adoração dos magos (epifania)
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adoração dos magos (epifania)
Temas do Novo Testamento. A iconografia de Cristo Ciclo da Infância: [Árvore de Jessé; Anunciação; Visitação]; Natividade; Anúncio e Adoração dos Pastores; Adoração dos Magos (Epifania); Circuncisão; Apresentação no Templo; A matança dos Inocentes; Fuga para o Egipto; Jesus entre os Doutores. Ciclo da Vida Pública: Batismo; As Tentações; Vocação dos Apóstolos; Sermões; Parábolas; Milagres; Cristo na Casa de Marta e Madalena; Bodas de Caná; Ressurreição de Lázaro. Ciclo da Paixão: Entrada em Jerusalém; Expulsão dos Vendilhões do Templo; Lava-Pés; Última Ceia; Oração no Horto; Traição de Judas; Cristo diante Pilatos; Flagelação de Cristo; Escarnação de Cristo; Ecce Homo; Caminho do Calvário; Crucifixão; Calvário; Descimento da Cruz; Pietá; Deposição no Túmulo. Ciclo da Glória: Descida aos Infernos; Ressurreição; Ceia em Emaús; Ascensão; Pentecostes. CICLO DA INFÂNCIA AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO: HUMANA E DIVINA O tema é raro, surgindo ocasionalmente na Holanda e em Espanha, no séc. XVII. Trindade vertical (Trono da Graça) e Trindade horizontal (Sagrada Família) As Trindades celeste e terreste, Bartolomé E. Murillo, 1681-82 Londres, National Gallery Píxide. Serra Leoa, inícios século XVI (?). Marfim. Coleção Privada. Detalhe Horae Beatae Mariae Virginis, Paris, 1501 O NASCIMENTO DE CRISTO Fontes Evangelho de S. Lucas 2,1-7 «[…] completaram-se os dias de ela (Maria) dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura». Outros textos fundamentais: Proto-Evangelho de S. Tiago; Evangelho do Pseudo-Mateus; Legenda Dourada; Revelationes, de Santa Brígida da Suécia. O NASCIMENTO DE CRISTO Os escritores eclesiásticos medievais dividiam-se na hora de considerar o Nascimento de Cristo: segundo uns, a Virgem deu à luz com dor; segundo outros, Maria teve o privilégio de dar à luz sem dor. Esta dualidade de perspetivas terá dado origem a dois tipos iconográficos principais do tema: a versão bizantina e a versão ocidental. A versão bizantina segue a perspetiva do parto com dor. A cena tem lugar numa gruta; a Virgem está deitada, extenuada pelo acontecimento, com o neonato enfaixado; concentram-se numerosas personagens e acontecimentos dentro do quadro, como o anúncio aos pastores, a adoração dos anjos, a chegada dos Magos, as parteiras (Zelomi e Salomé), o astro no céu, o boi e o burro, o banho ao recémnascido. S. José encontra-se à margem da cena central, em posição sedente e quase sempre a dormir, com a cabeça apoiada na mão esquerda. O motivo do primeiro banho do Menino é um detalhe narrativo típico dos artistas bizantinos e de alguns (raros) artistas europeus medievais, sublinhando a verdade da Encarnação de Cristo. Na arte ocidental, o motivo desaparece desde o séc. XV, observando-se, embora autonomizado, numa pintura protobarroca portuguesa do século XVII, existente na Igreja de Olalhas (Tomar). Constantinopla, séc. X. Walters Art Museum, Baltimore Duccio, 1308-1311. National Gallery of Art, Washington Giotto, Natividade, c. 1310. Basílica de S. Francisco, Assis O NASCIMENTO DE CRISTO A versão ocidental – também denominada Adoração do Menino Jesus – surge nos séculos XIV-XV e vai substituir a versão bizantina. A Virgem aparece agora sem sinais de desgaste físico, ajoelhada e com mãos postas em adoração; o Menino, desnudo, repousa sobre o solo entre deslumbrantes resplendores. É a perspetiva do parto sem dor, justificada pela natureza divina do nascituro e porque Maria, concebida sem pecado original, não poderia estar sujeita às dores da maternidade, decorrente do pecado de Eva, transmitido a todas as mulheres. O boi e o burro podem aparecer também ajoelhados em adoração e surgem anjos adoradores. S. José é introduzido na cena principal e surge igualmente em adoração ou mais dinâmico e empreendedor, realizando tarefas antes atribuídas às parteiras. Para esta iconografia contribuiu significativamente as revelações da mística S. Brígida da Suécia (1303-1373), compiladas nas suas Revelationes coelestes. Zanobi Strozzi (atrib.), Florença, c. 1433–34. Nova Iorque, Metropolitan Museum Livro de Horas, Paris, c. 1500 Londres, British Library Mestre de Ávila (García del Barco?), Tríptico da Natividade, c.1460-75. Fundação Lázaro Galdiano (Madrid) ADORAÇÃO DOS PASTORES Não obstante este tema figurar no Evangelho de S. Lucas (2,8-20), durante o largo intervalo entre o período paleocristão e quase toda a Alta Idade Média, a representação artística da Adoração dos Pastores foi tema ausente da arte cristã, preterida em favor da Adoração dos Reis Magos. O tema iconográfico da Adoração dos Pastores adquire crescente importância na Baixa Idade Média, coincidindo com a exaltação e a prática da pobreza evangélica ativados por movimentos de ascetismo laico (“pauperistas”), e, sobretudo, pelas influentes ordens mendicantes dos Franciscanos e dos Dominicanos. No séc. IV, S. Efrém da Síria (307-373) afirma que os pastores vieram ao presépio oferecendo dons do seu rebanho, como leite, ovos, carne. Este pormenor influenciará mais tarde os artistas que representam os pastores oferecendo estes bens. Antonio van de Pere, 1678 Madrid, Museu do Prado Mestre de Ávila (García del Barco?), Tríptico da Natividade, c.1460-75. Fundação Lázaro Galdiano (Madrid) Mestre de Ávila (García del Barco?), Tríptico da Natividade, c.1460-75. Fundação Lázaro Galdiano (Madrid) Anúncio aos Pastores. 