introdução ao mercado de café em dose única e perspectivas para

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introdução ao mercado de café em dose única e perspectivas para
INTRODUÇÃO AO
MERCADO DE CAFÉ EM
DOSE ÚNICA E
PERSPECTIVAS PARA O
BRASIL
Lavras, MG
Agosto de 2012
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APOIO:
Bureau de Inteligência Competitiva do Café
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Pedro Henrique Abreu Santos – Graduando em Agronomia (UFLA). Analista do Bureau de Inteligência
Competitiva do Café.
Eduardo Cesar Silva – Mestre em Administração (UFLA). Coordenador do Bureau de Inteligência
Competitiva do Café.
Prof. Dr. Luiz Gonzaga de Castro Junior – Universidade Federal de Lavras (UFLA). Coordenador do Centro
de Inteligência em Mercados.
INTRODUÇÃO
As necessidades do mundo atual exigem adaptações e mudanças nos mais
diversos setores da sociedade. As pessoas gastam muito tempo com o trabalho,
pesquisas, estudos e deslocamento, dentre outras atividades. O resultado disso é que os
indivíduos possuem cada vez menos tempo para outras atividades, como o preparo de
alimentos. Nesse contexto é crescente o número de fast-foods, bem como o consumo de
alimentos enlatados, congelados e de preparo fácil e rápido.
O café em “dose única”, também conhecido como monodose ou single cup coffee,
em inglês, une praticidade com qualidade. Enquanto produzir uma xícara de café do modo
tradicional pode levar até 10 minutos, uma xícara de café produzida a partir das singlecups leva apenas 30 segundos. Além do tempo, o preparo do café tradicional, torrado e
moído, suja utensílios e exige a presença constante da pessoa que o prepara. Isso não
acontece com o café de dose única, onde é preciso apenas colocar a cápsula, ou sachê,
dentro da máquina e apertar um botão. Além de toda a praticidade oferecida, as empresas
do setor prezam por oferecer um produto diferenciado, com qualidade superior aos cafés
torrados e moídos tradicionalmente comercializados no varejo.
O mercado de café em dose única apresenta um crescimento muito significativo.
De acordo com dados da consultoria internacional Euromonitor, no ano de 2011 as
vendas totais de café no varejo, que incluem o solúvel e as vendas das cafeterias,
apresentaram crescimento de 17,5%. Quando considerado apenas o segmento de café
em dose única, o crescimento foi de 31,3%1. Nos EUA, 7% de todas as xícaras de café
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consumidas em 2011 foram preparadas a partir de máquinas de café em dose. Em 2010 o
percentual havia sido de 4%2. Além disso, a crescente entrada de empresas no setor
indica que o mercado é promissor. Recentemente a Starbucks anunciou o lançamento do
seu próprio sistema de café em dose única3.
OBJETIVO
Esse relatório objetiva fornecer informações relevantes sobre o mercado de café
em dose única, como o seu desenvolvimento histórico e suas perspectivas. As single cups
são uma tendência mundial, o conhecimento deste mercado é fundamental tanto para as
indústrias como para os produtores. Desta forma, além das informações básicas sobre o
setor, o presente estudo pretende fomentar uma discussão sobre o desenvolvimento de
uma indústria nacional de café em dose única.
O tema é amplo e por isso sua análise não se limitará apenas a este texto. Este é
apenas o primeiro de uma série de relatórios sobre o assunto que será publicada pelo
Bureau de Inteligência Competitiva do Café. Os próximos relatórios irão aprofundar a
discussão e oferecer casos de empresas bem sucedidas em explorar o segmento.
DETERMINANTES DO CONSUMO DE CAFÉ EM DOSE ÚNICA
Existe um conjunto de fatores globais que determinam as tendências de consumo
de alimentos neste início do século XXI. Esses fatores e tendências ajudam na
compreensão do sucesso do café em dose única, por isso serão brevemente discutidos.
De acordo com a pesquisa Brasil Food Trends 2020 (BFT 2020), elaborada pelo
Fiesp e pelo Ital1, e publicada em 2010, existem 5 fatores principais que determinam o
consumo de alimentos no mundo. São eles: população, urbanização, demografia, renda e
educação/informação.
As projeções de continuada elevação da população mundial ao longo das próximas
décadas, por si mesmas, já indicam crescimento da demanda por alimentos. Com mais
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pessoas no planeta, mais alimentos serão necessários. Mas é preciso considerar também
a urbanização.
