Sílvio Romero, Nina Rodrigues

Transcrição

Sílvio Romero, Nina Rodrigues
Ricardo Sequeira Bechelli
METAMORFOSES NA
INTERPRETAÇÃO DO BRASIL
Tensões no paradigma racial
(Sílvio Romero, Nina Rodrigues,
Euclides da Cunha e Oliveira Vianna).
Tese de doutorado em História Social apresentada
à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, sob a
orientação da Prof. Dr. Marcos Silva
2009
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Ricardo Sequeira Bechelli
METAMORFOSES NA
INTERPRETAÇÃO DO BRASIL.
Tensões no paradigma racial
(Sílvio Romero, Nina Rodrigues,
Euclides da Cunha e Oliveira Vianna).
BANCA
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Sumário
RESUMO...................................................................................................................5
ABSTRACT................................................................................................................5
AGRADECIMENTOS.................................................................................................7
INTRODUÇÃO........................................................................................................10
I – O BRASIL POLÍTICO, CULTURAL E SOCIAL.................................................19
1 – A vida política brasileira.................................................................................19
2– Revoltas e rebeliões: a frustração com o novo regime..................................29
3– A vida intelectual brasileira.............................................................................36
4– As ideologias dominantes: Nacionalismo e o racismo científico. ..................44
5 – Idéias racistas no Brasil.................................................................................55
II – POVO E NACIONALIDADE: SÍLVIO ROMERO................................................60
1 – A raça e a miscigenação na formação da identidade nacional ...................61
2 – Aspectos da cultura brasileira : o folclore e a poesia popular.......................81
3 – Uma história do Brasil pela literatura............................................................97
4 – Raça e cultura..............................................................................................135
III - RAÇA, MEDICINA, DIREITO E ANTROPOLOGIA: NINA RODRIGUES........144
1 – Epidemias coletivas: Canudos e Antônio Conselheiro................................147
2 – Os mestiços e a sua formação....................................................................162
3 – A criminalidade e as raças humanas..........................................................167
4 – Os africanos no Brasil: O negro na sociedade brasileira............................189
5 – Raça ma non troppo....................................................................................215
IV -RAÇA, CIVILIZAÇÃO E JUSTIÇA SOCIAL: EUCLIDES DA CUNHA.............220
1 – Raça e a religiosidade em questão.............................................................224
4
2 – Civilização X barbárie..................................................................................253
3 – A necessidade de justiça social...................................................................270
4 – Um balanço: arte longa em vida breve........................................................290
V - RAÇA, ARISTOCRACIA RURAL E ESTADO AUTORITÁRIO: OLIVEIRA
VIANNA..................................................................................................................297
1 – Estudos sobre a raça e a base nacional.....................................................300
2 – O Brasil real e o idealizado: a formação da aristocracia rural....................334
3 – O Estado centralizador e a democracia corporativa...................................361
4 – Debates e polêmicas: um legado................................................................373
ALGUMAS CONCLUSÕES...................................................................................381
ICONOGRAFIA......................................................................................................389
Sílvio Romero....................................................................................................389
Nina Rodrigues..................................................................................................391
Euclides da Cunha.............................................................................................394
Oliveira Vianna..................................................................................................397
Canudos – a civilização e a barbárie................................................................399
BIBLIOGRAFIA E FONTES...................................................................................407
Fontes da época................................................................................................407
Obras teóricas...................................................................................................408
Outros textos analíticos.....................................................................................409
VIAGENS REALIZADAS .......................................................................................420
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RESUMO
O objetivo desta tese é compreender as tensões e metamorfoses existentes na análise
social realizada por por alguns do principais autores brasileiros da virada do século XIX
para o XX, procurando demonstrar que, indo além das ideologias racistas presentes em suas
obras, eles tentavam compreender e explicar a sociedade e a cultura brasileiras, abrindo,
assim, novos caminhos e horizontes para outros estudos.
