A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE

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A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE
A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE
INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
Luiz Carlos Mendes de Vasconcelos¹
RESUMO
O objetivo central deste artigo é apresentar elementos para discussões acerca da
transmissão do saber psicanalítico no âmbito das Universidades. Para que possamos
compreender melhor o conhecimento proporcionado pela teoria psicanalítica, necessário se
faz discorrer sobre algumas premissas básicas da Teoria Psicanalítica, com o auxílio de
alguns autores renomados, além do pai da psicanálise, Sigmund Freud, autores
considerados pós-freudianos como, por exemplo, Jacques Marie Émile Lacan, Melanie
Klein, Donald Woods Winnicott, dentre outros. Por conseguinte, iremos analisar acerca da
fragmentação na transmissão do saber psicanalítico, por conta da fragilização e da
informalidade existentes nas diversas instituições de ensino que se propõem a lidar com o
ensino da teoria psicanalítica. Dentre as dificuldades existentes na transmissão do
saber psicanalítico, iremos investigar sobre a linguagem inconsciente, enquanto saber
enigmático, considerado por alguns autores, apresentados neste artigo. Por fim,
discorreremos acerca das possibilidades do ensino da teoria psicanalítica no âmbito das
universidades, sua importância para o campo dos demais saberes, quais sejam a
sociologia, a antropologia, as ciências exatas, mais especificamente a biologia, a filosofia,
a psicologia, a psiquiatria, e tantas outras. A metodologia adotada para a elaboração deste
trabalho, quanto a abordagem, será uma pesquisa do tipo qualitativa; quanto aos objetivos,
será uma pesquisa do tipo descritiva e explicativa e, quanto a modalidade, será do tipo
bibliográfica.
PALAVRAS-CHAVE: Teoria Psicanalítica, Universidades, Inovação Pedagógica,
Inconsciente, Ciência, Ensino Superior.
¹ Mestre em Gestão Pública pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Especialista em Teoria
Psicanalítica pela Faculdade Redentor do Rio de Janeiro, Licenciado em Ciências Físicas e Biológicas
pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, Bacharel em Administração de Empresas pela
Universidade Estácio de Sá – UNESA e Funcionário da Caixa Econômica Federal.
Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.2, n.2, Jul/Dez, 2014, p.42-64
ABSTRACT
The main objective of this article is to provide elements for discussion about the transmission
of psychoanalytic knowledge within the universities. So we can better understand the
knowledge provided by the psychoanalytic theory, they have to talk about some basic
premises of Psychoanalytic Theory, with the help of some renowned authors and the father of
psychoanalysis, Sigmund Freud, post-Freudian authors considered such as Jacques Marie
Emile Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott Woods, among others. Therefore, we will
examine about the fragmentation in the transmission of psychoanalytic knowledge, due to the
weakening existing and informality in different educational institutions that purport to deal
with the teaching of psychoanalytic theory. Among the difficulties in the transmission of
psychoanalytic knowledge, we will investigate the unconscious language, as knowledge
enigmatic, considered by some authors in this article. Finally, we will discuss about the
possibilities of the psychoanalytic theory teaching within the university, its importance to the
field of knowledge too, namely sociology, anthropology, sciences, specifically biology,
philosophy, psychology, psychiatry, and so on. The methodology adopted for the preparation
of this work, as the approach is a qualitative type research; the aims, will be a survey of
descriptive and explanatory type and, as the sport will be the bibliographical.
KEYWORDS: Psychoanalytic Theory, Universities, Pedagogical Innovation, Unconscious,
Science, Higher Education
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1. INTRODUÇÃO
Segundo Sigmund Freud (1918), fundador da teoria e da prática psicanalítica, o
ensino de sua teoria no âmbito das universidades pode ser analisado sob dois pontos de
vistas: o da própria psicanálise, enquanto teoria e práxis, e o da universidade, como o
espaço mais adequado para a transmissão desse saber. No referido artigo, intitulado Sobre
o Ensino da Psicanálise nas Universidades, ele afirma que:
A inclusão da psicanálise no currículo universitário seria sem dúvida olhada
com satisfação por todo psicanalista. Ao mesmo tempo, é claro que o
psicanalista pode prescindir completamente da universidade sem qualquer
prejuízo para si mesmo. Porque o que ele necessita, em matéria de teoria, pode ser
obtido na literatura especializada e, avançando ainda mais, nos encontros
científicos das sociedades psicanalíticas, bem como no contato pessoal com os
membros mais experimentados dessas sociedades. No que diz respeito à
experiência prática, além do que adquire com a sua própria análise pessoal, pode
consegui-la ao levar a cabo os tratamentos, uma vez que consiga supervisão e
orientação de psicanalistas reconhecidos (FREUD, Obras Completas, Volume
XVII, 1918, p.187).
Quando pensamos na relação entre psicanálise e educação, não devemos propor a
aplicabilidade da teoria e, principalmente, da prática na educação, mas sim como a forma
de transmissão dessa teoria na busca da compreensão desse saber. Essa preocupação existe
e pode ser encontrada nos dizeres de Freud, conforme acima explicitado, sobretudo no que
diz respeito às distinções claras e precisas que o autor faz ao mencionar as diversas
instâncias em que o saber psicanalítico se propõe a estar.
A psicanálise pode ser absorvida pelo sujeito sob vários pontos de vista, dos
quais um pode ou não se relacionar com os outros. Pode-se entender a psicanálise como
um estudo do funcionamento psíquico do ser humano, como uma teoria científica para
aplicabilidade na prática clínica, como uma prática de cura das doenças da alma, ou ainda,
como uma prática filosófica de vida, etc. Esta ideia encontra acordo em ZIMERMAN
(1999), quando diz:
O gênio de Freud possibilitou que, entre avanços, recuos e sucessivas
transformações, ele construísse os alicerces essenciais do edifício metapsicológico
e prático da psicanálise, sempre estabelecendo interrelações entre a teoria, a
técnica, a ética e a prática clínica (ZIMERMAN, 1999, p.25).
Outro importante ponto a ser considerado na relação entre psicanálise e
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educação está no conceito de “saber” de ambas as partes. O conceito de saber para a
educação está intimamente ligado ao conceito de conhecimento, na medida em que o
sujeito sabe a partir da soma de conhecimentos que adquire ao longo de sua vida. Os
conhecimentos adquiridos na educação infantil, educação básica, educação superior,
etc., além dos conhecimentos absorvidos pelo senso comum.
