bacia do Mekong

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bacia do Mekong
bacia do Mekong
Rios,
climas
e homens
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Mékong, a mãe
Rios,
climas
e homens
de todos os rios
O Mekong,
cujo fluxo faz
dele o quarto
rio da Ásia
Depois de contornar o Himalaia, avança
por vales estreitos e profundos na China e
no Laos. Seu périplo continua na Tailândia,
no Camboja, até os manguezais de seu
delta no Vietnã.
A bacia do Mekong é uma das áreas com
biodiversidade mais rica do mundo. Cerca
de 70 milhões de pessoas vivem nela,
85% diretamente da pesca e da agricultura.
Duas partes da bacia são especialmente
produtivas: o Tonle Sap - um sistema
complexo que liga um afluente do Mekong
ao maior lago de água doce do sudeste
Asiático - e o delta, um dos maiores
do mundo.
A região da bacia hidrográfica
do Mekong encontra-se sob influência
direta da monção de maio a outubro.
VOCÊ SABIA?
(atrás dos Yangzi
Jiang, GangesBrahmaputra
e Ienissei), nasce
no Tibete.
Quase metade do comprimento total do Mekong avança na China.
Ele é chamado de «rio turbulento» por causa de seus desfiladeiros
e precipícios. Em sua viagem de 2.000 km pela China, o Mekong
passa de uma altitude de mais de 4.500 m a 500 m.
Devido aos importantes desníveis do rio
e seus afluentes no Alto Mekong, quatro
barragens hidrelétricas foram construídas
na China e cerca de vinte estão previstas
na Tailândia, Laos e Camboja.
CARTEIRA DE IDENTIDADE
Nascente: Himalaia
Foz: Mar da China Meridional
Comprimento: entre 4.350
e 4.900 km
Fluxo médio anual: 15.000 m3/s
Superfície da bacia hidrográfica:
0,8 milhão de km²
Países: China, Mianmar, Laos,
Tailândia, Camboja, Vietnã
O delta do Mekong.
O delta do Mekong é um dos
maiores do mundo. Inclui uma
infinidade de canais, estradas
de água e de terra, arrozais
e pântanos. 20 milhões de
pessoas vivem nele.
O delta é o «celeiro» do Vietnã, com 50% da produção
de alimentos, 95% das exportações de arroz, 65% da produção
de peixes e 70% da produção de frutas.
O Tonle Sap, cuja superfície habitual é de 3.000 km²,
quadruplica-se durante a monção.
O Mekong é ampliado no sul
de Luang Prabang, inundando
frequentemente a região
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Rios,
climas
e homens
bacia do Mekong
Sob monitoramento
Já impactado por cheias mais intensas do
que a média em 2011 e 2013 e estiagens mais
graves em 2010, de acordo com os cientistas,
o fluxo do Mekong será fortemente alterado
no futuro.
Com base em pesquisas recentes, a
temperatura média anual aumentará 0,7°C
em toda a bacia até 2050. A precipitação
média anual será acentuada em 10% no
Alto Mekong tanto na estação seca quanto
durante a monção, permanecendo constante
no Camboja e no delta. O fluxo evoluirá,
estimulando a disponibilidade de água
na estação seca e aumentando o risco de
inundações durante a estação chuvosa.
Estas mudanças previstas são ponderadas
ou agravadas pela ação humana na bacia:
as barragens hidrelétricas e captação de
água para irrigação reduzem o fluxo durante
a monção; o desmatamento e utilização
intensiva dos solos, ao contrário, intensificam
as cheias. Mas o efeito combinado de todos
esses fatores é complexo e as previsões
incertas.
PESQUISA
O objetivo do projeto Mekong-HYCOS é minimizar as perdas
humanas e os prejuízos reduzindo a vulnerabilidade das populações
às inundações na bacia do Mekong. Composto por cerca de cinquenta
estações de telemetria, bem como um sistema de informação
hidrometeorológico, esse observatório abrange os 800.000 km² da
jusante da bacia hidrográfica. Esta ferramenta de alto desempenho
permite monitorar em tempo real e antecipar melhor as cheias.
As mudanças
climáticas e o
desenvolvimento
das atividades
humanas
afetarão
o Mekong, que
é caracterizado
por escoamentos
sazonais
regulares,
com uma
estação de
inundações
e outra seca.
Variações no nível de água no Baixo
Mekong. Os períodos de inundação
são regulares, com o auge em outubro.
Entretanto, sua amplitude não é uniforme:
por exemplo, a cheia de 1998 foi mais
fraca do que a média.
O regime hidrológico do maior lago
de água doce do sudeste Asiático,
o Tonle Sap, é especial: durante a monção,
o transbordamento do rio enche o lago.
Na estação seca, a tendência é invertida.
Durante a cheia, o Mekong pode atingir
um fluxo de 60.000 m3/s versus 1.500 m3/s
na época seca.
Barragem Nam Ngum 1. A barragem regula o
fluxo do rio, diminuindo a intensidade das cheias
e secas, e criando um reservatório para irrigação
e produção de energia elétrica. Mas ela altera o
escoamento natural dos rios, perturba a migração
dos peixes e bloqueia sedimentos.
Em 2011, em Phnom Penh, 75.000 pessoas
foram afetadas pelas inundações.
No delta, as cheias de verão foram mais
fracas nos últimos anos. Na ausência de lodo
para fertilizar os arrozais, os agricultores
tiveram que utilizar mais fertilizantes.
O fluxo do Mekong e seus afluentes
pode ser multiplicado por 30
durante a monção
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bacia do Mekong
No reino
da pesca
O Mekong contribui para a segurança
alimentar de 70% dos habitantes da bacia
inferior com a pesca e as atividades de
transformação de peixes. Durante a monção,
o lago Tonle Sap e o delta formam áreas
inundadas onde os peixes se reproduzem.
