trabalho do psicólogo clínico com crianças apresentando
Transcrição
trabalho do psicólogo clínico com crianças apresentando
TRABALHO DO PSICÓLOGO CLÍNICO COM CRIANÇAS APRESENTANDO DIFICULDADES SOCIAIS SERAFIN, Leticia Lisboa1 LAMPERT, Claudia Daiane2 VIDMAR, Marlon Francys² VICENZI, Carla Luisa² [email protected] RESUMO: O objetivo deste trabalho é entender como um Psicólogo deve agir e de que modo ajudar uma criança com dificuldade social, o que se deve fazer, e também descobrir o que leva a ela cometer esses atos. O trabalho foi feita através de quatro perguntas, direcionadas a uma psicóloga clínica e analisadas na literatura, tratando-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva, onde as perguntas foram formuladas conforme o assunto do mesmo. Viu-se que as crianças que possuem esses problemas, surgem principalmente pela falta de atenção familiar e por isso possuem essa mudança de comportamento. Por fim, o psicólogo deve trazer a esta criança muito afeto, atenção e carinho, que é o que realmente ela precisa para mudar suas atitudes e viver bem. Palavras-Chave: Crianças Anti-sociais; Psicólogo Clinico; Perdas Essenciais. ABSTRACT: The objective of this work is to understand as a psychologist should act and how to help a child with social difficulties, what to do, and also find out what it takes to commit these acts. The work was done through four questions, directed to a clinical psychologist and analyzed in the literature, in the case of a qualitative and descriptive research, where questions were formulated according to the subject matter hereof. We have seen that children who have these problems arise mainly the lack of family care and therefore have this change in behavior. Finally, the psychologist must bring this great affection child, attention and affection, which is what she really need to change their ways and live well. Keywords: Anti-social children; Clinical psychologist; Core losses. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Psicologia é a ciência que estuda o ser humano, seus comportamentos e funções mentais. Este estudo abrange diversas áreas que se pode atuar, dentre ela a Psicologia Clínica, que trabalha diretamente com o paciente em um consultório, usando testes e outros métodos de avaliação. 1 2 Acadêmica do curso de Psicologia – Faculdades IDEAU Docente do curso de Psicologia – Faculdades IDEAU 2 Este trabalho tem como assunto principal a relação do Psicólogo com crianças que não tem bom desempenho escolar, social e principalmente familiar, muitas vezes tendo por motivo principal a família dessa criança. A falta de acompanhamento na escola, em seus afazeres, consequentemente podem causar um problema psicológico, podendo chegar a um estado grave. Essas crianças impossíveis (como são normalmente chamadas), reagem de forma agressiva quase que diariamente, muitas vezes sem motivos, se envolvem com drogas, roubos, trafico, brigas, e outros fatos em que não apresentam nada de bom. E é por essa razão que deve ter alguém que as acompanhe em seu dia-a-dia. São diversos os sintomas dessas crianças, dentre eles estão as dificuldades de aprendizagem, agressividade em casa e na escola, hiperatividade, atrasos no desenvolvimento motor (atrasos para falar, andar, etc.), enurese ou ecoprese diurna ou noturna, pesadelos, dificuldades para dormir e distúrbios alimentares, dentre outros (MAIA, 2007). O grande problema dessas crianças vem de seu passado, algo que faltou em seu crescimento, o que faz com que ela tenha sua personalidade afetada, talvez até um acontecimento trágico que ficou guardado em sua memória, provocando uma revolta em si mesma. A falta de um pai ou uma mãe é o que mais pode resultar esse acontecimento, pois são partes importantes para que a criança esteja bem com si mesma e sinta uma proteção exercida pela família. Os comportamentos anti-sociais acontecem até nos bons lares e que tudo aquilo que leva um adolescente ou um adulto a um julgamento ou a uma prisão, teve início numa perda de algo que essas pessoas registram como sendo algo que antes possuíam e que lhes foi retirado. (MAIA, 2007) O melhor profissional para lidar com um caso dessa relevância é o Psicólogo, porque ele desenvolve métodos de como se aproximar da criança, envolvendo-a para falar sobre os acontecimentos que marcaram-na e também agir de uma forma compreensiva com a criança 3 atendida. Ele tem a função de compreender a criança, através de seu passado e das experiências negativas que ela passou, analisando o porquê e de que forma isso aconteceu, resultando a uma forma de acompanhamento para o que a criança está passando. O objetivo desse trabalho é entender como um Psicólogo deve agir e de que modo ajudar uma criança com essa dificuldade social, o que se deve fazer, e também descobrir o que leva a ela desenvolver este comportamento. Consequentemente ao entender esse processo, fazer com que a criança mude esse lado e possa construir uma vida nova. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva, composta por uma psicóloga clínica que trabalha com crianças e atende na APASPI (Associação dos Surdos de Paraí) em Paraí-RS. Foi elaborado um questionário pelo pesquisador, formado por perguntas abertas que visam, como tratar uma criança problemática, o que e como reagir em relação a família da criança que é atendida. No dia 27 de maio de 2015 (quarta-feira), o pesquisador foi até a APASPI, onde se encontrava a Psicóloga. O questionário se baseava em fatos que mais vieram e veem a acontecer, historias mais frequentes, tudo tendo um vínculo com crianças que possuem dificuldades em se relacionar com a sociedade. O estudo contou com uma psicóloga, com graduação em Psicologia Clínica, especialista Acupuntura, Saúde da Família e Comunidade, devidamente cadastrada no órgão responsável, atuante na área clinica durante o período de treze anos. Cabe ao profissional atuante na área clínica, a realização de atendimento a pacientes com diversos transtornos afim de sanar seus problemas. As perguntas eram relacionadas aos principais passos para tratar uma criança antissocial, os motivos mais frequentes relacionados a esse problema nas crianças, as atitudes da família da criança que é atendida no consultório e os principais desafios encontrados nessa área. 4 Através da entrevista direcionada para a Psicóloga, foi estudado na literatura, as perguntas e as respostas que foram elaboradas pelo pesquisador, e por fim feita uma discussão do resultado obtido da pesquisa deste artigo. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Entendemos que a psicologia clínica se distingue das demais áreas psicológicas muito mais por uma maneira de pensar e atuar, do que pelos problemas que trata. O comportamento, a personalidade, as normas de ação e seus desvios, as relações interpessoais, os processos grupais, evolutivos e de aprendizagem, são objeto de estudo não só de muitos campos da psicologia como também das ciências humanas em geral (MACEDO, 1984, p.8). O campo da Psicologia Clínica é o maior campo de trabalho para um psicólogo. Ele pode trabalhar com Saúde mental da criança, do adulto e da terceira idade, Problemas de aprendizagem, Distúrbios emocionais, Abuso de álcool e drogas e Psicologia da saúde mental. Os psicólogos clínicos podem trabalham em Clinicas, Hospitais, Consultórios particulares e até em Universidades. Quando ainda estudantes, na Faculdade de psicologia, recebem treinamento aprofundado nas várias abordagens, teorias e técnicas disponíveis. (SOUZA, 2013) Dentre os depoimentos dados pela entrevistada, após a análise e interpretação emergiram quatro categorias tendo como finalidade a abordagem da Psicologia Clínica com ênfase em crianças. O primeiro ponto a ser discutido, é como se deve tratar em primeira ocasião uma criança que possui esses problemas, de não ter um bom relacionamento, estar sempre brigando com as outras crianças, quando ela vai a psicóloga. Segundo Subtil (2011), a relação criada pelo profissional com seu paciente, quando afetuosa e valorizada, favorece o desenvolvimento de estados emotivos positivos, que facilitam a reabilitação, e oferecer atenção, carinho, respeito, amor, confiança e afeto foi visto pelos pacientes como ação essencial para sentirem-se motivados a continuar o tratamento. “Inicialmente o psicólogo deve criar um vínculo entre Paciente x Psicólogo, porque dessa forma a criança vai sentir que está com alguém de confiança, onde pode contar o que se passa, obtendo uma relação mais aberta. O próximo passo é entrar em 5 contato com a família, pois é ela que está presente no dia-a-dia da criança e sabe quais são as suas atitudes decorrentes. Através desses passos, aos poucos se ira chegar mais perto de adquirir o conhecimento do problema, e identificar a fragilidade existente nessa criança.” (Psicóloga) O segundo ponto em que foi discutido entre o pesquisador e o Psicólogo, foi