TELHAS ONDULADAS DE BAMBU
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TELHAS ONDULADAS DE BAMBU
III ENECS – ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS TELHAS ONDULADAS DE BAMBU – CIMENTO Antonio Ludovico Beraldo ([email protected]) Professor Associado da Faculdade de Engenharia Agrícola/ Departamento de Construções Rurais/Universidade Estadual de Campinas. Felix Kan Cheng Huang Chen ([email protected]) Graduando em Engenharia Agrícola/ Bolsista do Serviço de Apoio ao Estudante - SAE/Universidade Estadual de Campinas. Anísio Azzini ([email protected]) Mestre em Fitotecnia/ Instituto Agronômico de Campinas/ Seção de Algodão e Fibrosas Diversas/ Bolsista do CNPq. RESUMO O bambu é um material renovável e disponível em áreas rurais. Constituiu o objetivo deste trabalho o estudo do comportamento físico-mecânico do compósito bambu-cimento, além do estudo das características de telhas onduladas feitas à base de partículas de bambu e argamassa de cimento e areia. Partículas de bambus (Dendrocalamus giganteus e Bambusa vulgaris) foram submetidas a diversos tratamentos para melhorar sua compatibilidade química com o cimento Portland. Corpos-de-prova cilíndricos foram confeccionados adotandose o traço 1:0,375:0,7 e submetidos à cura úmida por 7 dias; seguidos de 21 dias de exposição ao ar livre. Durante esse período avaliou-se a evolução da velocidade de propagação de onda ultra-sônica através dos mesmos. Após 28 dias efetuou-se o ensaio de compressão simples. Análises estatísticas indicaram o melhor tratamento, com o qual foram confeccionadas telhas onduladas à base de partículas de bambu e argamassa de cimento e areia (traço 1:1,5:0,125:0,62). As telhas onduladas mostraram um bom desempenho em testes de absorção, de permeabilidade e de resistência em flexão. Palavras-chave: bambu, compósito, telhas onduladas BAMBOO - CEMENT UNDULATED TILES ABSTRACT Bamboo is a renewable and available raw-material in rural areas. The aim of this work was to study the physicomechanical behavior of bamboo-cement composite and the undulated tiles properties made with cement mortar and bamboo particles. Particles from two bamboo species (Dendrocalamus giganteus and Bambusa vulgaris) were submitted to several treatments to enhance its chemical compatibility with Portland cement. Cylindrical samples were made (ratio 1:0.375:0.75) and they stayed in cure procedure: 7 days in humid environment and 21 days in laboratory conditions. Day after day ultrasonic speed wave propagation across the samples was evaluated and after 28 days compression test was conduced. Best treatment obtained from statistical analyses was choose to produce undulated tiles from cement mortar and bamboo particles (ratio 1:1.5:0.125:0.62). Undulated tiles showed a good performance in absorption, permeability and flexural tests. Keywords: bamboo, composite, undulated tiles 1. INTRODUÇÃO O uso de materiais de construção civil à base de cimento reforçado com fibras está aumentando rapidamente; atualmente cerca de 28 milhões de toneladas de produção anual são estimadas em todo o mundo, em especial nos países desenvolvidos. A justificativa para isso está na possibilidade de produção de componentes esbeltos (leves), com bom desempenho mecânico (elevada absorção de energia frente a esforços dinâmicos), bom isolamento termoacústico, além da indispensável viabilidade econômica. No caso dos países em desenvolvimento, nos quais a escassez de habitações e de edifícios para fins públicos, comerciais e industriais é bem maior, a aplicação desses materiais na construção pode contribuir para acelerar a produção de edificações com desempenho adequado. Com essa finalidade, as fibras vegetais são apresentadas como opção para reduzir o custo da produção dos