Na mídia - Cândice La Terza
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Na mídia - Cândice La Terza
RELIGIÃO ESPECIAL NOIVAS POR SHEILA ALMEIDA Como fazer o casamento quando os noivos e suas famílias não têm a mesma crença? A seguir, mostramos várias formas de viabilizar essa união. Uma delas é o culto ecumênico O administrador Wallace Barbezan, de 31 anos, e a analista de comunicação Amira Ayoub, de 27, se conheceram durante um evento profissional. E sabe aquelas histórias de cinema, em que a paixão é instantânea, mas que ficar junto não é algo tão simples? Foi exatamente isso que aconteceu. Em parte porque Wallace é católico e Amira, muçulmana xiita. Ele conta, inclusive, que hesitou na hora de se aproximar dela. Mas, no último dia do evento, os dois resolveram arriscar. E acabaram namorando! Restou apenas o desafio de levar a relação ao conhecimento principalmente da família dela. “Tivemos que fazer uma reunião. Falei com a minha mãe e ela ficou tensa, mas chamou todos na sala. Conversamos e eles deixaram. 60 AT REVISTA - 17/MAIO/15 Só que impuseram um monte de regras. Foram oito anos namorando no sofá de casa”, lembra Amira. Os planos para o casamento, aliás, começaram bem cedo, logo no início do namoro. Eles tiveram de aprender, assim como diversos casais, a cultivar sem espinhos um sentimento que floresce entre pessoas de religiões diferentes. Para oficializar a união, o casal fez uma cerimônia seguindo a religião islâmica, apesar de Wallace não ter se convertido. Mas, antes disso, ele precisou passar por uma entrevista, para mostrar que, mesmo católico, aceitava Maomé. “Segui a tradição do catolicismo: fiz primeira comunhão e crisma. Porém, aceitei a família da Amira. E estamos falando de oito anos de namoro no sofá. Tenho que confessar que, desde o começo, me preocupei. No entanto, achei muito mais bonito respeitar a cultura dela. O importante é fazer com que a religião não seja o problema”, conta Wallace, que se casou em 2012. “Você está com a pessoa não para mudá-la e, sim, para somar. Ela nunca exigiu nada de mim”. E embora, nesse tempo junto, o casal já tenha visto cerimônias com celebrantes de crenças diferentes, o administrador observa: “Casamento envolve muitas questões que precisam ser acertadas. Religião é só uma delas. É necessário conversar, entender ambos os lados e, como em vários momentos da relação, saber ceder”. DE BEM COM A FAMÍLIA Há apaixonados que não abrem mão de sua religião. Até porque, em muitos casos, a família fala mais alto. Mas, mesmo assim, dá para se chegar a um entendimento. A história da economista católica Veridiana de Meo Altman e do analista de sistemas judeu Daniel Altman, ambos de 35 anos, é um exemplo disso. “Sabíamos que existe o modelo de cerimônia FOTOS ACERVO PESSOAL UNIDOS POR FÉS DIFERENTES Wallace (católico) e Amira (muçulmana) decidiram por cerimônia na religião dela inter-religiosa, como os famosos costumam fazer. Em contrapartida, alguns amigos judeus que casaram tiveram que se converter. Só que essa possibilidade não existia nem para mim, nem para o Daniel. Ou a gente fazia algo meio a meio, ou não daria certo”, lembra Veridiana, que se casou em 2010. Tudo também funcionou graças a um empurrãozinho da mãe do noivo, que conheceu um padre que indicou um celebrante judaico. Os dois religiosos conduziram a cerimônia, que teve referências das duas crenças, numa junção de símbolos e significados. Veridiana dá detalhes: “A cerimônia judaica não costuma ter padrinhos, mas nós tivemos. Os judeus usam um chapéu chamado quipá. Então, todos os padrinhos o utilizaram, inclusive os católicos. No catolicismo, a celebração é no altar. Nós fizemos numa chupá, que é uma espécie de cabana. E ainda festejamos quebrando um copo”. CERIMONIALISTAS Muitas vezes, o ponto de equilíbrio não está somente na compreensão e no respeito mútuo. A figura do celebrante (ou dos celebrantes), como deu para perceber, também pode ajudar a fazer toda a diferença. Cândice La Terza, que tem experiência em uniões inter-religiosas, explica que, hoje em dia, há uma diversidade grande de tipos de união. “Existe quem não vá à igreja, quem escolhe padre, rabino... Há, inclusive, o casamento homoafetivo. E as pessoas que optam apenas por fazer a união civil. O importante é se casar”. A cerimonialista já celebrou até um casamento entre ateus. “A noiva comentou: Olha, acho que Deus não tem nada a ver com o Veridiana (católica) e Daniel (judeu) aparecem na chupá, o altar do casamento judaico nosso amor e que somos responsáveis pelas nossas atitudes”, lembra. De acordo com Cândice, é perfeitamente possível realizar uma cerimônia bonita, ouvindo os dois lados e perguntando o que eles esperam. O contraste, inclusive, pode contribuir para que a celebração se torne ainda mais marcante e personalizada. “Quando o casamento é em um local como igreja ou mesquita, já há uma cerimônia e ritos pré-montados. Mas, dependendo do celebrante, os textos podem ser produzidos especialmente para cada história”, reforça a cerimonialista, que acredita que a sensibilidade e o equilíbrio são essenciais. CULTOS ECUMÊNICOS As noivas cristãs que não abrem mão do sonho de entrar na igreja ou no templo de branco e ter a cerimônia celebrada por um padre ou por um pastor, mas que vão se casar com alguém de vertente diferente do cristianismo, devem considerar o chamado culto ecumênico. Que é conhecido também como casamento interconfessional ou misto. Quem administra a união das igrejas no Brasil é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), cuja sede fica em Brasília. Gabriele Cipriano, padre que já foi membro da entidade, explica que “todos os cristãos batizados em água, que foram abençoados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, podem se unir na igreja”. Mas, como se trata de um caso especial, cabe aos noivos procurar suas comunidades e conversar sobre a situação. Afinal, muitas vezes, será pedida uma autorização à organização local – no caso da Igreja Católica Apostólica Romana, ao bispo da Diocese de Santos. Basicamente são dois tipos de união. Uma é o casamento misto que pode ser realizado na Igreja Católica sem que a outra parte tenha de renunciar o fato de ser evangélica. Há ainda o modelo em que o padre, o pastor ou ambos presidem a celebração. ● 17/MAIO/15 - AT REVISTA 61