esperamos voltar à Escola de
Fuzileiros!
Benjamim Correia
Sóc. Orig. n.º 1351
Um mundo de soluções para o seu lar...
Assim, estarão os Sócios sempre
informados, em tempo quase real,
de todas as regalias de que poderão
usufruir, bem como das datas e locais
dos convívios e eventos, da iniciativa da
Associação ou dos Associados.
Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt
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convívios
Destacamento de Fuzileiros
Especiais N.º 4
Guiné 1973/74
25 de Maio de 2013
D
ecorreu no passado dia 25 de Maio,
o quadragésimo aniversário, com um
almoço/convívio do DFE 4 – Guiné
73/74.
Contou com a presença de antigos militares que integraram este Destacamento de
Fuzileiros Especiais na Guiné entre Abril
1973 a Outubro1974.
Os Militares da antiga guarnição, acompanhados de familiares e amigos participaram nas cerimónias devendo salientar-se,
particularmente, a presença de familiares
do falecido Grumete Varandas Ribeiro,
que muito nos honrou e dignificou esta
cerimónia tão sentida, e ao qual o 2.º Comandante da Escola de Fuzileiros CFR SEF
Santos Madureira, teve também a gentileza de se associar.
Seguiram-se a deposição de uma coroa
de flores junto ao Monumento do Fuzileiro, em memória do 1.º Grumete Fernando
Varandas Ribeiro (morto em combate) e
o descerramento de uma placa toponímica do DFE 4, no Mural do Monumento.
Depois, a EFZ proporcionou a todos uma
visita à EFZ que incluiu a Sala/Museu do
Fuzileiro.
Após a visita, os cerca de setenta convivas
rumaram para um local aprazível, a Quinta
da Alegria na zona de Penalva, onde decorreu o almoço em ambiente de grande
alegria, recordação e camaradagem.
O antigo Comandante do DFE 4, Capitão-de-Fragata AN (FZE) Reformado Albano
Alves de Jesus fez o discurso da praxe,
recordando o papel que a unidade desempenhou no (TO) Teatro de Operações da
ex-colónia portuguesa.
Depois da sobremesa e dos cafés partiu-se o bolo de aniversário, falou-se dos
“velhos tempos”, pela tarde dentro, até
que o último fuzileiro rumou a casa, ficando acordado que para o próximo ano
estaremos novamente juntos.
Lopes Leal
Sóc. Orig. n.º 1943
Nota da Redacção:
Congratulamo-nos saber que, 40 anos depois, o DFE 4 ainda conseguiu juntar cerca de 70 pessoas e fazemos votos
de que, para o ano, consigam confraternizar pelo menos as
mesmas mas, em vez de ser na “Quinta da Alegria”, no não
menos aprazível espaço do Snack-Bar da Associação de Fuzileiros que já tem muita qualidade e tem a vantagem de ser
a nossa “Casa”.
30
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convívios
Destacamento de Fuzileiros
Especiais N.º 2
Angola 1965/67
22 de Junho de 2013
R
ealizou-se em Fontanelas-Sintra, na
Quinta de Santa Maria, no passado
dia 22 de Junho, mais um almoço
convívio do 48.º aniversário da partida
para Angola do Destacamento Fuzileiros
Especiais N.º 2 que prestou comissão de
serviço em 1965/67.
douro no cimo de uma falésia, de onde
se avistava um mar azul e alguns navios
que na linha do horizonte sulcavam as
águas – relembrando a todos a epopeia
dos Descobrimentos – paisagem mesmo
a propósito, para estes bravos Fuzileiros
do DFE N.º 2.
Estiveram presentes neste evento 19 Camaradas de Armas, e seus familiares.
Depois, foi a partida da coluna, em viaturas auto, desta vez não para as operações
no Norte de Angola, mas sim na direcção
do restaurante situado na Quinta de Santa
Maria, em Fontanelas.
No programa, o ponto de reunião estava
marcado em local (para marinheiros de
barba rija) no largo da Aguda, um mira-
Antes de ser servido o almoço, o promotor
deste evento recordou os Camaradas
do Destacamento já falecidos, com um
minuto de silêncio. Seguiu-se a refeição
num ambiente de agradável convívio,
recordando as diversas peripécias, mais e
menos agradáveis, passadas ao longo da
comissão.
No final do almoço, o então Comandante,
António Rodrigues Ponte, no uso da palavra
realçou o espírito de camaradagem, de
união e de solidariedade dos homens do
DFE 2 que continuam a manter ao longo
de 48 anos. O Comandante foi convidado a
partir o bolo de aniversário e brindou-se a
todos os participantes deste convívio.
Obrigado ao camarada Adriano Gaspar
que organizou este convívio e a todos os
participantes.
Até para o ano na Associação de Fuzileiros.
José Talhadas
Sóc. Orig. n.º 95
INFORMAÇÃO
A Direcção Nacional informa que já foram assinados os seguintes
protocolos que proporcionam várias vantagens e benefícios aos
nossos Associados:
– Universidade Lusófona;
– Instituto Superior de Segurança da Universidade Lusófona;
– Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA);
– Motricidade Humana - Associação de Formação Desportiva;
– KANGAROO - Gimnoparque;
– Casa de Repouso “Quinta da Relva”;
– Casa de Repouso “Villa Pinhal Novo”;
– Casa de Repouso “S. João de Deus”;
– ARISTON Termo Grupo;
– ANASP - Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada;
– Manuel J. Monteiro & Cª., Lda. - Equipamentos Electródomésticos;
– Revista de Marinha.
– Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos – Montijo – no
âmbito da Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas
(tiro);
– Grupo Desportivo e Recreativo da Recosta – Barreiro – no âmbito
da Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas;
Os Protocolos estão publicados no site da AFZ e foram remetidos
para todos os sócios de que conhecemos o respectivo endereço
electrónico.
Aconselhamos os nossos Sócios a consultarem o site, na Internet
– www.associacaofuzileiros.pt – ou a informarem-se através de
email: [email protected], do tel.: 212 060 079 ou do telem.:
927 979 461. e a remeterem-nos os seus endereços electrónicos.
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31
convívios
N
a Unidade de Meios de Desembarque
(UMD) a manhã do dia 29 de Junho
era calma. Era sábado e quase nada
indiciava que nesse dia se comemorava o
Dia da Unidade, já no seu 34.º aniversário.
A Portaria n.º 303/79 estabelece a data da
criação no dia anterior, 28 de Junho, mas
o comando entendeu, e bem, transferir as
comemorações para o dia seguinte.
34.º Aniversário da UDM
A Tradição… cumpre-se
29 de Junho de 2013
Do habitual frenesim daquela Unidade
Operacional nada se vislumbrava. Os botes repousavam, prontos, nos hangares e
as LARCS, perfiladas, pareciam aguardar
ordens para saltar para o rio.
Convidado para o evento, aceitei sem
hesitar, tendo em conta os laços que me
ligam àquela Unidade e a muitos dos seus
homens. Cheguei, assim, calmamente a
meio dessa manhã para um convívio tão
agradável que me motivou a escrever este
breve apontamento.
Os militares da Unidade e suas famílias foram também chegando e o Comandante,
fazendo as honras da casa, foi dando nota,
a mim e a outros convidados, dos ambiciosos e tecnicamente exigentes projectos
em que a Unidade se encontra envolvida com especial realce para projecto de
construção de Lanchas Rápidas.
Foi um prazer rever a dinâmica desta
Unidade que conheci anteriormente em
duas situações distintas: a primeira como
Oficial Imediato em 1978 e depois, como
Comandante, no período de 1990 a 1992.
Mas, como ia dizendo, os militares foram
chegando, acompanhados de suas famílias que, tal como eu, se foram integrando naturalmente nas diversas actividades
programadas.
Confortados pelas sempre amigáveis palavras proferidas na missa pelo capelão Licínio, tudo se predispôs para um excelente
almoço servido no refeitório da Escola de
Fuzileiros onde, além dos diversos pratos
de excelente confecção, estiveram as sardinhas assadas ou não se comemorasse
também nesse dia, coincidência das coincidências, o dia S. Pedro.
O almoço decorreu em ambiente
familiar, porque as verdadeiras famílias
ali estavam e, a alvitre de alguém, até
tinham contribuído para o almoço com
todo o tipo de saborosas sobremesas.
Os valores da solidariedade e da partilha
associados aos da velha camaradagem
e da amizade. Um gesto bonito e talvez
o aspecto mais marcante desta festa de
uma das Unidades do Corpo de Fuzileiros.
Não sei se é inédita a iniciativa mas que é
louvável, isso é certamente.
32
O evento contou ainda com a presença de
vários antigos comandantes, 2.º Comandante do CCF e do Comandante da EF.
Ambiente óptimo para pôr em dia conversas adiadas.
Depois do almoço foi a oportunidade para
os botes, LARCS e lanchas rápidas saltarem para a água e serem postos ao dispor
dos presentes para, com toda a segurança, desfrutarem de um passeio pelo estuário. Os participantes foram muitos e, pelo
que me foi dado observar, usufruíram e
apreciaram.
A UMD é assim! Volvidos todos estes anos
e passados tantos comandantes, o espírito
da Unidade continua firme.
Soou como música sinfónica ouvir o Comandante afirmar que, fazendo uma retrospectiva do historial da Unidade, se
pode identificar a marca deixada por cada
comandante.
Na UMD a tradição ainda é o que era!
Benjamim Correia
Sóc. Orig. n.º 1351
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convívios
Destacamento de Fuzileiros
Especiais N.º 12
Guiné 1970/71
No 43.º aniversário,
os “Jacarés”
disseram presente
3 de Agosto de 2013
N
fuzileiros especiais na Guiné o então Comandante da unidade,
como Subtenente, Segundo Tenente e Primeiro-Tenente, hoje
Capitão de Mar-e-Guerra reformado, Mendes Fernandes
Compareceram 74 pessoas entre o pessoal do DFE 12 e familiares,
tendo estado presente, depois de uma ausência prolongada nos
Estados Unidos, o camarada cabo Acácio que, durante toda a
estada do DFE 12 na Guiné, comandou uma secção com aquele
posto.
A comemoração começou, de manhã, com uma deposição de
uma coroa de flores no Monumento ao Fuzileiro, na Escola de
Fuzileiros, em memória do marinheiro C FZE Ulisses Pereira Correia, que recebeu uma alcunha, que ainda hoje o perpetua – Max
Min, morto em combate em Outubro de 1970, junto à estrada de
Sambuiá, com um forte dispositivo do PAIGC.