compósitos, procurando-se, ao mesmo tempo, solucionar os problemas advindos do uso dessas fibras, notadamente a baixa durabilidade em meios alcalinos. Desde a década de 30, vem sendo estudada a utilização de resíduos agro-industriais, como, por exemplo, partículas de madeira e casca de arroz, em compósitos à base de aglomerantes inorgânicos (BERALDO, 1997). Atualmente, estima-se que a produção mundial de compósitos cimentícios com reforço de fibras celulósicas, combinadas ou não com fibras plásticas, esteja ao redor de 1,4 milhão de toneladas ao ano, produção essa localizada, em grande parte, nos EUA, Europa, Oceania, Ásia e África do Sul. No mercado brasileiro, o cimento amianto aparece, ainda hoje, como único compósito fibroso à base de matriz cimentícia, com larga escala de produção, apesar da polêmica quanto ao seu uso na construção civil. Segundo GIANNASI e THÉBAUD-MONY (1997), essas fibras minerais representam alto potencial de risco à saúde humana, daí o interesse em substituí-las. Uma opção seria a produção de um compósito à base de fibras vegetais e cimento. A cobertura é um item indispensável na construção civil, e o principal componente da cobertura são as telhas, que podem ser encontradas em vários modelos, dimensões e fabricadas a partir de diferentes tipos de materiais. No mercado encontram-se os principais tipos de telhas: cerâmica, de alumínio, de aço zincado e de cimento-amianto (INTERNET). No caso de habitações as telhas metálicas são pouco utilizadas no Brasil, sendo empregadas mais no caso de edificações industriais e comerciais. As telhas cerâmicas constituem-se em um tipo de componente empregado praticamente em todas as regiões do pais, devido ao seu baixo custo, e por possibilitar condições razoáveis de conforto ao usuário. As telhas de cimento-amianto (ou fibrocimento), também são largamente utilizadas, tanto no meio urbano, mas principalmente no meio rural, como por exemplo: em moradias, galpões, armazéns, paióis, e em cobertura de currais, cochos, estábulos, pocilgas, aviários, etc. As telhas de cimento-amianto possuem grande resistência e durabilidade. São bem mais leves do que as de cerâmica, podendo ser apoiadas sobre estruturas (tesouras, terças, caibros) mais simples e de menor peso; absorvem pouca umidade, ao contrário das de barro; apresentam bom isolamento sonoro em relação às telhas de alumínio e de aço zincado, que amplificam o ruído da chuvas. Mas apesar das suas vantagens, atualmente seu uso está sendo contestado por alguns países, por se tratar de um componente fabricado à base de amianto.. Mediante os fatos, faz-se necessário a utilização de um outro componente na fabricação de telhas fibrocimento em detrimento do amianto como base do composto, como por exemplo, a utilização de uma biomassa-vegetal. Bambu O bambu é a planta que apresenta o maior crescimento vegetativo do mundo. O bambu gigante, como é chamada a espécie Dendrocalamus giganteus, por exemplo, cresce em média 10 cm por dia, podendo alcançar até 40 cm em 24 h (MEDINA, 1958). Na maior parte do território brasileiro a cultura do bambu não encontra grandes limitações, em relação às condições edafoclimáticas, podendo ser cultivada em solos de menor fertilidade e inadequados topograficamente para uso em culturas anuais. Deve-se ressaltar, também, que a cultura do bambu tem um ciclo curto comparado ao da madeira, o custeio barato, e é um material presente no cotidiano de grande parte da humanidade. Telhas onduladas As telhas estão sujeitas a condições de exposição bastante agressivas. Estão expostas diretamente à radiação solar e à chuva; tipicamente as telhas possuem pequena espessura. As telhas de cimento-amianto ou fibrocimento são formadas a partir da moldagem da pasta de cimento (~90%) e fibra de amianto (10%), em um processo semelhante aquele utilizado para a fabricação de papel. Embora seu uso seja condenado em alguns países, o amianto ainda é largamente utilizado no Brasil, principalmente para uso na construção civil em elementos de cobertura e reservatórios domésticos de água, além de painéis de fechamento verticais e horizontais. Compósitos biomassa vegetal-cimento (INTERNET - CBVC) Compósitos biomassa vegetal - cimento (CBVC) podem ser utilizados para as mais diversas finalidades, em vista de suas características de baixa massa específica, isolamento termoacústico, resistência ao fogo, impermeabilidade e resistência mecânica que, embora não seja tão alta quanto a do concreto, não é desprezível. As utilizações mais comuns do CBVC são na fabricação de painéis anti-ruído, revestimentos, forros, vedação de equipamentos industriais, pisos, blocos não estruturais, etc. Suas características enquanto material fresco dependem do resíduo vegetal empregado, podendo conseguir-se facilmente ótima trabalhabilidade com partículas de fibras curtas. No entanto, existe uma preocupação quanto ao uso de matérias-primas de origem vegetal na modificação de matrizes cimentíceas, devido á ação nefasta dos constituintes químicos presentes na biomassa vegatal, em relação á pega e ao endurecimento da matriz. Desse modo são buscadas alternativas para anular/minimizar esse efeito. Dentre elas, a lavagem em água quente permite efetuar a remoção de extrativos presentes nas partículas vegetais, conforme procedimento utilizado por BIBLIS e LO (1968). Aceleradores, como o cloreto de cálcio e o sulfato de alumínio, têm sido empregados no estudo de compósitos madeira-cimento. Em presença de acelerador, o cimento tende a se hidratar mais rapidamente, não havendo tempo para que os extrativos da madeira afetem a reação de hidratação do cimento. SANDERMANN e BRENDEL (1956), citados por JAIN et al., (1989), desenvolveram o método de determinação da resistência à compressão de corpos-de-prova cilíndricos, preparados com mistura de madeira e cimento e submetidos à cura apropriada, para efetuar a avaliação da compatibilidade entre a biomassa vegetal e o cimento. Ensaio não destrutivo (END) Resultados obtidos por BERALDO (1999) indicaram a adequação do método não destrutivo (velocidade de propagação de onda ultra-sônica) para a avaliação do comportamento de compósito à base de cimento Portland e resíduos de processamento mecânico de madeira tropical. O método foi sensível inclusive para detectar a incompatibilidade química entre os constituintes do compósito, fato este denotado pela ausência de sinal acústico no receptor. Além disso, o autor obteve boa correlação entre a velocidade máxima de propagação da onda e a resistência à compressão simples. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Tratamento das fibras de bambu: Colmos de bambus das espécies Bambusa vulgaris e Dendrocalamus giganteus foram processados em equipamentos agrícolas e transformados em partículas (dimensão inferior a 2,4 mm), as quais foram submetidas a diferentes tipos de tratamentos, com a finalidade de melhorar sua reação química com o cimento Portland. Lavagem: as partículas de bambu permaneceram durante 2 h em água a 80 °C. Após esse período, os bambus foram então secados ao ar livre. Outro tratamento realizado foi a lavagem em solução diluída de hidróxido de sódio e hidróxido de cálcio. Nesse caso, as fibras dos bambus foram colocadas em soluções com 5% de concentração para cada um desses compostos por um período de 24 h. Após esse período, efetuou-se a lavagem das partículas em água corrente (para a retirada do excesso desses produtos), e realizou-se, a seguir, a secagem ao ar livre. Aceleradores: o tratamento com aceleradores químicos foi realizado com