Esperança para o mundo

Transcrição

Esperança para o mundo
SÉRIE DESCOBRINDO A PALAVRA
Esperança para
o mundo
De Eva a Maria
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NM863
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9
781604 858402
ALICE MATHEWS
Introdução
Esperança para
o mundo
De Eva a Maria
A
lgumas histórias são difíceis de
acreditar. Elas podem parecer boas
demais para serem verdade, ou muito
ruins para serem aceitas. Ou talvez possamos pensar
que já sabemos o que aconteceu e nos recusamos a
aceitar outra explicação. Às vezes, o que ouvimos
simplesmente não parece verdade.
Mas o que fazemos com uma história que, apesar
de contada com ecos que vêm de um mundo distante
[1]
do nosso, tem pontos em comum com a vida como a
conhecemos e como desejamos que ela seja?
Esperança para o mundo reflete o drama e a
beleza dessa história. Nas páginas que se seguem,
nossa amiga e colega de trabalho, a Dra. Alice
Mathews nos convida a ver com maior clareza as
nossas próprias escolhas, à espera de serem feitas.
Mart DeHaan
Ministérios RBC
[ 2 ]
Sumário
1
Um mundo amaldiçoado
e uma promessa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2
A promessa cumprida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3
A fé profunda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4
Uma situação perigosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5
A viagem angustiante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Título original: Hope for the World — From Eve to Mary
Foto da capa: Terry Bidgood
Imagens interiores: (p.1) Terry Bidgood; (p.5) Steve Ford / Stock.xchng; (p.11) de Bruno Sersocima /Stock.xchng,
(p.17) Philippe de Champaigne (domínio público), (p.23) Antoine, Louis e Mathieu /Le Naim (domínio público),
(p.29) John Rogers Herbert (domínio público).
Código: NM863
ISBN : 978-1-60485-840-2
Exceto se indicado o contrário, as citações bíblicas são extraídas da Edição Revista e Atualizada de João F. de
Almeida © 1993, Sociedade Bíblica do Brasil. Todos os direitos reservados.
© 2013 Ministérios RBC. Todos os direitos reservados.
PORTUGUESE
Impresso nos EUA • Printed in USA
[3]
[ 4 ]
Esperança para o mundo
1
Um mundo amaldiçoado
e uma promessa
I
magine-se acordando um dia num mundo perfeito.
Você se estica na cama sem sentir dor em suas
costas. Você estica os braços para alcançar seus óculos
no criado-mudo, mas percebe, com a mão ainda no ar, que
você pode ver perfeitamente. Estupefato, você se vira para
despertar o seu cônjuge. Ao bocejar e esfregar os olhos,
você percebe de repente que o ama mais profundamente do
que jamais o amou.
As notícias da manhã nunca foram tão maçantes. Não há
conflitos no exterior nem atos de terrorismo, muito menos
escândalos políticos. Quando o telefone toca você espera
que a sua amiga lhe dê as últimas informações sobre as suas
sessões de quimioterapia. Em vez disso o seu filho pródigo
De Eva a Maria
[5]
pergunta como você está e se gostaria que ele voltasse
para casa.
Você esteve sob uma maldição, mas agora está livre.
Seria bom se isso ocorresse, mas
todos nós sabemos que não existe um
mundo perfeito. Mas e se isso realmente
acontecesse? O mundo já foi perfeito
uma vez? E se viesse a ser novamente?
Adão e Eva eram pessoas perfeitas
num mundo perfeito e tinham um
relacionamento impecável com seu Deus,
o seu Criador, e entre eles mesmo. Quando olhamos para
eles, vemos aquilo que fomos criados para ser, o que Deus
tinha em mente para cada um de nós.
A palavra fadigas encontrada no livro de Gênesis 3:17 da maioria
das versões das Escrituras é a palavra hebraica itstsabon.¹ A
raiz da palavra asab² evoca a tristeza, e faz alusão ao trabalho
extenuante com resultados difíceis. Por outro lado, vemos uma
conotação bem diferente em Gênesis 2:15, onde a Escritura diz:
“Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do
Éden para o cultivar e o guardar.” A desobediência de Adão e Eva
transformou tudo.