Acácio Marmelo fez três comissões seguidas na Guiné, antes
de abandonar a vida militar, depois da sua passagem pelo DFE
12. Igualmente, efectuou três comissões em destacamentos de
Recebeu a antiga unidade o actual comandante da Escola de Fuzileiros, capitão de mar-e-guerra Teixeira Moreira, que fez uma
breve explanação aos presentes no final.
o passado dia 3 de Agosto, os antigos membros da
guarnição do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 12
(Guiné 1970-71), conhecidos pelos “Jacarés”, juntaram-se
para comemorar o 43.º aniversário da sua partida, em missão de
soberania, para àquela ex-colónia portuguesa em África.
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33
convívios
Transportaram a coroa dois dos antigos grumetes do Destacamento, com a presença do então comandante da unidade, Comandante Mendes Fernandes e membros da comissão organizadora do evento.
Foram-lhe prestadas as devidas honras, previstas RCHM. Seguiu-se uma visita à Escola de Fuzileiros e ao Museu dos Fuzileiros.
Depois, os presentes dirigiram-se para o renovado restaurante da
Associação dos Fuzileiros, no Barreiro, onde almoçaram e confraternizaram.
Antes de iniciar o repasto, o Sargento-Mor reformado José Talhadas, que, como marinheiro foi durante um largo período de
tempo comandante de secção do DFE 12, fez um discurso de
boas-vindas e da exortação da unidade, que, na sua opinião, foi
uma das mais operacionais e disciplinadas que passou por aquela antiga província ultramarina portuguesa, e apesar de não ter
merecido o reconhecimento das autoridades político-militares de
então, manteve uma coesão e espírito de corpo que tem perdurado até aos dias de hoje.
No final da refeição, o Comandante Mendes Fernandes dirigiu-se
aos seus antigos comandados e familiares, fazendo questão de
manifestar a sua satisfação pela elevada presença. Referiu ainda
que aquela unidade lhe merecerá sempre uma alta consideração,
enaltecendo a qualidade dos quadros, alguns dos “mais medalhados” dos fuzileiros, que foram a sua ossatura, e dos jovens
grumetes que a constituíram.
Em Janeiro de 2015, o Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º
12, os “Jacarés”, fará 45 anos que partiu para a Guiné.
Serafim Lobato
Sóc. Orig. n.º 1792
cultura&memória
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 3
Guiné 1969/71
O
Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 3 (DFE 3) começou
a ser constituído em meados de Agosto de 1969, quando o
1.º Tenente José Manuel Velho da Silva Dias foi nomeado
seu comandante pelo Estado-Maior da Armada.
Várias peripécias e dificuldades estiveram na origem do DFE 3.
Desde logo, o pouco tempo que houve para a sua formação, dada
a urgência em render o DFE 12 que havia terminado a comissão
na Guiné. O Comandante Silva Dias deparou-se com dificuldades
em construir uma unidade coesa, onde seria desejável que a
juventude e inexperiência dos Grumetes barra/68, que tinham
concluído a instrução para fuzileiros, fosse enquadrada com
pessoal mais antigo, mais graduado e mais experiente – os
Marinheiros, Cabos e Sargentos – as classes militares intermédias
fundamentais ao enquadramento e bom desempenho de qualquer
unidade. Com excepção dos Sargentos, a classe mais experiente
que incorporou o DFE 3, este acabou por ser deficitário em
pessoal com experiência de África e de combate.
Assim, toda a logística administrativa, de pessoal e de material,
necessária à constituição de um DFE, foi apressada de forma ao
DFE 3 poder embarcar para Bissau a tempo de render o DFE 12.
Este facto criou dificuldades no dia-a-dia da gestão do Destacamento que só com o tempo foi possível ultrapassar.
Ainda em Lisboa, recebeu o guião em cerimónia protocolar e o
pessoal foi dotado de fatos camuflados, fatos de macaco, meias,
botas de combate, arreios, cintos e bornais!
O Comandante era o único oficial com experiência de comando,
embora não tivesse experiência de combate como fuzileiro.
Embarcou para a Guiné no dia 6 de Outubro de 1969, no Alfeite,
numa fragata velhinha, mas muito distinta, a NRP Nuno Tristão. A
viagem decorreu normalmente, sem grandes atribulações, tendo
chegado a Bissau na noite do dia 12 desse mês. Depois das formalidades habituais, desfilou garbosamente nas ruas de Bissau
perante o Governador e Comandante-Chefe, General António de
Spínola, o Comandante da Defesa Marítima da Guiné, Comodoro
Luciano Bastos, várias autoridades civis e militares e a população
curiosa e fascinada com aquela marcha impecável e tão briosamente cadenciada.
O Imediato, José Joaquim Telles Ribeiro era um Guarda Marinha,
praticamente a sair da Escola Naval e os 3.º e 4.º oficiais, José
Pedro Pimentel Mesquita e Carmo e Miguel Duarte Ferreira
Carmo Soares, respectivamente, eram tão “marretas” que foram
mobilizados e desembarcaram em Bissau com as divisas de
Cadete nos ombros, dado que a sua promoção a Subtenente não
tinha sido ainda publicada na Ordem da Armada.
Iniciou um período de adaptação ao clima e ao terreno com um
intenso IPO (Instrução Prática Operacional) nas matas e bolanhas
das redondezas de Bissau. Somente nesse período é que recebeu
o armamento que o deveria dotar – as G3, as MG42, as Bazookas
8.9, os Morteiros de 60 e de 80 mm, os rádios, os dilagramas, as
granadas de mão, as fitas, os cunhetes de munições, equipamento que foi intensa e minuciosamente testado durante o IPO.
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O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
cultura&memória
Embarcou para Ganturé em 12 de Novembro de 1969, a bordo
da LDG Montante, tendo ficado sob o comando do COP 3, sediado em Bigene. Iniciou intenso período operacional nas matas do
Olossato, na célebre e estratégica península do Sambuiá, tendo
participado em inúmeras operações e em patrulhas de contra infiltração no rio Cacheu.
No dia 15 de Janeiro de 1970, o 2.º Grupo de assalto do DFE 3,
constituído pelas Secções Bravo e Delta, sob o comando do Comandante Silva Dias, parte para Buba, a fim de render o DFE 7,
ficando o 1.º Grupo de Assalto, constituído pelas Secções Alfa e
Charlie em Ganturé, sob o comando do 3.º oficial, o SubTenente
Mesquita e Carmo que, pouco depois, foi promovido a Imediato,
em substituição do Imediato Telles Ribeiro que foi evacuado para
a Metrópole por ter sofrido um acidente, no qual fracturou um
braço. Para o substituir foi nomeado o Subtenente Francisco Ruy
Pato de Góis Oliveira.
Em 3 de Março, o destacamento voltou a juntar-se em Buba, onde
desenvolveu uma intensa e prolongada acção de contra infiltração
no Rio Grande de Buba, nas bacias dos rios Jassonca, Uajá, Sibijá,
Cancabá, Sahol e Fulacunda e nas matas adjacentes.
Em 3 de Setembro desse ano, o DFE 3 foi destacado para a vila
de Cacheu e ali deu continuidade à sua actividade operacional,
sob o comando do CAOP 1 em Teixeira Pinto, participando em
operações nas regiões da Caboiana, do Burné, da Ponta Costa, da
Ponta de S. Vicente e do Churo, zonas míticas da participação dos
fuzileiros na guerra na Guiné, actuando a solo ou em operações
conjuntas com os Pára-Quedistas e os Comandos.
Em Cacheu permaneceu até ao final da comissão, tendo a sua
acção merecido um louvor atribuído na ordem n.º 18 do Comando do Agrupamento Operacional 1, no qual destaca a actividade
desenvolvida pelo DFE 3, o seu espírito de corpo e a qualidade de
comando do seu Comandante.
A actividade operacional desenvolvida pelo DFE 3, ao longo da sua
comissão, foi muito meritória, esforçada e competente, tendo sido
reconhecida pelo Comandante-Chefe, General António de Spínola
e pelo Comando da Defesa Marítima da Guiné que lhe atribuiu
um louvor publicado na Ordem de Serviço do CDMG n.º 28 de 13
de Julho de 1971, nele destacando, mais uma vez, a disciplina,
o valor militar, a valia humana de todos os Oficiais, Sargentos e
Praças e a forma brilhante como soube prestigiar as tradições da
Marinha no TO da Guiné.
Terminada a comissão e reconhecido o brio e o zelo do seu
desempenho, o DFE 3 embarca em Bissau a 8 de Julho de 1971
a bordo do navio mercante Angra de Heroísmo e chegou a Lisboa
a 16 do mesmo mês. Excepcionalmente, todos regressaram à
Pátria, embora tivesse havido feridos e evacuados em combate.
Os fuzileiros do DFE 3 partiram para a Guiné sem saber o que os
esperava. Partiram meninos, rapazinhos de barba rala e chegaram
homens de barba dura, enrijecidos nas matas, nas bolanhas e no
capim, nas emboscadas, nas lutas e nos rebentamentos, na lama,
no lodo, no esforço e no espírito de sacrifício.
Partiram jovens, alguns ainda virgens na vida, crus e
inexperientes, mas excitados e atrevidos na ânsia da aventura e
do desconhecido. Foram orgulhosos e garbosos nas suas fardas
brancas e impolutas, de boina sobre o sobrolho, de ar gaiato e até
vaidoso, receosos pela incerteza, é certo, mas irreverentes pela
juventude e tristes pelas despedidas das famílias, das noivas ou
das namoradas.
Vinte e um meses depois, chegaram curtidos e tisnados, doridos
e empedernidos, mas diferentes e enriquecidos pela experiência
humana acabada de viver na crueza da guerra. Foram generosos
na dádiva do seu esforço, souberam ser perseverantes nas
provações e resistentes nas privações.
E assim regressaram, igualmente orgulhosos, igualmente garbosos
nas fardas, ainda brancas, embora já coçadas e amarrotadas pelo
uso e pelo cansaço da guerra.
Regressaram honrados pela dádiva do sacrifício que souberam
oferecer à Pátria.
Miguel Soares
3.º Oficial do DFE 3
Nota da Redacção: O autor não figura, ainda, como sócio da AFZ.
Faz-se notar que foi Oficial da Reseva Naval (RN) do 14.º CFORNo que,
porventura por lapso, não foi referido no texto.