sulfato de alumínio e cloreto de cálcio, ambos com 3% em relação à massa de cimento. Esses aceleradores foram adicionados à água de amassamento utilizada na confecção dos corpos-de-prova. Confecção de corpos-de-prova Foram confeccionados 6 corpos-de-prova para cada tipo de cimento, sendo 3 deles para cada espécie de bambu. O traço em massa (cimento: bambu: água) adotado foi de 1: 0,375: 0,75; sendo necessários 400 g de cimento para 150 g de bambu, para 300 g de água para a confecção de 3 corpos-de-prova (repetições). Os cimentos utilizados foram o CP-III, da marca CAUÊ (Camargo Corrêa), atendendo às especificações da norma NBR 5735, e o CP-V-ARI (NBR 5733), da mesma marca. Os corpos-de-prova foram confeccionados, misturando-se o cimento, o bambu e a água e colocando-os em fôrmas cilíndricas feitas de PVC. A compactação foi efetuada mediante o uso de uma espátula. Após esse procedimento, os corpos-de-prova foram colocados em um saco plástico, durante uma semana, para sofrer a cura. Ensaio não destrutivo Depois de decorridas 24 h da confecção dos corpos-de-prova efetuou-se a desmoldagem e o ensaio não destrutivo (propagação de onda ultra-sônica), com o auxílio do equipamento Ultrasonic Tester BP 7 (Steinkamp). Foram utilizados sensores de seção exponencial com freqüência de ressonância de 45 kHz. Os corpos-de-prova foram ensaiados por um período de cinco a sete dias, interrompendo-se o ensaio quando a velocidade de propagação da onda ultra-sônica tendesse a se estabilizar. Ensaio de Compressão Simples Nesta etapa inicial do trabalho buscou-se avaliar a interação entre os tratamentos aplicados às partículas de bambu e o tipo de matriz utilizada. Para tanto adotou-se o ensaio de compressão simples dos corpos-de-prova, como um estimador do desempenho global do material. Entendeu-se que a resistência à compressão é uma condição necessária, porém não suficiente, para avaliar o desempenho do material. No presente trabalho não foi verificada a durabilidade do material. Depois de decorrido um período de 15 dias da realização do ensaio não destrutivo dos corposde-prova, efetuou-se o ensaio de compressão simples dos mesmos. Foi utilizada a Máquina Universal de Ensaios (capacidade de 200 kN) pertencente ao Laboratório de Instrumentação e Controle da FEAGRI para a realização dos ensaios, seguindo-se as recomendações da norma NBR 7215. Fabricação de Telhas Após ser realizada a avaliação estatística dos resultados obtidos no ensaio precedente, foi selecionado o melhor tratamento para a execução de uma série de telhas onduladas. As características desejáveis para a fabricação das telhas são maior resistência à flexão, menor absorção de água e mínima variação dimensional. As telhas foram produzidas por processo de moldagem sob vibração, em um equipamento similar ao da PARRY ASSOCIATES, desenvolvido na FEAGRI-UNICAMP. O processo de fabricação consistiu em, após efetuar a mistura, colocar um filme plástico sobre a mesa vibratória, travar o quadro, colocar a mistura sobre o filme plástico, acionar o vibrador por 2 minutos, dar acabamento superficial com desempenadeira metálica (figura 1a) e puxar o filme plástico com a massa vibrada sobre o molde (figura 1b). As telhas de 8 mm de espessura apresentaram dimensão padrão de 26,8 cm X 49,0 cm. Figura 1 – a) Acabamento da telha ondulada (PIMENTEL, 2000) b) Colocação da telha sobre o molde Foram produzidas 12 telhas de argamassa de cimento e areia modificada pela inclusão de partículas dos bambus B. vulgaris e D. giganteus (6 telhas para cada espécie de bambu). Na composição das telhas adotou-se o tratamento mais adequado obtido no item precedente; porém, devido às especificidades da telha (principalmente a baixa permeabilidade), tornou-se necessário o uso de argamassa (traço: 