o porquê dessas atitudes que essas crianças tem e os casos que mais são frequentes em relação a isso. A base da tendência anti-social resulta de uma experiência inicial boa que foi perdida e o aspecto essencial desta é a criança ter alcançado a capacidade de perceber que a causa do desastre foi devida a uma falha de ambiente. Isso provoca a distorção da personalidade e o impulso de buscar a cura numa nova provisão ambiental. O abandono, não sofrido pela maioria das pessoas, constitui a base da tendência anti-social. A criança perde de vista o objeto e passa a busca-lo no meio que a deixou só e triste (MAIA, 2007). Na privação, ocorre a perda de algo bom que havia sido positivo na experiência da criança e que lhe foi retirado, no período de dependência relativa. Nessa fase, já há uma percepção da mãe, da “mãe objeto”, uma noção de estar sendo cuidada, uma certa discriminação entre o “eu e o não-eu”. Essa retirada é uma falha ambiental que se estende por um período de tempo maior do que aquele durante o qual a criança consegue manter viva a recordação da experiência, ou seja, a memória inconsciente com a manutenção da imago materna (JUSTO, BUCHIANERI, 2010). O que esse trecho de um artigo quer dizer, é que crianças que não possuem família, não possuem um pai, perderam mãe, irmãos ou alguém que tem uma grande importância na vida dessa criança, ela perde uma parte dela, pois nessa fase elas precisam de alguém que as acompanhe, faça com que ela se sinta especial, lhe ajude quando precisa e simplesmente seja uma família para ela. As relações de apego são internalizadas pela criança durante a infância e trazem reflexos para a vida adulta. Filhos de pais negligentes, que não se preocupam em oferecer cuidados básicos à criança como alimentação, higiene, segurança e afeto acabam por desencadear em seus filhos o tipo de apego inseguro, que tão logo a criança se desenvolva, mostrará em seu comportamento características relativas a essas falhas. As consequências da formação de um apego inseguro poderão ser visualizadas ao longo do crescimento da criança, quando esta 6 estiver frente a tarefas escolares desafiadoras e diante das exigências existentes no relacionamento e socialização com as demais crianças (BEE, 1997). A tendência antissocial está relacionada com a de privação e com o estágio de dependência relativa. Os quadros mais graves, como as psicoses infantis, estão relacionados com privação. A privação apresenta um aspecto diferente da de privação. Diz respeito a falhas em um estágio mais precoce de desenvolvimento; na fase de dependência absoluta de cuidados maternos, na qual a criança jamais teve a experiência de um ambiente facilitador e de uma boa provisão ambiental (JUSTO, BUCHIANERI, 2010). Essa interpretação é fortalecida pelos resultados relativos à vida familiar, pois o grupo com problemas apresenta maior índice de problemas nas relações parentais, com mais indicadores de instabilidade familiar, uma condição que vem sendo apontada como particularmente prejudicial ao desenvolvimento da criança (ACKERMAN et al.,1999). A presença de uma relação saudável da criança com seus pais é um dos fatores importantes na prevenção de psicopatologias, estando diretamente ligada à qualidade dos cuidados e das relações parentais. As relações familiares desempenham um importante papel na mediação do funcionamento cognitivo e emocional de seus membros (TEODORO, CARDOSO, FREITAS, 2009). “Em meu ponto de vista o que mais causa esses problemas de dificuldades sociais em crianças é a falta de atenção dos pais, o não acompanhamento no conteúdo de aula, a negação da afetividade que a criança propõe aos pais, a falta de amor e carinho para com a criança. O abandono também é um motivo pela qual a criança sente muito triste e fica com uma falta de algo, que também pode ser relacionada a atenção. Os pais hoje em dia só se preocupam com o ganho de dinheiro, então trabalham o dia inteiro, e quando chegam em casa estão exaustos. Consequentemente a criança se sente com necessidade de um contato da família, e muitos pais se negam, retribuindo esse afeto com coisas materiais, o que só prejudica os sentimentos da criança. Essa atitude praticada pelos pais é muito preocupante porque por mais que eles saibam que está errado, não param para pensar que uma educação e um carinho ao seu filho é muito importante para um crescimento saudável, nem pensam nas consequências de um dia a criança ficar