tiraj Zaman

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tiraj Zaman
REVISTA INTERDISCIPLINAR
A Revista Interdisciplinar, criada em outubro de 2008, órgão oficial de divulgação da Faculdade NOVAFAPI, com periodicidade trimestral, tem a finalidade de
divulgar a produção científica das diferentes áreas do saber que seja de interesse das áreas da saúde, ciências humanas e tecnológicas.
The Interdisciplinary Journal, founded in October of 2008, is the official publishing organ for NOVAFAPI School with publication every three months and
has the objective of making public the scientific production in different areas of knowledge that are of interest to health areas, human sciences and technology.
La revista interdisciplinar, creada en Octubre de 2008, órgano oficial de divulgación de la Facultad NOVAFAPI, con periodicidad trimestral, tiene la finalidad
de propagar la producción científica de las diferentes áreas del saber que sea de interés de las áreas de la salud, ciencias humanas y tecnológicas.
COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO
PUBLISHING COMMITTEE/COMISIÓN DE PUBLICACIÓN
Diretora/Head/Directora
Cristina Maria Miranda de Sousa
Editora Científica/Scientific Editor/Redactor Científico
Maria Eliete Batista Moura
[email protected]
Editor Associado/Associate Editor/Redactor Asociado
Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes
Membros/Members/Miembros
Ana Maria Ribeiro dos Santos
Claudete Ferreira de Souza Monteiro
Fabrício Ibiapina Tapety
CONSELHO EDITORIAL
EDITORIAL BOARD/CONSEJO EDITORIAL
Ana Maria Escoval Silva
Universidade Nova de Lisboa - Portugal
Antônia Oliveira Silva
UFPB
Adriana Castelo Branco de Siqueira
UFPI
Carlos Alberto Monteiro Falcão
Faculdade NOVAFAPI
Eucário Leite Monteiro Alves
Faculdade NOVAFAPI
Gerardo Vasconcelos Mesquita
Faculdade NOVAFAPI/UFPI
Gillian Santana de Carvalho Mendes
Faculdade NOVAFAPI
Luis Fernando Rangel Tura
UFRJ
Maria do Carmo de Carvalho Martins
Faculdade NOVAFAPI/UFPI
Maria do Socorro Costa Feitosa Alves
UFRN
José Nazareno Pearce de Oliveira Brito
Faculdade NOVAFAPI
Norma Sueli Marques da Costa Alberto
Faculdade NOVAFAPI
Paulo Henrique da Costa Pinheiro
Faculdade NOVAFAPI
Roberto A. Medronho
UFRJ
Telma Maria Evangelista de Araújo
Faculdade NOVAFAPI/UFPI
Yúla Pires da Silveira Fontenele de Meneses
Faculdade NOVAFAPI
Bibliotecário/Librarian/Bibliotecario:
Secretária/Secretary/Secretaria:
Capa/Cover/Capa:
Editoração/Lay-out/Diagramación:
Tiragem/Number of Issues/Tiraja:
Projeto/Project/Projecto:
Francisco Renato Sampaio da Silva
Elizângela de Jesus Oliveira de Sousa Vieira
Time Propaganda
Time Propaganda
500 exemplares
Faculdade NOVAFAPI
Revisão dos Resumos/Abstract Review/Revisión de Resumen
Inglês/English/Inglês:
Espanhol/Spanish/Español:
Bibliotecário/Librarian/Bibliotecario:
Harold Marwell de Oliveira
Ellyda Fernanda de Sousa Oliveira
Francisco Renato Sampaio da Silva
R454 Revista Interdisciplinar [publicação da]
Faculdade NOVAFAPI. Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação
v.2, n. 4, 2009.
Teresina: Faculdade NOVAFAPI, 2009
Trimestral
ISSN 1983-9413
Saúde
Ciências Humanas
Tecnologia
CDD 613.06
Endereço/Mail adress/Dirección: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123 • Bairro Uruguai • 64057-100 • Teresina • Piauí • Brasil
Web site: www.novafapi.com.br • E-mail: [email protected]
SUMÁRIO / CONTENTS / SUMARIO
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI • Teresina-PI
ISSN 1983-9413
v. 2, n. 4, 2009.
EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
A Revista Interdisciplinar no Sistema Qualis da CAPES ...................................................................................................................05
The Journal of Interdisciplinary Qualis System CAPES (06)
La Revista Interdisciplinar en Sistema Qualis de la CAPES (07)
Maria Eliete Batista Moura, Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Significados da sexualidade da pessoa portadora de estomia: um estudo de enfermagem na abordagem
fenomenológica ...................................................................................................................................................................................09
Meanings of the sexuality of the person with a stoma: a nursing study on a phenomenological approach.
Significados de la sexualidad de la persona con ostomía: un estudio de enfermería en el abordaje fenomenológica
Conceição de Maria Franco de Sá Nascimento, Maria Helena Barros Araújo Luz
Risco de doença renal crônica em hospital público de Teresina-PI ................................................................................................15
Risk of Chronic Kidney Disease at a Public Hospital in Teresina – PI
Riesgo de la Enfermedad Renal Crónica en un Hospital Público de Teresina-PI
Ginivaldo Victor Ribeiro do Nascimento, Nara Maria Ribeiro Soares, Sávia Raquel Costa Normando
Análise da avaliação da aprendizagem utilizada em um curso de graduação em enfermagem ...............................................22
Analysis of the Evaluation of the Learning Used in a Course of Graduation in Nursing
Análisis de la Evaluación de Aprender Usado en un Curso de la Graduación en el Oficio de Enfermera
Maria do Rosário de Fátima Franco Batista, Francisca Cecília Viana Rocha, Fernanda Cláudia Miranda Amorim, Fernanda Maria de Jesus
Sousa Pires de Moura, Magda Coeli Vitorino Sales
Consciência atrás das grades: relatos de quem pratica violência contra a mulher ......................................................................28
Conscience behind grids: reports of those who practice violence against women
La conciencia detrás de la grids: informes de los que practian La violência contra La mujer
Claudete Ferreira de Souza Monteiro, Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira, Ivalda Silva Rodrigues, Nathalia Kelly de Sousa Andrade,
Rosilane de Lima Brito Magalhães, Fernando José Guedes da Silva
O Uso da Ximenia americana L. como cicatrizante de feridas superficiais em Mus musculus ....................................................33
The use of Ximenia americana L. like healing of wounds surface in Mus musculus
El uso de Ximenia americana L. cómo curación de heridas superficiales en Mus musculus
Beatriz Evelim Carvalho, Enid Holanda Oliveira Pereira da Silva Santos, Mayara Águida Porfírio Moura, José Zilton Lima Verde Santos
Cuidador familiar: dificuldades para cuidar do idoso no domicílio ...............................................................................................40
Family caregiver: learning to care for the elderly at home
Cuidador de la família: dificuldad para el cuidado del anciano en el domicilio
Valquíria Ferreira Lima, Wânia Cristina Leal Barbosa Santos, Francisca Cecília Viana Rocha, Maria Eliéte Batista Moura, Rosely Vasconcelos
Viana, Lucas Pazolinni Viana Rocha
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SUMÁRIO / CONTENTS / SUMARIO
Cobertura Vacinal por BCG dos Contatos Intra-Domiciliares de Portadores de Hanseníase.......................................................47
BCG Vaccine Coverage in Household Contacts of Patients With Leprosy
Cobertura de la Vacuna BCG en los Contactos Domiciliares de Pacientes con Enfermedad de Hansen
Tania Maria Melo Rodrigues, Juliana Mayara Meneses Lustosa Vargas, Lara Ely Sena da Silva, Mirelly da Silva Rosado, Maria Zélia de Araújo
Madeira
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Sexualidade na terceira idade: uma revisão bibliográfica ..............................................................................................................53
The sexuality in the third age: a bibliographical revision
Sexualidad en la vejez: una revisión de la literatura
Jaqueline Carvalho e Silva, Raphaella Genuíno de Oliveira Breuel, Fernando José Guedes da Silva Júnior, Maria do Livramento Fortes Figueiredo
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ..............................................................................................................................................................59
PUBLISHING NORMS............................................................................................................................................................................63
NORMAS PARA PUBLICACIÓN.............................................................................................................................................................67
FICHA DE ASSINATURA ........................................................................................................................................................................71
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EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
A Revista Interdisciplinar no Sistema Qualis da CAPES
Maria Eliete Batista Moura
Editora Científico da Revista Interdisciplinar
Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes
Editora Associada da Revista Interdisciplinar
É com muita satisfação que a Diretoria da Faculdade NOVAFAPI, a Editora Científica, a
Comissão de Publicação e Membros e Conselho Editorial, comunicam que a Revista Interdisciplinar integra o Sistema Qualis, categoria B5, na área da Enfermagem. Esta conquista
foi permeada de grandes esforços e faz jus ao que um grupo de professores da Faculdade
vem fazendo para melhorar a produção científica de alunos, professores da nossa IES, assim
como de outras instituições do Brasil, com o objetivo de adquirir um meio de socialização
do conhecimento no Piauí. Novos horizontes se abrem e esperamos que a Revista Interdisciplinar dissemine ainda mais o conhecimento, pois acreditamos que essa classificação é
uma das mais importantes conquistas da Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação em
toda a sua história.
Com isso, a Faculdade NOVAFAPI, por meio da Revista Interdisciplinar, dá a sua
contribuição aos pesquisadores do Piauí no sentido de divulgar o conhecimento produzido
e aprimorar a produção científica em benefício da sociedade. Portanto, convidamos você a
continuar publicando na Revista Interdisciplinar.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.5, Out-Nov-Dez. 2009.
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EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
The Journal of Interdisciplinary Qualis System CAPES
Maria Eliete Batista Moura
Editora Científico da Revista Interdisciplinar
Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes
Editora Associada da Revista Interdisciplinar
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The Board of the NOVAFAPI Faculty, the “Editora Científica” and the Commission and
Members of Editorial Board are very pleased to report that the Journal of Interdisciplinary integrates the Qualis system, B5 category in the area of Nursing.This achievement was
fraught with great effort and does justice to what a group of teachers of this college has
been doing to improve the scientific output of students and teachers in our IES, as well as
other institutions in Brazil, aiming to acquire a way to socialize the knowledge in Piaui. New
horizons open up and we hope the Interdisciplinary Journal disseminates knowledge even
more, because we believe that this classification is one of the most important achievements of Research and Pos Graduate Coordination throughout its history.
So. the Novafapi Faculty through the Interdisciplinary Journal, gives its contribution
to the researchers of Piaui in order to disseminate the knowledge which was produced
and to improve the scientific output in society benefit. Therefore, we invite you to continue
publishing the Interdisciplinary Journal.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.6, Out-Nov-Dez. 2009.
EDITORIAL / PUBLISHING / EDITORIAL
La Revista Interdisciplinar en Sistema Qualis de la CAPES
Maria Eliete Batista Moura
Editora Científico da Revista Interdisciplinar
Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes
Editora Associada da Revista Interdisciplinar
Es con mucha satisfacción que la Dirección de la Facultad NOVAFAPI, La Editora Cientifica, La Comisión de Publicación y Miembros y Consejo Editorial, comunican que
La Revista Interdisciplinar integra el Sistema Qualis, categoria B5, en el área de Enfermería.
Esta conquista fue permeada de grandes esfuerzos y justifica lo que un grupo de profesores
de la Facultad sigue haciendo para mejorar la producción científica de alumnos, profesores
de nuestra IES, así como de otras instituiciones de Brasil, con el objetivo de adquirir un
medio de socialización del conocimiento en Piauí. Nuevos horizontes se abren y esperamos
que la Revista Interdisciplinar disemine aún más el conocimiento, pues creemos que esa
clasificación es una de las más importantes conquistas de la Coordinación de Investigación
y Posgrado en toda su historia.
Con ello, la Facultad NOVAFAPI, por medio de la Revista Interdisciplinar, da
su contribuición a los investigadores de Piauí con el fin de divulgar el conocimiento producido y perfeccionar la producción científica en beneficio de de la sociedad. Por lo tanto, le
invitamos a seguir publicando en la Revista Interdisciplinar.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.7, Out-Nov-Dez. 2009.
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PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Significados da sexualidade da pessoa portadora de estomia: um
estudo de enfermagem na abordagem fenomenológica
Meanings of the sexuality of the person with a stoma: a nursing study on a phenomenological approach.
Significados de la sexualidad de la persona con ostomía: un estudio de enfermería en el abordaje
fenomenológica
Conceição de Maria Franco de Sá
Nascimento
Mestranda em Enfermagem pela Universidade
Federal do Piauí. Professora Adjunta do Colégio
Agrícola – UFPI. Rua Edvaldo Reinaldo Nº 4074,
Ininga, Teresina-PI. Fone: (86)3221 7374/9982 4411.
[email protected]
Maria Helena Barros Araújo Luz
Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da
graduação da UFPI. Professora do Programa de
Mestrado em Enfermagem da UFPI.
RESUMO
Em decorrência de doenças crônico-degenerativas e traumatismos advindos da violência
urbana, milhares de pessoas se submetem a procedimentos cirúrgicos que resultam em
estomas intestinais. O estoma causa impacto em vários aspectos da vida da pessoa, inclusive na vivência da sexualidade. Mudança no estilo de vida com baixa na auto-estima
leva o cliente a não satisfazer plenamente suas necessidades sexuais, com conseqüente
diminuição na qualidade de vida. O objeto desta investigação foi a sexualidade da pessoa
portadora de estomia e teve como objetivo desvelar o sentido da sexualidade desta pessoa
a partir da fenomenologia de Martin Heidegger. Participaram do estudo nove portadores
de estomia cadastrados em um centro de referência para estomizados em Teresina - PI,
cujos dados foram obtidos mediante entrevista semi-estruturada. Da análise compreensiva
dos discursos dos sujeitos, resultaram duas unidades de significação que possibilitaram
identificar o fio condutor para interpretação dos significados atribuídos à vivência da sua
sexualidade pelo estomizado. Esses sujeitos na cotidianidade vivenciam sua sexualidade
mergulhada em duvidas, medos e presos ainda nesse modo de ser limitado pela inautenticidade e ambigüidade, entretanto, o estudo aponta também sujeitos otimistas, felizes, que
consideram ser possível enfrentar uma ostomia intestinal e viver sua sexualidade de modo
mais satisfatório.
Descritores: Estomizado. Sexualidade. Fenomenologia. Enfermagem.
ABSTRACT
Due to chronic degenerative diseases and urban violence, thousands of people undergo
surgical procedures that result in intestinal stoma. Stoma causes impact on several aspects
of one’s life, including the experience of sexuality. Changes in lifestyle combined with low
self-esteem leads the client to not fully satisfy their sexual needs, resulting in decreased
quality of life. The object of this investigation was the sexuality of the person with a stoma
and aimed to uncover the meaning of sexuality of such person through the phenomenology by Martin Heidegger. Nine ostomy patients registered in a health center in Teresina - PI
participated, whose data were obtained through semi-structured interview. From the comprehensive analysis of the speeches of the subjects, two meaning units resulted and they
allowed us to identify the main point for interpretation of the meanings attributed to the
experience of sexuality of the ostomy patient. In everydayness the ostomy patients experience their sexuality dipped in the doubts, fears and still stuck to this way of being limited
by unauthenticity and ambiguity, however, the study also highlights happy and optimistic
Submissão: 24.08.2009
Aprovação: 03.09.2009
1.
Categoria: Artigo original. * Este artigo é um recorte de dissertação de mestrado
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.9-14, Out-Nov-Dez. 2009.
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Nascimento, C. M. F. S.; Luz, M.H.B.A.
subjects who consider coping with an ileostomy/colostomy and
living their sexuality in a more satisfied way something possible.
Thus, it was possible to unveil facets that value not only the ontic
dimension of sexuality, but that also highlight the ontological. The
study contributes for reflections on the care practice, teaching and
research.
Descriptors: Ostomy. Sexuality. Phenomenology. Nursing.
RESUMEN
Como resultado del enfermedades crónicas y lesiones derivadas de
la violencia urbana, miles de personas se someten a procedimientos quirúrgicos que se traducen en estoma intestinal. El estoma
tiene un impacto en diversos aspectos de la vida de las personas,
incluso en la sexualidad. Cambio en el estilo de vida con baja autoestima lleva al cliente a no satisfacer plenamente sus necesidades
sexuales, resultando en una menor calidad de vida. El objeto de
esta investigación fue la sexualidad de la persona con estoma y su
objetivo era descubrir el significado de la sexualidad de esa persona a través de la fenomenología de Martin Heidegger. Los participantes del estudio fueron nueve pacientes con ostomía registrados en un centro de referencia para ostomía en Teresina - PI, y los
datos fueron colectados a través de entrevista semi-estructurada.
El análisis completo de los discursos dio lugar a dos unidades de
sentido que lo hizo posible para identificar el hilo conductor para la
interpretación de los significados atribuidos a la vivencia de su sexualidad por el paciente con ostomía. Estos sujetos experimentan
su sexualidad en la vida cotidiana inmersa en dudas, temores y aún
prisioneros en ese modo de ser limitado por la falta de autenticidad
y la ambigüedad, sin embargo, el estudio también señala sujetos
optimistas, felices, que consideran posible hacer frente a una ostomía intestinal y vivir su sexualidad de manera más satisfactoria. Así,
fue posible revelar facetas que no valoran sólo la dimensión óntica
de la sexualidad, pero destacan lo ontológico. Se cree que este estudio puede contribuir para la reflexión sobre la práctica asistencial,
la docencia y la investigación.
Descriptores: Ostomía. Sexualidad. Fenomenología. Enfermería.
1
INTRODUÇÃO
A população mundial se encontra exposta a vários problemas de saúde que podem culminar na realização de estomas
intestinais. Fatores variados tais como o alto consumo de alimentos industrializados, aumento da expectativa de vida e os efeitos
da violência pela urbanização desordenada, trouxeram consigo
agravos à saúde e enfermidades tais o câncer colo retal, doenças
inflamatórias do intestino, mal formação congênita, dentre outras
que determinam a necessidade de intervenções cirúrgicas que resultam em ostomias.
Destaca-se dentre as causas externas de estomas, os acidentes automobilísticos em decorrência da violência no trânsito,
10
perfurações por arma de fogo e por arma branca, de modo que a
violência urbana é apontada como a causa mais comum da procura de atendimento em serviços de urgência e emergência que
constitui fator de crescimento da população de portadores de estomia (PINTO et al, 2006).
A literatura científica aponta o termo ostomizado para designar a pessoa que é portadora de um estoma e, mais recentemente, também vem se utilizando a palavra estomizado. Desta forma,
tanto um como outro podem ser utilizados, porque apresentam o
mesmo significado. O estoma intestinal para eliminação consiste
numa incisão cirúrgica no abdome para a exteriorização de um
segmento do íleo ou cólon, com a finalidade de eliminar dejetos:
fezes e gases.
De acordo com Associação Brasileira dos Ostomizados
(ABRASCO, 2007) o perfil de pessoas portadoras de algum estoma,
que antes era predominantemente constituído por adultos em idades mais avançadas, atualmente sofre mudanças devido a violência
urbana, apresentando um número crescente de jovens e crianças
estomizadas.
A estatística mundial é de uma em cada 10 mil pessoas é
estomizada (Conde, 2008). No Brasil, existiam em 2007, de acordo
com uma pesquisa realizada pela ABRASO (2007), aponta 33.864
pessoas portadoras de estomias, deixando de ser computados os
dados dos estados de Tocantins, Amapá e Roraima devido à inexistência de associações locais para informar os números. Bellato et al
(2006) afirma que há uma grande escassez de informes epidemiológicos, tanto em estatísticas nacionais como internacionais.
Uma estomia representa para seus portadores uma agressão
à integridade física e psíquica. Geralmente, as maiores preocupações dos portadores de estomas abdominais estão relacionadas às
repercussões que essas cirurgias ocasionam, quanto aos hábitos
alimentares, à falta de controle voluntário das eliminações, higiene
pessoal e à atividade sexual, levando a uma baixa da auto-estima, à
depressão, revolta e isolamento social (SALIMENA, 2007; SILVA; SHIMIZU, 2006). Desse modo, pelo elevado número de portadores de
estomia, verificamos haver em decorrência destes procedimentos,
sérias conseqüências no cotidiano destas pessoas, principalmente
no que diz respeito à sua sexualidade.
Silva e Shimizu (2006), explicam que a maioria dos problemas ligados à sexualidade em pessoas submetidas a cirurgia, que
resulta em estomia, decorrem de algumas disfunções fisiológicas
tanto no homem quanto na mulher. No homem pode haver a redução ou mesmo a perda da libido, diminuição ou ausência da capacidade de ereção, alteração da ejaculação e, na mulher, a redução
ou perda da libido e até mesmo dores durante o ato sexual assim
como, dúvidas e medo sobre a capacidade de engravidar e de dar
a luz a um filho. Para essas autoras, grande parte das dificuldades
sexuais também pode ter origem psicológica, pela vergonha do
parceiro, sensação de estar sujo e repugnante o que gera medo de
ser rejeitado, o que, sem dúvida, vai refletir no âmbito da sexualidade, resultando em grandes mudanças de atitudes.
A sexualidade pode ser entendida como um aspecto fundaRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.9-14, Out-Nov-Dez. 2009.
Significados da sexualidade da pessoa portadora de estomia: um estudo de enfermagem na abordagem fenomenológica
mental da vida e, segundo Freud (2002), está presente desde o nascimento até a morte e se manifesta com características próprias em
cada período do ciclo vital. Tezza (2002) enfatiza ainda que a sexualidade é, portanto, o conjunto das emoções, sentimentos, fantasias,
desejos e interpretações que o ser humano vivencia ao longo de
sua existência. Ela constitui parte integral da personalidade humana,
associando experiências pessoais, afetivas, conhecimentos socioculturais, crenças e valores construídos ao longo da história, não podendo ser, o relacionamento sexual, desvinculado das temáticas sociais,
históricas, antropológicas e psicológicas (MARTINS; BICUDO, 2006).
Portanto, a sexualidade é parte intrínseca do ser humano e
constitui uma necessidade humana básica, expressa não apenas na
aparência, mas principalmente na subjetividade individual, é privativa e é inerente a todo ser humano, entretanto cada um tem seu
modo próprio de manifestá-la. Isto ocorre porque tem a ver com
a educação, com o estilo de vida, percepção de mundo, pois cada
um tem sua forma particular de percebê-lo e o que é significativo
para uma pessoa pode não ser para outra, ainda que ambas estejam na mesma realidade social.
A expressão da sexualidade tem grande abrangência em
inúmeros aspectos da subjetividade, envolvendo percepções e
significados que sofrem influência também da cultura. Buscamos
nesse estudo conhecer os significados da sexualidade vivenciada
pela pessoa portadora de estomia, para que a partir desse conhecimento, este “ser” possa ser compreendido e cuidado em sua individualidade como único.
A assistência à pessoa portadora de estomia em relação à satisfação de sua sexualidade está pautada na reabilitação, exigindo
dos profissionais de enfermagem uma reflexão sobre os diferentes
modos de ser destas pessoas, que necessitam de assistência diferenciada em virtude de suas especificidades, que além de serem
diversificadas, mudam constantemente.
Dessa inquietação, surgida no cotidiano de trabalho, procuramos descobrir o quem, como pensam e se comportam essas
pessoas diante da facticidade de se sentirem estomizados e assim,
desvelar o fenômeno da sexualidade do portador de estomia.
Diante da intencionalidade de buscar a subjetividade do vivido da sexualidade do estomizado, este estudo objetiva desvelar o
sentido da sexualidade da pessoa portadora de estomia utilizando
o método fenomenológico de Martin Heidegger. Para ele o fenômeno é o que se mostra em si mesmo, não podendo ser tratado
como algo acabado, ou que já esteja pronto. Essa busca da compreensão pelo que faz sentido ao ser transita da dimensão ôntica
para a ontológica.
2
à interpretação do fenômeno estudado. Neste método o pesquisador procura situar-se diante dos fenômenos, despindo-se de pressupostos ou pré-conceitos para que os sujeitos possam mostrar o
que experienciam através da própria linguagem. Portanto o pesquisador solicita que os sujeitos descrevam como estão vivendo,
que experiências estão tendo daquela situação de vida e que significados têm para ele (MARTINS, 1992).
O cenário foi o Centro Integrado de Saúde Lineu Araújo (CISLA), para a escolha, levou-se em consideração ser este Centro de
Saúde referência no atendimento a pessoas portadoras de estomia em Teresina – PI, único no estado. A pesquisa foi submetida à
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal
do Piauí (UFPI), conforme CAAE n°. 0091.0.045.000-09/ 2009, em
atendimento aos preceitos da Resolução n°. 196 / 96 do Ministério
da Saúde. Os dados foram coletados através de nove entrevistas
semi-estruturadas, pois nesse tipo de entrevista há perguntas previamente formuladas e ao mesmo tempo pode-se abordar o tema
livremente e de forma espontânea.
Para a análise e discussão dos resultados, buscou-se a compreensão à luz do referencial fenomenológico de Martin Heidegger, expressos em sua obra “Ser e Tempo”. Foram tomados como referência os três momentos da trajetória fenomenológica descritos
por Martins (1992), a descrição, a redução e a compreensão.
A descrição fenomenológica é o momento inicial em que o
pesquisador interroga o sujeito para que este fale livremente sobre
o fenômeno pesquisado em seu mundo vida. Na redução o pesquisador procura se distanciar de todas as concepções e conhecimentos pré-estabelecidos e busca selecionar as partes da descrição
que são consideradas essenciais e aquelas que não o são, através
da variação imaginativa. A compreensão fenomenológica é o momento em que se tenta obter o significado essencial na descrição
e na redução. O pesquisador assume o resultado da redução como
conjunto de asserções ou unidade de significado, que se mostram
relevantes para ele, apontando também para a experiência do sujeito e para a consciência que o sujeito tem do fenômeno.
3
ANÁLISE INTERPRETATIVA: Buscando a compreensão do
fenômeno da vivência da sexualidade pelo estomizado
Com a finalidade de compreender os significados atribuídos
pelos depoentes à vivência de sua sexualidade, os discursos foram
os pontos de partida, por meio das falas e expressões os sujeitos
manifestaram a estrutura do fenômeno, correspondendo ao que
pensam, percebem e se comportam na cotidianidade em que foram destacadas duas unidades de significação.
PERCURSO METODOLÓGICO
Esta pesquisa caracteriza-se como estudo descritivo com
abordagem qualitativa, na perspectiva fenomenológica heideggeriana, por compreender que este método possibilita a análise de
questões particulares e subjetivas, além de um maior entendimento dos significados que as pessoas atribuem à sua vivência, visando
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.9-14, Out-Nov-Dez. 2009.
UNIDADE DE SIGNIFICAÇÃO I - O vivido da sexualidade do
portador de estomia na cotidianidade é permeado por medo,
preocupação, vergonha, preconceito, que levam a mudança
de vida
A sexualidade ao ser vivenciada na cotidianidade pela pessoa portadora de estomia é manifestada por sentimentos e atitu11
Nascimento, C. M. F. S.; Luz, M.H.B.A.
des que podem gerar comportamentos positivos ou negativos. Os
sujeitos desse estudo se expressaram externando sentimentos de
preocupação, angústia, medo, vergonha, isolamento, inferioridade
e controle de seus desejos. Demonstraram perceber que houve
uma mudança e se referem ao seu corpo como não sendo igual
ao que era antes da cirurgia de confecção do estoma, conforme
verificamos nas falas abaixo.
[...] no começo, eu achava que ninguém fosse querer quando soubesse. [...] em relação aos gases, que é alto e não tem
como controlar, aí as pessoas mão no nariz logo, de imediato, aí eu fico olhando assim... [...] quando a bolsa vaza, eu fico
lá no chão, passo assim um dia todinho... Logo sobe aquele
mau cheiro imediatamente. Cravo
O meu marido nunca mudou em nada, mas eu passei mais
de um ano sem me relacionar com meu marido, pois tinha medo
de tocar... Fiquei chorando e com medo tinha pavor em tocar achava que ia machucar que ia prejudicar. Dália
[...] qualidade de minhas relações sexuais mudou muito e
mudou pra pior, pois quando eu me olho e vejo essa bolsa
pregada aqui eu não consigo [...] eu tenho vergonha, porque
meu corpo não é mais como era antigamente [...] porque
mesmo sabendo que não é contagioso, mas tem homem
que é assim um animal ignorante. Rosa
A preocupação, o medo de experimentarem constrangimento com a saída dos gases ou pelo vazamento de fezes da bolsa,
bem como o sentimento de inferioridade foi claramente manifestado, nas falas de Cravo, Dália e Rosa. Observamos que procuram no
isolamento o refúgio e solução para seus problemas. Acreditam ter
havido uma mudança em suas vidas, enfatizando como sendo uma
mudança para pior na qualidade de suas relações sexuais.
Entretanto, em outras falas expressaram não ter percebido
mudança, conforme verificamos nos depoimentos abaixo:
[...] Eu num me sinto rejeitado, minha mulher me adora do
mesmo jeito. Girassol
[...] eu não me sinto inferior, não me sinto diminuída por
causa da colostomia no início eu fiquei muito deprimida, pra
baixo, mas depois eu aprendi conduzir com facilidade [...] encaro como oportunidade de vida, se não fosse a colostomia
eu não estava aqui contando, pra você agora né?. Violeta
[...] Acho que minha sexualidade não afetou em nada. Dália
Desse modo os sujeitos do estudo ao significarem sua sexualidade, apontaram para uma vivência permeada de sentimentos
conflituosos, ora sentem-se preocupados, com medo, denotando
alterações em sua rotina, observando ter havido mudança para
pior, ora demonstrando segurança, falam despreocupadamente e
dizem que permanecem vivenciando sua sexualidade da mesma
forma que antes, sem ter sofrido alteração em seu cotidiano após a
colostomia. Desta forma percebemos haver ambigüidade nas falas.