A teoria psicanalítica coloca o conceito de saber numa instância outra com relação
ao conhecimento proposto pela educação. Enquanto esta coloca o saber como
possibilidade, a psicanálise propõe a derrota do sujeito enquanto possibilidade de saber, na
medida em que o sujeito que sabe é o sujeito do Inconsciente, como instância inacessível à
consciência.
Paulo Freire (1992), em Pedagogia da Esperança, diz:
Minha experiência vinha me ensinando que o educando precisa de se
assumir como tal, mas, assumir-se como educando significa reconhecer-se como
sujeito que é capaz de conhecer e que quer conhecer em relação com outro sujeito
igualmente capaz de conhecer, o educador e, entre os dois, possibilitando a tarefa
de ambos, o objeto do conhecimento (FREIRE, 1992, p. 47-9).
Segundo o autor a educação tem como foco a busca do conhecimento. Esta ideia
segue na contramão do conceito de saber de muitos psicanalistas, assim como para as
diversas escolas, associações, cartéis e sociedades psicanalíticas espalhados pelos diversos
países do globo.
Podemos dizer que o conceito fundamental da psicanálise é o conceito de
Inconsciente proposto por Freud no início do século XX, onde afirma existir uma instância
psíquica que se manifesta no sujeito consciente. Um saber que surge por meio dos
sintomas, dos atos falhos nas palavras, atos falhos nos gestos, nos sonhos e nos chistes, na
qual não se pode ter acesso pela via da consciência humana. J.-D Nasio (1993), nos revela
o Inconsciente como:
... um saber que não podemos apreender diretamente. O inconsciente como
saber é mais do que uma hipótese, é quase uma tese, ou melhor, um
princípio, ou ainda um axioma. Isso quer dizer que não conhecemos o
inconsciente, não podemos apreendê-lo, ele não é tangível, é tão intangível quanto
o número imaginário i (NASIO, 1993, p. 52).
A transmissão da teoria psicanalítica nas universidades, o discurso do sujeito
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inconsciente enquanto um saber inacessível à consciência humana, a possibilidade de
admissão do saber psicanalítico como uma ciência capaz de aceitar o insabido, são alguns
dos questionamentos que propomos trabalhar mais elaboradamente neste artigo, para que
possamos sutilmente colocar em
discussão e tentar produzir uma teia de
conhecimentos, com vistas a uma maior inserção da teoria psicanalítica na academia e na
sociedade.
Para tanto discorreremos acerca de algumas premissas e conceitos fundamentais
relativos à teoria psicanalítica, a fragmentação na transmissão desse saber, por conta da
informalidade e da não regulamentação nas diversas instituições oficiais de ensino.
Discutiremos também sobre a linguagem inconsciente, enquanto um saber que foge à
consciência humana, e, por fim, falaremos sobre as possibilidades e dificuldades existentes
para o ensino da psicanálise no âmbito das universidades.
Neste contexto este artigo se propõe responder a seguinte questão central: Como
intercalar a Teoria Psicanalítica, enquanto um saber verdadeiramente cientifico, no
âmbito das Faculdades e Universidades como forma de inovação pedagógica, criando uma
modalidade de licenciatura no ensino de nível superior?
A metodologia adotada neste trabalho será múltipla, conforme segue:
Quanto à abordagem, a pesquisa será do tipo qualitativa, pois diferentemente da
pesquisa quantitativa, que normalmente aborda aspectos objetivos e mensuráveis, a
qualitativa abordam pesquisas mais voltadas para o campo das ciências sociais, pela sua
própria etimologia que teve início pela prática desenvolvida no estudo da antropologia.
Segundo Lakatos & Marconi (2007):
A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar a interpretar aspectos
mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano.
Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes,
tendências de comportamento, etc. (LAKATOS e MARCONI, 2007, p. 269).
Quanto aos objetivos, a pesquisa será do tipo descritiva e explicativa, na medida em
que, faz-se necessário descrever as características fenomenológicas das variáveis
estudadas, bem como explicar os fatores determinantes que contribuem para as ocorrências
dos fenômenos colocados em questão, na busca de se chegar às razões e aos porquês
questão central e seus objetivos específicos.
O trabalho aqui apresentado, quanto à modalidade, ou seja, quanto aos
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procedimentos técnicos utilizados, será do tipo bibliográfico, pois segundo Vergara (2007)
a “Pesquisa Bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material
publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao
público em geral (VERGARA, 2007, pág. 48)”, que, neste sentido, atende ao objetivo
proposta deste trabalho acadêmico.
Devido a abordagem da pesquisa ser do tipo bibliográfico, os dados serão
coletados por meio de livros, dicionários, trabalhos acadêmicos, como teses de doutorado,
dissertações de mestrado, monografias ou artigos com dados pertinentes ao assunto, bem
como páginas da internet.
2. ALGUMAS PREMISSAS BÁSICAS DA TEORIA PSICANALÍTICA
Na teoria psicanalítica nos deparamos com vários conceitos fundamentais que foram
se aperfeiçoando ao longo da trajetória científica e literária de Freud. Neste artigo nos
limitares a expor o conceito de pulsão articulada aos princípios de funcionamento do
aparelho psíquico: princípio de Constância ou nirvana, princípio do prazer e princípio da
realidade. Justifica-se nossa escolha em virtude de que tais conceitos constituem-se bases
epistemológicas da psicanálise. Nos subitens seguintes também trabalharemos com o
conceito de Inconsciente.
Em 1915, ao escrever um artigo intitulado O Instinto e suas Vicissitudes, Freud
reforça suas articulações e ideias acerca da dinâmica do inconsciente, enquanto um
saber independente e livre da influência da dinâmica consciente.
Segundo Freud, o homem dispõe de um sistema perceptório do aparelho
psíquico, que sofre uma ação constante dos estímulos provindos tanto do mundo externo
quanto do interno. Freud denomina os estímulos internos, que se impõem dentro do
aparelho psíquico, de instintos (pulsões), e que busca de uma forma constante passar do
sistema inconsciente para o sistema consciente. A pulsão de vida, também chamada de
“Eros”, abrange a energia de natureza sexual, e visa a auto conservação do sujeito
enquanto organismo. Em contraposição a essa força, Freud denomina a pulsão de morte.
Segundo Laplanche e Pontalis (2000), em Vocabulário de Psicanálise, com relação à
pulsão de morte, dizem:
No quadro da última teoria freudiana das pulsões, designa uma categoria
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fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida e que tendem para
a redução completa das tensões, isto é, tendem a reconduzir o ser vivo ao estado
anorgânico.
Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição, as pulsões de
morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se então
sob a forma da pulsão de agressão ou de destruição (LAPLANCHE E
PONTALIS, 2000, p. 407).
Relativamente aos estímulos externos o sujeito tem possibilidade de fuga, na medida
em que pode identificá-lo como desagradável através da percepção sensorial, ou seja, pelos
cinco sentidos; visão, audição, tato, paladar e olfato. Contudo, quanto à força pulsional,
surgida do interior do aparelho, não há possibilidade de fuga, mas sim apenas a tentativa
de resistência frente a sua manifestação das diversas formas possíveis e inimagináveis. A
partir dessas ideias, Freud realiza estudos sobre a ansiedade, a angústia e a depressão
como consequência da dinâmica psíquica.
O princípio de constância ou princípio de nirvana representa a força que atua dentro
no inconsciente e que, de certa maneira, possibilita o movimento dos demais sistemas, que
Freud denomina pré-consciente e consciente.
O desejo inconsciente atua o tempo todo como forma de descarga de catexias
pulsionais de natureza sexual, não no sentido sexual propriamente dito, mas no sentido de
busca de prazer, de modo que, tudo o que visa prazer, tem natureza sexual. Esta ideia,
na época, foi bastante criticada pela classe científica, como também pela opinião pública.
Podemos entender que não há dualismo entre o psíquico e o somático, entre
mente e corpo. Só existe um se existir o outro. A pulsão surge da fusão dessas duas coisas:
psique e corpo; e desta forma, o sentido de conceito de pulsão ganha o mesmo sentido de
conceito de vida orgânica, na medida em que aquela se utiliza do psíquico para se
manifestar no corpo, mesmo que por utilização da fala enquanto uma extensão somática do
sujeito. Portanto, podemos pensar na pulsão como o elo entre o psíquico e o corpo, que
transforma o inorgânico em orgânico, e vice-versa, regido primeiramente, único
e
exclusivamente, pelo princípio de constância, e à posteriori, pelo conflito existente
entre os princípios de prazer, regido pelo sistema inconsciente do aparelho psíquico, e
princípio da realidade, como sistema criado pelo sistema consciente para se defender
frente às pulsões provindas da dinâmica inconsciente.
Freud denota a importância dessa guerra psíquica para o desenvolvimento dos
órgãos sensoriais, que se acham voltados para o mundo externo, pois são ligados à
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consciência, como se esta aprendesse a abranger qualidades sensórias, como a notação, a
atenção e a memória, capazes de dar conta o suficiente para conter as forças internas
provindos do sistema inconsciente. Daí a importância de se entender que é a partir da
tenra idade e do conflito intrapsíquico que o sujeito torna-se capaz de compreender o
mundo e interagir no meio social, primeiramente adquirindo a capacidade de
administrar seus conflitos internos, para que num segundo momento possa ter a força e os
meios necessários para se defender frente às ameaças oriundas do mundo externo.
A teoria da aprendizagem é uma consequência da resultante dessas forças,
inicialmente alheias ao sujeito, na medida em que o sujeito só terá capacidade de
compreender o mundo que está a sua volta se passar por esse processo de conflitos,
baseados no trauma, na cisão, na repressão e no recalcamento dos significantes,
inicialmente não compreendidos pelo próprio sujeito, mas que, a posteriori, no chamado
retorno do recalcado, o sujeito dê nome ou significado a esse material estranho que voltará
à consciência, quando esta estiver pronta o suficiente para conseguir dar um sentido àquilo
que vem a toma em busca de uma explicação lógica.
Freud coloca que o princípio da realidade contribui para esse feito, ou seja, a
consciência tenta dar sentido ao caos que surge da linguagem enigmática vinda das
profundezas do inconsciente; o sonho sem sentido, regido pelo princípio do prazer, que
busca único e exclusivamente a satisfação da pulsão, enquanto pura energia, que tenta sair
do sistema, como um vulcão que jorra sua lava com toda voracidade e sem pensar nas
consequências lógicas, apenas flui. Para conter essa explosão, a realidade busca a lógica,
se utilizando das ações, do pensamento e das palavras como válvulas de escapes para que a
energia se dissipe de forma mais diluída, moderada e equilibrada.
A educação que trabalha o sujeito e o faz aprender, ler, pensar, falar, etc. Tudo isso
contribui para o equilíbrio do sistema, como um todo. Quanto mais se trabalha a
consciência, maior a possibilidade de articular ideias e mais força se adquire para
manter longe a forte pressão de descarga proporcionada pelo princípio do prazer. Freud
(1911), em Formulações Sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental, coloca
que,
A educação pode ser descrita, sem mais, como um incentivo à conquista do
princípio do prazer e à sua substituição pelo princípio da realidade; isto é, ela
procura auxiliar o processo de desenvolvimento que afeta o ego. Para este fim,
utiliza uma oferta de amor dos educadores como recompensa; e falha, portanto, se
uma criança mimada pensa que possui esse amor de qualquer jeito e não pode
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perdê-lo, aconteça o que acontecer (FREUD, Obras Completas, Volume XII,
1911, p. 242).
A lógica criada pela consciência, regida pelo princípio da realidade do mundo
externo, se conflitua com a linguagem ilógica, insana e caótica do inconsciente.
É nesse contexto inicial de seus estudos que Freud cria todo um arcabouço
teórico para transformar suas ideias e de outros autores, dos quais fez uso, para fazer
nascer uma nova ciência, na qual, até os dias de hoje, os intelectuais se amparam e se
baseiam para provar as mais variadas hipóteses no mundo acadêmico, seja nas ciências
sociais, biológicas, filosóficas e humanas.
3. A FRAGMENTAÇÃO NA TRANSMISSÃO DO SABER PSICANALÍTICO
Um aspecto importante diz respeito à informalidade existente no ensino da teoria
psicanalítica. A diversidade de associações e sociedades, inclusive com fins religiosos,
espalhadas nos mais variados países do globo, sobretudo nos países da América Latina,
tenta se apropriar da teoria com o objetivo de propor a cura dos males da alma.
Podemos supor que esta fragilidade na estrutura do ensino da teoria, e até por que
não dizer banalização, se dá por conta de não haver uma formalidade única na formação
de psicanalista, bem como na formação de especialistas, na qualidade de professores, para
o ensino da teoria psicanalítica nas universidades. Encontramos as mais
variadas
posturas na formação de analistas, desde a análise didata¹, com a formação de
cartéis vinculados a determinada associação ou sociedade, que seguem suas regras
internas como forma de se obter o passe de analista vinculado a esta ou aquela, sem o
mínimo controle ou acompanhamento de um órgão nacional ou internacional.