[ 6 ]
Esperança para o mundo
Ad
m
im
el
aq
tin
Mas também vemos neste casal aquilo
que a humanidade escolheu se tornar. Deus
pediu uma coisa de Adão e Eva. Em meio ao
Adão e Eva eram pessoas perfeitas num
mundo perfeito e tinham um relacionamento
impecável com seu Deus, o seu Criador, e entre
eles mesmo. Quando olhamos para eles, vemos
aquilo que fomos criados para ser, o que Deus
tinha em mente para cada um de nós.
exuberante jardim criado só para eles, Ele lhes
pediu que não comessem do fruto uma das
árvores. A escolha que eles fizeram parece não
ter sido muito significativa naquele momento
— apenas uma mordida de um pedaço de
fruta. Mas essa escolha teve consequências
graves. A escolha deles trouxe maldição.
Primeiro, Adão e Eva foram separados de
Deus. Todos nós, desde então, temos sido
distanciados de Deus. O mais importante de
todos os relacionamentos, aquele com o nosso
Criador, foi destruído.
De Eva a Maria
[7]
Em segundo lugar, Adão e Eva sofreram consequências
em seu relacionamento como casal. As lutas que temos
hoje em tentar nos relacionarmos bem com as pessoas que
amamos demonstram como é devastador esta parte da
maldição. Os nossos relacionamentos raramente são o que
desejamos que sejam.
Em terceiro lugar, o casal foi separado da natureza que
funcionava sem obstáculos em seu
caminho. Nós hoje combatemos as ervas
daninhas em nossos jardins e a dor em
nossos corpos. Nossa labuta é interminável,
e lutamos para nos acomodarmos num
mundo que nem sempre é bom para nós.
Eventualmente, os nossos corpos falham
completamente.
Tudo isso aconteceu porque, numa bela manhã, Adão e
Eva fizeram exatamente a única coisa que Deus lhes pedira
para não fazerem. Você consegue imaginar a angústia que
“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência
e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar” (Gênesis 3:15).
[ 8 ]
Esperança para o mundo
Pr
To
de
re
fo
eles sentiram? Eles conheciam como era a
vida em um mundo perfeito, como ninguém
havia conhecido. Eles tinham a exata noção
do que haviam perdido com a maldição.
Mas Deus não os deixou sem esperança.
Ele incluiu uma promessa naquela maldição.
Em algum momento no futuro, um Redentor
Primeiro, Adão e Eva foram separados de Deus.
Todos nós, desde então, temos sido distanciados
de Deus. O mais importante de todos os
relacionamentos, aquele com o nosso Criador,
foi destruído.
se levantaria para derrotar o mal, apesar de
que Satanás, a personificação do mal, primeiro
feriria o calcanhar do Redentor.
Já se passaram milhares e milhares de anos
desde que essa promessa foi feita. Mulheres
e homens lutaram por afastar-se de Deus,
lutaram uns com os outros, e com o mundo
físico ao seu redor. Pode ter parecido que
Deus jamais cumpriria a Sua promessa.
De Eva a Maria
[9]
Será que Ele a tinha esquecido? Será que Ele tinha mudado
de ideia? Quem quebraria a maldição?
¹ Thomas, R. L. (1998.) New American Standard Hebrew-Aramaic and Greek
dictionaries (Dicionário Hebreu, Aramaico e Grego): Edição atualizada. Anaheim:
Foundation Publications, Inc.
² Allen, R. B. (1999). 1666 ‫ָע ַצ ב‬. em R. L. Harris, G. L. Archer, Jr. & B. K.
Waltke (Eds.), Theological WordbookWordbook of the Old Testament (Dicionário
de Teologia do Antigo Testamento) (RL Harris, GL Archer, Jr. & B. K. Waltke, Ed).
(Edição eletrônica) (687). Chicago: Moody Press.
[ 10 ] Esperança para o mundo
2
A promessa
cumprida
E
ntão, na pequena aldeia montanhosa de Nazaré,
na terra de terceira categoria dos judeus, a cortina
abriu numa cena que mudou o curso da história
e as vidas de milhões de homens e mulheres. É a conhecida
história que encontramos no livro de Lucas 1:26-38:
No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de
Deus, para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a
uma virgem desposada com certo homem da casa de
Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. E,
entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito
favorecida! O Senhor é contigo.
De Eva a Maria
[ 11 ]
Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito
e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação.
Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste
graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz
um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este
será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o
Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para
sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.
Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não
tenho relação com homem algum?
Respondeu-lhe o anjo: Descerá
sobre ti o Espírito Santo, e o poder
do Altíssimo te envolverá com a sua
sombra; por isso, também o ente santo
que há de nascer será chamado Filho de
Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente
concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto
mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus
não haverá impossíveis em todas as suas promessas.
Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que
se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se
ausentou dela.
[ 12 ] Esperança para o mundo
“…
Da
so
nã
Imagine o choque e a grande admiração de
Maria. Por milhares de anos os judeus falavam
o sobre o Redentor prometido de Deus. Eles
tinham as palavras dos profetas e sabiam
que o Messias nasceria em Belém, ao sul de
Jerusalém. Eles sabiam que Ele nasceria de
uma mulher que era virgem. Sabiam que Ele
descenderia do grande rei Davi. Algum dia
Ele viria.
“…Deus, o Senhor, lhe dará o trono de
Davi, seu pai; ele reinará para sempre
sobre a casa de Jacó, e o seu reinado
não terá fim.” (Lucas 1:32-33).
Mas agora? E por meio de uma simples
camponesa que viveu a longos dias de viagem
ao norte de Belém, numa cidade da Galileia
chamada Nazaré?
Maria conhecia as promessas, como todos
os judeus as conheciam. Ela poderia até ter
alimentado uma esperança secreta, como
muitas mulheres devem tê-la nutrido, para que
De Eva a Maria
[ 13 ]
Deus a escolhesse para gerar o Redentor. Mas quando o
anjo lhe apareceu naquele dia, a surpresa e o choque devem
ter sido enormes. Você consegue imaginar o que ela sentiu?
Quando o anjo Gabriel apareceu a Maria,
ela estava claramente incomodada. Ela
precisava da palavra de conforto que o anjo
lhe disse em seguida: “…Maria, não temas;
porque achaste graça diante de Deus“
(Lucas 1:30).
Depois disso, veio o anúncio de
que ela seria a mãe do Redentor prometido
por Deus, que era para ser chamado Jesus, a esperança de
todos os tempos.
Preste atenção na primeira reação de Maria no versículo
34: “Como será isto, pois não tenho relação com homem
algum?” Ela não contradisse a mensagem de Gabriel,
dizendo: “Impossível!” Ela simplesmente admirou-se de
como isso poderia acontecer.
Gabriel é um dos dois únicos servidores angélicos de Deus cujos
nomes aparecem nas Escrituras. O outro é o arcanjo Miguel. Há
muita tradição folclórica sobre Gabriel, mas pouco nas Escrituras.
Ele é mencionado apenas nos livros de Daniel e Lucas.
[ 14 ] Esperança para o mundo
“…
cu
E
(Lu
A resposta veio: Deus, pelo Espírito,
seria o pai da criança. Respondeu-lhe o
anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o
“…Aqui está a serva do Senhor; que se
cumpra em mim conforme a tua palavra.
E o anjo se ausentou dela”
(Lucas 1:38).
poder do Altíssimo te envolverá com a sua
sombra; por isso, também o ente santo que
há de nascer será chamado Filho de Deus
(Lucas 1:35).
A prova de que Deus podia fazer
o impossível acontecer estava no fato de que
Isabel, a prima de Maria, tinha engravidado
em sua velhice.
A escolha estava diante de Maria. Ela
poderia dizer: “Não, desculpe, Gabriel.
José jamais entenderia isso. As pessoas desta
pequena cidade fariam fofocas. Isso criaria
muitos problemas para a criança, e para nós
também. Eu acho que, na verdade, não quero
enfrentar os problemas que isso me trará.”
De Eva a Maria
[ 15 ]
Maria poderia ter respondido assim, mas não o fez.
Ouvimos a aceitação dela em Lucas 1:38. “…Aqui está a
serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua
palavra. E o anjo se ausentou dela.”
[ 16 ] Esperança para o mundo
3
A fé profunda
S
e você fosse Maria naquele dia, o que
teria pensado depois da partida de Gabriel?
Possivelmente teria se sentado por alguns
minutos, atordoada com a tremenda experiência de um
encontro angelical e mais atordoada ainda com a mensagem
de que você tinha sido escolhida por Deus para trazer o
Redentor ao mundo.
Não nos é dito quanto tempo Maria levou para digerir
a veracidade desta gravidez extraordinária, mas parece que
não foi muito tempo antes de ela “apressar-se e correr” para
visitar a sua prima Isabel, que vivia na região montanhosa
da Judeia, ao sul de Nazaré. A distância era de pelo menos
alguns dias de caminhada.
De Eva a Maria
[ 17 ]
Se Maria pensou em visitar Isabel porque o anjo tinha
mencionado a gravidez da sua prima já idosa, ou porque as
duas mulheres realmente eram boas amigas não está muito
claro. Aparentemente, para Maria era importante passar
algum tempo com Isabel.