Ora relatam alteração quando falam ter passado mais de um ano
12
sem se relacionar sexualmente com o companheiro, para em seguida dizer que não houve mudança em sua sexualidade.
Por cotidiano Heidegger (2008) compreende ser um modo
de se estar imerso nas preocupações do dia a dia. Diz ainda que, é
na cotidianidade que o ser humano se constitui como ser inautêntico determinado pelo impessoal que se traduz por ninguém, que
é próprio da cotidianidade sobre o domínio da qual, todos, de início
e na maioria das vezes, se encontram submetidos. Os sujeitos desse
estudo demonstram inautenticidade uma vez que não aceitam ainda sua condição de portador de estomia, negando a si próprio, não
se assumindo de modo apropriado frente ao parceiro.
Outra singularidade dos sujeitos é que estes demonstraram
vivenciar sua sexualidade com o medo, seus relatos evidenciam
que passam a conviver com um constante temor de que algo pode
lhes acontecer. Para Heidegger (2008), o temor pode apresentar
variações e surgir assumindo as características de pavor, horror e
terror. Sobre o pavor esclarece que é de início, algo conhecido e
familiar porém surpreendente e quando a ameaça possuir caráter
não familiar, transforma-se em horror. Explica ainda que quando
a ameaça vem com características de pavor e horror esse medo
torna-se terror. Os sujeitos deste estudo vivenciam também essas
variações do temor, quando são submetidos à estomia, ao manterem relação sexual com a bolsa coletora e, ao serem surpreendidos
pelo aparecimento de eliminações repentinas de gases ou fezes.
UNIDADE DE SIGNIFICAÇÃO II - O vivido da sexualidade da
pessoa portadora de estomia é expresso pelo surgimento
de intercorrências relacionadas ao processo fisiológico,
terapêutico e psicológico.
Os sujeitos entrevistados se reportam às suas vivências, permitindo des-velar alterações em sua sexualidade após a estomia,
ao relatarem não ter mais o mesmo desempenho sexual, sendo as
causas relacionadas a fatores fisiológicos decorrendo de alterações
próprias da idade e ao comportamento hormonal, conforme demonstram nos discursos abaixo.
[...] não vou dizer que eu tenha a potencialidade que tinha
antes, aqui acolá eu sinto uma falha não sei se é dada a idade, a coisa não funciona. Girassol
[...] A gente às vezes fica com os hormônios à flor da pele,
depois que passa a menstruação a minha vontade aumenta.
[...] mas passa, eu me controlo já me controlei várias vezes,
Rosa
A inibição do desejo sexual no período em que a produção
hormonal é maior, isto é, no início de um novo ciclo menstrual, é
entendida como uma estratégia de enfrentamento utilizada por
Rosa, que a fim de não se envolver em alguma situação constrangedora, priva-se dos prazeres pela contensão de sua libido sem se
oportunizar outra forma de solucionar suas dificuldades.
Com relação às dificuldades observadas em decorrência ao
tratamento complementar que às vezes é necessário em casos de
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.9-14, Out-Nov-Dez. 2009.
Significados da sexualidade da pessoa portadora de estomia: um estudo de enfermagem na abordagem fenomenológica
câncer, os sujeitos se expressaram conforme as falas abaixo
[...] surgiu um problema, é... uma obstrução, eu tive uma obstrução pelas radioterapias que eu fiz Violeta
[...] como eu fiz as radioterapias e aí no começo num tem
secreção né? Eu acho que é por causa das radioterapias que
queima tudo ne? Estreitou a vagina, tinha dor quando penetrava aí a gente faz, mas fica com medo. Papoula
[...] por apresentar problemas na bexiga, passei uns seis meses botando e tirando sonda... Dália
mentos com as respostas insuficientes ou porque não ousaram ir
além, em suas buscas.
Heidegger denomina a existência cotidiana de inautêntica,
pois nesta a pré-sença existe ligada ao espaço e tempo público, ou
seja, ao mundo de todos, sob a imposição do “a gente” que é um
modo impessoal no qual ela não é ela própria. Importante ressaltar
que na visão heideggeriana, autenticidade e inautenticidade são
possibilidades do existir humano. A inautenticidade de um ser não
significa não ser “trata-se apenas de poder-ser-no-mundo, embora
no modo da impropriedade” (HEIDEGGER, 2008, p.240 a 241).
4
Os entrevistados deixam claro terem experimentado alterações em suas atividades sexuais em decorrência de desconforto físico, ao falarem de alterações no pós-operatório e efeitos colaterais
do tratamento coadjuvante. Relatam ter havido a necessidade de
utilizar sonda vesical e de sintomas vaginais como: estreitamento
do canal vaginal, desconforto provocado por falta de lubrificação
levando ao ressecamento e dispareunia, os quais são atribuídos à
braquiterapia. Também demonstraram ter suas condições psico-emocionais bastante afetadas, quando em seus discursos falaram
de trauma, vergonha, medo, preconceito, alterando seus comportamentos conforme destacamos abaixo.
Qualquer ser humano quando ele passa por um processo
diferente daquele que ele não deseja, vamos dizer que seja o meu
caso, não deixa de ter um trauma. Girassol
Eu não gosto de estar mentindo, mas é por causa da vergonha. Depois que eu adoeci que fiz a cirurgia, eu coloquei uma coisa
na minha cabeça... Assim um entrave eu não queria mais contato,
com medo dele descobrir. Rosa
[...] Me preocupa. [...] Senti o preconceito por parte de uma
parceira, a qua,l estava apaixonado há três anos, mas ela se
afastou de mim... Lírio
Com relação ao psicológico, é compreensível que alterações
físicas inesperadas ou o início súbito de patologias gerem mudanças bruscas, levando o indivíduo a sair de uma situação confortável
para vivenciar outra estressante. Paula (2010) explica essa situação
afirmando que esse indivíduo passa a experimentar a perda do “status” social em que ele sai da condição de sadio e passa ao “status” de
doente, enfrentando assim grandes perturbações.
Os sujeitos pesquisados também se mostraram vivenciando
sua sexualidade com muitas alterações, as quais foram percebidas
como de ordem fisiológica, ou decorrentes do tratamento ou ainda
relacionadas ao psicológico. Desse modo mostram-se vivenciando
um cotidiano de inautenticidade, pois diante das possibilidades de
vivenciarem sua sexualidade prazerosamente, superando as limitações, encarando-a como necessidade que precisa ser saciada, não
buscaram alternativas, e ainda aqueles que demonstraram curiosidade sobre sexualidade perderam-se no meio de seus questionaRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.9-14, Out-Nov-Dez. 2009.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito, ao realizar este estudo, foi aprofundar um conhecimento, indo além da realidade objetiva da sexualidade do ser
humano, para buscar a subjetividade no que ela significa ao ser vivenciado pela pessoa portadora de estomia. Assim, utilizando-me
da fenomenologia, apoiada na obra Ser e Tempo, de Martin Heidegger, busquei percorrer o caminho, partindo da dimensão ôntica,
factual da pessoa portadora de estomia, para desvelar o fenômeno
da vivência de sua sexualidade, em sua dimensão ontológica.
Ao me apropriar da hermenêutica de Heidegger, vislumbrei
que pela facticidade, que é inerente à condição humana, o estomizado depara-se com a estomia, inesperadamente, como uma situação inusitada, imprevisível, que a ele se impôs independentemente
de sua vontade e sem opção de escolha para nela opinar. Desta
forma segue na cotidianidade que, para o filósofo, compreende um
modo de se estar imerso nas preocupações do dia a dia. Explica,
ainda, que é na cotidianidade que o ser humano se constitui como
ser inautêntico determinado pelo impessoal em que a pré-sença
sente-se confortável, pois todos é ao mesmo tempo ninguém.
Observou-se nesse estudo que os sentimentos que permeia
entre os estomizados é de medo, vergonha, preocupação, inferioridade, preconceito. Admitem ter havido mudanças em suas vidas,
de modo geral e em particular, na sexualidade, categorizado-a
como desfavorável. Descortinam uma vivência em que, feitos reféns desses sentimentos, mostram-se na inautenticidade sem esboçar um poder-ser liberto do medo, da vergonha ou do preconceito e assim poder se lançar ao modo de ser autêntico, assumindo
sua condição própria para vivenciar sua sexualidade.
13
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14
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.9-14, Out-Nov-Dez. 2009.
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Risco de doença renal crônica em hospital público de Teresina-PI
Risk of chronic kidney disease at a public hospital in Teresina – PI
Riesgo de la enfermedad renal crónica en un hospital público de Teresina-PI
Ginivaldo Victor Ribeiro do
Nascimento
Doutor em Fisiopatologia em Clínica Médica e
Especialista em Nefrologia. Docente do curso de
Medicina da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas
e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI), Teresina, Piauí,
Brasil. Endereço: Rua Visconde da Parnaíba, 2315, apto
202, Horto florestal, CEP: 64049-570.
E-mail: [email protected]
Nara Maria Ribeiro Soares
Alunas do Curso de Graduação em Medicina
da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI), Teresina, Piauí,
Brasil.
Sávia Raquel Costa Normando
Alunas do Curso de Graduação em Medicina
da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
RESUMO
O presente estudo objetivou identificar pacientes sob risco para doença renal crônica dentre aqueles internados no Hospital Mariano Castelo Branco em Teresina- PI, de julho de
2008 a agosto de 2009, em seus respectivos estágios da doença, utilizando registros de
anormalidades laboratoriais no sangue e/ou na urina, e/ou anormalidades nos exames de
imagem. Foi consubstanciado pelo cálculo estimado da filtração glomerular, seguindo os
critérios propostos pelo K/DOQI para classificação da doença renal crônica. Verificou-se que
dos 532 prontuários analisados, 66 pacientes tinham diagnóstico de doença renal crônica,
sendo que 95,46% desconheciam serem portadores da doença. Acometeu ambos os gêneros igualmente, em uma faixa etária média de 64,20 anos (±16,6), e teve como principal
etiologia a Hipertensão Arterial Sistêmica. Assim, conhecer a prevalência da endemia da
doença é uma questão desafiadora e vem sendo desenvolvida por meio de estimativas
que respaldam a elaboração de estratégias para o rastreamento da doença. Os resultados
evidenciam a prevalência da doença não apenas como um indicador epidemiológico, mas
sugerem a inclusão de medidas de detecção precoce, a fim de que se possa evitar que
mais pacientes cheguem a estágios avançados da doença, cujos cuidados são onerosos e
difíceis, em comparação com medidas de prevenção.
Descritores: Insuficiência Renal Crônica, Taxa de Filtração Glomerular, Hipertensão.
Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI),
Teresina, Piauí, Brasil.
Submissão: 03.09.2009
Aprovação: 17.09.2009
ABSTRACT
The objective of the present study was to identify the risk of chronic kidney disease (CKD)
in Hospital Mariano Castelo Branco inpatients, in Teresina-PI, from July 2008 to August 2009
and their respective stages of the disease by the analisys of records of blood and/or urine
laboratory abnormalities, and/or abnormalities in methods of image. The diagnosis and
staging of CKD were based upon glomerular filtration rate estimated from serum creatinine
as recommended by the KDOQI. Five hundred thirty-two medical records were reviewed
and sixty-six patients were diagnosed with CKD, but 95.46% of these patients didn’t know
that were sick. The results showed that CKD reached both genders in the same way. Patients were predominantly male (prevalence 57.58%), the main cause of CKD was hypertension and the average age was 64.20 (± 16.6). Thus, the knowledge of CKD prevalence is
challenger and is being developed through estimates of its taxes that allow the development of strategies to detect that illness earlier. Results showed the prevalence of CKD not
only as an epidemiological indicator, but also discloses an alternative operational strategy
to identify the disease. So fewer patients will reach advanced stages of disease, whose care
is more difficult, compared with prevention of CKD.
Descriptors: Chronic Kidney Insufficiency, Glomerular Filtration Rate, Hypertension.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
15
Risco de doença renal crônica em hospital público de Teresina-Pi
RESUMEN
Ese estudio pretende identificar lo riesgo de La enfermedad renal
crónica (ERC) en pacientes internados en el Hospital Mariano Catelo Branco en Teresina- PI, de julio de 2008 a agosto de 2009, en sus
respectivas etapas de la enfermedad, utilizando registros de anormalidades de laboratorios en la sangre y/o en la orina, y/o anormalidades en los exámenes de imágenes. El estudio fue consagrado
por el cálculo estimado de la filtración glomerular, siguiendo los
criterios propuestos por el K/DOQI para la clasificación de la ERC. De
los 532 gráficos analizados, 66 pacientes tenían diagnóstico de ERC,
siendo que 95,46% de los pacientes desconocían ser portadores de
la enfermedad. No hubo predominio entre los géneros, siendo la
principal etiología de la ERC la hipertensión arterial sistémica, en
una faja etárea promedio de 64,20 años (±16,6). Entonces, conocer
la prevalencia de la endemia de la ERC es una cuestión desafiante y
se ha desarrollado a través de estimaciones que respaldan la elaboración de estrategias para el rastreo de la enfermedad. Los resultados evidencian la prevalencia de la ERC no apenas como un indicador epidemiológico, pero permiten sugerir la inclusión de medidas
de detección temprana de ERC, a fin de que se pueda evitar que
más pacientes lleguen a etapas avanzadas de la enfermedad, cuyos
cuidados son más onerosos y difíciles, en comparación con las medidas de prevención de la ERC.
Descriptores: Insuficiencia Renal Crônica, Índice de Filtrado Glomerular, Hipertensión.
1
INTRODUÇÃO
A insuficiência renal crônica (IRC) é um processo de múltiplas etiologias, resultando em desgaste do número e da função dos
néfrons, caracterizada por uma crescente incapacidade do rim em
manter níveis normais dos produtos do metabolismo das proteínas
e valores normais da pressão arterial e do hematócrito, bem como
o equilíbrio àcido-básico (LUKE, 2005).
Como conseqüência haverá elevação das concentrações séricas ou plasmáticas de todos os catabólicos derivados principalmente do metabolismo protéico, tipificados pelo aumento da uréia
(DRAIBE, 2006), podendo evoluir para doença renal terminal, com
perda irreversível da função renal endógena em grau suficiente
para tornar o paciente, permanentemente dependente da terapia de substituição renal (diálise ou transplante) para evitar uremia
ameaçadora à vida. (HARRISON, 2006).
A fisiopatologia da IRC envolve mecanismos desencadeantes específicos da etiologia subjacente, bem como um conjunto
de mecanismos progressivos que representam uma conseqüência
comum após redução prolongada da massa renal, independente
da etiologia. (HARRISON, 2006).
As alterações no perfil de morbimortalidade da população
mundial, ocorrido nas últimas décadas, evidenciaram um aumento das doenças crônico degenerativas e projetaram a doença renal
16
crônica (DRC) no cenário mundial como um dos maiores desafios à
saúde pública deste século, com todas as suas implicações econômicas e sociais. O crescimento da população idosa e da prevalência
de obesidade levou a um aumento das doenças crônicas, com destaque para o diabetes mellitus (DM) e a hipertensão arterial (HAS),
principais causas de falência renal em todo o mundo. A vigilância é
parte fundamental para conter o aumento da endemia, visto que a
expressão clínica das doenças crônicas não transmissíveis, em geral
faz-se após longo tempo de exposição aos fatores de risco e da
convivência assintomática do indivíduo com a doença não diagnosticada. (BASTOS, 2009).
A doença renal pode progredir independentemente da presença do fator causal inicial. Durante a evolução da doença, um
número progressivamente menor de néfrons segue funcionando
adequadamente. Não se sabe com exatidão como se dá o caráter
progressivo. (DRAIBE, 2006).
Ocorre hipertrofia glomerular, acentuado aumento do fluxo plasmático glomerular e da taxa de filtração glomerular (TFG)
por néfron individual e elevação da pressão capilar. Verifica-se o
desenvolvimento de glomeruloesclerose focal nesses glomérulos,
que finalmente se tornam não funcionais. Simultaneamente com
o desenvolvimento da glomeruloesclerose focal, a proteinúria aumenta de modo acentuado, e ocorre agravamento da hipertensão
sistêmica. Outros mecanismos de progressão provavelmente importantes na esclerose dos glomérulos adaptados incluem coagulação glomerular, efeitos hiperlipidêmicos e proliferação das células
mesangiais. (LUKE, 2005).
No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programa
crônico de diálise dobrou nos últimos oito anos. De acordo com o
censo SBN 2008, estima-se um total de 87.044 em 2008, o número
de pacientes em programa de terapia renal substitutiva, e entram
em programa de diálise em torno de 25.000 por ano. O gasto com
o programa de diálise e transplante renal no Brasil situa-se ao redor
de 1,4 bilhões de reais ao ano, e, ainda conforme o censo da SBN
2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) arca com o custo de 87,2%
do total de pacientes em programa de diálise. (SESSO et. al, 2008).
Do total de pacientes em programa de terapia renal substitutiva apenas 29% fizeram alguma avaliação renal prévia, o que
demonstra a carência de diagnóstico precoce. Além disso, os portadores de disfunção renal nos estágios de II a IV apresentam freqüentemente evolução assintomática, progressiva e insidiosa, dificultando o diagnóstico da disfunção renal. (ROMÃO, 2004).
As causas da IRC terminal são bem conhecidas, entretanto,
devido à velocidade variável de sua progressão, a prevalência e a
freqüência relativa dos diferentes tipos de doença renal crônica não
estão bem definidas. Quando o nível sérico de creatinina no adulto
atinge cerca de 3 mg/dl, e nenhum dos fatores na patogenia da doença renal é reversível, a doença renal tende a evoluir para a Insuficiência Renal Crônica Terminal (IRCT) no decorrer de um período
de tempo muito variável (que se estende de alguns anos até vinte
a vinte e cinco anos). (LUKE, 2005).
Poucos trabalhos na literatura, sobretudo no Brasil, avaliaram
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
Nascimento,G. V. R.; Soares,N.M.R.; Normando,S.R.C.
a capacidade de detecção precoce de DRC em pacientes assintomáticos (estágios II a IV) através da realização de estimativas da
função renal e da creatitina sérica. Assim, realização de exames simples associados a capacitação e vigilância dos médicos da atenção
primária podem resultar em ações essenciais para o diagnóstico e
encaminhamento precoce a fim de retardar a progressão da DRC,
prevenir suas complicações, modificar comorbidades presentes e
preparar adequadamente para uma terapia de substituição renal.
(ROMÃO, 2004).
Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo
identificar pacientes sob risco para doença renal crônica dentre
aqueles internados no Hospital Mariano Castelo Branco (HMCB),
em Teresina-PI, do período de agosto de 2008 a julho de 2009.
2
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo, em que
foram analisados os prontuários de todos os pacientes que estiveram internados no Hospital Mariano Castelo Branco (HMCB) no período de agosto de 2008 a julho de 2009.
Para organização dos dados foi utilizado um protocolo criado pelos autores do projeto, onde foram avaliados creatinina sérica, depuração de creatinina estimada (MDRD e Cockcroft-Gault),
idade, gênero, peso, presença de comorbidades, sumário de urina
(EAS) e ultrassonografia do aparelho urinário. Após coleta dos dados foi avaliado o risco de ser portador de DRC baseado na depuração estimada da creatinina e creatinina sérica e foi traçado um
perfil epidemiológico destes pacientes.
Foram excluídos os pacientes cujos prontuários foram preenchidos incorretamente, pacientes com idade inferior a 18 anos,
pacientes com clearance de creatinina estimado (ClCr) > 90mL/
min/1,73m2 à admissão e pacientes inicialmente com ClCr ≤
90mL/min/1,73m2 que durante a evolução apresentaram a normalização do ClCr.
A análise estatística foi realizada utilizando-se o programa
SPSS versão 16.0. As variáveis quantitativas foram representadas
pela média e desvio padrão e as variáveis qualitativas, por meio de
percentagem. Os gráficos e as tabelas foram construídos através
do programa Microsoft Excel XP e do programa Microsoft Word XP.
Para comparações entre proporções em amostras independentes
foi utilizado o teste do Qui-quadrado para as variáveis gênero e
classificação do paciente, conforme a filtração glomerular à admissão. O nível de significância utilizado foi de 5% (p<0,05).
A pesquisa se iniciou após a autorização da instituição envolvida e da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
NOVAFAPI, conforme prevê a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente trabalho, foram analisados os prontuários de
todas as internações do período de agosto de 2008 a julho de
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
2009, totalizando 532 pacientes. Observou-se que desse total, 66
(12,40%) eram de pacientes com risco para DRC e desses, 34,85%
apresentaram agudização (variação de creatinina >0,3mg/dL em
até 48h).
Na tabela 1, pode-se visualizar características epidemiológicas da população em estudo. Notou-se que a maioria dos pacientes foi do gênero masculino, perfazendo 57,58% do todo, com
p>0,05, o que implica dizer que a IRC acometeu ambos os sexos de
forma igualitária, nessa população. A faixa etária média foi de 64,20
anos, com predomínio de pacientes entre 55 e 74 anos, acometendo, em maior grau, os indivíduos de raça parda.
Os dados encontrados apontam que a IRC incide em qualquer
idade, sexo ou raça. No Brasil, cerca de 60% dos pacientes com IRC
estão na faixa etária entre trinta e sessenta anos, sendo 15% abaixo
dos trinta anos e 25% acima dos sessenta anos. Cerca de 60% são do
sexo masculino e 40% do sexo feminino. (BASTOS, 2008)
Um dado de grande relevância aponta que 95,46% dos pacientes desconheciam ser potenciais portadores de DRC. Essa informação corrobora com os dados existentes na literatura. Segundo
dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), cerca de 90%
das pessoas não sabem que têm o problema, já que não há sintomas aparentes nos primeiros estágios, o que leva, na maioria dos
casos, ao diagnóstico tardio, quando há insuficiência renal avançada e já é necessário fazer diálise ou transplante, realidade que
poderia ser evitada.
Com relação aos dados laboratoriais da admissão, percebeu-se que a uréia média era de 80,71 mg/dL, a creatinina, de 2,42 mg/
dL e o clearance de creatinina pelo MDRD e pela fórmula de Cockcroft-Gault era de 41,56 ml/min/1,73m2 e 17,55 ml/min/1,73m2,
respectivamente. Dos pacientes estudados, apenas 16 (24,24%)
apresentavam proteinúria de 24h, com valor médio de 1111,58
mg/24h.
No contexto da etiologia da IRC, notou-se que a HAS isolada
correspondeu ao principal fator causal da doença, com 39,39%. Ressalta-se que, em 22,73% dos casos, a causa foi HAS associada a DM,
conforme o gráfico 1. Nesse caso, não foi possível estabelecer a causa
como HAS ou DM, isoladamente, uma vez que os exames utilizados,
sobretudo o sumário de urina (EAS), foram compatíveis com ambas
as doenças e, por ser um estudo retrospectivo, não foi possível elucidar a real causa através de outros exames complementares.
Esses dados vão de encontro com os da literatura, que afirma
que a hipertensão arterial é uma das principais causas de insuficiência renal crônica e a associação dessas duas situações clínicas
aumenta consideravelmente o risco cardiovascular. Os principais
mecanismos da hipertensão arterial na insuficiência renal crônica
são sobrecarga salina e de volume, além de aumento de atividade
do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) e disfunção
endotelial. Os objetivos do tratamento da hipertensão arterial em
pacientes com insuficiência renal são diminuir a progressão da doença renal nos estágios mais precoces e reduzir o risco cardiovascular em todos os estágios da doença. (BORTOLOTTO, 2008)
Vale ressaltar que não existe nenhuma condição, nem mesmo
17
Risco de doença renal crônica em hospital público de Teresina-Pi
Tabela 1: Perfil epidemiológico dos pacientes estudados e dados da admissão hospitalar. Teresina-PI, 2008-2009.
Variáveis
Gênero
Mas
Fem
64,20 (±16,6)
Branca
Negra
Parda
Indeterminado
Sim
Não
65,16 (±13,78)
80,71 (±43,94)
2,42 (±1,66)
17,55 (±16,26)
41,56(±27,07)
1111,58 (±709,44)
Faixa etária média (anos)
Raça
Paciente sabia ser portador de IRC
Peso médio de entrada (Kg)
Uréia média de entrada (mg/dL)
Creatinina média de entrada (mg/dL)
Clearance de creatinina – Cockcroft-Gault (ml/min/1,73m2)
Clearance de creatinina – MDRD (ml/min/1,73m2)
Proteinúria (mg/24h)
N
38
28
3
6
50
7
3
63
-
%
57,58
42,42
4,54
9,09
75,76
10,61
4,54
95,46
-
Fonte: Prontuários do Hospital Mariano Castelo Branco.
o diabetes, que se associe com um risco cardiovascular tão elevado
quanto aquele conferido pela DRC. Uma das razões para essa forte associação deve-se aos fatores de risco clássicos para doença cardiovascular (DCV) com potencial aterogênico, incluindo-se idade, hiperten-
são arterial, obesidade, dislipidemia e tabagismo, os quais contribuem
com uma patogênese semelhante para a perda progressiva da função
renal, explicando em parte a elevada proporção de doença aterosclerótica e suas complicações nos pacientes com DRC. (ARANTES, 2008)
Gráfico 1: Etiologia associada ao risco de DRC. Teresina-PI, 2008-2009.
40
39,39
22,73
20
16,67
9,09
7,58
0
S
DM
HA
ças
en
Do
4,54
as
c
áti
st
Pro
M
+D
S
HA
s
tra
Ou
D
do
eci
h
on
esc
Fonte: Prontuários do Hospital Mariano Castelo Branco.
Neste estudo observou-se uma maior prevalência de pacientes nos estágios III e IV (p<0,01), como mostra o gráfico 2. Dados
do estudo NHANES III (2003) mostram que aproximadamente 11%
da população adulta dos Estados Unidos (20 milhões de pessoas
de1988 a 1994) tinham DRC. A prevalência dos estágios de I a IV da
doença foi de 10,8%, número cem vezes maior do que a prevalência do estágio V ou de falência renal (0,1%).
É, entretanto, importante saber que o diagnóstico da DRC,
particularmente nos seus estágios iniciais, quando ela é freqüente18
mente assintomática, ficou enormemente facilitado com a adoção,
em todo o mundo, da definição da doença introduzida pelo Kidney
Disease Outcomes Quality Initiative da National Kidney Foundation
americana. Por definição, é portador de DRC todo indivíduo que
apresentar: 1. Filtração glomerular (FG) <60mL/min/1,73m2; 2. FG
>60mL/min/1,73m2 e pelo menos um marcador de lesão do parênquima renal (p. ex., proteinúria) e 3. Cronicidade das alterações,
ou seja, que elas estejam presentes por um período ≥3 meses. Adicionalmente, o grupo de trabalho do KDOQI propôs estagiar a DRC
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
Nascimento,G. V. R.; Soares,N.M.R.; Normando,S.R.C.
baseado na FG (mL/min/1,73m2): estágio 1 (FG ≥90), estágio 2 (6089), estágio 3 (30-59), 4 (15-29) e estágio 5 (<15, estando ou não o
paciente em diálise). (BASTOS, 2008).
Um aspecto importante na identificação da DRC é decidir
quem rastrear. Num país com orçamento limitado para a saúde, fica
claro que deveríamos priorizar o diagnóstico da DRC nos indivíduos
ou pacientes com maiores chances de desenvolver a doença. Duas
estratégias simples de rastreamento deveriam ser consideradas.
A primeira baseia-se na estimativa da filtração glomerular (FGe) a
partir da creatinina plasmática, utilizando-se, por exemplo, a fórmula desenvolvida para o estudo MDRD, na sua versão simplificada e sem a variável raça (importante para os negros americanos),
como foi utilizada nesse estudo. A segunda estratégia baseia-se na
determinação urinária da perda de albumina (o marcador de doença renal mais freqüentemente utilizado). (BASTOS, 2008).
Gráfico 2: Classificação conforme filtração glomerular à adminssão hospitalar. Teresina-PI, 2008-2009.
50
45,45
40
30
27,27
20
13,64
10,6
10
3,03
0
I
II
III
IV
V
Fonte: Prontuários do Hospital Mariano Castelo Branco.
O diagnóstico da maioria das DRC de caráter progressivo
baseia-se principalmente na identificação de hipertensão arterial,
na presença de hematúria e/ou proteinúria e/ou leucocitúria e na
determinação do TFG. (BASTOS, 2002)
Setenta e oito por cento dos pacientes com IRC tiveram EAS
colhido, dado justificado pelo tempo de internação e recursos disponíveis no hospital para coleta do exame que inviabilizaram a exe-
cução e obtenção dos dados referentes aos EAS. Desses, 68,52%
apresentaram o exame com alguma alteração, sendo a mais prevalente a proteinúria > 1+ e hematúria +, de acordo com o gráfico 3.
A quantidade de proteinúria se correlaciona com a magnitude da lesão renal em diferentes modelos animais e em seres
humanos, e a sua redução se associa com a estabilização do TFG.
(REMUZZI, 1998)
Gráfico 3: Sumario de urina dos pacientes estudados. Teresina-PI, 2008-2009.
Proteinúria > + e hematúria +
18,54
Proteinúria + e hematúria +
14,81
Hematúria +
12,96
Proteinúria > +
12,96
Proteinúria +
9,25
Normal
31,48
0
10
20
30
40
Fonte: Prontuários do Hospital Mariano Castelo Branco.
Da mesma forma, 50% dos pacientes com IRC realizaram ultrassom (US) das vias urinárias, sendo que 18,08% apresentaram
alterações compatíveis com IRC.