1: 1,5 : 0,125 : 0,62), ligeiramente modificada em relação ao trabalho de PIMENTEL (2000). As telhas, após a desmoldagem, foram colocadas em uma câmara úmida para serem submetidas ao processo de cura durante uma semana. Ensaio das telhas onduladas Resistência à flexão: este ensaio foi realizado conforme procedimento indicado para "Controle de Qualidade de Produção", pelo Manual SKAT (1991). Os ensaios foram conduzidos na FZV – Pirassununga com o auxílio do equipamento EMIC 30000. O software que comanda a máquina de ensaios registra as tensões no limite de proporcionalidade e de ruptura, além de fornecer a energia específica (área sob a curva). Permeabilidade: foi realizada segundo a norma brasileira para telhas de concreto (NBR.13858-2). Fixou-se, de forma apropriada, um tubo transparente com diâmetro de 35 mm e altura tal que permitisse formar uma coluna d'água de 250 mm (figura 2). Observou-se o aparecimento de manchas ou a formação de pingos na face inferior da telhas. Figura 2- Dispositivo para realizar o ensaio de impermeabilidade (PIMENTEL, 2000) Absorção (A): também foi realizada segundo a norma precedente, colocando-se a telha a ser testada em recipiente com água potável, por 24 horas, pesando-a e, a seguir, secando-a em estufa a 105 °C até constância de massa. A absorção foi calculada por: A= Ph − Ps .100% Ps onde: Ph = massa da telha saturada; Ps = massa da telha anidra. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ensaio não destrutivo Os diferentes tipos de tratamento das partículas de bambu propiciaram a obtenção de compósitos com diferentes comportamentos no ensaio não destrutivo. Isso pôde ser observado através da análise dos dados da velocidade de propagação da onda ultra-sônica através dos corpos-de-prova em relação ao longo do tempo. Conforme relatado por BERALDO (1999), em determinadas situações o ensaio não destrutivo mostrou-se adequado apenas quando ocorreu a pega do cimento com as fibras vegetais; ou seja, quando a cristalização do cimento ocorreu de forma adequada no seio da mistura, iniciando a formação de uma rede de silicatos. Para vários tratamentos não foi possível detectar o sinal acústico denotando a ineficiente ligação entre a matriz e as partículas vegetais, fruto da inibição causada pelos extrativos presentes nas partículas de bambu. Tal hipótese pôde ser confirmada durante a realização do ensaio de compressão simples, quando os corposde-prova ensaiados mostraram-se totalmente inadequados. O processo de lavagem do bambu elimina parcialmente os extrativos (principalmente açúcares) presentes nas partículas vegetais, permitindo melhorar o processo de cristalização do cimento. A utilização do sulfato de alumínio e cloreto de cálcio, por sua vez, tem a finalidade de acelerar o desenvolvimento dessa reação. O uso desses tratamentos de forma isolada ou combinada favoreceu à interação química entre a matriz e as partículas vegetais. A velocidade de propagação da onda ultra-sônica aumentou devido à cristalização do cimento junto às fibras vegetais. Assim, com o passar do tempo, diminuem os vazios no interior dos corpos-de-prova, que se tornam mais compactos. Pode-se observar nos gráficos obtidos, inclusive que a velocidade de propagação da onda ultra-sônica através do corpo-de-prova, com o passar do tempo, tende a se estabilizar, geralmente após 5-7 dias da fabricação. Foram obtidos dois gráficos para cada tipo de tratamento efetuado, sendo um deles o gráfico auxiliar (necessário para a obtenção dos coeficientes da curva do comportamento teórico da propagação do sinal) e o outro comparando as curvas obtidas experimentalmente com o modelo teórico. O gráfico auxiliar foi obtido através de: v = v max (1 − exp( A − Bt )) Onde: V = velocidade teórica de propagação da onda