No que diz respeito ao Brasil, sabemos que a profissão de Psicanalista está
devidamente amparada segundo as normas do Ministério do Trabalho, e é considerada
uma profissão livre, não regulamentada. Contudo, é reconhecida como profissão pela
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), instituída pela portaria ministerial nº.
397, datada de 9 de outubro de 2002, sendo o psicólogo e o psicanalista identificados com
o mesmo código, o de n.º 2515, qualificando-os como uma das ocupações no mercado de
trabalho. Apesar de haver uma subdivisão especificando o Psicanalista com o subcódigo
50, ou seja, 2515-50, tanto para o profissional psicólogo como para o psicanalista é
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usada a mesma Descrição Sumária constante do CBO (2550), que diz:
1 [Do grego didaktós] Pessoa que instrui. Fonte:
Dicionário Aurélio
2515:: Psicólogos e psicanalistas
Descrição Sumária
Estudam, pesquisam e avaliam o desenvolvimento emocional e os processos
mentais e sociais de indivíduos, grupos e instituições, com a finalidade de análise,
tratamento, orientação e educação; diagnosticam e avaliam distúrbios emocionais
e mentais e de adaptação social, elucidando conflitos e questões e acompanhando
o(s) paciente(s) durante o processo de tratamento ou cura; investigam os fatores
inconscientes do comportamento individual e grupal, tornando-os conscientes;
desenvolvem pesquisas experimentais, teóricas e clínicas e coordenam equipes e
atividades
de
área
e
afins
(CBO,
2009,
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResulta do.jsf
).
Como vemos, no Brasil, no que concerne ao mercado de trabalho, bem como nos
órgãos do governo federal e na legislação vigente não há distinção na descrição das
profissões de psicólogo e psicanalista.
De certa forma, entendemos que existe um paradoxo, na medida em que se colocam
duas profissões nas quais os tipos de formação são completamente adversas, pois de um
lado há um rigor convenientemente cientifico, e do outro há uma informalidade
exacerbada, pois sabemos que se exige do psicólogo uma formação acadêmica
rigorosa, onde o estudante que se propõe a seguir essa carreira se prepara dentro dos anais
das diversas academias universitárias por um período mínimo de cinco anos. Por outro
lado, os cursos “livres” disponíveis para os estudantes interessados em se tornarem
psicanalistas ou professores psicanalistas são tão variados que se torna inviável
identificarmos
no
meio
de
tanta
diversidade
o
período,
o
conteúdo
programático e a qualidade desses profissionais no mercado de trabalho.
É importante salientar a tamanha responsabilidade que os profissionais ligados ao
sofrimento psíquico humano têm em suas mãos. Na busca de soluções para aliviar seu
sofrimento tão íntimo e peculiar, que muitas vezes o guardam por tanto tempo, resistindo à
busca da solução necessária para aliviar sua dor, chegando ao consultório muito
fragilizado, o paciente procura um profissional, seja psicanalista, psiquiatra ou psicólogo,
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que esteja devidamente habilitado e preparado o suficiente, e encontrar nesse profissional a
força necessária para conduzir sua vida, obtendo o reconhecimento das pessoas que estão a
sua volta. Esse sofrimento é retratado por Otto Fenichel (2000), ao relatar sobre os
sintomas das neuroses traumáticas, que são,
(a) bloqueio ou decréscimo de várias funções do ego; (b) ataques de
emoções incontroláveis, particularmente de ansiedade e, muitas vezes, cólera;
às vezes, até ataques convulsivos; (c) insônia ou transtornos severos do sono,
com sonhos típicos nos quais se experimenta repetidamente o trauma; e
também repetições mentais, durante o dia, da situação traumática, total ou
parcialmente sob a forma de fantasias, pensamentos ou sentimentos; (d)
complicações secundárias neuróticas (FENICHEL, 2000, p. 108).
Mesmo com a inexistência de Lei específica que proíba a existência de cursos de
psicanálise, não há impedimento ou limites para o exercício da profissão. Essa liberdade
possibilita a criação de cursos com as mais diversas regras no exercício dessa profissão,
além da existência de cursos de mestrado e doutorado em teoria psicanalítica não
regulamentados pelo Ministério da Educação (MEC), chamados de cursos livres, mas que
no ato da conclusão, o candidato estudante recebe Diploma para o exercício da profissão.
Não obstante a crença de que tais cursos contribuem para a valorização e
disseminação do saber psicanalítico, é sabido que alguns deles não dispõem da
qualidade mínima suficiente para a contribuição necessária à sociedade, principalmente no
que tange a questão clínica.
Desde a segunda metade do século XX, diversos autores convergem em dizer que
a Psicanálise está vivendo um momento de crise a nível mundial. Esta afirmativa deve-se
ao fato de pensarem a teoria como se estivesse sendo esquecida pela sociedade.
A fragmentação da teoria psicanalítica contribui significativamente para sua
banalização, e é bem colocada por Elisabeth Roudinesco (2000) no livro Por que a
Psicanálise?, ao escrever no capítulo intitulado O futuro da psicanálise, onde afirma
que:
A reorganização do campo psicanalítico traduziu-se, entre 1996 e 1999, num
processo duplo: multiplicação das cisões, de um lado, e federalismo, de outro.
Assim, a Associação Mundial de Psicanálise (AMP), criada por Jacques-Alain
Miller, implodiu e deu origem a uma diversidade de movimentos autônomos. As
instituições centralizadoras passaram a ser muito menos dignas de crédito do
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que as unidades pequenas, mais vivas, mais criativas e sempre prontas a se
federar, para melhor trocar entre si a experiência clínica e os saberes
(ROUDINESCO, 2000, p. 159-160).
A tentativa, a nível mundial, de se cientificar a teoria psicanalítica foi marcada pelo
insucesso de seus protagonistas. A busca da organização caiu por terra devido à ausência
de uma instituição com fortaleza suficiente para se manter ante as pressões das vaidades
impostas pelos supostos detentores do saber, saber este que entra em contra ponto à
própria essência da teoria que diz que o psicanalista nada sabe, apenas se supõe saber.