Segundo as Diretrizes Brasileiras de Doença Renal Crônica,
a lesão renal é definida como anormalidades anatomopatológicas
ou marcadores de lesão renal incluindo anormalidades laboratoRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
riais no sangue ou na urina, ou anormalidades nos exames de imagem (ultra-sonografia com cicatrizes, dilatação pielocalicial, doença policística, redução do tamanho renal).
19
Risco de doença renal crônica em hospital público de Teresina-Pi
Gráfico 4: Ultrassom de vias urinárias dos pacientes estudados. Teresina-PI, 2008-2009.
Outros
15,16
Doenças prostática
9,09
Hidronefrose
Atrofiarenal e
21,21
da diferenciação córtico-medular
3,03
Doença cística
12,12
Redução da diferenciação córtico-medular
15,15
Normal
24,24
0
10
20
30
Fonte: Prontuários do Hospital Mariano Castelo Branco.
Os principais motivos de internação no HMCB durante esse
período foram pneumopatias (pneumonia, DPOC e tuberculose),
com 21,21%, seguida de ICC (16,67%), enteroinfecção (10,61%),
DM e suas repercussões (9,09%), pneumopatias associada a ICC
(6,06%) e crise hipertensiva (4,54%).
É imprescindível que os pacientes com insuficiência renal
crônica tenham seu diagnóstico feito mais precocemente e sejam
encaminhados a equipes de nefrologia (compostas por médico, enfermeira, nutricionista, assistente social, profissional de saúde mental) a tempo suficiente para que iniciem o programa de diálise em
melhores condições. No período anterior à diálise deve ser feito um
adequado atendimento em relação ao tratamento da hipertensão
arterial, da anemia, da osteodistrofia renal, das condições nutricionais
e deve ser estabelecido precocemente o acesso vascular. Este é também um período importante para que se melhore a qualidade de
vida durante o tratamento. (SESSO, BELASCO E AJZEN, 1995)
A DRC parece ser um problema muito maior do que já se
julgou anteriormente. A determinação do número de pessoas portadoras da DRC é fundamental para as projeções de custo e estabelecimento de estratégias de promoção da saúde. Enquanto não
se dispõe de uma política pública que contemple todo o espectro
da DRC, os esforços devem se concentrar na identificação precoce
da doença para, assim, implementarem-se medidas nefroprotetoras que reduzam a velocidade de perda funcional e diminuam as
complicações da doença, revertendo o modelo atual de evolução
mais freqüentemente para óbito do que para diálise ou transplante.
Apenas 33% dos pacientes com insuficiência renal crônica recebem tratamento adequado para a doença no Brasil. Os 67%
restantes - cerca de 100 mil doentes - morrem antes mesmo de
iniciar a diálise. O destino principal das verbas de saúde tem sido o
tratamento. Os 45 mil pacientes em diálise no país consomem R$
1 bilhão (5% do orçamento de saúde) e faltam recursos para a fase
preventiva do atendimento. (BASTOS, 2008)
20
4
CONCLUSÃO
Os resultados do presente estudo nos permitem concluir que
12,40% da população total dos pacientes internados apresentaram
risco para DRC, predominando em indivíduos com idade média de
64,20 anos (±16,6), atingindo, igualmente, ambos os gêneros e tendo como principal causa a HAS. Ressalva-se que mais da metade
dos pacientes avaliados encontravam-se nos estágios III e IV.
A grande maioria da população estudada que apresentava
tal condição desconhecia ser portadora desta, dado de grande
importância médico-social, uma vez que a evolução para estágios
avançados é inexorável, sobretudo na ausência de tratamentos baratos e distribuídos gratuitamente pela rede pública de saúde.
Este trabalho contribui para fundamentar novas propostas
à rotina de rastreamento da DRC, como a inclusão do cálculo da
filtração glomerular, como um dado complementar aos resultados das dosagens de creatinina sérica, produzindo benefícios no
sentido de reduzir a morbidade e a mortalidade destes pacientes,
através do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da doença de base, a fim de evitar complicações como a IRC. Além disso,
contribui sobremaneira para fornecer subsídios para estudos dos
fatores relacionados à doença renal e para a redução da lacuna hoje
existente na literatura sobre a doença renal crônica, no Brasil.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
Nascimento,G. V. R.; Soares,N.M.R.; Normando,S.R.C.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.15-21, Out-Nov-Dez. 2009.
21
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Análise da avaliação da aprendizagem utilizada em um curso de
graduação em Enfermagem
Analysis of the evaluation of the learning used in a course of graduation in Nursing
Análisis de la evaluación de aprender usado en un curso de la graduación en el oficio de Enfermera
Maria do Rosário de Fátima Franco Batista
RESUMO
Enfermeira. Especialista em enfermagem pela
Escola Paulista de Medicina, Professora do Curso de
Enfermagem de NOVAFAPI, Enfermeira auditora do
Estado. e-mail: [email protected]
Francisca Cecília Viana Rocha
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPI.
Professora do curso de enfermagem da NOVAFAPI.
Enfermeira do PSF de Teresina-Pi..Enfermeira
assistencial da UTI do Hospital Getúlio Vargas em
Teresina –Pi. e-mail: [email protected]
Fernanda Cláudia Miranda Amorim
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPI.
A avaliação deve ser vista como um meio para percepção, diagnóstico e análise de problemas no aprendizado. Este estudo objetivou analisar a metodologia de avaliação utilizada
pelos professores do Curso de Graduação em Enfermagem de uma Instituição de Ensino
particular da cidade de Teresina-PI. Trata-se de estudo descritivo de abordagem quantitativa desenvolvido com uma amostra de 34 professores do curso de Graduação em Enfermagem, utilizando um questionário com perguntas fechadas. Os resultados evidenciaram
que a maioria dos professores utiliza a avaliação escrita, caracterizando ainda uma abordagem tradicional, uma valorização do nível de conhecimento em relação ao aprendizado
do aluno, a recuperação paralela não é utilizada e a maioria dos professores oportunizam
a auto avaliação do aluno. Conclui-se que a avaliação ainda é feita de forma tradicional,
o que dificulta na formação do aluno, o desenvolvimento do espírito crítico, reflexivo e
transformador.
Descritores: Avaliação. Aprendizagem. Enfermagem.
Professora do curso de enfermagem da NOVAFAPI.
Enfermeira do PSF de Teresina-Pi. Enfermeira Assistencial
ABSTRACT
da UTI do Hospital de Doenças Tropicais Nattan
Portela em Teresina-Pi. Endereço para contato: Rua
Desembargador João Pereira, 4177 Apto. 302 BL. D.
Bairro: Santa Isabel. Teresina-PI CEP: 640055-100. E-mail:
[email protected]
Fernanda Maria de Jesus Sousa Pires
de Moura
Mestre em Enfermagem pela UFPI. Professora do curso de
Enfermagem da UFPI. Enfermeira do Hospital Universitário
em Teresina-Pi. e-mail: [email protected]
Magda Coeli Vitorino Sales
Enfermeira. Especialista em Saúde da Família. Professora
The evaluation must be seen as a mean for perception, diagnosis and problem analysis in
the learning process. This study aimed to analyze the methodology of evaluation performed by the teachers from the Nursing Graduation Course of a private institution in Teresina-PI. It is about a descriptive study of quantitative approach developed with a 34 teacher
sample from the Nursing Graduation Course, using a questionnaire with closed questions.
The results showed that most teachers use the written assessment, characteristic of a traditional approach, an emphasis on the level of knowledge when it comes to the students’
learning; the final examination is not used and most teachers favor the self-evaluation of
the student. We concluded that the evaluation is still developed in a traditional way, which
harms the student’s education, as well as the critical reflexive and transformative spirit development. Teachers must seek different strategies of teaching and evaluation, which will
allow the education of a new professional suitable for the new pedagogical perspectives.
Descriptors: Evaluation. Learning. Nursing.
do curso de Enfermagem da Faculdade NOVAFAPI.
Teresina-Pi. email: [email protected]
Submissão: 08.01.2009
Aprovação: 12.06.2009
22
RESUMEN
La evaluación debe ser vista como un medio para percepción, diagnóstico y análisis de
problemas en El aprendizaje. Este estudio objetivó analisar la metodología de evaluación
desarrollada por professores del Curso de Graduación em Enfermería de uma institución
privada en Teresina-PI. Es um estudio decriptivo de abordaje cuantitativo desarrollado con
una muestra de 34 professores del Curso de Graduación em Enfermería, usando uns quesRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.22-27, Out-Nov-Dez. 2009.
Batista, M. R. F. F. et al.
tionario con preguntas cerradas. Los resultados mostraron que la
mayoría de los professores usa la evaluación escrita, característica
del abordaje tradicional, uma valorización del nível de conocimiento en relación al aprendizaje del alumno; el examen final no es utilizado y la mayoría de los profesores oportuniza la auto-evaluación
del alumno. Concluímos que la evaluación todavía es desarrollado
de modo tradicional, lo que perjudica la educación de los alumnos, el desarrollo del espíritu crítico, reflexivo y transformador. Los
profesores debem buscar diferentes estratégias de enseñanza y
evaluación, lo que permitirá la educación de um nuevo profesional
adecuado a las nuevas perspectivas pedagógicas.
Descriptores: Evaluación. Aprendizaje. Enfermería.
1
INTRODUÇÃO
A palavra avaliação é usada com diferentes significados
por diferentes pessoas, concorrendo para uma complexidade no
desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Frequentemente professores usam o termo avaliação, quando na verdade
deveriam utilizar a palavra medida, onde medir é o ato de colher
informações e ordená-las, levando em conta o seu aspecto quantitativo numérico, medida implica quantificação e avaliação, interpreta os dados fornecidos pela medida e envolve julgamento de
valor (BRASIL, 2003).
Avaliar é julgar ou fazer apreciação de alguém ou de alguma coisa, baseada em escalas de valores e interesses, prestação de
dados quantitativos ou qualitativos para obter um julgamento de
valor, tendo por base padrões ou critérios. O propósito da avaliação do aluno é ajudar na sua formação, proporcionando-lhe retro-alimentação sobre o rendimento e o diagnóstico de pontos fortes
e fracos, fornecendo-lhe informações que o auxiliem na tomada de
decisões (HAYDII, 2001).
Um processo avaliativo deve fundamentar-se em três princípios básicos: princípio de investigação docente, que mostra o
compromisso do professor em buscar, compreender e participar
da caminhada do aluno; princípio da complementaridade, onde
nenhuma resposta do aluno é completamente nova, e por último
o princípio de provisoriedade, em que nenhum juízo sobre o aluno
é absoluto ou definitivo frente à história de seu processo de conhecimento (LUCKESI, 1999).
A avaliação é a reflexão transformadora em ação, esta que
nos impulsiona a nova reflexão. Reflexão permanente do educador
sobre sua realidade e acompanhamento do educando na sua trajetória de construção do conhecimento. Neste pensamento o aluno
funciona como sujeito ativo no processo, participando de forma
crítica na construção dos critérios avaliativos, tornando assim a
avaliação mais humanizada, pois a democracia compartilhada considera as condições sociais e culturais daqueles que são avaliados
(HOFMANN, 1995).
Alguns princípios que devem ser atendidos visando à garantia dos objetivos e da qualidade do processo de avaliação, como
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.22-27, Out-Nov-Dez. 2009.
reflexão, onde a avaliação deve ser uma ação investigativa e reflexiva; cooperação é um ato coletivo e consensual do qual participam todos os envolvidos na ação educativa; continuidade, em que
a avaliação acompanha toda ação pedagógica; integração, onde a
avaliação é parte integrante da ação educativa; abrangência atinge
todos os componentes da ação pedagógica (aluno, ambiente, os
meios, o professor e sua prática pedagógica); e por último a versatilidade, que deve se basear em inúmeras aferições, em vários tipos
de dados e se processar em diferentes momentos (SILVA, 1999).
As abordagens conservadoras citam as funções da avaliação
como seletiva e eliminatória, com a finalidade de classificar os alunos com “melhor desempenho” contribuindo para fortalecer o índice de reprovação ou evasão daqueles que apresentaram defasagem de aprendizagem. As funções classificatória, burocrática e de
certificação, onde o compromisso da avaliação é com a produção e
os registros das notas que classificarão o aluno, promovendo-o ou
não, o crescimento em termo de desempenho e o desenvolvimento de habilidades tem boa chance de não serem evidenciados. As
funções, disciplinadora e de pressão psicológica são as preferidas
pelos professores arbitrários, autoritários e pouco conscientes das
reais funções da avaliação (BRASIL, 2003).
Já a função de controle é uma modalidade que permite o
controle dos objetivos definidos. Na verdade não é função da avaliação contemplar todos os aspectos acima descritos, isso tudo
depende da concepção adotada pelos educadores, pelo projeto
pedagógico institucional, entre outros. A avaliação deve ser considerada como um instrumento de coleta de informações sobre a
aprendizagem do aluno e para fins institucionais o avaliador (professor) deve emitir um juízo de valor, porque o sistema exige uma
mensuração – nota, por isso ela tem esse caráter classificatório (LUCKESI, 1999).
As abordagens transformadoras enfatizam as funções de
dois tipos de avaliação: diagnostica, onde a avaliação tem por função identificar o nível de conhecimento em que se encontra o aluno, quando realizada antes do processo ensino aprendizagem, visa
verificar avanços ou obstáculos, nesse caso procurando identificar
as causas de repetidas dificuldades de aprendizagem e a normativa
que tem por função a regulação do processo de acompanhamento,
correção e reorientação do processo e correção em que o próprio
aluno, com auxílio do professor deve ser levado a analisar o erro
visando a corrigi-lo (SILVA, 1999).
Normalmente a avaliação é tema tratado no primeiro contato entre professor e aluno, porém de forma autoritária. Sua função
mais freqüente é de classificar e não de diagnosticar. Outra percepção é de que a avaliação é desarticulada do Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição e do que estabelece a Lei de Diretrizes
de Bases da Educação Nacional (LDB) Lei 9.394/96 (BRASIL, 1996;
NOVAFAPI, 2001).
É importante lembrar que a Lei de Diretrizes e Bases Curriculares da Educação (LDB), mostra na maioria dos seus artigos um
novo momento do ensino brasileiro, neles vemos refletidos muitos
dos desafios e esperanças que movem o trabalho de tantos educa23
Análise da avaliação da aprendizagem utilizada em um curso de graduação em enfermagem
dores numa nação de realidades tão diversas. A referida lei preconiza o processo de avaliação das instituições de educação superior,
assim como do rendimento escolar dos alunos da educação básica,
superior (graduação e pós-graduação). Nos termos dessa lei, a verificação do rendimento escolar deve ser contínua e cumulativa e
a recuperação deve dar-se, de preferência, paralelamente ao período letivo, com exigência do mínimo de 75% de freqüência, exceto
para os sistemas de ensino não presencial, ou seja, educação a distancia (BRASIL, 2001).
Uma questão preocupante é a nova concepção de avaliação na escola. O sistema de promoção continuada tem o aspecto
positivo de se fundamentar na personalização do ensino, visando
atender aos múltiplos ritmos de aprendizagem e às diversas capacidades individuais dos alunos. A filosofia subjacente a esta prática
é a de que a diferença não seja mais vista como um desvio a ser
condenado e reprovado, mas como uma riqueza de cada personalidade (HAYDII, 2001).
Neste sentido o Projeto Político Pedagógico (PPP) é definido
como instrumento balizador para o fazer pedagógico, concebido
coletivamente, orientado para um curso de graduação específico.
Consiste em uma proposta de formação profissional caracterizada
como um conjunto de ações e estratégias que expressam as diretrizes políticas, pedagógicas e técnicas de um curso de graduação
(SILVA, 1999).
Outro aspecto importante é a liberdade que cada Instituição
de ensino tem de construir seu PPP, o que possibilita reflexões e discussões no contexto educacional, uma vez que este regulamenta
a formação do enfermeiro e deve contemplar as exigências estabelecidas pela LDB em relação às competências e habilidades dos
alunos.
Dada a complexidade deste processo e estando nós professoras inseridas neste contexto que é a educação e fazendo parte
da Instituição que está na linha da educação transformadora, sentimos necessidade de nos aprofundar neste conteúdo de grande
relevância no processo ensino-aprendizagem, visando neste trabalho atender a nova proposta do Projeto Político Pedagógico da
instituição onde os professores terão oportunidade de refletir sobre
sua prática avaliativa no contexto do processo ensino-aprendizagem, a partir da análise LDB e o Projeto Pedagógico do Curso de
Enfermagem, revendo e/ou adequando características para a formação de profissionais com o perfil que atenda as exigências da
contemporaneidade.
Com o propósito de contribuir para a efetivação de uma
sistemática de avaliação que atenda os anseios da comunidade
acadêmica da Instituição, essa investigação terá como referência os
seguintes questionamentos: “A metodologia de avaliação utilizada
pelos professores do Curso de Enfermagem, contemplam o Projeto
Político Pedagógico do curso e a LDB”.
O estudo teve como objetivo geral analisar a metodologia
de avaliação utilizada pelos docentes do curso de Enfermagem de
uma Instituição de Ensino Particular da cidade de Teresina; e como
específicos: conhecer o Projeto Político Pedagógico da Instituição e
24
as Leis de Diretrizes e Bases; identificar a metodologia de avaliação
utilizada pelos professores de Enfermagem e discutir a metodologia de avaliação utilizada pelos professores de acordo o Projeto
Político Pedagógico do Curso de Enfermagem.
2
METODOLOGIA
O estudo foi de abordagem quantitativa com base descritiva,
na qual foram identificados aspectos referentes às metodologias
utilizadas pelos professores do Curso de Graduação em Enfermagem de uma instituição de ensino particular da cidade de Teresina.
A amostra constituiu de 34 professores do curso de Enfermagem, incluindo os da área básica, no universo de 58 professores,
atingindo um total de 58%. Na coleta de dados foi utilizado um
questionário com perguntas fechadas, os dados foram coletados
no primeiro semestre de 2006, considerando as normas do Comitê de Ética e Pesquisa da Instituição, conforme Resolução 196/96,
bem como aprovação da mesma para realização do estudo CAAE
Nº 0189.0.043.000.08.
Os dados foram distribuídos em uma planilha eletrônica do
Excel, aplicados em tabelas e analisados com base no estudo do
Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem, Leis de Diretrizes e
Bases da Educação, Novas Diretrizes Curriculares e a literatura referente às metodologias de avaliação.
3
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados foram organizados em tabelas, a partir das
correlações das informações apresentadas. Na tabela 1 podemos
observar que 29% da avaliação é realizada de forma escrita, 21%
na forma de seminário e 21% em grupo de discussão. Pode-se
observar que apesar dos docentes conhecerem o Projeto Político
Pedagógico, ainda predomina o método tradicional de avaliação
do discente.
A LDB preconiza que os instrumentos qualitativos substituam os quantitativos, a fim de proporcionar uma melhor avaliação
pedagógica. No enfrentamento da distorção da metodologia de
avaliação tem-se apontado à necessidade de superação da avaliação tipo “prova” (FIORENTINI, 2002).
Também podemos pensar no ponto positivo da avaliação escrita quando se necessita de uma avaliação mais abrangente, onde
o aluno poderia fazer uma síntese geral, uma vez que sabemos que
o conhecimento se dá por construção, nada mais correto do que
avaliar solicitando as elaborações conceituais trabalhadas no processo de ensino, dando liberdade ao aluno exercitar a construção
do seu conhecimento.
Na tabela 2 verifica-se que 62% dos professores avaliam apenas em nível de conhecimento do aluno e 17% avaliam no nível
de análise, o que nos leva a entender que a maioria das avaliações
está no nível de conhecimento, mas sob a luz do PPP além da teoria
e conceitos há necessidade do aluno desenvolver competências e
habilidades. Sabemos que as competências são concebidas como
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.22-27, Out-Nov-Dez. 2009.
Batista, M. R. F. F. et al.
Tabela 1- Distribuição dos instrumentos de avaliação utilizados na Instituição-NOVAFAPI, Teresina, 2007.
Instrumentos de avaliação
Freqüência
%
Avaliação Escrita
34
29
Grupo de Discussão
24
21
Seminário
25
9
Estudo Dirigido
10
2
Gincana
02
2
Estudo de Caso
17
15
Portfólio
02
2
Plano de Estágio
01
1
Relatório de Estágio
01
1
TOTAL
116
82
saberes em uso, necessárias à qualidade de vida pessoal e social de
todos os cidadãos, a promover gradualmente ao longo da educação básica.
A categoria conhecimento representa o nível mais baixo dos
resultados do trabalho de aprendizagem no domínio cognitivo, o
que constata que em termos de avaliação, os objetivos desse nível
focalizam o processo psicológico da memória, enquanto a categoria do nível de análise que é considerada o ponto culminante do
pensamento de produção convergente foi pouco citada. Percebe-se nesta tabela então uma grande ênfase na memorização, mais
do que na compreensão, análise, síntese, transferência e julgamen-
to, o que acaba levando o aluno a decorar, sem se envolver com a
questão crítica dos cenários existentes.
Muitos insistem nesta prática, considerando, inclusive, que
o fato do aluno repetir o saber, elaborado ajuda a aprender “sem
equívocos”, é como o saber se transferisse automaticamente do
livro ou da fala do professor para a cabeça do aluno. A avaliação
de cunho decorativo, onde o professor quer ouvir o que disse em
sala de aula, o que está escrito em livro, tem também uma longa
tradição pedagógica, levando a uma profunda distorção da prática
de estudo (VASCONCELOS, 1998).
Tabela 2- Distribuição por nível de aprendizagem utilizado pelos professores da NOVAFAPI em suas avaliações. Teresina, 2007.
Nível de Aprendizagem
Freqüência
%
Conhecimento
51
62
Síntese
10
12
Análise
14
17
Julgamento
07
8,5
TOTAL
82
99,5
Na tabela 3 observa-se que 65% dos professores não realizam recuperação paralela e que uma minoria (29%) realiza, este
resultado compromete a produção do aluno, visto que o ensino
aprendizagem é um processo contínuo e que a avaliação do conhecimento do aluno deve acompanhar todo o desenrolar deste
processo.
A avaliação contínua deve ser o principal foco de atenção
do professor, aliado a apropriação efetiva do conhecimento por
parte do aluno, com a interação aluno-objeto do conhecimento-realidade. Ela fortalece pedagogicamente a ação do professor, é
indispensável no sucesso escolar de todos os envolvidos. O professor deve avaliar a turma ou o aluno em particular, quando percebe
que o resultado não foi o esperado, ou seja, não houve produção de
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.22-27, Out-Nov-Dez. 2009.
conhecimento é o momento então de recuperar.
A fundamentação epistemológica da recuperação está no
reconhecimento de que o conhecimento no sujeito não se dá de
uma vez, mas por aproximações sucessivas e num processo de interação, assim, o que o aluno não captou numa abordagem inicial
do conteúdo, poderá fazê-lo numa outra; há necessidade deste
tempo de espera, é o respeito ao ser em desenvolvimento. Vale
lembrar que este processo deve ser bem trabalhado, pois o que
ocorre frequentemente é simplesmente uma recuperação da nota,
esquecendo o que é mais importante que é a aprendizagem, neste
caso a recuperação da nota está acoplada ao domínio do conteúdo
(HAYDII, 2001).
25
Análise da avaliação da aprendizagem utilizada em um curso de graduação em enfermagem
Tabela 3 - Distribuição do número de professores da NOVAFAPI que fazem recuperação paralela. Teresina, 2007.
Recuperação Paralela
Freqüência
%
Às vezes
01
3
Sim
10
29
Não
22
65
Não se aplica
01
3
TOTAL
34
100
A tabela 4 mostra que 73% dos professores oportunizam ao
aluno a auto - avaliação e 26% não permitem este tipo de avaliação.
A auto-avaliação busca em um primeiro momento o autoconhecimento, é de consenso da maioria dos educadores que a auto-avaliação proporciona ao aluno realizar a análise dos resultados de
sua própria aprendizagem, além disso, é um meio educativo que
facilita a auto - reflexão.
A auto avaliação estabelece o desenvolvimento da capacidade de reflexão do aluno a fim de analisar seus avanços e dificuldades e fornecer estratégias para superá-las. Além disso, tem uma
função educativa, ajuda o aluno a desenvolver um conceito mais
realista sobre si mesmo, sendo que o conceito do eu, isto é, a opinião que o individuo tem sobre si mesmo, é fundamental para o
seu ajustamento pessoal e social (LUCKESI, 1999).
O procedimento da auto-avaliação constitui-se uma ferramenta de elevada importância na identificação de fragilidades e
potencialidades do aluno, visando a identificação e correção de
deficiências, sendo considerado um instrumento para a melhoria
do ensino. Sem esquecer que este processo favorece a construção
de uma cultura de avaliação, contribuindo para que este se prepa-
re mais adequadamente para as diversas avaliações que possa ser
submetido.
Este processo oportuniza o aluno conhecer o próprio processo de aprendizagem, o que o leva a se empenhar na superação de suas dificuldades, assim o aluno torna-se o sujeito ativo do
processo de aprendizagem, adquirindo responsabilidade sobre ele,
aprendendo a enfrentar limitações e a aperfeiçoar suas potencialidades.
Não se pode esquecer que este processo só terá efeito se for
estabelecido um clima de confiança entre professor e aluno e que
este seja sabedor que este instrumento será usado para ajudá-lo a
aprender. Para isso é necessário que o professor forneça ao aluno
um roteiro de auto-avaliação, definindo as áreas sobre as quais o
professor gostaria que ele discorresse, listando habilidades e comportamentos, para ele indicar aquelas em que se considera apto e
aquelas em que precisa de reforço. Este roteiro é usado como uma
das principais fontes para o planejamento dos próximos conteúdos, em que poderá ser sugerido atividade para ajudá-lo a superar
as dificuldades.
Tabela 4 - Distribuição dos docentes que utilizam a auto avaliação dos alunos. Teresina, 2007.
Utiliza a auto avaliação do aluno
4
Freqüência
%
Sim
25
73
Não
09
26
TOTAL
34
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado nos permite uma reflexão maior sobre a
metodologia da avaliação, que utilizamos na nossa prática pedagógica e possibilita um aprofundamento maior sobre o tema, procurando estabelecer uma relação entre o que preconiza o Projeto
Político Pedagógico do Curso de enfermagem da instituição e a Lei
das Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
A metodologia do ensino-aprendizagem e avaliação são
processos vitais para o sucesso de um curso. Refletimos o desenvolvimento de uma metodologia pedagógica que tenham como
objetivo repensar o papel do professor e do aluno no processo de
ensinar e aprender.
Os resultados do estudo mostraram que a avaliação ainda
26
possui uma abordagem tradicional, priorizando a avaliação escrita como forma de avaliação da aprendizagem, no entanto, vale
ressaltar que alguns professores utilizam seminários e grupos de
discussão para avaliação. Verificou-se também que há a valorização
do nível de conhecimento no que diz respeito ao aprendizado do
aluno e que a recuperação não é realizada pela maioria dos professores. Porém é de extrema relevância para a avaliação do aprendizado do aluno a oportunidade que é oferecida aos alunos para se
auto- avaliarem.
É de suma importância a participação da tríade professor-aluno-escola em que o professor deve escolher metodologias que
atendam os interesses dos alunos podendo contribuir na mudança
da condição de sujeito e não de objeto em direção à práxis transformadora, com ensino de qualidade para todos. No entanto é imRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.22-27, Out-Nov-Dez. 2009.
Batista, M. R. F. F. et al.
portante relevar a contribuição do aluno no processo da avaliação,
pois no momento em que estes colocam suas dúvidas, anseios,
questionamentos estão contribuindo para uma transformação
da prática pedagógica. Além destes segmentos citamos a escola,
cujo envolvimento é relevante, imprescindível para a consolidação
de qualquer transformação pedagógica, ela na verdade funciona
como o sustentáculo de todas as mudanças.
Com a mudança de paradigma na educação, observa-se a
necessidade de mudança na forma, no pensar e no conceito da
avaliação do aluno, que deixa de ser mero instrumento de avaliação de aprendizagem, para se tornar parte ativa do processo ensino-aprendizagem. A avaliação deve ser vista como um meio para
percepção, diagnóstico e análise de problemas no aprendizado.
O docente deve buscar diferentes estratégias de ensino e
avaliação adequando-se ao PPP e LDB para despertar no aluno espírito crítico, reflexivo e humanístico, o que permitirá a formação
de um novo profissional que atenda as novas perspectivas pedagógicas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Dispõe sobre as
bases e diretrizes da educação nacional. Diário Oficial da União.
Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1996.
__________. Parecer CNE/CP de 17 de setembro de 2001. Dispõe
sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em Nível Superior. Curso de Licenciatura e Graduação Plena. Diário Oficial da União. Brasília, 2001.
__________. Proposta pedagógica: avaliando a ação. 2.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.
FACULDADE DE SAÚDE, CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLÓGICAS DO
PIAUÍ (NOVAFAPI). Projeto Político-Pedagógico do Curso de Enfermagem. Teresina, 2001.
HAYDJI, C. Avaliação desmistificada. Porto alegre: Artes Médicas,
2001. 163 p.
HOFFMANN, J. Avaliação mito e desafio uma perspectiva construtivista. Porto Alegre, 1995. 103 p.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 9.ed. São Paulo: Cortez, 1999. 124 p.
SILVA, A. C. C. Reflexões sobre a experiência da construção de projetos pedagógicos nos cursos de graduação: avanços e recuos. Revista ABMES. Brasília, v. 3, n. 4, p. 56-61, jan.1999.
VASCONCELLOS, C. S. Avaliação da aprendizagem: práticas de
mudança por uma práxis transformadora. São Paulo: Libertad,
1998. 154 p.