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cultura&memória
A Última Viagem da F481
Fragata “Comandante Hermenegildo Capelo”
A
Fragata Comandante Hermenegildo Capelo é a segunda
fragata de uma série de quatro Navios encomendados em
1964 pela Marinha de Guerra Portuguesa: “João Belo”,
“Hermenegildo Capelo”, “Roberto Ivens” e “Sacadura Cabral”, ao
estaleiro Chantier francês em Nantes, seguindo o projecto dos
Navios Rivière, que eram navios versáteis e robustos.
Cada uma das quatro fragatas da classe “João Belo” foi decorada
com um quadro do pintor francês Roger Chapelet (1903-1995)
artista que executou, sob encomenda do antigo Ministro da Marinha Almirante Quintanilha de Mendonça Dias, um lote de quatro
pinturas: ”Funchal”, “Lisboa”, “Coimbra” e “Ribeira do Porto”.
Uma vez que ainda estava em Nantes coube à “Hermenegildo
Capelo” a primeira escolha, e optado pela “Ribeira do Porto”. A
cobra representada no Brasão pertence ao género Naja, também
conhecido como capelo, natural do sul da Ásia e da África.
A primeira guarnição, à qual eu tive o privilégio pertencer recebeu
apoio logístico no N.R.P. São Cristóvão, enviado para Nantes para
dar apoio logístico às guarnições das quatro fragatas ali construídas. A fragata “Hermenegildo Capelo” foi entregue à Marinha em
25 de Abril de 1968, tendo como primeiro comandante, o CFR
Eugénio de Aguiar que, por força do destino, já não se encontra
entre nós.
Curiosidades
No dia 1 de Maio de 1968, os operários do estaleiro entraram em
greve. A fragata Hermenegildo Capelo encontrava-se atracada à
muralha. Naquela noite, os operários resolveram colocar um boneco de grandes dimensões num imponente guindaste que permanecia junto ao navio, com um cartaz de tamanho a condizer,
no qual se lia “Salazaristas”.
O CFR Eugénio de Aguiar, numa das suas primeiras atracações, a
uma das muralhas do porto de Lorient, num espaço que á partida representava um certo grau de dificuldade, para atracar entre
dois Navios, não conseguiu evitar que a proa do “nosso” fosse de
encontro à muralha, dando azo a risos de meia dúzia de palermas civis que se encontravam por perto, mas ficando a tristeza
e incerteza por parte da guarnição, quanto às capacidades do
Comandante, pois que já havia denotado antes, um certo nervosismo pelo peso da responsabilidade em comandar uma Fragata
36
daquela envergadura. E tinha razão para isso. Pois nunca antes a
Marinha, tivera na sua frota, Navio semelhante.
Num belo dia, quando o pessoal de serviço perfilado junto à prancha e em continência para receber o comandante, este, depois
de receber os cumprimentos, e ainda numa posição de sentido,
aproximando-se mais perto de mim, disse:
– O Senhor Sargento tem que arranjar uma verga.
– Como, Senhor comandante – retorqui eu!..
– Já disse, tem que arranjar um esticador para o boné.
– Tudo bem Senhor comandante, vou tratar disso - conclui eu.
Ora, este episódio motivou risos por parte dos presentes e, a notícia correu imediatamente por toda a guarnição. Moral da história:
Eu continuei sem esticador no boné, mas o Comandante ficou
com o alcunha de, “o Vergas”.
A “Hermenegildo Capelo” cruzou a linha do Equador cerca de 60
vezes em cerca de quatro anos e meio no mar.
A “Hermenegildo Capelo” foi, nos anos 80, o primeiro Navio da
Marinha de Guerra a incorporar militares femininos –15 praças.
Durante a vida operacional da Fragata “Hermenegildo Capelo”,
exerceram comando 16 Capitães-de-Fragata, sendo o primeiro
Eugénio de Aguiar (de Abril de 1968 a Maio de1972) e o último o
Capitão-de-Fragata Rui Manuel Costa Casqueiro de Sampaio (de
Dezembro de 2002 a Abril de 2004).
Aos 45 anos de idade, a Fragata “Hermenegildo Capelo”, fez a
sua última viagem em 15 de Junho de 2013, desta vez até 1,5
milhas de Portimão, onde foi deliberadamente afundada. As bolas
de fogo produzidas pelos explosivos e consequentemente o seu
afundamento fizeram com que eu sentisse uma certa nostalgia,
ao recordar a minha vivência a bordo, e os momentos inesquecíveis que passei, ao conhecer aquelas terras e gentes da Bretanha.
Ao vê-la ir ao fundo foi como se um pouco de mim se afundasse
com ela…
José Lopes Henriques
Sóc. Orig. n.º 938 (CFR/REF)
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
cultura&memória
A Solidariedade nas Matas,
no Sofrimento e na Amizade
Guiné 1970/71
Breve Nota sobre o DFE N.º 12
tiveram PTO – ou seja, um período de
adaptação operacional que, normalmente,
era enquadrado pela unidade que estivesse nos últimos meses de comissão na
base de Ganturé, onde se encontravam,
normalmente, três DFE`s e um pelotão de
apoio de uma companhia de fuzileiros.
Serafim Lobato (DFE 12 ): Operação “Chave”
O
Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 12 foi para a Guiné dividido
em dois grupos.
Em Janeiro seguiram três oficiais e os
quadros subalternos – sargentos, cabos e
marinheiros.
Não havia grumetes, com curso, para
completar o destacamento, na data indicada pelo Estado-Maior da Armada: uma
unidade completa comportava 80 homens.
Aqueles chegaram em finais de Março,
juntamente com o 3.º Oficial, que ficou na
Escola de Fuzileiros, para escolher os jovens que acabavam o curso de especiais.
No Território Operacional (TO) ao contrário dos anteriores destacamentos, não
Entraram, meia dúzia de dias depois da
chegada, em acção. Num ritmo operacional alucinante.
O seu “baptismo” de fogo deu-se, justamente, nos princípios de Abril, com a
entrada na Base Central da Frente Norte
do PAIGC, dentro do Senegal, Cumbamori,
onde regressaram, uma semana depois, e
capturaram mais de 10 toneladas de armamento.
Foi a única unidade da Marinha – diria,
pelo que consegui investigar nos arquivos
militares, de todas as Forças Armadas – a
entrar e afastar, ainda que momentaneamente, a guerrilha do interior do seu principal “quartel operacional de retaguarda”
naquela região.
no interior do Senegal, situada, mais ou
menos, no meridiano do antigo quartel
português de Barro.
Seguiram-se outros combates e outros locais de passagem.
Pela sua experiência, verificaram, ao longo dos meses, que os Fuzileiros Especiais
– e outras tropas especiais – estavam a
ser mal enquadrados na sua acção militar
no TO.
Opinaram, quando lhe foi dado consentimento para tal, sobre tal facto.
As autoridades superiores consideraram
tal opinião como se tratasse de um “crime
de lesa-majestade”.
Foram ostracizados superiormente, mas
este DFE 12 continuou, disciplinadamente
e com todo o espírito de corpo, a actuar
com a mesma rectidão.
Aliás, na adversidade, ganhou um sentido
de solidariedade e de camaradagem que
se perpetua até hoje. Tiveram sempre a
noção real do seu valor.
Cerca de dois meses depois, assaltaram
outra grande base do PAIGC, em Sanou
(Sanu em português) igualmente sediada
Serafim Lobato
Sóc. Orig. n.º 1792
3.º Oficial do DFE 12
O DFE 12 esteve lá, em Cumbamory
Operações «Catanada» e «Cocha»
N
uma época em que já ninguém pensava ir à tropa porque a
tropa já não pensava em ninguém, a Marinha incorporou-me
nas suas fileiras. Fui, durante três anos, oficial da Reserva
Naval, classe de Técnicos-Especialistas. Não obstante, chapinhei
na Pista de Lodo da Escola de Fuzileiros e fui aprendendo muito, então como agora, sobre a classe de Fuzileiros. Colocado nas
unidades a que pertenci, ouvia os mais velhos, todos do Quadro
Permanente, a maioria da classe de Marinha, falar do DFE 12, que
definiam como um implacável cilindro de guerra que tudo esmagava por onde passava. Não falavam, porém, de factos concretos
nem de concretas operações. Apenas deixavam no ar uma aura
mítica de arrojo, audácia e glória.
Vou, pois, abordar duas acções extra-territoriais, verdadeiras
operações especiais realizadas em país estrangeiro, tendentes à
detecção e destruição de uma hipotética base militar a partir da
qual o PAIGC operaria. Tratava-se da Base de Cumbamory, no
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Carta de navegação usada pelo DFE 12
37
cultura&memória
Héli foge artilharia IN
Senegal, cuja importância se revelou crescente no decurso da
guerra da Guiné, o teatro de operações ultramarino que ficou para
a História Militar com a designação de «Vietname negro».
Pelo menos desde 1967 que os altos comandos militares portugueses tinham ideia da existência desta Base inimiga. Mas não
é certo que se soubesse da sua exacta localização. Estaria ela
sobre a linha da fronteira norte da Guiné ou no interior do Senegal? De uma coisa se tinha a certeza: era por essa Base que o
PAIGC infiltrava na Guiné grande parte do seu pessoal e do seu
equipamento. Daí a sua importância. Há registo de que no dia
11 de Dezembro de 1967, uma força pertencente ao Batalhão
de Caçadores n.º 1887, constituída por 170 soldados, tentou assaltar a Base, mas não lhe alcançou o cerne. Causou algumas
baixas ao IN, capturou escasso material de escassa importância
e sofreu, infelizmente, bastantes baixas, entre as quais quatro
mortos cujos cadáveres não recuperou. Foi a Operação Chibata,
que se considerou que teve relativo êxito, mas que não correu
bem. O grupo de combate “Os Roncos”, que integrava a força,
foi louvado a justo título. Foi esta a primeira tentativa de assalto a
Cumbamory de que há nota.
Como se verificou mais tarde por acção do DFE 12, a Base de
Cumbamory ficava no interior do Senegal a cerca de 7 km da fronteira norte da Guiné, tinha uma área superior a quatro campos de
futebol e era composta por duas zonas longitudinalmente bem definidas: um bosque
de palmeiras, a Oeste, e uma mata aberta,
a Leste.