Na estação seca, o lago devolve ao rio suas
águas com abundância de peixes.
No delta, a aquicultura tem se
desenvolvido rapidamente, com
32 espécies nativas do Mekong.
A criação do peixe-gato Pangasianodon
hypophthalmus é predominante e
a produção é superior a um milhão de
toneladas por ano. O camarão tigre gigante
e de água doce também é amplamente
criado nas bacias de água salgada.
Dezenas de barragens planejadas na China
e no Laos representam riscos para a pesca,
diminuindo as quantidades em 25% até 2030.
Estas estruturas constituirão barreiras para
a migração de peixes, apesar dos espaços
de passagem. As barragens existentes
também são acusadas de baixar o nível
da água. Os criadores, por sua vez, evocam
os efeitos das mudanças climáticas.
Na bacia
do Mekong,
cuja bio-
diversidade
é a mais rica
após a do rio
Amazonas, vivem
PESQUISA
O programa de pesca da Comissão da Bacia do Mekong
compreende 4 pilares: gestão dos programas, coordenação da
informação sobre a pesca e reforço das capacidades; conhecimento
da ecologia dos meios, avaliação das capturas e gestão de impactos
ambientais; desenvolvimento de técnicas para a aquicultura
de espécies nativas; desenvolvimento de medidas técnicas
e institucionais para gerir as pescas.
850 espécies
de peixes de
água doce.
Com 2,6 milhões
de toneladas
de pescas por
ano, representa
a maior reserva
Dezenas de milhares de pescadores vivem
nas margens do Tonle Sap ou nos vilarejos
flutuantes que deslocam-se em função das
cheias. 60% da pesca do Camboja, agora
majoritariamente industrial, é oriunda
desse lago.
pesqueira
Criadouro de peixe-gato Pangasianodon
hypophthalmus. De modo geral, os peixes são
criados de 6 a 8 meses para que pesem entre
0,6 e 1 kg.
Pesca no Tonle Sap.
interior
do mundo.
O golfinho do Irrawaddy (Orcaella
brevirostris), habitante do Mekong,
é ameaçado pela pesca. Com menos
de 50 indivíduos adultos, essa população
é caracterizada como criticamente
em perigo de extinção.
Catlocarpio siamensis. Pelo menos 40%
das espécies de peixes do Mekong migram
rio acima para a reprodução. Por isso,
as barragens são suscetíveis de reduzir,
ou até mesmo extinguir essas espécies.
Os espaços para passagem dos peixes nas
barragens podem não ser eficazes se não forem
adaptados às espécies locais.
A população rural que vive
da pesca na bacia é estimada
em 12 milhões de domicílios
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Seguindo a corrente
Os impactos ambientais do desmatamento
são inúmeros. Os solos sofreram erosão
por não terem mais a proteção da cobertura
vegetal durante as chuvas fortes.
O desmatamento para fins agrícolas,
a extração de recursos minerais e florestais
e os bombardeamentos relacionados aos
conflitos entre 1965 e 1975 são os principais
culpados.
A diminuição da cobertura florestal e
o enfraquecimento do seu efeito regulador,
combinado com o reforço da monção,
provocam cheias cada vez mais frequentes,
principalmente no delta. O impacto das gotas
de chuva nestas terras descobertas e
o escoamento transportam agentes
patogênicos da superfície do solo para os rios.
Além disso, os pesquisadores provaram uma
redução na concentração dos sedimentos
no rio entre 50 e 75%, em grande parte devido
às armadilhas nas barragens e às extrações
de sedimentos na montante. O resultado é a
escassez de matéria fértil nas terras agrícolas
do delta e o recuo da borda do litoral.
PESQUISA
O projeto PASTEK reúne pesquisadores franceses e asiáticos
que estudam os impactos das mudanças globais no volume
e qualidade da água de uma sub-bacia do Mekong: a bacia
hidrográfica do Nam Khan (7.400 km²). O intuito é entender
a relação entre a utilização das terras, o sinal pluviométrico,
a resposta hidrológica e a qualidade da água, e estabelecer
um modelo para o período de 2010 a 2050.
As atividades
humanas
e as mudanças
climáticas
influenciam
grandemente
o escoamento
e conservação
dos solos,
com conse-
quências
importantes
para o fluxo,
a qualidade
da água e
No sul do Laos, a mesma quantidade de
bombas de toda a Segunda Guerra Mundial
foi lançada entre 1965 e 1975, destruindo
70% da floresta tropical. Ela foi substituída
por uma vegetação herbácea, que é menos
eficaz na retenção de solos.
a quantidade
Para um hectare de encosta,
o desmatamento para a agricultura
acarreta perdas de terra de 10 t/ano,
versus 0,1 t/ano em uma área arborizada.
O impacto das gotas de chuva desprende
partículas do solo que podem conter matérias
fecais com a bactéria Escheria Coli. Durante
a estação chuvosa e de cheias extremas,
a contaminação pode ser bastante alta.
de sedimentos
transportados
pelo Mekong
e seus afluentes.
Água carregada de sedimentos próximo
às cachoeiras de Khone Phapheng no Laos.
As barragens são uma armadilha para uma
parte dos sedimentos dos cursos de água.
A consequência é a diminuição
da densidade no rio.
A extração de sedimentos no leito do rio,
geralmente para construir estradas e
moradias, ajuda a reduzir a concentração
de matéria sólida na água.
Cada vez menos sedimentos, e por
conseguinte, matérias férteis, chegam até
o Delta do Mekong. Então, os agricultores
utilizam mais fertilizantes, e a borda do litoral
recua por conta da falta de sedimentos para
compensar a erosão causada pelo mar.
A erosão reduz a fertilidade
do solo nas encostas
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