Neste sentido, serão analisadas as obras de Sílvio Romero, Nina Rodrigues, Euclides
da Cunha e Oliveira Vianna, tomando a perspectiva analítica de comparar como estes
autores, clássicos e fundamentais para a compreensão do Brasil, conseguiram superar o
racismo que aparecia inerente em suas obras, mostrando uma abordagem crítica em relação
à sociedade brasileira e abordando aspectos culturais e sociais do Brasil, até então inéditos.
ABSTRACT
The objective of this thesis is to understand the existing tensions and metamorphoses
in the social analysis carried through by for some of the main Brazilian authors of the turn
of century XIX for the XX, looking for to demonstrate that, going beyond the racist
ideologies gifts in its workmanships, them they tried to understand and to explain the
Brazilian society and the culture, opening, thus, to new ways and perspectives for other
studies.
In this direction the workmanships of Sílvio will be analyzed Romero, Nina
Rodrigues, Euclides of Cunha and Oliveira Vianna, taking the analytical perspective to
compare as these authors, basic classics and for the understanding of Brazil, had obtained to
surpass the racism that appeared inherent in its workmanships, showing a critical boarding
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in relation to the Brazilian society and approaching cultural and social aspects of Brazil,
until then unknown.
PALAVRAS CHAVE: RACISMO, NACIONALISMO, CULTURA BRASILEIRA,
SERTANEJO, NEGRO, MESTIÇO, BRANQUEAMENTO, SÍLVIO ROMERO, NINA
RODRIGUES, EUCLIDES DA CUNHA, OLIVEIRA VIANNA
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AGRADECIMENTOS
Para a elaboração desta tese, recebi a ajuda, direta ou indireta, de diversas pessoas,
que me auxiliaram com idéias, sugestões, informações, apoio ou simplesmente dedicando o
seu tempo para ouvir as minhas histórias sobre os assuntos relacionadas a este estudo.
Gostaria de fazer um agradecimento especial, em primeiro lugar, ao meu orientador
Marcos Silva, que se mostrou não apenas amigo e próximo nas horas difíceis deste
trabalho, mas também orientado, auxiliando e me apoiando nesta tarefa, bem como na
minha vida acadêmica mais amplamente. Sem a sua ajuda, jamais chegaria até este ponto
na minha vida. Sempre serei muito grato a ele.
Também gostaria de agradecer aos professores Antônio Sérgio Guimarães, tanto
pelas aulas de pós-graduação, quanto pelas dicas e sugestões apresentadas quando do
exame de qualificação; e a Airton José Cavernaghi, cujas sugestões me foram muito úteis e
serviram de guia para perceber falhas e pontos a serem corrigidos neste estudo.
Em especial, gostaria de agradecer às pessoas vinculadas a viagens que eu realizei
para fins deste estudo. Assim, tenho um agradecimento especial a Luiz Antônio Barreto,
do Instituto Tobias de Barreto, em Aracaju, que me forneceu um material muito importante
sobre Sílvio Romero e Euclides da Cunha, além das nossas conversas quando da minha
viagem a Aracaju em 2005. Nesta viagem, tive o prazer de conhecer e conversar muito com
o Ronaldo Conde Aguiar, da UNB, o que me foi muito importantes para refletir sobre Sílvio
Romero (além das nossas conversas sobre Manoel Bomfim) e a cultura popular nordestina
– grande contribuição para o meu estudo.
Um abraço especial também às pessoas de Aracaju, como os professores José Vieira
e o Bittencourt da Universidade Tiradentes.
Mas de todos de Aracaju, é importante
mencionar com destaque ainda maior José Maria de Oliveira Silva, já amigo de muitos
anos, que sempre me auxiliou e apoiou nas pesquisas. Como amigo e intelectual, José
Maria esteve sempre ajudando o desenvolvimento do meu trabalho em particular sobre
Sílvio Romero e Euclides da Cunha. José Maria, um grande abraço por tudo.