doente psicologicamente. Jamais algo material irá substituir o afeto que uma criança precisa receber da família.” (Psicóloga) 7 Outro ponto que também foi discutido, é as atitudes da família quando é atendida no consultório. A literatura mostra que os sentimentos mais comuns, que os pais vivenciam então, são: choque, negação, raiva, tristeza e culpa, até que um novo tipo de equilíbrio se reestabeleça, permanecendo sempre um sentimento de tristeza, de mágoa que se manifestará e/ou se intensificará a cada novo fato. (PETEAN & NETO 1998) Pelo que se entende, os pais não aceitam facilmente a diferença dos filhos, porque qual pai vai imaginar que um filho possui uma deficiência e é de uma forma diferente das outras crianças, é um sentimento inexplicável, uma angustia enorme para eles. Por isso o psicólogo deve tornar esse acontecimento aceitável para os pais, fazendo com que não sofram com esse problema. São necessárias modalidades de atendimento preventivo de desenvolvimento de desordens de conduta infantil que atendam aos pais no momento em que estes procuram serviços imprescindíveis para a saúde da criança. Assim, os pais poderiam receber orientações sobre como proceder com seus filhos, no mesmo local em que consultam um profissional de obstetrícia e/ou pediatria, por exemplo (SILVEIRA et al., 2003) O que os profissionais de saúde (incluindo-se aqui psicólogos e professores) falam para a família ao diagnosticarem algum tipo de problema na criança influencia fortemente as interações que os pais e familiares estabelecem com ela, tendo um grande efeito sobre as condições de cuidados e, consequentemente, de desenvolvimento que serão propiciadas a essa criança (RORIZ et al., 2005). Sabe-se que um profissional é muito bem visto pela sociedade, então quando um psicólogo estabelece um objetivo para que os pais se propusessem a fazer, irá se tornar para os pais um compromisso, como na ajuda sentimental e psicológica da criança. A negação é o mecanismo de defesa mais frequentemente utilizado pelos pais. A recusa em aceitar o diagnóstico nem sempre aparece explícita nos relatos. Identificar traços fisionômicos (patológicos) da criança com os traços característicos da família; justificar o "atraso" de desenvolvimento em função de um problema orgânico ou simplesmente ter convicção de que o que foi falado não acontece, são algumas das formas de manifestar a negação (PETEAN & NETO, 1998). 8 “Em minha experiência vejo que a primeira ação é a negação de que o filho (a) tem algum problema psicológico. É necessário um pouco de tempo para os pais obterem uma aceitação desse problema e que não se torna muito fácil. Quando conseguem aceitar isso, há um reconhecimento da falta de limites, falta de acompanhamento e consequentemente um abandono da criança, que foram um dos motivos para o problema do filho (a). O psicólogo deve ter paciência em relação ao compreendimento dos pais referente a dificuldade dos filhos, pois não existe pessoas melhores para apoiar e ajudar uma criança do que a sua própria família.” (Psicóloga) Um outro ponto que foi discutido, era sobre os principais desafios que são encontrados nessa profissão, em todo o decorrer do processo profissional do Psicólogo com crianças. O começo de todo o processo de tratamento da criança é difícil, porque o psicólogo se sente um pouco inseguro a respeito do problema que se apresenta com ela, e principalmente na maneira de se comunicarem. “A parte mais difícil é o começo de tudo, porque a criança não se sente à vontade, portanto não fala claramente e de maneira compreensível com o psicólogo. Também não fala muito em relação a sua vida, pois ainda não adquiriu uma relação de confiança com o psicólogo. Também é difícil esse início, porque o psicólogo fica meio insegura para o modo de tratamento com o paciente, se sente com algumas dificuldades de compreendimento, mas com o tempo fica tudo muito fácil.” (Psicóloga) Outro ponto que foi comentado, é a questão do preconceito principalmente das pessoas conhecidas, que não confiam geralmente em pessoas conhecidas. O preconceito é bem frequente na questão do local em que se vai atuar, principalmente com pessoas conhecidas, talvez porque não acham que você é profissional o suficiente para atende-lo corretamente, que é um simples conhecido. “A gente cresceu ali, sempre morou ali, e precisa atender pessoas que te conhecem desde criança, isso é difícil para muitos, pois as vezes as pessoas