Quando os habitantes rurais deixam o campo em direção as cidades, deixam
também o cultivo de seus próprios alimentos. Dessa forma, uma parcela da população,
que produzia para seu consumo próprio, deixa de produzir e passa a consumir alimentos
cultivados por terceiros. Desde o final da II Guerra Mundial, diversos países, entre eles o
Brasil, observam sua população rural passar de majoritária para minoritária. Nas próximas
décadas a tendência continuará com força, mas dessa vez na China e na Índia, dois
países em rápido crescimento econômico. Com a elevação da população urbana nesses
dois países, a demanda por alimentos terá mais um fator de crescimento.
Os aspectos demográficos também tem sido responsáveis por alterar a demanda
de alimentos. O envelhecimento médio da população, o menor número de filhos por casal,
a maior participação das mulheres na força de trabalho e o crescente número de adultos
que moram sozinhos são fatores capazes de criar demanda por novos tipos de alimentos.
O aumento da renda, principalmente nos países em desenvolvimento, é outro
importante fator. A elevação da renda, em um primeiro momento, garante o incremento
quantitativo dos alimentos consumidos. Nesse primeiro estágio a dieta é concentrada em
produtos mais baratos, como cereais, açúcar e produtos de processamento básico. Com
acréscimos no nível de renda, passam a ser consumidos produtos de industrialização
mais simples e carnes de aves. No estágio seguinte são incorporadas as carnes suína e
bovina, frutas e hortaliças. Nos níveis mais elevados de renda, os atributos que vão além
dos valores nutricionais ganham importância, como sustentabilidade, origem e outros.
Por fim, a elevação da educação e do acesso à informação também é capaz de
alterar qualitativamente o consumo de alimentos. Indivíduos com maior nível de educação
e maior acesso à informação demonstram maior preocupação em manter uma
alimentação saudável e, também, por comprar alimentos certificados.
Esses cinco determinantes fundamentam as cinco categorias de tendências em
alimentação identificadas pelo Brasil Food Trends 2020, que são:
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1.
Sensorialidade e prazer
2.
Saudabilidade e bem estar
3.
Conveniência e Praticidade
4.
Confiabilidade e Qualidade
5.
Sustentabilidade e Ética
Essas categorias foram definidas com base nos principais estudos internacionais
sobre tendências de alimentação e se aplicam à realidade brasileira. No caso específico
do café em dose, duas delas parecem explicar muito bem o sucesso desse novo método
de preparo: “conveniência e praticidade” aliada a “sensorialidade e prazer”.
De acordo com o BFT 2020, a demanda por “conveniência e praticidade” é
decorrente do ritmo de vida dos grandes centros urbanos e das mudanças na estrutura
tradicional das famílias. O trabalhador contemporâneo possui pouco tempo para se
dedicar ao preparo de refeições, assim, busca alternativas mais práticas como alimentos
prontos e semi-prontos, alimentos para preparo no forno micro-ondas e também serviços
de delivery. Por sua vez, a tendência de “sensorialidade e prazer” esta relacionada ao
aumento da educação e renda da população. Nessa tendência, as artes culinárias e as
experiências gastronômicas são valorizadas. É observado o crescimento nos segmentos
gourmet e premium e também há espaço para alimentos sofisticados destinados aos
consumidores emergentes.
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Figura 1 – Alimentos de preparo rápido e prático são uma das principais tendências em
alimentação. Fonte: Divulgação.
Ao analisar o segmento de café em dose, a primeira característica a se destacar é
a praticidade. As máquinas de café em cápsulas preparam a bebida com rapidez e sem
uso de outros utensílios. A extração de apenas uma xícara por vez evita desperdícios e é
excelente para solteiros ou apreciadores casuais da bebida. No entanto, apenas a
praticidade não é suficiente para explicar o enorme crescimento das vendas de cápsulas
de café pelo mundo. O café solúvel, por exemplo, também oferece grande praticidade,
com a vantagem do baixo custo: basta aquecer uma xícara de água e diluir uma pequena
colher de grânulos para preparar a bebida. Mas, apesar de oferecer praticidade e
economia, o café solúvel carece de qualidade no produto final e é essa a grande
vantagem das single cups.