De qualquer modo, Maria chegou à casa
de Isabel, e ao passar pela porta, Isabel
ficou cheia do Espírito de Deus e exclamou
em alta voz:
“…Bendita és tu entre as mulheres, e
bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que
me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que
me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança
estremeceu de alegria dentro de mim. Bem-aventurada
a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe
foram ditas da parte do Senhor” (Lucas 1:42-45).
“Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas
as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor.” “Adão
e Eva ouviram a palavra do Senhor, mas duvidaram. Maria
ouviu a palavra do Senhor vinda de Seu mensageiro Gabriel
e creu. Ela acreditou contra tudo que parecia racional,
natural, ou humanamente possível. Ela poderia submeter-se
ao plano de Deus porque ela acreditava.
[ 18 ] Esperança para o mundo
“Ad
ma
do
Ga
Maria respondeu ao inspirado bem-vindo
de Isabel com um cântico de louvor a Deus,
o qual está registrado no evangelho de
Lucas 1:46-55:
“Adão e Eva ouviram a palavra do Senhor,
mas duvidaram. Maria ouviu a palavra
do Senhor vinda de Seu mensageiro
Gabriel e creu.”
“…A minha alma engrandece ao Senhor,
e o meu espírito se alegrou em Deus, meu
Salvador, porque contemplou na humildade
da sua serva, desde agora, todas as gerações
me considerarão bem-aventurada, porque
o Poderoso me fez grandes coisas. Santo
é o seu nome. A sua misericórdia vai de
geração em geração sobre os que o temem.
Agiu com o seu braço valorosamente;
os que, no coração, alimentavam
pensamentos soberbos. Derribou do seu
trono os poderosos e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu
De Eva a Maria
[ 19 ]
vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, a fim de
lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de
sua descendência, para sempre, como prometera aos
nossos pais.”
Muito do que é dito no cântico de
Maria remete ao cântico de Ana, o qual
encontramos no livro de 1 Samuel 2.
Maria deve ter conhecido não só as
histórias, mas as canções que faziam parte da cultura da sua
herança judaica.
As palavras de Ana lhe vieram facilmente aos lábios
em louvor a Deus, expressando a sua esperança recém
descoberta.
O louvor de Maria nos traz uma clara compreensão do
mundo em que ela vivia — e do mundo em que vivemos
hoje. Este não é o mundo que Deus projetou para nós. É um
Muito semelhante ao Magnificat de Maria, o cântico de Ana é
uma oração de sincero louvor. Durante anos, Ana tinha sido incapaz
de conceber. Sua oração no livro de 1 Samuel 2 é uma manifestação
poética de louvor em gratidão por seu filho Samuel, a quem ela
dedicou ao Senhor.
[ 20 ] Esperança para o mundo
O
co
—
nã
mundo amaldiçoado com o pecado e a morte;
resultado da escolha de Adão e Eva. O mundo
de Maria era de opressão pelos romanos e
O louvor de Maria nos traz uma clara
compreensão do mundo em que ela vivia
— e do mundo em que vivemos hoje. Este
não é o mundo que Deus projetou para nós.
por um rei cruel e caprichoso, Herodes. Era
um mundo em que até mesmo os líderes
religiosos em Israel devoravam “…as casas
das viúvas e, para o justificar, fazeis longas
orações…” (Mateus 23:14).
O louvor de Maria a Deus inclui a
percepção do sofrimento dos pobres, dos
famintos, e dos aflitos. Ela viu o milagre da sua
concepção de Jesus como uma ação do mover
de Deus. O Senhor estava prestes a cumprir
a penosa tarefa de dispersar os soberbos, de
derrubar os governantes, de engrandecer os
humildes, de fartar os famintos com coisas
boas, e enviar os ricos de mãos vazias. Em
De Eva a Maria
[ 21 ]
resumo, Maria percebeu que Deus estava se movendo para
cumprir Sua promessa, uma promessa feita há milhares
de anos. A mesma promessa feita aos dois, cuja escolha
trouxera a maldição que entorpeceu a mente das pessoas,
calejou seus corações, e fez do mundo um lugar feio,
despótico e doloroso para se viver.
No registro histórico da concepção de Jesus, o papel exato do Espírito
Santo não está definido. As Escrituras nos dizem apenas o que
Gabriel disse a Maria: “…Descerá sobre ti o Espírito Santo…” Para
nós, é muito claro que quando Maria deu à luz o menino Jesus, ela
ainda era sexualmente pura, tornando a concepção e o nascimento
um acontecimento verdadeiramente milagroso.