não querem ser atendidas pela Psicóloga que eles conhecem porque acham que não vai dar certo, ou 9 não confiam. Acho que elas duvidam do teu potencial, mas mais adiante elas vão percebendo que somos muito competentes a ponto de ajuda-las a se sentirem melhores.” (Psicóloga) Outro desafio que a Psicóloga citou foi a dificuldade do toque físico. Isso porque as pessoas não querem ser tocadas por alguém praticamente desconhecido, nem que seja por uma boa vontade de um psicólogo, o fato é que umas desconfiam das outras. Muitas pesquisas e experiências comprovam que o toque é fundamental, principalmente para os bebês e o seu completo desenvolvimento, mais importante até que comida. Mas eles não são os únicos que sentem falta de toque. Um corpo adulto que não recebe um toque carinhoso, amoroso, caloroso, aos poucos vai ficando cinza, perdendo brilho (não são metáforas, isso tudo pode ser observado), a pele envelhece mais rápido, e juntamente com essa transformação da pele, vai ocorrendo também a transformação da psique e a pessoa vai aos poucos virando pó, definhando, ficando depressiva, amarga, como as plantas sem água e luz. (PASHUPATI, 2007) E a respeito do toque no início se torna difícil por causa da falta de conhecimento sobre ambos paciente e psicólogo, consequentemente existe uma falta de confiança. “É muito difícil a questão do toque, também é algo que precisa de um tempo para acontecer, acredito que o paciente se sinta um pouco insegura em relação a isso. Vejo que o toque entre paciente e psicólogo é essencial, demonstra um sinal de afeto, carinho, e que se importa com o paciente, isso levanta o autoestima da pessoa. E o toque é essencial para desenvolver a confiança mais rapidamente.” (Psicóloga) Através dessa entrevista, percebemos que não é fácil lidar com uma criança pois requer muitos cuidados. Vemos que os principais motivos de uma criança possuir dificuldades com a sociedade no seu modo de agir, tanto em casa, quanto na escola é por causa do abandono familiar, ou como disse a Psicóloga, a falta de atenção dos pais. É frequente encontrarmos, na literatura especializada, a desorganização familiar como a única responsável pelo que, essa mesma literatura, denomina fracasso escolar e adaptativo das crianças. A desorganização familiar aparece, também, como toda a fonte da violência e da 10 marginalidade dos jovens, ou melhor, ela é responsável pelo fracasso moral de seus membros. (MELLO, 1992) Percebemos através da entrevista e de alguns artigos, que o principal motivo pelo qual as crianças desenvolvam uma diferente forma de agir, é pelo fato de que não recebe o carinho necessário, não se torna importante para os pais, e acaba ficando sem a atenção que um pai deveria proporcionar a um filho. A tendência antissocial manifesta, sobretudo, a esperança de recuperar o vínculo perdido na transição do relacionamento simbiótico com a mãe para os relacionamentos com um mundo mais ampliado e complexo, habitado por outras díades. Ao invés de o mundo ser tomado como um prolongamento e extensão vantajosa do provimento materno é tomado como usurpador dessa fonte provisional, impondo a escassez e o sofrimento. Dominadas por essa crença, as crianças estão constante e inconscientemente exigindo a cura pela provisão ambiental, mas são incapazes de utilizá-la. Ao responsabilizar o ambiente como causa de seus sofrimentos, atuam, agridem, na tentativa de reaverem o que acreditam lhes terem sido tirado. Na delinquência, já não há tanta esperança e, consequentemente, a atuação no ambiente se torna mais cristalizada, vingativa e autóctone (JUSTO et al., 2010) Se a criança teve alguma perda na infância, a falta de um pai, uma mãe, ou qualquer parte da família, isso vai gerar um sofrimento interior na criança que através da esperança que ela tem no ambiente, de que tudo vai se resolver, irá ser contraditório com o que ela desejaria. Assim virão as consequenciais desta perda. É reconhecido como importante o papel do pai no desenvolvimento da criança e a interação entre pai e filho é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento cognitivo e social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade. A experiência clínica tem mostrado que, na vida adulta, as representações dessa vivência insurgem nas várias possibilidades de construção psicoafetiva, com repercussão nas relações sociais (BENCZIK, 2011). Por isso, se um pai valoriza seu filho, ele vai se sentir com