24_25 A_Z korea

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24_25 A_Z korea
Quarta-Feira _13 de agosto de 2014. Diário de Notícias
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Quarta-Feira _13 de agosto de 2014. Diário de Notícias
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Especial Um dragão asiático na rota do Papa
scritores: Saramago está publicado
na Coreia, Gonçalo M. Tavares também viu o seu Jerusalém ser traduzido. E em livrarias imensas como a Kyobo, em Gwanghwamun (Seul), há
boas hipóteses de encontrar um autor português. Já em Portugal, uma
descoberta pode ser Tenho o Direito de Me Destruir, obra que
lançou Kim Young-ha como
um dos novos nomes da literatura sul-coreana. Editado no
ano passado pela Teorema.
E
Coreia
do Sul de
Pagode de pedra no
Bulguksa, um dos
templos budistas
mais famosos
da Coreia do Sul
AZ
utebol: O Mundial
no Brasil não correu
bem à Coreia do Sul,
com os fãs desiludidos
pela eliminação da seleção na fase de grupos. E
agora é esperar que sejam
os turistas a escoar as
muitas camisolas vermelhas à venda. Talvez as expectativas fossem exageradas, pois o 4.º lugar de
2002 é difícil de repetir.
Nesse ano, o Mundial de futebol foi co-organizado por
coreanos e japoneses, gesto
de boa vontade entre povos
com um historial de conflito.
a
G
Quinta do Crasto (a quase cem euros a garrafa).
A
udismo: Chegou da Índia via China no
século IV e durante o reino de Silla e na
dinastia Goryeo foi religião oficial. Hoje,
as estatísticas oficiais dizem que 22% dos sulcoreanos são budistas e o país conta com inúmeros templos tão antigos como prestigiados,
como o de Bulguksa, em Gyeongju.
B
ristãos: Construída no final do século
XIX, quando as perseguições religiosas já
tinham terminado, a Catedral de Myengdong, em Seul, é um elegante edifício de tijolo
vermelho em estilo neogótico. Para os católicos,
uns 10% da população do país, é fonte de orgulho, tanto maior quanto já foi visitada pelo papa
João Paulo II e agora se prepara para receber
Francisco. Mas se os católicos foram a primeira
comunidade cristã na península, com os eruditos a contactarem com os jesuítas na China e a
importarem a chamada “filosofia ocidental”,
hoje as igrejas protestantes destacam-se pelo
dinamismo e congregam quase um quinto dos
sul-coreanos. Prova da força do cristianismo, as
C
LEONÍDIO PAULO FERREIRA, em Seul e Gyeongju
centenas de cruzes que se veem em Seul, disputando as atenções com os ecrãs gigantes LG
ou Samsung. “Coreia é caso único na Ásia, pois
ao contrário das Filipinas não foram os estrangeiros a trazer o cristianismo”, sublinha Pedro
Louro, um missionário português a viver há 14
anos em Yeokok, na diocese de Incheon.
MZ: É a sigla inglesa para zona desmilitarizada, faixa de 250 quilómetros que
corre desde o mar do Japão (Oriental,
para os coreanos) ao mar Amarelo. A sua largura é de quatro quilómetros, dois para cada lado
da linha de demarcação, a linha da frente quando norte-coreanos e americanos (sob a bandeira da ONU e em socorro da Coreia do Sul) assinaram o armistício em 1953. Perto da antiga aldeia de Panmunjon está a Área de Segurança
Conjunta, com os seus pavilhões azuis onde é
suposto as duas Coreias dialogarem. Não tem
acontecido muito nos últimos tempos, por causa das ambições nucleares da Coreia do Norte e
as ameaças retóricas do jovem líder Kim Jong-un. “Queremos uma reunificação pacífica e negociada”, diz Chung Ui-hwa, vice-presidente do
Parlamento sul-coreano. Mas hoje até os emotivos reencontros de familiares separados pela
a guerra estão suspensos.
Lee (do seu antecessor) e temos o trio de nomes
usado por metade das famílias sul-coreanas.
limpismo: Seul alojou os Jogos Olímpicos de 1988, celebração do sucesso do
país, que acabara de juntar ao dinamismo económico a conversão à democracia. Terminada a era dos boicotes, soviéticos e americanos competiram para ver quem tinha mais
campeões. A Coreia do Sul conseguiu ser o quarto país com mais medalhas de ouro, nuns Jogos
que viram Rosa Mota ganhar a maratona.