[ 22 ] Esperança para o mundo
4
Uma situação
perigosa
É
provável que Maria tenha ficado com Isabel por
três meses até o nascimento de João Batista. Em
seguida, com três meses de gravidez retornou
para Nazaré. Durante aqueles três meses ela tinha convivido
com o milagre, com a alegria e emoção de ser a escolhida
para a concepção de Jesus. Agora ela precisaria enfrentar
o desprezo e a rejeição de José e das pessoas de sua
cidade natal.
Novamente, imagine a situação de Maria. Ela
obviamente estava numa situação embaraçosa. José
também se encontrava em situação difícil. O noivado
De Eva a Maria
[ 23 ]
entre os judeus normalmente demorava um ano e era
um tipo de casamento sem a intimidade sexual. Se Maria
engravidasse durante este período, as más línguas iriam
se manifestar. Se José, sabendo que ele não era o pai,
decidisse romper o noivado com Maria, ela poderia ser
apedrejada até a morte. Por outro lado, se José fosse
adiante com a ideia de casar-se com Maria,
as pessoas pensariam que ele tinha violado
os rígidos costumes da castidade durante o
período de noivado.
A luta que José enfrentou ao descobrir
que Maria estava grávida foi bem
perceptível. Esta história está registrada no
evangelho de Mateus 1:18-25.
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando
Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem
antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo.
Na época do nascimento de Cristo, os noivados entre os judeus
duravam aproximadamente um ano. Este tempo permitia que o noivo
se certificasse de que a noiva era sexualmente pura. Ser sexualmente
impuro antes do casamento era passível de receber a pena capital sob
a lei do Antigo Testamento (Deuteronômio 22:20-24).
[ 24 ] Esperança para o mundo
O
no
era
a
Mas José, seu esposo, sendo justo e não
a querendo infamar, resolveu deixá-la
secretamente.
Enquanto ponderava nestas coisas, eis
que lhe apareceu, em sonho, um anjo do
Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não
O noivado entre os judeus
normalmente demorava um ano e
era um tipo de casamento sem
a intimidade sexual
temas receber Maria, tua mulher, porque
o que nela foi gerado é do Espírito Santo.
Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome
de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos
pecados deles.
Ora, tudo isto aconteceu para que se
cumprisse o que fora dito pelo Senhor por
intermédio do profeta: Eis que a virgem
conceberá e dará à luz um filho, e ele será
chamado pelo nome de Emanuel (que quer
dizer: Deus conosco).
De Eva a Maria
[ 25 ]
Despertado José do sono, fez como lhe ordenara
o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo,
não a conheceu, enquanto ela não
deu à luz um filho, a quem pôs o
nome de Jesus.
Agora, imagine o dilema de José. A
Bíblia não nos informa se Maria tentou
explicar sua gravidez para ele. Se você fosse
José, acreditaria na história sobre um anjo
e uma concepção divina? Ou você acharia que Maria tinha
sido infiel aos seus votos? José também precisava de uma
visita angelical que pudesse convencê-lo da verdade sobre
as circunstâncias daquele momento.
José estava numa situação deplorável. Ele precisava
de uma prova sobrenatural para acreditar no nascimento
sobrenatural de Jesus. Ele também precisava acreditar na
José demonstrou muito caráter e fé. As alegações de improbidade
sexual eram levadas a sério entre o povo de Israel e, eram
consideradas uma séria violação à lei de Deus. José sabia que ele
e Maria eram absolutamente inocentes dessa acusação, mas que
deviam suportá-la sem qualquer possibilidade de rejeitá-la.
[ 26 ] Esperança para o mundo
El
co
qu
de
palavra de Deus vinda por meio de um anjo e
então agir sobre essa palavra.
Eles [Maria e José] tinham de conviver
com a censura de uma sociedade
que tinha os mais altas expectativas
de pureza sexual daquela época.
José, pela fé, dispôs-se a passar por pai do
bebê de Maria, apesar de o povo da cidade vir
a acreditar que ele tivesse se aproveitado dela
durante o período de noivado. Era a única
maneira de protegê-la.
Mais tarde, durante o ministério de Jesus,
ouvimos os fariseus perguntando em tom de
zombaria: “Onde está teu Pai?” (João 8:19).