através do corpo-de-prova; Vmax = velocidade máxima de propagação obtida experimentalmente. Da equação tem-se: (Vt – Vmax) / Vmax = - exp (A – Bt) (Vmax – Vt) / Vmax = exp (A – Bt) Assim, ln [(Vmax – Vt) / Vmax] = A – Bt y = A – Bt (1) (2) (3) (4) A equação (4) indica os coeficientes da curva, conforme apresentado no gráfico auxiliar (figura 3), para cada tipo de tratamento. Substituindo os coeficientes obtidos pode-se encontrar a curva da velocidade de propagação teórica ao longo do tempo e compará-la com os valores experimentais (figura 4). Nas figuras 5 e 6 apresentam-se curvas teórica e experimental relativas aos outros tipos de tratamento adotados. CP V- ARI- NSA - BV CP V - ARI - NSA - BV 0 2 3 4 5 Velocidade (km/s) 1 ln(y) -1 y = -0,83x - 0,025 R2 = 0,97 -2 -3 -4 1,80 1,60 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 Exp. Modelo 1 2 Idade (dias) 3 4 Idade (dias) Figura 3- Gráfico auxiliar para a obtenção Dos coeficientes das curvas Figura 4- Velocidade de propagação x idade B. vulgaris natural + sulfato de alumínio + CP V - ARI CPIII-LSA-BV CPIII-LSA-DG 1,40 1,20 1,00 1,60 0,80 1,40 0,60 0,40 0,20 0,00 1 2 3 Idade (dias) 4 5 Velocidade (km/s) Velocidade (km/s) 1,60 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 1 2 3 4 Idade (dias) Figura 5 - Velocidade de propagação x idade Figura 6 - Velocidade de propagação x idade B. vulgaris lavado + sulfato de D. giganteus lavado + sulfato de alumínio + CP – III (mesma legenda da figura 4) alumínio + CP - III (idem) Ensaio de Compressão Simples Os diferentes tipos de tratamento aos quais foram submetidas as partículas de bambu influenciaram o processo de hidratação do cimento. Embora alguns tratamentos realizados apresentassem corpos-de-prova com elevada resistência à compressão - da ordem de 20 a 30 MPa- valor muito superior àquele usualmente encontrado para tais compósitos BERALDO (1997), atribuiu-se tais resultados à deformação excessiva sofrida pelo material, devido à sua natureza dúctil, não sendo possível evidenciar-se uma ruptura característica. Essa decisão de excluir tais corpos-de-prova foi baseada no resultado obtido no ensaio não destrutivo por ultra-som, no qual se evidenciou a baixa velocidade de propagação da onda ultra-sônica através dos mesmos. Os materiais foram considerados adequados quando a velocidade de propagação estabilizava-se em valores superiores a 1,5 km/s. Análise Estatística Com os dados de velocidade de propagação das ondas ultra-sônicas e do ensaio de compressão simples dos corpos-de-prova, foi realizada uma análise estatística (SANEST – Sistema de Análise Estatística – Zonta e Machado, s/d, ESALQ – USP) para permitir a escolha do melhor tratamento das fibras de bambu para a fabricação das telhas. O tratamento que apresentou os melhores resultados nos ensaios não destrutivo e mecânico foi aquele referente à adição de cloreto de cálcio (3%) ao cimento CP-V-ARI, combinado com partículas lavadas preliminarmente em água quente. Telhas onduladas As telhas onduladas fabricadas com o tratamento indicado no ítem precedente, ensaiadas aos 28 dias, apresentaram um bom comportamento nos ensaios de caracterização aos quais foram submetidas. Os valores encontrados foram: 5 Absorção = 15,25% = 1,73. Energia específica (kJ.m-2) = 0,60 Massa específica aparente (kg.m-3) Para efeito comparativo, PIMENTEL (2000) encontrou energia específica de telhas onduladas à base de partículas de Pinus caribaea de 0,56 (resíduos de serraria) e 0,38 (material parafinado). Por sua vez, telhas de microconcreto (testemunha), ensaiadas pela autora, apresentaram apenas 0,25 kJ.m-2. Tanto as telhas ensaiadas pela autora precedente, assim como aquelas do presente trabalho atenderam às especificações da norma NBR 13858-2, no tocante à