12 ovelhas, uma capturada por lobo (Judas) ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) O episódio tem a sua fonte literária no Evangelho de S. Mateus (2,111), mas também em apócrifos e outros autores medievais. A Epifania é a primeira Teofania, i. é, a primeira manifestação pública do Filho de Deus aos gentios, indicando a universalidade da sua mensagem salvífica. Embora a fonte canónica não precise o número de Magos, ao dizer que ofereceram ao Menino ouro, incenso e mirra, a tradição deduziu tratar-se de três personagens. Porém, nas primeiras representações do tema os Magos aparecem em número de dois ou mesmo quatro. Os nomes dos Magos são conhecidos pelo Evangelho Arménio da Infância (séc. VI) – Melchior, Gaspar e Baltasar. ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) O primeiro autor a descrever, mesmo fisicamente, cada um destes personagens será o Pseudo-Beda, o Venerável (séc. VII-VIII): «O primeiro dos magos foi Melchior, um ancião de largos cabelos e cumpridas barbas… quem ofereceu o ouro, símbolo da realeza divina. O segundo, chamado Gaspar, jovem imberbe, honrou a Jesus apresentandolhe o incenso, oferta que manifesta a sua divindade. O terceiro, chamado Baltasar, de pele escura, testemunhou com a oferta da mirra, que o Filho do Homem teria que morrer». A distinção física dos Magos representa as Três Idades da Vida – juventude, maturidade e velhice – e/ou as suas distintas proveniências, como descendentes dos filhos de Noé: Sem – Ásia – Melchior (o mais velho, oferece ouro); Jafet – Europa – Gaspar (o homem maduro); Cam –África – Baltasar (o mais jovem, só no séc. XIV apresentará tez negra, que se tornará habitual a partir do séc. XVI). ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) Catacumbas de Priscila. Roma, séc. III Catacumba de Domitila. Roma, séc. IV [Maria com o Menino, ao centro, e quatro magos, dois em cada lado] ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) Igreja de S. Apolinário, o Novo, Ravena, séc. VI ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) Francisco Henriques, Igreja S. Francisco de Évora, 1503-8 Casa-Museu dos Patudos, Alpiarça ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) Pieter Bruegel, o Velho, 1564 Londres, National Gallery ADORAÇÃO DOS MAGOS (EPIFANIA) É a primeira representação de um índio brasileiro (tupinamba) na arte ocidental. Vasco Fernandes, 1501-6. Viseu, Museu de Grão Vasco Mestre de Ávila (García del Barco?), Tríptico da Natividade, c.1460-75. Fundação Lázaro Galdiano (Madrid) Anúncio aos Magos (sup) e Conversação dos Magos com Herodes (inf). Vita Xpisti de Frei Francisco Xymenes, continuada frei Hernando de Talavera (finais séc. XV) A CIRCUNCISÃO DE JESUS (Lucas 2,21) O tema aparece na arte cristã, em Bizâncio, a partir do séc. XI. Representa a primeira efusão do Sangue de Jesus e a imposição do Seu Nome, oito dias depois do Nascimento. A festa litúrgica deste acontecimento estava fixada por isso mesmo a 1 de Janeiro. Oficina de José do Avelar Rebelo, Séc. XVII. Igreja de S. Pedro, Palmela APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO (Lucas 2,22-40) A festa litúrgica da Apresentação de Jesus ou da Purificação da Virgem estava fixada a 2 de fevereiro, quarenta dias depois da Natividade. Livro de Horas Paris, 1460-70 Mestre François British Library, Londres MS Egerton 2045, f. 100v APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO (Lucas 2,22-40) Álvaro Pires de Évora, Pisa, c. 1430. Nova Iorque, Metropolitan Museum A MATANÇA DOS INOCENTES (Mateus 2,16-18) Giotto, Capela Scrovegni, Pádua, c. 1303-1305 FUGA PARA O EGITO A Fuga para o Egito é mencionada no Evangelho de S. Mateus (2,1315). Os Evangelhos apócrifos e a Legenda Dourada enriqueceram esta breve referência com pitorescas invenções: - o Milagre das Espigas; - a Queda dos Ídolos do Egito; - o Milagre da Palmeira. Com a Contra-Reforma desapareceram muitos destes detalhes pictóricos tomados dos Apócrifos e acrescentaram-se outros temas associados, como o Repouso na Fuga para o Egito, a vida da Sagrada Família no Egito e o Regresso do Egito. FUGA PARA O EGITO Livro de Horas Paris, 1460-70 Mestre François British Library, Londres MS Egerton 2045, f. 106 Joachim Patinir, Descanso na Fuga para o Egito, 1518-1520. Museu do Prado, Madrid Fuga para o Egito. Túmulo de Inês de Castro, Alcobaça (c.1358-61) MENINO JESUS ENTRE OS DOUTORES (Lucas 2, 41-51) José do Avelar Rebelo, c. 1635 Igreja de S. Roque, Lisboa Jean-Auguste Ingres, 1862 Musée Ingres, Montauban (França)