O DFE 12, de início, apenas tinha 35 ou
40 Fuzileiros Especiais nas margens do
Cacheu, baseados em Ganturé. Eram 35
ou 40 veteranos já curtidos pelo fragor do
combate que tinham chegado ao largo do
rio Caió, vindos de Lisboa, a 31 de Janeiro
de 1970, e que atendiam pela designação
de “Os Jacarés”. Alguns cumpririam a sua
terceira comissão de serviço. A Base de
Ganturé, situada 2 km a Sul do Quartel de
Bigene, pertencia à jurisdição do Comando
Operacional 3 (COP 3), um comando regional operacional encabeçado pelo Capitão-tenente US/FZE Alpoim Calvão, cuja sede
fora instalada naquele Quartel. A jurisdição do COP 3 incluía unidades do Exército
e estendia-se de Barro até Brufa.
Mas um DFE era constituído por 80 homens,
pelo que, aos velhos Jacarés, comandados
38
pelo 1.º Tenente FZE RN Mendes Fernandes, haveriam de se
juntar, dois meses depois, 40 ou 45 jovens Grumetes FZE recémformados pela Escola de Fuzileiros. Enquanto aguardavam pelas
crias, “Os Jacarés” participavam em missões de combate e de
patrulha integrados noutros Destacamentos também baseados
em Ganturé. Em Março, todavia, agiram sozinhos em patrulha
de reconhecimento até à fronteira do Senegal e capturaram um
soldado do PAIGC, que lhes forneceu informações importantes
para as perigosíssimas operações que muito em breve, mal eles
sabiam, se avizinhavam. É que, entretanto, O COP 3 decidiu
atacar a Base de Cumbamory, a principal base militar do PAIGC
no Norte, e contou, para o efeito, com o DFE 12.
Delineava-se, então, a Operação Catanada. As jovens e tenras
crias, embora bem preparadas técnica, emocional e fisicamente,
haviam chegado da Escola apenas no dia 1 de Abril de 1970.
Como era habitual, seriam adaptadas ao Teatro de Operações
mediante a chamada Preparação Técnica Operacional (PTO), com
uma duração normal de dois meses, durante os quais realizariam
pequenas operações com fuzileiros experimentados para se familiarizarem com o IN, com o pântano, o tarrafo e o clima. Não
houve tempo, porém, para tanto, posto que a Operação Catanada
estava em marcha.
Sem PTO, sem apoio aéreo e sem apoio de fogos próximo, o juvenil DFE 12 zarpou rumo a Bigene e, daí, até ao Senegal, na
madrugada de 3 de Abril de 1970. Oficiais doutras unidades baseadas em Ganturé arrepiaram-se com a sorte do DFE 12, que
seguia em direcção à «boca do lobo». As informações militares
adiantavam que a Base de Cumbamory estaria guarnecida por
150 soldados.
O DFE 12, progredindo pelo interior do Senegal, chegou ao Norte
de Cumbamory ao alvorecer e aproximou-se do local que denotava ser o da Base. Nessa altura, Mendes Fernandes deu instruções para que se montasse um perímetro defensivo e enviou
patrulhas de reconhecimento, que tomaram rumos diferentes, a
fim de verificarem se o DFE 12 tinha realmente localizado a Base.
Uma dessas patrulhas detectou-a ao cabo de 500m de evolução. Mas detectou também duas crianças junto de uma fogueira,
as quais, assustadas, fugiram. O chefe da patrulha correu para
tentar apanhá-las à mão quando encarou com dois soldados envergando os uniformes verde-oliva do PAIGC. Eram sentinelas.
Sem hesitar, alvejou-os a uma distância
de cerca de 3,5 m, no que foi seguido
pelo apontador da metralhadora MG42.
Uma das sentinelas morreu ali mesmo e
a outra, gravemente ferida, foi levada pelo
chefe da patrulha, num gesto nobre de
humanidade, para junto do Destacamento.
Nisto, eclodiu imediatamente uma nutrida
e violenta troca de fogo entre o PAIGC e
o DFE 12, que perdurou por várias horas.
Estava muito calor e havia muita humidade. O recontro, violentíssimo, evoluiu quase corpo-a-corpo, ardiam cubatas, ardiam
árvores, ardia vegetação. Até que, por volta do meio-dia, o PAIGC inexplicavelmente
cessou fogo. O IN retirou-se. O jovem DFE
12 não teve baixas, apenas dois feridos ligeiros. O IN, como refere uma notícia C2
da Companhia de Caçadores 3, sofreu 16
mortos e 18 feridos, exactamente como
consta do Resumo de Operações e Acções
Realizadas da Repartição de Operações do
Quartel-General do Comando-Chefe das
Início exposição armamento, Quartel do Exército em Bigene
Forças Armadas da Guiné.
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cultura&memória
Pessoal carregando armamento apreendido
Pessoal do DFE 12 escavando paiol
Aquela retirada do IN foi, anos depois, explicada pelo próprio Presidente Luís Cabral na sua obra Crónica da Libertação: o PAIGC
resistira com tamanha ferocidade, porque decorria na Base uma
reunião dos comandantes e comissários políticos da Frente Norte e doutras zonas, entre os quais estava o próprio Presidente
Luís Cabral. Delineavam uma nova forma de comando, que veio a
traduzir-se em Corpo de Comando. O PAIGC, nas circunstâncias,
bateu-se até onde pôde para proteger as suas cúpulas político-militares, que escaparam na retirada. O DFE 12, sem combate,
regressou incólume a Bigene ao anoitecer desse dia 3 de Abril
de 1970.
A troca de fogo entre o PAIGC e o DFE 12 mantinha-se cerrada e
constante. O IN manteve a produção de fogo até ao meio da tarde.
As forças em contenda estavam tão próximas uma da outra que
o PAIGC, em desespero, tentou o corpo-a-corpo. “Os Jacarés”
prepararam-se para a luta, colocando os sabres nas armas. O
anoitecer aproximava-se, pelo que o Destacamento fez explodir
tudo o que tinha à mão.
Mas haveria de tornar à Base de Cumbamory. Com efeito, informado de que a Base fora reconstruída, o COP 3 enviou novamente
o DFE 12 ao assalto a partir de Bigene, o qual ocorreu no dia 12
de Abril de 1970, pelas 5:25h. Era o início da Operação Cocha.
Ingressando na Base pelo Sul, o DFE eliminou as sentinelas mediante o emprego de ALG e o primeiro grupo de assalto avançou
pela bolanha, passando de fila a linha quando o IN iniciou os disparos. Era, contudo, demasiado tarde para este: o grupo entrou
na Base, surpreendendo vários elementos IN nos seus próprios
abrigos. Uns fugiram, outros foram mortos, não tendo havido possibilidade de fazer prisioneiros.
Conquistada a Base e montando o perímetro, o DFE 12 passou
a ocupar as próprias posições IN, colocando-se em situação privilegiada de defesa. A vanguarda, porém, havia-se separado da
rectaguarda do Destacamento. Entretanto, o Marinheiro Galante
Guerra, refazendo a ligação, veio anunciar ao 2.º Tenente FZE
RN Serafim Lobato, 4.º Oficial da Unidade que tinham encontrado armas. Serafim Lobato, chegado ao local indicado por Galante Guerra, viu, com espanto, armamento diverso de diversos
modelos, tudo material de fabrico soviético e doutros países do
Pacto de Varsóvia e até da China, muito mais sofisticado do que o
armamento usado pelas forças portuguesas. Descobriram-se seguidamente vários outros depósitos de armas e munições, todos
camuflados no sub-solo. Chamados meios aéreos via rádio, “Os
Jacarés” começaram a carregar os helicópteros com os achados.
Nessa altura, o PAIGC carregou com violenta energia tentando
recuperar a Base. O fogo IN era cerrado e impetuoso. Os helicópteros que recolhiam o armamento levantaram voo diversas vezes
para não serem atingidos pela artilharia IN.
Ao tentar recuperar a Base, o PAIGC encontrou, porém, o DFE 12
firmemente posicionado e foi sendo repelido. Quatro aviões dois
Fiat G91e dois Harvard T6 foram chamados a prestar apoio na
defesa da Base, o que fizeram em parelhas com várias passagens rasantes intervaladas por cerca de 15 minutos, accionando
as suas metralhadoras, principalmente os T6.
O combate durou 11 horas. O DFE 12 apreendeu 10 toneladas de
armas ao IN, que foram expostas em Bigene. O armamento que
restava foi maioritariamente destruído pelo bombardeamento dos
Fiat, que se seguiu à saída de “Os Jacarés” rumo a Bigene, onde
chegaram pela noite dentro.
No decurso da guerra da Guiné mais nenhuma outra força portuguesa conseguiu entrar na Base de Cumbamory e ocupá-la, ainda
que a espaços, e muito menos logrou apreender tamanha quantidade de armamento nesta Base IN. O DFE 12 também não teve
baixas nesta operação, apenas um ferido ligeiro. O PAIGC, como
se relata no Resumo de Operações acima citado, sofreu vários
mortos e feridos não quantificados, para além da apreensão das
10 toneladas de armamento. Eram apenas 35 ou 40 Jacarés nas
margens do Cacheu, a que se juntaram jovens crias recém-saídas
do ovo escolar, sem o adequado desmame que a PTO proporcionaria. Os jovens Jacarés desceram, num ápice, do Céu ao Inferno
sem passar pelo Purgatório.
O DFE 12 a Pátria honrou. Que a Pátria o contemple, independentemente das posições, perspectivas e até preconceitos que
cada um tenha sobre a Guerra do Ultramar.
Gomes da Silva
Sócio n.º 2243
Notas da Redacção:
(Serafim Lobato)
1. – Na foto da exposição do armamento, no Quartel do Exército, em Bigene, apenas se vê
uma pequena parte do material de Guerra apreendido.
2. – Nesta exposição do armamento, a Praça que está a olhar para o fotógrafo é o
MARTelegrafista Ulisses Pereira Correia, o “Maxi Mine” que morrerá em combate
com o IN, em 20 de Outubro de 1970, na estrada de Sambuiá, a cerca de 10 a 15
quilómetros de Cumbamory;
3. – O elemento preto que aparece na foto a tirar armamento do paiol, não é fuzileiro.
Trata-se de um guia balanta de Bigene.