FIORENTINI, L. M. R. Materiais didáticos escritos nos processos
formativos a distância. In: Consenso do Ensino Superior a Distância. 1, 2002, Petrópolis. Anais. Petrópolis: EsuD. 2002. p. 34-8.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.22-27, Out-Nov-Dez. 2009.
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PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Consciência atrás das grades: relatos de quem pratica violência contra
a mulher1
Conscience behind grids: reports of those who practice violence against women
La conciencia detrás de la grids: informes de los que practian la violência contra la mujer
Claudete Ferreira de Souza Monteiro
RESUMO
Doutora em Enfermagem. Docente da Graduação e do
Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem
da Universidade Federal do Piauí. Grupo de Estudos
sobre Enfermagem, Violência e Saúde Mental. Endereço:
E-mail: [email protected]
Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira
Mestre em Enfermagem. Professora da Faculdade Integral
Diferencial. Grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência
e Saúde Mental. Email: [email protected]
Ivalda Silva Rodrigues
Este estudo tem como objetivo conhecer relatos de homens detentos por violência contra
a mulher. Os dados foram produzidos de abril a junho de 2009 por meio de entrevista
aberta com sete sujeitos que voluntariamente concordaram em participar. Os resultados
mostram um misto de amor, paixão, ciúme, insegurança e atitude de defesa pessoal e psicológica quando falam dos crimes por violência contra a mulher. Considera-se uma consciência ancorada na questão de gênero que precisa ser trabalhada estimulando a mudança
de comportamento e de concepção sobre a relação que se deve estabelecer entre homens
e mulheres.
Descritores: Violência contra a mulher. Prisioneiros. Homens. Enfermagem.
ABSTRACT
Acadêmica da Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Piauí. Grupo de Estudos sobre Enfermagem,
Violência e Saúde Mental. Email: [email protected]
Nathalia Kelly de Sousa Andrade
Acadêmica da Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Piauí. Grupo de Estudos sobre Enfermagem,
Violência e Saúde Mental. Email: nathalia-kelly@hotmail.
com
Rosilane de Lima Brito Magalhães
This study aims to evaluate reports of inmates by male violence against women. The data
were produced from April to June 2009 by means of open interviews with seven individuals
who voluntarily agreed to participate. The results show a mixture of love, passion, jealousy,
insecurity and attitude of self-defense and psychological when they speak of the crimes of
violence against women. It is considered a consciousness rooted in the gender issue that
needs to be solved by encouraging behavior change and design of the relationship that
must be established between men and women
Descriptors: Violence against women. Prisoners. Men. Nursing.
RESUMEN
Mestre em Enfermagem. Docente do Curso Técnico
em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí.
Grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência e
Saúde Mental. Email: [email protected]
Fernando José Guedes da Silva
Júnior Acadêmico da Graduação em Enfermagem
da Faculdade NOVAFAPI. Grupo de Estudos sobre
Enfermagem, Violência e Saúde Mental. E-mail:
[email protected]
Submissão: 04.08.2009
Aprovação: 03.09.2009
28
Este estudio tiene como objetivo evaluar los informes de los internos por la violencia masculina contra las mujeres. Los datos fueron producidos entre abril y junio de 2009 por medio de entrevistas abiertas con siete personas que voluntariamente aceptaron participar.
Los resultados muestran una mezcla de amor, la pasión, los celos, la inseguridad y la actitud
de legítima defensa y psicológica cuando hablan de los delitos de violencia contra la mujer.
Se considera una conciencia arraigada en la cuestión de género que hay que ser resuelto
por el cambio de comportamiento y diseño de fomentar la relación que debe establecerse
entre los hombres y mujeres
Descriptores: La violencia contra la mujer. Prisioneros. Hombres. Enfermería.
1.
Integra o estudo “Caracterização de homens detentos por prática de violência contra a mulher, em Teresina-PI” (PIBIC/CNPq/
UFPI). Grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência e Saúde Mental.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.28-32, Out-Nov-Dez. 2009.
Monteiro, C. F. S. et al.
1
INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher apresenta magnitude diversa entre os grupos populacionais. A baixa escolaridade, as desigualdades
sociais retroalimentando a violência estrutural e o uso de álcool e/
ou de substâncias ilícitas parecem exacerbar a magnitude do problema colocando as mulheres economicamente segregadas em
situação de maior vulnerabilidade (ADEODATO, et al.,2005) .
Segundo relatório mundial sobre violência e saúde, elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a forma mais prevalente de violência contra mulheres é a praticada pelo parceiro
íntimo no espaço privado, ainda que não se restrinja ao espaço
doméstico, com taxas de prevalência variando entre 15% e 52% de
mulheres que experimentaram algum tipo de violência cometida
pelo parceiro (MOURA, et al. 2009).
A violência contra a mulher ocorre nos mais diversos contextos. No espaço doméstico, ao contrário dos homens, as mulheres
e as crianças são as principais vítimas, praticada, sobretudo, por
maridos, companheiros, pais e padrastos. Apesar de ser hoje uma
evidencia sabe-se que há um elevado número de mulheres que
não se declaram vítimas, certamente, por medo (nos casos de estupro) ou por intimidações de diversas naturezas (como na violência
doméstica). Essas constatações impedem que muitas mulheres se
dirijam às delegacias de polícia para denunciar agressões, ameaças,
espancamentos e outras formas de violência (HERMANN; BARSTED,
2004).
No campo da saúde coletiva, a violência recebeu da OMS a
denominação de “causas externas” figurando na Classificação Internacional de Doenças (CID10), mas desde 1980 tem sido reconhecida como uma questão de saúde pública, não somente do ponto de
vista dos traumatismos físicos, mas também sobre os sérios efeitos
para a saúde mental de quem a sofre (ALVES; COURA-FILHO, 2001).
O Brasil, para enfrentamento dessa questão foi elaborada a
Lei Maria da Penha, específica para os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, definindo violência contra a mulher
como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial. A Lei define ainda as formas de violência vividas
por mulheres no cotidiano: física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral (BRASIL, 2006).
Mulheres, parceiros, incidências e resistências no campo da
violência de gênero parecem ser apenas alguns nós de uma rede
de processos multidirecionais que, hoje, apresentam a violência
como um problema público altamente complexo. Classificado
mais recentemente como uma questão de segurança pública e justiça, portanto, alvo de medidas, sobretudo, punitivas, este problema vem sendo considerado também como de saúde e de direitos
humanos (GRANJA; MEDRADO, 2009).
O enfrentamento da violência exige um olhar e uma escuta
diferenciada, com o desenvolvimento de ações individuais e coletivas, em diferentes âmbitos. A gravidade do problema pressupõe ações intersetoriais, envolvendo as áreas da saúde, segurança,
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.28-32, Out-Nov-Dez. 2009.
educação, assistência social, entre outras, que necessitam investir
em políticas públicas de prevenção e de assistência. No campo da
saúde cabe, portanto, aos profissionais de saúde o papel na detecção de casos, na prática de ações preventivas e de tratamento e
reabilitação das vítimas (RUCKERT, et al, 2008).
Por ser a violência contra a mulher um fenômeno complexo,
há que se observar que quem o pratica também não se considera agressor e essa questão parece dar continuidade a tais atos de
agressão. Esta foi, portanto, um dos direcionamentos para se buscar conhecer relatos de homens condenados por pratica de violência contra a mulher sobre este tipo de violência.
2
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido na abordagem qualitativa para
buscarmos a subjetividade do sujeito. Neste tipo de abordagem se
verifica uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto
é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números (MINAYO,
2004).
O cenário da pesquisa foi a Colônia Agrícola Major Cesar de
Oliveira, em Teresina-PI. Os sujeitos foram sete detentos condenados por violência contra a mulher (homicídio, estupro e/ou estupro
seguido de homicídio). Os detentos que aceitaram participar do
estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para produção dos dados realizamos uma entrevista aberta
no período de abril a junho de 2009, em espaço adequado a esta
finalidade e utilizamos para gravação um equipamento eletrônico
tipo Mp4. Posteriormente transcrevermos as entrevistas na íntegra. Para análise, trabalhamos com Análise de Conteúdo (BARDIN,
2004), na qual se agrupa falas dos diferentes depoimentos para
analise com formação de categorias analíticas.
Respeitamos os princípios da Resolução 196/96, de forma
que o estudo somente foi iniciado após a autorização do Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (protocolo
nº 0167.0.045.000-08).
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Misto de amor, paixão, ciúme, insegurança
Nos relatos dos detentos ressaltam-se sentimentos ambivalentes que os levaram a praticarem o crime contra a mulher. Há um
embaralhamento de sentimentos presente em afirmações defensivas para justificarem tais atos.
No meu ponto de vista, cometi pelo fato dela não querer
se reconciliar [...] eu não aceitei a separação. E coloquei na
cabeça que ia me suicidar e matar ela primeiro se ela não se
reconciliasse. Comprei um revólver de um policial. Era cego,
amava muito ela. Meus colegas me chamavam de corno.
Nesta hora nenhuma palavra de conforto. Eu apaixonado
por ela, na verdade, ela começou a se afastar de mim e não
29
Consciência atrás das grades: relatos de quem pratica violência contra a mulher
aceitei a decisão dela [...] esse crime passional sempre vai
ocorrer, é o instinto do homem, ele não se conforma em perder [...] para evitar não teria me apaixonado, o homem troca
a razão pela paixão [...]. Amava e tinha ciúmes dela [...] eu
não tinha intenção de matar ela não, foi um acidente.
Até onde questões ligadas à afetividade levam alguém a extrapolar os próprios limites e cometer um ato de violência?
O conteúdo das falas dos entrevistados ressalta uma ultrapassagem dos limites moralmente aceitos quando os sentimentos
nutridos pela companheira deixam de ser saudáveis, indo em direção a uma obsessão provocada pela dependência afetiva. Esse fato
encontra-se enraizado na própria questão de gênero sedimentada
pela ameaça de término da relação ou mesmo da separação traduzindo-se na perda de poder. Repete-se aqui a velha visão de que a
honra masculina precisa ser lavada ante a vergonha, a desobediência e a traição feminina. Destacamos nas respostas dos sujeitos que
perder a mulher ainda é visto como uma grande ofensa.
O homem foi e sempre será superior a mulher fisicamente.
Emocionalmente, a mulher é superior ao homem. O ser humano é muito complexo, em nossas relações somos muitos
imprevisíveis. [...] é o instinto do homem, ele não se conforma em perder. A mente dos humanos é fraca. Primeiro lugar
amava muito ela, me dedicava muito a ela, dava tudo a ela.
O homem não pode ser muito bom. Você não pode se entregar de corpo e alma. Você tem que ser mais rígido [...].
A rigidade eu digo, e em termo de relação, você não pode
dizer que ama muito. Por mais que você goste, não pode
demonstrar.
Estes conteúdos mostram igualmente a fragilidade das relações entre homens e mulheres que se evidenciam a partir de muitos casos de violência durante separação, ou com o sexo feminino
sofrendo chantagem por não querer retornar ao relacionamento ou
por estar envolvida com outra pessoa (LAMOGLIA; MINAYO, 2009).
A resistência masculina frente a decisões da mulher em romper o relacionamento fere os princípios da masculinidade no qual
a mulher é vista como instrumento de posse, de submissão e obediência e a simples idéia de perder esse comando suscitam formas
agressivas de retomar o controle.
A superioridade masculina, como expressa pelos sujeitos, é
colocada como sentimento “natural” entre casais e nessa relação a
dois a emoção, a entrega, a declaração do amor ficam a cargo da
mulher. Para o homem, quando esses papéis se invertem há perda
nítida do controle.
Embora com o avanço das lutas contra a desigualdade, o
sexo feminino é ainda compreendido como submisso, oprimido,
dependente e o masculino como dominador nas relações de gênero. Essa desigualdade é naturalizada ao aceitar tais proposições
como verdadeiras e o homem utiliza desse poder para controlar
e impor mais medo a companheira (SIGNORI; MADUREIRA, 2007).
Através da cultura patriarcal, a sociedade permite ao homem
trair, entretanto essa premissa não é aplicável à mulher. Até a década de 80 era comum nos tribunais brasileiros, a argumentação de
30
defesa de honra dirigida às homens. Assim, era exigida fidelidade e
decoro a mulher, sendo permitido o castigo para quem infringisse
essa norma. O movimento feminista foi precursor dos debates e
influenciador de políticas públicas direcionadas a estas situações.
Hoje o código penal brasileiro, com a Lei Maria da Penha, os agressores não mais se beneficiam dos chamados “crimes contra a honra”, mas é levada a justiça comum (GOMES; DINIZ, 2008).
Pesquisa realizada mostrando a dinâmica da violência doméstica aponta a traição da parceria como um dos motivos alegado pelos homens para agredi-la marcados por sentimentos de
sofrimento, culpa e vergonha (DEEKE; OLIVEIRA; COELHO, 2009). A
traição e sentimentos semelhantes também fazem parte do nosso
estudo quando os homens relembram detalhes das cenas de traição flagradas.
História comprida, traição [...] Levei a arma, vi a cena aí esperei um pouco a poeira baixar aí eu só olhando, ela bebendo
e ele beijando ela, e eu só olhando, eu não conhecia o rapaz,
só conhecia o irmão dela. [...] Se eu tivesse atirado na hora
que ia atirar, puxado a arma e atirado na hora que eu vi a
cena. [...] Nunca passou na minha cabeça ir lá pegar uma
faca e matar ela, eu ia lá só pegar as coisas das crianças.
Um dos mecanismos frequentemente utilizado para justificar o crime contra a mulher é o ciúme. Este sentimento, arraigado
na questão de gênero, martiriza e leva a perda do próprio controle
masculino. E, em função desse sentimento muitas vítimas suportam a violência física e emocional quando esta aparenta ser causada pelo descontrole motivado pelo ciúme.
O ciúme é um dos mecanismos de controle à liberdade da
parceira e se faz pelo isolamento forçado à vida social, restrições
de acesso a recursos financeiros e vigilância de suas ações. Desse
modo, o agressor tem poder e controle da companheira (ALMEIDA,
2008).
A bebida alcoólica e outras drogas também são apontadas
como motivos que levaram os sujeitos a cometerem crimes contra
a mulher ancorados na crença de que o álcool é o fenômeno responsável pelas agressões, diminuindo assim a culpa do agressor.
O motivo é a bebida. Bebida e comprimido. [...] por causa da
bebida alcoólica. Nós bebemos, terminemos de beber [...].
Fomos pagar a bebida que nós tava bebendo [...]. Quando
eu vi ela no caminho [...] dei um chute nela [...].
O uso de álcool e outras drogas pelo parceiro e a associação
com violência contra a mulher têm sido descritos em vários estudos apontando como o mecanismo pelo qual o álcool potencializa
as violências tem sido amplamente discutido como um dos precipitadores para o ato violento (ALVES; DINIZ, 2005).
Álcool e outras drogas são substâncias usadas de forma paradoxal, ou seja, tanto são escolhidas em situações de recreação e
celebração quanto são usadas como mecanismo de compensação
para perdas e sofrimentos. No Brasil, dados do Cebrid registram casos de violência doméstica ligados ao consumo de bebida alcoólica
em torno de 52% (CARLINI, et al. 2002). Esta estatística, considerada
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.27-32, Out-Nov-Dez. 2009.
Monteiro, C. F. S. et al.
alta, também é apontada tanto por mulheres vítimas, como pelos
agressores e pela policia que confirmam a utilização da bebida
alcoólica como desencadeante de discussões familiares, levando
seus consumidores a cometer e ser vitimado pela ocorrência de
violência (SIGNORI; MADUREIRA, 2007).
O uso do álcool e das drogas, em muitos casos, são substâncias utilizadas para se atingir um estado emocional que incita
a praticar delitos ou crimes, ou ainda, a fazer parte da interação
grupal. No tocante a essas questões, destaca-se que essa articulação violência-álcool-drogas merece ser mais investigada e melhor
delineada, buscando-se aprimorar conhecimentos e práticas que
contribuam para a saúde da população. A única afirmação que se
pode fazer com segurança diz respeito à alta proporção de atos violentos quando as drogas e o álcool estão presentes (COCCO; LOPES;
PERETTO,2009).
Em sua maioria, o homem não quer interferência de seus
hábitos e comportamentos quanto à bebida e ainda culpabilizam
a mulher pelos atos violentos. Esta, por sua vez, também se responsabiliza e o vê como doente, sentindo-se dependente dessa situação. Desse modo a bebida serve tanto como motivo para desencadear discussões entre casais quanto para desenvolver na parceira
uma codependencia (DEEKE; OLIVEIRA; COELHO, 2009).
Atitude de defesa pessoal e psicológica
O fato dos sujeitos não se reconhecerem como agressores os
levaram a justificarem essa posição relatando como meras acusações, da inexistencia de problema com violência contra a mulher
ou praticados por outra pessoa ou que não tiveram culpa, conforme o conteúdo abaixo.
Agredir não. Eu estava com depressão, quer dizer deprimido,
nervoso, mas a tentativa não foi agredir, a tentativa foi porte
de arma, não foi agredir não. Porque eu acho que as pessoas
que estão fazendo essas coisas, pra mim ficar assim era ela[...]
Aí eu desconfiei dela e fiz essa tentativa. [...] eu não conhecia
essa pessoa não. Só que não foi eu quem pratiquei o delito...
Não matei, não roubei, tava era trabalhando com ele. Joguei
na água, sou réu confesso, disse o que fiz, o que não fiz não
disse. [...] aí aconteceu tudo, quando tava discutindo tudo de
repente [...] não mãe eu vou lá no médico, vou lá no delegado e vou dizer que foi um acidente, aí eu pelejando pra levar
ela no médico [...] eu não tinha intenção de matar ela não,
foi um acidente. Me acusaram [...] fui acusado de tentativa
de estupro, só que não aconteceu isso [...]. Nunca tinha me
encontrado preso, tem gente que nem acredita, por causa
do meu comportamento que eu tinha.Fui acusado pelo 213,
só acusado [...] eu não tenho esse problema não.
Os sujeitos pesquisados imputam a responsabilidade pelo
crime a circunstancias outras numa posição de defesa pessoal e
psicológica. No conjunto das falas surgem conotações explicativas
associada a fatores como: encontra-se depressivo, não possuir intenção de homicídio, ter sido acidente, não praticou o delito. Expressa também a presença de um comportamento considerado
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.28-32, Out-Nov-Dez. 2009.
pelos amigos como incapaz de levar a este tipo de atitude. Essas
são condutas masculinas de convencimento para si e para outros,
denotando uma banalidade dos atos cometidos. Por outro lado, os
sujeitos também se mostram na forma passiva, eximindo-se de sua
responsabilidade ao retirar a culpa de seu próprio comportamento.
Na construção da identidade de homens que violentam suas
companheiras alguns elementos têm origem no relacionamento
familiar marcado por diversos fatores, dentre os quais: ausência de
diálogo e agressões físicas (GOMES; FREIRE, 2005).
Quando perguntado o que fariam para não mais cometerem esse tipo de crime, somente três sujeitos responderam sobre a
necessidade de conversar com a mulher. Entretanto, deixam claro
mais uma vez a questão de gênero quando, mesmo mostrando
que o diálogo é mediador de todas as encruzilhadas, eles terminam por responsabilizar à mulher a falta dessa conversa. É preciso
que este diálogo entre o casal acontece na sua cotidianidade, sem
queixas ou recriminações.
[...] conversar muito, muito com a mulher. Você tem que chamar ela e conversar, mas minha intenção foi essa de chamar
ela e conversar. [...] porque se ela tivesse chegado e perguntado [...] tivesse conversado, seria outra história.
Entre os agressores, normalmente, espera-se emergir o sentimento de arrependimento quanto à violência praticada, mas
isso aparece quando já não conseguem controlar o ato violento e
suas conseqüências. No contexto em que este trabalho se insere
somente dois dos sujeitos relataram se arrepender pela violência:
Me arrependi, eu não estava consciente, estava bêbado. Fazia qualquer coisa para voltar ao tempo [...] arrependimento
com certeza, tudo. O erro é inerente ao ser humano. Me arrependi, chorei. Hoje tudo que eu vou falar eu penso. Ninguém
deve tirar a vida de ninguém, nunca matei nem um pinto.
Ao relatarem sobre arrependimento os sujeitos expressam
outras saídas para justificarem o surgimento desse arrependimento
como: a transferência da causa da violência à bebida alcoólica ou
imputam a natureza humana na compreensão de que este foi um
erro e errar é humano e em outro momento condenam quem tira
a vida do outro.
4
CONCLUSÃO
Conclui-se que os relatos dos sujeitos deste estudo sobre a
violência contra a mulher encontram-se ancorada na questão de
gênero de forma tão nítida que emerge a revolta pela perda do
poder e do domínio sobre os sentimentos e a vida da mulher. São
homens que buscam justificar o crime falando de circunstancia
como separação, uso do álcool, falta de diálogo, ciúme excessivo,
natureza humana e paixão intensa. Traduzem em suas falas uma
atitude de defesa pessoal e psicológica. Reafirmam para si que não
são culpados, passam a demonstrarem uma posição de naturalidade e de culpabilidade dirigida à mulher, utilizando para isso a noção
31
Consciência atrás das grades: relatos de quem pratica violência contra a mulher
de vítima provocadora.
O estudo permitiu também identificar o modo como homens
constroem sua relação com as mulheres sustentada no controle,
no mando e no relacionamento familiar marcado pela ausência de
diálogo e cobrança de afeto e fidelidade feminina, nem sempre
correspondida. Traz ainda uma contribuição no sentido de permitir
uma melhor compreensão do fenômeno da violência contra a mulher na ótica de homens praticantes de tais atos que extrapolam os
próprios limites por se sentirem negados, traídos e abandonados.
Este estudo mostra que é preciso reforçar a política publica
de atenção a mulher e trabalhar com casais estimulando a mudança de comportamento e de concepção sobre a relação que se deve
estabelecer entre homens e mulheres, bem como trabalhar com
homens detentos por pratica de violência contra a mulher para que
ao findar a temporariedade da condição de detento, como egresso
do sistema carcerário, não venha a repetir tais atos.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.28-32, Out-Nov-Dez. 2009.
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
O uso da Ximenia americana L. Como cicatrizante de feridas
superficiais em Mus musculus
The use of ximenia americana L. Like healing of wounds surface in Mus musculus
El uso de ximenia americana L. Cómo curación de heridas superficiales en Mus musculus
Beatriz Evelim Carvalho
RESUMO
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. E-mail:
[email protected]
Enid Holanda Oliveira Pereira da Silva
Santos
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. E-mail:
[email protected]
Mayara Águida Porfírio Moura
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda
em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí.
E-mail: [email protected]. Correspondências:
Avenida Dom Severino, 2600. Ed. Opala. CEP: 64.049-
O presente estudo visa constatar efeitos cicatrizantes da casca da Ximenia americana L. no
processo cicatricial em feridas superficiais em Mus musculos. Trata-se de uma pesquisa
experimental de abordagem quantitativa, na qual foram utilizados trinta animais divididos
em três subgrupos, utilizando-se três substâncias: soro fisiológico a 0,9%, solução da casca
do caule da Ximenia americana L. e PVPi tópico 10% sobre lesões superficiais produzidas
nos dorsos dos animais. Utilizou-se éter por via inalatória para anestesia e sacrifício dos animais. Procedeu-se a análise macroscópica, com posterior realização dos cortes histológicos
e análise microscópica. Os dados obtidos foram analisados com o auxílio do software SPSS
13.0. Ao término dos procedimentos foi possível verificar que o uso da solução da casca do
caule da Ximenia americana L. favoreceu a cicatrização de feridas superficiais em Mus musculus, tornando o processo mais evoluído quando comparado aos demais grupos testados.
Descritores: Fitoterapia; Cicatrização de ferida; Olacaceae.
375. Teresina-PI.
ABSTRACT
José Zilton Lima Verde Santos
Odontologo. Mestre em Odontologia. Docente
da Faculdade de Saúde, Ciências humanas e
Tecnólogicas – NOVAFAPI.
This study aims to find healing effects of the shell of Ximenia Americana L. in the healing
in superficial wounds in Mus muscles. This is an experimental research of a quantitative
approach, in which thirty animals used were divided into three subgroups, using three
substances: saline to 0.9%, solution of the stem bark of American Ximena L. PVPI topic and
10% of superficial lesions produced in the dorsa of the animals. It was used by inhaled ether
for anesthesia and sacrifice of animals. There was a macroscopic analysis, with subsequent
completion of the histological and microscopic analysis. The data were analyzed using the
SPSS 13.0 software. At the end of the procedures it was possible to verify that the use of the
solution of the stem bark of American Ximena L. favored the healing of superficial wounds
in Mus musculus, making the process more developed compared to other groups.
Descriptors: Phitoterapy; Healing of wounds; Olacaceae.
RESUMEN
Submissão: 10.06.2009
Aprovação: 19.08.2009
Este estudio tiene como objetivo encontrar la curación de los efectos del depósito de Ximena americana L. en el proceso de curación de heridas superficiales de los músculos de
Mus. Se trata de una investigación experimental de un enfoque cuantitativo, en el que
treinta animales utilizados fueron divididos en tres subgrupos, a través de tres sustancias:
solución salina al 0,9%, solución de la corteza del tallo de Ximena americana L. PVPI tema
y el 10% de lesiones superficiales producidas en la dorsa de los animales. Fue utilizado por
inhalación de éter para la anestesia y el sacrificio de animales. Hubo un análisis macroscópicos, con la posterior realización de los cortes histológicos y análisis microscópico. Los datos
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.33-39, Out-Nov-Dez. 2009.
33
Carvalho, B. E. et al.
fueron analizados utilizando el software SPSS 13.0. Al final de los
procedimientos fue posible verificar que el uso de la solución de la
corteza del tallo de Ximena americana L. a favor de la curación de
heridas superficiales en Mus musculus, haciendo el proceso más
desarrollado en comparación con otros grupos de la prueba.
Descriptores: Fitoterapia; Curación de heridas; Olacaceae
1
INTRODUÇÃO
A utilização de plantas no tratamento de patologias remota
a história do próprio homem, em diversas civilizações. Este método
denominado fitoterapia, visa alcançar a cura por meio dos princípios ativos (drogas) extraídos das plantas baseando-se na necessidade de reparação de tecidos lesados, objetivando a reconstrução
substitutiva do tecido perdido.
Desde a pré-história é relatado o uso de plantas ou de seus
extratos com a intenção de estancar o sangue e favorecer a cicatrização de feridas, utilizando para tal as mais diversas formas de
preparo e tipos de plantas (SILVA, 2007)
O primeiro estudo sistematizado sobre o uso de plantas para
fins de tratamento e cura data de 2.700 a.C., registrado no inventário de Shen-nung, importante monarca e considerado o pai da tradicional medicina chinesa, o qual utilizava plantas para a realização
de curativos e escreveu o Pen Tsan (“O herbário”), um tratado que
mencionava o uso de plantas como papoula, cânhamo, cinamomo
e mandrágora (SILVA, 2007; DAVID, NASCIMENTO, DAVID, 2004).
Existem nos registros históricos inúmeros documentos para
a trajetória da evolução das plantas medicinais, como por exemplo,
o livro chamado “Matéria Médica” escrito pelo médico grego Pedamaos Dioscorides (40 a 90 d.C.), onde era relatado o uso de mais de
seiscentas plantas, algumas que hoje se encontram extintas (SANTOS ET AL, 2006).
Além da utilização das plantas medicinais, em 300 a.C. Hipócrates, responsável pelo lançamento das bases da medicina científica, recomendava que as feridas fossem mantidas limpas e secas
utilizando para tal água morna, vinho e vinagre. Além de sugerir
ainda, mel e leite para a assepsia de lesões (MANDELBAUM, SANTIS,
MANDELBAUM, 2003).
Há relatos que no Egito, no ano de 1550, mais de setecentas substâncias eram utilizadas com o intuito de curar, inclusive no
tratamento de feridas, como por exemplo: mel, alho e Aloe vera
(SILVA, 2007).
Séculos após, durante a 31ª Assembléia da Organização
Mundial de Saúde (OMS), foi oficialmente reconhecido o termo
planta medicinal, sendo então definido como aquela que administrada ao homem ou animais, por qualquer via ou sob qualquer forma, exerce alguma espécie de ação farmacológica (BRASIL, 1996;
BARROS, PACÍFICO, ARAÚJO, 2005).
A OMS afirma que cerca de 80% da população do mundo já
fez uso de medicamento a base de produto natural, este comércio movimenta anualmente cerca de sessenta bilhões de dólares.
34
Para tanto, esta organização publicou no ano de 2002 normas de
segurança e qualidade de produtos a fim de garantir a eficácia do
produto, bem como a escolha correta da forma de preparação e
administração (BRASIL, 1996).
O uso da solução obtida a partir da casca do caule da ameixeira (Ximenia americana L.) como cicatrizante foi descrito várias
vezes principalmente em comunidades mais carentes de Teresina,
Piauí, sendo mais conhecidos entre os indivíduos idosos pertencentes a essas comunidades. Esta solução era relatada com muitos
benefícios e utilidades, mas o destaque prevalece na utilização em
feridas superficiais.
Este estudo objetiva identificar os efeitos cicatrizantes da
casca do caule da Ximenia americana L. no processo cicatricial de
feridas superficiais.
2
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa experimental
que consiste essencialmente em submeter os objetos de estudo à
influência de certas variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo investigador, para observar os resultados que a variável
produz no objeto estudado (REY, 1997).
As condições selecionadas pelo pesquisador na experiência são chamadas de variáveis independentes, enquanto que as
alterações provocadas ou decorridas durante o experimento são
chamadas variáveis dependentes (RICHARDSON, 1999). Logo, neste estudo, as variáveis independentes foram as soluções utilizadas
nos animais e as variáveis dependentes forma os processos de cicatrização de cada grupo.
