santuário de aparecida
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santuário de aparecida
SANTUÁRIO DE APARECIDA* Situação sócio-religiosa O Santuário de Aparecida está situado no centro do vale do Paraíba, sudeste do Estado de São Paulo, na margem direita do rio Paraíba do sul, próximo da cidade de Guaratinguetá. A região começou a ser desbravada pelo ano de 1636, sendo habitada por índios. Estes tinham no sopé da colina, na qual se encontra construído o Santuário velho, um centro de sua cultura, onde prestavam culto a seus deuses e mortos. A Vila de Guaratinguetá foi elevada à dignidade de paróquia pelo bispo do Rio de Janeiro, em 13 de fevereiro de 1751. Conforme o Livro de Registro de Previsões da Diocese do Rio de Janeiro, de 1687, a Vila possuía 350 habitantes com duas irmandades, a saber: do Santíssimo e das Almas. A Vila, nas últimas décadas do século XVI, era o caminho para as minas de ouro da Capitania de Minas Gerais e passagem obrigatória de mineradores e migrantes, que buscavam as riquezas do ouro. Era ainda entreposto de mercadorias e de escravos, obtendo grande surto de crescimento e riquezas durante o auge da extração do ouro e a partir de 1710, a região de Vila Rica e Ribeirão do Carmo, respectivamente as cidades de Ouro Preto e Mariana, sofreu forte impacto que resultou em violência e instabilidade política. Para normalizar a situação, o governo de Portugal, anexou a Capitania de Minas Gerais à São Paulo e um representante de mão forte na pessoa do governador Dom Pedro de Almeida e Portugal, mais conhecido como Conde de Assumar, que governou a cidade de Ribeirão do Carmo, hoje cidade de Mariana. Tal governador reprimiu as desordens com grande severidade. Com a escassez do ouro, entre 1710 e 1740, Guaratinguetá viveu uma época de pobreza generalizada. Já não eram tantas as caravanas, diminuiu o comércio, começou a faltar emprego. As grandes sesmarias foram divididas em fazendas menores; o povo teve de se dedicar mais ao cultivo da terra e à criação de gado. Entre os sem-terra, surgiu a classe dos pescadores, que viviam de sua pesca diária. Como consequência, da falta de trabalho e circulação de riqueza, a cidade de Guaratinguetá entrou numa situação socioeconômica mais tensa e crítica; exaltam-se os ânimos dominando a violência, fruto da instabilidade social. O Diário de viagem do Conde de Assumar reflete tal situação e mostra a atitude drástica do novo governador das capitanias de São Paulo e de Minas Gerais, mandando açoitar a uns e enforcar outros. Em Guaratinguetá mandou prender criminosos, castigou rebeldes e insufladores de revolta. E mandou enforcar em praça pública um mulato que assassinara uma mulher grávida. O cronista da “Jornada do Conde de Assumar” retratou a situação da Vila nestes termos: “Os naturais são tão violentos e assassinos, que raro é o que não tenha feito morte, alguns sete e oito, e no ano de 1716, mataram-se dezessete pessoas”. Em tal situação de instabilidade social e de pobreza, aconteceu um fato extraordinário, um sinal de Deus, a pesca de uma imagem da Imaculada Conceição. A pequena imagem apareceu como um sinal para todos. * O texto acima corresponde a um resumo elaborado pelo teólogo, Denilson A. Rossi, a partir do Dicionário de Mariologia, Paulus, p. 105 a 113. A devoção à Senhora Aparecida, expressão forte de religiosidade O nome e a invocação de N. S. Aparecida entraram nos hábitos e na vida do povo brasileiro, que sempre invoca nos perigos, doenças e sofrimentos, horas felizes e de gratidão a Deus. Sua invocação é empregada para desejar feliz viagem e regresso, sucesso nos negócios e na saúde. “Nossa Senhora Aparecida dominava verdadeiramente, como Senhora, toda a região. Sua influência se estende para todas as partes do Brasil. Vê-se ,assim, uma devoção generosa, um amor pronto ao sacrifício. No amor à mãe de Deus, o povo brasileiro está ainda à procura de um que o iguale”. (Pe. Valentin Von Kiedl, redentorista que trabalhou em Aparecida, em 1897), ele escreveu a uma revista Mariana da Alemanha, sobre a influência de N. S. Aparecida na religiosidade do povo brasileiro. E, também, analisando a religiosidade do fim do século XIX, ele