As principais linhas de máquinas de café em dose no mercado mundial, como
Nespresso, Nescafé Dolce Gusto, Phillips Senseo e Tassimo, por exemplo, não oferecem
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apenas uma xícara de café, mas uma xícara de café de alta qualidade. Algumas preparam
café espresso, o que já é um diferencial, enquanto outras produzem café coado de alta
qualidade, extraído sob pressão. Todas as marcas fazem o seu marketing ressaltando a
qualidade da bebida, aspecto que precisa estar presente para justificar os elevados
custos das máquinas e das cápsulas. Ainda com relação à qualidade, alguns modelos
preparam bebidas diferenciadas, como cappuccinos, e podem até vaporizar o leite. Assim,
a análise da proposta dos principais modelos do mercado permite concluir que a
qualidade é um dos focos do segmento.
Conclui-se, então, que o consumo de café em dose única atende duas das
principais tendências da alimentação moderna: “sensorialidade e prazer” e “conveniência
e praticidade”. Por oferecer aos consumidores uma alternativa para suprir essas duas
demandas, a indústria de café construiu um segmento muito bem sucedido.
Figura 2: Determinantes da demanda de alimentos e principais tendências da alimentação.
Fonte: Brasil Food Trends 2020.
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HISTÓRICO
Nos últimos três séculos, o café se firmou como uma bebida popular tanto no
ocidente quanto, mais recentemente, no oriente. Com a chegada da bebida à Europa e a
posterior liberação do consumo por parte do papa Clemente VIII 5 nos fins do século XVI, o
café se tornou uma bebida amplamente difundida nas metrópoles europeias, bem como
nas colônias.
No século XVII surgem as primeiras cafeterias na Europa, sendo a mais antiga
fundada na Itália em 16456. Já no ano de 1668, o café já era mais consumido que a
cerveja em Nova Iorque7.
Já nos séculos XVIII e XIX surgiram diversas empresas torrefadoras como Douwe
Egberts, fundada em 1753, e a Eight O´clock Coffee Company fundada em 1859. Essas
empresas existem até os dias de hoje e foram pioneiras na torrefação de café.
Posteriormente, o advento do século XX representou uma verdadeira evolução na
industrialização do café. Em 1900 surge o empacotamento a vácuo que proporcionou uma
maior possibilidade de armazenamento do café industrializado e também a conservação
do aroma do produto. Essa forma de empacotamento é amplamente utilizada por muitas
torrefadoras atualmente.
Em 1901 surgem os primeiros cafés solúveis. Essa forma prática e rápida de
preparar o café foi muito propícia para a sociedade daquela época que já passava por
transformações profundas em relação aos séculos anteriores. O café solúvel foi difundido
principalmente pela Nestlé através da marca Nescafé que logo alcançou grande sucesso
de vendas sendo atualmente a marca mais cara da multinacional suíça, avaliada em
U$12,8 bilhões8.
Já na década de 1970, surgem as single cups que revolucionaram o setor de café e
que atendem muito bem as necessidades atuais. As primeiras cápsulas foram fabricadas
em 1970 pelo suíço Jean-Paul Gaillard que, até então, trabalhava no instituto de
pesquisas Batelle. Em 1976 a empresa suíça Nestlé comprou os direitos e registrou a
patente do produto naquele mesmo ano. Em 1986 a Nespresso é lançada e dois anos
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mais tarde, a marca já dava lucros para a Nestlé9. Desde sua fundação, a Nespresso já
vendeu mais de 20 bilhões de cápsulas no mundo todo.
Entretanto, a partir da década de 1990 outras empresas passam a investir forte no
segmento, como a Sara Lee (atualmente Douwe Egberts Master Blenders), a Ethical
Coffee, Kraft Foods, Lavazza e outras. Essas empresas estimularam a concorrência e o
avanço tecnológico do setor de café em dose única.
Nos Estados Unidos, o segmento foi promovido com o surgimento das máquinas
Keurig. Elas surgiram em 1990 e foram posteriormente compradas e registradas pela
companhia Green Mountain Coffee Roasters, que é atualmente a maior empresa do setor
nos Estados Unidos.
Desta forma, é possível considerar a Europa e a América do Norte os principais
nichos de comercialização de single cups, apesar de o mercado estar em expansão para
países emergentes.
As mudanças tecnológicas nas máquinas de café em dose acontecem de forma
muito rápida. As empresas lançam novos modelos a cada dia e eles são cada vez mais
eficazes.