A pesquisa experimental tem abordagem quantitativa, que
emprega números tanto nas modalidades de coletas de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas
(GIL, 1999).
Para a realização deste experimento foram utilizados 30 animais da espécie Mus musculus, adultos, do sexo masculino e com
peso entre 20 e 35g (gramas). Os critérios de inclusão utilizados
para tais animais devem-se à presença de tecido epitelial de rápido
processo cicatricial, acessibilidade econômica, à sua padronização
em laboratórios de experiências, e principalmente por que estes
animais têm o sistema enzimático bastante parecido com o do ser
humano.
Desta maneira, os animais foram divididos em três grupos de
10 animais. O grupo A denominado grupo controle fez uso de soro
fisiológico 0,9%, o grupo B utilizou polvidine tópico 10% e o grupo
C a solução com a casca do caule da Ximenia americana L. 20%.
A escolha da solução de soro fisiológico 0,9% ocorreu devido
a sua composição, cloreto de sódio 0,9%, ser compatível aos fluidos
corporais e rotineiramente utilizados na realização de curativos. Já o
polvidine tópico 10% é empregado na anti-sepsia de pele e mucosas,
na inserção de cateteres, introdutores e fixadores externos com a finalidade de prevenir a colonização de microorganismo (HESS, 2002).
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.33-39, Out-Nov-Dez. 2009.
O uso da Ximenia americana L. como cicatrizante de feridas superficiais em Mus musculus
O procedimento cirúrgico foi executado, consistindo primeiramente, em submeter o animal à anestesia por via inalatória com
solução de éter vaporizado. Posteriormente foi tricotomizada a pele
do dorso dos animais, a serem submetidos a experimento, no local
a ser incisionado, utilizando para tal, lâminas de bisturi nº 15. Foi
realizada em seguida, assepsia local com polvidine tópico, gaze estéril e auxílio de uma pinça “dente de rato”.
Tal ação foi seguida de exérese de tecido epitelial (epiderme
e derme) com aproximadamente oito milímetros de diâmetro de
extensão do dorso de cada animal. Para efetivação do procedimento citado utilizou-se um instrumento cirúrgico denominado pusch®
metálico e pinça denteada. Logo após o término da exérese foram
administradas soluções de acordo com os grupos: A, B e C.
Nos animais do grupo A (grupo controle), utilizou-se 1 ml
(mililitro) de solução fisiológica 0,9%; no grupo experimental B, foi
utilizado 1 ml de polvidine tópico sobre a lesão e no grupo experimental C, aplicou-se 1 ml da solução da casca do caule da Ximenia
americana L. sobre a lesão; as aplicações foram feitas diariamente
em cada unidade.
Para o preparo da solução experimental, inicialmente esterilizou-se a casca do caule da Ximenia americana L. em autoclave
a 150ºC por trinta minutos, sendo em seguida colocadas 200 g da
casca em um recipiente fechado contendo 1L (litro) de água destilada em temperatura ambiente, onde permaneceu por doze horas,
para que então, pudesse ser aplicada à lesão. Esta técnica levou em
consideração, a maneira como a comunidade realiza seu preparo,
além de incorporar a esterilização visando a prevenção de possíveis
infecções.
Após, os animais foram alocados no biotério da Faculdade
de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí e isolados em
gaiolas individuais com o objetivo de impedir a intervenção nos
resultados esperados, e alimentados com dieta padrão de biotério
(Labina TM), além de beberem água ad libidum.
O controle do experimento realizou-se através da aplicação
das soluções, observação das lesões e preenchimento de fichas
avaliativas diárias, durante os dez dias de experimento, onde as
lesões foram avaliadas e comparadas ao término, para que fosse
possível identificar a evolução das cicatrizações das mesmas.
Ao final de cinco dias, cinco animais de cada grupo foram
novamente anestesiados e tiveram seus tecidos cicatriciais removidos com auxílio de uma lâmina de bisturi n° 15 montada em
um cabo de bisturi n°4 para cada animal, afim de realizar análise
histológica do referido tecido. Em seguida foram sacrificados com
uma overdose de anestésico. Após dez dias, o mesmo ocorreu ao
restante dos animais. Todo o tempo utilizado se fez necessário para
ser possível avaliar reações das soluções e acompanhar todo processo cicatricial.
As peças obtidas através de biópsias foram fixadas em solução de formaldeído 10%. Após a fixação, as peças contendo os
tecidos de interesse foram incluídas em parafinas para a realização
dos cortes histológicos.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.33-39, Out-Nov-Dez. 2009.
Os cortes obtidos foram corados pela técnica da hematoxilina e eosina (HE) para a análise histológica em microscópio óptico
comum, visando apreciar o processo cicatricial influenciado por
cada substância utilizada. Este corante é usado rotineiramente para
avaliação em estudos histológicos. Sendo este, um método adequado para qualificar e identificar os elementos celulares envolvidos no processo cicatricial.
A coleta de dados concretizou-se pelo preenchimento de
ficha de avaliação macroscópica diária, de elaboração própria. Na
primeira parte da ficha de avaliação macroscópica, informou-se
acerca da identificação do animal de acordo com a solução utilizada. Na segunda parte, possui um quadro sobre a evolução da ferida, onde foram atribuídos níveis graduados de: presença de crosta,
presença de exsudato e cicatrização total. Na terceira parte, foram
informados dados sobre o sacrifício dos animais.
A análise dos dados obtidos constituiu-se de duas fases: macroscópica e microscópica. Na fase macroscópica, foram analisados
aspectos como: presença de crosta e de exsudato, e cicatrização
total. Os resultados das análises dos aspectos supracitados foram
dispostos em gráficos e tabelas, onde as variáveis (quantidade de
animais X evolução diária) foram relacionadas. Com relação à cicatrização, as variáveis foram: aspecto de cicatrização e número de
animais.
Na etapa microscópica foram observados os seguintes aspectos da cicatrização: processo inflamatório, presença de tecido
de granulação, presença de tecido fibrótico e regeneração epitelial;
em seguida, as observações foram dispostas em ficha avaliativa. A
análise microscópica foi realizada por profissional especialista (histologista).
Desta forma, a análise dos dados obtidos foi realizada através das observações das lesões estando dispostos os resultados em
tabelas, além disso, utilizou-se o programa SSPS versão 13.0 para
elaboração dos mesmos.
Todos os preceitos éticos foram respeitados de acordo com a
Lei 6.638/79 e os princípios éticos da Experimentação Animal preconizado pela COBEA, com a aprovação pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas
– NOVAFAPI.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante dos achados, a tabela 1 mostra a relação das características macroscópicas por grupo, apresentando: presença de crosta, presença de exsudato e cicatrização total. Com base nos dados
obtidos pôde-se verificar que o grupo submetido a experimento
com solução de Ximenia americana L. apresentou maior número
de presença de crosta (61,33%), e o mesmo número de casos de
cicatrização total apresentado pelo grupo controle (soro fisiológico
0,9%), no entanto, devido a morte de um animal neste grupo, o
valor percentual apresenta-se menor no grupo experimental (Ximenia americana L.).
35
Carvalho, B. E. et al.
Tabela 1. Análise macroscópica da aparência das feridas conforme o grupo. Teresina (PI), 2009.
Aparência
GRUPOS
Soro fisiológico 0,9%
Polividine tópico
Solução de Ximenia americana L.
N
%
N
%
N
%
Crosta
29
40.85
37
49,33
46
61,33
Exsudato
10
14,08
06
8
06
8
Cicatrização total
06
8,45
03
4
06
8
TOTAL
75
100
75
100
75
100
Observação: um animal pode apresentar mais de uma aparência; Um animal morreu.
A crosta é uma estrutura formada a partir da solução descontinuada da pele, que é preenchida por fibrina, coágulo e exsudato
inflamatório, recobrindo assim a ferida (MANDELBAUM, SANTIS,
MANDELBAUM, 2003). Após formada, a crosta serve como proteção para o tecido epitelial subjacente contribuindo assim para que
as bordas da ferida se unam em um menor espaço de tempo.
O grupo que apresenta quantidade superior de animais com
crosta foi o grupo submetido a experimento com a solução da casca do caule Ximenia americana L. (tabela 1). Como visto na literatura pesquisada, a crosta é um evento presente na terceira e última
fase da cicatrização (fase de epitelização), demonstrando assim que
este grupo encontrava-se em estágio mais avançado de cicatrização das feridas em relação aos demais.
A produção de exsudato ocorre devido à permeabilidade da
parede vascular, variando seu aspecto, cor e consistência de acordo
com o tipo de tecido atingido e duração do processo inflamatório.
Tal secreção pode ser encontrada em diferentes formas, como: serosa, sanguinolenta e purulenta (HESS, 2002).
Ao término do experimento, o grupo que apresentou maior
quantidade de animais com presença de exsudato foi o grupo submetido a soro fisiológico a 0,9% (tabela 1). Este evento ocorre ainda
na primeira fase da cicatrização de feridas (também chamada de
fase exsudativa, de limpeza ou inflamatória) indicando que este
grupo do experimento encontrava-se com o processo cicatricial
em fase menos evoluída que os demais, evidenciando assim um
retardo no processo cicatricial das feridas.
Com relação à Ximenia americana L. a pouca quantidade
de exsudato pode ser explicada frente ao fato desta apresentar a
menor porcentagem de processo inflamatório com relação aos demais grupos, como pode ser observado na tabela 2.
A cicatrização de feridas conclui-se com a fase de maturação. Em seres humanos pode durar até dois anos, neste local onde
ocorreu a lesão, o tecido encontra-se com o maior risco de ser destruído, pois a sua tensão é diminuída em relação ao tecido normal
(BRASILEIRO FILHO, 2004).
Ainda na tabela 1, observou-se que o grupo submetido ao
uso de solução salina obteve a maior valor relativo de casos de cicatrização total em relação aos demais, porém em termos de valor
absoluto, este se equivale ao grupo tratado com solução da Xime36
nia americana L., pois considera-se que um animal do grupo do
soro fisiológico morreu ao longo do experimento, não totalizando
assim a quantidade de setenta e cinco aplicações, observações e
registros.
No grupo tratado com polvidine tópico a 10% obteve-se
a menor quantidade de registros de cicatrização total. Isto indica
que a aplicação desta solução anti-séptica retardou a cicatrização
de feridas comparadas com o soro fisiológico e solução da Ximenia
americana L.
A utilização da solução da casca do caule da Ximenia americana L. sugere indícios de uma melhor cicatrização, não apenas
pela ocorrência como também pela qualidade da cicatrização que
em relação ao soro fisiológico apresenta-se em grau de maturação
mais avançado.
Considerando os aspectos microscópicos do processo de
cicatrização das feridas, analisou-se conforme a graduação do processo inflamatório conforme o grupo de solução testadas.
Na tabela 2, os animais tratados com soro fisiológico 0,9%
apresentavam suas lesões ainda na primeira fase do processo de
cicatrização, tendo em vista a ocorrência do processo inflamatório
está presente na fase inicial da cicatrização. Esta é evidenciada pela
presença de células características da inflamação, como macrófagos e neutrófilos, onde estas são as primeiras células a se deslocarem ao local da injúria tecidual, exercendo ação fagocitária, removendo tecido morto e patógenos presentes na lesão.
No que se refere ao grupo de animais tratado com polvidine
tópico, não houve casos de ausência de processo inflamatório, este
grupo deteve 60% dos casos à presença de processo inflamatório
leve, 30% em nível moderado e 10% para nível acentuado. Enquanto a solução da casca do caule da Ximenia americana L. obteve 40%
dos casos de ausência de processo inflamatório, além de 30% nos
níveis leve e moderado, não sendo identificado caso de processo
inflamatório acentuado.
As células inflamatórias se diferenciam de acordo com o tipo
de inflamação (aguda ou crônica). No processo inflamatório agudo
há predominância das células polimorfonucleares, neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Em contrapartida, o processo inflamatório crônico apresenta maior incidência de linfócitos, monócitos, macrófagos e plasmócitos. Com base nessas informações é possível afirmar
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.33-39, Out-Nov-Dez. 2009.
O uso da Ximenia americana L. como cicatrizante de feridas superficiais em Mus musculus
Tabela 2. Análise microscópica do processo inflamatório das feridas conforme o grupo. Teresina (PI), 2009.
Processo
inflamatório
GRUPOS
Soro fisiológico 0,9%
Polividine tópico
Solução de Ximenia americana L.
N
%
N
%
N
%
Ausente
01
11,11
0
0
04
40
Leve
04
44,44
06
60
03
30
Moderado
03
33,33
03
30
03
30
Acentuado
01
11,11
01
10
0
0
TOTAL
09
100
10
100
10
100
que o processo inflamatório observado na pesquisa encontrava-se
na fase aguda, tendo em vista a maior quantidade de neutrófilos
presentes nas lesões cutâneas (CORREA, 2008).
Ainda na tabela 2, que se refere ao processo inflamatório,
observou-se que o grupo submetido ao uso de PVPi 10% apresentou o maior número de casos de processo inflamatório em grau
leve. Isto indica que esse grupo, apresentava cicatrização satisfatória, evoluindo para a segunda fase da cicatrização (fase proliferativa). Enquanto que, o grupo controle deteve o maior número de
casos de processo inflamatório moderado e acentuado, e nenhum
caso de processo inflamatório ausente. Esse evento indica que este
grupo ao término dos procedimentos experimentais encontrava-se
ainda em fase inicial do processo cicatricial. E no grupo experimental (Ximenia americana L.) apresentou o maior número de casos de
processo inflamatório ausente e nenhum caso de processo inflamatório acentuado. Esse fato demonstra uma melhor qualidade no
processo de cicatrização.
O fato citado acima, sugere portanto, que a solução da casca
do caule da ameixeira (Ximenia americana L.) exerce efeito antiinflamatório sobre as lesões, estando de acordo com as fontes bibliográficas pesquisadas e com o relato de uma parte da população
que faz uso desta planta visando a melhora de quadros inflamatórios (BRASIL, 2006).
Na análise microscópica em relação ao tecido de granulação
conforme o grupo registrado na tabela 3, apresenta que os animais tratado com soro fisiológico 0,9% deteve 55,56% de tecido
de granulação em nível leve, o grupo tratado com polvidine tópico
apresentou 70% dos casos de nível moderado. Enquanto o grupo
de animais tratado com a solução da casca do caule de Ximenia
americana L. durante o experimento, apresentou 50% dos casos
de ausência de tecido de granulação, 20% dos casos leves, 30%
relativo aos casos moderados e finalmente não houveram casos de
tecido de granulação em grau acentuado. Totalizando 100%, considerando dez animais.
Tabela 3. Análise microscópica da presença de tecido de granulação nas feridas conforme o grupo. Teresina (PI), 2009.
Tecido de granulação
GRUPOS
Soro fisiológico 0,9%
Polividine tópico
Solução de Ximenia americana L.
n
%
n
%
n
%
Ausente
01
11,11
02
20
05
50
Leve
05
55,56
01
10
02
20
Moderado
02
22,22
07
70
03
30
Acentuado
01
11,11
0
0
0
0
TOTAL
09
100
10
100
10
100
O tecido de granulação é constituído por brotos capilares
em diferentes formas de organização, estroma essencialmente protéico, leucócitos e hemácias. Posteriormente surgem os fibrócitos
produzindo obliterações nos vasos sanguíneos recém-formados.
Do tecido de granulação partem as respostas da terceira e última
fase da cicatrização (CORREA, 2008; COSTA, 2006).
Após análise dos dados, observou-se na tabela 3 que os animais que receberam aplicações de solução da casca do caule da
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.33-39, Out-Nov-Dez. 2009.
Ximenia americana L. apresentaram o maior número de casos de
tecido de granulação ausente e nenhum caso de tecido de granulação acentuado.
Com base nas informações acima, presume-se que o processo de cicatrização neste grupo encontrava-se em estado mais
avançado que os demais. Pois, tendo em vista o fato de todos os
grupos terem sido submetidos às mesmas técnicas e condições (inclusive dias de experimento) e levando em conta que o tecido de
37
Carvalho, B. E. et al.
granulação é a penúltima fase da cicatrização, o grupo tratado com
a solução da casca do caule da Ximenia americana L. apresentou
estágio mais avançado desta fase.
O grupo controle concentrou a maioria dos casos de tecido
de granulação em grau leve (como visto na tabela 3). Esta afirmação
condiz com as informações encontradas em outros estudos onde,
verifica-se a menor quantidade de vasos sanguíneos e fibroblastos
quando comparado aos demais grupos testados (VILLA, 2003).
A tabela 3 mostra que o grupo submetido ao tratamento
com PVPi apresentou tecido de granulação em nível moderado em
maior quantidade de casos. Isto indica que o anti-séptico utilizado não produziu efeitos benéficos para o processo de cicatrização
neste processo
A tabela 4 detalha a distribuição de presença de tecido fibrótico por grupo de experimento, constado em análise microscópica,
considerando os diferentes níveis de intensidade: leve, moderado
e acentuado.
Tabela 4. Análise microscópica do tecido fibrótico conforme o grupo. Teresina (PI), 2009.
Fibrose
GRUPOS
Soro fisiológico 0,9%
Polividine tópico
Solução de Ximenia americana L.
N
%
N
%
N
%
Leve
05
55,56
05
50
04
40
Moderado
02
22,22
03
30
03
30
Acentuado
02
22,22
02
20
03
30
TOTAL
09
100
10
100
10
100
O grupo controle apresenta o maior número de casos de
presença de tecido fibrótico em grau leve 55,56%, o grupo de animais tratado com polvidine tópico apresenta 50% dos casos de nível leve, e o grupo de animais tratado com a solução da casca do
caule da Ximenia americana L. apresenta 40% dos casos de tecido
fibrótico em grau leve, sendo este o nível de maior percentual de
ocorrência de tecido fibrótico em relação aos outros grupos experimentais.
A última fase da cicatrização, chamada de fase de maturação
ou de epitelização, tem início cerca de quarenta e oito horas após
a o surgimento da lesão. Nesse momento surgem os fibroblastos
que se multiplicam produzindo componentes como o colágeno,
substância essencial para a remodelação epitelial. A quantidade de
colágeno aumenta com o tempo, e em seres humanos por volta de
duas semanas suas fibras predominam no meio extracelular (SANTOS Et Al, 2006).
Na apresentação dos dados da tabela 4, foi possível observar que os animais tratados com a solução da casca do caule da
Ximenia americana L. obtiveram o maior número de casos de tecido fibrótico em grau acentuado. Este fato demonstra que o uso da
planta em estudo sobre as lesões foi benéfico para a evolução do
processo cicatricial em Mus musculus, pois quando uma ferida se
encontra em grau acentuado da cicatrização, significa mencionar
que esta encontra-se na finalização do processo de cicatrização.
O grupo tratado com o PVPi 10%, em seu melhor desempenho esteve equiparado aos resultados apresentados pelo grupo
experimento, sendo estes em grau moderado. Em uma pesquisa
sobre a interferência de solução de polvidine tópico no processo
cicatricial em camundongos, onde afirma que esta substância em
baixas concentrações inibe a atividade fibroblástica (RIBEIRO, 1995).
Os animais pertencentes ao grupo controle (soro fisiológico
0,9%) apresentaram maior percentual de casos de tecido fibrótico
leve. Demonstrando assim um pior desempenho em relação às demais soluções, visto que a presença de fibroblastos está diretamente ligada a uma cicatrização satisfatória.
A tabela 5 dispõe acerca da regeneração epitelial por grupo de
experimento, constatado por análise microscópica, a esta categoria
se atribuiu apenas presença e ausência de regeneração epitelial. Estes resultados foram alcançados a partir da avaliação da reconstrução
e crescimento do epitélio estratificado pavimentoso queratinizado.
Tabela 5. Regeneração epitelial nas feridas conforme o grupo. Teresina (PI), 2009.
Regeneração epitelial
GRUPOS
Soro fisiológico 0,9%
Polividine tópico
Solução de Ximenia americana L.
N
%
N
%
N
%
Sim
03
33,33
03
30
05
50
Não
06
66,67
07
70
05
50
TOTAL
09
100
10
100
10
100
38
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.33-39, Out-Nov-Dez. 2009.
O uso da Ximenia americana L. como cicatrizante de feridas superficiais em Mus musculus
O grupo de animais que utilizou soro fisiológico 0,9% apresentou 66,67% dos casos de ausência de regeneração. Em relação
ao grupo de animais tratado com polvidine tópico obteve-se a
maioria dos casos de ausência de regeneração epitelial (70%), e os
animais tratados com a solução da casca do caule da Ximenia americana L. apresentaram maior percentual de presença de regeneração epitelial em relação aos outros grupos experimentais, sendo
este de 50.
Ou seja, o grupo tratado com a solução da casca do caule da
Ximenia americana L. obtiveram maior número de casos de regeneração epitelial, seguindo-se do grupo controle (soro fisiológico
0,9%), e ao fim, com resultado pouco satisfatório o grupo que utilizou o PVPi.
A elevada ocorrência de casos de regeneração epitelial do
grupo tratado com a Ximenia americana L. demonstra sua eficácia
no processo cicatricial e sugere seus benefícios relacionados a práticas alternativas do tratamento de feridas, desta forma fundamenta-se o relato popular que a cicatrização com o uso da solução obtida a partir do caule da Ximenia americana L. induz uma cicatrização
mais eficaz e efetiva.
O grupo tratado com o PVPi 10% justifica seu desempenho
pouco satisfatório neste experimento por sua ação citotóxica. Desta
forma, se faz oportuno reforçar a importância da contra-indicação
de tal substância em lesões abertas, tendo em vista a sua capacidade de retardar o processo cicatricial da lesão.
4
CONCLUSÃO
Ao término dos procedimentos experimentais foi possível
verificar que o uso da solução da casca do caule da Ximenia americana L. favoreceu o processo cicatricial em feridas superficiais em
Mus musculus, tornando o processo mais eficiente quando comparado aos demais grupos testados. Podendo este fato ser observado
tanto nas análises macroscópicas quanto nas microscópicas.
Esta comprovação evidencia a importância dos conhecimentos empíricos atribuídos à população para a obtenção de novos conhecimentos científicos, e conseqüentemente, o surgimento
de produtos e terapias alternativas para o tratamento de patologias. Desta forma, esta pesquisa sugere conforme os achados que
o uso da solução da Ximenia americana L. auxilia no processo de
cicatrização.
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39
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Cuidador familiar: dificuldades para cuidar do idoso no domicílio
Family caregiver: learning to care for the elderly at home
Cuidador de la família: dificuldad para el cuidado del anciano en el domicilio
Valquíria Ferreira Lima
RESUMO
Enfermeira pela Faculdade de Saúde, Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
Teresina. Piauí.
Wânia Cristina Leal Barbosa Santos
Enfermeira pela Faculdade de Saúde, Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
Teresina. Piauí.
Francisca Cecília Viana Rocha
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI). Professora
Trata-se de estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, que objetivou
identificar os cuidados realizados pelos cuidadores de idosos; descrever e analisar as dificuldades enfrentadas pelos cuidadores familiares para cuidar de idosos no domicílio. Os sujeitos foram 21 cuidadores familiares de idosos. Os dados foram produzidos e analisados em
categorias temáticas que mostraram as formas de cuidar do cuidador familiar e os fatores
que dificultam o seu cotidiano. O estudo revelou que os cuidadores familiares passam por
períodos de conflitos, causados pela alta responsabilidade em cuidar de um parente idoso
provocando uma sobrecarga para o cuidador. A enfermagem necessita elaborar ações que
objetivem oferecer suporte aos cuidadores familiares, contribuindo assim para melhorar a
qualidade de vida do cuidador e do idoso.
Descritores: Cuidador familiar. Idoso. Enfermagem.
da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI). Email: fceciliavr@
ABSTRACT
hotmail.com
Maria Eliéte Batista Moura
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora
da Universidade Federal do Piauí, Coordenadora de
Ensino da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI).
Rosely Vasconcelos Viana
Cirurgiã Dentista. Especialista em Saúde da Família.
Email: [email protected]
Lucas Pazolinni Viana Rocha
Acadêmico em Medicina pela Faculdade NOVAFAPI.
This study aims to: identify the care provided by the elderly caregivers, and describe and
analyze the difficulties faced by family caregivers to take care of the elderly at home. This is
an exploratory-descriptive study, with a qualitative approach. Data were collected through
semi-structured interview. We interviewed 21 (twenty one) family caregivers living in the
east area of Teresina-PI, registered by the Health Family Team 95. The interviews were recorded in MP4 format and fully transcribed. The data were analyzed and discussed based
on the themes: the caregiver ways of taking care and the factors that complicate their daily
lives. The study revealed that familiar caregivers go through periods of conflict with the
elderly, particularly caused by the high responsibility of taking care of an elderly relative
and with difficulties, but also a caregiver overburden. The nursing need to develop actions
that aim to support family caregivers, helping to improve the quality of life of the caregivers
and the elderly.
Descriptors: Take care. Elderly. Nursing.
Email:[email protected]
RESUMEN
Submissão: 03.08.2009
Aprovação: 02.09.2009
40
Es un estudio exploratorio-descriptivo, con abordaje cualitativo, que objetivó identificar los
atenciones realizados por los cuidadores de los de edad; describir y analizar las dificultades
enfrentadas por los cuidadores familiares para cuidar de las personas de edad avanzada en
el domicilio. Los sujeitos fueron 21 cuidadores familiares de los de edad avanzada. Los datos fueron analizados y discutidos desde categorías temáticas que muestran las formas de
cuidar del cuidador familiar y los factores que dificultan su cotidiano. El estudio reveló que
los cuidadores familiares pasan por períodos de conflicto, causados por la alta responsabiRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
Lima, V. F. et al
lidad de cuidar a un pariente de edad, provocando una sobrecarga
del cuidador. La enfermería necesita elaborar acciones que objetiven ofrecer soporte a los cuidadores familiares, aportando así para
mejorar la calidad de vida del cuidador y de la persona de edad
avanzada.
Descriptores: Cuidar. Personas de edad avanzada. Enfermería.
1
INTRODUÇÃO
O Brasil está se tornando um país de idosos, justificadamente
pela redução da taxa de natalidade, surgimento de novas tecnologias médicas, preventivas e curativas. Além disso, os diagnósticos
precoces, com novos recursos terapêuticos fornecendo meios para
prevenir as mortes, influem no aumento da sobrevida do indivíduo,
melhora a qualidade de vida em função de ações como melhoria
das condições de saneamento, condições médicas, higiene e controle de doenças infecto-contagiosas. Ocorrendo assim aumento
da expectativa de vida e aumento da longevidade (SUZUKI, 2003).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o
Brasil é um dos países com maior crescimento no número de idosos no mundo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), evidenciados no Censo realizados em 2000, a
população de idosos totaliza 14.504.530 (quatorze milhões, quinhentos e quatro mil e quinhentos e trinta), ocupando o décimo
quarto lugar entre os países com maior número de idosos. De acordo com projeções feitas para o ano de 2025, o Brasil terá cerca de
32 milhões de idosos (idade superior a 60 anos), ou seja, o país será
a sexta maior população de idosos do mundo (BELTRÃO; CAMARANO; KANSO, 2004).
A resposta para esse aumento desenfreado de idosos no Brasil deve-se ao declínio da taxa de mortalidade infantil registradas
nas últimas décadas e a redução dos índices de fecundidade, principalmente a partir das décadas de 70 (setenta) e 80 (oitenta). As
alterações de perfil epidemiológico juntamente com o aumento da
expectativa de vida e outros fatores, tende cada vez mais para que
existam pessoas atingidas por doenças crônico-degenerativas, e
com o agravamento destas, os indivíduos podem apresentar perda
da independência e com isso necessitarão de ajuda (BRAZ; CIOSAK,
2009).
A capacidade funcional do indivíduo vai diminuindo gradativamente com o passar dos anos. É um processo natural e fisiológico do ser humano, o que pode provocar algum grau de dependência. Com isso, à medida que a diminuição da capacidade
funcional progride, surge a demanda por cuidados especiais e esta
função é desempenhada pelos cuidadores, que desempenham um
papel essencial na vida do idoso com algum tipo de dependência
(LAVINSKY; VIEIRA, 2004; NARDI, 2007; PASCHOAL, 2000).
Portanto há necessidade dos profissionais de saúde e da família a utilização de habilidades e conhecimentos para diminuir ou
até mesmo prevenir os efeitos secundários graves, físicos e/ou psicossocial que surgem em decorrência dessas patologias.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
De acordo com o Ministério da Saúde cuidador familiar é
uma pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração, cuida do idoso doente ou dependente no exercício de
suas atividades diárias, tais como, medicação de rotina, acompanhamento aos serviços de saúde ou outros serviços requeridos no
cotidiano (BRASIL, 2006).
Em uma perspectiva mais ampla, o cuidador familiar ultrapassa o simples acompanhamento das atividades do idoso, sendo
ele saudáveis ou doentes, acamados ou em situações de risco, ou
seja, de qualquer maneira o cuidador pode atuar quando se está
necessitando de cuidado. Em consequência disso, muitos idosos
necessitam de algum tipo de ajuda para realizarem suas atividades
de vida diária devido à diminuição da sua capacidade funcional.
É relevante destacar que o cuidador domiciliar não é percebido como alguém merecedor de informações e atenção, fato este
que gera a necessidade dos profissionais de saúde proporcionar
cuidado ao cuidador domiciliar a partir da perspectiva de que o
mesmo também necessita de apoio e atenção, tanto quanto o idoso. É importante que os profissionais de saúde voltem a sua atenção para a realidade dos cuidadores informais que, na maioria das
vezes, são ignorados pela sociedade passando a enfrentar muitos
desafios e é necessário oferecer capacitação a estes para lidar com
os problemas que geram conflitos e tensões (PASCHOAL, 2000; LEOPARDI, 1997).
