Live Endoscopy Events (LEE): European Society of

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Live Endoscopy Events (LEE): European Society of
Live Endoscopy Events (LEE): European Society of
Gastrointestinal Endoscopy Position Statement – Update 2014.
O presente texto tem como objetivo resumir a diretriz da Sociedade
Europeia de Endoscopia Gastrointestinal (ESGE) que traz orientações para a
organização de curso ao vivo em endoscopia.
Live Endoscopy Events (LEE): European Society of
Gastrointestinal Endoscopy Position Statement – Update 2014.
Mario Dinis Ribeiro, Cesare Hassan, Alexander Meining, Lars Aabakken, Paul
Fokkens
Endoscopy 2015; 47: 80-84.
Introdução
A Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) irá reeditar o
seu curso ao vivo” de endoscopia na Semana Brasileira do Aparelho Digestivo
(SBAD) de 2015, em Curitiba. Trata-se de uma boa notícia a todos os Sobedianos
e mais uma oportunidade de crescimento para a endoscopia brasileira.
Recentemente, a Sociedade Européia de Endoscopia Gastrointestinal (ESGE)
publicou um manuscrito contendo uma série de diretrizes que devem orientar a
organização de um curso ao vivo em endoscopia. Esta diretriz publicada em 2015
é uma atualização do primeiro guideline publicado em 2003 pela mesma
Sociedade. A leitura desta diretriz é obrigatória para aqueles que organizam
cursos ao vivo e certamente irá interessar também aos endoscopistas que
costumam frequentar estes eventos. O presente texto tem como objetivo resumir
a diretriz da ESGE, destacando seus pontos principais, mesclando com a visão
pessoal do autor, baseada na experiência acumulada participando da
organização de cursos ao vivo em Belo Horizonte no Instituto Alfa de
Gastroenterologia.
Comentários
O aprendizado de procedimentos intervencionistas em medicina,
incluindo cirurgias endoscópicas, requer o desenvolvimento de duas
propriedades principais, dentre outras: conhecimento médico e habilidade
técnica. A combinação destes dois fatores é crucial para obtenção de um
desfecho favorável após uma intervenção endoscópica ou cirúrgica. A
demonstração ao vivo de um procedimento médico conduzido por um expert em
tempo real é uma das principais formas de transmissão de conhecimento na
Medicina. Embora exista certa controvérsia na literatura mundial acerca do
papel do curso ao vivo como método de ensino, em particular devido a alguns
conflitos éticos que podem permear a sua estruturação, várias sociedades de
especialidades apoiam este método de ensino, destacando-se as sociedades de
Urologia, Cirurgia Laparoscópica, Endovascular e Endoscopia. A Endoscopia
ocupa posição de destaque no cenário mundial, com grande número de cursos ao
vivo organizados em distintos países anualmente. Certamente a expansão dos
cursos ao vivo de endoscopia foi facilitada pelas características próprias da
especialidade, que baseia-se em imagens produzidas durante o exame
endoscópico e que são transmitidas para um monitor, e deste podem ser
distribuídas facilmente mundo afora, atingindo milhares de especialistas e
médicos em formação.
No campo endoscópico o primeiro curso ao vivo surgiu na França em
1981 organizado pelo Prof. Claude Liguory e posteriormente pelo Prof. Michel
Cremers em Bruxelas no ano de 1983. O curso de Bruxelas permanece em seu
formato anual até a presente data, possivelmente se constituindo o curso de
endoscopia mais longevo existente no mundo. Importante destacar que no final
dos anos 80 e início dos anos 90, com o surgimento da cirurgia laparoscópica,
ocorreu uma rápida disseminação dos cursos ao vivo de cirurgia em muitos
países, inclusive no Brasil. Tal fenômeno certamente foi um dos principais
fatores responsáveis pela expansão e aprendizado da cirurgia laparoscópica
mundo afora. Fenômeno semelhante pode estar ocorrendo com a cirurgia
endoscópica.
Alguns princípios fundamentais dos cursos ao vivo foram elencados na
Diretriz da ESGE e que nosso grupo tem procurado seguir fielmente nas doze
edições do Workshop Internacional de Endoscopia organizado pelo Instituto Alfa
de Gastroenterologia:
1- Objetivo didático do curso ao vivo
Oferecer aos expectadores a oportunidade de observar experts
atuando em tempo real, experimentando dificuldades, demonstrando
como superá-las e desta forma delimitando os limites da endoscopia.
Todo procedimento deve ser acompanhado de tempo suficiente para
discussão quanto à sua indicação, contra-indicação, limites e alternativas.
Do ponto de vista didático, cumpre admitir uma crítica pertinente que se
faz ao curso vivo como método de ensino. Sua deficiência principal
consiste que o maior foco geralmente se concentra no intraoperatório e
frequentemente os expectadores não tem a oportunidade de acompanhar
o manejo pós-operatório e tampouco tomam conhecimento de eventos
adversos que ocorrem após o procedimento, e nem como solucioná-los.
2- A sede do curso ao vivo
Deve ser um centro terciário com bom volume de casos,
acostumado a realizar os procedimentos avançados que serão
demonstrados. A estrutura do centro deve possuir o mínimo de três salas
preparadas para transmissão, e que sejam espaçosas o suficiente para
acomodar os profissionais envolvidos no ato médico, os equipamentos e a
equipe de filmagem. Necessita contar com departamento de
anestesiologia para oferecer suporte anestésico aos pacientes do evento.