De Salvador, gostaria de agradecer a Lamartine Lima e a Maria do Socorro, do
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, que me forneceram um material precioso sobre
Nina, quando de minha estada em Salvador em 2007. Lamartine Lima, em especial, que eu
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não conheci pessoalmente, mas com quem tive o prazer de trocar correspondências, sempre
foi uma pessoa muito zelosa e amiga nas conversas e nas informações sobre o assunto.
Da Bahia, ainda preciso agradecer a várias pessoas, em especial da viagem que eu
realizei pelo sertão. Assim, vai um abraço muito especial a Sandorval Vieira de Macedo e a
Lane, que apresentaram Canudos, mostrando a vida do sertanejo. Canudos foi uma
experiência fascinante e isto devo muito a vocês. Da cidade de Euclides da Cunha, um
abraço para o professor Adriano, do curso de Letras da UNEB, que me mostrou a cidade e a
realidade da vida na região do sertão. De Monte Santo, uma das cidades mais bonitas do
sertão, também mando agradecimentos para a Rita e a Genilda, que me auxiliaram quando
da minha ida para lá.
Da viagem que eu realizei para a Casa de Cultura Oliveira Vianna, em Niterói,
gostaria de agradecer ao pessoal que me atendeu prontamente por lá. Assim sendo, vale um
abraço especial para a Patricia e todo o pessoal da casa, que me ajudaram muito na
pesquisa que eu realizei em 2008. Também agradeço muito a hospitalidade da família do
Nier, a Deizeny, a Deisedy e o Deiny Monteiro Leite, que me receberam com muito carinho
e atenção quando da estada em seu apartamento em Niterói, facilitando em muito a minha
pesquisa.
Também agradeço ao pessoal da Casa de Cultura Euclides da Cunha, de São José do
Rio Pardo, pela atenção e pelo envio de material iconográfico que foi fundamental para
meu trabalho.
Aos amigos distantes fisicamente, mas sempre disponíveis para me ajudar e apoiar
neste trabalho, vai um abraço especial para John e Kay Sharp, para as irmãs Cornejo –
Mirita, Carmen e Silvia; Natasha Robalino, Marly Restivo, Christina Caimi da Silva,
Michael da Silva, Karina Hanns, Judith Benz, Michael Trendel e Lizelle van de Merwe.
Aliás aqui vai uma abraço também para os pais da Lizelle, Charl e Sannete que me
receberam em sua casa na África do Sul.
Esta experiência, embora não diretamente
relacionada à tese, foi de grande importância para a compreensão da questão racial em uma
sociedade onde o debate sobre a identidade ainda está, literalmente, à flor da pele.
Da mesma forma, gostaria de agradecer aos amigos mais próximos que tanto me
auxiliaram neste trabalho, como o Marcos Voelzke, Vinicius César Dreger de Araujo, Ivana
Freire de Carvalho e a Andréa Regina Ambrósio Nakamura; aos meus amigos da família
9
Antunes: Edlene, Ana Julia, ao Lucas – que desta vez não perguntava sobre o que eu estava
mexendo em meu computador e sim o que eu estava estudando e escrevendo, a Elaine e o
Mauricio e as suas filhas Leticia e Manuela. Aos colegas da Companhia do Metropolitano
de São Paulo – Metrô, que tendo convivido comigo por muitos anos, puderam me auxiliar
na elaboração deste estudo: Décio Fábio Barbieri (in memoriam), Marise Malzone Gomes,
Inês Ratamero, Beth Martin, Raquel Anderman, Roberta Marinho R. Rosinholi, (entre
outros amigos do RH), Milton Malerba, Daniel Abrantes Arnaut, Edson Fogo, Ismael
Côrrea Coimbra, Jair Ribeiro de Souza, Sônia Cristina dos Santos Moliterno, Hermison
Taylor da Silva, José augusto Monteiro, Israel Salgado, Francisco de Assis Pereira (que me
ajudou bastante, em especial na minha viagem à Niterói – sempre lhe serei muito grato),
Ari de Oliveira Rocha, Oséas Gomes Pereira, Carlos Roberto Campbell, Sandra Regina M.
de Barros Martins, Luis Rogério G. De Oliveira, Maria Elisabete Chiarella, Tânia de
Vasconcelos Teruel, Michele Valeri e Rosa Maria Anacleto.