(Marques Pinto)
4. – Sabemos quem foi o protagonista, aliás, grande militar – que confirmámos por
pesquisa complementar, de boa fonte – do nobre gesto de poupar a vida a uma
das sentinelas. Por razões que desconhecemos, presume-se que em virtude da sua
conhecida humildade, este exigiu não ser citado, embora em versão inicial deste
artigo o tivesse sido, pelo que respeitámos a vontade do próprio e do autor do texto.
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divisões
Divisão do Mar
e das Actividades Lúdicas e Desportivas
Troféu “AFZ”
A
Arma Curta de Recreio – 25 m
Associação Nacional de Fuzileiros realizou, no passado dia
15 de Junho, a sua primeira prova oficial de tiro, registada no
calendário de provas da Federação Portuguesa de Tiro pelo
que se trata, como é óbvio, de facto extraordinariamente relevante,
não só para a nossa Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e
Desportivas como para a própria Associação Nacional de Fuzileiro.
A competição realizou-se nas instalações da Carreira de Tiro da
Marinha, em Vale do Zebro – Escola de Fuzileiros. Contando com a
presença de sete clubes de tiro e um total de vinte e quatro atletas,
a prova decorreu num saudável ambiente desportivo.
Sendo esta modalidade de tiro desportivo, a nível de competição
federativa, muito recentemente implementada em Portugal, este
tiro de recreio, a 25 m realiza-se com armas de calibre “.22 LR”
podendo ser utilizados pistola ou revólver desde que este não possua punho anatómico de alta competição.
Com o número de adeptos desta modalidade a crescer cada vez
mais, é objectivo da Associação de Fuzileiros tornar o seu Troféu
numa prova de referência nacional!
Com um total de nove atletas, em competição, a AFZ conquistou o
1.º lugar individual, através do seu atleta Rui Rodrigues, com uma
pontuação de 272 em 300 pontos possíveis e obteve também o 1.º
lugar em Equipas, com uma soma total de 744 pontos.
No final da competição, após breve convívio entre atletas,
procedeu-se à entrega dos prémios que contou com a presença do
Presidente da Direcção da Associação de Fuzileiros, Comt. Lhano
Preto.
Como nota final podemos deixar a perspectiva de que, para o próximo ano estaremos presentes com mais uma competição de alto
nível e merecedora dos nossos atletas nacionais. A Divisão MALD
e a AFZ agradecem a participação de todos e congratulam-se pelo
nível de desportivismo demonstrado.
Tiro com Carabina de Cano Articulado
N
o passado dia 21 de Julho realizou-se no Montijo a prova de tiro em Carabina de
Cano Articulado, da Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos no âmbito das
comemorações de mais um aniversário desta instituição!
Esta competição, inserida no Calendário Oficial de Provas da Federação Portuguesa de
Tiro, contou com a participação de 17 atletas de cinco clubes participantes!
A Associação de Fuzileiros fez-se representar por dois dos seus atletas da modalidade,
com destaque para a excelente prestação do nosso atleta Miguel Luís que conquistou o
1.º lugar com um total de 344 pontos.
O atleta Miguel Luís tem vindo a demonstrar uma louvável evolução na modalidade em
que é um autodidata e com um futuro promissor noutras modalidades de tiro em carabina!
Os nossos parabéns ao nosso atleta por guindar ao pódio a Associação de Fuzileiros.
40
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divisões
Prova de Remos 2013
R
ealizou-se no passado dia 14 de
Setembro na Escola de Fuzileiros,
a 1.ª Prova de Remo em Botes da
Associação de Fuzileiros.
Com setenta e sete atletas inscritos e onze
equipas de botes em competição, a prova realizou-se num divertido e animado
ambiente desportivo onde se destacou a
camaradagem e o espírito de equipa.
Com as famílias dos participantes a torcerem pelos seus, a competição iniciou-se
com a montagem dos botes por parte dos
atletas.
Já com as equipas a fazerem-se ao rio
na rampa do cais da Unidade de Meios
de Desembarque (UMD) as Equipas deslocaram-se até à Boia 18 junto ao cais dos
barcos do Barreiro onde fizeram o controlo
de passagem e regressaram à Escola de
Fuzileiros.
Com uma distância aproximada de 9,5 km
de prova, todas as equipas mostraram o
seu espírito de sacrifício e concluíram a
prova em euforia.
Como resultado final desta saudável competição, classificou-se em 1.º lugar a
equipa “Sem Motor”, em 2.º Lugar a equipa “Os Metralha” e em 3.º Lugar a equipa
“4.ª Bravo 91/92”.
Com a entrega de prémios aos atletas feita
pela Direcção da Associação de Fuzileiros
e pelo Comando da Escola de Fuzileiros,
prosseguiu-se um agradável convívio
onde muitos prometeram estar presentes
para o próximo ano. O apoio da Escola
de Fuzileiros e da Unidade de Meios de
Desembarque foi sem dúvida uma maisvalia para a organização deste evento.
Agradecemos a todos quantos connosco
colaboraram (CCF e EFZ) e, em especial,
aos militares da UMD que nos apoiaram de
forma exemplar.
Espada Pereira
Chefe Divisão MALD da AFZ
A VOSSA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS VIVE DAS VOSSAS QUOTAS
Prezados Camaradas:
Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação.
Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos
propusemos é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação se vai
juntando.
Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais
evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusemos a resolver o problema.
Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da
Associação e dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.
Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para
obstar a isto aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.
Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?
Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à
Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.
Solicitamos a todos os Sócios que preencham o impresso para autorização de pagamentos das quotas por débito bancário, sistema
que é muito mais cómodo e evita o pagamento de quotas acumuladas. Informem-se junto do Secretariado Nacional (tel.: 212 060 079,
telem.: 927 979 461, email: [email protected])
Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam.
Cordiais e amigas saudações associativas.
A Direcção Nacional
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delegações
Delegação do Algarve
As Festividades da
Nossa Senhora da Orada
C
onjuntamente com o Clube Escolamizade, a nossa Delegação do
Algarve participou no passado dia 14 de Agosto, nas festividades
religiosas de Nossa senhora da Orada da Paróquia de Albufeira.
Ambas as colectividades integraram a Procissão ostentando os respectivos Guiões.
Imagem retirada da internet
propriedade de algarvepress.wordpress.com
A colaboração, as parcerias e as actividades conjuntas da Delegação da
Associação Nacional de Fuzileiros do Algarve e do antigo e prestigiado
Clube Escolamizade são um exemplo de como juntos fazemos mais e
melhor.
A Direcção Nacional e a Redacção de “O Desembarque” felicitam as
duas instituições pelo seu espírito de colaboração, camaradagem e companheirismo.
A Feira da Lagoa
A
(FATACIL/2013)
inda em conjunto com o Clube Escolamizade, a Delegação
da AFZ do Algarve participou na FATACIL/2013 que decorreu
de 19 a 26 de Agosto sendo disponibilizado, pela Organização da Feira, um pavilhão onde se expuseram materiais e motivos
de divulgação da Marinha e dos Fuzileiros.
O Pavilhão foi muito apreciado pelos milhares de visitantes que
demandaram esta Feira de grande prestígio na zona Sul do País.
Muitos dos associados afectos à Delegação prestaram uma ajuda
e colaboração que é justo realçar, assegurando uma presença
permanente no pavilhão, no horário de funcionamento da Feira,
entre as 18h30 e as 1h00, assumindo, como sempre, a irrepreen­
sível postura de aprumo e a dignidade que são apanágios dos
Fuzileiros.
A Descida do Rio Arade
A
já tradicional descida do Rio Arade, desde a cidade de Silves até à foz do referido rio, em Portimão, teve lugar no dia
7 de Setembro tendo participado, num convívio de elevada
amizade e camaradagem, 168 “Filhos da Escola”, familiares e
amigos.
Este passeio pelo rio foi do agrado geral, apreciando-se a fauna
e a flora ao longo das margens deste maravilhoso rio, sendo que
os Fuzileiros e os outros participantes não esqueceram aspectos
de proteção ambiental.
Para a realização deste evento a Delegação do Algarve teve a
colaboração, sempre indispensável, da Escola de Fuzileiros que
disponibilizou, mais uma vez, oito botes e respetivas palamentas
e da Direcção Nacional da AFZ.
O Comando da Zona Marítima do Sul, fez-se representar pelo 1TEN Santos, cuja presença muito nos honrou, tendo-nos acompanhado
no almoço convívio (aliás bem servido) que decorreu nas instalações do PAN, gentilmente cedido para o efeito. No decurso deste
saudável convívio, já com as forças recuperadas, misturam-se as inevitáveis histórias passadas nos Fuzileiros e também se mataram
saudades.
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delegações
O Nosso Passeio de BTT
O
Passeio de BTT que vem sendo habitual, teve lugar no passado dia 5 de Outubro, decorrendo na Encosta das Grutas,
com 38 participantes entre os quais se salienta um grande
número de camaradas que pela primeira vez teve conhecimento
da existência da nossa Delegação e que se predispuseram a colaborar em eventos futuros.
Devemos aqui também relevar o espírito de camaradagem entre
Fuzos e Páras que souberam reforçar este tradicional elo de
ligação que é conhecido pela expressão “Párafuzos”.
Após um agradável almoço convívio e durante a tarde, deu-se
início a uma prova de vinhos, numa adega da região, que terminou
pela noite dentro.
São assim os “parafusos”: disciplinados, aprumados, camaradas
mas, também, tendo o gosto pela vida.
António Medeiros
Sóc. Orig. n.º 1235
(Presidente da DAFZA)
Delegação de Juromenha/Elvas
Actividades
C
omo habitualmente, a Delegação da Associação Nacional
de Fuzileiros de Juromenha/Elvas fez-se representar no
Dia do Fuzileiro, na Escola de Fuzileiros, integrando o
grupo da AFZ, sendo que o Presidente da Delegação ostentou o
Guião de Juromenha/Elvas a par dos Guiões regionais das outras
Delegações e do Guião Nacional.
Revelando a conhecida solidariedade e unidade inter-delegações,
espírito, aliás, dos verdadeiros e genuínos fuzileiros, esta Delegação fez-se igualmente repretesentar, no Algarve e junto da
Delegação de V. N. de Gaia, na festa de Santa Sinforosa, em Trás-os-Montes, organizada pelo Presidente da Delegação de Gaia, o
Camarada Henrique Mendes.
Como documentam as belas fotos que se publicam, a Delegação
de Juromenha/Elvas está em plena actividade.
Os seus dirigentes não páram e, por isso, e porque muito
prestigiam a região e a cidade, a Câmara Municipal de Elvas nos
concede todo o crédito e o apoio possível.
