O dono da bola e o dono do jogo

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O dono da bola e o dono do jogo
 O dono da bola e o dono do jogo
Fabio Matuoka Mizumoto
O dono da bola não manda no jogo, mas pode decidir o que será feito dela e quais regras
devem ser seguidas. Da mesma forma, o dono de uma empresa não deveria intervir no dia a
dia da gestão, mas aprovar o que os gestores irão executar e cobrar os resultados. Certamente
você já ouviu alguém dizer: “ninguém veste camisa, eu tenho que fazer tudo porque se ficar
esperando a minha equipe nada acontece” ou até mesmo: “eu quero muito fazer, mas sei que o
patrão vai querer fazer do jeito dele então é melhor esperar”. A boa notícia é que temos
solução para estes casos, basta aplicar um dos princípios da governança corporativa.
Este artigo aborda como a separação entre o dono da bola e o dono do jogo facilita a tomada
de decisão, melhora o foco em resultados e organiza o relacionamento com gestores. Se você
trabalha em uma empresa familiar, perceberá a importância desta prática para evitar desgastes
nos relacionamentos familiares e para tornar possível uma sucessão na gestão com êxito.
São donos da empresa quem é sócio, quem tem interesse no crescimento e na proteção do
investimento feito nos negócios. Se a empresa é controlada por diferentes sócios, pode ser
necessária a estruturação de um Conselho de Administração para representar os interesses dos
donos da empresa. Compete ao dono da empresa aprovar o que é proposto pelos gestores e
monitorar a sua execução, em outras palavras, o dono da empresa é dono da estratégia. Já o
dono da gestão, também conhecido como CEO (chief executive officer) no jargão empresarial,
é responsável por propor o plano de trabalho do ano, as metas das diferentes áreas de gestão
(por exemplo, financeiro, crédito, comercial, pessoas...) e de como atingir estes objetivos. Em
síntese, o dono da gestão é o dono da execução da estratégia aprovada pelos donos da
empresa.
Conselho de Administração
CEO
Dono do Negócio
(Estratégia)
Dono da Gestão
(Execução)
Gestão
Por que a interferência dos donos da empresa no dia a dia é prejudicial? Você já deve ter visto
o que acontece quando o cozinheiro recebe “dicas” dos convidados ao jantar sobre uma
receita que ele está preparando. Esses convidados podem ser os patrões que verdadeiramente
têm a expectativa que sua “dica” seja adotada para “melhorar” o resultado final. Aposto que o
resultado final é um desastre! Ainda pior é que muitas vezes não se sabe se a receita era boa,
se a execução foi correta, se haveria a necessidade de ajustes e, no limite, não há responsáveis
pelo insucesso.
O dono da bola pode se sentir no direito de entrar no jogo, mas até isto pode ser visto de outra
forma. Se há jogadores melhores, que se comprometem a encontrar caminhos efetivos para
trazer mais resultado do que o dono da bola, então é melhor deixar para estes jogadores. Se os
filhos do dono querem entrar no jogo, que sejam bons jogadores para que se possa cobra-los
pelos resultados sem interferir no como irão alcançar o resultado. Desta forma, todos
aproveitam o seu potencial ao máximo.
*O autor é sócio da Markestrat, professor no INSPER (Instituto de Educação e Pesquisa) e professor da Escola
de Economia da FGV. Para informações visite www.markestrat.org e www.iniciativanext.com.br
Fabio Matuoka Mizumoto é Mestre e Doutor em Administração pela FEA-USP (Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), respectivamente em
2004 e 2009. Sandwich na Olin Business School, Washington University in St. Louis em 2008.
Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz), em
2001.

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