valor para seu pai, isso vai desenvolver um ânimo para sempre procurar um crescimento melhor, tanto para a sua aprendizagem na escola, quanto na relação com as pessoas em seu dia-a-dia. Algo também muito importante para uma criança é o companheirismo, porque faz com que a criança perceba que não está sozinha e tem uma proteção perto de si. 11 Para melhorar o funcionamento da criança com distúrbio de aprendizagem e problemas de comportamento parece não ser suficiente oferecer tratamento psicoterápico, uma vez que este oferece à criança estratégias para lidar com estressores, porém não estimula a criança em déficits específicos de problemas de aprendizagem (ROSA et al., 2000). O psicólogo deve proporcionar a criança essa atenção que foi perdida, lhe dar um sentimento de amizade e afeto para ela, fazendo com que esta criança construa uma confiança para com o seu psicólogo 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O proposito principal deste trabalho foi descobrir o motivo pelo qual levam as crianças a terem dificuldades de relacionamentos, serem muito agressivas e obterem um desempenho em aula dificultoso. Também foi discutido como um psicólogo clinico deve tratar crianças assim, e de que forma se relacionar com elas. Descobriu-se que a maioria das crianças que apresentam esses comportamentos, está relacionado ao ambiente familiar, o modo que os pais o tratam, se interagem com a criança diariamente, ou seja, se tem contato com seus afazeres. Viu-se que os pais dessas crianças, acham que devem trabalhar para dar objetos materiais para a criança, tendo em mente que esses objetos irão substituir o afeto que é um sentimento necessário dos pais aos filhos, consequentemente deixando faltar a atenção a criança, e trazendo a ela uma forma de abandono. Em relação ao modo de tratar a criança, o psicólogo deve formar um vínculo com a criança fazendo ela se sentir confiante para se abrir, e contar ao psicólogo qual é o seu problema. Deve-se tratar a criança com muito afeto, amor, carinho e atenção, pois é o que ela precisa e o que ela não tem em casa. Todos esses cuidados podem vir a resultar um processo de cura emocional da criança. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACKERMAN, B. P., et al. Family instability and the problem behaviors of children from economically disadvantaged families. Developmental Psychology, v.35, p.258- 268, 1999. 12 BEE, Helen. O ciclo Vital. Porto Alegre: Artmed, 1997. BENCZIK, B. P. B.; A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. psicopedag. v.28 n.85, p. 67-75, 2011. JUSTO, J. S., BUCHIANERI, L. G. C. A constituição da tendência antissocial segundo Winnicott: desafios teóricos e clínicos. Revista de Psicologia da UNESP, v.9 n.2, 2010. MACEDO, R. M. S. de. Psicologia, instituição e comunidade: problemas de atuação do psicólogo clínico. In: MACEDO, R. M. S. (org.). Psicologia e Instituição. Novas formas de atendimento. São Paulo: Cortez, 1984. MAIA, M. V. C. M.; et al. Crianças 'impossíveis' - quem as quer, quem se importa com elas? Psicologia em Estudo, Maringá, v. 12, n. 2, p. 335-342, maio/ago. 2007. MELLO, S. L. Classes populares, família e preconceito. Psicol. USP v.3 n.1-2, p. 123-130, 1992. PASHUPATI, A Importância do Toque, 2007. PETEAN, E. B. L.; NETO, J. M. P.; Investigações em aconselhamento genético: Impacto da primeira notícia - a reação dos pais à deficiência. Medicina, Ribeirão Preto, v.31; p. 288-295, abr./jun. 1998. RORIZ, T. M. S., AMORIM, K. S., & ROSSETTI-FERREIRA. Inclusão social/escolar de pessoas com necessidades especiais: múltiplas perspectivas e controversas práticas discursivas. Psicologia USP, v.16 n.3, p.167-194, 2005. ROSA, L. T. B.; et al. Caracterização do atendimento psicológico prestado por um serviço de psicologia a crianças com dificuldades escolares. Estud. psicol. v.17 n.3, p. 5-14 , set./dez. 2000. SILVEIRA, J. M., SILVARES, E. F. M. MARTON, S. A.; Programas preventivos de comportamentos anti-sociais: dificuldades na pesquisa e na implementação. Estud. psicol. v.20 n.3, p. 59-67, Set./Dec. 2003. SOUZA, Felipe; O que é Psicologia Clínica?, 2013. SUBTIL, M. M. L.; et al. O relacionamento interpessoal e a adesão na fisioterapia. Fisioter. mov. v.24 n.4, p. 745-753 Oct. /Dec. 2011. TEODORO, M. L. M.; CARDOSO, B. M.; FREITAS, A. C. H.; Afetividade e conflito familiar e sua relação com a depressão em crianças e adolescentes. Psicol. Reflex. Crit., v.23 n.2, p. 324-333, 2010.