permeabilidade, mostrando-se adequadas para uso em construção (ou seja, não foram observadas manchas e nem vazamentos). Quanto às características mecânicas, de acordo com GRAM e CUT (1994), telhas onduladas similares (espessura de 8 mm) deveriam suportar cargas mínimas de 500 N (condição seca) ou 425 N (condição úmida), para que fossem aprovadas de acordo com os requisitos da SKAT. Na figura 7 apresenta-se o resultado dos ensaios de flexão de telhas à base de argamassa de cimento e areia, modificada pela presença de partículas de bambu. Ensaiadas na condição úmida as telhas ultrapassaram o valor mínimo, situando-se em torno de 600 N. 720 Força (N) 480 F9 F4 F1 0 F1 240 0 0.000 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 Deformação (mm) Figura 7 – Ensaio de flexão das telhas onduladas – condição úmida. F1 e F4 = B. vulgaris F9 e F10 = D. giganteus 4. CONCLUSÃO Partículas de bambu, após serem submetidas a tratamentos químicos, mostraram-se adequadas para a produção de telhas onduladas à base de argamassa de cimento e areia. Dentre os tratamentos testados o que se mostrou mais adequado foi a combinação da lavagem das partículas em água quente e o uso do cimento CP-V-ARI, com 3% de cloreto de cálcio. O método não destrutivo da velocidade de propagação da onda ultra-sônica mostrou-se importante para detectar a etapa de endurecimento da mistura. As telhas onduladas atenderam aos requisitos das normas técnicas mostrando-se um material com características adequadas para uso em construções. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS- ABNT, Rio de Janeiro. NBR 5733 Cimento Portland de Alta Resistência Inicial, Especificação, 1991, 5pp. NBR 5735 Cimento Portland de Alto Forno, Especificação, 1991, 5pp. NBR 7215 Cimento Portland – Determinação da resistência à compressão, método de ensaio, 1996, 8pp. NBR 13858-2 Telhas de concreto: requisitos e métodos de ensaio, 1997, 10pp. BERALDO, A. L. (1997) Compósitos Biomassa Vegetal–Cimento. In: TOLEDO FILHO R. D.; NASCIMENTO J. W. B.; GHAVAMI K. (Editores). SIMPÓSIO: "MATERIAIS NÃO CONVENCIONAIS PARA CONSTRUÇÕES RURAIS". Campina Grande, UFPB, cap. 1, p. 01-48. __________________ (1999) NDTISS´99. Ultrasonic speed wave: cure type influence on wood-cement composite compression strength. UFSM, Torres, RS, p. 86-90. BIBLIS, E. J.; LO, C. (1968) Sugar and others wood extractives: Effect on the setting of Southern-pine cement mixtures. Forest Products Journal. 18(8), p. 28-34. GIANNASI F.; THÉBAUD-MONY A. (1997) Occupation exposures to asbestos in Brazil. International Journal of Occupational and Environment Health, v. 3, n. 2, p. 150-157. GRAM, H; CUT, P. (1994) Directives pour le controle de qualite. St. Gallen: SKAT/BIT, Serie Pedagogique TFM/TVM, Outil 23, p. 69. INTERNET. The Asbestos Institute: www.asbestos-institute.ca/index.htm __________. www.agr.unicamp.br/bambubrasilis/projetos/biokreto JAIN, V. K.; SHUKLA, K. S.; SATISH, K (1989) Heat of hydration studies on cellulosic materials and cement systems. J. Timb. Develop. Assoc. (Índia), v. 35, n.2. LEE, A.W.C.; HONG, Z. (1986) Compressive strength of cylindrical samples as an indicator of wood - cement compatibility. Forest Products Journal 36(11/12), p. 87-90. MEDINA, J. C. (1958) Plantas fibrosas da flora mundial. Campinas, Instituto Agronômico, p. 63-73. PIMENTEL, L. P. "Telhas onduladas à base de cimento Portland e resíduos de Pinus caribaea" Dissertação de Mestrado, FEAGRI - UNICAMP, Campinas SP, 67pp, 2000. SKAT- Centre de Coopération Suisse pour la Technologie et le Management (1989) Manual Técnico: Información Básica sobre Techos de Micro Concreto y Fibro Concreto, v.10, p. 2-3. _______________________________________________________________ Document Normatif: Tuiles en mortier vibro, p. 44. (1991).