O cuidado de um indivíduo dependente está cada vez mais
sob a responsabilidade de sua família em seu domicílio. A família
convive com muitas dificuldades para assistir o idoso, dependendo
da doença, das suas experiências e dos recursos que elas dispõem
e, freqüentemente, esta se apresenta sem suporte adequado para
desenvolver o cuidado (NARDI, 2007).
O cuidado supera os limites do esforço físico, psicológico,
social e econômico. Podendo ocorrer desorganização familiar,
quando as habilidades e os recursos familiares não forem efetivos
ou insuficientes para o controle da situação, podendo trazer conseqüências negativas.
A assistência a idosos com doenças crônicas e que necessitam de cuidados por longos períodos, acarretam para os cuidadores fragilidades e isso leva aos profissionais de saúde e, em especial,
para as enfermeiras, a necessidade da elaboração de uma abordagem que insira a família no planejamento das ações de cuidado
(SANTOS; PELZER; TORNELLI, 2007).
Diante desse contexto, torna-se necessário que, os serviços e
profissionais de saúde readequem suas ações, voltando-as à saúde
integral do idoso e sua família, buscando a implementação de medidas que visem à prevenção de incapacidades e à promoção de
um envelhecimento mais independente e autônomo. Neste sentido, torna-se imprescindível oferecer conhecimento ao sistema de
cuidado no domicílio do idoso dependente.
Dada essa realidade, o estudo tem como objetivo identificar
os cuidados realizados pelos cuidadores de idosos no domicílio,
bem como descrever e analisar as dificuldades enfrentadas pelos
cuidadores familiares para cuidar de idosos no domicílio em um
41
Cuidador familiar: dificuldades para cuidar do idoso no domicílio
território da Estratégia de Saúde da Família (ESF), em Teresina-PI.
2
METODOLOGIA
A pesquisa realizada é do tipo exploratório-descritivo, com
abordagem qualitativa. A investigação foi realizada nos domicílios
dos cuidadores familiares e dos idosos sob seus cuidados, localizadas nas áreas de abrangência da equipe de saúde da família, que
corresponde à área 95 pertencente ao Posto de Saúde da Vila Bandeirante, na cidade de Teresina-PI.
Os sujeitos do estudo foram 21 cuidadores familiares de
idosos que coabitavam com o idoso no mesmo domicílio. Em sua
maioria foram mulheres, com idade entre 20 e 60 anos, casada,
com baixo grau de escolaridade, domiciliada na área adstrita da
equipe da ESF, baseando-se nos critérios para a participação da
pesquisa em evidência.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semi-estruturada, mediante visitas domiciliares, pré-agendadas pelos
agentes comunitários de saúde, que facilitaram a disponibilidade
do entrevistado. O material produzido foi submetido à Análise de
Conteúdo (BARDIN, 2004).
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade
NOVAFAPI, com o parecer do Processo CAEE nº 0255.0.043.00009 juntamente com autorização da instituição para realização da
mesma, atendendo a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde. Para manter a identidade dos entrevistados, os nomes
foram trocados por nomes de flores.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo revelou que a maioria dos cuidadores realizava o
cuidado de modo permanente, ou seja, dedicavam-se diuturnamente à atenção ao idoso, investindo oito horas ou mais nas atividades como:
AS FORMAS DE CUIDAR DO CUIDADOR FAMILIAR
Cuidados relacionados à medicação
O cumprimento dos horários da medicação revelou-se
como a atividade priorizada pelo cuidador familiar.
[...] ela tem os horários certo de tomar os remédios dela, não
pode esquecer e não pode marcar nada na mesma hora [...]
(Íris).
[...] só fico lembrando dele, das horas que ele tem que tomar
os remédios para não esquecer [...] (Orquídea).
A importância dada ao uso da medicação mostra a constante
preocupação do cuidador familiar em manter o idoso em boas condições de saúde, mostrando ser uma forma de proteção e de amor.
O grande diferencial do cuidador domiciliar é o aspecto humano, a partir do qual a interação se efetiva e então desencadeia o
42
processo de cuidar na família, o cuidado exige muito mais do que
uma simples execução de tarefas, dependendo da disponibilidade,
dedicação e comprometimento de quem cuida com o ser cuidado
(SENA et al., 2000).
Percebe-se que os cuidadores realmente têm como referência o comprometimento nessa relação de cuidado porque as falas
nos mostram que estes não apenas entregam o remédio, mas fazem também o acompanhamento da tomada, com o intuito de
garantir o tratamento adequado ao idoso.
[...] fico olhando quando ela toma os remédios pra ela não
jogar fora (Hortência).
[...] tentar esclarecer algumas coisas e guiar mais ou menos
como ela deve usar alguns medicamentos [...] (Girassol).
Os relatos refletem que, de certa forma, o cuidador compreende que o idoso que possui doença crônica merece um acompanhamento adequado a fim de evitar sequelas, as quais podem
tornar o cuidado um trabalho muito mais cansativo e estressante,
dessa forma busca essa estabilização no uso correto da medicação
com o objetivo de manter a continuidade da vida e evitar outras
doenças (MOTTA, 2004).
Diante do exposto, destaca-se a importância do profissional
de saúde estar constantemente esclarecendo ao cuidador o nome
correto dos medicamentos, a dosagem, o horário, efeitos colaterais e as principais interações medicamentosas, pois sabemos que
o cuidador familiar nem sempre está preparado para assumir este
papel.
A família convive com muitas dificuldades para assistir o idoso, dependendo da doença, das suas experiências e dos recursos
que elas dispõem e freqüentemente a família se apresenta sem suporte adequado para desenvolver o cuidado (NARDI, 2007).
Observamos ainda que os cuidadores tem o hábito de comprar remédio para o idoso sem receita médica. É importante destacar que, algumas vezes, o cuidador toma decisões acerca da medicação independente de orientações médicas.
[...] eu não deixo ele sem a vitamina, porque que ele ainda
caminha [...] todos os meses eu compro dois vidros de cálcio
[...] (Lírio).
No depoimento acima, fica evidente que o cuidado prestado ao idoso inclui também o uso de medicação sem orientação
médica e este é um problema freqüente que necessita por parte
dos cuidadores conscientização sobre os prejuízos que podem ser
causados ao idoso.
Cuidados relacionados à alimentação
As respostas mostram que há uma preocupação em evitar
alimentos que possam causar riscos à saúde do idoso como o uso
de sal, óleo e açúcar.
[...] não pode fazer comida salgada né, que ele é hipertenso,
aí tem que saber fazer direitinho a comida, com menos sal,
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
Lima, V. F. et al
menos óleo [...] (Margarida).
[...] Bom, sempre cuido de ter responsabilidade sempre de
dar às refeições direitinhas, nem açúcar a gente come [...]
(Violeta).
Os relatos mostram que há entre os cuidadores o consenso
que a alimentação adequada também constitui uma importante
ferramenta para a qualidade de vida do idoso, mas reforça também
a idéia de que esse é mais um ponto que precisa ser trabalhado
para orientar o cuidador, pois sabemos que eles não têm conhecimento científico sobre o assunto e acrescenta-se ainda o fato de
que os hábitos alimentares muitas vezes são influenciados por fatores culturais e até mesmo econômicos.
O ato de cuidar do outro tem por base valores tomados pelos
seres humanos como naturais e são expressos no modo de se relacionar com outras pessoas, sendo influenciado por fatores culturais;
todavia, é um processo passível de transformação (KARSCH, 2004).
Essa transformação acontece a partir do momento em que
o outro se coloca no lugar do que está recebendo o cuidado, passando com isso a valorizar em uma relação de ajuda ao próximo.
Cuidados relacionados à segurança
Os cuidadores relatam preocupação com a segurança dos
idosos.
[...] tenho cuidado com ela, com fogo [...] eu fico preocupada
com o portão, eu tenho medo dela abrir o portão p/ qualquer pessoa [...] (Verbena).
Quando o cuidador assume a tarefa de cuidar, tem a convicção de que seja capaz de realizá-la. Entretanto, com a evolução da
fragilização do idoso, e conseqüentemente de sua dependência, as
exigências do cuidado se tornam mais intensas e o cuidador precisa abrir mão de necessidades pessoais. Diante do fato, o cuidador sente-se sozinho e percebe a necessidade de ajuda, tanto nas
divisões de responsabilidades quanto financeiramente (ALVAREZ,
2001).
[...] a gente nunca deixa ele só [...] se eu saio a minha tia fica
e se no caso ela sair eu fico [...] ele pode cair e se machucar
[...] (Tulipa).
[...] eles não podem mais ficar só, porque não é bom não
deixar eles só [...] eu fico preocupada em deixar eles só [...]
(Magnólia).
As falas evidenciam a grande responsabilidade do cuidador e
mostra que esse é mais um motivo que leva o cuidador a abrir mão
de seus interesses para se dedicar ao idoso.
Um estudo realizado com cuidadores familiares de idosos
dependentes, mostrou que um dos maiores obstáculos apontados
pelos cuidadores era a impossibilidade de sair de casa, passear, pois
ficavam atrelados à responsabilidade e preocupação diária com o
cuidado ao idoso, o que contribuía para o sentimento de solidão e
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
de perda da liberdade (CATTANI; GIARDON-PERLIN, 2004).
Reitera-se, por conseguinte, a importância de ações que garantam qualidade de vida aos cuidadores e amenizem as percas
que lhe são causadas durante este processo.
FATORES QUE DIFICULTAM O COTIDIANO DO CUIDADOR
Aspectos psicossociais no cuidado ao idoso
Nos aspectos psicossociais há necessidade de compreensão
por parte dos cuidadores sobre o processo de envelhecimento,
haja vista que várias alterações ocorrem como físicas, psicológicas
e sociais como é relatado pelo cuidador abaixo:
[...] as dificuldade é que eles têm muita cabeça dura, as coisas têm que ser do jeito deles [...] aí fica difícil né a gente lidar
num é? [...] eu acho que é a idade já né [...] (Margarida).
[...] a dificuldade mesmo é quando ela quer fazer as coisas
e não pode, ela não pode lavar roupa, nem varrer a casa [...]
(Jasmim).
Das dificuldades encontradas no cotidiano dos cuidadores,
destaca-se a “teimosia”. O idoso tenta de alguma maneira se tornar
útil, pois um cotidiano estável, sem muitas atividades, resulta em
tédio, solidão, sentimento de inutilidade e outros sentimentos que
os entristecem e o cuidador não está apto a enfrentar essa situação,
pois envolve aspectos psicossociais que são bem variados no processo de envelhecer como é descrito nas falas que seguem abaixo:
[...] ela é bem cabeça dura com algumas coisas né, as pessoas já de alguma idade elas têm, é difícil a gente convencer
de algumas coisas [...] a mudar alguns hábitos que ela já tem
[...] (Girassol).
[...] o idoso é muito teimoso, eles acham que por eles ter
idade bem avançada eles acham que sabem de tudo [...]
(Alecrim).
As pessoas idosas precisam ser maleáveis e hábeis para enfrentar quando há situações de estresse. Uma auto-imagem positiva estimula a sua participação em papéis novos e não testados (RABELO; SOUZA, 2009). Percebe-se que os cuidadores tratam o idoso
como se o mesmo estivesse perdido suas funções e habilidades
como é descrito na fala que se segue:
[...] quando eu vou trabalhar ela faz as coisas daqui de casa
lava as louças, varre a casa, só que eu falo pra minha filha que
fica aqui com ela pra não deixar, pois pela idade dela não é
mais pra ela ficar fazendo essas coisas [...] (Malmequer).
Para o cuidador, o idoso não deve realizar nenhuma atividade quando sabemos que um dos objetivos da própria Política
Nacional de Saúde do Idoso é manter a sua capacidade funcional,
para isso ele deve exercer suas habilidades para não se sentir inútil
e não ser excluído.
A habilidade pessoal de se envolver, de encontrar significado
43
Cuidador familiar: dificuldades para cuidar do idoso no domicílio
para viver, provavelmente influencia as transformações biológicas
e de saúde que ocorrem no tempo da velhice. Assim, o envelhecimento é decisivamente afetado pelo estado de espírito, muito
embora dele não dependa para se processar. O papel social dos
idosos é um fator importante no significado do envelhecimento,
pois o mesmo depende da forma de vida que as pessoas tenham
levado, como das condições atuais que se encontram (MENDES et
al., 2005).
O mesmo autor ressalta que com a idade, a retirada da vida
de competição, a auto-estima e a sensação de ser útil se reduzem.
No início, a maioria dos idosos se sente satisfeito, pois lhe parece ser
muito bom poder descansar. Aos poucos, descobrem que sua vida
tornou-se tristemente inútil.
Nesta ausência de papéis é que podemos observar situações
de angústia, marginalização e isolamento do mundo. Isso afeta a
qualidade de saúde e de vida do idoso. A situação que o cuidador
familiar impõe ao idoso dificulta o cuidar, sendo necessária a implantação de políticas públicas para capacitar o cuidador informal.
O ambiente familiar pode determinar as características e o
comportamento do idoso. Assim, na família sadia, onde se predomina uma atmosfera saudável e harmoniosa entre as pessoas o
crescimento de todos é possibilitado, incluindo o idoso, pois todos possuem funções, papéis, lugares e posições e as diferenças
de cada um são respeitadas e levadas em consideração (SANTOS;
PELZER; TORNELLI, 2007).
Vale ressaltar que além da família, o convívio em sociedade
permita a troca de carinho, experiências, idéias, sentimentos, conhecimentos, dúvidas, além de uma troca permanente de afeto. O
idoso necessita estar engajado em atividades que o façam sentir-se
útil.
Apesar da presença de doenças crônicas, o idoso possui capacidades, algumas delas diminuídas, mas que, com paciência, afetividade e compreensão, isso pode ser desenvolvido de uma forma
saudável, o que para o cuidador pode ser uma distração, mas para
o idoso é o sentimento de utilidade e de apesar da velhice, ainda
ter valores e opiniões.
Sobrecarga para o cuidador familiar
Em uma perspectiva mais ampla, o cuidador familiar ultrapassa o simples acompanhamento das atividades do idoso, sendo
ele saudáveis ou doentes, acamados ou em situações de risco, ou
seja, de qualquer maneira o cuidador pode atuar quando se está
necessitando de cuidado.
O cuidar de um idoso, sendo ele dependente ou não de cuidados exclusivos, exige do cuidador tarefas contínuas, tendo em
vista que além das atividades da vida diária (AVD), ele deverá oferecer amor, atenção e apoio emocional, podendo com isso acarretar
em um desgaste físico e emocional para o cuidador.
Os discursos a seguir revelam a carência do idoso, exigindo
cada vez mais carinho e atenção de um só membro que é a figura
do cuidador principal.
44
[...] ela pode ser durona, mas agora ela é tipo um bebe, ela
sente falta de mim [...] eu tenho três filho e ela é a caçula [...]
(Copo de leite).
[...] e ele ficava o tempo todo: cadê a Lírio? ele não pode me
perder de vista [...] (Lírio).
A atenção contínua e, muitas vezes, duradoura requerida
pelo idoso torna-se muito estressante para o cuidador, pois o impede de vivenciar outras atividades que o coloquem em contato
com outros ambientes sociais e outras relações.
Na maioria dos casos, apenas um integrante da família adota
o papel de cuidador do idoso, assumindo a responsabilidade na
prestação de cuidados no domicílio que realizam as mais variadas
tarefas para cuidar e restabelecer a qualidade de vida do idoso.
Diversos são os desafios como dificuldade na divisão das tarefas com os outros familiares, expressas nos seguintes relatos:
[...] os filhos dele não querem, aí ele veio para passar uns dias
e não voltou mais ficou aqui com a gente, já está nem sei
quantos anos aqui [...] aí a gente se sente na obrigação de
cuidar [...] (Tulipa).
[...] a dificuldade maior é com os irmãos, minha irmã, ela não
quer [...] eu não quero ela na minha casa [...] joga essa véia
dentro da casa dela, joga, tu é besta, tu é idiota, fica se estressando com mãe [...] se fosse eu deixava ela jogada lá sozinha
mesmo [...] (Copo de leite).
Porém nem sempre todos da família assumem de igual maneira o cuidado com seus dependentes, o cuidador familiar desempenha seu papel sozinho sem ajuda de outros familiares ou de profissionais (SIMONETTI; FERREIRA, 2008). Embora a família declare-se
responsável pelo cuidado do idoso, poucos irão realmente assumir
esta responsabilidade (ALVAREZ, 2001).
A relação prévia com a pessoa cuidada, a causa e o grau da
dependência do idoso, a ajuda que prestam os outros membros
da família, as exigências que caem sobre os cuidadores, a renda
familiar, o estado de saúde do cuidador e a aceitação do cuidado
são fatores que geram estresse ao cuidador familiar.
A dependência, a necessidade de ajuda e o cuidado que demanda o processo de envelhecimento, a família assume estas responsabilidades que cada vez mais é realizada no domicílio e, com
isso, é necessário reestruturar e reorganizar seu papel redefinindo
as responsabilidades de seus membros. O cuidador geralmente é
escolhido na família, mas, na maioria das vezes, ele assume este
compromisso de forma inesperada, sendo assim levado a uma sobrecarga emocional (TAUB; ANDREOLI; BERTOLUCCI, 2004).
Estimular o envolvimento da família, bem como fornecer
orientações para diminuir as dificuldades do processo de cuidar
pode ser uma estratégia para contribuir para o bem-estar dos cuidadores diminuindo assim, as chances do estresse maior que, em
geral, ocorrem por falta de ajuda dos familiares na divisão das responsabilidades do ser cuidado (MENDES et al., 2005).
As cuidadoras abandonam seu trabalho e passam a cuidar
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
Lima, V. F. et al
[...] é desgastante porque às vezes fica cansada, se estressa, a
gente fica muito cansada [...] (Tulipa).
apenas do idoso.
[...] minha vida parou [...] eu vivi só p/ o meu pai, ele dependia de tudo de mim [...] aí veio minha mãe, meu tio [...] pronto minha vida acabou (chora) (Lírio).
[...] não vou botar ela num asilo, tenho que cuidar [...] é difícil,
porque às vezes deixamos de viver a nossa própria vida [...]
(Crisâtemo).
[...] perde muito tempo da vida [...] é desgastante porque às
vezes fica cansada, se estressa, a gente fica muito cansada
[...] (Tulipa).
Muitos cuidadores se deparam com o compromisso de cuidar de um parente idoso e assumem esse compromisso sofrendo
assim muitas mudanças na sua vida para cuidar do dependente no
ambiente domiciliar.
Pressionado por necessidades imediatas, o cuidador de idosos geralmente põe a necessidade do outro em primeiro lugar,
esquecendo de si mesmo porque o cuidado constante toma boa
parte do seu tempo, as suas forças, o seu lazer e até suas emoções e
acaba abrindo mão da sua vida para aquele de quem está cuidando (MOTTA, 2004).
O cuidado ao idoso demanda responsabilidade e exclusividade. Esta prestação de cuidados pode ser prejudicial a sua saúde
e bem-estar.
[...] eu tomo remédio de pressão, tem hora que eu nem escuto, pra ver, mas fica doendo minha cabeça, eu tenho labirintite também [...] (Lírio).
[...] eu tenho depressão e ele acha que não sei mais fazer
nada [...] (Alfazema).
Pode-se notar que a atividade de cuidar pode interferir adversamente na saúde do cuidador. Esta sobrecarga familiar deverá
ser reconhecida como um problema de saúde pública.
Os cuidadores podem desenvolver sintomas físicos e psicológicos devido ao impacto sofrido com o processo de cuidar. Os
sintomas físicos mais observados são: hipertensão arterial, problemas digestivos, respiratórios, infecções. E os sintomas psicológicos
mais comuns são: ansiedade, insônia e depressão (SIMONETTI; FERREIRA, 2008).
Nos discursos da maioria das entrevistadas, pode-se observar que eles sofrem alterações físicas e psicológicas decorrentes
das demandas específicas provocadas pela tarefa de cuidar e obviamente estão relacionados com a sobrecarga do cuidador.
O cuidar é uma tarefa difícil e cansativa, de muita responsabilidade, dedicação e que requer muita paciência e força de vontade,
influenciado pela obrigação, dever e retribuição relacionados com
os bons momentos vivenciados junto ao idoso (NARDI, 2007). O
discurso a seguir revela esta afirmação:
[...] ah eu me estresso demais [...] dá vontade de morrer, vontade de sair correndo, gritando pedindo socorro [...] é cansativo, a gente chora, se revolta [...] (Margarida).
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
[...] Mas mesmo assim é bom porque a gente ama e quer ver
a pessoa bem, mais é difícil [...] (Flor do campo).
Observa-se que os sujeitos do estudo afirmam que o cuidar
do idoso é uma tarefa exaustiva e estressante, acarretando para
muitos deles sobrecarga e isso pode implicar na qualidade de assistência prestada ao idoso e, conseqüentemente, na qualidade de
vida de ambos.
Assim, seria de grande importância uma rede de apoio para os
cuidadores, no intuito de proporcionar à promoção, prevenção e recuperação da saúde do idoso, cuidador e família (BRAZ; CIOSAK, 2009).
[...] uma vez eu fui na assistente social e ela disse que quando
eu tiver muito cansada, entregue pro abrigo, mas eu não vou
fazer isso até porque é minha família, meu sangue né [...] (
Lírio).
A fala em evidência corrobora a falta de suporte ao cuidador,
os profissionais de saúde não estão preparados para dar o apoio
pertinente aos cuidadores familiares para que eles possam desenvolver esse cuidado de forma mais efetiva e não causando danos
para nenhuma das partes relacionadas. Neste sentido, é importante para quem cuida reconhecer os limites e saber a quem recorrer
sempre e quando necessário, seja por meio de uma ajuda especializada, seja recorrendo a familiares e amigos.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados permitiu refletir que o envelhecimento
e o papel assumido pelo cuidador familiar exigem novas formas de
assistência e novos enfoques por parte das políticas públicas de
saúde. O envelhecimento da população brasileira é um fato que
não pode mais ser ignorado, pois o número de idosos da população traz um cenário que requer novas posturas de apoios voltados
a essa realidade. Observamos com este estudo que este apoio se
faz necessário porque o cuidador familiar está inserido no papel de
cuidar, mas não está preparado para enfrentar sozinho esse processo que demanda muitas atribuições.
Desse modo, o presente trabalho confirmou a importância
do cuidador familiar de idosos, no entanto, a maioria das cuidadoras familiares pesquisadas apresentou dificuldades que podem ser
amenizadas por intermédio de uma rede de suporte voltada para
o cuidador que é uma figura esquecida. Neste sentido, consideramos importante a organização de uma rede de suporte voltada
para o cuidador familiar de idosos com o objetivo de ajudar, apoiar
e preparar os cuidadores para desempenharem as atividades do
cuidado.
É necessário que a formação dos profissionais de saúde seja
adequada para que estes possam planejar, executar e avaliar a
atenção não apenas aos idosos, mas também aos seus cuidadores. Acreditamos que, ao analisar o cuidado ao idoso no domicí45
Cuidador familiar: dificuldades para cuidar do idoso no domicílio
lio, contribuímos para a apreensão desta prática milenar, que é o
cuidado, possibilitando também o encaminhamento de propostas
com vistas à qualidade da assistência ao ser cuidado e as cuidadoras domiciliares.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.40-46, Out-Nov-Dez. 2009.
PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN
Cobertura vacinal por BCG dos contatos intra-domiciliares de
portadores de hanseníase
BCG vaccine coverage in household contacts of patients with leprosy
Cobertura de la vacuna BCG en los contactos domiciliares de pacientes con enfermedad de hansen
Tania Maria Melo Rodrigues
RESUMO
Mestre em Enfermagem pela UFPI; Enfermeira da ESF
do município de Teresina (PI); Docente da Faculdade
de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológica do Piauí –
NOVAFAPI. [email protected]
Juliana Mayara Meneses Lustosa
Vargas
Enfermeira. [email protected]
Lara Ely Sena da Silva
Enfermeira. [email protected]
O presente estudo tem como objetivo identificar a cobertura vacinal por BCG nos contatos
intra-domiciliares de portadores de hanseníase. Trata-se de uma pesquisa com abordagem
quantitativa. Os dados foram obtidos das fichas do SINAN e dos portadores de hanseníase
cadastrados nos hospitais em estudo totalizando 245 contatos intra-domiciliares. O estudo
demonstrou que 50.6% dos contatos não possuíam registro da segunda dose da vacina
BCG, aumentando a vulnerabilidade para a patologia. Observou-se também, que existe
uma possível falha do serviço de saúde ao registrar as informações nos prontuários quando
da aplicação da vacina e avaliação dermatoneurológica. Percebe-se a necessidade de intensificar a busca ativa, melhorar o registro dos dados e o controle da aplicação da segunda
dose da vacina BCG.
Descritores: Hanseníase; Cobertura vacinal; Vacina BCG; Enfermagem.
Mirelly da Silva Rosado
Enfermeira. [email protected]
Maria Zélia de Araújo Madeira
Mestre em Educação pela UFPI, Enfermeira, docente
do Departamento de enfermagem da UFPI.
[email protected]
ABSTRACT
This study aims to identify the BCG vaccine coverage in household contacts of patients with
leprosy. This is a survey of quantitative approach. Data were obtained from medical SINAN
and leprosy patients registered in hospitals in the study a total of 245 household contacts.
The study showed that 50.6% of the contacts did not have a second shot of vaccine, increasing vulnerability to pathology. It was also observed that there is a possible failure of the
health service to record the information in the charts when the vaccination and dermatological evaluation. Note the need to intensify the active search, to improve data recording
and control of the second shot of vaccine.
Descriptors: Leprosy; Immunization coverage; BCG vaccine; Nursing.
RESUMEN
Submissão: 08.06.2009
Aprovação: 20.07.2009
Este estudio tiene como objetivo identificar la cobertura de la vacuna BCG en los contactos
domiciliares de pacientes con enfermedad de hansen. Esta es una investigación de enfoque
cuantitativo. Los datos fueron obtenidos a partir de SINAN y de los enfermos de hansen registrados en los hospitales en el estudio un total de 245 contactos domiciliares. El estudio mostró
que el 50,6% de los contactos no tuvieron una segunda dosis de la vacuna, aumentando la
vulnerabilidad a la patología. También se observó que existe un posible fracaso de los servicios de salud para registrar la información en los prontuarios en se tratando de la vacunación
y de la evaluación dermato-neurológica. Se percibe la necesidad de intensificar la búsqueda
activa, para mejorar el registro de datos y el control de la segunda dosis de la vacuna.
Descriptores: Enfermedad de Hansen; Cobertura vacunal; Vacuna BCG; Enfermería.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.47-52, Out-Nov-Dez. 2009.
47
Rodrigues, T. M. M. et al.
1
INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, crônica e
granulomatosa, mundialmente conhecida como lepra, já tendo
recebido várias denominações como: morféia, mal de pele, doença lasarina e cuja época exata do seu aparecimento não é bem
conhecida. Os relatos mais antigos datam de 4.266 a.C no Egito,
500 a 2.000 a.C nos Livros Sagrados da Índia e 1.100 a.C na China.
Devido às deformidades e as mutilações que a doença provocava
o preconceito e a discriminação persiste até os dias de hoje, por
isso o termo lepra e seus derivados caíram em desuso no Brasil, por
força da lei nº 9.010 de 29/03/1995, sendo substituído por “mal de
Hansen” ou “hanseníase”. (TAVARES, MARINHO, 2005).
É uma doença causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, tendo o homem como a única fonte de infecção. O contágio
dá-se através de uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando
pessoas susceptíveis. A principal via de eliminação do bacilo, e a
mais provável porta de entrada no organismo passível de ser infectado são as vias aéreas superiores e o trato respiratório. No entanto,
a suspeita de hanseníase se baseia na presença de um ou mais dos
sinais e sintomas: lesões ou áreas na pele com alteração de sensibilidade, acometimento de nervos com espessamento e baciloscopia
positiva, entretanto, estes podem levar de 2 a 5 anos, em geral, para
aparecerem. (BRASIL, 2008a).
Assim, as pessoas que vivem com o doente de hanseníase, correm um maior risco de serem contaminadas do que a população em geral, por isso a vigilância de contatos intra-domiciliares
do doente é muito importante. De acordo com o Ministério da Saúde(3), considera-se como contato intra-domiciliar toda e qualquer
pessoa que resida, ou tenha residido com o doente, nos últimos
cinco anos. Portanto tem, em seus contatos intra-domiciliares, um
importante meio para a manutenção da endemia.
No Brasil, a hanseníase continua representando um problema de saúde, e 8% dos casos diagnosticados, em 2006, eram em
menores de 15 anos. O adoecimento de crianças e adolescentes,
numa área, indica que o bacilo circula livremente nesse local e que
a existência de doentes, com alto poder infectante, continua disseminando a doença. Isto exige atenção redobrada dos profissionais
nas ações de controle nessa comunidade. (BRASIL, 2002).
De acordo com o DATASUS (2009), órgão da Secretaria
Executiva do Ministério da Saúde responsável pela coleta, processamento e disseminação das informações da saúde, apresentou
o número de casos novos de hanseníase no Brasil, destacando a
queda de 23% entre os anos de 2003 a 2007. No ano de 2003, o
total de notificações foi de 51.941. Já em 2007, o quantitativo foi de
40.126 pessoas diagnosticadas. O recuo foi ainda mais significativo
na população com menos de 15 anos, com índice de queda de
27% (4.181, em 2003, contra 3.048, em 2007). Acrescenta que o
índice de detecção de casos novos da Hanseníase no ano de 2006
em Teresina, foi de 6,64%.