afirmava: “não é sem razão que N. S. é tão amada e invocada; este amor e devoção foi a defesa contra a desgraça e o segredo de sua perseverança na fé católica. Sem esta devoção o povo teria caído na mais completa indiferença religiosa”. A razão fundamental desta influência foi, e é ainda hoje, a mensagem de alegre esperança de salvação que a mãe de Deus comunica a todos os seus fiéis devotos e peregrinos, carentes de assistência religiosa da Igreja e do amparo da sociedade. Sem ter quem o animasse na fé e o instruísse na doutrina, o povo se refugiou nas devoções, especialmente na devoção a Nossa Senhora Aparecida. As Romarias As Romarias tiveram início em 1745, são expressão e fruto da religiosidade popular, que se manifestava em todas as camadas sociais. Por mais de duzentos anos, a ladeira do Santuário de Aparecida foi o caminho íngreme e penoso, mas cheio de esperanças; hoje são as rampas do novo Santuário. Os dois documentos históricos do Santuário – de 1750 e de 1757 – falam das peregrinações dos romeiros ao Santuário de Aparecida, eles veem de diversos locais, de lugares muito distantes para agradecerem aos benefícios recebidos desta senhora. Possui ainda interessantes descrições de romarias dos anos de 1861, 1884 e 1895. Um jornalista do “Correio Paulistano”, diário da Capital, publicava, em 04 de janeiro de 1884, diversas reportagens sobre as Romarias. Em 1895, Pe. Lourenço Gahr, cronista da comunidade de Aparecida, afirmava que o número anual dos peregrinos chegava a cento e cinquenta mil. Somente a partir de 1900, as Romarias ganharam um caráter organizado; bispos e párocos acompanhavam essas peregrinações. Os romeiros vinham de todas as partes, eram recebidos pelos capelães e conduzidos desde a estação local até o templo; havendo na despedida a procissão e bênção com o santíssimo. Com a implantação das redes estaduais e federais de estradas asfaltadas, a partir de 1940, e a diversificação dos meios de transportes, as Romarias tiveram um grande aumento. A partir de 1967, quando celebrou-se o Jubileu dos 250 anos do encontro da imagem, o Santuário de Aparecida se tornou de fato Nacional, convergindo para ele, todos os domingos, grandes multidões de peregrinos. Um aumento extraordinário das Romarias programadas deu-se no ano de 1972, quando o Sr. Cardeal – Arcebispo de Aparecida, Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, instituiu o ano mariano para celebrar os 150 anos da Independência do Brasil. Naquela época, vários movimentos que faziam peregrinações e Romarias até o Santuário. Naquele ano as comunhões no Santuário chegaram a número de 1.628.140. Em outros domingos, o número de romeiros chega a 250.000, perfazendo nas últimas décadas o total anual de 5 para 6 milhões de peregrinos. Momentos fortes na vida do Santuário O progresso do Santuário, até chegar a frequência atual, teve momentos altos de fé e de devoção. Não negamos que o primeiro fator do crescimento foi a mensagem de esperança e salvação que decorre do patrocínio da Mãe de Deus. Uma das principais causas: é a renovação pastoral, introduzida em 1894 por Dom Joaquim Arcoverde de A. Cavalcante, quando confiou o Santuário à congregação dos Missionários Redentoristas. Eles traziam da Baviera católica muito amor e muita experiência no campo da pastoral de Santuários e souberam aplicá-la em nossa situação sócio religiosa: A coroação da imagem, em 08 de setembro de 1904, onde reuniram-se todos bispos da Província Meridional do Brasil e cerca de 15.000 peregrinos. Dia 08 de setembro de 1917, o Santuário celebrou solenemente o Jubileu dos duzentos anos do encontro da imagem. A maior concentração reunida no Santuário; foi a celebração do Congresso Mariano, 05 a 08 de setembro de 1929, como lembrança dos 25 anos da coroação da imagem. No final do congresso dos Bispos, enviaram ao Papa um pedido, que N.S. Aparecida fosse declarada padroeira principal do Brasil, o privilégio foi concedido pela Santa Sé em abril de 1930. No dia 31 de maio de 1931, N. S. Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil, essa manifestação foi realizada na capital Federal do Rio de Janeiro. Por empenho do Cardeal do Rio de Janeiro Dom Sebastião Leme Da Silveira Cintra. Em plena vigência da atualização da Igreja pelo Concílio Vaticano II, o Santuário de Aparecida teve um momento alto por ocasião da celebração do ano Jubilar Mariano de 1967, para comemorar os 250 anos do encontro na imagem. Em 1968, a imagem ficou conhecida de Norte a Sul do país. Este fato aumentou a peregrinação e devoção à padroeira. No dia 04 de julho de 1980, o Papa João Paulo II, consagrou o novo templo, elevando-o ainda à dignidade de Basílica-menor. A época da visita coincidiu com o reconhecimento por parte da Igreja do Brasil o valor da religiosidade popular, que havia caído em descrédito depois do Vaticano Segundo. Assim a visita do Sumo Pontífice constituiu para reafirmar a devoção do povo brasileiro a N. S. Aparecida. A Basílica Menor de Aparecida comparada a Basílica de S. Pedro do Vaticano A Igreja nova de Aparecida é comparada a Basílica de São Pedro do Vaticano: Áreas cobertas: S. Pedro do Vatiano 15.000 m.q., com 200 m. de comprimento, incluindo o pórtico, e 110 m. de largura; - Aparecida do Brasil 18.000 m.q., com 170 m. de comprimento e 150 m. de largura. A nova Basílica Menor de Aparecida, esta entre as 14 maiores Igrejas do mundo, em termos de construção A mensagem do Santuário Não há melhor dúvida, a mensagem de Nossa Senhora Aparecida e de seu Santuário revelou-se desde aquele momento em que o pescador Felipe Pedroso percebeu algo de extraordinário no olhar e no sorriso compassivo, estampados pelo monge beneditino no rosto da imagem. Para seus devotos ele significava o papel de mãe, que Maria exerce diante de seu divino Filho. Sem dúvida ele expressa a teologia mariana da intercessão de Maria. Depois desta primeira percepção popular, vamos encontrar na história do Santuário diversas e múltiplas manifestações do patrocínio de Maria, Mãe de Deus em favor de seus filhos. É sempre uma mensagem alegre e jubilosa, cheia de esperanças de seus devotos, depositada no patrocínio de Maria. É sempre a antiga e nova reflexão dos cristãos a partir da mensagem evangélica proclamada no alto da cruz do Calvário: “Mulher, eis aí teu filho” ; “Filho, eis aí tua mãe”. A doutrina de fé, contida nos Evangelhos e proclamada nos concílios da Igreja, que naquele momento que Cristo nos entrega Maria, sua mãe, como nossa mãe e mãe da Igreja e mediadora entre Cristo e os homens no mistério da salvação. É a graça mais rica deste Santuário, é o dom mais rico e excelente de sua história. É a razão da grande confiança do povo brasileiro depositada na Senhora da Conceição Aparecida. É o fundamento teológico-bíblico da confiança e devoção do povo a Maria Santíssima. Alguns bispos brasileiros, afirmaram que na última década do século passado, que a devoção à N. Senhora Aparecida foi um dos fatores que mais contribuíram para que o povo brasileiro conservasse a fé católica. Maria é a mãe que sorri compassiva para seus devotos filhos, daí a alegre e jubilosa esperança que os peregrinos encontraram neste Santuário. “Um verdadeiro devoto de Maria não se perde” ( S. Afonso Maria de Ligório ). A pastoral no Santuário A práxis pastoral do Santuário passou por diversas fases, algumas bem orientadas e outras muito negativas, são divididas em três períodos: - Durante a administração eclesiástica do Santuário, 1745 a 1809; - Durante a administração civil, 1809 a 1890; - Na administração eclesiástica desde 1890. Neste período, desde 1894 até hoje, a pastoral está confiada à Congregação dos Missionários Redentoristas. O Santuário no contexto da Igreja do Brasil Com a criação da CNBB ( Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ), em 1955, o interesse do Episcopado pelo Santuário foi ainda maior. Por sua iniciativa foi criada, em 19 de abril de 1958, a Arquidiocese de Aparecida, solenemente instalada em 8 de dezembro daquele mesmo ano. Demonstrando interesses pelo Santuário e sua influência na Igreja do Brasil, a Santa Sé criou, em 15 de julho de 1960, por indicação da mesma CNBB, a Comissão Nacional Pró-Santuário de Aparecida, composta de 5 membros: o presidente da CNBB ( pro tempore ); e mais três Arcebispos, a serem eleitos pela Assembleia Geral, e o Sr. Arcebispo de Aparecida.