MODELOS PARA PRODUÇÃO DE SINGLE CUPS: “ESE” E “FECHADO”
Uma das características do setor de single cups é a diversidade de produtos que as
empresas oferecem aos clientes. Os sabores e aromas das cápsulas são os mais
variados e a tecnologia empregada nas máquinas podem diferir muito de uma empresa
para outra.
Existem basicamente dois modelos de negócios para café em dose única: Easy
Serving Espresso (ESE) que é um modelo aberto, que pode ser usado por qualquer
empresa interessada, e o “modelo fechado”, onde o fabricante desenvolve sua própria
tecnologia e a protege através de patentes, reservando para si a exclusividade na
fabricação e comercialização de cápsulas e máquinas compatíveis.
O modelo ESE, também conhecido como “café em sachê”, é constituído por café
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envolvido em filtros de papel. Cada sachê contem aproximadamente 7 gramas de grãos
moídos e acondicionados10. Esse sistema é muito utilizado por restaurantes, hotéis e
outros estabelecimentos interessados em oferecer café espresso de qualidade, mas sem
contratar um barista especializado. Atualmente, existem diversas empresas brasileiras
que produzem café em sachê e há uma Associação Brasileira de Café em Sachê (ABCS).
Ele também oferece apelo ambiental, já que não utiliza embalagens plásticas como
nas tradicionais cápsulas do sistema fechado. Por não ser protegido por patentes e utilizar
matérias primas mais simples na embalagem, os sachês ESE são mais baratos do que as
cápsulas de plástico.
Figura 3: Exemplos de sachês no padrão ESE. Fonte: Divulgação.
Já no modelo fechado, as cápsulas contêm de 5 a 8 gramas de grãos moídos. O
conteúdo é envolvido por um recipiente plástico ou de alumínio. Uma das características
deste sistema é a falta de padronização, já que cada empresa cria o seu próprio sistema.
Esse é o modelo utilizado nas máquinas Nespresso, Senseo, Tassimo e Keurig, entre
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outras. As cápsulas de um fabricante não são compatíveis com as máquinas de outro.
O uso de plástico e alumínio nas cápsulas do sistema fechado é um problema para
as empresas do setor. As críticas feitas por ambientalistas levaram alguns governos
europeus a estudar a proibição do sistema11. A pressão ambientalista pode forçar as
empresas do setor a buscarem novos materiais.
Figura 4 – Cápsulas de café Nespresso, compatíveis apenas com as máquinas do fabricante.
Fonte: Divulgação.
PANORAMA DO MERCADO
O mercado de single cups é relativamente novo, mas é notável o rápido
crescimento apresentado. Em 2011 o segmento cresceu 31,3%, contra 17,5% das vendas
totais de café no mundo, avaliadas em dólares12. Nos EUA, o single cup coffee já é o
segundo método mais popular de preparo da bebida, de acordo com dados de 2011 da
National Coffee Association13.
A liderança mundial é da Nestlé que, em 2011, obteve 34,7% de market share. Em
seguida aparecem D.E Master Blenders (17,7%), Kraft Foods (8,1%), Green Mountain
(7,6%) e Lavazza (1,3%). Nos Estados Unidos, o mercado é liderado pela Green
Mountain Coffee Roasters, que detém 75% da preferencia dos consumidores. Atualmente,
a Europa e EUA são os principais mercados das single cups14.
Em uma recente pesquisa realizada pela Mintel15, 17% dos consumidores norte
americanos de café afirmam preferir as single cups. Segundo a maioria destes
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consumidores, a praticidade do sistema é a principal razão para a preferência. A pesquisa
também revelou outros dados interessantes: 39% dos consumidores de café em dose
única consideram o sistema mais barato do que beber café em casas especializadas. De
acordo com 20% deles, o café preparado a partir de cápsulas ou sachês é superior ao
torrado e moído tradicional.
Mas, apesar do sucesso do café em dose única, o produto ainda é visto como
sendo caro por grande parte dos consumidores. Segundo a mesma pesquisa, 36% dos
consumidores não bebem café em cápsulas por considerar o preço das máquinas muito
elevado. O preço das máquinas varia muito de marca para marca. É possível encontrar
máquinas que custam de U$100,00 a U$1500,00. Já o preço das cápsulas varia de
U$0,40 a U$0,80/unidade.
BRASIL – OPORTUNIDADES E DESAFIOS
No Brasil, o setor ainda é muito jovem. Poucas empresas estão presentes no país
e o preço das máquinas e das cápsulas são relativamente altos para os padrões
nacionais. Além disso, a oferta de cápsulas no varejo ainda é pequena. No país, o sistema
ESE ainda é o mais difundido.