Ademais deve contar com apoio institucional de modo a facilitar a
internação dos pacientes do curso e assegurar retaguarda cirúrgica para
tratamento imediato das complicações. Um aspecto importante é que a
sede deve estabelecer uma rotina organizada para o bom andamento das
atividades do curso ao vivo, sem atraso no início dos procedimentos,
limitando o trânsito de pessoas aos profissionais envolvidos no ato, e
especialmente sem submeter o operador a stress psicológico ou pressão
de tempo.
3- Seleção dos experts
Trata-se de um ponto crítico para o sucesso do evento. Devem ser
selecionados convidados com credibilidade científica inquestionável e
que possuam a capacidade didática de executar o procedimento e
simultaneamente ensinar, sem modificar seu comportamento usual. Tudo
isto feito com frequência em outro idioma. Tais profissionais de
excelência são raros no cenário internacional, e consequentemente muito
disputados e com agenda concorrida. O ideal é que o expert convidado
receba as informações clínicas detalhadas dos casos com antecedência e
apresente sua concordância bem como orientações quantos aos
equipamentos e acessórios para execução do caso.
4- Seleção dos procedimentos e casos:
Dois princípios fundamentais devem ser enfatizados neste quesito.
O primeiro princípio é que o curso deve priorizar a objetivo educacional
e didático e não a dificuldade técnica ou o desafio ao operador. Devem ser
evitados casos insolúveis ou demasiado complexos, bem como pacientes
com co-morbidades graves, recordando que o tempo cirúrgico e
anestésico do curso ao vivo costuma ser superior ao de um procedimento
semelhante feito fora deste ambiente, portanto pacientes graves
definitivamente não se constituem bons candidatos. O recrutamento de
menores ou incapazes deve ser feito com cautela e tomando todas as
precauções éticas e legais a fim de garantir a proteção a estes pacientes.
O segundo princípio fundamental é que a prioridade máxima do curso é
garantir a segurança do paciente, assegurando que o mesmo receba o
tratamento mais indicado para seu problema de saúde e tenha preservada
a sua confidencialidade. O paciente deve contar com um responsável
médico membro do staff local que deverá cuidar de todos os aspectos
relacionados ao preparo pré-operatório e os cuidados após a cirurgia. A
instituição deve possuir um plano de contingência delineado para o
tratamento de complicações graves que possam ocorrer durante o evento,
com salas disponíveis no centro cirúrgico e leitos reservados na UTI.
Todos os pacientes devem ser amplamente esclarecidos que farão parte
de um curso ao vivo e devem assinar um termo de consentimentos livre e
esclarecido autorizando a transmissão das imagens. O paciente deve
receber um tratamento diferenciado do ponto de vista médico, contudo
sem ônus ou tampouco compensação financeira. Deve ser evitado o
recrutamento de pacientes no último momento ou com avaliação préoperatória incompleta.
5- Responsabilidade da equipe local organizadora do curso ao vivo.
Um curso ao vivo bem-sucedido é resultado de um trabalho em
equipe bem feito, com tarefas divididas e bem definidas entre os
membros da equipe, sem espaço para protagonismos individuais, e com a
participação ativa de todos os envolvidos (médicos preceptores,
residentes, pessoal de enfermagem e administrativo, apoio anestésico e
cirúrgico, etc). A equipe deve cuidar da logística de transmissão
contratando equipe de profissionais qualificados, selecionar com critério
os casos de modo a formular uma grade diversificada contendo
procedimentos rotineiros e outros de maior complexidade, oferecer todo
o apoio e atenção aos experts convidados e preparar com antecedência os
materiais e equipamentos. Neste tópico a equipe organizadora deve
policiar o marketing excessivo que possa colocar em cheque a
credibilidade do curso. Ademais o grupo precisa selecionar bem os
moderadores do auditório e o assistente da sala que trabalhará com o
operador. Cabe aos moderadores do auditório estabelecer uma boa
interlocução com o operador e tão, ou mais importante, facilitar e
estimular a interação e participação da plateia. Polêmicas excessivas e
exposição do demonstrador a situações de constrangimento devem ser
evitadas a todo custo.
Compete ao assistente da sala intermediar o diálogo entre o
examinador e a equipe médica/enfermagem e com os moderadores do
auditório. No momento que o operador está concentrado no ato médico, o
assistente da sala deve conduzir os comentários. Em nosso serviço o
assistente da sala é sempre um membro do staff, que representa a
instituição durante o procedimento e tem vínculo com o paciente. A este
profissional é concedida autoridade inclusive para decidir se o
procedimento deve prosseguir ou ser abortado para garantir a segurança
do paciente.
CONCLUSÃO
Curso ao vivo constitui uma importante ferramenta de ensino do
estado da arte da prática endoscópica. Para atingir seus objetivos
educacionais o curso deve ser conduzido em um centro capacitado e
organizado por um grupo de profissionais alinhados com o rigor ético, a
priorização da segurança dos pacientes e o respeito aos princípios
fundamentais e objetivos didáticos enfatizados nesta diretriz.
Nos encontramos em Curitiba!
Vitor Arantes
Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da UFMG.
Coordenador do Setor de Endoscopia do Instituto Alfa de
Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG e do Hospital Mater
Dei Contorno.
Presidente da Comissão de Título de Especialista da SOBED.

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