Com a nossa/vossa Sede, com uma vista panorâmica sobre a
bacia do Alqueva e olhando, ao largo, a Espanha e a afamada
Olivença (a histórica Praça Forte de Olivença, objecto de uma tradicional disputa entre Espanha e Portugal que, com os tempos se
vai tornando amiga) a Direcção da Delegação, com a humildade
característica dos Alentejanos, convida todos quantos a queiram
visitar e exorta os “fuzos” desta zona da raia a que a nós se associem (telemóvel: 964734441, email: fuzos_juromenhaelvas@
sapo.pt).
Há lugar para todos e, juntos, seremos melhor e mais fortes, nesta fase tão difícil do País de que nunca nos servimos mas que
sempre servimos. Venham ter connosco, como recentemente
fez 1.º TEN FZ Rebola que, com os seus familiares se deliciaram
fazendo canoagem, passeios pedestres, tomando as refeições e
pernoitando na nossa Delegação.
Para não sermos exaustivos porque sabemos que o espaço
disponível não é grande diremos apenas que – para além de
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delegações
pela forma sempre digna como representamos os Fuzileiros, pelo
aprumo com que desfilámos na Procissão dos Pendões e pela
disciplina e civismo com que sempre nos apresentamos.
O Município, através do Sr. Vereador Manuel Joaquim Silva Valério agradeceu-nos também, por escrito, cujo texto essencial se
cita: «A Câmara Municipal de Elvas vem por este meio agradecer
a V. Ex.ª, a participação da Entidade que dirige na área institucional da Expo São Mateus 2013, contributo decisivo para o sucesso
alcançado na edição deste ano e renovar, desde já, o convite para
participação em edições futuras».
Por último, uma pequena mas obrigatória notícia: o Vice-Presidente, Óscar Barradas, por motivos pessoais renunciou ao cargo que
ocupava nesta Delegação.
muitas outras actividades – realizou-se entre 20 e 28 de Setembro
passado, a 2.ª maior romaria da margem Sul do Tejo – a Feira de
São Mateus, em Elvas, que teve o seu ponto alto no dia 20, com
a conhecida Procissão dos Pendões.
Pretendemos e é de justiça realçar o nosso grande agradecimento
pelo seu notável desempenho e a sua competência e dedicação.
Em escrito que nos dirigiu dizia que sempre que possível estará
presente. Nós continuamos a contar com ele e com a sua importante ajuda.
A Delegação agradece a todos quantos participaram, mas em
especial à nossa Direcção Nacional e à Delegação de Vila Nova
de Gaia, pelas suas presenças, ostentando os respectivos guiões
nacional e regional.
Mas como a vida tem de continuar, em reunião extraordinária foi
eleito o novo Vice-Presidente, o nosso Camarada Amílcar Canada
que se espera constitua, igualmente, um êxito, no desempenho
das suas funções.
O nosso Pavilhão de Exposições, foi muito visitado e elogiado,
designadamente, pelo Presidente do Município de Elvas, Sr. Rondão de Almeida, que especialmente nos veio felicitar, pelo brio e
Licínio Morgado
Sóc. Orig. n.º 958
(Presidente da DFZJE)
Almoço de Natal 2013
Comunicado
A Associação Nacional de Fuzileiros vai realizar, como habitualmente, o seu Almoço de Natal 2013, no próximo dia 14 de
Dezembro.
No site, no Facebook e na revista “O Desembarque” publicamos o respectivo convite, a ementa e o mapa de acesso ao local,
com as suas coordenadas, para quem utilize o GPS e com os contactos para onde se podem inscrever.
A Direcção da AFZ recomenda a todos os Sócios que queiram connosco partilhar o este convívio que efectuem as suas inscrições, junto do Secretariado Nacional, para os contactos indicados, impreterivelmente, até ao dia 2 de Dezembro.
O Salão onde ocorrerá o Almoço tem, como é óbvio, um espaço limitado, pelo que, para além de ser indispensável sabermos,
com a antecedência necessária o número de pessoas que almoçam, quem não se inscrever a tempo poderá ter de sujeitar-se
a lugares menos confortáveis ou mesmo a não ter lugar.
A Direcção da AFZ
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delegações
Delegação de Vila Nova de Gaia
A Festa de Santa Sinforosa em Trás-os-Montes
A
Delegação da AFZ de Vila Nova de Gaia assume também
protagonismo, ora nas suas actividades locais, ora nas
representações noutras delegações. A solidariedade com os
nossos camaradas do Sul é nosso timbre.
no dia 15 de Agosto, altura em que os emigrantes “filhos da terra”
estão de férias na Aldeia. Trata-se de uma santa pouco conhecida
em Portugal e apenas venerada em Remondes – Mogadouro, uma
pequena aldeia transmontana, onde tem a sua bonita Capela.
A nossa Delegação participou na Festa em honra da “Mártir Stª
Sinforosa e dos seus sete filhos” que é celebrada, todos os anos,
Santa Sinforosa é considerada pelos habitantes da aldeia e arredores muito milagrosa. Nesta festa, os devotos oferecem ouro e
dinheiro pelas graças concedidas.
O Presidente da Direcção da DAFVNG, Henrique Mendes foi o seu
organizador e Juiz da Festa, ou seja o Mordomo Principal.
Quem pretender saber a história desta Santa milagreira poderá
consultar a Internet, no link www.facebook.com/notes/santa-sinforosa-remondes/martírio-de-santa-sinforosa-e-seus-sete-filhos/123316777819007.
Estiveram presentes nas festividades a Banda Filarmónica de Bragança, o Grupo de Gaiteiros “Os Migueis”, a Associação Nacional
de Fuzileiros, a Delegação de Jerumenha/Elvas, representada
pelo seu presidente Licínio Morgado e, obviamente, a Delegação
de Fuzileiros de Gaia, representada pelo seu Vice-Presidente Augusto Teixeira
A festa iniciou-se com a arruada pela banda filarmónica de Bragança e os gaiteiros “Os Migueis”.
Pelas 12h30 foi celebrada missa em honra de Santa Sinforosa,
seguida de procissão pelas ruas da aldeia, com a banda de
música, os andores dos principais Santos da aldeia e os guiões
nacional e regionais da Associação de Fuzileiros.
Depois, a Procissão percorreu a Aldeia num trajecto mais longo do
que o habitual, dado o sucesso de festas anteriores.
Ao fim do dia pelas 18h00 tiveram lugar um concerto pela Banda
Filarmónica e, depois do jantar, um grandioso arraial abrilhantado
pelo grupo musical “Rumo Nordeste”.
À meia-noite, assistiu-se ao magnífico fogo-de-artifício que incluiu fogo preso ao redor da imagem de Santa Sinforosa.
As Representações
A já conhecida solidariedade entre as Delegações levou o Presidente da DAFZVNG, Henrique Mendes e esposa, a deslocarem-se
de Norte a Sul em várias representações, designadamente, ao
Aniversário da Delegação da AFZ do Algarve e ao Aniversário da
Delegação da AFZ de Juromenha/Elvas.
Juromenha e Albufeira são terras com carácter de bem receber
e bem servir. O nosso obrigado pela hospitalidade dos nossos
camaradas e amigos do Sul, Alentejo e Algarve – que fazem parte
desta nossa grande “Família”, os Fuzileiros – e, especialmente,
aos Presidentes das respectivas Delegações, Licínio Morgado e
António Medeiros.
Henrique Mendes
Sóc. Orig. n.º 1089
(Presidente da DAFZVNG)
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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cadetes do mar
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros
N
o dia 21 Setembro deu-se início à 1.ª Actividade do Ano
2013/2014. Às 8h30, conforme combinado (Estação Fluvial
do Barreiro), encontrámo-nos com os alunos da 1.ª e 2.ª
Esquadra da Unidade Cadetes do Mar Fuzileiros.
Seguiu-se a distribuição do uniforme n.º 9, que os alunos usarão
ao longo da instrução na E.F. e igualmente, os artigos (peças de
vestuário) da Associação de Fuzileiros, utilizados em Cerimónias
Protocolares.
Primeiras apresentações, os cumprimentos da praxe entre os
mais velhos e mais novos, estes, imbuídos no espirito de vontade
e conquista de poderem vir a integrar esta unidade.
Seguidamente iniciaram-se os testes de eficiência motora com
o propósito de aferir as condições físicas, e assim preparar um
programa mais consentâneo com os valores físicos apresentados
pelos alunos.
Na Escola de Fuzileiros, os alunos foram recebidos por o Senhor
1.º Tenente Pedro Dias, Coordenador e Oficial de Ligação entre a
Escola de Fuzileiros e a Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros, no
âmbito da Associação Nacional de Fuzileiros.
Depois de uma merecida pausa para o almoço aproveitou-se a
ocasião para esclarecer os anseios e as duvidas apresentadas
pelos alunos.
Apresentadas que foram as boas vindas em nome do Comando da
Escola e da Associação de Fuzileiros incentivaram-se os alunos
para a aprendizagem dos valores cívicos e militares ministrados
por as duas instituições.
As aulas da tarde iniciaram-se na área do Cerimonial Naval, abordando o tema da História e da Organização do Corpo de Cadetes
do Mar de Portugal, apresentado pelo Senhor Director de Instrução Comandante Bellém Ribeiro.
Depois das palavras de incentivo, foram atribuídas as instalações
já reservadas aos alunos e procedeu-se ao início das actividades
que constavam no calendário de Formação.
Seguiu-se a apresentação de um trabalho efectuado pelos Cadetes do 2.º ano, cujo tema abordado foi o da História dos Fuzileiros desde 1621 – Terço da Armada da Coroa de Portugal – os
legítimos herdeiros da mais antiga força militar constituída com
carácter permanente em Portugal.
Pela 1.ª vez, introduziu-se na área de Formação dos Cadetes, a
designação de Apoio Escolar: Tutoria complementar, em especial no domínio das disciplinas de Português e Matemática, em
consonância com os programas aprovados pelo Ministério da
Educação e Ciência. Esta disciplina é ministrada pelo sócio da
Associação de Fuzileiros, Doutor Gomes da Silva.
Nesta aula, procurou-se diagnosticar o desempenho nas disciplinas de Português e Matemática e, sobretudo, as dificuldades que
os alunos mais sentem.
No final das actividades, os alunos foram transportados à Estação
Fluvial do Barreiro.