As máquinas e cápsulas dos fabricantes que utilizam o “sistema fechado”
começaram a fazer parte do cotidiano dos consumidores nacionais de café há apenas
alguns anos. Algumas companhias internacionais já vendem seus modelos no país, como
a Nestlé, com suas marcas Nespresso e Nescafé Dolce Gusto; a portuguesa Delta Cafés,
com sua linha Delta Q; e a Douwe Egberts Master Blenders, que através de sua
subsidiária, Café Pilão, comercializa as máquinas do sistema Senseo.
No entanto, o rápido crescimento do consumo de cafés especiais, aliado ao
aumento de renda da população, aponta para um futuro promissor das cápsulas entre os
brasileiros. Com o crescimento da demanda nacional por single cups, crescem também as
importações do produto, o que torna a balança comercial do café torrado e moído
negativa. No médio prazo, esse cenário dificilmente será revertido, mas há possibilidade
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de que com a consolidação do consumo local de café em dose, as multinacionais do setor
invistam em fábricas no país. Com isso, o Brasil poderia se converter em uma plataforma
exportadora do produto para os demais países da América do Sul. Esse seria o cenário
ideal. Infelizmente os desafios são muitos e o país deverá solucionar algumas questões
de modo a tornar atraente o investimento das empresas do setor.
A primeira delas é a própria demanda interna por máquinas e cápsulas. O Brasil
precisa apresentar um consumo de café em dose grande o bastante para justificar aportes
para a construção de alguma fábrica. O aumento da demanda por esse tipo de produto
nos demais países sul americanos também pode contribuir para que as empresas
montem unidades industriais no país. O consumo nacional de café em cápsulas tende a
crescer muito nos próximos anos, sendo uma questão de tempo para que se consolide
definitivamente.
Superada a limitação do consumo interno, será preciso rever a questão do
Drawback. Tal como na produção de solúvel ou torrado e moído convencional, as
multinacionais do setor estão acostumadas a trabalhar com blends e negar essa
possibilidade pode ser uma séria barreira aos investimentos estrangeiros. Mas um
eventual Drawback para viabilizar a vinda de fábricas de cápsulas para o Brasil seria
diferente daquele proposto até o momento. A matéria prima das cápsulas é café de
qualidade, muitas vezes certificado. Assim, a discussão, neste caso específico, não será
sobre a importação de robustas de baixa qualidade e cultivados por trabalhadores em
condições precárias, mas grãos certificados de alta qualidade.
Por fim, uma política que garanta benefícios fiscais para as empresas interessadas
poderá ser fundamental. Além disso, será preciso garantir que taxações como as
existentes atualmente para o solúvel brasileiro não incidam sobre as cápsulas fabricadas
aqui.
Mas existe outro caminho a ser trilhado: o desenvolvimento de uma indústria
nacional de café em cápsulas. Embora o segmento seja dominado por algumas
multinacionais, é cada vez maior o número de empresas que investem no
desenvolvimento de suas próprias máquinas e cápsulas. Muitas delas começaram
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atuando apenas no seu país de origem. A Delta Cafés, por exemplo, é uma empresa
100% portuguesa que conseguiu competir em igualdade contra a Nestlé e, recentemente,
assumiu a liderança no market share de café em dose única em Portugal. Outro exemplo
é a Green Mountain, líder absoluta no mercado norte americano. A empresa começou
modesta na década de 1990 e a partir dos anos 2000 obteve enorme crescimento. Hoje,
são as grandes do segmento, como a Nespresso, que lutam para conseguir parte do
mercado dessa empresa. Os casos dessas duas empresas serão discutidos nos próximos
relatórios.
Esses exemplos específicos mostram que, com uma boa estratégia e investimentos
em inovação, é possível que empresas locais briguem pelo mercado com as líderes
mundiais. Nesse sentido, alternativas de ação precisam ser estabelecidas. Uma
possibilidade é desenhar uma parceria entre os setores público e privado para viabilizar
os investimentos no segmento. Nesse arranjo, participariam cooperativas, torrefadoras e
varejistas, de modo a distribuir os gastos, e os lucros da empreitada.