Justifica-se a natureza dos questionamentos aqui colocados, esta ideia de inovação,
sem fazer, obviamente, desmerecer o sucesso ou a evolução dos campos de estudos
já
trilhados pelo ensino superior no Brasil, todavia, portanto, não obstantemente,
devemos referendar alguns cursos de nível superior um tanto quanto específicos,
singulares e incomuns, conforme segue: cursos de Acupuntura e Arbitragem,
ambos pela Universidade Anhanguera de São Paulo - ; Graduação em Beleza, pela
Universidade Luterana do Brasil
– ULBRA; Curso de Graduação em Produção
Joalheira, pela Faculdade de Tecnologia do Instituto Europeu e Design – IED SP;
Graduação em Visagismo e Estética Capilar, pela Universidade Anhembi Morumbi –
UAM; Curso Superior em Produção de Plásticos, pela Faculdade de Tecnologia de
Sorocaba – FATEC SO; Graduação em Musicoterapia, pela Faculdade Paulista de Artes –
FPA; Graduação em Futebol, pela Faculdade de Tecnologia Carlos Drummond de
Andrade – CSET DRUMMOND; Curso de superior em Autor Roteirista Tom Jobim, pela
Universidade Estácio de Sá – UNESA (Fonte: http://emec.mec.gov.br/). Diante do
exposto, fica-nos o questionamento: a Teoria Psicanalítica não estaria em um patamar de
conhecimento suficiente para contribuir mais significativamente no desenvolvimento da
sociedade? Obviamente, que a riqueza cultural do futebol brasileiro, enquanto
desenvolvimento das emoções de uma nação e de um povo tão sofrido, bem como a arte e
a letra da música de Tom Jobim, que arrebatou e arrebata ainda nos dias de hoje paixões
avassaladoras nas pessoas que o conclamam, são fundamentais para o estudo aprofundado
de tais conhecimentos, mas há que se ressaltar que a Psicanálise também contribuiu
contribui
para
o
desenvolvimento
intelectual
da
e
humanidade, transcendendo as
fronteiras dos países, das raças e das culturas.
O verdadeiro caráter científico pode ser encontrado na única instituição que
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ainda sobrevive desde a época da antiga Grécia: a universidade, como instituição de
ensino especializado, compreendendo um conjunto de faculdades para a qualificação
científica e profissional, garantindo a conservação e o progresso dos diversos ramos do
conhecimento, através do ensino e da pesquisa. Local onde se pode praticar a
interdisciplinaridade como um fator de mudança na atitude de entender o mundo, a
favorecer a visão epistemológica, abrindo as portas para o verdadeiro conhecimento
pela experiência pedagógica significativa, articulando os saberes num produto de relações.
Pensamos ser a única alternativa para a psicanálise se manter viva.
4. A LINGUAGEM INCONSCIENTE: UM SABER ENIGMÁTICO
Talvez o maior dos dificultadores para que a Psicanálise se torne uma ciência capaz
de ser ensinada na universidade de maneira mais acurada, se dá pelo seu objeto de estudo:
o sujeito do Inconsciente.
Apesar da comprovação de sua existência na teoria e na pratica, sobretudo no set
analítico, na relação analista e analisante, o homem resiste em dar voz a esse saber que não
se sabe da onde vem e nem para onde vai, que escapa à consciência e coloca o homem a
mercê de si mesmo, enquanto objeto do desejo inconsciente. A vaidade humana é tão
voraz que não admite a possibilidade de não estar sob controle de algo.
Na história da humanidade o homem sempre buscou o saber. No início, na
Grécia antiga, o homem colocou o saber nas mãos dos deuses, depois na mão de um único
deus, pois quase todas as coisas eram consideradas enigmáticas. A partir da Idade
Moderna, o pensamento teocêntrico, centrado na figura de Deus, dá lugar ao homem
moderno, iniciando sua caminhada para se colocar como centro de seus interesses e
decisões, dando voz à objetividade e destacando a consciência como instância de
possibilidades ilimitadas. À época, o conceito de conhecimento se aproxima do conceito de
saber, e é bem colocado por Aranha e Martins (1993), que diz:
O conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece entre
o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. A apropriação intelectual
do objeto supõe que haja regularidade nos acontecimentos do mundo; caso
contrário, a consciência cognoscente nunca poderia superar o caos (ARANHA e
MARIA, 1993, p. 21).
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A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE
INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
O caos, citado pelas autoras, nos deixa clara a ideia de que é por meio da
consciência e da apropriação do objeto que o homem adquire o conhecimento, com o
objetivo de dominação do saber. Apreender o saber, nada mais seria do que poder ter a
capacidade de se conscientizar das coisas, na parcialidade ou na sua totalidade. É nesse
momento que o homem supervaloriza a consciência como o lócus central para se obter o
poder e para se alcançar o saber, com vistas à solução dos males que assolam a
humanidade.
Nesse contexto, a teoria psicanalítica torna-se uma via na contramão, pois a proposta
colocada por Freud é de que a consciência, nada mais é, do que a ponta do iceberg, e que a
verdade está submersa. E, mais ainda, que o submerso jamais será entendido em sua
totalidade, e a realidade humana está fadada ao caos. Segundo Leonardo Danziato
(2000), no livro A Fortaleza da Psicanálise, onde discorre acerca da história do
movimento psicanalítico, ao escrever sobre a prática discursiva da teoria, diz:
Se o desejo é o que há de mais singular para o sujeito, cujo conhecimento não
é possível, pois apenas o suportamos – como um suporte -, este desejo jamais
alguém – nem mesmo Freud – poderia conhecer mais do que o próprio
sujeito, já que ele é sempre de um âmbito inconsciente (DANZIATO,
2000, p. 22).
Se não temos ou jamais teremos controle sobre o inconsciente, e se este se apropria
da consciência como uma manifestação de sua energia catexial, em incessante movimento,
regido por um princípio tal que, o homem, em sã consciência, não controla; e, mais ainda,
se é o sujeito do inconsciente que nos rege, por um desejo alheio à consciência, então,
cabe-nos questionar: como estudar um objeto que nos faz de objeto?
Talvez seja esse questionamento que tornam os especialistas em educação tão
resistentes à aceitação da teoria psicanalítica como uma ciência de fato capaz de estar
nos anais das universidades, como curso devidamente regulamentado e com pesquisadores
envolvidos e comprometidos em estudar mais a fundo o inconsciente e os resultados
obtidos pelos casos clínicos nas infinidades de associações e sociedades existentes.