46
José Talhadas
Afonso Brandão
Sóc. Orig. n.º 95 e Comt UCMF Sóc. Orig. n.º 1277 e Mest UCMF
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cadetes do mar
Participação na Inauguração
do Navio da Marinha Mercante
“Funchal”
R
ealizou-se no dia 1 Agosto de 2013, a cerimónia de inauguração do Navio da
Marinha Mercante “Funchal”. Para a referida cerimónia foi convidado o Corpo de
Cadetes do Mar que se fez representar pela Unidade de Cadetes do Colégio Pedro
Arrupe, de Lisboa, e pela Unidade de Cadetes Mar Fuzileiros (UCMF) esta patrocinada
pela Associação Nacional de Fuzileiros, no âmbito de um Protocolo subscrito pelo Grupo
de Amigos do Museu de Marinha (GAMA) e pela Associação de Fuzileiros (AFZ) em 26 de
Setembro de 2011.
As Unidades formaram junto ao portaló do navio, onde prestaram honras de cerimonial
naval, a entidades civis e militares convidadas a assistir ao evento.
No final da tarde, a Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros, recebeu informação no sentido
de se dirigir à tolda (popa) do navio, a fim de participar na cerimónia de prestação de honras do içar da Bandeira Nacional e, simultaneamente, ao Senhor 1.º Ministro de Portugal,
que presidiu a este acto solene, importante para a nossa Marinha Mercante.
No decurso da cerimónia, foram proferidos discursos: pelo armador do navio que se referiu com palavras elogiosas à presença dos jovens Cadetes do Mar; pelo Senhor 1.º ministro, dando enfase à importância para o Turismo de Cruzeiros, à inauguração deste navio.
Este NMM é o primeiro de uma nova frota de 4 navios com pavilhão português que
voltarão, de novo, a sulcar os mares, neste importante ramo para a economia nacional.
Por fim, as cerimónias terminaram com da bênção do navio “Funchal”.
Seguidamente, o Senhor 1.º Ministro dirigiu-se à formatura da
Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros, cumprimentando o seu
Comandante e realçando a dignidade, aprumo e postura apresentados, no decorrer das cerimónias, por estes jovens Cadetes.
À despedida, foram igualmente tecidas palavras elogiosas e de
agradecimento dos Senhores Armador, Comandante e Imediato
do navio, realçando o brilhantismo revelado pelos Cadetes do Mar
presentes nesta cerimónia.
Algumas fotos e, no que respeita ao site, um pequeno vídeo-clip
ilustram o evento e a respectiva notícia.
José Talhadas
Sóc. Orig. n.º 95 e Comt UCMF
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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cadetes do mar
Cadete Ricardo
Despedida da UCMF
P
ublicamos, ipsis-vebis, os textos remetidos via correio electrónico, do Cadete do Mar “Fuzileiro”, Ricardo de Azevedo
Fidalgo Lopes e do Comandante da nossa Unidade, SMOR
José Talhadas.
Antes, porém oferece-nos fazer os seguintes comentários:
Para os tempos que vão correndo é absolutamente notável o discurso deste jovem!
Parabéns a ele próprio;
Parabéns à sua Família, porque também lhe deve ter dado as
necessárias bases;
Parabéns à Direcção do Grupo de Amigos do Museu de Marinha
(GAMMA) pela iniciativa e empenho;
Parabéns à Escola de Fuzileiros e aos seus Instrutores cuja colaboração e apoio é indispensável;
Parabéns – se me dão licença – à Direcção da Associação Nacional de Fuzileiros que decidiu subscrever, em tempo oportuno, um
protocolo com o GAMMA e que apoia, através dos seus Sócios,
das suas Estruturas Centrais e até economicamente, viabilizando,
a Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros;
Por fim, parabéns, sobretudo, aos Sócios da AFZ que comandam,
apoiam a Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros, lhe dão o verdadeiro espírito e constituem, para os jovens, a cara da Associação
de Fuzileiros – José Talhadas, Mário Manso e Afonso Brandão
– e, em especial, ao nosso Membro do Conselho de Veteranos, o
José Talhadas, pela qualidade que transmitiu ao Comando, qualidade que é, aliás, apanágio do seu próprio perfil de Homem e
de Militar.
A Redacção (Marques Pinto)
As palavras do Cadete do Mar Ricardo
«Caro Sargento-Mor José Talhadas
(E restantes membros, formadores, camaradas da UCMF)
Este ano dou comigo, infelizmente, com
uma enorme ausência de disponibilidade
ou possibilidade de permanecer activo,
durante este ano lectivo dos Cadetes do
Mar – Unidade de Fuzileiros. Renuncio a
este ano se formação, lamentavelmente.
Mas, além desta amargura, ficam comigo momentos inesquecíveis, amizades,
lições, novas capacidades, visões mas
sobretudo valores!
“Valor, Lealdade e Mérito”; “Talent de
Bien Faire”; “Braço às Armas Feito”, lemas e valores de ordem militar, no futuro
irão conduzir-me na vida profissional e
pessoal graças à formação e o contacto
com pessoas competentes e cativantes,
que tive o privilégio de receber. A estes
valores poderei adicionar, num cenário
menos oficial: sacrifício, patriotismo, respeito e generosidade.
Não sei que caminhos irei seguir, ou sequer, onde me levarão. Apenas sei que
estou seguro que irei acompanhado com
competências, valores, lições e camaradagem que me guiarão ao triunfo profissional,
académico, pessoal e até de esfera cívica.
Nunca irei olhar um militar, e em mais
especial caso, um fuzileiro da mesma
48
forma, de desprezo ou indiferença. A sua
compostura é a mais alta de qualquer homem, pois toma o sacrifício como ganha
pão, e embora por vezes faminto devido às
dificuldade que poderá atravessar, nunca
abandona o seu posto, nem baixa guarda!
É, para mim, o máximo símbolo de manutenção democrática, patriótica e de ordem
cívica e da virtude!
Termino esta mensagem com amargura
e ao mesmo tempo ansioso pelo futuro e
onde esta valiosa bagagem de capacidades
e valores que tive o privilégio de obter.
Espero no mais futuro próximo retribuir de
todas as formas possíveis!
Ambiciono um cargo público ao serviço da
Pátria e não ao serviço dos meus interesses, e os meus camaradas sabem e irão
dar a saber que sempre entreguei aos outros o máximo na minha possibilidade, sem
arrependimento, (perdoem-me esta falta
de humildade mas detesto a falsa modéstia...), e gostaria de continuar a oferecer.
“A Pátria Honrai, Que a Pátria Vos Contempla.”
Se me permitirem intitular-me um filho da
Pátria, prometo que continuarei a honrar a
Pátria e a servi-la.
Cumprimentos especiais e desejos de
completa felicidade aos meus caríssimos
formadores, superiores e camaradas.
Nunca irei esquecer-vos e tentarei manter
o máximo de contacto, empenhar-me no
desenvolvimentos dos Cadetes do Mar, (em
especial, claro, da unidade de Fuzileiros).
Até Breve, e sempre!
P.S - Caro Sargento, gostaria que este texto servisse
de testemunho ou sequer artigo em favor dos benefícios que os Cadetes do Mar são, e se poderão tornar,
ainda mais, grandiosos e frutíferos. Estarei sempre
em contacto, jamais hesite em chamar-me, seja para
que dever for. Muito obrigado por tudo, a nível de
formação e pessoalmente».
As palavras de José Talhadas
«Podemos sentir-nos orgulhosos por este
jovem ter este discurso baseado nos valores que nós incutimos ao longo do tempo de formação em que esteve connosco.
Tenho a certeza que ajudamos a
despertar um cidadão que trabalhará
para servir Portugal e não servir-se de
Portugal. Por enquanto é só um… mas
mais se seguirão.
Palavras como “Valor, Lealdade e Mérito” são pouco ouvidas na sociedade civil.
Mas nós, militares, novos e velhos procuraremos aplica-las, sempre que possível,
para que a nossa juventude ajude a valorizar a Pátria.»
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
notícias
1.º CFORN FZ
1992
9 de Março de 2013
N
o passado dia 9 de Março, o 1.º CFORN 92 (Curso de
Formação de Oficiais da Reserva Naval, 1.ª incorporação de
1992) efectuou um almoço/convívio, na Escola de Fuzileiros.
Após a deposição de uma coroa de flores no Monumento e a prestação de honras aos mortos em combate, o grupo visitou a Sala
Museu do Fuzileiro, acompanhado pelo Comandante da EFZ onde
este lhe prestou os devidos esclarecimentos históricos.
Depois, este conjunto de antigos oficiais fuzileiros da RN almoçou,
com algumas esposas e filhos na EFZ vivendo momentos sempre
agradáveis e nostálgicos.
Como não podia deixar de ser, houve discursos de reconhecimento, cabendo a António Manuel R. Casão a representação do
1º. CFORN 92, o qual agradeceu ao Comt. da EFZ e ao restante
pessoal envolvido na recepção a disponibilidade e o costumado carinho com que sempre são recebidos todos os “Filhos da Escola”.
A Direcção da AFZ e a redacção da revista “O Desembarque” juntam-se, posteriormente, ao Convívio e formulam votos de que todos ao anos este e outros CFORN(s) e todos os nossos camaradas
fuzileiros (oficiais, sargentos e praças de todas as incorporações)
e as suas famílias e os amigos, se juntem à sua Associação Nacional de Fuzileiro, certos de que EFZ e AFZ constituem ramos da
mesma árvore que são o espírito e a alma de todos os fuzileiros.
Porque, “fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre”.
Nota da Redacção:Publicamos esta notícia, embora a AFZ não estivesse, directa ou indirectamente, envolvida no evento. Para a próxima, o que desejamos é que o convívio se efectue na nossa
Sede Nacional.
O
CMG, José Luís de Almeida Viegas
foi homenageado, no passado dia 3
de Outubro na Associação de Fuzileiros. Ex-Comandante do Corpo de Fuzileiros, entrou para a Escola Naval em 1962
e terminou o curso da classe de Marinha,
integrando o Curso Miguel Corte Real, em
Janeiro de 1967. Ausente por razões de
saúde de algumas das actividades promovidas por aquele Curso, algumas das
Comandante Almeida Viegas
Antigo Presidente da Direcção da AFZ
Homenagem de um Grupo de Amigos
quais inseridas nas comemorações que se
encontram a decorrer dos 50 anos de entrada na Escola Naval, por iniciativa de alguns camaradas de curso – curiosamente
entre os quais um do seu tempo do Colégio Militar e dois do seu Curso de Fuzileiros Especiais de 1967/68 – foi promovido
um almoço de confraternização em sua
honra que teve lugar no dia 3 de Outubro
de 2013, na Associação de Fuzileiros (AFZ)
no Barreiro.