Para garantir o sucesso dessa parceria, modelos de negócios diferentes daquele
utilizado pela Nespresso precisam ser considerados. A Nespresso oferece um número
limitado de blends aos seus consumidores e não permite que outras empresas obtenham
licença para produzir cápsulas compatíveis. No Brasil, a estratégia adotada poderia ser
semelhante à da Green Mountain que, além de fabricar suas próprias cápsulas, licencia
outras empresas para produzirem e distribuírem cápsulas compatíveis, mas com suas
próprias marcas, caso da Starbucks e da Dunkin Donuts. Com isso, o número de blends e
marcas compatíveis com as máquinas da Green Mountain é muito superior ao de
qualquer outro fabricante. Assim, o consumidor norte americano pode comprar sua
máquina Keurig e escolher entre uma grande variedade de marcas, blends e até preços. A
Green Mountain ganha com as vendas de qualquer cápsula, desde que tenha sido
licenciada. Com essa estratégia, torrefadoras interessadas em participar desse mercado
não precisariam investir no desenvolvimento de um novo modelo. O consumidor também
ganharia com a maior oferta e distribuição das cápsulas no varejo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O café em dose única é uma das grandes tendências para o consumo da bebida. O
mercado cresce rapidamente e atrai os interesses de diversas empresas, grandes ou
pequenas. Nos países em desenvolvimento o mercado ainda é modesto, mas a
perspectiva de crescimento é muito grande.
É possível estabelecer um paralelo com o mercado de cafeterias, que também
representa uma opção sofisticada para o consumo de café. Esse mercado cresceu
primeiro na Europa e nos EUA, mas com a sua consolidação os investimentos passaram
a priorizar países como Índia, China e Brasil. Com as cápsulas não será diferente.
O café em dose única agrega grande valor ao produto, o que o torna uma opção
interessante para as torrefadoras. Por demandar cafés de alta qualidade, também
constitui oportunidade para os cafeicultores. O desenvolvimento de uma indústria nacional
de café em dose única seria um marco para a cafeicultura brasileira. Por isso, a
possibilidade precisa ser debatida, para que se encontrem os melhores caminhos para
sua concretização. Muita informação ainda precisa ser gerada para fundamentar as
decisões de investimento em uma indústria nacional de cápsulas, por isso o Bureau do
Café dará continuidade aos relatórios que abordam esse segmento, de modo a ampliar a
discussão e oferecer informações que orientem o setor.
CONTATO
A discussão sobre uma indústria de cápsulas no Brasil foi iniciada. Comentários e
críticas sobre esse relatório são bem vindos. Desejamos saber a opinião dos profissionais
e empresários do setor. Os contatos podem ser feitos pelo e-mail [email protected] e pelo
fone (35) 3829-1443.
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REFERÊNCIAS
1
http://www.reuters.com/article/2012/02/03/us-coffee-idUSTRE81203720120203
2
http://online.wsj.com/article/SB10001424052748703580004576180210408908584.html
3
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/starbucks-lanca-verismo-para-concorrer-com-
nespresso
4
http://www.brasilfoodtrends.com.br/
5
http://www.biocoffee.com.br/historia.php
6
http://www.2basnob.com/coffee-history.html
7
http://www.2basnob.com/coffee-history.html
8
http://www.interbrand.com/en/knowledge/branding-studies.aspx
9
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/32412_QUEM+INVENTOU+O+NESPRESSO+F
UI+EU
10
http://www.cafepoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-de-noticias/voce-sabe-a-diferenca-
entre-sache-e-capsula-de-cafe-67399n.aspx
11
http://www.cafepoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-de-noticias/voce-sabe-a-diferencaentre-sache-e-capsula-de-cafe-67399n.aspx
12
http://www.reuters.com/article/2012/02/03/us-coffee-idUSTRE81203720120203
13
http://www.nytimes.com/2012/02/08/dining/single-serve-coffee-brewers-make-
convenience-costly.html
14
http://www.reuters.com/article/2012/02/03/us-coffee-idUSTRE81203720120203
15
http://www.marketingforecast.com/archives/16745/
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SOBRE O BUREAU
O Bureau de Inteligência Competitiva do Café é um projeto financiado pela
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) com
interveniência da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Os
trabalhos são desenvolvidos dentro do Centro de Inteligência em Mercados (CIM) da
Universidade Federal de Lavras (UFLA). O principal objetivo do Bureau é produzir
inteligência competitiva para transformar o Brasil na mais dinâmica e sofisticada nação do
negócio café no mundo.
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