Em 1924, Freud escreve um texto intitulado “As Resistências à Psicanálise”, onde,
no auge de sua carreira, já imaginava que a transmissão de seu arcabouço teórico e da sua
prática vivida enquanto médico neurologista e psicanalista encontraria muita resistência na
sociedade, principalmente no meio acadêmico. Ele coloca os diversos motivos pelos quais
os estudiosos e o censo comum rejeita a psicanálise, onde um dos quais seria a resistência
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A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE
INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
que ocorre diante da descoberta de algo novo. Ele afirma:
Em assuntos científicos não deveria haver lugar para recuar-se ante a novidade.
A ciência, em sua perpétua falta de compleição e insuficiência, é impelida a
esperar sua salvação em novas descobertas e novas maneiras de olhar as coisas. A
fim de não ser enganada, ela procede bem em armar-se de ceticismo e não aceitar
nada novo, a menos que tenha sofrido o mais estrito exame (FREUD, Obras
Completas, Volume XIX, 1924, p. 239).
Hoje, 91 anos depois deste escrito, a psicanálise já não estaria colocada à prova, e
com “exames” suficientes para ser considerada uma ciência capaz de “comprovar” sua
eficácia teórica e clínica?
Por mais paradoxal que pareça, a resistência em aferir a psicanálise como uma
ciência, e colocá-la no patamar que lhe convém de fato, vêm da própria classe dos
psicanalistas, que se reservam e se ocultam dentro de seus cartéis, fechados a sete
chaves, como se fossem apropriar da teoria como unicamente deles. Somente eles, são
capazes de tê-la em suas mãos, por muitas vezes alegando e se amparando nos dizeres dos
seus mestres, deturpando suas ideias, interpretando-as em benefício próprio.
Quando Jacques Marie Émile Lacan (1968), ao se referir sobre a formação do
psicanalista, diz: “O psicanalista só se autoriza por si mesmo”; ele não quis dizer que o
passe será dado pelo outro enquanto autoridade para fazê-lo, mas sim que, ao longo do
percurso, o paciente se sente de tal modo capaz de compreender e aceitar o grande outro
que há em si, que se sinta com a força suficiente para continuar caminhando da maneira
menos sofrível possível, ou seja, o paciente dá-se o passe.
5. O ENSINO NA UNIVERSIDADE: SABER VERSUS CONHECIMENTO
Como já havíamos dito na introdução deste artigo, há que se levar em consideração,
para
efeito
da
transmissão
da
teoria
psicanalítica,
mas
especificamente nas
universidades, o fato de que existem diferenças muito significativas no que diz respeito à
concepção do saber enquanto conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo da trajetória
de vida do sujeito, e o saber proposto pela psicanálise. Esta diferença de conceitos
dificulta por demais a aceitação da psicanálise como uma linguagem, também, científica,
além de uma prática voltada para a clínica, no set analítico, como uma mística que
envolve a relação analista e analisante.
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A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE
INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
Há certa dificuldade num considerável número de estudiosos em compreender e
aceitar a possibilidade de haver um conceito tão complexo e até, de certa forma,
enigmático, como o sujeito dividido proposto pelos psicanalistas de um modo geral.
Esta maneira de ver a relação sujeito/objeto vai de encontro aos ideais da ciência
positivista, ainda muito forte na sociedade atual, principalmente nos países ocidentais.
É sabido que, a partir do final do século XIX e começo do século XX iniciou-se um
movimento formulado, inicialmente por Edmund Hussel (1859-1938), no qual
objetivou repensar os fundamentos da racionalidade imposta pelas ciências ditas
positivistas, mostrando que as ciências humanas e a filosofia também poderiam ser viáveis
para a sociedade. A proposta abriu caminho para filósofos como Jean-Paul Sartre
(1905-1980), com a filosofia existencialista; Martin Heidegger (1889-1976), que elaborou
a teoria do Ser; Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), filósofo francês, autor da célere
frase “A ciência explica o mundo, mas se recusa a habitá-lo”, ao se referir criticamente à
objetividade das ciências como solução dos problemas humanos; dentre outros autores.
Aranha e Martins (1993) retrata a proposta da fenomenologia da seguinte forma:
A fenomenologia propõe a superação da dicotomia, afirmando que toda
consciência é intencional, o que significa que não há pura consciência,
separada do mundo, mas toda consciência tende para o mundo. Da mesma forma,
não há objeto em si, independente da consciência que o percebe. Portanto, o
objeto é um fenômeno, ou seja, etimologicamente, “algo que aparece” para uma
consciência (ARANHA e MARTINS, 2002, p. 171).
É nesse contexto histórico que a psicanálise surge como um método interpretativo,
enquanto hermenêutica, uma forma de tratamento psicoterápico e uma teoria. Tendo como
pano de fundo o descrédito na teoria positivista dos cientistas que acreditam numa verdade
absoluta que o homem poderá alcançar essa verdade, a partir das descobertas
proporcionadas pelas ciências exatas.
Não obstante a Psicanálise há décadas estar sendo assunto constantemente nos anais
dos estudos interdisciplinares das ciências de um modo geral, devemos acrescentar a
substância que este saber proporciona também para à cultura, dando explicações a saberes
até então obscuros de conhecimento, como é o caso da Maçonaria, bem definida por João
Anatalino Rodrigues (2013), em O Tesouro Arcano: A Maçonaria e seu Simbolismo
Iniciático, como “... uma sociedade universal de homens de boa vontade, cujo objetivo é
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INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
defender a liberdade de pensamento, a igualdade entre as pessoas e a fraternidade entre os
povos da terra (RODRIGUES, 2013, p. 41).” A arte milenar da Maçonaria, se encaixa
muito bem na ideia de Freud e seus discípulos, sobretudo, Carl Gustav Jung, concernente
ao conceito de Inconsciente e da proposta da interpretação dos sonhos como via de
acesso direto do sistema inconsciente para a consciência humana, sendo esta última a
quase insignificante ponta do iceberg do saber.
João Anatalino Rodrigues muito bem explicita a contribuição da psicanálise para os
esclarecimentos e a elucidação dos mistérios que envolvem a mística do pensamento
Maçônico. Ele discorre:
Freud, a quem se atribui a sistematização dos conteúdos do inconsciente
humano, confessou a influência que recebeu desse tipo de pensamento
quando elaborou sua tese sobre o significado dos sonhos. Jung, principalmente,
deve sua fama as descobertas que fez sobre as relações que o inconsciente
humano mantém com o mundo mágico dos símbolos e dos arquétipos
(RODRIGUES, 2013, p. 26).