O
F
Visita. Costuma
ser notícia pela tensão com
a Coreia do Norte ou pela pujança da sua economia, em que a eletrónica tem fama mundial, mas a Coreia do
Sul é também um caso único de sucesso do
cristianismo na Ásia. Mesmo sem ter sido colonizada por europeus, a península
recebeu o impacte do catolicismo desde o século XVIII e do protestantismo
angnam: Emprestou o
logo a seguir à Guerra da Coreia. Por isso está na rota de Francisco, que inicia
nome à popular canção
amanhã em Seul a terceira visita ao exterior desde que foi eleito Papa, no
de Psy e com justiça, pois
é uma zona moderna cheia de estilo.
ano passado. Irá beatificar 125 mártires de uma nação que hoje ofereÉ o bairro da moda em Seul, na margem sul do rio Han, onde se acumulam as
ce total liberdade religiosa mas que mesmo assim vê metade da
marcas de luxo e os restaurantes caros. Nas
sua população declarar-se sem qualquer crença. Seguem-se
lojas de vinho vende-se champanhe francês,
e bordéus e riojas, mas também se pode ser suralgumas pistas para entender este dragão asiático.
preendido por um tinto português como o
rranha-Céus:
É certo que nenhum dos prédios
chega sequer à altura do nova-iorquino Empire State Building,
mas os arranha-céus de média dimensão, em geral bloco de apartamentos, fazem
parte da paisagem das grandes cidades sul-coreanas. O mais alto é o Tower Palace 3, em Seul,
com 73 andares (264 metros de altura). Mas não
se pense que não há capacidade para construir
mais alto: o Burj Khalifa, nos Emirados Árabes,
foi edificado por uma empresa sul-coreana.
Fronteira entre as duas Coreias resulta de
um mero armistício. Guerra de 1950-1953
fez dois milhões de mortos mas terminou
sem um verdadeiro tratado de paz
angeul: É o nome do alfabeto coreano,
criado no século XV por ordem do rei
Sejong, o mais importante da dinastia
Joseon e cuja estátua impressiona quem visita
Seul. O objetivo foi criar uma alternativa aos
ideogramas chineses, de mais difícil aprendizagem e pouco adequados à língua coreana. Apesar da vizinhança com a China, e dos laços
culturais, o coreano é um idioma bem distinto, sem qualquer
familiaridade com o chinês ou o
japonês, pois tem raiz siberiana.
H
ncheon: É nome de cidade, mas
também de batalha. Foi nas suas
praias que o general McArthur organizou em finais de 1950 o desembarque de
tropas americanas que permitiu inverter
o rumo da Guerra da Coreia. Os líderes
comunistas da Coreia do Norte nunca
imaginaram que seria possível ali, com
marés gigantes, pôr um exército.
I
D
J
Operários em Seul estão a preparar tudo
ao pormenor para receber Papa Francisco
oseon: Os palácios reais são os
mais carismáticos edifícios de
Seul, mas o último monarca foi
deposto há cem anos, quando a
Coreia se tornou colónia do Japão. Durou cinco séculos
(1392-1910) a dinastia Joseon
e foi ela que transformou Seul
na capital. Outro dos legados
é a força da tradição confucionista, então credo oficial
SY: O músico mais famoso do país deve a
sua fama instantânea aoYouTube e o seu
Gangnam Style foi visto por mais de dois
mil milhões de pessoas. Em Seul há a sala Klive
que mostra concertos com hologramas das estrelas da K-Pop e Psy f az parte da oferta. Mas não
se admire que a juventude prefira as beldades
do grupo 2NE1 ou os galãs dos Big Bang.
niversidades: São três as universidades
sul-coreanas que surgem entre as cem
melhores do mundo, segundo o Times
Higher Education. E nessa listagem a Universidade Nacional de Seul consta mesmo como a
quarta mais prestigiada da Ásia. Prova da qualidade do ensino é também a posição dos jovens
coreanos no estudo internacional PISA, realizado ao nível do secundário, em que tendo em
conta só os membros da OCDE, o país surge em
1.º na Matemática, em 4.º na Ciência e em 2.º na
Leitura. O lado negro destes belos resultados é a
grande pressão para atingir o sucesso, com as famílias a pagarem fortunas em explicações e os
jovens a enfrentarem expectativas demasiado
elevadas, com casos extremos de suicídio.
ualidade: A Coreia do Sul, que ainda na
década de 1960 era mais pobre que a Coreia do Norte, tornou-se um caso de sucesso económico, graças a Park Chung-he, ditador com visão e pai da atual presidente. O rendimento por habitante aumentou 300 vezes em
meio século, reivindicaWon-Bok Rhie, autor de uma popular BD que sintetiza a
história dos coreanos. Hoje o país, pouco maior que Portugal, é a 15.º potência
económica do planeta e o sétimo exportador (Hyunday, Samsung, LG,
Kia). Impressiona a ONU reconhecer
já este país como o 12.º do mundo
com maior qualidade de vida.
izinhos: Com a China Imperial, nos tempos das dinastias Ming e Qing, a Coreia
soube manter uma teórica vassalagem
que lhe assegurou a independência durante séculos. Com o Japão, existe um historial de ocupação que deixou más memórias. Hoje nota-se
uma aproximação económica e política à China (o Presidente Xi Jinping visitou Seul
antes de ir a Pyongyang, capital do
Norte comunista). E ressurge a velha
tensão com o Japão, o que preocupa
os Estados Unidos, ainda com tropas
na península e que vê em Seul e Tóquio
aliados estratégicos para conter a expansão chinesa, como antes a soviética.