Assim, entendemos que os portadores de hanseníase
48
são considerados de importância epidemiológica significativa em
termos de endemia e passam a se tornar um grupo de risco vulnerável do ponto de vista da cadeia do processo infeccioso. Estes
números nos fizeram refletir sobre a temática, surgiu o interesse
pelo tema quando observamos dificuldades da comunidade com
a necessidade do cumprimento do calendário vacinal, como também a dificuldade do contato intra-domiciliar dos portadores de
hanseníase em comparecerem a unidade de saúde, após convocação para avaliação dermatoneurológica e aplicação da vacina BCG.
Portanto, este artigo tem como objetivo avaliar a cobertura vacinal
por BCG nos contatos intra-domiciliares de hanseníase.
2
M ETODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, com abordagem
quantitativa. Os dados da cobertura vacinal dos contatos intra-domiciliares dos casos índices foram coletados por meio das fichas
do SINAN e nas fichas individuais dos portadores de hanseníase,
totalizando 245 contatos intra-domiciliares dos pacientes cadastrados no Programa de Hanseníase dos Hospitais do Monte Castelo,
Parque Piauí e Promorar, os quais são vinculados a Coordenadoria
Regional de Saúde Sul do município de Teresina (PI).
Para registro dos dados foi utilizado um formulário construído pelos próprios pesquisadores contendo as seguintes variáveis:
idade, sexo, estado vacinal, avaliação dermatoneurológica e classificação operacional, buscando verificar se os 245 contatos intra-domiciliares realizaram a 2ª dose da vacina BCG, correspondente
ao período entre 2007 a 2008.
Os dados foram coletados no mês de fevereiro de 2009, após
parecer favorável do Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade NOVAFAPI, através do protocolo de número 0293.0.043.000-09. Foram
respeitados os princípios éticos de acordo com a Resolução nº
196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Nos resultados apresentaram-se tabelas e gráficos apropriadas à escala de mensuração das variáveis estudadas. Os dados foram processados e analisados através do programa SPSS (Statistical
Product and service Solutions), para tabulação e apresentação dos
dados.
3
RESULTADOS
De acordo com a tabela 1, de um total de 245 contatos intra-domiciliares, observa-se que 133 (54.29%) dos contatos são do
sexo feminino e 112 (45.71%) são do sexo masculino. Com relação
à faixa etária o maior número de contatos deu-se em idade igual
ou superior a 15 anos com 168 (68.57%); seguido de 51 (20.82%)
em menores de 15 anos; e em menor percentagem 26 (10.61%)
foram ignorados.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.47-52, Out-Nov-Dez. 2009.
Cobertura Vacinal por BCG dos Contatos Intra-Domiciliares de Portadores de Hanseníase
Tabela 1 - Distribuição dos contatos intra-domiciliares segundo sexo e faixa etária. Teresina (PI), 2007 - 2008.
Nº
%
Fem
133
54.29
Masc
112
45.71
245
100.00
Sexo
Total
Idade
<15
51
20.82
(anos)
>=15
168
68.57
Ignorado
26
10.61
245
100.00
Total
Fonte: Prontuários de pacientes cadastrados no programa de Hanseníase dos Hospitais Monte Castelo, Promorar e P. Piauí.
O gráfico 1 mostra que apenas 49.6% dos contatos intra-domiciliares receberam a 1º dose da vacina BCG e em 50.2% dos casos
observados não há informação sobre a administração da primeira
dose de BCG.
GRAFICO 1: Distribuição da população do estudo segundo recebimento da 1º dose de BCG. Teresina (PI), 2007-2008.
Ignorado
50,2%
Sim
49,6%
Fonte: Prontuários de pacientes cadastrados no Programa de Hanseníase dos hospitais M. Castelo, Promorar e Parque Piauí.
O gráfico 2, referente ao esquema vacinal da segunda dose
mostra que 50.6% dos contatos intra-domiciliares são conside-
rados ignorados; 26.9% não receberam a segunda dose e apenas
22.4% apresentavam registros das duas doses de BCG.
GRAFICO 2: Distribuição da população do estudo segundo recebimento da 2º dose de BCG. Teresina (PI), 2007-2008.
Sim
22,4%
Ignorado
50,6%
Não
26,9%
Fonte: Prontuários de pacientes cadastrados no Programa de Hanseníase dos hospitais M. Castelo, Promorar e Parque Piauí.
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.47-52, Out-Nov-Dez. 2009.
49
Rodrigues, T. M. M. et al.
O gráfico 3 mostra que 50.6% dos registros em relação a avaliação dermatoneurológica dos contatos intra-domiciliares são ig-
norados; 31% realizaram a avaliação dermatoneurológica; e 18.4%
não realizaram avaliação.
GRÁFICO 3: Distribuição da população do estudo segundo avaliação dermatoneurológica dos contatos intra-domicilares. Teresina (PI),
2007-2008.
Sim
31,0%
Ignorado
50,6%
Não
18,4%
Fonte: Prontuários de pacientes cadastrados no Programa de Hanseníase dos hospitais M. Castelo, Promorar e Parque Piauí.
O gráfico 4 mostra a Classificação Operacional do caso índice
dos contatos intra-domiciliares predominando a classificação Pau-
cibacilar com 51.4% e com 48.6% os casos Multibacilares.
GRÁFICO 4: Distribuição da população do estudo segundo a Classificação Operacional do caso índice. Teresina (PI), 2007-2008.
Multibacilar
Paucibacilar
48,6%
51,4%
Fonte: Prontuários de pacientes cadastrados no Programa de Hanseníase dos hospitais M. Castelo, Promorar e Parque Piauí.
4
DISCUSSÃO DOS DADOS
Para melhor elucidação dos resultados encontrados optou-se por caracterizar os contatos intra-domiciliares de hanseníase
segundo: idade, sexo, estado vacinal, classificação operacional e
avaliação dermatoneurológica. Como também, analisar a cobertura vacinal com BCG desses contatos para hanseníase por se tratar
de uma doença infectocontagiosa e de importância epidemiológica significativa em termos de endemia.
De acordo com a tabela 1, de um total de 245 contatos intra-domiciliares, observa-se que 133 (54.29%) dos contatos são do
sexo feminino e 112 (45.71%) são do sexo masculino. Com relação
à faixa etária o maior número de contatos deu-se em idade igual
ou superior a 15 anos com 168 (68.57%); seguido com 51 (20.82%)
em menores de 15 anos; e em menor percentagem 26 (10.61%)
são ignorados.
50
Embora o estudo demonstre o maior percentual de contatos
intra-domiciliares na faixa etária em maiores de 15 anos, o Ministério da Saúde recomenda atenção especial na investigação de
contatos de pacientes menores de 15 anos, o que se justifica pela
possibilidade de transmissão recente e ativa. (BRASIL, 2008b).
Em relação aos dados referentes ao sexo, assemelham-se aos
encontrados em estudo de Vieira et al 2008, onde o percentual
maior (58.5%) de contatos foi também do sexo feminino. Em outro
estudo Brasil, 2005, que aborda a detecção de casos novos em relação ao gênero sempre houve predomínio das mulheres. Comenta
ainda que a proporção de casos novos em mulheres para o período
de 2000 a 2004 apresenta uma média anual em torno de 50,8%.
O estado vacinal, em relação à BCG, faz parte das recomendações do Ministério da Saúde para o controle dos contatos. O
gráfico 1 mostra a realização da vacina BCG, conforme anotações
encontradas nas fichas dos pacientes. Ressalta-se que em 50.2%
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.47-52, Out-Nov-Dez. 2009.
Cobertura Vacinal por BCG dos Contatos Intra-Domiciliares de Portadores de Hanseníase
não há informação sobre a administração da primeira dose de BCG,
entretanto, não se pode afirmar que esses indivíduos não receberam a vacina BCG, demonstrando uma possível falha de registro
nos prontuários em relação a aplicação da vacina. Observa-se que
49.8% possuem o registro da primeira dose da vacina no prontuário.
O gráfico 2, referente ao esquema vacinal da segunda dose
mostra que 50.6% dos contatos são considerados ignorados pois
não havia informação sobre a administração da segunda dose de
BCG, entretanto, não se pode afirmar que esses indivíduos não receberam a segunda dose vacina, o que ficou evidente mais uma
vez uma possível falha de registro nos prontuários; 26.9% não realizou a segunda dose e apenas 22.4% dos contatos apresentavam
registros das duas doses de BCG.
De acordo com a Portaria conjunta Nº125/2009 a vacina
BCG deve ser aplicada nos contatos intra-domiciliares sem presença de sinais e sintomas de hanseníase no momento da avaliação
dermatoneurologica, independente de serem contatos de casos
Paucibacilar ou Multibacilar. A aplicação da vacina BCG depende da
história vacinal e segue as recomendações: sem cicatriz, prescrever
uma dose; com uma cicatriz de BCG, prescrever uma dose; com
duas cicatrizes de BCG, não prescrever nenhuma dose. Destaca-se
que todo contato de hanseníase deve receber orientação de que a
BCG não é uma vacina específica para este agravo e neste grupo, é
destinada, prioritariamente, aos contatos intra-domiciliares. (BRASIL, 2009).
O gráfico 3 mostra que 50.6% dos registros em relação a avaliação dermatoneurológica dos contatos são considerados ignorados; 31% realizaram a avaliação dermatoneurológica; e 18.4% não
realizaram avaliação, sendo que mesmo com o registro da administração da segunda dose da vacina, não havia o registro da avaliação dermatoneurológica, e em alguns prontuários havia registro
da avaliação, mas não possuía a data da administração da segunda
dose. Esses dados podem ser reflexos da ausência dos contatos ao
serviço, para a avaliação dermatoneurológica quando convocados
após avaliação do caso índice, haja visto que é necessário uma
avaliação dos contatos intra-domiciliares para indicação ou não da
vacina, uma vez que podem ocorrer situações em que o contato
apresente sinais clínicos da doença.
Avaliando-se os dados apresentados nos gráficos constata-se a fragilidade dos serviços de saúde nos locais do estudo para
o controle dos contatos, tanto na busca ativa para avaliação dermatoneurológica, quanto no acompanhamento desses indivíduos
para novas avaliações e efetivação da vacina BCG.
A avaliação dermatológica visa identificar as lesões de pele
próprias da hanseníase, pesquisando a sensibilidade nas mesmas.
A alteração de sensibilidade nas lesões de pele é uma característica típica da hanseníase (DAMASCENO, NEIVA, COSTA, 2007). Assim,
recomenda-se o exame dermatoneurológico de todos os contatos
intra-domiciliares do caso diagnosticado. Depois do exame clínico
o contato será encaminhado para a aplicação da vacina BCG por via
intradérmica (ARAÚJO, 2003). A Classificação Operacional do caso
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.47-52, Out-Nov-Dez. 2009.
índice dos contatos que predominou foi a paucibacilar (51.4%) e os
casos multibacilares representam (48.6%).
As formas clínicas da hanseníase operacionalmente são
classificadas pelo número de lesões na pele que, em geral, estão
relacionadas à quantidade de bacilos. A forma paucibacilar-PB,
quando há até cinco lesões na pele e a carga de bacilos é baixa,
e multibacilar-MB, quando há mais de cinco lesões e alta carga
bacilar. O risco de adoecimento numa determinada área geográfica vai depender da quantidade de pessoas doentes com a forma
multibacilar sem tratamento. Os casos diagnosticados como paucibacilares não transmitem a doença, porque o organismo destrói
os bacilos, mas necessitam de maior atenção e acompanhamento
nos cuidados com as reações e desenvolvimento de incapacidades
físicas. (BRASIL, 2008a).
Nesse sentido, entendemos que o diagnóstico precoce pode
interferir na evolução da doença, uma vez que uma pessoa sem resistência que iria evoluir para uma forma MB, sendo diagnosticada
na fase inicial da doença, pode ser diagnosticada e tratada precocemente como PB, não evoluindo para as formas graves da doença.
O percentual mais elevado nas formas paucibacilares (51.4%)
foram similares aos encontrados por (10) em pesquisa que estudou
o perfil endêmico de hanseníase no município de Timon-MA no
período de janeiro a outubro de 2007 constataram que 58% dos
casos eram paucibacilares.
Os contatos dos doentes classificados como paucibacilares
têm menor risco de adoecer, se comparado aos contatos de multibacilares. Outro aspecto relevante é que pacientes multibacilares
tornam-se capazes de infectar outros indivíduos até mesmo antes
da expressão clínica da doença. Entretanto, independente da classificação operacional dos doentes, os contatos de pacientes com
hanseníase não tratada têm maior risco de adoecimento (OLIVEIRA
et al, 2007).
5
CONCLUSÃO
Os resultados dos dados da pesquisa, demonstram que
50.6% não apresentam registro e aplicação da vacina BCG referente
a segunda dose tornando este grupo vulnerável para adquirir a
doença.
Observou-se também, que existe uma possível falha de registro nos serviços de saúde quando os profissionais não realizam
o registro no prontuário da data de realização do exame dermatoneurológico e a data de administração da segunda dose da vacina
nos contatos, pois o não registro da avaliação e da administração
da segunda dose de BCG sugere que o acompanhamento e controle dos contatos pelo serviço, não estão sendo efetivos. Demonstrou
ainda que mesmo quando os contatos são encaminhados a sala de
vacina, muitos deles podem não estarem comparecendo, provavelmente por falta de conhecimento da importância de receberem
a vacina.
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de implementação
na organização e controle dos contatos intra-domiciliares de Han51
Rodrigues, T. M. M. et al.
seníase, como também, de intensificar a busca ativa dos contatos,
o registro dos dados e o controle da aplicação da segunda dose de
BCG, por meio da descentralização das ações em relação ao agravo.
Faz-se importante também, colocar as equipes da Estratégia Saúde
da Família como principal porta de entrada para a melhoria da qualidade da assistência e o controle da endemia, aliado a vigilância
epidemiológica, buscando identificar casos da doença, prevenindo
novas fontes de transmissão.
REFERÊNCIAS
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52
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.47-52, Out-Nov-Dez. 2009.
REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Sexualidade na terceira idade: uma revisão bibliográfica
The sexuality in the third age: a bibliographical revision
Sexualidad en la vejez: una revisión de la literatura
Jaqueline Carvalho e Silva
RESUMO
Enfermeira, Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI), Docente
da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e
Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI). Endereço: Rua
Padre Cirilo Chaves, n. 1515, apto. 603, Bairro dos
Noivos, CEP: 64045-310.
Raphaella Genuíno de Oliveira Breuel
Psicóloga. Discente da Pós-Graduação Latu sensu
em Saúde Mental da Faculdade de Saúde, Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI). Email:
[email protected]
Fernando José Guedes da Silva Júnior
O estudo objetivou levantar e analisar a produção técnico-científica sobre sexualidade do
idoso. Utilizou-se como abordagem metodológica a revisão bibliográfica na base de dados
Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), no período de
1998 a 2008. Analisaram-se vinte e quatro artigos, sendo categorizados pelo ano de publicação, cenário, unidade de federação, metodologia abordada e temática apresentada.
Como resultado foi observado que os anos de 2005 e 2007 foram os de maior produção
científica, destacando o Rio de Janeiro e São Paulo como os estados de maior publicação sobre a sexualidade na terceira idade, quanto ao cenário à prevalência de escolha foi
as Universidades Abertas da Terceira Idade (UNATI) e a abordagem metodológica foi a de
reflexão, sendo as temáticas agrupadas em duas categorias de análise, quais sejam: um
amplo significado da sexualidade na terceira idade e a sexualidade dos idosos enquanto
prática sexual propriamente dita.
Descritores: Envelhecimento. Sexualidade. Saúde.
Graduando em Enfermagem pela Faculdade
NOVAFAPI. Email: [email protected]
Maria do Livramento Fortes Figueiredo
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora da
Universidade Federal do Piauí. Email: [email protected]
ABSTRACT
The study it objectified to raise and to analyze the technician-scientific production on sexuality of the aged one. The bibliographical revision in the database was used as methodological boarding Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), in the period
of 1998 the 2008. Twenty and four articles, being categorized per the year of publication,
scene, unit of federacy had been analyzed, presented boarded and thematic methodology. As result was observed that the years of 2005 and 2007 had been of bigger scientific
production, detaching Rio de Janeiro and São Paulo as the publication states bigger on the
sexuality in the third age, how much to the scene to the prevalence of choice it was the
Open Universities Senior (OUS) and the methodological boarding was of reflection, being
the thematic ones grouped in two categories of analysis, which are: ample a meaning of
the sexuality in the third aged age and the practical sexuality of while the sexual one properly said.
Descriptors: Again. Sexuality. Health.
RESUMÉN
Submissão: 12.05.2009
Aprovação: 14.07.2009
El estudio que objectified para levantar y para analizar la producción técnico-científica en
la sexualidad de envejecida. La revisión bibliográfica en la base de datos fue utilizada como
metodológica que subía a la Literatura Americana Latina y del Caribe en Ciencias de Saúde
(LILACS), en el período de 1998 el 2008. Analizados, veinticuatro artículos, clasificados por
año de publicación, configuración, la unidad de la federación, y la metodología discuti-
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.53-58, Out-Nov-Dez. 2009.
53
Jaqueline Carvalho e Silva, J. C. et al.
do tema presentado. Los resultados mostraron que los años 2005
y 2007 fueron los más científica, destacando Río de Janeiro y Sao
Paulo y los estados con la mayor publicación sobre la sexualidad en
la vejez, como el paisaje, la prevalencia de la elección fue el Universidades Abiertas Senior (UNAS) y el enfoque metodológico es un
reflejo, con los temas agrupados en dos categorías de análisis, que
son: un sentido amplio de la sexualidad en la vejez y la sexualidad
de las personas mayores como la práctica sexual en sí.
Descriptores: Envelhecimento. Sexualidad. Salud.
1
INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)
considera-se idoso nos países em desenvolvimento a pessoa que
possui 60 anos ou mais de idade, constituindo-se a faixa etária que
mais cresce (BRASIL, 1999).
Segundo Vieira (1996), o processo de envelhecimento se inicia desde o nascimento, sendo então a velhice definida como um
processo dinâmico e progressivo no qual ocorrem modificações,
tanto morfológicas, funcionais, bioquímicas, como psicológicas,
que determinam a progressiva perda das capacidades de adaptação do indivíduo ao meio ambiente.
No Brasil o processo de envelhecimento vem acontecendo
de forma continua e progressiva, o que pode ser observado nos
dados correspondentes ao censo demográfico de 2005 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no qual a população de
idosos representa um contingente de quase 18 milhões de pessoas, o que corresponde a 10% da população brasileira, sendo que
nos próximos 20 anos o idoso poderá ultrapassar os 30 milhões, o
que deverá representar quase 13% da população (BRASIL, 2005).
Já no Piauí, segundo o IBGE existem 289.210 pessoas com
60 anos ou mais, correspondendo a 9,9% da população do Estado.
Portanto, no Piauí a população de idosos é crescente e acompanha
as projeções do país (BRASIL, 2000).
De acordo com Lyra e Jesus (2007), o envelhecimento é um
processo dinâmico, progressivo e natural da vida humana, que tem
início no nascimento e só termina com a morte. Entretanto, este
processo não é apenas unilateral, está relacionado a uma série de
modificações biopsicossociais.
Do ponto de vista biológico podem-se destacar principalmente com a chegada da velhice, as alterações na pele, que se
torna mais ressecada, quebradiça e pálida, perdendo o brilho natural da jovialidade, além dos cabelos que embranquecem e caem
com maior freqüência e facilidade não sendo mais naturalmente
substituídos. Em relação à parte fisiológica, as alterações na maioria
das vezes, podem ser observadas pela lentidão do pulso, do ritmo
respiratório, da digestão e assimilação dos alimentos, bem como
diminuição da ereção peniana, secura vaginal devido à diminuição
da lubrificação, dentre outros (MARCHI NETTO, 2004).
Podemos destacar no aspecto psicológico que um envelhecimento bem-sucedido refletiria na capacidade da pessoa idosa
54
em adaptar-se as perdas de vínculos, em manter uma satisfação familiar através de interações sociais, além de manter uma satisfação
na vida através da situação econômica vivenciada e proporcionada
pela aposentadoria (LYRA; JESUS, 2007).
Já em relação ao aspecto sócio-cultural, o desconhecimento
e à pressão cultural para com os idosos em relação à manutenção
da sua sexualidade, fazem com que eles experimentem um sentimento de culpa e de vergonha, chegando a perceberem-se como
anormais pelo simples fato de serem sexuados. Assim, os idosos
se distanciam e esquecem de seu próprio corpo, gerando um retraimento, perdendo o interesse e criando vergonha do seu desejo
(MENEZES; ROSSI; KUDE, 2005).
O que pode ser observado na contextualização do mesmo
autor, que explica a conseqüência da forma como a sociedade lida
com as transformações, provocando nos idosos sentimentos de
mágoa e desvalorização, por não possuírem mais o corpo da juventude, consequentemente a concepção de que não atraem mais o
parceiro, além de não apresentarem o desempenho desejado.
Estas condições podem contribuir para privá-los de experimentarem novas possibilidades de reinvenção e crescimento de
sua vida afetiva e sexual. Portanto, o envelhecimento para muitos
idosos está envolto de um sentimento de invalidez, como aqueles
que estão se despedindo da vida, pois se aposentou do trabalho,
de sua função e, portanto devem-se aposentar-se da vida.
É importante ressaltar que os sentimentos e sensações perduram com o passar dos anos, isto se refere à sexualidade que nesse estudo é entendida de acordo com Favarato et al. (2000, p. 199):
[...] a sexualidade abrange o conjunto de fenômeno da vida
sexual. Em geral, designa condutas e comportamentos relacionados à atividade sexual consciente e sua expressão funcional e afetiva; porém, apresenta extensa dimensão, visto
que abrange as esferas biológica, psicológica e social podendo assumir diferentes significados em cada campo do saber.
Portanto, a sexualidade na terceira idade está intimamente
relacionada a uma boa qualidade de vida, podendo ser exercida
das mais diversas maneiras, não somente ao ato físico e sexual,
mas sim, das mais diversas formas de carinhos, tais como, o beijo, o
abraço, a conversa, a dança, a auto-estima elevada, dentre outros.
Vasconcelos apud Catusso (2005) afirma que a sexualidade
do idoso está relacionada ao processo de intimidade e convivência
que há entre ambos e dificilmente esta intimidade e o ato sexual
acontecem aleatoriamente, havendo sim uma complementaridade
emocional e física do idoso, fazendo com que a sexualidade faça
parte da intimidade deste.
Assim, na perspectiva de construir um referencial sobre a sexualidade do idoso, propõe-se neste estudo realizar uma revisão
bibliográfica acerca deste tema na produção científica da base de
dados da Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS).
Partindo desse pressuposto, apresentou-se como questão
norteadora: Qual a produção técnico-científica relacionada à área
de saúde sobre Sexualidade do Idoso? Com base nesse questioRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.53-58, Out-Nov-Dez. 2009.
Sexualidade na terceira idade: uma revisão bibliográfica
namento, elaborou-se o seguinte objetivo: Levantar e analisar a
produção técnico-científica acerca do tema “Sexualidade do Idoso”.
Este estudo se justifica, tendo em vista a realidade atual dos
idosos, onde muitos desconhecem a manutenção da sexualidade
como um benefício para a própria saúde, prevalecendo idéias deturpadas, pois as orientações que muitos recebem do ambiente
social e familiar, bem como nos serviços de saúde, são freqüentemente mascaradas e biologicistas, em decorrência de tabus e
preconceitos presentes no imaginário coletivo da sociedade, que
estabelece barreiras para abordagem desta temática em qualquer
fase da vida, o que se torna ainda mais difícil quando se refere a
terceira idade
2
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica,
que de acordo com Gil (2002, p.175), “é desenvolvida a partir de
materiais já elaborados, ou seja, referenciais teóricos publicados,
permitindo ao investigador uma melhor abordagem da estrutura,
do processo e resultados”.
Conforme Lakatos e Marconi (2001, p.43) “é um procedimento formal com métodos de pensamentos reflexivos que requer um
tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a
realidade ou para descobrir verdades parciais”.
É importante explicitar que, para a elaboração do estudo foi
seguido o percurso metodológico sugerido por Lakatos e Marconi
(2006), que consiste nos seguintes passos: escolha do tema; elaboração do plano de trabalho; identificação; localização; compilação;
fichamento; análise, interpretação e redação.
O passo seguinte consistiu na identificação e localização das
fontes, com obtenção do material por busca eletrônica (compilação). Depois de adquirir as fontes de referência, partiu-se para organizar os dados em fichas. No decorrer da leitura, analisou-se criteriosamente o conteúdo bibliográfico, no intuito de esclarecer os
objetivos formulados, para que se tivesse uma interpretação exata.
A última etapa nesse processo foi a redação do trabalho.
A base de dados para a obtenção do material foi Literatura
Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), no
qual foi realizado um levantamento da produção científica relacionada à sexualidade no processo de envelhecimento, no período
de 1998 a 2008, utilizando os seguintes descritores: sexualidade e
envelhecimento. Na busca, realizada nos meses de agosto de 2009,
foram detectados 47 artigos relacionados ao tema.
Posteriormente a esta etapa foi feita a leitura minuciosa de
todos os artigos, na seqüencia delimitou-se as seguintes variáveis
para analises: enfoque temático, período de publicação, cenário da
pesquisa, metodologia aplicada e unidade da federação. Após este
enquadramento foram excluídos da pesquisa vinte e três artigos
por não atenderem aos critérios prévios de inclusão, ou seja, dez
destes foram publicados antes do ano de 1998 e treze não se enquadravam à temática.
Ao término do recorte dos dados, ordenamento do mateRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.53-58, Out-Nov-Dez. 2009.
rial e classificação por similaridade, as temáticas foram agrupadas
conforme semelhança de conteúdo, as quais foram distribuídas em
duas categorias de análise temática para serem discutidas e analisadas em seguida.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Embora a temática que aborda a sexualidade na terceira idade seja relativamente recente, muitos pesquisadores de diferentes
áreas tem demonstrado interesse em estudar essa fase de vida.
Nesse sentido, este estudo contemplou a produção científica mais
recente de diversas áreas da saúde sobre a sexualidade e o envelhecimento.
Para a realização da análise e discussão dos dados identificados após a leitura dos artigos, levou-se em consideração o cenário da pesquisa, o ano de publicação, a metodologia abordada,
a unidade de federação, bem como a temática. E partindo dessas
variáveis, foi possível destacar os seguintes resultados.
Das vinte e quatro produções científicas levantadas no banco de dados LILACS concernentes à temática da sexualidade e do
envelhecimento, destacam-se os anos de 2003 e 2008 como os de
menor produção, com apenas um artigo. Já os anos de 2005 e 2007
foram os de maior produção científica sobre esta problemática
com cinco e quatro artigos publicados respectivamente.
No que se refere ao cenário dos estudos publicados destacam-se as Universidades Abertas da Terceira Idade (UNATI) em três
artigos, revelando a importância desses locais que segundo Figueiredo (2005) tem por objetivo desenvolver atividades de caráter
sócio-educativo e artístico-cultural, as quais significam uma contribuição concreta para o processo de envelhecimento saudável e
também demonstra a discussão deste fenômeno fora do ambiente
hospitalar, o que foi evidenciado em apenas um dos estudos. Além
disso, o domicílio foi citado em um dos artigos como cenário da
pesquisa.
Em relação às abordagens metodológicas utilizadas das vinte
e quatro produções científicas, prevaleceu a pesquisa de reflexão
com um total de dez artigos, seguida da abordagem qualitativa
com seis, posteriormente da revisão bibliográfica com três e da
quantitativa com apenas dois artigo. Por fim, três artigos não apresentaram informação esclarecedora sobre a metodologia abordada
nos estudos.
De acordo com a análise dos dados coletados, as distribuições geográficas por unidade de federação, destacaram-se o Rio de
Janeiro e São Paulo como os estados de maior produção científica
com dez e sete artigos respectivamente. Já na região Nordeste apenas o estado do Rio Grande do Norte teve uma publicação. Deve-se
destacar que alguns países, tais como: Colômbia, Argentina e Cuba
também vêm desenvolvendo pesquisas com enfoque na sexualidade e no envelhecimento sendo representado com a publicação
de um artigo respectivamente.
No que se refere ao enfoque temático o mapeamento dos
artigos possibilitou o enquadramento da produção levantada em
55
Jaqueline Carvalho e Silva, J. C. et al.
duas categorias temáticas, sendo que na primeira o tema foi abordado a sexualidade na terceira idade abrangendo doze artigos. Já
a segunda categoria, limitou-se a estudar a sexualidade dos idosos como prática sexual propriamente dita, restringindo-se aos
aspectos fisiopatológicos da atividade sexual na terceira idade, com
o mesmo número de publicações.
Dessa forma, a sexualidade pode ser entendida de forma ampla, como um conjunto de valores e práticas corporais humanas,
algo que transcende a biologia e ao ato sexual propriamente dito,
estando relacionada com o íntimo de cada ser humano e suas relações com os outros, consigo mesmo e com o mundo.
A sexualidade dos idosos como prática sexual propriamente dita
A sexualidade na terceira idade
A problemática da aceitação por parte da sociedade em geral
em relação às práticas amorosas e suas diversas manifestações por
parte das pessoas idosas segundo Beauvoir (1990) tem ocorrido,
pois durante muito tempo tanto a história quanto a literatura passaram em silêncio pelos idosos e principalmente pela sexualidade
deste grupo populacional. Entretanto, sabe-se que a sexualidade
está presente em todas as pessoas, de todas as idades, sendo parte
elementar de sua identidade sexual e social.