Eles perguntaram se José era realmente o pai
de Jesus? No mesmo capítulo, eles dizem a
Jesus, “…Nós não somos bastardos…” (8:41)
querendo com isso dizer que Jesus era. Maria
e José estavam claramente comprometidos.
Não haveria explicações suficientes para
limpar os seus nomes e reputações. Eles
De Eva a Maria
[ 27 ]
tinham de viver com a censura de uma sociedade com altos
padrões de pureza sexual naquela época.
[ 28 ] Esperança para o mundo
5
A viagem
angustiante
M
as havia outro julgamento para
Maria e José enfrentarem. Para descobrir
mais sobre isso, leiamos o evangelho de
Lucas 2:1-3:
Naqueles dias, foi publicado um decreto de César
Augusto, convocando toda a população do império para
recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito
quando Quirino era governador da Síria. Todos iam
alistar-se, cada um à sua própria cidade.
Maria, quase prestes a dar à luz, precisou ir com José a
Belém, a cidade de Davi, seu antepassado, para participar do
De Eva a Maria
[ 29 ]
censo. A viagem tinha aproximadamente 150 quilômetros,
e devia ser feita em um jumento ou a pé. De qualquer
maneira, era uma jornada longa e árdua. Podemos imaginar
facilmente como Maria deve ter se sentido esgotada, talvez,
já em início de trabalho de parto, quando
eles finalmente chegaram em Belém. Foram
rejeitados nas pousadas porque a cidade
estava lotada com os viajantes que tinham
vindo para o recenseamento. Eles desceram
a encosta íngreme na qual a pousada tinha
sido construída e encontraram abrigo numa
estrebaria, onde os animais se refugiavam. Naquele local,
Maria deu à luz Jesus, o Santo de Deus, e envolveu-o em
panos e deitou-o numa manjedoura
Ao final de uma longa e cansativa viagem, aquele
insignificante casal chegou como se fossem estranhos. Uma
jovem e simples camponesa enfrentou o nascimento de seu
primeiro filho praticamente sem o auxílio necessário, sem
conforto material, sem as conveniências. Tudo isso poderia
ter passado completamente despercebido. Mas isso não
aconteceu. Deus tinha outros planos.
Mais uma vez, um anjo do Senhor trouxe o espanto
quando apareceu. Um grupo de pastores num campo
[ 30 ] Esperança para o mundo
De
rev
tra
qu
próximo soube do nascimento desse bebê
aparentemente insignificante numa família de
pais, com certeza, desconhecidos num estábulo
sujo na periferia da cidade na borda do Mar
De repente, tudo o que parecia insignificante
revelou-se neste alguém capaz de
transformar vidas, de tanto significado
que era capaz de transformar o mundo.
Mediterrâneo. De repente, tudo o que parecia
insignificante revelou-se neste alguém capaz de
transformar vidas, de tanto significado que era
capaz de transformar o mundo, pois Deus estava
no controle daquele nascimento como parte do
Seu plano ainda maior.
E foi dito aos pastores: “…hoje vos nasceu,
na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo,
o Senhor” (Lucas 2:11). Um Salvador. O Cristo.
O Senhor. Emanuel, Deus conosco. Jesus,
o Único que iria salvar o Seu povo dos seus
pecados. O Redentor prometido a Adão e Eva
no livro de Gênesis 3:15. Aquele cuja vinda
De Eva a Maria
[ 31 ]
iria restaurar para cada um de nós a possibilidade de um
relacionamento pessoal com Deus, o nosso Criador. Aquele
que quebrou a maldição da morte e que, um dia, nos
libertará da maldição da alienação de uma vez por todas.
Você pode ouvir a Sua voz nas Escrituras. “Não se turbe
o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”
(João 14:1).
Deus Todo-Poderoso, como os filhos de nossos primeiros
pais, Adão e Eva, nós também pecamos contra ti.
Toda vez que ouvimos a história de Maria,
percebemos o quanto precisamos de Tua misericórdia.
Acreditamos em ti, mas não o tanto que o Senhor
é merecedor. Cremos em Teu Filho, mas não como se
merecêssemos tudo que Ele fez por nós.
Agradecemos por conceder à Tua humilde serva
Maria o privilégio de conceber o Redentor, que acabaria
por viver, morrer e ressuscitar dentre os mortos em
nosso lugar.
Por favor, concede-nos o perdão e a vida que o Teu
Filho ofereceu, quando disse: “Em verdade, em verdade
vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que
me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida” (João 5:24).
[ 32 ] Esperança para o mundo

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