P
ercados: O consumismo tomou conta
dos jovens coreanos, basta ver a forma
como vestem ou como exibem gadgets
imchi: É obrigatório em qualquer refei- último modelo (vê-se alguns da Apple, apesar
ção como acompanhamento. E a pre- da lealdade às marcas nacionais). E ir às comparação, na forma mais tradicional, leva pras é uma febre, com mercados a funcionar
as mulheres a reunir-se para preparar a saboro- noite dentro e a abarrotar. Na rua, vende-se
sa (e picante) mistura de legumes. Rico em áci- cubos de melancia e espetadas de frango (pido láctico, graças à fermentação, o kimchi é tido cantes, claro). Na capital, o mais famoso mercacomo um dos alimentos mais saudáveis. E cada do é o de Dongdaemun, que abrange 30 centros
sul-coreano consome 35 quilos por ano.
comerciais e 30 mil lojas. Números esmagadores, mas note-se que Seul tem dez milhões de haeeum:Inaugurado em 2004, tornou-se de bitantes, um quinto da população sul-coreana.
imediato um dos museus a não falhar na
capital coreana. Propriedade da Fundaomes: É impossível visitar a Coreia e não
ção Samsung, homenageia o fundador da emse ter a impressão de que se está sempre
presa, colecionador de arte coreana e internaa falar com um senhor ou uma senhora
cional. Destacam-se as cerâmicas das dinastias Kim. É que é esse o apelido mais comum, calcuGoryeo e Joseon, mas também quadros de la-se que partilhado por 20% da população. Não
Rothko, esculturas de Koons ou instalações de admira pois que com a Coreia do Norte a ser liNam June Paik, coreano creditado com a in- derada desde sempre pela dinastia Kim acontevenção da videoarte. Uma palavra ainda para o ça por vezes as célebres cimeiras Kim-Kim, basedifício (ou edifícios): é obra dos ta que a sul do paralelo 38 o presidente também
arquitetos Mario Botta, Jean se chame assim (e já houve
Nouvel e Rem Koolhaas, e dois). Junte-se os apelimostra bem o que pode o me- dos Park (como o da
cenato fazer pela cultura.
atual presidente) e
e hoje evidente no respeito aos mais velhos, na
ética do trabalho ou na valorização do saber.
K
L
M
N
Estátua do rei Sejong, o monarca sábio
Q
epúblicas: A história da divisão da Península conta-se
em três momentos. Primeiro, soviéticos e americanos combinaram aceitar a rendição dos japoneses no
fim da Segunda Guerra Mundial, uns a norte do
paralelo 38, os outros a sul. Segundo, em 1948
Kim Il-sung proclama a República Popular Democrática da Coreia, enquanto Syngman
Rhee cria a República da Coreia. Terceiro,
em 1953, após três anos de guerra, o paralelo 38 é substituído pela linha de
demarcação, que o segue em traços
gerais e serve de fronteira entre as duas
repúblicas. Fronteira perigosa, porque “a
Coreia do Norte é anacrónica e tem armas
nucleares”, alerta Cho Tayeong, vice-MNE.
R
amsung: Hoje é quase sinónimo de
smartphone e de tablet, mas o gigantesco
grupo económico produz desde televisores até petroleiros. Fundado por Lee Byung-chul
ainda nos tempos da colonização japonesa, é o
mais forte dos chaebol, palavra para conglomerado empresarial, e continua a ser da família.
S
GV: Também a Coreia tem o seu comboio
de alta velocidade, que corre tipo bala pelos vales deste país cheio de montanhas.
O KTX reclama mais de 300 km/hora, mas na
viagem de Seul a Jyeongju, no Sudeste, os dígitos
no extremo da carruagem não passaram do 299.
T
Psy, com o vídeo Gangnam Style, teve mais de dois
mil milhões de visualizações no YouTube, recorde
absoluto. E recebeu uma condecoração
U
V
Samsung é a marca omnipresente
na Coreia do Sul, mas não se fica pela
tecnologia. Até tem estaleiros para
a construção de petroleiros
W
X
on:São precisos 1400 won para chegar
a um euro. E a nota mais alta, 50 mil
won, não vale mais do que 36 euros.
amanismo: É a religião original dos coreanos, que revela a origem siberiana e a
ligação à natureza. Hoje é um fenómeno
minoritário, mas dois rituais xamanistas ainda
praticados foram classificados como património imaterial da humanidade pela UNESCO.
onhap: É a agência noticiosa sul-coreana,
com cerca de 600 jornalistas e correspondentes em 35 países. Na internet oferece
notícias em inglês, francês e espanhol.
Y
A marca futurista de Zaha Hadid em Seul
aha. Com formas futurísticas, o Dongdaemun Design Park & Plaza foi inaugurado em março e de imediato se impôs na
paisagem da capital coreana. Foi uma encomenda à arquiteta iraquiana Zaha Hadid.
Z
DN viajou a convite da Assoc. de Jornalistas Coreanos

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