Assim, a sexualidade esta presente desde o nascimento,
porém, esta é desfrutada de diferentes maneiras e de acordo com
cada etapa de nossas vidas. De acordo com Favarato et al. (2000) a
sexualidade pode ser entendida como um conjunto de fenômeno
da vida sexual, que está relacionado ao ato sexual propriamente
dito e sua expressão funcional e afetiva, sendo influenciado por fatores bio-psico-socio-cultural.
Sexualidade é, portanto, a soma de todos esses fatores, mas,
principalmente, a preservação do prazer em todos os seus aspectos. O prazer de ter um corpo saudável e a aceitação de seus limites,
de interagir em sociedade, da satisfação dos desejos, e principalmente o prazer de compartilhar e de aprender diariamente.
Portanto, a abordagem da sexualidade na terceira idade deve
ir além das informações sobre anatomia e funcionamento do corpo,
incluindo todas as formas de expressão e busca do prazer. Assim, os
idosos manifestam sua sexualidade através da dança, do ato teatral,
da música, da arte, do beijo, do abraço, dentre outras formas. Nesse
sentido, Bonança (2008) afirma que todos os seres humanos nascem sexuados, dando e recebendo amor durante todo o ciclo vital,
de maneira diferenciada sim, mas não menos prazerosa.
À luz desse contexto é que se insere a sexualidade dos idosos, que segundo Lyra e Jesus (2007) é expressa por um conjunto
de sentimentos, atitudes, comportamentos e vivências que vão
além do ato sexual, ou seja, manifestada de forma ampla, através
de carinho, amor, aconchego, acolhimento, beijo, abraço, conversa
e amizade.
Basso (1993) em seu estudo afirma que a sexualidade pode
ser entendida como forma de expressão integral dos seres humanos, vinculados aos processos biológicos, sociais e psicológicos
do sexo. Assim, a sexualidade influencia a forma de sentir todas as
coisas, tais como o amor, o prazer, a felicidade e a alegria. E perpassa todas as idades e estágios da vida do ser humano, indo desde
o nascimento até a morte, sendo vista como fonte de bem-estar
que enriquece a personalidade com várias repercussões familiares
e sociais.
56
Para compreender a problemática da sexualidade do idoso
fez-se necessário o entendimento sobre a fisiologia da resposta sexual e suas modificações com o processo de envelhecimento, bem
como considerar os possíveis fatores que afetam o comportamento
e a resposta sexual em qualquer idade, em destaque na terceira
idade.
De acordo com Risman (1995), o ciclo da resposta sexual tanto para homens quanto para mulheres se divide em quatro fases:
excitação, platô, orgasmo e resolução. A fase de excitação é iniciada
a partir do estímulo visual, psicológico, da paquera, dos beijos e das
carícias. Após essa fase, inicia-se a fase de platô, momento em que
as tensões sexuais aumentam e o casal pode atingir o orgasmo, denominado de terceira fase. A partir desse momento, parte-se para
fase de resolução. É importante ressaltar que este ciclo modifica-se
de indivíduo para indivíduo, podendo estar mais afetado na terceira idade, devido principalmente ao processo de envelhecimento.
Outros fatores que afetam a resposta sexual na velhice são
explicados por Vasconcellos et al., (2004) como sendo: a saúde física, na qual a presença de uma doença pode reduzir o interesse pela
sexualidade; os preconceitos sociais, que fazem os idosos acreditarem que não possuem mais sensualidade, atração e desejo sexual,
ficando com a auto-estima baixa; o desconhecimento sobre a própria sexualidade; e por fim o status conjugal no qual a sexualidade
está ligada à situação conjugal, podendo ser dificultada ou ausente
naqueles idosos que não possuem seus cônjuges.
À luz desse contexto, vale destacar as afirmações de Risman
(1995) sobre a interferência negativa dos fatores sociais e psicológicos no ciclo da resposta sexual. Nesse sentido, o fator social estaria
relacionado aos mitos, tabus e preconceito existentes no imaginário social em relação à manutenção da atividade sexual na terceira
idade. Enquanto que o psicológico estaria relacionado às questões
que abordam a auto-imagem dos idosos, que se julgam menos
atraentes e incapazes de se satisfazerem e de conquistarem seus
parceiros.
Assim, essa fase da vida para os idosos pode ser vivenciada
com dificuldade, pois ser velho em nossa sociedade está envolto de
mitos, tabus, e preconceitos, como por exemplo, o aparecimento
das incapacidades físicas, a impotência sexual, além da aposentadoria para o homem idoso, no qual o imaginário social acredita que
o mesmo perdeu sua identidade, o seu status de provedor e chefe
da família e, portanto perdeu sua sensualidade e sexualidade. Já
para a mulher idosa o preconceito social gira em torno da impossibilidade de procriar, passando a mesma a ser vista como assexuada.
Outra questão trazida por Risman (1995) para explicar as alRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.53-58, Out-Nov-Dez. 2009.
Sexualidade na terceira idade: uma revisão bibliográfica
terações na sexualidade dos idosos e as mudanças no ciclo de sua
resposta sexual refere-se à falta de um cônjuge e/ou companheiro
fixo, pois dependendo da formação educacional deste idoso, após
a morte, separação ou problemas com o seu parceiro, o mesmo
não procurará uma nova companhia para que a sua satisfação sexual seja mantida de forma adequada e satisfatória.
Lyra e Jesus (2007) acrescentam ainda que a falta de uma
educação sexual adequada durante a vida, permeada de constantes repressões sofridas principalmente durante a fase de descobrimento podem perdurar por toda a vida dificultando também o
exercício de uma sexualidade sadia. Entretanto, deve-se destacar
que o interesse e o desejo sexual nada têm a ver com a idade, podendo ser manifestado em qualquer etapa da vida do ser humano.
Corroborando com o estudo acima Almeida (2008) afirma
que o comportamento sexual é influenciado pela cultura, religião e
principalmente pela educação, determinando a forma como o idoso irá vivenciar a sua sexualidade. Atrelado a isso se verifica que os
idosos da atualidade são frutos de uma educação repressora, pois
a sua orientação sexual era oriunda dos conceitos e preconceitos
advindos de uma educação ainda mais repressora, submissa e severa, no qual o exercício da sexualidade deveria ser evitado por este
grupo populacional.
Portanto, para entender a sexualidade dos idosos, é necessário que se tenha conhecimento sobre o processo de envelhecimento, as mudanças que este processo traz para a sexualidade, bem
como uma visão holística, partindo do princípio de que a sexualidade compõe a totalidade do ser, não sendo somente algo biológico, mas que envolve os aspectos bio-psico-socio-culturais e que
está presente desde o nascimento acabando apenas com a morte.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo em questão observou-se que os anos de
2005 e 2007 foram os de maior produção do conhecimento científico sobre a sexualidade na terceira idade. Entretanto, destaca-se a
necessidade do desenvolvimento de novas pesquisas congêneres,
em face da incipiência de estudos já produzidos com este enfoque
temático.
No que tange os cenários dos estudos, destacamos que as
Universidades Abertas da Terceira Idade (UNATI) são o grande foco
quando se pensa em desenvolver pesquisas que relacionem a sexualidade e o envelhecimento. Esta realidade evidenciada justifica-se pela facilidade de acesso dos idosos neste espaço, bem como a
possibilidade de enriquecimento do estudo, uma vez que, os idosos inseridos neste contexto têm a oportunidade de conhecer e
discutir temas que abordem a velhice.
Sobre as abordagens metodológicas destacamos a prevalência das pesquisas de reflexão. De acordo com a análise dos dados
coletados, destacam-se o Rio de Janeiro e São Paulo como os estados de maior produção científica sobre o tema.
Nesse sentido, vale destacar que a vivência de uma experiência sexual na terceira idade pode representar a possibilidade de novas descobertas e grandes emoções dando sentido à vida. Assim,
a frequência da atividade sexual vai sendo substituída por novas
formas de contato que devem ser exploradas, quais sejam: o beijo,
o abraço, as carícias, o tocar e ser tocado, a intimidade, a sensação
de aconchego, o afeto, o amor, dentre outros.
Enfim, a partir do panorama desenhado pela análise das
produções científicas destacamos a contribuição deste estudo, na
perspectiva da ampliação da produção de conhecimento cientifico sobre o tema, bem como pela avaliação criteriosa da produção
literária, em diversas áreas, com o objetivo de apontar lacunas no
conhecimento e direcionar trabalhos futuros.
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Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.2, n.4, p.53-58, Out-Nov-Dez. 2009.
REVISTA INTERDISCIPLINAR - NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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tabelas, fotografias etc). As tabelas e figuras devem ser limitadas a 5 no
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Nas pesquisas que envolvem seres humanos, os autores deverão
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Nacional de Saúde de 10 de outubro de 1996.
FORMA E PREPARO DO MANUSCRITO
A Revista Interdisciplinar recomenda que os trabalhos sigam as
orientações das Normas da ABNT para elaborar lista de referências e indicá-las junto às citações.
Os manuscritos deverão ser encaminhados em três cópias impressas e uma cópia em CD com arquivo elaborado no Editor de Textos MS
Word.
Página de identificação: título e subtítulo do artigo com máximo de 15
palavras (conciso, porém informativo) nos três idiomas (português, inglês e espanhol); nome do(s) autor(es), máximo 06 (seis) indicando em nota de rodapé
o(s) título(s) universitário(s), cargo(s) ocupado(s), nome da Instituição aos quais
o trabalho deve ser atribuído, Cidade, Estado e endereço completo incluindo o
eletrônico do pesquisador proponente.
Resumos e Descritores: o resumo em português, inglês e espanhol,
deverá conter de 100 a 200 palavras em espaço simples, com objetivo da
pesquisa, metodologia, principais resultados e as conclusões. Deverão ser
destacados os novos e mais importantes aspectos do estudo. Abaixo do
resumo, incluir 3 a 5 descritores alusivos à temática. Apresentar seqüencialmente os três resumos na primeira página incluindo títulos e descritores
nos respectivos idiomas.
Ilustrações: as tabelas devem ser numeradas consecutivamente
com algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto. Os
quadros são identificados como tabelas, seguindo uma única numeração
em todo o texto. O mesmo deve ser seguido para as figuras (fotografias,
desenhos, gráficos, etc). Devem ser numeradas consecutivamente com
59
algarismos arábicos, na ordem em que foram citadas no texto.
Notas de Rodapé: deverão ser indicadas em ordem alfabética, iniciadas a cada página e restritas a no máximo 03 notas de rodapé por artigo.
Depoimentos: seguir as mesmas regras das citações, porém em itálico. O código que representa cada depoente deve ser apresentado entre
parênteses e sem grifo.
tanásia In: _____.Distanásia: até quando prolongar a vida?
São Paulo: Loyola, 2001. p.67-93.
Congressos, simpósios, jornadas, etc.
CONGRESSO BRASILEIRO DE EPIDEMIOLOGIA, 5., 1999, Rio
de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:ABRASCO, 1999.
Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, jornadas, etc.
Citações no texto: Nas citações, as chamadas pelo sobrenome do
autor, pela instituição responsável ou título incluído na sentença devem
ser em caixa-alta baixa, e quando estiverem entre parênteses caixa-alta. Ex.:
SOUZA, G. T. Valor proteíco da laranja. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO. 3., 2000, São Paulo. Anais...São Paulo:
Associação Brasileira de Nutrição. 2000. p.237-55.
Exemplos:
Dissertações, Teses e Trabalhos acadêmicos
Conforme Frazer (2006), a música sempre foi o ponto central na vida
de Madame Antoine
“No caso de Madame Antoine, o gosto pela música foi, desde a infância, central em sua vida.” (FRASER, 2006, p.37)
As citações diretas, no texto, de até três linhas, devem estar contidas
entre aspas duplas. As aspas simples são utilizadas para indicar citação no
interior da citação. Ex:
“Ele se conservava a estibordo do passadismo, tão longe quanto
possível” (CONRAD, 1988, p.77)
As citações diretas, no texto, com mais de três linhas, devem ser
destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, espaço simples, com
letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas. No caso de documentos datilografados, deve-se observar apenas o recuo. Ex:
A sete pessoas, Daniel Seleagio e sua mulher Giovanni Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel e
Paulo Reynaud, encheram a boca de cada um com pólvora,
a qual, inflamada, fez com que suas cabeças voassem em
pedaços (FOX, 2002, p.125)
LISTAGEM DAS REFERÊNCIAS - EXEMPLOS
Livros como um todo
SILVA, A. F. M. Genética humana. 7.ed. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos, 2005. 384p.
BUENO, M.S.S. O salto na escuridão: pressupostos e desdobramentos das políticas atuais para o ensino médio. 1998 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília.
Publicações periódicas consideradas no todo (relativo à coleção)
CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA. Rio de janeiro: Fiocruz,
1965- . Semestral
Artigo de publicações periódicas
LIMA, J. Saúde pública: debates. Revista Saúde. Rio de Janeiro, v.18, n.2, p.298-301, nov.1989.
Partes de revista, boletim, etc.
Inclui volume, fascículo, números especiais e suplementos, entre
outros, sem título próprio. Ex:
VEJA. São Paulo: Abril, n.2051, 12 mar. 2008. 98p.
Artigo de Jornal
ALVES, Armando. Minha Teresina não troco jamais. Meio
Norte, Teresina , 16 ago. 2006. Caderno 10, p. 16.
Legislações - Constituição
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995
Capítulo de livro
Leis e decretos
a.
b.
60
Autor do capítulo diferente do responsável pelo livro no
todo.
ANJOS, M. F. dos. Bioética: abrangência e dinamismo. In:
BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de; PESSINI; Leo. Bioética: alguns desafios. São Paulo: Loyola, 2001. p.17-34.
Único autor para o livro todo – Substitui-se o nome do autor
por um travessão de seis toques após o “In.”:
PESSINI, L. Fatores que impulsionam o debate sobre a dis-
BRASIL., Decreto n.89.271, de 4 de janeiro de 1984. Dispõe
sobre documentos e procedimentos para despacho de aeronave em serviço internacional. Lex: Coletânea de Legislação
e Jurisprudência. São Paulo, v.48,p.3-4, jan./mar. 1984.
Documentos em Meio Eletrônico
Artigos de periódicos (revistas, jornais, boletim)
SOUZA. A. F. Saúde em primeiro lugar. Saúde em Foco,
Campus, V.4 n.33. jun.2000. Disponível em: www.sus.inf.br/
frame-artig.html. Acesso em: 31 jul.2000.
XIMENES, Moacir. O que é uma biblioteca pública. Diário do
Povo do Piauí, Teresina, 11 mar. 2008. Disponível em: http://
www.biblioteca.htm. Acesso em: 19 mar. 2008.
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According to Frazer (2006), music was always a main part of Madame Antoine’s life.
“In the case of Madame Antoine, her love of music was, since childhood, a main part of her life” (FRASER, 2006, p.37)
Direct quotes of up to three lines in the text, should be between
double quotation marks. Singular quotation marks are to be used for quotes within quotes. Ex:
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a left margin of 4 cm, be single spaced, with a smaller sized letter than the
text, and without quotation marks, in the case of typed documents, the
margin is all that must be done. Ex:
Congresses, symposiums, etc.
CONGRESSO BRASILEIRO DE EPIDEMIOLOGIA, 5, 1999, Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABRASCO, 1999.
Work presented in congresses, symposiums, etc
SOUZA, G. T. Valor proteíco da laranja. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO. 3., 2000, São Paulo. Anais...São Paulo:
Associação Brasileira de Nutrição. 2000. p.237-55.
Dissertations, Theses and Academic papers.
BUENO, M.S.S. O salto na escuridão: pressupostos e desdobramentos das políticas atuais para o ensino médio. 1998 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília. 5
Periodical Publications considered as one.
CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA. Rio de janeiro: Fiocruz,
1965- . Semestral
Publication of a periodical article
LIMA, J. Saúde pública: debates. Revista Saúde. Rio de Janeiro, v.18, n.2, p.298-301, nov.1989.
Parts of a magazine, bulletin, etc.
Include volume, number, and special editions, without a specific title,.:
VEJA. São Paulo: Abril, n.2051, 12 mar. 2008. 98p.
The seven people, Daniel Seleagio and his woman Giovanni
Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel
and Paulo Reynaud, filled their mouths with gunpowder,
which when lit, blew their heads apart. (FOX, 2002, p.125)
REFERENCE LISTS - EXAMPLES
Articles from Journals
ALVES, Armando. Minha Teresina não troco jamais. Meio
Norte, Teresina , 16 ago. 2006. Caderno 10, p. 16.
Legislations – Constitution
Entire Books
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995
SILVA, A. F. M. Genética humana. 7. ed. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos, 2005. 384p.
The Chapter of a Book
a.
b.
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The author of the chapter not being the author of the book
ANJOS, M. F. dos. Bioética: abrangência e dinamismo. In:
BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de; PESSINI; Leo. Bioética: alguns desafios. São Paulo: Loyola, 2001. P.17-34.
The book having only one author – substitute the name of
the author with an underline of six spaces after the word IN:
PESSINI, L. Fatores que impulsionam o debate sobre a distanásia In: _____.Distanásia: até quando prolongar a vida?
São Paulo: Loyola, 2001.p.67-93.
Laws and Decrees
BRASIL, Decreto n.89.271, de 4 de janeiro de 1984. Dispõe
sobre documentos e procedimentos para despacho de aeronave em serviço internacional. Lex: Coletânea de Legislação
e Jurisprudência. São Paulo, v.48,p.3-4, Jan./mar. 1984.
Documents in the Electronic Medium.
Articles in periodicals (magazines, journals)
SOUZA. A. F. Saúde em primeiro lugar. Saúde em Foco, Campus, V.4 n.33. jun.2000. Disponível em: HYPERLINK “http://
www.sus.inf.br/frame-artig.html”
www.sus.inf.br/frame-
-artig.html. Acesso em: 31 jul.2000.
XIMENES, Moacir. O que é uma biblioteca pública. Diário do
Povo do Piauí, Teresina, 11 mar. 2008. Disponivel em http
www.biblioteca.htm. Accesso em 19. mar. 2008.
TERMS OF RELEASE
Each author should read and sign the documents (1) Declaration of
Responsibility and) Transference of Copyright
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Title of the manuscript: ________________________________________________________________________________
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I certify that I participated sufficiently enough in this research to sign a term of release making the content of my work
public.
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I certify that the article is an original paper and was not, nor is being considered to be published in any form, printed or
electronic
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TRANSFER OF COPYRIGHT:
I declare, in the case of my article being accepted, to agree to the copyright being signed over exclusively to the magazine, Revista Interdisciplinary.
Signature of the author (s) Date:
SHIPPING OF MANUSCRIPTS
Three printed copies of the manuscripts should be sent to Revista Interdisciplinary, together with a copy on CD to the following address:
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Teresina – Piauí - Brasil
CEP: 64057-100
Telefone: + 55 (86) 2106-0726
Fax: + 55 (86) 2106-0740
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REVISTA INTERDISCIPLINAR - NORMAS PARA PUBLICACIÓN
CATEGORIAS DE ARTICULOS
de los derechos autorales y exclusividad de la publicación (ver anexo).
La Revista Interdisciplinar publica articulos originales, revisiones,
relatos de casos, reseñas y página del estudiante, en las áreas de la salud,
ciencias humanas y tecnológicas.
Los trabajos serán evaluados por el Consejo Editorial y por la Comisión de Publicación. Los trabajos recusados no serán devueltos y los autores
receberán parecer sobre los motivos de la recusa.
Articulos originales: son contribuciones destinadas a divulgar resultados de investigación original inédita. Digitados (Times New Roman
12) e impresos en hojas de papel A4 (210 X 297 mm), con espacio duplo,
margen superior y izquierda de 3,0cm e inferior y derecha de 2,0 cm, haciendo un total mínimo de 15 páginas y máximo de 20 páginas para los
articulos originales (incluyendo en negro y blanco las ilustraciones, gráficos, tablas, fotografias etc). Las tablas y figuras deben ser limitadas a 5 en
el conjunto. Figuras serán aceptas, desde que no repitan datos contidos en
tablas. Se recomenda que el número de referencias bibliográficas sea el
máximo 20. La estructura es la convencional, conteniedo introdución, metodología, resultados y discusión y conclusiones o consideraciones finales.
Todos los conceptos, ideas y presupuestos contidos en las materias
publicadas por este periódico son de intera responsabilidad de sus autores.
Revisiones: evaluación crítica sistematizada de la literatura o reflexión sobre determinado asunto, debendo contener conclusiones. Los procedimientos adoptados y la delimitación del tema deben estar inclusos. Su
extensión se limita a 15 páginas.
Relatos de casos: estudios evaluativos, originales o notas prévias
de pesquisa conteniedo datos inéditos y relevantes. La presentación debe
acompañar las mismas normas exigidas para articulos originales, limitandose a 5 páginas.
Reseñas: reseña crítica de la obra, publicada en los últimos dos
años, limitandose a 2 páginas.
Página del Estudiante: espacio destinado a la divulgación de estudios desarrollados por alumnos de la graduación, con explicitación del
orientador en nota de rodapie. Su presentación debe acompañar las mismas normas exigidas para articulos originales, con extensión limitada a 5
páginas.
Todos los manuscritos deverán venir acompañados de ofício identificando el nombre de los autores, titulación, lugar de trabajo, cargo atual,
dirección completa, incluyendo el eletrónico e indicación de uno de los
autores como responsable por la correspondencia.
La aceptación para publicación está condicionado a la transferencia
En las pesquisas que envolucran seres humanos, los autores deberán dejar claro se el proyecto fue aprovado por el Comité de Ética en
Pesquisa (CEP), así como el proceso de obtención del consentimiento libre
y aclarado de los participantes de acuerdo con la Resolución nº 196 del
Consejo Nacional de Salud de 10 de octubre de 1996.
FORMA Y PREPARO DEL MANUSCRITO
La Revista Interdisciplinar recomenda que los trabajos sigan las
orientaciones de las Normas de la ABNT para elaborar lista de referencias e
indicarlas junto a las citaciones.
Los manuscritos deverán ser encamiñados en tres copias impresas y
una copia en CD con arquivo elaborado en el Editor de Textos MS Word.
Página de identificación: título y subtítulo del articulo con máximo
de 15 palabras (conciso, pero informativo) en tres idiomas (portugués, inglés y español); nombre de lo(s) autor(es), máximo 06 (seis) indicando en
nota de rodapié lo(s) título(s) universitario(s), cargo(s) ocupado(s), nombre
de la Institución a los cuales el trabajo debe ser atribuído, Ciudad, Estado
y dirección completos incluyendo el eletrónico del pesquisador proponiente.
Resumenes y Descriptores: el resumen en portugués, inglés y
español, deberá contener de 100 a 200 palabras en espacio simples, con
objetivo de la pesquisa, metodología, principales resultados y las conclusiones. Deverán ser destacados los nuevos y más importantes aspectos del
estudio. Abajo del resumen, incluir 3 a 5 descriptores alusivos a la temática. Presentar secuencialmente los tres resumenes en la primera página
incluyendo títulos y descriptores en los respectivos idiomas.
Ilustraciones: las tablas deben ser numeradas consecutivamente
con algarismos arábicos, en el orden en que fueron citadas en el texto. Los
cuadros son identificados como tablas, siguiendo una única numeración
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en todo el texto. El mismo debe ser seguido para las figuras (fotografias,
dibujos, gráficos, etc). Deben ser numeradas consecutivamente con algarismos arábicos, en el orden en que fueron citadas en el texto.
Notas de Rodapie: deverán ser indicadas en ordem alfabética, iniciadas a cada página y restrictas al máximo de 03 notas de rodapie por
artículo.
Testimonios: seguir las mismas reglas de las citaciones, pero en itálico. El código que representa cada depoente debe ser presentado entre
parentesis y sin grifo.
b.
Único autor para todo el libro – Se sustituye el nombre del
autor por una raya de seis toques después del “In.”:
PESSINI, L. Fatores que impulsionan el debate sobre la distanásia In: _____.Distanásia: ¿hasta cuando prolongar la vida?
São Paulo: Loyola, 2001. p.67-93.
Congresos, simposios, jornadas, etc.
CONGRESO BRASILIERO DE EPIDEMIOLOGÍA, 5., 1999, Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:ABRASCO, 1999.
Trabajos presentados en congresos, simposios, jornadas, etc.
Citaciones en el texto: En las citaciones, las llamadas por el sobrenombre del autor, por la institución responsable o título incluso en la
sentencia deven ser en caja-alta baja, y cuando estea entre parentesis caja-alta. Ex.:
Ejemplos:
Conforme Frazer (2006), la música siempre fue el punto central en
la vida de Madame Antoine
“En el caso de Madame Antoine, el gusto por la música fue, desde la
infancia, central en su vida.” (FRASER, 2006, p.37)
Las citaciones directas, en el texto, de hasta tres líneas, deben estar
contenidas entre aspas duplas. Las aspas simples son utilizadas para indicar
citación en el interior de la citación. Ex:
“Él se conserbaba a estibordo del pasadismo, tan lejos cuanto posíble” (CONRAD, 1988, p.77)
Las citaciones directas, en el texto, con más de tres línas, deben ser
destacadas con recuo de 4 cm de la margen izquierda, espacio simples,
con letra menor que la del texto utilizado y sin las aspas. En el caso de
documentos datilografados, se debe observar sólo el recuo. Ex:
Las siete personas, Daniel Seleagio y su mujer Giovanni Durant, Lodwich Durant, Bartolomeu Durant, Daniel Revel y
Paulo Reynaud, rellenaron la boca de cada un con pólvora, la
cual, inflamada, hizo con que sus cabezas volasen en pedazos (FOX, 2002, p.125).
Listagen de las Referências - Ejemplos
Libros como todo
SILVA, A. F. M. Genética humana. 7.ed. Rio de Janeiro: Libros
Técnicos y Científicos, 2005. 384p.
SOUZA, G. T. Valor proteíco de la naranja. In: CONGRESSO
BRASILIERO DE NUTRICIÓN. 3., 2000, São Paulo. Anais...São
Paulo: Asociación Brasiliera de Nutrición. 2000. p.237-55.
Disertaciones, Tesis y Trabajos académicos
BUENO, M.S.S. El salto en la oscuridad: presupuestos y desdobramientos de las políticas atuales para la enseñanza media.
1998 f. Tesis (Doctorado en Educación) – Facultad de Filosofia y Ciencias, Universidad Estatal Paulista, Marília.
Publicaciones periódicas consideradas en el todo (relativo a la
colección)
CUADERNOS DE SALUD PÚBLICA. Rio de janeiro: Fiocruz,
1965-. Semestral
Articulos de publicaciones periódicas
LIMA, J. Salud pública: debates. Revista Salud. Rio de Janeiro,
v.18, n.2, p.298-301, nov.1989.
Partes de la revista, boletín, etc.
Incluye volumen, fascículo, números especiales y suplementos, entre otros, sin título próprio. Ex:
VEJA. São Paulo: Abril, n.2051, 12 mar. 2008. 98p.
Artículo de Periodico
ALVES, Armando. Mi Teresina no cambio jamás. Meio Norte,
Teresina , 16 ago. 2006. Cuaderno 10, p. 16.
Legislaciones - Constitución
BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995
Capítulo de libro
Leyes y decretos
a.
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Autor del capítulo diferente del responsable por todo el libro.
ANJOS, M. F. dos. Bioética: abrangencia y dinamismo. In:
BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de; PESSINI; Leo. Bioética: algunos desafios. São Paulo: Loyola, 2001. p.17-34.
BRASIL. Decreto n.89.271, de 4 de enero de 1984. Dispõe sobre documentos y procedimientos para despacho de aeronave en servicio internacional. Lex: Coletanea de Legislación
y Jurisprudencia. São Paulo, v.48,p.3-4, ener./mar. 1984.
Documentos en Meio Eletrónico
Artículos de periódicos (revistas, periodicos, boletín)
SOUZA. A. F. Salud en primero lugar. Saúde em Foco, Campus, V.4 n.33. Jun.2000. Disponible en: www.sus.inf.br/frame-artig.html. Aceso en: 31 jul.2000.
XIMENES, Moacir. Qué es una biblioteca pública. Diário do
Povo do Piauí, Teresina, 11 mar. 2008. Disponible en: http://
www.biblioteca.htm. Aceso en: 19 mar. 2008.
Termo de Responsabilidad
Cada autor debe leer y asinar los documentos (1) Declaración de Responsabilidad y (2) Transferencia de Derechos Autorales.
Primer autor: _______________________________________________________________________________________
Título del manuscrito: _________________________________________________________________________________
Todas las personas relacionadas como autores deben asinar declaración de responsabilidad en los termos abajo:
•
Certifico que participé suficientemente del trabajo para tornar pública mi responsabilidad por el contenido;
•
Certifico que el artículo representa un trabajo original y que no fue publicado o está siendo considerado para publicación
en otra revista, que sea en el formato impreso o en el eletrónico;
Asinatura de lo(s) autor(es) Fecha: ________________________________________________________________________
Transferencia de Derechos Autorales
Declaro que en caso de aceptación del artículo, concordo que los derechos autorales a él referentes se tornaron propiedad exclusiva de la Revista
Interdisciplinar.
Asinatura do(s) autor(es) Fecha: _________________________________________________________________________
Envio de manuscritos
Los manuscritos deben ser direccionados para la Revista Interdisciplinar, en 3 vias impresas, juntamente con el CD ROM gravado para la siguiente
dirección:
Revista Interdisciplinar
Rua Vitorino Orthiges Fernandez, 6123 Bairro Uruguai
Teresina – Piauí - Brasil
CEP: 64057-100
Telefone: + 55 (86) 2106-0726
Fax: + 55 (86) 2106-0740
E-mail: [email protected] 69
REVISTA INTERDISCIPLINAR
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Caro leitor: Para ser assinante da Revista Interdisciplinar, destaque esta folha, preencha-a e envie por correio ou fax, anexando cópia do depósito
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