Presente no almoço o actual Presidente da
Direcção CMG FZE Francisco Lhano Preto
que acolheu os visitantes e apresentou as
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
excelentes instalações da Associação, assegurando, também, com a viatura da AFZ,
o transporte do Comte Almeida Viegas.
Para além do “homenageado” participaram
neste encontro os Almirantes Alexandre
da Fonseca, Rebelo Duarte e Silva e Pinho
e os Comtes Caldeira Santos, Sanches
Oliveira (FZE), Paes de Villas-Boas (FZE),
Marques de Sá (FZE) e Sousa Henriques
aos quais se juntou, mais tarde, o Eng.º
(ECN) Vasconcelos da Cunha.
Paes de Villas-Boas
(CMG-R)
49
notícias
A nossa “Casa”
com mais conforto e
mais qualidade
Presidente da Direcção da AFZ,
Lhano Preto
surpreendido no dia do seu aniversário
A
conteceu no passado dia 12 de Julho – dia em que ocorria uma reunião de
trabalho na AFZ – o Comt Lhano Preto ser bébé, lá para as bandas de 1948.
De surpresa, que não surpreendeu os presentes, mas apenas a quem já tinha
chegado aos 65 – ora aí vai mais um e menos um – que tenha paciência porque isso
acontece a toda agente desde que estejamos cá e ainda bem, porque é sinal de que
cá estamos – cortou-se o Bolo do Aniversário.
Um Bolo confeccionado com os
ingredientes da camaradagem,
da amizade e da solidariedade de
todos nós.
A
Sede Nacional da Associação de
Fuzileiros foi requalificada, estando
agora disponível para nos proporcionar mais conforto e qualidade. O Salão
Polivalente e o Snack-Bar, este gerido
por sócios, incluindo a sua cozinha apresentam, agora, um visual diferente, mais
bonito e de muito maior nível visando disponibilizar aos Sócios um ambiente tranquilo e acolhedor. A esplanada foi também
melhorada.
A “Casa” que é de todos nós espera-nos.
As velas, sopradas com alma de
fuzileiro apagaram-se com eficiência… e com eficácia.
O Bolo era recheado com muito
significado e com suficiente doçura para a Esposa do nosso aniversariante o ter cortado com prazer e
um olhar de carinho.
Todos dele comemos e tocámos os nossos copos com espumante português, à
Saúde e à Vida do Lhano Preto, e à sua Paz interior que incluiu a sua Família e a de
todos nós.
Coisas que estas “viroses fuzileiras” proporcionam…
Presidente da Câmara Municipal do Barreiro
na AFZ
N
o passado dia 4 de Julho tivemos a visita do actual Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, cuja presença na
sede da Associação é frequente.
Fê-lo – acompanhado pela sua equipa de trabalho – na qualidade
de candidato às Eleições Municipais.
Em reunião de Direcção de 24 de Julho de seguinte, o Presidente
da Direcção deu nota no espaço de “informações” do encontro
«com representantes da CDU, a pedido deste Partido, fazendo
parte deste grupo o actual Presidente da Câmara Municipal do
Barreiro.
Fomos informados que a Junta de Freguesia do Barreiro e a Junta
de Freguesia do Lavradio se irão unificar e da impossibilidade
de o actual Presidente da Junta de Freguesia do Barreiro poder
candidatar-se. Foram apresentados, ainda, os candidatos a
Presidente à nova Junta de Freguesia e
a Vereadores do Município.
O grupo, através do actual Presidente da
Câmara deu, também, conhecimento dos
projectos que espera realizar no corrente
ano e relembrou a disponibilidade do seu
Município na cedência de um bom edifício para “oferecer” à Marinha de forma
a possibilitar a instalação autónoma da
Delegação Marítima do Barreiro, bem
como de um terreno para a AFZ instalar a
sua Casa dos Fuzileiros Seniores.
50
O 2.º Vogal, Egas Soares (ES) questionou “se dentro da perspectiva da recepção desta comissão da CDU, houver outra entidade
política que solicite ser recebida pela Direcção, a AFZ estará disponível para também a receber”.
O Vice-Presidente (Marques Pinto) informou que a primeira intervenção da Direcção quando recebeu o grupo em apreço foi fazer
a leitura do Art.º 3.º do Estatuto da AFZ, sob o título «Restrição»
que aqui fica transcrito:
«É expressamente vedado aos sócios utilizar a Associação, directa ou indirectamente, como veículo de discussões, intervenções ou interesses de natureza religiosa, político-partidária, de
promoção pessoal ou material».
É óbvio que a Direcção recebe toda a gente que o solicite não
tomando parte activa em quaisquer temas ou aspectos político‑partidários. Assim sendo, qualquer
movimento social, seja qual for a sua
natureza, ou partido político que o solicite será igualmente recebido e ouvido.
Pese embora a forma como a Associação de Fuzileiros tem sido apoiada pelo
Presidente, Sr. Carlos Humberto Pinheiro Palácios de Carvalho – que, aliás, foi
constituído, por decisão da Assembleia-Geral, de 23 de Março de 2013, seu
Sócio Honorário –, a nossa Associação
preserva com irrepreensível rigor a sua
independência.
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
obituário
Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram
A Associação Nacional de Fuzileiros e a
nossa Revista “O Desembarque” apre­
sentam sentidas condolências às Suas
Famílias, publicando-se as respectivas
fotografias que correspondem às que
encontrámos, com menor ou razoável
qualidade, nos nossos ficheiros.
Estes nossos Camaradas e amigos
conservar-se-ão sempre entre nós neste
Planeta e quando nos encontrarmos
noutros Mundos.
Frederico José de Almeida
Boia (O Bébé)
Sócio n.º 643
22/09/1948 a 2/08/2013
Carlos Alberto Corte Real
Sócio n.º 490
15/01/1949 a 31/08/2013
José Armando Pacheco Ribeiro
Sócio n.º 30
6/08/1953 a 13/10/2013
diversos
Donativos
Nome do sócio
Novos Sócios
N.º Donativo
158
59,95 €
Francisco Gracio
1995
25,00 €
M.ª Proença Pais
1333
10,00 €
-
Arlindo Bernardo
Pedro Gonçalves
José Sequeira
DFE – 12 70/71 Guiné
Nome do sócio
Novos Sócios
N.º
Nome do sócio
N.º
Fernando António L. Dias
2254
Ana Cláudia Viegas Alves Ramires
2275
Filipe Lopes Gracias
2255
João Manuel Conceição Santos
2276
44,00 €
Eusébio Espada da Costa
2256
Luís Miguel Meira Marmelo
2277
2042
20,00 €
André Filipe B. dos Santos Alvim
2257
10,00 €
Augusto Domingos Monte Pereira
2278
489
Rudesindo Alves da Rocha
2258
Manuel Leão de Seabra
2279
Nuno André da Castro Gonçalves
2259
Luís Manuel César Pereira Gaito
2280
João Pires Fernandes
2260
Joaquim de Lima Pereira Gaito
2281
Sidónio Pedro F. Teixeira Coelho
2261
Sofia Cerqueira de Oliveira
2282
António de Castro Moreira
2262
Carlos José Alexandre Marques
2283
Bruno António Gameiro Correia Ratinho
2263
Analídio Guerreiro dos Santos Martins
2284
Bruno Sérgio dos Santos Floriano
2264
José Joaquim Capitão
2285
Fredique da Almeida Correia
2265
Ricardo Augusto Fraga Ferreira
2286
Manuel Gaspar de Araújo
2266
António Aparício da Silva
2287
Agostinho José Leite Pinto
2267
Maria Albertina M. C. Pedroso Couceiro
2288
João Américo Viegas Justo
2268
António Rodrigues Couceiro
2289
José Carlos Azinheiro Paiva
2269
Domingos Joaquim L. Dionísio
2290
João Manuel dos Santos Plácido
2270
Tiago Emanuel Vieira Pereira
2291
José Fernando Santos Farreia
2271
David Ribeiro de Sousa Geraldes
2292
Acácio Rodrigues Marmelo
2272
Paulo Rui da Silva Freire
2293
Joel da Costa Inácio
2273
José Maria Rodrigues Ferreira
2294
M.ª Helena C. M. Cardoso Perreia
2274
M.ª Manuela Coelho P. Reis
2295
Alguns conteúdos previstos para o próximo
número:
A entrevista com o Almirante CEMA será um tema
importante. Outra entrevista “na calha”, é com uma
figura singular, de um jovem de 90 anos, que temos
a honra de contar como nosso Sócio.
O lançamento do DVD “Fuzileiros – Quatro Séculos
de História” e o espectáculo de grande nível que
se lhe seguiu, “Trilogia Poética – Poesia Cantada”,
organizada pela nossa Divisão Cultural e da Memória
serão, também, temas centrais.
Na área das crónicas teremos as “Crónicas de Outros
Tempos – Ponte Aérea Nova Lisboa (Huambo)/Lisboa”
e “A Marinha…Navegando em Terra”.
Nos Contos & Narrativas contaremos com a “Estória
do Marinheiro E”.
Aguardamos os textos dos organizadores dos tradi­
cionais “almoços/convívios”, marcando mais um ano
de camaradagem das unidades (DFEs e Companhias)
com boas fotografias.
Contamos ainda que as nossas Delegações e Divisões
não se esqueçam de nos enviar o que pretendam ver
publicado na revista que é delas.
O Relatório de Actividades e Contas de 2013
da Direcção da AFZ, a apresentar à próxima
Assembleia-Geral, que também será electiva, terá o
seu destaque.
Os nossos colaboradores deverão continuar a marcar
presença com a qualidade dos seus textos e os nos­
sos fotógrafos, mesmo que amadores, presentearão,
por certo, os Sócios com a beleza das suas fotos.
Por fim, o “Almoço de Natal de 2013” da Associação
Nacional de Fuzileiros, do próximo dia 14 de Dezem­
bro, poderá constituir tema de capa.
Que todos colaborem é o nosso apelo!
O DESEMBARQUE • n.º 17 • Novembro de 2013 • www.associacaodefuzileiros.pt
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