Também envio um agradecimento a minha família: a minha avó, Maria do Carmo
Sequeira; o meus tios Julio e Leila, Olivia e Renato, Pedro (in memoriam) e Ione, Vera e
Celso; e os meus primos, que sempre ficavam curiosos em saber o que este primo estava
escrevendo ou estudando desta vez: o Carlos Eduardo e sua esposa Cyntia, a Camila, a
Lais, a Marcela e o seu marido Alessandro, a Renata, a Cynthia, o seu marido Rafael e a
pequena Gaby; a Patricia, a Natália e um grande e especial abraço no Guilherme, que
sempre me apoiou e se orgulhou de ter um “primo intelectual”.
As minhas primas do Rio de Janeiro, a Olivia, a Isabel, a Maria e a Marcia Silva,
que também me apoiaram tanto na realização deste estudo – um forte abraço e um obrigado
por tudo.
Por último, um agradecimento especial aos meus pais e ao meu irmão, que tanto me
estimularam no desenvolvimento desta pesquisa ao longo dos anos. O meu pai, Emidio
Basilio
Bechelli, que tanto me ajudou no que pode; o meu irmão, Robson Sequeira
Bechelli,que manteve o meu computador funcionando e com o “antivirus sempre
atualizado”; e a minha mãe, Maria Teresa Sequeira Bechelli, que sempre dedicou o seu
tempo e carinho (quando não paciência e atenção), o que foi de fundamental importância
para a execução deste trabalho. Assim, esta tese é dedicada, acima de tudo, a eles.
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INTRODUÇÃO
“Os homens que nasceram num mesmo ambiente social, em datas próximas,
sofrem necessariamente, em particular em seu período de formação,
influências análogas. A experiência prova que seu comportamento
apresenta, em relação aos grupos sensivelmente mais velhos ou mais jovens,
traços distintivos geralmente bastante nítidos. Isso até em suas
discordâncias, que podem ser das mais agudas. Apaixonar-se por um mesmo
debate, mesmo em sentidos opostos, ainda é assemelhar-se. Essa
comunidade de marca, oriunda de uma comunidade da época, faz uma
geração.”
(Marc Bloch. Apologia da História, p. 151)
O objetivo desta tese é compreender as tensões e metamorfoses existentes na análise
social realizada por alguns dos principais autores brasileiros da virada do século XIX para o
XX, procurando demonstrar que, indo além das ideologias racistas presentes em suas obras,
eles tentavam entender e explicar a sociedade e a cultura do país, abrindo, assim, novos
caminhos e horizontes para outros estudos.
Minha hipótese é de que, como resultado da tensão entre o paradigma racial dado
como “verdade científica” naquele tempo e o estudo da realidade brasileira, acabaram
produzindo um choque que moldaria tanto a forma como estes intelectuais compreendiam
tais teorias, quanto suas análises sociais, buscando explicações e saídas para a realidade
brasileira na História e na sociedade nacionais.
Neste estudo, existem algumas premissas básicas.
A primeira é a de que a questão racial está diretamente vinculada à questão da
identidade nacional. A definição desta identidade - quando o país vivia mudanças internas
como a abolição da escravatura e a proclamação da República, e externas, com o auge do
imperialismo europeu - era de crucial importância para os intelectuais brasileiros. A
definição da identidade brasileira implicava, principalmente, na questão racial: era a raça, o
biológico, que definiria a sociedade e o país. Portanto, para eles, a “raça” brasileira era o
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