A corrida pela busca de respostas nos confins do universo, com o envio de
espaçonaves, a conquista da lua, as experiências que ainda estão em andamento para
encontrar resquícios ou provas da existência de vida no planeta marte e em outros planetas
da constelação ainda são muito significativas na caminhada da humanidade. Quanto mais
longe conseguirmos ir, seja pela lente do telescópio, seja pela lente do microscópio, mais
conhecimento o homem terá. Esta é a proposta positivista da ciência empírica.
Numa outra perspectiva, podemos nos deparar com cientistas que fazem o caminho
inverso, vislumbrando a contramão dessa ideia e propondo um caminho para um mundo
paralelo, o mundo interno do ser humano, que jamais poderá ser visto pelo olho humano,
mas que será provado, não empiricamente, mas, sobretudo, por meio da subjetividade,
onde o fundamental é ter como princípio a admissão de um saber que o homem jamais
conhecerá em sua plenitude.
Freud, em sua trajetória de científica, fiel aos princípios e morais de sua época,
como um médico competente, amparado nas positividades de uma ciência exata, na busca
das verdades do sofrimento humano passou sua vida inteira na tentativa de solução
para o fim do sofrimento humano. Toda grandiosidade de sua obra foi resumida por ele
mesmo ao escrever em 1937, pouco antes de morrer, onde afirma que “educar, ao lado
de governar e psicanalisar, é uma profissão impossível” (FREUD, 1937, p.3361).
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INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
Com efeito, tais dizeres são pouco compreendidos em sua essência, pois sua
tradução ao pé da letra não responde a contento sua significação, na medida em que temos
que levar em consideração o fato de que Freud, antes de tudo, é um escritor que articula
suas ideias, por vezes, de maneira ambígua e pessimista. Esta característica peculiar está
justificada pela própria teoria psicanalítica, como muito bem explicitou Joel Birman
(1999), em Mal-estar na atualidade, quando diz:
A afirmação sobre o desamparo do sujeito indica o ponto de chegada do
discurso freudiano. Foi com este enunciado conciso que Freud delineou a posição
de fragilidade estrutural do sujeito, ao relacionar este á sua corporeidade, às
ameaças da natureza e aos horrores gerados nas relações ambivalentes com os
outros (BIRMAN, 1999, p. 36).
Leny Magalhães Mrech (2009) num artigo intitulado “Lacan, a educação e o
impossível de educar”, Revista Educação, encontra uma explicação muita próxima da
menção que Freud fez das três profissões impossíveis: educar, psicanalisar e governar. Ela
se coloca no lugar do leitor que ao se deparar com tal dito de Fred, se questiona o que
ele, Freud, quis dizer com isso. Leny explica que o educador não consegue educar da
forma que quer; o político nunca faz política da maneira como quer; assim como o
psicanalista nunca psicanalisa da maneira como quer. Isso se dá por conta de que existe
algo – o Inconsciente - que se sobressai à consciência e não permite que esse controle se
estabeleça. Sempre há um algo a desejar. Nesse sentido podemos pensar que nenhuma
ciência consegue dar explicações suficientes para satisfazer na totalidade o desejo
demandado pelo sujeito do inconsciente na busca da compreensão e dominação do
objeto estudado.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a transmissão da psicanálise no campo da ciência e no âmbito da universidade,
se faz necessário, por parte de quem se propõe a exercer o papel de professor,
a
compreensão da teoria em suas premissas básicas; perceber que a psicanálise não é
uma ciência exata, que respeita os diversos discursos nos quais ela está inserida, por conta
de sua interdisciplinaridade enquanto ciência que dialoga com os demais saberes seja no
campo das ciências humanas, sociais e da saúde; estar alerta para a influência do
inconsciente como um saber que está presente o tempo todo na relação docente/discente,
com poder suficiente para usufruir da empatia como mecanismo de defesa entre os
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INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
sujeitos, seja de maneira negativa ou positiva, de forma que o professor deva saber lidar
com isso e ter a capacidade de transmitir ao aluno essa possibilidade, deixando-o também
capaz de saber lidar com essa força; e, por fim, o professor deverá ter a perspicácia de
entender a psicanálise nas suas diversas peculiaridades conceituais e dinâmicas, pois a
psicanálise como teoria e ciência, necessariamente, é diferente da psicanálise clínica no set
analítico, assim como diverso também da psicanálise como discurso antropológico, ao
lidar com a história da humanidade.
Freud faz essa distinção ao longo de sua história e através de seus escritos. Ele
amplia o conhecimento da sua ciência aos vários campos de estudo, e não deixa restrito ao
estudo da medicina, como uma especialização em psiquiatria, ou restrito ao campo da
psicologia, como o estudo do comportamento humano. Freud amplia os horizontes da
psicanálise, separa os campos de atuação, como metodologia, teoria e práxis. Em 1918,
ele diz:
Na investigação dos processos mentais e das funções do intelecto, a psicanálise
segue seu próprio método especifico. A aplicação desse método não está de
modo algum confinada ao campo dos distúrbios psicológicos, mas entende-se
também à solução de problemas da arte, da filosofia e da religião. Nessa direção
já produziu diversos novos pontos de vista e deu valiosos esclarecimentos a temas
como a história da literatura, a mitologia, a história das civilizações e a filosofia da
religião. Assim, o curso psicanalítico geral seria também aberto aos estudantes
desse ramo do conhecimento (FREUD, Obras Completas, Volume XVII, 1918, p.
188).
É fundamental salientar que a proposta para a criação de cursos de licenciatura em
teoria psicanalítica nas universidades seria um bom caminho e um bom começo para findar
as polêmicas existentes quanto ao exercício da profissão de psicanalista, na medida em
que o aluno que concluísse um curso de licenciatura estaria apto a exercer a profissão de
professor naquela ciência na qual passou anos estudando e aprendendo para transmitir seus
conhecimentos na qualidade de profissional habilitado para tal. Obviamente que o
profissional licenciado em teoria psicanalítica não estaria capacitado para exercer a
profissão de psicanalista, ou seja, não seria um psicanalista, mas sim um docente com a
capacidade suficiente para transmissão a teoria psicanalítica, o que é bastante diferente do
que exercer a profissão como clínico.
A polêmica na qual me refiro arrola há anos no Brasil, e atinge principalmente aos
profissionais psicólogos que tentam, de certa forma, controlar o grande número de cursos
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que existem no Brasil para formação de psicanalistas. Um exemplo disso está na
campanha de mobilização realizada pelo Conselho Regional de Psicologia do estado de
São Paulo, na qual foi solicitado a todos os psicólogos filiados ao conselho para
manifestação junto às Comissões da Câmara dos Deputados, com vista a lutar contra a
aprovação do Projeto de Lei nº 3.944/2000, do então Deputado Federal Eber Silva, que
propunha regulamentar a profissão de psicanalista no Brasil. Essa manifestação foi
amplamente divulgada, e em um dos trechos do texto convidando os psicólogos para
intervirem contra o Projeto do Deputado, diz:
O segundo projeto em tramitação no Congresso é o PL 3.944, proposto no ano
passado pelo pastor e deputado Eber Silva (PDT/RJ), que quer tornar a psicanálise
profissão. Os Conselhos de Psicologia entendem que também a psicanálise é
uma “especialização interdisciplinar” e não deve constituir profissão. Defende
que o aprendizado e a qualificação do psicanalista sejam alvos de um maior
controle, mas sem que haja necessidade de ela ser regulamentada como
profissão.
(http://www.crpsp.org.br/crp/midia/jornal_crp/130/frames/fr_mobilizacao.as px).
Mesmo assim, em 2002, o referido Projeto de Lei foi aprovado, onde teve como
relator o Deputado Freire Júnior, que foi favorável à aprovação com “substitutivo”, PL nº.
3.944-A, de 2000, que desde então passou a regulamentar o exercício da profissão de
Psicanalista no Brasil. Contudo, ainda existem questionamentos acerca do referido PL, e o
que vigora de fato é que a psicanálise é considera uma ocupação, devidamente
classificada no Ministério do Trabalho, e não uma profissão, conforme foi comentado
anteriormente neste artigo.
Consta no referido Projeto de Lei que a formação de psicanalistas está condicionada
aos possuidores de diplomas de nível superior em Medicina, Psicologia ou em cursos afins,
e deverá ser orientada pelos institutos das Sociedades de Psicanálise filiadas à Associação
Brasileira de Psicanálise (ABP), hoje intitulada Federação Brasileira de Psicanálise
(FEBRAPSI). Acontece que a maioria das Sociedades e Associações existentes no Brasil
não é afiliada da FEBRAPSI, assim como muitas sequer nem a reconhecem como
órgão máximo do País para receber tal atributo.
Outro fator que gera polêmica se dá pelo seguinte questionamento: Quais são os
cursos de nível superior afins à Psicanálise, ou à Medicina e Psicologia, no qual se
refere o Artigo 3º do Projeto de Lei?
Por fim, entendemos que é fundamental a regulamentação da profissão de
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A TEORIA PSICANALÍTICA COMO UMA POSSIBILIDADE DE
INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
psicanalista, assim como é necessário a existência de profissionais devidamente
qualificados para a transmissão da teoria nas instituições superiores de ensino, mais
especificamente nas universidades, havendo assim a distinção entre tais profissionais, na
medida em que ser um bom psicanalista não quer dizer ser um bom professor, e viceversa.
Para que essa transformação ocorra, inicialmente deverá ser incorporada uma cultura
de inovação pedagógica dentre do campus universitário, por meio da verdadeira
interdisciplinaridade, tendo como pano de fundo a culminação do desejo de tornar a teoria
psicanalítica uma ciência capaz de colaborar significativamente para a sociedade, sob pena
do futuro da psicanálise estar em jogo, assim como sua técnica, sua teoria e suas práxis ser
questionadas e caírem no esquecimento.
É preciso que os intelectuais psicanalistas unam-se e comecem a pensar que a
psicanálise não é deles, nem tampouco de Freud, mas sim da sociedade, que precisa e se
beneficia com ela. Sabemos, ainda, que uma das técnicas psicanalíticas é “frustrar” o outro
para que este possa compreender que não precisa do passe do outro para se tornar capaz de
seguir sua própria vida, mas sim que ele precisa do passe do outro que está dentro dele
mesmo, pois é na discórdia com o que está fora de si, que acordamos para a voz do sujeito
do inconsciente que emerge de dentro de si. Contudo, também é preciso ter em mente que
essa técnica só é válida no set analítico, ou seja, no consultório, e não na sociedade
enquanto grupo coletivo. Na coletividade a melhor maneira de se chegar a um lugar
confortável e satisfatório para o grupo é pelo caminho inverso do set analítico, ou seja, é
através do entendimento e do acordo, com a mínima frustração possível.
A dinâmica das relações sociais é oposta à dinâmica da clínica.
A mudança qualitativa na prática pedagógica, a princípio, envolve um
posicionamento crítico das práticas tradicionais. Com relação a essas mudanças, Carlos
Nogueira Fino (2007), diz:
Inovação pedagógica como ruptura de natureza cultural, se tivermos como fundo
as culturas escolares tradicionais. E abertura para a emergência de culturas novas,
provavelmente estranhas aos olhares conformados com a tradição. Para os olhos
assim, viciados pelas rotinas escolares tradicionais, é evidente que resulta
complicado definir inovação pedagógica, e tornar definição consensual. No
entanto, o caminho da inovação raramente passa pelo consenso ou pelo senso
comum, mas por saltos premeditados e absolutamente assumidos por direcção ao
muitas vezes inesperado. Aliás, se a inovação não fosse heterodoxa, não era
inovação (FINO, 2008, p. 2).
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INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
No intuito de responder ao questionamento interposto na introdução deste artigo,
temos a inferir que a Psicanálise pode e deve ser considerada, de fato e de direito, uma
Ciência, com teoria, práxis e material de trabalho suficientes para ser inserida como ensino
no âmbito das Faculdades e Universidades do país, e com bases cientificas sólidas e
suficientes para criação de cursos de graduação de nível superior na modalidade de
licenciatura para transmissão desse saber, conferindo ao graduado o direito a lecionar as
disciplinas inerentes ao curso, na medida em que, conforme reza o Artigo 62 da Lei nº
9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, que diz:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal. (Redação
dada pela Lei nº 12.796, de 2013).
É nesse contexto que pensamos a inclusão da psicanálise na Universidade,
enquanto curso de licenciatura, como uma inovação pedagógica, onde sabemos haver
legislação suficiente para justificar o pleito.
REFERÊNCIAS
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CRP-SP. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, 2009.
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traduzido do alemão e do inglês sob a direção geral de Jayme Salomão. – Rio de
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Volume XII – O caso de Schreber, artigos sobre a técnica e outros trabalhos, 1911 –
1913; Volume XVII – Uma neurose infantil e outros trabalhos, 1917-1919; Volume XIX
– O Ego e o Id e outros trabalhos, 1923 – 1925.
LAPLANCHE, Jean e PONTALIS, J.-B. Vocabulário de Psicanálise. Editora Martins
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ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica.
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